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DE CIÊNCIAS NATURAIS
PERCURSOS DE PESQUISAS
SOBRE ENSINO E FORMAÇÃO
DE PROFESSORES DE
CIÊNCIAS NATURAIS
José Augusto de Carvalho Mendes Sobrinho
Organizador
PERCURSOS DE PESQUISAS
SOBRE ENSINO E FORMAÇÃO
DE PROFESSORES DE
CIÊNCIAS NATURAIS
2017
Reitor
Prof. Dr. José Arimatéia Dantas Lopes
Vice-Reitora
Profª. Drª. Nadir do Nascimento Nogueira
Superintendente de Comunicação
Profª. Drª. Jacqueline Lima Dourado
1ª edição: 2017
Revisão
Francisco Antonio Machado Araujo
Editoração
Francisco Antonio Machado Araujo
Diagramação
Wellington Silva
Capa
Mediação Acadêmica
Editor
Ricardo Alaggio Ribeiro
E-Book.
ISBN: 978-85-509-0251-7
CDD: 370.7
Bibliotecária Responsável:
Nayla Kedma de Carvalho Santos CRB 3ª Região/1188
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO 7
CAPÍTULO I
A Formação em Ciências Naturais do Pedagogo 13
Versus o Ensino de Ciências Naturais nos Anos
Iniciais do Ensino Fundamental
José Augusto de Carvalho Mendes Sobrinho
CAPÍTULO II
A Alfabetização Científica no Brasil e o Ensino de 39
Biologia: um estudo a partir de Teses e Dissertações
Patrícia da Cunha Gonzaga
José Augusto de Carvalho Mendes Sobrinho
CAPÍTULO III
Formação Continuada do Professor de 61
Ciências Naturais: contribuições e
Estratégias de ensinar-aprender
Caio Veloso
José Augusto de Carvalho Mendes Sobrinho
CAPÍTULO IV
Mobilizando Saberes no Estágio Supervisionado: 85
a prática docente de alunos-mestres de Biologia
Nilda Masciel Neiva Gonçalves
José Augusto de Carvalho Mendes Sobrinho
CAPÍTULO V
O Ensino de Ciências e a Contextualização Lógica 115
da Origem e do Desenvolvimento Histórico dos
Conceitos Científicos
Antonina Mendes Feitosa Soares
José Augusto de Carvalho Mendes Sobrinho
CAPÍTULO VI
Um Estudo sobre a Formação 135
Docente em Química: relato de Pesquisa
Maria de Fátima Cardoso Soares
José Augusto de Carvalho Mendes Sobrinho
A
Coletânea “Percursos de Pesquisas sobre Ensino
e Formação de Professores de Ciências Naturais”
contempla resultados de pesquisas qualitativas
desenvolvidas por integrantes do Grupo de Estudos e Pesquisas
sobre o Ensino e Formação de Professores de Ciências
(GRUPEC), vinculado ao Programa de Pós-Graduação em
Educação (PPGEd), da Universidade Federal do Piauí. O
GRUPEC é cadastrado no Diretório de Pesquisa do Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
No contexto educacional piauiense, como pesquisador
vinculado ao Centro de Ciências da Educação da Universidade
Federal do Piauí e, em especial, como docente permanente
do Programa de Pós-Graduação em Educação (Mestrado e
Doutorado), temos desenvolvido estudos sobre a “Educação
em Ciências Naturais” há algumas décadas, de modo a favorecer
a ampliação do conhecimento na área, principalmente no
contexto educacional piauiense, e contribuir para a formação
de professores dos diferentes níveis de ensino, em especial, de
pesquisadores dessa área em nível de mestrado e doutorado,
que ainda carece de pessoal qualificado, e na ampliação
das pesquisa, com impactos mais intensos no ambiente
educacional. Os trabalhos contidos nesta coletânea abordam:
No Capítulo I, “A Formação em Ciências Naturais do
APRESENTAÇÃO 7
Pedagogo versus o Ensino de Ciências Naturais nos Anos
Iniciais do Ensino Fundamental”, de autoria de José Augusto
de Carvalho Mendes Sobrinho. O estudo qualitativo tem
suporte em pesquisas documentais e bibliográficas, com a
análise do conteúdo seguindo as recomendações de Bardin
(1977). Inicialmente, o autor discorre sobre a concepção de
conhecimento científico e faz uma breve contextualização
histórica do ensino de Ciências Naturais nos anos iniciais. A
seguir, são explicitados aspectos sobre esse ensino no contexto
atual e finaliza com escritos sobre a formação para docência na
área tendo como referência projetos pedagógicos dos Cursos de
Pedagogia de duas Instituições públicas de ensino de Teresina-
Piauí.
Para o autor, o ensino de Ciências Naturais nos anos
iniciais de ensino Fundamental tem experimentado desafios –
como direito da criança, em contexto, fortemente influenciado
pelas relações entre ciência, tecnologia, sociedade e ambiente.
Além disso, na formação de professores para os anos iniciais
do ensino Fundamental precisa ser repensada a formação
em Ciências Naturais como em outras áreas específicas, em
termos de conteúdos específicos e de associação teoria-
prática, visando a instrumentalização para a docência nos
anos iniciais contribuindo, assim, para a democratização da
cultura científica e a formação para a cidadania em sentido
stricto.
Em “A Alfabetização Científica no Brasil e o Ensino de
Biologia: um estudo a partir de Teses e Dissertações”, Capítulo
II, Patrícia da Cunha Gonzaga e José Augusto de Carvalho
Mendes Sobrinho analisam teses e dissertações defendidas no
período de 2010-2014 sobre a alfabetização científica no Brasil
e o ensino de Biologia, identificadas por meio do Banco de
Teses da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior (CAPES).
8
Trata-se de uma pesquisa exploratória, qualitativa e
bibliográfica, em que destacam a necessidade de desenvolver
pesquisas sobre o ensino de Ciências, em especial o ensino de
Biologia, a fim de permitir uma reflexão crítica da educação
científica e biológica que se concretiza diante de uma sociedade
globalizada e em contínua transformação.
Posteriormente, no Capítulo III, “Formação Continuada
do Professor de Ciências Naturais: contribuições e Estratégias
de ensinar-aprender”, Caio Veloso e José Augusto de Carvalho
Mendes Sobrinho, por meio de uma pesquisa qualitativa
descritiva, e embasados nos fundamentos teóricos de autores
que discutem a formação continuada de professores em
Ciências Naturais, descrevem as estratégias de ensinar-aprender
no âmbito da formação continuada do professor de Ciências
Naturais e expõem as principais contribuições da formação em
análise, na visão dos professores.
A pesquisa foi desenvolvida em escolas públicas
municipais de Teresina junto a professores que ministram a
disciplina Ciências Naturais e que são graduados em Ciências
Biológicas, Física ou Química. Os resultados evidenciam que,
de modo geral, as atividades de formação propiciaram aos
professores o conhecimento sobre novas teorias e estratégias
de ensino, facilitaram discussões e trocas de experiências entre
os professores por meio de um trabalho colaborativo e levaram
os interlocutores à reflexão crítica, possibilitando a análise e
reorientação da prática docente.
No Capítulo IV, “Mobilizando Saberes no Estágio
Supervisionado: a prática docente de alunos-mestres de
Biologia”, Nilda Masciel Neiva Gonçalves e José Augusto
de Carvalho Mendes Sobrinho analisam a prática docente
dos alunos-mestres de Biologia e as formas de construção e
mobilização de saberes durante o Estágio Supervisionado.
Especificamente: identifica os saberes mobilizados na
APRESENTAÇÃO 9
prática docente dos alunos-mestres de Biologia no Estágio
Supervisionado e relaciona as práticas docentes com os saberes
mobilizados.
Trata-se de uma pesquisa qualitativa, com a utilização
de entrevista semi-estruturada, tendo como sujeitos
Licenciandos em Biologia matriculados no Estágio IV,
realizando a regência em turmas de Ensino Médio. Após a
coleta e análise de dados, constatou-se que a relação entre a
prática docente de alunos-mestres e a mobilização de saberes
evidencia-se em vários momentos do Estágio Supervisionado,
especificamente durante a escolha de recursos didáticos para
o ensino, diagnostico do nível de conhecimento dos alunos,
elaboração de planos de aula, confecção de jogos didáticos,
elaboração de atividades escolares, relacionamento com
alunos e professor supervisor e durante a reflexão sobre sua
prática. A mobilização dos saberes ocorre em momentos de
tomada de decisão para superação dos desafios cotidianos e
próprios da profissão docente.
Em seguida, temos o Capítulo V, “O Ensino de Ciências
e a Contextualização Lógica da Origem e do Desenvolvimento
Histórico dos Conceitos Científicos”, produzido por Antonina
Mendes Feitosa Soares e José Augusto de Carvalho Mendes
Sobrinho.
O texto contempla discussões realizadas na pesquisa
do Doutorado em Educação, com abordagem qualitativa
e orientada pelos princípios da pesquisa ação, aborda os
contributos da contextualização lógica da origem e do
desenvolvimento histórico dos conceitos no ensino de Ciências
Naturais.
Nas discussões acerca da referida temática, a autora
defende que a compreensão dos aspectos lógicos e históricos
da formação e desenvolvimento dos conceitos é premissa para
que no ensino de ciências naturais, especificamente nos anos
10
finais do Ensino Fundamental, sejam repensadas a prática e a
organização das ações de ensino, no sentido de superar o ensino
reprodutivista voltado para a mera indicação das características
superficiais, específico dos conceitos espontâneos.
O Capítulo VI, “Um Estudo sobre a Formação Docente em
Química: relato de Pesquisa”, elaborado por Maria de Fátima
Cardoso Soares e José Augusto de Carvalho Mendes Sobrinho
tem como objetivo investigar a formação dos professores de
Química e as implicações pedagógicas sobre sua ação docente,
no que se refere ao processo de ensinar a aprender.
A pesquisa de natureza qualitativa e descritiva teve como
campo de estudo escolas públicas de Ensino Médio na cidade
de Parnaíba-PI. Como instrumento de coleta de dados foi
utilizado um questionário semiestruturado, aplicado junto
a sete professores que ministram aulas de Química nesse
nível de ensino. Foram questionados os principais aspectos
relacionados à formação do professor de Química, tais como:
formação inicial e continuada; o uso da informática na sala de
aula; a prática pedagógica no Ensino de Química e a pesquisa
sobre sua formação profissional.
APRESENTAÇÃO 11
CAPÍTULO I
A FORMAÇÃO EM CIÊNCIAS
NATURAIS DO PEDAGOGO VERSUS
O ENSINO DE CIÊNCIAS NATURAIS
NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO
FUNDAMENTAL
N
este texto, refletimos sobre o ensino de
Ciências Naturais nos anos iniciais da escola
Fundamental e a formação do pedagogo
responsável, de forma predominante, pela docência da área
nesse nível de ensino. O estudo é qualitativo, tendo suporte
em levantamentos documentais e bibliográficos. Realizamos
a análise de conteúdo, conforme sugerido por Bardin (1977),
que consistiu em três fases: a) a pré-análise (leitura preliminar,
escolha de documentos e textos, formulação dos objetivos
e direcionamento de análise), b) a exploração do material
(análise sistemática do material selecionado) e c) tratamento
dos resultados e interpretação.
1
Um exemplo de revolução científica colocado por Kuhn (1992, p.
100) diz respeito à crise na Física do fim do século passado (fracasso
do paradigma newtoniano), abrindo caminho para o surgimento da
Teoria da Relatividade (paradigma relativístico).
Referências
Introdução
O
artigo apresenta resultados de pesquisa
bibliográfica a partir da análise de teses e
dissertações defendidas no período de 2010-2014
sobre a alfabetização científica no Brasil e o ensino de Biologia,
identificadas por meio do Banco de Teses da Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), por se
tratar de um órgão que traz segurança quanto ao acesso às
2
Alfabetização científica consiste na capacidade de o aluno ler, compreender
e expressar opinião sobre assuntos que envolvam a Ciência, partindo
do pressuposto de que o indivíduo tenha interagido com a educação
formal, dominando o código escrito e estando apto a resolver
problemas básicos que afetam sua vida. (LORENZETTI; DELIZOICOV,
2001).
Orienta-
Ano de Autor/
Título Definição dor/ Instituição
defesa Titulação
Titulação
Alfabetiza-
ção Científica na Instituto
Formação de Jorge Car- Federal de
Professores a Sílvia Cristi- doso Mes- Educação,
Distância: Ideais na de Sou- seder Ciência e
Mestrado 2011 za Trajano
Comuns da Prá- Tecnologia
Doutor
tica de Ensino Mestra do Rio de
em Ciências: Janeiro
uma Proposta (IFRJ)
Metodológica
Alfabetiza-
ção Científi-
ca para Alunos
de Ensino Médio
em Encontros Michele Evelyse
Marques dos Santos Fundação
Científicos da Doutora-
011 Longo Lemos Oswaldo
Área de Biociên- do
Cruz (RJ)
cias: Reflexões à Doutora Doutora
Luz da Teoria da
Aprendizagem
Significativa
Subversiva
Restinga em Univer-
Santa Catarina Marilete Lucia Se- sidade
sob a Óptica Mestrado 2012 Gasparin vegnani Regional
da Alfabetiza- Mestra Doutora de Blume-
ção Científica nau (SC)
3
Os quelônios, ou testudines, são répteis da ordem Chelonia, cujos
representantes são as tartarugas marinhas e de água-doce; cágados,
Considerações finais
Referências
Caio Veloso
Mestre em Educação (UFPI)
Professor permanente do IFMA (Campus Codó)
Introdução
C
ompreendemos que a aprendizagem dos alunos
está intimamente relacionada à formação de
profissionais habilitados para o ensino. Essa
formação do professor de Ciências Naturais tem início com a
graduação em Ciências Naturais, Ciências Biológicas, Química,
Física ou Geologia, licenciaturas exigidas para o magistério em
Ciências nos anos finais do Ensino Fundamental. Contudo,
AprofessoraMartaVannuccicomplementaoposicionamento
da Neusa Amato ao afirmar que “[...] gostei muito da formação,
muito boa, mas na escola faltam muitos instrumentos para
botar em prática o que aprendemos e discutimos na formação,
dificultando essa reorientação da prática”.
Na análise da subcategoria em foco, no que diz respeito
às contribuições da formação continuada no âmbito da prática
docente, verificamos que, de modo geral, as atividades de
formação propiciaram aos professores o conhecimento sobre
Considerações finais
Referências
Introdução
O
Estágio Supervisionado integra-se ao currículo
dos cursos de formação de professores em
cumprimento à Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional (Nº 9.394/96) e às Diretrizes Curriculares
Nacionais para a Formação de Professores da Educação Básica,
em nível superior, curso de licenciatura, de graduação plena
(CNE, 2002) que primam pela prática pedagógica orientada,
de forma articulada, pela instituição formadora e instituição
onde se realiza.
86 Nilda Masciel Neiva Gonçalves • José Augusto de Carvalho Mendes Sobrinho
Assim, inicialmente, refletimos sobre o Estágio
Supervisionado como espaço de formação, apresentando
lacunas durante sua realização e saberes mobilizados por
alunos-mestres. Posteriormente, pensando na prática
docente, apontamos como ocorre o planejamento da prática
de alunos-mestres; a prática de pesquisa durante o Estágio
Supervisionado; a prática reflexiva e a escolha de estratégias de
ensino no Estágio Supervisionado.
Diante da consideração de que o Estágio Supervisionado
é realizado no Ensino Fundamental e Médio, optamos
por desenvolver a pesquisa com os alunos do Estágio
Supervisionado IV, ou seja, com os alunos que estão
realizando a prática docente no Ensino Médio. Essa escolha
vem ao encontro da expansão desse nível de ensino nas últimas
décadas, mudanças estruturais que decorrem da chamada
“revolução do conhecimento” e que alteram o modo de
trabalho e as relações sociais. Outro motivo dessa escolha é o
fato de que o estágio contempla, no seu currículo, a disciplina
Biologia que tem um elevado nível de proximidade com os
conhecimentos das Ciências Biológicas.
“O Ensino Médio é, portanto, etapa final de uma educação
de caráter geral, afinada com a contemporaneidade, com a
construção de competências básicas, que situam os educandos
como sujeitos produtores de conhecimentos e participantes
do mundo do trabalho” (BRASIL, 1999). Também prioriza a
formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e
do pensamento crítico.
Ainda, com relação à escolha do Estágio Supervisionado
IV, convém mencionar que esta opção se deve ao fato de que
essa etapa do estágio se caracteriza como a fase final da
Formação Inicial, em que se efetivam os conhecimentos da área
de Biologia e a compreensão do fenômeno educativo em sua
totalidade.
88 Nilda Masciel Neiva Gonçalves • José Augusto de Carvalho Mendes Sobrinho
Biologia e as formas de produção e mobilização de saberes no
Estágio Supervisionado em escolas da rede pública de ensino
no município de Picos-PI.
Sendo assim, tem abordagem qualitativa, por optarmos
pela coleta verbal de alguns dados que não podem ser descritos
numericamente. Dessa forma, para Richardson et al. (2010, p.
90), “[...] a pesquisa qualitativa pode ser caracterizada como
a tentativa de uma compreensão detalhada dos significados e
características situacionais apresentadas pelos entrevistados
[...]”. Os entrevistados de forma espontânea ofertaram dados
necessários à pesquisa que claramente foram analisados.
A espontaneidade dos sujeitos do campo investigado e
pesquisador favoreceram a compreensão dos fatos investigados.
A pesquisa foi realizada em oito escolas da rede pública
estadual de ensino, localizadas na zona urbana do município
de Picos - Piauí. Para a seleção das escolas campo de pesquisa,
alguns critérios foram determinantes: a) oferta do Ensino Médio;
b) ser escola conveniada à UFPI; c) presença de professores
supervisores de estágio; d) ter alunos da licenciatura em
Ciências Biológicas da UFPI, realizando Estágio de Regência.
Como sujeitos da pesquisa tivemos oito discentes do
Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas da UFPI - Campus
Senador Helvídio Nunes de Barros que realizavam o Estágio de
Regência em escolas da rede pública de ensino do município de
Picos e que aceitaram participar da pesquisa e oito professores
supervisores de estágio. Cabe esclarecer que nesse capítulo
trabalhamos apenas com os dados coletados junto aos alunos-
mestres. Como é levado, em consideração a manutenção do
anonimato dos sujeitos, os alunos-mestres foram nomeados na
pesquisa por: Ana, Beatriz, Carla, Daniela, Eva, Fátima, Gorete
e Hipólito.
Para análise dos dados da pesquisa foi utilizada a
técnica de análise de conteúdos. Para Bardin (2011, p. 43),
90 Nilda Masciel Neiva Gonçalves • José Augusto de Carvalho Mendes Sobrinho
Estágio Supervisionado importante na formação inicial de
professores. Para alguns o Estágio Supervisionado é momento
oportuno para realizar a integralização entre teoria e prática.
Essa concepção de existência da relação teoria e prática
evidenciando-se durante o Estágio advêm da ausência de
percepção da relação de dependência existente entre a teoria
e a prática durante toda a formação. “Autonomia da teoria,
quando se proclama uma teoria onipotente em suas relações
com a prática, autonomia da prática, quando se acredita que
a prática fala por si mesma” (PIMENTA; LIMA, 2011, p. 91). A
relação de dependência surge com a visão indissociável entre
ambas enquanto práxis. Assim afirma Pimenta e Lima (2011,
p. 92):
92 Nilda Masciel Neiva Gonçalves • José Augusto de Carvalho Mendes Sobrinho
dos conteúdos por métodos considerados tradicionais, com
a desvalorização do diálogo pedagógico e de procedimentos
interdisciplinares, dificultando, assim, sua compreensão.
Para Lima (2004, p. 41), “O professor, em seu fazer
docente, precisará recorrer ao seu conhecimento científico
disciplinar (ligado à área de conhecimento) e o científico
pedagógico para desenvolver melhor sua prática e trabalhar
com os conteúdos da área específica de sua formação”. A
ausência do trabalho docente a nível disciplinar científico e
pedagógico ocasiona falhas na aprendizagem de conteúdos
que, por consequência, terá professores de Ciências e Biologia
com ausência de domínio de conteúdos, portanto, com
pouca possibilidade do desenvolvimento de um trabalho
contextualizado. A ausência do domínio de conteúdos pode
ocasionar a insegurança, ausência do uso de novas tecnologias
e novas técnicas de ensino.
Alguns alunos-mestre expuseram que existe uma diferença
entre os conteúdos apresentados no Ensino Superior e aqueles
trabalhados na Educação Básica. Sendo os conteúdos do
Ensino Médio considerados mais simples que os conteúdos da
Educação Superior poderiam os acadêmicos, acostumados a
trabalhar com textos científicos, ter a mesma habilidade com
os textos produzidos para a clientela do Ensino Médio? Tendo
os cursos de formação de professores o objetivo de preparar
os alunos-mestres para o trabalho na Educação Básica,
acreditamos ser necessária a articulação entre o domínio de
conhecimentos científicos típicos da academia e o currículo
escolar. Nesse contexto, corroboram Lima e Silva, (2004, p.12)
ao afirmarem que: “O conhecimento científico ao inserir-se no
currículo escolar necessita articular-se com o conhecimento
pedagógico, pois muda do contexto da produção para o
contexto do uso – ou apropriação daquele conhecimento,
transformando-se, assim, em conhecimento escolar”. Faz-
94 Nilda Masciel Neiva Gonçalves • José Augusto de Carvalho Mendes Sobrinho
como dificuldade o desinteresse dos educandos para com as
aulas. Esse desinteresse retrata a necessidade de mudança da
prática docente para realização da aprendizagem sistematizada.
O trabalho com situações artificiais de ensino, verbalísticas, que
forçam a ligação entre conteúdos e procedimentos, mantendo a
ênfase no comportamento discente de meros repetidores, mas
nunca críticos ou criadores, ainda integra o processo educativo
na Educação Básica, como afirma Giesta (2005), impedindo o
desenvolvimento da criticidade do educando e a aprendizagem
de saberes que propiciam a formação da cidadania.
Outra dificuldade apresentada foi a de adequar a
quantidade de conteúdos ao tempo da aula. Essa exigência
ao trabalho docente, segundo Perrenoud (1999), não permite
que os alunos, sobretudo os mais fracos, possam construir
competências e habilidades conforme seu ritmo, desconsidera
as diferenças individuais. Para os alunos-mestres este é um
momento complexo que pode gerar desconforto ou frustrações
por saber que não conseguiu desenvolver em todos os discentes
os saberes e habilidades essenciais.
Os alunos-mestres, em sua maioria, acreditam que a
Universidade pode contribuir para uma melhor realização
do Estágio Supervisionado através de uma reformulação da
matriz curricular do curso, com a oferta apenas do Estágio
Supervisionado no último período letivo, com a escolha de
escolas adequadas para realização do Estágio Supervisionado.
Nesse contexto, a Resolução 22/09 CEPEX atribui ao
Coordenador de Estágio a responsabilidade pela escolha dos
campos de realização do Estágio Supervisionado, bem como
a lotação dos alunos-mestres em cada um desses espaços. O
coordenador como um agente facilitador da realização do
estágio pode lotar os alunos-mestres em escolas o mais próximo
possível da sua residência, desde que estas sejam viáveis à
realização do estágio, eliminando assim, as dificuldades
referentes ao deslocamento do estagiário.
96 Nilda Masciel Neiva Gonçalves • José Augusto de Carvalho Mendes Sobrinho
momento oportuno, cabe ressaltar a importância de adquirir
conhecimentos teóricos sobre a aprendizagem de Biologia
para utilização de técnicas de ensino realmente adequadas à
aprendizagem de conhecimentos específicos da área.
Como a prática docente é permeada de vários saberes e
todos têm sua importância, é essencial que os alunos mestres
reflitam sobre a construção e mobilização de saberes, pois estes,
ao serem mobilizados, trazem a possibilidade de mudanças no
seio do processo educativo.
98 Nilda Masciel Neiva Gonçalves • José Augusto de Carvalho Mendes Sobrinho
a fase em que o professor de forma negativa refere-se ao sistema
e também ocorre no período de 25 a 35 anos de profissão.
O desinvestimento, última fase, impõe-se pela ausência de
investimentos no trabalho para maiores investimentos em si
próprios, perdura até o final da carreira.
Tendo como base os estudos de Huberman, podemos
constatar que professores com pouco tempo de serviço e
professores na fase final de sua carreira não são indicados para
a supervisão dos alunos-mestres, pois, no início da carreira
ainda são muitos os medos e inseguranças, embora exista
a motivação e, no seu término, não existem investimentos e
motivação para a busca de novas práticas. Cabe aqui ressaltar
que as exceções devem ser consideradas. Os docentes que se
encontram na terceira e quarta fase seriam os ideais para a
função de supervisores de estágio.
Nesse contexto, considerando a experiência de tais
professores e seu fator motivacional serão capazes de planejar
com os alunos-mestres levando em consideração os objetivos
que desejam alcançar, as situações específicas em que se
inscrevem, as relações possíveis, cálculo do tempo e recursos
de que dispõem, mobilização de conhecimentos necessários e
avaliação da necessidade do esforço que irão desprender.
O professor supervisor tem um papel fundamental durante
o Estágio Supervisionado. Sua orientação e acompanhamento
favorece a realização de práticas variadas e aprendizagem de
técnicas que são próprios da profissão. Portanto, perguntamos
aos alunos-mestres que tipo de orientações receberam do
professor supervisor.
Os alunos-mestres tiveram em comum nas suas falas
a preocupação do professor supervisor com orientações
referentes ao trabalho com os conteúdos, essa preocupação
está relacionada com a importância atribuída a tais conteúdos.
Carvalho e Gil- Perez (2011, p. 33), sem menosprezar o ensino
100 Nilda Masciel Neiva Gonçalves • José Augusto de Carvalho Mendes Sobrinho
Do aluno é requerido, no processo de avaliação, a posse
quantitativa de determinados conceitos, técnicas e
capacidades. Essas exigências são medidas e pesadas,
atribuindo-lhes conceitos que refletem a expectativa do
programa de ensino desenvolvido. Vê-se, pois, que tal
processo parte do pressuposto de que avaliar significa
medir, como uma balança, o peso relativo de cada um
dos lados do processo. Do lado do programa de ensino,
estabelece-se uma quantidade de conhecimentos que ele
deve dominar para se colocar na condição de aprendiz
competente.
102 Nilda Masciel Neiva Gonçalves • José Augusto de Carvalho Mendes Sobrinho
o desenvolvimento da capacidade de reflexão. Transformar o
aluno-mestre em um professor pesquisador é possível através
da investigação da sua própria prática. Investigar sua própria
prática é refletir na e sobre a ação. Assim, buscamos saber se
os alunos-mestres iniciaram o processo de reflexão sobre sua
prática durante o Estágio Supervisionado:
104 Nilda Masciel Neiva Gonçalves • José Augusto de Carvalho Mendes Sobrinho
Nesse contexto, quando alunos-mestres relatam que na
universidade ouviram muito falar sobre a prática reflexiva na
ação e sobre a ação (SCHÖN, 1992), nos leva a compreender
que a universidade, através dos professores formadores, está
apresentando aos alunos-mestres subsídios teóricos para
iniciarem o processo reflexivo durante a formação inicial.
O processo reflexivo está atrelado às diversas técnicas de
ensino e à ação docente, então buscamos saber se os alunos-
mestres estavam realizando a escolha de técnicas de ensino
durante o Estágio Supervisionado, ou se estavam seguindo
apenas as indicações dos professores supervisores. Para
nossa alegria, constatamos que os alunos-mestres estavam
escolhendo as estratégias de ensino a serem aplicadas durante
a regência de sala de aula:
106 Nilda Masciel Neiva Gonçalves • José Augusto de Carvalho Mendes Sobrinho
revistas, suplementos de jornais, videocassetes, CD-ROMs, TVs
educativas e de divulgação científica e rede WEB precisa estar
mais presente e de modo sistemático na educação escolar.”
(DELIZOICOV, ANGOTTI, PERNAMBUCO, 2007, p. 65). Seu
uso crítico e consciente é necessário para evitar a alienação
referente a interesses comerciais ou discriminações culturais.
A utilização de recursos didáticos variados pode
atrair e interessar os alunos, atendendo às diferenças
individuais. Atividades em espaços extraclasses também são
viáveis à aprendizagem, desde que, alguns cuidados sejam
administrados. Zoológicos, jardins botânicos, hortas, sítios
arqueológicos, parques, são espaços-tempos em que os
conhecimentos biológicos circulam (MARANDINO; SELLES;
FERREIRA, 2009), devem ser utilizados pelos professores para
construção de conhecimentos.
A construção de materiais didáticos pelos alunos-mestres,
como jogos didáticos, foi citado pelos sujeitos. A UFPI estimula
a criação de diversos recursos didáticos durante a realização
da disciplina Estágio Supervisionado I do Curso de Ciências
Biológicas, práticas criativas voltadas para confecção de jogos
evidenciam-se durante essa etapa, as aprendizagens efetivadas
servem de suporte para novas iniciativas e construção de muitos
outros recursos.
Quanto ao uso de recursos tecnológicos como vídeo,
computadores, data show, são poucas as iniciativas de uso
desses equipamentos por alunos-mestres, seu uso ocorre de
forma limitada e tímida. O fato dos alunos não se sentirem
seguros para a utilização desses recursos pode estar associada
à ausência de domínio de conteúdos, falta de domínio das
tecnologias de informação ou mesmo de estímulo para arriscar
uma nova prática. É fato que os recursos tecnológicos fazem
parte do cotidiano do alunado e que os professores sejam eles
alunos-mestres ou pessoas mais experientes devem aderir à sua
Considerações Finais
108 Nilda Masciel Neiva Gonçalves • José Augusto de Carvalho Mendes Sobrinho
do processo de ensino- aprendizagem. Os sabres experienciais
foram construídos e mobilizados no exercício da profissão, á
medida que alunos-mestres passaram a conhecer a realidade
escolar, seus desafios, a conviver com outros profissionais da
educação e a refletir sobre sua prática e a de outros.
A relação entre a prática docente de alunos-mestres e a
mobilização de saberes evidencia-se em vários momentos do
Estágio Supervisionado. Há a mobilização dos saberes durante
a escolha de recursos didáticos para o ensino, diagnostico do
nível de conhecimento dos alunos, elaboração de planos de
aula, confecção de jogos didáticos, elaboração de atividades
escolares, relacionamento com alunos e professor supervisor,
reflexão sobre sua prática. Saberes que se manifestam na
tomada de decisão para superação dos desafios cotidianos e
próprios da profissão docente. A experiência profissional no
Estágio Supervisionado mobiliza conjuntamente os saberes, que
são construídos ao longo da vida dos alunos-mestres enquanto
alunos da Educação Básica e estudantes da graduação.
Estar orientado e acompanhado durante o Estágio
Supervisionado é importante para que o aluno-mestre se sinta
seguro e possa esclarecer dúvidas referentes à sua prática ou
atividades a serem desenvolvidas. Todos os alunos-mestres
afirmaram ter o acompanhamento do professor supervisor
durante a realização do Estágio Supervisionado e ter orientações
referentes ao planejamento da aula quando solicitado. O
planejamento das atividades de regência é um desafio para
alguns alunos-mestres, pois ainda não há no momento inicial
do Estágio Supervisionado o conhecimento da aprendizagem
do alunado a ser trabalhado ou do ritmo de aprendizagem da
turma. Refazer o planejamento para o atendimento das reais
necessidades do educando foi opção adotada por alguns dos
alunos-mestres. Seguir as orientações e estratégias já aplicadas
pelo professor supervisor, à escolha de outros.
Referências
110 Nilda Masciel Neiva Gonçalves • José Augusto de Carvalho Mendes Sobrinho
_______. Conselho Nacional de Educação. Resolução CP nº 1, de
18 de fevereiro de 2002. Institui as diretrizes curriculares nacionais
para a formação de professores da educação básica, em nível
superior, curso de licenciatura, de graduação plena. Disponível
em: <http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/CP022002.pdf>.
Acesso em: 14 dez. 2014.
112 Nilda Masciel Neiva Gonçalves • José Augusto de Carvalho Mendes Sobrinho
LIMA, M. S. L. A hora da prática. Fortaleza: Fundação
Demócrito Rocha, 2004.
114 Nilda Masciel Neiva Gonçalves • José Augusto de Carvalho Mendes Sobrinho
CAPÍTULO V
O ENSINO DE CIÊNCIAS E A
CONTEXTUALIZAÇÃO LÓGICA DA
ORIGEM E DO DESENVOLVIMENTO
HISTÓRICO DOS CONCEITOS
CIENTÍFICOS
Introdução
A
discussão em torno desta temática engloba, na
sua centralidade, assuntos em torno da origem
e do desenvolvimento de conceitos científicos e
suas possibilidades no ensino de Ciências Naturais. Partimos
do entendimento de que os processos de ensinar e de
apreender fazem emergir a necessidade de compreender a sua
complexidade. Essa complexidade assemelha-se à apontada
116 Antonina Mendes Feitosa Soares • José Augusto de Carvalho Mendes Sobrinho
Historicamente, as discussões que tratam das capacidades
cognoscitivas do homem antecedem as que remetem ao
movimento do pensamento e do desenvolvimento conceitual.
Remontam ao essencialismo e ao naturalismo.
Embora as contribuições de filósofos e de pesquisadores
da Idade Média e Moderna tenham sido evidentes, foi somente
a partir da abordagem dialética do psiquismo humano, por
volta do século XIX e início do século XX, em particular com
os estudos de Vigotski (1988) sobre o desenvolvimento do
pensamento e da linguagem no que concerne aos aspectos
ontogenéticos, filogenéticos e suas inter-relações, que veio
à tona inovações metodológicas focando a formação e o
desenvolvimento de conceitos. (FERREIRA, 2007).
Dentre estas inovações, ressaltamos os princípios lógicos
da dialética, que possibilitam a análise dos fenômenos em
sua dinâmica, mutabilidade, uniformidade e estabilidade,
buscando a unidade entre os aspectos que os constituem. Pois
“[...] a força da dialética como lógica está em sua capacidade
de ligar o conteúdo objetivo dos conceitos e teorias da ciência à
sua mutabilidade e fluência” (KOPNIN, 1972, p. 76). Para esse
autor, a dialética demonstra que a verdade objetiva precede do
desenvolvimento. Na lógica dialética, as leis e as categorias se
constituem em método de interpretação da realidade em sua
objetividade, situada fora da consciência do homem, ou do
próprio pensamento enquanto atividade subjetiva voltada para
o conhecimento das coisas, dos processos, das relações e das
leis. A seguir, discutimos o movimento lógico do pensamento
necessário e a apropriação conceitual.
118 Antonina Mendes Feitosa Soares • José Augusto de Carvalho Mendes Sobrinho
compreensão mútua do meio em que vive e passa a constituir-se
como base para interação verbal entre as pessoas, “[...] porém,
os processos mediante os quais o conhecimento é produzido
não são tão evidentes”. (FERREIRA, 2009, p. 18).
Quando uma criança nomeia qualquer animal que
apresente semelhanças com cachorro de “au... au...”, por
exemplo, está iniciando seu processo de apropriação conceitual.
A esse respeito, Ferreira (2009) diz que o processo de abstração
e de generalização se dá a partir das informações advindas do
seu contexto sociocultural apresentado pelas funções mentais
– sensação e percepção. Esse processo se inicia ao associar um
objeto empírico (cachorro, gato, tigre, etc.) a uma abstração
“au... au...” que a criança generaliza para todos os animais
que possuem quatro patas. Mesmo na tenra idade, como nas
demais, os objetos ou situações que apresentam alguns traços
comuns evocam respostas semelhantes.
Da mesma forma, “[...] quando uma criança associa uma
palavra a um objeto, ela prontamente aplica essa palavra a um
outro objeto que a impressione, por considerá-lo sob certos
aspectos semelhante ao primeiro” (VIGOTOSKI, 2005, p. 67).
Assim, à medida que a criança vai descobrindo a existência de
diferentes tipos de animais, começa a distingui-los e a nomeá-
los corretamente. No processo de identificar e de separar
repetidas vezes os elementos empíricos diferentes (animais,
cores, seres vivos, não vivos), a criança consegue formar
conceitos, agrupando elementos empíricos semelhantes, e
também expressar-se sobre eles.
É o que no entendimento de Vigotski corresponde à
primeira fase de desenvolvimento do pensamento, chamada
de pensamento sincrético. Nessa fase, é produzida a
internalização de significados de determinadas palavras, ou
seja, o sujeito:
120 Antonina Mendes Feitosa Soares • José Augusto de Carvalho Mendes Sobrinho
aves, seres vivos e não vivos por suas semelhanças, por
seus contrastes e por suas contiguidades, desenvolvendo
complexos associativos, formando os pseudoconceitos,
tendo em vista que as conexões que constroem os complexos
são concretas, reais e não abstratas (NÚÑEZ, 2009, p. 35),
a criança não consegue, a princípio, agrupar os morcegos,
baleias, golfinhos e peixe-boi ao grupo dos mamíferos. Não
conseguindo também entender por que os vírus são agrupados
em um grupo específico, se em determinadas condições se
enquadram como seres vivos e, em outras, como não vivos.
Pois, nessa fase, as generalizações, os agrupamentos são
feitos tendo como base as relações que estão presentes na
vida prática, isto é, na experiência visual.
Todavia, a formação e a apropriação de conceitos, que
constitui a terceira fase de desenvolvimento do pensamento,
envolve muito mais do que a associação de elementos empíricos
às palavras que o designam. Na verdade, o pensamento sincrético
e o pensamento por complexos se constituem nos primeiros
passos para apropriação conceitual, sendo denominados por
Vigotski de conceitos espontâneos, ou seja, os conhecimentos
que os alunos já possuem quando chegam à sala de aula,
decorrentes de experiências vivenciadas no contexto social e,
na sua maioria, na própria sala de aula.
Os pseudoconceitos são fenotipicamente iguais a um
conceito, porém psicologicamente diferentes, em virtude da
especificidade das abstrações geradas em seu processo de
elaboração. A esse respeito, Ferreira (2009, p. 19) afirma que
são assim denominados em virtude da ausência de percepção
consciente de suas relações:
122 Antonina Mendes Feitosa Soares • José Augusto de Carvalho Mendes Sobrinho
atributos abstraídos são sintetizados novamente, tornando-
se o principal objeto do pensamento. Nesse entendimento, o
conceito não se reduz a descrever os fenômenos, mas a definir o
que eles são. Ressaltamos ainda que essa modalidade conceitual
se desenvolve em condições de atividades estruturadas,
semelhante ao que ocorre no âmbito da escola, sendo que o
educando, ao iniciar os anos finais do ensino fundamental, já
possui níveis da maturidade bastante desenvolvidos das funções
psicológicas mentais, como: percepção, atenção e memória,
importantes para a apropriação de conceitos científicos.
Nessa etapa, a criança possui capacidades para
apropriação de conceitos, mas dependendo do nível de
consciência que possui, na maioria das vezes não vai saber aplicá-
los na resolução de tarefas, sendo, portanto, responsabilidade
da escola, por meio da aprendizagem, resolver essa dupla
problemática. (NÚÑEZ, 2009). Convém, no entanto, ressaltar
a aprendizagem como uma das principais fontes de conceitos
da criança e uma poderosa força capaz de direcionar o
desenvolvimento, uma vez que a consciência chega à criança
por meio dos portões dos conceitos científicos. (VIGOTSKI,
2005).
Ao compreender a escola como instância sistematizadora
desse tipo de conhecimento, especificamente na disciplina de
Ciências Naturais, cada atividade realizada pelo aluno carrega
uma relação com o seu desenvolvimento, eis, pois, que na
prática as ações de ensino devem expressar intencionalidade em
cada conteúdo imprescindíveis no desenvolvimento do aluno.
No ensino sistematizado, tanto os conceitos científicos
quanto os espontâneos começam trabalhando com o próprio
conceito em si, por sua definição discursiva. Nos científicos,
essa definição é seguida de atividades que pressupõem o uso
consciente dos atributos que compõem a definição do conceito
na solução de diversas tarefas, tais como identificar, comparar,
4
Nos conhecimentos teóricos se fixa a relação do universal realmente
existente num sistema integrado com suas diferentes manifestações, a
relação do universal com o particular. (Tradução nossa).
Os conhecimentos empíricos são elaborados no processo de
5
124 Antonina Mendes Feitosa Soares • José Augusto de Carvalho Mendes Sobrinho
Dessa forma, inferimos que a apropriação de conceitos
científicos se dá de forma inversa dos espontâneos. O primeiro
contato com o conceito espontâneo costuma estar vinculada
ao choque imediato da criança com o objeto, estabelecendo
uma relação direta com objetos vivos reais, enquanto que com
os conceitos científicos, ao contrário, não começa pela relação
direta e imediata com o objeto, mas pela relação mediada com
o objeto. Como esclarece Vigotiski (2009, p. 348) “[...] se nos
conceitos espontâneos a criança caminha do objeto para o
conceito, nos científicos é constantemente forçada a fazer o
caminho inverso do conceito ao objeto.”
A criança, ao iniciar o aprendizado escolar auxiliada por
professores e colegas mais experientes, emite significados com
níveis de generalizações não compatíveis com os dos conceitos
científicos. Assim, ela pode identificar o cachorro como um
mamífero, no entanto, se for submetida a uma situação em que
necessite aplicar o conceito de mamífero, poderá não saber,
pois não tem consciência do seu verdadeiro significado, ou
seja, não desenvolveu o nível de generalização compatível com
a apropriação dos conceitos científicos.
No processo de apropriação de conceitos científicos,
desenvolve uma nova forma de ver e de pensar objetos do
conhecimento. Antes frutos da percepção, agora com a
produção de uma nova linguagem semântica e abstrata. As
palavras são separadas dos objetos que elas representam e são
manipuladas mentalmente sem a necessidade de recorrer a
imagens. A “[...] atenção do aluno se desloca da relação signo-
objeto para a relação signo-signo, característica do pensamento
abstrato”. (NÚÑEZ, 2009, p. 45).
Apropriar-se do teor do conceito e da forma de interação
dele com a realidade não é um processo simples, exige na
organização do ensino a mediação entre aspectos lógicos,
históricos e psicológicos, sobre os quais discutimos a seguir.
126 Antonina Mendes Feitosa Soares • José Augusto de Carvalho Mendes Sobrinho
torna cognoscível pelo sujeito. Entretanto, esse desvelamento
do fenômeno pelo sujeito só se torna possível:
128 Antonina Mendes Feitosa Soares • José Augusto de Carvalho Mendes Sobrinho
nas suas relações e conexões, assim como nas suas múltiplas
interferências.” (RUBINSTEIN, 1973, p. 126). Podemos, a
partir dessa compreensão, inferir que o pensamento tem por
finalidade apreender a essência dos fatos com suas qualidades
e natureza, impulsionando o desenvolvimento do sujeito.
Nessa dinâmica de apropriação e de desenvolvimento
de conceitos, o pensamento, em seu movimento, recorre a
múltiplos procedimentos e processos mentais vinculados entre
si, constituindo uma unidade. A esse respeito, Ferreira (2007, p.
58, grifos meus) pontua que:
130 Antonina Mendes Feitosa Soares • José Augusto de Carvalho Mendes Sobrinho
meio das sensações e das percepções de nossos sentidos sobre
a realidade objetiva e sobre o estabelecimento de leis empíricas.
Mas, seguindo um pensamento lógico que vai do universal, do
geral, para suas manifestações particulares, percorrendo o
caminho do abstrato ao concreto, no conhecimento científico
ocorrem os processos de transformação da relação universal
em suas variadas formas particulares.
Dizemos, pois, que o processo se inicia no ensino de
ciências com a própria definição dos conceitos de forma
abstrata, completando o caminho de cima para baixo, rumo
às manifestações concretas, no movimento dialético do geral
para o particular. Entretanto, Núñez (2009, p. 46) afirma que
esse movimento de apropriação conceitual de cima para baixo
“[...] não significa conscientização do conceito, embora seja
necessário. O aluno pode aprender o conceito com um caráter
formal, verbal”.
A mera indicação das características essenciais que
corresponde aos seus atributos e definições é insuficiente para
mudar o caráter espontâneo do conhecimento. É necessário
no ensino de ciências adotar práticas e organizar o ensino
com ações que exijam o uso da definição de conceitos para
a resolução de problemas. Trata-se também de disponibilizar
situações de ensino que permitam não somente a definição de
conceitos científicos, mas a sua correta aplicação.
Considerações finais
Referências
132 Antonina Mendes Feitosa Soares • José Augusto de Carvalho Mendes Sobrinho
KOPNIN, P. V. Fundamentos Lógicos da Ciência. Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira. 1972.
SOARES, A. M. F. Tese
134 Antonina Mendes Feitosa Soares • José Augusto de Carvalho Mendes Sobrinho
CAPÍTULO VI
UM ESTUDO SOBRE A FORMAÇÃO
DOCENTE EM QUÍMICA:
RELATO DE PESQUISA
Introdução
A
vivência no contexto educacional permite
observarmos que nos últimos tempos, muitas
“inovações didáticas, com quebra de paradigmas”
surgiram na educação escolarizada, com o objetivo de qualificar
cada vez mais o processo de ensino e aprendizagem. Em
contrapartida, percebemos muitas inquietações, ansiedades,
desânimo e, às vezes, desencanto pelo ofício docente nos cursos
de formação de professores, e estes se constituem como temas
provocativos nas licenciaturas.
136 Maria de Fátima Cardoso Soares • José Augusto de Carvalho Mendes Sobrinho
traz considerações importantes acerca do ensino de Química
atrelado à formação de professores; Metodologia, que apresenta
as principais informações sobre a metodologia usada para a
realização da pesquisa empírica; Um Estudo sobre a Prática
Docente em Química: contexto atual, no qual apresentamos
os principais resultados da pesquisa desenvolvida, além das
Considerações finais e Referências.
138 Maria de Fátima Cardoso Soares • José Augusto de Carvalho Mendes Sobrinho
Dessa forma, vale destacar a necessidade do
desenvolvimento do profissional docente, desde a formação
inicial até a continuada, de saberes diversos que permitam ao
professor atuar na área de ensino, superando, desta forma,
uma série de ideias pré-concebidas sobre a atividade docente,
ou seja, para o exercício do ensino são necessárias habilidades
e competências, não bastando apenas “conhecer o conteúdo”,
“ter experiência”, “seguir a intuição” ou “ter talento” mas,
principalmente, a pesquisa (VASCONCELOS, 2000).
A pesquisa é reconhecida como prática de grande valor
formativo nos cursos de graduação, configura-se como uma
prática necessária para a formação inicial de professores
(GALIAZZI, 2003; MALDANER, 2000), pois a pesquisa é
inerente ao exercício da docência e é a maneira mais prática
para se efetivar a formação continuada.
Pela pesquisa, o professor poderá tornar mais flexível a
sua proposta pedagógica, ampliar a compreensão do processo
educativo e entender o próprio desenvolvimento e de seus alunos.
Acreditamos que o docente, ao atuar como pesquisador de sua
própria prática, enriquece seus conhecimentos profissionais
e com isso se torna melhor professor, enquanto também
proporciona aos alunos ambientes de aprendizagem.
Maldaner (2000) destaca que ausência de processos
reflexivos sobre a ação do professor, favorece a reprodução,
um processo que inibe o desenvolvimento profissional docente.
Com o mesmo olhar, André (2001) defende que a pesquisa
do professor deve envolver questionamento reconstrutivo,
construção de argumentos pela leitura, escrita e diálogo crítico.
Carvalho e Gil-Pérez (2003) apresentam como
necessidades formativas dos professores: conhecer o conteúdo
da disciplina; questionar as ideias docentes de “senso comum”
sobre o ensino e a aprendizagem de Ciências, o que exige
conhecer a existência de um pensamento espontâneo do que
140 Maria de Fátima Cardoso Soares • José Augusto de Carvalho Mendes Sobrinho
o leque formativo desses profissionais. Interpretando essa
Resolução, Dourado (2015, p.313) afirma que:
Metodologia
142 Maria de Fátima Cardoso Soares • José Augusto de Carvalho Mendes Sobrinho
As respostas dos docentes A e B vão ao encontro de
pesquisas como as realizadas por Gatti (2010), que evidencia
problemáticas na formação inicial de professores oriundos das
licenciaturas. Entretanto, contemplam elementos básicos que
norteiam o iniciar na profissão, como o conhecer a matéria a ser
ensinada. Para o professor C: “Os conhecimentos adquiridos
no curso foi possível [...] iniciar minha carreira profissional”.
Quanto às Disciplinas Pedagógicas, estudadas no Curso de
Licenciatura, os docentes afirmaram:
144 Maria de Fátima Cardoso Soares • José Augusto de Carvalho Mendes Sobrinho
Além do uso de recursos tecnológicos, vale ressaltar a
necessidade do uso do Livro Didático (LD), pois este orienta
o professor quanto a uma sistematização das ideias e dos
conhecimentos científicos, tais como: os fatos, os fenômenos,
os conceitos, os princípios, as teorias, os exercícios. Mas é
importante deixar claro, segundo Geraldo (2009), que o livro
didático fornece toda a base para o professor ministrar suas
aulas, por isso, muitos deles nem se esforçam para planejar
algo novo. Quanto à utilização do livro didático e outros
materiais pedagógicos utilizados em sala de aula, os docentes
pesquisados afirmaram:
146 Maria de Fátima Cardoso Soares • José Augusto de Carvalho Mendes Sobrinho
Santos (2005, p.32-33), “A teoria é necessária e nos ajuda
muito, mas por si só não fornece os critérios suficientes para
estarmos seguros de agir com acerto”. Corroborando com
os pensamentos de Santos (2005), Geraldo (2009, p. 55)
afirma que: “É a prática social humana que determina todo
nosso conhecimento, e determina a pesquisa científica, são
as necessidades práticas que impulsionam o pensamento no
sentido de soluções e de novos resultados”.
Quanto à investigação científica no Ensino de Química,
entendemos que é primordial para a efetivação do conhecimento
teórico e prático. Assim,
148 Maria de Fátima Cardoso Soares • José Augusto de Carvalho Mendes Sobrinho
Sim, considero que desenvolvo no dia a dia, mas já fiz
Especialização em Docência Superior e pretendo fazer
curso de Inglês e futuramente Mestrado. (PROFESSOR A).
Considerações Finais
Referências
150 Maria de Fátima Cardoso Soares • José Augusto de Carvalho Mendes Sobrinho
DOURADO, L. F. Diretrizes curriculares nacionais para a
formação inicial e continuada dos profissionais do magistério
da educação básica: concepções e desafios. Educ. Soc.,
Campinas, v. 36, n. 131, p. 229-324, abr./ jun. 2015.
152 Maria de Fátima Cardoso Soares • José Augusto de Carvalho Mendes Sobrinho
SOBRE OS AUTORES
154
práticas, saberes docentes, organização do ensino e apropriação
de conceitos em Ciências Naturais. Membro do Núcleo de
Pesquisa sobre Formação de Professores (FORMAÇÃO/UFPI),
membro do Núcleo de Pesquisa (FORMAR/UFPI).
CAIO VELOSO
Mestre em Educação pelo Programa de Pós-Graduação em
Educação da Universidade Federal do Piauí (PPGEd/UFPI),
na Linha de Pesquisa ‘Ensino, Formação de Professores e
Práticas Pedagógicas’; Licenciado em Ciências Biológicas
pela Universidade Federal do Piauí (UFPI); Licenciado em
Pedagogia pela Faculdade Integrada do Brasil (FAIBRA);
Docente permanente do Instituto Federal de Educação, Ciência
e Tecnologia do Maranhão (Campus Codó). Desenvolve
pesquisas acerca da Formação Inicial, Continuada e das Práticas
Docentes do professor de Ciências Naturais/Biologia; Membro
do Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Ensino e Formação de
Professores de Ciências (GRUPEC) e do Núcleo de Formação
de Professores.
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NILDA MASCIEL NEIVA GONÇALVES
Doutoranda em Educação pela Universidade Federal de
Uberlândia (MG). Mestra em Educação pela Universidade
Federal do Piauí (2015). Mestra em Ciências da Educação pela
Universidade Tecnológica Intercontinental (2012). Especialista
em Docência do Ensino Superior (2005), Gestão Educacional
com Aplicação Tecnológica (2008), Mídias na Educação
(2011), Biologia e Química (2006). Graduada em Biologia pela
Universidade Estadual do Piauí (2003) e em Pedagogia pela
Universidade Federal do Piauí (2004). Atualmente professora
Assistente do quadro efetivo da Universidade Federal do Piauí,
Campus Senador Helvídio Nunes de Barros. Membro do
Grupo de Estudos e Pesquisas sobre o Ensino e Formação de
Professores de Ciências (GRUPEC) e do Grupo de Pesquisa:
Gênero, Corpo, Sexualidade e Educação (GPECS).