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Ensinamentos Fundamentais do Budismo Humanista

Caros amigos no Dharma,

Fiquei muito feliz quando soube através do


venerável Presidente desta conferência que o
tema deste ano de 1990 é o Budismo Humanista,
o fundamento da Ordem Budista Internacional Fo
Guang Shan. Passei os últimos dias conversando
com as Forças Armadas e ao retornar a Fo Guang
Shan, o Venerável Tzu Hui me convidou a definir a
tônica da conferência. Sei que fazer uma palestra
para tão preparados ouvintes requer intensa
pesquisa, o que imediatamente me fez pensar na
necessidade de mais tempo para elaborá-la.
Entretanto, os organizadores da conferência me
encorajaram dizendo: "O Senhor vem
promovendo o Budismo Humanista há décadas;
por que simplesmente não deixa suas próprias
experiências fluírem do seu coração?" Sim, o
Budismo Humanista não está somente em meu
coração; está também sempre em minhas
atitudes e pensamentos. Por isso, estou
encantado por ter hoje esta oportunidade de
partilhar com vocês minha visão sobre os
conceitos básicos do Budismo Humanista.

Já que o tema desta conferência é o "Budismo


Humanista", é preciso compreender o que isso significa. O que, então, este termo
sugere?

Para começar, sabemos que o fundador do Budismo, Buda Shakyamuni, é o Buda


de nosso mundo. Ele nasceu neste mundo; cultivou seu desenvolvimento
espiritual, atingiu a iluminação e partilhou com outros, neste mundo, as profundas
verdades que compreendeu. O mundo humano foi enfatizado em tudo o que ele
fez. Por que ele não alcançou a condição de Buda em um dos outros cinco reinos?
Por que não atingiu a iluminação em um dos outros dez mundos do dharma? Por
que, ao invés disso, conseguiu o despertar supremo como um ser humano?
Levando esta questão adiante, por que o Buda não alcançou a iluminação num
kalpa passado ou futuro? Por que escolheu nosso mundo saha e o presente kalpa?
Só pode haver uma resposta: o Buda desejava que os ensinamentos budistas
fossem relevantes ao mundo dos humanos. A própria vida do Buda como ser
humano nos deu inspiração e um modelo para o caminho espiritual, de modo a
fazer, de nossas vidas, uma prática espiritual. O Budismo que o Buda nos ofereceu
é humanista, e o Budismo Humanista é a integração de nossa prática espiritual em
todos os aspectos de nossa vida diária. O Budismo Humanista tem as seis
seguintes características:

1. Humanismo. O Buda não era um espírito, que andava para lá e para cá sem
deixar rastros, nem fruto de nossa imaginação. O Buda foi um ser humano vivente.
Como todos nós, ele tinha pais, uma família e viveu uma vida. Foi através de sua
existência humana que ele mostrou a suprema sabedoria da compaixão;
responsabilidade ética e sabedoria intuitiva. Portanto, ele é um Buda que foi
também um ser humano.

2. Ênfase na Vida Diária. Em seus ensinamentos, o Buda deu grande importância


ao cotidiano enquanto prática espiritual. Ele nos ofereceu orientação para tudo,
desde o modo de comer, vestir, trabalhar e viver, até para caminhar, estar em pé,
sentar e dormir. Ele deixou instruções claras quanto a todos os aspectos da vida,
desde o conduzir nos campos social e político.

3. Altruísmo. O Buda nasceu neste mundo para ensinar, dar exemplo, e trazer
alegria a todos. Ele ocupou-se de todos os seres, pois sempre teve, em seu
coração e mente, o interesse dos demais. Em resumo, cada pensamento seu, cada
palavra ou ação, originou-se de um coração repleto de interesse e consideração
pelos outros.

4. Alegria. Os ensinamentos budistas dão alegria às pessoas. Através da infinita


compaixão de seu coração, o Buda almejava aliviar o sofrimento de todos os seres
e dar-lhes alegria.

5. Oportunidade. O Buda nasceu por uma grande razão: para construir um


relacionamento especial com todos nós que vivemos neste mundo. Apesar de ter
vivido há aproximadamente 2.500 anos, e ter alcançado o nirvana, ele deixou a
semente da liberdade para as futuras gerações. Ainda hoje, os ideais e
ensinamentos do Buda servem como guias importantes e oportunos para todos.

6. Universalidade. A vida do Buda como um todo pode ser caracterizada pelo seu
espírito de desejar salvar a todos os seres, sem exceção. O Buda amava os seres
em geral, fossem animais ou humanos, homens ou mulheres, jovens ou velhos,
budistas ou não budistas, etc...

Há um tempo, era difícil para as pessoas compreenderem a relevância do Budismo


para suas vidas modernas e diárias. Eu ainda me lembro do diálogo entre o Sr.
Shu-ming Liang e o Mestre T'ai Hsu sobre a relevância do Budismo neste nosso
mundo humano. O Sr. Shu-ming Liang disse sentir que o Budismo não enfatizava
suficientemente os interesses humanos e essa seria a razão pela qual ele
abandonara os caminhos do Budismo e focalizara suas atenções no Confucionismo.
Quando o Sr. Liang foi convidado pelo Mestre T'ai Hsu para fazer uma palestra na
Faculdade Budista Han Ts'ang, o Sr. Liang iniciou o evento escrevendo no quadro
negro: "Agora, Hoje e Nós." Disse ele: "Especificamente por estas razões, optei
por estudar o Confucionismo. O Budismo fala do passado infinito, do presente e
dos kalpas futuros, mas eu acredito que o tempo presente, no qual vivemos, é o
mais importante. O Budismo fala do espaço e dos elementos, deste e de outros
mundos, dos incontáveis mundos em todas as dez direções, mas eu acredito que é
o nosso próprio mundo que devemos purificar. O Budismo fala dos humanos e de
todos os seres dos dez mundos-dharma, mas eu acredito que são os humanos os
mais importantes." Após a conferência, o Mestre T'ai Hsu deu o seu parecer sobre
a questão. Ele disse que, apesar de o Budismo falar do passado, do presente e do
futuro, ele enfoca, particularmente, o bem estar universal dos seres do mundo
presente; apesar de o Budismo falar deste mundo e de incontáveis outros, ele
enfatiza, particularmente, o bem estar dos seres deste mundo; e apesar de o
Budismo falar de todos os seres dos dez mundos-dharma, ele dá maior ênfase aos
humanos.

O Budismo é uma religião para seres humanos, e a atenção às questões humanas


está fortemente na raiz desta religião. Nos vários sutras e shastras, o Buda
reiteradamente disse que também ele era um membro da comunidade, de maneira
a enfatizar que ele não era um deus. O Sutra Vimalakirti diz: "O reino do Buda se
encontra entre os seres viventes. Além dos seres viventes, não há Buda. Além da
multitude de seres, não há caminho para a Verdade." O Sexto
Patriarca também ensinou que: "O Dharma está no mundo;
compreender o mundo é compreender o Dharma. Buscar a
iluminação fora do mundo é como procurar chifres num
coelho." Para alcançar a condição de Buda, devemos treinar e
cultivar a nós mesmos neste nosso mundo humano. Não há
outro meio para se atingir essa condição. Já que tivemos a
sorte de renascer como humanos, deveríamos viver nossas
vidas em coerência com o Budismo Humanista, integrando
nossa prática espiritual ao nosso cotidiano.

Quando dizemos que o Budismo é uma religião para seres


humanos, devemos entender que a forma humana é algo a ser
valorizado e não menosprezado. Na verdade, o Sutra Lótus usa
uma analogia para ilustrar o quão árduo e, ao mesmo tempo,
precioso é ter-se nascido como ser humano. O sutra declara:
"Numa noite escura como breu, uma tartaruga cega espera encontrar uma costa
rasa. No vasto oceano e no escuro infinito há apenas um pedaço de madeira. Esse
pedaço de madeira tem um buraco. Em cem anos, a tartaruga sobe à superfície
apenas uma vez para buscar ar. Somente se ela for capaz de encontrar esse
buraco ela conseguirá sobreviver." No Sutra Agama também está escrito: "a
quantidade de seres que perdem a forma humana é tão numerosa quanto as
partículas de poeira na terra; o número dos que são capazes de alcançar a forma
humana é tão escasso quanto a poeira sob uma unha." Todas estas citações
indicam a precariedade e a preciosidade da existência humana.

Uma vez eu estava num encontro com membros de uma comunidade em São
Francisco, e um professor, que fazia parte do grupo, me fez esta pergunta: "O
Senhor pede a nós, budistas leigos, que trabalhemos no sentido de libertar-nos da
roda do renascimento, sendo que esse não é o nosso desejo. O Senhor nos ensina
o caminho para alcançar a condição do Buda, quando não é exatamente essa a
nossa aspiração. Essas questões são remotas e distantes demais. Nós somos
felizes só em poder viver nossas vidas um pouco melhor do que os demais, um
pouco mais cultivadamente que os outros." Esse comentário me perturbou
intensamente porque tais pessoas concebem o Budismo como uma religião
separada da humanidade. Essa concepção, de que o Budismo se caracteriza pelo
isolamento, retiro em florestas, auto-centrismo e individualismo, perdeu toda sua
qualidade humanista. Como conseqüência, muitos dos que têm interesse em
transpor os portais do Budismo, não ousam fazê-lo; essas pessoas hesitam ao
entrar e ficam vagando pelo lado de fora. Precisamos redefinir e redobrar nossos
esforços no sentido de ajudar a todos os seres sencientes.

Os primeiros 100 a 300 anos da história do Budismo foram o período do Pequeno


Veículo, porém não do Grande Veículo. Ou seja, o Budismo Theravada era popular
enquanto o Budismo Mahayana permanecia obscuro. Os 600 anos seguintes
testemunharam a emergência da prática do Grande Veículo, mas não do Pequeno
Veículo: o Budismo Mahayana ganhou popularidade, enquanto o Budismo
Theravada retrocedeu. Durante os 1.000 anos que se seguiram, desenvolveu-se a
prática Tântrica. O Budismo Humanista que eu advogo convida à integração de
todos os ensinamentos Budistas desde o tempo do Buda até os dias de hoje, sejam
eles derivados das tradições Theravada, Mahayana ou Tântrica.

O Budismo Humanista é verdadeiramente o estudo do caminho do bodhisattva. O


Budismo Chinês há muito vem honrando o caminho do bodhisattva, que o Budismo
Humanista incorpora. No decorrer do desenvolvimento do Budismo Chinês, quatro
montanhas se distinguiram como pontos de peregrinação. Cada uma dessas
montanhas está associada com um bodhisattva em particular: Avalokiteshvara
(Kuan-yin), Manjushri (Wen-shu), Samantabhadra (P'u-hsien), e Kshitigarbha (Ti-
tsang). Dos quatro, Avalokiteshvara, Manjushri e Samantabhadra se manifestaram
como budistas laicos. Somente o bodhisattva Kshitigarbha se manifestou como
monge. Por que três dos quatro bodhisattvas se manifestaram como laicos? A
resposta está no fato de que, enquanto os monges enfatizam o desprendimento e
a transcendência da materialidade, são o otimismo e o engajamento ativo dos
budistas laicos que detêm o maior de todos os potenciais para realizar os
propósitos do Budismo Mahayana, estando mais próximos do espírito do Buda.
Como disse certa vez o Mestre T'ai Hsu a respeito de si mesmo: "Não sou um
bhikshu, nem me tornei um Buda; gostaria, porém, que me chamassem
bodhisattva." O que ele quis dizer é o seguinte: não ouso me intitular um bhikshu,
já que é muito difícil seguir os preceitos de um bhikshu com perfeição. Se me
chamarem de Buda, isso não é real, pois ainda não me tornei um. Minha
esperança, no entanto, é servir ao próximo como um bodhisattva. Um bodhisattva
não é meramente uma estátua de cerâmica a ser venerada num templo, ao
contrário, é uma pessoa enérgica, iluminada e gentil, que luta para ajudar todos os
seres viventes a libertar-se. Todos nós podemos nos tornar bodhisattvas. É por
isso que o mestre T'ai Hsu dedicou sua vida a divulgar as palavras e ideais do
Budismo Humanista. Compreender plenamente a maneira de ser de um
bodhisattva é o objetivo do Budismo Humanista.

Para sermos coerentes com o propósito de nos tornarmos bodhisattvas,


deveríamos todos lutar para viver numa terra pura. Nos referimos à Terra Pura da
Suprema Bem-Aventurança no Ocidente e à Terra Pura do Azul (Céu)
Resplandescente no Oriente. Na realidade, Terras Puras não se encontram
somente no Oriente ou no Ocidente. Terras Puras estão em toda parte. O
bodhisattva Maitreya tem a Terra Pura de Tushita e Vimalakirti, a Terra Pura da
Mente. Muitos de vocês já estão familiarizados com o conceito de uma Terra Pura
neste planeta. Ao invés de depositar nossas esperanças em renascer em uma
Terra Pura no futuro, por que não trabalhamos na transformação do nosso planeta
Terra num mundo puro de paz e plenitude? Em lugar de concentrar todas as
nossas energias na busca de algo no futuro, por que não dirigir nossos esforços
para a purificação de nossas mentes e corpos aqui e agora, no momento presente?
É com esse espírito que Fo Guang Shan propicia o recolhimento a antigos e leais
devotos que dedicaram suas vidas à Ordem. Dessa forma, eles não precisam ser
necessariamente cuidados pelos seus filhos. Nem precisam esperar pela morte
para, finalmente, gozar da Terra Pura do Buda Amitabha. Dizemos a eles: "Vocês
fizeram muito pelo Budismo. Nos ocuparemos de vocês oferecendo-lhes uma terra
pura em vida." Acredito que os templos e mosteiros de Fo Guang Shan deveriam
instilar nesses discípulos a confiança de que a Ordem pode suprir todas as suas
necessidades e de que eles podem encontrar a alegria de uma terra pura aqui
mesmo. Creio que o Budismo Humanista deve se concentrar mais nas questões
deste mundo e menos em questões transcendentais; preocupar-se mais com os
vivos do que com os mortos, beneficiar os outros mais do que a si mesmo, assim
como objetivar a salvação universal mais do que a própria.
Independentemente da escola (Theravada ou Mahayana) ou da ênfase (tantras ou
ensinamentos gerais), o Budismo deve ter uma dimensão humanista a fim de
permanecer relevante em qualquer época. Por atender as necessidades do tempo
presente, sem apenas seguir cegamente as tradições, pode ser considerado um
farol para o futuro. Agora, mais do que nunca, é importante divulgar os ideais do
Budismo Humanista, pois, como observou mestre T'ai Hsu, vivemos no período
denominado O Declínio da Compreensão do Dharma. Durante o primeiro período
do Budismo, o espírito Mahayana do Dharma era visto através dos olhos dos
shravakas, tradicionalmente chamados de "santos praticantes"; assim, este foi o
período da Verdadeira Compreensão do Dharma. Em seguida, veio o período da
Aparente Compreensão do Dharma, quando o espírito Mahayana era visto através
dos olhos dos praticantes do "veículo celeste". Nós estamos atualmente vivendo o
último estágio do Budismo, quando o espírito Mahayana é visto através dos olhos
dos praticantes do "veículo humano". Este é o período do Declínio da
Compreensão do Dharma. Segundo o Mestre T'ai Hsu, durante este período quando
nossa maturidade espiritual é nascente, torna-se importante a compreensão do
Dharma através da prática em nossa vida diária. Sendo este o caso, eu gostaria de
mencionar os seguintes seis pontos, considerando o Budismo Humanista como a
aplicação dos ensinamentos budistas a nossa vivência cotidiana.

O Budismo Humanista é a integração dos Cinco Veículos

Sabemos que o Budismo fala dos Cinco Veículos, que são: o humano, o celestial, o
shravaka, o pratyekabuddha e o bodhisattva. Tanto o veículo humano como o
celestial focalizam as questões mundanas. Os veículos shravaka e pratyekabuddha
focalizam questões que transcendem a matéria. O veículo bodhisattva combina o
espírito mundano dos veículos humano e celestial com o espírito transcendental
dos veículos shravaka e pratyekabuddha. Deveríamos lutar pelo objetivo
bodhisattva de, simultaneamente, beneficiar, entregar e despertar a nós mesmos
e aos outros. Se entendermos que todos os seres estão indissoluvelmente inter-
relacionados, veremos que beneficiar ao próximo significa beneficiar a si mesmo.
Quando libertamos a outros seres viventes, também nos libertamos. Assim,
quando a inter-relação dos ensinamentos desses cinco veículos é compreendida,
temos então, o Budismo Humanista, ou o Budismo do mundo dos homens. Vou dar
um exemplo para ilustrar o que quero dizer. Suponhamos que eu queira ir a Taipei
hoje. Taipei é o objetivo de meu aperfeiçoamento budista; é uma terra pura. Ao
pegar o trem, passa-se por Tainan, Taichung e Hsin Chu. Mesmo não tendo que
descer nessas estações, não tenho outra escolha, a não ser passar por Tainan, Tai
Chung, e Hsin Chu. Isso equivale a dizer que, enquanto atravessamos o cultivo dos
veículos humano, celestial, sravaka e pratyekabuddha, podemos buscar a condição
de Buda diretamente praticando os ensinamentos do Budismo Humanista do
caminho do bodhisattva entre a multidão.

Hoje cedo, o diretor da academia militar me perguntou: "O Senhor poderia me dar
especificamente alguns exemplos concretos do que o Budismo pode oferecer à
nação e à sociedade?" Respondi que a nação e a sociedade podem se beneficiar
dos ensinamentos Budistas do Tripitaka. De fato, os Cinco Preceitos bastariam
para trazer paz ao país e ao mundo inteiro. Como vocês todos devem saber, os
Cinco Preceitos nos ensinam que se deve abster de matar, de roubar, de manter
uma conduta sexual desregrada, de mentir e de fazer uso de substâncias tóxicas.
Abster-se de matar demonstra respeito pela vida em geral; ao não
desrespeitarmos os direitos dos outros, podemos todos desfrutar a liberdade de
vida. Não roubar significa não infringir o direito dos demais à propriedade, só
assim pode haver liberdade na conquista do bem estar material. Evitar uma
conduta sexual desregrada demonstra respeito ao corpo e honra à integridade dos
outros, permitindo a todos gozarem a liberdade do corpo e da honra. Abster-se de
mentir e de usar um falso discurso significa respeitar a reputação alheia e não
prejudicar ninguém. Abster-se de substâncias tóxicas e estimulantes significa
evitar danos físicos e mentais a nós mesmos, e aos outros, também. Aquele que
segue os Cinco Preceitos tem a moral e o caráter bem estruturados. A família que
segue os Cinco Preceitos mantém em bom estado o caráter e a moral de seus
membros. Se todos em uma organização, sociedade ou nação puderem seguir os
Cinco Preceitos, essa nação certamente terá como características estabilidade, paz
e prosperidade.

É só visitar uma penitenciária para perceber que todos aqueles que foram
aprisionados por causa de seus crimes violaram, de alguma forma, os Cinco
Preceitos. Assim, os assassinos e homicidas violaram o preceito de não matar. Os
corruptos, estelionatários e ladrões, violaram o preceito contra o roubo.
Pornografia, adultério, poligamia, estupro, abdução e prostituição são exemplos
de violação do preceito contra a conduta desvirtuada do sexo. Envolver-se em
fraude, inadimplência e chantagem viola o preceito contra a mentira. Além de
álcool, o preceito contra tóxicos inclui heroína, cocaína e outras drogas ilegais que
afetam negativamente o cérebro, prejudicando nossas habilidades cognitivas e
provocando atos inconscientes. Se todos respeitassem os Cinco Preceitos, as
penitenciárias estariam vazias.

Para nós budistas, também há uma lição aqui. Hoje em dia, alguns budistas
encaram o Budismo como uma religião popular. Eles reverenciam o Buda
esperando alcançar longevidade, riqueza, uma família próspera, fama e saúde. Se
pudermos elevar o nível de nossa fé e seguir os Cinco Preceitos com reverência,
gozaremos verdadeiramente grandes bênçãos, sem precisar suplicar por elas. Se
além de não matar, protegermos a vida, como não atingir a longevidade? Se além
de não roubar, agirmos com generosidade, como não conquistar riqueza? Se além
de não apresentar condutas sexuais desvirtuadas, formos respeitosos, como pode
nossa família não ser harmoniosa? Se além de não mentir, formos também
honestos, como não ter boa reputação? Se além de não nos intoxicar, cuidarmos
de nosso corpo, como não ter boa saúde? Os Cinco Preceitos causam, de fato,
grande impacto tanto no indivíduo, quanto na sociedade e na nação.

Assim sendo, o que significa Budismo Humanista? Budismo Humanista nada mais
é que a prática dos Cinco Preceitos e das Dez Virtudes. As Dez Virtudes são
extensões dos Cinco Preceitos. Em nossas atitudes, elas são: não matar, roubar ou
envolver-se em desvios de conduta sexual. Em nosso discurso: não mentir,
injuriar, enganar ou ofender. Em nossos pensamentos: não ser gananciosos,
rancorosos, ou corrompidos. No Budismo, o desenvolvimento do pensamento
correto é chamado de estudo da sabedoria: o propósito supremo de despertar a
sabedoria de nossa verdadeira natureza. Os Cinco Preceitos e as Dez Virtudes são
ferramentas que nos auxiliam nessa tarefa. É disso, também, que trata o Budismo
Humanista.
O Budismo Humanista é a prática dos Cinco Preceitos e Dez
Virtudes
Hoje cedo, o diretor da academia militar me perguntou: "O Senhor poderia me dar
especificamente alguns exemplos concretos do que o Budismo pode oferecer à
nação e à sociedade?" Respondi que a nação e a sociedade podem se beneficiar
dos ensinamentos Budistas do Tripitaka. De fato, os Cinco Preceitos bastariam
para trazer paz ao país e ao mundo inteiro. Como vocês todos devem saber, os
Cinco Preceitos nos ensinam que se deve abster de matar, de roubar, de manter
uma conduta sexual desregrada, de mentir e de fazer uso de substâncias tóxicas.
Abster-se de matar demonstra respeito pela vida em geral; ao não
desrespeitarmos os direitos dos outros, podemos todos desfrutar a liberdade de
vida. Não roubar significa não infringir o direito dos demais à propriedade, só
assim pode haver liberdade na conquista do bem estar material. Evitar uma
conduta sexual desregrada demonstra respeito ao corpo e honra à integridade dos
outros, permitindo a todos gozarem a liberdade do corpo e da honra. Abster-se de
mentir e de usar um falso discurso significa respeitar a reputação alheia e não
prejudicar ninguém. Abster-se de substâncias tóxicas e estimulantes significa
evitar danos físicos e mentais a nós mesmos, e aos outros, também. Aquele que
segue os Cinco Preceitos tem a moral e o caráter bem estruturados. A família que
segue os Cinco Preceitos mantém em bom estado o caráter e a moral de seus
membros. Se todos em uma organização, sociedade ou nação puderem seguir os
Cinco Preceitos, essa nação certamente terá como características estabilidade, paz
e prosperidade.

É só visitar uma penitenciária para perceber que todos aqueles que foram
aprisionados por causa de seus crimes violaram, de alguma forma, os Cinco
Preceitos. Assim, os assassinos e homicidas violaram o preceito de não matar. Os
corruptos, estelionatários e ladrões, violaram o preceito contra o roubo.
Pornografia, adultério, poligamia, estupro, abdução e prostituição são exemplos
de violação do preceito contra a conduta desvirtuada do sexo. Envolver-se em
fraude, inadimplência e chantagem viola o preceito contra a mentira. Além de
álcool, o preceito contra tóxicos inclui heroína, cocaína e outras drogas ilegais que
afetam negativamente o cérebro, prejudicando nossas habilidades cognitivas e
provocando atos inconscientes. Se todos respeitassem os Cinco Preceitos, as
penitenciárias estariam vazias.

Para nós budistas, também há uma lição aqui. Hoje em dia, alguns budistas
encaram o Budismo como uma religião popular. Eles reverenciam o Buda
esperando alcançar longevidade, riqueza, uma família próspera, fama e saúde. Se
pudermos elevar o nível de nossa fé e seguir os Cinco Preceitos com reverência,
gozaremos verdadeiramente grandes bênçãos, sem precisar suplicar por elas. Se
além de não matar, protegermos a vida, como não atingir a longevidade? Se além
de não roubar, agirmos com generosidade, como não conquistar riqueza? Se além
de não apresentar condutas sexuais desvirtuadas, formos respeitosos, como pode
nossa família não ser harmoniosa? Se além de não mentir, formos também
honestos, como não ter boa reputação? Se além de não nos intoxicar, cuidarmos
de nosso corpo, como não ter boa saúde? Os Cinco Preceitos causam, de fato,
grande impacto tanto no indivíduo, quanto na sociedade e na nação.

Assim sendo, o que significa Budismo Humanista? Budismo Humanista nada mais
é que a prática dos Cinco Preceitos e das Dez Virtudes. As Dez Virtudes são
extensões dos Cinco Preceitos. Em nossas atitudes, elas são: não matar, roubar ou
envolver-se em desvios de conduta sexual. Em nosso discurso: não mentir,
injuriar, enganar ou ofender. Em nossos pensamentos: não ser gananciosos,
rancorosos, ou corrompidos. No Budismo, o desenvolvimento do pensamento
correto é chamado de estudo da sabedoria: o propósito supremo
de despertar a sabedoria de nossa verdadeira natureza. Os Cinco
Preceitos e as Dez Virtudes são ferramentas que nos auxiliam
nessa tarefa. É disso, também, que trata o Budismo Humanista.

O Budismo Humanista incorpora as


características dos Quatro Votos Ilimitados
Os Quatro Votos Ilimitados são: bondade, compaixão, alegria e generosidade. A
verdade é que não é preciso olhar além destes Quatro Votos Ilimitados para
compreender porque o Budismo Chinês perdeu seu vigor. Nós, budistas chineses,
não colocamos em prática os ensinamentos budistas e perdemos o contato com o
Dharma. O Buda ensina bondade e compaixão. Quantos de nós somos realmente
bons e compassivos? O Buda ensina alegria e generosidade. Quantos de nós somos
realmente alegres e generosos? Independentemente de sermos laicos ou monges,
se não praticamos o Dharma, o que nos diferencia dos não-budistas?

Em meu país, há um ditado popular que diz: "Toda família tem Amitabha, todo lar
tem Avalokiteshvara." Lá, Avalokiteshvara é venerado em todos os altares. O
melhor lugar da casa é escolhido para Avalokiteshvara. Por quê? Porque
Avalokiteshvara é compassivo. A compaixão é bem vinda em todos os lares; a
compaixão conquista o respeito das pessoas e ganha o coração delas.

Não sei exatamente quando o Budismo adquiriu tamanho tom de pessimismo.


Toda vez que budistas se encontram, dizem coisas do tipo: "A vida é sofrimento!
Tudo é impermanente! Oh, a impermanência!" Mas o Budismo é feliz em caráter e
alegre em espírito. Os ensinamentos falam de felicidade sem limites e de
compaixão infinita, e nós, budistas, temos a responsabilidade de partilhar isso
com o mundo. Quando o Buda falou de sofrimento como sendo a Primeira Nobre
Verdade, foi porque ele desejava que reconhecêssemos a causa do sofrimento, e a
maneira pela qual poderíamos nos liberar das ilusões e obter felicidade
verdadeira. Não deveríamos nos contentar apenas com a compreensão de que a
vida é repleta de sofrimento. O Buda nos ensina que todos os fenômenos são
impermanentes. A impermanência é realmente maravilhosa! Ela torna as
mudanças possíveis, já que o mal pode ser transformado no bem. Por causa da
impermanência, a adversidade pode ser seguida de felicidade, e a má sorte mudar
para melhor. É por causa da impermanência que o destino não é irrevogavelmente
determinado. Nossa tarefa enquanto bodhisattvas é espalhar as sementes de
felicidade para que o mundo inteiro possa ouvir sobre o Dharma e cada um possa
ter uma vida de bem-estar, paz e alegria.
Nem sempre uma vida material próspera, tal como criada por uma economia
florescente, é capaz de aliviar os sofrimentos da vida. Mais dinheiro e bens
materiais podem trazer ainda mais problemas às pessoas. A alegria do Dharma é a
paz e a felicidade que podemos todos experimentar quando estamos de bem com
nós mesmos; essa alegria vem da compreensão do Ch'an e da percepção da
verdade. Geralmente, a prática religiosa das pessoas se baseia na ganância; as
pessoas oram aos bodhisattvas e aos deuses por paz, fortuna, felicidade familiar,
longevidade e o número ganhador da loteria. Uma fé religiosa que brote da cobiça
não tem um nível profundo de maturidade espiritual. Deveríamos basear nossa fé
no doar. Praticar uma religião é contribuir, fazer sacrifícios e trabalhar para
beneficiar outros. Se uma das características do Budismo Humanista é o espírito
de doação e beneficio do próximo, pode-se dizer que o Budismo Humanista
incorpora as características dos Quatro Votos Ilimitados de bondade, compaixão,
alegria e generosidade. É esse, também, o significado do Budismo Humanista.

O Budismo Humanista é aplicar os Seis Paramitas


e as Quatro Grandes Virtudes Bodhisattva
Os ensinamentos budistas dos Seis Paramitas (dar, respeitar os preceitos, ter
paciência, esforço, concentração meditativa e sabedoria) e as Quatro Grandes
Virtudes (dar, ser amável no falar, conduzir benefícios ao próximo e cooperar) são
humanistas e relevantes para a interação entre os homens.

Quando eu estava viajando pelos Estados Unidos divulgando o Dharma, senti que,
apesar de a América não ser um país Budista, os americanos tinham o caráter do
Budismo Humanista e o espírito dos bodhisattvas. Tomemos o ato de dar como
exemplo. Os americanos são muito voluntariosos em dar. Muitos fazem doações
voluntárias à sua igreja. Sempre que surgem problemas sociais, todos,
alegremente, fazem de tudo para ajudar. Não importa onde se esteja, os
americanos geralmente sorriem e cumprimentam amavelmente, dizendo: "Oi!
Como vai?". Isso também é dar. Um simples sorriso, um pequeno cumprimento —
essas são as formas de praticar o dar através da expressão e da fala. Esses são
exemplos de como os americanos integraram o ato de dar a suas vidas diárias.

Quanto a seguir os preceitos, os americanos são bastante respeitadores de suas


leis. Seguir os preceitos significa observar as regras da lei. A América é um país no
qual o povo segue as regras da lei. Não é preciso ir a um tribunal de justiça para
se ver a observância das leis. Mesmo que não haja outros carros ou policiais por
perto, não é comum um americano ultrapassar um sinal vermelho. Ao se
depararem com um sinal de "pare", eles não atravessam o cruzamento, mas
param por um momento antes de prosseguir. Todo mundo faz fila de maneira
ordenada. Numa ocasião em que fui ao Havaí, um grande grupo de turistas,
incluindo vários de nós, monges, que também fazíamos parte do grupo, fomos
assistir a uma apresentação de dança hula. Quando um dos atendentes nos viu,
ele disse a um grupo de pessoas que se retirassem da sombra de uma grande
árvore, onde estavam, para que nós, monges, pudéssemos nos sentar lá. Sem
protestar, todos obedeceram. Por quê? Porque, na América, a religião é
respeitada, assim como as leis e as regras; e porque aqueles em posição de
autoridade são respeitados e obedecidos. Quando o lugar começa a ficar muito
lotado, e os atendentes têm dificuldade em orientar todas as pessoas, eles
simplesmente usam uma corda para guiá-los aos seus lugares. Todos permanecem
dentro dos limites da corda — reis, oficiais, governantes ou senadores. Por que?
Porque a corda simboliza a lei, e ninguém está acima dela. A solene sacralidade da
lei está totalmente integrada ao cotidiano e à atitude dos americanos. Por serem
todos obedientes, esse é naturalmente um país que segue as regras da lei.
Por outro lado, qual é a situação nos países em desenvolvimento? Nem falem em
cordas. Ainda que haja um muro, todos tentam imaginar uma maneira de
ultrapassá-lo. Portanto, seguir leis significa respeitar preceitos e regulamentos. O
fato de a população de um país obedecer ou não suas leis, afetará sua imagem,
seu desenvolvimento, e sua prosperidade. O Budismo Humanista é construído
sobre os princípios das leis e seus regulamentos.

Os americanos são, também, muito pacientes. Paciência não significa ficar calado
quando se é insultado ou deixar-se espancar quando agredido fisicamente. Esses
não são exemplos de paciência. Paciência significa assumir responsabilidades;
paciência significa ser forte. Ser paciente é ser ativo, progressista, ser capaz de
fazer sacrifícios e arcar com os fardos da vida. Os americanos se esforçam
bastante, não é mesmo? Eles não furam filas. Isso, também, exige paciência.
Assim, quando todos são pacientes uns com os outros, a sociedade pode ser
ordenada e livre do caos.

Todos sabem o quão diligentes são os americanos. Eles são ambiciosos, dedicados
e esforçados. Nós fantasiamos a América como um paraíso onde todos são
automaticamente providos de tudo. Na realidade, os americanos têm muita
iniciativa e são conscienciosos; eles trabalham muito e têm muito orgulho da
qualidade de seu trabalho. Sua ética de trabalho assemelha-se à noção budista de
diligência. O Budismo fala da diligência como sendo equivalente aos Quatro
Esforços Corretos de fazer surgir a bondade, desenvolver a bondade existente, dar
fim ao mal existente e prevenir o surgimento de um novo mal. Os americanos são
conhecidos por sua dedicação a pesquisas, desenvolvimento de avanços científicos
e busca de excelência. É por isso que esse país tornou-se uma potência mundial.

Podemos, também, encontrar exemplos de concentração meditativa no estilo de


vida americano. Ao invés de ficar andando pelas ruas depois do trabalho ou da
escola, adultos e crianças geralmente passam esse tempo em casa. E quando
falam, eles o fazem suavemente, de maneira a não incomodar ninguém. Nos
ônibus ou no metrô, é possível vê-los relaxados, à vontade, como que em
meditação.

Quanto à sabedoria, alguns dizem que os americanos são fracos nessa área. Dizem
que se você vender a um americano seis objetos ao preço de dois dólares cada um
(o total é, naturalmente, doze dólares), um americano levará algum tempo para
chegar a esse valor. No lugar de multiplicar seis vezes dois dólares, ele somará
dois mais dois, mais dois, mais dois, e assim por diante, até chegar aos doze. Não
devemos, entretanto, pensar que os americanos são mais lentos em fazer esses
cálculos mentais; é que os chineses são astutos; às vezes, astutos demais em
favor de si mesmos. Os americanos são muito metódicos em seus cálculos. Podem
parecer mais lentos ao lidar com números, mas o fato é que eles seguem as
regras, de forma que um é um e dois é dois. Assim, eles são muito precisos em
suas pesquisas científicas e tecnológicas, e muito confiáveis em tudo o que fazem.
A essas alturas, todos devem estar pensando que eu estou sugerindo que a grama
do vizinho é sempre mais verde. Não é o caso; é que eu fico exasperado. Taiwan é
um país que promove e pratica o Budismo Mahayana. Por que, então,
freqüentemente nos flagramos sendo mesquinhos, esnobes, egoístas,
irresponsáveis e rudes? Por que só prestamos atenção a nós mesmos? É por isso
que temos de espalhar os ideais do Budismo Humanista. Ao praticar as Quatro
Virtudes Bodhisattva de dar, fazer uso da boa palavra, ter uma conduta generosa
para com os demais e cooperar, estamos tornando o Budismo relevante para as
necessidades da sociedade contemporânea. Realmente, os Cinco Preceitos são
capazes de provocar um efeito estabilizador na sociedade, os Seis Paramitas
podem servir como uma boa base sobre a qual construir uma nação, e os Quatro
Votos Ilimitados podem ser uma fonte de bondade para todos nós.
O Budismo Humanista é a compreensão
de causa, condição, efeito e conseqüência
Quando eu estava visitando o exército, alguns dias atrás, os oficiais me contaram
que eles têm um problema com o pessoal. Alguns jovens recrutas os questionam
dizendo: "Eu me alistei no ano passado, junto com ele. Por que ele já é sargento e
eu ainda sou soldado? É muito injusto. Temos as mesmas qualificações e nos
alistamos ao mesmo tempo. Então, por que a diferença no avanço de nossas
carreiras?" Nós deveríamos saber que na lei de causa, condição, resultado e
conseqüência, a condição está bem no meio. Quando as condições são diferentes,
os resultados serão diferentes. Vamos pensar em duas flores, por exemplo: se a
uma for dada mais água e fertilizante, e se ela for plantada em solo mais fértil,
então, mesmo que ambas as flores sejam alimentadas pelo mesmo sol, elas
crescerão diferentemente. As duas flores são da mesma variedade, porém, devido
às condições diferentes, o resultado não é o mesmo.

Alguns se queixam de seu destino e condenam o mundo como sendo injusto.


Criticam que esse membro da família ou aquele amigo não é bom. Se apenas
olhassem um pouco mais de perto suas próprias causas e condições, descobririam
a origem de seus problemas... Por exemplo, poderiam enxergar que perderam a
oportunidade de serem promovidos a sargento por alguma coisa imprópria que
disseram. Outro exemplo seria alguém que, mesmo apresentando mais
qualificações do que outra pessoa que estivesse disputando a mesma promoção,
tivesse sido superado por essa pessoa que se esforçou apresentando qualidade de
serviço, adequação de palavras, assumindo grandes responsabilidades em
momentos críticos, ganhando portanto, a promoção. O Budismo nos ensina a
melhorar nossas condições e a nos relacionarmos melhor com o próximo. Diz-se:
"Antes de conquistarmos o Caminho do Buda, devemos cultivar bons
relacionamentos com os outros." Em nossa vida diária, deveríamos saber que um
simples grão de arroz é o resultado de muitas causas e condições. Deveríamos
valorizar cada uma das várias causas e condições. Deveríamos ser gratos a todos
que nos deram a oportunidade de estar aqui nesta conferência. Deveríamos ser
agradecidos à Faculdade Budista pelo patrocínio e pela afabilidade que torna tão
agradável nossa presença aqui.

Pela manhã, os jornais são entregues em nossas casas. À noite, muitos programas
de televisão nos trazem entretenimento e informação sobre acontecimentos locais
e globais. Será que aprendemos a apreciar o trabalho dos outros? Imaginem a
limitação de visão e a monotonia da vida se essas coisas não estivessem
disponíveis. Causas e condições nos habilitam a conectar-nos uns com os outros
por todo o mundo. Os esforços e contribuições de muitas pessoas propiciaram a
todos nós muitas facilidades. Deveríamos valorizar essas causas e condições. Já
que outros trabalharam para oferecer-nos tão boas condições, o que podemos
fazer para retribuir essa gentileza? Podemos aprender a agradecer e a
verdadeiramente gozar a fortuna e a satisfação de viver, em qualquer lugar e em
qualquer tempo.

Falando de causa, condição, efeito e conseqüência, a lei de causa e efeito é


profunda. Algumas pessoas não entendem a lei de causa e efeito. Alguns recitam
regularmente o nome do Buda Amitabha, mas, assim que surge um problema,
acusam Buda Amitabha por não tê-los protegido. Eles dizem: "Eu fui enganado,
roubado e agora estou falido. Por que Amitabha não me protegeu?"; "Não ganhei
dinheiro na Bolsa de Valores. Onde está o poder de Amitabha?"; "Sou vegetariano,
mas minha saúde está em declínio. Por que o Buda Amitabha não tem mais
compaixão?" No entanto, onde está a conexão entre o fato de se recitar o nome de
Buda ou ser vegetariano, e o fato de se ter riqueza, saúde ou viver uma vida
longa? Não devemos nos confundir quanto a o que causa que efeitos. Como pode
alguém que plantou melões esperar colher feijão? Cantar e manter uma dieta
vegetariana encontram-se no reino das causas e efeitos religiosos e morais.
Acumular grande fortuna está no domínio das causas e efeitos econômicos. Ter
boa saúde ou uma longa vida tem a ver com as causas e efeitos
relacionados à saúde. Como podem as pessoas atribuir todos os seus
problemas à crença religiosa? É por isso que hoje há muitas pessoas
que, por fazerem uma conexão confusa entre certas causas e efeitos,
não são capazes de compreender, com precisão, a lei de causa e
efeito.

Certa vez, uma pessoa que passava roubou um coco do quintal de


uma família. O proprietário disse: "Ei! Como ousa roubar a minha
fruta?" A pessoa respondeu: "O que você quer dizer com minha
fruta? Ela é da árvore!" "Mas fui eu que a plantei!", gritou o
proprietário. O passante retrucou: "O coco que você plantou está na
terra. O meu eu tirei da árvore." Não há, então, uma conexão entre
ambos? Causa e efeito estão eternamente ligados um ao outro; não
podem jamais ser desconectados. Uma causa, se encontrar boas condições,
frutificará. Existe um ditado: "Os bodhisattvas temem as causas, os seres viventes
temem os efeitos." Por saber que as causas não podem ser encaradas
levianamente, os bodhisattvas não as criam por acaso. Por não temerem as
causas, os seres viventes agem sem pensar nos efeitos. No final, eles caem nas
profundezas do inferno, com as mais terríveis conseqüências.

Na minha cidade natal em Yang Chou, China, não havia polícia numa área de
dezenas de quilômetros, nem tribunais de justiça em centenas de quilômetros.
Mesmo assim, crimes e assassinatos eram raríssimos. No caso de um conflito, as
pessoas não brigavam ou discutiam. Ao contrário, íamos a um templo e fazíamos
um juramento diante dos deuses. Todos nós acreditávamos que isso era justo. Por
quê? Porque nós acreditávamos que a lei de causa e efeito resolveria, por si só, a
questão. Mesmo quando não havia meios de apelação, todos ficavam em paz.
Todos sabíamos que a lei de causa e efeito não nos trairia. Como diz o ditado:
"Todos os atos, bons ou maus, geram conseqüências; é só uma questão de
tempo".

Quando o Buda estava vivo, ele experimentou o fenômeno do envelhecimento, da


doença, da vida e da morte, como todos nós. Ele também existiu no reino das
causas e efeitos, e portanto, estava sujeito às manifestações de causa e efeito. É
importante ter essa noção, uma vez que em face das causas e efeitos, todos somos
iguais. Ninguém escapa dessa lei. Há um ditado que diz: "As pessoas abusam dos
bons, mas aquele que enxerga a justiça, não. As pessoas temem os maus-
caracteres, mas aquele que enxerga a justiça, não." Quem, ou o que, é este
"enxergador da justiça"? No Budismo, o enxergador da justiça é a causa e o efeito.
Causa e efeito são sempre equânimes e justos. Nós, que promovemos o Budismo,
lutamos para firmemente estabelecer o conceito de causa e efeito, por ser ele
bastante científico e racional. Se todos acreditássemos em causa e efeito, isso
serviria de polícia e guia de cada um de nós. Causa e efeito seriam, então, o
princípio das leis internas de cada pessoa.

O Budismo Humanista abrange os ensinamentos


do C'han, Terra Pura e o Caminho do Meio
Os ensinamentos budistas são vastos e profundos, e existem muitas seitas e
escolas. Os ensinamentos das escolas Ch'an e Terra Pura, a doutrina da unidade
da forma e do vazio e o Caminho do Meio são alguns dos ensinamentos budistas
voltados para o cotidiano das pessoas, e são, portanto, parte do Budismo
Humanista. Na tradição Ch'an, patriarcas e mestres não praticam meditação para
se tornarem Budas, mas para atingirem a iluminação. Com a iluminação, eles são
capazes de experimentar a liberação e concentrar suas mentes e corpos no aqui-e-
agora da vida diária. O que há de mais gratificante para os praticantes do Ch'an é
encontrar a paz do corpo e da mente, ou em outras palavras, "iluminar a mente e
desvendar nossa Verdadeira Natureza". Assim, os praticantes do Ch'an direcionam
sua atenção à vida neste mundo.

A escola da Terra Pura faz o mesmo. Seus praticantes praticam a consciência


(mindfulness) do Buda Amitabha e recitam o nome do Buda neste mundo na
esperança de conseguir o renascimento na Terra Pura. Se suas práticas não forem
adequadas, o renascimento na Terra Pura é impossível; assim, eles consideram
este mundo como uma base para se devotarem a seu crescimento e a serem
conscientes do Buda Amitabha. Não há atalhos. A prática da Terra Pura é um
excelente método para acalmar nossas mentes e corpos, especialmente quando
somos obrigados a enfrentar os desafios da sociedade moderna. Ao praticar os
métodos do Dharma, Ch'an e Terra Pura, se está verdadeiramente praticando
Budismo Humanista.

O Caminho do Meio, que é a sabedoria de harmonizar o vazio e a existência, nos


permite a aventura de introduzirmo-nos diretamente na verdadeira realidade de
todos os fenômenos. Ter a sabedoria prajna do Caminho do Meio, significa gozar
felicidade e bênçãos nesta vida mesmo. Algumas pessoas enfatizam
excessivamente a vida materialista; elas se perdem no entusiasmo ardente das
buscas mundanas. Outras, abandonam o mundo recolhendo-se às montanhas para
estarem sós. Cegos para os sofrimentos do mundo, tais pessoas são tão
insensíveis quanto um galho seco ou um punhado de cinzas frias. Uma vida muito
reclusa ou muito apaixonada não é saudável; falta-lhe a harmonia do Caminho do
Meio.

O "Caminho do Meio" se refere à sabedoria prajna de contemplar o modo


harmonizado. Se tivermos esse tipo de sabedoria, conheceremos os princípios
subjacentes funcionando em várias situações e as atitudes apropriadas para lidar
com eles. Se tivermos a sabedoria do Caminho do Meio, saberemos que a
existência ocorre no vazio; sem o vazio nada poderia existir. Se não houvesse
vazio espacial, como poderíamos nos reunir aqui? Sem espaço, como poderia
desenvolver-se a infinidade de fenômenos do Universo? Somente em meio ao nada
pode surgir a existência. O Budismo Humanista reconhece que o material e o
espiritual são igualmente importantes na vida e, por isso, clama por
uma vida que sustente a ambos. Existe o mundo externo das buscas
e existe, também, o mundo interno da mente. Existe o mundo à
nossa frente e existe, também, o que está atrás de nós. Se
insistirmos em seguir em frente cegamente, é inevitável que nos
machuquemos. É preciso, igualmente, olhar para trás e para dentro.
O Budismo Humanista tem em conta tanto a existência quanto o
vazio, a possessão e a não-possessão, o mundo do companheirismo
e o da solidão. Harmonizando todas as coisas neste mundo, o
Budismo Humanista permite às pessoas conquistar uma vida bela e
maravilhosa.

O Budismo Humanista que promovo pode ser observado no objetivo


que estabeleci para o Ordem Budista Internacional Fo Guang Shan. O objetivo é
dar às pessoas convicção, alegria, esperança e bem-estar. Acredito que estar
disposto a servir, a dar uma mão, a estabelecer laços de amizade e a alegrar os
demais são os ensinamentos do Buda. Em poucas palavras, a meta do Budismo
Humanista promovido por Fo Guang Shan é tornar o Budismo relevante no mundo,
em nossas vidas e em cada um de nossos corações. Apenas feche seus olhos e
todo o Universo estará lá, dentro de você. Pode dizer a si mesmo: "Todos no
mundo podem me abandonar, mas o Buda em meu coração jamais vai me deixar."
No mundo de hoje, estamos todos sobrecarregados de responsabilidades. Todos
nos sentimos estressados com as obrigações em relação à nossa casa, aos
negócios e à família. Sendo assim, como podemos viver uma vida satisfatória e
feliz? Se praticarmos o Budismo Humanista, ou, em outras palavras, aplicarmos os
ensinamentos budistas ao nosso cotidiano, possuiremos, então, todo o Universo,
felizes e em paz em tudo que fizermos. Como disse o Mestre Ch'an Wumen: "A
primavera tem suas flores, o outono, sua lua cheia brilhante; o verão tem suas
brisas frescas e o inverno, a neve. A menos que sejamos aprisionados pelas
preocupações mundanas, todas as estações são ótimas estações". "Quando a
mente está sobrecarregada, o mundo todo parece limitado; quando a mente está
livre de preocupações, até uma pequena cama se alarga". Quando
verdadeiramente alcançamos o mundo interno de nossas mentes, somente então
somos um com todos os seres viventes e com todos os mundos. Com esta
consciência, podemos ser felizes e relaxar. Como conseguir esta consciência? Só a
obteremos se praticarmos continuamente os ensinamentos budistas em todas as
circunstâncias de nossa vida diária. Este é o verdadeiro espírito do Budismo
Humanista.

Eu lhes apresentei aqui as seis diferentes maneiras pelas quais o Budismo


Humanista incorpora os ensinamentos tradicionais dos Cinco Veículos; os Cinco
Preceitos e as Dez Virtudes; Os Quatro Votos Ilimitados; os Seis Paramitas e as
Quatro Grandes Virtudes Bodhisattvas; causa, condição, efeito e conseqüência;
Ch'an, Terra Pura e o Caminho do Meio. Como esta conferência sobre o Budismo
Humanista está chegando ao fim, ofereço-lhes estes pensamentos. Que sejam
todos abençoados!

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