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O IMPACTO DA TRIBUTAÇÃO NO EMPREENDEDORISMO


BRASILEIRO: UMA ANÁLISE BIBLIOGRÁFICA1

Prof. Esp. Átila Monteiro Pimenta2

Jordana de Brito Mello3

RESUMO

O sistema de tributação brasileiro é tido como complexo por muitos empresários, contadores e
advogados. Diante desta situação, o empresário tem que enfrentar um sistema burocrático e
protecionista, criado para proteger o sistema de ganho estatal brasileiro, e ao mesmo tempo
como se fosse um marabalista em corda bamba, conseguir equilibrar os custos e ainda obter
lucro no final do mês. Assim, o leitor encontrará nos próximos tópicos informativos e
comentários da tributação brasileira, seu impacto na vida do empresário e também um
comparativo com a cobrança de impostos em outros países e fazem parte da OCDE. Poderá
observar que em pesquisa levantada pelo SEBRAE, os empresários apontam como uma das
maiores dificuldades a alta carga tributária no país e o alto custo no empreendimento,
principalmente na aquisição de produtos com elevados impostos e captação de recursos
financeiros com altas taxas de juros cobrados pelas instituições financeiras.

Palavras-chave: Tributação, Empreendedorismo, Planejamento, OCDE

ABSTRACT

The Brazilian tax system is faced as a complex system by many businessmen, accountants and
lawyers. Faced with this situation, the businessman has to face a bureaucratic and
protectionist system, created to protect the Brazilian state's system of profit, and at the same
time as if he were a marabalist in a bandwidth, manage to balance costs and still make a profit
at the end of the month. So the reader will find in the next topics information and comments
of Brazilian taxation and its impact on the life of the entrepreneur and also a comparison with
the collection of taxes in other countries, and belonging to OCDE. You can observe that in a
survey raised by SEBRAE, businessmen point out as one of the biggest difficulties the high

1
Artigo científico apresentado na Faculdade Aliança de Itaberaí, tendo sido exigido para a conclusão do curso de
Ciências Contábeis.
2
Professor Especialista em Auditoria, Perícia e Controladoria. Orientador desta obra.
3
Acadêmica do Curso de Ciências Contábeis da Faculdade Aliança de Itaberaí e autora do presente artigo.
2

tax burden in the country and the high cost in the enterprise, mainly in the purchase of raw
materials and fund raising, by the high interest rates charged by the banks.

Activion Keys: Taxation, Entrepreneurship, Planning, OECD

1. INTRODUÇÃO

No atual cenário brasileiro, uma das principais preocupações dos empreendedores é o


grande aumento da carga tributária, como demonstra a pesquisa do SEBRAE, divulgada em
2016, visto que os tributos aumentam os custos e, em consequência, diminuem os ganhos. O
elevado preço das obrigações trabalhistas e previdenciárias, a concorrência desonesta e a
burocracia enfrentada tanto para a abertura de uma empresa quanto para mantê-la ativa hoje
são os principais desafios enfrentados por quem quer ser o dono do seu próprio negócio.
Diante disso, será evidenciado no presente trabalho o efeito gerado pela tributação no
empreendedorismo, em que se faz necessária ter uma gestão eficiente dos tributos, com o
objetivo de reduzi-los de forma legal e eficaz, isto é, respeitando todas as exigências
prescritas pelo fisco, aumentando os lucros e assim conseguir manter seu negócio.
Segundo Crepaldi (2012, p.60), “uma queixa recorrente entre quase todos os
brasileiros é o peso que a carga tributária exerce sobre a vida das pessoas e das empresas.
Entra ano, sai ano e o Governo Federal sempre anuncia medidas que mexem diretamente no
bolso dos consumidores e das empresas”.
Em vista das razões esposadas acima, este artigo tem como objetivo geral analisar se a
legislação tributária atual está aberta ao empreendedorismo. Em termos de objetivos
específicos, busca-se compreender as principais reclamações dos empreendedores e como as
normas tributárias evoluíram com o decorrer dos anos para subjugar a estes problemas.
Para satisfazer os objetivos ora formulados, poderemos responder as seguintes
perguntas: em que medida a legislação tributária vigente está aberta ao empreendedorismo?
Quais são as principais reclamações dos empreendedores no que se refere à carga tributária
brasileira? Quais as principais dificuldades enfrentadas para se manter uma empresa ativa no
cenário econômico atual?
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Em termos metodológicos, a pesquisa foi realizada pelo método de estudo


bibliográfico, abrangendo o campo onde foi se tornado público os assuntos relacionados a
determinado tema escolhido para estudo, desde jornais, teses, monografias, livros, revistas e
alcançando o meio principal de pesquisa que chamamos de Internet. Seu objetivo é conduzir o
pesquisador a uma proximidade direta com todo o material que foi escrito. Para Carvalho
(2008, p.100) “a pesquisa bibliográfica é a atividade de localização e consulta de fontes
diversas de informação escrita, para coletar dados gerais ou específicos a respeito de
determinado tema”. Portanto, a pesquisa bibliográfica não pode ser tratada como sendo uma
repetição de algo que já foi escrito sobre determinado assunto, mas sim, como uma nova
oportunidade de análise, com um enfoque e uma abordagem distinta, podendo assim chegar a
outras conclusões ousadas e inovadoras.

2. TRIBUTAÇÃO E EMPREENDEDORISMO

2.1. TRIBUTAÇÃO

De acordo com o Art. 3° do Código Tributário Nacional, “tributo é toda prestação


pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, que não constitua
sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada mediante atividade administrativa plenamente
vinculada” (BRASIL,1966, texto virtual). E com o Art. 5°, onde diz que “os tributos são
impostos, taxas e contribuições de melhoria” (BRASIL, 1966, texto virtual).
Para Crepaldi (2012, p.15):

“O tributo é a receita derivada, compulsoriamente lançada e arrecadada pelo


Estado, na forma da lei, em moeda corrente ou em valor que por ela se possa
exprimir, sem contraprestação diretamente equivalente, cujo montante é
aplicado na execução das finalidades que lhe são próprias. Caracteriza-se
pela compulsoriedade, pelo pagamento em dinheiro ou valor equivalente,
pelo seu caráter não punitivo, pela previsão legal e pela sua cobrança
vinculada, sem margem de discricionariedade”.

Como se pode observar o tributo é uma forma legal adotada pelo Estado para a
arrecadação de receitas que seriam revertidas em benefícios a população em geral. Vejamos,
por conseguinte mais detalhes de como é feita a divisão dos principais tributos que fazem
parte da legislação tributária brasileira.
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2.1.1. TAXA

Segundo Crepaldi (2012, p.65), “trata-se de modalidade prevista no inciso II do art.


145 da Constituição Federal, combinado com os arts. 77 e 78 do CTN, segundo o qual a taxa
é tributo federal, estadual e municipal, que tem por hipótese de incidência o exercício regular
do poder de polícia ou a utilização, efetiva ou potencial, de serviço público especifico e
divisível prestado ao contribuinte ou posto à sua disposição”. Não pode ter base de cálculo ou
fato gerador iguais aos que correspondam a imposto nem ser calculada em atribuição do
capital das empresas, conforme art. 77 do CTN (1966).

2.1.2. IMPOSTO

Conforme é disposto no art. 16 do CTN “imposto é o tributo cuja obrigação tem por
fato gerador uma situação independente de qualquer atividade estatal específica, relativa ao
contribuinte” (BRASIL, 1966, texto virtual). Onde sua arrecadação, não precisará ter
nenhuma finalidade específica. O imposto é de caráter pessoal, determinado pela Constituição
Federal (BRASIL, 1988), ou seja, refere-se unicamente á União, aos Estados e Municípios a
incluir o Distrito Federal (Arts. 153 á 156 da CF).

2.1.3. CONTRIBUIÇÃO SOCIAL E DE MELHORIA

Segundo Crepaldi (2012, p.67) “a contribuição social tem destinação certa, sendo
recolhida com uma finalidade predeterminada, indicada na lei que a instituiu [...]”.
“A contribuição de melhoria cobrada pela União, pelos Estados, pelo Distrito Federal
ou pelos Municípios, no âmbito de suas respectivas atribuições, é instituída para fazer face ao
custo de obras públicas de que decorra valorização imobiliária, tendo como limite total a
despesa realizada e como limite individual o acréscimo de valor que da obra resultar para cada
imóvel beneficiado” conforme disposto no Art. 81 do CTN (BRASIL, 1966, texto virtual).
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2.2. EMPREENDEDORISMO

Segundo Kirzner (1973) e Shumpeter (1949) apud Dornelas (2008, p.22),


empreendedorismo é uma palavra muito utilizada no meio empresarial e está diretamente
relacionada com a constituição de novas empresas e ou produtos. O empreendedor é mais
conhecido por criar novos negócios, mas o mesmo também pode modernizar um já existente,
mostrando que é possível sim empreender dentro de organizações já instituídas. O
empreendedorismo é fundamental na sociedade, visto que é através dele que as organizações
buscam sempre a inovação e se preocupam em tornar seus conhecimentos em novos produtos.
Empreender é agregar valores e saber identificar no cenário econômico atual oportunidades
que possam mudar a realidade do seu negócio e transforma-lo em algo lucrativo.

2.2.1. O PROCESSO EMPREENDEDOR

De acordo com Marques (2016), o processo empreendedor está em saber sistematizar


com eficiência todas as fases da formação e o desenrolar de um negócio antes mesmo de se
coloca-lo em prática. Diante disso, é necessário que o empresário tenha em mente tudo que se
precisa saber para abrir um novo negócio hoje, saber compreender como funciona os trâmites
burocráticos desde sua abertura e o mais importante, saber gerenciar seu empreendimento de
forma assertiva. Ter tudo isso em mente é muito importante, pois várias falhas podem ser
evitadas a partir do momento que o empresário passa a ter conhecimento de tudo isso a definir
qual é o modelo de negócio e de que forma será a gestão de seu empreendimento. Caso
contrário, quando as coisas deixam a desejar da forma que devem ser, as dificuldades só
aumentam, pois além dos detalhes que precisam ser ajustados, os aspectos mais importantes
também não foram organizados anteriormente para que se tenha êxito.
Tendo em vista os aspectos analisados, para que a falta de organização não prejudique
o bom funcionamento da empresa, o processo empreendedor é dividido em 4 etapas bastante
importantes: a primeira delas, segundo Marques apud Dornelas (2005) é identificar e avaliar a
oportunidade, onde o empreendedor deverá procurar conhecer bem o mercado de trabalho que
pretende atuar e se realmente seu negócio poderá vir a oferecer aos seus futuros clientes o que
eles querem.
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A segunda etapa seria desenvolver o plano de negócios, pois o empreendedor tendo


como alicerce um estudo específico e um direcionamento bem elaborado, maiores são suas
chances de se manter no mercado e ter o tão desejado sucesso.
A terceira etapa é definir e captar os recursos necessários; esta, sem dúvida, é uma das
etapas mais importantes do processo empreendedor, em que o empresário deverá saber quanto
precisa para investir em seu negócio, de onde sairá estes recursos, qual será o capital de giro
necessário e o tempo que terá até a empresa começar a gerar lucros. Esses são fatores muito
importantes que deverão ser analisados, pois sem capital o negócio não surge.
E, por fim, a quarta etapa, que será administrar a empresa, onde finalmente chega o
momento de colocar todo o planejamento em prática e a empresa para funcionar: para isto, é
preciso que o gestor saiba gerenciar processos e pessoas, e manter sempre a eficácia de suas
atuações para que o seu empreendimento possa ter mais chances de ser bem-sucedido no
mercado.

3. ANÁLISE DE DADOS

3.1. CARGA TRIBUTÁRIA NO BRASIL

Conforme delineamos na revisão teórica, tal estudo é bibliográfico, portanto, os dados


aqui analisados são de cunho teórico, a partir das percepções de autores e obras que analisam
os impactos da tributação no empreendedorismo brasileiro.
A Carga Tributária é composta pelos impostos, taxa, contribuição social e contribuição
de melhoria. Embora o governo tenha tentado implantar várias medidas de desobrigação
tributária, de acordo com os últimos dados apresentados pela Receita Federal Brasileira (RFB)
e pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2015 a Carga Tributária
Bruta alcançou 32,66% do PIB – Produto Interno Bruto, com uma alteração positiva de 0,24%
em relação ao ano de 2014, que foi de 32,42% (IBGE, 2015; RECEITA FEDERAL, 2015).
Em 2015, a carga tributária, independente do pequeno aumento apurado, permaneceu
visivelmente estável nos últimos anos. Mesmo que, tenha se apurado um grande aumento nas
alíquotas de alguns impostos, a maior parte dos desencargos implantados nos anos anteriores
ainda continuou a produzir efeitos no ano de 2015. No que se diz respeito á arrecadação total
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de cada ano, podemos afirmar que as receitas dos parcelamentos, que se referem a encargos
de atividades anteriores também influenciam nas mesmas. Na tabela a seguir, veremos a série
histórica da carga tributária dos últimos 10 anos, em um comparativo de como era com as
receitas vindas dos parcelamentos e como ficou sem elas (RECEITA FEDERAL,2015):

Tabela 01 – Efeitos dos parcelamentos – 2006 a 2015

Fonte: Receita Federal Brasileira, 2015.

Podemos observar que a redução das receitas de parcelamentos a 26,381 (milhões) em


2015, colaborou para o decréscimo da carga tributária fosse reduzido em relação aos últimos
anos. A arrecadação brasileira teve uma média de 32,45% do PIB, no período de 2006 a 2015.
A tabela acima não apresenta um aumento na arrecadação ao longo da década, mas uma
variação conforme o desempenho da economia e a política adotada pelo governo. Podemos
verificar que houve uma oscilação na arrecadação nos anos de 2006 a 2015, para melhor
visualizarmos, vamos reordenar de forma crescente a arrecadação, assim podemos analisar
melhor esta oscilação: 2014 – 31,75%; 2013 – 31,85%; 2009 – 31,91%; 2010 – 32,11%; 2012
– 32,20; 2015 – 32,21; 2011 – 32,77%; 2006 – 33,04%; 2008 – 33,26% e 2007 – 33,39%.
Podemos conferir que a arrecadação da Receita teve um impacto maior sobre o PIB no ano de
2007, quando chegou a 33,39% e o mínimo de 31,75% em 2014, tendo uma diferença de
1,64%. Esta variação não demonstra aumento de impostos ou benefícios de isenção, mas pode
ser explicada pela disponibilidade de pagamento dos tributos pelos empresários.
Ao analisarmos os números da arrecadação, percebemos o quanto ela acompanha a
geração de riqueza do país. No ano de 2006, era de 796.131.000.000,00, já em 2015 o valor
sobe para R$ 1.901.802.000.000,00. Temos um salto de 139% na arrecadação de tributos em
uma década.
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Com base na análise anterior podemos auferir que proporcionalmente ao crescimento


do PIB, a arrecadação de impostos no Brasil tem aumentado. O que não significa um aumento
nas taxas de impostos, e sim, uma correlação com o crescimento da geração de riquezas.

3.2. MORTALIDADE DAS EMPRESAS

De acordo com dados divulgados pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e


Pequenas Empresas – SEBRAE (2016), com relação à última pesquisa feita no ano de 2012, a
taxa de sobrevivência de empresas de até dois anos no Brasil aumentou em relação a períodos
anteriores, de 75,8% em 2011 para 76,6% em 2012, consequentemente, a taxa de mortalidade
teve uma queda significativa em se comparada com o ano de 2009 onde seu percentual era de
44,6% passando para 23,4% em 2012.
Essa alteração positiva se deu principalmente devido à criação do Micro
Empreendedor Individual – MEI em 2008, que entre 2009 e 2016 saiu de 0 para 6 milhões de
empreendimentos no Brasil. Isto mostra que o impacto favorável do ingresso do MEI sobre a
taxa de sobrevivência geral das empresas é muito grande. As empresas do MEI se aproximam
mais das empresas de pequeno porte, das médias e das grandes em relação a sua permanência
no mercado, do que das microempresas, pois tem mais agilidade, e menos burocracia com
baixa cobrança de tributos.
Fazendo uma comparação entre os setores de indústria, construção, comércio e
serviços, mais uma vez o MEI tem sua influência positiva na taxa de sobrevivência em todos
eles. Da mesma forma acontece quando se comparado por região do Brasil, em todas elas o
MEI tem um impacto totalmente positivo desde a sua criação.
Conforme uma pesquisa realizada pelo SEBRAE com 2.000 (duas mil) empresas
ativas/inativas foram levantados alguns dados que mostram os fatores contribuintes para a
sobrevivência e mortalidade das mesmas no mercado. Um dos principais motivos alegados
pelos empreendedores para que a empresa deixasse de funcionar é a alta carga tributária,
seguido do elevado preço dos custos, despesas e dos juros aplicados; segundo eles, para que
isso fosse evitado teria que haver uma redução significativa nos encargos e impostos
(SEBRAE, 2016).
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3.3. COMPARAÇÃO INTERNACIONAL

Segundo dados divulgados pela Receita federal brasileira (RECEITA FEDERAL,


2015), em um comparativo entre a carga tributária nacional com alguns países da OCDE –
Organização de cooperação e de desenvolvimento econômico, para o ano de 2014, pode-se
observar que a carga tributária brasileira, tem um contraste positivo de 18,48% em se
comparado com a Dinamarca que lidera o ranking com um percentual de 50,9%. Oposto ao
que todos pensam, o Brasil está abaixo da média da OCDE, que varia em torno de 34% a 35%
em relação ao PIB, ao mesmo tempo em que a brasileira varia entre 32% e 33%, conforme
mostra o gráfico abaixo:

Gráfico 1 – Carga tributária no Brasil e em países da OCDE (2014)

Fonte: Receita Federal Brasileira, 2015

Logo, mesmo sendo uma pequena diferença, podemos notar que quando fazemos uma
comparação com outros países desenvolvidos, em média, desembolsamos menos dinheiro
para o pagamento de tributos, em se comparado com os mesmos.
Lembrando que tais comparações devem ser feitas com bastante cautela, pois alguns
tributos presentes em um país podem não existir em outros, como por exemplo, a previdência,
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que em alguns países é privada, assim a mesma não estará incluída na carga tributária daquele
país.
No gráfico acima, podemos identificar o quanto o país cobra impostos, em proporção
ao Produto Interno Bruto. Apesar de demonstrar que o Brasil está abaixo da média dos países
listados no gráfico, não conseguimos identificar de que forma a cobrança de impostos é feita
nestes países, para compararmos a realidade brasileira. Em outros gráficos, como segue
abaixo, podemos identificar melhor estas cobranças.

3.3.1. CARGA TRIBUTÁRIA SOBRE A RENDA

A cobrança de impostos pode ocorrer de diferentes formas. Pode ser taxado a


circulação de mercadorias, as movimentações bancárias, a produção de bens, a prestação de
serviços e o ganho da pessoa física e jurídica. Assim para entendermos melhor a relação da
cobrança do imposto e o seu impacto social, devemos analisar em porcentagem como cada
país cobra os seus impostos. Vejamos aqui a relação da cobrança dos impostos em relação a
duas fontes: a renda e sobre bens e serviços.
A análise da cobrança dos impostos sob estas duas fontes, será útil para conseguirmos
entender o motivo que em alguns países, onde as cobranças de impostos são elevadas, mas os
cidadãos não reclamam da alta carga tributária, enquanto que em outros países, apesar de
cobrar menos impostos, os cidadãos sentem no bolso a alta carga tributária, como acontece no
Brasil por exemplo.
Como demonstrado no gráfico acima, a cobrança de impostos em bens e serviços são
menores em países com alto índice de aprovação do governo, ou que demonstram sólidas
instituições de controle interno, e também apresentam característica de bem-estar social
elevado, tendo uma melhor distribuição de renda entre a população. Nos países com a elevada
cobrança de impostos em bens e serviços, as famílias com baixa renda, são as mais
penalizadas, pois tem que pagar por bens mais caros devido ao imposto, em contrapartida o
Estado presta serviços assistenciais que ajudam famílias do nível mais baixo da economia.
Em outro comparativo feito com os países da OCDE, dessa vez, em relação á renda,
lucro e ganho de capital o Brasil é um dos países onde mais se tributam sobre os que têm
menor renda, esses acabam pagando mais tributos do que os que têm uma renda maior. Já nos
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países da OCDE a situação é oposta, os pobres pagam bem menos tributos que os ricos,
conforme é apresentado no gráfico abaixo (RECEITA FEDERAL, 2015):

Gráfico 2 – Carga tributária sobre a renda, lucro e ganho de capital – Brasil e países da OCDE
(2014)

Fonte: Receita Federal Brasileira, 2015

Nos termos de uma pesquisa realizada pela FIESP – Federação das indústrias do
estado de São Paulo (2015), o sistema tributário brasileiro é regressivo, onde, as famílias que
possuem renda de até dois salários mínimos por mês, desembolsam 46% de tudo o que
ganham com tributos embutidos em suas despesas de consumo, ao passo que, aquelas que
recebem acima de 25 salários mínimos, gastam apenas 18% do que recebem.
Pinheiro (2017) salienta que o governo não tem interesse em expandir a faixa de
isenção, pois a maior parte dos assalariados ganha em média de dois a três salários mínimos.
Assim, mesmo com um avanço na tributação, quanto menor for a renda do consumidor, mais
prejudicado ele será, uma vez que o valor dos impostos a serem pagos será o mesmo para
todos.
O gráfico informa o quanto o Brasil, tributa pouco a renda dos brasileiros, se
comparado aos demais países do OCDE. Isto revela que a fonte principal de arrecadação
brasileira está na tributação de bens e serviços, conforme demonstrado no próximo tópico.
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Enquanto que os países como Dinamarca e Estados Unidos tributa taxativamente a renda dos
seus cidadãos, outros países como Brasil e Turquia preferiram outras fontes de arrecadação.
A cobrança na renda das pessoas e empresas, pode parecer tirano para alguns cidadãos,
mas se olharmos sob o ponto de vista do encarecimento de bens e serviços, pode ser uma
alternativa para a diminuição do preço dos produtos e serviços ofertados no país, para que
pessoas com renda mais baixa também tenham acesso a um consumo adequado.

3.3.2. CARGA TRIBUTÁRIA SOBRE BENS E SERVIÇOS

Diferente do gráfico acima (Tributação da Renda), o Brasil configura entre os


primeiros países na cobrança de impostos sobre os bens e serviços. Este tipo de cobrança
acaba encarecendo os produtos para os consumidores. E tendo uma correlação com a
insatisfação dos empresários, que alegam que um dos motivos para o fechamento de suas
empresas é a alta carga tributária cobrada no Brasil e o preço muito alto dos produtos.
A tributação sobre bens e serviços e ou sobre o consumo, assim como em relação a
renda, prejudica mais os contribuintes que possuem um rendimento menor. Como podemos
observar no gráfico esposado abaixo, o Brasil está em segundo lugar em uma lista de 30
países que mais tributam bens e serviços (RECEITA FEDERAL, 2015).

Gráfico 3 – Carga tributária sobre bens e serviços – Brasil e países da OCDE (2014)

Fonte: Receita federal brasileira, 2015


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De acordo com Malaquias (2016) apud Tributo municipal (2017, texto virtual), “o
Brasil tem uma base de consumo expressiva porque tributa o consumo nos três entes. Quem
mais tributa a compra de bens e de serviços são estados, alguns sendo sustentados quase
inteiramente pela arrecadação do ICMS (Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e
Serviços)”.
O CCiF – Centro de cidadania fiscal, divulgou em agosto desse ano uma possível
reforma do modelo brasileiro de tributação de bens e serviços, que ainda está em análise, onde
a mesma diz que:
O cerne da proposta do CCiF é a progressiva substituição dos cinco tributos
atuais por um único imposto, do tipo IVA, denominado Imposto sobre Bens
e Serviços (IBS), cuja receita seria partilhada entre a União, os estados e os
municípios [...]. Os benefícios esperados das mudanças propostas são
muitos: a) grande simplificação do sistema tributário brasileiro, reduzindo
expressivamente o contencioso e o custo de conformidade tributária; b)
ampliação da taxa de investimentos; e c) grande aumento da produtividade.
A reforma nos termos propostos não afeta a carga tributária, mas melhora
significativamente a qualidade de nosso sistema tributário, tornando-o mais
simples, transparente e neutro e beneficiando o crescimento de longo prazo
do país. (CCIF, 2017, p. 04 – 06)

Os cinco tributos citados seriam PIS, Cofins, IPI, ICMS e ISS, que de uma forma
simplificada iriam ser substituídos por um único, provocando assim uma melhora no sistema
tributário brasileiro em termos de transparência e facilidade para os contribuintes, o que
favoreceria o desenvolvimento do país.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante dos resultados apresentados no presente estudo, podemos observar que, mesmo
com a carga tributária abaixo da média em relação aos países da OCDE, o sistema tributário
brasileiro não incentiva o empreendedorismo. Além de não oferecer métodos que fazem os
empreendimentos prosperarem, há uma falta de garantia e entendimento quanto às regras que
são impostas pelo governo para a vinda de novas atividades mercantis. Há diversas mudanças
de alíquotas todos os dias, assim o empresário não será capaz de fazer prospecção quanto ao
rumo de seus negócios.
A partir de julho de 2009 com a simplificação do registro comercial e do cadastro
nacional de pessoa jurídica, criação do Microempreendedor Individual – MEI, foram
observados uma melhora na sobrevida das empresas, o que contrasta com a realidade de
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outras empresas abertas pelo sistema convencional. Isto demonstra que a desburocratização na
abertura, simplificação da cobrança de tributo, agilidade no processo de abertura, contribuem
para o crescimento do empreendedorismo.
A alta carga tributária brasileira sempre aparece quando o assunto são as dificuldades
de se manter uma empresa ativa no mercado hoje. De acordo com a maioria dos empresários,
ela influencia diretamente no desempenho das atividades de uma empresa. Em vista dos dados
que foram apresentados no trabalho acima, podemos concluir que com a carga tributária
representando mais de 32% do PIB brasileiro em 2014, praticamente quase tudo que foi
produzido no Brasil durante o ano foi para os cofres públicos. Um problema bastante comum
enfrentado por esses empresários é a concorrência desleal que há quanto ao pagamento de
tributos, ou seja, enquanto uns pagam em dia, todas as suas obrigações, os que sonegam e
preferem não ir pelos meios legais conseguem levar seu negócio adiante com mais facilidade.
Consequentemente, com a carga tributária muito alta, os índices de sonegação são cada vez
maiores.
No comparativo feito com os países da OCDE, vimos que o Brasil tem uma carga
tributária que pode ser comparada aos países mais desenvolvidos do mundo, no entanto é
possível constatar com facilidade que não adquirimos o nível de qualidade de vida e o
desenvolvimento das nações mais ricas, tampouco a simplificação e a igualdade na cobrança
de tributos. Logo, podemos complementar que a nossa carga tributária é injusta, pois ela
reflete diretamente sobre o produto (bens e serviços) e não sobre a renda como vimos mais
detalhados nos tópicos 3.3.1 e 3.3.2. Sendo assim, se faz necessário uma simplificação no
sistema tributário brasileiro de forma a melhorar a eficiência na administração dos recursos e
não a gerar um aumento na arrecadação total de tributos.

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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<http://idg.receita.fazenda.gov.br/dados/receitadata/estudos-e-tributarios-e-
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setembro de 2017.

SEBRAE. Sobrevivência das empresas no Brasil. 2016. Disponível em:


<https://www.sebrae.com.br/Sebrae/Portal%20Sebrae/Anexos/sobrevivencia-das-empresas-
no-brasil-relatorio-apresentacao-2016.pdf>Acesso em: 25 de setembro de 2017.

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