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PODER J U D I C I Á R I O

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO


TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO
ACÓRDÃO/DECISÃO MONOCRATICA
REGISTRADO(A) SOB N°
ACÓRDÃO ................................ mu um mi...|
*02384279*

Vistos, relatados e discutidos estes autos de

APELAÇÃO CÍVEL COM REVISÃO n° 644.459-4/5-00, da Comarca de

MOGI GUAÇU, em que é apelante ROVAL EMPREENDIMENTOS

IMOBILIÁRIOS S/S LTDA sendo apelado NELSON LUIZ BALDIN:

ACORDAM, em Terceira Câmara de Direito Privado do

Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, proferir a

seguinte decisão: "NEGARAM PROVIMENTO AO RECURSO, V.U.", de

conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos

Desembargadores ADILSON DE ANDRADE e EGÍDIO GIACOIA.

São Paulo, 09 de junho de 2009.

BERETTA DA SILVEIRA
Presidente e Relator
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

VOTO N°: 17.575


APELAÇÃO N°: 644.459.4/5-00
COMARCA: MOGIGUAÇU- 02 VS
APELANTE: ROVAL EMPREENDIMENTOS IMOBILIÁRIOS S/S LTDA
APELADO : NELSONLUIZBALDIN

*Rescisão de contrato c.c. reintegração de posse -


Cerceamento de defesa inocorrente - Exceção do
contrato não cumprido - Não pode o autor exigir que o
réu cumpra sua parte na obrigação quando ele próprio
na cumpriu a sua - Inteligência do artigo 476 do Código
Civil/2002 - Doutrina - Ação improcedente - Recurso
improvido. *

Trata-se de ação de rescisão de contrato de venda e compra


c.c. reintegração de posse e pedido de tutela antecipada julgada
improcedente pela r. sentença de folhas, de relatório adotado.

Apela o autor alegando, em resumo, cerceamento de defesa e


no mérito, a inversão do julgado ante a mora do apelado. Pede o
provimento do recurso.

E o relatório.
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Afasta-se, desde logo, a alegação de cerceamento de defesa,


pois o feito não necessitava de outras provas e estava pronto para ser
julgado, como o foi. Irrelevante e desinfluente a pretensão de produção de
outras provas, sendo o bastante a que já se produziu nos autos, motivo
pelo qual ao magistrado impunha-se o julgamento antecipado, diante do
disposto no artigo 330, inciso I, do Código de Processo Civil, norma de
caráter cogente, razão pela qual, presentes as condições que ensejam o
julgamento antecipado é dever do Juiz, e não mera faculdade, conhecer
diretamente do pedido. Ademais, cabe ao juiz, de ofício, ou a
requerimento das partes, indeferir as diligências inúteis ou meramente
protelatórias, decisão que não viola o princípio constitucional da ampla
defesa e do contraditório.

Note-se que o inadimplemento contratual do autor sequer


negado por este, deve-se ao fato da autora ora apelante aliás, estão
devidamente comprovados nos autos e a matéria debatida não permitira
outro tipo de prova senão a documental que, é cediço deve acompanhar a
inicial ou a contestação.

Nesse sentido: "JULGAMENTO ANTECIPADO DA LIDE -


Alegação afastada - O julgamento antecipado da lide não constitui
cerceamento do direito de defesa, quando a matéria controvertida permitir
a formação do convencimento judicial, através das provas documentais e
demais elementos objetivos existentes nos autos - Decisão mantida -
Recurso improvido". (TJSP - Ap. Cível n° 1.107.202-0/0 - S ã ^ P j u J ^ - ^

APELAÇÃO i\": 644.459.4/5-00 - MOGI GUAÇU-02VS - VOTO A": 77.575


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Câmara de Direito Privado - Relator Carlos Vieira Von Adamek - J.


22.10.2007-v.u).

No que diz respeito aos documentos juntados às folhas


168/172, entendo que deveria ter sido trazido aos autos antes da sentença,
proferida em 21.12.2007. Além disso, a parte não comprovou a força-
maior impeditiva de não tê-lo entranhado ao processo, a tempo de ser
apreciado pela decisão do Juízo "a quo". Por isso, tal prova tardia não se
justifica, deve ser desconsiderada.

Ademais, pela sistemática do Código de Processo Civil,


artigos 517, 397 e 462, a juntada na apelação de documento essencial para
a comprovação de fato constitutivo de direito não é permitida, pois que
fere o contraditório e faz suprir a apreciação de uma esfera jurisdicional,
atabalhoando o procedimento. Somente se admite a juntada de documento
que consubstancie fato novo em grau de recurso se a parte provar força
maior impeditiva de exibição oportuna. Como observa BARBOSA
MOREIRA, ao comentar o artigo 517 do Código de Processo Civil, "a
permissão de ignorar em grau de apelação estimula a deslealdade
processual, induzindo as partes à reserva dos seus trunfos para exibição
unicamente perante o órgão ad quem, com evidente desprestígio ao Juízo
de Primeiro Grau, onde melhor podem ser examinadas as inovações"
("Comentários ao Código de Processo Civil", vol. V/353, Editora Forense^.

A PELA ÇA O N": 644.459.4/5-00 - MOG1 GUA ÇU -02VS- VO TO N": 17.575


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1974). Por isso, "somente se admite a juntada de documento que


consubstancia fato novo em grau de recurso se a parte provar força maior
impeditiva de exibição oportuna" ("RT", vol. 639/104). Ainda: Apelação
Cível n. 237.006-2 - Osasco, rei. Des. Accioli Freire e Apelação Cível
530.486.4/1-00, de Itapetininga, da 3a Câmara de Direito Privado, rei. Des.
Beretta da Silveira).

Cabe à autora instruir a sua petição inicial com aqueles


relacionados à sua causa de pedir, ao passo que o réu os apresentará com a
contestação; vale dizer, a prova documental deverá ser produzida na fase
postulatória (Código de Processo Civil, artigo 396), admitindo-se a
apresentação posterior de documentos apenas se e quando forem novos e
destinados, na exata dicção da lei, a fazer prova de fatos ocorridos depois
dos articulados, ou para contrapô-los aos que foram produzidos nos autos
(artigo 397). Essa, por sinal, a orientação que predomina em sede
jurisprudencial, valendo como paradigma a ementa ora transcrita:

"Processual Civil - Prova documental - Momento de


produção. Juntada posterior à inicial e à resposta - Hipóteses - Código de
Processo Civil, artigos 396-397 - Na sistemática do Código de Processo
Civil, a prova documental é produzida no momento próprio, seja, com a
inicial e com a contestação, admitindo-se a juntada de documento em fase
posterior na hipótese da necessidade de se demonstrar fatos novos,
ocorridos depois dos articulados, ou ainda para contrapor a documentos
já acostados ao processo - Inteligência dos artigos 396 e 39J^^^odigo

APELAÇÃO N": 644.459.4/5-00 - MOGI GUAÇU-02VS - VOTO \'": 17.575


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de Processo Civil - Recurso especial não conhecido " (Superior Tribunal


de Justiça, Recurso Especial n. 44.521-94-MG, Colenda Sexta Turma,
Relator Ministro Vicente Leal, julgado em 8.4.96, "DJ" de 20.5.96, pág.
16.744).

Cuida-se de ação de rescisão de contrato de venda e compra


c.c. reintegração de posse e pedido de tutela antecipada ajuizada por Roval
Empreendimentos Imobiliários S/S Ltda, em face de Nelson Luiz Baldin,
alegando, que celebrou com o requerido em 27 de setembro de 2004,
instrumento particular de venda e compra de fração ideal de terreno e
unidade autônoma a ela vinculada, no empreendimento denominado
"Edifício Jequitibá". Ocorre que o requerido não honrou com o avençado
em contrato deixando de pagar a última parcela, oportunidade em que foi
subscrito o termo de aceitação da obra. Sustentou que o requerido
vistoriou o apartamento e nada impugnou, deixando de pagar a última
parcela e por isso não recebeu as chaves do referido imóvel. Muito embora
tenha sido notificado para pagar, quedou-se inerte.

A r. sentença julgou improcedente a ação ao fundamento da


exceção do contrato não cumprido, bem como condenou a autora no
pagamento das custas, despesas processuais e honorários advocatícios,
fixados em 10% do valor dado à causa, devidamente atualizado (fls.
152/155), não comporta alteração.

A PELA ÇA O N": 644.459.4/5-00 - MOG1 GUA Çli -02VS- VO TO \°: 17.575


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Colhe-se dos autos que o requerido deixou de adimplir com a


última parcela do imóvel (cláusula quinta do contrato - fls. 53), acordada
para ser paga na entrega das chaves, pois ainda não recebeu referidas
chaves, haja vista que o termo de vistoria não abrangeu as garagens de sua
unidade bem como a finalização da área comum, pois ainda não se
encontram prontas. Argumentou ainda, que a autora encontra-se em atraso
na entrega das chaves devido às várias irregularidades ainda não sanadas
(fls. 101, 110, 130).

Há incidência do disposto no artigo 476 do Código Civil de


2002.

Ainda que se admitisse a argumentação da apelante, o fato é


que em suas razões apenas alega que o imóvel está pronto para a entrega
das chaves, sem nada comprovar, no entanto.

Como bem ponderou a r. sentença, "... o autor adquiriu a


futura unidade autônoma, que correspondia ao apartamento, com suas
dependências e, ainda, as futuras vagas de garagens, conforme cláusula
4" do ajuste (fls. 52). O termo de vistoria, em que se baseou a autora, para
exigir do réu o pagamento da última parcela, limita-se ao apartamento e
silencia no tocante as garagens, conforme documento de fls. 59". E,
continua, "Cabe destacar que o sistema jurídico busca uma execução
simultânea das obrigações e a aplicação da exceção do contrato não
cumprido é a maneira de assegurar que uma das partes

APELAÇÃO N": 644.459.4/5-00 - MOGI GUAÇU-02VS- VOTO A": 17.575


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compelida a prestar seu compromisso caso a outra também proceda de


igual maneira"'' (fls. 154).

A r. sentença, dessa forma, observou, com adequação, a regra


prevista no artigo 1.092 do Código Civil de 1916, aplicável à espécie,
valendo lembrar, a propósito, a lição de ORLANDO GOMES sobre o
tema: "Nos contratos bilaterais, nenhum dos contratantes pode, antes de
cumprida sua obrigação, exigir a do outro. Nesta hipótese, tem direito a
invocar a exceção de contrato não cumprido. O fundamento desse direito
é intuitivo. Visto que a essência dos contratos bilaterais é o sinalagma,
isto é, a dependência recíproca das obrigações, nada mais conseqüente
que cada qual das partes se recuse a executar o acordo, opondo a
exceptio non adimpleti contractus. Se não cumpre a obrigação contraída,
dado lhe não é exigir do outro contratante que cumpra a sua" (Contratos,
Forense, 6a Edição, página 109).

Até porque, conforme preceitua o artigo 476 do Código Civil


(antigo 1092/CC de 1916), "Nos contratos bilaterais, nenhum dos
contratantes, antes de cumprida a sua obrigação, pode exigir o
implemento do outro".

Diante disso, não pode exigir do requerido apelado que este


pague a parcela intermediária, cumprindo sua parte no negócio, quando a
autora ora apelante ainda não adimpliu na inteireza o contrato. ^*-^P

APELAÇÃO N": 644.459.4/5-00 - MOGI GVAÇV-02VS - VOTO N": 17.575


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Nessa hipótese, aplica-se a "exceptio non adimpleti


contractos", em face ao disposto no artigo 476 do Código Civil de 2002
(cf. destaca SILVIO RODRIGUES, in "Direito Civil", "Dos Contratos e
das Declarações Unilaterais da Vontade", vol. III, 20a ed., São Paulo:
Saraiva, 1991, p. 202, n° 78, WASHINGTON DE BARROS
MONTEIRO in "Curso de Direito Civil" - "Direito das Obrigações - 2a
parte", 5o vol, 22a ed., São Paulo: Saraiva, 1988, p. 107).

No contrato bilateral as obrigações são equivalentes uma da


outra, de forma que a parte que exige a prestação da outra, sem ter
cumprido a sua, desnatura o caráter da obrigação da qual reclama, pois a
encara como se fosse isolada, não levando em conta a equivalência
(SALEILLES, Theorie de 1'obligation, página 185).

Por ser da essência dos contatos bilaterais a reciprocidade e


equivalência, todos são acordes em que as prestações devem ser feitas
simultaneamente, "donnant donnant", como dizem os franceses, podendo,
como exceção, admitir-se outro modo de adimplemento se tiver havido
estipulação expressa ou tácita em contrário (J. X. CARVALHO DE
MENDONÇA, Tratado, citado, n° 438).

Se contra o disposto na lei, o contraente que não cumpriu a


sua obrigação ou não ofereceu a sua prestação, exige o implemento da do
outro, terá este o direito de opor a exceção "non adimpleti vel non rite
adimpleti contractus", que é precisamente o meio legal de fazer^valeT

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aquele seu direito de não cumprir a sua obrigação sem que, primeiro ou
contemporaneamente, seja cumprido a do que quer exigi-la.

Alegando essa exceção, o devedor revela não querer eximir-se


ao cumprimento do contrato, como, aliás, poderia proceder se quisesse
rescindi-lo, nos termos do parágrafo único do artigo supra, mas apenas
reclama o adiamento da sua prestação até que o outro contraente, a seu
turno, execute a sua (PLANIOL-RIPERT- ESMEIN, Theorie de
1'obligation vol. 6, n° 439; BAUDRY-BARDE, obr. cit., vol.2, n° 963).

E na doutrina nacional, Carvalho Santos, Código Civil


Brasileiro Interpretado, tomo XV, pags.238 e segts.

De outro lado, trata-se de garantia imperativa e de resultado,


inerente ao produto, que impõe ao fornecedor a obrigação de entregá-lo ao
consumo livre de defeitos e apto ao funcionamento segundo os fins que
dele razoavelmente se esperam (cf. CLÁUDIA LIMA MARQUES),
"Contratos no Código de Defesa do Consumidor: o novo regime das
relações contratuais" - São Paulo, Ed. Revista dos Tribunais, 1992, págs.
199/2002. E no caso dos autos, a autora, descumpriu tal obrigação.

O processo não é um jogo em que o mais capaz sai vencedor,


mas instrumento de justiça com o qual se pretende encontrar o verdadeiro
titular de um direito (José Roberto dos Santos Bedaque, "Garantia da

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Amplitude de Produção Probatória", in Garantias Constitucionais do


Processo Civil, obra coletiva, Ed. RT, 1999, p. 175).

Daí porque, sem qualquer fato ou direito novo argüido nas


razões do recurso, associado ao mero inconformismo que a oportunidade
permite, prestigia-se, mantendo, a r. sentença.

Ante o exposto, nega-se provimento ao recurso.

BERETTA DA SILVEIRA
Relator

A PELA ÇA O N ": 644.459.4/5-00 - MOGI GUA ÇU -02VS- VO TO i\": 17.575

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