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Filos o f ia

p e c i a l e n e m
es

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Sumário

Enem  3

Os objetivos  3

ProUni e Enem  4

O Enem e as universidades  4

Interdisciplinaridade e contextualização  5

Para ler o mundo  9

Para ler o texto  9

Diagramas e infográficos  9

A matemática nas páginas dos jornais  11

Ler os mapas para ler o mundo  13

A linguagem publicitária  15

Na esteira de fantasias e desejos  15

Persuadir para mobilizar  16

Para mudar comportamentos  16

Persuadir pela emoção  18

Interagindo com a publicidade  19

Tiras e charges: aprendendo por meio da arte  19

Os eixos cognitivos  21

A matriz do Enem  22

Ciências humanas e suas tecnologias  23

Ciências humanas e seus objetos do conhecimento  24

Atividades  25

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Enem
O Enem — Exame Nacional do Ensino Médio  fundamental e ensino médio — desenvolva com-
— está presente na vida dos estudantes brasileiros  petências  com  as  quais  os  cidadãos  busquem  e 
há mais de uma década, desde que foi instituído  assimilem  novas  informações,  interpretem  códi-
em 1998. De lá para cá, sua importância é crescente,  gos  e  linguagens  e  empreguem  os  conhecimen-
como mostra o número de alunos inscritos. tos  adquiridos,  tomando  decisões  autônomas  e 
socialmente relevantes. 

6.221.697
4.611.441
A atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação 

4.147.527
5.000.000

4.004.715
3.742.827
Nacional (LDB/1996) já propunha profundas trans-
3.584.569
4.500.000
4.000.000 formações no ensino médio, para que, ao concluí-lo, 
3.004.491

3.500.000
3.000.000
o aluno fosse capaz de:
1.882.393
1.829.170
1.624.131

1.552.316

2.500.000
2.000.000
I.   dominar os princípios científicos e tecnoló-
1.500.000 gicos que regem o atual mundo do traba-
390.180
346.953

1.000.000
lho e da produção;
157.221

500.000

1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011
II.   reconhecer  e  decodificar  as  diversas  for-
O  Enem  é  diferente  da  maioria  das  provas  mas contemporâneas de linguagem;
dos  vestibulares  tradicionais  e  das  avaliações  III.  d
  ominar  conhecimentos  de  filosofia  e  de 
aplicadas no ensino médio. Não se trata de dizer  sociologia necessários ao exercício da cida-
que “o Enem é mais fácil ou mais difícil” que as  dania.
outras  provas,  mas  com preender  por  que  ele  é  Foi diante dessa perspectiva que o MEC imple-
diferente. mentou  o  Enem  para  todos  os  alunos  concluintes 
do ensino médio. É importante, todavia, perceber 
Dica: que algumas diretrizes dessa avaliação sofreram al-
terações durante os últimos anos. Nos documentos 
Até a época da realização da prova, consulte 
que nortearam a primeira versão do Enem (1998), 
regularmente o portal do Enem (www.enem.
inep.gov.br) e leia todas as informações dis- o objetivo fundamental era “avaliar o desempenho 
poníveis. do aluno ao término da escolaridade básica, para 
aferir o desenvolvimento de competências funda-
mentais ao exercício pleno da cidadania”. Preten-
Os objetivos dia, também, alcançar outros objetivos:

Atualmente,  os  educadores  concordam  que  ·  oferecer  uma  referência  para  que  cada  estu-
uma  sólida  formação  geral  —  adquirida  na  edu- dante pudesse proceder à sua autoavaliação, 
cação básica — é absolutamente necessária para  visando às escolhas futuras, tanto em relação 
a continuidade dos estudos e para a inserção do  ao mercado de trabalho quanto à continuidade 
indivíduo  no  mundo  do  trabalho,  cada  vez  mais  dos estudos;
exigente  e  competitivo.  A  formação  não  inclui  ·  estruturar  uma  avaliação  da  educação  básica 
apenas  os  conteúdos  tradicionais  das  diversas  que servisse como modalidade alternativa ou 
áreas do saber científico, mas também o desen- complementar  aos  processos  de  seleção  nos 
volvimento  de  estratégias  cognitivas  que  permi- diferentes setores do mundo do trabalho;
tam  enfrentar  problemas  e  tomar  decisões  em 
·  estruturar uma avaliação da educação básica 
situações cotidianas. 
que servisse como modalidade alternativa ou 
A  velocidade  com  que  a  moderna  arquitetura  complementar  aos  exames  de  acesso  aos 
social se modifica e altera a nossa vida exige que  cursos  profissionalizantes  pós-médios  e  ao 
a  educação  básica  —  educação  infantil,  ensino  ensino superior.

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Já nos documentos do Enem 2006 lia-se que o  ProUni e Enem
Exame Nacional do Ensino Médio serviria, basica-
mente, para quatro objetivos: O ProUni — Programa Universidade para To-
dos — foi criado pelo Ministério da Educação, em 
·  avaliar competências e habilidades desenvol- 2004, e oferece bolsa de estudo integral ou parcial 
vidas ao longo da educação básica; em  instituições  privadas  de  educação  superior  a 
·  possibilitar que o aluno fizesse uso dos resul- estudantes de baixa renda e que ainda não possu-
tados  alcançados  no  Enem  em  processos  de  am diploma de nível superior. As bolsas do ProUni 
seleção para o mercado de trabalho, nas insti- são destinadas a estudantes que cursaram todo o 
tuições que utilizassem tal critério; ensino médio em escola pública e aos que cursa-
ram escola particular com bolsa integral. Em ambos 
·  permitir que o aluno usasse o Enem como alter-
os casos, os alunos devem ser provenientes de fa-
nativa ou como reforço ao vestibular, nas insti-
mílias de baixa renda.
tuições que oferecessem essa possibilidade;
O resultado do Enem é o critério utilizado para 
·  proporcionar ao aluno a possibilidade de concor-
a distribuição das bolsas, concedidas conforme as 
rer a uma bolsa pelo ProUni e outros programas 
notas.  Os  estudantes  com  as  melhores  notas  no 
governamentais de auxílio financeiro.
Enem terão maiores chances de escolher o curso e 
Em 2009, mais uma vez os objetivos do Enem  a instituição em que desejam estudar.
foram alterados. A partir de então, espera-se que 
Caso o estudante obtenha acesso a uma bolsa 
essa avaliação:
de 50% do valor da anuidade e não possa pagar os 
·  sirva de referência para que cada cidadão pos- restantes 50%, o MEC pode financiar o valor res-
sa proceder à sua autoavaliação com vistas em  tante por meio do Financiamento Estudantil (Fies). 
suas  escolhas  futuras,  tanto  em  relação  ao  Informações  atualizadas  a  respeito  do  ProUni 
mundo do trabalho quanto em relação à conti- podem  ser  obtidas  pela  internet,  no  endereço 
nuidade dos estudos; eletrônico http://portal.mec.gov.br/prouni. Nessa 
·  sirva como modalidade alternativa ou comple- página, além de outros dados, encontra-se a rela-
mentar aos processos de seleção nos diferen- ção de todas as instituições de ensino participantes 
tes setores do mundo do trabalho; do programa. 

·  sirva como modalidade alternativa ou comple- A página da Caixa Econômica Federal na inter-
mentar aos exames de acesso aos cursos pro- net  (www.caixa.gov.br)  traz  mais  detalhes  a  res-
fissionalizantes, pós-médios e à educação su- peito do programa de Financiamento Estudantil.
perior;
·  possibilite  a  participação  e  crie  condições  de  Atenção!
acesso a programas governamentais;
Há bolsas de estudo do ProUni reservadas para 
·  promova a certificação de jovens e adultos no  cidadãos  portadores  de  deficiência  e  para  os 
nível de conclusão do ensino médio; que se autodeclaram negros, pardos ou índios. 
·  promova avaliação do desempenho acadêmico  Entretanto,  o  candidato  a  essas  bolsas  deve 
das  escolas  de  ensino  médio,  de  forma  que  também se enquadrar nos demais critérios de 
cada unidade escolar receba o resultado global; seleção  do  programa,  como  renda  familiar  e 
desempenho no Enem.
·  promova  a  avaliação  do  desempenho  acadê-
mico dos estudantes ingressantes nas institui-
ções de educação superior. O Enem e as universidades
Os objetivos do Enem se tornaram muito mais  A partir de 1998, quando foi criado, o Enem 
abrangentes e ambiciosos. Natural, portanto, que o  passou  a  ser  usado  por  diversas  instituições  de 
modelo  de  avaliação  também  sofresse  profundas  ensino  superior  do  país  como  forma  de  acesso 
alterações. aos cursos. 

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Em 2008, já eram mais de 500 as instituições  Com a reformulação do Enem, em 2009, o exa-
que  consideravam  a  pontuação  obtida  pelos  can- me  passa  a  ser  comparável  no  tempo.  Em  outras 
didatos  no  Enem  —  isoladamente  ou  acoplada  a  palavras, a pontuação obtida por um candidato na 
outras  formas  de  avaliação  —  como  critério  de  versão de 2009 pode ser cotejada com a pontua-
acesso.  Algumas  instituições  reservam  vagas  aos  ção obtida na prova de 2010, por exemplo, e assim 
participantes  que  obtêm  média  igual  ou  superior  por diante.
a determinado escore; outras acrescentam pontos 
Além disso, a prova aborda mais explicitamente 
à nota obtida pelos candidatos na primeira ou na 
os componentes curriculares apresentados no ensino 
segunda fase de seus vestibulares tradicionais; al-
médio.  Cada  prova  será  relativa  a  uma  área  do 
gumas, por sua vez, aboliram seus próprios vesti-
conhecimento: 
bulares, usando como critério de seleção, única e 
exclusivamente, a nota média obtida pelos concor- I.   linguagens, códigos e suas tecnologias (in-
rentes na prova do Enem. cluindo a prova de redação); 
São pelo menos quatro as formas previstas de  II.   matemática e suas tecnologias;
utilização  do  Enem  pelas  universidades.  As  insti- III.   ciências da natureza e suas tecnologias;
tuições  podem  optar  por  empregar  a  pontuação 
IV.   ciências humanas e suas tecnologias.
obtida no Enem:
•  como critério único de seleção, em substi- Interdisciplinaridade e contextualização
tuição do vestibular tradicional; Embora  as  questões  estejam  agrupadas  em 
•  como  primeira  fase  do  processo  seletivo,  quatro  grandes  áreas  do  conhecimento  (lingua-
mantendo  a  segunda  fase  elaborada  pela  gens e códigos, matemática, ciências da natureza 
instituição; e  ciências  humanas),  não  são  separadas  por  dis-
•  com a concessão de um acréscimo à pon- ciplina.  Isso  significa  que,  ao  se  ler  o  enunciado 
tuação  do  candidato  no  processo  seletivo  da questão, pode ser difícil afirmar se ela está as-
elaborado pela instituição, dependendo da  sociada  apenas  à  biologia  ou  à  química.  Essa  es-
pontuação obtida no Enem; tratégia evidencia que o conhecimento humano é 
historicamente  adquirido  e  não  se  subdivide  em 
•  como  critério  de  preenchimento  de  vagas  “gavetas”  e  que  deve  ser  concebido  como  uma 
remanescentes. ampla rede, mutável e heterogênea. Na realidade, 
O  Inep  vem  apontando,  como  vantagem  do  as disciplinas escolares são “estratégias didáticas” 
Enem  e  de  seu  uso  pelas  instituições  de  ensino  que facilitam a caminhada pela intricada rede do 
superior,  a  promoção  da  mobilidade  dos  alunos  conhecimento.
pelo  país.  Dito  de  outra  forma,  um  candidato  de  Outra característica das questões do Enem é 
determinada região do Brasil poderá ser aprovado  a contextualização, cujo objetivo é estabelecer 
e passar a frequentar uma universidade federal de  relações  entre  o  conhecimento  e  o  mundo  que 
outra região. Espera-se, dessa forma, democratizar  nos cerca, envolvendo aspectos sociais, políticos, 
o acesso às universidades federais. culturais  e  tecnocientíficos,  sempre  ligados  ao 
cotidiano.
Até  a  edição  de  2008,  a  prova  do  Enem  trazia 
uma  proposta  de  redação  e,  na  parte  objetiva,  63  No  enunciado,  as  questões  do  Enem  trazem 
itens  (ou  questões)  interdisciplinares,  sem  articula- uma situação-problema, desafiadora e claramen-
ção direta com os conteúdos apresentados no ensino  te  relacionada  ao  contexto.  Para  sua  resolução,  o 
médio. Outra característica do antigo Enem era a im- aluno  deverá  apoiar-se  nas  informações  trazidas 
possibilidade de comparação de resultados, ou seja,  no  próprio  enunciado  e  em  conhecimentos  pré-
estatisticamente era impossível dizer se um candida- vios. Por isso é tão importante a leitura atenta dos 
to com determinada pontuação em uma prova teve  enunciados de todas as questões.
um desempenho superior ou inferior a outro com a  Ao  realizar  as  provas  do  Enem  o  candidato 
mesma pontuação em outra edição do exame. terá  cinco  notas  diferentes,  uma  para  cada  área 

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do conhecimento e uma para a redação. Não ha- do  processo  de  avaliação,  dando  aos  candidatos 
verá peso diferente para cada uma dessas notas.  oriundos  de  qualquer  lugar  do  país  igualdade  de 
Entretanto,  ao  utilizarem  as  notas  em  seus  pro- condições na disputa por vagas nas universidades 
cessos seletivos, as instituições de ensino superior  participantes do processo.
poderão conferir a elas pesos diferenciados, a fim 
de  classificarem  os  candidatos  entre  as  carreiras  As  provas  do  Enem  sempre  foram  organiza-
pleiteadas.  das  por  habilidades,  explorando  a  capacidade  de 
leitura  e  interpretação  e  a  abordagem  interdisci-
O  Enem  é  elaborado  de  acordo  com  uma 
plinar. Desde 2009, as provas correlacionam mais 
metodologia  baseada  na  Teoria da Resposta ao
diretamente  as  habilidades  ao  conjunto  dos  con-
Item (TRI), que permite que as notas de diferentes 
teúdos habitualmente estudados no ensino médio. 
edições da prova sejam comparadas. As questões 
Preserva-se, dessa maneira, o predomínio absoluto 
das provas do Enem têm diferentes graus de difi-
de  questões  que  buscam  explorar  não  o  simples 
culdade e de complexidade. Então, para efeito de 
resgate da informação, mas a aplicação prática do 
cálculo da nota final de cada área, questões mais 
conhecimento. 
difíceis devem ter maior valor ponderal que ques-
tões mais simples.  As provas do Enem deverão manter o caráter
Diferentemente  do  que  acontece  em  alguns  operatório,  não  baseado  na  memorização  e  na 
vestibulares, as provas do Enem não incluem ques- “decoreba”.
tões  regionais.  Assim,  as  questões  de  geografia, 
história  e  biologia,  por  exemplo,  têm  caráter  na- O  Enem  tem  questões  de  língua  estrangeira 
cional  e  não  tratam  de  assuntos  estritamente  re- moderna, com opção entre inglês e espanhol. 
gionais.  Com  isso,  pretende-se  garantir  a  isenção 

Dicas para você, que vai prestar o Enem

1 Leia e analise textos predominantemente descritivos, como manuais de instrução de jogos ou de aparelhos
eletrodomésticos, e tente executar uma tarefa proposta seguindo as orientações do texto. Em um texto informativo,
selecione e destaque as informações principais e secundárias.

2 Leia gráficos (de barras, de setor ou linhas), diagra


em jornais e revistas. Identifique as informações,
mas, tabelas e infográficos que aparecem diariam
reorganize-a s em itens, reescr eva-as em um texto discur
ente
sivo,
ções, fotos,
procedentes de outras fontes de referência (ilustra
relacionando informações verbais com informações descu bra o compo rtame nto da variáv el em
identifique variáv eis,
gráficos, tabelas, infográficos etc.). Nos gráficos, cente; analis e a taxa de variação. Leia o
nte, cresce nte ou decres
um dado trecho e os trechos em que ela é consta
ando se as suas interpretações correspondem aos
texto que acompanha os gráficos e diagramas, verific
comentários do texto.

3 Leia questões de provas anteriores do


interprete e relacione as informações
Enem e assinale as palavras-chave. Dest
disponíveis nas questões. Estude as
ento e estab
aque o problema indicado;
possibilidades de resolução por meio
eleça um proc esso de
das

culares, integre-as ao seu conhecim


linguagens e métodos das áreas curri
resolução.

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4 Leia textos literários de diversas naturezas, atentando para a biografia do autor e o contexto sócio-histórico das
produções, identificando as principais características dos movimentos literários dos quais fazem parte. Procure distinguir
os diversos tipos de linguagem, se possível, relacionando-os a determinada produção cultural da língua portuguesa.
Escreva textos baseados na linguagem coloquial, até com o registro de gírias e vícios da linguagem oral. Reescreva-os,
transformando-os em textos formais.

5 Em sitess de busca na internet, procure palavras e expressões, como fontes alternativas de energia,
transformações de energia, hidreletricidade, energia nuclear etc. Analise e interprete diferentes tipos de textos e
comunicações referentes ao conhecimento científico e tecnológico da área.

6 Interprete informações de caráter biológico,


televisão, a respeito de resíduos sólidos e recicl
químico e físico em notícias e artigos de jornai
agem, aquec iment o globa l e efeito estufa
e
, chuva
flúor na
s, revistas e
ácida
água.
, camada de
Assista a
agrícolas, aditivos em alimentos, cloro
ozônio, concentração de poluentes, defensivos e livros sobre seca, poluiç ão das águas ,
e leia documentos
documentários que abordem a temática da água
recursos naturais não renováveis etc.
tratamento de esgotos, degelo das geleiras,

7 Em revistas e jornais, procure diferentes enfoques de autores que discorram sobre perturbações ou impactos
ambientais e as implicações socioeconômicas dos processos de uso dos recursos naturais, materiais ou energéticos e
tente elaborar argumentos concordantes e discordantes referentes às diversas opiniões.

8 Em sitess da internet, procure escalas do tempo geológico, que se divide em eras,


que se dividem em épocas. Com base nessas informações, tente compreender
que se dividem em períodos,
a estrutura da Terra, a origem e
a evolução da vida e as modificações no espaço geográfico. Procure uma tabela
que traga o tempo histórico
(da Pré-História à Idade Contemporânea) e compare as duas diferentes escalas
para compreender os tempos do
Universo, do planeta e da humanidade.

9 Leia textos sobre a diversidade da vida; identifique padrões constitutivos dos seres vivos dos pontos de
vista
biológico, físico ou químico.

10 Pesquise e escreva sobre situações que contribuem para a melhoria da qualidade de vida
cidade, na defesa da qualidade de infraestruturas coletivas ou na defesa dos direitos do
em sua
consumidor. Elabore um
texto descrevendo as intervenções humanas no meio ambiente, fazendo relação de causa
e efeito e propondo
medidas que poderiam contribuir para minimizar problemas.

11 Assista a documentários que abordem situações concretas evidenciando a relação


definição de melhores condições de vida. Sugerem-se temas como biodiversidade, biopiratari
entre biologia e ética, na
a, transgênicos,
es e doação presumida , conflitos entre necessidades humanas e interesses econômicos etc.
bioengenharia, transplant

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12 Observe os objetos a sua volta quan
espaciais no mundo real. Identifiqu to à forma e ao tamanho; perceba
as formas geométricas planas ou
e-os e caracterize-os de acordo
os elementos observados; faça com com suas propriedades. Estabele
parações entre objetos com o mes ça relações entre
maior que o outro. mo formato, avaliando quantas veze
s um é

13 Pesquise situações-problema ambientais


apresentadas em textos, notícias, propa
ou de natureza social, econômica, política
gandas, censos, pesquisas etc. Prop
estat ístico s,
onha
realiz
soluç
ando
ões
previ são
ou científica
que
de
envolvam o uso
tendência,
probabilísticos e
e a aplicação de conhecimentos e métodos
interpolação e interpretação.

14 Elabore uma tabela com os principais poluentes ambie


para reduzir e controlar os efeitos da poluição ambie
ntais e como atuam; proponha formas de intervenção
ntal, buscando refletir sobre a possibilidade de redistr
espacial das fontes poluidoras. Consulte jornais, revista ibuição
s e sites que enfoquem assuntos sobre fontes energé
por meio de comparações, avalie as que proporcionam ticas e,
menores impactos negativos ao ambiente e mais
sociedade. benefícios à

15 Como treino da capacidade de argumentação, escreva uma carta solicitando ressarcimento de eventuais
gastos no conserto de eletrodomésticos que se danificaram em consequência da interrupção do fornecimento de
energia elétrica, argumentando com clareza e apresentando justificativas consistentes.

16 Assista a filmes que retratem o teor político, religioso e ético de manifestações da atualidade; compare as
problemáticas atuais e as de outros momentos com base na interpretação de suas relações entre o passado e o
presente.

17 Analise textos e compare os diferentes contextos históricos que contribuíram para o desenvolvimento da
tolerância e do respeito pelas identidades e pela diversidade cultural. Observe as diversas formas de preconceito e
de racismo no cotidiano.

18 Escolha determinado tema que apresente


com opiniões divergentes sobre a questão.
uma realidade sócio-histórica e leia dois ou
Identifique os pressupostos de cada um, obse
rve e
três comentaristas
elabo re uma lista dos

diferentes pontos de vista.

19 Conheça a realidade social e econômica de certo país e elabore uma tabela correlacionando
socioeconômicos com traços distintivos daquele fenômeno histórico-social.
os aspectos

20 Escolha um acontecimento histórico e escreva sobre ele, destacando a relação entre o tempo histórico, o
espaço geográfico e os fatores sociais, políticos, econômicos e culturais constitutivos desse acontecimento.
Posteriormente leia sobre o assunto escolhido, identifique os aspectos que foram observados e reescreva o texto,
completando-o com as informações obtidas pela leitura.

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Para ler o mundo
Uma característica marcante do Enem é cobrar dos candidatos a capacidade de ler o enunciado dos 
itens (ou questões). Parece óbvio, mas a maioria das questões traz, no próprio enunciado, as informações 
necessárias e suficientes para a tomada de decisão. Mesmo com as informações introduzidas em 2009, 
ainda que sejam exigidos os conteúdos comumente trabalhados no ensino médio, a leitura atenta dos 
enunciados continua sendo a “chave” para o bom desempenho. 

Para ler o texto


Se fosse necessário resumir a prova do Enem em uma competência, certamente seria a competência
leitora, ou seja, a capacidade de ler e compreender o que se leu. E não se trata apenas da leitura de textos for-
mais, mas também da leitura das múltiplas linguagens com as quais o conhecimento e a cultura se transmitem, 
entre elas o texto, os infográficos e os diagramas, os mapas, a publicidade, as tirinhas e as charges.

Diagramas e infográficos
As  informações  podem  ser  apresentadas  em  infográficos  e  diagramas,  com  ares  de  “notícia”,  em 
jornais, noticiários de TV e revistas de circulação nacional.
Veja alguns exemplos.

1 Leia com atenção o infográfico a seguir.
Um “bico” no exterior
O número de brasileiros em intercâmbio de trabalho quadruplicou desde 2002. O crescimento acentuou-se a partir de
2004 por causa da queda na cotação do dólar.
O principal destino são os Estados Unidos, que oferecem um visto
específico para o trabalho temporário.

Intercâmbio de trabalho Por que são procurados


2002 3.700 Para aperfeiçoar a
70%
língua estrangeira
2003 4.100

2004 5.000 Como primeira


25%
experiência profissional
2005 9.000

2006 Para fazer poupança 5% Monitoras brasileiras em creche


13.300 americana.

a)  Para onde vai a maioria dos brasileiros que procuram intercâmbio de trabalho fora do país?
b)  Dos brasileiros que foram para o exterior em 2005, quantos, aproximadamente, devem ter viajado 
para aperfeiçoar a língua estrangeira?
c)  No período considerado, entre quais anos ocorreu o maior aumento percentual no número de bra-
sileiros que deixaram o país?
Repare que as respostas estão na própria questão. Entretanto, o aluno precisa saber ler e interpretar 
o que está escrito; precisa ser capaz de separar as informações importantes das informações supérfluas; 
precisa diferenciar o que é relevante do que é desnecessário.
No exemplo apresentado, a resposta do item a está lá no enunciado: é para os Estados Unidos que vai 
a maioria dos brasileiros que se dirigem ao intercâmbio no exterior. 
O item b pergunta quantos brasileiros, em 2005, foram ao exterior para aperfeiçoamento em língua 
estrangeira. Segundo o texto, foram 9.000 os brasileiros que deixaram o país no ano de 2005, em inter-
câmbio de trabalho. Como mostra a tabela, 70% destes o fizeram em busca de aperfeiçoamento em uma 
língua estrangeira, portanto 70% de 9.000 pessoas, ou seja, 6.300 pessoas.
Já o item c pergunta quando ocorreu o maior aumento percentual do número de brasileiros que pro-
curaram intercâmbio no exterior no período considerado. De 2002 para 2003, o número saltou de 3.700 

001-022-EnemFilosofia.indd 9 15/07/11 11:48


para 4.100 (aumento de 10%, aproximadamente); de 2003 para 2004, o aumento foi de 4.100 para 5.000 
(cerca de 12%); de 2004 para 2005, de 5.000 para 9.000 (acréscimo de 80%); de 2005 para 2006, de 
9.000 para 13.300 (47,7%). Portanto, o período de maior aumento percentual ocorreu de 2004 para 2005.
É preciso estar atento a um aspecto relevante da questão: o maior aumento absoluto ocorreu de 
2005 para 2006 (4.300 emigrantes a mais que no ano anterior). Todavia, a questão pedia o maior au-
mento percentual (uma forma de avaliar o aumento relativo), que ocorreu de 2004 para 2005 (80%).

2 Observe o infográfico e responda.

Pesada demais para voar


A quebra da Varig possivelmente deveu-se à administração desastrada. Pelo mesmo motivo, saíram do ar Cruzeiro,Transbrasil e Vasp. Abaixo, uma mostra do
descalabro operacional da Varig. A companhia voava menos e tinha custos mais altos
por passageiro do que as suas concorrentes.
Quanto custava um passageiro
Quantas horas os aviões
em cada companhia
voavam por dia
(reais por quilômetro)
Gol 14 Gol 17

TAM 11 TAM 19
Varig 10 Varig 22

a)  Das empresas aéreas listadas (Gol, TAM e Varig), qual é aquela cujos aviões voavam mais horas por dia?
b)  Das empresas aéreas listadas (Gol, TAM e Varig), qual apresentava maiores custos por passageiro, 
por quilômetro voado?
c)  Que correlação se nota entre os parâmetros apresentados (horas voadas e custo por passageiro)?
O item a quer saber qual é a empresa cujos aviões voavam mais horas por dia. Basta ler atenta-
mente e “decifrar” adequadamente as informações das tabelas. São os aviões da empresa Gol, que 
voavam 14 horas por dia, enquanto os da TAM voavam 11 horas e os da Varig voavam 10 horas.
Por sua vez, o item b pergunta qual empresa tinha os custos mais elevados por passageiro e por qui-
lômetro percorrido. E delas, a que apresentou os custos mais elevados foi a Varig (R$ 22,00 por passageiro, 
por quilômetro percorrido), contra R$ 19,00 da TAM e R$ 17,00 da Gol.
Finalmente, o item c pergunta sobre a correlação entre os dois parâmetros anteriores. O que 
se nota é que são inversamente proporcionais; em outras palavras, quanto menos horas os aviões 
da  companhia  voavam  por  dia,  maiores  eram  os  custos  operacionais  (reais  por  passageiro  e  por 
quilômetro percorrido).

3 Analise os dados apresentados no infográfico a seguir.

A influência da doutora internet

Uma pesquisa feita nos Estados Unidos Quem procura informações na internet sobre saúde…
mostra que 75% das pessoas que … consulta … afirma que … questiona … conta … cogita
buscam informações sobre doenças e no mínimo o que lê muda seus médicos aos amigos desistir de
tratamentos médicos na internet não dois sites sua visão de com base no o que leu ir ao
checam se as fontes dos sites são uma doença que leu na nos sites médico
confiáveis. A maioria dos entrevistados ou de um internet
disse que usa os dados obtidos na rede tratamento
para questionar seus médicos.
72% 58% 54% 51% 35%

Qual é, aproximadamente, a porcentagem de pessoas que, depois de consultarem no mínimo dois 
sites, cogitam desistir de ir ao médico?
a)  25%        d)  58%
b)  35%        e)  72%
c)  54%

10

001-022-EnemFilosofia.indd 10 15/07/11 11:48


Repare  que  o  quadro  traz  duas  informações  Médias históricas
independentes: 26,0

·  Das pessoas que procuram informações sobre  25,7

saúde na internet, 72% consultam no mínimo  25,3 Faltas

dois sites. 25,0 24,9


25,0
·  Das pessoas que procuram informações sobre  2002 2003 2004 2005 2006 2007
saúde na internet, 35% cogitam desistir de ir 
ao médico. 26,0
25,0
Portanto, podemos considerar que, dos 35% de  Dribles
22,0

pessoas que cogitam desistir de ir ao médico, 72%  18,3
16,1
delas consultaram ao menos dois sites. Sem dificul-
13,2
dades, concluímos que 35% de 72% (ou seja, 0,35 ∙ 2002 2003 2004 2005 2006 2007
0,72) são aproximadamente 25%. 
Assinalamos, então, a alternativa a. Fonte: Adaptado de Folha de S.Paulo.

Dos  campeonatos  ana lisados,  o  de  2006  foi 


A matemática nas páginas dos jornais o  mais  violento,  apresentando  uma  média  de  26 
Basta abrir um jornal de grande circulação para  faltas  por  partida  (aproximadamente  uma  falta  a 
deparar-se com a linguagem matemática expressa  cada  3,5  minutos  de  jogo).  Outra  curiosidade  é  a 
em diferentes formas: gráficos, tabelas, equações,  queda acentuada do número de dribles — o cam-
índices e fórmulas. Todos os dias, somos “bombar- peonato de 2007 teve quase a metade do número 
deados” com IPCA, IGP-M, TJLP, taxa Selic e outros  de dribles do campeo nato de 2002.
indicadores  econômicos.  Uma  das  mais  usadas  Para entender os gráficos é preciso ler e in-
dessas linguagens é a dos gráficos. terpretar as informações neles contidas. Observe 
É  comum  encontrar  informações  so bre  deter- esse  estudo  a  partir  de  exemplos  apresentados 
minados  assuntos  registradas  em  gráficos  e  dia- em  várias  disciplinas,  como  geografia,  física  e 
gramas. No diagrama a seguir, observamos que a  biologia.
maioria das crianças entrevistadas (58%) prefere o  I.  Na  biologia,  assim  como  em  outras 
rock´n roll como gênero musical. discipli nas,  é  comum  aparecerem  gráficos  de 
setor  (ou  de  pizza).  Esse  tipo  de  gráfico  é  feito 
De que tipo de música você mais gosta?
considerando-se  uma  circunferência  (uma  volta 
Rock 58%
completa, ou 360°) como 100% dos dados a se-
rem analisados. 
Pop 29%

Música de Os gráficos de setor a seguir mostram a distri-
8%
vários tipos
buição e a origem dos principais poluentes atmos-
Rap 7% féricos.
Tecno 6%
Distribuição
Metal 6%

MPB 5%
Música
internacional 3%

Clássica 2%

Óxidos de carbono 49,2% Veículos 4


Fonte: Folha de S.Paulo, 20 mar. 2004. p. F3. Óxidos de nitrogênio 14,8% Queima de
Compostos orgânicos voláteis 13,6% Resíduos
Confira, agora, alguns números de um campe-
Óxidos de enxofre 16,4% Outros 9,0
onato de futebol. Os gráficos seguintes informam a  Material particulado 6,0% Resíduos
média (por partida) de faltas e de dribles.

11

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Origem III.  A leitura do próximo gráfico é simples: ao 
longo de três décadas, observa-se que houve um 
aumento na oferta de energia proveniente das usi-
nas hidrelétricas (linha roxa); as ofertas de energia 
pro venientes  do  gás  natural  e  da  cana-de-açúcar 
manti veram-se  estáveis,  e  a  do  petróleo  (linha 
Veículos 46,2% verde)  foi  a  que  mais  oscilou.  No  estudo  da  his-
Queima de combustíveis (exceto por veículos) 27,3% tória  e  da  geografia,  poderemos  inferir  as  causas 
Resíduos industriais 15,0%
dessa variação.
Outros 9,0%
Resíduos sólidos não industriais 2,5%
Brasil: oferta de energia (% por década)

II.  Nos  gráficos  seguintes,  foram  dispostas  %


45
duas informações importantes para a geografia: ín-
40
dice pluviométrico (quantidade de chuvas) e varia- 35
ção de temperatura, em duas regiões distintas. O  30
índice pluviométrico é representado por barras ver- 25
ticais, e seus valores estão listados em uma escala  20

à esquerda; a variação de temperatura é indicada  15
10
por uma linha sinuosa contínua, e seus valores es-
5
tão à direita. Observa-se que a temperatura duran-
0
te  o  ano  em  Brasília  apresenta  ligeira  queda  no  1970 1980 1990 2000
inverno,  o  qual  é  bastante  seco,  com  índices  plu- Petróleo Hidreletricidade
viométricos muito baixos. O verão é chuvoso.  Em  Gás natural Cana-de-açúcar
Palermo  (Itália),  a  temperatura  sofre  maiores  va- Fonte: Ministério de Minas e Energia.
riações,  elevando-se  consideravelmente  no  verão  Sinopse Estatística, 2000.
(de julho a setembro), período com menos chuvas. 
IV.  O  gráfico  abaixo  foi  apresentado  em  uma 
Brasília (DF) — Brasil Palermo — Itália
prova do Enem. Ele compara o número de homicídios 
Pluviosidade Temperatura Pluviosidade Temperatura
(mm) (°C)
por grupo de 100.000 habitantes entre 1995 e 1998 
(mm) (°C)
400 40 nos EUA, em estados com e sem pena de morte.
400 40

300 30 Com 
300 base  no  gráfico,  pode-se  30afirmar  —  ao 
contrário do que se poderia esperar — que, no pe-
200 20 200 20
ríodo considerado, os estados com pena de morte 
100 10 apresentaram taxas maiores de homicídios.
100 10

0 0 0 EUA: taxa anual de homicídios 0


J F M A M J J A S O N D 40J F M A M J J A S O N D
Homicídios por 100.000

Palermo — Itália 30

Temperatura Pluviosidade Temperatura


20
(°C) (mm) (°C)
40 400 40
10

30 300 30
0
1995 1996 1997 1998
20 200 20 Estados com pena de morte Estados sem pena de morte

10 100 10
Muitas vezes, por motivos diversos, os gráficos 
0 0 0 são  apresentados  de  forma  que  induzam  a  uma 
D J F M A M J J A S O N D
leitu ra equivocada ou distorcida a respeito do fato 
Fonte: Leda Ísola e Vera Caldini. Atlas geográfico Saraiva. a ser analisado. Veja este curioso exemplo:

12

001-022-EnemFilosofia.indd 12 15/07/11 11:48


Em um mesmo dia, dois jornais importantes tra- Os  dois  jornais  estavam  matematicamente 
tavam do mesmo assunto, porém com resultados dis- corretos  e  usaram  a  linguagem  matemática  para 
tintos. O jornal Folha de S.Paulo trazia esta manchete:  reforçar seu ponto de vista: um, mais alarmante; o 
“Estrangeiro vende ações, e Bolsa despenca 3,6%”,  outro, mais tranquilizador. 
em notícia ilustrada com o seguinte gráfico:
Ler os mapas para ler o mundo
31.856
Assim  como  os  gráficos,  os  mapas  também 
31.583
não são livres de influências econômicas, geopo-
31.317
31.283 líticas, religiosas etc. Isso pode ser observado pela 
31.141
31.208 escolha da projeção cartográfica. 
Ibovespa

30.874
A projeção de Mercator, por exemplo, distorce 
a proporção do tamanho dos continentes, mas man-
tém correta a forma (contor no). Quanto ao aspecto 
ideológico, a projeção de Mercator reforça uma visão 
30.163
eurocêntrica — a Europa como o centro do mundo.
26/9 27/9 28/9 29/9 30/9 3/10 4/10 5/10
Repare o tamanho proporcional da Europa e da 
O diário recifense Jornal do Commercio estam- América do Norte em relação à América do Sul e à 
pava:  “Crise  política  esfria  e  segue  sem  afetar  a  África.  Na  projeção  de  Mercator,  à  medida  que  se 
economia”, e a notícia também era acompanhada  afastam da linha do Equador, as massas continentais 
em  médias  e  altas  latitudes  apresentam  tamanho 
por um gráfico. Veja a seguir.
distorcido, desproporcionalmente maior. 
PROJEÇÃO DE MERCATOR
31.141 31.283 160° 120° 80° 40° 0° 40° 80° 120° 160°
31.583 31.856
30.874 31.317 31.208 30.163
70°
Ibovespa

40°

26/9 27/9 28/9 29/9 30/9 3/10 4/10 5/10 0°

Compare as manchetes: uma transmite incer-
40°
teza; a outra, aparente tranquilidade. Agora, obser-
ve  os  gráficos:  o  primeiro  dá  ideia  de  “catástrofe 
iminente”,  com  redução  acentuada  do  indicador  70°

econômico considerado (no caso, o Ibovespa, índi-
ce da Bolsa de Valores de São Paulo); já o segundo  Fonte: Atlas 2000: la France et le monde.
sinaliza estabilidade. Paris: Nathan, 1998.

Em primeiro lugar, importa perceber que cada  Já a projeção de Peters não altera as áreas re-


jornal tratou de apoiar sua impressão sobre o ce- lativas, mantendo verdadeiras as proporções entre 
nário  econômico  em  um  gráfico  que  expressasse  a área de uma região no mapa e a área correspon-
convenientemente essa impressão. dente na superfície da Terra. 

Os dois usaram os mesmos dados; porém,  A  projeção  de  Peters  distorce  a  forma  dos 


ao  construírem  os  gráficos,  usaram  escalas di- continen tes,  alongando-os  no  sentido  norte-sul, 
ferentes. Repare que os números de ambos os  mas  mantém  corretas  as  proporções  entre  suas 
gráficos  são  exatamente  os  mesmos.  Todavia,  áreas.  Não  por  acaso,  essa  projeção  é  cha mada 
com  o  emprego  de  escalas  diferentes,  criaram  de  “mapa  para  um  mundo  solidário”,  pois  é  vis-
imagens visualmente fortes, capazes de reforçar  ta como uma representação que valoriza os países 
seus pontos de vista.  subdesenvolvidos  e  tenta  eliminar  a  visão  de  su-

13

001-022-EnemFilosofia.indd 13 15/07/11 11:48


perioridade PROJEÇÃO
dos  países  do CENTRADA
AZIMUTAL hemisfério  norte 
NO POLO NORTEsobre  PROJEÇÃO AZIMUTAL CENTRADA NO BRASIL
os países do hemisfério sul.

PROJEÇÃO
OCEANO DE PETERS
160° 120° 80°
PACÍFICO0°
40° 40° 80° 120° 160°
60°

40°
Tóquio

20° Trópico de Câncer


POLO
AMÉRICA MAGNÉTICO ÁSIA
DO

wich
DO NORTE ORIENTAL
NORTE

Green

rnio
icó

de
r
ap

dor

no
Washington

dia
Equa

eC
od

ri
Me
CARIBE OCEANO

c
Trópi
20°
AMÉRICA Bruxelas ÍNDICO
EUROPA
DO OCEANO
SUL ATLÂNTICO
40°
ÁFRICA
60°

Fonte: Atlas 2000: la France et le monde.


Paris: Nathan, 1998.

Fonte: Atlas 2000: la France et le monde.


Na  projeção azimutal,  a  superfície  ter-
Paris: Nathan, 1998.
restre  é  projetada  sobre  um  plano  a  partir  de 
deter minada região. O ponto escolhido é proje- Um  tipo  de  mapa  que  merece  destaque  é  a 
tado sempre no centro do mapa e, consequen- anamorfose  (ou  cartograma).  Trata-se  de  uma 
temente, os meridianos são vistos como linhas  representação  cartográfica  em  que  as  áreas  de 
divergentes,  partindo  do  centro  do  mapa,  en- logradouros  (municípios,  estados,  países  ou  con-
quanto os paralelos são apresentados como cír- tinentes)  sofrem  deformações  matematicamente 
culos  concêntricos  (com  o  centro  no  ponto  de  calculadas, tornando-se diretamente proporcionais 
onde parte a projeção). Essa projeção tem forte  a determinado parâmetro que se está consideran-
caráter ideológico e transmite uma ideia: deter- do. Por exemplo, numa anamorfose, a área de cer-
minado ponto é “o centro do planeta”. Eviden- ta região au menta ou diminui proporcionalmente à 
temente, a escolha do ponto do qual parte essa  sua população, ao produto interno bruto (PIB), ao 
projeção  tem  efeito  marcante  no  aspecto  final  consumo de petróleo etc. Veja alguns exemplos.
do mapa. Compare os exemplos a seguir: No  mapa  1,  a  área  dos  países  corresponde 
exatamente à superfície real de cada um.
PROJEÇÃO AZIMUTAL CENTRADA NO POLO NORTE PROJEÇÃO AZIMUTAL CENTRADA NO BRASIL
1

OCEANO
PACÍFICO

Tóquio

Trópico de Câncer
POLO
AMÉRICA MAGNÉTICO ÁSIA
DO
wich

DO NORTE ORIENTAL
NORTE
Green

rnio
icó
de

r
ap
dor

no

Washington
dia
Equa

eC
od

ri
Me

CARIBE OCEANO
c
Trópi

AMÉRICA Bruxelas ÍNDICO


EUROPA
DO OCEANO
SUL ATLÂNTICO
ÁFRICA

14

001-022-EnemFilosofia.indd 14 15/07/11 11:48


No mapa 2, a área dos países corresponde à taxa  A Colômbia fica “enorme”, assim como alguns 
de acesso à internet em 2008. países da América Central. O México adquire quase 
o mesmo “tamanho” que os Estados Unidos, indi-
Repare no efeito obtido. Os Estados Unidos “en-
cando  maior  taxa  proporcional  de  mortes  violen-
gordam” bastante, ao passo que o Brasil “emagrece”. 
tas. O Canadá, por sua vez, quase “desaparece”.
Isso significa que o Brasil possui, proporcionalmente, 
menos usuários da internet que os Estados Unidos.
A linguagem publicitária
2 Peça  essencial  em  uma  sociedade  de  consu-
mo, a publicidade não pode estar ausente nas dis-
ciplinas de linguagens, códigos e suas tecnologias. 
Fazendo uso da função apelativa (ou conativa) por 
excelência, a linguagem publicitária mantém cons-
tante  diálogo  com  seu  interlocutor,  que  podemos 
chamar de leitor/consumidor.
Nas propagandas, os textos verbais e não ver-
bais  estão  juntos,  formando  uma  poderosa  arma 
de sedução. Sob suas imagens e palavras, escon-
dem-se informações importantes, que só é possí-
vel  “enxergar”  com  a  experiência  da  leitura  e  os 
conhecimentos adquiridos.
O objetivo das peças publicitárias é vender: um 
Na anamorfose 3, o parâmetro considerado é a  perfume, uma joia, um carro, uma ideia. E, para isso, 
ocorrência de mortes violentas por 100 mil habitantes. são usados recursos de toda sorte, dos mais simples 
aos mais sofisticados, sempre em função do público-
3 -alvo.  Valem  os  sentidos  denotativo  e  conotativo,  a 
ambiguidade, as figuras e os vícios de linguagem, as 
variações  linguísticas,  a  ironia,  o  humor,  a  emoção. 
Tudo para que surta o efeito desejado.
Dessa forma, os textos publicitários tornam-se, 
ao mesmo tempo, objetos e ferramentas de estudo, 
que  mobilizam,  na  sua  compreensão,  conheci-
mentos acadêmicos e de mundo.

Na esteira de fantasias e desejos


Fantasias, sonhos e desejos são munições nas 
mãos da propaganda. E ela os usa com maestria. 
Observe a peça publicitária a seguir.

VOCÊ PODE SER O QUE QUISER

use o boticário
e ponha o lobo mau
na coleira.

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001-022-EnemFilosofia.indd 15 15/07/11 11:48


Ela fez parte de uma série de peças que usam  Além da intertextualidade, observam-se tam-
alguns  contos  de  fadas  como  mote.  Eis  aí  a  in- bém os contrastes: enquanto a mulher é conside-
tertextualidade,  o  diálogo  com  outro(s)  texto(s).  rada princesa (remissão aos contos de fadas), o ho-
Nesse  caso,  o  conto  é  “Chapeuzinho  Vermelho”,  mem é o vilão; ao mesmo tempo que a mulher é 
identificado  não  só  pela  roupa  da  modelo  como  caracterizada com delicadeza (e beleza), ela é, por 
também pela expressão “lobo mau”. isso mesmo (e por usar os produtos anunciados), 
A propaganda procura persuadir sua leitora/con- forte,  dominadora,  passando  a  ter  poderes  sobre 
sumidora, já que é dirigida à mulher, a usar os pro- o homem.
dutos da marca em questão. Assim, ela terá poder  Pretende-se que, seduzida pela fantasia, a lei-
sobre o homem, considerado aí como “lobo mau”. tora/consumidora ceda aos apelos da propaganda.

Persuadir para mobilizar

Fundação S.O.S. Mata Atlântica/FNAZCA
O objetivo, explícito, dessa propaganda é a preservação da natureza. Nessa peça publicitária, os ele-
mentos visuais são recursos importantes na persuasão: o tronco de uma árvore revela um nó da madeira 
que assume a forma de um olho, imagem que corrobora a frase principal (“Eu vi os troncos que você 
serrou.”). Assim, a própria natureza é testemunha da destruição provocada pelo ser humano. Ela, porém, 
nada pode fazer.
Os textos verbal e não verbal provocam um desconforto no leitor, fazendo-o sentir-se responsável 
tanto pela destruição como pela solução que deve ser dada ao problema, já que ele é parte da socieda-
de e parte interessada. O objetivo da propaganda é atingido, na medida em que esse mal-estar possa 
provocar uma reação positiva do leitor na preservação da natureza.

Para mudar comportamentos


Existem também as peças publicitárias cujo produto a ser vendido/adquirido são ideias, as quais nor-
malmente induzem a uma mudança (positiva) de comportamento e de costumes. Acompanhe a análise 
das propagandas que seguem.
DM9DDB/ALFAPRESS/DIVULGAÇÃO

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A peça publicitária anterior procura persuadir  ções e, consequentemente, as doações. Dessa forma, 
o  leitor  a  usar  o  código  da  empresa  de  telefo- a propaganda induz o público-alvo à prática de uma 
nia, nas suas ligações durante determinado mês.  “boa ação”. 
Depreende-se que o custo das ligações (ou parte 
A próxima peça remonta ao trágico 11 de setem-
dele)  será  doado  a  uma  entidade  que  cuida  de 
bro, em Nova York, e compara o número de mortes 
crianças com câncer.
causadas pelos ataques terroristas às torres gêmeas 
Reforçando o apelo, estão dois “orelhões” repre- a outros números de três grandes mazelas da huma-
sentando as “asas” do “anjo” que vai fazer as liga- nidade, que também são uma tragédia.
AGE Comunicações

2.823 mortos.
824
2.823milhões
mortos.de
subnutridos no mundo.
2.823 mortos.de
824 milhões
subnutridos
824 milhões no
de mundo.
O mundo se uniumundo.
subnutridos no
contra
O mundoo terrorismo.
se uniu
Devia
contrafazer o mesmo
o terrorismo.
O mundo
contra a se uniu
fome.
Devia fazer o mesmo
contra o terrorismo.
contrafazer
Devia a fome.
o mesmo
contra a fome.
AGE Comunicações

2.823 mortos.
630
2.823milhões
mortos.de
miseráveis no mundo.
2.823 mortos.de
630 milhões
630 milhõesnodemundo.
miseráveis
miseráveis
O mundo senouniu
mundo.
contra
O mundoo terrorismo.
se uniu
Devia
contrafazer o mesmo
o terrorismo.
O mundo
contra a se uniu
pobreza.
Devia fazer o mesmo
contra o terrorismo.
contrafazer
Devia a pobreza.
o mesmo
contra a pobreza.
AGE Comunicações

2.823 mortos.
36 milhões
2.823 de
mortos.
infectados
36 milhõesno
demundo.
2.823 mortos.
infectados
36 milhõesnode mundo.
infectados
O mundo se nouniu
mundo.
contra o terrorismo.
O mundo se uniu
Devia
contra fazer o mesmo
o terrorismo.
O mundo
contra se uniu
a aids.
Devia fazer o mesmo
contra o terrorismo.
contrafazer
Devia a aids.
o mesmo
contra a aids.

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Nesse  caso,  a  união  de  imagens,  palavras  e  tam  muito  mais  que  os  2.823  mortos  no  11  de 
números  tem  apelo  e  efeito  contundentes  junto  setembro.
ao  público  que  deseja  atingir.  Suscita  a  reflexão 
Nos dois casos, o produto é a “ideia” de uma 
profunda e “cobra” uma ação do leitor: da mesma 
mudança de comportamento em sociedade, dei-
forma que o mundo se uniu contra o terrorismo, 
xando  o  individualismo  de  lado  para  pensar  no 
deve  se  unir  contra  a  fome,  a  pobreza  e  a  aids, 
coletivo, em algo muito maior que a nossa pró-
que, juntas, são tragédias que, anualmente, ma-
pria vida. 

Persuadir pela emoção

NBS/GNT
Ele ainda não era nascido

Quando uma portuguesa colocou frutas na cabeça e


virou a brasileira mais famosa do mundo.

Quando Picasso transformou a


guerra em Guernica num símbolo de paz.

Quando os Beatles não foram a um programa de TV e


mandaram uma gravação, criando o videoclipe.

Quando Mary Quant inventou a minissaia e


deu coragem para as mulheres queimarem o soutien.

Quando Shakespeare introduziu humor


nas tragédias e temas sérios nas comédias.

Quando um brasileiro muito criativo inventou


a porta de correr, o relógio de pulso e o avião.

Quando o negro Jesse Owens ganhou


quatro medalhas de ouro e derrotou toda uma nação ariana.

Quando Elvis trocou seu violão por um fuzil e


submeteu a rebeldia do rock ao establishment.

Quando a Semana de Arte Moderna aproximou o


artista do povo e transformou o público em obra de arte.

Quando Leonardo da Vinci projetou o helicóptero


quatro séculos antes de ele ser construído.

Quando a seleção brasileira ganhou o tri no México e


quem mais comemorou foi o regime militar.

Quando um garoto que fez apenas o primeiro grau,


chamado Machado de Assis, se tornou referência obrigatória
para todo vestibulando.

Quem vai explicar: você ou a vida?

informação que forma opinião.

Ele ainda não era nascido


Quando Elvis trocou seu violão por um fuzil e
Quando uma portuguesa colocou frutas na cabeça e submeteu a rebeldia do rock ao establishment.
virou a brasileira mais famosa do mundo.
Quando a Semana de Arte Moderna aproximou o
Quando Picasso transformou a artista do povo e transformou o público em obra de arte.
guerra em Guernica num símbolo de paz.
Quando Leonardo da Vinci projetou o helicóptero
Quando os Beatles não foram a um programa de TV e quatro séculos antes de ele ser construído.
mandaram uma gravação, criando o videoclipe.
Quando a seleção brasileira ganhou o tri no México e
Quando Mary Quant inventou a minissaia e quem mais comemorou foi o regime militar.
deu coragem para as mulheres queimarem o soutien.
Quando um garoto que fez apenas o primeiro grau,
Quando Shakespeare introduziu humor chamado Machado de Assis, se tornou referência obrigatória
nas tragédias e temas sérios nas comédias. para todo vestibulando.

Quando um brasileiro muito criativo inventou Quem vai explicar: você ou a vida?
a porta de correr, o relógio de pulso e o avião.

Quando o negro Jesse Owens ganhou


quatro medalhas de ouro e derrotou toda uma nação ariana. GNT: informação que forma opinião.

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Esse tipo de propaganda tem um forte apelo 
emocional — e consequentemente persuasivo: a 
imagem da grávida em destaque, que por si só 
chama a atenção e comove, carrega no ventre o 
filho (“que ainda não era nascido”) de que fala 
o texto, que objetivamente pergunta (aos pais): 
“Quem vai explicar” todos esses acontecimentos 
e  suas  decorrências  na  sociedade:  “você  ou  a 
vida?”.  A  pergunta  retórica  tem  resposta:  a  as-
sinatura  de  um  canal  de  TV  vai  ajudar  os  pais  A  peça  publicitária,  afixada  num  ponto  de 
na educação do filho, explicando todos os fatos  ônibus,  portanto  visível  a  muitos  transeuntes  e 
apresentados e muito mais. usuários do transporte coletivo, lança mão de um 
recurso “agressivo”, fazendo com que o (possível) 
Interagindo com a publicidade consumidor  interaja  com  o  produto,  que  se  apre-
senta como passaporte para a “cor desejada”. De 
Na era da interatividade, a propaganda não  acordo com o FPS (fator de proteção solar), é possí-
podia faltar. Não basta persuadir o leitor/consu- vel saber, na hora, como vai ficar a pele depois de 
midor, é necessário fazê-lo interagir com o pro- usar o bronzeador ou protetor solar. Ao final, o con-
duto, na tentativa de tornar tudo o mais concreto  sumidor sente-se confortável, como se já estivesse 
possível. recebendo os benefícios do produto.
É  o  que  ocorre  com  a  publicidade  a  seguir.  Assim é a publicidade. Quanto mais poderosa 
Observe. ela  for,  maior  será  a  sua  responsabilidade  com  o 
consumidor.  Ela  pode  vender  fantasias,  mas  não 
DM9DDB/SUNDOWN/DIVULGAÇÃO

mentiras; ela pode induzir, mas não enganar. Uma 
leitura atenta que se faça dos textos publicitários é 
sempre um bom caminho para compreendê-los na 
sua totalidade, incluindo as informações implícitas.
Essa experiência de leitura deve ser adquirida 
e reforçada no ambiente propício que é a sala de 
aula,  por  meio  de  discussões  e  troca  de  conheci-
mentos,  uma  vez  que  as  diversas  áreas  do  saber 
permeiam os textos publicitários.

Tiras e charges: aprendendo por


meio da arte
Desde a década de 1990, é notória a presen-
ça  de  textos  não  verbais,  especialmente  as  tiras 
(tirinhas ou quadrinhos) e charges, nas provas de 
vestibulares  e  nos  textos  didáticos.  Inicialmente 
usados  em  língua  portuguesa,  disciplina  que,  por 
excelência,  trata  das  mais  variadas  linguagens, 
paulatinamente  foram  fazendo  parte  de  todas  as 
outras,  já  que,  à  parte  da  linguagem,  os  temas 
abordados são os mais variados.
A linguagem concisa — aliada ao visual — esti-
mula a leitura e desperta a curiosidade, sobretudo 
porque, quase sempre, estão presentes o humor e 
a ironia.

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O mundo das tiras é ilimitado; nele tudo cabe.  suntos.  Isso  pode  ser  feito  de  uma  forma  mais 
A personificação de diversos seres dá, muitas ve- descontraída e bem-humorada — como por meio 
zes,  o  toque  de  humor  ou  ironia.  A  história  ilus- das tiras —, tornando o estudo mais lúdico e pro-
trada aguça a visão, despertando para diferentes  dutivo, transformando-se numa grande ferramenta 
estéticas,  desde  o  desenho  de  traços  mais  tra- pedagógica.
dicionais  até  os  mais  inusitados.  As  tiras  podem 
Na tira a seguir, por exemplo, pode-se discutir 
abordar tanto os temas atuais quanto os atempo-
não somente a clonagem, assunto ainda tão con-
rais. Assim, todas as disciplinas podem tirar pro-
troverso, tão polêmico, mas também a mecaniza-
veito desse tipo de texto.
ção, que, em algumas atividades, vem substituindo 
Nas áreas das ciências, comumente se usam  a mão de obra, gerando graves problemas sociais. 
esquemas e fórmulas para facilitar a abordagem,  Assuntos áridos podem ter uma forma atraente e 
a explicação e a apreensão de determinados as- dinâmica de serem tratados.

LAERTE
Muitas cartilhas são feitas por meio dos qua- como  também  pelo  provável  desconhecimento  dos 
drinhos,  para  falar  sobre  assuntos  polêmicos  e  fatos nela contidos.
importantes,  como  aids,  dengue,  drogas,  desma- Observe a charge abaixo.
tamento, desperdício de água e energia, poluição 
etc. Com outros meios, dificilmente atingiriam sen-
sivelmente tantas pessoas.
Já a charge, texto que possui características pe-
culiares, exige um pouco mais de quem a lê: trata de 
um  assunto  atual  e  pontual,  normalmente  relacio-
nado à política ou à economia. As personagens são 
caricaturizadas; sua linguagem é informal, bastante 
concisa e adequada à personagem e ao contexto. 
A charge reaviva a memória e a história. Como 
seu “prazo de validade” é curto, exige do leitor um 
acompanhamento dos fatos: o que aconteceu, onde, 
como, quando e quem está envolvido. Quem estiver 
desprovido dessas informações, dificilmente entende-
rá a charge, seja no que ela tem de explícito, seja no 
que tem de implícito. Um leitor de 18 anos, hoje, difi- Para compreendê-la, é necessário saber o que 
cilmente conseguirá ler corretamente uma charge de  é “B4” ou a que ele se refere. O número ao lado da 
20 anos atrás, não somente pela distância no tempo,  letra B indica a porcentagem de mistura de biodie-

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001-022-EnemFilosofia.indd 20 15/07/11 11:48


sel ao diesel vendido nos postos de combustíveis.  biodiesel, razão do incômodo provocado (as “con-
Enquanto  o  óleo  diesel  é  um  combustível  deriva- trações” da charge). 
do  do  petróleo,  o  biodiesel  é  produzido  a  partir 
de  plantas  oleaginosas,  como  girassol,  mamona,  Outras duas características inerentes à charge 
amendoim  e  algodão.  Sua  mistura  ao  diesel  ten- são a ironia e a intertextualidade. A ironia, muitas 
de a baratear o preço deste combustível, além de  vezes não percebida pelo leitor, subverte a lógica 
reduzir seu impacto ambiental. O código B4 indica  vigente  —  razão  de  seu  caráter  combativo  —,  le-
mistura  de  4%  de  biodiesel  ao  diesel  original.  A  vando-o à reflexão; a intertextualidade, sobretudo 
legislação brasileira determina aumento gradativo  a interdisciplinaridade, uma das exigências na edu-
da  proporção  de  biodiesel  na  mistura,  iniciando  cação básica brasileira, passa a ser o start necessá-
com B2, em 2008, e chegando a B5, em 2013. Isso  rio  ao  aluno  para  lançar  mão  dos  conhecimentos 
requer  incremento  significativo  na  produção  de  (acadêmicos ou não) adquiridos.

Os eixos cognitivos
O Enem está estruturado em cinco grandes eixos lugar do fusível queimado e — eureca! — os faróis 
cognitivos, os mesmos para as quatro áreas do co- voltam a funcionar.
nhecimento. Até a edição de 2008, esses eixos cogni-
tivos compunham as cinco competências gerais.  Atenção!
Afinal, o que são essas “competências”? Improvisar  também  é  arriscado.  Aliás,  sem  ter 
verificado a razão da sobrecarga que fez queimar 
Imagine a seguinte situação: você está dirigin- o fusível, não se pode excluir a possibilidade de 
do  um  automóvel,  à  noite,  por  uma  estrada  que  que o “quebra-galho” feito com o clipe de metal 
une duas cidades. De repente, os faróis se apagam.  acabe por provocar um curto-circuito.
Você se encontra em uma autêntica situação-pro-
blema. Como resolvê-la, contando apenas com os 
Para resolver a situação-problema apresentada, 
recursos disponíveis?
você precisou usar conhecimentos científicos com os 
Em primeiro lugar, você analisa a situação, res- quais  entrou  em  contato  durante  sua  vida  escolar, 
pondendo a algumas questões, e a primeira delas  sendo o mais relevante a informação de que metais 
deve ser: por que os faróis se apagaram? são bons condutores de eletricidade.
Você  levanta  algumas  hipóteses,  que  serão  O  que  estava  em  jogo  não  eram  apenas 
confirmadas ou refutadas. Será que a bateria está  conhecimentos,  mas  determinadas  compe-
sem carga? Não, pois você verifica que outros equi- tências, por meio das quais você conseguiu es-
pamentos elétricos, como a buzina e o rádio, estão  tabelecer  relações  entre  situações,  fatos,  infor-
funcionando  normalmente.  Será  que  a  lâmpada  mações, pessoas etc.
está queimada? Essa hipótese também não pare-
Chama-se competência a capacidade de agir 
ce  boa,  pois  os  dois  faróis  apagaram-se  simulta-
eficazmente  em  determinado  tipo  de  situação, 
neamente.  Nesse  momento,  você  percebe  que  a 
apoiada em conhecimentos, mas sem se limitar a 
causa do problema pode ser um fusível queimado. 
eles.  Veja  que  foi  fundamental  saber  que  “metal 
Olhando os fusíveis, você constata que, de fato, um 
conduz  eletricidade”  (esse  é  um  conhecimento), 
deles está com o filamento metálico interrompido, 
mas só o domínio dessa informação não seria su-
o que ocorre em situação de sobrecarga elétrica.
ficiente. Você empregou uma certa competência e 
Com  o  diagnóstico  feito,  como  resolver  o  pro- fez  a  correlação  que  o  tornou  capaz  de  agir  efi-
blema?  Você  não  traz  consigo  fusíveis  de  reserva,  cazmente nessa situação, apoiado em um conheci-
mas encontra um clipe de metal, desses usados para  mento, mas sem se limitar a ele. As competências 
prender papéis. Desfazendo as dobras do clipe, você  não são, em si, conhecimentos, mas são elas que 
o transforma em um “fio” improvisado, coloca-o no  mobilizam, utilizam e integram os conhecimentos.

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A matriz do Enem de  inter-relacioná-los.  É  importante  desta-
car,  porém,  que  não  basta  ter  “decorado” 
A matriz do Enem estrutura-se sobre os cinco  fórmulas,  resumos  e  esquemas.  É  preciso 
eixos cognitivos, em associação com as competên- conseguir  aplicá-los  para  interpretar  corre-
cias de área, específicas de cada uma das áreas do  tamente situações concretas.
conhecimento que compõem o exame (linguagens 
e códigos, ciências da natureza, ciências humanas  III. Selecionar, organizar, relacionar, inter-
e matemática). O cruzamento entre os eixos cog- pretar dados e informações represen-
nitivos  e  as  competências  de  área  define  as  ha- tadas de diferentes formas, para tomar
bilidades  a  serem  avaliadas,  que  decorrem  das  decisões e enfrentar situações-proble-
competências  adquiridas  e  referem-se  ao  plano  ma. O aluno é avaliado por sua capacidade 
imediato do “saber fazer”.  de resolver problemas, aplicando conheci-
mentos adquiridos na escola, mas sem se 
Esse cruzamento origina uma matriz de refe- limitar a eles, pois assim é na vida prática. 
rência, como mostra o esquema abaixo. O  Enem  procura  perceber  se  o  aluno con-
segue  abrir  a  caixa  de  “ferramentas  inte-
EIXOS COGNITIVOS
(OU COMPETÊNCIAS GERAIS) lectuais” adquiridas durante a vida escolar, 
Competências de área I II III IV V escolher  a  ferramenta  mais  apropriada  e 
1 H1 H2 ... usá-la adequadamente.
2 IV. Relacionar informações, representadas
... em diferentes formas, e conhecimen-
... ...
tos disponíveis em situações concretas,
para construir argumentação consisten-
Além disso, o documento oficial do Enem incor- te. A prova do Enem avalia a capacidade 
pora um conjunto de conteúdos das diferentes áreas  de argumentação, isto é, se diante de de-
do  conhecimento,  com  o  objetivo  de  atuar  sobre  o  terminado  assunto  o  aluno  assume  uma 
currículo do ensino médio. Assim, o Enem exige os  posição  e  a  defende,  usando  para  isso 
mesmos  conteúdos  dos  vestibulares,  mas  o  forma- argumentos consistentes. Não se trata de 
to da prova é diferente. Os estudantes precisam usar  “adivinhar” o que o examinador quer, mas 
mais  a  capacidade  de  raciocínio  e  compreensão  do  de  expor  opiniões  com  convicção,  funda-
que a memorização. Estes são os cinco eixos cogniti- mentação e coerência.
vos sobre os quais se estrutura o Enem: 
V. Recorrer aos conhecimentos desenvolvi-
I. Dominar a norma culta da língua portu-
dos na escola para a elaboração de pro-
guesa e fazer uso das linguagens ma-
postas de intervenção solidária na reali-
temática, artística e científica.  O  Enem 
dade, respeitando os valores humanos e
pretende  verificar  se  o  aluno  é  capaz  de 
considerando a diversidade sociocultural.  
compreender  as  múltiplas  linguagens  que 
Verifica a competência para analisar proble-
escrevem a realidade, se é capaz de decifrar 
mas  concretos,  opinar  sobre  eles  e  propor 
os  diversos  códigos  verbais  e  não  verbais, 
soluções,  exercendo  a  cidadania  em  pleni-
gerando significado a partir deles. 
tude. Nesse eixo cognitivo, incluem-se ações 
II. Construir e aplicar conceitos das várias que visam à proteção dos recursos naturais, 
áreas do conhecimento para a compreen- à  preservação  dos  valores  democráticos,  às 
são de fenômenos naturais, de processos estratégias de combate às desigualdades e a 
histórico-geográficos, da produção tec- todas as formas de preconceito e de racismo, 
nológica e das manifestações artísticas. A  como atenuar os efeitos perversos da globa-
avaliação desse eixo cognitivo procura aferir  lização da economia, como lutar pela melho-
o conhecimento nas diferentes áreas do sa- ria das condições de vida, saúde e educação 
ber.  É  avaliada  a  capacidade  de  empregar  da  população  e  muitos  outros  aspectos  da 
os  conceitos  já  aprendidos  e  a  capacidade  vida em comunidade.

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•  C
  iências humanas e suas 
tecnologias
Se a Terra tem aproximadamente 4,6 bilhões aproximar mundos diferentes. Essa nova concep-
de anos, pode-se afirmar que a existência das ção de espaço influencia os modos de agir e de
sociedades humanas corresponde a uma minús- pensar de toda a humanidade.
cula fração do tempo de vida do planeta. A na- A geografia também ganhou um novo olhar,
tureza preexistiu ao homem; no entanto, foi ele ao incorporar nos espaços vividos e percebidos uma
quem lhe deu sentido. É a partir de sua presença nova dimensão — o espaço virtual, no qual a com-
que o mundo adquire significado. Dessa forma, pressão do tempo-espaço ocorre de forma radical,
todo conhecimento é próprio do homem; toda influenciando a maneira como representamos o
ciência não deixa de ser… humana! mundo para nós mesmos, um mundo que passa por
Todavia, o que concebemos como “ciências transformações que afetam a vida da comunidade
humanas” envolve o conjunto de disciplinas que planetária em suas mais diferentes escalas.
estuda as relações sociais no tempo e no espaço. A
As questões ambientais rompem fronteiras, e
ética, a cultura, a política e a economia, por exem-
as mudanças climáticas afetam a todos, indiscrimi-
plo, são produtos das relações que os homens esta-
nadamente. Conhecer a dinâmica da Terra torna-se
belecem na vida em sociedade e sobre as quais se
fundamental para se agir de forma consciente e so-
construíram conhecimentos específicos.
lidária, em busca de soluções coletivas que visem à
Além de reproduzir informações, dominar clas- preservação do planeta e à inclusão de todos.
sificações ou decodificar símbolos, o que se deve
Como participantes — e não como meros ob-
aprender? No mundo atual — de transformações
servadores — da vida social, no tempo e no espaço,
tão aceleradas e de contradições tão profundas —
devemos compreender as ciências humanas como
deve-se “aprender a aprender”, e o estudo das hu-
ciências interpretativas. O conhecimento sobre o
manidades nos capacita a isso.
homem tem intenções políticas, econômicas, am-
Cada vez mais, “conhecer” significa saber in- bientais e morais; a partir dessas intenções, cons-
formar-se, comunicar-se, argumentar, compreender troem-se pontos de vista sobre fenômenos da so-
e agir, enfrentando problemas da realidade, partici- ciedade. Identificar pontos de vista e os interesses
pando politicamente, de forma solidária, elaborando que representam em certo contexto é fundamental
críticas ou propostas para a vida em sociedade. para compreendermos os discursos que se constroem
Aprender história, por exemplo, não significa to- sobre o mundo.
mar conhecimento dos fatos do passado, mas enten- Enfim, estudamos ciências humanas para
der o processo histórico como possibilidade de mu- entender a realidade em que vivemos, para re-
dança e transformação. Como diria o educador Paulo fletir sobre o papel de cada um na vida em so-
Freire, “o mundo não é; o mundo está sendo”. ciedade e para compreender que somos agen-
O cidadão consciente da história e da sociedade tes de mudança do mundo.
não só constata o que ocorre, mas interfere nessas As questões do Enem procuram avaliar a ca-
ocorrências. Não somos apenas objeto da história; pacidade de compreensão dos fenômenos geográ-
acima de tudo, somos sujeitos da história. ficos, históricos, econômicos e sociológicos, bem
O encurtamento das distâncias — associado como permitir a reflexão sobre eles. O domínio de
à expansão dos meios de transporte de pessoas, informações sobre os temas abordados é necessá-
de mercadorias e de informações — permite apro- rio, mas é o raciocínio crítico sobre esses conceitos
ximações capazes de romper barreiras culturais e e informações que faz toda a diferença.

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Ciências humanas e seus objetos do  · Características e transformações das estrutu-
ras produtivas. Diferentes formas de organiza-
conhecimento ção da produção: escravismo antigo, feudalismo,
· Diversidade cultural, conflitos e vida em so- capitalismo, socialismo e suas diferentes expe-
ciedade. Cultura material e imaterial; patri- riências. Economia agroexportadora brasileira:
mônio e diversidade cultural no Brasil. A con- complexo açucareiro; a mineração no período
quista da América. Conflitos entre europeus e colonial; a economia cafeeira; a borracha na
indígenas na América colonial. A escravidão e Amazônia. Revolução Industrial: criação do siste-
formas de resistência indígena e africana na ma de fábrica na Europa e transformações no
América. História cultural dos povos africanos. processo de produção. Formação do espaço ur-
A luta dos negros no Brasil e o negro na forma- bano-industrial. Transformações na estrutura
ção da sociedade brasileira. História dos povos produtiva no século XX: o fordismo, o toyotismo,
indígenas e a formação sociocultural brasileira. as novas técnicas de produção e seus impactos.
Movimentos culturais no mundo ocidental e A industrialização brasileira, a urbanização e as
seus impactos na vida política e social. transformações sociais e trabalhistas. A globali-
zação e as novas tecnologias de telecomunica-
· Formas de organização social, movimentos ção e suas consequências econômicas, políticas e
sociais, pensamento político e ação do Esta- sociais. Produção e transformação dos espaços
do. Cidadania e democracia na Antiguidade; Es- agrários. Modernização da agricultura e estrutu-
tado e direitos do cidadão a partir da Idade Mo- ras agrárias tradicionais. O agronegócio, a agri-
derna; democracia direta, indireta e represen- cultura familiar, os assalariados do campo e as
tativa. Revoluções sociais e políticas na Europa lutas sociais no campo. A relação campo-cidade.
moderna. Formação territorial brasileira; as regi-
ões brasileiras; políticas de reordenamento terri- · Os domínios naturais e a relação do ser hu-
torial. As lutas pela conquista da independência mano com o ambiente. Relação homem-natu-
política das colônias da América. Grupos sociais reza, a apropriação dos recursos naturais pelas
em conflito no Brasil imperial e a construção da sociedades ao longo do tempo. Impacto am-
nação. O desenvolvimento do pensamento libe- biental das atividades econômicas no Brasil. Re-
ral na sociedade capitalista e seus críticos nos cursos minerais e energéticos: exploração e im-
séculos XIX e XX. Políticas de colonização, migra- pactos. Recursos hídricos; bacias hidrográficas e
ção, imigração e emigração no Brasil nos séculos seus aproveitamentos. As questões ambientais
contemporâneas: mudança climática, ilhas de
XIX e XX. A atuação dos grupos sociais e os gran-
calor, efeito estufa, chuva ácida, a destruição da
des processos revolucionários do século XX: Re-
camada de ozônio. A nova ordem ambiental in-
volução Bolchevique, Revolução Chinesa, Revo-
ternacional; políticas territoriais ambientais; uso
lução Cubana. Geopolítica e conflitos entre os
e conservação dos recursos naturais, unidades
séculos XIX e XX: imperialismo, a ocupação da
de conservação, corredores ecológicos, zonea-
Ásia e da África, as Guerras Mundiais e a Guerra mento ecológico e econômico. Origem e evolu-
Fria. Os sistemas totalitários na Europa do século ção do conceito de sustentabilidade. Estrutura
XX: nazifascismo, franquismo, salazarismo e sta- interna da Terra. Estruturas do solo e do relevo;
linismo. Ditaduras políticas na América Latina: agentes internos e externos modeladores do
Estado Novo no Brasil e ditaduras na América. relevo. Situação geral da atmosfera e classifica-
Conflitos político-culturais pós-Guerra Fria, reor- ção climática. As características climáticas do
ganização política internacional e os organismos território brasileiro. Os grandes domínios da ve-
multilaterais nos séculos XX e XXI. A luta pela getação no Brasil e no mundo.
conquista de direitos pelos cidadãos: direitos ci-
vis, humanos, políticos e sociais. Direitos sociais · Representação espacial. Projeções cartográ-
nas Constituições brasileiras. Políticas afirmati- ficas; leitura de mapas temáticos, físicos e po-
vas. Vida urbana: redes e hierarquia nas cidades, líticos; tecnologias modernas aplicadas à car-
pobreza e segregação espacial. tografia.

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Atividades
  C3 • H12 
  1  O Butão é um país asiático localizado entre a China e a Índia, no 1.   Esta questão apela para a 
contextualização sociopolítica, 
alto das montanhas do Himalaia. Em 1972, seu monarca introdu-
inscrevendo-se nos debates sobre 
ziu o termo Felicidade Interna Bruta (FIB), como um índice alter- desenvolvimento que fazem parte 
nativo para medir o desenvolvimento do país e a qualidade de da agenda política contemporânea. 
Aborda, portanto, temas também de 
vida da população, em oposição ao índice mais usado para medir Geografia e História. A alternativa d 
desenvolvimento, o Produto Interno Bruto (PIB). Desde então a apresenta a única resposta que foge 
ao senso comum, o que se espera do 
FIB passou a ganhar foco nos debates políticos sobre avaliação do aluno egresso do Ensino Médio. Este 
desenvolvimento social de uma população. senso comum está evidente em especial 
nos itens a, b e c, que ecoam chavões 
A respeito desse índice, é correto dizer que: muito disseminados na sociedade – a 
a) o índice FIB não passa de uma estratégia de países muito po- saber, que o dinheiro estaria relacionado 
diretamente ou inversamente com a 
bres para mascarar seu subdesenvolvimento, e portanto não felicidade, ou que seria o único indicador 
merece consideração séria. possível de desenvolvimento. Já a 
alternativa e possui uma argumentação 
b) um povo com FIB muito alto não terá um PIB alto, pois o di- falha sob aspectos lógicos, nas 
nheiro traz inevitavelmente a infelicidade. sentenças finais – pois, ainda que 
o aluno desconheça a teologia do 
c) esta preocupação não passa pelos países com PIB muito alto, budismo, deve perceber que a felicidade 
uma vez que o elevado padrão de renda garante por si só um não está associada somente à religião. 
Já a alternativa d indica a insatisfação 
alto índice de felicidade. com o modelo de desenvolvimento 
X d) o índice FIB aponta para um questionamento acerca da prima- prioritariamente econômico.
zia dos atributos econômicos para a avaliação da qualidade de
vida de uma população.
e) devido a aspectos da religião do Butão, predominantemente
budista, seu povo não pode acumular riquezas, por isso utiliza
o FIB, que só teria sentido nesses casos.
Röhring, Carl W. geb. 1953. “Der Weg zum Glück liegt in dir”/Album/LatinStock

O caminho para a felicidade está em você mesmo (1999) – Carl W. Röhring.

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  C1 • H2 
2.   Zygmunt Bauman é um sociólogo 
polonês que, como muitos outros, se 
  2    A sociedade moderna proclamava o direito à felicidade: não
era só a melhoria do padrão de vida, mas o grau de felicidade
encontra na fronteira entre a teoria social 
e a filosofia. Vem discutindo, nas últimas  dos homens e mulheres envolvidos que devia justificar (ou
décadas, problemas relacionados à  condenar, caso aquele grau se recusasse a chegar a níveis cada
participação do indivíduo na sociedade, 
o aspecto emocional desta participação  vez mais altos) a sociedade e todas as suas obras. A busca da
e as implicações éticas dos sistemas  felicidade e a esperança de sucesso tornaram-se a motivação
econômicos contemporâneos. 
A alternativa c aponta para a ampliação  principal da participação do indivíduo na sociedade. Tendo
do que é proposto na frase “Os  recebido tal papel, a busca da felicidade se transformou, da
obstáculos responsabilizados ou 
suspeitos de bloquear essa busca  mera oportunidade que era, num dever e no supremo princípio
passaram a construir o sistema de  ético. Os obstáculos responsabilizados ou suspeitos de bloque-
injustiça e uma causa legítima de 
rebelião”.  Espera-se que o aluno 
ar essa busca passaram a constituir o sistema de injustiça e uma
perceba que as implicações da busca  causa legítima de rebelião.
da felicidade, como princípio moral, 
redundam em uma alteração dos  BAUMAN, Zygmunt. Comunidade: a busca por segurança no mundo atual.
fundamentos éticos e mesmo jurídicos  São Paulo: Zahar, 2003. p. 76-77.
da sociedade. A alternativa a representa 
um erro de leitura, pois em nenhum  É correta a seguinte proposição acerca do trecho:
momento Bauman vai além do direito 
ou busca de felicidade. A alternativa  a) A felicidade tornou-se mais disseminada na sociedade moderna,
b é contrassenso, se considerarmos 
estas implicações – a felicidade como 
melhorando o padrão de vida das pessoas.
fundamento ético implicaria no respeito 
à felicidade alheia. Já as alternativa d e 
b) Justifica-se, na sociedade moderna, a busca pela felicidade,
e, embora plausíveis, não estão calcadas  ainda que à custa da infelicidade alheia.
nos argumentos do trecho (reparar 
que Bauman fala da condenação da  X c) Impedir a felicidade alheia passa a ser associado à injustiça
sociedade que não permite felicidade, e  social, podendo conduzir à rebelião.
não do indivíduo que deixa de buscá-la; 
e diz que a busca da felicidade torna-se  d) Os indivíduos que se recusam a buscar a felicidade são moral-
motivação, mas não condição, da 
participação do indivíduo na sociedade). mente condenados na sociedade moderna.
e) Somente pela participação ativa na sociedade moderna o indi-
víduo pode ser feliz.

  C1 • H1 
3.   Samuel Clarke foi um filósofo moral 
inglês, que discute no trecho citado    3    A regra da integridade diz que, em particular, devemos tratar
(incluído na coletânea “Filosofia moral  todo e qualquer homem em circunstâncias análogas às que
britânica”, editora da Unicamp, 1996, p.  podemos razoavelmente esperar que ele nos trate; e que, em
56) imperativos da conduta dentro da 
religião natural, que para ele não era  geral, nos empenhamos, por uma benevolência universal, em
revelada, mas consequente à Razão. O  promover o bem-estar e a felicidade de todos os homens.
objetivo da questão é conduzir o aluno 
à leitura de um pequeno trecho de  CLARKE, Samuel. Um discurso sobre religião natural.
Filosofia, extraindo dele os argumentos  Campinas: Editora da Unicamp, 1996.
principais. A única alternativa que 
apresenta conceitos que podem resumir  Nesse trecho, o filósofo inglês Samuel Clarke aponta para duas
as ideias de Clarke, no trecho, é b.
condutas que caracterizam a moral moderna, a saber:
a) a resignação ao destino e a hierarquia.
X b) a igualdade e a solidariedade.
c) o amor-próprio e a qualidade de vida.
d) a liberdade e a inteligência.
e) a religião e a felicidade.

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  C1 • H1 

  4    Do que se disse dependem também as mudanças, pois se 4.   O surgimento das preocupações com 


o bem comum pode ser remetido, na 
alguém se conduz com cautela e paciência, e os tempos e tradição europeia, a Nicolau Maquiavel. 
as coisas lhe favorecem, seu governo é bom e há felicidade; Neste trecho de O príncipe, há uma 
síntese da ética de Maquiavel: a ação 
mas se os tempos e as coisas mudam, se arruína, porque política conformando o social.
não alterou o modo de proceder.    A associação entre circunstâncias 
(prosperidade ou adversidade) e a 
MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe. ação política está indicada somente 
São Paulo: Círculo do Livro, 1982. nesta alternativa, e. A alternativa a diz 
exatamente o oposto, do mesmo modo 
O pensador italiano Maquiavel estabeleceu em O príncipe, que a alternativa c. Já as alternativas b e 
d são inconsistentes com o que está dito 
obra publicada em 1513, princípios da filosofia política no trecho.
moderna. Nesse livro fazia constantes exortações à conduta
do governante para assegurar o bem comum, a paz e a felici-
dade dos governados. No trecho citado, Maquiavel está afir-
mando que:
a) o governante deve sempre agir com cautela e paciência, a
despeito de quaisquer circunstâncias.
b) adversidades sempre acontecerão caso o príncipe aja com
cautela e paciência.
c) a conduta política do governante deve ser estabelecida antes
de sua subida ao trono, de modo a não causar surpresas e
atentar à felicidade dos governados.
d) o governante nada pode fazer diante das adversidades e
somente age na prosperidade.
X e) é necessário ao governante agir em conformidade com a situa-
ção para garantir o bem comum.

  C1 • H1 

  5    O limite da amplitude dos prazeres é a supressão de tudo que 5.   Esta máxima do Tetraphármakos (“os 


quatro remédios”), de Epicuro (em 
provoca dor. Onde estiver o prazer, e durante o tempo em que tradução de João Quartim de Moraes, 
ele ali permanecer, não haverá lugar para a dor corporal ou o Epicuro: Máximas principais, edição do 
IFCH/Unicamp, 2006), é a mais facilmente 
sofrimento mental, juntos ou separados. associada ao epicurismo, no que explicita 
a supressão da dor como caminho para 
Essa máxima de um pensador da antiguidade grega é sínte- o prazer e a felicidade. É preciso associar 
se do pensamento de uma escola filosófica que procurava a a máxima principal do Tetraphármakos 
à escola de pensamento epicurista, 
felicidade no desfrutar dos prazeres. Essa escola é conhecida alternativa c.
como:
a) classicismo.
b) cinismo.
X c) epicurismo.
d) pirronismo.
e) eleatismo.

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The Metropolitan Museum of Art/Art Resource/Scala, Florence
O alegre grupo (c. 1615) – Frans Hals.

  C1 • H2 

  6    É preciso lembrar que a felicidade era, em Aristóteles, um


ideal ético da vida. A vida ética era a vida justa, boa, corre-
tamente vivida por um cidadão, alguém que sabia de seu
papel na sociedade, que ao pensar em si levava em conta o
todo: família, amigos, sociedade, natureza. Aristóteles cha-
mava a felicidade de eudaimonia. Palavra que continha o
termo daimon, espécie de espírito interior, guardião da inti-
midade, do valor pessoal de cada um. Este ideal de felicida-
de era diferente do que apareceu depois com Epicuro, o fi-
lósofo da escola do Jardim, que tratou a felicidade como
hedonismo. Hedoné era a palavra grega para significar o
prazer. Não o mero prazer da carne, mas também o do espí-
rito. Para Aristóteles, porém, a felicidade tinha uma relação
maior com a justiça.
TIBURI, Marcia. A felicidade é coletiva. Revista Vida Simples.
São Paulo: Abril, mar. 2007.

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Para Marcia Tiburi, a diferença entre o ideal de felicidade em 6.   O texto da filósofa brasileira Marcia Tiburi 
Aristóteles (eudaimonia) e Epicuro (hedoné) é que: (publicado na revista citada e republicado 
em seu site) faz uma retomada do 
a) para Aristóteles a felicidade é interior, enquanto para Epicuro conceito aristotélico de felicidade, 
a eudaimonia, em contraposição às 
é exterior. concepções posteriores, que, sob 
b) para Aristóteles a felicidade não implica a busca pelo prazer, influência do individualismo, perdem a 
dimensão coletiva ou social – em que 
enquanto para Epicuro, sim. está implícita a justiça – do viver bem. 
No trecho selecionado, ela sinaliza 
c) para Aristóteles a felicidade está relacionada à preservação da para uma ética alternativa que surgiu 
intimidade, enquanto para Epicuro está relacionada à convi- na própria Grécia antiga, o epicurismo. 
Embora não desenvolva o argumento 
vência. acerca do epicurismo, insinua uma maior 
d) para Aristóteles a felicidade era o bem-estar, enquanto para preocupação com o bem-estar individual 
(físico – “da carne” – e espiritual). A 
Epicuro, a ausência de desejos. alternativa e indica essa dicotomia.

X e) para Aristóteles a felicidade continha implicações sociais,


enquanto para Epicuro estava mais relacionada ao indivíduo.

  C1 • H2 

  7    Outra tática comum é a tentativa de reforçar a sua posição 7.   A falácia lógica central que o texto 


problematiza é o falso dilema ou falsa 
afirmando que a oposição não pode provar o contrário. Com dicotomia, que consiste em apresentar 
os OVNIs há dois momentos: um é afirmar que nenhuma duas alternativas como as únicas 
possíveis (pensamento “branco/preto”). 
explicação lógica existe [para o fenômeno] [...]. O outro é Essa falácia é recorrente na imprensa 
apontar a falta de provas em contrário: não há testemunha e mesmo em alguns textos científicos 
ou pseudocientíficos, como no caso 
visual que contradiga o avistamento, não há provas de que
apontado. A alternativa a escapa aos 
não fossem extraterrestres ou naves alienígenas. Aqui tam- argumentos apresentados no texto. 
bém há um erro lógico. [...] A escolha não é entre (1) sabe- As alternativas b, c e d contradizem o 
trecho, porque ele trata de casos em 
mos que uma explicação convencional é correta ou (2) os que não há ainda uma explicação, nos 
extraterrestres visitaram-nos. quais há observadores do fenômeno, 
e o trecho indica que podem existir ao 
“Extraterrestres e OVNIs”, Dicionário do Cético. menos duas explicações (convencional/
extraterrestre).
Disponível em: <http://brazil.skepdic.com/extrater.html>.
Acesso em: jun. 2011.

O ceticismo consiste em uma atitude calcada na dúvida diante


da apresentação dos fatos cotidianos de nossa vida. No trecho
acima, a principal falácia dos defensores da existência de discos
voadores, apresentada por um cético, é:
a) os discos voadores não existem porque não há condições em
outros planetas para a vida.
b) as crenças em discos voadores se mostraram logicamente
erradas porque os fenômenos foram explicados por outras
razões.
c) não existem testemunhas visuais em que se possa acreditar,
no caso de avistamento de discos voadores.
d) não há hipóteses alternativas para explicar os discos voadores,
e por isso eles são muito verdadeiros para os padrões cientí-
ficos atuais.
X e) na falta de uma explicação tradicional, a visita extraterrestre
não corresponde à única explicação possível.

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  C2 • H7 
8.   A distinção entre dúvida filosófica e 
trivial é problematizada a partir de frases    8  A dúvida é um passo importante para o conhecimento, desde que
adaptadas a partir de manchetes de  seja a dúvida filosófica, ou dúvida metódica, aquela que acarreta
jornal. As dúvidas expostas em a, b, c e  a suspensão de juízo acerca de determinada questão. Ela se dis-
e não acarretam suspensão de qualquer 
juízo e são respondidas pelo próprio  tingue da dúvida trivial, que é apenas a incerteza quanto aos re-
suceder temporal. Já a dúvida veiculada  sultados futuros de uma ação ou evento. Assinale a alternativa
pelo suposto filme, em d, é sobre um 
tema premente de indagações filosóficas. que apresenta uma dúvida em sentido filosófico.
a) O atraso na chuva gera dúvida quanto à safra de milho.
b) Felipe é dúvida para o jogo de domingo.
c) Cotação do dólar ao fim do ano ainda é dúvida.
X d) Filme põe em dúvida a distinção entre público e privado.
e) Candidato derrotado coloca em dúvida execução das propos-
tas do adversário.

  C1 • H1 

9.   Dentro do chamado pragmatismo 
intelectualista, Pierce está aqui 
  9    Há uma diferença prática entre dúvida e crença. Nossas
crenças guiam nossos desejos e conformam nossas ações.
preocupado em discernir aspectos 
positivos da crença como um passo  A certeza de acreditar é uma indicação segura do estabe-
fundamental, ao lado da dúvida, para  lecimento em nossa natureza de um hábito que determina
as ações humanas, especialmente 
científicas e filosóficas. A alternativa que  nossas ações. A dúvida não produz tal efeito. A dúvida é um
apresenta corretamente o que se pode  estado de desconforto e insatisfação do qual lutamos para
inferir do texto é a e. As alternativas a e d 
eliminam o papel da dúvida; a alternativa  nos libertar e passar ao estado de crença; enquanto este
b inverte o papel da dúvida. Já a  último é um estado calmo e satisfatório que não desejamos
alternativa c não apresenta fundamento 
no trecho (é até ilógico pensar em  evitar, ou alterar por uma crença noutra coisa qualquer. As-
liberdade mais pela crença do que pela  sim, tanto a dúvida como a crença têm efeitos positivos so-
dúvida).
bre nós, embora muito diferentes. A crença não nos faz agir
imediatamente, mas coloca-nos numa posição em que nos
comportaremos de certa forma, quando surge a ocasião. A
dúvida não tem qualquer efeito deste tipo, mas estimula-nos
a agir até que é destruída.
PIERCE, Charles S. A fixação da crença. Trad. Anabela G. Alves.
Washington: Popular Science, v. 1, n. 12, 1877.

Conquanto a dúvida filosófica seja o primeiro passo para o co-


nhecimento, nada se faz sem algumas premissas tomadas como
verdades. Segundo Pierce, o bem que pode advir da crença está
relacionado:
a) ao obedecimento a certos princípios eternos.
b) à passagem para um estado de desconforto pela perda do
ceticismo.
c) à liberdade do ser humano.
d) ao temor e reverência religiosa.
X e) à segurança e ao prosseguimento de nossas ações.

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  C1 • H1 

 10    Ignorar é não saber alguma coisa. A ignorância pode ser 10.   A questão visa avaliar a compreensão 
do trecho no qual a filósofa faz 
tão profunda que sequer a percebemos ou a sentimos, isto distinção entre estados de ignorância 
é, não sabemos que não sabemos, não sabemos que ignora- e incerteza – esta última caracterizada 
por colocar em dúvida as crenças e 
mos. A incerteza é diferente da ignorância porque, na incerteza, opiniões. O aluno deverá associar 
descobrimos que somos ignorantes, que nossas crenças e opi- corretamente a suspensão dos juízos à 
dúvida, alternativa d.
niões parecem não dar conta da realidade, que há falhas na-
quilo em que acreditamos e que, durante muito tempo, nos
serviu como referência para pensar e agir. Na incerteza não
sabemos o que pensar, o que dizer ou o que fazer em certas
situações ou diante de certas coisas, pessoas, fatos, etc.
CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia.
São Paulo: Ática, 2006.

A diferença entre ignorância e incerteza, para Marilena Chauí, é


que na incerteza recorremos:
a) à estimação.
b) ao determinismo.
c) ao fatalismo.
X d) à dúvida.
e) à verdade.

  C3 • H12 

 11  Em Filosofia, a falseabilidade é definida como a possibilidade 11.   A sentença “A realidade está apenas 


na mente do ser humano” (e), em 
de que uma proposição se demonstre falsa por uma observa- chave solipsista, jamais poderá ser 
ção ou experimento que a contradiga. É um critério a partir do alvo de uma verificação empírica, 
como as demais; pois se é possível 
qual se verifica a possibilidade de refutar um raciocínio, con- (embora pouco provável) encontrar 
quanto não estabeleça necessariamente que esta proposição um homem que viva infinitamente, 
um búfalo branco, um novo planeta 
seja falsa (ou correta) – é preciso uma observação contrária (ou a retificação de um antigo planeta 
para refutá-la, observação que deve estar no horizonte do em corpo estelar de outra categoria, 
como veio a acontecer com Plutão), 
possível. Segundo o pensador austríaco Karl Popper, a falsea- ou um outro composto bioquímico 
bilidade é o critério necessário a partir do qual se poderia que transporte energia nos animais, é 
impossível, se assumirmos este tipo de 
distinguir a ciência do dogmatismo (que despreza a possibili- solipsismo, qualquer argumento para 
dade de encontrar uma observação contrária). além do mundo ideal (“a mente do 
ser humano”). A sentença é, portanto, 
Das sentenças a seguir, aquela que não é passível de falseabilida- impossível de ser falseada. A maior 
de, ou seja, que não permite refutação, é: dificuldade que esta questão apresenta 
é na avaliação da primeira sentença (a), 
a) O homem é um ser cujo tempo de vida é finito. mas o próprio enunciado da questão 
já esclarece que uma proposição 
b) Todos os búfalos são animais de cor escura. falseável não é necessariamente falsa – 
conquanto seja costume observarmos 
c) O Sistema Solar é composto de nove planetas. que os homens vivem de maneira finita, 
nada em princípio impede que amanhã 
d) O ATP é o mecanismo de transporte de energia no organismo apareça um homem de vida infinita.
dos animais.
X e) A realidade está apenas na mente do ser humano.

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  C1 • H1 
12.   A questão retoma o trecho final 
do diálogo escrito por Platão, no 
 12    Sócrates: E estaremos nós, meu amigo, ainda em estado de
qual Sócrates vai continuamente 
gravidez e dores de parto, no que concerne ao conhecimento,
questionando o jovem Teeteto acerca  ou já se deu à luz a tudo?
de noções simples, de modo a lhe 
demonstrar a via do conhecimento  Teeteto: Sim, ainda estamos, e por Zeus, Sócrates, por sua
filosófico. Essa via é o diálogo, a  ajuda eu disse mais coisas do que havia em mim.
maiêutica, que consiste em inquirir o 
discípulo, duvidando de suas premissas,  PLATÃO. Teeteto e Crátilo. 3. ed. rev. Belém: EDUFPA, 2001.
até que ele construa juízos mais 
completos e complexos. A alternativa 
que apresenta esta definição mínima da 
O espanto do jovem Teeteto advém do emprego que Sócrates faz
maiêutica é b. (O procedimento em a  da maiêutica, seu método filosófico por excelência. Esse método
seria mais corretamente descrito como 
mnemônico, enquanto em c resume-se 
consiste basicamente em:
o ceticismo e em e, o sensualismo.)
a) enunciar listas de atributos de objetos, que devem ser memo-
rizadas pelo discípulo.
X b) estabelecer, por meio de perguntas e respostas, juízos mais
completos sobre coisas e conceitos.
c) negar todo o conhecimento que advém da especulação filosófica.
d) praticar a chamada regressão, que consistiria em retomar as
primeiras percepções do mundo, logo após o nascimento,
como fonte da verdade.
e) fiar-se apenas nas sensações imediatas acerca dos objetos e
fenômenos.

  C1 • H2 
13.   Embora a tradição filosófica ocidental 
tenha feito do diálogo filosófico   13    Arjuna: Ó Krishna, quem é o Ser Eterno ou o Espírito?
um instrumento intramundano de  Qual a natureza do Ser Eterno? O que é karma? O que são
conhecimento, com os escritos de  os seres imortais? E quem são os Seres Divinos? Quem é o
Platão e seus sucessores, marcando 
questões essencialmente humanas,  Ser Supremo, e de que modo Ele reside no corpo? Como
é possível fazer um paralelo com a  pode Você, o Ser Supremo, ser lembrado na ocasião da
filosofia hindu antiga, que se estabelece 
sempre como o diálogo entre deuses e  morte, por aqueles que possuem o controle sobre suas
humanos.   mentes, ó Krishna?
A alternativa c aponta para essa
confluência. As alternativas a e e  Krishna: O eterno e imutável Espírito do Ser Supremo é
reproduzem juízos precipitados sobre 
a ontologia e a epistemologia hindu,  chamado de Ser Supremo ou o Espírito. O poder inerente da
em franca contradição com o trecho. A  cognição, e desejo do Ser Eterno, é chamado de natureza ou
alternativa b é igualmente contraditória 
com o próprio fragmento. Finalmente,  Ser Eterno. O poder criativo do Ser Eterno que causa a mani-
a alternativa d omite o aspecto  festação das entidades vivas é chamado de karma.
profundamente aristocrático da filosofia 
grega, que permitiu, por exemplo, a  Bhagavad Gita, cap. 8. In: The Mahabharata of Krishna – dwaipayana Vyasa.
Aristóteles conceituar a escravidão 
como natural aos povos bárbaros – do 
mesmo modo que na Índia os brâmanes 
O Bhagavad Gita é um trecho do longo poema hindu Mahabharata
têm, mesmo nos escritos filosóficos,  (que foi escrito entre o terceiro e o oitavo século antes de Cristo).
prerrogativas especiais. 
Estabelece-se como um diálogo entre o guerreiro brâmane
Arjuna e o deus Krishna. Em relação aos diálogos filosóficos da Grécia
Antiga, que estabeleceram as bases da Filosofia ocidental, uma
diferença que pode ser notada nesse excerto é:

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a) a ausência de questões metafísicas, no Bhagavad Gita.
b) o método de perguntas e respostas, que não se faz presente
nos diálogos gregos.
X c) a presença marcante de elementos sagrados na filosofia hindu.
d) a hierarquia entre castas ou classes, ausente na vida e filosofia
gregas.
e) a preocupação com possibilidades e modos do conhecer,
exclusiva dos gregos.

  C1 • H1 
14.   A peça As nuvens, de Aristófanes, faz 
 14  Na Grécia Antiga, o diálogo não era o método privilegiado do dis- grande escárnio da filosofia socrática. 
curso filosófico. Ele estava presente também em outras manifes- Na peça, Sócrates aparece como um 
tações culturais, como o teatro. O trecho seguinte é extraído da fantasista, pronto a ensinar truques 
verbais e práticas sem ética para seus 
peça As nuvens, de Aristófanes, que traz como personagem o fi- discípulos. No trecho selecionado, 
lósofo Sócrates: primeiro encontro de Estrepsíades com 
Sócrates, o primeiro já pede a Sócrates 
Estrepsíades: Então venha, Sócrates, desça aqui para ensi- para lhe ensinar “a falar”; Sócrates 
promete torná-lo “escovado na fala”, um 
nar-me aquilo que vim procurar... charlatão. A alternativa que apresenta 
a correta interpretação do trecho é, 
Sócrates: Mas a que veio você? portanto, c. As demais alternativas não 
aparecem no trecho. 
Estrepsíades: Porque desejo aprender a falar. Com efeito,
estou sendo saqueado, pilhado e penhorado nos meus bens,
por credores e juros muito cacetes...
Sócrates: E como você não percebeu que se endividava?
Estrepsíades: Foi uma doença de cavalos que me arruinou,
terrível, devoradora... Mas ensine-me o outro dos seus dois
raciocínios, aquele que não devolve nada. Pelos deuses, juro
pagar-lhe qualquer salário que você cobrar! […]
Estrepsíades: O que é que ganho eu com isso?
Sócrates: Tornar-se-á escovado na fala, charlatão, uma flor
de farinha!
ARISTÓFANES. As nuvens. Pequena Biblioteca Difel, textos greco-latinos III.
Trad. Gilda Maria Real. São Paulo: Difel, 1967.

Diferentemente do que acontece nos diálogos platônicos, aparece


uma crítica implícita a Sócrates nesse trecho, a saber:
a) o culto que Sócrates promovia a deuses, parte oculta de sua
filosofia.
b) a posição de Sócrates como filósofo e comerciante, tida por
incompatível por Aristófanes.
X c) o método da maiêutica, que seria para Aristófanes uma retórica
vazia e usada de maneira sofista.
d) a ausência, na filosofia de Sócrates, das considerações de
ordens econômica e política.
e) o tom fortemente aristocrático da filosofia de Sócrates.

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  C1 • H2 
15.   É possível notar um ranço etnocêntrico 
no pensamento de Malinowski, 
 15    De nada adiantará perguntar ao nativo uma questão com-
especialmente em trechos como 
plexa como “Qual é a punição para um crime?”, até porque
esse, nos quais ele associa os nativos  as palavras podem não existir em sua linguagem para ex-
a culturas “simples” e incapazes  pressar estes conceitos. Basta, no entanto, trazer um caso
de pensamento sofisticado. Seria 
necessária a chegada de um Lévi-Strauss  real ou mesmo imaginário para estimular o nativo a expres-
(e ainda assim, com sérias ponderações)  sar sua opinião e fornecer uma grande quantidade de infor-
para atribuir aos “selvagens” a 
capacidade de pensar científica ou  mações. Um caso real, de fato, vai conduzir os nativos a uma
filosoficamente. Espera-se que a  onda de discussão, evocando expressões de indignação, fa-
questão trabalhe, simultaneamente, a 
percepção do diálogo como caminho  zendo com que tomem partido – toda essa conversa prova-
para o conhecimento, mas desde  velmente vai conter uma riqueza de visões definidas, censu-
que amparado em uma atitude não 
preconceituosa.
ras morais, como também vai revelar mecanismos sociais
movidos pelo crime.
MALINOWSKI, Bronislaw. Argonautas do pacífico ocidental: Um relato
do empreendimento e da aventura dos nativos nos arquipélagos da Nova
Guiné melanésia. São Paulo: Abril Cultural, 1976.

O inglês Bronislaw Malinowski (1884-1942) é considerado um


dos pais da Antropologia moderna, o estudo da diversidade
cultural ao redor do globo. Nesse trecho, está descrevendo
as técnicas de pesquisa que utilizou para entender um povo
da Oceania, os trobriandeses (habitantes das ilhas Trobriand).
A despeito de suas contribuições fundamentais para a Antro-
pologia, é possível criticar um posicionamento preconceituoso
no trecho, a saber:
X a) a suposta incapacidade dos nativos em discutir conceitos abs-
tratos.
b) a opinião de que os nativos não distinguem entre casos reais
e imaginários.
c) a atribuição aos nativos de um desconhecimento da língua
inglesa, que dificulta a comunicação.
d) a ausência de punição para atitudes criminosas, entre os nativos.
e) a percepção dos nativos como perversos e propensos ao crime.

  C3 • H12 

 16  O chamado teste de Turing foi proposto pelo matemático in-


glês Alan Turing, na década de 1950, com o fim de testar a
possibilidade de uma máquina demonstrar inteligência. O tes-
te consiste em estabelecer uma conversa através de um ante-
paro, entre um ser humano de um lado (C) e de outro uma
máquina programada para agir imitando um ser humano (A) e
outro ser humano (B). A conversa deve se dar apenas por car-
tões de texto. Se o primeiro indivíduo não conseguir estabele-
cer pela conversa quem é a outra pessoa e quem é a máquina,
considera-se que a máquina passou no primeiro critério para o
estabelecimento de inteligência.

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16.   O teste de Turing ganhou popularidade 
entre os pesquisadores da chamada 
“Inteligência Artificial”, conquanto 
represente apenas um esforço primário 
para estabelecer padrões pelos quais 
se pode julgar a pertinência em falar 
de inteligências não humanas. O 
aluno deve, a partir do enunciado, 
confrontar conceitos vistos ao 
longo das discussões em Filosofia, 
como o diálogo, a consciência e a 
intencionalidade; do confronto, fica 
claro que o teste associa inteligência 
A B a uma capacidade da máquina de 
estabelecer diálogo com o ser humano 
(alternativa d). De modo algum o teste 
estabelece capacidade criativa, pois é 

?
pré-programado; também não se pode 
avaliar a consciência, muito menos a 
intencionalidade. O teste tampouco visa 
aferir a capacidade matemática, pois 
ficaria evidente que a máquina não se 
comporta como ser humano. 

O teste associa inteligência:


a) à capacidade criativa.
b) à consciência.
c) à intencionalidade.
X d) ao diálogo.
e) à capacidade de operações matemáticas.

  C1 • H2 

 17    Há um conjunto das crenças e dos sentimentos comuns à 17.  F  undador da Sociologia, Durkheim 


estabeleceu uma série de critérios 
média dos membros de uma mesma sociedade, formando um importantes na análise social e 
sistema determinado com vida própria. política contemporânea, entre eles o 
de consciência coletiva (alternativa 
DURKHEIM, E. As regras do método sociológico. b). A questão problematiza este 
São Paulo: Martin Claret, 2001. ponto, confrontando o conceito 
durkheimiano com outros similares, 
mas que não dizem respeito a 
Émile Durkheim, pensador francês do final do século XIX, associa Durkheim: o de ideologia, que 
o comportamento individual a uma série de padrões extraindivi- remete mais ao marxismo tradicional 
(alternativa e), ou de socialização 
duais, normas e visões de mundo a que deu o nome de: primária, usual em psicologia para 
descrever a socialização ainda na 
a) ética social. família (alternativa c).
X b) consciência coletiva.
c) socialização primária.
d) fisiologia social.
e) aparelho ideológico.

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  C1 • H2 
18.   No magistral ensaio antropológico 
sobre a noção de pessoa, Marcel 
 18    A mentalidade de nossos antepassados até o século XVII,
e mesmo até o final do século XVIII, é atormentada pela
Mauss faz o percurso lógico e histórico 
dessa “categoria do espírito humano”,  questão de saber se a alma individual é uma substância ou
desde a diferenciação mais primitiva  se é sustentada por uma substância — se é a natureza do
e simples (entre os indígenas do 
noroeste americano) em direção ao  homem ou se é apenas uma das duas naturezas do homem;
individualismo típico do Ocidente. O  se é una e indivisível ou divisível e separável; se é livre,
excerto faz parte do capítulo 7, “A pessoa, 
ser psicológico” (o texto encontra-se  fonte absoluta de ações ou se é determinada e está encadeada
em Sociologia e Antropologia, edição  por outros destinos, por uma predestinação. De resto, quando
da CosacNaify, p. 394-395). Aí Mauss 
volta seu olhar para a caracterização  se fala das funções precisas da alma, é ao pensamento discur-
da pessoa na modernidade, na qual  sivo, claro, dedutivo, que o Renascimento e Descartes se
surge uma equivalência entre atributos 
do pensamento e a individuação. Essa 
dirigem para compreender sua natureza.
associação é indicada na alternativa 
a. Mauss não afirma, antes coloca em 
MAUSS, Marcel. Uma categoria do espírito humano: a noção de pessoa.
dúvida (como o fazem os modernos), a  São Paulo: CosacNaify, 2003.
questão do determinismo (b) e também 
do monismo/dualismo (c) e o livre- Nesse excerto do antropólogo francês Marcel Mauss, estão pre-
-arbítrio (e). Também não afirma nada 
sobre a natureza universal (d).
sentes as várias questões filosóficas; a respeito da consciência,
ele afirma:
X a) o predomínio da racionalidade na caracterização de pessoa.
b) o determinismo social na conduta individual.
c) a rígida separação entre mente e corpo na definição de pessoa.
d) a existência de uma natureza universal nos indivíduos.
e) o livre-arbítrio como característica fundamental do viver humano.

Scala, Florence – Ernst, Max/Licenciado por AUTVIS, Brasil, 2010. (Metropolitan Museum of Art, New York, EUA)

Gala Éluard (1924) – Max Ernst.

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  C2 • H7 
19.   A questão problematiza o modelo 
 19  No chamado modelo estrutural da psique, definido por Sigmund fornecido por Freud para o 
Freud, existem três partes constituintes do aparelho psíquico. entendimento da psique. As alternativas 
A primeira é o equivalente do esforço individual mais elementar incorretas retomam conceitos não 
freudianos, mas que caberiam 
em busca do prazer e rejeição da dor e está presente desde o igualmente em outros modelos de 
nascimento. A segunda corresponde ao princípio da realidade e caracterização da conduta humana 
– como o marxismo (ideologia), o 
forma-se na interação com o mundo. E a terceira tem o papel de positivismo sociológico (consciência 
controle sobre os impulsos e estabelece normas de conduta ideais. coletiva) etc. A tripartição correta da 
psique segundo Freud é indicada na 
A essas três partes Freud denomina: alternativa d.
a) arquétipo, ego, consciência.
b) libido, consciência, ideologia.
c) id, persona, subpersona.
X d) id, ego, superego.
e) arquétipo, consciência individual, consciência coletiva.

  C3 • H12 

 20   [...] O gene, a molécula de DNA, por acaso é a entidade 20.   Richard Dawkins é um polêmico biólogo 
contemporâneo, que propôs a teoria 
replicadora mais comum em nosso planeta. Poderá haver
do gene egoísta: sinteticamente, essa 
outras. Se houver, desde que certas outras condições sejam teoria diz que os genes são unidades 
satisfeitas, elas quase inevitavelmente tenderão a se tornar a básicas da evolução e propagação 
(replicadores). Estendeu suas ideias 
base de um processo evolutivo. [...] Acho que um novo tipo para o comportamento não biológico, 
de replicador recentemente surgiu neste próprio planeta. [...] através dos memes, replicadores 
culturais. Separa claramente genes 
O novo caldo é o caldo da cultura humana. Precisamos de e memes, os primeiros atuantes na 
um nome para o novo replicador, um substantivo que trans- esfera biológica, os segundos, na esfera 
do comportamento e das ideias. A 
mita a ideia de uma unidade de transmissão cultural, ou uma proposição I, portanto, está incorreta. 
unidade de imitação. Mimeme provém de uma raiz grega A proposição II indica corretamente a 
distinção dessas esferas. Finalmente, 
adequada [...]. Espero que [...] me perdoem se eu abreviar a proposição III indica a propriedade 
mimeme para meme. [...] comum entre ambos, a capacidade de 
replicação. A alternativa que indica a 
Exemplos de memes são melodias, ideias, slogans, modas correta verificação das proposições é, 
portanto, b.
do vestuário, maneiras de fazer potes ou construir arcos. Da
mesma forma como os genes se propagam [...] pulando de
corpo para corpo através de espermatozoides ou dos óvulos,
da mesma maneira os memes propagam-se [...] pulando de
cérebro para cérebro por meio de um processo que pode ser
chamado, no sentido amplo, de imitação.
DAWKINS, Richard. O gene egoísta.
São Paulo: Companhia das Letras, 2007.

O biólogo Richard Dawkins propôs o conceito de meme em 1976,


para estender à cultura seu modelo de evolução e transmissão
genética. A respeito da posição de Dawkins, no trecho, avalie as
seguintes proposições:
I. Os memes são mutações de genes, portanto Dawkins pratica
um tipo de reducionismo biológico.

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II. Os memes estão presentes em uma esfera distinta dos genes,
a da cultura.
III. Os memes propagam-se de maneira similar aos genes, por
imitação ou cópia.
Está correto o que se afirma em:
a) II.
X b) II e III.
c) I e II.
d) I e III.
e) I, II e III.

  C1 • H1 

 21    Então Heráclito acha que as coisas que temos ante nós não são
nunca, em nenhum momento, aquilo que são no momento
anterior e no momento posterior; que as coisas estão mudando
constantemente; que quando nós queremos fixar uma coisa e
definir sua consistência, dizer em que consiste esta coisa, ela já
não consiste no que consistia um momento antes.
MORENTE, M. García. Fundamentos de Filosofia.
São Paulo: Mestre Jou, 1967.

21.   Esta questão retoma as duas ontologias  [Para Parmênides,] o ser não tem um “passado”, porque o


fundadoras do pensamento filosófico  passado é aquilo que não existe mais, nem um “futuro”, que ain-
ocidental: Heráclito e Parmênides. 
Enquanto o primeiro é associado  da não existe, mas é “presente” eterno, sem início nem fim. Por
ao devir, a constante mudança e  conseguinte, o ser é também imutável e imóvel, porque tanto a
transformação do ser, o segundo 
procurou a segurança ontológica 
mobilidade quanto a mudança pressupõem um não ser para o
em um ser idealizado como  qual deveria se mover ou no qual deveria se transformar.
eterno, imutável, perfeito – a força 
argumentativa era necessária para,  REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da filosofia.
no entender de Parmênides, evitar  São Paulo: Paulus, 1930. v. 3.
o confuso pensamento heraclitiano 
da coisa que uma hora é, outra hora  A respeito dessas duas sínteses dos pensamentos dos filósofos
não é. As alternativas exploram as  gregos Heráclito e Parmênides, é possível afirmar que:
possibilidades lógicas acerca do 
confronto dos dois trechos, retirados de  a) são concordantes em que o ser não possui atributos fixos, sen-
manuais de Filosofia contemporâneos. 
É importante perceber que a diferença  do impossível descrevê-lo.
entre ambos os pensadores está na 
definição do ser, de modo mais fixo 
b) são concordantes em que o ser não se altera ao longo do tem-
em Parmênides, e fluido em Heráclito.  po, existindo eternamente com propriedades fixas.
A alternativa que apresenta esta 
correlação é d. c) são complementares, uma vez que Parmênides apenas desen-
volve o pensamento de Heráclito inscrevendo o não ser como
passo fundamental para a existência das coisas.
X d) são discordantes em relação à possibilidade de pensar um ser
fixo e imutável (Parmênides) e um ser que se transforma con-
tinuamente e nunca é o mesmo (Heráclito).
e) são discordantes em relação à existência do passado, que para
Heráclito é uma ilusão e para Parmênides, um atributo essencial
das coisas.

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  C3 • H12 
22.   A questão procura verificar a 
 22  O método científico, que tem raízes nas revoluções do pensamen- compreensão do aluno acerca 
to europeu a partir do Renascimento, determina uma série de do método científico, aquisição 
técnicas e pressupostos para a investigação da natureza e siste- fundamental da sociedade moderna. 
É fácil verificar que a sentença 
matização do conhecimento. Ele está presente na raiz da ciência “adequação dos resultados às 
como é praticada atualmente. teorias” (b) implica uma inversão 
dos pressupostos elementares desse 
Entre as condições a seguir, assinale aquela que não diz respeito método, qual seja, a evidência da 
ao método científico: empiria como alicerce da construção 
de novas teorias. Adequar resultados a 
a) A elaboração de hipóteses explicativas. teorias preexistentes é algo superado 
na ciência moderna e, assim, essa 
X b) A adequação dos resultados às teorias vigentes. condição não pode ser associada ao 
método científico.
c) A utilização de experimentos sob condições controladas.
d) A descrição pormenorizada do experimento, permitindo que
ele seja reproduzido.
e) A dedução de relações causais entre os fenômenos observados.

  C3 • H12 

 23  A imagem do sistema heliocêntrico é do livro De revolutionibus 23.   Nicolau Copérnico, astrônomo polonês, 


orbium coelestium (Das revoluções das esferas celestes), de hesitou muito em publicar o que 
antes não passava de uma série de 
Nicolau Copérnico, publicado pela primeira vez em 1543. comentários dirigidos a seus amigos 
A partir da observação de inconsistências matemáticas com o matemáticos e astrônomos. Publicou 
 De revolutionibus orbium coelestium
modelo que supunha a Terra como centro ao redor do qual gi- apenas no ano em que veio a falecer. 
ravam os planetas, as estrelas e o Sol, Copérnico propôs um O objetivo inicial dele era corrigir certos 
dados do calendário. (Alguns anos 
sistema alternativo, no qual o Sol permanecia fixo ao centro, e depois da morte de Copérnico, o papa 
os planetas giravam ao seu redor. Gregório XIII mudaria o calendário 
com base no sistema heliocêntrico.) As 
alternativas apresentam modificações 
Photoresearchers/LatinStock

na cosmologia que antecederam 
ou sucederam Copérnico: no caso 
da alternativa b, é preciso lembrar 
que o sistema heliocêntrico nada 
dizia sobre a finitude do universo 
e as órbitas elípticas; do mesmo 
modo a alternativa e remete a um 
atributo do universo que já era tido 
por certo em Aristóteles. Mais do que 
saber precisar essas contribuições às 
cosmologias, espera-se que o aluno 
perceba o impacto fundamental 
do heliocentrismo em deslocar a 
Terra de sua posição privilegiada no 
pensamento astronômico, o que se 
indica na alternativa d. 

Sistema heliocêntrico de Nicolau Copérnico, 1543.

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Uma das consequências da passagem do sistema geocêntrico
para o heliocêntrico foi:
a) O éter finalmente foi comprovado, pois as imensas distâncias en-
tre os planetas não poderiam ser preenchidas por outra matéria.
b) O universo passou a ser considerado infinito.
c) As órbitas dos planetas passaram a ser descritas como elípticas.
X d) A Terra não era mais um planeta especial, sendo reduzida a
objeto que circulava uma estrela, como outros.
e) A possibilidade de pensar pela primeira vez o universo como
eterno.

  C1 • H1 

 24    O argumento de Descartes sobre a separabilidade absoluta


de mim mesmo, de minha mente e corpo, é que tenho uma
ideia clara e separada de mim mesmo como coisa pensante e
outra do corpo como uma coisa com extensão. Tudo que clara
e separadamente concebo pode ser produzido por Deus exata-
24.   René Descartes propõe, em suas 
mente como o concebo e isto é suficiente para demonstrar que
Meditações, uma solução para o  se eu, clara e separadamente, concebo-as como diferentes, elas
problema ontológico que consiste em 
considerar o corpo como extensão (e 
são diferentes.
a extensão não mais como acidente, 
e sim como substância do corpo) e a  HAMLYN, David W. Uma história da Filosofia ocidental.
alma como pensamento (que é por sua  Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1990.
vez a substância da alma). Esses dois 
atributos do ser caracterizam o que veio 
a ser chamado dualismo, atribuído a  A posição de Descartes, e de muitos que o sucederam, a respeito
Descartes como uma de suas principais  da separação entre a coisa pensante e a extensão (matéria) ficou
colaborações para a nova metafísica. 
A alternativa correta é, portanto, c. conhecida como:
a) separacionismo.
b) substancialidade.
X c) dualismo.
25.   Em Uma breve história do tempo, 
Stephen Hawking dedica-se a  d) monismo.
descrever as concepções sobre o 
universo ao longo da História, fazendo  e) diferencionalismo.
um excurso desde Aristóteles até as 
concepções da Física contemporânea. 
O trecho descreve um ponto de virada 
na maneira pela qual era conceituada    C1 • H2 
a criação do universo – quando foi 
possível estimar pela primeira vez a 
teoria da Grande Explosão (Big Bang).   25   Quando a maior parte das pessoas acreditava num univer-
Esse passo foi dado sem dúvida pela  so essencialmente estático e imutável, a questão de saber se
aquisição do estatuto científico e 
tinha ou não tido um começo era na verdade do domínio da
técnico da cosmogonia, distanciando-se 
das concepções metafísicas, o que se  metafísica ou da teologia. Podia explicar-se o que se obser-
afirma na alternativa d. Não há sentido 
em falar de mudança no paradigma 
vava tanto segundo a teoria de que o Universo sempre exis-
científico (e), pois antes não era a  tira ou a de que tinha sido acionado há um tempo finito mas
ciência que postulava o surgimento 
do universo. Do mesmo modo, não há 
de tal modo que parecesse ter existido sempre. Mas, em
relação imediata entre as observações  1929, Edwin Hubble apresentou fatos da observação que ini-
de Hubble e aspectos religiosos (c) 
ou econômicos (b), e a metodologia 
ciaram uma nova era: seja para onde for que se olhe, as ga-
adotada afastava-se da metafísica (a). láxias distantes afastam-se velozmente. Por outras palavras, o

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Universo está em expansão, o que significa que nos primei-
ros tempos os corpos celestes encontrar-se-iam mais perto
uns dos outros.

HAWKING, Stephen. Uma breve história do tempo.


Rio de Janeiro: Rocco, 2000.

A transição indicada por Hawking nesse trecho:


a) diz respeito a novos conceitos metafísicos condizentes com o
século XX.
b) está relacionada com a crescente submissão da ciência aos
interesses econômicos.
c) pode ser compreendida como reflexo de reformas teológicas
que passaram a admitir o universo em expansão.
X d) inscreve-se no declínio da cosmologia metafísica e expansão da
física materialista.
e) é uma mudança no paradigma científico, que antes havia
determinado o momento em que surgiu o universo.

  C3 • H12 

 26   Justiça do Rio nega habeas corpus a chimpanzé 26.   A notícia cujo excerto é reproduzido 


na questão é apenas mais uma que 
São Paulo – O Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro ne- discute o limite entre humanidade 
e animalidade. Esse limite, tido por 
gou o habeas corpus pedido por ONGs e entidades proteto- certo durante milênios, vem sendo 
ras de animais em favor do chimpanzé Jimmy, do Zoológico questionado à luz de conclusões 
e experimentos científicos, 
de Niterói. O grupo pedia a transferência do macaco para principalmente no que concerne aos 
um santuário de primatas em Sorocaba (SP). A alegação para primatas. A questão tem por objetivo 
fazer o aluno identificar corretamente 
o pedido de habeas corpus é que, como primatas, os chim- o tipo de argumento invocado no texto 
panzés têm os mesmos direitos dos seres humanos. Assim, para aproximar seres humanos aos 
demais primatas; o único argumento 
o macaco não poderia viver enjaulado. Em 2007, o Superior neste sentido apresentado no texto é 
Tribunal de Justiça discutiu se macacos também têm direito de caráter biológico: a presença comum 
de 99% do DNA (alternativa b). Do 
a habeas corpus por possuir 99% do DNA humano. Decidiu-se ponto de vista jurídico (a) a distância é 
mantida.
que a Constituição só permite esse benefício a humanos.
Houve recurso e não há decisão final.
O Estado de S. Paulo, 8 dez. 2010.

Assinale, dentre os atributos a seguir, aquele que, segundo


o texto, permitiria a aproximação entre humanos e demais
primatas:
a) jurídico.
X b) biológico.
c) ético.
d) cultural.
e) filosófico.

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  C1 • H3 

 27  Uma série de modificações biológicas no organismo humano


fez-se acompanhar da aquisição de padrões culturais, num diá-
logo mútuo entre corpo e técnicas. Um exemplo é a postura ereta,
27.   A questão retoma o tema da mútua 
influência entre aspectos biológicos  que liberou as mãos do homem para uma gama maior de ativi-
e culturais na evolução humana.  dades. Entre essas modificações, fundamentais para o desenvol-
Espera-se que o aluno perceba que 
o desenvolvimento do Homo sapiens  vimento da cultura, podemos destacar:
em direção a se tornar um ser cultural 
envolve a aquisição de características  X a) presença de polegar opositor e aumento da caixa craniana.
físicas apropriadas para atividades 
intelectuais. As alternativas erradas  b) atrofia da cauda e diminuição do trato digestivo.
apresentam modificações que não 
ocorreram na escalada evolutiva  c) desenvolvimento acentuado dos caninos, aperfeiçoamento do
do homem (como atrofia dos 
membros anteriores ou alimentação  fêmur e atrofia da cauda.
herbívora), ao lado de caracteres 
que não representam ganho para o  d) aumento da caixa craniana, aumento na largura da caixa torácica
desenvolvimento da cultura (como 
o aperfeiçoamento do fêmur ou 
e alimentação herbívora.
o desenvolvimento acentuado 
dos caninos). A leitura atenta do  e) atrofia dos membros anteriores, presença de polegar opositor
enunciado leva o aluno a optar pela  e visão tridimensional.
alternativa a.

  C2 • H6 

28.   A questão avalia a capacidade de leitura   28   Em toda parte onde se manifesta uma regra podemos ter
e compreensão do texto, oriundo de  certeza de estar numa etapa da cultura. Simetricamente, é fácil
uma matriz diferente do conhecimento –  reconhecer no universal o critério da natureza. Porque aquilo
a Antropologia estruturalista de Lévi- 
-Strauss. No capítulo “Natureza e  que é constante em todos os homens escapa necessariamente
cultura” de sua tese de doutorado,  ao domínio dos costumes, das técnicas e das instituições pelas
publicada como livro (As estruturas
elementares do parentesco), Lévi-
quais seus grupos se diferenciam e se opõem. Na falta de aná-
-Strauss estabelece como critério de  lise real, os dois critérios, o da norma e o da universalidade,
diferenciação entre natureza e cultura 
a universalidade do comportamento 
oferecem o princípio de uma análise ideal, que pode permitir
contra a particularidade de regras.  isolar os elementos naturais dos elementos culturais que inter-
A alternativa que faz a correta  vêm nas sínteses de ordem mais complexa. Estabeleçamos,
associação é b.
pois, que tudo quanto é universal no homem depende da or-
dem da natureza e se caracteriza pela espontaneidade, e que
tudo quanto está ligado a uma norma e pertence à cultura apre-
senta os atributos do relativo e do particular.
LÉVI-STRAUSS, Claude. As estruturas elementares do parentesco.
Rio de Janeiro: Vozes, 2009.

Para o antropólogo, o critério de diferença entre os fatos de natu-


reza e cultura pode ser definido pelo par:
a) análise (natureza) e síntese (cultura).
X b) universalidade (natureza) e sujeição a regras (cultura).
c) particularidade (natureza) e universalidade (cultura).
d) ordem (cultura) e desordem (natureza).
e) espontaneidade (cultura) e sujeição a regras (natureza).

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  C1 • H2 

 29   O conceito de cultura tal qual os antropólogos e sociólogos 29.   Talvez o conceito mais emblemático 


das Ciências Sociais seja o de cultura. 
a definem tem se tornado uma das pedras fundamentais das Esse termo faz a síntese dos esforços 
ciências sociais. de pensadores da sociedade há muito 
tempo e influiu na nova caracterização 
KROEBER, L. & KLUCKHOHN, Clyde. A Critical Review of Concepts and de cultura para além das fronteiras 
Definitions. Nova York: Vintage Books, 1963. acadêmicas. Assim é que não se 
pensaria mais, na contemporaneidade, 
em um “Ministério da Cultura” 
De acordo com a noção presente de cultura, assinale a definição voltado somente para a haute culture 
correta deste termo entre as alternativas a seguir. (cultura das elites), ou para um tipo 
específico de produção cultural tido 
a) A maneira de acumular o máximo de informações sobre as como paradigmático. Essa visão 
artes plásticas e literatura, especialmente europeia. antiga e ultrapassada está presente 
nas alternativas erradas a, d e e. Já a 
b) Elementos inatos no ser humano, que o equipam para a vida alternativa b faz da cultura justamente 
seu inverso, pois ela não é inata. 
em sociedade desde o nascimento. A alternativa correta, portanto, é c – 
X c) A totalidade dos padrões de comportamento, pensamento e uma caracterização breve do sentido 
do termo.
as tradições de um determinado povo.
d) Aquisição de maneiras civilizadas que representam a maturi-
dade do homem.
e) Adequação do indivíduo ao viver urbano em grandes cidades.
Yellow Dog Productions/Image Bank/Getty Images

Africanos de etnia massai diante de equipamento eletrônico.

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  C1 • H1 
30.   A exposição da teoria da alma em 
Platão se encontra no diálogo A  30  Segundo a teoria platônica da alma (psykhé), há três almas no
República, especialmente no livro IV.  homem, que se relacionam mutuamente conforme suas funções,
Segundo Marilena Chauí (em Introdução
à História da Filosofia — dos pré-
e estão localizadas em distintas partes do corpo. Para o homem
-socráticos a Aristóteles), “Platão indaga  ser virtuoso, deve haver o predomínio de uma dessas almas, a
se é possível um homem ser virtuoso, 
isto é, praticar o bem e as virtudes, se 
alma racional, cuja localização física é a cabeça. Ela predomina,
for comandado pela concupiscência ou  no virtuoso, sobre:
pela cólera. Responde negativamente, 
uma vez que as paixões, além de nos  a) a alma emotiva, localizada no baixo-ventre, e a alma altruísta,
arrastarem para direções opostas, 
fazem com que os desejos e impulsos  situada no coração.
violentos de nosso corpo obscureçam 
nossa inteligência, impedindo-nos de  b) a alma relativística e a alma concupiscente, ambas situadas no
conhecer e de exercer nossa atividade  coração.
mais nobre, o conhecimento racional”. 
A alternativa que apresenta a correta  c) a alma irracional, situada no coração, e a alma apelativa, situada
relação entre as três partes da alma, no 
homem virtuoso, é e.  na cabeça.
d) a alma teorética, situada no coração, e a alma prática, situada
no fígado.
X e) a alma concupiscente, situada no baixo-ventre, e a alma colérica,
situada no coração.

  C1 • H1 

 31    Portanto tudo aquilo que é válido para um tempo de


guerra, em que todo homem é inimigo de todo homem, o
mesmo é válido também para o tempo durante o qual os
homens vivem sem outra segurança senão a que lhes pode
ser oferecida por sua própria força e sua própria invenção.
Numa tal situação não há lugar para a indústria, pois seu
fruto é incerto; consequentemente não há cultivo da terra,
nem navegação, nem uso das mercadorias que podem ser
importadas pelo mar; não há construções confortáveis, nem
instrumentos para mover e remover as coisas que precisam
de grande força; não há conhecimento da face da Terra, nem
cômputo do tempo, nem artes, nem letras; não há socieda-
de; e o que é pior do que tudo, um constante temor e perigo
de morte violenta. E a vida do homem é solitária, pobre,
sórdida, embrutecida e curta.
HOBBES, Thomas. Leviatã. São Paulo:
Abril Cultural, 1979 (Os pensadores).

Mas, sem recorrer aos testemunhos incertos da história,


quem não vê que tudo parece afastar do homem selvagem
a tentação e os meios de cessar de o ser? Sua imaginação
nada lhe pinta; seu coração nada lhe pede. Suas módicas
necessidades encontram-se tão facilmente à mão, e ele está
tão longe do grau de conhecimento necessário para desejar

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adquirir maiores, que não pode ter nem previdência nem 31.   As concepções sobre a chamada 
sociedade natural, que ora é um 
curiosidade. […] Parece, à primeira vista, que os homens elemento histórico, ora um artifício 
nesse estado, não tendo entre si nenhuma espécie de rela- lógico, encontram uma oposição 
diametral nos pensamentos de Thomas 
ção moral nem de deveres conhecidos, não podiam ser bons Hobbes e Jean-Jacques Rousseau. 
Rousseau irá refutar, em seu Discurso, 
nem maus, nem tinham vícios nem virtudes. a ideia de Hobbes acerca do estado de 
ROUSSEAU, Jean-Jacques. Discurso sobre a origem da desigualdade violência e de uma suposta natureza 
entre os homens. São Paulo: Abril Cultural, 1978. humana pendente para a discórdia. 
Se para Hobbes o homem é o “lobo 
do próprio homem”, para Rousseau o 
Thomas Hobbes e Jean-Jacques Rousseau apresentam visões dis- homem em estado de natureza (pré- 
tintas no que diz respeito ao estado de natureza, ou seja, à vida -sociedade) é destituído das paixões 
que corrompem o homem civilizado. 
do homem antes do estabelecimento da sociedade. No trecho, é A alternativa que apresenta a correlação 
patente a seguinte diferença: entre os pensamentos de ambos os 
filósofos é d.
a) para Hobbes antes da sociedade o homem é mais indepen-
dente, enquanto para Rousseau o homem é mais cerceado por
costumes.
b) para Hobbes a vida do homem antes da sociedade é curta,
enquanto para Rousseau é longa.
c) para Hobbes os homens vivem no ócio antes da sociedade,
enquanto para Rousseau o homem vive escravo de seu tra-
balho.
X d) para Hobbes a vida antes da sociedade é violenta e inse-
gura, enquanto para Rousseau é tranquila e sem aborre-
cimentos.
e) para Hobbes antes da sociedade o homem é imprevidente,
enquanto para Rousseau ele é disciplinado.

  C3 • H12 
 32  Diferentes suportes materiais para a comunicação – mídias – en- 32.   Espera-se que o aluno consiga notar 
as confluências entre linguagens e 
gendram diferentes conteúdos das mensagens comunicadas. Há
suportes que cada período histórico 
uma interação: o suporte permite possibilidades específicas de propicia. É flagrante a contradição 
comunicação e uso da linguagem, ao mesmo tempo que o tipo na primeira proposição, tanto 
porque a televisão sempre recorreu a 
de mensagem a ser transmitida engendra a invenção e adequação preparativos diversos como porque 
de suportes apropriados. sempre foi um meio valorizado de 
comunicação. A segunda proposição 
Avalie as seguintes proposições acerca dessa interação entre explica-se por si própria, e é frequente 
notar-se, nas pedras gravadas da 
mensagem e suporte: Antiguidade, a ausência de espaços 
entre palavras e o mínimo possível 
I. Ausência de ensaios, roteiros e scripts nas gravações te- de sinais. Já a terceira proposição 
levisivas, por se tratar de um meio menos valorizado de retoma, desde o telegrama até os 
comunicação. dispositivos correntes, a necessidade de 
reduzir o uso de signos para transmitir 
II. Ausência de sinais de pontuação e espaços entre palavras mensagens em tecnologias que limitam 
seu tamanho. A interpretação textual 
em suportes de difícil inscrição, como as pedras gravadas na conduz à alternativa c.
Antiguidade.
III. O uso de abreviaturas e economia de palavras por meio do
emprego de tecnologias eletrônicas com limites de transmis-
são de caracteres, como o telegrama, as mensagens de celular
e os microblogs.

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É correto o que se afirma em:
a) I e II.
b) I, II e III.
X c) II e III.
d) I e III.
e) II.

  C2 • H6 
33.   A linguística estruturalista, que tem 
como um dos fundadores Ferdinand de 
 33   O signo linguístico une não uma coisa e uma palavra,
Saussure, foi um paradigma vital para o 
mas um conceito e uma imagem acústica. Este não é o som
pensamento do século XX, alastrando-se  material, coisa puramente física, mas a impressão psíquica
por áreas do conhecimento que 
estão além do estudo dos signos da 
deste som, a representação que dele nos dá o testemunho
linguagem oral ou escrita. O trecho do  dos nossos sentidos; tal imagem é sensorial. Propomo-nos
famoso curso, no qual Saussure assenta 
os fundamentos dessa linguística, 
conservar o termo signo para designar o total, e a substituir
encontra-se no capítulo “Natureza do  conceito e imagem acústica respectivamente por significado
signo linguístico” (na edição da Cultrix, 
1970, à página 79); aí Saussure propõe 
e significante. O laço que une o significante ao significado
a diferenciação entre significado  é arbitrário.
e significante, como duas faces da 
mesma moeda, que é o signo.  SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de linguística geral.
A correta interpretação do trecho indica  São Paulo: Cultrix, l970.
a alternativa b. As demais alternativas 
possuem correlações incorretas.  Nesse trecho (publicado postumamente por seus alunos, em
1916), Saussure propõe o chamado modelo diádico do signo. Esse
modelo é constituído:
a) por um signo composto de som (materialidade) e impressão
psíquica (imaterialidade).
X b) por um signo composto de significado (conceito) e significante
(forma ou imagem).
c) por um significado composto de signo (totalidade) e signifi-
cante (imagem).
d) por um conceito composto de significado (imagem acústica) e
significante (arbitrariedade).
e) por um signo composto de signo (totalidade) e significante
(forma ou imagem).

  C3 • H12 

 34     Investigador português que admite uma


pré-linguagem nos macacos recebe prêmio
O trabalho, que relaciona as disciplinas da psicologia e
da neurobiologia, dedicou-se à análise das bases evolutivas
do sistema de representação conceptual, ou seja, “as ba-
ses fisiológicas onde representamos mentalmente todos os

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conceitos que podemos imaginar, desde objetos, animais a 34.   As ciências cognitivas, especialmente a 
neurobiologia, estão fornecendo novas 
interações sociais”. pistas sobre o fenômeno da linguagem. 
Cotidianamente novos avanços são 
[...] anunciados, como este, reproduzido 
Quando um humano ouve a palavra cão ou o ladrar de de uma notícia de site. A descoberta 
aqui se refere ao estímulo sonoro que 
um cão, o que acontece é que involuntariamente cria a imagem determina atividade cerebral específica. 
A leitura atenta do texto permite 
mental de um cão associada às experiências que teve, positivas compreender que não se trata da 
ou negativas, com este animal, atribuindo-lhe uma determinada articulação da fala, mas sim da audição 
de sons específicos que condicionam 
forma, textura e cor. padrões neurológicos (na área 
[...] semântica) similares entre humanos e 
macacos. A alternativa que apresenta 
Durante o estudo, e depois de comparar as áreas envolvi- esta correlação é e.
das na reação dos macacos às verbalizações usadas pela sua
tribo com os outros sons não biológicos, foi concluído que
“perante as vocalizações deles, um estímulo que é auditivo, se
verifica a ativação de uma multiplicidade de áreas cerebrais,
incluindo áreas de cognição visual, que estão ligadas especi-
ficamente ao processamento de cor, de forma e também da
parte emocional”.
[...]
“Desde há muitos anos que se pensa que, quando se expe-
riencia um determinado evento, memorizam-se todas as várias
sensações desse momento e que, em termos cerebrais, todas
estas sensações são acumuladas numa determinada área do
cérebro, chamada área semântica”, explicou.
Disponível em: <http://www.cienciahoje.pt/index.php?oid=24737&op=all>.
Acesso em: mar. 2011.

Segundo a notícia, o paralelo entre a linguagem humana e a do


macaco ocorre:
a) no que diz respeito ao processamento de imagens observadas.
b) na articulação da língua falada.
c) nas interações sociais entre indivíduos.
d) na manipulação de certas cadeias sonoras típicas.
X e) na atividade cerebral desencadeada por certos sons.

  C2 • H7 

 35  A imagem a seguir é uma reprodução da placa de metal colocada


a bordo da sonda espacial Pioneer 10, lançada em 1972 pela
agência espacial norte-americana. As ilustrações contidas na gra-
vação da placa são: o elemento hidrogênio (mais abundante na
Terra), a posição do Sol na galáxia, dois seres humanos, o Sistema
Solar (com a trajetória da sonda indicada por uma seta) e a pró-
pria Pioneer 10. O objetivo desta e de outras placas acopladas a
sondas espaciais, pela agência espacial norte-americana, é fazer
chegar a uma possível civilização extraterrestre indícios da cultura
e tecnologia humanas.

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35.   O domínio da linguagem passa 

Getty Images
por experiências interessantes nas 
pesquisas sobre a possibilidade de 
comunicação com seres de outros 
planetas. A Agência Espacial Norte- 
-Americana (Nasa) tem dispendido 
recursos na tentativa de comunicar-se 
com outros mundos. Além da placa 
da sonda Pioneer 10, podem ser 
mencionadas as mensagens enviadas 
por radiotelescópios – como a 
famosa mensagem de Arecibo que, 
dirigida para um ponto do universo 
extremamente “denso” em planetas, 
carregava um código binário com 
informações semelhantes àquelas 
das placas.  
Os que se posicionam contra essas 
iniciativas argumentam acerca da 
impossibilidade de que a linguagem 
humana faça sentido para outro 
ser vivo (c). O famoso historiador e 
teórico de arte Ernest Gombrich, por 
exemplo, aponta a dificuldade que um 
símbolo como a seta poderia ter para 
ser compreendido por povos que não 
praticam a caça. Do mesmo modo, 
a placa concentra-se em realizações  Placa lançada ao espaço pela Nasa na sonda Pioneer 10, em 1972.
próximas ao campo da Astronomia 
e da Física (a estrutura molecular do  Dentre as críticas que podem ser feitas à placa, não caberia:
hidrogênio, a posição do Sol na galáxia 
e o Sistema Solar), carregando apenas  a) Concentra-se demais nas conquistas científicas, deixando pouco
parte da cultura humana (a). 
Além disso, um breve esforço de 
espaço para outras manifestações culturais.
imaginação revela que os símbolos  b) Há uma hierarquia entre o homem ativo (à esquerda e com o
sobrepostos seriam indistinguíveis, 
caso não soubéssemos de antemão “o  braço levantado) e a mulher passiva.
que procurar” no desenho (e). Por fim, 
os seres humanos estão representados  c) Pode ser incompreensível para extraterrestres, pois está calca-
em postura tipicamente paternal, com  da em simbologia que pode não ser inteligível para eles.
a mulher passiva “esperando” que o 
homem acene ao suposto alienígena  X d) Privilegia representações culturais norte-americanas, legando
(b). Não cabe a crítica de que os 
símbolos representados pertençam 
ao restante do mundo um papel secundário.
à cultura norte-americana, pois 
representam características objetivas 
e) Sobrepõe os elementos, tornando a diferenciação destes difícil
universais. Assim, o aluno deve assinalar  para o olhar que não está acostumado a essas figuras.
a alternativa d.

  C3 • H12 
36.   É possível desvendar em letras de 
música questões de interesse para os   36   Eu devia agradecer ao Senhor por ter tido sucesso na vida
diversos campos de conhecimento  como artista. Eu devia estar feliz porque consegui comprar um
das humanidades. Nestes versos, o  Corcel 73. Eu devia estar alegre e satisfeito por morar em Ipa-
compositor está dirigindo uma crítica 
aberta ao consumismo (alternativa  nema, depois de ter passado fome por dois anos aqui na Cida-
c). As demais alternativas são  de Maravilhosa […] Eu que não me sento no trono de um
interpretações errôneas de outros 
trechos da música. apartamento, com a boca escancarada cheia de dentes, espe-
rando a morte chegar.
SEIXAS, Raul. Ouro de Tolo. LP Krig-Ha, Bandolo,
Gravadora Phillips, 1973.

A crítica contida na letra de Raul Seixas dirige-se:


a) ao governo, por não reconhecer a vocação artística de certos
indivíduos.

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b) ao sistema público de saúde, por permitir apenas aos mais
ricos tratamentos adequados.
X c) ao consumismo, por não satisfazer plenamente às aspirações
do homem.
d) à brevidade da vida, por impedir o artista de realizar uma obra
plena.
e) ao Rio de Janeiro, pela inconstância na renda paga aos traba-
lhadores.

  C2 • H7 

 37    Mais do que em qualquer outro lugar torna-se aí percep- 37.   A partir de um anúncio publicitário 
tível a convivência entre um sistema subjetivo de necessida- (“Chevrolet 3 portas”, GM do Brasil, 
1962), procura-se nesta questão 
des e um sistema objetivo de produção. […] Segundo o há- ressaltar o fetichismo da mercadoria, 
bito que se tem dele e de suas características, o carro em consonância com a crítica ao 
consumo proposta por Baudrillard 
igualmente se presta tanto a um investimento de poder em O sistema dos objetos. Ele sempre 
quanto de refúgio. O veículo é antes de tudo objeto de ma- atentou à esfera do consumo, 
buscando desenvolver uma 
nipulação, desvelo, fascinação. compreensão da economia política 
por trás da aquisição de produtos e 
BAUDRILLARD, Jean. O sistema dos objetos. prestígio, nas sociedades capitalistas. 
São Paulo: Perspectiva, 2000. O anúncio escolhido é antigo e denota 
uma transição para a propaganda 
Jean Baudrillard aponta, nesse trecho, que por trás da compra e extremamente fetichista que vemos 
nos dias atuais. Contém ainda 
posse de automóveis há a satisfação de necessidades psíquicas descrições técnicas e objetivas sobre 
profundas, que nada tem a ver com a função principal do carro. o produto carro – suas características 
funcionais adequadas (b e e), a 
Das frases a seguir, retiradas de uma propaganda de um utilitário facilidade de manutenção (a), ou seu 
(caminhonete), assinale a que mais se presta aos fins de “mani- desenho propício ao uso a que se 
destina – é uma caminhonete (d).
pulação, desvelo e fascinação” de que fala o filósofo. No entanto, a alternativa c destoa das 
demais, por dispor informações que 
a) Mais de 320 concessionárias no país garantem a reposição de não se relacionam à função principal 
peças por mecânicos treinados. do veículo, vendo-se aí o seu pretenso 
glamour. 
b) Consome pouca gasolina, como veículos de motor com baixa
potência.
X c) Elegante à noite – você se sente o máximo levando a família
ao cinema ou jantares.
d) Transporta mais mercadorias por viagem: até 750 quilos de
carga.
e) Possui estável chassi e freios de ação instantânea.

  C1 • H2 

 38   Existem duas possíveis saídas para a abundância. As ne-


cessidades podem ser facilmente satisfeitas seja por produzir
muito ou desejar pouco. A concepção usual, das economias
de mercado, diz que as necessidades do homem são enor-
mes, para não dizer infinitas, e no entanto os meios são li-

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38.   Esta questão presta-se a discutir o tema  mitados, apesar de que possam ser aperfeiçoados. Assim, o
do capítulo, O Trabalho, sob um aspecto 
antropológico. A leitura de Sahlins,  buraco entre meios e fins pode ser reduzido pela produtivi-
ainda na década de 1960, revolucionou  dade industrial, pelo menos fazendo com que “bens urgen-
a Antropologia Econômica, ao firmar 
novas bases para o entendimento dos  tes” se tornem bastante disponíveis. Mas também existe o
grupos coletores-caçadores sem o viés  caminho alternativo para a abundância, que diz que as ne-
etnocêntrico – que os considerava 
sociedades com “ausência” de algo que  cessidades humanas são poucas e finitas, e os meios de pro-
a sociedade ocidental teria. Em vez  dução não melhoram, mas são suficientes. Adotando essa
disso, Sahlins procura estudar essas 
sociedades por suas particularidades,  estratégia, as pessoas podem desfrutar uma plenitude mate-
sem hierarquias preestabelecidas.   rial sem precedentes – com baixo padrão de vida.
As alternativas a e c apresentam 
incongruências históricas facilmente  SAHLINS, Marshall. La Economia em la Edad de Piedra.
perceptíveis, pois, embora não fossem 
Madrid: Akal, 1984.
sociedades capitalistas stricto sensu, não 
se baseavam no ócio, pelo contrário, 
eram extremamente exploradoras. Já a  O antropólogo Marshall Sahlins, ao problematizar a questão
alternativa d vai na direção contrária de 
estudos que revelam que o trabalhador 
das necessidades materiais para a sociedade, está indican-
americano (assim como o europeu e  do dois caminhos para sua satisfação. A segunda estratégia,
o brasileiro) não está reduzindo sua 
carga de trabalho, e sim aumentando-a, 
que se contrapõe ao consumismo típico do Ocidente, pode ser
devido ao crédito e ao acúmulo de  exemplificada:
dívidas, em direta associação ao 
consumismo. Por fim, a alternativa  a) nos antigos impérios do Egito, em que a massa camponesa
e apresenta o paradoxo do grande 
sistema socialista implementado no 
apenas recolhia os frutos das margens do Nilo, disponíveis du-
século XX, que não reduziu o trabalho  rante todo o ano e sem exigência de esforço agrícola.
para emancipação do homem, mas, 
atrelado aos sonhos de consumo  X b) nos povos nômades africanos que praticam a coleta e vivem
do Ocidente, tentou equiparar-lhe a 
produção com base em exploração 
em tendas improvisadas, mudando-se quando se esgota a
cada vez maior da força de trabalho  disponibilidade de recursos locais.
pelo próprio Estado. A alternativa 
correta, na acepção do que se segue  c) no feudalismo europeu medieval, devido à ausência de ex-
no próprio texto de Sahlins, é a b, que 
remete ao nomadismo inerente às 
pansionismo por parte dos nobres e da plenitude de recursos
práticas de economias sem a produção  nos campos.
de excedente econômico.
d) nos Estados Unidos contemporâneo, graças à rejeição pela
maioria dos americanos do trabalho estafante.
e) na antiga União Soviética, devido à aplicação de princípios
comunistas da liberdade diante do sobretrabalho.

  C3 • H12 
39.   As preocupações com o chamado 
“consumo verde” têm vindo à 
tona com a percepção do impacto   39 O chamado consumo verde indica a adoção, por parte dos consu-
ambiental causado pelas indústrias  midores, de hábitos de compra condicionados às questões am-
e agropecuária. Estabeleceu-se uma  bientais que se tornam prementes no mundo contemporâneo.
série de preceitos que visam diminuir 
os impactos causados pelo consumo  Entre os seguintes hábitos, não diz respeito ao consumo verde:
humano sobre o meio ambiente, não 
só no que diz respeito às técnicas de  a) a preferência por produtos biodegradáveis.
produção, como também em torno de 
uma ética mais transparente por parte  X b) a aquisição de alimentos geneticamente modificados.
dos empresários para com os indivíduos 
envolvidos na produção. Certamente 
c) a rejeição de produtos agropecuários produzidos com auxílio
uma preocupação dos ambientalistas é  de pesticidas.
o cultivo dos alimentos geneticamente 
modificados, rejeitados pelas práticas  d) a escolha de produtos orgânicos para o consumo.
de consumo verde (alternativa b), pois 
ainda não se avaliou o impacto dos  e) o questionamento quanto ao tratamento dos resíduos conta-
transgênicos na natureza. minantes pelas indústrias.

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  C3 • H12 

 40   Wilhelm Wood, 9 anos de idade, tinha 7 anos e 10 meses 40.   Nesta questão interdisciplinar, 
espera-se que o aluno saiba associar 
quando começou a trabalhar. Desde o começo, ele ran moulds
corretamente o tema da exploração do 
(levava a peça modelada à câmara de secagem e trazia de volta trabalho infantil no contexto histórico 
depois a fôrma vazia). Chega todos os dias da semana às 6 horas da Revolução Industrial com seus 
desdobramentos contemporâneos. 
da manhã e para por volta das 9 horas da noite. “Eu trabalho Se outrora essa exploração ocorria 
todos os dias da semana até as 9 horas da noite. Assim, por na Inglaterra, hoje foi deslocada 
para a periferia econômica do 
exemplo, durante as últimas 7 a 8 semanas.” Portanto, 15 horas mundo globalizado. Destacam-se 
de trabalho para uma criança de 7 anos! negativamente pela exploração do 
trabalho infantil países como a Índia e 
MARX, Karl. O capital. Trad. de Reginaldo Sant’Anna. Bangladesh (na Ásia meridional) – alvos 
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2008. frequentes de denúncias envolvendo 
fornecedores para multinacionais –, a 
(Tomo I, volume 1, cap. 8 – A jornada de trabalho.)
África subsaariana (onde as crianças 
trabalham frequentemente em 
Embora O capital tenha sido publicado em 1867, a situação do mineração e atividades industriais, para 
não mencionar as crianças-soldados) e 
trabalho infantil ainda permanece um desafio não resolvido pela a América do Sul, que explora crianças 
política econômica. Na atualidade, destacam-se negativamente principalmente em atividades agrícolas. 
A alternativa que melhor apresenta 
pelo grande número de crianças trabalhando: esses dados é d.
a) a América Latina (mineração) e o Oriente Médio (agricultura).
b) os Estados Unidos (comércio) e a Ásia setentrional (mineração).
c) o Oriente Médio (mineração) e a Inglaterra (indústria de trans-
formação).
X d) a Ásia meridional (indústria têxtil) e a América Latina (agri-
cultura).
e) o Leste Europeu (agricultura) e o Japão (mineração).

  C3 • H12 
41.   Em um texto publicado no jornal 

 41    Pesquisa realizada sobre condições de vida e trabalho no Folha de S.Paulo (23 jan. 2011), o 


economista Marcio Pochmann resgata 
Reino Unido revela que, nas atividades de serviços, o antigo o histórico da luta pela redução da 
descanso semanal de 48 horas foi reduzido na prática para jornada de trabalho desde a Revolução 
Industrial e os efeitos sociais que esta 
somente 27 horas. Há fortes indícios de que a jornada de redução gerou. Esse texto é ponto 
trabalho deixa de começar na manhã de segunda-feira e se de partida para a reflexão imbuída 
nesta pergunta, que deve levar o 
encerrar na tarde de sexta para, cada vez mais, se iniciar no aluno a procurar qual o argumento 
meio da tarde de domingo e prolongar-se até o início da enganoso a respeito do trabalho no 
mundo moderno e contemporâneo. 
tarde do sábado. A cada dez ocupados, seis efetuam tarefas
Apesar da crença generalizada de que 
relacionadas ao trabalho heterônomo (pela sobrevivência) o progresso tecnológico e econômico 
no final de semana. Entre as principais atividades laborais traria uma redução no volume de 
trabalho, percebe-se que a competição 
fora do local de trabalho estão aquelas ligadas ao uso con- desenfreada no mercado global 
tínuo do computador pessoal, especialmente em tarefas de tem levado a padrões de trabalho 
similares àqueles dos primórdios da 
correio eletrônico, internet e no desenvolvimento de relató- industrialização. O mito desmascarado 
rios e planejamento. corresponde, portanto, à alternativa b.
O que se afirma em a, c e e não é 
POCHMANN, Marcio. 27 horas. Folha de S.Paulo, 23 jan. 2011. contradito pela situação do trabalho 
contemporâneo; já a alternativa d 
apresenta uma tese que não é central 
A respeito da ideologia moderna sobre as condições de vida e à ideologia moderna, não apresenta 
trabalho, a constatação do estudo britânico contradiz uma de suas justificação no trecho selecionado e 
dificilmente poderia ser negada.
teses centrais, a saber:

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a) Os gerentes e altos executivos realizariam uma quantidade
de trabalho equivalente aos empregados de médio e baixo
escalão.
X b) Com o progresso tecnológico e econômico haveria uma redução
da carga de trabalho sobre cada indivíduo.
c) As atividades de trabalho se realizariam parcialmente tam-
bém fora das empresas, inclusive nas residências dos tra-
balhadores.
d) O teletrabalho (trabalho executado com auxílio das tecnolo-
gias da informação e telecomunicação) causaria grandes da-
nos à saúde do trabalhador.
e) O trabalho imaterial assumiria tanta importância quanto o ma-
terial na produção econômica.

  C1 • H1 

42.   A metáfora da tábula rasa, ou papel 
em branco (como Locke a empregava), 
 42   Todas as ideias derivam da sensação ou reflexão. Supo-
é antiga na história da Filosofia. Aqui 
nhamos, pois, que a mente é, como dissemos, um papel em
o pensador descreve as bases de sua  branco, desprovida de todos os caracteres, sem nenhuma
teoria do conhecimento. É importante 
perceber que Locke não diz em nenhum 
ideia; como ela será suprida? De onde lhe provém este vas-
momento que só a experiência fia o  to estoque, que a ativa e ilimitada fantasia do homem pin-
conhecimento (como o interpretam 
alguns, erroneamente). Ao lado da 
tou nela com uma variedade quase infinita? De onde apre-
experiência sensível, Locke diz que a  ende todos os materiais da razão e do conhecimento? A isso
segunda fonte do conhecimento são as 
“operações internas de nossas mentes”, 
respondo, numa palavra: da experiência. Todo o nosso co-
ou seja, a reflexão. As alternativas a e c  nhecimento está nela fundado, e dela deriva fundamental-
colocam o peso todo do conhecimento 
nas sensações ou na reflexão, o que 
mente o próprio conhecimento. Empregada tanto nos obje-
contradiz o trecho. Já a alternativa b  tos sensíveis externos como nas operações internas de
conclui algo que não está discutido 
no trecho; a alternativa d contradiz 
nossas mentes, que são por nós mesmos percebidas e refle-
também as ideias secundárias,  tidas, nossa observação supre nossos entendimentos com
oriundas da reflexão. Resta, portanto, a 
alternativa e, que indica corretamente 
todos os materiais do pensamento. Dessas duas fontes de
as duas fontes do conhecimento, a  conhecimento jorram todas as nossas ideias, ou as que pos-
sensação e a reflexão.
sivelmente teremos.
LOCKE, John. Ensaio acerca do entendimento humano. Trad. Anoar Aiex.
São Paulo: Nova Cultural, 1999. p. 57.

A implicação imediata da teoria do papel em branco (ou tábula


rasa), tal como Locke propõe neste trecho, é que:
a) não existem operações mentais para além das sensações.
b) o conhecimento nunca se estabelece com fixidez no homem.
c) somente a reflexão resulta em conhecimento.
d) não é possível elaborar os dados da experiência.
X e) as sensações são as fontes primárias do conhecimento, ao
lado da reflexão.

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  C1 • H1 

 43   Os ídolos e noções falsas que ora ocupam o intelecto hu- 43.   Após uma breve exposição à teoria 
baconiana do conhecimento, deve ser 
mano e nele se acham implantados não somente o obstruem facilmente discernível pelo aluno que a 
a ponto de ser difícil o acesso da verdade, como, mesmo de- teoria dos ídolos refere-se a condições 
de observação e falsas pré-concepções 
pois de seu pórtico logrado e descerrado, poderão ressurgir acerca de objetos do mundo. Destoa 
como obstáculo à própria instauração das ciências, a não ser desse quadro a alternativa d, pois não 
passa por Bacon, neste particular, a 
que os homens, já precavidos contra eles, se cuidem o mais preocupação com questões abstratas 
como a lógica – seu método exposto no 
que possam. organum é voltado para a investigação 
científica indutiva e a empiria.
BACON, Francis. Novum organum. 4. ed. São Paulo:
Nova Cultural, 1988 (Os pensadores).

De acordo com Francis Bacon (1561-1626), o ser humano está


sujeito a erros e obstáculos que impedem a mente de atingir
uma compreensão completa e correta da natureza. Não é (são)
exemplo(s) de ídolo(s), para Bacon:
a) a confusão oriunda dos sentidos, que Bacon classifica como
parte dos ídolos da tribo.
b) as palavras que não se referem a conceitos precisos, classifica-
das como ídolos do foro.
c) as demonstrações viciosas e variadas sofísticas, que Bacon co-
loca entre os ídolos do teatro.
X d) o encadeamento incorreto de proposições matemáticas, clas-
sificado como ídolo da lógica.
e) a aceitação e disseminação de teorias ou doutrinas antigas,
classificadas como ídolos da caverna.

  C3 • H12 

 44  O Quarto Chinês é um experimento mental proposto pelo filó-


sofo John Searle, em 1980, e diz o seguinte: suponha-se um
homem isolado em um quarto, com uma pequena abertura
para o exterior (por exemplo, o vão por baixo de uma porta).
O homem compreende apenas o idioma português e dispõe,
no quarto, de um livro de regras e de uma pilha de papéis em
branco, bem como outros papéis rabiscados. Periodicamente
lhe é fornecida uma instrução por baixo da porta, escrita em
chinês. Consultando o livro de regras, o homem encontra o
ideograma chinês e segue as instruções que acompanham o
símbolo, podendo devolver outro papel desenhado com outro
ideograma (que ele copiou do livro). O homem não conhece
verdadeiramente o idioma chinês, mas se o livro de regras
estiver bem escrito pode enganar as pessoas de fora do quarto,
que acreditarão que ele sabe chinês.

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44.   John Searle tem se destacado por suas  Searle utilizou esse argumento, que é uma metáfora para um
contribuições à teoria do conhecimento 
e à filosofia da linguagem. No problema  computador, com o intuito de criticar pressupostos correntes acer-
em questão, formulado em 1980, Searle  ca da inteligência artificial, pois:
ataca diretamente a ideia de que uma 
sintaxe pressupõe uma semântica. As  X a) por mais que reproduzam padrões associados à inteligência,
respostas fornecidas pelo homem ou 
por um programa de computador não 
é impossível fiar-se apenas nas respostas de uma máquina
podem, igualmente, servir de garantia  programada para lhe conferir o status de inteligente.
para conferir-lhes inteligência. De 
acordo com Searle, pelos padrões dos  b) inevitavelmente será fornecido um ideograma que não existe
teóricos da inteligência artificial um  no livro de regras, desmascarando a ausência de inteligência
computador programado é realmente 
uma mente; contudo, nem o homem,  por parte do dispositivo.
nem os papéis ou o livro, em suma, 
nada no quarto de fato entende o 
c) a inteligência não pode ser vista como fornecedora de respos-
chinês. A correta apreciação e aplicação  tas imediatas, e sim respostas de longo prazo.
do argumento é feita na alternativa a. 
As demais alternativas não fornecem  d) os programas de inteligência artificial não abrangem os múltiplos
situações relacionadas imediatamente a  sistemas de inteligência que possui o ser humano.
esse argumento.
e) por princípios éticos, um programa de computador não pode-
ria enganar pessoas se disfarçando do que não é.

  C3 • H12 
45.   A questão procura apresentar e verificar 
a compreensão do aluno acerca de   45  Em Filosofia, reservam-se os termos exoterismo e esoterismo para
um dualismo presente na teoria do  identificar práticas de conhecimentos em sua relação com a comuni-
conhecimento, em sua relação com a 
comunidade de interessados. Apresenta- 
dade que deles partilha. O exoterismo (com “x”, do grego ´́T po)
-se uma série de conhecimentos  refere-se a uma prática de conhecimento que pode ser exposto ao
fechados ou abertos à comunidade  público, enquanto o esoterismo (com “s”, do grego ´́T po)
geral, e a alternativa que corresponde 
corretamente ao par exotérico/esotérico  refere-se a uma prática de conhecimento reservada a iniciados
é a d: enquanto a medicina é aberta  — uma doutrina que é transmitida somente a discípulos de um
a qualquer interessado (através de 
universidades públicas, livros e demais  círculo fechado.
instrumentos de acesso ao conhecimento 
científico), o xamanismo é um conjunto  Constituem exemplos típicos de conhecimentos exotéricos e eso-
de práticas de cura extremamente  téricos, respectivamente:
fechado, geralmente sob domínio 
de apenas um ou dois homens em  a) as artes visuais e as técnicas digitais.
comunidades indígenas.
b) a filosofia e a teologia.
c) a necromancia e a alquimia.
X d) a medicina e o xamanismo.
e) a política e o direito.

  C3 • H12 

 46   Por “conhecimento local e indígena”, refere-se a corpos


complexos e acumulados de conhecimento, saberes, práticas e
representações que são mantidas e desenvolvidas por pessoas
com extensas histórias de relacionamento com o ambiente na-
tural. Estes sistemas cognitivos são parte de um complexo que
também inclui linguagem, sentimento de pertencer ao lugar,
espiritualidade e visão de mundo.
Disponível em: <http://portal.unesco.org/en/ev.php-URL_ID=5242&URL_
DO=DO_PRINTPAGE&URL_SECTION=201.html>. Acesso em: abr. 2011.

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Das alternativas abaixo, assinale aquela que não pode ser 46.   O tema do conhecimento/saber local 
associada às considerações feitas em âmbito mundial a partir vem ganhando amplo destaque nas 
discussões dos estudos de ciência e 
das últimas décadas sobre conhecimento local, indígena ou sociedade. Por um lado, populações 
tradicional: tradicionais reivindicam proteção 
(inclusive jurídica) e continuidade de 
a) Serve de base para o estabelecimento de projetos de proteção suas práticas tradicionais de técnica, 
arte e medicina. De outro lado, o 
a culturas minoritárias e historicamente excluídas. Estado e organismos internacionais 
reconhecem a falência do modelo 
X b) Procura inscrever os conhecimentos de populações ao redor hegemônico de ciência e técnica, 
do globo dentro da história de ciência hegemônica. que supostamente deveria dar conta 
de todas as situações e em todos 
c) Torna relevantes práticas de saber e conhecimento adotadas os lugares do mundo; também há 
flagrante insucesso na tentativa de 
por populações indígenas, tidas antes como “arcaicas” ou clas- fundir certos conhecimentos locais 
sificadas de modo pejorativo. na ciência global. As alternativas 
apresentam desdobramentos da 
d) Inclui saberes comumente empregados sob o nome de etno- atenção dada a este conhecimento local 
em um novo modelo epistemológico 
botânica, etnozoologia e etnobiologia. plural, que passa a caracterizar o mundo 
a partir das últimas décadas, com o 
e) Aponta para uma consideração mais ampla da relação entre aporte de estudos antropológicos 
conhecimento e sociedade/comunidade. sobre saberes e ciências de povos 
tradicionais. A alternativa b deve ser 
marcada como aquela que não partilha 
dos pressupostos do conhecimento 
  C2 • H7  local, pois como dito anteriormente, é 
pouco profícuo e desnecessário fundir 
os conhecimentos locais na ciência 
 47    Vamos supor que os últimos e menores dos elementos da hegemônica.
água são globulares, e exatamente do mesmo tamanho; e que
o arranjo destes átomos se dá em quadrados [...] de modo que
cada partícula liga-se a quatro outras no mesmo plano horizontal.
DALTON, John. A New System of Chemical Philosophy.
Manchester/London: Dawson, 1808.

7 8 9

4 5 6

1 2 3

Para o homem moderno, a palavra “átomo” evoca inevita-


velmente significados que o termo adquiriu na física pós-Galileu.
Para os abderitas, porém, o átomo levava o selo do modo de
pensar especificamente grego. Indica uma forma originária, e
é, portanto, átomo-forma, ou seja, forma indivisível. O átomo

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47.   A passagem da concepção grega  se diferencia dos outros átomos pela figura, e também pela
de átomo para a moderna não 
foi automática, e manteve certas  ordem e pela posição. Naturalmente, o átomo não é percep-
características, omitiu e criou outras.  tível pelos sentidos, mas somente pela inteligência. O átomo,
É possível, pelo trecho, perceber que para 
os gregos o átomo tinha um tom mais  portanto, é a forma visível do intelecto.
intelectual do que sensível; enquanto  ANTISERI, Dario; REALE, Giovanni. História da filosofia: Antiguidade e
John Dalton, num manual prático de 
Idade Média. 3. ed. São Paulo: Paulus, 1990.
Química, procura descrevê-los como 
corpos globulares dispostos no espaço 
(inclusive recorre à sua representação  Entre a concepção grega e a moderna do átomo, conforme ex-
gráfica, o que seria inconcebível pelos  pressa pelo químico John Dalton, processou-se uma modificação
gregos – o átomo era indivisível). A 
mudança significativa ocorreu, portanto,  considerável, a saber:
no domínio da existência dos átomos. 
A alternativa que indica esta  a) O caráter de unidade mínima de composição dos corpos,
passagem é c. da qual discorda John Dalton, era a base do pensamento
atomístico.
b) O formato esférico perfeito do átomo foi desmentido já por
John Dalton.
X c) O átomo passou a ser indício de experiência sensível, e não
mais concepção intelectual como entre os gregos.
d) A posição espacial do átomo perdeu a importância que tinha
48.   Tem-se reconhecido na escola eleática  entre os gregos.
a verdadeira origem do pensamento 
ocidental, de tal modo que o rótulo  e) No pensamento grego os átomos existiam em número limi-
“pré-socráticos” é posto em xeque 
diante da grandeza de filósofos que  tado, o que foi reformulado por John Dalton na proposição de
precederam a Sócrates. Nesta questão  átomos infinitos.
vemos o interessante diálogo entre os 
dois representantes máximos da escola 
eleática, Parmênides e Zenão de Eleia. 
Platão diz que os paradoxos foram    C1 • H1 
formulados por Zenão em resposta 
a críticas feitas por outros filósofos a 
Parmênides, seu mestre.  Zenão procura 
estender a proposição fundamental de 
 48  Zenão de Eleia, um filósofo grego do quinto século a.C., conside-
rado o precursor da dialética, formulou o seguinte paradoxo:
Parmênides, “o ser é, o não ser não é”, 
com argumentos contra o movimento  Considere-se uma flecha disparada contra um alvo. A cada
e contra a multiplicidade (pois o ser 
parmedínico é uno, eterno, indivisível,  momento de sua trajetória, a flecha ocupa um espaço exata-
imóvel e imutável). O paradoxo da  mente igual a seu tamanho. Mas se ela ocupa somente este
flecha se inscreve entre os ataques 
dirigidos à ideia de movimento. Se o  espaço, não está se movendo nesse instante; e se não está se
ser é imóvel, o movimento não existe,  movendo em nenhum instante (pois sempre ocupa um espaço
pois o movimento implica a aceitação 
de que alguma coisa ora não é, ora é  igual a seu tamanho), ela não se move de forma alguma.
(por exemplo, um espaço ora é ocupado 
pela flecha, ora não é). A alternativa  Esse paradoxo pode, contemporaneamente, ser discutido com
que retoma essa problemática de  auxílio do cálculo. Mas mesmo sem o conhecimento matemá-
Parmênides, sob a forma paradoxal 
de Zenão, é a alternativa e. Outras  tico é possível perceber certos pressupostos sobre os quais
alternativas anunciam questões sobre  se assenta o paradoxo – pois um paradoxo sempre se fia em
o movimento que não pertencem 
propriamente à Filosofia dos eleatas: a  pressupostos essenciais e que conduzem à situação aparente-
alternativa c faz referência ao princípio  mente inexplicável. No caso em questão, o pressuposto fun-
de incerteza de Heinsenberg (século 
XX), e a alternativa d faz referência 
damental (ligado a uma concepção metafísica) que conduz ao
à dinâmica relativista (século XX).  paradoxo é:
As alternativas a e b contradizem o 
paradoxo, pois presume-se nele a  a) Há um intervalo de tempo mínimo, indivisível e finito, bem
infinita divisão do tempo em instantes  como um espaço mínimo, indivisível e finito.
(no limite, um desses instantes 
contém a flecha parada), bem como a  b) Cada momento numa trajetória depende do momento an-
independência das posições espaciais 
terior e do momento posterior para definir-se por completo
em relação a outros instantes.
no espaço.

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c) É impossível medir ao mesmo tempo a posição e a velocidade
da flecha.
d) O movimento da flecha é relativo de um modo ao atirador e
de outro ao solo, devendo ser enunciado somente em relação
ao referencial definido.
X e) Um objeto não pode estar no mesmo momento em uma
posição e em outra, ou estar e não estar numa posição a
cada instante.

  C1 • H1 

 49  O filósofo grego Platão, influenciado pelas disputas entre as teo- 49.   Tanto a metafísica como a 
epistemologia dualista de Platão são 
rias que postulavam o mobilismo (cujo expoente maior é Herácli- exploradas nesta pergunta. Platão 
to) e o caráter imutável do ser (cujo expoente é Parmênides), postulou, através de sua teoria das 
formas, a existência de um mundo 
formulou uma teoria dualista do mundo. Haveria o mundo sensí- imaterial e abstrato, para além do 
vel das coisas e o mundo das ideias ou dos conceitos (abstratos). mundo sensível. Esse mundo das ideias 
seria a realidade mais fundamental; 
A relação entre os dois planos, conforme exposto no diálogo para o conhecimento atingir esse 
Fédon, pode ser descrita como: mundo, para ir além das sensações, 
é preciso passar das aparências (o 
a) o processo mediante o qual as causas conduzem à substância, mundo sensível) às essências (as ideias 
através da maiêutica. puras). Isso se daria através da dialética 
(conforme explicitado no Fédon).
X b) o passar das aparências às essências, por meio da dialética. A alternativa que apresenta a apreciação 
correta da teoria das formas é b.
c) a passagem dos costumes para a codificação em termos jurí-
dicos, pela política.
d) a transição da motilidade para a imobilidade, através da feno-
menologia.
e) a evolução do saber doutrinário em diálogos, por meio dos
silogismos.

  C3 • H14 

 50  Em que pese o relativismo histórico e cultural – que nos obriga a 50.   É parte do fazer filosófico questionar, 
ainda que sem olhares preconceituosos, 
considerar o pensamento de um autor como intimamente rela- legados clássicos da disciplina. O tema 
cionado à visão do mundo de sua época –, uma das críticas mais da escravidão e da distinção entre 
duas espécies de seres humanos (os 
contumazes feitas ao corpus aristotélico (e de resto, à filosofia habitantes da pólis e os bárbaros) 
política grega em geral) é: é premente em Aristóteles, embora 
tenha tido relativo eco em pensadores 
a) o apoio incondicional que o filósofo garante à tirania, como posteriores (talvez Nietzsche, por 
governo ideal para a pólis. exemplo, tenha admitido o olhar 
aristocrático e a hierarquia dos homens, 
b) a hierarquia social que pressupõe o domínio dos guerreiros que são traços de seu pensamento, com 
base em Aristóteles, de quem se dizia 
sobre outros estratos sociais. grande admirador). Isso se expressa na 
alternativa c.
X c) a naturalização da escravidão e o preconceito contra estran-
geiros (ou bárbaros).
d) o princípio da política separada da ética, com os fins justifican-
do quaisquer meios empregados.
e) o desprezo pelas belas-artes, tidas como instrumentos de alie-
nação do povo.

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  C1 • H1 
51.   Na Metafísica, Aristóteles recorre com 
frequência à dicotomia entre ato e   51    Diz Aristóteles que a mudança é a concretização do poten-
potência. A potência representa um fim  cial. Considerava ele sua distinção entre potencialidade e
inerente à substância, sentido para o  concretização como de importância crucial para a compre-
qual ela se destina a realizar-se. 
Como princípio lógico, portanto, o par  ensão da possibilidade de mudança. Platão expusera no O
ato e potência deve ter uma relação de  Sofista a ideia do poder de afetar ou ser afetado. Aristóteles
contiguidade temporal. Essa relação 
está presente apenas no que se  utiliza a mesma palavra (dynamis), mas tende a entender
apresenta na alternativa d. por ela não poder, mas possibilidade ou potencialidade.
Corpos naturais têm suas respectivas potencialidades natu-
rais – o fogo sobe, a terra desce (uma vez que Aristóteles
não tinha concepção de gravidade). Se há uma razão por
que essas possibilidades devam ser concretizadas em geral,
então os corpos naturais se moverão nas direções apropria-
das, a menos que sejam impedidos por alguma outra coisa
de assim procederem.
HAMLYN, David Walter. Uma história da Filosofia Ocidental.
Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1990.

A distinção entre ato e potência é fundamental na metafísica de


Aristóteles. Um par correto, relativo a uma substância em ato e
potência, respectivamente, é:
a) um livro e um estudante.
b) um lápis e um livro.
c) um ginásio e um atleta.
X d) um bloco de mármore e uma estátua.
e) um barco e o mar.

  C3 • H12 
52.   A questão visa avaliar a correta 
compreensão da passagem da Filosofia 
 52  Tomás de Aquino, teólogo e filósofo escolástico tido como Doutor
grega para a escolástica de Tomás de 
Angélico pela Igreja Católica, tentou conciliar a filosofia de Aristó-
Aquino, na chave dos argumentos para  teles com alguns elementos da teologia cristã. Dentre as alterna-
a existência de Deus. As alternativas 
remetem a conceitos aristotélicos 
tivas abaixo, um dos argumentos de Aristóteles retomados por
que não são centrais para esta  ele para provar a existência de Deus é:
argumentação de Tomás de Aquino, 
com exceção da alternativa d, que faz  a) a condição do homem como um animal político e plenamente
referência à teoria do primeiro motor 
imóvel (Metafísica, livro 12, 1073a).
realizado na pólis.
b) a eudaimonia, vida boa que é inerente à função do ser humano.
c) a mímese, ato de representação ou imitação perfeita da
natureza.
X d) o primeiro motor imóvel, que é a causa primeira de todo
movimento.
e) a organização das coisas em termos de participação no gênero
comum e com diferenças específicas.

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  C2 • H6 

 53  O princípio conhecido como “navalha de Ockham” consiste em 53.   Esta questão problematiza o contributo 


de certos métodos medievais ao 
uma orientação filosófica usual na Idade Média, que recomenda
conhecimento racional. Sob o nome 
escolher, entre diversas hipóteses, aquela que implica o menor de “navalha de Ockham” é conhecido o 
número de premissas novas e incertas. Diante de qualquer fenô- princípio da pluralidade desnecessária, 
que William de Ockham empregou 
meno, deve-se optar pela explicação que assume apenas as con- ativamente em sua filosofia. São 
dições necessárias, eliminando-se explicações e conjecturas su- apresentadas cinco conclusões 
comumente encontradas na mídia, 
pérfluas. Das alternativas a seguir, a única que não postula a respeito de tópicos da realidade 
condições ou entidades desnecessárias, conformando-se, portanto, presente. A argumentação coerente e 
que dispensa premissas incertas está 
ao preceito da navalha de Ockham, é: expressa apenas na alternativa b: do 
a) existem milhões de planetas no universo, portanto deve haver conhecimento técnico-geológico a 
respeito dos deslizamentos de terra, 
vida fora da Terra. segue-se a recomendação prática 
de não desmatar morros próximos a 
X b) os deslizamentos de terra são frequentes em encostas nuas, ocupações urbanas. A ligação entre 
portanto deve-se evitar o desmatamento de encostas próxi- premissa e conclusão é límpida e não 
supõe entidades ou atributos que 
mas à ocupação urbana. escapam ao conhecimento presente. 
Por outro lado, é desnecessário supor: 
c) muitas pessoas que comem carne contraem câncer, portanto (a) a existência de vida fora da Terra 
a causa do câncer está relacionada a uma alimentação car- (a partir da constatação de muitos 
planetas – podem ser todos eles 
nívora. desabitados); (c) que a larga gama 
de doenças conhecidas como câncer 
d) o sentimento patriótico aumenta com as guerras, portanto os tem uma única causa (pois mesmo 
atentados terroristas de 11 de setembro foram arquitetados vegetarianos adoecem desse mal); 
pelo governo norte-americano. (d) que uma conspiração envolveu 
o governo norte-americano nos 
e) muitas pessoas sonham estar flutuando sobre seus corpos, antecedentes das guerras que ele 
participou na década de 2000; e (e) 
portanto existe a alma incorpórea. que exista algo de incorpóreo (a partir 
apenas de sonhos típicos que podem 
ter outras explicações).
  C1 • H4 
54.   O problema dos universais é um legado 
 54  O “problema dos universais” refere-se a um conjunto va-
da Filosofia Medieval, persistente até os 
riado de questões metafísicas, lógicas e epistemológicas, li- dias atuais e que propiciou inúmeros 
gadas em última instância a saber o quanto é possível a debates entre nominalistas e realistas 
e suas muitas variantes. A partir do 
cognição universal de coisas singulares. Como nós sabemos, trecho extraído de um material de 
por exemplo, que o teorema de Pitágoras é válido universal- referência, espera-se que o aluno faça a 
devida associação do termo “universal” 
mente para todos os triângulos retos possíveis? De fato, em Filosofia à questão da distância 
como nós podemos ter qualquer vislumbre dos infinitos tri- entre o conceito e o ente (“a cognição 
universal de coisas singulares”). As 
ângulos retos, uma vez que nós só podemos ver um número alternativas falsas apontam para outros 
finito de triângulos? Como nós podemos indicar todos os usos do termo “universal” (c) ou para 
possíveis triângulos retos com a expressão “triângulo reto”? outros problemas filosóficos (b e d). A 
alternativa que indica corretamente a 
Há algo comum a todos eles que se esconde sob essa ex- questão por trás dos universais é e.
pressão? Se é assim, o que é, e como isso está relacionado
com o triângulo reto em particular?

Enciclopédia de Filosofia de Stanford. Disponível em:


<http://plato.stanford.edu/entries/universals-medieval/>.
Acesso em: abr. 2011.

Conforme enunciado no trecho, e de acordo com seu conheci-


mento sobre o tema, o problema dos universais (que ganhou
amplo espaço na Filosofia Medieval):

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a) diz respeito à dificuldade na definição precisa de figuras
geométricas.
b) é um ponto de vista sobre a realidade que coloca em xeque a
existência do mundo concreto.
c) caracteriza uma posição de relativismo cultural, pois diz res-
peito a formas como os povos conduzem-se diante uns dos
outros.
d) define-se como um problema ético a respeito da liberdade de
agir do homem diante dos acontecimentos.
X e) está implicado na relação de um objeto ou coisa com um ter-
mo ou conceito abstrato que lhe é aplicado.

  C3 • H11 
55.   Um dos pilares do pensamento   55  Michel Eyquem de Montaigne, ou simplesmente Montaigne, foi
moderno, Montaigne é tido como  um dos principais pensadores da transição entre a Filosofia Medieval
precursor do método filosófico 
ensaístico. Através de um exame  e o Iluminismo. Sua obra Ensaios, publicada em 1580, é considerada
da própria consciência, Montaigne  inovadora, pois:
endereça questões das mais diversas, 
da escravidão até a flatulência. Cético,  a) rompe definitivamente com a autoridade da Igreja Católica,
assistemático, procurava em cada 
capítulo suspender o juízo sobre 
propagando a necessidade do governo laico.
determinado assunto e examiná-lo  b) estabelece os parâmetros do método indutivo e experimental
sob o ponto de vista da razão. Assim 
é que no ensaio Dos canibais exalta os  na investigação científica.
indígenas brasileiros diante da cobiça 
e avareza europeia, por exemplo. A  c) toma partido, pela primeira vez na História, da burguesia em
questão propõe que o aluno assinale a  oposição à nobreza.
inovação de Montaigne na história da 
Filosofia. De modo algum ele rompeu  X d) expõe as experiências e opiniões particulares do autor, mas
com a Igreja Católica (a), muito menos 
com a nobreza da qual fazia parte (c),  em sentido universalizante.
ou com o Estado (e). Também não é 
quem estabelece o método indutivo, 
e) tem forte tom anarquista, criticando a necessidade do Estado.
muito contrário a seus ensaios (b). 
Resta-nos a alternativa d, que demarca 
corretamente uma inovação trazida 
pelo autor.   C3 • H12 

56.   Reconhecer o papel do Tribunal da   56  O Tribunal do Santo Ofício, conhecido como “Tribunal da Inquisição”,
Inquisição na história da Ciência e da  remete a uma série de processos e ordálios praticados durante as
Filosofia é vital para compreender os 
idades Média e Moderna, na Europa, por parte da Igreja Católica. O
constrangimentos que o conhecimento 
enfrentou em épocas passadas. A  Tribunal julgava comportamentos considerados heréticos, que se
questão apresenta uma série de pares  afastavam da doutrina religiosa. Atingiu negativamente também a
de pensadores e suas contribuições 
à história da Filosofia. O aluno deve  Filosofia, pois em alguns momentos os novos conceitos de filósofos
discriminar corretamente quais foram  do período atingiam dogmas da fé cristã que a Inquisição não gos-
ou não perseguidos, e quais alternativas 
apresentam correto resumo dos  taria de ver questionados.
pensadores em questão. A alternativa 
correta, que identifica Galileu (retratou- 
Entre os filósofos e pensadores, destacam-se pela perseguição
-se e escapou da punição) e Giordano  que sofreram da Inquisição:
Bruno (queimado por ordem do 
Tribunal), é c. a) René Descartes e Baruch de Espinosa, por racionalizarem o
mundo a tal ponto que omitiam a existência de Deus.
b) Francis Bacon e Isaac Newton, que postulavam um método
científico capaz de superar os dogmas religiosos.

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X c) Galileu Galilei e Giordano Bruno, que demonstraram teses as-
tronômicas em contradição com o dogma cristão.
d) Giovanni Picco della Mirandolla e Nicolau de Cusa, por atribuí-
rem-se um nível de conhecimento que a Igreja não admitia
aos homens.
e) Nicolau Maquiavel e Thomas Hobbes, pela exposição da con-
duta imoral dos governantes, não mais submetidos às virtudes
cristãs.

  C1 • H4 
57.   A filosofia de David Hume é uma 
 57  Consideremos a esse respeito uma relação muito especial, a de contraposição ao empirismo inglês, na 
causalidade. Ela é especial porque não nos faz apenas passar medida em que coloca sob suspensão 
o próprio método indutivo, tão caro 
de um termo dado à ideia de alguma coisa que nos é atualmen- a Francis Bacon. Além disso, serve 
te dada. A causalidade me faz passar de alguma coisa que me de fundamento para digressões 
posteriores (especialmente em Kant) 
foi dada à ideia de alguma coisa que jamais me foi dada, ou a respeito da validade e do escopo 
mesmo que não é dável na experiência. Em outros termos, a dos juízos feitos sobre as coisas. 
Esta atividade propõe verificar a 
causalidade é uma relação em conformidade com a qual ultra- compreensão do aluno acerca deste 
passo o dado, digo mais do que é dado ou dável, em suma, questionamento que Hume dirige 
contra o método indutivo (alternativa a).
infiro e creio, aguardo, conto com...  As demais alternativas apresentam 
DELEUZE, Gilles. Hume. In: CHÂTELET, François. métodos e posições filosóficas que 
não fazem parte da crítica imediata de 
História da Filosofia: ideias, doutrinas.
Hume.
Rio de Janeiro: Zahar, 1981. vol. 8.

A crítica de Hume, quando incide sobre o que ele chama de


crença – por exemplo, a crença de que o Sol nascerá amanhã,
porque desde sempre tem nascido, embora nada possa provar
que amanhã ele o fará – dirige-se contra:
X a) a indução, método de raciocínio que consiste em generalizar
conclusões a partir de observações específicas.
b) a dedução, método de raciocínio que consiste em firmar con-
clusões a partir de premissas lógicas.
c) o paradoxo, que consiste em exagerar contradições a fim de
questionar dados da realidade.
d) o antropocentrismo, que julga a ordem na natureza por conta
de fatores humanos.
e) o niilismo, posição filosófica que nega o sentido objetivo da
vida humana.

  C1 • H1 

 58  Mas, ainda quando as dificuldades que cercam todas essas


questões deixassem por um instante de causar discussão sobre
diferença entre o homem e o animal, haveria uma outra qualida-
de muito específica que os distinguiria e a respeito da qual não

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58.   O Rousseau do Discurso prega a  pode haver contestação – é a faculdade de aperfeiçoar-se, facul-
perfectibilidade como uma faca de 
dois gumes: se por um lado traz o  dade que, com o auxílio das circunstâncias, desenvolve sucessi-
progresso técnico e a melhor adaptação  vamente todas as outras e se encontra, entre nós, tanto na espé-
do homem ao meio (bem como a 
adaptação do meio ao homem), por  cie quanto no indivíduo; o animal, pelo contrário, ao fim de
outro é a causa de todos os vícios  alguns meses, é o que será por toda a vida, e sua espécie, no fim
humanos pelo afastamento de sua 
condição em relação ao selvagem.  de milhares de anos, o que era no primeiro ano desses milhares.
Daí surgirão os primeiros indícios da  Por que só o homem é suscetível de tornar-se imbecil?
desigualdade, exatamente quando 
os homens buscam as primeiras  ROUSSEAU, Jean-Jacques. Discurso sobre a origem e
comodidades (logo substituídas pelo  os fundamentos da desigualdade entre os homens.
luxo e pela crueldade). A alternativa que  São Paulo: Abril Cultural, 1978.
aponta corretamente para esta caixa de 
Pandora (que é a perfectibilidade) é a 
Jean-Jacques Rousseau define, no citado Discurso, a ideia de
alternativa c.
perfectibilidade como a capacidade que o homem tem de se
aperfeiçoar, bem como modificar e ser modificado pelo am-
biente que o cerca. Esta característica o diferencia dos demais
animais. Entretanto, no trecho citado, ele se pergunta o porquê
de o homem se tornar um imbecil – uma correta interpretação
dessa aparente contradição é:
a) a opção pela democracia, que Rousseau considerava um gover-
no fraco, mas inevitável.
b) a conduta dos franceses em relação aos demais europeus, que
Rousseau satirizou no trecho.
X c) o caráter dúbio do aperfeiçoamento no homem, que, ao afas-
tar-se da natureza, adquire também vícios.
d) a teoria da História em Rousseau, que postula o ser humano
como inevitavelmente dirigido para a selvageria e a imbe-
cilidade.
e) a ironia herdada de Voltaire, que faz Rousseau empregar o ter-
mo “aperfeiçoar” quando, na verdade, vê apenas degradação
nas sociedades europeias.

Album/akg-images/LatinStock

De onde viemos? O que somos? Para onde vamos? (1897) – Paul Gauguin (Museum of Fine Arts, Boston, EUA).

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  C3 • H12 

59  Todo indivíduo necessariamente trabalha no sentido de fazer 59.   O liberalismo tem papel ativo na 


economia contemporânea. Em termos 
com que o rendimento anual da sociedade seja o maior possível. Na
políticos, deita raízes que vão até John 
verdade, ele geralmente não tem intenção de promover o interesse Locke; no plano econômico, Adam 
público, nem sabe o quanto o promove. Ao preferir dar sustento Smith é considerado um de seus 
grandes formuladores. Apresenta-se 
mais à atividade doméstica que à exterior, ele tem em vista apenas uma série de alternativas contendo 
sua própria segurança; e, ao dirigir essa atividade de maneira que aspectos de possíveis políticas 
econômicas. Algumas alternativas 
sua produção seja de maior valor possível, ele tem em vista apenas apresentam fundamentos econômicos 
seu próprio lucro, e neste caso, como em muitos outros, ele é guia- de matiz fisiocrata (c) ou marxista (e), 
porém a alternativa que corretamente 
do por uma mão invisível a promover um fim que não fazia parte identifica pilares do liberalismo é b.
de sua intenção. E o fato de este fim não fazer parte de sua intenção
nem sempre é o pior para a sociedade. Ao buscar seu próprio inte-
resse, frequentemente ele promove o da sociedade de maneira mais
eficiente do que quando realmente tem a intenção de promovê-lo.
SMITH, Adam. A riqueza das nações. São Paulo: Martins Fontes, 2003.

Zurique, Kunsthaus

Camponeses plantando batatas (c.1885) – Vicent van Gogh.

Esse trecho ilustra, pelo conhecido princípio da mão invisível, a con-


cepção política e econômica que se vincula mais intimamente ao
pensamento de Adam Smith – o chamado liberalismo. Ele postula:
a) a submissão proporcional das colônias frente às metrópoles,
pois os grandes problemas econômicos da época resultavam
do desequilíbrio de poder entre as nações europeias.
X b) o não intervencionismo estatal, pois o mercado se regularia
pelo livre intercâmbio entre os indivíduos, ocupados conforme
uma divisão racional do trabalho.
c) a aquisição de colônias e ampliação do território nacional, a
fim de conseguir autonomia agrícola e industrial.
d) a livre intervenção do Estado na propriedade privada, a fim
de garantir um nível mínimo de provimento das necessidades
entre os mais pobres e controlar as fortunas.
e) o fim das classes sociais e a passagem para o estágio de pro-
priedade comum, com o fim do Estado elitista.

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  C3 • H11 
60.   Entre os sucessores de Hegel, talvez 
tenha sido Karl Marx o mais brilhante.   60 Uma das metáforas mais conhecidas utilizada pelo filósofo ale-
Embora não seja considerado  mão George Wilhelm Hegel é a chamada dialética do senhor-
neo-hegeliano, Marx aproveita do  -escravo. Nesta metáfora, Hegel demonstra como a consciência
velho pensador muito do método, 
principalmente o raciocínio dialético.  de si encontra a universalidade, na oposição a outra consciência
Mas enquanto em Hegel o ideal  – e como deste conflito surge um segundo tipo de consciência, a
apresenta preponderância, Marx 
equipara-o ao material. A interpretação 
consciência do outro, tão fundamental como a consciência de si.
de Marx da dialética do senhor-escravo  Embora em Hegel a dialética do senhor-escravo seja mais uma
é controvertida, mas em todo caso, 
fundamental para a compreensão do  metáfora ou um argumento filosófico abstrato, descrevendo as
materialismo. A alternativa correta é,  relações entre subjetividade e objetividade, ela foi apropriada
pois, e.
de modo significativo como teoria da História na elaboração
feita por outro filósofo alemão, a saber:
a) Friedrich Nietzsche. d) Jürgen Habermas.
b) Herbert Marcuse. X e) Karl Marx.
c) Hans-Georg Gadamer.

  C1 • H1 
61.   Nietzsche assinala, em A Gaia Ciência, o 
fim das crenças em uma ordem cósmica   61    Deus está morto! Deus permanece morto! E quem o ma-
transcendente. Isso implica uma  tou fomos nós! Como haveremos de nos consolar, nós os
rejeição de valores absolutos, uma vez 
que se perde a crença em uma lei moral 
algozes dos algozes? O que o mundo possuiu, até agora, de
universal e com objeto determinado.  mais sagrado e mais poderoso sucumbiu exangue aos golpes
É necessário, pois, combater o niilismo 
daí resultante, através da elevação de 
das nossas lâminas. Quem nos limpará desse sangue? Qual a
uma nova moral, por meio de valores  água que nos lavará? Que solenidades de desagravo, que
humanos, entre os quais “a vontade de  jogos sagrados haveremos de inventar? A grandiosidade des-
poder” (alternativa c).
te ato não será demasiada para nós? Não teremos de nos
tornar nós próprios deuses, para parecermos apenas dignos
dele? Nunca existiu ato mais grandioso, e quem quer que
nasça depois de nós passará a fazer parte, mercê deste ato,
de uma história superior a toda a história até hoje!
NIETZSCHE, Friedrich. A Gaia Ciência. São Paulo:
Companhia das Letras, 2009.

Qual é o significado para o anúncio da morte de Deus, por parte


de Nietzsche?
a) Refere-se ao momento crucial na História ocidental representado
pela crucificação de Jesus de Nazaré.
b) Assinala a necessidade que Nietzsche impõe em romper com
qualquer religiosidade em favor de uma racionalidade absoluta
e mundana.
X c) Demanda erigir valores morais humanos, ao reconhecer a
decadência dos valores transcendentais absolutos.
d) Representa uma lamentação diante da incapacidade humana
de se transformar e progredir.
e) É a forma irônica de rompimento com o idealismo alemão,
instaurando o novo materialismo dialético.

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  C3 • H12 

 62  Em todos os domínios, cuidava-se de não procurar o por- 62.   A questão procura avaliar a 


compreensão do positivismo, escola 
quê das coisas, de não indagar-lhes a essência. A palavra de de pensamento fundada por Augusto 
ordem era desprezar a inacessível determinação das causas, Comte. O positivismo caracteriza-se 
por uma teoria peculiar do 
dando preferência à procura das leis, isto é, das relações desenvolvimento humano. Comte 
constantes que existem entre os fenômenos. Substitui-se o postula a famosa lei dos três estados em 
1822, no opúsculo Plano dos trabalhos
método a priori pelo método a posteriori. Em suma, obser- científicos necessários para reorganizar
va-se por toda parte o mecanismo do mundo, ao invés de a sociedade, sendo posteriormente 
reformulada no Catecismo positivista. 
inventá-lo. Segundo essa lei, a humanidade 
passara primeiro pelo estado teológico, 
RIBEIRO JR., João. O que é positivismo? São Paulo: Brasiliense, 1994.
no qual recorreu aos deuses e às forças 
sobrenaturais para explicar a realidade; 
A preocupação do chamado positivismo (cujo criador é o filóso- depois pelo estado metafísico, em que 
fo francês Augusto Comte) em evitar a busca pelas origens visa recorreu a conceitos abstratos como 
causas de fenômenos observados 
estabelecer o terceiro estágio evolutivo da humanidade, o dito na realidade; e finalmente atingiu o 
estado científico ou positivo. A superação em relação aos estágios estado positivo, no qual abandona a 
busca de causas e o esforço é dirigido 
anteriores se daria: para a compreensão das regularidades 
a) pelo abandono de crenças de causas atribuídas a seres entre acontecimentos. A alternativa 
X
que identifica corretamente os estados 
sobrenaturais e posteriormente pelo abandono das noções anteriores ao positivo é a.
abstratas.
b) pelo abandono do mecanicismo e posteriormente pelo aban-
dono da especulação dedutiva.
c) pelo abandono das noções abstratas e posteriormente pelo
abandono das noções matemáticas.
d) pelo abandono das crenças atribuídas a seres sobrenaturais e
posteriormente pelo abandono da noção de ordem universal.
e) pelo abandono da aristocracia e posteriormente pelo abando-
no da república.

  C1 • H1 

 63   Observe, por exemplo, os processos a que chamamos “jo- 63.   A questão trabalha um aspecto 
do pensamento de Wittgenstein, 
gos”. Tenho em mente os jogos de tabuleiro, os jogos de car-
aquele relacionado às chamadas 
tas, o jogo de bola, os jogos de combate etc. O que é comum semelhanças de família. Assim como 
a todos estes jogos? Não diga: “Tem de haver algo que lhes membros de uma família, em sentido 
biológico, possuem traços similares 
seja comum, do contrário não se chamariam jogos”, mas olhe (que permitem conjugar-lhes em 
se há algo que seja comum a todos. Porque quando olhá-los, uma família) e dissimilares, os demais 
objetos do mundo são agrupados 
você não verá algo que seria comum a todos, mas verá seme- em categorias conforme atributos e 
lhanças de família, parentescos, aliás, uma boa quantidade qualidades que possuem, aproximando- 
deles. Não posso caracterizar melhor essas semelhanças do -se e afastando-se conforme apresentam 
semelhanças. A alternativa que indica 
que com a expressão semelhanças de família; pois é assim esta definição essencial é d.
como se superpõem e entrecruzam as diversas semelhanças
que ocorrem entre os membros de uma família: estatura, cor
dos olhos, andar, temperamento etc. Assim, podemos dizer:
os jogos compõem uma família.
WITTGENSTEIN, Ludwig. Investigações filosóficas.
Lisboa: Editora Fundação Calouste Gulbenkian, 2008.

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Para Wittgenstein, o processo pelo qual adquirimos o conhecimen-
to do mundo tem a ver mais com os usos que fazemos da lingua-
gem do que com os conceitos. Nesse sentido, o trecho aponta para:
a) o estabelecimento de práticas de linguagem puramente lúdicas,
visando à renovação constante dos idiomas.
b) a reminiscência das palavras universais, objetos que guardam
propriedades únicas.
c) a conexão entre percepção visual e identificação de conceitos
fixos.
X d) a categorização do mundo a partir de práticas de linguagem,
no cruzamento de atributos e qualidades dos objetos.
e) o processo de descoberta dos conceitos oriundos do plano das
ideias.

  C1 • H1 
64.   O tema da liberdade individual e a 
repressão é central em muitas análises   64    Um homem, que viaje de carro a um lugar distante, escolhe
de Marcuse, em especial seu clássico  a rota de sua viagem num guia de estradas. Cidades, lagos e
Eros e civilização. Faz uma ponte entre 
o fascismo e a indústria cultural, 
montanhas aparecem como obstáculos a serem ultrapassados.
ambos mecanismos de dominação  O campo é delineado e organizado pela estrada: o que se
dos instintos do operariado. Dirige sua 
crítica tanto a um quanto a outro, e 
encontra no percurso é um subproduto ou anexo da estrada.
também ao totalitarismo comunista.  Vários sinais e placas dizem ao viajante o que fazer e pensar.
A alternativa c apresenta uma correta  Espaços convenientes para estacionar foram construídos onde
associação do pensamento de Marcuse 
ao trecho, devendo, pois, ser assinalada. as mais amplas e surpreendentes vistas se desenrolam. Painéis
gigantes lhe dizem onde parar e encontrar a pausa revigorante.
A rota é feita para o benefício, segurança e conforto do ho-
mem. E a obediência às instruções representa o único meio de
se obter resultados desejados.
MARCUSE, Herbert. Tecnologia, guerra e fascismo.
São Paulo: UNESP, 1998.

A análise do filósofo Herbert Marcuse à sociedade industrial re-


toma elementos do pensamento marxista e da psicanálise, em
chave tipicamente moderna, para criticar:
a) a opressão como resultado das sociedades comunistas, visando
à contenção da revolução.
b) a fetichização da mercadoria como produto natural de uma
infância em que pais são vistos como objetos fora do controle
da criança.
X c) a repressão como mecanismo inerente às sociedades capita-
listas, cristalizada na obediência.
d) a onipotência do sujeito nas escolhas diárias, que, informa-
das por distúrbios psicológicos, levariam a sistemas políticos e
econômicos instáveis.
e) a fetichização e a publicidade como mecanismos adequados
às sociedades capitalistas, em virtude da necessidade de dis-
seminar rapidamente informação entre desconhecidos.

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  C2 • H8 

 65 Michael Foucault (1926-1984) foi um filósofo francês que se 65.   Em seus textos sobre a sociedade 


contemporânea, Foucault distingue 
destacou, entre outras coisas, por evidenciar os mecanismos bem as formas de exercício do poder 
de controle microscópicos (em pequena escala, atingindo o in- calcadas na violência e, posteriormente, 
no confinamento e na vigilância. Como 
divíduo em sua vida cotidiana) na sociedade contemporânea. resultado da passagem para sociedades 
Para o autor, a prisão é apenas um dos elementos de uma disciplinares, o poder se dividiu e 
ampla rede carcerária que se espalha por toda a sociedade e ramificou por todo o corpo social, 
sendo exercido em todas as relações 
envolve as mesmas estratégias de poder e conhecimento, no sociais. As alternativas indicam focos 
controle do delinquente ou do cidadão comum: em vez de pu- desse micropoder e desse controle 
social distribuído: o grande panótico 
nir vingativamente, incutir-lhe os padrões de comportamento que se diluiu em sistemas de câmeras 
tidos como socialmente aceitáveis (pois visíveis e passíveis de por todos os lados (a), o controle da 
informação sobre indivíduos em modelo 
julgamento por todos). curricular ou de ficha criminal (“perfis”, 
b), as instituições disciplinares que se 
Das alternativas a seguir, não é exemplo de controle social con- espelham no modelo da prisão (c), e 
temporâneo: o chamado “grampo” telefônico, que 
pode ser aplicado a qualquer cidadão 
a) Instalação de câmeras de vigilância em locais públicos e pri- (e). Somente no caso apresentado em d, 
vados. temos um contrassenso com as técnicas 
de dominação social contemporâneas; 
b) Perfis monitorados em redes de computadores por empresas o próprio Foucault demonstra, em Vigiar
e punir, como o modelo de punição 
ou órgãos governamentais. calcado na violência perdeu espaço na 
modernidade, em prol de mecanismos 
c) Regulamentos e punições em escolas, hospitais, manicômios de caráter mais disciplinante. A 
e conventos. alternativa a ser assinalada é, pois, d.

X d) Submissão de prisioneiros a penas capitais e execuções pú-


blicas.
e) Gravação de escutas telefônicas clandestinas ou oficiais, sem
consentimento do usuário.

  C3 • H12 

 66  Uma importante tradição filosófica do século XX é a Fenomenologia, 66.   A tradição fenomenológica é parte 


importante da Filosofia do século XX. 
que se aplicou a domínios além da Filosofia (como as Ciências Sua contribuição ainda não se esgotou, 
Sociais, os Estudos de Religião e a Psicologia). Por fenômeno, embora tenha perdido um pouco 
do impulso inicial. Aqui se trabalha 
dentro desta tradição em Filosofia, entende-se: a conceituação de fenômeno, que 
desde Kant passou a ser distinguido 
a) um acontecimento histórico memorável que atinge dimensões como algo diretamente acessível 
políticas em escala global. pela observação; contrapunha a 
ele o nômeno, conhecido apenas 
b) qualquer evento observável e passível de ser descrito de através de uma intuição intelectual. 
As alternativas fazem um jogo com os 
modo matemático. possíveis significados de fenômeno, 
porém, dentro da tradição filosófica da 
c) instabilidades climáticas que afligem ocasionalmente regiões fenomenologia, somente a alternativa e 
apresenta uma definição coerente.
geográficas, ocasionando a reflexão sobre as condições da
existência humana no espaço.
d) eventos e distúrbios que não possuem ainda uma explicação
e desafiam o conhecimento convencional.
X e) percepções do mundo e dos objetos como eles se apresentam
ao sujeito.

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  C2 • H7 
67.   Questão simples, visa avaliar a 
compreensão do aluno quanto à   67  Ao longo da história da Filosofia, o Direito, entendido como con-
instituição do Direito – e sua vinculação  junto de normas imposto pelo Estado ou outra instituição para
com o Estado e a prerrogativa de aplicar 
punições (alternativa c).
garantir a boa convivência social, foi dissociado da moral e da
ética por diversos passos. Contemporaneamente, a distinção se
dá principalmente pela prerrogativa do Direito em:
a) aplicar-se a todo e qualquer indivíduo, diferentemente da
moral que se aplica seletivamente.
b) regular exclusivamente as relações internacionais.
X c) ministrar sanções àqueles que não o cumprem.
d) codificar a totalidade dos padrões de moralidade difusos na
sociedade.
e) ser passível de amplo debate, o que jamais acontece com a
moral, herdada por tradição.

  C2 • H8 
68.   A eutanásia faz parte do debate 
68  A eutanásia (do grego uavaia, “boa morte”) refere-se a
contemporâneo bioético. A decisão 
quanto ao término artificial da vida  uma prática de abreviar a vida de doentes, com a assistência de
perturba especialistas e pensadores.  um especialista (médico), geralmente por meio da interrupção
Os critérios apontados permitiriam 
diferentes tipos de eutanásia, porém  dos cuidados. É uma questão que levanta sérios problemas éti-
o que mais se aproxima de nossos  cos, relacionados à demarcação de limites entre vida, doença e
padrões morais é a abreviação do 
sofrimento desnecessário – o doente  morte. No Brasil, a eutanásia não é permitida, contudo alguns
que está à beira da morte teria o direito  países como Holanda e Bélgica já autorizaram a prática, e ou-
de evitar as dores do pouco tempo 
que lhe resta. Esta formulação está  tros países já a admitiram após processo judicial. Os argumentos
apresentada na alternativa b. Cabe dizer  favoráveis à eutanásia tomam por base, principalmente:
que critérios de idade (a) ou condição 
econômica (c) ainda estão longe de se  a) a idade avançada do doente.
impor como seletivos à vida e morte, 
bem como a integração do doente na  X b) a impossibilidade de que o doente crônico sobreviva além de
sociedade (d). um curto período.
c) as dificuldades econômicas que o doente tenha que enfrentar
para se curar.
d) a possibilidade de que o doente venha ou não a participar do
convívio social.
e) o sentimento dos parentes para com o doente.

69.   Evitar os extremos e conduzir-se com    C1 • H1 


sobriedade é um eixo sobre o qual 
o comportamento humano deve se 
orientar em direção à eudaimonia. Entre   69   Em suma, a covardia, a temeridade e a bravura relacionam-
duas atitudes igualmente viciosas –  -se com os mesmos objetos, mas revelam disposições diferen-
uma por excesso, outra por deficiência –, 
 Aristóteles cita como exemplo a  tes para com eles, pois as duas primeiras vão ao excesso ou
coragem, situada entre a covardia  ficam aquém da medida, ao passo que a terceira mantém-se na
(deficiência de bravura) e a temeridade 
(excesso). Assim, temos a virtude como  posição mediana, que é a posição correta.
o meio-termo entre dois vícios (o que  ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco.
é indicado por e), e não entre duas 
virtudes. 
Trad. Mario da Gama Kury.
Brasília: UnB, 1985.

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Quanto à conduta ética, a postura de Aristóteles caracteriza-se:
a) pela opção por uma virtude intermediária entre outras duas,
uma vez que um homem por demais virtuoso seria motivo de
inveja e temor pelos concidadãos.
b) pela descrição dos hábitos humanos como virtuosos, mas so-
mente até que as circunstâncias exijam a adoção de vícios.
c) pela separação entre comportamentos público e privado.
d) por supor a dialética entre uma virtude e um vício como im-
pulso para um novo vício, a ser corrigido por uma virtude e
assim por diante.
X e) pela virtude no meio-termo entre dois excessos, tidos como
vícios.

  C3 • H12 

 70  A chamada teoria do direito divino foi desenvolvida durante a Idade 70.   O chamado direito divino foi uma teoria 
política em voga na Europa durante 
Moderna por pensadores como Jean Bodin (1530-1596) e Jacques- o absolutismo francês, que justificava 
-Bénigne Bossuet (1627-1704). Pela teoria do direito divino: o poder dos reis como representação 
de Deus na Terra. O rei, assim, deveria 
a) o poder deveria ser exercido pelo alto clero da Igreja Católica, prestar contas apenas a Deus (conforme 
a partir de Roma. assegura Jean Bodin). Assim, o rei 
b) os povos deveriam ter por lei apenas os dez mandamentos não deveria atender aos anseios da 
população (e). A alternativa c apresenta 
da Igreja Católica, tidos como suficientes para todo e qualquer corretamente a relação entre súditos e 
ordenamento jurídico humano. rei na teoria do direito divino. 

X c) o direito de governar do rei deriva diretamente de Deus e não


depende dos súditos.
d) as normas jurídicas deveriam regulamentar a condução do fiel
perante Deus, sendo considerado pecador aquele que delas se
desviasse.
e) os reis deveriam agir como elos entre os anseios da população
e os dogmas cristãos, conduzindo-se com piedade e justiça.
White Images/Scala, Florence (Musée du Louvre, Paris, França)

Retrato do rei da França Luís XIV (1701) –


Hyacinthe Rigaud, representando o absolutismo francês.

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  C3 • H14 

71.   O filósofo brasileiro Renato Janine 
Ribeiro frequentemente faz releituras   71    A política moderna não é das virtudes, mas dos interesses.
de Maquiavel (e também de Hobbes)  Maquiavel, esse autor tão malfalado, o anota quando, no
para discutir a política contemporânea. 
No artigo em questão, faz uma 
cap. XV d’O Príncipe, diz que pretende tratar de Estados
passagem pela política na Antiguidade,  que realmente existem, e não de políticas ideais: porque, se
no Medievo, na Idade Moderna e nos 
dias atuais – nos quais o primado do  ele idealizar, só ensinará o chefe político, “o príncipe”,
interesse se defronta com dificuldades  a correr à própria perda, em vez de preservar seu estado –
por conta da multiplicidade de anseios 
entre os indivíduos. Além disso, a  isto é, sua condição de governante – e seu Estado.
consideração utilitária da política  Maquiavel procurará, acrescenta, dizer coisa útil. E com isso
também ruma a um beco sem saída, 
pois as instituições que cuidavam  deporta as virtudes para a vida privada, retirando-as da vida
dos interesses particulares perderam  pública. [...]
espaço e a própria prática de política 
movida por interesses passa a ser  RIBEIRO, Renato Janine. A nova política.
questionada. A alternativa c indica 
São Paulo: Ateliê Editorial, 2003.
esse dilema, que pode ser percebido 
mesmo pelo aluno que nunca tenha 
tido contato com o texto de Ribeiro: de  Analise as alternativas a seguir, e assinale aquela que indica
décadas para cá, a ética e a fidelidade 
a princípios políticos são cobradas  corretamente a posição política contemporânea em face do
insistentemente das autoridades.  problema da relação entre ética e política:
As demais alternativas apresentam 
posições que contradizem a reflexão 
política atual e os resultados práticos 
a) paulatinamente percebeu-se que a ideia de governar segun-
da ação política (por exemplo, o  do os preceitos da ética conduziria, como previu Maquiavel, à
liberalismo sem controle).
ruína dos Estados.
b) o pensamento de Maquiavel foi exacerbado, e hoje em dia
torna-se problemático condenar atos de corrupção porque
geralmente eles se justificam em prol da permanência dos
governos.
X c) há um dilema no mundo atual com relação ao valor primordial
dos interesses na política, percebendo-se um retorno à ética
dos princípios e não da ação.
d) os interesses pessoais acabaram se revelando o melhor motor
para o desenvolvimento social, sendo a solução para os pro-
blemas sociais e políticos presentes.
e) é preciso abandonar completamente os interesses pessoais,
agindo na vida cotidiana somente em função do bem comum.

  C2 • H7 

 72  O mapa publicado em 2009 pela Freedom House, uma organização


independente norte-americana que monitora e estimula a disse-
minação da democracia pelo mundo, mostra três graus de liber-
dade civil e direitos políticos: os países em verde garantem liber-
dade e direitos aos cidadãos, os países em amarelo somente
direitos e liberdades parciais, e os países em roxo, nenhuma li-
berdade ou direito político.

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Mario Yoshida

Círculo Polar Ártico

Estônia Rússia
Reino
Unido Belarus
Alemanha
Casaquistão
Geórgia
Itália
Estados Unidos Turquia Azerbaijão
Tunísia Irã China Coreia
Jordânia Paquistão do Sul
Trópico de Câncer Egito
Cuba Arábia
México Saudita Índia Mianma
Tailândia OCEANO
Venezuela
Nigéria Etiópia Vietnã PACÍFICO
Equador OCEANO Malásia
Quênia
PACÍFICO Ruanda
OCEANO OCEANO Indonésia
Brasil
ATLÂNTICO ÍNDICO
Zimbábue
Trópico de Capricórnio
Austrália
África
do Sul
Livre
Parcialmente livre
N
Sem liberdade
Sem dados
0 2275 km

No relatório, disponível on-line (http://www.freedomhouse.


org), a organização ainda classifica Arábia Saudita, Belarus,
Chade, China, Coreia do Norte, Cuba, Eritreia, Guiné Equatorial,
Laos, Líbia, Myanma, República Democrática do Congo, Somá- 72.   O relatório da Freedom House, 
organização norte-americana, 
lia, Sudão, Síria, Turcomenistão, Usbequistão como países que pesquisou aproximadamente 200 países 
e territórios ao redor do mundo a fim 
detêm os piores registros em termos de direitos humanos. A de avaliar o grau de liberdade política e 
maior parte dos países classificados como não livres é gover- direitos civis da população, atribuindo 
um valor (espécie de nota) para cada 
nada por ditaduras militares. país. Os piores, em relação a esses dois 
indicadores, são destacados neste 
mapa, embora a organização alerte que 
a situação não é de todo confortável 
A respeito das ditaduras militares contemporâneas, não é possí- mesmo nos países ditos livres. Partindo 
vel afirmar que: dos dados políticos, faz-se uma 
reflexão, entre as alternativas, sobre 
o conceito de ditadura. Lembremos 
a) ao contrário de outros períodos históricos, nem sempre se que na Antiguidade a ditadura era 
constituíram visando à defesa de interesses nacionais, sendo um poder excepcional concedido a 
um governante, por um período fixo 
muitas vezes implementadas por obra do colonialismo e da (em Roma, seis meses), para restaurar 
a ordem e proteger a cidade ou 
Guerra Fria. Estado ante um inimigo estrangeiro. 
Essas condições não se verificam nas 
b) destoam das ditaduras preconizadas na Antiguidade, pois não ditaduras atuais, pois têm duração 
indeterminada e são muitas vezes 
são temporárias (como no caso romano). fomentadas por problemas externos (o 
contexto da Guerra Fria, por exemplo). 
c) grande parte é formada por antigas colônias. Também é fato que não apresentam 
ordenamento jurídico sólido – os 
X d) apresentam em geral alto nível de desenvolvimento econômico, exemplos de execuções em Cuba 
(felizmente escassos nos dias atuais), 
a despeito da falta de liberdades políticas. China e Irã não nos deixam esquecer 
desse ponto. Sobra-nos a alternativa d, 
e) não apresentam ordenamento jurídico sólido, muitas vezes que, numa rápida consulta ao mapa, 
se mostra inverídica, respondendo, 
impondo penas arbitrárias e subjetivas a prisioneiros políticos. portanto, ao que foi solicitado.

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73.   A teoria política de Thomas Hobbes é, 
ao lado do pensamento de Maquiavel, 
  C1 • H1 
fundadora da modernidade. No Leviatã, 
Hobbes descreve em tom dramático 
o estado de Natureza, que seria uma   73    Os pactos sem a espada não passam de palavras, sem força
etapa lógica anterior ao Estado, e na  para dar qualquer segurança a ninguém.
qual os indivíduos não teriam qualquer 
segurança, nada realizariam e a vida  HOBBES, Thomas. Leviatã.
humana seria miserável – porque  São Paulo: Abril Cultural, 1979.
grassaria a violência generalizada. 
É preciso fazer um acordo, mas este 
Essa frase pode ser interpretada como:
acordo não pode ser violado. A garantia  a) a incitação para que o príncipe agisse como guerreiro quando
é simbolizada aí pela espada. Ela não é o 
príncipe em si, nem Deus; como afirma  necessário, e em relação a países estrangeiros.
Hobbes no trecho imediatamente 
posterior: “Portanto, apesar das leis  X b) um desprezo pela situação temerária dos homens no estado
de natureza, se não for instituído um  de natureza, já que não haveria nenhuma instituição garanti-
poder suficientemente grande para a 
nossa segurança, cada um confiará, e 
dora dos acordos.
poderá legitimamente confiar, apenas  c) uma metáfora (na palavra “espada”) para o poder sagrado,
na sua própria força e capacidade, 
como proteção contra todos os  que deveria ser posto lado a lado com o poder temporal (res-
outros“. A instituição garantidora surge  ponsável pelos acordos).
somente com o Estado, que se impõe 
a todos, porque de todos emana – os  d) o descrédito em relação a acordos, pois Hobbes acreditava que
indivíduos entregam-lhe este poder  só pela guerra os indivíduos dialogavam.
para adquirirem a tranquilidade. A 
alternativa que indica corretamente a  e) uma concessão de Hobbes para com a violência, que ele ad-
leitura de Hobbes é, portanto, b.
mite acontecer apenas dentro do Estado constituído, por meio
da força policial.

Album/akg-images/British Library/LatinStock (British Library, Londres, Reino Unido)

Frontispício da primeira edição de Leviatã.

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  C3 • H12 

 74  Um dos momentos científicos mais importantes do século XIX foi 74.   A publicação de A origem das espécies 
(maneira reduzida de se referir ao 
a publicação, em 1859, de Sobre a origem das espécies por meio livro) por Darwin pode ser comparada 
da seleção natural, do inglês Charles Darwin. Como acontecera a outros grandes momentos na 
com cientistas predecessores a ele que também propuseram História da Ciência, como a publicação 
das teorias de Copérnico, Isaac 
revoluções na maneira de pensar o conhecimento científico, Darwin Newton, ou do geólogo Charles 
recebeu duras críticas e censuras, pois sua teoria: Lyell, contemporâneo e amigo de 
Darwin. Como Lyell, a teoria de Darwin 
a) presumia que os seres humanos não seriam capazes de se contrapunha-se a argumentos bíblicos 
sobre a criação do mundo e do ser 
adaptar socialmente aos ambientes diversos em que vi- humano. As críticas dirigiam-se contra 
viam, indo na contramão do cosmopolitismo característico esta redução do valor do ser humano 
na hierarquia dos seres – ele não mais 
da época. havia sido criado de maneira especial, 
b) partia somente de dados dedutivos e não da experiência mas era uma evolução de outro ser; não 
era mais a imagem e semelhança do 
concreta. Deus criador. Mas não apontava para 
uma degeneração (e), ou então para 
X c) representava mais um afastamento do antropocentrismo, ao a incapacidade humana de promover 
evidenciar a continuidade entre seres humanos e animais por a adaptação cultural (a); também não 
foi criticado por falhar no critério de 
meio da evolução. falseabilidade (Karl Popper apresentou 
algumas dúvidas com respeito à Teoria 
d) era irrefutável (e portanto não científico) do ponto de vista da Evolução, mas somente no 
lógico, pois construía as premissas a partir das conclusões. século XX); e, finalmente, seguia 
rigorosamente o método científico, 
e) apontava para a degeneração inevitável do ser humano, que no que tange à coleta de dados 
contradizia com as profecias de redenção bíblicas. experimentais (b). Sobra-nos, portanto, 
a alternativa c, que indica o teor das 
críticas dirigidas a Darwin então.

  C3 • H13 

 75  Num encontro pós-guerra com o presidente Harry S. Truman, 75.   O papel “neutro” da Ciência é sempre 
J. Robert Oppenheimer – o diretor científico do Projeto Ma- problemático, porque, se um dia 
conhecimento foi associado a poder, 
nhattan de armas nucleares – comentou tristemente que os hoje o grande volume de conhecimento 
cientistas tinham as mãos ensanguentadas; eles agora conhe- e informação pode ser associado a um 
ciam o pecado. Mais tarde, Truman instruiu seus assessores de imenso poder de criação ou destruição. 
A questão tem retornado sempre ao 
que não desejava nunca mais se encontrar com Oppenheimer. debate das políticas de segurança 
Ora os cientistas são castigados por fazer o mal, ora por aler- pública, por exemplo, quando agentes 
químicos desenvolvidos pelo governo 
tar sobre o mau emprego que se pode fazer da ciência. Com caem em mãos de terroristas. Na 
mais frequência, a ciência é repreendida porque ela e seus questão, optou-se por não mencionar 
este caso, e sim quatro outras situações 
produtos são considerados moralmente neutros, eticamente em que uma tecnologia aparentemente 
ambíguos, empregados com igual presteza tanto para o bem neutra ou inócua foi adaptada a um fim 
destrutivo. A exceção é a engenharia 
como para o mal. genética, que (ainda) não apresentou 
aplicações práticas danosas, nem ao ser 
SAGAN, Carl. O mundo assombrado pelos demônios. humano, nem a espécies cultivadas ou 
São Paulo: Companhia das Letras, 1996. criadas. 

Os cientistas não tiveram as mãos manchadas de sangue ape-


nas no episódio da bomba atômica. As alternativas a seguir
assinalam descobertas científicas que, assim como a ener-
gia nuclear, acabaram sendo adaptadas em produtos usados
contra o próprio ser humano. Apenas uma das afirmações a
seguir não é verdadeira, pois a descoberta em questão ainda
não redundou em malefício à nossa espécie. Assinale essa
afirmação.

73

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a) O clorofluorcarbono (CFC), descoberto para uso em eletrodo-
mésticos e aerossóis, destrói a camada de ozônio.
b) Os opiáceos, descobertos como anestésicos, são drogas que
causam dependência.
c) O laser, criado para operações ópticas finas, é usado pela in-
dústria bélica para maior precisão em armas de guerra.
X d) O mapeamento do genoma humano está sendo usado para
modificação cromossômica nos seres humanos.
e) O agente laranja, criado como herbicida, foi usado para des-
matar as florestas do Vietnã e acabou contaminando a popu-
lação local.

  C3 • H12 
76.   Talvez o grande evento científico do 
século XXI, até o presente, tenha sido a   76  O Grande Colisor de Hádrons (LHC) é o maior acelerador de partí-
inauguração e as primeiras experiências  culas do mundo: um túnel circular de 27 quilômetros, capaz de
do Large Hadron Collider (LHC), o maior  colidir prótons. Situado na fronteira franco-suíça, pertence ao
e mais potente acelerador de partículas 
do mundo. Sua inauguração em 2008  CERN, Conselho Europeu de Pesquisa Nuclear. Sua construção e
gerou uma ansiedade que não encontra  manutenção envolve mais de 10 mil cientistas e engenheiros,
paralelo desde 2000 com o chamado 
“bug do milênio”. Ainda que essas  pertencentes a mais de 100 países ao redor do mundo. Quando
angústias com a tecnologia sejam em  começou a funcionar, em 2008, disseminou-se entre os leigos o
parte fomentadas ou exageradas pela 
imprensa, elas não deixam de causar  temor que este acelerador de partículas poderia criar um evento
apreensão em alguns indivíduos. Arthur  catastrófico, a abertura de um buraco negro que extinguiria o
C. Clarke disse certa vez que “toda 
tecnologia suficientemente avançada  planeta Terra em segundos. Os cientistas do CERN rapidamente
não se distingue de mágica”, e aqui 
desmentiram estas teorias, garantindo a segurança do equipa-
parece haver um exemplo claro de 
interpenetração entre pensamentos  mento, o que não diminuiu muito a tensão antes do primeiro
mágico e científico. Também é preciso 
destacar o esforço global que vem 
teste, em setembro de 2008.
se constituindo como padrão na 

Science Photo Library/LatinStock


organização científica, cada vez menos 
nacional e cada vez mais dependente 
de esforços combinados. Mas o LHC não 
representa uma conquista da ciência 
aplicada, pois investiga tanto questões 
de física teórica quanto experimental. 
A alternativa que apresenta o correto 
julgamento das proposições é, 
portanto, b.

74

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Sobre o LHC, é correto afirmar:
I. O esforço global de sua construção e manutenção marca bem
o caráter da ciência em uma era globalizada, caracterizada
pela superação de fronteiras nacionais no que diz respeito ao
desenvolvimento teórico e prático.
II. O temor quanto aos poderes destrutivos do LHC deixa claro
que a racionalidade científica plena ainda não foi atingida
pela humanidade.
III. O Colisor de Hádrons representa uma conquista da ciência
aplicada sobre a teoria, uma vez que visa prioritariamente ao
desenvolvimento de produtos.
Está correto o que se afirma:
a) em I.
X b) em I e II.
c) em I, II e III.
d) em II e III.
e) em I e III.

  C2 • H9 
77.   Embora possa haver variação no 
 77  O chamado Método Científico é um conjunto de práticas especí- enunciado do Método Científico, ele 
ficas que, no Ocidente, informam a prática das Ciências desde sempre implica a ordem apresentada 
na alternativa d, a saber: o primeiro 
princípios da Idade Moderna, adquirindo especial nitidez no momento envolve dirigir o foco para 
século XIX. um problema específico da realidade 
que se queira questionar; depois é 
Construction Photography/Corbis/LatinStock

preciso partir de uma hipótese (e 
não chegar a ela, como colocado em 
outras alternativas); a seguir proceder 
à experiência, colher e analisar os 
resultados e daí chegar à interpretação.

75

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O caminho usual da pesquisa científica, de acordo com este mé-
todo, envolve, em ordem temporal:
a) indexação dos dados, modelagem matemática, conversão dos
dados em hipóteses, filtragem dos resultados e publicação.
b) experimentação, formulação de hipóteses e aplicação das hi-
póteses sobre os dados.
c) análise dos constituintes do problema, dedução lógica, síntese
das premissas lógicas e conclusão.
X d) reconhecimento do problema, formulação de hipótese, expe-
rimentação, análise e interpretação.
e) análise dos termos, indexação dos dados, experimentação,
dedução lógica e interpretação.

  C1 • H4 
78.   A questão visa avaliar a compreensão 
mínima da estética kantiana. Esta   78  Para Immanuel Kant, os homens raciocinam por meio dos juízos.
estética é talvez a mais bem acabada  Em relação à estética, Kant postula os chamados juízos de valor,
obra sobre a estética na tradição  que são apresentados por ele como:
ocidental, e assenta-se sobre aquilo 
que Kant chamou de juízos de valor.  a) analíticos e apodíticos, uma vez que conjugam experiência e
Estes juízos são subjetivos, pois são 
dependentes do prazer pessoal  reflexão.
na apreciação de uma obra; e ao 
mesmo tempo são universais porque  b) universais e objetivos, pois independem da experiência pes-
vinculam-se a uma pretensão universal  soal do observador.
de conceituar a beleza. A alternativa 
correta é, portanto, d. c) apriorísticos e analíticos, uma vez que independem de qual-
quer fruição concreta.
X d) universais e subjetivos, pois radicam na imaginação e na asso-
ciação entre o belo e o prazer.
e) apriorísticos e subjetivos, pois ora dependem, ora indepen-
dem da participação do sujeito.

  C3 •  H11 
79.   Ao contrário dos demais marxistas da 
chamada Escola de Frankfurt, Benjamin   79  Em seu ensaio A obra de arte na era da reprodutibilidade técnica,
afirma que a reprodução seriada de  o filósofo alemão Walter Benjamin chama a atenção para o pro-
objetos como a fotografia poderia ser  cesso histórico pelo qual passava então a obra de arte – a perda da
aproveitada em prol da conscientização 
dos tralhadores – a recepção coletiva  chamada “aura” em prol da reprodutibilidade. Ou seja, a obra dei-
da obra se facilitaria, então, e não  xava de ser uma exclusividade ou um exemplar único e revestido
haveria distinção entre a obra original 
e a cópia. Deste modo, ele preza a  de caráter especial (aura), passando a reproduzir-se graças às tec-
reprodutibilidade, mas não porque  nologias contemporâneas como a fotografia. A respeito dessa
ela diferencia o original da cópia (pelo 
contrário), e sim porque ela permitiria,  transição, Benjamin:
enfim, a “politização da arte”.
a) lamenta a reprodutibilidade, pois remove o verdadeiro senti-
do da arte, que seria produzir um objeto especial.
b) lamenta a reprodutibilidade, pois é mais um dos artifícios dos
capitalistas para promover a ideologia da produção em série.

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c) lamenta a reprodutibilidade, pois percebe que a cópia sempre
guardará uma degeneração em relação à matriz original.
d) preza a reprodutibilidade, pois esta permite manter uma dife-
renciação entre a verdadeira obra de arte e produtos deriva-
dos, tidos como inferiores.
X e) preza a reprodutibilidade, pois esta permite certa demo-
cratização no acesso à arte e seu uso como instrumento de
politização.

  C2 • H7 
 80  A fotografia mostra a obra Campbell’s Soup Can (1968), do artista 80.   Um dos expoentes artísticos do século XX, 
Andy Warhol trabalhou inicialmente 
plástico americano descendente de eslovacos Andy Warhol. Inusi- como artista gráfico em revistas e 
tado à primeira vista, o motivo do quadro pintado pelo artista anúncios publicitários. Imerso no 
ambiente de Nova York nos anos 1950, 
está relacionado: não pôde deixar de expressar em sua 
obra uma inquietação com relação ao 

© The Andy Warhol Foundation/Corbis/LatinStock


consumo, tanto de produtos como 
de celebridades. Utilizava, para tanto, 
um estilo visual próximo a anúncios 
publicitários: cores fortes, traços 
carregados, tintas acrílicas. A alternativa 
que assinala a contribuição de Warhol 
para as artes no século XX é, portanto, a a.

Campbell’s Soup Can (1968), Andy Warhol.

X a) a uma reflexão e representação dos valores da sociedade de


consumo e da publicidade.
b) ao questionamento sobre os hábitos alimentares norte-america-
nos, estranhos para um artista de origem polonesa.
c) a preceitos de um tipo neorrealista de arte, interessado em
reproduzir fielmente objetos do cotidiano.
d) em verdade se trata de um esboço para treinamento do artista,
que foi divulgado como crítica à arte formal.
e) a um estilo artístico que valorizava o que antes era detalhe,
em quadros maiores.

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