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BELÉM - 2013
FACULDADE INTEGRADA BRASIL AMAZÔNIA
Examinada em / /
BELÉM - 2013
GÊNERO TEXTUAL COMO OBJETO DE ENSINO: UMA
PROPOSTA DE TRABALHO COM O GÊNERO CANÇÃO NAS
AULAS DE PORTUGUÊS
biadouglas@ibest.com.br
INTRODUÇÃO
Para fins de recorte desse artigo tomaremos o trabalho com o gênero canção nas
aulas de Língua portuguesa, com alunos do sexto ano do Ensino Fundamental, contudo
sempre considerando que, apesar da centralidade deste trabalho ser na disciplina de
Português, o desenvolvimento da competência leitora e escritora é responsabilidade de
toda a escola e de todos os professores, independente da disciplina em que atue, isso
porque na escola ensina-se a ler contos, poemas, propagandas, informes científicos,
pesquisas e relatos históricos, biografias, enunciados de problemas matemáticos,
fórmulas, tabelas, imagens etc. Mas o que delimita o trânsito dos gêneros de texto entre
as diferentes disciplinas do currículo? Por certo são os conteúdos, os objetivos específicos
e os instrumentos de cada uma delas, e isso implica procedimentos didáticos distintos, de
acordo com o que se vai ler. Afinal, os gêneros não são conteúdos, e sim ferramentas que
possibilitam o acesso ao conhecimento da área a ser estudada.
Isso de certa forma rompe com a ideia de que somente o professor de Português
poderá propor ações que formem o leitor, mas para além disso, a intenção é chamar
atenção de que em cada área pode-se formar o leitor a partir da compreensão que se tenha
de seu objeto de ensino e das muitas possibilidades oferecidas pelos diferentes gêneros
textuais nas disciplinas curriculares.
Na disciplina Língua portuguesa optou-se por trabalhar com o gênero discursivo
canção, primeiramente por se reconhecer que a música é muito aceita pelo aluno do
ensino fundamental, segundo pelo fato de que as letras musicais serem carregadas de
idealismo, denúncias, críticas sociais, sentimentos, ofertando oportunidade ao aluno de
formar opinião, refletir sobre os conflitos sociais de uma época e por fim, porque por
meio da letra das canções o aluno poderá despertar a curiosidade pelo gênero textual
trabalhado entendido aqui, como parte de um acervo cultural artístico da sociedade
brasileira. O Gênero canção, nesse sentido, caminha em direção contrária ao que estamos
acostumados a ver em sala de aula quando se percebe que as canções servem apenas como
formas de entretenimento ou ainda como complementação de algum conteúdo específico.
A base teórica que fundamenta esse artigo são leituras de/sobre o círculo de Bakhtin
(2000, 2002, 2004), filósofo que, partindo de uma abordagem sócio-enunciativa, de acordo
com a qual a linguagem e o pensamento são constitutivos do homem, demonstrou que seu
objeto de estudo pertencia aos mecanismos de interação verbal. De acordo com suas
compreensões, a necessidade de comunicação é o que justifica a existência da língua, ou seja,
sem língua não há interação e, sem interação, não há nenhum tipo de relação social, pois
“todas as esferas da atividade humana, por mais variadas que sejam, estão sempre
relacionadas com a utilização da língua” (BAKHTIN, 2000, p. 279), permitindo aos homens
dizer e agir sobre o mundo, constituindo-o e sendo constituídos por ele.
Por tais motivos esse artigo apresenta-se como uma possibilidade de trabalho com
o texto, apontando aspectos específicos da formação do aluno leitor a partir das
teorizações que versam sobre o ensino de língua portuguesa e as teorias dos gêneros
textuais.
Não deixam de ter suas razões esses alunos, afinal na escola pouco se tem ensinado
que usamos a língua para nos comunicar e obter informações, para narrar nossa
experiência e comover, para opinar e convencer de nossas opiniões, para provocar um
comportamento ou para solicitar um favor e assim por diante. O que temos é aluno
achando que o ensino da Língua serve apenas para que se saiba a conjugação de um
determinado verbo ou a classificação de palavras em determinadas classes gramaticais.
Segundo Hubes; Simoni (2010) o termo gêneros discursivos é usado para designar
todos os textos de uso da vida cotidiana que servem como elo de comunicação nas
interações verbais e nascem das necessidades de um grupo social, sendo, portanto, fruto
das diferentes esferas que organizam nossa sociedade. Para Bakhtin (2006, p.262), “[...]
cada campo de utilização da língua elabora seus tipos relativamente estáveis de
enunciados, os quais denominamos gêneros do discurso” que se caracterizam por três
elementos indissolúveis no todo do enunciado: o conteúdo temático, o estilo e a
construção composicional . O autor diz ainda que
Com essas palavras Bakhtin nos lembra que nas diferentes situações
comunicativas, a língua envolve negociação de sentidos entre os interagentes. Por tais
motivos, a interação, seja ela verbal ou não-verbal, “efetua-se por meio de enunciados (orais
e escritos), concretos e únicos, que emanam dos integrantes duma ou doutra esfera da
atividade humana” (BAKHTIN, 2000, p. 279). Dessa forma, o texto – oral e escrito – é
tomado como o próprio “lugar” de interação de sujeitos que, dialogicamente, nele se
constroem e são construídos; leitores e escritores, falantes e ouvintes são, portanto, vistos
como sujeitos ativos, que produzem e constroem sentidos pela linguagem, em contextos
comunicativos situados, e a partir de gêneros específicos de texto.
Assim sendo, a interação verbal se dá, pois, por meio de enunciados existentes na
sociedade, o que facilita esse processo, pois cada um destes modelos possui suas finalidades
comunicativas próprias: é o que Bakhtin denomina como “tipos relativamente estáveis de
enunciados” (BAKHTIN, 2002, p. 279). Ao utilizá-los, cada um de nós os molda conforme
as necessidades de interação e nosso ato comunicativo. Trata-se dos gêneros discursivos.
O mais grave deles, a meu ver, foi dar apenas uma nova roupagem ao texto nessa
discussão dos gêneros textuais, a exemplo do que já sinalizavam as propostas tradicionais
de ensino de linguagem voltadas quase exclusivamente para o estudo de conteúdos
gramaticais normativos sustentando-se por uma compreensão do fenômeno linguístico
com foco no sistema, ou seja, na visão da língua como conjunto de signos e regras,
autônomo, desvinculado de suas condições de realização e, portanto, inflexível a elas.
Colocaram-se então os gêneros discursivos como objeto de ensino, mas “enformava-se”
o trabalho com os textos fazendo as mesmas discussões que já se fazia e que em nada
tinha contribuído para que nossos alunos tivessem melhores condições no trabalho com a
linguagem na escola.
Isso vai em direção contrária ao que postula Bakhtin (2000, 2004) quando considera
que a interação verbal se realiza não por meio de uma linguagem descontextualizada, mas por
discursos, com todos os elementos linguísticos e não linguísticos (verbais e não-verbais), os
quais organizam os gêneros que, materializados em textos (orais e escritos), estão presentes
no nosso dia a dia.
Então temos em sala de aula uma diversidade de gêneros textuais, contudo a língua
não passou a ser entendida como uma estrutura da qual os alunos devem apropriar‐se
através de sua sistematização, e também não passou a significar algo que eles já possuem,
e que precisa ser potencializado às várias situações de funcionamento. Os textos
continuam sendo pretexto para se trabalhar tão somente a gramática normativa ou servem
apenas para que se trabalhem aspectos classificatórios em relação as suas especificidades
quando sabemos que um trabalho com gêneros professor permite ao professor articular
integradamente questões de produção, compreensão, análise linguística a outras questões
necessárias ao ensino de língua.
Ao que parece, o gênero deve ser percebido como socialmente construído e, portanto,
de grande importância para se entender a língua e, consequentemente, o contexto em que
ela se insere. Na esfera educacional, essa compreensão modifica completamente a
perspectiva do ensino, aproximando o aluno, cada vez mais, de seu objeto de estudo e
fazendo‐o perceber‐se como parte integrante dessas situações discursivas variáveis e
dinâmicas.
Para encerrar este tópico lembramos que o gênero canção foi selecionado para
trabalhar com turmas de 6ª ano do Ensino fundamental, com objetivo central de, além do
reconhecimento do gênero quanto a sua função social, seu contexto de produção e seu estilo,
avaliar a sua temática, atentando para as mensagens trazidas nas letras e na linguagem
musical, pelo fato de se tratar de um gênero que sempre circula na vida cotidiana dos alunos,
nos mais diversos espaços, contudo nem sempre é visto como um instrumento de socialização
e conscientização crítica entre os alunos.
Ciranda da bailarina
Procurando bem, todo mundo tem pereba a1
II:
III:
IV:
bigode de groselha b4
V:
goteira na vasilha b5
VI:
Por fim, os estudos do Círculo de Bakhtin, por terem como um dos focos os
fenômenos da linguagem, permitiram aproximações com áreas do conhecimento
relacionadas não apenas à linguagem verbal. Machado (2005, p. 161) aponta que uma
possível explicação para esse fato seja a noção de “elo numa cadeia complexamente
organizada” como “um pressuposto teórico que aponta para a possibilidade de verificar a
propriedade das formulações de Bakhtin para se compreender os gêneros discursivos em
esferas da produção de língua não restritas ao mundo verbal”.
2- Orientações teórico-metodológicas de trabalho com o gênero canção
Considerações finais.
Referências: