1) O autor questiona se Salazar perseguiu a maçonaria como é comumente afirmado após 1974.
2) Salazar inicialmente conviveu harmonicamente com maçons e nomeou alguns para cargos, reconhecendo sua competência.
3) No entanto, com o tempo Salazar passou a valorizar mais aqueles que não eram maçons.
1) O autor questiona se Salazar perseguiu a maçonaria como é comumente afirmado após 1974.
2) Salazar inicialmente conviveu harmonicamente com maçons e nomeou alguns para cargos, reconhecendo sua competência.
3) No entanto, com o tempo Salazar passou a valorizar mais aqueles que não eram maçons.
1) O autor questiona se Salazar perseguiu a maçonaria como é comumente afirmado após 1974.
2) Salazar inicialmente conviveu harmonicamente com maçons e nomeou alguns para cargos, reconhecendo sua competência.
3) No entanto, com o tempo Salazar passou a valorizar mais aqueles que não eram maçons.
Comecemos com a seguinte interrogação: terá sido Salazar um
perseguidor da maçonaria, como é recorrente no discurso generalista posterior a Abril de 74? Franco foi-o certamente no país vizinho
Depois da publicação há meses de dez artigos semanais subordinados ao
tema genérico de Recordações e Recordatórias, em que destaquei personalidades e factos do passado, diligenciando pôr tais evocações ao serviço do futuro, regresso à colaboração com o jornal i com outra série, agora inspirada pelo propósito de confrontar o leitor com Perguntas de Difícil Resposta, deixando ao critério de cada qual contribuir para o apuramento da verdade. A limitação de espaço convencionada com a direcção, que torna as mensagens mais directas, implica que os temas escolhidos sejam repartidos em duas ou três partes, pelo dever de trazer ao conhecimento e ao debate o que vivi ou soube de fonte segura. Poder-se-á assim contribuir para desfazer meias verdades de autoproclamados historiadores e politólogos. Comecemos pois com a seguinte interrogação: terá sido Salazar um perseguidor da maçonaria, como é recorrente no discurso generalista posterior a Abril de 74? Franco foi-o certamente no país vizinho, ao proclamar que os dois obstáculos à Espanha una e católica, que os textos paraconstitucionais consagravam, eram os comunistas, frequentemente apelidados de sovietes, e os maçons. Não hesitou, inclusive, numa prova de força, em desrespeitar a linha dinástica dos Bourbons, preterindo no regresso à monarquia o chefe da casa real pelo seu filho, por ter aquele como membro da maçonaria. Mas entre nós o todo- poderoso chefe do governo iniciou o seu percurso em harmonioso convívio com o general Carmona e o colega da Universidade de Coimbra Alberto dos Reis, ambos altos postos da hierarquia maçónica. Depois, com o passar dos anos, foi valorizando politicamente diversos maçons, reconhecendo-lhes competência e integridade moral, sem ensombrar tais nomeações pelo facto de ser voz corrente que pertenciam convictamente à respectiva fraternidade. Lembro o meu saudoso amigo Albino dos Reis, prócere de Aveiro, que foi ministro do Interior e depois terceira figura do regime, como presidente da Assembleia Nacional. Veio Albino, enquanto republicano e de feição liberalizante, a servir de avalista político aos elementos que durante o mandato de Marcello Caetano pugnámos pela renovação, a começar por Melo e Castro, que sem o seu apoio dificilmente teria sido designado presidente da comissão política da União Nacional, a partir de onde desencadeou o corajoso processo da criação da denominada ala liberal da Assembleia, formando um grupo em que muitos nem se conheciam. Cito também o almirante Sarmento Rodrigues, ministro do Ultramar, e Supico Pinto, que, depois de ter tido a tutela da pasta da Economia, veio a ser, como presidente da Câmara Corporativa (componente parlamentar com a natureza de conselho económico-social), o principal confidente de Salazar nos últimos anos do seu consulado, propondo ministros e altos cargos, a par de contribuir para a saída de outros. A isto se deve acrescentar que o melhor amigo do presidente do Conselho foi sempre o respeitado professor de Medicina de Coimbra Bissaia Barreto, que quinzenalmente vinha jantar à residência de S. Bento, dispensando o anfitrião a habitual presença à mesa da governanta para que pudessem conversar a dois, seguramente não só para evocar a coincidência na docência da universidade. Nem Salazar esquecia o convite, nem Bissaia deixava nunca de comparecer, embora confessasse com humor que a conversa era melhor que a ementa. Tais encontros provocavam não só a apreensão como o ciúme do cardeal Cerejeira.