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Edição 80 | Ano IX | Agosto de 2017

Revista da Associação Brasileira de Ensaios Não Destrutivos e Inspeção

Da área médica à industrial,


o uso da ferramenta é
quase irrestrito

Entrevista exclusiva de
Waldyr Barroso,
diretor da Agência
Nacional de Petróleo,
Gás Natural e
Biocombustíveis
(ANP)

3o Encontro Anual
Abendi sobre
Certificação de
Competências Pessoais
em Atmosferas
Explosivas vem aí...

Na Seção Técnica, veja


os artigos de especialistas
em termografia
seção técnica

UM DISPOSITIVO VERSÁTIL PARA SIMULAÇÃO E MEDIÇÃO DE


IMPORTANTES PARÂMETROS APLICADOS EM TERMOGRAFIA
Laerte dos Santos
Alisson Maria Lemosa
0DUFR$QW{QLR$EL5DPLD

Sinopse
Este artigo apresenta um dispositivo extremamente versátil e muito útil como um simulador, capaz de simular termicamente objetos, equipa-
para a área de termografia. Ele pode ser utilizado como um corpo negro mentos e superfícies. Nessa última funcionalidade, o dispositivo, se visto
de baixo custo para a verificação da calibração de câmeras termográfi- a olho nu, mostrará a imagem visível do equipamento ou superfície que
cas e termômetros de infravermelho, como referência na comparação está simulando, mas, se visualizado por uma câmera termográfica, re-
de características de câmeras, como instrumento didático para o estudo produzirá as temperaturas aparentes daquele mesmo equipamento ou
e aplicações de transferência de calor e radiometria e, especialmente, superfície.

INTRODUÇÃO necessário que se possua equipamentos corpos negros de alto


custo ou que o radiômetro seja enviado periodicamente a labo-
Em medições de temperatura e/ou em análises térmicas uti- ratórios de terceiros para ser verificado ou calibrado.
lizando radiômetros (câmeras termográficas e termômetros de O dispositivo aqui apresentado se propõe a minimizar estas
infravermelho), a correta operação e calibração dos radiômetros dificuldades com simplicidade e baixo custo.
e o conhecimento sobre os fenômenos físicos envolvidos são
muito importantes. Consequentemente, a qualificação do termo- O SIMULADOR DE CONDIÇÕES TERMOGRÁFICAS
grafista e um radiômetro calibrado são elementos que devem
ser exigidos quando se deseja alcançar resultados confiáveis. Batizado de Simulador de Condições Termográficas (SCT), o
Porém, qualificar um termografista adequadamente e verificar dispositivo aqui discutido (Figura 1) inicialmente foi concebido
periodicamente a calibração do radiômetro, geralmente não são para tornar possíveis os exames práticos da certificação brasileira
tarefas de baixo custo. de termografia. Entretanto, ele tem provado ser uma ferramenta
Um treinamento adequado deve fornecer ao termografista os muito útil e versátil para centros de treinamentos e entidades
conhecimentos teóricos necessários e é altamente recomendável educacionais e ainda pode ser utilizado como um corpo negro
que ele tenha acesso a aulas práticas, nas quais possa manusear de baixo custo para a verificação da calibração de radiômetros.
o radiômetro e se familiarizar com as principais situações que irá Basicamente, o SCT é um simulador de corpo negro de super-
encontrar no dia a dia. Entretanto, aulas práticas, que criem no fície/área plana, cuja temperatura de superfície é ajustada, con-
termografista um alto grau de confiança, devem ser realizadas trolada e monitorada por computador, via cabo RS-232/USB ou
no próprio local em que ele vá desempenhar as inspeções, prefe- via wireless. Na superfície frontal do SCT e dentro de uma ampla
rencialmente apresentando as possíveis anomalias relacionadas faixa de temperatura é possível obter exatidão, uniformidade e
àquele local. Se realizado em sala de aula, o cenário ideal seria estabilidade de temperatura, adequados para a verificação da
a sala possuir vários equipamentos e anomalias térmicas rela- calibração de grande parte dos radiômetros comerciais. Contudo,
cionados ao local em que serão realizadas as futuras inspeções. suas várias outras funcionalidades são resultado do software
A primeira opção nem sempre é possível e quando é, os equipa- desenvolvido para controlá-lo e monitorá-lo e dos diversos aces-
mentos sob análise e inspeção nem sempre estão com anomalias sórios que o acompanham.
e estas não podem ser provocadas apenas para o treinamento. Através do software é possível inserir, monitorar e controlar a
Na segunda opção, reproduzir a grande diversidade de equipa- temperatura da área frontal do SCT, ao mesmo tempo em que
mentos existentes e a grande quantidade de anomalias térmi- possibilita o monitoramento da potência necessária para alcançar
cas possíveis de uma determinada instalação, como uma subesta- e estabilizar a temperatura desejada. Além disso, o software
ção, por exemplo, exigiria um alto custo para um centro de oferece a possibilidade de salvar todo o histórico das variações
treinamento ou uma entidade educacional. de temperatura no tempo, criar planilhas e gráficos. Caso o reló-
Do mesmo modo, também não é uma tarefa simples, do ponto gio do SCT seja sincronizado com o relógio do radiômetro, as
de vista financeiro, verificar periodicamente a calibração do radiô- medidas realizadas em um determinado horário podem ser
metro. Geralmente, para ser possível executar essa tarefa, é comparadas e validadas com os registros salvos no SCT.

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Figura 2 - Módulo criado a partir das temperaturas
Figura 1 - Simulador de Condições Termográficas (SCT) do objeto a ser simulado

Figura 3 - SCT simulando uma conexão em operação – (a) Visto a olho nu (b) Visto com uma
câmera termográfica (c) Visto com uma câmera termográfica em modo fusão.

Com auxílio de acessórios, o SCT possibilita desempenhar um módulo acoplado à área dianteira aquecida do SCT.
diversas funções úteis ao estudo e a aplicações de transferência O módulo é construído utilizando como modelo um ter-
de calor. Algumas delas são listadas abaixo: mograma real do objeto que se deseja simular. O termograma
• Simular termicamente uma determinada superfície. 2D é convertido em uma imagem 3D por um software CAD
• Realizar ensaios e medidas de condutividade ou resistência (computer aided design). O eixo z é calculado pela Equação 1, con-
térmica baseada nas Normas ASTM C 177, C 1044 e ISO 8302. vertendo as temperaturas aparentes do termograma em
• Realizar ensaios e medidas de emissividade segundo as espessura do módulo. Assim, o módulo terá uma espessura não
Normas NBR 16485, ASTM E1933 ou ISO 18434-1 Annex A.2. uniforme, proporcional às temperaturas aparentes da superfície
• Realizar ensaios e medidas de transmitância de acordo com as do objeto a ser simulado, como mostrado na Figura 2.
Normas NBR 16554 ou ASTM E1897. Sobre a superfície do módulo é fixada um película transparente
• Realizar ensaios e medidas de temperatura aparente refletida para a radiação infravermelha, na qual a imagem visível do objeto a
de acordo com as Normas NBR 16292, ASTM E1862 ou ISO 18434- ser simulado é impressa. Como resultado, se o SCT é visto por uma
1 Annex A.1. câmera termográfica, ele reproduz as temperaturas aparentes da
• Ensaios de determinação de melhor foco óptico. superfície do objeto e, ao mesmo tempo, se for visto a olho nu,
• Realizar ensaios e medidas de IFOV e MFOV. mostra a imagem do próprio objeto como mostrado na Figura 3.
O módulo é construído realizando os passos seguintes:
SCT COMO SIMULADOR DE SUPERFÍCIES a) Com uma câmera termográfica de resolução nxm captura-
se a imagem térmica (termograma) do objeto real que se deseja
Nesta funcionalidade, o SCT pode simular termicamente simular e converte-o em uma matriz de temperaturas aparentes
objetos, equipamentos, seres vivos, etc. Isso é possível através de Ts(i,j) .
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seção técnica

Figura 4 - Termograma do objeto a ser simulado convertido em uma matriz de temperaturas aparentes

b) Utilizando a lei de Fourier (Equação 1), converte-se as diversas


temperaturas aparentes da superfície do objeto em uma matriz
de espessuras L(i,j).

(1)

c) A partir dos valores de espessura calculados e definindo


as dimensões de largura e comprimento iguais às dimensões
frontais do SCT, o módulo é confeccionado em uma impressora
3D ou em um torno a CNC (controle numérico computadorizado) Figura 5 – O módulo deve ser acoplado
utilizando um material de alta resistência térmica. em contato direto com o SC
d) Sobre o módulo é afixado uma película de material transpa-
rente ao infravermelho, no qual é impresso a foto da superfície do
objeto, com as mesmas dimensões e no mesmo ângulo em que
foi capturado o seu termograma. Desse modo, ao ser observado
a olho nu, o módulo mostra a foto do objeto e ao ser observado
através de uma câmera termográfica, o módulo mostra a distri-
buição térmica simulada do objeto.
Finalmente, para que o módulo simule o objeto, ele deve ser
acoplado à área aquecida do SCT como mostrado na Figura 5, na
qual TSCT ≥ Ts(i,j)max.

USO DO SCT NA MEDIÇÃO DA CONDUTIVIDADE TÉRMICA

Com esta funcionalidade, é possível testar e medir a condutivi-


dade térmica e determinar as propriedades de transmissão
térmica de uma placa plana (amostra) em regime estacionário. Figura 6 – A amostra (placa plana) deve ser
Passos para medir a condutividade térmica de uma placa plana: acoplada em contato direto com o SCT
a) Conectar a placa na área aquecida do SCT de acordo com a
Figura 6. Ao medir a temperatura TS com uma câmera termográfica,
b) Ajustar o SCT para a temperatura desejada e aguarde sua é possível realizar não apenas medições em alguns pontos,
estabilização. mas também toda a superfície da amostra, o que fornece mais
c) Medir a temperatura TS e calcular o coeficiente de conduti- informações sobre a amostra e é um benefício adicional em
vidade térmica KS utilizando a Equação 2. relação aos métodos que utilizam termômetros de contato. Cabe,
aqui, observar que este ensaio tem um propósito didático e não
(2) pretende alcançar resultados de alta exatidão.

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Figura 7 – Exemplos de ensaios de emissividade

Figura 9 – Verificação da calibração de


Figura 8 – Ensaio de uma janela de infravermelho uma câmera termográfica

USO DO SCT EM ENSAIOS E MEDIÇÃO DE EMISSIVIDADE realizados com a simples instalação de diferentes materiais,
poucos centímetros à frente do SCT. A Figura 8 mostra um exemplo
Para executar ensaios e medição de emissividade, o usuário de medição de transmitância de uma janela de infravermelho.
deve acoplar a amostra diretamente em contato a área aquecida A medição de transmitância pode ser realizada na temperatura
do SCT, Ajustar a temperatura desejada, bem como o ângulo de desejada, adotando a Norma NBR 16554 ou a ASTM E1897.
visão utilizado no ensaio. Os ensaios de dependência angular da
emissividade podem ser realizados com rotação horizontal ou USO DO SCT COMO REFERÊNCIA DE TEMPERATURA
vertical do SCT. (CORPO NEGRO)
A medição de emissividade pode ser realizada na temperatura
desejada, adotando a NBR 16485, a ASTM E1933 ou a ISO 18434-1 O SCT é um simulador de corpo negro de área plana. Sua
Annex A.2. área frontal possui um material de alta condutividade térmica,
A Figura 7 mostra exemplos de ensaios de emissividade. moldada de uma só peça para melhorar a uniformidade da
temperatura e sua superfície é revestida com uma substância
USO DO SCT EM ENSAIOS DE TRANSMITÂNCIA DE MATERIAIS de alta emissividade. Sua temperatura pode ser ajustada com
exatidão, uniformidade e estabilidade, tornando-se adequado
Ensaios e medição da transmitância de materiais podem ser para verificar a calibração da maioria dos radiômetros comerciais.

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seção técnica

Figura 10 – Interface HMI do SCT

INTERFACE DO SCT COM O USUÁRIO Conference on Quantitative InfraRed Thermography – QIRT –


Bourdeaux, (2014)
A Figura 10 mostra a interface utilizada para controlar o SCT, SANTOS, L, Lemos, A. M. and Abi Ramia Jr., M. A., “A simple
desenvolvida em plataforma Windows/LabVIEW e que possibilita blackbody simulator with several possibilities and applications
ao usuário as seguintes funcionalidades: on thermography” “ A simple blackbody simulator with several
• Ajuste da temperatura desejada e monitoramento da área possibilities and applications on thermography “, Proc. SPIE 9861,
aquecida. Thermosense: Thermal Infrared Applications XXXVIII, 986112
• Exibição do gráfico de temperatura em função do tempo e (May 11, 2016); doi:10.1117/12.2228988
arquivamento dos dados em planilha e/ou bitmap. ASTM, “ASTM C177 - Standard Test Method for Steady-State
• Visualização do erro entre a temperatura desejada e a Heat Flux Measurements and Thermal Transmission Properties by
temperatura real. Means of the Guarded-Hot-Plate Apparatus,” ASTM International,
• Visualização da potência aplicada ao sistema de aquecimento. West Conshohocken, PA, (2013), www.astm.org
• Comunicação USB / Serial. ISO, “Thermal insulation - “ISO 8302 - Determination of steady-
• Comunicação sem fio. state thermal resistance and related properties - Guarded hot
plate apparatus,” ISO/TC 163/SC 1, www.iso.org
CONCLUSÃO MARIUSZ, L., “Influence of Angle of View on Temperature
Measurements Using Thermovision Camera,” IEEE Sensors
Este artigo apresenta o Simulador de Condições termográficas Journal, Vol. 10, No. 10, (2010)
– SCT, dispositivo simples, mas com várias funcionalidades, ASTM, “ASTM E1933 - Standard Practice for Measuring
incluindo a interessante capacidade de simular a superfície and Compensating for Emissivity Using Infrared Imaging
de objetos reais. Essa funcionalidade possibilita o estudo Radiometers,” ASTM International, West Conshohocken, PA,
prático em sala de aula, de diferentes áreas, como eletricidade, (2014), www.astm.org
mecânica, médica, construção, veterinária, etc. e ainda pode ser ISO, “ISO 18434-1 - Condition monitoring and diagnostics of
utilizado como um corpo negro de baixo custo para a verificação machines -- Thermography -- Part 1: General procedures,” ISO/TC
da calibração de câmeras termográficas e termômetros de 108/SC 5, (2008), www.iso.org
infravermelho. ASTM, “ASTM E1897 - Standard Practice for Measuring and
Compensating for Transmittance of an Attenuating Medium
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Using Infrared Imaging Radiometers,” ASTM International, West
Conshohocken, PA, (2014), www.astm.org
SANTOS, L, Lemos, A. M. and Abi Ramia Jr., M. A., “A Simple ASTM, “ASTM E1213 - Standard Practice for Minimum Resolvable
and Practical Device to Make Feasible the Practical Examinations Temperature Difference for Thermal Imaging Systems,” ASTM
for Certification in Thermography,” The 12th International International, West Conshohocken, PA, (2014), www.astm.org a

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seção técnica

CICLO DE FALHA EM UMA CONEXÃO ELÉTRICA

Mário Cimbalista Júnior

TEMPERATURA VERSUS DETERIORAÇÃO

Uma investigação com centenas de conectores elétricos


defeituosos (COPEL, 1986) mostrou que, muitos deles, apesar de
apresentarem pequenos aumentos de temperatura (5°C a 10 °C)
acima da temperatura ambiente, foram encontrados seriamente
deteriorados e outros com temperaturas de 100 °C ou mais
tiveram pequena deterioração visível.
As razões para este aparente paradoxo são que o aquecimento
excessivo por um longo período de tempo faz com que as super-
fícies em contato aqueçam, se afastem e produzam pequenos
arco-voltaicos – nem sempre intensos e visíveis - até o ponto
em que ocorre uma deterioração grave, embora nem sempre
igualmente visível. Os arcos fazem com que, em uma etapa se-
guinte, as superfícies derretam e soldem entre si, o que constitui
então um caminho de baixa resistência para o fluxo de correntes.
Como resultado dessa fusão, o aquecimento do componente
pode até cessar completamente por um tempo uma vez que a área
de contato aumenta devido à “fusão” entre as superfícies. Essas
soldas não intencionais são, de forma geral, pobres e quebra- Figura 1: Imagem de Microscopia Atômica de
diças por estresse mecânico, alta carga, correntes de falta, dila- um filme de Cobre de 4nm de espessura
tações e contrações sucessivas por fatores ambientais e mesmo
a vibração de frequência industrial. Estes eventos fazem parte do
ciclo de funcionamento de qualquer conexão e, depois de um nú-
mero indeterminado, mas finito de esforços, há a ruptura mecâ-
nica da solda, com a ocorrência novamente de arco e a soldagem
das superfícies. Enquanto esse ciclo continua, a deterioração das
superfícies progride; se não detectada a tempo pela Termografia,
a conexão ou contato apresentará uma falha.
Em termos práticos, duas superfícies, mesmo que polidas de
uma conexão ou contato, nunca são perfeitamente planas (Fig. 1
e 2). Pelo contrário, são constituídas de pequenas irregularidades
que, quando unidas e mantidas assim por torque ou pressão, per-
mitem que a corrente elétrica passe por elas, de uma superfície
para a outra. Devido a sucessivos esforços de dilatação e contra-
ção por variações na carga aplicada, variações ambientais e at-
mosféricas circadianas ou sazonais, essas pequenas irregulari-
dades vão se deteriorando pelo processo já explicado. O detalhe
é que o centelhamento, por sua vez, funde os picos de contato
causando um assentamento entre as superfícies.
Esse assentamento, por sua vez, diminui o torque ou pressão
exercida entre as superfícies. Isso, por sua vez, facilita as que-
bras de outras soldas e o ciclo perverso se estabelece. Se a velo-
cidade de aquecimento for muito rápida, a tendência é a falha
Figura 2: Circulação de corrente por
a curto prazo. Por outro lado, se o aquecimento for lento, a ten- contatos microscópicos
dência é uma fusão mais estável e um período maior até a
falha. Isso pode ser exemplificado no gráfico a seguir (Fig. 3).

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Figura 3: Ciclo hipotético de falha em uma conexão elétrica

Figura 4: Exemplo de cabo e terminal no destaque em vermelho, severamente oxidado internamente,


com carga, soldado e “frio”

Figura 5: Ponta de cabo deteriorado (severamente oxidado internamente), com carga, soldado e “frio

Nas Figs. 4 e 5 pode-se observar dois casos de deterioração conforme a Fig. 6. Nessa montagem, um terminal defeituoso
severa sem que haja aquecimento correspondente. é submetido a uma carga constante, desligado e religado, e a
A fim de comprovar o ciclo de aquecimentos e sucessivas curva de temperaturas que o mesmo atinge (Fig. 7) apresenta as
soldas de uma conexão real, foi montado em um experimento oscilações ocorridas ao longo do tempo.

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seção técnica

Figura 6: Experimento com conexão defeituosa

Figura 7: Curvas de aquecimento e resfriamento em uma conexão defeituosa

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CONCLUSÕES CASO CONCRETO
Não se deve deixar enganar pela temperatura absoluta. A Na prática, e em instalações expostas às intempéries, por
temperatura medida no momento da inspeção Termográfica exemplo, os ciclos de variação de temperatura são mais
não indica, necessariamente, a gravidade de um uma anomalia complexos. No exemplo a seguir (Fig. 8), uma chave seccionadora
ou defeito. Ele pode estar em um ciclo de baixa ou, como nos em um poste é acompanhada durante alguns dias. No primeiro
casos das Figs. 4 e 5, completamente soldado e frio. Para um dia, as leituras são feitas de duas em duas horas, no horário
diagnóstico correto, há que se considerar, em primeiro lugar, se comercial. Após esse período, as leituras foram feitas sempre
a periodicidade em que o mesmo é inspecionado é adequada. que havia disponibilidade da câmera. As variações que se pode
Se a periodicidade for inadequada, é possível passar por um observar na temperatura são devidas não só ao horário em que
componente defeituoso sem que o mesmo se apresente as imagens foram feitas (variações de carga), mas também em
aquecido. Em segundo lugar, a importância de cada componente função de eventos atmosféricos (chuva no caso).
no âmbito do sistema como um todo e em qual momento desta Os valores individuais de cada imagem térmica podem ser
curva de temperaturas a medição está sendo feita. E, em último vistos na Tabela 1 e a variação em gráfico na Fig. 9.
lugar, mas não menos importante, que cada anomalia, se evoluir Após um resfriamento significativo pela chuva, a conexão
para uma falha, vai causar uma interrupção de fornecimento de volta a subir sua temperatura a uma taxa maior que vinha apre-
energia com reflexos imediatos na produção e faturamento. sentando antes do evento.

Figura 8: Acompanhamento de variação de temperatura ao longo do tempo

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seção técnica

Esse exemplo é emblemático de quão crítica uma Termografia REFERÊNCIAS


pode ser. A periodicidade correta, o treinamento do inspetor, e a
câmera adequada, com lentes, se necessário, são fundamentais para - Avaliação de conectores defeituosos retirados de campo,
economias muito significativas em termos de parada de fábrica, mario cimbalista jr. Companhja Paranaense de Energia, SMT, 1986
produção perdida, homens-hora desperdiçados. Em termos de - Iop Science, Nanotechnology, http://iopscience.iop.org/0957-
manutenção preditiva e preventiva, hoje em dia a Termografia é mais 4484/labtalk-article/59989 acessado em 12 de Janeiro de 2017
que uma ferramenta. É uma técnica fundamental sem a qual, por - Theoretical Falilure Curve, The Insfraspection Institute,
exemplo, o sistema elétrico brasileiro não sobreviveria seis meses. Infrarede Inspection Manual, Electrical and Mechanical, June
Em termos fabris, não há mais como conseguir o desempenho atual 1986
sem uma Termografia realizada por um profissional competente e - Termografia Qualitativa em Instalações Industriais, Volume 1,
certificado, e sem uma câmera adequada. mario cimbalista jr, 2016 a

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GESTÃO, PROCEDIMENTOS E A TRÍADE DA QUALIDADE EM TERMOGRAFIA.
$WWtOLR%9HUDWWLH(UDQG\)ORUHV*

Há 52 anos, a introdução da Termografia alterou definitivamen-


te o modo de se obter informação sobre mecanismos de desgaste
associados a anomalias térmicas em todos os ramos da indústria.
O Brasil é o primeiro país a implantar um sistema de certificação
em termografia na América Latina. A consequência natural é a
necessidade de ocorrer, em paralelo, um aprimoramento na
forma como as inspeções termográficas são geridas.
Nesse contexto, uma das mais importantes e mais abrangentes
atribuições do termografista nível 3 em uma empresa é a elabo-
ração de um sistema de Gestão e Procedimentos de Inspeções
Termográficas.
Um sistema de gestão e procedimentos de inspeções termo-
gráficas determina como os trabalhos serão realizados, especifica
os equipamentos necessários, controla o fluxo de informação e
a validação dos relatórios por profissionais certificados. Também
define a base de dados que será utilizada na tomada de decisões
e na curva de aprendizado da empresa com relação ao material Imagem 1 – Tríade da Qualidade
gerado pelas inspeções termográficas.
Em sua concepção, um sistema de Gestão e Procedimentos, in-
corpora os três aspectos constituintes da “Tríade da Qualida-
de“: Profissional Envolvido, Equipamento Selecionado e Proces-
samento da Informação Térmica.

PROFISSIONAL ENVOLVIDO
O primeiro vértice da qualidade envolve os graus de capacitação
e treinamento necessários para as diversas categorias de
profissionais envolvidos na operação do sistema de Gestão.
Em Termografia, a identificação de anomalias é altamente de-
pendente capacitação e do treinamento do elemento humano.
Se um tipo de anomalia não existir previamente na mente do
termografista, provavelmente passará sem ser detectada.
Dependendo da função, alguns profissionais necessitarão
apenas de treinamentos básicos ministrados interna ou externa-
mente na empresa. Outros demandarão certificação Nível 1, 2
ou eventualmente 3, segundo o grau de responsabilidade e as Imagem 02: Inspeção termográfica em rede de
normas reconhecidas do país. transmissão. Nesta aplicação é crucial a capacidade
do sistema infravermelho em medir objetos pequenos
Uma deficiência que infelizmente ocorre é a falta de treinamento a longas distancias.
adequado na operação e funções dos equipamentos utilizados,
necessidade muitas vezes detectada em participantes de cursos melhos em termos de desempenho e custo/benefício, conside-
de nível 1. rando a grande variedade de marcas e versões que cobrem toda
Quando necessário uma empresa pode desenvolver material a gama de preços.
de capacitação e treinamento específico para sua atividade, de Diferentes tarefas demandam diferentes necessidades, alguns
preferência sob a responsabilidade de profissionais nível 3. dos parâmetros típicos a serem especificados são:
• Resolução de Medição (MFOV, dado em miliradianos): de-
EQUIPAMENTO SELECIONADO finido como o menor objeto que pode ser medido a uma certa
O segundo vértice da qualidade diz respeito aos equipamentos distância. É resultado do número de pixels que compõem a matriz
utilizados. do detector, ângulo da lente, qualidade da óptica selecionada e,
Consiste na definição das especificações dos sistemas infraver- eventualmente, das características do modo de medição (por

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seção técnica

exemplo velocidade relativa do objeto-alvo). Este parâmetro


não é informado pelos fabricantes, existindo métodos para sua
determinação em situações específicas. O conhecimento do
MFOV é determinante para a definição de procedimentos que
permitam a correta medição de objetos pequenos a longa dis-
tância, típica das inspeções de redes elétricas de distribuição e
transmissão.
• Ângulo de visão: em aplicações como inspeções de edificações,
fornos e reatores de grandes dimensões a principal necessidade
é apresentar um amplo campo de visão. Lentes com campos de
visão maiores que 40° são necessárias para essas aplicações.
• Equipamentos de baixo custo: de que forma equipamentos
de pequeno porte e boa resolução podem ser inseridos de
maneira efetiva nos sistemas de inspeções termográficas? Essa
é uma pergunta que os testes realizados em diversos clientes
irão demonstrar, mas a tendência é uma presença cada vez mais
ampla e definitiva da Termografia nas atividades rotineiras de
Imagem 03: Mesma cena vista com lentes de inspeção de equipamentos e verificação de reparos realizados.
ângulos de visão de 45°, 25° e 15°.
PROCESSAMENTO DA INFORMAÇÃO
O terceiro vértice da Qualidade é a Informação. Faz parte do
gerenciamento a tomada de decisões responsáveis com base na
melhor informação disponível.
A Termografia busca, em última essência, Informação.
Para assegurar a credibilidade da técnica, temos que ser
capazes de transformar os dados térmicos em informações sobre
Imagem 04: Sistema
infravermelho a condição operacional dos equipamentos inspecionados.
conectável em celular. Se essa informação não é devidamente registrada, armazenada
e analisada grande parte do investimento é perdida.
O processamento da informação térmica se inicia com o
tratamento das imagens gravadas no aplicativo do fabricante,
passa pelo critério de análise e classificação das anomalias,
emissão dos relatórios e elaboração de uma base de dados, o que
possibilitará criar uma curva de aprendizado para o sistema de
inspeção termográfica.
• Tratamento das imagens: inclui as capacidades do aplicativo
de processamento de imagens do fabricante do sistema
infravermelho com as funções de medição, paletas, filtros etc. Em
alguns casos pode envolver aplicativos complementares como o
MatLab.
• Análise das medições efetuadas: a medição de temperaturas
não tem nenhum valor se não houver critérios para orientar as
análises (delta T ou MTA). Por sua vez critérios não serão de grande
valia se não estiverem associados a ações específicas. Os autores
adotam a forma que consideram a mais efetiva para se classificar
uma anomalia, denominada Risco ao Sistema Produtivo, ou Risco
ao Fornecimento, conceito que encontra similaridade ao adotado
pelas empresas seguradoras.
• Analises térmicas especiais como o Cálculo de Trocas Térmicas
e a Avaliação de Espessura de Revestimentos são importantes
Imagem 05: Análise de revestimento refratário, para a transformação de valores de temperaturas em importantes
imagens comparativas processadas com informações sobre a condição operacional dos equipamentos
o aplicativo ResearchIR.
inspecionados.

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Imagem 06: Classificação de Risco ao Sistema.

Imagem 07: Cálculos de Trocas Térmicas em equipa-


mentos de grande porte.

Imagem 08: Avaliação de espessura de revestimentos


em equipamentos Imagem 09: Análise estatística de ocorrências em um
sistema elétrico

7H[WRH[WUDtGRGR6LVWHPDGH*HVWmRH3URFHGLPHQWRVGH,QVSHo}HV7HUPRJUi¿FDV
(QJ$WWtOLR%9HUDWWL±WHUPRJUD¿VWD1$EHQGLH,7&H(QJD(UDQG\)ORUHV*XHYDUD±WHUPRJUD¿VWD1,7&
,&217HFQRORJLD7HUPRJUi¿FDH(QJHQKDULD&RQVXOWLYD/WGD

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