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Atividade de exposição e discussão sobre Juventude, Educação e

Agroecologia: panorama geral dos avanços e desafios existentes com jovens


no campo e sua permanência. Fundamentou-se nessa mesa a importância da
temática devido ao contexto histórico de saída dos jovens do campo e a
desvalorização das atividades rurais, sendo uma grande ameaça para a vida
digna no campo.

Mesa composta por Guiseppe Bandeira, Elisa Guaraná, Natália Faria, Mônica
Bufon e Diana Hahn. Compartilharam seus estudos, pesquisas e vivências com
a juventude no campo e posteriormente abriram para troca com o público. A
metodologia adotada inicialmente foi o “cochicho”, onde pequenos grupos (de
até 10 pessoas) foram formados para diálogo do tema e, posteriormente,
intervenções gerais dos participantes para todos os presentes.

Contribuição inicial de Guiseppe Bandeira:

Guiseppe Bandeira, integrante do GT de Juventude da ANA e ABA


coordenador da mesa, deu abertura com a leitura da Carta dos Movimentos de
Juventudes do Campo, das Florestas e das Águas, elaborada em 2016, em
favor do direito da juventude construir nos territórios rurais suas vidas e o
campo que se deseja. A carta ressalta pontos estratégicos para estruturação
de um Plano Nacional de Juventude e Sucessão Rural que promova
oportunidades de autonomia dos jovens na área rural, coerentes com suas
demandas.

Natália Faria de Moura:

Natália, geógrafa, atua com a juventude rural do Estado de Minas Gerais e


comunidade Quilombolas. Ela compartilha a sua experiência com a pesquisa
desenvolvida, em 2015, em um local que vive uma transição agroecológica, na
região norte da Zona da Mata (MG). O objetivo da pesquisa foi sistematizar
reflexões sobre a permanência e protagonismos da juventude no campo.
“Quais os motivos que levam os jovens a ficar? A maioria dos estudos se
desenvolve a partir dos motivos de saída dos jovens e não o contrário” constata
a pesquisadora. Ela concedeu voz e escuta aos jovens para pontuar os fatores
que os atraem ao campo. O que atraem os jovens, geralmente, também, é o
que repulsa, as conclusões apontaram, de forma geral.

Os fatores predominantes da permanência são: alcance de autonomia


financeira; autonomia para desenvolver os projetos no campo; oportunidades
de vivenciar experiências de educação no campo; o acesso às políticas
públicas e as formações em feminismo.

Os fatores predominantes de repulsa são: a falta de autonomia financeira e na


propriedade; busca por outras formações profissionais; dominância da
monocultura e falta de direito à terra. As mulheres possuem maior dificuldade
de permanência, pois não há autonomia e condições de se manter no campo.
Às vezes os jovens possuem vontade de permanecer no campo, mas com
outros modelos de atuação que não sejam diretamente manejo da terra, mas
se entendendo como sujeito do local capaz de transformações.

Elisa Guaraná:

Elisa, professora e pesquisadora da Universidade Federal do Rio de Janeiro


(UFRRJ), com experiência na área de sociologia e antropologia com ênfase
rural. Inicia questionando o que é sucessão rural e seus desafios. Afirma a
necessidade de se pensar um novo modelo de sociedade distinto do
construído. Num panorama geral dos últimos 15 anos é perceptível a
construção de uma juventude forte em que a atuação é um ato político. Houve,
também, um processo de reconhecimento social da juventude rural com
entendimento de juventude diversa, do campo das águas e das florestas.

Foram citados alguns marcos importantes nessa construção da juventude.


Dentre eles alguns esforços que tiveram peso no governo Lula/Dilma, como o
Planapo (Plano Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica); Pronara
(Programa Nacional para Redução do Uso de Agrotóxicos), REUNI
(Reestruturaçao e Expansão das Universidades), Decreto de Educação do
Campo, Plano Nacional de Juventude e Sucessão Rural e Decreto Nacional de
Sucessão Rural.

Todo esse amadurecimento de 15 anos culminou em avanços significativos


como reconhecimento social da juventude respeitando a diversidade de
gênero, racial e de etnia com uma formação da primeira geração de jovens do
campo como atores políticos, que devem se fortalecer e continuar a realizar
essa luta.

Elisa reforça também os fatores negativos que não avançaram nesse período.
Como o preconceito existente nas áreas urbanas com jovens que permanecem
na área rural, o contexto histórico de formação dos pais desses jovens do
campo, desvalorização por parte da família e da comunidade, ausência de
autonomia e participação na gestão familiar, ausência de uma política integrada
e nacional.

O desafio atual, após o golpe na política com redução drástica no orçamento


para as políticas rurais, é avançar no reconhecimento social da agricultura
familiar como uma estratégia para agroecologia.

Mônica Bufon e Diana Hahn, Contag:

Monica Bufon, secretária de Jovens trabalhadores e trabalhadoras rurais e


Diana Hahn Diretora de Juventude da Contag do Rio Grande do Sul. As duas
como representantes da Contag fizeram uma apresentação em conjunto devido
a uma limitação física de voz da palestrante Mônica.

Na exposição de ideais foi colocado que um dos desafios dos projetos de


agroecologia é considerar a diversidade de etnias, povos tradicionais,
regionalismo e também, a diversidade ambiental do país. A força da juventude
do campo aponta desafios diferentes da agricultura familiar. Atualmente, há um
interesse cada vez maior da juventude nos espaços de campos e nas políticas
públicas.

Muitas barreiras são evidentes, barreiras que travam a efetivação das políticas,
como exemplo, o Plano Nacional de Juventude e Sucessão Rural que, apesar
da existência, está paralisado. Há necessidade de retomá-la para sua
consolidação.

Um novo modelo é capaz de influenciar a forma de produção e comercialização


dos alimentos que seja protagonista em contraposição ao modelo dominante.
Para atingir um grau de alcance e consciência dos jovens para a visão
agroecológica deve-se investir nos processos de educação. Mesmo com o
cenário atual de redução de orçamento, a juventude deve cobrar seus direitos,
deve ser um canal de comunicação.

Uma estratégia seria promover a realização de campanhas de divulgação,


congressos e espaços de diálogos entre as pessoas para alcance do
reconhecimento social da agricultura familiar.

Dinâmica do Cochicho:

Nessa atividade houve formação de grupos com até 10 pessoas, para diálogos
e compartilhamento de experiências. Foi perceptível uma grande interação do
público. Não sendo possível compilar as trocas de todos os grupos. Abaixo
segue relatos de pequenos trechos de alguns grupos.

Entre as contribuições dos pequenos grupos surgiram questionamentos:

- como conquistar a juventude do campo, levando em conta as dificuldades


burocráticas e falta de recursos?

- como incidir e lutar pelos direito a terra, e no processo de empoderamento


das comunidades?

Foi exposta a afirmativa de que a luta atual das jovens do campo e da cidade é
pela sobrevivência

Entre as experiência compartilhadas segue o relato de uma jovem do Instituto


Federal do Sul de Minas e membro do MST, filha de agricultores que cursou
pedagogia, mas depois teve acesso ao movimento e hoje se entende como
parte desse processo, optando por retornar aos estudos e cursar agronomia.
Ainda sofre muito preconceito da comunidade, dos professores, sentindo
resistência até mesmo dos pais que são agricultores que não possuem renda
proveniente diretamente de sua terra e trabalham em outra fazenda para ter
renda.

Também foi apresentada a experiência de uma pesquisadora que compartilha


a solução aplicada com uma comunidade de agricultores do estado de
Tocantins. A estratégia utilizada para acessar os jovens locais foi usar a
comunicação, com estímulo para os jovens divulgarem as atividades
agroecológicas realizadas na comunidade. Nesse processo houve o
reconhecimento do valor das atividades no campo, valorização das origens,
mesmo se a escolha for distinta.

Perguntas, reflexões e contribuições da Plenária:

- Experiência do Mato Grosso do Sul: “meus avós eram do meio rural e tiveram
que vender a terra e os meus pais também foram pra cidade, mas há três anos
voltou para o meio rural, e o jovem teve q sair para cidade tentar a vida, hoje é
serralheiro, mas está desempregado, e o desejo é voltar para o campo, luta
para comprar uma terra”.

- Jovem do Maranhão graduado em pedagogia da terra e educação do campo


acredita que a ausência de uma educação contextualizada no campo construiu
uma imagem de retrocesso dos camponeses. O essencial é construir uma
imagem de pertencimento para fortalecer o novo modelo, respeitando a
diversidade e pluralidade de ideias e aptidões no campo, com introdução de
cultura, lazer e outros.

- Jovem do Acre, servidora do ICMBio, acredita que saída do jovem para a


cidade é um desafio mundial deve-se lutar pelos espaços com tomada de
decisão; o jovem é faixa etária com maior criatividade, com potencial de criar
soluções e colocar em prática.

- O jovem necessita enfrentar a crise após o golpe, o governo cortou os


recursos. Por isso, importante pensar formas criativas e cotidianas para além
do estado e ampliar o diálogo entre todos.

-Participante questiona e provoca todos ao indagar: “cadê a luta da juventude?


Não tenho visto os jovens fazer a diferença pelo futuro que desejam”.

- Em resposta a colocação anterior, uma jovem afirma que a juventude tem


lutado, está ocupando os espaços que têm por direito, que provocações são
necessárias para que os jovens levantem sua voz.

Em coro os jovens finalizam atividade com um grito de guerra e reafirmam sua


luta: #Juventude e agroecologia! #Alutaétododia !

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