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XVIII Simpósio Nacional de Ensino de Física – SNEF 2009 – Vitória, ES 1

CURSO DE EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA - ASTRONOMIA: UMA


NOVA VISÃO DA FÍSICA NO ENSINO

Aline Tiara Mota 1, Ricardo Meloni Martins Rosado2, Newton Figueiredo3


1
Escola Estadual Dr. Genésio Cândido Pereira , alinetiaramota@yahoo.com.br
2
Escola Estadual Profª Joceny Villela Curado, ricardo.meloni@gmail.com
3
Instituto de Ciências Exatas – Universidade Federal de Itajubá, e-mail

Resumo

A necessidade da prática educativa é um fator que deve ser observado por todos
aqueles que trabalham com a formação dos profission ais da educação. Essa formação se
faz de forma continuada e não termina quando o graduando se forma. É preciso, nestas
circunstâncias, oferecer práticas diferenciadas aos mesmos, criando oportunidades não tão
comuns em cursos de Licenciatura, mais precisamente os de Licenciatura em Física. A
Astronomia é um tema que causa grande curiosidade na maioria das pessoas por se tratar
de um assunto que remete a nossa origem e também por apresentar projeções para o nosso
futuro. Este trabalho relata uma experiência em ensino de Astronomia realizada na
Universidade Federal de Itajubá na forma de um curso de extensão voltado para alunos do
Ensino Médio. O trabalho descreve as duas edições do curso realizadas na referida
instituição e aponta as dificuldades encontradas na sua aplicação e as experiências
positivas vivenciadas pelos instrutores do curso, alunos de graduação da Universidade.
Pode-se discutir muitos conceitos de física tomando com referência alguns conceitos de
astronomia e astrofísica, portanto temas como óptica, eletromagnetismo e até física
moderna ganham um novo espaço para serem estudados.Analisando este cenário, a prática
educativa também pode oferecer aos estudantes dos cursos de Bacharelado uma
oportunidade de exercer o magistério, já que provavelmente estes terão que exercê -la
futuramente. Associando-se essas idéias à necessidade de uma nova visão da física, que
seja mais receptiva, construtiva e agradável aos alunos, o curso de extensão Astronomia:
Uma Nova Visão da Física no Ensino Médio constituiu-se numa ótima opção de análise
sobre a abordagem astronômica de conceitos físicos no que se refere ao Ensino Médio.As
duas edições do curso são descritas sob o olhar de estudantes de graduação que
planejaram e aplicaram o curso em Itajubá, Minas Gerais para alunos do Ensino Médio.

Palavras-chave : de física, ensino de astronomia, cursos de extensão.

INTRODUÇÃO
O curso Astronomia: Uma Nova Visão da Física do Ensino Médio foi criado
em junho de 2005 como um curso de extensão na Universidade Federal de Itajubá
voltado para alunos do Ensino Médio (EM) do município de Itajubá – MG, fruto de
uma iniciativa de estudantes de Física – Licenciatura e Bacharelado com o apoio de
professores e coordenadores. O curso é oferecido semestralmente na Universidade
Federal de Itajubá (UNIFEI) e estudantes de escolas públicas e privadas da região
podem se inscrever. As aulas são oferecidas na própria Universidade e os alunos
que terminam o curso com bom aproveitamento e freqüência necessária recebem
um certificado de conclusão expedido pela UNIFEI.
O tema Astronomia foi escolhido por se tratar de assunto que traz grande
curiosidade e mantém as pessoas envolvidas em suas discussões. Como a principal
intenção do curso era ensinar conceitos de física, a astronomia foi utilizada como
“pano de fundo” para sua elaboração.
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Ricardo e Zylbersztajn (2002) apontam que, em um país no qual poucas


escolas atendem às propostas dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), esta
realidade revela-se pertinente à maior parte dos municípios do Brasil.

Dentro deste contexto, a Astronomia apresentou ser uma interessante


ferramenta de ensino. Primeiramente, devido ao seu grande poder de alcance para o
ensino de Física, conforme apontado por Scarinci e Pacca (2006). Segundo, porque
a utilização da Astronomia poderia oferecer novas opções para tornar o ensino da
Física mais alinhado com a proposta dos PCN, que propõem um ensino de Física
que desenvolva habilidades e competências.

Confrontar-se e especular sobre os enigmas da vida e do universo é parte das


preocupações freqüentemente presentes entre jovens nessa faixa etária.
Respondendo a esse interesse, é importante propiciar-lhes uma visão cosmológica
das ciências que lhes permita situarem -se na escala de tempo do Universo,
apresentando-lhes os instrumentos para acompanhar e admirar, por exemplo, as
conquistas espaciais, as notícias sobre novas descobertas do telescópio espacial
Hubble, indagar sobre a origem do Universo ou do mundo fascinante das estrelas e
as condições para a existência da vida como a entendemos no planeta Terra (Brasil,
2002)

PRIMEIRA EDIÇÃO DO CURSO

Planejamento

Estrutura

O curso de extensão foi estruturado para um semestre, possuindo 60 horas


de aulas teóricas e 15 horas de atividades práticas, tendo sua primeira edição
ministrada de agosto a dezembro de 2005.

Material Didático

Foi criada uma apostila escrita pelos próprios instrutores com o material a
ser abordado. Algumas referências bibliográficas (Boczko, 1984; Oliveira Filho e
Saraiva, 2003) foram consultadas para a preparação dess a apostila. O material do
curso de extensão do INPE, essencialmente voltado para a formação de professores
do Ensino Médio (EM) também foi utilizado tanto para a preparação das apostilas
quanto para a escolha de algumas atividades complementares.

Divulgação

O curso de extensão foi divulgado nas escolas públicas e privadas do


município de Itajubá – MG através de cartazes e panfletos (folders), que foram
impressos na gráfica do Diretório Acadêmico da Universidade Federal de Itajubá. O
serviço foi realizado a preço de custo desde que o nome do Diretório aparecesse
nos cartazes. Os panfletos continham uma ficha de inscrição que deveria ser
preenchida e entregue à Pró-Reitoria de Cultura e Extensão da Universidade.
Algumas escolas autorizaram fazer a divulgação pessoalmente nas salas de aula. A
maior parte das inscrições foi oriunda destas escolas. A Figura 1 mostra um modelo
do cartaz utilizado na divulgação:

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Figura 01: Cartaz de Divulgação

Foram abertas 50 vagas que eram preenchidas por ordem de chegada dos
interessados. Pessoas que já haviam concluído o EM que tivessem interesse pela
área, inclusive universitários, também poderiam se inscrever. Não houve exame de
seleção para a inscrição dos candidatos, de modo que os 50 primeiros inscritos
tiveram a sua vaga garantida.

O Apoio Financeiro

Um curso de extensão é uma atividade que necessita de algum apoio


financeiro, pois há custos com a impressão de apostilas e roteiros de atividades,
além dos custos com a divulgação. A primeira edição do curso contou com o apoio
financeiro de uma empresa privada, que cobriu as despesas relativas à divulgação
do curso nas escolas, custo na produção do material didático e remuneração dos
instrutores. Todo o trabalho de procurar instituições, apresentar projetos e pedir
patrocínio foi feito pelos idealizadores do curso. Infelizmente constatou-se que são
poucas as empresas que se preocupam em apoiar algum projeto de relevância
social.

As Aulas do curso

O cronograma completo, aprovado pela Pró-Reitoria de Cultura e Extensão


da Universidade Federal de Itajubá em junho de 2005 é apresentada a seguir:
1. Linha do tempo: apresentação do curso e tópicos abordados a partir de
uma linha cronológica. Astronomia dos povos antigos: visão geocêntrica e
heliocêntrica. Comentários de outros povos.
2. Aprofundamento do modelo ptolomaico. Epiciclos. Modelo heliocêntrico
de Copérnico. Observações de Tycho Brahe.
3. Modelo de Kepler e Leis de Kepler.
4. Leis de Newton e Gravitação.
5. Luneta de Galileu. Telescópio Newtoniano. Introdução à óptica
geométrica.

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6. Óptica geométrica. Conceitos que levariam à formulação da teoria


ondulatória da luz.
7. Óptica física. Efeito Doppler. Ondas eletromagnéticas. Espectro
eletromagnético.
8. Espectroscopia.
9. Introdução à termodinâmica. Discussão a respeito do conceito de
energia.
10. Cálculo da idade do Sol. Paralaxe. Fotografia na astronomia.
11. Introdução à Relatividade. Relatividade Restrita e exemplificações.

12. Relatividade Geral. Precessão de Mercúrio. Buracos Negros e


Cosmologia.

13. Conceitos de Física Nuclear e Hidrostática.

14. Evolução estelar. Processos estelares.

15. Técnicas observacionais em astrofísica de altas energias e em


radioastronomia.

16. Pesquisas atuais. O panorama da Astrofísica.

As aulas práticas foram desenvolvidas em paralelo em um horário diferente


do das aulas teóricas. Como a primeira edição do curso contou com dois instrutores,
um deles ficou encarregado de ministrar todas as aulas práticas e seis semanas de
aulas teóricas, enquanto o outro ficou com dez semanas de aulas teóricas. Desta
forma, a carga horária total foi dividida igualmente. As atividades a serem
desenvolvidas ao longo do curso nas aulas práticas são apresentadas a seguir:

1. Movimento celeste: acompanhamento das estrelas na esfera celeste.


Identificação de estrelas e constelações.

2. Fases lunares: observar a variação do horário de nascimento da Lua e


sua parte iluminada.

3. Trajetória do Sol no decorrer do dia e sua variação ao longo do ano.

4. Planetas: observar os planetas e seus movimentos.

A proximidade entre a Universidade e o Laboratório Nacional de Astrofísica


permitiu que se firmasse uma parceria entre as duas instituições na qual o
Laboratório forneceria palestras e um telescópio para uma eventual sessão de
observação do céu noturno. Reservou-se, portanto, um horário à noite para as aulas
práticas no qual poderia encaixar-se esta sessão de observação.
O curso e seu público diversificado (50% cursavam o EM em alguma escola
particular, 40% em escola pública e 10% já o haviam concluído) possibilitaram aos
instrutores abordar a Física vista no EM de uma maneira diferente. Um exemplo
disto foi a abordagem da óptica na Astronomia (5ª à 7ª semana no cronograma
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apresentado). Usualmente, esta temática é apresentada abordando a óptica


geométrica independentemente da óptica física. Porém, como alguns estudantes já
haviam estudado óptica geométrica no colégio, não seria muito criativo abordá-la no
curso da mesma maneira. A solução encontrada foi abordar a luz emitida por uma
estrela como uma onda eletromagnética e explicar os fenômenos associados às
ondas eletromagnéticas (refração, difração, polarização) do ponto de vista físico. A
óptica geométrica pode, inclusive, ser melhor compreendida quando se conhece a
natureza ondulatória da luz, pois isso possibilita a compreensão de fenômenos como
a refração como uma conseqüência lógica de sua natureza.
No tópico “Mecânica Celeste” (1ª à 4ª semana do cronograma), a mudança
foi mais radical, pois as atividades também faziam parte da ementa. Pedir para que
os alunos imaginassem um modelo do universo, como proposto por Séré (2003)
seria inviável porque todos os alunos já haviam tido contato pelo menos uma vez
com a informação de que a terra gira em torno do Sol. Porém as observações foram
úteis para questionar aos alunos: “quais eram os problemas dos modelos de
Ptolomeu e Copérnico?” ou “o que nos leva a crer que a Terra gira em torno do Sol,
e não o contrário?”. Para responder algumas destas perguntas, o software educativo
Winstars foi extremamente útil, pois possibilitou observar a trajetória de Marte e
Júpiter descrevendo uma “laçada” no céu, o que requereria instrumentos muito
precisos na prática e, no período em que o curso foi realizado, seria impossível.
Ao se abordar assuntos de Física Moderna, o de maior interesse foi o de
Cosmologia e Evolução Estelar, com participação bastante significativa dos alunos.
Nesta fase, ficou claro que eles possuíam certo acesso às informações de
Astronomia, entretanto, não lhes parece clara tal informação. Isto também decorre
de a mídia, cujo objetivo é divulgar os acontecimentos científicos não ser capaz de
transmitir à população leiga a Física presente em uma notícia de forma correta e
simples, conforme apontado por Custodio et al (2006).

SEGUNDA EDIÇÃO DO CURSO

Planejamento

Nas últimas aulas da primeira edição foram aplicados questionários de


opinião entre os alunos e isso possibilitou a modificação de algumas práticas e o
melhoramento do material didático e das ações em sala de aula. Seguiu-se a
mesma ementa da primeira edição. Modificou-se o material didático, sendo criada
uma nova apostila. O curso de extensão Astronomia: Uma Nova Visão da Física no
Ensino Médio teve sua segunda edição realizada no primeiro semestre de 2006.

Divulgação e Apoio Financeiro

Nesta edição do curso os custos com o material de divulgação e material


didático foram financiados pela Fundação de Pesquisa e Assessoramento à
Indústria (FUPAI) de Itajubá. Desta vez a divulgação foi feita nas escolas com
cartazes e convite aos alunos nas salas de aula. Novamente as 50 vagas foram
preenchidas e mais 10 foram criadas para incluir alunos que manifestaram interesse.

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Aulas e Aplicação de Atividades

A apostila procurou enfatizar aspectos históricos, com um pequeno grau de


demonstrações matemáticas. Isso porque se desejou tornar a leitura agradável e
fluente, contribuindo para que a familiarização do aluno ocorresse mais facilmente.
Com base no processo histórico descrito na apostila, que oferecia uma oportunidade
de contextualização, as demonstrações e curiosidades sobre as equações da física
eram discutidas no quadro, passo a passo, com ferramental matemático adequado
ao nível de conhecimento do aluno.
A partir desse momento, era preciso criar um texto que envolvesse o aluno e
fundamentasse os conceitos astronômicos. A opção foi criar uma apostila
esquematizada através de “unidades”, cada uma discutindo um modelo de universo
e seus respectivos criadores. Como foi escolhida a abordagem histórica para a
criação do texto, toda unidade começava com uma passagem histórica sobre a vida
do cientista/ astrônomo e logo em seguida a apresentação do referido modelo.
Naturalmente, o uso de muitas fórmulas e demonstrações matemáticas foi
mínimo, pois assim seria possível uma leitura mais fluente e prazerosa, que
incentivasse o pensamento crítico e o entendimento conceitual do modelo. O uso da
matemática é fundamental para a compreensão do modelo físico, mas em função do
público alvo (alunos de Ensino Médio) e dos objetivos do curso que eram os de
apresentar conceitos físicos, decidiu -se por reduzi-la. Acreditava -se que com isso
aqueles alunos que possuem certo grau de dificuldade no entendimento matemático,
pudessem compreender os modelos em sua forma mais básica. Com essas bases
seria possível desenvolver as habilidades do cálculo posteriormente, com as
demonstrações feitas no quadro, com a participação mais ativa dos alunos.
Com essas considerações, o texto seguiu um padrão que apresentava o
momento histórico, em seguida os motivos que levaram a elaboração do modelo e,
se fosse o caso, a apresentação do modelo geométrico e suas equações principais.
Para finalizar cada unidade, foram propostas algumas questões, intituladas “para
pensar um pouco”. Essas questões eram puramente sobre a opinião do aluno a
respeito do modelo que estava estudando, ass im era possível avaliar as concepções
iniciais que eles tinham sobre o assunto foi se modificando ao longo do estudo do
modelo.

Exemplo 1 de Atividade – Elevação e Distância Zenital

A primeira atividade prática proposta foi a observação do movimento


aparente das estrelas no céu. Essa atividade foi intitulada “Elevação e Distância
Zenital de uma Estrela”. Foram feitas observações de algumas estrelas localizadas
preferencialmente a norte, sul, leste e oeste. O aluno escolheu a estrela mais fácil de
ser visualizada e acompanhou de hora em hora sua posição no céu, anotando sua
elevação (que é o ângulo que a estrela faz com o plano do horizonte) e sua distância
zenital (que é o complemento da elevação, isto é, 90° - elevação). Os conceitos de
elevação e distância zenital já haviam sido discutidos em sala. Após observar este
movimento, o aluno tinha em mãos os ângulos necessários para construir um gráfico
que mostrou o comportamento da estrela ao longo de sua observação.
Alguns alunos demonstraram dificuldade em diferenciar elevação e distância
zenital, anotando os dados obtidos de maneira incorreta. Isso os levou a obter
resultados inversos aos que eram esperados. A primeira atividade prática proposta
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foi a observação do movimento aparente das estrelas no céu. Essa atividade foi
intitulada “Elevação e Distância Zenital de uma Estrela”. Foram feitas observações
de algumas estrelas localizadas preferencialmente a norte, sul, leste e oeste. O
aluno escolheu a estrela mais fácil de ser visualizada e acompanhou de hora em
hora sua posição no céu, anotando sua elevação (que é o ângulo que a estrela faz
com o plano do horizonte) e sua distância zenital (que é o complemento da
elevação, isto é, 90° - elevação). Os conceitos de elevação e distância zenital já
haviam sido discutidos em sala. Após observar este movimento, o aluno tinha em
mãos os ângulos necessários para construir um gráfico que mostrou o
comportamento da estrela ao longo de sua observação.
Observa-se que a estrela viaja no céu de leste para oeste, assim como
acontece com o movimento aparente do sol ao longo do dia, portanto sua elevação
deve aumentar com o passar do tempo. Talvez fosse necessário deixar muito mais
explícitos esses conceitos no momento de sua apresentação à sala.
A maioria dos estudantes obteve dados corretos e esses valores foram
coletados pela instrutora, para que alguns gráficos fossem feitos e mostrados à sala.
Para tanto, utilizou-se um computador com o programa editor de gráficos e um
projetor multimídia. Foram utilizados os dados de cinc o alunos. Com esses dados,
foi possível construir vinte gráficos que mostravam a elevação ao longo do tempo
para cada estrela. Apesar de alguns poucos valores se modificarem devido à hora
que cada aluno escolheu para fazer a observação, o comportamento gráfico era
muito semelhante. De certa maneira, os resultados deste experimento foram muito
bons e mostram que a abordagem astronômica pode ser interessante e instigante,
mostrando-se uma opção menos cansativa de estudar conceitos físicos. Um
exemplo desta atividade é apresentado na Figura 02.

Figura 02 : Gráfico gerado com dados dos alunos

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Os valores destes quatro gráficos foram obtidos por um aluno do curso.


Suas observações indicam que, ao logo do tempo em que ele fez sua observação,
houve uma variação das posições das estrelas no céu sendo que a estrela do leste
aumenta sua elevação com o tempo, a estrela do oeste diminui sua elevação e as
estrelas do norte e do sul apresentam um movimento de subida e descida.
Com estes dados foi possível, através da planilha eletrônica, gerar os
gráficos acima, tornando mais fácil a visualização do fenômeno pela classe. Através
do conceito de esfera celeste, anteriormente apresentado à sala, e dos comentários
feitos sobre as posições dos pólos celestes norte e sul, os valores obtidos puderam
confirmar o movimento de rotação da Terra e o comportamento das estrelas em
torno dos respectivos pólos celestes.
Destaca-se também a oportunidade que esta atividade traz ao aluno: a
interpretação de gráficos. Novamente é possível enc ontrar recomendações feitas
pelos Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 2002), que incentivam o estudo
dos mesmos como uma forma de compreensão e organização de dados,
contribuindo para a compreensão de informações encontradas nos jornais, revistas,
etc.

Exemplo 2 de Atividade: Espalhamento Rayleigh em um aquário

Este experimento buscou ilustrar uma questão cotidiana e de grande


interesse para pessoas de todas as idades: “por que o céu é azul durante o dia, mas
avermelhado ao nascer e ocaso do sol?” Para a verificação do espalhamento
Rayleigh, fez -se um experimento bastante simples. Um aquário cuja base possui 20
cm de comprimento por 10 cm de largura preenchido até uma altura de 10 cm de
água é colocado sobre uma mesa, de modo que seja possível vê -lo de todos os
lados. Ligam-se três LEDs (um azul, um verde e um vermelho) de alta intensidade
(também chamados de quantum-dot LEDs ou simplesmente QDLEDs) a duas pilhas
de 1,5V e aponta -se o conjunto a uma das paredes do aquário, fazendo com que os
feixes de luz atravessem-no pelo seu comprimento. Um refletor parabólico ou uma
lente convergente podem ser utilizados para concentrar os raios de luz e tornar o
fenômeno mais fácil de ser observado. Percebe-se que é impossível ver o feixe de
luz se propagando pela água, exceto apenas algumas partículas de poeira
iluminadas em suspensão.
Acrescenta -se, então, cerca de 30 gotas de leite ao aquário. É importante
que o leite não esteja estragado nem tenha sido gelado! Pode-se notar que, de lado,
o feixe é visto ligeiramente azul e na extremidade oposta, aparece um pouco
alaranjado ou avermelhado, dependendo da quantidade de leite presente na mistura.

Figura 03: Esquema do experimento

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RESULTADOS

Através das duas edições do curso foi possível aos graduandos em física
c olocar em prática os conceitos e teorias educativas estudadas na graduação. Foi
notável a participação e o interesse dos alunos em colaborar com os questionários,
facilitando o trabalho dos instrutores e possibilitando a projeção de novas metas.
Para a terc eira edição do curso pretende-se manter esta mesma estrutura,
pois não se notou nenhum prejuízo importante em compreender os tópicos
abordados.
No que se refere à ementa, continua-se com a mesma proposta que segue
uma seqüência historicamente construída, trazendo primeiramente os modelos de
universo e apresentado conceitos da mecânica, já conhecidos pelos antigos gregos.
As atividades referentes ao estudo da óptica deverão ser apresentadas
utilizando-se mais experimentos, como o de refração da luz. Espera -se que os
conceitos visualizados em sala possam ser constatados através das atividades
práticas. Pretende-se incluir novas experiências, não somente as de observação,
mas também relacionadas a alguns conceitos físicos propriamente ditos.
O próximo passo a ser dado para expandir o curso será o de criar uma
versão para Internet, já que a Universidade Federal de Itajubá possui cursos a
distância. Pensa-se em implantar o curso em apenas uma escola de nível médio
para turmas selecionadas para que se tenha uma primeira impressão de como
transportar um curso que possui além das aulas teóricas, observações e atividades
práticas, para o meio virtual.

CONCLUSÕES

Esta é uma oportunidade de prática de ensino diferenciada a alunos de


graduação em Física. Não somente min istrar aulas como parte integrante do
estágio, mas também poder elaborar a ementa e divulgar, fizeram deste curso de
extensão uma experiência inigualável. Poder colocar em prática o conhecimento
adquirido na graduação e conhecer de perto as necessidades dos alunos quanto ao
aprendizado de física, fizeram desta experiência, enriquecedora e estimulante.
A Astronomia proporciona a discussão de vários assuntos importantes.
Desde a origem do universo passando pela elaboração dos modelos físicos até a
utilização do conhecimento na tecnologia fazem desta antiga ciência uma ótima
forma de abordagem para o ensino de física. Mais do que simplesmente resolver
problemas, o Ensino Médio busca a formação intelectual e crítica do sujeito,
inserindo-o na sociedade e oferecendo-lhe uma formação básica.
É importante salientar como essa experiência promove um leque riquíssimo
para a compreensão de todo processo escolar por parte do professor. Avaliar suas
atitudes e estratégias dentro da sala de aula bem como formular novas propostas
trabalhando com gráficos, modelos de universo, atividades práticas e
observacionais.

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Referências

BOCZKO, Roberto. Conceitos de Astronomia. São Paulo: Edgard Blücher, 1ª


edição, 1984.
BRASIL, Ministério da Educação, Secretaria de Educação Média e
Tecnológica.PCN+ Ensino Médio – orientações educacionais complementares
aos Parâmetros Curriculares Nacionais. Ciências da Natureza, Matemática e
suas Tecnologias. Brasília: MEC, SEMTEC, 2002.
BONOMINI et al. Astronomia: Uma Nova Visão da Física do Ensino Médio. Boletim
da Sociedade Astronômica Brasileira, p.85. 2006.
CARVALHO, A. M. P.; Física: Proposta para um Ensino Construtivista ; São
Paulo, Editora Pedagógica Universitária, 1989.
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DELIZOICOV, D. Problemas e Problematizações. In: Ensino de Física.
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Florianópolis, v. 19, n. 3, p. 341-350, 2002.
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