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ANALISANDO O FILME CENTRAL DO BRASIL: ALFABETIZAÇÃO E

LETRAMENTO

Ayra Moabb Monteiro Pessoa


Cibele Salviano Guilherme de Souza
Francisco Marcus Nunes Vidal
Janaina Cheilha Monteiro Palhares de Souza
João Reinaldo Ferrreira
Karina Monteiro Salviano da Silveira

RESUMO: Este artigo tem como objetivo analisar a importância da alfabetização e


letramento na sociedade atual, utilizando-se o filme Central do Brasil (1998), de Walter
Salles. Discutiremos o processo de ensino-aprendizagem como importante instrumento
para o desenvolvimento do indivíduo, que necessita adquirir as concepções de leitura e
escrita para interagir com o meio em que vive. O filme é um retrato da maioria da
população brasileira, destacando as dificuldades enfrentadas pela população brasileira e
seus principais problemas sociais como: a exclusão social e o analfabetismo formal e
digital. Pretendemos analisar a exclusão social pela falta de alfabetização e letramento
da maioria da população do nosso país, já que esses são essenciais para o
desenvolvimento econômico, social, cultural e político do país e da população brasileira.

Palavras-Chave: letramento; população; Brasil

ABSTRACT
This article aims to analyze the importance of literacy and literacy in today's society,
using the film's Central Brazil (1998), Walter Salles. We will discuss the process of
teaching-learning as an important instrument for the development of the individual, who
need to acquire the concepts of reading and writing skills to interact with the
environment in which they live. The film is a portrait of the majority of the Brazilian
population, high lighting the difficulties faced by the Brazilian population and its major
social problems such as social exclusion and illiteracy formal and digital. We intend to
analyze social exclusion due to lack of literacy and literacy of the majority of the
population of our country, as these are essential for economic, social, cultural and
political development of the country and the population.

KEYWORDS: Literacy, Population, Brazil

INTRODUÇÃO
O artigo aqui apresentado tem por finalidade analisar sob o olhar do leitor, o
filme Central do Brasil de Walter Salles (1998) produzido no Brasil e destacando os
problemas sociais e de relação familiar que as pessoas que não sabem ler e escrever
enfrentam no seu cotidiano.O filme conta a história de um garoto chamado Josué
(Vinicius Oliveira), de 9 anos e órfão de mãe, que procura pelo pai com a ajuda de
Dora(Fernanda Montenegro), uma professora aposentada que escreve e ler cartas para
pessoas analfabetas. Dora havia se tornado cínica e mesquinha ao longo de sua vida por
causa das dificuldades e falta de oportunidade de alcançar seus sonhos.
O cinema brasileiro teve uma retomada por volta 1990, quando o Brasil tinha a
necessidade de mostrar a realidade do seu povo e os contrastes existentes. Junto com o
filme foi mostrado também o momento político e social que o país enfrentava na época
da gravação e as reais possibilidades de mudança através da mobilização da população
brasileira e suas decisões.
A realidade do Brasil e do seu povo
O filme começa com a imagem de alguns populares de várias idades, sexo e
cores. Personagens que ditam cartas para Dora escrever e que revelam seus problemas e
dificuldades enfrentadas pela falta de alfabetização e letramento, porém possuem
sotaques das mais diversas regiões do país. Isso nos mostra que o Brasil é extremamente
diversificado em sua cultura e variações linguísticas, portanto um país construído a
partir de uma realidade social e cultural diferente, onde seu povo miscigenado sofre por
muitos anos as dificuldades de um começo histórico cheio de preconceito e negação de
direitos a Educação, trabalho e liberdade religiosa.
Entre tantas pessoas que ditam as cartas está a mãe de Josué, Ana Fontenelle
(Soia Lira) ela dita a carta em nome do menino Josué, dizendo que o mesmo quer
conhecer o pai. O homem desaparecido há alguns anos no sertão nordestino adentro,
não tem endereço certo e, portanto forçando Dora e o menino a se aventurar pelo sertão
a procura dele.Josué, em sua aventura,busca não somente o pai, mas suas raízes no local
de nascimento da mãe falecida e do pai que ele ainda não conhece. Essa situação se
assemelha com a do Brasil e seus muitos moradores que perderam sua identidade e suas
raízes em busca de uma vida melhor em outras regiões que não é a sua. A medida que
eles vão conhecendo o Brasil e suas cidades e regiões nossos personagens vão se
aproximando um do outro e crescendo uma amizade entre eles.
O Brasil, um país de leitores?
No atual contexto, não basta ler e escrever, é preciso ir além da alfabetização
funcional, onde as pessoas são alfabetizadas, mas não fazem uso da leitura e da escrita
na sua prática social. O individuo deve fazer uso e envolver-se em diversas atividades
de leitura e escrita, criando hábitos de leitura no cotidiano e buscando frequentar lugares
onde a leitura seja o foco da apropriação do conhecimento através de livros, jornais e
etc. Segundo Magda Soares “é preciso compreender, inserir-se, avaliar, apreciar a
escrita e a leitura”. Com isso há possibilidades de uma pessoa ser alfabetizada e não ser
letrada.
Concordamos com a professora que no Brasil as pessoas não tem o hábito de
leitura, sabem ler e escrever, porém não colocam em prática suas habilidades leitoras e
muitos não sabem realizar algumas tarefas simples como preencher formulários. No
filme Central do Brasil – pudemos observar que alguns personagens, conhecem o
gênero textual carta, mas não sabem escrevê-la. Por isso a personagem Dora, era uma
espécie de escriba para essas pessoas que podemos denominar de letradas, mas não
eram alfabetizadas. Com isso surgem as dificuldades sociais e a exclusão característica
marcante em quase todas as regiões do nosso país.
O contexto social no qual o indivíduo está inserido é de extrema relevância para
o seu desenvolvimento tanto na apropriação do conhecimento quanto na sua inclusão na
sociedade e nos meios de comunicação e informação. É muito importante se preocupar
com o meio social em que o indivíduo vive e suas dificuldades e desafios diários, suas
lutas e instrumentos utilizados em casa e no trabalho. As pessoas convivem diariamente
com vários gêneros textuais escritos em uma linguagem verbal e não verbal e até
mesmo digital, daí a importância do convívio social e das práticas existentes na
atualidade por meio da informação escrita em papel e também digitalizada, como: e-
mails, blogs, cartazes, receitas de remédio, receitas culinárias, extrato de conta do
banco, operações bancárias, placas, avisos e uma infinidade de recursos de informação e
comunicação existentes com a chegada das novas tecnologias da informação e da
comunicação.
Diante de toda essa reflexão, passamos a perceber a significativa importância
das práticas de alfabetização e letramento e que, a população brasileira segundo alguns
estudos e pesquisas argumentam “não fazem uso das práticas de leitura e escrita como
meio de inclusão na sociedade letrada e por esse motivo sofrem algumas dificuldades
sociais inerentes a falta dessas práticas.
Possibilidades de letramento
O filme aqui analisado retrata algumas tragédias vividas por imigrantes
brasileiros que sofrem com a separação, desintegração familiar e a degradação social
dos professores. A atriz Fernanda Montenegro, vive a história de uma professora
primária chamada Dora que escreve cartas para analfabetos, chegando a praticar
pequenos golpes. Ela envolve-se com Josué um garoto de nove anos e acaba crescendo
como figura humana ao interagir com as vidas de outras pessoas. Os eventos de
letramento ocorrem em diversos espaços sociais que se realizam práticas letradas e
demandam qualquer nível de familiaridade com a escrita. No entanto, o filme não tem a
finalidade de introduzir formalmente os sujeitos no mundo da escrita, mas a partir da
prática de escriba exercida por Dora, se tem o entendimento do letramento por meio das
noções de quem é alfabetizado e não-alfabetizado, tidas como parâmetros nas práticas
escolares e sociais que usam a escrita em contextos específicos, para objetivos
específicos mas, nos faz pensar sobre o que é leitura e o papel da escola na formação do
leitor, modos significados e sentidos de aprender a ler.
Com a busca pelo pai que não conhecia Josué, em companhia de uma professora,
passa por vários locais onde o letramento é percebido por ele e isso provoca nele alguns
questionamentos, formando o sentido de leitor e o conceito de leitura de que ler é
decodificar sinais gráficos que representam determinados sons e que este, não é
privilégio de todos, porém no momento atual, parece impossível que se resuma o
conceito de leitura à mera decifração de palavras, mas se perceba nestes momentos de
letramento formas relacionadas ao contexto sociocultural de leitura da sociedade do
povo brasileiro.
A história de Dora, que escreve cartas na estação Central do Brasil para pessoas
analfabetas nos mostra que muitas pessoas nesse país ainda não sabem ler ou escrever e
que o drama do analfabetismo esta presente em todo o país. Nós observamos pessoas
que não são capazes de ler uma placa, um cartaz, o letreiro de um ônibus ou um artigo
de jornal. O que podemos fazer é lutar através da educação, para que algum dia seja
possível deixar de existir essa dura realidade a que estão submetidos alguns milhões de
brasileiros e que possamos superar as dificuldades e dar oportunidades para cada um
desses analfabetos.
Talvez ainda possamos perceber no filme uma relação de cordialidade e extrema
confiança entre pessoas alfabetizadas e não alfabetizadas, onde até seus segredos mais
íntimos eram revelados a protagonista e os personagens interagem de forma muito
confiante descrevendo situações críticas pelas quais passam em vastas áreas de nosso
país, permitindo a ela dissertar da forma que mais achasse apropriada sobre o tema que
lhe era exposto. Os personagens do filme Central do Brasil têm uma forte carga
dramática o que lhes confere a apresentação de um perfil psicológico bastante definido,
pois compara diferentes realidades, identifica paisagens, entende o sentimento religioso
dessa população humilde e nos posiciona perante grandes problemas nacionais de
comunidades que falam várias formas linguísticas desde a central carioca até o nordeste
brasileiro, numa visão do contexto, o letramento é utilizado em textos escritos e em
várias situações sociais, podemos observar práticas linguísticas em situações em que
tanto a escrita como a fala são temas de destaque em atividades comunicativas no
decorrer da trama, através de algumas palavras escritas ou faladas. A importância do
filme Central do Brasil é mostrar que nada substitui a solidariedade, o amor e a
amizade, como é o caso da existente entre o garoto Josué e a sua mãe substituta, a Dora,
pois apesar desta relação ter começado de uma maneira não amigável, transformou-se
em uma relação de carinho e cumplicidade entre os dois e foi fundamentada pela
palavra escrita, mostrada num momento de extrema necessidade. Eles tornaram-se
cúmplices na escrita de cartas para os analfabetos que procuravam transmitir palavras
carinhosas a quem as recebia.

Letramento Digital
Muitas práticas sociais de leitura e escrita podem ser proporcionadas através dos
meios tecnológicos, como é o caso do computador, a internet, celulares e tabletes.
“Esses meios de comunicação são cheios de palavras, textos, imagens e signos que
caracterizam muito bem a sociedade letrada” (FERNANDES & PAULA, 2008, P. 21).
Destacamos a importância de compreender os vários meios de inserção e de utilização
da escrita na sociedade atual, assim como o processo histórico dos diferentes gêneros e
sua inclusão nos recursos tecnológicos.
“O letramento digital é importante por considerar a necessidade dos indivíduos em dominarem
um conjunto de informações e habilidades mentais que devem ser trabalhadas pelas escolas e demais
instituições de ensino, a fim de capacitar os alunos a viverem como verdadeiros cidadãos neste novo
milênio, cercado cada vez mais por máquinas eletrônicas e digitais.”(XAVIER, 2005 p. 133)
Portanto entende-se por letramento digital algo que designa a condição em que
vivem e interagem as pessoas nos grupos sociais letrados digitalmente. Sendo assim,
supõe-se que as tecnologias desempenham um papel importante nessa condição do
individuo como participante do mundo letrado e dotado de novas tecnologias da
informação e comunicação. Sob esse conceito, o letramento digital é visto como parte
da cultura de um determinado grupo de pessoas, pois suas possibilidades de
comunicação e informação levam algumas vantagens e recursos para que o indivíduo
possa tomar decisões como participante de sua comunidade e de seu tempo.
Essa nova possibilidade de letramento também leva o individuo a realizar
práticas de leitura e de escritas bem divergentes das tradicionais de alfabetização e
letramento, isso pressupõe que o cidadão deve ser também um individuo letrado
digitalmente. As diversas formas de leitura digital levam o leitor a se utilizar de vários
textos interligados a outros, onde a escrita não tem uma sequência e não se limita apenas
a um único texto. Essa flexibilidade de leitura é chamada de hipertextos, onde pode ser
entendido como uma forma dinâmica de linguagem e diálogos com outras partes,
adicionadas a outras formas de textualidade. De acordo com essa discrição sobre
hipertexto é possível pensar em novas possibilidades de letramento através das
ferramentas de informação e comunicação, onde o leitor pode orientar sua leitura e
escolher os links por onde quer navegar.

Considerações finais

Ao final deste artigo sobre o filme Central do Brasil, concluímos que o mesmo
não chega a ser inovador do ponto de vista estético, mas alcançou grande fama
internacional, levando a atriz Fernanda Montenegro a receber grandes prêmios. Central
do Brasil tem o mérito abordar um tema recorrente (a migração nordestina) de maneira
delicada e poética, mostrando este deslocamento cultural e social a que milhões de
brasileiros são submetidos em função da miséria onde a comunicação é uma das chaves,
onde nordestinos analfabetos têm de submeter-se à ajuda de uma ‘escrevente’ de cartas
em papel, num mundo que já se globalizava pelas ondas da Internet. Mostra o interior
do Brasil, com sensibilidade e um olhar quase “estrangeiro”, dando espaço para a
expressão tanto da resistência cultural, como da invasão de novos costumes trazidos
pelos ventos da modernidade.
Destacamos especialmente o final do filme, que fica em aberto, não há solução
de continuidade. O que ocorreu aos personagens? Conseguiram seus objetivos? Cremos
ser proposital, pois, tal como a vida, o filme não busca encontrar soluções, e sim,
retratar a realidade, o mundo de emoções, conflitos internos e externos, a busca do
próprio eu. A análise critica do filme nos possibilitou a oportunidade de sugerir aos
educadores que fizerem uso dessa leitura, para trabalhar questões como a supressão da
cultura regional e as dificuldades de adaptação dos migrantes na cidade grande temas
esses que podem ser trabalhados em sala de aula. A questão da linguagem escrita x
linguagem eletrônica (TV) também pode ser abordada.
O filme analisado deve ser colocado aos pares para que diferentes grupos tragam
questões pertinentes ao tema da Comunicação. Propomos que, uma vez iniciada a
interação em classe, o educador elabore uma ficha técnica para cada filme, exigindo dos
alunos um ‘fichamento’ do filme, antes que seja feita a análise fílmica propriamente
dita. Outras questões subjacentes às obras analisadas (contexto histórico, trama,
roupagem, trilha sonora, por exemplo) podem ser levantadas, através da subdivisão das
tarefas em grupos. Portanto, o filme contribui bastante para a compreensão da realidade
brasileira quanto a alfabetização e letramento e suas possibilidades de mudança social
através da educação e da inserção no mundo da escrita e no contexto digital em que a
sociedade atual está inserida e assim, ajudando também na aprendizagem de alunos e
estudiosos do assunto abordado.

Referências
SOARES, Magda. Letramento: um tema em três gêneros. Belo Horizonte, Minas
Gerais: Autêntica, 1998.
_______________. Alfabetização e letramento: Caminhos e descaminhos. Revista
Pátio. 29 de fevereiro 2004. ARTMED
_________________.Letramento e alfabetização: as muitas facetas. Disponível em:
http://www.anped.org.br/26/outrostextos/semagdasoares.doc
XAVIER, Antonio C. S. O Hipertexto na sociedade da informação: a constituição
do modo de enunciação digital. Tese de Doutorado, Unicamp: inédito, 2002.

______________________. Letramento Digital e Ensino. Disponível em :


http://www.ufpe.br/nehte/artigos/Letramento%20digital%20e%20ensino.pdf

Escritores da Liberdade e a
prática escolar
Camila Valença

O filme Escritores da Liberdade (Freedom Writers, EUA, 2007) foi baseado em fatos
reais – e essa é, provavelmente, sua característica mais emocionante. Nele,
acompanhamos jovens que precisam sobreviver diariamente em um território
extremamente violento, dividido por diferentes gangues que odeiam umas às outras e
cuja convivência forçada leva os seus membros ao que é, na prática, uma situação
permanente de guerra.

Em certo ponto, um programa governamental impõe a esses jovens que passem a


frequentar a escola, mas o que deveria ser uma medida positiva para diminuir a
violência e proporcionar melhores chances para a vida futura acaba sendo vista, na
verdade, como uma inconveniência; os novos alunos não veem utilidade em estar ali e
pouco se importam com as matérias, enquanto os antigos alunos e os funcionários da
escola sentem-se incomodados com a presença deles e lhes atribuem a culpa pela queda
na qualidade do ensino.

Em meio a todos esses problemas, somos apresentados à professora Erin Gruwell, que
acaba de entrar para o corpo discente do colégio Woodrow Wilson e se sente empolgada
com a chance de trabalhar com alunos do programa. Seus colegas de profissão,
entretanto, logo deixam claro sua descrença na educação desses adolescentes. Para eles,
são apenas jovens que “não querem nada da vida”, e assim pouco ou nenhum esforço é
feito para atrai-los. É nisso que Erin se diferencia dos outros professores: ao perceber
que os métodos tradicionais eram inúteis, tenta compreender o que está errado na sua
comunicação com os alunos, e não hesita em tentar novas técnicas que levem em
consideração a situação destes, ainda que estas sejam muito pouco convencionais.

“Entre as questões relativas à contextualização (…) podemos citar, em primeiro lugar,


a necessidade de adequação dos métodos às características da situação, incluindo aí as
características do aprendiz participante da situação. (pg. 34)”

O trecho acima retrata bem a nova abordagem da professora, logo depois de perceber
que seus alunos viviam em um mundo muito diferente do que ela poderia imaginar. A
aula vai sendo adaptada aos jovens: se autores clássicos não surtem efeito, Erin passa
para letras de músicas populares; percebendo que a matéria por si só não os atraía,
porque simplesmente não os ajudava em sua realidade, a docente parte de algo que
todos tinham em comum e faz o caminho inverso, isto é, em vez de passar a matéria e
esperar que os alunos “inventem” um jeito de aplicá-la, Erin busca descobrir as
necessidades reais dos alunos e então adaptar o conteúdo das aulas a elas.

Mas mesmo quando começa a estabelecer uma melhor relação com os alunos, Erin tem
mais um obstáculo a superar: a pouca ou nenhuma intimidade destes com os gêneros
textuais formais normalmente adotados pelas escolas. Na página 37, Kleiman nos diz
que “quando os textos não circulam no cotidiano doméstico da criança”, ou quando a
família não os usa, ou o faz “com pouca frequência ou com grande dificuldade ou,
ainda, em situações que a escola desconhece e não legitima”, a escrita pode se tornar
“uma atividade extremamente penosa e sem sentido”. É o acontece com os adolescentes
ensinados por ela, oriundos de famílias excluídas, vítimas de violência e com
pouquíssimo contato com atividades culturais.

Para contornar a situação, Erin os pede que escrevam, um pouco a cada dia, em um
diário. Como se trata de um gênero muito livre, cada aluno sente-se livre para
simplesmente escrever, sem a pressão de serem avaliados com uma nota. Ao mesmo
tempo, conseguem finalmente expressar suas angústias e expectativas por meio das
páginas dos diários, permitindo-se a si mesmos uma ligação emocional mais profunda
com a professora e com os próprios colegas de sala que, até a bem pouco tempo, eram
considerados inimigos de morte.

Paralelamente, Erin busca envolver os adolescentes em atividades que se liguem aos


estudos, mas realizadas fora da sala de aula: uma visita ao museu do Holocausto, por
exemplo. Reconhecendo semelhanças entre a exclusão social sofrida por eles e a que se
abateu sobre judeus e outros povos, jovens que antes não sentiam qualquer apreço por
história ou pela literatura devoram O Diário de Anne Frank e O diário de Zlata, se
mobilizam para conseguir o depoimento de vítimas do nazismo, passam a buscar
sozinhos outras leituras e outros modos de enxergar a vida. Aqui eles começam a
mostrar o quanto têm a dizer, e sempre tiveram; porém, não possuíam os meios para
isso. Graças aos esforços coletivos da professora e de todos, agora possuem.

O filme acaba com o sucesso da classe em continuar com a professora pelo restante do
colegial, mas Erin Gruwell e seus alunos foram além. A Fundação Escritores da
Liberdade, criada por Erin em 1997, busca reproduzir o feito da primeira classe da
professora, ajudando a reduzir a evasão escolar entre alunos de classes baixas de Los
Angeles. Muitos dos adolescentes retratados no filme chegaram à universidade, a
maioria tendo sido os primeiros de suas famílias a conseguir esse nível de instrução. O
livro escrito por eles e pela professora, que serviu de base para o filme, foi lançado em
1999.

Erin Gruwell mostra o quanto é importante acreditar na educação, e que a escola deve
servir aos alunos, nunca o contrário. A má vontade generalizada dos professores, que só
achavam importante ensinar os alunos que já eram “bons”, revelou-se um problema
muito maior do que os alunos de que eles reclamavam – mas que nem tentavam
alcançar. Apesar de todas as dificuldades inerentes ao processo e de outras que vão
sendo impostas pelos próprios colegas e superiores, Erin prova que o verdadeiro sucesso
de um educador não está relacionado à simples taxa de transferência de conteúdo, mas
sim à sua capacidade de preparar os aprendizes, não para um teste escolar, mas para a
vida que os espera fora da sala de aula.

Referências bibliográficas:

KLEIMAN, Angela B. Preciso ensinar o letramento. Não basta ensinar a ler e


escrever, p. 487-517, 2005.

LAGRAVENESE, Richard. Escritores da Liberdade. Paramount Pictures. Estados


Unidos, 2007.

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