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LÍNGUA PORTUGUESA, 8º ANO

António Alves

A LITERATURA ORAL E TRADICIONAL



Desde os tempos mais remotos os serões das famílias eram
passados em grupo, com as pessoas a conversar e a confraternizar.
Sobretudo na Idade Média, a falta de acesso à cultura levava os
homens do Povo a fantasiarem a sua própria vida ou a imaginarem-se
na pele dos senhores que serviam. Assim surgiram histórias fantásticas
de príncipes e princesas, de bruxas e dragões, de fadas e de plantas
mágicas... Nada era escrito, tudo era memorizado e recontado, de
geração em geração, numa lengalenga de impressionante beleza e
suspense.

As primeiras histórias que apareceram eram ditas em verso, com rimas muito simples que
facilitavam a memorização. Eram os chamados romances. Alguns deles, foram recolhidos e
guardados por escrito no Romanceiro Tradicional Português que, assim, salva aquilo que é
conhecido como património da literatura oral portuguesa.
As lendas, por outro lado, parecem existir desde sempre! São histórias baseadas em factos
reais, embora muito fantasiadas pelo povo, o que as torna fascinantes.

Vejamos algumas características deste tipo de literatura:

1. CARACTERÍSTICAS DOS CONTOS TRADICIONAIS

• É um texto anónimo, ao contrário dos contos de autor a que estamos habituados.
• É bastante breve, pois está em jogo a capacidade de memorização do “contador”.
• Quase não existe a descrição de ambientes ou de personagens. Se existe, ela é muito breve e
não sobressai na história.
• O tempo e o espaço onde se desenrola a acção são indeterminados e muito vagos (Era uma
vez..., há muito, muito tempo..., num reino distante...).
• As personagens são poucas e repetem-se bastante de conto para conto. Normalmente, nem
sequer são identificadas pelo nome.
• As características das personagens, quase nunca são apontadas, limitando-se a serem boas ou
más, bonitas ou feias.
• Não existem barreiras na relação entre as personagens: os animais falam com os humanos e
estes podem transformar-se em animais ou em objectos.

Publicado em https://linguaportuguesa8ano.blogspot.pt por António Alves



• A fórmula de construção destes textos é básica e praticamente fixa:

a) anunciam-se as personagens e o ponto de partida – situação inicial
b) dá-se uma perturbação na ordem inicial – acontecimento perturbador
c) desenvolvem-se as peripécias até ao momento em que se resolve toda
a perturbação – força rectificadora
d) restabelece-se a ordem com que se tinha iniciado a acção – situação
final.

• O final do conto tem sempre um objectivo moralizante, ou seja, pretende transmitir um
ensinamento que se relaciona quase sempre com a ideia de que o bem vence sempre o mal.

• As categorias da narrativa estudadas para o conto de autor ou para qualquer outro texto
narrativo não são aplicáveis, na sua maioria, ao conto tradicional. Assim, este tipo de texto
analisa, sobretudo, as funções das personagens ou objectos intervenientes na história e as suas
inter-relações:

Destinador Objecto Destinatário

Adjuvante Sujeito Oponente

a) Destinador: personagem ou força superior que decide a favor ou contra a obtenção do
objecto pelo sujeito.
b) Destinatário: personagem sobre quem recai a decisão favorável ou desfavorável do
destinador.
c) Sujeito: personagem empenhada na procura de um objectivo representado no objecto.
d) Objecto: personagem ou coisa que o sujeito procura obter ou atingir.
e) Adjuvante: personagem ou qualquer coisa que facilita a obtenção do objecto por parte do
sujeito.
f) Oponente - personagem ou coisa que dificulta a obtenção do objecto por parte do sujeito.

Nota: muitas vezes, estas funções podem ser acumuladas por uma mesma personagem; por
exemplo, o sujeito, pode ser quem decide ir em busca do objecto e, nesse caso, ele é, ao
mesmo tempo, sujeito, destinador e destinatário.




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• Outro aspecto importante é o da simbologia que percorre, repetidamente, os contos
tradicionais. Vejamos alguns:
a) Número três – símbolo do mistério, da ordem, do equilíbrio, da harmonia, da união.
b) Número sete – número sagrado, às vezes benéfico outras vezes maléfico; representa
também a passagem do conhecido para o desconhecido e gera, quase sempre, uma certa
ansiedade. Pode ser símbolo de vida eterna e de perfeição, da mudança, de um ciclo
completo.
c) Rei – representa a justiça, a paz, a garantia de equilíbrio e harmonia do mundo.
d) Filha do rei – é símbolo da protecção mas também do prémio: normalmente, é dada ao herói
como recompensa da sua audácia e coragem.
e) Príncipe / princesa – é o ideal do homem e da mulher, em termos de beleza, poder, sonho,
juventude, amor e heroísmo.
f) Palácio / castelo – representa o mistério, a protecção, aquilo que se deseja e não se tem, o
inacessível para o povo.
g) Anel – objecto que significa a continuidade, a totalidade, a ligação fiel, o compromisso, o
pacto. É sempre aceite e oferecido livremente.
h) Rosa / flor – símbolo do amor e sinal de afecto.
i) Ouro – metal perfeito, perfeição absoluta, brilho, luz, conhecimento.
j) Cavalo – representa uma dualidade: a morte ou a vida, a destruição ou o triunfo.
k) Pomba – animal sociável, simboliza a espiritualidade, a pureza, a simplicidade, a harmonia, a
esperança e a felicidade reencontrada.
l) Fonte – símbolo da maternidade, origem da energia espiritual e da vida eterna.
m) Água – fonte de vida, meio de purificação, símbolo da pureza, da força
e da fecundidade.
n) Cidra – é o fruto da cidreira, uma espécie de limoeiro. É o fruto proibido
e, tal como a maçã, pode relacionar-se com a virgindade ou com o
pecado.
o) Laço – se for de pano, simboliza a amizade; de prata, o namoro; de ouro,
o casamento e o sinal da realeza.

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2. CARACTERÍSTICAS DAS LENDAS

• Ao contrário do conto tradicional, a lenda baseia-se em factos reais.


• A maior parte das lendas enquadra-se num espaço e num tempo
determinado.
• As personagens também são reduzidas, mas, na maior parte das vezes,
estão identificadas pelo nome.

• Podemos identificar vários tipos de lendas:
a) Lendas religiosas – são narrativas cristãs referentes à intervenção de Jesus Cristo e Maria na
vida dos humanos.
b) Lendas mitológicas – são contadas em certas localidades e abordam factos que, segundo o
povo, tiveram intervenções do diabo, de fantasmas, de gigantes, de bruxas, de sereias, de
feiticeiras ou de monstros.
c) Lendas históricas – referem-se a personagens da História de um país, locais ou monumentos.
Por vezes, em vez de incluírem elementos maravilhosos (não reais), são contadas de uma forma
exagerada, extraordinária e simbólica (como por exemplo, a lenda da Padeira de Aljubarrota).
d) Lendas etiológicas – são aquelas que estão na origem de povoações ou lugares (como por
exemplo a lenda da Ilha da Madeira).
e) Lendas de mouros e mouras – estão associadas ou à morte ou à prosperidade. A acção quase
sempre decorre na véspera de S. João, de dia ou de noite e as mouras aparecem a pentear-se ao
luar com um pente de ouro.
f) Lendas de povoações desaparecidas – procuram justificar o desaparecimento de lugares ou a
ruína de aldeias, ilhas ou cidades.


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