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[ Paulo Duarte ]
Advogado e Professor de Direito. Pós-Graduado em Direito Penal
e Criminologia (Especialista). Componente da Ordem dos
Advogados do Brasil Seccional CEARÁ (Comissão de Defesa das
Prerrogativas dos Advogados).

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A Morte e efeitos jurídicos

O Dia da Morte; pintura de William-Adolphe Bouguereau (1825-1905)

INTRODUÇÃO

A questão da morte, quando analisada à luz da Ciência do Direito, traz uma série
de conseqüências plenamente claras e estabelecidas, bem como outras polêmicas
e polêmicas/omissas (caso, por exemplo, da denominada morte presumida, sem
declaraç ão de ausência e, posterior, volta/retorno do cônjuge).

O direito admite que a personalidade fictícia, artificial, presumida, exista ao lado


daquela denominada real, verdadeira, autêntica. Segundo a doutrina (uma das
fontes do Direito), os casos em que se verifica a personalidade fictícia são do
nascituro, do ausente e da pessoa cuja possibilidade de vir a existir é admitida
para a aquisição de direitos.Hoje, no entanto, por lembranç a de um ente querido,
que partiu bem nova para os braç os de Deus Pai, irei elaborar e tecer umas breves
linhas sobre o tema morte. Algumas breves considerações sobre a morte no mundo
jurídico, seja no c ampo do Direito Civil, bem como no campo do Direito Penal.

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CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Como o falecido esc ritor irlandês, Oscar Wilde, tão elegantemente esc reveu:
"(...) Morte é o fim da vida, e toda a gente teme isso, só a Morte é temida pela
Vida, e as duas refletem-se em cada uma (...)".

Assim é que para quem, nesse momento, lê esse texto pode achar estranho, mas
ao abordar os efeitos legais da morte, necessário se faz refletir sobre aqueles
relacionados ao inícioe da duração da vida. E tal afirmativa se torna mais evidente
ao entendermos que o evento, indesejável, da morte, põe fim àquilo que se iniciou
um dia, com a vida, e teve diversas e variadas reperc ussões que, no caso
presente, vamos tentar mostrar e explicar, em linguagem tanto quanto acessível,
refletem no mundo jurídico.

Sobre o tema dispõe o artigo 6º do Código Civil Brasileiro: “A existênc ia da


pessoa natural termina com a morte; presume-se esta, quanto aos ausentes, nos
casos em que a lei autoriza a abertura de sucessão definitiva.”. IMPORTANTE:
lembrem-se de que a duração da vida coincide com a da denominada
PERSONALIDADE JURÍDICA, que se constitui em um atributo da pessoa humana, e
a ela está indissoluvelmente ligada. Quando uma pessoa falece se extingue,
consequentemente, a sua personalidade jurídica.

Desse modo, ao declarar a morte de uma pessoa, o profissional c ompetente e


legalmente autorizado para isso, que é o médico, estará, mediante desta prática,
declarando, também, que houve a extinção da personalidade daquele indivíduo, já
que, conforme dito anteriormente, referida extinção é decorrência do evento
morte. Assim, ao médico c ompete atestar a ocorrência da morte, em documento
solene, o atestado de óbito, que tem como finalidades principais a confirmação
da oc orrência do evento, a definição da causa mortis e a satisfação do interesse
médic o-sanitário, embora tal testemunho possa ser feito por duas testemunhas
idôneas, que tenham presenciado ou verificado o falecimento. Como já citei, o
nome atribuído ao documento que contém a declaração médica é o atestado de
óbito, que se constitui em garantia à família e à sociedade de que não há
possibilidades de o indivíduo estar vivo, podendo, a partir desse ponto, ser levada
a efeito, legalmente, a inumação (sepultamento). Tal morte é constatada,
segundo a medicina, e nos termos da Lei n ° 9.434/973, com a morte enc efálica
constatada e registrada por dois médicos não participantes das equipes de
remoção e transplante. Assim, na Lei n° 9.434/97, há preocupação com a
necessidade de salvar vidas e recuperar sentidos em falta, pois que se formam
longas filas de candidatos nos hospitais especializados, c hegou a tornar
obrigatória a retirada, desde que não existisse proibição expressa da pessoa
quanto ao futuro de seu corpo. A matéria, todavia, não poderia ser decidida de
maneira tão simplista. Há que se respeitar a personalidade das pessoas. Cada um
tem direito a dispor sobre o destino de seu corpo. Por isso, a lei acima
mencionada, foi alterada pela Lei n° 10.211/2001, que determinou c aber aos
familiares tomar a decisão adequada.

Registre-se, ainda, em c aráter introdutório ao tema, que não se admite no sistema


jurídico brasileiro e na maioria das legislações modernas, a morte civil (ficta mors)
dos condenados a penas perpétuas ou de religiosos que realizavam votos solenes
de pobreza, obediência e castidade, pois se tratava de verdadeiro banimento do
mundo c ivil, repugnando o Estado Democrático de Direito.

O Código Civil Brasileiro exige prova da morte no artigo 9, a qual se verifica com a
apresentação da certidão de óbito. Art. 9º - Serão registrados em registro
públic o: I - os nascimentos, casamentos e óbitos; (...) A certidão de óbito é
documento público que evidencia a morte de alguém a partir de declaraç ão feita
por profissional da Medicina, atestando, à luz do cadáver, o momento, a causa e o
lugar do óbito, segundo dispõe a Lei 6.015/77: Art. 80. O assento de óbito deverá
conter: A. a hora, se possível, dia, mês e ano do falecimento; B. o lugar do
falecimento, com indicação prec isa; C. o prenome, nome, sexo, idade, cor, estado
civil, profissão, naturalidade, domicílio e residência do morto; D. se era casado, o
nome do cônjuge sobrevivente, mesmo quando desquitado, se viúvo, o do c ônjuge
pré- defunto; e o cartório de casamento em ambos os casos (...).

Quem alega incumbe provar o falecimento de alguém. Assim, quem requer a


abertura de um inventário causa mortis, deve fazer a prova da morte alegada.

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Pode oc orrer o sepultamento sem certidão, nas hipóteses tratadas pela Lei de
Registros Públicos, nos artigos 78, 83 e 84. Cumpre asseverar a possibilidade de
retific ação do assento de óbito, devendo- se para tanto, seguir o rito previsto no
artigo 109 e seguintes da Lei de Registros Públic os.

EFEITOS JURÍDICOS NO CAMPO DO DIREITO CIVIL.

É necessário e bastante que se examinem as circunstâncias práticas para se


constatar a importância do ato médico da emissão do atestado de óbito, já que a
declaraç ão da morte por meio de testemunhas é de ocorrênc ia mais rara, sendo o
expediente mais comum a emissão pelo profissional dos atestados. Uma vez
emitido o atestado de óbito, está estabelecido, formalmente, o fim da existência
humana, bem c omo da personalidade c ivil. A morte completa o ciclo vital da
pessoa humana. É o fim da existência. A personalidade é um atributo do ser
humano e o acompanha por toda a sua vida. Como a existência da pessoa natural
termina com a morte, somente com esta cessa a sua personalidade.

Os efeitos jurídic os da morte, na esfera civil, segundo o doutrinador Limongi


França (1996: 64), são: a dissoluç ão da c omunhão de bens entre cônjuges; da
sociedade conjugal, do pátrio poder (atualmente entendido como poder familiar);
extinção do dever de alimentos, do usufruto; dentre outros. Porém, o efeito civil
de grande repercussão, ou seja, a abertura da sucessão do falecido, além de
outros como o legado de usufruto, sem fixação de tempo, que perdura até a
morte do legatário; a morte do herdeiro livra os bens vinculados da cláusula de
inalienabilidade e semelhantes; a morte do fiduciário gera a consolidação do
fideicomisso.

Também merec e destaque o fato de que a morte, embora determine a extinção da


personalidade natural, não impede que determinados atos do falecido ultrapassem-
na, com efeitos legais previstos. É o que ocorre, por exemplo, nos c asos em que o
morto se faz presente no mundo dos vivos mediante a permanência da sua
vontade expressada por meio de testamento. Ainda mais, tem o morto direito à
revisão criminal, com o fito de absolvição, e, também, pode ser declarada a sua
falência. Não obstante os direitos do morto ac ima apontados, o fato é que com o
evento morte, não oc orre apenas a cessaç ão das atividades dos órgãos internos e
externos do corpo humano, mas termina também a existência da personalidade
jurídica, não mais podendo o defunto considerar-se sujeito de direitos e
obrigações.

A legislação em vigor protege o corpo ou seus restos mortais, a memória do


falecido, a sua imagem, os bens deixados, mas não remanesce a sua
personalidade. É o que se extrai do parágrafo único do artigo 12 do Código Civil,
assegurando o direito de indenização em favor do cônjuge sobrevivente e de
certos parentes, se verificada a lesão ao nome do morto. As obrigações, porém,
criam-se até o momento do óbito. As dívidas que posteriormente vierem a ser
criadas por causa da pessoa do morto são assumidas pela herança, ou por aquele
que as firmou.

Com a morte não mais persistem valores patrimoniais, culturais, morais de


propriedade do morto. Tudo se transmite aos herdeiros, que ocupam a posição de
sujeitos ativos, e que podem exercitar ações ligadas à pessoa do morto desde que
neles repercutam moral ou economicamente. De acordo c om o acima descrito, o
término da pessoa natural e conseqüente fim de sua personalidade jurídica ocorre
com a morte, tratando primeiramente o Código Civil Brasileiro da morte natural,
verificada à luz do cadáver humano.A extinção da personalidade jurídica é o
principal efeito da morte, sem embargo de outros.

Como nos ensina a Professora Maria Helena Diniz, a morte física ao cessar a
personalidade jurídica da pessoa natural, faz com que esta deixe de ser sujeito de
direitos e obrigações, acarretando: A. Dissolução do vínculo conjugal e do regime
matrimonial; B. Extinção do poder familiar, dos contratos personalíssimos, como
prestação de serviço e mandato; C. Cessação da obrigação de alimentos c om o
falecimento do credor, do pacto de preempção; da obrigação oriunda de
ingratidão de donatário; D. Extinção de usufruto, da doação em forma de
subvenção periódica; do encargo da testamentária.

Já o professor Arnaldo Rizzardo, por sua vez, nos ensina que:Extinguindo-se a

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personalidade natural, dissolve-se a sociedade c onjugal (art. 1.571, inc. I, do
Código Civil e art. 2º, inc. I, da Lei 6.515/1977). De ac ordo, ainda, com o Código
Civil, entre outros efeitos, extingue-se o poder familiar (art. 1.635, inc. I);
cessamos contratos personalíssimos ou intuitu personae, sendo exemplo o de
locação de serviços (art. 607), de mandato (art. 682, inc. II), de sociedade em
relação a um sócio (art. 1.028), de gestão de negócio (art. 865), de fiança no
pertinente à responsabilidade do fiador (art. 836); terminam as obrigações de
prestar alimentos uma vez esgotado o patrimônio do alimentante falecido (art.
1.700), de fazer quando exigido o cumprimento pessoal (art.248); não mais
prevalec e o pac to de preempção (art. 520); extingue- se o direito para propor a
ação assegurada ao doador por ingratidão do donatário (art. 560), o usufruto (art.
1.410, inc. I), a doação na modalidade de subvenção periódica (art. 545), o
encargo testamentário (art. 1.985), os filhos menores são colocados sob tutela
com o falecimento dos pais (art. 1728, inc. I); caduca o fideicomisso se o
fideicomissário morrer antes do fiduciário, ou antes de realizar-se a condiç ão
resolutória (art. 1.958); morrendo o locador ou o locatário, transfere-se aos seus
herdeiros a locação por tempo determinado (art. 577); nos casos de morte,
ausênc ia ou interdição do tutor, as contas serão prestadas por seus herdeiros ou
representantes ( art. 1.759); cabe a indenização no caso de morte de paciente
causada no exercício de atividade profissional, em que se apura a existênc ia de
negligência, imprudência ou imperíc ia (art. 951).

EFEITOS JURÍDICOS NO CAMPO DO DIREITO PENAL

Na seara penal, é sabido que a há a chamada extinção da punibilidade do


criminoso com a morte deste, bem como a suspensão da instância dos efeitos
proc essuais. Neste campo do Direito vale o brocardo latino: “Mors omnia solvit” -
a morte resolve tudo.Para os efeitos penais não se admite a presunção de morte
assim como ocorre com os ausentes, nos casos expressamente previstos (art. 10,
CC).

Dita o art. 62, CPP que "no caso de morte do acusado, o juiz, somente à vista da
certidão de óbito, e depois de ouvir o Ministério Público, julgará extinta a
punibilidade".A responsabilidade penal é de natureza exclusivamente pessoal e o
desaparecimento físico do autor do fato faz também desaparecer a punibilidade,
que não pode ser estendida aos seus familiares ou dependentes, em face
do princípio da personalidade da pena, assegurado pela Constituição
Federal (art. 5º, inc. XLV).

Sendo personalíssima a responsabilidade penal, a morte do agente faz com que o


Estado perc a o jus puniendi, não se transmitindo aos seus herdeiros qualquer
obrigação de natureza penal.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Chegado ao fim do processo biológico vital, segundo os critérios profissionais


médic os, surgem, no campo do Direito, os efeitos anteriormente
enumerados.Reveste- se de importância, pois, o realce das decorrências jurídicas
da morte, desde a inserção do médico no início de todo este processo, passando
pelos desdobramentos que a muitos afetam e envolvem, sejam na seara judicial
(parentes, advogados, juízes, fóruns, promotores de justiça) ou extra-judicial
(cartórios, estabelecimentos comerciais, etc...), até o fim de todas as replicações
e decorrências no mundo dos vivos.

Espera-se que ao final do artigo, possa o leitor saber diferenciar os diversos


efeitos ou conseqüências da morte no Direito, seja no campo c ivil, seja no penal.

Sendo a morte tão dolorosa experiência para a maioria das pessoas,


independentemente de suas convicções religiosas, e, ao mesmo, o destino
inexorável de todos nós, espera-se, principalmente, que o ser humano seja sempre
respeitado. A começar de sua concepção, durante a passagem em vida, e mesmo
após a sua morte (seu corpo, posses, imagens) que seja observado o princípio
cardeal e fundamento da República Federativa do Brasil – o Princípio da Dignidade
da Pessoa Humana.

Em arremate final, é meu entendimento pessoal que há uma principal e eficaz


maneira de se fazer frente ao mistério da morte. É por meio de outro grande
mistério, mas muito mais belo: o mistério do AMOR. Amor a Deus. Amor à vida.
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29/08/2010 mistério, Amas
Morte e efeitos
muito maisjurídicos
belo: o:: mistério
GOSTO DEdo
L… AMOR. Amor a Deus. Amor à vida.
Amor aos seus semelhantes. Amor ao Planeta Terra. Amor aos entes queridos.

É como asseverou o já citado escritor e romancista Oscar Wilde: “O mistério do


amor é mais profundo que o mistério da morte”.

REFERÊNCIAS

DINIZ, Maria Helena. Código civil anotado. 11 ed. São Paulo: Saraiva, 2005.

LIMONGI França R. Instituições de direito civil. 4 ed. atualizada.

RIZZARDO, Arnaldo. Direito civil: parte geral. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense,
2003.

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