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Análise de segunda ordem global de estruturas


de concreto armado utilizando programas
computacionais de dimensionamento

Conference Paper · October 2012

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3 authors, including:

Elisabeth Junges
Universidade Federal do Espírito Santo
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Análise de segunda ordem global de estruturas de concreto armado
utilizando programas computacionais de dimensionamento
Overall second-order analysis of reinforced concrete structures using design computer
programs
Elisabeth Junges (1); Henriette Lebre La Rovere (2); Daniel Domingues Loriggio (3)

(1) Doutoranda-Bolsista CNPq, Programa de Pós Graduação em Engenharia Civil, Universidade


Federal de Santa Catarina
(2) Professor Associado, Departamento de Engenharia Civil, Universidade Federal de Santa Catarina
(3) Professor Titular, Departamento de Engenharia Civil, Universidade Federal de Santa Catarina
bethjunges@gmail.com

Resumo
Neste trabalho descrevem-se os métodos de análise dos efeitos de segunda ordem global usados em
programas computacionais de análise e dimensionamento de estruturas de concreto armado. Os
parâmetros de estabilidade global e os principais aspectos envolvidos na análise também são abordados.
São investigados três programas que são amplamente utilizados pelos engenheiros de estruturas no Brasil:
SAP2000, AltoQI Eberick e Sistema CAD/TQS. Visando auxiliar aos engenheiros na utilização destes
programas e na interpretação dos resultados de análise não linear, elabora-se um texto detalhado sobre o
método de análise implementado em cada programa, incluindo-se explicações sobre o funcionamento do
programa e suas particularidades. Alguns exemplos de estruturas simples de concreto armado são
analisados utilizando-se os diferentes programas, tecendo-se comentários sobre os resultados obtidos. Ao
final do trabalho apresenta-se uma comparação entre os recursos disponíveis em cada programa,
assinalando-se as vantagens e as dificuldades encontradas na utilização dos mesmos.

Palavra-Chave: análise estrutural, efeitos de segunda ordem, concreto armado, programas de dimensionamento

Abstract
This paper describes the analytical methods to account for overall second-order effects used in general
computer programs for the design of reinforced concrete structures. The overall stability parameters and the
main aspects involved in the analysis are also addressed. Three computer programs widely employed by
structural engineers in Brazil are investigated: SAP2000, AltoQI Eberick and CAD /TQS System. Aiming to
help the engineers on the use of such programs and on the interpretation of the nonlinear analysis results, a
detailed text on the analytical method implemented in each program is elaborated, including an explanation
on each program operation and on its particular features. A few examples of simple reinforced concrete
structures are analyzed using the different computer programs, and comments on the obtained results are
drawn. At the end of the work, a comparison between the resources available in each program is presented,
pointing out the advantages and the difficulties found in its use.

Keywords: reinforced concrete, second-order effects, structural analysis, design computer programs

ANAIS DO 54º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2012 – 54CBC 1


1 Introdução

Os efeitos globais de segunda ordem em estruturas usuais de concreto armado


devem ser considerados quando estes efeitos se tornarem relevantes frente aos esforços
e deformações de primeira ordem. Estes efeitos, chamados de segunda ordem ou
também de efeitos P-delta, são decorrentes da alteração da posição inicial da estrutura,
que se deforma e encontra uma nova posição de equilíbrio, levando ao incremento dos
esforços solicitantes internos. O comportamento de estruturas de concreto armado frente
a este efeito é não linear, e é denominado também como não linearidade geométrica.
Além da não linearidade geométrica, estruturas de concreto armado também apresentam
não linearidade física, devido ao comportamento não linear do material.
Para avaliar se os esforços de segunda ordem globais são consideráveis em uma
estrutura, sem a necessidade de uma análise não linear, existem parâmetros de
instabilidade que podem ser calculados com os dados de uma análise linear, como o Z e
 (gama z e alfa), que são indicados pela NBR 6118/2007. Caso seja necessário calcular
a estrutura considerando os efeitos globais de segunda ordem, tanto a não linearidade
física quanto a geométrica devem ser consideradas, sendo que a não linearidade física,
usualmente, é considerada de forma simplificada.
A consideração da não linearidade geométrica na análise de segunda ordem global
pode ser realizada por diferentes métodos matemáticos. Alguns métodos são mais
conhecidos, como o método da matriz de rigidez geométrica, que incorpora uma matriz de
rigidez geométrica e necessita de processo iterativo (KG), e também o processo P-delta,
que possui algumas variações, mas a mais conhecida é a baseada em adicionar cargas
horizontais fictícias para considerar o efeito da não linearidade geométrica, realizando
também iterações sucessivas até a convergência dos resultados. Há também métodos
mais simplificados, como o indicado pela NBR 6118/2007, que utiliza o parâmetro de
instabilidade Z como majorador dos esforços horizontais.
Atualmente, devido principalmente ao avanço da tecnologia do concreto, que tem
permitido resistências cada vez maiores, estruturas cada vez mais esbeltas têm sido
projetadas e, portanto, suscetíveis a maiores deformações e efeitos de segunda ordem.
Com isso, para realizar uma análise estrutural adequada, necessita-se considerar a não
linearidade física e geométrica. Estas análises são mais complexas que uma análise
elástico-linear, porém, existem no mercado vários programas computacionais de análise e
dimensionamento de estruturas que dispõem de ferramentas para realizar análises com
consideração das não linearidades.
Com a grande utilização destes programas por parte dos engenheiros estruturais
nos escritórios de projeto, surge a curiosidade sobre quais os recursos disponíveis e
questionamento quanto à teoria implementada para realizar análise não linear geométrica
e verificação da estabilidade global disponível nesses programas comerciais.
Portanto, diante das estruturas mais esbeltas que vem sendo projetadas, e da
utilização de programas computacionais para o projeto de estruturas, percebe-se a
importância de se detalhar a formulação implementada nesses programas para esclarecer
o engenheiro estrutural sobre o assunto. O objetivo central deste trabalho é estudar os
métodos de análise dos efeitos de segunda ordem globais disponíveis em três programas

ANAIS DO 54º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2012 – 54CBC 2


comerciais de análise e dimensionamento de estruturas de concreto armado: SAP2000,
AltoQI Eberick e Sistema CAD/TQS.
Primeiramente são descritos os principais aspectos envolvidos na análise de
segunda ordem global, com um resumo das recomendações da NBR 6118/2007, bem
como dos métodos de análise não linear geométrica mais utilizados. São analisados
alguns exemplos de estruturas para tecer alguns comentários sobre os modelos de
análise e parâmetros de estabilidade dos programas. Ao final, alguns comentários são
feitos sobre a utilização de cada programa, recursos disponíveis, vantagens e dificuldades
encontradas, e sobre os resultados dos exemplos calculados com o uso dos programas.

2 Análise estrutural de segunda ordem de estruturas de concreto


armado
A análise estrutural com consideração dos efeitos de segunda ordem, que leva em
conta a não linearidade física e a geométrica, tem como objetivo garantir a estabilidade da
estrutura (verificar o estado limite último de instabilidade) e fornecer as solicitações de
cálculo para o seu adequado dimensionamento.

2.1 Classificação da estrutura


A NBR 6118/2007 permite desconsiderar os efeitos de segunda ordem em uma
estrutura onde esses efeitos são pequenos (acréscimo menor que 10% nos esforços
relevantes da estrutura). Esta norma classifica a estrutura de nós fixos, quando há
dispensa da consideração dos efeitos de segunda ordem, ou em estrutura de nós móveis,
quando então é necessário considerá-los. Pode-se usar pra fazer essa classificação dois
processos aproximados: parâmetro de instabilidade  e o coeficiente z, descritos a
seguir.

2.1.1 Parâmetro de instabilidade 


O parâmetro  é aplicável a estruturas reticuladas simétricas e é calculado,
conforme descrito na NBR 6118/2007, pela equação seguinte:

√ (Equação 1)
onde:
é a altura total da estrutura;
é a somatória das cargas verticais atuantes na estrutura com valor característico;
representa a somatória dos valores de rigidez de todos os pilares na direção
considerada, que para o caso de pórticos pode ser considerado o valor da rigidez de um
pilar equivalente de seção constante. Pode-se adotar Eci (módulo de elasticidade tangente
inicial do concreto) e Ic (momento de inércia) considerando a seção bruta dos pilares.
A estrutura será classificada como de nós móveis quando  for maior que 1:
se (Equação 2)
se (Equação 3)
sendo n o número de andares.
ANAIS DO 54º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2012 – 54CBC 3
Observa-se que são utilizados esforços característicos e rigidez integral da seção
no cálculo de , visto que o limite 1 já foi deduzido considerando e rigidez
reduzida , conforme explica FRANCO ( 1985 apud MONCAYO, 2011).

2.1.2 Coeficiente z
Segundo NBR 6118/2007 item 15.5.3, o coeficiente z, definido pela próxima
expressão, deve ser calculado a partir dos resultados de uma análise linear de primeira
ordem, para cada caso de carregamento, considerando de forma aproximada a não
linearidade física conforme item 15.7.3 desta mesma norma. Este coeficiente é aplicado a
estruturas reticuladas de no mínimo 4 andares.

(Equação 4)

onde:
é o momento de tombamento, dado pela soma dos momentos de todas as forças
horizontais da combinação considerada, com seus valores de cálculo, em relação à base
da estrutura;
é a soma dos produtos de todas as forças verticais atuantes na estrutura, na
combinação considerada e valores de cálculo, pelos deslocamentos horizontais de seus
respectivos pontos de aplicação, obtidos na análise de primeira ordem.
A estrutura será considerada de nós fixos se e de nós móveis se
; acima de 1,3 indica grandes deslocamentos e que a estrutura pode estar instável
e valores abaixo de 1 ou negativos são incoerentes e indica que a estrutura é instável.

2.2 Não Linearidade Física


Para estruturas classificadas como de nós móveis, a não linearidade física (NLF)
deve obrigatoriamente ser considerada na análise de segunda ordem global. Uma opção
para esta consideração é reduzir a rigidez dos elementos estruturais, conforme especifica
o item 15.7.3 da NBR 6118/2007, considerando de forma aproximada a não linearidade
física na análise dos esforços globais de segunda ordem:
Lajes:
Vigas: para As’ ≠ As
Pilares:
Pode-se ainda utilizar um único coeficiente redutor quando a estrutura de
contraventamento for composta exclusivamente por vigas e pilares e <1,3: .
Existem formas mais refinadas para consideração da NLF, como métodos ou
modelos de análise que utilizam modelos constitutivos baseado em diagramas momento-
curvatura para obter a rigidez dos elementos, ou modelos constitutivos baseados na
relação tensão-deformação.

2.3 Não Linearidade Geométrica


Para considerar a não linearidade geométrica na análise de uma estrutura existem
vários métodos ou processos. Os mais conhecidos são o processo P- e o processo da

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Matriz de Rigidez Geométrica (KG), os quais apresentam variações de formulação. Há
ainda o método simplificado utilizando o coeficiente , descrito a seguir. Mais métodos
podem ser encontrados descritos em BANKI (1999), como o processo da Matriz de
Rigidez Geométrica Simplificada (KGS) e o da Matriz de Rigidez Geométrica Modificada
(KGM).

2.3.1 Método Simplificado


Os esforços finais, com consideração dos efeitos de segunda ordem, podem ser
obtidos por meio da majoração adicional dos esforços horizontais, da combinação de
carregamento considerada, por , não sendo necessária assim uma análise não
linear. Este processo só é válido para .

2.3.2 Processo P-Δ


O processo P- consiste em adicionar cargas externas equivalentes ao vetor de
forças externas de forma a representar o efeito P-. A Figura 1 explica o cálculo dessas
forças para barras verticais de pórtico plano. A força horizontal fictícia H é adicionada de
forma a representar o efeito p-delta na barra vertical do pórtico.

a) Pórtico Plano: b) Isolando um pilar:


d) Cagas fictícias no
pórtico:

Htotal

c) Isolando um andar:

Hand

Land

aand


*and.: andar

Figura 1. Descrição do Processo P- em um pórtico plano

O processo pode ser generalizado e aplicado a barras de todas as direções, que


tenham esforço normal, processo chamado de P- Genérico (LORIGGIO, 2011). O
sistema de equações de equilíbrio de uma estrutura, discretizada em elementos ligados
por nós, pela formulação da análise matricial utilizando o método dos deslocamentos fica:
{ } [ ] {{ } { } { }} (Equação 5)
onde:
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{ }: vetor dos deslocamentos (incógnitas do problema);
[ ]: matriz da rigidez da estrutura;
{ }: esforços externos aplicados nos nós;
{ }: esforços nodais equivalentes a cargas aplicadas ao longo dos elementos da
estrutura;
{ }: esforços horizontais equivalentes ao efeito da não linearidade geométrica,
modificados a cada iteração.
É necessário um processo iterativo de cálculo para convergência dos resultados, o
processo de cálculo pode ser definido pelas seguintes etapas:
1) Análise elástico-linear (com consideração da NLF de forma simplificada);
2) Análise elástico-linear com esforços fictícios calculados a partir da análise na etapa 1;
3) Análise elástico-linear com esforços fictícios calculados a partir da etapa anterior.
Repetição da etapa 3 até a convergência dos resultados, conforme critério estabelecido.
A convergência geralmente é rápida. Caso não haja convergência significa que o
carregamento aplicado superou a carga crítica da estrutura.

2.3.3 Método da Matriz de Rigidez Geométrica KG


Neste método considera-se aproximadamente a configuração deformada do
elemento nas equações de equilíbrio. Resumidamente consiste em alterar a matriz de
rigidez do elemento por meio da adição de uma matriz de rigidez geométrica, função da
carga axial, de forma a considerar a não linearidade geométrica. O sistema de equações
fica:
{[ ] [ ]} { } { } { } (Equação 6)
onde [ ] é a matriz de rigidez geométrica que para um elemento de pórtico plano é:

[ ] (Equação 7)

[ ]

onde é o esforço normal e o comprimento do elemento.


A resolução do sistema requer cálculo iterativo até haver convergência dos
resultados, já que a matriz de rigidez geométrica é função dos esforços normais. A cada
iteração a matriz de rigidez é recalculada e o sistema resolvido novamente. Por
simplificação foi mostrada aqui a matriz para elemento de pórtico plano; a matriz
para elemento de pórtico espacial pode ser encontrada em BANKI (1999).

2.4 Efeitos construtivos


A construção de um edifício de múltiplos andares não é feita instantaneamente. As
cargas verticais são adicionadas em etapas à medida que a estrutura é construída. Desta
forma, as deformações axiais ocorridas nos lances dos pilares devido ao acréscimo de
carga proveniente de um novo andar são compensadas construtivamente. Na modelagem
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de um pórtico não existem essas compensações, o carregamento é aplicado de uma só
vez, causando a deformação axial dos pilares, o que resulta em diagramas de momento
fletor não coerentes com a estrutura real, principalmente nos andares superiores. Uma
maneira simplificada de se considerar o efeito construtivo, de forma a corrigir os
diagramas de momentos fletores, é aumentar artificialmente a área da seção transversal
dos pilares, para que fiquem com uma maior rigidez.

2 Análise de segunda ordem por programas comerciais


Descrevem-se três programas comerciais amplamente utilizados pelos engenheiros
civis em escritórios de projeto: SAP2000, AltoQi Eberick e o Sistema CAD/TQS. Buscou-
se detalhar os aspectos relacionados à análise não linear geométrica. As informações
foram extraídas dos próprios manuais dos programas.

2.1 SAP 2000 V11


O SAP2000 é um programa comercial que utiliza o método dos elementos finitos
para discretização da estrutura, possibilitando, assim, a análise de estruturas de formas e
configurações diversas, e também de diferentes materiais. Este programa é amplamente
utilizado, principalmente para a análise de esforços e deslocamentos. Descreve-se
apenas a análise não linear geométrica que o programa realiza.
O SAP2000 é capaz de realizar análise não linear geométrica de duas formas: a
análise denominada “Efeito P-delta” (global e local), que leva em conta parcialmente a
configuração deformada no equilíbrio dos elementos, ou a análise denominada “Grandes
Deslocamentos”, que leva em conta a configuração deformada no equilíbrio dos
elementos, considerando grandes deslocamentos e rotações, utilizando a Formulação
Lagrangeana Atualizada. Em ambos os casos as deformações específicas dentro do
elemento são sempre admitidas como pequenas. A análise “Efeito P-Delta” é aplicada
quando grandes tensões estão presentes na estrutura, caso da maioria das estruturas
aporticadas de concreto armado, logo, será dada mais ênfase a esta formulação. Já para
o caso onde a estrutura sofre grandes deslocamentos e rotações, é indicada a análise
escolhendo-se a opção de “Grandes Deslocamentos”.
A análise não linear geométrica realizada pelo SAP2000 considerando o efeito P-
consiste, em relação à sua formulação, em adicionar à matriz de rigidez elástica do
elemento uma matriz de rigidez geométrica, KG, que no caso de pórticos planos é a matriz
detalhada no item 2.3.3, sendo que no programa também podem ser analisadas
estruturas espaciais. Assim, o efeito P- é integrado ao longo do comprimento de cada
elemento de pórtico, levando em conta a deflexão do elemento. Para isso, admite-se uma
função cúbica para representar a deflexão transversal do elemento sob flexão e uma
função linear entre as extremidades para o elemento sob esforço cortante.
No manual do programa consta que, para análise não linear, tanto física e/ou
geométrica, é utilizado um processo iterativo e incremental para a resolução do sistema
de equações não lineares. Para cada incremento de carga é usada uma matriz de rigidez
constante no processo iterativo (Método de Newton-Raphson Modificado). Se a
convergência não é atingida, é então tentado o método de Newton-Raphson original
(matriz de rigidez tangente). Se ambos falharem o incremento de carga é diminuído, e o
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processo é repetido. O usuário tem também a opção de definir qual método deseja aplicar
e pode controlar separadamente o número de iterações permitidas tanto para o cálculo
com o método Newton-Raphson original como para o modificado. O manual ainda explica
que colocando zero para ambos os parâmetros o programa automaticamente irá definir o
número de iterações. A análise iterativa com o Método de Newton-Raphson Modificado é
em geral mais rápida que com o Newton-Raphson original, mas este último é geralmente
mais eficiente, especialmente para cabos e para análise não linear geométrica. Pode-se
ainda definir o erro relativo tolerado para determinar a convergência em cada processo
iterativo, sendo calculado em função da carga residual e a força que atua na estrutura.
Para realizar a análise não linear geométrica, após o lançamento da estrutura, o
que inclui geometria, definições de materiais e casos de carregamento (“load patterns”),
deve-se criar um tipo de análise (“load case”) não linear que deve incluir as cargas que
provocarão os efeitos de segunda ordem (“load patterns”). As configurações para análise
não linear são acessadas nesta mesma janela em “Nonlinear Solution Control”.
A não linearidade física de forma simplificada, conforme indica a NBR 6118/2007,
pode ser considerada no SAP 2000, dispensando uma análise não linear. Pode-se
considerá-la utilizando seção genérica para definir a seção transversal dos elementos,
onde são indicados diretamente os valores de momento de inércia, podendo aí diminuir a
inércia, para consequentemente diminuir a rigidez à flexão, sem influenciar outras
características, como a rigidez axial. A análise não linear física também pode ser
realizada pelo programa, por meio de molas não lineares nas extremidades dos
elementos, mas não será aqui detalhada.
Como não é um programa voltado exclusivamente à análise e dimensionamento de
estruturas de concreto armado, ele não calcula parâmetros para avaliação da estabilidade
da estrutura. Mas é possível avaliar a magnitude dos esforços de segunda ordem,
comparando os resultados obtidos em uma análise linear com os de uma análise não
linear.
O programa ainda tem a opção de realizar uma análise não linear por etapas (“step
by step”), partindo a cada nova etapa do final da etapa anterior por meio da opção
“Continue from State at End of Nonlinear Case”. Deve-se indicar de qual caso de
carregamento deseja-se partir, as cargas do caso de referência entram no cálculo do caso
atual e é utilizada a matriz de rigidez obtida no final da análise da etapa anterior. Esta
opção é útil para se considerar os efeitos de construção, quando há carregamento da
estrutura por etapas.

2.2 AltoQi Eberick


O programa AltoQi Eberick é destinado à análise, dimensionamento e
detalhamento de estruturas de concreto armado, seguindo as prescrições da
normatização brasileira sobre o assunto. As informações aqui apresentadas foram obtidas
do manual do programa AltoQI Eberick V6.
O programa utiliza como parâmetro de instabilidade o coeficiente z. O coeficiente
z é calculado para cada combinação de cálculo nas direções X e Y, os máximos valores
em X e Y são adotados como valores críticos. A ação do vento é calculada
automaticamente pelo programa, por meio da especificação dos valores de velocidade e

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coeficiente necessários, conforme prescrições da NBR 6123/1988. As imperfeições
globais também são calculadas pelo programa conforme item 11.3.3.4 da NBR
6118/2007.
O Eberick utiliza o processo P-Delta para consideração dos efeitos de segunda
ordem (não linearidade geométrica) no cálculo da estrutura. Pode-se alterar o número
máximo de iterações e a precisão mínima, que define a diferença máxima que pode
ocorrer entre o valor do deslocamento horizontal no pavimento obtido em um
processamento e o valor obtido na iteração anterior. Deve-se, também, indicar uma
combinação vertical de cálculo, que será utilizada para definir a carga axial nas barras
durante a análise P-Delta.
O manual explica que, a princípio, a aplicação do processo P-Delta deveria ser feita
separadamente para cada combinação de carregamentos. Mas como isso aumentaria
muito o número total de iterações necessárias no processamento da estrutura e,
consequentemente, o tempo de processamento, o Eberick adota uma simplificação, a
favor da segurança. Ao invés de combinar as ações e calcular os efeitos de segunda
ordem sobre as combinações, o programa executa a seguinte sequência:
1) calcula os esforços devidos à carga permanente, carga adicional e acidental;
2) define uma combinação vertical característica (que pode ser alterada pelo usuário) que
determina as cargas axiais de cálculo nas barras;
3) para cada caso de carregamento horizontal, vento e desaprumo, combina cada caso de
carregamento com o esforço axial gerado; calcula o esforço horizontal fictício
iterativamente; obtém, com isso, casos de carregamento horizontais majorados em
relação aos originais e, então, efetua as combinações normalmente.
Em relação à não linearidade física, o Eberick permite considerar de maneira
aproximada, conforme descrito no item 2.3.2, para a análise dos esforços globais de 2ª
ordem. Possui, também, a opção de considerar o efeito construtivo, de forma simplificada,
por meio da majoração da rigidez axial dos pilares.

3.3 Sistema CAD/TQS


O programa comercial TQS é destinado à análise e dimensionamento de estruturas
de concreto armado. A estrutura do programa é formada por módulos com diferentes
funções, sendo que o módulo responsável pela análise estrutural, aqui estudada, é o
Pórtico TQS. A versão do programa utilizada é o CAD/TQS 15.8 UNIPRO. As informações
aqui listadas foram obtidas no manual do programa.
Em termos de não linearidade física o programa disponibiliza duas opções: não
linearidade física considerada de forma aproximada, por meio da definição dos
coeficientes redutores de rigidez; ou análise mais refinada, baseada no cálculo de rigidez
por meio de diagramas momento-curvatura (M x 1/r). Esta última opção é utilizada pelo
Pórtico NLFG para verificação do ELU após dimensionamento da estrutura (descrito
adiante).
Para consideração da NLG têm-se duas possibilidades: análise não-linear
geométrica baseada na alteração da matriz de rigidez da estrutura, denominada pelo
programa como Processo P-; ou não linearidade geométrica aproximada por meio de
majoração dos esforços horizontais utilizando coeficiente de estabilidade.

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O programa calcula a ação do vento, por meio das informações fornecidas pelo
usuário, seguindo as recomendações da NBR 6123/1988. As imperfeições globais
também são calculadas pelo TQS conforme item 11.3.3.4 da NBR 6118/2007. Os efeitos
construtivos podem ser considerados na análise, de forma aproximada, por meio da
majoração da rigidez axial dos pilares, aumentando-se a área da seção transversal dos
pilares por meio do fator MULAXI de aumento da seção dos pilares. Este fator só é
aplicado no modelo de pórtico espacial e à análise do comportamento da estrutura
perante a atuação das ações verticais, sendo desconsiderada para as ações horizontais,
como o vento.

3.3.1 Coeficientes de estabilidade global e classificação da estrutura


O TQS dispõe, além dos dois parâmetros z e , do parâmetro denominado FAVt e,
no cálculo usando o Processo P- dispõe também do coeficiente denominado RM1M2.
O cálculo do coeficiente z é feito para cada um dos casos de vento definidos no
edifício. O cálculo de ∆Mtot,d e M1,tot,d utiliza resultados obtidos da análise linear do pórtico
espacial ELU, e depende da aplicação de forças horizontais na estrutura. Os
deslocamentos horizontais provocados pelas cargas verticais não são considerados e o
resultado final não depende da magnitude das forças horizontais (vento).
O fator de amplificação de esforços horizontais FAVt é calculado para cada
combinação ELU, utilizando-se exatamente a mesma formulação do coeficiente z, a
diferença é que os deslocamentos horizontais provocados pelas cargas verticais são
considerados e o resultado final passa a depender da magnitude das forças horizontais.
Quando os deslocamentos horizontais provocados pelas cargas verticais atuam no
mesmo sentido do vento presente na combinação analisada, o FAVt é maior que o z, e
em situações contrárias, o FAVt é menor que o z. O programa permite especificar as
parcelas dos deslocamentos horizontais que são geradas pelas ações verticais a serem
consideradas no cálculo de FAVt.
Para o cálculo do coeficiente , a rigidez equivalente (Ecs.Ic) é calculada por meio
de uma formulação que considera uma barra vertical submetida a uma carga horizontal. O
manual comenta que o valor limite 1 especificado no item 15.5.2 da NBR 6118 leva em
consideração um majorador de cargas verticais de 1,4 e um coeficiente de não-
linearidade física igual a 0,7. Como no cálculo do parâmetro efetuado pelo sistema
levam-se em consideração os coeficientes redutores de rigidez, torna-se necessário então
recalibrar o valor de 1 para a correta classificação da estrutura.
O coeficiente de estabilidade RM2/M1 é calculado com os resultados obtidos pelo
processo P-Δ, quando este for realizado, seguindo a mesma formulação do z:

(Equação 8)
sendo M1 o momento das forças horizontais em relação à base do edifício e M2 a
somatória das forças verticais multiplicadas pelo deslocamento dos nós da estrutura sob
ação das forças horizontais, resultante do cálculo de P-Δ em uma combinação não-linear.
Os valores do coeficiente z são apresentados para cada um dos casos de vento
definidos no edifício. Os valores de FAVt e  são apresentados para cada combinação
última definida no edifício, caso a opção de cálculo dos efeitos de segunda ordem esteja

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ativada para o processo simplificado (0,95 z). Se a estrutura for calculada pelo processo
P-delta, é calculado o coeficiente RM2M1.

3.3.2 Análise de segunda ordem global aproximada


A análise aproximada, descrita no item 2.3.1, pode ser realizada pelo TQS usando
tanto o coeficiente z, quanto o coeficiente FAVt, como majorador dos esforços
horizontais. Os esforços totais na estrutura são calculados a partir de uma combinação
linear de casos de carregamento verticais e horizontais. Nessa análise, as solicitações
devidas às ações verticais são calculadas com a majoração axial da rigidez de pilares
(MULAXI > 1) para simular os efeitos construtivos, o que é desconsiderado no cálculo das
solicitações devido às ações horizontais.

3.3.3 Análise de segunda ordem global pelo Processo P-∆


A análise NLG denominada P- pelo TQS, na verdade trata-se da incorporação da
matriz de rigidez geométrica KG, como descrito em 2.3.3. Na formulação deste modelo
são adotadas as seguintes hipóteses: Navier-Bernoulli; pequenas deformações e
rotações; material elástico linear; e uso do método dos elementos finitos como ferramenta
de discretização (MEDEIROS, 1999). Tem-se, ainda, a possibilidade de considerar a
influência das forças axiais decorrentes dos deslocamentos nodais perpendiculares à
barra, por meio da adição da matriz (mais detalhes em MEDEIROS e FRANÇA (1989)),
ficando a critério de o engenheiro considerar ou não essa parcela. Assim, a matriz de
rigidez secante da estrutura ( ) é formada pela soma de três parcelas:
(Equação 9)
Para a solução do sistema de equações não lineares é utilizado o método de
Newton-Raphson modificado, no qual a matriz de rigidez elástico-linear é usada como
matriz secante e o vetor de forças é aplicado com apenas um incremento (MEDEIROS,
1999). Pode-se especificar o número máximo de iterações e a tolerância para
convergência do processo iterativo.
No CAD/TQS há dois tipos de análise P- disponíveis: o P- convencional e o P-
de dois passos. A diferença entre os dois processos está baseada na consideração de
efeitos construtivos. Na análise pelo P- os efeitos de segunda ordem são determinados
a partir da aplicação das ações verticais e horizontais concomitantemente. Logo, caso se
considere o majorador da rigidez axial dos pilares (MULAXI) maior que 1, o deslocamento
da estrutura devido às ações horizontais pode ficar contra a segurança, visto que a área
dos pilares é maior, levando a deslocamentos menores que os reais, comprometendo os
resultados.
Para considerar os efeitos construtivos na análise sem comprometer os resultados,
o TQS formulou o processo denominado P-∆ em dois passos. O primeiro passo do
processo consiste no cálculo linear da estrutura, sem iterações, com a aplicação somente
das ações verticais, sem majoração das rigidezes axiais dos pilares, e sem armazenar a
distribuição de forças normais (necessárias para formar a matriz de rigidez geométrica) e
os esforços nos elementos. No segundo passo é feito o cálculo não-linear, iterativo, com a
aplicação somente das ações horizontais, e sem majorar as rigidezes axiais dos pilares.
Na primeira iteração, consideram-se as deformações obtidas no primeiro passo, e a cada
nova iteração, corrige-se sucessivamente essa matriz com os acréscimos de esforços
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normais provocados pelas ações horizontais, repetindo o processo até a obtenção da
convergência. Os resultados finais são obtidos pela soma das parcelas obtidas nos dois
passos.

3.3.5 Pórtico não linear físico e geométrico


O Pórtico NLFG é um modelo espacial que abrange toda a estrutura e que pode
ser utilizado na verificação dos elementos perante as solicitações normais no ELU. Nesse
modelo, cada viga e pilar são discretizados em inúmeras barras, cujas rigidezes à flexão
são calculadas a partir das relações momento-curvatura, obtidas de acordo com a
geometria, armadura detalhada e esforços atuantes nesses elementos. A posição final de
equilíbrio da estrutura é calculada iterativamente, levando-se em conta os efeitos globais
e locais de segunda ordem de forma conjunta. Podem ser também considerados os
efeitos gerados pela fluência e por imperfeições geométricas globais e locais. Por se tratar
de um processo de verificação, o edifício necessita estar processado globalmente antes
de iniciar a análise pelo Pórtico NLFG, inclusive o dimensionamento e detalhamento de
vigas e pilares.

3 Análise de exemplos
Foram estudados exemplos no SAP2000 e no CAD/TQS. Os resultados estão
mostrados a seguir.

3.1 Análise pelo SAP2000


O exemplo estudado foi extraído da dissertação de mestrado de BANKI (1999).
Trata-se de um pórtico plano engastado na base, que representa um pórtico de
contraventamento de uma estrutura, submetida a carregamentos verticais e horizontais. O
pórtico com os dados do carregamento, geometria e material, está mostrado na Figura 2.
A não linearidade física não foi considerada nesse exemplo. A princípio, o pórtico foi
discretizado em 12 barras. Escolheu-se inicialmente a opção “Efeito P-delta” no programa
SAP2000 e as configurações referentes ao cálculo não linear foram deixadas conforme o
padrão do programa.
BANKI (1999) calculou, além dos parâmetros de instabilidade  e z ( e z =
1,10), os deslocamentos de segunda ordem pelo método P-, pela matriz de rigidez KG, e
também pela KGM, e ainda por funções de instabilidade, as quais não serão mostradas
aqui. Os resultados obtidos para o deslocamento horizontal no topo da edificação pelo
programa SAP2000 estão mostrados na tabela a seguir, junto com os obtidos por BANKI
(1999). Foram estudadas seis discretizações diferentes, onde a barra vertical (pilar) entre
um pavimento e outro foi inicialmente modelada com apenas um elemento, e, após, foi
dividida em 2, 5, 10, 20 e 40 elementos por andar.
Na análise linear, foi observada uma pequena diferença no deslocamento lateral no
topo do pórtico indicado por Banki e o obtido pelo SAP2000. Percebe-se que o aumento
da discretização não mostrou alteração dos resultados do SAP2000, assim como para o
KG–Banki, apenas uma pequena diferença da primeira para a segunda malha. A
discretização foi significativa apenas para o processo P-. Observa-se, também, uma

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pequena diferença no deslocamento final obtido por Banki usando o processo K G e pelo
SAP2000 (0,08%), que pode ser considerada desprezível.

Dados:

 Módulo de elasticidade E:
27000 MPa

 Seção transversal das


vigas: 13 x 55 cm

 Seção transversal dos


pilares: 30 x 20 cm

obs.: medidas em cm
Figura 2 - Pórtico plano estudado: dados da geometria, carregamento e material

Tabela 1 - Deslocamentos no topo do pórtico


Deslocamento horizontal no topo (cm)
Processo
1 elemento 2 5 10 20 40
1ª ordem - Banki 4,309
1ª ordem - SAP2000 4,315
P- - Banki 4,782 4,783 4,850 4,862 4,865 4,866
KG - Banki 4,866 4,866 4,867 4,867 4,867 4,867
KGM - Banki 4,864 4,866 4,866 4,866 4,866 4,866
KG - SAP2000 4,872 4,871 4,871 4,871 4,871 4,871

Também foi utilizada a opção “Grandes Deslocamentos” do SAP2000 para a


análise do exemplo. A diferença no deslocamento lateral do topo do pórtico em relação ao
obtido com a opção “Efeito P-Delta” (KG) foi menor que 2%. Portanto pode-se considerar
que a análise no SAP 2000 usando a opção “Efeito P-Delta” foi satisfatória para a
estrutura estudada.
Para o mesmo pórtico, a carga aplicada foi aumentada de forma a desejar
ultrapassar a carga crítica do pórtico, com o objetivo de saber como o programa se
comporta, se apresentaria, por exemplo, alguma instabilidade numérica, interrompendo a
análise. O programa finalizou a análise não linear normalmente, porém, demorou um
tempo maior. Ao visualizar os resultados, pode-se perceber que o pórtico não estava com
comportamento estável devido à deformada incompatível do pórtico com a carga aplicada.
Fica então esta importante observação ao se realizar a análise não linear geométrica no

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SAP2000, o programa pode continuar a análise além da carga crítica e apresentar os
resultados, sem aviso de que a estrutura está instável.

3.2 Análise pelo Sistema CAD/TQS


Para analisar as diferentes configurações disponíveis no CAD/TQS, em termos de
análise de segunda ordem global, foi lançado um edifício no Sistema CAD/TQS. O
exemplo estudado foi extraído da dissertação de MONCAYO (2011).
Como se pode observar na Figura 3, trata-se de um edifício simétrico, formado por
vigas e pilares, com lajes maciças. Foi considerada nas lajes uma carga distribuída
acidental de 1,5 kN/m² e carga permanente 2,8 kN/m² para os pavimentos tipo. Adotou-se
concreto com resistência à compressão fck de 25 MPa. O número de pavimentos foi
alterado de 10 para 12. Os pilares foram todos considerados engastados na base,
podendo receber a carga de vento. As ligações entre pilares e vigas foram consideradas
todas rígidas. Não houve preocupação em verificar as dimensões dos elementos
estruturais para o projeto estrutural, pois foi apenas realizada a análise estrutural para
verificação da estabilidade global.
A ação horizontal considerada foi a de vento, cuja força aplicada no edifício foi
calculada pelo TQS, adotando-se as seguintes características: velocidade básica 60m/s;
S1=1,0; S2 definido pela categoria IV e classe B de edificação; S3=1,0 e coeficiente de
arrasto Ca calculado pelo programa. As combinações de cargas ELU estudadas foram:
Nd = g (peso próprio + carga permanente) + q (carga acidental + 0.6 vento)
sendo:g = q =1,4 e o vento considerado em 4 direções.

180º

270º 90º

(medidas em cm)

Figura 3 - Planta de formas do edifício estudado (MONCAYO, 2011)

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Como o edifício tem geometria e carregamento simétricos nas duas direções, não
há deslocamentos horizontais devido às forças verticais, logo os coeficientes z e FAVt
resultam em valores iguais. Por este motivo, foi estudado também um exemplo com
geometria assimétrica. A planta de formas da Figura 3 foi alterada, eliminando-se os
pilares P1 a P4 e as lajes L1 a L3 e viga V1.
A análise foi realizada considerando a não linearidade física de forma simplificada,
utilizando os coeficientes de redução da rigidez à flexão (0.8 para pilares e 0.4 para as
vigas). Os resultados analisados são os coeficientes de estabilidade z, FAVt e RM1M2,
este último calculado com os esforços obtidos pela análise P- de 2 passos e P-
convencional (1 passo). Para cada caso, edifício simétrico e não simétrico, a análise foi
realizada primeiramente sem a consideração dos efeitos construtivos e após
considerando este efeito (MULAXI=100). Os resultados obtidos para cada caso estão nas
tabelas seguintes.
Para o edifício simétrico, pode-se perceber que não há diferença entre o z e FAVt,
já que não ocorrem deslocamentos horizontais devido a forças verticais. Nota-se,
também, que a consideração do efeito construtivo em uma estrutura simétrica não afeta
os esforços de segunda ordem, pois o coeficiente RM1M2, calculado com resultados do
P- de 2 passos, não apresentou diferença. No entanto, percebe-se que, calculando a
estrutura com a área majorada dos pilares pelo P- de 1 passo, há uma diminuição do
coeficiente RM1M2, em ambas as direções; isso se deve ao fato de nesta análise a
rigidez majorada dos pilares ser considerada no cálculo dos deslocamentos horizontais
devido às ações horizontais, ocorrendo assim uma diminuição dos deslocamentos e,
consequentemente, dos efeitos de segunda ordem globais. Por isso, quando se deseja
considerar o efeito construtivo deve-se usar o P- de 2 passos, conforme já indica o
manual do TQS.
Tabela 2 – Coeficientes de estabilidade para o edifício simétrico
Sem consid. efeito constr. Com consid. efeito constr.
Caso
Vento RM1M2 RM1M2
z = FAVt z = FAVt
(2 passos = 1 passo) (2 passos) (1 passo)
o
0/180 1,115 1,116 1,115 1,116 1,091
o
90/270 1,087 1,088 1,087 1,088 1,075

Os resultados do edifício não simétrico estão na Tabela 3. Neste caso, há diferença


entre os valores do z e FAVt na direção que não possui simetria (90/270º), pois no
cálculo do FAVt há consideração dos deslocamentos horizontais devido às cargas
verticais e no z não há. Nota-se que no sentido 270º o FAVt foi maior, já que a ação do
vento é adicionada ao deslocamento horizontal provocado pela assimetria. No sentido
90º, FAVt deveria apresentar um valor inferior ao z, pois o vento age em sentido contrário,
sendo seu deslocamento horizontal compensado pela assimetria. Mas o TQS, neste caso,
adota o valor de z para o FAVt, de forma a ficar a favor da segurança.
Sobre a consideração dos efeitos construtivos, percebe-se que, para um edifício
assimétrico esta consideração influencia nos esforços de segunda ordem globais, o que
pode ser observado pelos diferentes valores do FAVt e RM1M2, para 90/270º. Observa-se

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novamente que a análise da estrutura usando P- de 1 passo com consideração dos
efeitos construtivos leva a resultados não coerentes.
Tabela 3 – Coeficientes de estabilidade para o edifício assimétrico
Sem consid. efeitos constr. Com consid. efeitos constr.
Caso
z RM1M2 RM1M2
Vento FAVt FAVt
(2 passos) (1 passo) (2 passos) (1 passo)
o
0/180 1,089 1,089 1,089 1,089 1,089 1,089 1,074
o
90 1,101 1,101 1,033 1,033 1,101 1,056 1,028
o
270 1,101 1,152 1,171 1,171 1,138 1,147 1,126

4 Comentários finais sobre os programas


4.1 SAP2000
Em relação ao programa SAP2000, o seu uso, de uma maneira geral, deve ser
feito por engenheiros que tenham fundamentação teórica sobre o assunto, para que não
haja erros grosseiros e comprometedores, já que exige conhecimento sobre o método de
elementos finitos, modelagem, e análise estrutural.
Quanto à análise não linear geométrica, o programa não mostrou grande
complexidade para realizar tal análise, porém, sentiu-se que o grande número de
parâmetros para configuração da análise não linear requer estudo do manual para correto
entendimento e configuração destes pelo usuário.
Uma importante constatação feita a partir do exemplo investigado é que ao se
analisar uma estrutura por análise não linear geométrica, com uma carga elevada de tal
forma a provocar a instabilidade da estrutura, o SAP consegue continuar a análise além
da carga crítica e apresentar resultados. O projetista deve, então, ter grande atenção ao
analisar os resultados, inclusive a deformada da estrutura, para observar se a estrutura
apresentou instabilidade, caso contrário poderá cometer um erro grave.

4.2 Sistema CAD/TQS


O Sistema CAD/TQS apresenta várias ferramentas para lançamento, análise e
dimensionamento, com muitas configurações e refinamentos disponíveis. Por este motivo,
notou-se que, para poder usufruir corretamente de todas essas ferramentas do sistema, o
profissional deve possuir, além de adequado conhecimento técnico, experiência e
sensibilidade no cálculo de estruturas e dedicar tempo ao estudo do programa.
Pode-se, pelos edifícios analisados, avaliar os parâmetros de instabilidade
disponíveis z, FAVt e RM1M2 e a consideração dos efeitos construtivos. Quanto ao
coeficiente FAVt, a NBR 6118/2007, ao explicar o cálculo do z, não diz que o
deslocamento horizontal devido às forças verticais é desconsiderado, ou seja, interpreta-
se que o coeficiente FAVt nada mais é que o z que normalmente se calcula. Em relação à
consideração dos efeitos construtivos, pode-se constatar que esta consideração influencia
nos efeitos de segunda ordem globais de estruturas assimétricas. Em relação ao
parâmetro , torna-se trabalhoso utilizar este parâmetro, pois é necessário realizar uma
análise desconsiderando a não linearidade física, para poder comparar o valor encontrado

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com o valor limite estipulado na NBR6118, ou então, por experiência e observação, o
engenheiro ter valores limites recalculados.
Por fim, o TQS apresenta muitas ferramentas e configurações, que podem ser
muito úteis para o projeto estrutural, como o Pórtico NLFG, mas que devem ser
cuidadosamente utilizadas, principalmente por profissionais com pouco conhecimento
técnico e experiência profissional, de forma a evitar erros graves.

4.3 AltoQI Eberick


O programa AltoQi Eberick possui menos ferramentas e opções de análise
estrutural. Isto pode, por um lado, ser considerado bom, pois se pode facilmente entender
todas as configurações disponíveis, sendo então, uma ferramenta mais fácil de ser
utilizada, principalmente para projetistas iniciantes. Sentiu-se falta do coeficiente ,
necessário para edificações menores que 4 andares. Em relação à análise global, o
programa dispõe somente do processo P-delta, o que não é necessariamente uma
deficiência do programa, já que satisfaz a necessidade da análise dos efeitos de segunda
ordem com boa precisão.

2 Referências
ALTOQI EBERICK V6. Ajuda do AltoQi Eberick V6.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR 6118: Projeto e
execução de obras de concreto armado. Rio de Janeiro, 2007.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR 6123: Forças
devidas ao vento em edificações. Rio de Janeiro, 1988.
BANKI, A. L. Estudo sobre a inclusão da não linearidade geométrica em projetos de
edifícios. Florianópolis, 1999. Dissertação de Mestrado, UFSC.
FRANCO, M. Problemas de estabilidade nos edifícios de concreto armado. In: Reunião
Anual do Ibracon: Colóquio sobre estabilidade global das estruturas de concreto armado.
Anais... São Paulo,1985.
LORIGGIO, D. D. Notas de aula: Análise não linear de estruturas - ECV4314,
ECV/PPGEC/UFSC, Florianópolis, 2011.
MEDEIROS, S. R. P. (1999). Módulo TQS para análise não linear geométrica de pórticos
espaciais. Jornaul TQS News, n.11, São Paulo.
MEDEIROS, S. R. P.; FRANÇA, R. L. S. (1989). Um programa para análise não linear em
microcomputadores. In: Simpósio EPUSP sobre Estruturas de Concreto, 1989, São Paulo.
Anais... Escola Politécnica da USP, São Paulo.
MONCAYO, W. J. Z. Análise de segunda ordem global em edifícios com estrutura de
concreto armado. São Carlos, 2011. Dissertação de mestrado, Escola de Egenharia de
São Carlos da Universidade de São Paulo.
SAP2000 PLUS. Integrated Finite Elements Analysis and Design of Structures. Computers
and Structures, Inc. Berkeley, California, USA. Version 11, 2009.
SISTEMA CAD/TQS. Manual CAD/TQS versão 15.8 UNIPRO, 2010.
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