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Newton Leibniz Os PensadoréS Newton Leibniz “Nos corpos, vemos somente suas figuras e Cores, ouvimos somente 05 sons, tocamos somente suas superti- cies exteriores, cheiramos somente os cheitos, © provamos os sabores; mas suas substincias interiores ndo deve- rBo ser conhetidas nem por nossos sen- dos, nem por qualquer ato reflexo de nossas mentes: muito menas, temas qualquer idgia da substncia de Deus. Nés 0 canhecemos somente por suas invencdes mais sabias € excelentes das Coises © pelas causas finais; 0 admira- mos por suas perfeigdes; mas 0 reve- renciamos @ adoramos por causa de seu dominio: pois nds 0 adoramos co- mo seus serventes: ¢ um deus sem do- minio. providéncia @ causas finals nae énada além de Destino e Natureza.” ISAAC NEWTON: Prinejpios Motemiti- cos “© espago constitui uma disposi ge do ser enguanto ser. Nao existe nem pode existir ser algum que nao te- nha alguma relacdo com 0 espaco, de uma forma ou de outra. Deus esta em toda parte, as inteligéncias criadas es- to em algum lugar, 0 corpo esti no es- pago que ocupa, sendo que qualquer coisa que nio estivesse nem em: ne- hum lugar nem em aigum lugar, na realidade nzo existiia.” ISAAC NEWTON: Peso @ equilibrio dos compos “O comhecimento das verdades necessarias e eternas, elevando-nos ao conhecimento de nds prdprios e de Deus, € 0 que nos distingue dos sim- ples animais © nas permite alcancar a Ragdo ¢ as ciéncias. £ isso o que em nds se denomina Alma racional, ou Es- pinto,” LEIBNIZ: A Monadologia Os Pensadoré3 N469p Led, 83-0558 CIP-Brasil. Catalogagae-na-Publicagao ‘Cimara Brasileira do Livro, SP Newton, Sir isaac, 1642-1727, Prine{pios matemiticos ; Optica ; O peso ¢ o equilibria das fluidos /” Sir Isaac Newton.” A monadologia ; Discurso de metaffsica @ outros textos. 7 Goitfried Wilhelm Leibniz; trndugées de Carlos Lo- pes de Mattos ... (et al.). —2. ed. —Sio Paulo : Abril Cultural, 1983. (Os pensadores) Inclui vida e obra de Newton ¢ Leibniz. Bibliografia, 1. Cigncias - Filosofia 2. Filosofia alema 3, Fisica 4, Leibniz, Gott- fried Wilhelm, 1646-1716 S. Leibnix - Metafisiea 6, Mecinica celeste 7 Monadologia 8. Newtcn, Sir Isane, 1642-1727 I. Leibniz, Gottfried Wi- helm, 1646-1716. Il. Titulo: Prinefpios matematicos. III. Titulo: Optica TY. Titulo: @ peso ¢ 0 cquilfbrio dos Muidos. ¥. Tilo: A monadologia, VIL Titulo; Discurso de metafisica ¢ outros textos, VII. Série. cDD-S0l “110 “UL +193 509.2 $211 “530 indices para catdlogo sisteméticn: ‘éncia : Filosofia S01 2. Cientistas : Biogratfia e obra 509.2 3. Filosofia alema 193 4. Filésofos alemSes = Biografia c obra 193 3. Fisica: Citneias puras 530 6 Mecdnica celeste: Astronomia 521.1 7. Metatisica ; Filosofia 110 8, Monadologia : Filosofia III SIR ISAAC NEWTON PRINCIPIOS MATEMATICOS OPTICA O PESO E O EQUILIBRIO DOS FLUIDOS GOTTFRIED WILHELM LEIBNIZ A MONADOLOGIA DISCURSO DE METAFISICA E OUTROS TEXTOS ‘Tradugées de Carlos Lopes de Mattos, Pablo Rubén Mariconda, Luiz Joao Barauing, Marilena de Souza Chaut 1983 EDITOR: VICTOR CIVITA Titulos originais: Textos de Newton: Philssophiae Nazeralis Principia Muthemaice Optica De Gravitatione et Argrdpertia Flutdorun Texto de Leiba: La Monuicdliigle Discours de Mésaphysique Pe Rerun Originatione Radicatt ‘Quid sit tdew Recueil de tertres entre Leibniz et Clarke ‘© Copyright desta evi, Abril S.A. Culturat, ‘Sao Paule, 1980. — 2.* edigio, 1983, Direitos exclusivs sobre as unduces deste volume, Abnil§.A, Cultural, S50 Paulo, Dinwitos exotusivos site ""Newion — Vil ¢ Obra" ¢!'Libuiz — Vida e Obra", ‘Abni S.A, Cultural, Séo Paulo. NEWTON VIDA E OBRA ‘Consultoria; Hugh Matiew Lacey Matemitico, [z= Newton nao foi propriamente um filésofo. Nao formulou uma teoria do ser, nem uma ética, nem uma completa teoria do conhecimento. Nao € possivel, porém, compreender a maior parte da reflexao filosdfica do século XVIII @ seus desenvalvimentos paste tes, sem se canhecer sua fisica ¢ sua mecdnica celeste. Sua cipal ‘obra, Principios Matemdticos da Filosofia Natural, constitui — no di- zer de Wilhelm Windelband — “um fundamento duradouro das cién- clas naturais, vélide para o futuro, com toda perfeicao possivel de uma ciéneia particular”. Os Principios sintetizam, intima e completa mente, as duas grandes correntes metodoldgicas da ciéneia moderna = a matematizacdo e a experiéncia —, unindo ¢ superando 0 empi- rismo de Francis Bacon (1561-1626) e 0 racionalismo de Descartes (1596-1650). Galileu Galilei (1564-1642) © Kepler (1571-1670) — segundo Ernst Cassirer — ja tinham concebido a idéia de lei natural em toda a sua amplitude @ profundidade, © em sua significagso metodolégic Mas s6 a aplicaram corretamente em alguns poucos fendmenas part culares, como o movimento dos corpos em queda livre ou as Grbitas dos planetas. Faltava mostrar que a legalidade rigorosa, encontrada nesses casos particulares, poderia ser estendida para todo 0 universo. A obra de Newton cumpriu essa tarefa e 0 século XVIII compreendeu € admirou © sentido profundo de seu trabalho, vendo nele a compro- vacio da caminho a ser seguide pelas ciéncias da Natureza. Os pen- sadores do século XVIII veneraram suas qualidades de grande investi- gador experimental ¢ a alianga definitiva que estabeleceu entre a ex. Perimentagéo © a malematizagdo. Kant (1724-1804), o divisor de Aguas entre o pensamento moderno e o contemporaneo, ao. propor-se @ analisar a estrutura @ os limites do conhecimento, tamou a fisica ea mecanica celeste elaboradas por Newton como sendo a propria cién- cia. fisico ¢ tedlogo Newton nasceu em Woolsthorpe, Lincolnshire, Inglaterra, no Na- tal do ano em que faleceu Galileu: 1642. Aos 18 anos de idade, in- Bressou na Universidade de Cambridge, onde trabalhou durante toda a vida. Em 1665 era bacharel, em 1668 doutorou-se, e um ano de- Dois tormava-se catedratico, com apenas 26 anos de idade. Vill NEWTON Suas principals contribuigdes para a historia da ciencia foram ini- ciadas em 1666, quando a grande peste que assolou a Gra-Bretanha abrigou a Universidade de Cambridge a fechar as portas e fez New- ton refugiar-se em sua casa, na zona rural de Woolsthorpe. Nesse pe- riodo, Newton desenvolveu 0 teorema do binémio, que ficaria conhe- cido pelo seu nome, eo métode matemitico das fluxdes, que origina- fia © caleulo diferencial e integrado, considerado a mais importante inovagao da histéria da matemdtica, desde os gregos antigos. O: méto- do das fluxées considera cada grandeza finita como engendrada por um mavimento ou {luxe continuo, tornando possivel calcular areas li- mitadas, total ou parcialmente, por curvas, bem como os volumes das figuras sélidas. A essas dues contribuigdes seguiram-se duas. ou- tras, concebidas também, nos aspectos essenciais, no retiro forcado em Woolsthorpe: uma teoria sobre a natureza da luz e as primeiras idgias sobre a atracéo gravitacional. A primeira mostra que a luz bran- ca € constituida pela uniao das chamadas sete cores fundamentais do espectro. A segunda explica que a Lua mantém-se em Grbita gragas a forga gravitacional. Essas descobertas, contudo, tiveram que esperar aproximadamen- te vinte anos para serem desenvolvidas e concatenadas num todo temdtico, que veio a luz em 1687, sob 0 titulo de Principios Matema- ticos da Filosofia Natural. Dois anos apés = publicagio dos Frincipios, Newton foi eleito membro do Parlamento como representante da Universidade de Cam- bridge, cargo que deixaria, em 1690, com a dissalugdo do Parlamen- to, Em 1701 seria novamente eleito, mas sua atuagdo nos negécios politicos nao teve nenhum relevo. Ocupagoes mais importantes fo- fam a diregao da Casa da Moeda, em 1695, ¢ a presidéncia da Royal Society desde 1703 até 1727, data de sua morte, A Royal Sociely de- sempenhou papel extremamente significativo na vida cientifica ingle- sa, congregando todos os elementos de relevo nas ciéncias da época. Em 1704, Newton publicou a Optica, na qual se encontram suas descobertas experimentais nesse campo ¢ uma teoria sobre a nature- 2a da luz, A luz, para Newton, seria constituida por corpusculos ema- hados pelos corpes luminosos, Nessa mesma ¢poca ocorreram as con- trovérsias sobre a criagde do cdlculo infinitesimal, opondo Newton e Leibniz (1646-1716), Muito posteriormente ficou comprovado — ape- sat de Newton acusar Leibniz de plagidrio — que ambos chegaram as mesmas descobertas independentemente. Nos ultimos vinte anos de sua vida, Newton nao fez mais nenhu- ma contribuigdo significativa para a historia das ciéncias. Dedicou-se @ assuntes teoldgicos, chegando mesmo a considerd-los, na opiniao. de muitos historiadores, mais importantes do que a fisica ¢ a matema- tica, Entre os escritos dessa época destacam-se as Observacoes Sobre as Profecias de Danic! © do Apocatipse de $a0 Jodo, publicadas em 1733, As bases da fisica moderna A despeito da importancia dada por Newton aos assuntos de or- dem religiosa, seu significada dentro da histéria do pensamento situa- VIDA E OBRA Ix S@ no terreno da mais rigorosa matemstiea @ da ciéncia da Natureza Suas mais importantes contribuigées nesses tertenos foram a criacao do calcula infinitesirral, 0 desenvolvimento e sistematizacdo da meca- nica, a teoria da gravitagdo universal ¢ o desenvolvimento das leis de reflexdo © refragao luminosas, além da teoria sobre a natureza corpus- cular da luz. Os Prineipios Mateméticos da Filosofia Natural constituem a prix meira grande exposicao ¢ a mais completa sistematizacao da fisica modema, sintetizande num todo Unico a mecanica de Galileu ea as- tronomia de Kepler, ¢ fomecende 0s principios e a metodologia da pesquisa cientifica da Natureza, © niicleo central dos Princfpios s3o as trés leis fundamentals da mecdnica. A primeira afiirma que “todo corpo permanece em seu esta do de repouso, ou de mavimento uniforme em linha reta, a menos que seja obrigado a mudar de seu estado por forgas improssas Hele” A segunda lei estabelece que “a mudanga do movimento 6 proporcio- nal a forga motriz impressa e se faz segunda a linha reta pela qual se imprime essa forga’”. Finalmente, a terceira lei diz que. “a uma acao sempre se opde uma reagdo igual, ou seja, as agdes de dois corpos um sobre 0 outro sdo sempre iguais e se ditigem a partes contrdrias”. Na base dessas Isis (e de outras proposicées gerais do primeiro & segundo livtos dos Frincipios), Newton propds-se demonstrar todos os demais fendmenes. No terceira livra dos Principios encontra-se um exemplo disso, quando @ autor expde seu sistema do mundo, cen tralizado na lei da grevitagao universal; a matéria atrai a matéria na ra- 240 direta das massas € na inversa do quadrado das distancias. No ter- Ceiro livre dos Principios, Newton alitma que “‘pelas proposicées ma- tematicamente demonstradas nos livros anteriores, derivamese dos fe- homenos celestes as fargas de gravidade pelas quais os corpos ten- dem para o Sol e para os varios planetas’”, Newton nio fica somente no exemplo @ vai muito além, expres: sande sua fé numa concep¢ie mecanica de toda a Natureza: “Oxala pudéssemos também derivar dos principios mecanicas os outros fend- menos da Natureza, por meio do mesma género de atgumentos, por- que muitas razdes me levam a suspeitar que todos esses fendmenos podem depender de certas forcas pelas quais as particulas dos cor pes, por Causas ainda desconhecidas, ou se impelem mutuamente, juntanda-se segundo figuras regulares, ou sio repelidas @ retrocedem ‘umas em relacdo as outras. Ignorando essas forgas, os filésofos tenta- Fam em vao até agora a pesquisa da Natureza. Espero, no entanlo, que 0s principios aqui estabelecidos tragam alguma luz sobre Ponto ou sobre algum método melhor de filosofar’’, Além de formular uma concepcao de ciéncia inteiramente méca- icista, que permaneceria incontestdvel por muito tempo, os textos is dos Prineipios contém a esséncia da metodologia newtonia- na, Nos seus aspectos matemiaticas. Os Principios estruturam-se segun- do a ordem das idéias © om geometria, isto é, definicées, axiomas, teoremas etc. Por outro lade, Newton desenvelveu a calculo infinitesi« mal,.como instrumento de medida e de descoberta dos fendmenos fie sicas. O segundo aspecio da metodologia newtoniana consiste na anali- se indutiva, definida claramente numa passagem da Optica que atir- x NEWTON ma que 0 método cientifico consiste em “fazer experimentos ¢ obser- vag6es, e em derivar conclusGes gerais das mesmas mediante indu- do, e em nao admitir objegdes contra as conclusdes, exceto as que procedem de experimentos ou de certas outras verdades’’. A andlise indutiva seguir-se-ia a sintese, que consistiria em “assumir as causas descobertas e os principios estabelecidos e, por seu intermédio, expli- car Os fendmenos que procedem deles e demonstrat as explicacoes™. Espago € tempo absolutos Papel especialmente importante para a histéria da filosofia 6 de- sempenhado pelas nogdes de espage ¢ tempo absolutes, tal como Newton as formulou nos Principios. Essas nogdes no apresentam apenas um aspecto fisico, tendo conseqiiéncias de ordem metafisica. A prépria origem do conceilo de espago absoluto em Newton poderia ser encontrada — como afirma J. J. C. Smart — nos trabalhos de Henry More (1614-1687), poeta ¢ fildsofo platénico, e, através deste, nas doutrinas cabalisticas. No dizer do préprio Newton, “o espaco absoluto permanece constantemente igual ¢ imdvel, em virtude de sua natureza, ¢ sem Te lacdo alguma com nenhum objeto exterior; 0 espago relative, ao con- tario, 6 uma medida ou uma parte movel do primeiro, que nossos sentidos assinalam gragas a sua situagio em relacdo a outros corpos & que, geralmente, se ccnfunde com o proprio espago imével, por er- ro. Segundo alguns autores, a concepg’o do espago absolut formu- lada por Newton nao apresenta relevincia do ponto de vista da sua teoria mecanica propriamente dita. Nao obstante, 6 possivel estabele- cer certa correlagao entre a nogdo de espage absoluto e a de sistema inercial. Este Gltimo resresentou uma tentativa de Newton para solu cionar © seguinte problema: se a aceleragio de um corpo éstiver na dependéncia do sistema de referencias utilizado, tem-se, para cada sistema, um valor de aceleragdo. Conseqientemente, pela segunda lei da mecanica newtoniana, obtém-se diferentes valores para a forca que produziu ¢ssa aceieragdo, Logo, a questéo se coloca em termos da existéncia de um sistema de referéncias em que sejam medidos os “werdadeiros" valores da aceleracio, Para tanto, ¢ necessdrio supor um sistema de referdncias absolute, ou seja, um sistema que forneca correspondéncia rea! para a aceleragdo medida. Essa correspondén- cia seria medida por uma forca, por exemplo, a agio de uma mola ‘ou a atragao gravitacional, © sistema inercial normalmente utilizado neste ltimo caso estd em repouso em relacao as estrelas fixas. Essa a raza de néo se poder utilizar a Terra como sistema inercial, pois esta acelerada em relacdo ao Sol. Contudo, sendo a Terra o habitat de qualquer observador, ai medidas par ele mesmo realizadas evidencia- Tao, em alguns casos, erros devidos a0 movimento relativo do proprio. observador. Nesse casa, ou se desprezam os erros (desde que sua magnitude nao seja re evante), ou se atribuem a certas “forgas ficti- cias’’ esses erros, isto 6, as aceleragées oriundas da prdpria acclera- 80 do sistema. Essas dificuldades de ordem légica, contudo, n3o che- gam a obscurecer 0 extraordinario valor operacional das leis newto- nas. VIDAEOBRA XI A teoria newtoniana do tempo absoluto liga-se & do espaco abso- luto. Também nesse caso, a conceito é tomado sobretude como ferra- menta operacional. Para Newton, “o tempo absolute, verdadeiro © matematico, por si mesmo e por sua propria natureza, flui uniforme- mente sem relacdo com nada extemo; por isso mesmo é chamado du- fagio”. © fato de nao manter “relagao com nada externo” confere a0 tempo absolute caréter de imutabilidade. Em outras palavras, as coisas mudam, mas 40 muda o tempo. Isso implica que as mudan- (as ocorrem no tempo e este em nada contribui para que tal aconte- (a. Assim, 0 tempo absolute no 6 tomado por Newton como uma propriedade de cada coisa considerada particularmente, mas na medi- da em que se relaciona com tedas as outras coisas, na medida em que estas durem. Apesar da configuracdo metafisica que as teorias do espago e do tempo absolutes possam conferir ao pensamento de Newton, deve-se sublinhar que, na investigacéo dos fenémenos fisicos, @ autor dos Principios repele qualquer nocdo de ordem metatisica ou religiosa, 1642 — A & de janeiro, morre Galileu. £m Woolsthorpe, a 25 de dezem- bro, nasce Isaac Newton. 1655 — Morte 4 fildsofs ¢ maternatico Pierre Gassendi. 1661 — Newton matricula-se no Trinity College, em Cambridge, 1665 — Obrém 0 grau fe Bachelor of Arts, 1668 — Toma-se Master of Arts, Nasce Giambattista Vico. i 5 E auforizada a representacio de Tartufo, de Mali rand, 1670 — Publicaco de Tractatus Thealogico-Paliticus, de Espinosa, 1672 — Newon ¢ eleitameenbro da Royal Society, 1673 — Publicagdo do Horologium Oseillatorium, do flsico holandés Chris tiaan Huygens. 1675 — Newton envia a Royal Society suas anotacées sobre a reflexdo eas cores das luz, 1684 — Leibniz publica Nova Methodus pro Maximis et Mininvis. 1685 — Sio apresentacos 4 Royal Sociely os dlois primeiras livres das Philos sophiae Naturalis Principia Mathematiea, de Newton, 1687 — Primeira edicao dos Principia, de Newtorr, 1689 — Newton ingressa no Parlamento como deputado pela Universidade de Cambridge. 1701 — Funda-se, em New Haven, a Universidade de Yale. Nasce Celsius, ctiador da eseala termométrica que leva seu nome. 1703 — Newton éelcito presidente da Royal Society. 1704 — Fublica-a Optica 1205 — A rainha Ana di Inglaterra outorga-the o titulo de Cavaleiro. 1707 — Escécia e Inglaterra unem-se sob o nome de Gré-Bretanha. 1716 — Morte Leibniz, 1724 — Nasee Kant 1727 — A 20de margo, more Newton. re. Morre Rem= xi NEWTON. Bibliografia Licty, HM. A Linguagem do Espaco e de Tempo, Editora Perspectiva, Si¢ Paulo, 1972, Nace, E.: The Structure of Science, Nova York, 1961. Mone, L. T.: Isaac Newtan, Nova York, 1962. Awneane, E. N. C.: Sir isaac Newton, Londres, 1961. Come, |. B.: Franklin and Newton, Filadélfia, 1956: Wario, D. T. The Expanding World of Newtonian Researcti in History af Science, vol. 141962), 16-29. Bucrant, Gi The Image of Newton and. Locke in the Age of Reason, Lon. tes, 1961. D’Aaro, A.: The Rise of the New Physics, Nova York, 1951 Dixsremuis, E. |: The Mechanization of the World Picture, Oxford, 1961. Ha, A, R.: From Galileo ta Newton, Nova York, 1963. ‘Burr, EAL: The Metaphysical Foundations of Modern Science, Garden City, Nova York, 1955, Burrsmnan, Hy: The Origins of Modern Science, Nova York, 1958. Josusth, M.: Concepls of Spece, Cambridge, Massachusetts, 1957, Koval, A.: From the Closed World to the Infinite Universe, Nova York, 1958. SIR ISAAC NEWTON PRINCIPIOS MATEMATICOS DA FILOSOFIA NATURAL Traclugiio de Carlos Lopes de Mattos ¢ Pablo Rubén Mariconda (cdtio geral) Prefficio ao Leitor (1 edigéo) Visto que @s antigos (como nos conta Pappus) deram muit'ssima impor- tdncia ¢ mecdnica na investigacdo das coisas naturais, e os modernos, rejeitando as formas substanciais e as qualidades oeultas, empenharam-se por submeter os Sendmenos da natureza ds leis da matemética, procurei desenvolver a esta no pre- senie tratado, enquanto ela se refere & filosofia. Os antigos distinguiram uma dit- plice mecdnica: a racional, que procede cuidadosamente por demonstracdes, e a pratice. A mecénica prética periencem todas as artes manuais, das quais a mecé- nica tirou seu nome.' Camo, porém, os artifices costemam operar com poueo rigor, a meednica toda se distingue da geometria pelo seguinte: ludo o que € exato refere-se & geometria, ao passo que o que ndo o é pertence @ mecdnica. Entre- tanto, 98 erres néo sdo da arte, mas dos artifices. Quem trabatha com menos rigor é um mecanico imperfeito, e, se alguém pudesse trabalkar com rigor perfelto, seria 0 mais perfeito mecdnico de todos. Realmente, o tracado das retas e dos ctr. culos, sobre @ qual se funda a geometria, pertence 4 mecdnica. A geometria ndo nos ensina a risear essas linkas, mas postula-as, dado que exige do aprendiz que primeiramente seja capaz de as tragar com exatiddo, antes de atingir o dimiar da geometria; em seguida, ensina como por essas operagées sao resolvidos os pro- blemas, pois ao se tragarem retas eetreulos constituem-se problemas, que n@o sda geométricos, Na mecdnica postulase @ solucdo deles, ao passo que na geomerria se ensina seu emprego. A gléria da geometria é que desses poucos principios, ortundos de fora, seja capaz de produzir tanias coisas. Portanto, a geometria baseia-se na pratica mecdnica, ¢ nada mais é que aquela parte da mecdnica uni- versal que prapde e demonstra cam rigor a arte de medir. Mas, enquanto as artes manuais versam principalmente sabre 0 movimento dos corpos, acontece que vulgarmente se refira a geometria @ grandeza, mas a mecdnica ao movimento. Nesse sentido a mecénica racional serd a ciéncia dos movimentos que resultam de quaisquer foreas, e das forgas exigidas para produziv esses movintentos, pro- postas ¢ demonstradas com exatidéo. Essa parte da mecénica foi cuttivada pelos antigos nas cinco poténcias relativas ds artes manuais. Eles consideraram a gravi- dade (que nao é um poder manual) apenas no mover os pesos por esses paderes. Nés, porém, euidando nao das artes mas da filosofta, ¢ ndo das poténcias manuais mas das naturais, tratames sobretudo do que se refere @ gravidade, leve- za, forga eldstica, resisténcia dos fluidos e forgas semelhantes, atrativas ou impul- Acpalavta *mecdinicn” vem do green “mekhant. que signi 4 NEWTON sivas: e. por conseguinie, apresenio esia obra como os Principios Matematicos da Filosofia. Com gfcito, a dificuldade precipua da filosafia parece consistir em que se investiquem, @ partir dos fendmenos dos movimentos, as forcas da natureze, demonstando-se a seguir, por meio dessas Jorgas, vs outros fendmenos. A i880 se destinam as proposigdes gerais do primeiro e segundo livros. No terceiro, porém, dow um exemplo disse por meio da explicacdo do sistema mundano. At, de fato, pelas proposigdes matematicamente demonstradas nos livtrox anteriores, derivam se dos fendmenos celestes as foreas de gravidade petas quais as corpos tendem para o sole os varios planeas. Depois deduzo dessas forcas, por proposi¢des iambém matemdticas, 0 movimento dos planetas, dos cometas, da lua ¢ do mar. Oxala pudéssemos também derivar os outros fendmenos da natitresa dos prinet- pios meednicos, por meio do mesmo género de argumentos, porque muitas razdes me levam a suspeitar que todos esses fondmenos podem depender de certas forgas pelas quais-as particulas dos corpes, por causas ainda desconhectdas, ou se impe- dem mutuamente, juritando-se segundo figuras reguiares, ou so repeliddas v retro- cedem wnas em relagao as otitras. Ignarando essas forgas, os fildsofos tentaram em vdo até agora a pesquisa da natureza. Espero, no entanto, que os principios aqui estabelecidos tragam alguma {uz sobre esse ponto ou sobre algum método methor de filosefar. Na publicagae dessa obra o muito perspicaz ¢ eruditéssimo senhor Edmundo Halley ajudou-me ndo 6 a corrigir os erros tipogréficos e a preparar as figuras geométricas, mas também foi quem me levou a edi¢do do trabatho, Com efeito, quando abteve minhkas demonstragées da figura das drbitas celestes, insistiu co- migo para gue as comunicasse & Sociedade Real, a qual depois, gragas a seus amavels eneorajamento ¢ rogos, levou-me a pensar em publica-las, Porém, depois que comecei a considerar a desigualdade dos movimentos tunares e algumas owe tras coisas a respeito das ivis ¢ meaidas da gravidade ou outras forgas; ¢ as figu- ras que devem ser deseritas pelos corpos atrardos conforme as ditas leis; 0 movi- mento de muitos corpos entre si: a movimento dos carpos nos meios reststentes; as forcas, densidades e movimentos dos meios; as Orbilas dos cometas & coisas semethantes: vendo tedo isso, julguel dover adiar esta edigdo, afim de estidar tais pontos e publicar tudo Junta, As caisas relativas aos movimenios lunares (sendo imperfeitas) foram colocadas nos corolarios da Proposigdo LXVI para evitar de ser obrigado a propé-las e demunsird-las, uma por uma, cont wn método mais prolixe do que o merecia o assunto, interrompendo a série das outras proposi edes. Algumas coisas, achadas mais tarde, foram por mim introduzidas em luga- res menos indicados, de preferénciaa modificar 0 numero das proposicdes ¢ cita- goes. Pego de coragdo que ax coisas que aqui deixo sejam lidas com indulgéncia, eque meus defeitos, num campo téo dificil, no sejam tanto procurados com vis- fas a eenstira, como cam a finalidade de serem remediados pelos noves esforcos dos leitores. IN Cambridge. Trinity Cotleye, 8 de maio de 1686 (2.° edictio. que traz-um segundo preftiefo) Definigies perinigao 1 A quantidade de matéria é w medida da mesma, oriunda conjuntamente da sua densidade ¢ grande=a. © ar duplamente mais denso, num duplo espago, é quadruplo. O mesmo se diga du neve ¢ do pd condensados por compressio ou liqueFagao, Igual razio vale para todas os corpos que por qualquer causa sito condensados diversamente. Neste panto ndo levo em consideragdo 0 meio, se & que aqui existe algum, que penetra livremente pelos intersticios entre as partes. E essa quantidade que muitas vezes Lomo a seguir sob o nome de corpo ou massa. Conheeemo.la pelo-peso de qualquer corpo. pois est ¢ praporcional ao peso, 0 que achei ¢m experieneias tas cuidadosamente sobre os péndulos, come se mostraré adiante. DEFINICAO IL A quanildade de movimento éa medida do mesmo, provinde eonjurtamente da velocidade e da guantidade da matéria, O movimento do todo é a soma dos movimentos de cada uma das partes, ¢, Por conscguinte, num corpo duplo em quantidade. com igual velocidade, ele é duplo. ¢ com duas vezes a velocidad. & quadruplo, DerINICAO UE A forca inata (insita) da matéria ¢ um poder de resistir pelo qual eada corpo, enquanto depende dele, persevera em seu estado, soja dé deseanso, seja de movimento uniforme em linha rete, Essa forga & sempre proporcional a seu corpo, ¢ nao difere da inéreia da massa sendo no nosso modo de conceber. & pela inéreia da matéria que todo Corpo dificilmente sai de seu estado de descanso ou de movimento. Logo, a forga inata pode ser chamada pelo nome muito sugestivo de forga de inéreia.? Mas um corpo 86 exerce essa forea quando da mutagio de seu estado por outra forga impressa em siz eo exereicio dessa forga pode ser considerado sob o duplo aspec to de resistencia e de impeto: resisténcia, enquanto, para conservar o seu estado, * Enquante admite uma forga de inéreia com> “forga inal”, Newton mostra que sinda nao xe libertara Gompletamente dan “paaladides ool dt Hsien antiga, 6 NEWTON © corpo s¢ opde A forga impressa: impeto, enquanto o mesmo corpo, dificilmente cedendo a forga do obstacule oposto, esferga-se por mudar o estado deste. Atri- bui-se usualmente a resisténcia aos corpos em repouso, ¢ o impeto aos que se movem, mas 0 movimento ¢6 deseanso. enquanto concebidos pelo vulgo. apenas s¢ distingucm relativamente um do outro, nem se acham sempre ¢m repouso os corpos que o vulgo considera parados. DEFINIGAO IV A agao impressa 6 uma agdo exercida sobre um corpo para mudar seu esta- do de repouso ou de movimento uniforme em linha reta. Esta forea consiste somente na agdo, nem permanece no corpo depois dela. De fato, um corpo persevera em todo novo estado, apenas pela forga da inércia. Mas a forca impressa é de diversas origens, como de percussao, de presto ¢ de forga centripeta, DEFINIGAO ¥ A forga ceniripeta é aqueta pela qual o corpo é atra‘da ou impelido ou softe quatquer tendéncia a algum ponto como a ui centro. Assim ¢ a gravidade, pela qual 0 corpo tende ao centro da terra, a forga magnética, pela qual o ferro tende ao centro do ima, ¢ aquela forga, seja qual for, pela qual os planetas so continuamente afastados dos movimentos retilineos, obrigados a seguir linhas curvas.* A quantidade, porém, da forga centripeta ¢ de trés espécies: absoluta, aceleradora ¢ motriz. DEFINIGAO YI A absolite quantidade da forca centripeta é a medida da mesma, malor ou menor conforme a eficacia da causa que a propaga do centro pelos espacos em redor. Assim € que a forga magnética se torna maior num imie menor em outro. * DEFINIGRO VII A quantidade aceleradora de uma forca centripeta & a medida da mesma, proporcional @ velocidade que gera em determinado tempo. Assim, a forga de um mesmo {mi é maior numa distincia menor, ¢ menor numa distiincia maior, Do mesmo modo, a forga da gravidade @ maior nos vales * Na 2." eWicio, 0 A. alongasse rmuitey mais. Fala da forgn eontripeta que segura a peda na fied, Forgan seen a qual (¢ sem a gravidade o) a pedru sceuiria indefinidamente em linha reta, Passa em seguida a referir-se 4 lua, que gira, gragas él gravidade ou outra forca qualquer. em redor da terra: esca fares ‘nao podetia ser diminuts demais (porque entie no conseguiria fazer a lua deviar se di retap, nem forte dle. mais (parque ento a lua eairia sobre a terra}. Cabe aos materndtices deteeminar a quantidade justa da fovea + "Na 2 edigio serescentan ve: “eonforme sot Lainanbo e energia de intensidade”. PRINCIPIOS MATEMATICOS 7 @ menor ios cumes dos montes muito altos (como consta da experiéncia dos pén- dulos), ¢ ainda menor (como depois se vera) em distancias maiores da terra, sendo, porém, em tudo igual nas distancias iguais, visto que acelera igualmente todos 08 corpos que caem (graves ou leves, grandes ou pequenos), tirando-se a resisténcia do ar peeinigdo vin A quantidade motriz da forea ceniipeta ¢ a medida da mesma, proporcional ao movimento que gera em determinado tempo. Assim, 0 peso @ maior num corpo maior, ¢ menor num menor; ¢.ne mesmo corpo, é maior perto da terra e menor nos céus. Essa forca é 0 centripetismo ou propensao de todo o corpo para ¢ centro, ou, por assim dizer. seu peso, conhecen- do-se sempre pela forga que the é contraria e que é igual. capaz de impedir a des- cida do corpo. Essas quantidades das forgas podem chamar-se, por amor a brevidade, for- gas -absolutas. aceleradoras e motrizes. *e, por causa da distingdio, podem referir S€ 20S Corpos, aos lugares dos compos € ao centro das forgas. Isso significa que atribuo a forga motriz ao corpo, como um esforgo (conatus) e uma propensiio do todo para 0 centro, surgindo das propensdes de todas as partes; atribuo a forga ‘radora ao lugar do corpo, como certa eficacia, que parte do centro pelos diversos lugares em volta, a fim de mover os eorpos que neles se acham; atribuo, poreém, a forga absoluta ao centro, enquanto dotado de alguma causa sem a qual as forgas motrizes nao se propagam pelas regides ao redor, quer seja aquela causa algum corpo central (como o magnete no centro da forga magnética, ou a terra no centro da forga da gravidade), ou ¢lguma outra ignorada. Trata-se, em todo caso, de um conceito matemitico. Com efeito, nao me preocupam aqui as eausas ¢ os portadores fisicos das forgas. Portanto, a forga aceleradora esti para a motriz como a velocidade para 0 movimento, pois a quantidade do movimento provém da velocidade multiplicada pela quantidade da matéria, ¢ a forga mowiz surge da forga aceleradora multipli- cada pela quantidade da mesma matéria. De fato, a soma das agdes da forga aceleradora sobre cada uma das particulas do corpo é a forga motriz de todo, Conscqiientemente, junto A superficie da terra, onde a gravidade aceleradora ou forga da gravidade & a mesma em todos os corpos, a gravitade motriz. ou peso. & como o corpo: mas se subirmos as regides onde a gravidade aceleradora se torna menor. 0 peso também diminuird, ¢ sempre sera como o corpo multiplicado pela gravidade aceleradora. Assim nas regides onde a gravidade da acelcragao é duplamente menor, o peso do corpo dupla ou triplamente menor sera quatro ou seis vezes menor, De mais a mais, denomino as atragdes ¢ os impulsos, no mesmo sentido, aceleradores € motrizes, Uso. porem, indiferente © promiscuamente as palavras Na caligio seguintcw A, port canis Forgan na ordem qué segue: mutiizes, wivleradoran &absoluias, 8 NEWTON “atragao™. “impulso” ou “Propensio” de qualquer espécie em diregao ao centro, considerando essas forgas nao fisicamente, mas s@ matematicamente. Por isso, precavenha-se o leitor de pensar que eu queita definir com essas palavras uma espécie ou modo de agdo, causa ou razdo Misica, atribuindo aos centros (que $80 pontos matematicos) forgas verdadeiras ¢ fisicas, quando digo, por acaso, que os centros atraem ou falo de forgas do centro. COLIO Até aqui 56 me pareceil ter que explicar os termos menos conheeidos, mos. trando em que sentido devem ser tomados na continuagado deste livro, Deixci, portanto. de definir, como conhecidissimos de todos. a tempo. 0 espaco. o lugar € 0 movimento. Dirci, contudo. apenas que © wulgo no concebe essas quanti- dades seniio pela relacdo com as coisas sensiveis. E dal que nascem certos prejui 208. para cuja remogao convéem distinguir as mesmas entre ubsolutas ¢ relativas. verdadeiras € aparentes, matematicas ¢ vulgares 1, O tempo absoluto,* verdadeiro e matematico flui sempre igual por si Mesmo ¢ por sua natureza, sem relagao com qualquer coisa externa, chamando-se com outro nome “duragao"; 0 tempo relativo, aparente e vulgar é certa medida sensivel ¢ externa de duragao por meio do movimento (seja exata, scja desigual), a qual vulgarmente se usa em vex do tempo verdadviro. como sio a hora. o dia, © més. 0 ano. Tl. © espago absolute, por sua naturcza, sem nenhuma retagao com algo externo, permanece sempre semelhante e imével: o relative é certa medida ou dimensiio mével desse espago. a qual nossos sentidos definem por sua situagio relativamente aos corpos. e que a plebe emprega em vez do espago imével, como € a dimensdo do espago. subterranso, aéreo on celeste definida por sua situagio relativamente 4 terra, Na figura ¢ na grandeza, o tempo absoluto eo relutivo sio a mesma coisa, mas nao permanecem sempre numericamente o mesmo. Assim, p. @X.. $¢ @ terta se Move, um espago do nosso ar que permanece sempre 0 mesmo relativamente, ¢ com respeito a terra, ora seré uma parte do espaco absoluto no qual passa o af, ofa oulra parte, ¢ nesse sentido mudar-se-’ sempre absolutamente. TIL. O lugar é uma parte do espago que um corpo ocupa, ¢, com relagfio ao espago, ¢ absolut ou relative, Digo uma parte do espago, e nao a situacao do corpo ou a superficie ambiente. Con efeito, os lugares dos s6lidos iguais sio sem- pre iguais, mas as superficies so quase sempre desiguais, por causa da desseme- Ihanga das figuras; as situagdes, porém, nao tém, propriamente falando, quanti- dade, sendo antes afecgées dos lugares que os préprios lugares. O movimento do todo € 0 mesmo que a soma dos movimentos das partes. ou seja.a translacao do todo que sai de seu lugar € a mesma que a soma da translagdo das partes que © Para Newioa © tempo ¢ o espayo ssriam absolutes. Discute-se muito; porém, qual 0 verdaleira kentids dessa expressio, PRINCIPIOS MATEMATICOS 9 saem de seus lugares. e por isso 0 lugar do toda é 0 mesmo que a soma dos luga- res das partes, sendo, por conseguinte. interno ¢ achando-se ne corpo todo. IV. O movimento absoluto ¢ a translagio de um corpo e um lugar absolute Para outro absoluto. ao passo que 0 rélalivo é a translagao de um lugar relative para outro relativo. Desse modo,num navio a vela, o lugar relativo de um corpo @ aquela parte do navio em que ele se acha, ou aquela parte da cavidade que o ‘corpo Ocupa. € que Se Move junto com © navio; € o descanso relative é a perma néncia do corpo naquela mesma parte do navi ou dé sua cavidade. O descanso verdadeird, porém, ¢ a permanéacia do corpo na mesma parte daquele espaco imével em que o proprio navio se move juntamente com sua cavidade ¢ todo 6 seu conteido, Logo, se a terra esti realmente parada. o corpo que est em repou- so rclativo no navio mover-se-d verdadeira e absolutamente na velocidade com que o navio se move na terra, Mas se a terra também se move, o verdadeiro ¢ absoluto movimento do corpo surgira em parte do verdadeiro movimento da terra no espago imdvel, em parte do movimento relative do navio na terra: ¢ se @ corpo tambem se mover relativamente no navio. surgiré seu verdadeira movimento em parte do verdadeiro movimento da terra no espago imdvel, em parte dos movi- mentos relativos, tanto do navi na terra, come do corpo no navio, ¢ desses Movi mentos relativos nasceré o moviniento relativo do corpo na terra. Assim é que se aiqucla parte da terra onde esta @ navio se move verdadeiramente para o Oriente com a velocidade 10010 das partes. ¢ 0 navio se dirige. gragas as velas ¢ a0 vento, para © Ocidente com a velocidade de 10 partes. mas se o navegante andar no navio para o Oriente com 1 parte da yelocidade, mover-se-4 verdadeira e abso- lutamente no espago imével. para o Oriente. com 10 001 partes da velocidade. ¢ relitivamente na terra, para o Ocidente, com nove partes da velocidade. © tempo absoluto distingue-se do relative na astronomia pela equagio do tempo vulgar. De fato, os dias naturais, que vulgarmente se consideram iguais para medida do tempo,’ so desiguais. Essa desigualdade ¢ corrigida pelos astré- nomos, para medirem os movimentos cclestes por meio de um tempo mais verda- deiro, Pode muito bem ser que nao haja movimento aleum. que seja igual, para medir 9 tempo com exatidao. Todos os movimentos podem acelerar-se e retar- dar-se, mas o fluxo do tempo absoluto nde se pode mudar. A duragiio ou persev ranga da existéncia das coisas ¢ a mesma. quer 0s movimentos sejam rapidos, quer lentos, ou até nulos; portanto, ela [a duragdo] se distingue, devidamente, das suas medidas sensiveis ¢ das mesmas se deduz por meio de uma equagio astroné. mica. A necessidade, porém, dessa equagio para determinar os fenamenos impie-se tanto pela experiéncia co relégio oscilatério [pendular], como também pelos eclipses dos satélites de Jipiter Assim como a ordem das partes do tempo ¢ imutavel, também o é a ordem das partes do expago. Na hipdtese de se moverem de seus lugares esas. partes, também se moveriam de si mesmas (como diriamos), pois os tempos ¢ 0s éspacos sdio como que os lugares desi mesmos ¢ de todas'as coisas. Estas loculizam-se no 7 Alusiio a Aristiteles, que defini o tempo aria “auméragio do’ movtimen is segunda ites o depots 10 NEWTON tempo quanto & ordem da sucesso, e ne espago quanto 4 ordem da situagfio. Da esséncia deles & serem lugares, e absurdo que os lugares primarios se: movam. Fis, portanto. os lugares absolutos, e 8 as translagdes desses lugares s20 movi- mentos absolutes. Contudo, como essas partes do espago nao podem ser vistas ¢ distinguidas umas das outras por nossos sentidos, usamos em lugar delas medidas sensiveis. Com efeito, definimos tocos os lugares pelas posigdes ¢ distancias das coisas em relagio a um determinado eorpo, que consideramos como imével; a se- guir também calculamos todos os movimentos relativamente a esses lugares, enquanto coneebemos 05 corpos como transferidos destes. E assim que emprega- mos em vez dos lugares ¢ movimentos absolutos os relativos, sem nenhum ineon venicnte na vida comum: na filosofia, entretanto, devemos fazer abstragao dos sentidos. Pode, na realidade. acontecer que nenhum eorpo, 20 qual os lugares ¢ movimentos se refiram, esteja de fata parado. Distinguem-se, porém, um do outro o descanso e a movimento, tanto os absolutes como. os relatives, por suas propriedades, causas ¢ efeitos. Uma propricdade do descanso € que os corpos verdadeiramente em repouso estejam parados em felagdo um ao outro. Por isso, como ¢ possivel que algum corpo. nas regides das estrelas fixas ou talvez mais longe ainda, esteja em repouso absoluto, no se podendo saber, pela situag’o dos corpos um em relagdo aos outros, nas nossas regides, se algum deles guarda a mesma posicao relativamente aquele corpo longinquo. nao se pode definir o verdadeiro repouso pela situagio dos cor- pos entre si. Uma propriedade do movimento & que as partes que guardam as posigdes dadas em relagdio a seus todos participam dos movimentos desscs todos. Com efeito, todas as partes dos corpos que giram esforgam-se por se afastar do eixo do movimento, ¢ o {mpeto dos que seguem adiante provém do impeto coligado das partes singulares. Logo, movidos cs corpos ambientes, as coisas que em redor estiia relativamente em repouso se moverao, E. por isso © movimento verdadeiro ¢ absoluto nao pode ser definido pela translagdo a partir dos corpos vizinhos, que sao vistos como parados. Os corpos extensos ndo devem ser vistos apenas eomo parados, mas precisam parar verdadeiramente. Caso contririo, todos as corpos incluidos fora da translagao, a parti: dos corpos ambientes vizinhos, participarao também dos verdadeiros movimentos deles, ¢ sem essa translagio nao estardo verdadeiramente parados, mas:s6 sero vistos como parados; os corpos ambien- tes, de fato, referem-se aos corpos inclufdos como a parte exterior do todo em relagdo & interior, ou como a casca em relacio ao cere, pois que, movida a casca, o cerne tambem, como parte do todo, se mover, sem a translagdo da casca vizinha. Uma propricdade vizinha da antcrior ¢ que, movendo-se o lugar, juntamente se move'o contetide, ¢, por isso, um corpo que se move de um lugar em movi- mento participa também do movimento do scu lugar. Por conseguinte, todos os movimentos oriundos dos lugares em movimento sio somente partes dos movi- mentos integrais e absolutos: ¢ todo movimento integral compde-se do movi- mento do corpo 2 partir,de seu primeiro lugar. ¢ do movimento deste lugar para PRINCIPIOS MATEMATICOS MN fora de seu lugar, e assim por diante, até chegar ao lugar imével, como no citado exemplo do navegante. Logo, movimentos integrais ¢ absolutes nao podem defi- nir-se sen&o pelos lugares imévcis,¢, por isso. acima os referi a esses lugares, mas referi os movimentos relativos aos lugares méveis, Ora, lugares imoveis no sio seno aqueles que, por toda infinidade, conservam as posigScs mituas, pelo que sempre permanecem iméveis, constituindo o espago que chamo imével. As causas pelas quais os movimentos verdadeiros ¢ os relativos se distin- guem entre si sio causas impressas nos corpos para gerar 0 movimento. O movi- mento verdadeiro nao ¢ gerado nem sce muda senao por forgas impressas no pra- prio corpo movido; mas 0 movimento relative pode ser gerado e mudar-se sem forgas impressas ness¢ corpo. Bas.a, com efcito, que se imprimam apenas em ou- {ros corpos, com os quais se faz a relago. de modo que. faltando cles, muda-se aquela relagio em que consiste o repouso ou movimnento relativo de determinado corpo. Da mesma forma, o movimento verdadeiro sempre sofre alguma mutagao pelas forgas impressas no corpo movido, mas o movimento relativo nao é muda do necessariamente por essas forgas. De fato, se as mesmas foreas se imprimirem também cm outros corpos com que se estabelece rela¢io, de modo a conservar a situagao relativa, estara igualmente conservada a relagdio em que consiste o movi mento relativo. Pode, pois, mudar-se todo 0 movimento relativo, conservando-se 0 verdadeiro, ¢ ser conservado, mudando se o verdadeiro; logo, movimento ver- dadeiro nao consiste de maneira alguma em tais relagdes. Os efeitos pelos quais se distinguem uns dos outros os movimentos absolu- tos e os relativos so as forgas de se afastar do eixo do movimento circular. De fato. no movimento circular simplesmente relative ndo ha tais forgas; no verda deiro. porém, ¢ absoluto, existem em maior ou menor grau conforme a quanti- dade do movimento. Penduremos, p. cx. um vaso por meio de uma corda muito comprida, e viremo-lo muitas vezes até ficar a corda endurecida pelas voltas: enchamo-lo entio de agua ¢ larguemo-lo: subitamente ocorrerd ai certo movi- mento contrario, descrevendo um cireulo, e, relaxando-se a corda, 0 vaso conti- nuaré por mais tempo nesse movimento. A superficie da agua [dentro do vaso] ser plana no comego, como antes do movimento do vaso, mas depois. imprimin- da-se aos poucos a forca da gua, esta comegara sensivelmente a mexer-se. afas tando-se aos poucos do centro ¢ subindo aos lados, de modo a formar uma figura eneava (como eu mesmo experimentei); ¢, na medida em que o movimento aumentar, a 4gua subira sempre mais, até que, por ultimo, igualando-se no tempo sua revolugo com a do vaso, descansara relativamente nele. Esta subida indica 0 esforgo por afastar-se do eixo do movimento, ¢ por esse esforgo se torna conhe- sido ¢ se mede © verdadeiro € abseluto movimento circular da agua, aqui inteira- mente contririo a0 movimento relative. No infeio, quando era sumo 0 movi- mento relative da agua, ndo produzia nenhum estorgo por se afastar do cixos a gua no tendia a circunferéncia, subindo aos lados do vaso, mas permanecia plana, e, por conseguinte, seu verdadeiro movimento circular ainda nao tinha comegado. Depois, porém, que o movimento relativo da agua diminuiu, sua subi- da para os lados do vaso indicava o esforgo por afastar-se do eixo, ¢ esse esforga 12, NEWTON mostrava seu verdadeiro movimento circular, continuamente crescendo até atingir scu maximo quando a agua passou a descansar relativamente no vaso. Pontanto, aquele esforgo nio depende da translagdo da agua com relagio aos corpos ambientes: logo. o verdadciro movimento circutar no pode ser definide por esas translagGes. S6 hi um verdadeiro movimento cireular de qualquer corpo que gira, correspondendo ao Gnico esfogo. como seu efcito proprio ¢ adequado, ao passo que os movimentos relatives. consoante as varias relagGes, com os corpos exter nos, ® sao , come as relagdes. sdo completamente destituidos de efei- tos verdadciros, a nao ser enquanto participam daquele verdadeiro ¢ dnico movi mento. Segue-se que no sistema dacueles conforme os quais nosso céu gira abaixo do céu das estrelas fixas, carregando consigo os planctas, ® estes ¢ todas as par- tes do céu. que relativamente descansam em seu céu proximo. na verdade se moyem. De fato, mudam suas posigGes mas em relagiio as outras (0 que nao se dé com os corpos em repisuso verdadeiro), e, carregados por seu céu. participam de seu Movimento. ¢. como partes dos todos que giram. esfogam-se por afastar-se de seus eixos. Logo. as quantidades relativas nfo sto as prprias quantidades cujos nomes ostentam. mas sim as medidas sensiveis delas (verdadeiras ou erradas), usadas vulgarmente em lugar das qualidades em si. Se, portanto, se deve defini pelo uso © sentido das palavras. pelos termos “tempo”. “espago”, “lugar” ¢ “movimento” ho de entender-se propriamente ¢ssas medidas. ¢ sera inusitado e puramente matematico subentenderem-se as quantidades medidas. Por conseguinte, forgam a Sagrada Escritura os que interpretam essas palavras como sendo das quanti dades em si.!° Nem menos maculam a matematica ca filosofia os que confun dem as verdadeiras quantidades com suas relages e medidas vulgar E dit porém, conhecer os verdadeiros movimentos de cada um dos corpos. distinguindo-se efetivamente dos aparentes, dado que as partes do espago imével em que os corpos se movem de verdade nao caem sob os sentidos, A causa, entretanto, née est de todo perdida, porque ha argumentos que suprem esse defeito, em parte provindes dos movimentos aparentes. os quais constituem diferengas dos movimentos verdaceiros, em parte oriundos das forcas que sto causas e efeitos desses movimentos. Se. p. ex., dois globos, com determinada dis lincia entre si ¢ ligados por um cordao, forem movimentados ao redor do centro comum de gravidade, conhecer-se~i pela tensao do fio o esforgo dos globos por afastar-se do eixo do movimento, ¢, dai, poderemos calcular a quantidade do movimento circular. Em seguida, se forem impressas a0 mesmo tempo em ambas as faces dos glohos quaisquer forgas iguais, a fim de aumentar ou diminuir o movimento circular. poderemos inferir pela tensdo aumentada ou diminuida do As relagdes. segundo: Alabteles (sepuids gonforme os termos a que se dest te panto por Newton). (Gm apenay uny“see para”. variando nim ¢ sendo desttiidas de efeitos verciadeiros, cam

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