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Assim, as questões curriculares devem ser debatidas pela sociedade civil organizada, na
medida em que um “currículo educativo”, ideia defendida neste texto, deve estar direcionado para
o bem comum social, pleiteando e aprendendo criticamente com a diferença, envolvendo
comunidades interessadas.
Antes mesmos de pensarmos em aplicar modelos curriculares como remédios universais
para as diversas formações, ou verdades excessivas, pensemos nas pessoas e nas necessidades
educativas dos seus grupos de fato, nos contextos culturais, nas demandas e problemáticas do
mundo do trabalho e da produção, possibilitando que as práticas curriculares sejam, em realidade,
construídas por processos intercríticos, e os atos de currículo transformados, em atos de justiça
curricular.
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ESCOLARIZAÇÃO, CURRÍCULOS E PRÁTICA PEDAGÓGICA
A FUNÇÃO DA ESCOLARIZAÇÃO.
Nesta perspectiva, Arendt define a instituição escolar como a “[...] instituição que
interpomos entre o domínio privado do lar e o mundo com o fito de fazer que seja possível a
transição, de alguma forma, da família para o mundo” ARENDT, 1992, p. 238.
A instituição escolar assim, é concebida como espaço de relação cultural entre as gerações
mais velhas com as mais novas, entre os formados (e/ou experientes) e os em formação (e/ou com
pouca experiência ou inexperientes) e ainda entre os que sabem mais e os que sabem menos (e os
que não sabem). A instituição escolar adquiriu para si a função de parte da preparação das novas
gerações: de sacerdotes, de militares, de artesãos, no capitalismo pós iluminismo, e atualmente, de
toda a sociedade (mesmo em sistemas duais de escolarização).
O termo currículo vem da palavra latina Scurrere, correr, e refere-se a curso, à carreira, a
um percurso que deve ser realizado, ou seja, significa o caminho da vida, o sentido, a rota de uma
pessoa ou grupo de pessoas. Currículo indica processo, movimento, percurso, como a etimologia
da palavra recomenda. Currículo é o ambiente do conhecimento, assim como, o espaço de
contestação das relações sociais e humanas e também o lugar da gestão, da cooperação e
participação. O currículo deve ser entendido como componente central do procedimento da
educação institucionalizada.
Inserida no campo pedagógico, o termo passou por diversas definições ao longo da história
da educação. Tradicionalmente o currículo significou uma relação de matérias/disciplinas com
seu corpo de conhecimento organizado numa sequência lógica, com o respectivo tempo de cada
uma (grade ou matriz curricular). Esta conotação guarda estreita relação com “programa” “plano
de estudos”, tratado como o conjunto das matérias a serem ensinadas em cada curso ou série e o
tempo reservado a cada uma, mas expressa atualmente ampla diversidade semântica e
multiplicidade de usos, (Forquin,1993). Segundo o autor, o termo currículo abarcaria:
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a) uma abordagem global dos fenômenos educativos;
b) uma maneira de pensar a educação, que consiste em privilegiar a questão dos conteúdos;
c) a forma de selecionar e privilegiar determinados conteúdos;
d) a forma como estes conteúdos se organizam nos cursos;
e) experiências vividas no espaço da instituição escolar pelo aluno que implicam a
regulação de comportamento e promoção de capacidades
Para Forquin (1993), os conteúdos curriculares efetivam-se como “[...] a porção da cultura
- em termos de conteúdos e práticas (de ensino, avaliação, etc.) - que, por ser considerada relevante
num dado momento histórico, é trazida para a instituição escolar, isso é, é escolarizada.” Mas
currículo, também é um dispositivo engajado na produção de identidade, ao instituir padrões
de inteligibilidade do mundo por intermédio de parâmetros do conhecer, estabelecido em
estilos privilegiados de raciocínio e formas particulares de conceber o mundo e a si mesmo,
produzindo e criando sentidos e significações.
A escolarização, nesta perspectiva e em suas peculiaridades de processo social, constitui
elos diretos e efetivos com a produção de identidade de crianças, adolescentes, jovens e
adultos. A cultura escolar, a organização dos tempos e espaços, os dispositivos pedagógicos
e as situações de socialização e interação constituem processos de modelação e regulação na
constituição de identidade dos seres humanos que frequentam as instituições escolares,
contribuindo para definir os papéis sociais. Papéis sociais que se constituem das formas como
os indivíduos se identificam e se posicionam a si mesmos na teia complexa das relações sociais.
A instituição escolar escolhe, dentre várias possibilidades, modelos específicos que procura
impingir aos seus educandos e educandas, implicando “[...] o processo
de constituição e de posicionamento: de constituição do indivíduo
como um sujeito de um determinado tipo e de seu múltiplo
posicionamento no interior das diversas divisões sociais” [Silva,
1995, p. 5]. O currículo é expressão e também produtor do processo
de institucionalização de educação ao definir os objetivos e formas de
propiciar a formação da identidade.
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Os processos escolares também implicam fazer distinções, diferenciações e sensibilidade
que delimitam sentimentos e atitudes apropriadas, estabelecendo relações entre cognição e
emoção, através de performances e discursos que corporificam movimentos, os quais caracterizam
a forma de ser (seja andar, falar ou interagir com outras pessoas) (Popkewitz, 1995).
O currículo, nesta perspectiva, de ver ser tomado “como terreno de produção e criação
simbólica cultural [...] nos quais, os materiais existentes funcionam como
matéria prima de criação, recriação e, sobretudo, de contestação e
transgressão” [Moreira & Silva, 1994, p. 26-28]. O currículo reúne “[...]
o conjunto de todas as experiências de conhecimento proporcionadas
aos/às estudantes” [Silva, 1995: 184], sendo que assim, representa as
intenções e efeitos que a instituições escolares e os dispositivos
pedagógicos produzem sobre os alunos e as alunas no sentido,
explícito ou não, de transmitir ou formar, de produzir um campo de disputa pela formação
de identidades nas novas gerações de crianças, adolescentes, jovens, adultos/as e/ou
profissionais [Silva, 1995]. Portanto, como um espaço de organização de saberes, valores e
sentimentos que podem ser respectivamente ensinados, formados e experienciados.
A relação entre currículo e a educação, neste sentido, não pode ser tomada como uma
mera correia de transmissão de cultura, pois “[...] são partes integrantes e ativas de um processo
de produção e criação de sentidos, de significações, de sujeitos” (Moreira & Silva, 1994, p. 27).
Assim, as relações entre currículo e educação constituem campos tanto de produção ativa da
cultura como de contestação; portanto, a preocupação nas discussões sobre o tema não deve estar
restrito no que se transmite, mas no que se faz com o que se transmite (Moreira & Silva, 1994).
Pois:
[...] é importante ver o currículo não apenas como sendo constituído de “fazer coisas”
mas também vê-lo como «fazendo coisas às pessoas». O currículo é aquilo que nós,
professores/as e estudantes, fazemos com as coisas, mas é também aquilo que as coisas
que fazemos fazem a nós. O currículo tem de ser visto em suas ações (aquilo que fazemos)
e em seus efeitos (o que ele nos faz). Nós fazemos o currículo e o currículo nos faz
(SILVA, 1995a, p. 4).
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O currículo, segundo Silva [1995], produz “[...] formas de melhor organizar
experiências de conhecimento dirigidas à produção de formas particulares de subjetividade:
seja o sujeito conformista e essencializado das pedagogias tradicionais, seja o sujeito
«emancipado» e «libertado» das pedagogias progressistas”(p. 02), referindo-se a concepções
pedagógicas e propostas curriculares que propõem-se a dirigir o processo de constituição da
autonomia, através de padrões de cognição, de condutas e linguagens que levariam à emancipação
humana, como se esta pudesse ser constituída de uma ação externa aos indivíduos. Portanto,
independente de julgamentos de valor ou de concordância com os pressupostos formativos destas
teorias, estas propostas curriculares apresentam formas concretas de regulação moral e de
produção de formas de subjetividade que, sem consulta prévia aos alunos e alunas alvos deste
processo. Os currículos e as teorias curriculares, portanto, não podem ser reconhecidas como um
instrumento neutro, pois constituem “[...] operação destinada a extrair, a fazer emergir, uma
essência humana que preexista à linguagem, ao discurso e à cultura” (Silva, 1995, p. 5).
As instituições escolares são ambientes culturais, que devem e podem promover o diálogo
com e entre culturas [Moreira, 2003], ou seja, com a:
a) cultura dos grupos de convívios dos educandos e educandas,
assim como dos saberes produzidos nestes diferentes contextos
culturais
b) cultura de massas, seus diferentes agentes e os saberes
acessados por alunos e alunas em diferentes pontos da teia das mídias;
c) cultura erudita e os saberes propostos e sancionados pela
instituição escolar, que seriam acessados conforme as necessidades e
situações de aprendizagem determinadas pelos ritmos e processos dos
coletivos de educandos.
As crianças, adolescentes, jovens e adultos que frequentam as instituições escolares em
quaisquer de suas etapas expressam a sua cultura vivida e são portadores de saberes
produzidos em seus grupos de convívios. Estes saberes, comumente, sem sistematização rigorosa
guardam em si muito da experiência vivida incorporando:
Os educandos trazem à sala de aula produtos da indústria cultural veiculados pela cultura
de massas assim como saberes acessados em diferentes pontos das mídias. A televisão, em
particular, permite diferentes tipos de acesso em função da variedade de oferta de programas, na
qual, por exemplo, uma mesma divulgação científica pode ser relatada num telejornal, num
programa vespertino orientado para as donas de casa, num show de auditório dominical ou em
documentário de canais especializados. As mídias impressas e sites da Internet veiculam
publicações, assim como rádios e canais de televisão produzem programas focados em crianças,
adolescentes e jovens que, acessados por alguns, são transmitidos oralmente para vários outros. O
acesso à Internet possibilita toda sorte de acessos, com conteúdos para disciplinares, produzidos
sem o rigor ou com instrumentos inadequados; com reducionismos; com fundamentos impróprios;
com compilações, traduções e referências indevidas, etc.
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A escola é o espaço de encontro da cultura
popular e de massa e seus respectivos saberes com
a cultura erudita e os saberes científicos/acadêmicos
selecionados pela escola. Neste sentido, o currículo
escolar precisa ter como foco a cultura [Moreira,
2003]. Pois, o encontro de culturas pode ser um
diálogo, no qual não se exclua e nem se
desqualifique saberes e culturas.
A identidade de adolescentes, jovens e
adultos não pode ser desprezada e nem
desqualificada pela instituição escolar. Nesta
perspectiva, é importante examinar a diversidade cultural dos grupos de convívio de
adolescentes e jovens que expressam padrões de convívio, que articulam valores, conduta,
linguagem, habilidades, saberes e articuladores de suas práticas sociais. Estas se expressam
em forma de vestimentas, gostos estéticos - em particular o musical, um pensamento (mesmo que
difuso) político e social, que se expressa em locais de reunião e encontro. As culturas juvenis e
adolescentes, em particular, são polarizadas e permeadas por grupos sociais organizados,
genericamente conhecidos como tribos, que expressam elementos de identidade coletiva
Os espaços escolares e os temas de estudo precisam refletir essa realidade, pois o direito à
expressão cultural não pode ser proibido nem desqualificado pelos professores, porque o estariam
fazendo em nome de sua própria cultura ou daquelas que consideram “adequada” ou “superior”.
Assim, os espaços escolares devem exprimir as ideias, símbolos e imagens daquelas alunas e
alunos que os frequentam, pois a instituição escolar é um espaço de aprendizagem e interação num
contexto de diversidade cultural.
a) linear,
b) ascendente e
c) escalonado.
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Assim, podemos verificar que as propostas os organizam:
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A instituição escolar é ainda o principal canal de acesso sistêmico e permanente
distribuição dos saberes acadêmicos, cabendo aos currículos a transposição didática desses como
saberes escolares, implicando em dois processos
distintos: o de seleção (do que vai ou não ser
transmitido) e da forma (do como vai ser a
transmissão).
Segundo Bernestein [1996], o discurso
pedagógico, em primeira instância, compõe a
formatação da prescrição curricular em que ocorre
a definição do que vai ou não ser disponibilizado ao
aluno, promovendo a seleção de saberes,
denominado de discurso instrucional. Em segunda
instância, como sendo aquela que orienta as formas
dessas transmissões, denominadas de discurso
regulativo.
Podemos identificar então as seguintes etapas:
A tradição escolar brasileira está fortemente impregnada pelo diretivismo, que se expressa
na linearidade na exposição dos temas de estudo e quadros conceituais, no desenvolvimento de
procedimentos e na forma estritamente expositiva de saberes pelos educadores, educadoras e/ou
materiais didáticos. As formas de acesso aos saberes acadêmicos são, comumente, estáticas,
descoladas, tanto de seu processo de produção e dos valores com os quais se conecta, como
também distante da realidade imediata e objetiva do aluno. Portanto, as práticas pedagógicas só
muito recentemente são concebidas como processos de aprendizagem e de interação formativa
entre professores e alunos e de alunos com alunos, objetivando tanto o aprimoramento intelectual,
como a formação do caráter e a experienciação de sentimentos dos e pelos educandos e educandas
no espaço escolar (Cordiolli, 2001b).
Os estudos culturais nas instituições escolares são restritos e recentes, mas já apontam os
limites (e fracassos) das políticas educacionais, ao lidar
inadequadamente com os desenhos culturais, expondo “[...] a
complexidade do iceberg e os limites das inovações (implementadas
pelas reformas educacionais] que ignoram o estabelecimento
(instituição) escolar como lugar da vida com sua cultura própria”
(Gather Thurler, 2001, p. 89]. Nesta mesma perspectiva, Forquin
(1993, p. 10), também observa que o [...] pensamento pedagógico
contemporâneo não pode se esquivar de uma reflexão sobre a questão
da cultura e dos elementos culturais dentro dos diferentes tipos de
escolhas educativas, sob pena de se cair na superficialidade.
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As propostas educacionais, em particular, as construções curriculares, deveriam pressupor
que se faz, “[...] necessário que os analistas se tornem menos «escolares» e mais «culturais»”
Moreira & Silva, (1994, p. 33).
A cultura escolar em cada instituição:
O currículo, com foco na cultura, assume “[...] uma dimensão ampla que o entende em
sua função socializadora e cultural, bem como, forma de apropriação da experiência social
acumulada e trabalhada a partir do conhecimento formal que a escola escolhe, organiza e propõe
como centro das atividades escolares” Krug, (2001, p. 56). Os conteúdos, ao expressar experiência
social acumulada, devem também contemplar as experiências da diversidade de ambientes
culturais das alunas e alunos para orientar as atividades pedagógicas em sala de aula.
Nesta perspectiva, os centros das atividades escolares estarão fortemente vinculados aos
temas de formação de identidade - como valores, condutas e temas que lhe são significativos –
produzidos pelos contextos vividos dos alunos e alunas. Esta proposição implica uma inversão de
práticas curriculares, confrontando a tradição das instituições escolares, no Brasil que,
majoritariamente, possuem ações diretivistas de transmissão de bens culturais considerados
científicos, corretos e necessários às alunas e alunos.
Sabe-se que o currículo escolar é um dos pontos mais difíceis a serem enfrentados pela
escola. Duas questões podem ser inicialmente levantadas em relação a esse aspecto:
1) Quem define o quê, e como a escola deve ensinar? Tradicionalmente, as escolas
públicas têm a sua prática pedagógica determinada ou por orientações oriundas das
secretarias de educação ou pelos próprios livros didáticos. Isso resulta, na maioria
das vezes, em uma prática curricular muito pobre, que não leva em conta nem a
experiência trazida pelo próprio professor, nem a trazida pelo aluno, ou mesmo às
características da comunidade em que a escola está inserida. Por outro lado, isso
restringe a autonomia intelectual do professor e o exercício da sua criatividade. E
pior: não permite que a escola construa sua identidade.
2) Relacionada a isso, existe uma concepção restrita de currículo, próxima do conceito de
programa ou, pior ainda, de uma simples grade curricular, ou de mera listagem dos
conteúdos que devem ser tratados. Daí porque muitos professores se orientam apenas
pelos sumários ou índices dos livros didáticos. O currículo, entretanto, abrange tudo o que
ocorre na escola, as atividades programadas e desenvolvidas sob a sua responsabilidade e
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que envolvem a aprendizagem dos conteúdos escolares pelos alunos, na própria escola ou
fora dela, e isso precisa ser muito bem pensado na hora de elaborar um projeto político-
pedagógico.
Assim sendo, é indispensável que a escola se reúna para discutir a concepção atual de
currículo expressa tanto na LDB quanto nas Diretrizes Curriculares Nacionais para os diferentes
níveis de ensino e também nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s). A legislação
educacional brasileira, quanto à composição curricular, contempla dois eixos:
Uma Base Nacional Comum, com a qual se garante uma unidade nacional, para que todos
os alunos possam ter acesso aos conhecimentos mínimos necessários ao exercício da vida cidadã.
A Base Nacional Comum é, portanto, uma dimensão obrigatória dos currículos nacionais e é
definida pela União.
Uma Parte Diversificada do currículo, também obrigatória, que se compõe de conteúdos
complementares, identificados na realidade regional e local, que devem ser escolhidos em cada
sistema ou rede de ensino e em cada escola. Assim, a escola tem autonomia para incluir temas de
seu interesse.
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DISCIPLINA: FOCO E PROBLEMÁTICA
A lógica disciplinar não é fruto apenas da história do campo curricular, é necessário afirmar. A lógica da
ciência moderna criou a ideia de disciplina, a escola se apropriou dela e a fez segundo suas culturas
pedagógicas, assim como temos uma civilização ocidental pautada na cosmovisão disciplinar. Isso nos
mostra a dimensão e a complexidade da sua superação em termos de lógica da relação com o
conhecimento eleito como formativo: ou seja, o currículo.
Entre os estudiosos do currículo já existe uma compreensão de que a disciplina escolar não
é uma tradição monolítica, portanto não é única, tendo como espelho a disciplina acadêmica ou
científica. Segundo Lopes e Macedo (2002, p. 80) “não se trata de uma ‘tradução’ de um corpo de
conhecimentos para o nível escolar. Ao contrário, a disciplina escolar é construída social e
politicamente, de forma contestada, fragmentada e em constante mutação.” Esse argumento nos
diz de uma inteligibilidade da lógica disciplinar que tem muito a ver com o institucional escolar e
acadêmico, suas características materiais e ideológicas.
Conclui-se, assim, que a prática disciplinar e sua força simbólica constituem-se numa
estrutura significativa para dificultar as iniciativas não-disciplinares. Nesses termos, a nossa
hipótese é que as práticas disciplinares por muito tempo ainda guiarão as concepções e
implementações curriculares. Ou seja, o currículo oculto disciplinar dirá, durante um tempo
significativo, como devemos organizar as nossas formações, por mais que reconheçamos o
importante e construtivo movimento relacional não-disciplinar que habita hoje o argumento
epistemológico e formativo e, por consequência, as práticas curriculares.
O que nos parece ainda importante enfrentar, no que concerne à lógica disciplinar, é a ideia
positivista de que a disciplina representa a própria realidade a ser conhecida por um processo de
transmissão de verdades perenes, ou que a disciplina é a última fronteira do conhecimento a ser
veiculado sobre essa mesma realidade. É preciso destituir esse poder veiculador da disciplina, para
que possamos multirreferencializar o currículo e torná-lo lugar da solidariedade epistêmica,
face à heterogeneidade irredutível das experiências curriculares e formativas e a necessidade
histórica de constituirmos múltiplas justiças curriculares, inspirando-nos em Connell, ou seja,
formas de justiça que alcancem todos os segmentos sociais.
A perspectiva interdisciplinar
Fazendo uma leitura crítica de como a disciplina fragmentou para “conhecer de forma clara
e distinta”, essa perspectiva vem propor a superação dessa fragmentação, argumentando e criando
dispositivos, onde as disciplinas são chamadas a dialogar, a se interfecundar no intuito de melhor
compreender muitas das realidades, que hoje, pelas suas complexidades, revelam-se impossíveis
de serem explicitadas e resolvidas por visões pautadas na perspectiva monodisciplinar. Neste caso,
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cada disciplina, a partir da sua concepção epistemológica e pedagógica, oferece a sua contribuição
e se abre à contribuição de outras disciplinas.
A perspectiva transdisciplinar
A ACOMPOSIÇÃO CURRICULAR
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Transdisciplinaridade é a coordenação do conhecimento em um sistema lógico, que
permite o livre trânsito de um campo de saber para outro, ultrapassando a concepção de disciplina
e enfatizando o desenvolvimento de todas as nuances e aspectos do comportamento humano.
Com base nessas formas de composição curricular, é que os Parâmetros Curriculares
Nacionais introduzem os temas transversais que, tomando a cidadania como eixo básico, vão
tratar de questões que ultrapassam as áreas convencionais, mas permeiam a concepção, os
objetivos, os conteúdos e as orientações didáticas dessas áreas. Essa transversalidade supõe uma
transdisciplinaridade, o que vai permitir tratar uma única questão a partir de uma perspectiva
plural. Isso exige o comprometimento de toda a comunidade escolar com o trabalho em torno os
grandes temas definidos pelos Parâmetros Curriculares Nacionais, como Ética, Saúde, Meio
Ambiente, Pluralidade Cultural e Orientação Sexual, os quais podem ser particularizados ou
especificados a partir do contexto da escola.
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O currículo formal é entendido como o conjunto de prescrições oriundas das diretrizes
curriculares, produzidas tanto no âmbito nacional quanto nas secretarias e na própria escola
e indicado nos documentos oficiais, nas propostas pedagógicas e nos regimentos escolares.
O currículo real é a transposição pragmática do currículo formal, é a interpretação que
professores e alunos constroem, conjuntamente, no exercício cotidiano de enfrentamento
das dificuldades, sejam conceituais, materiais, de relação entre professor e alunos e entre
os alunos. São as sínteses construídas por professores e alunos, a partir dos elementos do
currículo formal e das experiências pessoais de cada um.
O currículo oculto é aquele que escapa das prescrições, sejam elas originárias do currículo
formal ou do real. Diz respeito àquelas aprendizagens que fogem ao controle da própria
escola e do professore passam quase despercebidas, mas que têm uma força formadora
muito intensa. São as relações de poder entre grupos diferenciados dentro da escola que
produzem aceitação ou rejeição de certos comportamentos, em prejuízo de outros, são os
comportamentos de discriminação dissimulada das diferenças e, até mesmo, a existência
de uma profecia auto realizadora dos professores que classifica, de antemão, certos alunos
como bons e outros como maus. O currículo oculto também vai se manifestar, entre outras
formas, na maneira como os funcionários tratam os alunos e seus pais, no modo de
organização das salas de aula, no tipo de cartaz pendurado nas paredes, nas condições de
higiene e conservação dos sanitários, no próprio espaço físico da escola.
Diante disso, há algumas questões básicas que toda a escola deveria analisar: Que
mensagens não explícitas a escola vem passando para seus alunos? Que conteúdos vêm
privilegiando? Que currículo está sendo construído – o que enfatiza o sucesso escolar, ou o
que, implicitamente, se conforma com o fracasso?
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O CURRÍCULO NA EDUCAÇÃO INFANTIL
A origem do pensamento curricular no Brasil teve início a partir dos anos 1920 e 1930 do
século XX, tendo como parâmetro diferentes teorias, principalmente a
dos Estados Unidos, sob influência das ideias de John Dewey e
Kilpatrick, que criticavam o currículo tradicional, elitista e defendiam
ideias progressivistas.
É necessário ressaltar que os conteúdos escolares no Brasil até então,
tinham uma forte ligação com a concepção jesuítica do período colonial
em relação à educação, dessa forma, reinava absolutamente o currículo
tradicional na primeira metade do século XX.
A partir da Primeira Guerra Mundial e das grandes crises econômicas do começo do século XX a
educação passa a ser proposta como o mais poderoso instrumento de reconstrução social, política
e moral responsável pela melhoria social e bem estar coletivo.
Segundo Barricelli (2007) do mesmo modo que em outros níveis, a elaboração de um
currículo para educação infantil envolve a definição de diferentes aspectos como: organização do
tempo e espaço, seleção e utilização de material, agrupamento das crianças, definição dos
conteúdos selecionados, metodologia condizente à teoria adotada e, finalmente, forma de avaliação
do processo avaliativo.
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Para orientar as unidades de Educação Infantil a planejar seu cotidiano, as Diretrizes
apontam um conjunto de princípios defendidos pelos diversos segmentos ouvidos no processo de
sua elaboração e que devem orientar o trabalho nas instituições de Educação Infantil. São eles:
ATIVIDADES
1-Complete o Quadro:
Pluridisciplinaridade
Interdisciplinaridade
Transdisciplinaridade
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pedagógica incontestável. Junto com esse compromisso, faz-se necessário trazer para esse cenário
discursivo e elucidativo o lugar do debate e da diversidade das concepções, sem com isso aceitar
os prejuízos conceituais e político-pedagógicos causados pelas perspectivas que acolhem posições
do tipo: “você deve dominar e aplicar essa concepção de currículo porque é científica”, ou mesmo,
“não é preciso conceituar algo que é extremamente complexo”.
Os tecnocratas do currículo, em geral, não sabem e pouco se sensibilizam por aquilo que
podemos denominar de um currículo educativo, formativo. Ou seja, um currículo em que as
intenções formativas sejam explicitadas e se desenvolva, elucidando e compromissando-se com
uma educação cidadã. “Pensam” sempre na arquitetura curricular, no seu desenho expresso nas
antigas “grades”, hoje matrizes curriculares, fixadas num documento.
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não elucidativos e reduções, em muitos momentos, currículo é tudo e nada. O prejuízo ético,
político e formativo desses equívoco são fáceis de ser anunciado.
O cultivo de compreensões como essas, e da aceitação fácil de inovações apenas só
favorecem as elaborações modelizadas de intelectuais delirantes e descomprometidos com as
consequências sociais da educação, ou dos experts de gabinete, em geral, simpáticos às
compreensões tecnicistas de currículo, porquanto ficam à vontade em trabalhar e prescrever
através de seus modelos pretensamente “aplicáveis”.
Estamos ainda vivendo numa
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Conforme elabora Beticelli (1999, p. 162), ainda que, a partir de 1920, já se tenha
orientações sobre a problemática do currículo, é somente a partir da Segunda Guerra Mundial que
vão aparecer às primeiras formulações.Kemmis (1998, p. 14), argumenta que o currículo é “um
terreno prático, socialmente construído, historicamente formado, que não se reduz a problemas de
aplicação de saberes especializado desenvolvido por outras disciplinas, mas que possui um corpo
disciplinar próprio”, no que acrescenta Pacheco (1996, p. 24), dizendo-nos que o conhecimento
curricular se constitui “num corpo disciplinar próprio – aqui designado por ‘Teoria e
Desenvolvimento Curricular’ - que se situa nos âmbitos teórico e prático do conhecimento
educativo.”
Como prática potente de significação, o currículo é, sobretudo, uma prática que bifurca.
Neste sentido, não se pode conceber o currículo como prática de significação sem realçar seu
caráter generativo, inventivo. Como tal, no seio do currículo, constituindo-o, os significados, os
sentidos trabalhados, a matéria significante, o subsídio cultural, são sempre e continuamente
retrabalhados. “São traduzidos, transpostos, deslocados, condensados, desdobrados, redefinidos,
sofrem, enfim, um complexo e indeterminado processo de transformação” (SILVA, 1999, p. 13).
O currículo hoje é um dos temas educacionais mais importantes para as políticas públicas em
educação. Na medida em que fundamentalmente lida com o conhecimento escolhido como formativo,
passa a ter um poder considerável, porquanto o conhecimento define como devemos ver o mundo, a
sociedade e a nós mesmos. Nestes termos, é fundamental que saibamos compreender bem o que seja
currículo e como o conhecimento e as atividades nele contidos estão dirigidos para a formação dos
diversos segmentos sociais.
ATIVIDADES
1. Caracterize, a partir da leitura do texto e das discussões públicas sobre currículo, sua importância
no contexto educacional atual.
2. Reconstrua, a partir de debates com grupos de colegas, a concepção de currículo assumida pelo
texto.
3. Indique o que pode distinguir e caracterizar o currículo, em meio a outros temas educacionais.
Ou seja, de que trata o currículo como tema e como prática educacional?
4. O que você entendeu quando se sintetiza no texto a ideia de que o currículo tem a ver com o
conhecimento escolhido como formativo?
HISTÓRIA DO CURRÍCULO
Assim procedeu Platão em A República e nas Leis, ao idealizar o Vê-se que currículo se
extenso e demorado plano de estudos em que deveria se basear a define como um plano
formação dos guardiães, fornecendo uma base comum a todos os de estudos, mas não
cidadãos de ambos os sexos até os 20 anos; sucedendo-se: a deixa de conter a
educação infantil, dos três aos cinco anos, composta de jogos, inspiração que motivou
a perspectiva
cantos e fábulas; seguida, entre os sete e os dez anos, pela disciplinar, ou seja, a
aprendizagem das letras – a leitura e a escrita – e pela introdução organização da
da aritmética e a geografia, cujo estudo se prolonga até os 16 anos, formação pela distinção
acrescido da poesia e da música. Por fim a dança e a ginástica, das áreas de
que, como educação do corpo, estão presentes desde o início, são conhecimento.
complementadas por exercícios militares e pelas artes marciais. A esse ciclo – com o qual se
completa a formação geral ou básica da maioria - sucede, para os se que revelaram mais aptos,
uma propedêutica matemática centrada na aritmética, na geometria do plano e do espaço, na
astronomia e na harmonia (PINHAÇOS DE BIANCHI, 2001, p.146-147, apud GALLO, 2004, p.
39).
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Vê-se também, na antiguidade grega e romana, que essa inspiração vai sofrer uma dupla
reorganização: com a denominação de trivium, organizam-se as áreas da gramática, da retórica e
da filosofia; com a denominação de quadrivium, organizam-se as áreas da aritmética, da
geometria, da astronomia e da música.
Essa perspectiva curricular vai dominar toda a Idade Média, juntamente com a imposição
de um conhecimento mediado predominantemente pela fé e se prolonga no iluminismo.
Convencidos de que o mundo não poderia ser abarcado na sua totalidade pela compreensão
humana, para os educadores clássicos a saída era dividir o conhecimento em áreas.
É aí que o ângulo muda e se reconfigura, e a atenção da teoria crítica volta-se para compreender o
que o currículo faz com as pessoas e as instituições e não apenas como se faz o currículo.
Faz-se necessário pontuar que esses autores vão tratar o currículo, acima de tudo, como uma
construção social, a partir da influência forte das ideias de Luckmann e Berger, na obra “A
Construção Social da Realidade” (1983). Vão forjar a denominação de “currículo oculto”
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preocupados que estavam em desnaturalizar e problematizar os mecanismos encobertos de poder
que no currículo, acabam por influenciar visões de mundo, de sociedade, de homem e de educação
pelos atos de currículo.
O CURRÍCULO NO BRASIL
Crítica, cotidiano e processo são categorias que vão compor os estudos do currículo entre
nós, num caminhar de superações das perspectivas pautadas nas visões reprodutivistas, por muito
tempo predominantes neste campo. A partir dos anos 1990, o pensamento curricular brasileiro
vai optar por uma análise predominantemente sociológica e antropológica, acrescidas de um
interesse marcante em desvelar a função do poder na realidade curricular. O currículo passa a ser
considerado um texto político, ético, estético e cultural, vivido na tensão das relações de interesse
educativo protagonizado pelos diversos grupos sociais.
Segundo Lopes e Macedo (2002), recentemente, o grupo liderado por Moreira tem buscado
analisar como a temática do multiculturalismo tem penetrado na produção brasileira de currículo,
trabalhando fundamentalmente com o conceito de hibridismo e introduzindo preocupações com a
discussão sobre identidade.
Por concluir, entendemos que esse argumento histórico elucidativo deságua num presente
que nos autoriza a dizer que os estudos curriculares se constituem num campo de atividades
educacionais, por sua densidade, complexidade e pelo poder que emana, como configurador
sociopedagógico significativo da educação e das formações, demandando um processo de
aprofundamento e debate equivalente a sua importância política e socioeducacional na
contemporaneidade.
RESIVANDO
Vimos que, desde a Grécia clássica, o tema currículo já estava presente visto como um
plano de estudo. A partir da idade média percebe-se mais claramente a necessidade de se subdividir
o conhecimento para que a formação fosse dirigida para alguns segmentos sociais, de acordo com
a valorização que a sociedade construía a respeito desses segmentos.
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É também a partir dessa lógica que o currículo chega à modernidade, como uma
apropriação que os americanos fazem da forma como protestantes europeus organizam o
conhecimento nas escolas, com objetivo de oferecer uma educação calvinista aos jovens.
Vimos que, já nesta descrição histórica, o currículo sofre influências das crenças e
ideologias da sociedade onde se organiza a educação. Aqui, como na idade média, é a religião que
define o currículo.
Mas é no contexto americano do norte que o currículo pedagógico e cientificamente
concebido vai tomar a forma predominante que hoje conhecemos. Herdando a lógica das
disciplinas científicas forjadas pela ciência moderna e a reconfigurando de acordo com a
organização escolar da época, o currículo será concebido, organizado e implementado
predominantemente com a lógica de funcionamento a indústria americana. A aprendizagem
mediada pelo currículo teoria que ser expressa com eficiência e produtividade de acordo com o
que se ensinava. É assim que a disciplina se impõe como a maneira mais eficaz de se organizar
os conhecimentos curriculares. Fragmentação e aprofundamento, tomando como referência única
os saberes livrescos dominam a forma como os currículos são concebidos até hoje.
Entretanto, a partir da metade do século passado, movido pelas correntes críticas do
marxismo, que nos mostram o quanto os currículos legitimam a divisão injusta da sociedade
capitalista em classes, bem como pelos movimentos sociais em favor de mais liberdade e
autonomia dos cidadãos, tanto na Europa quanto nos Estados Unidos, atingem os estudos
curriculares; forjando, neste contexto histórico, as teorias críticas do currículo.
Neste momento, não bastava mais se perguntar como se deveria fazer pedagogicamente
um currículo, se perguntava com veemência: o que é que os currículos fazem com as pessoas?
Reconhece-se, neste momento, o poder agindo no currículo e suas configurações, como algo
fundamental para se compreender e se intervir nele.
A este movimento se agrega outras abordagens críticas, ditas pós-críticas. Nesta
abordagem, a própria teoria crítica vai ser reavaliada, principalmente naquilo que expressa como
verdades excessivas, assim como as questões culturais entram no currículo como questões
importantes para se discutir o conhecimento e suas formas plurais na formação. Percebe-se, a partir
daqui, uma forte tendência para democratização curricular.
ATIVIDADES
TEORIAS DO CURRÍCULO
Algumas teorias sobre o currículo apresentam-se como teorias tradicionais, que pretendem
ser neutras, científicas e objetivas, enquanto outras, chamadas teorias críticas e pós-críticas,
argumentam que nenhuma teoria é neutra, científica ou desinteressada, mas que implica relações
de poder e demonstra a preocupação com as conexões entre saber, identidade e poder.
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Teoria a crítica (tradicional)
Tyler também determinou como identificar ou onde encontrar as respostas às perguntas por
ele propostas para elaborar o currículo. Para Tyler, deveriam ser feitos estudos sobre os próprios
aprendizes, sobre a vida contemporânea fora da educação, bem como obter sugestões dos
especialistas das diversas disciplinas. (SILVA, 2003).
Mas, para fazer esse levantamento, as pessoas envolvidas deveriam respeitar a filosofia social e
educacional com a qual a escola estivesse comprometida, e a psicologia da aprendizagem. Numa
linha mais progressista, mas também tradicional, apresenta-se a teoria de Dewey, na qual aparecia
mais a preocupação com a democracia do que com o funcionamento da economia. (SILVA, 2003).
Essa teoria dava, também, importância aos interesses e às experiências das crianças e
jovens. Seu ponto de vista estava mais direcionado à prática de princípios democráticos, sendo
a escola um local para estas vivências. Em sua teoria, Dewey não demonstrava tanta preocupação
com a preparação para a vida ocupacional adulta. A questão principal das teorias
tradicionais pode ser assim resumida: conteúdos, objetivos e ensino destes conteúdos de
forma eficaz para ter a eficiência nos resultados
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O CURRÍCULO MODERNO
Goodson (1998) nos diz, ademais, que o termo currículo, como uma maneira de organizar
e controlar os ideários da formação vai surgir a partir da escola calvinista entre escoceses e
holandeses.
No contexto educacional dos Estados Unidos do início do século passado, os estudiosos do
currículo ligados a uma concepção tecnicista de currículo, queriam ver o currículo ser concebido
e praticado tal qual se organiza a empresa e a fábrica, orientadas pelas ideias da administração
científica da época. Precisar os objetivos e obter, pelas ações minuciosamente conhecidas e
fragmentadas, a eficiência e a eficácia transformou-se no método eleito e no caminho aceito
científica e academicamente, para se obter a formação relevante para o contexto americano
emergente. O currículo passou a ser gerenciado como uma mecânica, tamanha era a força das
ideias deterministas de causa e efeito que operavam a concepção da formação e do próprio
currículo como seu mais importante mediador.
As experiências da psicologia experimental da época, pautadas no valor da eficiência das
aprendizagens por procedimentos e processos condicionantes, forjam a intenção de um certo
gerenciamento do aprendizado no seio do currículo, onde o controle dos conteúdos e objetivos
pré-fixados, orientavam toda a organização pedagógica.
Essa hegemonia se consolida, apesar de as ideias fincadas nos ideários democráticos já
fazerem parte do contexto das discussões estadunidenses sobre a organização das formações.
É assim que a aliança do econômico com o técnico-científico predomina sobre os ideários
de uma educação pautada em princípios da democracia liberal, concebida naquela época e naquele
contexto. O currículo vai refletir isso até hoje, apesar de as contradições estarem muito mais
presentes no desenvolvimento do próprio campo e das práticas
Em meio aos muitos movimentos sociais e culturais que caracterizaram os anos de 1960
em todo o mundo, surgiram as primeiras teorizações questionando o pensamento e a estrutura
educacional tradicionais, em específico, aqui, as concepções sobre o currículo. As teorias críticas
preocuparam-se em desenvolver conceitos que permitissem compreender, com base em uma
análise marxista, o que o currículo faz. No desenvolvimento desses conceitos, existiu uma ligação
entre educação e ideologia. Além disso, vários pensadores elaboraram teorias que foram
identificadas como críticas e, embora tivessem uma linha semelhante de pensamento,
apresentavam suas individualidades.
Ao fazerem a crítica às visões tecnicista e classista de currículo, veiculadas por Bobbitt
e Tyler, os teóricos críticos liderados, principalmente, por Michael Apple e Henri Giroux,
curricologistas americanos, vão indagar sobre o que é que o currículo faz com as pessoas, antes
mesmo de se interessarem sobre como se faz o currículo. Essa mudança ideológica faz com que
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a crítica implemente a construção de uma outra concepção de currículo, agora desvinculada de
qualquer perspectiva neutral, ou seja, vinculada a ideias de que os curricula são opções formativas
que trazem consigo ideologias e formas instituintes de poder pautadas na opção de formar para
legitimar e perpetuar as relações de classe estabelecidas pelas sociedades capitalistas, sem que
isso, muitas vezes, esteja explicitado.
Esse conjunto de argumentos tem sua inspiração inaugurada, podemos dizer, pelos
trabalhos de Apple, nos Estados Unidos. Apple toma como ponto de partida os elementos centrais
da crítica marxista da sociedade. A dinâmica da sociedade capitalista gira em torno da dominação
de classe, da dominação dos que detêm o controle da propriedade dos recursos materiais sobre
aqueles que possuem apenas sua força de trabalho. Para este raciocínio há uma clara conexão entre
a forma como a economia está organizada e a forma como o currículo está organizado. Em Apple,
por outro lado, essa ligação não é uma ligação de determinação simples e direta. A preocupação
em evitar uma concepção mecanicista e determinista dos vínculos entre produção e educação segue
o seu pensamento desde seus primeiros escritos. Para esse curricologista, não é suficiente postular
um vínculo entre, de um lado, as estruturas econômicas, de outro, a educação e o currículo. Esse
vínculo é mediado por processos que ocorrem no campo da educação e do currículo e que são aí
ativamente produzidos; é mediado pela ação humana, enfim.
Nas elaborações críticas de Apple, o importante é se perguntar por que se elegem
determinados conhecimentos como importantes e outros não. Trata-se de saber: quais interesses
orientaram a seleção desses conhecimentos e a concepção do currículo? Quais são as relações de
poder envolvidas nesse processo que resultou nesse currículo particular?
32
Um outro pensamento do campo curricular crítico se configura a partir das obras de
Henri Giroux. Tratando o currículo como política cultural, inspirado pelos filósofos da Escola
de Frankfurt com Ardorno, Horkheimer e Marcuse, Giroux critica em toda a sua obra a
racionalidade técnica e utilitária curricular, assim como o habitus positivista do currículo
moderno. Reivindica que o campo do currículo não pode deixar de tentar compreender as
práticas curriculares via uma análise histórica, ética e política. Segundo Silva (1999, p. 53),
“é no conceito de resistência [...] que Giroux vai buscar as bases para desenvolver uma
teorização crítica, mas alternativa, sobre a pedagogia e o currículo”.
Influenciado de perto pelas ideias de Paulo Freire, a partir das noções de libertação e ação
cultural, Giroux vai atrelar a pedagogia e o currículo ao campo da cultura, mais precisamente
campo de uma política cultural, diria mesmo da cultura politizada, mostrando que a
emergência do currículo se configura num campo de disputa de significados. Nasce, desse
veio argumentativo, a ideia dos “professores como intelectuais transformadores” e de uma
“pedagogia de possibilidades emancipatórias”.
A CRÍTICA DA CRÍTICA
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No seio do que se está denominando, no campo do currículo, de teorias pós-críticas,
encontra-se o multiculturalismo como um movimento que toma a diferença como sua característica
fundante.
É fato que o movimento multicultural tem várias matizes. Vai desde um multiculturalismo,
onde não se prioriza a análise das forças que imprimem legitimações e oficialidades culturais,
tomando a cultura como algo fora da dinâmica política das relações de poder, como algumas
correntes americanas que se inspiram na visão liberal ou humanista, até perspectivas que, ao
politizarem o debate sobre a diversidade cultural, preferem não desatrelar a análise da emergência
dessa diversidade das dinâmicas das relações de poder. É assim que entram no campo curricular,
argumentando a favor do estudo e das práticas curriculares, nas quais a cultura aparece como um
movimento de relações, levando em consideração a luta por significados como algo presente e
determinante do tipo de educação “distribuída” é legitimada. Percebem que a referência do
multiculturalismo liberal a uma humanidade comum deve ser rejeitada por fazer apelo a uma
essência, a um elemento transcendente, a uma característica fora da sociedade e da história
(SILVA, 1999, p. 86).
Vale salientar, que a perspectiva crítica do multiculturalismo cultiva duas vertentes: uma
concepção denominada de pós-estruturalista e outra que poderia ser chamada de
“materialista”. Na visão pós-estruturalista, o fundante é a análise da diferença enquanto
expressão do ser-no-mundo, do ser-com-o-outro. Neste sentido, a diferença é sempre uma
relação. Minha diferença existe na medida em que o outro existe; assim, não se pode ver a
diferença como coisa absoluta, é um conceito eminentemente relacional, portanto. Ademais,
a diferença, nesta perspectiva se configura a partir de relações de poder.
[...] um currículo inspirado nessa concepção não se limitaria, pois, a ensinar a tolerância
e o respeito, por mais desejável que isso possa parecer, mas insistiria, em vez disso, numa
análise dos processos pelos quais as diferenças são produzidas através das relações de
assimetria e desigualdade.
Avesso aos binarismos, esse movimento questiona e desconfia justamente dos binarismos
de que é feito o currículo: branco/preto; masculino/feminino; velho/novo; teoria/prática;
heterossexual/ homossexual; mente/corpo; objetividade/subjetividade etc.
Poderíamos dizer que o pós-estruturalismo é uma perspectiva nitidamente desreificadora do
currículo que temos, tanto em termos de forma quanto de conteúdo. Numa outra construção
pautada na rebeldia face ao processo de colonização opressor que
No que concerne às práticas curriculares, o que será questionado é a sua relação com a
verdade. Enquanto um arauto das verdades pré-digeridas, o currículo vai ser abalado,
assim como a escola das certezas pretensamente absolutas, na medida em que o
movimento pós-estruturalista não apenas questiona as verdades, mas o lidar com a própria
verdade. Nestes termos, quer questionar o processo pelo qual algo se tornou verdade. Ou
seja, como foi produzida uma determinada verdade
subjuga as
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culturas não-europeias, a teoria pós-colonial lança seu olhar para currículo, reivindicando a
inclusão das formas culturais que refletem a experiência de segmentos cujas identidades culturais
e sociais são marginalizados pela identidade ocidental hegemônica. Para o póscolonialismo há um
“cânon ocidental” que atravessa os curricula e que acabam por legitimar a história dominante dos
europeus.
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A seleção e planificação das atividades e conteúdos são feitas enquanto recursos de
desenvolvimento. Aos objetivos educacionais de tipo cognitivo ou instrumental são associados
outros objetivos dos domínios afetivo, social e moral.
VOCE SABIA?
As crianças são sujeitos de direitos. Entre eles, os que se seguem. E que, na instituição
educacional, podem ser vivenciados nas práticas sociais e nas múltiplas linguagens.
1.Direito ao ócio: Toda criança tem o direito de viver momentos de tempo não programado pelos
adultos.
2. Direito a sujar-se: Toda criança tem o direito de brincar com a terra, a areia, a água, a lama, as
pedras.
3. Direito aos sentidos: Toda criança tem o direito de sentir os gostos e os perfumes oferecidos
pela natureza.
4. Direito ao diálogo: Toda criança tem o direito de falar sem ser interrompida, de ser levada a
sério nas suas ideias, de ter explicações para suas dúvidas e de escutar uma fala mansa, sem gritos.
5. Direito ao uso das mãos: Toda criança tem o direito de lidar com madeira, de lixar, colar,
amarrar, modelar.
6. Direito a um bom início: Toda criança tem o direito de comer alimentos sadios desde o
nascimento, de beber água limpa e respirar ar puro.
7. Direito à rua: Toda criança tem o direito de brincar na rua e na praça e de andar livremente pelos
caminhos, sem medo de ser atropelada por motoristas que pensam que as vias lhes pertencem.
8. Direito à natureza: Toda criança tem o direito de construir uma cabana nos bosques, de ter um
arbusto onde se esconder e árvores nas quais subir.
9. Direito ao silêncio: Toda criança tem o direito de escutar o rumor do vento, o canto dos pássaros,
o murmúrio das águas.
10. Direito à poesia: Toda criança tem o direito de ver o sol nascer e se pôr e de ver as estrelas e a
lua.
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ATIVIDADES
Finalidades
Aprendizagem e
Ensino
Currículo
Papel do aluno
Papel do Professor
Seleção e
Planificação
Relação com a
Comunidade
Dificuldades dos
alunos
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REFERÊNCIAS
FERRAZ, Marilia Fanucchi. Educação para o ambiente: uma experiência no Ensino Médio. São
Carlos (SP): Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo, 2002.
RENDT, Hanna. Entre o passado e o futuro. 3. ed. São Paulo: Perspectiva, 1992.
MOREIRA, Antonio Flávio; SILVA, Tomaz Tadeu da. (orgs.). Currículo, cultura e sociedade. 5.
ed. São Paulo: Cortez, 2001.
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