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Luciana Assunção
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ISSN - 1519-0501 Artigo de Revisão
I
Doutoranda do Curso de Odontopediatria da Faculdade de Odontologia de Araçatuba (FOA, UNESP), Araçatuba/SP, Brasil.
II
Livre Docente em Odontopediatria e Professor Adjunto do Departamento Infantil e Social da Faculdade de Odontologia de Araçatuba (FOA, UNESP), Araçatuba/
SP, Brasil.
III
Doutor em Odontopediatria, Professor Associado do Departamento de Medicina Oral e Odontologia Infantil e Diretor do Núcleo de Odontologia para Bebês da
Universidade Estadual de Londrina (UEL), Londrina/PR, Brasil.
RESUMO ABSTRACT
Introdução: Estudos mostram que traumatismos na dentição Introduction: Studies have shown that dental traumas in the
decídua são eventos comuns, podendo resultar em seqüelas que primary dentition are common events that may result in sequelae
podem comprometer o dente decíduo afetado. Na literatura, a that can compromise the affected primary tooth. In the literature,
freqüência dos traumatismos na dentição decídua é variável, the frequency of dental trauma in the primary dentition is variable,
enquanto a faixa etária, o gênero, o fator etiológico e os dentes while the age range, gender, etiological factor and the most affected
mais afetados apresentam prevalências semelhantes. Em relação teeth present similar prevalence. Regarding the most common type
ao tipo de trauma mais freqüente, diferenças podem ser encontradas of trauma, differences may be found due to sampling criteria, such
em razão de critérios da amostragem como o tipo de estudo e o as the type of study and site of conduction of the study. Several
local de realização da pesquisa. Várias são as seqüelas que podem sequelae may be observed in traumatized primary teeth, among
comprometer os dentes decíduos após traumatismos, destacando- which coronal discoloration, pulp necrosis, root canal obliteration
se a descoloração coronária, a necrose pulpar, a obliteração do and root resorption. Studies have pointed to the type of trauma and
canal pulpar e a reabsorção radicular. Estudos apontam o tipo de the age of the child at the moment of trauma as important factors
trauma e a idade da criança no momento do trauma como fatores that contribute to the occurrence of these sequelae.
importantes que determinam a ocorrência destas seqüelas. Purpose: The purpose of this article is to present a review of
Objetivo: Este artigo propôs revisar estudos relevantes da relevant studies referring to epidemiological factors and sequelae
literatura referentes aos fatores epidemiológicos e as seqüelas em in traumatized primary teeth, providing to the reader an overview
dentes decíduos traumatizados, proporcionando ao leitor uma visão of dental trauma in the primary dentition.
geral do traumatismo na dentição decídua. Conclusion: It could be observed a direct relationship between
Conclusão: Pôde-se observar uma relação direta entre o grau de the degree of severity of the dental traumas and the occurrence of
severidade dos traumatismos e a ocorrência de seqüelas nos sequelae in the affected primary teeth, emphasizing the importance
dentes decíduos afetados, enfatizando-se a importância do of periodical follow up in these cases.
acompanhamento periódico destes casos.
DESCRITORES DESCRIPTORS
Traumatismos dentários; Dente decíduo; Seqüelas. Dental trauma; Primary tooth; Sequelae.
desenvolveram consideravelmente mais a necrose quando de graus classificados como médios e severos. Gondim
comparado àqueles submetidos ao tratamento e Moreira Neto (2005) detectaram a presença da
expectante. Fatores como a idade do paciente no reabsorção dentária após 4 meses de acompanhamento
momento do trauma, o grau de deslocamento do dente em dentes decíduos intruídos.
traumatizado e a perda de estrutura, nos casos de
fraturas, também podem influenciar no desenvolvimento
da necrose pulpar, todos de maneira diretamente DISCUSSÃO
proporcional (BORUM; ANDREASEN, 1998).
Outra seqüela, a obliteração pulpar pode ocorrer De acordo com os trabalhos revisados, os
como conseqüência de traumatismos na dentição traumatismos na dentição decídua podem ocorrer com
decídua com uma freqüência entre 10% a 36% (BORUM; uma freqüência de 4 a 30%. Esta discordância entre as
ANDREASEN, 1998; CARDOSO; ROCHA, 2004; pesquisas pode ser resultante da falta de padronização
SOPOROWSKI; ALLRED; NEEDLEMAN, 1994). O na classificação dos traumatismos e da variedade dos
prognóstico de dentes decíduos que sofrem este tipo de dados levantados como sugerem Bastone, Freer e
seqüela é, em geral, satisfatório, sem alterar o processo McNamara (2000).
de esfoliação radicular fisiológica, sendo raras as Embora, a faixa etária mais prevalente entre as
ocorrências de alterações patológicas (BENNET, 1964; amostras estudadas varie de estudo para estudo
JACOBSEN; SANGNES, 1978). Entretanto, pode levar (BIJELLA et al., 1990; CARDOSO; ROCHA, 2002;
à necrose da polpa devido ao estrangulamento do CUNHA; PUGLIESI; VIEIRA, 2001; GARCIA-GODOY;
suprimento vascular pela constante deposição de dentina GARCIA-GODOY; GARCIA-GODOY, 1987), todos
(DIAB; ELBADRAWY, 2000b). indicam a alta suscetibilidade de crianças de baixa idade
Holan e Ram (1999) observaram que a obliteração em sofrer traumatismos orofaciais. Diab e Elbadrawy
pulpar foi uma seqüela comum entre os 310 incisivos (2000a) relatam que traumatismos dentários são menos
decíduos que sofreram trauma do tipo luxação intrusiva. freqüentes em crianças menores de um ano de idade,
O diagnóstico da obliteração pulpar é obtido em períodos observando um aumento da incidência à medida que a
mais longos de acompanhamento, podendo esta criança inicia o aprendizado do andar.
alteração ser observada até mais de um ano após o Meninos vivenciam significativamente mais as
trauma, como relata o estudo de Cardoso e Rocha injúrias traumáticas na dentição decídua que meninas.
(2004). Embora, a maioria dos estudos não mostrou diferenças
As reabsorções dentárias podem ocorrer em 6 a estatisticamente significantes entre os gêneros
33% dos casos decorrentes de traumatismos em dentes (ANDREASEN; RAVN, 1972; BASTONE; FREER;
decíduos (CARDOSO; ROCHA, 2004; FRIED et al., 1996; MCNAMARA, 2000; BIJELLA et al., 1990; CUNHA;
GONDIM; MOREIRA NETO, 2005), podendo estar PUGLIESI; VIEIRA, 2001; GARCIA-GODOY; GARCIA-
associada a outras alterações, principalmente à necrose GODOY; GARCIA-GODOY, 1987; MESTRINHO;
pulpar (ROBERTSON; LUNDGREN; ANDREASEN, BEZERRA; CARVALHO, 1998; WILSON, 1995), Borssén
1997). Entretanto, em algumas situações, podem ocorrer e Holm (1997) observaram uma freqüência de
sem outras evidências de alterações patológicas e, nos traumatismos na dentição decídua quase duas vezes
casos mais severos, resultar em perda precoce do dente maior em crianças do gênero masculino quando
decíduo (RAVN, 1968). comparada às do feminino. Em relação a este aspecto,
O diagnóstico da reabsorção radicular externa Vanderas e Papagiannoulis (1999), em um estudo em
pode ser detectado radiograficamente através de alguns crianças com idades entre 8 e 10 anos, atribuíram a alta
sinais como: espessamento do ligamento periodontal, incidência dos meninos aos traumatismos ao elevado
rarefação óssea e reabsorção radicular patológica, nível de epinefrina, dopamina e estresse emocional neste
resultando, geralmente, em exodontia do dente afetado gênero.
(DIAB; ELBADRAWY, 2000b). A queda em diferentes situações (da própria
Fried et al. (1996) observaram a reabsorção altura, contra objetos, etc) foi o fator etiológico mais
radicular patológica em 6,8% de 207 dentes no início da prevalente em vários estudos (CUNHA; PUGLIESI;
avaliação. Já Cardoso e Rocha (2004) diagnosticaram VIEIRA, 2001; GARCIA-GODOY; GARCIA-GODOY;
esta alteração em um período de 46 dias a 4 meses GARCIA-GODOY, 1987; SOPOROWSKI; ALLRED;
após o trauma, sendo que, após 1 ano, foi constatado NEEDLEMAN, 1994; ZAZE et al., 2004). Um fator
uma freqüência de 66,7% em dentes com traumatismos interessante foram os resultados de Garcia-Godoy,
Garcia-Godoy e Garcia-Godoy (1987) e de Lombardi, clínicos como de Sonis (1987) e Borum e Andreasen
Scheller e Williams (1998) que mostraram as quedas (1998) constataram que, somente a alteração da cor
dentro de casa mais observadas entre crianças menores cinza, não necessariamente indique a degeneração
e fora de casa, em crianças com maior idade. Este fato pulpar. Em contrapartida, Holan (2004) observou sinais
referencia o próprio desenvolvimento da criança, de inflamação em 83% dos dentes que apresentaram
conquistando maior autonomia à medida que ocorre o coloração escura permanente da coroa.
amadurecimento de suas características fisiológicas e A perda da vitalidade pulpar é uma complicação
comportamentais. comum subseqüente a traumatismos dentários,
A variabilidade dos resultados encontrados entre especialmente após luxações severas, sendo observada
a incidência dos tipos de traumatismos, sendo as do uma freqüência menor entre os pacientes com menos
tipo deslocamento mais observadas na maioria dos de 3 anos (ANDREASEN; ANDREASEN, 1994). Sendo
estudos (ANDREASEN, 1970; ANDREASEN; RAVN, assim, o tipo de trauma também pode influenciar no
1972; BIJELLA et al., 1990; CARDOSO; ROCHA, 2002; desenvolvimento da degeneração da polpa. O estudo de
GARCIA-GODOY; GARCIA-GODOY; GARCIA-GODOY, Keowood e Seow (1989) relatou maior prevalência da
1987; SOPOROWSKI; ALREED; NEEDLEMAN, 1994;) perda da vitalidade pulpar em traumatismos do tipo
e as fraturas, especialmente as não complicadas em deslocamento. Entretanto, trabalhos como os de
outros (CUNHA; PUGLIESI; VIEIRA, 2001; FERELLE, Soporowski, Alreed e Needleman (1994) e Cunha (2003)
1991; KRAMER et al., 2003) pode ser explicado em razão foi constatada uma grande porcentagem de dentes com
do local onde se realiza a pesquisa e também da traumas de luxações que permaneceram com vitalidade
metodologia empregada. pulpar.
Sendo assim, em clínicas, onde os O estabelecimento da condição pulpar constitui,
acompanhamentos são realizados periodicamente, em alguns casos, uma difícil tarefa, e somente um
favorecem o registro de traumas menos severos como acompanhamento em longo prazo poderá auxiliar na
afirma Cunha (2003). Já Kramer et al. (2003) apontam escolha de uma conduta apropriada (CUNHA, 2003). As
para o fato de que, a maioria dos estudos de associações de parâmetros clínicos, tais como o
traumatismos é realizada de maneira retrospectiva ou aparecimento de fístulas e das alterações radiográficas,
longitudinal, através do exame de prontuários, onde existe principalmente as rarefações periapicais, tem sido
o risco da falta de informações mais exatas. utilizadas para o diagnóstico mais preciso dos casos
Em relação às seqüelas na dentição decídua com degeneração pulpar (BORUM; ANDREASEN, 1998;
provenientes de traumatismos, vários estudos ressaltam PUGLIESI et al., 2004).
a descoloração coronária como a mais prevalente, sendo Embora o prognóstico da obliteração do canal
que, alguns deles sugerem uma relação da descoloração pulpar em decorrência de traumatismos seja satisfatório
para o amarelo à obliteração do canal pulpar e as (BENNET, 1964; JACOBSEN; SANGNES, 1978), a
tonalidades cinza e negra ao desenvolvimento da necrose necrose pulpar secundária a esta alteração pode ocorrer
pulpar (HOLAN; FUKS, 1996; JACOBSEN; SANGNES, com freqüências de 10 a 13%, como retrata o estudo de
1978). Schröder et al. (1977). Este fato também salienta a
Entretanto, estudos que objetivaram comparar importância do acompanhamento das injúrias
essas características clínicas com os achados traumáticas, já que, como afirmam Cardoso e Rocha
histológicos, não encontraram uma exata correlação que (2004), o diagnóstico da obliteração pulpar pode ser
indicasse que, a cor da coroa para o cinza ou preto, observado em períodos superiores a 1 ano após o
estaria relacionada à necrose pulpar e, da mesma trauma.
maneira, a cor amarela da coroa com a calcificação da
polpa (CROLL; PASCON; LANGELAND, 1987; SOXMAN;
NAZIF; BOUQUOT, 1984). CONCLUSÔES
No estudo de Croll, Pascon e Langeland (1987),
em 51 dentes examinados com alteração clínica da cor Diante da análise dos estudos referenciados
coronária para o cinza ou preto, 18 apresentavam neste artigo, é lícito considerar que:
condições histológicas de calcificação pulpar, enquanto 1) Os traumatismos na dentição decídua são freqüentes,
que, dos 59 dentes examinados que possuíam coloração principalmente em crianças de pouca idade com maior
coronária para o amarelo, 17 apresentavam necrose prevalência nas do gênero masculino, sendo os incisivos
pulpar na análise histológica. De modo similar, estudos superiores os dentes mais acometidos. Os tipos de
traumatismos mais prevalentes variam entre as CUNHA, R. F.; PUGLIESI, D. M. C.; VIEIRA, A. E. M. Oral
pesquisas, em função de alguns critérios na amostragem, trauma in Brazilian patients aged 0-3 years. Dental Tramatol,
Copenhagen, v. 17, n. 5, p. 210-212, Oct. 2001.
como a localização do estudo e da metodologia
empregada; CUNHA, R. F. Avaliação do tratamento em dentes
decíduos traumatizados e do tempo de procura pelo
2) As seqüelas mais encontradas foram a descoloração atendimento na Bebê-Clínica da Faculdade de Odontologia
coronária, necrose pulpar, obliteração do canal pulpar e de Araçatuba, UNESP. 2003. 171 f. Tese (Livre Docência) -
reabsorção radicular, podendo ocorrer de forma Faculdade de Odontologia, Universidade Estadual Paulista,
Araçatuba, 2003.
simultânea ou subseqüentes umas das outras. Pôde-se
também observar uma relação direta entre o grau de DIAB, M.; ELBADRAWY, H. E. Intrusion injuries of primary
incisors. Part I: review and management. Pediatr Dent,
severidade dos traumatismos e a ocorrência de seqüelas Chicago, v. 31, n. 5, p. 327-334, May, 2000a.
nos dentes decíduos afetados.
DIAB, M.; ELBADRAWY, H. E. Intrusion injuries of primary
incisors. Part II: Sequelae affecting the intruded primary
incisors. Pediatr Dent, Chicago, v. 31, n. 5, p. 335-341, May,
REFERÊNCIAS 2000b.
ANDREASEN, J. O. Etiology and pathogenesis of traumatic FERELLE, A. Estudo dos diferentes tipos de injúrias
dental injuries: A clinical study of 1298 cases. Scand J Dent traumáticas na dentadura decídua em crianças de 0 (zero)
Res, Copenhagen, v. 78, n. 4, p. 329-342, 1970. a 30 meses de idade, na cidade de Londrina, Paraná:
contribuição ao seu estudo. 1991. 80 f. Tese (Doutorado
ANDREASEN, J. O. Challenges in clinical dental em Odontopediatria) - Faculdade de Odontologia,
traumatology. Endod Dent Traumatol, Copenhagen, v. 1, n. Universidade de São Paulo, São Paulo, 1991.
2, p. 45-55, Apr. 1985.
FRIED, I.; ERICKSON, P. Anterior tooth trauma in the primary
ANDREASEN, F. M; ANDREASEN, J. O. Textbook and color dentition: incidence, classification, treatment methods and
atlas of traumatic injuries to the teeth. 3. ed. Munksgaard: sequelae: a review of literature. ASDC J Dent Child, Chicago,
Mosby, 1994. 770 p. v. 62, n. 4, p. 256-261, Jul./Aug. 1995.
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