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Análise Linguística – Poema: Anaphora de Elizabeth Bishop / Tradução: Poema

Anáfora por Paulo Henriques Brito.

Como objeto de nossa análise linguística, selecionamos o poema Anaphora de Elizabeth


Bishop, o qual se encontra disponível em versão bilíngue nas páginas 160 e 161 do Livro
Poemas Escolhidos de Elizabeth Bishop – Seleção, Tradução e Textos introdutórios de
Paulo Henriques Britto, 1ª Edição de 2012, 3ª reimpressão da Editora Companhia das
Letras.
Tendo em vista a obra de Elizabeth Bishop e a tradução feita por Paulo Henriques Brito,
destaco a poesia Anaphora, in memory of Marjorie Carr Stevens, analisando aspectos
gramaticais e estruturais da linguagem empregada, a seleção das palavras sob a ótica
semântica, morfológica e sintática e os critérios da tradução literária e de poesia adotados
pelo autor Paulo Brito.
Anáfora é um poema de teor metafísico, em que a repetição do dia a dia constrói-se na
metáfora de uma anáfora, pois nela se encontram elementos em cuja realidade a
presença do eu poético se faz questionável pela origem e pelo destino da fonte de energia
que move todas as existências do mundo e que inicia um novo dia, ao passo que o
encanto é constantemente suspenso pela monotonia que lhe causa a repetição do
conhecido.
A equivalência encontrada por Brito na tradução do título do poema trilha um caminho
lúcido e pragmático já que possui correspondência imediata, isto é, Anaphora=Anáfora.
A característica voluntariosa de se traduzir uma poesia que se arquitetura em versos
apoiados, ora a rimas ora a elementos anafóricos, compõe uma estrutura métrica
espartana definida por Bishop, a qual é fundamental para a transmissão do conhecimento
e poeticidade da autora e que se mantém no estilo da tradução adotado por Brito, apesar
de não ser possível em algum momento numa análise que faremos adiante.
Observando sob a ótica literária, trata-se de um poema metafísico por excelência, em que
se projeta a equivalência entre a figura literária da anáfora ou a repetição de frases e
partes delas, com o reinício do dia de uma forma que parece uma atividade rotineira ou
costumeira, porque, afinal, o eu poético busca similaridades entre o ontem e o hoje, o
passado e o presente. Repetições de vivências, de espaços e de tempos que emergem
da realidade, fazendo-se presentes como um estado de consciência. Pode-se ver que
este poema se afasta do carpe diem, pois não há a apreensão para começar o novo dia,
mas uma certa tendência para a contingência do tédio.
Considerando-se a estrutura poética, na transposição da linguagem, Brito modifica a
forma estrutural do texto, numa busca incessante pela manutenção da linguagem literária
fundamental na tradução da poesia, no trecho que segue:

“Each day with so much ceremony...”

equivale a: “Cada dia, cerimonioso”, o que de fato não altera a significância dado que o
uso sufixo -oso indica a ideia de posse plena, de abundância, de existência em grande
quantidade.
“Begins, with birds, with bells
with whistles from a factory;
such white-gold skies our eyes”

Nestes versos, a manutenção do recurso da rima estabelecida entre os vocábulos skies e


eyes não foi possível, bem como a estrutura da frase teve de ser adaptada:
“e fábricas a apitar, estrepitosas”
A sequência do poema e de sua estrutura poética condiz com a equivalência adotada por
Brito.
A expressão “The music coming from” é reduzida e simplificada por melodia, sem que
haja modificação na semântica no verso 07.
No verso 11, contudo, Brito não priorizou o teor anafórico do poema, e traduziu “instantly,
instantly falls” por “e assume....; e cai...”
Em sequência, contudo, a priorização das rimas entre “intriga” e “fatiga” é mantido com
excelência, da mesma forma o termo anafórico “mortal”. Como segue abaixo:

“victim of long intrigue,


assuming memory amd mortal
mortal fatigue”

“e cai vítima da intriga,


sob o ônus da memória,
da mortal, mortal fadiga”.

Nesse ponto, conclui-se que a correspondência da rima é marca de adesão dos critérios
tradutórios, em que Brito busca, sempre que possível e sem que haja antes de tudo dano
ou perda sobre a linguagem literária e a estrutura geral do texto poético; a perfeição das
rimas e das relações anafóricas. Isso podemos também constatar em “sight” e “light”; e
“aparecem” e “escurecem”, nos versos que seguem:

“More slowly falling into sight


and showering into stippled faces
darkening, condensing all his light”

“Mais lentamente, aparecem


os rostos sarapintados
condensam sua luz, e a escurecem”

E, da mesma maneira, destacadas as rimas e anáfora no desfecho em:

“”prepares stupendous studies:


the fiery event
of every day in endless
endless assent”

“imerso em estupendos estudos:


este incandescente evento
de cada dia em constante
constante consentimento.

Conclui-se, desta obra, que o início de cada dia é uma continuidade em que toda
existência está imersa, paradoxalmente implica um redescobrimento de sensações que
não podem ser meramente esquecidas e um sentimento quotidiano aprendido e
desvendável. O eu lírico permeia e oscila entre o mistério dessa fonte de energia que
move o mundo a cada dia e o tédio da repetição daquilo que parece impossível de
modificar.

Referências: Poemas Escolhidos de Elizabeth Bishop, Seleção, Tradução e Textos


Introdutórios de Paulo Henriques Britto – 1ª Edição [2012].

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