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25/10/2017 Barufaldi Advogados » Filiação socioafetiva: reconhecimento e requisitos declaratórios.

Filiação socioafetiva: reconhecimento e requisitos declaratórios.


Ceres de Oliveira Danckwardt

A filiação socioafetiva é conceito relativamente recente na doutrina e na jurisprudência, desenvolvido


da relação parental de filiação pelos laços afetivos que podem ser estabelecidos entre pessoas que, entre si e
socialmente, se apresentem e se comportem como pai/mãe e filho.

A paternidade/maternidade socioafetiva precisa ser declarada judicialmente para produzir efeitos


jurídicos, no entanto não é constituída judicialmente – forma-se apenas em decorrência da socioafetividade.
Não há tempo mínimo necessário para que se caracterize a paternidade/maternidade socioafetiva – ela se
encontra no preenchimento de certos requisitos. Normalmente, a paternidade socioafetiva se encontra
atribuem-se três pressupostos para o seu reconhecimento: tratamento, nome e fama/publicidade.

A posse de estado de filho caracteriza-se, primeiramente pelo tractus, ou seja, o filho deve ser tratado
como tal, criado e educado pelo pai/mãe como se o fosse. Em segundo lugar, deve haver o uso do nome da
família e a apresentação do indivíduo como filho de quem se pretende ver reconhecida a
paternidade/maternidade socioafetiva (nominatio). Por fim, o elemento reputatio deve ser preenchido, de
forma que o filho seja conhecido e visto pela opinião pública como pertencente àquela família socioafetiva

Indispensavelmente, pois, o filho socioafetivo deve ser tratado e apresentado como filho. A análise de
simples fatos do cotidiano pode servir como substrato probatório a determinar a socioafetividade, como, por
exemplo, a inclusão do filho como dependente quando da declaração do Imposto de Renda, o fato de o
pai/mãe incluir aquele quando lhe é perguntado quantos filhos têm, o modo de chamar aquela pessoa frente
aos outros – se se refere a ele como filho, como enteado, etc. Nesse sentido, os elementos visam a conferir
aparência ao relacionamento de pai/mãe e filho, de forma a haver verossimilhança entre a realidade e a
relação que se pretende ver reconhecida juridicamente.

Cabe consignar, ainda, que a chamada adoção à brasileira também se trata de instituto muito comum na
atualidade, tratando-se da hipótese em que alguém registra outrem como filho, em que pese saiba que não é o
seu pai/mãe biológico(a) – a mãe ou a família biológica “dá” a criança para outra pessoa, escolhida por ela, à
margem dos trâmites legais. Ainda que, após o advento da Lei da Adoção de 2009, qualquer adotante no
Brasil tenha de estar, obrigatoriamente, inscrito no CNA (Cadastro Nacional de Adoção), a prática

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supracitada é recorrente, ocorrendo, sobretudo, em se tratando de famílias mais humildes, que não
necessariamente desejam doar os seus filhos, mas acabam o fazendo por pressão social e econômica.

Hoje, considerando-se a doutrina e a jurisprudência, não há dúvidas de que a paternidade afetiva é


muito superior à biológica. O fato de haver um pai registral biológico não impediria o reconhecimento da
paternidade socioafetiva – nesse âmbito é que entra a Ação Declaratória de Paternidade Socioafetiva, não
limitada a nenhum prazo estabelecido. Nessa hipótese, deve ser citado o pai registral – que pode ser o
biológico-, e geralmente se altera o registro civil, retira-se o sobrenome do pai biológico e, por fim, inclui-se
o sobrenome do pai socioafetivo. Com a destituição do pai registral, este passa a não ter mais o dever de
pagar alimentos.

A parentalidade socioafetiva destina-se a proteger e sustentar a relação jurídica parental preexistente,


decorrente de ato formal e voluntário de reconhecimento de maternidade ou paternidade. Nesse sentido, a
consolidação do vínculo no plano fático visa à defesa contra eventual tentativa de desfazimento dessa relação
por outrem, diante da mera alegação de ausência de identidade genética. Destarte, o reconhecimento da
parentalidade socioafetiva é cabível para o efeito de preservar uma filiação, juridicamente já constituída de
modo voluntário, pelo registro, este que define, no plano jurídico, a existência do laço.

Quando a iniciativa para a constituição da relação de parentalidade não parte do pai/mãe socioafetivo(a),
falecido(a) sem manifestar formal e expressamente a vontade de adotar, descabe perquirir acerca da
existência do alegado vínculo socioafetivo. Isso porque, ainda que comprovada a alegada relação de
socioafetividade, não teria ela força suficiente para constituir uma nova relação jurídica de parentalidade pela
via judicial e, consequentemente, desfazer a hígida relação jurídica de filiação já estampada no registro civil.

Em se tratando de filiação socioafetiva post mortem, verifica-se que somente se poderá afirmar que houve
relação de filiação, se, além da caracterização do estado de posse de filho, tiver havido clara e inequívoca
intenção em vida, por parte do de cujus, de ser reconhecido como pai/mãe daquele indivíduo. Não havendo
indícios dessa vontade, improcede qualquer pretensão de se atribuir a parentalidade socioafetiva. Nesse
sentido: Apelação Cível 70063217707, 8ª Câmara Cível, TJRS, Relator: Luiz Felipe Brasil Santos, Julgado
em 09/04/2015; Apelação Cível 70060689288, 7ª Câmara Cível, TJRS, Rel.: Sérgio Fernando de
Vasconcellos Chaves, 27/08/2014; REsp 1328380/MS, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE,
TERCEIRA TURMA, julgado em 21/10/2014, D

DINIZ, Maria Helena. Manual de Direito das Famílias. 2. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2005,
p. 341.

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