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LONDRINA – PARANÁ
2010
Hemostasia
1) Introdução
2) Hemostasia primária:
Fisiologia:
Vasos sanguíneos: quando um vaso é lesado, ocorre uma vasoconstrição reflexa que
reduz o fluxo sanguíneo no local. A contração vascular é mantida pela liberação de
componentes vasoativos das plaquetas e tecidos adjacente. Simultaneamente, as
plaquetas aderem às fibras colágenas subendoteliais expostas. Esta interação causa uma
liberação de ADP, serotonina, epinefrina e histamina. O vaso intacto oferece uma
superfície tromborresistente ao fluxo sanguíneo. O endotélio não lesado não promove
aderência de plaquetas ou leucócitos e não ativa a coagulação. As células endoteliais
contribuem ativamente para esta “tromborresistência”, equilibrando propriedades
vasculares procoagulantes e anticoagulantes.
Procoagulantes: fator de von Willebrand;
Fator tecidual;
Inibidor ativador do plasminogênio;
Fator V;
Anticoagulantes: barreira endotelial ao subendotélio;
Prostaciclina (PGI2);
Trombomodulina;
Proteína S;
Inibidor da coagulação associado à lipoproteína;
Ativador do plasminogênio;
Sulfato de heparina;
Plaquetas:
São partículas celulares produzidas por megacariócitos sob a influência de diversos
fatores de crescimento. A maior reserva está na medula óssea, mas também podem estar
nos pulmões ou no baço. Os megacariócitos são células grandes (25 a 50nm) com
núcleo poliplóide devido a um processo de endomitose (multiplicação do material
genético nuclear sem a divisão celular). Com a maturação celular, formam-se
pseudópodes e as plaquetas se destacam nas extremidades do citoplasma. A produção é
regulada pela trombopoietina, principalmente. A plaqueta normal, vista no esfregaço
sanguíneo tem 1 a 4 nm de diâmetro, forma esférica, oval ou discóide. O citoplasma é
basófilo e contém grânulos acidófilos. A estrutura das plaquetas contém membrana,
citoesqueleto e grânulos. São responsáveis pela contenção inicial do sangramento e em
pequenas lesões são suficientes para efetuar a hemostasia. Em lesões maiores, é
necessária a estabilização da fibrina. A adesão ao tecido endotelial (colágeno da
membrana subendotelial) é mediada por glicoproteínas específicas para colágeno e para
fator de vW. Ocorre mudança conformacional, ativação, degranulação, agregação de
novas plaquetas, interação fibrinogênio, formação do tampão hemostático primário e
início da hemostasia secundária.
3) Hemostasia secundária:
Fatores de coagulação:
São ativados principalmente, pela exposição à tromboplastina tecidual, expressa
na superfície de células endoteliais ou fibroblastos extravasculares. Após a ativação
inicial, a coagulação sanguínea ocorre em uma série de etapas nas quais zimogênios
plasmáticos das proteínas são transformados em enzimas ativas. Estas enzimas ativas
agem convertendo os seus substratos em cofatores, que se unem aumentando a
concentração local dos produtos reativos.
O evento final é a formação de trombina, que converte proteínas solúveis
(fibrinogênio) em insolúveis (fibrina). A malha de fibrina estabiliza o tampão
plaquetário. A disfunção ou ausência do fator de coagulação retarda a formação da
fibrina. A cascata pode ser disparada por duas vias não excludentes.
A via extrínseca depende da exposição a fatores e substâncias que não estão
presentes normalmente na corrente sanguínea. Tais ativadores são liberados pela ação
de agentes mecânicos ou alterações bioquímicas, como a liberação de citocinas. O fator
tecidual (Fator III) é uma proteína de cadeia única que se liga ao fator VII. O fator
tecidual é expresso na maioria das células que não têm contato com o sangue, excetos os
hepatócitos.
A liberação de endotoxinas pode estimular a biossíntese de citocinas nos
monócitos e células endoteliais, fator de necrose tumoral e interleucina 1 que estimulam
a produção de FT. O FT VII liga-se a FT de fibroblastos e de monócitos. Em indivíduos
normais, é comum a presença de fator VIIa na circulação. Com a exposição do FT
ocorre a ligação dos fatores VII e VIIa, no entanto, somente os complexos FT:VIIa são
ativos, mas estes podem ativar o FT:VII, o que é chamado autoativação. Mas esta
reação não é suficiente para ativar a cascata de coagulação. O fator XIIa(via intrínseca)
e o Xa(via comum) são muito mais eficientes.
O fator FT:VIIa ativa o f IX (via intrínseca) e o f X (via extrínseca). Para ocorrer
a inibição, o IFT deve ligar-se a FT:VIIa e f X.
A presença de IFT torna a via intrínseca a principal via de coagulação. É ativada
pelo fator XII a que transforma a precalicreína em calicreína, que ativa outras moléculas
de fator XII.
O fator tecidual, liberado por tecidos lesados, ativa o F VII na presença de íons
++
Ca , iniciando a via extrínseca. O F XII das plaquetas ativadas, ativa o F XI, iniciando
a via intrínseca. Ambos os fatores VIIa e XIa promovem reações em cascata, que,
eventualmente podem ativar o fator X. O FXa, juntamente com FIII, FV, PF3 e cálcio
irão ativar o ativador de protrombina. Este, converte protrombina em trombina. Esta,
converte fibrinogênio em fibrina. Inicialmente, a fibrina forma uma massa
desorganizada, mas o F XIII forma ligações covalentes que convertem a fibrina em um
denso agregado de fibras. Plaquetas e hemácias são envolvidas nestas fibras e, há, então,
a formação do coágulo.
F XIIa -> F XI em F XIa -> F IX (HMWK) F IXa -> que é acelerado pelo VIII:FvW
(deve-se dissociar para ser ativado pela trombina).
Via comum:
Qualquer via da cascata resultará na formação do fator X ativado (Xa). O fator
Xa catalisa a conversão de protrombina em trombina, mas esta reação é muito lenta. O
fator Va acelera esta reação. O fator V é ativado pelo Xa ou trombina. O Fa liga-se a Xa
na superfície das células, juntamente com fosfolípideos de membrana e cálcio formando
protrombinase que converte protrombina em trombina.
O principal substrato da trombina é o fibrinogênio – separa em monômeros de
fibrina, que se polimerizam espontaneamente, formando uma malha de fibrina. O fator
XIIIa ativado pela trombina, estabiliza os polímeros de fibrina, criando pontes dissulfeto
entre as moléculas.
5) Testes laboratoriais:
b) Exames laboratoriais:
A história e o exame clínico são importantes para a seleção de testes, com base na
suspeita clínica da localização do defeito hemostático. A punção venosa deve ser
cuidadosa, evitando garrote prolongado e /ou excessivas punções que levam à
contaminação da amostra com substâncias teciduais (tromboplastina), estimulando a
agregação plaquetária e a coagulação.
Anticoagulantes: citrato de sódio a 3,8% (9 partes de sangue :1 parte anticoagulante)
para fatores de coagulação;
EDTA 10% (0,1mL : 5,0mL sangue) para contagem de plaquetas;
Heparina – contra-indicado por inibir a trombina.
Considerações:
1- A amostra deve ser colhida em seringas e tubos plásticos ou siliconizados, pois o
contato com o vidro ativa a via intrínseca da coagulação.
2- Utilizar sangue recém-colhido, pois os fatores de coagulação têm vida média
curta e as plaquetas tendem a formar agregados e/ou aderir à superfície do
frasco;
3- A temperatura do laboratório interfere nas provas laboratoriais por alterar a
forma das plaquetas e acelerar (calor) ou retardar (frio) o processo de
coagulação. Por isto, algumas provas devem ser realizadas em laboratórios
climatizados.
4- Devido à grande quantidade de fatores interferentes aos diferentes valores de
referência existentes, recomenda-se a colheita e o processamento concomitante
de um animal controle sadio.
c) Testes de hemostasia primária:
Vasos:
Exame histopatológico: para avaliar a integridade vascular, ou presença de doenças do
tecido conjuntivo que podem ocasionar alterações hemostáticas.
Exame bioquímico das características do colágeno: para identificar doenças hereditárias
da síntese do colágeno que podem afetar a hemostasia.
Plaquetas:
A contagem de plaquetas é realizada em câmara de Neubauer, utilizando oxalato de
amônio a 1% como diluente. Como alternativa pode-se estimar a quantidade na lâmina.
O valor de referência está entre 200.000 a 500.000/mm3. A trombocitopenia
(<100.000mm3) pode ser causada por diminuição da produção (depressão da MO) ou
aumento do consumo ou destruição. Valores inferiores a 50.000 plaquetas podem
ocasionar sangramentos espontâneos. A trombocitose (contagem de plaquetas
aumentada) está associada à anemia regenerativa, em resposta ao estímulo da
eritropoietina, ou a neoplasias, infecções, processos inflamatórios ou pós-
esplenectomia.
Tempo de coagulação
Método Lee-White:
Testa a via intrínseca e via comum. Colheita de sangue total em um tubo sem ativador
de coagulação e ativação por contato com vidro. Padronizar o volume sanguíneo,
tamanho do tubo e banho-maria. Pode ser realizado em capilar sem anticoagulante
(semelhante ao utilizado para realização do hematócrito). O aumento indica defeito
grave nas vias intrínseca e comum e ocorre em coagulopatias induzidas por
anticoagulantes, hepatopatias e coagulopatias congênitas.
Fibrinogênio
- Dosagem antigênica: anticorpos anti fibrinogênio em imunoensaio;
- Precipitação pelo calor com leitura por refratometria: não é sensível para distúrbios
hemostáticos.
- método colorimétrico: mais preciso para mensurar o fibrinogênio, mas pouco utilizado
em laboratórios veterinários.
Anticoagulantes endógenos
Capacidade anticoagulante do paciente, já que o consumo excessivo destas substâncias
pode levar a hipercoagulação.
Antitrobina III e proteína C
A redução predispõe à trombose; são dependentes de vitamina K.
H. primária:
Defeitos vasculares;
Alterações quantitativas e qualitativas das plaquetas;
H. secundária:
Deficiência congênita ou hereditária na síntese de fatores de coagulação;
Síntese defeituosa;
Consumo excessivo;
Equimoses, hematomas, hemorragias em cavidades
Sangramento tardio, geralmente induzido.
H. terciária:
Estímulos excessivos;
Liberação de substancias ativadoras da coagulação;
7) Doenças
Sinais clínicos:
1 - tendência ao sangramento variando de leve a severa
2 – severa tendência ao sangramento;
Pode ser exacerbada pela trombocitopenia concorrente, condições intercorrentes
– uremia, hipoproteinemia, anemia e doença hepática e por medicamentos que
prejudicam a função plaquetária (AINEs e expansores plasmáticos).
Diagnóstico:
Contagem de plaquetas normal, painel de coagulação normal; aumento TSMO -
> triagem.
O diagnóstico definitivo com a dosagem do FvW plasmático.
ELISA quantitativo;
Análise de cofatores – aglutinação plaquetária frente a um reagente aglutinante semi-
quantitativo.
Análise funcional e estrutural – imunoeletroforese.
Testes genéticos.
Tratamento:
Transfusões para fornecer FvW ativo; tratamento de emergência e profilaxia.
Controle:
Controle da consanguinidade.
b) Trombocitopenia:
T. primária:
Trombocitopenia imunomediada amegacariocítica;
Destruição MK por autoanticorpos;
Causas infecciosas: erliquiose, parvovirose, Felv, FIV, Anemia
Infecciosa Equina, Diarreia Viral Bovina
Distrombopoiese:
Síndrome mielodisplásica/leucemia MK;
T. secundária:
Destruição plaquetária:
TIM secundária à Lupus Eritematoso Sistêmico, Anemia Hemolítica
Imunomediada, doenças infecciosas, medicamentos;
Consumo ou perda:
Trauma, hemorragias intensas, Coagulação Intravascular Disseminada, vasculite.
c) Trompocitopatia:
Pode ser aumento (estado pré-trombótico) ou redução (suscetível a hemorragias pós-
traumas) da função;
Podem ser secundárias a infecções causas, incluindo distúrbios metabólicos, endócrinos,
uso de drogas, infecções e neoplasias.
Redução da função :
Uremia – reduz adesão plaquetária (piora com vasculite);
Drogas antiinflamatórias inibidoras da cox – bloqueia síntese de txa2
Antibióticos – penicilina (betalact) ligam-se a mb das plaquetas, resultando na inibição
reversível de receptores agonistas e danos irreversíveis ao influxo de cálcio;
Bloqueadores dos canais de cálcio – impedem a atividade anticorpos antiplaquetários;
Erliquia – hiperproteinemia inibe adesão e agregação;
Felv – displasia megacariocítica;
Acidente ofídico: impedem a adesão de fibrinogênio;
Neoplasia: infiltração medular, produção de paraproteínas, lesões teciduais, ou uso de
quimioterápicos;
Doenças hepáticas – remove PDF que compete com fibrinogênio; impede a agregação
plaquetária.
Aumento da função:
Diabete melito: ativa as plaquetas; pró-trombótico; vasculopatias;
Síndrome nefrótica (perda de proteínas devido à disfunção renal): aumenta agregação e
ativação de plaquetas;
Tratamentos hormonais: Administração de eritropoietina
Neoplasias:
PIF: vasculite
Dirofilariose: vasculite
Asma: fatores liberados aumentam a atividade plaquetária.
d) Hemorragia vascular:
Adquiridas:
Lesão ao endotélio vascular – febre maculosa, dirofilaria, leishmaniose;
Distúrbio colágeno – escorbuto, síndrome de Cushing;
Doença inflamatória localizada – vasculite;
Hereditárias:
Colágeno: síndrome Erhers –Danlos, e síndrome de Marfan;
a) Coagulopatias congênitas:
Doenças de caráter hereditário: diminuição ou ausência de determinados fatores
de coagulação;
Deficiência de f VIII – hemofilia A
Deficiência de f IX – hemofilia B
X e XII – não resultam em distúrbio de coagulação.
Hemofilia A
Coagulopatia congênita mais comum em cães; também ocorre em gatos, eqüinos e
bovinos. Causada pela falta de f VIII funcional. A atividade do f X é acelerada pela
presença de F VIII ativo que promove rápida estabilização do tampão hemostático
primário pela fibrina. Quando não há f VIII suficiente, a velocidade e a resistência do
tampão secundário ficam comprometidos, sujeitos a fragmentação e, conseqüente,
hemorragia recorrente ou persistente no local da lesão vascular. Herança recessiva
cromossomoX 1 alelo.
Sinais clínicos dependem da magnitude da deficiência do f VIII e da exposição do
animal a traumas.
+5% f VIII não tem tendência ao sangramento;
2 a 5% demoram mais para ativar h. secundária; predispostos a seqüelas graves ao
menor trauma;
-2% propensos a episódios hemorrágicos espontâneos.
Hemartrose – claudicação; hematomas SC, sangramentos excessivos.
Diagnóstico: aumento de TTPA e TP normal após suspeita clínica familiar. Definitivo
quando da demonstração da deficiência de f VIII. Detectar fêmea portadora.
Terapia: bandagem, compressão, cauterização local, ligamento vascular e restrição de
movimentos. Administrar f VIII em cirurgia, pós-trauma ou perda. Transfusão sangue
fresco total, plasma fresco congelado e papa de hemácias. Crioprecipitado plasmático.
Hemofilia B
Deficiência absoluta ou funcional do f IX. Quando IXa forma complexo com f
VIII, cálcio e fosfolipídeos para ativar f X. A deficiência do f IX resulta em ativação
lenta do fator X, fraca estabilização do tampão plaquetário, que será frágil e propenso à
desintegração. Doença congênita recessiva do cromossomo X; ocorre mais em machos.
Sinais clínicos: após ruptura de vasos, inabilidade de formar tampão hemostático
estável, com aumento do sangramento nos locais lesados.
b) Coagulopatias adquiridas
Doença hepática:
Síntese de fatores de coagulação e fibrinólise. O sangramento, quando presente, varia de
leve a moderado. Cirrose, hepatite fulminante, doença hepática terminal podem fazer
sangramento abundante.
Disproteinemias:
Inibição da coagulação
Doenças imunomediadas -Lupus anticoagulante, mieloma múltiplo, mielofibrose, artrite
reumatóide. – produção de anticorpos contra fatores V, VIII, IX, XI, XIII.
Acidentes ofídicos:
A gravidade depende do gênero e da espécie da serpente, espécie animal, tamanho,
tempo de atendimento, quantidade de veneno, local e sintomas. Em animais, mais
comuns acidentes com Bothrops (jararaca) e Crotalus (cascavel). O veneno tem ação
coagulante, tipo trombina, converte fibrinogênio em fibrina, consome fatores de
coagulação e gera incoagulabilidade sanguínea. Acidente botrópico faz CID, formação e
deposição de trombos nos vasos e leva à Insuficiência renal aguda.
Diminui: plaquetas, hemácias, linfócitos, eosinofilos, Megacariocitos, VG, fibrinogênio,
hemoglobina, PTP, uréia, creatinina, proteína sérica e albumina.
Aumenta: leucócitos, neutrófilos, monócitos, PDF, ALT, FA, CK, TC, TP, TTPA, TT.
Referências:
FELDMAN, B.F.; ZINKL, J.G.; JAIN, N.C. Schalm’s Veterinary Hematology. 5.ed.
Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkins, 2000.