You are on page 1of 2

TOLERÂNCIA

A palavra tolerância abrange diversos significados, mas, para este texto, ater-me-ei a dois.
O primeiro tem a significação de agir com indulgência, com condescendência, “fazer vistas
grossas” a algo que nos incomoda.
Já o segundo nos entrega como significado a admissão subjetiva quanto aos diferentes modos de
pensar, agir e sentir que observamos em outras pessoas.
Na dita tolerância indulgente, algo paraliza a pessoa, a faz evitar o combate que poderia cessar o
que a incomoda, que pode ser uma situação, algo que uma outra pessoa faz, ou até mesmo algo em nós
mesmos. Esta constrição de ação gera uma pressão interna que suportamos por medo de que algo, que
imaginamos pior, ocorra se agirmos. Mas suportar esta pressão vai gerar respostas físicas e psíquicas,
como ansiedade, stress e mais medo, e um dia ocorrerá o paradoxo da aparente falta de ação gerar uma
reação na pessoa, pois no Universo, todo agir, mesmo que seja restritivo, ocasionará uma resposta e esta,
se não for o ato da pessoa em busca da cessação do que a incomoda, será o reflexo em sua saúde física,
mental e emocional e, com sua base abalada, o indivíduo torna-se escravo das circunstâncias.
Mas a tolerância indulgente pode gerar bons frutos. Vamos imaginar que seu filho escolha uma
carreira que não seja a que você desejou a ele. Você não sabe se vai dar certo mas, ao tolerar a escolha
de seu filho, o respeitará em sua decisão. Poderá dar certo ou não, mas a escolha foi dele, a
responsabilidade é toda dele. Você deu as chaves das portas da vida para que ele siga em frente. Você
terá que suportar suas forças combativas e compreender que, afinal, a vida é dele. E tolerará, mesmo que
não concordando, a decisão de seu filho.
Explanei até aqui sobre a tolerância indulgente mais a nível do indivíduo, do homem e suas forças
internas. Claro que há a tolerância condescendente numa abrangência a nível de grupos, de sociedade,
onde as pessoas observam sem reação diversas deformidades ocorrendo em sua volta e o que se ouve é
somente o silêncio, o nada. Mas neste trabalho focarei em outro tipo de tolerância imersa em nossa
sociedade; a do segundo significado.
O Homem inserido em um grupo, em algum momento deparará com pessoas que agem, pensam
ou sentem diferente. Podemos dizer até que a todo momento discrepâncias ocorrem, afinal, somos todos
diferentes. É onde entra a tolerância social.
Ela existe em diversas esferas. Está inserida no futebol, na arte, na ciência, na religião, é quando
respeitamos as ideias, preferências, opiniões e atitudes dos outros, por mais que sejam contrárias às
nossas. Quando isto não ocorre advém a intolerância.
A intolerância surge a nível mental. As raízes podem ser ideias inseridas no indivíduo pela
sociedade, grupo, família ou pessoa que o sujeito se identifica. Identificando-se, as ideias enraizam-se em
seu inconsciente. Imaginemos este processo como se esticássemos pequenos elásticos em nossas mentes
a cada vez que alimentamos estas ideias. Em algum momento surge alguém com ideias, pensamentos ou
atitudes que cutucarão estes elásticos em nosso cérebro. Dependendo do quão esticados estão, ao
implodir, liberarão energias que farão a pessoa agir. E é nesta reação que observamos atitudes que
estarrecem, dentre elas, agressões, homicídios, genocídios, racismo, xenofobia, divisões étnicas, etc. Mas
também vemos atitudes enobrecedoras, como no combate à corrupção, ao tráfico, à ignorância. A
intolerância também pode ser boa.
A Internet tem sido uma abrangente ferramenta de ideias e atitudes intolerantes, onde, quando
antes o anonimato era necessário para a divulgação delas, hoje as pessoas não tem usado máscaras para
difundir suas ideias. Por quê? Porque elas acreditam naquilo que divulgam e encontram mais facilmente
outras pessoas que acreditam. Antes, tinham medo da repressão ao dar certas opiniões, mas hoje, elas
encontram muitas que concordam e aplaudem. E isto liberta.
Lembram-se dos elásticos que são esticados pelas ideias impostas em nossas mentes? Elas
geram tensão, esta que podemos chamar de medo. Mas, afinal, medo de quê? Os medos são diversos; de
que sua intelectualidade seja superada, de que sua fé seja abalada, de que o outro possa fazer com você,
de que sua sexualidade seja afetada, de que tomem suas posses. Mas e a intolerância às situações ou
atitudes incorretas como, por exemplo, a corrupção, onde entra o medo? Sentimos em nossas peles todas
as intempéries que ela causa e temos medo do que ela causará mais ainda. Pedofilia? Medo de que possa
acontecer às nossas crianças. O medo é o pai da intolerância e a raiva, sua filha.
E o ódio? O ódio é raiva prolongada, raiva alimentada pelo tempo com o medo. A intolerância
advém do medo, logo, gera ódio também se alimentada por muito tempo. Tudo está ligado e podemos
concluir que intolerância, medo, raiva e ódio são todos graus de uma energia que transita em nós, variando
de intensidade e forma conforme a situação. O que fazemos, como controlamos e como tranformamos esta
energia faz parte de nosso trabalho interno e a atenção neste processo alquímico é passo essencial para o
caminhar à Luz.

You might also like