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VIOLAO
Yamandu
Ano 1 - Número 3 - Novembro 2015
www.violaomais.com.br
Costa
A interpretação lapidada do
virtuose cheio de personalidade
Exclu
E mais: Curso sivo!
de vio
Nova coluna: Sete Cordas popu lão
Conheça o bouzouki grego com v lar
ídeoa
O repique na viola caipira ulas
Como tocar samba
O uso do polegar no flamenco
editorial
Chegamos à edição nº 3!
Os últimos três meses passaram rápido demais. Não dá para acreditar que já está no ar a
terceira edição de Violão+. Nem dá tempo de comemorar uma, já vem outra. Então, não
falemos nada, vamos trabalhando assim, de modo contínuo. E todo mês a gente coloca
no ar o fruto desse trabalho. Sabia que iria dar muito trabalho, mas não tanto. Também
sabia que seria prazeroso. É muito mais do que eu imaginava! Muita gente entrando em
contato, muita gente querendo que dê certo... E está dando!
As surpresas que preparamos para você, leitor da Violão+: uma nova coluna, que muito
fez falta nas duas primeiras edições: Violão 7 cordas. Nosso colaborador Cleber Assumpção
nos fala sobre esse instrumento, que extrapolou as rodas de choro e vive também (muito
bem!) nas mãos de solistas como o nosso entrevistado de capa, Yamandu Costa. Em
conversa antes de um show no SESC Pompeia, Yamandu nos falou sobre suas influências
e como vai a carreira, além de traçar um paralelo interessantíssimo entre o popular e o
erudito. E ainda tocou uma música exclusivamente para nós! Também conversamos com
o professor Edelton Gloeden, que está completando 60 anos de idade e 30 de USP. Muita
história para contar! Na Coda, o relato de uma visita-homenagem ao grande compositor,
professor e maestro Edmundo Villani-
Côrtes, que acaba de completar 85 anos,
com saúde, energia e produção musical.
E uma paixão inconteste pelo violão,
instrumento ao qual se dedicou antes de ir
para o piano. Confira. Para nos livrar das
vírgulas mal colocadas e das palavras mal
escritas, mais uma colaboradora: Valéria
Diniz, que começou com algumas colunas
e seções desta vez (De ouvido, Violão
Brasileiro, Iniciantes, Sete Cordas, Mundo),
mas terá muito trabalho conosco a partir das
próximas edições. Grande abraço, espero
que esteja no ponto certo!
Luis Stelzer
Editor-técnico
4 34
Você na V+ Mundo
8 36
Em pauta De ouvido
12 40
Retrato Como
estudar
20
Vitrine 41
Violão
brasileiro
44
Siderurgia 62
Flamenco
48 64
Iniciantes Improvisação
22
54 66
Yamandu
Sete cordas Classificados
Costa
32 59 67
História Viola caipira Coda
Segunda edição
Muito bom! Essas publicações fazem muita falta. Vida longa para Violão+! (Eduardo
Knaip, em nossa página no Facebook)
Acabei de ler a revista. Está muito bem feita, com matérias interessantes a todo tipo
de público. Parabéns, Luis Stelzer e toda a trupe! Vocês merecem muito sucesso!
(Iara de Rossi, em nossa página no Facebook)
4 • VIOLÃO+
você na violão+
Obrigado
V+: Agradecemos a todos pelas mensagens, das quais as publicadas aqui são
uma pequena amostra. O fato de termos professores e violonistas de categoria
entre nossos leitores muito nos honra e, ao mesmo tempo, nos acarreta maior
responsabilidade. Esperamos poder sempre atender às expectativas de um
público tão seleto e disseminar informações aos estudantes de qualquer nível
e todos os amantes do violão. Todas as sugestões e críticas são muito bem-
vindas e nos ajudarão a aprimorar cada vez mais nossa revista.
Assinatura
Salve! Parabéns pela revista. Gostaria de saber se há versão impressa, se
posso assinar e como posso adquirir os arquivos de todas as edições. Obrigado.
(Wellington Farias, por e-mail)
V+: A revista Violão+ é digital e pode ser acessada e baixada pelo site
www.violaomais.com.br. Não há versão impressa, mas, se você quiser,
pode baixar a versão PDF e imprimir as páginas que desejar.
Como participar:
1. Grave um vídeo de sua performance.
2. Faça o upload desse vídeo para um canal no Youtube ou para um servidor de
transferência de arquivos como Sendspace.com, WeTransfer.com ou WeSend.pt.
3. Envie o link, acompanhado de release e foto para o endereço editor@violaomais.com.br
4. A cada edição, escolheremos um artista para figurar nas páginas de Violão+, com
direito a entrevista e publicação de release e contato.
VIOLÃO+ • 5
você na violão+
Duo Dois em Um
Formado pelos violonistas Gabriele Leite e Marcelo Brito, alunos do
conservatório de Tatuí, o Duo Dois em Um tem como objetivo executar
músicas de diferentes períodos, mas com ênfase em músicas brasileiras.
Orientados desde 2012 pela professora Márcia Braga, os integrantes do duo
participaram, com colocações destacadas, de vários concursos de violão,
como Souza Lima, Musicalis e Prêmio Incentivo à Música de Câmara.
A integração de Gabriele e Brito, aliada ao som cristalino que o duo produz
em seus instrumentos, chama a atenção, tanto pela juventude de ambos
quanto pela interpretação madura de peças dos mais variados períodos. É
mais um grupo a enriquecer o cenário violonístico brasileiro.
6 • VIOLÃO+
CD-60 CE
CLASSIC DESIGN SERIES
/FenderBrasil www.fender.com.br
EM PAUTA
O baiano, radicado na Europa há sete anos, João Carlos Victor Alves, venceu a
49ª Edição do Concurso Internacional de Violão Francisco Tárrega, realizado em
Benicàssim, na Espanha. Ele concorreu com 28 candidatos de 17 nacionalidades
distintas, sendo finalista do certame com dois artistas coreanos e um cubano,
nesta que é uma das competições de performance musical mais importantes do
mundo. Em 49 anos de existência do concurso, o violonista foi o segundo brasileiro
a conseguir o feito, anteriormente conquistado pelo paulista Fábio Zanon.
8 • VIOLÃO+
EM PAUTA
SUPERSÔNICO
Para aqueles que querem turbinar as
possibilidades do violão, o músico Robin
Sukroso criou oACPAD, gadget que permite
tocar diversos tipos de sons, tais como
baterias, baixos e até mesmo orquestra,
mantendo as mãos no instrumento. A
tecnologia consiste em uma fina placa de
polímero adesivo que pode ser fixada no tampo do violão e serve de interface entre o
músico e o computador, além de oferecer dois loopers, dez configurações, dois sliders
e oito teclas, todos customizáveis. Com a possibilidade de recarga via USB, o que
garante algo em torno de 5 a 6 horas de uso ininterrupto, o acessório – que tem todos
os circuitos construídos em ouro - se conecta ao computador por meio de um cabo
ou dispositivo USB wireless, graças a uma entrada mini USB. O ACPAD deve estar
disponível para venda a partir de junho de 2016, mas já pode ser comprado por cerca
de R$ 1.000 diretamente com o inventor.
VIOLÃO+ • 9
EM PAUTA
RELÍQUIA
Um violão de John Lennon, aparentemente furtado em 1963, foi leiloado no
início de novembro, nos Estados Unidos, por aproximadamente R$ 9 milhões
(US$ 2,4 milhões). O instrumento foi usado pelo Beatle para gravar os primeiros
sucessos do grupo, como “Love Me Do” e ““PS I Love You””. A Gibson acústica
J-160E, de 1962, sumiu durante o Beatles Finsbury Park Christmas Show e
ficou desaparecida por mais de 50 anos. No ano passado, surgiu a notícia de
que o violão estaria em poder de John McCaw, um aposentado americano que o
comprou em uma loja de penhores no final dos anos 60 por US$ 275, sem saber
da importância do instrumento. McCaw descobriu que tinha uma relíquia em seu
poder quando viu uma foto do violão em uma revista de música e reconheceu
o número de série do instrumento. Ciente da possível polêmica por leiloar um
instrumento furtado, McCaw decidiu que metade do dinheiro da venda será
doado à Spirit Foundation, ONG dirigida pela viúva de Lennon, Yoko Ono.
10 • VIOLÃO+
acontece
Edelton Gloeden
12 • VIOLÃO+
RETRATO
Carreira
Consolidada
Edelton Gloeden, um dos mais importantes
músicos brasileiros da atualidade, fala a
Violão+ sobre carreira, festivais, música de
câmara e muito mais
VIOLÃO+ • 17
RETRATO
já estava entrando na USP. E entrei lá certeza, enormes dores de cabeça
muito motivado. É claro, a gente comete também. Para conseguir tudo aquilo,
uns erros, é normal. As pessoas pensam: imagino o trabalho que deu...
nossa, professor da USP, doutor... Mas Claro que isso não foi sozinho, é preciso
a gente erra também e tem que correr montar uma equipe. O Festival Brouwer
atrás, o que também é uma forma de foi realmente muito interessante. O meu
aprender. Voltando à época do Brooklin, colega do Departamento de Música,
foi quando comecei a correr o País Gil Jardim, regente, é meu conhecido
trabalhando em festivais: Brasília, Ouro desde a época de estudantes. E a gente
Preto etc. pensava na possibilidade do Brouwer
vir ao Brasil, o que era uma loucura,
Violão+: Os festivais são de uma ainda mais em tempos de ditadura. Era
importância fundamental para o impossível pensar uma coisa dessas.
desenvolvimento dos alunos em Um belo dia, o Franceschi, diretor do
várias regiões do país. instituto Cervantes, e o Gil, que acabara
O perfil dos festivais é bem diferente de entrar na chefia do Departamento
do que era há alguns anos. Antes, eles de Música da USP, me chamaram no
eram grandes, com duração de um corredor e falaram: “bola um festival,
mês. Os cursos pequenos que eram nós vamos trazer o Brouwer!”. A história
dados aqui em São Paulo eram de começou desse jeito. O Franceschi foi
duas semanas. Hoje esses eventos diretor do Instituto Cervantes em Berlim
são menores, em função de dinheiro, e, depois, transferido aqui para São
disponibilidade e tudo mais. Embora Paulo. É um cara que adora violão. Fez
não pareça nada bom, acaba facilitando uma série no Instituto, trazendo vários
que surjam em vários pontos do Brasil. violonistas espanhóis. Ocorreram quatro
Naquela época, era só Porto Alegre. No edições. Agora, estamos em compasso
Rio de Janeiro, havia o Concurso Villa- de espera, tomando fôlego para outros.
Lobos, que também mexia com o País Fui recentemente a Porto Alegre, em um
e até com o exterior. Mas eram poucos. festival organizado pelo Daniel Wolff,
Hoje, temos mais eventos, de menor que é professor da Universidade Federal
duração. Também temos a chegada do do Rio Grande do Sul. Foi um festival
violão às universidades, que hoje tem maravilhoso, internacional, de altíssimo
um papel muito importante na formação nível. O que é bacana de ver é que esses
do violonista. Há uma divulgação do eventos estão acontecendo. Também aqui
instrumento. De norte a sul do país, os em São Paulo, com a entrada do Gilson
professores estão se movimentando, Antunes na UNICAMP, estamos fazendo
fazendo festivais mais curtos, trazendo um esforço para manter um intercâmbio
gente de fora. Tudo isso é muito entre as universidades, fazendo ações,
importante. Mas com esforço hercúleo. a princípio no campo pedagógico, nos
programas de graduação e pós. E um
Violão+: Você comandou o Festival segundo momento, vamos abrir isso para
Leo Brouwer, que foi enorme. Com o grande público. Essa é nossa ideia.
18 • VIOLÃO+
RETRATO
Edelton Gloeden
VIOLÃO+ • 19
VITRINE
Pride Music
www.fender.com.br
20 • VIOLÃO+
VITRINE
iRig Acoustic
O iRig Acoustic, da IK Multimedia, é primeiro microfone/interface mobile
desenvolvido especificamente para violão acústico. O equipamento,
patenteado pela empresa, comporta um microfone tipo MEMS de padrão
polar omnidirectional, resposta de frequência de 15 Hz a 20 kHz e
sensibilidade de -40dBv (1kHz, 94dB SPL) com SPL máximo de 130dB
SPL e relação sinal ruído de 63dBA. Se prende à boca do violão por
meio de um clipe emborrachado e possui monitoração e saída de linha
embutidas para se conectar diretamente a iPhones, iPads, iPod touchs, e
demais equipamentos Mac e Android. O iRig Acoustic vem com o aplicativo
parceiro AmpliTube® Acoustic - o primeiro desenhado especificamente para
violão, performance ao vivo e gravação - que vem carregado com novos
equipamentos acústicos.
Soundix Brazil
www.soundixbrasil.com
VIOLÃO+ • 21
matéria de capa
Por Luis Stelzer
Personalidade
Lapidada O violonista e compositor
gaúcho Yamandu Costa é a
síntese de muitos estilos,
do choro à música erudita,
criando interpretações de muita
personalidade no violão 7 cordas
yamandu costa
Nascido em Passo Fundo, em 1980, discografia e trabalhos com luminares da
e considerado um prodígio do violão, música brasileira, como Dominguinhos e
Yamandu Costa começou a aparecer em Paulo Moura. Yamandu é hoje uma das
shows e programas de TV aos 7 anos, ao maiores referências mundiais do violão 7
lado do pai, Algacir Costa. Nascido em meio cordas e inspiração para a jovem geração.
musical, viajando desde bebê no ônibus
do grupo regionalista Os Fronteiriços, VIOLÃO+: Como surgiu o gosto pelo violão?
aprimorou-se com Lúcio Yanel, virtuoso Yamandu – O violão é um instrumento
argentino radicado no Brasil. Até os 15 caseiro. Meu pai tocava muito bem. E
anos, sua única escola musical era a música era todo cuidadoso com o violão dele.
folclórica do Sul do Brasil, Argentina e Então, ele guardava bem o instrumento,
Uruguai. Aos 16 anos mudou-se para São não deixava criança chegar perto, por
Paulo e em 2001 conquistou o Prêmio Visa ter todo um respeito por aquele objeto
de Música Daí, foi para o Rio de Janeiro, que ele gostava tanto. Chegou um cara
transformando-se em sensação nos bares na minha casa, eu tinha uns 4 anos,
do bairro boêmio da Lapa. chamado Lucio Yanel, argentino, que tive
Yamandu hoje se apresenta regularmente a sorte de ter no convívio familiar. Foi o
com importantes grupos orquestrais da cara que me inspirou a tocar violão. Ele
atualidade, atuando ao lado de regentes tinha uma personalidade tão forte tocando
consagrados como Kristjan Jarvi, Kurt e tanta generosidade que, quando eu o
Mazur e Roberto Minkzuc, entre outros. vi tocando, me dei conta que eu queria
Além disso, possui extensa e variada fazer aquilo. Queria pelo menos entender
24 • VIOLÃO+
yamandu costa
aquela linguagem. Aí, foi uma coisa
meio sem volta. Desde muito pequeno,
4 ou 5 anos, eu já sabia o que queria
fazer. Nunca tive dúvida alguma a esse
respeito. Então, o foco foi esse: com 5 ou
6 anos, comecei a pegar o instrumento
e não larguei até hoje. Digamos, é outra
maneira que tenho de me comunicar,
através do violão, da música.
VIOLÃO+ • 27
yamandu costa
outra. Eles são muito duros e nós, muito casa, a qualidade dele como violonista e
descuidados com o acabamento das músico é fantástica. Uma personalidade
interpretações. O futuro que podemos viva, aperta as notas no traste, ele já te
esperar é a mistura dessas escolas. ganha antes de começar a tocar, de tão
Quando a gente conseguir misturar esse forte que é a personalidade dele. Raphael
cuidado, essa perfeição técnica, esse Rabello, grande, grande mestre. Minha
apuro, até o cuidado de como lixar as meta como violonista brasileiro é chegar
unhas, de pensar em um som redondo, na à propriedade de tocar daquele jeito, do
emissão desse som, todo o acabamento domínio da linguagem brasileira que ele
que essa escola proporciona, com alcançou, no samba, no choro, nos ritmos
o relaxamento, a descontração e o que representam o país, de uma maneira
conhecimento harmônico prático que geral. E outros caras internacionais: o
só o popular proporciona, vai ser outra Django Reinhardt, belga-francês que foi
etapa da interpretação na música. revolucionário nas décadas de 1930/40,
criou uma linguagem que não morre, que
VIOLÃO+: Quais os violonistas que mais não vai morrer. Criou uma maneira de
te influenciaram? E que músicos não tocar. Paco de Lucía, grande mestre, que
violonistas você admira? tive o prazer de conhecer. Ele foi assistir
Yamandu – Baden Powell, por exemplo, a um concerto que fui fazer em Porto
inspiração total. O Lucio, que foi o Alegre. Tê-lo na plateia foi demais. Era
primeiro, continua sendo o meu grande um cara super-humano... Muita gente
mestre. Independentemente da sorte que me influencia, inclusive compositores.
tive de conviver com ele dentro de minha Ando num namoro muito grande com
28 • VIOLÃO+
yamandu costa
um compositor colombiano, falecido Yamandu - Olha esse som.. (tocando o
recentemente, chamado Gentil Montanha. violão ao som dos microfones do palco
Incrível! É muita gente mesmo. Augustin do SESC Pompeia) Violão! Peguei um
Barrios, paraguaio, incrível também. São violão (tenho uma coleção) e mandei
muitas influências. Estou querendo gravar colocar um captador, que tivemos a
um disco tocando esse repertório latino- honra do grande Paulo Bellinati instalar,
americano, que a gente conhece pouco chamado Carlos Juan. Só em último caso
e que é a produção dos nosso vizinhos, eu uso, quando vou tocar em lugares
que é uma escola maravilhosa. abertos, onde não existam condições
de utilizar microfones... Este som é uma
VIOLÃO+: Você trabalhou com muitos delícia (toca de novo o violão), em um
gênios que, infelizmente, já nos deixaram. teatro maravilhoso, com um técnico de
Um deles foi o Dominguinhos. Como foi som maravilhoso... Tudo certo, assim
trabalhar com ele nessa combinação é que eu gosto. Agora, se vamos tocar
violão e acordeon? num lugar sem essas condições, não
Yamandu – Independentemente do tem jeito. Tem que plugar. O captador
instrumento, o Dominguinhos era um vai tentar fazer essa função. Então, pedi
músico fora de série. Ele tinha uma para o Paulo colocar esse captador em
maturidade... E, pelo jeito, teve essa um violão meu.
maturidade bem cedo. Parece que tem
cara que já nasce meio pronto. Foi o cara VIOLÃO+: E esse violão 7 cordas que
que mais me ensinou sem falar nada, você tem na mão, de onde vem?
só mostrando, só tocando. No convívio Yamandu - Este é um violão canadense,
com ele, você já percebia muita coisa, A que tenho usado nos últimos quatro
generosidade com que ele tocava. Era anos, de um luthier chamado Will Hamm.
uma grande alma, um entendimento de Fui tocar com a Orquestra Sinfônica
que a música é compartilhada. Mesmo de Calgary, que é na região britânica
quando se está sozinho, que a plateia do Canadá. Também fui para dar um
esteja ali e que consiga se conectar com workshop, junto com o Hamilton de
você através da música que você está
querendo passar. É uma linguagem de
aproximação. O Dominguinhos fazia isso
naturalmente. Era um fio de luz aberto,
com toda aquela carga emotiva dele.
Tinha um peso espiritual muito grande.
A música era uma libertação pela qual
ele passava toda essa tristeza alegre
que tinha.
VIOLÃO+ • 29
yamandu costa
Holanda. Fizemos uma masterclass para
uma plateia especializada em música.
Esse cara apareceu. Veio mostrar pra
gente um bandolim, um bouzouki e um
violão de seis cordas, de que gostei
muito. Fiz um acordo com ele: “olha,
cara, posso te pagar tanto, quero um
violão assim, assim e assim, com a
escala indo até o ré. (normalmente, o
violão vai até o si – ele toca a nota, sai
Lúcio Yanel perfeita e cristalina). O braço tem que
ser um pouquinho levantado...” Enfim,
dei todas as características a ele. Queria
um violão agressivo, brilhante, o que é
o mais difícil no violão, pois o grave é
mais fácil. Preciso de um bom sustain.
Encomendei um violão com tampo de
cedro. Uns oito, nove meses depois, veio
ao Brasil. Ele já tinha uma conexão muito
grande aqui, pois já tinha morado na
Amazônia, tinha construído um barco... O
cara é muito doido! Independentemente
Hamilton de Holanda
dos instrumentos que faz, é uma
pessoa muito interessante. Vem uma
vez por ano, pelo menos, ao Brasil, traz
instrumentos. Ele fez uma tranca, uma
emboscada, que luthiers às vezes fazem
com a gente. Encomendei um violão
de cedro. Ele chegou em casa com um
de cedro e um de abeto. Dois! E me
falou: “agora, você escolhe”. Isso é uma
sacanagem, uma grande sacanagem.
Orquestra de Câmara Theatro São Pedro
Quero os dois, respondi. Fizemos um
acordo e essa parceria começou, que
agora está virando uma série de violões
com meu nome, minha assinatura, para
o mercado internacional. Já tenho uma
assinatura aqui no Brasil, com um luthier
chamado João Scremin, que faz violões
ótimos, que uso muito. Um violão muito
bom, mesmo. Então, são esse violões
Bobby McFerrin que eu uso, os do Will e os do João.
30 • VIOLÃO+
yamandu costa
VIOLÃO+ • 31
história Por Rosimary Parra
Mão direita na
vihuela
Apesar das semelhanças entre o violão e a vihuela de mano quanto
ao formato do corpo e número de ordens – violão seis cordas simples
e vihuela seis cordas em pares - há diferenças que geram abordagem
técnica e musical distintas
32 • VIOLÃO+
história
improvisatórias, estas fórmulas esse repertório será necessária uma
funcionarão como se estivéssemos combinação da técnica básica do
tocando com um plectro (tipo de alaúde com outros elementos mais
palheta), influenciando muita na próximos à técnica usada para a
articulação. família das guitarras (guitarra barroca,
No decorrer do Renascimento as obras romântica e violão).
para alaúde e vihuela foram ganhando Nos livros de vihuela, para passagens
novas texturas na construção musical. melódicas são descritas as fórmulas
O repertório deste período abordará “dos dedos”- que alternam indicador
peças com textura melódica, passando e médio - e “dedillo” - usando o dedo
por obras que alternavam entre indicador como um plectro.
trechos mais melódicos e outros Normalmente, não é recomendado o
mais contrapontísticos e ainda obras uso das unhas para tocar instrumentos
totalmente contrapontísticas. antigos com cordas duplas porque
Isto implicará em algumas modificações elas geram maior dificuldade para
na técnica da mão direita quanto sentir as duas cordas e tocá-las
ao posicionamento do polegar e às simultaneamente com boa sonoridade.
fórmulas descritas acima, em função No entanto, é possível usar unhas
do repertório que será tocado. curtas que possibilitem trabalhar bem
Quanto ao posicionamento do polegar, em instrumentos de cordas duplas,
são conhecidos os termos: “figueta desde que se ajuste o posicionamento
castellana” – o polegar se posiciona da mão evitando o atrito da unha na
mais para fora da mão - e “figueta corda e ouvindo com muita atenção o
extrangera” - o polegar se posiciona som resultante. Isto vale para quem
para dentro da mão. queira trabalhar com os instrumentos
O repertório para vihuela tem como antigos e com o violão.
base a polifonia contrapontística ou
seja, um entrelaçamento de linhas Bibliografia
COELHO, V.A. Performance on lute, guitar and vihuela:
melódicas, sendo que cada uma delas Historical Practice and Modern Interpretation. New York:
tem expressão própria. Cambridge University Press, 1997.
DAMIANI, Andrea. Metodo per liuto rinascimentale. Bologna:
Mais especificamente, para tocar UT ORPHEUS EDIZIONI, 1998
Posição da mão para uso do i-m Posição da mão para tocar notas simultâneas
VIOLÃO+ • 33
mundo Por Luisa Fernanda Hinojosa Streber
Bouzouki
(μπουζούκι)
Esse belo instrumento é conhecido por representar
a música tradicional grega e acompanhar bailes e
canções, sem deixar de ter papel importantíssimo
em execuções de caráter instrumental
Na Antiguidade
Chamado panduris ou pandurión, o
bouzouki é o primeiro instrumento de
que se tem registro com trastes ou
casas e o primeiro instrumento
de corda temperado,
precursor de uma das
famílias do alaúde que
existe até hoje. Também
34 • VIOLÃO+
mundo
Giorgos Zampetas
VIOLÃO+ • 35
de ouvido
saber www.musikosofia.com.br
duemaestri@uol.com.br
Exercício básico 2
Grave em seu celular sons que você considere com
frequência constante, tons, que chamaremos de notas
musicais. Pode ser o som de uma buzina, de uma máquina
trabalhando, assobiando com frequência constante ou
o ronco de um motor. Qualquer som que você perceba
VIOLÃO+ • 37
de ouvido
possuir certa semelhança com os sons produzidos por
instrumentos musicais. Alguns sons se mesclam com
ruídos e você poderá ficar confuso quanto à altura.
Altura?
Altura é a primeira propriedade que percebemos no som
de frequência constante. O som de frequência constante,
que chamaremos de nota musical, ou simplesmente nota,
pode ser: gravíssimo, grave, médio grave, médio, médio
agudo, agudo, superagudo. Nada como um instrumento
musical para entendermos essa relatividade.
Em casa, com serenidade, tente descobrir onde as notas
gravadas estão na escala de seu violão.
Anote o número da corda e da casa da seguinte forma:
E1 – corda mi solta (0): 60 – corda 6, casa 0
A3 – lá na corda 1 e casa 5: 15
Exercício de atenção
Após ler o artigo até o final, responda com V se a sentença for verdadeira e
com F se for falsa. As respostas estão no fim do artigo.
( ) Um tom de 440 Hz é mais grave do que um tom de 880 Hz.
( ) Um tom de 1.150 Hz é mais grave do que um tom de 4.580 Hz.
( ) Um tom de 1 quilohertz (1 kHz) é mais agudo do que um tom de 2.000 Hz
(sabendo que 1 k é igual a 1.000 Hz).
( ) Um tom de 2 kHz é mais grave do que um tom de 1.200 Hz.
( ) Um tom de 20 kHz, sonoramente, é ouvido como um som mais grave do
que um tom de 30 kHz.
38 • VIOLÃO+
de ouvido
O primeiro dígito varia de 1 a 6 e refere-se à corda.
O segundo dígito refere-se à casa e varia de 0 (corda
solta) a 19 (a última casa de alguns violões).
Para facilitar o entendimento dessa escrita, vamos
escrever todos os sons do acorde de C (Dó Maior), da
figura abaixo, do grave ao agudo, com os números de
dois dígitos que representam os sons no violão.
Os nomes dessas notas serão treinados na próxima
edição, portanto, não se preocupe com isso agora.
Teremos, do grave ao agudo: 60; 53; 42; 30; 21; 10
mão direita
brechaves@gmail.com
Exemplo:
Como eu toco
este samba?
Renato Candro
www.renatocandro.com
www.learningbrazilianguitar.com
Figura 1
Figura 2
Figura 3
Figura 4
“Serrado” (Djavan)
Síncope
Walter Nery
www.walternery.com
Os leitores que tiveram contato com nossa coluna nas
edições anteriores de Violão+ devem ter percebido uma
preocupação com a questão didática e evolutiva em
relação à apresentação e desenvolvimento das aulas
sobre o violão cordas de aço.
Na primeira, falamos do baixo alternado como um
recurso de base nos arranjos de peças apropriadas
para o instrumento. No número anterior, demos ênfase
ao contratempo como um modo de imprimir maior
dinamismo. Na presente edição, falaremos da síncope
musical, um recurso rítmico expressivo e sofisticado
que começou a ser largamente explorado no século
XIV em um estilo musical da Europa denominado Ars
Subtilior. Ao final, encerraremos a “saga” da música
Mack the Knife, de Bertold Brecht e Kurt Weill, com
um arranjo que procura incorporar todos os elementos
abordados até aqui.
Definição
A síncope consiste no ato de valorizar um ponto débil
em se tratando da acentuação de um determinado
grupo rítmico ou até mesmo de um certo ponto de um
compasso. O resultado musical é marcante e produz
um efeito de suspensão em que a música transcorre
com maior fluidez e leveza. Veja o Exemplo 1:
44 • VIOLÃO+
siderurgia
No exemplo anterior, as notas da melodia encontram-se
antecipadas. Uma redução rítmica das mesmas produz
um efeito de síncope interessante:
VIOLÃO+ • 45
siderurgia
Ou ainda:
46 • VIOLÃO+
siderurgia
VIOLÃO+ • 47
iniciantes
Instruções:
Exercícios:
1) Mão direita. Arpejos sobre os acordes Am (Lá menor)
e Em (Mi menor), aprendidos na edição anterior.
VIOLÃO+ • 49
iniciantes
50 • VIOLÃO+
iniciantes
3) Mão esquerda. Dando continuidade aos exercícios
de sensibilização, vamos trabalhar mais três fórmulas.
Contando com a fórmula apresentada na edição anterior,
chegaremos a quatro do total de doze para atingir nosso
objetivo de aprender o toque frontal ao braço do instrumento.
Atenção à indicação da tablatura: devemos começar com
o dedo 1 na casa 5, o dedo 2 na casa 6, e assim por
diante. Os números de 1 a 4 representam os dedos da mão
esquerda. As letras I e M representam os dedos indicador
e médio da mão direita. Para cada nota tocada, vamos
usar um dos dedos – sempre de forma alternada.
VIOLÃO+ • 51
iniciantes
Notação Musical
Vamos entender como funciona a partitura. Como já
havíamos explicado na tablatura, os sons na partitura
pensando do registro grave para o agudo seguem a
sequência de baixo para cima, ou seja, quanto mais para
baixo colocamos a nota, mais grave o som e quanto mais
para cima, mais agudo. A partitura ou pauta musical é
composta por cinco linhas e as notas podem ser colocadas
nas linhas e nos espaços entre elas. A partitura serve para
representar as notas musicais e funciona para o registro
dos diversos instrumentos musicais e da voz, portanto,
não devemos confundir as linhas da partitura com as
cordas do violão.
Como o violão possui uma extensão maior de notas – em
relação ao número de linhas da partitura –, usamos as
linhas complementares e suplementares para preencher
este registro. Para iniciar a leitura de uma partitura,
coloca-se uma clave (chave) logo no início da pauta. Para
o violão, utiliza-se a clave de Sol (G), escrita a partir da
segunda linha da pauta, que será o local da nota Sol.
Na sequência, podemos pensar: o que vem depois da
nota Sol? Sim, vem a nota Lá, no espaço logo acima da
segunda linha e da nota Sol. Na terceira linha, surge a
nota Si, e assim por diante.
VIOLÃO+ • 53
sete cordas
54 • VIOLÃO+
sete cordas
Outro elemento característico dessa escola é o uso da
dedeira de aço inox. O violão 7 cordas, na sua primeira
escola, assume a função rítmico-harmônica, com frases
de contracanto (baixarias) aplicadas, principalmente, nos
finais de frase e repousos da melodia principal.
Com a popularização do violão 7 cordas, em especial por
meio das gravações feitas pelo mestre Dino, o instrumento
passou a chamar a atenção de diversos músicos, o que
resulta em um número cada vez maior de adeptos. Entre
eles destaca-se outro grande violonista: Raphael Rabello.
Rabello teve uma carreira breve (faleceu aos 33 anos), mas
deixou um legado incomensurável ao seu instrumento e à
música. Gênio precoce, estudou com outro grande mestre
do violão brasileiro, Meira, e foi fortemente influenciado
pela escola de Dino 7 Cordas, tornando-se um exímio
acompanhador nesse estilo (vale a pena pesquisar as
gravações feitas por Raphael nesse período). Contudo,
sob influência de outro grande violonista, Luiz Otávio
Braga, no início dos anos 1980, Raphael encomendou
seu primeiro 7 cordas encordoado com nylon. A partir de
então, o violão 7 cordas pôde ser dividido em duas escolas
distintas: o 7 cordas de aço e o 7 cordas de nylon.
Com sua forma única de tocar, Raphael ampliou as
possibilidades de utilização do instrumento, atuando tanto
como acompanhador quanto como solista. Agregou ao
instrumento novas sonoridades com sua forma peculiar
de harmonizar e com técnicas advindas de gêneros como
o flamenco e o jazz.
Além de Tute, China, Dino 7 Cordas, Raphael Rabello
e Luiz Otávio Braga, existe um número considerável de
grandes violonistas 7 cordas que merecem destaque,
como Valdir Silva, Valter Silva, Ventura Ramires, Jorge
Simas, Carlinhos 7 Cordas, Maurício Carrilho, Paulão
7 Cordas, Toni 7 Cordas, Marcello Gonçalves, Luisinho
7 Cordas, Edmilson Capelupi, Zé Barbeiro, Swami Jr.,
Alencar 7 Cordas, Yamandu Costa, Rogério Caetano,
Gian Correa, Bruno Vinci, nomes que são ótimas
indicações como ponto de partida e para ouvir tudo o
que for possível dos grandes mestres, pois essa foi, é
e sempre será a melhor forma de assimilar qualquer
linguagem musical. Vamos começar a “calejar” o polegar
e “gastar” as dedeiras! Raphael Rabello
VIOLÃO+ • 55
sete cordas
Afinação
Tradicionalmente, a sétima corda do violão é afinada em Dó, existindo alguns
questionamentos a respeito: uns acreditam que o motivo principal são as tonalidades
dos choros, pois na maioria delas o baixo Dó seria mais útil do que um baixo Si;
outros acreditam que é a falta de opções de cordas que realmente funcionassem
com outra afinação, o que particularmente considero mais plausível. Atualmente,
existe um número cada vez maior de violonistas que utilizam a sétima corda afinada
em Si, e, em alguns casos, em Lá. Venho utilizando a afinação tradicional, da
sétima em Dó, para o violão com cordas de aço e em Dó ou Lá para o violão com
cordas de nylon. Contudo, no decorrer de nossas matérias, pretendo levantar prós
e contras de cada afinação nos exemplos de lições que demonstrarei em vídeo.
Condução Harmônica
Visualização das notas de acorde para encadeamento
harmônico pelos baixos
Acordes Maiores e Maiores com sétima menor, seguindo cinco modelos de referência (CAGED)
56 • VIOLÃO+
sete cordas
Acordes com referência no modelo de Lá Maior (A)
VIOLÃO+ • 57
sete cordas
Acordes com referência no modelo de Mi Maior (E)
58 • VIOLÃO+
VIOLA caipira
No repique da
viola
Fábio Miranda
www.fabiomirandavioleiro.com
VIOLÃO+ • 59
VIOLA caipira
60 • VIOLÃO+
VIOLA caipira
E puxando as cordas apertadas logo depois de tocá-las
com a mão do ponteio:
62 • VIOLÃO+
f lamenco
#FicaAdica
Vivencias Imaginadas
(1995)
Vicente Amigo
Segundo disco de um
dos maiores nomes da
guitarra flamenca da era
pós Paco de Lucia. Vicente
Amigo criou um estilo,
uma marca registrada
tanto tecnicamente, quanto na sonoridade e nas suas
composições. Nessa obra, podemos apreciar sua guitarra
solista em peças como Ventanas al Alma y Sierra del Agua,
assim como em temas arranjados com percussão, baixo,
trompete, voz, palmas... Tudo muito minimalista. Também
constatamos importantes aberturas harmônicas e melódicas
(inovadoras dentro da estética da música flamenca até
então), a introdução de elementos jazzísticos, além de
outras músicas.
Fundamentos
Alex Lameira
Chamo esta coluna de fundamentos da improvisação www.alexlameira.com.br
apenas para lembrar aos leitores que improvisação não
se ensina. O que se ensina são conceitos de percepção
musical, estruturação e técnica para estarmos aptos e
prontos para criar livremente sobre uma harmonia.
Na edição anterior falamos da audição do acorde de sétima
maior. Nesta, vamos nos aprofundar ainda nesse acorde.
Você deve utilizar um gravador ou um pedal de loop para
ouvir uma base com um acorde de Cmaj7, por exemplo, e
seguir os seguintes passos:
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VIOLÃO+ • 65
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66 • VIOLÃO+
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