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COMO ESTUDAR EM FILOSOFIA

Muito entusiasmado com a entrada no Secundário?

Da tua experiência como aluno, certamente já compreendeste que


a aprendizagem, para além de outros aspetos, implica organização e
disciplina. Verás certamente o teu esforço compensado se souberes o
que fazer e como fazer para que não te sintas em território movediço.

O trabalho que desenvolves na aula deverá ser complementado


com trabalho fora do contexto letivo para que possas rever, enrique-
cer e consolidar as tuas aprendizagens. Solicita ajuda ao teu professor
sempre que te sentires ‘mais perdido’, para que o teu trabalho (dentro
e fora da aula) possa ser eficaz para o desenvolvimento das tuas ca-
pacidades e competências.

É importante que interiorizes que, tal como um atleta de alta com-


petição tem sucesso depois de milhares de horas de treino, também
o aluno deve treinar (estudar) para conseguir um bom desempenho.

Estudar obrigar-te-á a gerir o teu tempo (de acordo com o teu ho-
rário escolar) e a estabelecer prioridades face a prazos definidos, a dú-
vidas/dificuldades detetadas e a outros compromissos que certamente
terás. Mas não esqueças: o estudo é a tua ‘atividade profissional’ e
é a ela que deverás dedicar mais atenção.

As indicações que se seguem pretendem ajudar a tornar o teu


trabalho mais eficaz e a dar-te a confiança e a segurança necessárias
para que o possas desenvolver de forma sólida nesta nova disciplina.
Assim, ser-te-ão dadas indicações que são comuns a muitas discipli-
nas e outras que têm a ver mais especificamente com a forma como
deves estudar na disciplina de Filosofia.
COMO ESTUDAR EM FILOSOFIA

1. Registos da aula: procedimentos a adotar 3

2. Competências do trabalho filosófico 4


2.1. Problematizar, conceptualizar e argumentar 4
2.1.1. Problemas 4
2.1.2. Teorias e conceitos filosóficos 5
2.1.2.1. Definir conceitos 5
2.1.3. Argumentos 7
2.2. Trabalhar com textos em Filosofia 8
2.2.1. Sublinhados e anotações 8
2.2.2. Análise metódica dos textos 9

3. Análise de documentos visuais 10


3.1. Imagens fixas 10
3.1.1. Identificação dos elementos-chave 10
3.2. Imagens com movimento 10
3.2.1. Anotações técnicas: o rol das imagens/cenas 10
3.2.2. Anotações semânticas: o significado das imagens/cenas 10

4. Pesquisa, seleção e tratamento da informação 11


4.1. Indicações bibliográficas 11
4.2. Citações 11

5. Apropriação dos conteúdos 12


5.1. Resumir e sintetizar 12
5.1.1. Resumo 12
5.1.2. Síntese 12
5.2. Esquematizar e construir redes conceptuais 13
5.3. Trabalhar com quadros e tabelas comparativas 14

6. Preparação e apresentação de uma exposição oral 15


1. REGISTOS DE AULA: PROCEDIMENTOS A ADOTAR

1. Registos da aula: procedimentos a adotar


Os registos escritos que recolheres na tua aula de Filosofia deverão permitir-te recuperar de
forma organizada e significativa os assuntos explorados na aula. Um bom registo da aula tornar-
-se-á um poderoso aliado. Toma, por isso, atenção às indicações que te vão ser dadas em seguida.

Distribuição espacial atraente e equilibrada no mesmo suporte físico

Deves efetuar os teus registos com letra percetível e sempre no caderno diário da disciplina: regista
a data, o sumário e o título do assunto a que os registos dizem respeito; mais tarde, poderás registar,
também, as páginas do manual e/ou documento(s) de apoio relativos aos assuntos em análise.

Dicas práticas…

• Elabora um índice do teu caderno diário para mais facilmente localizares os assuntos; deixa um
conjunto de páginas para este efeito e não te esqueças de numerar as páginas.

• Divide cada página em duas áreas, na vertical: do lado esquerdo, regista a data e o sumário da
aula, os dados complementares (por exemplo, as páginas do manual), relações/confrontos estabe-
lecidos (com outros conceitos, autores, posições…), sugestões ou dúvidas/pontos menos claros que
desejes esclarecer; do lado direito, realiza os teus registos da aula (apontamentos, esquemas ou
outras notas feitos pelo professor no quadro, ideias que consideres importante reter…).

• Utiliza cores diferentes para destacares informações (por exemplo, podes decidir que utilizarás o
vermelho para identificares os conceitos principais da disciplina – assim, sempre que nos teus re-
gistos localizares essa cor, sabes que estás em presença de um conceito que importa reter).

Utilização de uma linguagem clara e significativa para ti


Deves usar uma linguagem que de facto compreendas, pois de nada servirá registares apontamentos
utilizando palavras que desconheces. Caso tenhas dúvidas acerca de algum conceito, de uma relação
estabelecida ou de um comentário do professor ou colega, solicita que sejam esclarecidos no momento.

Dicas práticas…

• Define e usa um conjunto de abreviaturas com significado para ti: os registos são teus e por isso
mesmo podes personalizá-los.

Anotações da informação essencial e respetivas relações


Deves apenas registar a informação fundamental. Deves usar a tua capacidade de seleção da in-
formação, separando o essencial do acessório.

Dicas práticas…

• Seleciona ou inventa um conjunto de sinais/símbolos que te permitam um registo mais rápido,


correto e significativo da informação (por exemplo, uma seta sempre que fizeres um novo registo).

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2. COMPETÊNCIAS DO TRABALHO FILOSÓFICO

2. Competências do trabalho filosófico


Ao aluno de Filosofia, de acordo com a atitude filosófica que deverá desenvolver na aula, pede-se
que seja um aprendiz ativo. Quer isto dizer que terás de aplicar os elementos fundamentais do método
de trabalho do filósofo. Assim, há toda uma série de competências próprias da disciplina de Filosofia
que vais ter de dominar para conseguires realizar com sucesso as tarefas propostas.

2.1. Problematizar, conceptualizar e argumentar

2.1.1. Problemas

Saber com exatidão qual é o problema filosófico em discussão é um passo fundamental para
compreenderes os conceitos e as teorias filosóficas que vão ser explorados na aula.

Terás ainda de ter em consideração que identificar, formular ou explicar porque estamos
perante um problema filosófico exigem diferentes capacidades:

- quando se pede para identificar um problema que um filósofo está a discutir, tem-se apenas
de dizer qual é, por exemplo, que estamos perante o problema do livre-arbítrio;

- se te for pedido para formular um problema filosófico, terás de dar uma resposta mais com-
plexa e que esteja de acordo com a forma como a questão está a ser abordada. Por exemplo,
não é indiferente formular o problema do livre-arbítrio das seguintes formas: “Pode a liberdade
ser compatível com o determinismo?” ou “É o ser humano dotado de uma vontade livre?”;

- explicar o problema implica que justifiques porque estamos perante um problema


filosófico, o que pode exigir a clarificação dos conceitos que estão presentes na formulação
do problema. Clarificar porque o livre-arbítrio é um problema filosófico significa, entre outros
aspetos, partir de uma noção de livre-arbítrio e enunciar as diferentes posições possíveis de res-
posta ao problema. Se houvesse uma única resposta, não estaríamos perante um problema filo-
sófico. No exemplo que estamos a seguir, poderias responder que o livre-arbítrio exige uma
reflexão filosófica porque está em questão saber se o ser humano pode agir de acordo com uma
vontade livre ou se a sua ação é determinada por fatores que escapam completamente ao seu
controlo, de tal forma que a ideia de vontade livre é apenas uma ilusão.

Dicas práticas…

• Na margem esquerda que deixaste no teu caderno diário de Filosofia, regista o problema filosófico
que está a ser estudado.

• Quando estiveres a estudar, a propósito de um problema filosófico faz um exercício escrito no qual
primeiro identifiques, depois formules e, por fim, expliques o problema filosófico em causa. Nota
bem que explicar o problema não é encontrar uma resposta, mas clarificar porque estamos perante
um problema filosófico.

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2. COMPETÊNCIAS DO TRABALHO FILOSÓFICO

2.1.2. Teorias e conceitos filosóficos

Para responder aos problemas que colocam, os filósofos elaboram teorias, constroem e discutem
conceitos. Elaborar teorias filosóficas consiste em articular de modo organizado e racional um
conjunto de ideias que têm por objetivo responder aos problemas colocados.
No centro dessas teorias, encontram-se os conceitos filosóficos: noções ou ideias gerais que tra-
duzem, mental e filosoficamente, um determinado aspeto da realidade. Por exemplo, de uma forma
muito simples, podemos dizer que o conceito de livre-arbítrio traduz a ideia de que a vontade não é
determinada por nenhuma lei que a constranja, podendo, por isso, agir por sua iniciativa.
Conceptualizar é uma operação intelectual que possibilita identificar e definir conceitos,
pensá-los e aprender a usá-los de forma rigorosa. Uma palavra pode ter sentidos diferentes em filo-
sofia ou em teorias filosóficas diferentes.
Portanto, uma parte significativa do trabalho que vais desenvolver na aula de Filosofia consiste
em determinar o sentido exato que a palavra tem no âmbito de um determinado problema filosófico,
numa teoria, para um filósofo e assim por diante. No Manual, os conceitos principais de cada tema
estão identificados no início de cada secção. As perguntas de verificação e de revisão incidem, mui-
tas vezes, sobre estes conceitos, os quais deves dominar.

Dicas práticas…

• Por cada tema estudado faz uma lista dos conceitos essenciais e verifica se os consegues definir
por palavras tuas. Confronta o teu trabalho com as definições trabalhadas na aula ou nas sínteses
do Manual.

2.1.2.1. Definir conceitos

Uma definição é uma operação que consiste em determinar o limite de um conceito, o seu âmbito,
ou seja, é uma forma de dizer qual o seu significado.
Uma definição deve, por isso, ser simples, clara, breve e contemplar todas as características que
convenham àquilo, e só àquilo, que se quer definir.

- Exemplo de más definições: um casaco é uma peça de vestuário; um casaco é uma peça em lã.

- Exemplo de uma definição aceitável: um casaco é uma peça de vestuário para o tronco e braços
que pode ser feita em diferentes materiais, aberta à frente e cujas partes podem ser unidas atra-
vés de várias possibilidades (botões, fechos, molas, laços…) ou até permanecerem por unir.

O primeiro exemplo representa uma má definição, porque apenas refere uma característica do
conceito “casaco” que é partilhada com outras peças de vestuário. Definir casaco como uma peça de
vestuário de lã também não é correto, pois, por um lado, o casaco pode ser feito em outros materiais
e, por outro lado, outras peças de vestir que não casacos podem ser feitas em lã! Por isso, para definir
um conceito não basta identificar o género próximo, isto é, as características do conceito que per-
mitem inclui-lo numa classe mais vasta. É também necessário identificar as características espe-
cíficas que o diferenciam de outros conceitos.

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2. COMPETÊNCIAS DO TRABALHO FILOSÓFICO

Existem diferentes formas de efetuar a definição de conceitos. Vamos aqui explorar algumas que
te podem ajudar, quer a definir conceitos quer a reconhecer a definição de conceitos feita pelos filó-
sofos, quando lhes dão um significado específico na teoria que estão a construir.

- A definição etimológica consiste em delimitar o sentido do conceito por recurso à análise do


seu étimo, isto é, das palavras que lhe estão na origem. As palavras podem ter origem em línguas
estrangeiras, antigas ou mortas e resultarem da junção de palavras ou partículas dessas línguas.
Por exemplo, algumas das disciplinas do teu currículo ao longo do ensino secundário terminam
em logia (Antropologia, Biologia, Geologia, Psicologia...), palavra que tem origem na palavra grega
logos, que pode ser entendida como “razão”. Assim, cada uma destas disciplinas dirá respeito a
um estudo racional acerca de uma dada área. Este tipo de definição pode, então, constituir o teu
primeiro exercício de conceptualização, pois, ao teres conhecimento da origem etimológica de
um dado conceito, mais fácil será compreenderes o seu sentido e, assim, conseguires aplicá-lo
corretamente.

- A definição implícita consiste em definir o sentido de um conceito a partir da referência a alguns


objetos. Se quiseres definir verde, e porque referir que se trata de uma cor é insuficiente, podes
mencionar a relva, uma ervilha ou o lado esquerdo da bandeira nacional como exemplos de
objetos que têm a propriedade de ser verdes.

- A definição explícita enumera as propriedades fundamentais daquilo que se quer definir, usando-
-se muitas vezes a fórmula: “isto é aquilo”. Por exemplo, água é uma substância líquida, incolor
e inodora. Este tipo de definição aproxima-se muitas vezes das que encontramos nos dicioná-
rios.

Dicas práticas…

• Dicionários e enciclopédias devem ser utilizados com frequência; são também instrumentos de tra-
balho. Para conheceres com rigor o sentido filosófico dos conceitos deves usar enciclopédias e
dicionários de Filosofia. Na biblioteca da tua escola devem existir alguns. Também o teu Manual
tem um glossário que deves usar.

• Estão acessíveis na Internet boas enciclopédias de Filosofia onde podes encontrar informação com
maior ou menor grau de profundidade. Duas delas são a Internet Encyclopedia of Philosophy
(http://www.iep.utm.edu) e a Stanford Encyclopedia of Philosophy (http://plato.stanford.edu/).

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2. COMPETÊNCIAS DO TRABALHO FILOSÓFICO

2.1.3. Argumentos

Conforme foi referido, os filósofos procuram respostas para os problemas filosóficos elabo-
rando e discutindo teorias. Ainda que resulte da capacidade pessoal de pensar um determinado pro-
blema, porque se trata de uma reflexão racional o filósofo aspira a uma perspetiva universal. Quer
isto dizer que a sua teoria não pretende ser apenas o seu ponto de vista, a sua verdade, mas aspira
a ser aceite como a melhor resposta ao problema colocado. Não trabalhando com a recolha e a in-
terpretação de dados empíricos, o filósofo utiliza apenas argumentos, justificações racionais, cuja
verdade tem de provar racionalmente.

Imaginemos, por exemplo, que um filósofo defende que o homem não é dotado de uma vontade
livre e que tudo o que faz está determinado por fatores que não controla. Para que esta teoria possa
ser aceite, o filósofo tem de apresentar as razões, os argumentos com que sustenta a sua posição.
Os argumentos são constituídos por frases declarativas (por exemplo, “a liberdade é uma ilusão re-
sultante do desconhecimento dos fatores externos aos seres humanos que os levam a agir”), cha-
madas proposições (definição no Glossário do teu manual), que se podem avaliar como verdadeiras
ou falsas e que sustentam uma conclusão.

Porém, para defender a sua teoria, é necessário analisar criticamente as teorias já estabele-
cidas, contrariar teorias e argumentos de filósofos com posições diferentes, trabalho que se designa
de refutação, contra-argumentação ou apresentação de objeções.

Assim, quando estiveres a estudar filosofia deverás ter presente: Qual a teoria que o filósofo está
a defender? Com que argumentos a sustenta? Há exemplos que se possam utilizar para refutar os
argumentos? Para o problema em análise é possível apresentar outra teoria? Será que o filósofo con-
seguiu combater os argumentos dos que defendem uma posição diferente? Terás, portanto, de de-
senvolver uma atitude filosófica, não só assimilando as teorias e os argumentos do filósofo, mas
confrontando essa teoria com outras e efetuando uma análise crítica da mesma.

Dicas práticas…

• Quando estiveres a estudar procura verificar a correspondência entre as teorias e os problemas


filosóficos de partida.

• Efetua um levantamento sistemático e organizado de todos os argumentos.

• Procura efetuar correspondências entre argumentos e contra-argumentos, verificando até que ponto
estes últimos efetivamente refutam os primeiros.

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2. COMPETÊNCIAS DO TRABALHO FILOSÓFICO

2.2. Trabalhar com textos em Filosofia


Como verás, muito do trabalho que se vai desenrolar ao longo do ano letivo será feito a partir da
análise de textos filosóficos. Uma característica destes textos é serem textos argumentativos.
Argumentar é defender uma posição com boas razões, como estudarás na aula de Filosofia. O estudo
do texto do filósofo na aula de Filosofia é importante não apenas porque essa é uma das formas de
aceder ao pensamento do mesmo, mas porque é um meio de discutires intelectualmente com um
pensador que está a analisar questões que tu próprio já te terás colocado, por exemplo (“por que
razão devemos fazer o que está certo?”).
Começarão por te ser recordadas algumas estratégias que facilitam a interpretação dos textos e que
têm por objetivo relembrar-te a absoluta necessidade de efetuares uma leitura ativa e crítica do texto.

2.2.1. Sublinhados e anotações

A eficácia destas técnicas supõe que respeites uma regra fundamental: um bom sublinhado nunca
deve ser efetuado na primeira leitura e nunca pode ser um sublinhado integral. Desta forma estarias
a desperdiçar a grande valia do sublinhado, isto é, o destaque da informação fundamental. Assim
sendo, deverás:

- sublinhar apenas a informação essencial: frases curtas e/ou palavras-chave;

- sublinhar preferencialmente frases positivas; caso sublinhes uma frase negativa, destaca o
NÃO através dum duplo sublinhado ou de um círculo.

Um bom sublinhado é aquele cuja leitura te permite encontrar o sentido do texto sem que o tenhas
de reler em toda a sua extensão. Um sublinhado bem feito permitir-te-á rentabilizar o tempo aquando
da preparação das avaliações.

Dicas práticas…

• Associa cores diferentes a destaques diferentes, ou seja, escolhe uma cor para os exemplos, outra
para as ideias principais e outra para as ideias secundárias.

As anotações na margem, sobretudo se articuladas com os sublinhados, são também boas aliadas
do teu trabalho. Nas margens deverás:

- utilizar números ou letras, na margem do texto, que te permitam visualizar uma sequência de
ideias, fatores, consequências, etc.;

- registar palavras que sintetizem os conteúdos;

- reescrever, usando as tuas próprias palavras, os conceitos expressos no texto sempre que for
difícil encontrares a palavra-síntese;

- efetuar comentários pessoais (neste caso deves registá-los entre parênteses retos).

Dicas práticas…

• Tem em atenção a eventual necessidade de o teu manual ser reutilizado antes de tomares a decisão
de nele fazeres sublinhados e anotações.

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2. COMPETÊNCIAS DO TRABALHO FILOSÓFICO

2.2.2. Análise metódica dos textos

A identificação das teses, dos argumentos e dos contra-argumentos presentes num texto, assim
como do problema ao qual se está a dar resposta, constituem um desafio nem sempre fácil de
superar. Um modo possível de resolver esta tarefa é interpelar o texto, isto é, formular um conjunto
de questões cujas respostas possibilitarão a sua compreensão.

Repara no modelo que se segue e que podes usar para abordar um texto filosófico.

Tema Teses Problema

Qual o tema do texto? Se o texto tem um O que é defendido no texto? A tese proposta Há um problema filosófico claramente for-
título, ele dá uma ideia geral do assunto é uma resposta a um problema filosófico? mulado no texto? Qual? Se não existe, qual
abordado? Se não tiver, que título melhor Há uma teoria da qual o autor se pretenda é o problema filosófico a que o texto está
traduz o tema em análise? afastar? Qual? a dar resposta? Quais as respostas possí-
veis para o problema em causa?

Argumentos Contextualização Exemplos e Imagens

Que argumentos usa o autor para funda- Quem é o autor do texto? Qual a corrente Existem exemplos ou imagens no texto?
mentar a sua posição? Levanta objeções? em que se insere? E a época? Qual o título Qual a sua função? De que forma os exem-
E responde-lhes ou não? O que pretende da obra? De que forma as respostas a estas plos usados pelo autor facilitam a com-
provar cada argumento usado? questões facilitam a compreensão do texto? preensão da sua teoria?

Construção Conceitos Fundamentais Interrogações / Posições do Leitor

Que argumentos usa o autor para funda- Quais são os conceitos que o autor utiliza O texto levanta-te alguma dúvida ou crítica?
mentar a sua posição? Levanta objeções? para desenvolver a sua teoria? De que forma Qual é a tua posição sobre o modo como o
E responde-lhes ou não? O que pretende discute e elabora o autor esses conceitos? autor procura resolver o problema filosófico
provar cada argumento usado? Em que medida a noção definida se diferen- em causa? Como justificas a tua posição?
cia de outras perspetivas? Qual é a tua avaliação crítica dos argumen-
tos apresentados pelo autor?

A partir do modelo de análise e discussão dos textos que te foi proposto, fica aqui um exemplo de
ficha de leitura que poderás adaptar e que serve de guião para o registo dos teus apontamentos
aquando do trabalho com o texto filosófico.

Autor e obra Conceitos fundamentais


Tema Argumentos apresentados
Identificação e formulação do problema Refutação / discussão de teorias diferentes
Teoria / posição defendida Apreciação crítica da posição do autor

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3. ANÁLISE DE DOCUMENTOS VISUAIS

3. Análise de documentos visuais


A “leitura” de imagens é um bom exercício para desenvolveres a capacidade de selecionar in-
formação vital. Deves ser capaz de identificar os elementos mais importantes naquilo que
observas. Só assim será possível, num segundo momento, organizares o que viste num conjunto
significativo. Conseguirás desta forma estabelecer relações entre esse conjunto e os conceitos e
assuntos que entretanto foste explorando na tua aula de Filosofia.

3.1. Imagens fixas

Nos nossos dias, a linguagem icónica assume uma importância crescente e é usada com muita
frequência. Assim, poder-te-á ser útil saber como proceder na observação do objeto: uma fotografia,
a reprodução de uma obra de arte, uma tira de BD ou um cartoon.

3.1.1. Identificação dos elementos-chave

Tal como num texto escrito, deves identificar os traços principais da imagem: a situação dominante
e os elementos complementares. Traduz os elementos dominantes por palavras-chave ou expressões.

3.2. Imagens com movimento

Tanto na aula como fora dela, é muito provável que possam ser utilizados, de modo útil, docu-
mentos em vídeo com mais ou menos duração: pode ser um excerto de um documentário ou de um
filme, de um programa de televisão, de um vídeo do Youtube…
A natureza destas imagens – dotadas de movimento – vai exigir-te maior atenção e concentração
e registos mais rápidos. O uso de abreviaturas é fundamental. Não te esqueças que se trata de um
documento para análise e, eventualmente, discussão. Logo, deves abordá-lo de um modo ativo.
Para efetuares as anotações técnicas e semânticas, sugerimos-te que utilizes uma variação da
segunda dica da página 3, a propósito dos registos escritos na aula: divide a página em 3 colunas
(4 cm + 6 cm + 4 cm).

3.2.1. Anotações técnicas: o rol das imagens/cenas

Na primeira coluna (mais à esquerda) da página deves anotar os dados relativos às imagens/cenas,
a saber, quem aparece e qual a situação.
Esta coluna deverá permitir-te “ver” a sequência do documento mesmo que ele não esteja à tua
frente. Posteriormente, poderás também ali registar a ficha técnica do documento (título, atores,
realizador, assunto, contexto, duração…).

3.2.2. Anotações semânticas: o significado das imagens/cenas


Na segunda coluna (central) deves registar os comentários do professor e as tuas impressões.
Na terceira coluna (mais à direita) podes, posteriormente, anotar os conceitos associados e as in-
formações resultantes de um segundo visionamento ou da consulta de informações complementares.

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4. PESQUISA, SELEÇÃO E TRATAMENTO DA INFORMAÇÃO

4. Pesquisa, seleção e tratamento da informação


Com frequência, será solicitada pesquisa de informações que te permitam alargar a tua com-
preensão de temas/problemas explorados nas aulas, assim como eliminar/minimizar dúvidas.
Poderás ainda efetuar trabalhos que exigem que procures, seleciones e relaciones informação.
Uma fonte diz respeito à origem da informação que vais utilizar, independentemente da sua natureza
e do seu suporte: mais clássica – enciclopédias, manuais, revistas ou jornais em suporte de papel – ou
mais atual – audiovisuais ou digitais (filmes e DVD) e a Internet.

O que se pretende é que:

- investigues e trates informação, respeitando o seu autor e conteúdos originais;

- assinales as citações de forma correta e indiques devidamente as fontes.

4.1. Indicações bibliográficas

O conjunto de dados identificativos de uma dada fonte designa-se por referência bibliográfica.
O conjunto das referências bibliográficas, alfabeticamente organizado e que contém elementos des-
critivos de documentos que permitem identificá-los, chama-se bibliografia (pode conter referências
bibliográficas de documentos digitais recolhidos na Internet).
Existem regras, nacionais e internacionais, para efetuar as indicações bibliográficas. As regras
estabelecem os elementos a referir, a ordem a que devem obedecer e a pontuação a utilizar. Aprender
a utilizar estas regras não é difícil: basta atenção e treino.
Neste Manual foi usada a Norma APA, uma das normas mais usadas internacionalmente e que
foi definida pela American Psychological Association. Também em Portugal foram definidas normas,
tal como a Norma Portuguesa 405.
Deixamos-te aqui apenas dois exemplos de referências bibliográficas:

> Exemplo de uma referência bibliográfica elaborada segundo a Norma APA:


Rachels, James (2004). Elementos de filosofia moral. Lisboa: Gradiva, 2004, pp. 183-184.

> Exemplo de uma referência bibliográfica elaborada segundo a Norma Portuguesa 405:
RACHELS, James – Elementos de filosofia moral. Lisboa: Gradiva, 2004. ISBN 9726629519, pp. 183-184.

O importante é que verifiques se na Biblioteca da tua escola existe um documento onde se ensina
a aplicar uma norma de referência bibliográfica. Adota essa norma aconselhada e aplica-a com rigor
a todas as fontes de informação, independentemente do suporte.

4.2. Citações

Uma citação é um excerto de uma referência bibliográfica que se insere no corpo do texto/trabalho.

A menção à sua fonte deverá ser feita logo de seguida, entre parênteses, indicando-se o autor e
a data separados por uma vírgula; também pode ser feita em nota de rodapé (no final da página em
que é citada); ou como nota final (no fim de um capítulo ou no fim do texto/trabalho).

Para referenciar as citações deves seguir as indicações anteriores.

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5. APROPRIAÇÃO DOS CONTEÚDOS

5. Apropriação dos conteúdos


É fundamental que fora do contexto da sala de aula vás desenvolvendo um trabalho sistemático
de releitura, leituras de complemento e de reorganização das informações que te vão disponibilizando
e que vais pesquisando. O objetivo é comum: contribuir para que as informações a que vais tendo
acesso, com origens diversas, possam ir sendo integradas nos teus conhecimentos prévios, compreen-
didas e tornadas, de facto, tuas!

5.1. Resumir e sintetizar

Qualquer um destes exercícios deve respeitar uma regra básica: nenhum resumo ou síntese
podem ser maiores que o texto original.

As diferenças fundamentais entre ambos são:

- o resumo, habitualmente, segue de forma descritiva o texto original, a síntese pode ser mais livre,
pois pretende captar as ideias essenciais não necessariamente na mesma ordem;

- o resumo pode ser mais reprodutor do texto original, a síntese apela a maior criatividade, uma
vez que podes organizá-la à tua maneira e usar as tuas próprias palavras, nomeadamente as
que resultam de uma apreciação crítica do pensamento das teorias que estás a estudar.

5.1.1. Resumo

Antes de o escreveres:

- revê os teus sublinhados e anotações;

- efetua minirresumos (por exemplo, um por cada parágrafo do texto);

- explica a ti próprio, em voz alta, o conteúdo do texto para tentares verificar se o que dizes e
as relações que estabeleces fazem sentido (se têm coerência).

Após esta preparação, podes começar a escrever o resumo tendo em conta o seguinte:

- respeitar o autor do texto, ou seja, não deves alterar o seu pensamento – é muito importante
manteres fidelidade ao texto original;

- produzir um texto claro, centrado nas ideias principais do texto original;

- evitar expressar opiniões e fazer comentários;

- verificar se não incluíste elementos que contradigam os elementos centrais do texto.

5.1.2. Síntese

Tal como os resumos, as sínteses deverão respeitar as ideias e a intenção do autor do texto original.
Mas, como anteriormente referido, é nelas que podes produzir um texto mais pessoal, o que te permitirá
ir definindo o teu próprio estilo de escrita e de abordagem. Antes de iniciares a sua escrita, revê os
teus sublinhados e anotações.
O resumo e a síntese serão vitais para efetuares uma revisão da matéria.

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5. APROPRIAÇÃO DOS CONTEÚDOS

5.2. Esquematizar e construir redes conceptuais

A elaboração de esquemas permitir-te-á representar a informação de uma forma muito econó-


mica, uma vez que se organizam a partir de palavras-chave. Permitem ainda a visualização global
das informações e a relacionação de conteúdos mais imediata.
Deverás construir esquemas sempre que pretendas rever conhecimentos ou planificar atividades, tais
como preparar uma ficha de avaliação, elaborar um plano de trabalho ou preparar uma exposição oral.
Antes de iniciares a construção de um esquema deverás ter em conta as sugestões feitas a pro-
pósito dos sublinhados.

Um esquema deverá:

- ter um título;

- conter as ideias centrais do tema em estudo;

- apresentar uma estrutura e uma hierarquia (o que depende e em que grau do quê);

- utilizar uma linguagem telegráfica;

- ser visualmente atrativo.

Eis um exemplo cujo tema é a caracterização de uma noção de filosofia.

Filosofia: uma caracterização inicial

FILOSOFIA

ATIVIDADE

INTELECTUAL RACIONAL NÃO EMPÍRICA PROBLEMATIZADORA CRÍTICA

A construção de redes conceptuais permite que a partir de um conceito central – o ponto de partida –
se estabeleçam relações e hierarquias com outros conceitos que de alguma forma lhe estejam
associados. O exemplo que se segue ilustra um dos tipos mais frequentes de redes – as redes ou
mapas em estrela: a partir de um conceito-chave, habitualmente colocado no centro da página,
vai-se registando, do centro para os lados, os conceitos intermédios e/ou os específicos.

Rede conceptual da ação

MOTIVO

DELIBERAÇÃO AGENTE VONTADE

DECISÃO RACIONAL INTENÇÃO

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5. APROPRIAÇÃO DOS CONTEÚDOS

5.3. Trabalhar com quadros e tabelas comparativas

Quadros e tabelas comparativas vão permitir que organizes a informação de forma clara e sinté-
tica, o que exige de ti capacidade de reflexão e de apropriação dos conteúdos.

No quadro abaixo tens um exemplo de como podes sintetizar os elementos caracterizadores de


um conceito a partir da oposição a outro conceito, identificando os elementos que aproximam e os
que afastam os dois conceitos.

Juízos de facto Juízos de valor

Podem verificar-se por confronto empírico com a


Não são verificáveis através da experiência empírica.
realidade.

São normativos: remetem para o que deve ser;


São descritivos: pretendem dizer o que as coisas
expressam fins, ideais, metas da ação humana,
são.
enunciam guias de ação.

Apenas têm um valor de verdade (ou são verdadeiros


Implicam sempre uma posição, formulada à luz de
ou falsos), na medida em que se adequam ou não à
valores.
realidade.

São neutros. Traduzem preferências.

Se forem simples, implicam habitualmente o acordo


Geram confronto e discussão.
entre os indivíduos.

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6. PREPARAÇÃO E APRESENTAÇÃO DE UMA EXPOSIÇÃO ORAL

6. Preparação e apresentação de uma exposição oral


As exposições orais são um dos instrumentos de avaliação que podem ser usados numa aula de
Filosofia, nomeadamente se vais apresentar um trabalho por ti elaborado no qual tenhas de apresentar
o resultado de um trabalho de investigação.

Antes de realizares esta tarefa, deverás:

- definir os objetivos da tua exposição;

- conhecer os teus destinatários: quem são e quais são os seus interesses;

- selecionar as estratégias e os recursos que vais utilizar para defenderes a tua tese e avaliares
a eficácia da tua exposição.

No decurso da tua exposição deverás:

- apresentar os aspetos que vais abordar e qual a ordem que vais seguir;

- utilizar uma boa comunicação não verbal: coloca-te de frente para o auditório, percorrendo-o
com o olhar, usa expressões faciais e/ou gestos para reforçares o teu discurso;

- usar um tom de voz expressivo, acentuando informações/posições vitais com o aumento do vo-
lume da voz, introduzindo pequenas pausas para dares tempo ao auditório para assimilar a in-
formação, enfim, imprimir alegria e dinamismo ao teu discurso;

- complementar a tua exposição com outros recursos, para além da tua voz, e que possam
ser pertinentes, tais como excertos vídeo, imagens apelativas, uma pequena apresentação em
PowerPoint visualmente eficaz;

- implicar os teus ouvintes na tua própria exposição: dirige-lhes perguntas mesmo que,
naturalmente, não estejas à espera das suas respostas. Trata-se, sobretudo, de uma forma de
os ir interpelando e prendendo a sua atenção;

- sintetizar, na parte final da tua exposição, os aspetos mais significativos;

- agradecer a atenção que te dispensaram.

Esperamos que a tua iniciação à Filosofia seja amplamente frutuosa!!

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BIBLIOGRAFIA

Bibliografia
- Carita, A., Silva, A. C., Monteiro, A., Diniz, T. P. (1997). Como ensinar a estudar. Lisboa: Editorial
Presença.

- Franklin, A. (1996). Estudar Filosofia. Porto: Porto Editora, pp. 11-59.

- Lourenço, J. V. (2004). Ferramentas do aprendiz de filósofo. Porto: Porto Editora.

- Murcho, D. (2002). A natureza da filosofia e o seu ensino. Lisboa: Plátano.

- Moreira, M. A., Buchweitz, B. (1993). Novas estratégias de ensino e aprendizagem. Lisboa: Plátano
Editora, pp. 13-58.

- Tavares, M., Ferro, M. (1999). Guia do estudante de Filosofia (4.ª ed.). Lisboa: Editorial Presença,
pp. 17-38.

- Tozzi, M. et al. (s/d). Étude philosophique d’une notion, d’un texte. Montpellier: CRDP, p. 62.

- Tozzi, M. (2007). “Enseigner la problématisation, ou plutôt apprendre à problématiser?”.


Diotime, 35. Obtido a 25 de junho de 2008 em http://www.educ-revues.fr/Diotime/affichagedo-
cument.aspx?iddoc=-32867&pos=42.

- Tozzi, M. (2008). “De la question des compétences en philosophie”. Diotime, 36. Obtido a 29 de
julho de 2009 em http://www.educ-revues.fr/Diotime/affichagedocument.aspx?iddoc=32889&-
pos=39#.

- Vicente, J. N. (1994). “Subsídios para uma didática da Filosofia. A propósito de algumas iniciativas
recentes para a constituição de uma didática específica da Filosofia.” In Revista filosófica de
Coimbra, 3, n.º 6, pp. 397-412.

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