Antes Do Fim Ou Hotel Delire

Pr
op
er
ty
Og
ANTES DO FIM AKA HOTEL DELIRE

er
escrito por
Diego Lopes e Claudio Bitencourt

Se
po
l&
Mo
ro
Fi
lm
OGER SEPOL / MORO FILMES®

+55 41 98874-3288
Diana@morocom.com.br
es

1 INT. ESCRITÓRIO ELDER - NOITE 1
Pr
Na parede, o relógio marca oito horas da noite. O ambiente
mal iluminado revela um jogo de sofás e uma mesa de centro
com revistas, todas bem organizadas, e grandes armários com
op
livros ao redor. A escrivaninha, em um dos cantos da sala,
está desarrumada, com diversos papéis e documentos
espalhados. A sala é austera e visivelmente antiga.
er
ELDER, um homem de meia idade, acima do peso, vestindo uma
calça de terno com uma camisa um pouco amarrotada, está
encostado em sua cadeira. Ele aparenta cansaço, seus olhos
ty
acompanham o ventilador de teto que se movimenta lentamente.
Ele fecha os olhos e respira profundamente. Elder levanta e

caminha em direção à porta da sua sala, que possui uma parte
Og
envidraçada e permite uma boa vista de toda a recepção do

hotel. Ele olha para fora e não vê ninguém.
Elder volta a sentar em frente a sua mesa. Ele pega uma pasta
e a abre. Dentro uma intimação judicial por dívidas
er
trabalhistas e um contrato de banco com o título de

renegociação de hipoteca.
Ele começa a ler o contrato mas logo se irrita e o joga

Se
novamente em cima da mesa. Elder olha para a estande ao seu

lado. Ele levanta e afasta alguns livros revelando uma
garrafa e um copo de uísque. Ele olha para a garrafa,
pensando se deve ou não tomar um gole, respira fundo e volta
po
a esconde-la com os livros.
2 INT. CORREDOR HOTEL - NOITE 2

l&
O longo corredor de paredes brancas envelhecidas contrastam

com a cor vermelha desgastada do carpete no chão. A porta do
elevador abre e Elder sai. Ele caminha sem pressa. Se
aproxima do primeiro quarto do corredor e confere o cadeado
Mo
que tranca a porta.
Elder checa cada porta do corredor, analisando se estão bem

trancadas. Ao chegar no final, ele dá uma ultima conferida no
corredor e entra no elevador.
ro
3 INT. RECEPÇÃO - NOITE 3

Fi
O salão possui grandes janelas ocultas por grossas cortinas

vermelhas, nitidamente gastas pelo tempo. Alguns abajures
iluminam o lobby pontuando as poltronas e mesinhas de
lm
descanso. O chão de madeira parquet está coberto por tapetes

desgastados. As paredes são revestidas de madeira com um
aparente envelhecimento causado por anos da falta de
manutenção correta. A parte de trás da recepção também é de
es
madeira mas não tem ninguém.

2.
LUCIANO, jovem, calça jeans e camiseta, caminha em direção ao

Pr
hotel acompanhado por LETÍCIA, uma jovem bonita que veste um
curto vestido preto. Ele coloca a mão na cintura da garota
enquanto caminham em direção ao balcão do hotel. Ele bate uma
vez na velha campainha. O barulho ecoa no lobby vazio.
op
Luciano toca uma segunda vez a CAMPAINHA. Surge OTÍLIA que se
aproxima e atende o rapaz.
er
OTÍLIA
Em que posso ajudá-lo?
ty
LUCIANO
Um quarto com cama de casal, por
favor.
Og
Otília o observa.
OTÍLIA
O hotel está lotado, sinto muito.
er
Ele olha confuso para o painel de madeira logo atrás dela com
diversas chaves. Indignado ele levanta a voz para contra-
argumentar.
Se
LUCIANO
Você pode estar cega mas não é
burra. To vendo as chaves daqui
porra--
po
OTÍLIA
--Já lhe disse que infelizmente--
l&
Elder se aproxima do balcão e assume o comando da discussão.
ELDER
--Boa noite, tenho certeza que
podemos conseguir um quarto para o
Mo
senhor.
(ele olha para Otília com
reprovação)
Desculpe pela desatenção da nossa
funcionária.
ro
Otília se retira.
ELDER (CONT’D)
Fi
Gostaria de passar apenas a noite

ou pretende ficar mais tempo
conosco?
lm
Elder analisa a garota. Luciano dá um gole da cerveja que

está em sua mão.
es
LUCIANO
Já estou nesse puleiro, agora só me
dá um quarto.
3.
ELDER
Pr
Serão oitenta reais... (pausa)
adiantados.
O rapaz concorda, com um aceno de cabeça, e pega sua

op
carteira.
ELDER (CONT’D)
Quarto 31.
er
Luciano pega a moça pela cintura e leva em direção ao
elevador onde os dois entram. Elder sai e entra em sua sala.
ty

Og
Elder senta em sua cadeira. O calor intenso dentro da sala

faz com que pequenas gotas de suor insistam em surgir em sua
testa. Otília entra sem bater e, falando em tom elevado, se
aproxima do patrão.
er
OTÍLIA
Não sei como o senhor deixa isso
acontecer, seu pai nunca permitiria
uma coisa dessas! É por isso que
Se
esse hotel não se mantém--
ELDER
--Bata antes de entrar por favor.
po
OTÍLIA
Quando seu pai administrava o
hotel, esse tipo de gente não tinha
l&
lugar aqui. Ele sempre prezou pelos

bons costumes.
Elder levanta da sua cadeira e aumenta o seu tom de voz,

visivelmente irritado.
Mo
ELDER
Você me agradeça de eu não ter te
despedido...
ro
Otília se assusta com a reação de Elder. Ele percebe que se

alterou demais e respira fundo tentando se acalmar.
ELDER (CONT’D)
Fi
Eram outros tempos... melhores com

certeza... Sem esses hóspedes não
posso pagar as contas, (ênfase)
lm
inclusive o seu salário.
Otília mantém a postura, mas está claramente incomodada.

es
OTÍLIA
Que está três meses atrasado.
4.
Elder pega um cigarro e acende. Ele dá uma longa baforada

Pr
antes de voltar a conversar com Otília.
ELDER
Você tem razão.
op
Elder dá mais uma longa tragada.
ELDER (CONT’D)
er
E eu te prometo que não vou deixá-
la na mão.
ty
Elder aproxima o contrato de renegociação que está em cima da
sua mesa.
ELDER (CONT’D)
Og
Até semana que vem está tudo

resolvido.
Otília sorri e levanta. Ela vai em direção a porta mas antes

de sair volta a falar com Elder.
er
OTÍLIA
Eu ainda vejo um pouco do seu pai
em você. (pausa) Antes da sua mãe--
Se
ELDER
Cuidado Otília, eu posso mudar de
opinião.
po
Otília sorri e sai. Elder continua a fumar seu cigarro

enquanto dobra as mangas da camisa e seca o suor da testa com
seu lenço que está sobre a mesa. Ele pega o porta-retratos ao
l&
seu lado, com uma fotografia que tirou anos atrás de Rosa,
sua mulher, ainda grávida. Os dois estão abraçados e bem mais
jovens. Eles parecem estar em um hotel de beira de estrada e
muito felizes. Ele abre a gaveta, tira seu remédio para
dormir e o toma. Ele fecha os olhos enquanto relaxa em sua
Mo
cadeira.
CORTA PARA PRETO.

ro
5 INT. - ESCRITÓRIO ELDER - NOITE 5
Um barulho de sapato salto alto acorda Elder e chama sua

atenção para o saguão do hotel. Ao olhar pela fresta da
Fi
porta, que Otília deixou aberta, Elder vê uma MULHER, com

cerca de 30 anos, atraente, com um vestido que revela um
corpo perfeito.
lm
Ela procura por algo em sua bolsa. Elder não consegue tirar
os olhos dela. A mulher olha para o lado e encara os olhos de
Elder abrindo um sorriso. Ele tenta levantar mas derruba o
es
cigarro acesso no seu colo.

5.
Assustado, ele joga o corpo para trás e tenta limpar com a

Pr
mão para não se queimar. Em seguida ele levanta mas não vê
ninguém na recepção. De repente Otília entra no escritório.
OTÍLIA
op
Seu Elder estão fazendo a maior
bagunça no 31. Vão quebrar tudo e
eu que vou ter que limpar. Daqui a
pouco algum hóspede vai reclamar.
er
Elder volta a se sentar.
ty
ELDER
Tá bem Otília. Verei o que posso
fazer.
Og
OTÍLIA
E a mocinha que ta lá ligou agora
há pouco perguntando se o serviço
de quarto tem bebidas, eu respondi
que isso aqui não é nenhum
er
boteco...
ELDER
Obrigado, Otília.
Se
Elder não está interessado nas preocupações da Otília. Ela

sai fechando a porta. Ele olha para a recepção que está
vazia, fica confortável na cadeira e fecha os olhos.
po
ESTELA (V.O.)
Como está o Elder?
l&
6 INT. SALA APTO ELDER - NOITE 6
A sala do apartamento é grande, com uma decoração um pouco

modernista (década de 60), um conjunto de sofás antigos
Mo
estampados, abajures e quadros de pintores locais. Estela e

Rosa estão sentadas com vários cosméticos sobre a mesa de
centro.
Rosa atende uma das suas clientes mais antigas, ESTELA. Uma
ro
mulher de meia idade, com roupas extravagantes e um belo

rosto. Estela conversa animada enquanto se serve de vinho.
Rosa responde com um grande esforço para parecer feliz e
simpática.
Fi
ROSA
Tá bem. Está no hotel. Estressado
lm
com o trabalho--
ESTELA
Fico preocupada com você.
es
ROSA
Não precisa... Estamos melhor.
6.
ESTELA
Pr
Eu ficaria preocupada o tempo todo.
ROSA
Dessa vez vai ser diferente.
op
Estela se serve de mais vinho.
ESTELA
er
Se você diz...
Silencio entre as duas.

ty
ROSA
Eu sei que é difícil... que a gente
nunca se cura disso.
Og
Estela bebe o vinho em um grande gole.
ESTELA
Tem mais vinho?
er

Se
Elder se aproxima de um jovem que acaba de chegar na recepção

do hotel. Ele carrega uma bicicleta.
ELDER
po
Como tá, garoto?
THOMAS, vinte anos, veste um moletom e capacete. Ele guarda

suas coisas, incluindo a bicicleta, com movimentos nada
l&
cuidadosos em um armário atrás do balcão da recepção.
THOMAS
Tô bem, seu Elder... (pausa) Um
pouco assustado na verdade...
Mo
sentaram o dedo em dois amigos.
Elder se aproxima de Thomas.
ELDER
ro
Tá feio pra todo mundo. Lembre-se

que do quarto andar para cima tá
tudo fechado e desligado.
Fi
THOMAS
Pode deixar seu Elder...
lm
ELDER
Cuidado, porta da frente trancada.
Conto contigo na segurança.
es
THOMAS
Tô ligado, deixa comigo.
7.
Elder sai e tropeça na mochila de Thomas que esqueceu no

Pr
chão. Elder pega e ao entregar para Thomas, enxerga um
revolver. Ele puxa a mochila para si e confirma ser uma arma.
ELDER
op
Que merda é essa?
THOMAS
Um amigo meu descolou...
er
Elder pega rapidamente a arma de dentro da mochila.
ty
ELDER
Me dá isso aqui!
Elder está irritado.

Og
ELDER (CONT’D)
O que você tá pensando? Ta louco?
Eu vou ficar com isso antes que
você faça merda!
er
Elder sai em direção a sua sala.
THOMAS
Se
Mas...
ELDER
Voce agradeça de eu não te
po
despedir.

l&
Elder entra irritado em sua sala. Caminha direto à mesa e

acende outro cigarro. Ele senta e começa a analisar a arma
que pegou de Thomas. Ainda irritado, Elder coloca o revolver
sobre as várias contas espalhadas sobre a mesa.
Mo
Os olhos de Elder recaem sobre a fotografia de Rosa, que está

em sua frente. Ele dá uma última tragada no cigarro e deixa
escapar a fumaça entre os dentes enquanto o apaga no
cinzeiro. Ele guarda suas coisas, se levanta e sai. Antes de
ro
sair ele olha para sua mesa.
Elder volta, pega a arma, coloca em sua pasta, apaga as luzes

e fecha a porta. Apenas o ventilador continua se mexendo.
Fi
9 EXT. HOTEL - NOITE 9

lm
Elder caminha cabisbaixo pela calçada. Atrás dele está a

fachada imponente, porém envelhecida, do hotel. O ar quente
causa um ligeiro mal-estar. As pessoas em volta usam roupas
es
de verão. Elder as ignora enquanto passa seu lenço sobre a

testa. Ele olha ao redor, procurando seu carro. Ele pára em
frente a um passat antigo, estacionado próximo ao hotel, e
entra.
8.
10 INT. CARRO ELDER - NOITE 10

Pr
Elder se ajeita no banco e joga sua pasta no lado do
passageiro. Antes de ligar o carro ele volta a olhar para a
pasta. Ele a abre, tira a arma e coloca dentro do porta-
op
luvas. Então liga o carro e sai.

er
Estela está terminando de preencher um cheque e no final
entrega para Rosa que levanta e lhe entrega uma sacola.
ty
ROSA
Espero que goste dos cremes novos.
Og
ESTELA
Já gostei, são a minha cara.
Estela ri alto, Rosa sorri tentando acompanhar a cliente.

Rosa caminha em direção a porta na esperança que a amiga a
er
siga. Estela demora um pouco mas levanta e acompanha Rosa em

direção a saída. No caminho Estela passa na frente de um
armário recheado de porta-retratos, com fotos das mais
diversas épocas do casal. Ela imediatamente pára e começa a
Se
ver com cuidado as fotos. Rosa se aproxima da amiga.
ESTELA (CONT’D)
Adorei seu armário de fotos.
po
Estela pega um dos porta retratos na mão.
ESTELA (CONT’D)
l&
Nossa, tão jovens...
Rosa se aproxima para ver o que Estela está analisando e ri

ao ver a foto, como não fazia há muito tempo.
Mo
ROSA
Foi nossa lua de mel. O carro
aqueceu e acabamos dormindo em um
hotel vagabundo de beira de
estrada.
ro
Ela ri da lembrança.
ESTELA
Fi
E o barrigão? Rosa eu não sabia que

tinha uma filho?
lm
A cara de Rosa fecha de imediato.
ROSA
Eu não tenho.
es
Rosa coloca o porta-retratos no lugar e acompanha uma Estela

sem graça e envergonhada até a porta.
9.
12 EXT. RUAS DA CIDADE - NOITE 12

Pr
Elder dirige pelas ruas do centro da cidade. Ele observa as
mulheres da noite que, de esquina em esquina, se exibem em
movimentos sensuais. Algumas quadras depois ele avista um
op
simples bar de centro da cidade. Elder diminui a velocidade
mas ao perceber que o bar está fechado ele volta a acelerar.
er
Elder entra na sala e vê Rosa assistindo televisão. Ela vira

ty
para trás e esboça um sorriso que não é compartilhado pelo
marido. Rosa volta a ficar séria e assistir televisão. Ela
fala para Elder enquanto ele caminha para o quarto.
Og
ROSA
Tem resto do almoço na geladeira se
quiser.
Elder não responde.

er
14 INT. QUARTO APTO ELDER - NOITE 14

Se
A cama de casal está com vários vidros de cosméticos

espalhados por cima. Elder se aproxima do cabideiro perto do
banheiro e, sem pressa, tira sua roupa, pendura peça a peça
com cuidado e entra no banheiro.
po
15 INT. BANHEIRO APTO ELDER - NOITE 15

l&
Elder olha para o espelho e analisa seu rosto visivelmente

abatido. Ele checa se a porta está fechada, liga o chuveiro e
volta para à pia. Ele começa a se masturbar, seus músculos se
contraem, está quase chegando a um orgasmo. Gotas de suor
Mo
escorrem por seu rosto.
Um pouco depois ele chega ao orgasmo, libera a tensão em seus

músculos. Ele novamente se olha no espelho mas não parace
satisfeito, como se aquilo fosse feito em um modo automático.
ro
Ele enxágua a mão e entra debaixo do chuveiro.
16 INT. QUARTO APTO ELDER - NOITE 16

Fi
Elder sai do banheiro e veste o pijama. Ele deita com

cuidado, empurrando os cremes para o lado. A porta se abre e
lm
Rosa entra.
ROSA
Dia difícil?
es
Elder grossamente.
10.
ELDER
Pr
To morrendo de dor de cabeça Rosa,
podemos conversar outra hora?
Rosa sai em direção a sala mas antes de sair volta a

op
conversar com Elder.
ROSA
Eu também estou cansada.
er
Rosa vai até a cama e começa a guardar seus creme.
ty
ROSA (CONT’D)
Você não teve o mínimo de cuidado
com a minhas coisas, são esses
cremes que tem nos sustentado.
Og
Elder senta na cama.
ELDER
Meu dia não foi fácil, só estou
er
pedindo um pouco de tempo--
ROSA
--Também quero tempo Elder, você é
Se
muito egoísta, só pensa em você.

Sério, não acredito.
Rosa pega seu travesseiro e uma coberta.

po
ROSA (CONT’D)
Vou dormir na sala.
l&
Elder levanta rápido, irritado com a discussão. Ele pega o

travesseiro da mão de Rosa.
ELDER
Pode deixar que eu vou.
Mo
Elder sai do quarto.

ro
Elder caminha em direção ao sofá, ele passa em frente ao

pequeno bar e pára. Ele olha para a garrafa, olha para o
quarto, olha para o sofá, senta e liga a televisão. Ele
Fi
assiste sem prestar atenção. Troca de canal. Olha para a

porta do quarto trancado. Troca de canal. Não consegue
dormir. Muda sua posição no sofá, deita. Troca de canal.
lm
Ele levanta e vai até o bar. Elder pega uma cartela de

remédio para dormir, toma um comprimido e volta a deitar no
sofá.
es
CORTA PARA PRETO.

11.
18 INT. RECEPÇÃO - DIA 18

Pr
Elder ainda cansado caminha direto para sua sala.
THOMAS
op
Bom dia seu Elder...
Elder ignora e caminha direto para a sua sala. Sentado em uma

das poltronas está CARLOS ROSEBAUN, 40 anos, de terno, que
er
aguarda ser atendido.
ty
19 INT. ESCRITÓRIO ELDER - DIA 19
Elder deixa seu paletó sobre o encosto da cadeira e dobra as

mangas da camisa. O ventilador sobre sua cabeça gira com
Og
dificuldade, ele passa o lenço sobre a testa para limpar o

suor que já começa a escorrer. Thomas entra na sala.
THOMAS
Bom dia, seu Elder.
er
ELDER
E aí Thomas? Tudo certo no hotel?
Se
THOMAS
Sim, senhor. O pessoal do 31 fez um
pouco de bagunça mas não aconteceu
nada demais. Daqui a pouco a Otília
po
desce aí reclamando que vai ter que

arrumar tudo lá.
ELDER
l&
Obrigado garoto.
THOMAS
Seu Elder, tem um pessoa esperando
o senhor, posso mandar entrar?
Mo
ELDER
Quem é?
THOMAS
ro
Ah seu Elder ele me falou o nome

mas já faz uns 20 minutos e eu
falei que o senhor...
Fi
ELDER
Ok Thomas... Manda ele entrar por
favor...
lm
THOMAS
Até amanhã seu Elder...
es
ELDER
Até amanhã, Thomas.
Thomas sai do escritório.

12.
20 INT. CORREDOR TERCEIRO ANDAR - DIA 20

Pr
Otília caminha aborrecida empurrando um carrinho com o café
da manhã para o quarto 31. Ela bate na porta.
op
OTÍLIA
Café da manhã.
Otília pode ouvir de dentro do quarto o som abafado de MÚSICA

er
ALTA. Luciano aparece na porta mas a deixa entreaberta, para
que Otília não possa ver todo o interior.
ty
LUCIANO
Obrigado.
De relance é possível ver Letícia em pé sobre a cama.

Og
LETÍCIA
Fecha logo essa porta, porra!
LUCIANO
er
(para Letícia)
Cala a boca! Você queria comer
alguma coisa, não queria?
Se
LETÍCIA
Fecha de uma vez, seu merda!
Otília tenta observar o interior do quarto, Luciano se coloca

po
em sua frente. Ele pega dois pratos do carrinho e fecha a

porta. Otília permanece próxima à porta tentando ouvir alguma
coisa.
l&
Elder está sentado olhando para as contas em cima da sua

mesa, ele está absorto em seu pensamento. O calor piora seu
Mo
estado já abatido. Carlos Rosebaun bate na porta e entra em

seguida.
ELDER
Entre, em que posso ajudá-lo?
ro
CARLOS ROSEBAUN
Elder?
Fi
Os dois se cumprimentam.
ELDER
lm
Sobre o que é essa conversa?
CARLOS ROSEBAUN
Uma pessoa direta, um dos meus.
es
Carlos Rosebaun, sou advogado do

grupo Evimeria.
13.
ELDER
Pr
A rede de hotéis?
CARLOS ROSEBAUN
Exato.
op
Carlos senta na cadeira em frente a mesa de Elder
CARLOS ROSEBAUN (CONT’D)

er
Vou ser direto também. Queremos o
seu hotel.
ty
Elder se ajeita na cadeira incomodado com a conversa.

E queremos agora, é importante
Og
resolvermos a compra com urgência.
ELDER
Eu não tenho nenhuma urgência,
senhor Rosebaun?
er
Carlos não responde de imediato, ele olha para os olhos de

Elder, enquanto brinca com a caneta fazendo cliques
irritantes.
Se
CARLOS ROSEBAUN
Deveria. Sabe, somos muito bem
relacionados. A gente sabe das
po
dívidas, processos trabalhistas, da

sua incapacidade administrativa.
(pausa) Em 72 horas um oficial de
justiça vai entrar por aquela porta
l&
e te entregar uma ação de

fechamento do hotel por divídas,
sabe?
Carlos tira uma pasta da sua maleta e estende para Elder que
Mo
não a pega.

Sei também que a clientela de seu
hotel já foi mais seleta. Vamos
ro
dizer que você está em uma sinuca

de bico, fodido mesmo. Eu sou sua
única opção.
Fi
Carlos se aproxima e deixa a pasta em cima da mesa, na frente

de Elder. Aquilo o enfurece.
lm
ELDER
Nossa conversa acabou.
Carlos volta a sentar e sorri de canto de boca, curtindo a

es
irritação de Elder.
14.
CARLOS ROSEBAUN
Pr
Não se engane Elder, só estou sendo
simpático.
Elder levanta e se aproxima de Carlos.

op
ELDER
Vou deixar uma coisa bem clara, eu
não tenho nenhum interesse em fazer
er
negócios com você.
Elder indica com o braço a saída para Carlos que levanta e se

ty
aproxima de Elder.
CARLOS ROSEBAUN
Cuidado Elder, stress mata.
Og
Carlos ri e caminha sem pressa em direção à porta da sala e

pára na saída.

er
É muito difícil suportar a pressão

das grandes redes. Eu consigo o que
eu quero de um jeito ou de outro.
Se
Elder se aproxima e encara Carlos olhando em seu olhos.

Você tem pouco tempo Elder.
po
Carlos tira um cartão de visita, coloca no bolso da camisa de

Elder e sai.
l&
Letícia, a garota do quarto 31, sai do elevador correndo em

direção à saída do hotel. Ela está com a roupa desarrumada, a
Mo
maquiagem borrada e chorando. Elder está na porta do

escritório e Carlos está próximo do balcão da recepção quando
ela esbarra nele. Carlos ri ao ver a mulher sair correndo do
hotel. Ele vira para Elder e fala alto.
ro
CARLOS ROSEBAUN
Um dia.
Carlos sai e Elder volta para a sua sala.

Fi

lm
Elder fecha a porta e chuta, irritado, um pequeno lixo

próximo dele. Se aproxima da sua mesa, e olha para a estande
ao seu lado. Elder volta a tirar os livros revelando uma
es
garafa de uísque. Ele novamente a observa para em seguida

escondê-la e sentar em sua mesa.
15.
Ele pega a pasta com o contrato de renegociação de dívida e

Pr
volta a analisá-lo. Rosa entra na sala, vai direto até a mesa
de Elder e joga na mesa um envelope
ROSA
op
Que merda é essa?
Elder olha para Rosa surpreso. Ele olha para o envelopes em

cima da mesa e volta a olhar para Rosa enquanto pega o
er
envelope.
ROSA (CONT’D)
ty
Quando você ia me falar que a gente
deve...
Rosa tira o envelope das mãos de Elder e confere a

Og
correspondência de dentro.
ROSA (CONT’D)
Oito milhões, duzentos e cinquenta
e três mil reais.
er
Ela joga novamente para elder o envelope.
ROSA (CONT’D)
Se
E como assim tentando renegociar

Elder?
Elder levanta da cadeira irritado.

po
ELDER
E desde quando você abre a minha
correspondencia?
l&
ROSA
E desde quando você mente para mim?
Elder se exalta ainda mais.

Mo
ELDER
Esse negócio é meu, quem cuida
disso aqui sou eu. Eu que resolvo
os problemas.
ro
Rosa ri alto.
ROSA
Fi
Você?
Ela continua rindo com um misto de ódio no rosto.

lm
ROSA (CONT’D)
Eu sei como você resolve os seus
problemas Elder.
es
Elder vê o ódio em Rosa e não responde. Ele olha para o porta

retrato na mesa, respira e fala mais calmo.
16.
ELDER
Pr
Você sabia que a situação no hotel
tá complicada.
ROSA
op
A anos né Elder.
ELDER
Eu sei que os últimos anos não
er
foram fáceis.
A conversa não é fácil para Elder, ele não tem o perfil de

ty
conversar sua relação. Rosa senta a sua frente.
ELDER (CONT’D)
Eu não li ainda mas acho que pode
Og
ser uma saída, uma solução pra

gente. Veja, o que acha.
Elder pega a pasta que Carlos entregou e a entrega. Ela pega

o contrato e começa a ler.
er
ELDER (CONT’D)
Vamos tentar fazer a gente dar
certo, um novo começo...
Se
Ela olha incrédula para Elder, não acreditando no que está

lendo.
po
ROSA
Que merda é essa? Você tá de
brincadeira, só pode! Como assim
entregar o hotel em troca da
l&
dívida?
Elder fica apreensivo, ele pega o contrato da mão de Rosa.
ROSA (CONT’D)
Mo
E a gente ainda dá o nosso

apartamento de garantia na dívida
trabalhista? Que solução é essa
Elder? Morar na rua?
ro
Elder não acredita no que está lendo.
ELDER
Eu achei que era uma proposta
Fi
decente, eu, eu...
Rosa levanta.
lm
ROSA
Elder, eu acho que precisamos fazer
alguma coisa. Com a gente e com o
es
hotel. Mas não piore o que já ta

ruim.
17.
Rosa sai da sala. Elder rasga o contrato, senta, toma o seu

Pr
remédio para dormir e fecha os olhos.
CORTA PARA PRETO.

op
O barulho do ventilador de teto ecoa pela sala vazia. Elder

er
acorda suado, sua roupa parece mais amorrotada do que o
costume. Ele vê de longe, a bela mulher do dia anterior
novamente na recepção. Elder levanta rapidamente e corre em
ty
direção a porta do escritório. Ele a abre e não vê mais
ninguém. Otília sai do elevador.
ELDER
Og
Otília!
Ele volta para sua mesa e ela entra no escritório.
ELDER (CONT’D)
er
O que foi aquela garota correndo

pela manhã?
OTÍLIA
Se
Era a mulher do 31 seu Elder.

Quando fui entregar o café da manhã
estavam discutindo. Loucos...
Trancaram a porta e começaram a
po
brigar lá dentro. Tentei avisar o

senhor que deixar qualquer um se
hospedar no hotel poderia dar numa
coisa dessas. Vai saber o que
l&
aconteceu.
ELDER
E o rapaz, Otília?
Mo
OTÍLIA
Deve estar morto ou coisa assim.
Isso não é problema meu.
Elder respira fundo para não brigar com a funcionária, ele

ro
passa a mão no telefone e disca o ramal do quarto 31.
ELDER
Obrigado, Otília.
Fi
Otília sai contrariada enquanto Elder tenta falar com o rapaz

do quarto 31. O telefone toca várias vezes e ninguém atende,
lm
impaciente, Elder desliga e sai da sala.

es
O marcador do elevador está no terceiro andar, a porta se

abre e Elder desce, sacudindo em sua mão uma chave mestra.
Ele caminha até o quarto 31.
18.
Bate três vezes na porta e aguarda, ele está nervoso com a

Pr
situação. Sem resposta, Elder repete as batidas. Continua sem
resposta, ele então pega a chave reserva e abre a porta.
op
26 INT. QUARTO 31 - DIA 26
Elder entra no quarto com cuidado.

er
ELDER
Com licença, gerência do hotel...
ty
Ele se assusta com a bagunça, latas de cerveja, garrafas de
destilados, um cinzeiro sobre a cama transbordando de
cigarros e cinzas, o lençol amarrotado e sujo. Deitado na
cama, está Luciano, com o olhar fixo na televisão ligada.
Og
ELDER (CONT’D)
Precisa de ajuda?
O rapaz, visivelmente alterado, não consegue responder,

er
apenas ignora.
ELDER (CONT’D)
Que merda está acontecendo aqui?
Se
Pode me explicar?
Luciano se assusta com Elder, está nervoso e sua muito.

po
LUCIANO
Como entrou aqui? Você é da
polícia?
l&
ELDER
Não, mas você tá fudendo meu hotel.
Elder respira fundo para se acalmar. Luciano reage agressivo

e parte para cima.
Mo
LUCIANO
Quem tá fudendo aqui é você, seu
merda. Como assim entra no meu
quarto? E a minha privacidade? Seu
ro
bosta. Sai daqui se não eu te encho

de porrada.
Elder levanta assustado e entra em um modo mais defensivo

Fi
tentando amenizar a situação.
ELDER
lm
Vamos fazer o seguinte, fique até

se sentir melhor, será cortesia.
Luciano desarma e concorda balançando a cabeça.

es
ELDER (CONT’D)
Liga pra portaria e peça pra falar
comigo. Chama pelo Elder, entendeu?
(MORE)
19.
ELDER (CONT’D)
Daí eu chamo um táxi e você vai
Pr
embora.
Luciano volta a deitar na cama. Quando está saindo, Elder

repara em um pequeno pacote na mesa de cabeceira com alguns
op
comprimidos. Ele os pega rapidamente, sem que Luciano perceba
e sai.
er
Elder sai do elevador e caminha direto para seu escritório.

ty
Está tão irritado que não enxerga Otília que sai correndo do
balcão da recepção tentando falar alguma coisa.
26A - INT. - ESCRITÓRIO ELDER - DIA

Og
Elder entra no seu escritório e vê Carlos em pé analisando os

livros da sua prateleira. Elder se aproxima rápido de Carlos
ficando os dois cara a cara. Carlos dá um sorriso irônico,
curtindo a situação.
er
ELDER
Você tem dois minutos para sumir do
meu hotel--
Se
CARLOS ROSEBAUN
--ou o que?
po
Carlos se aproxima mais de Elder.

O que você vai fazer?
l&
Elder não responde.

Foi o que eu imaginei. Você é um
Mo
blefe.
Carlos se afasta e caminha em direção a porta.

ro
Vim conversar com o seu pessoal e

resolvi te dar um oi. O tempo tá
passando e eu tenho que me
organizar para um leilão, sabe
Fi
daqueles que acontecem pra pagar

dívidas, a não ser que você tenha
mudado de idéia?
lm
Elder sai a passos rápidos e prensa Carlos contra a parede,

que não aparenta se incomodar com o ataque. Elder arma um
soco mas desiste.
es
20.
ELDER
Pr
Eu não quero mais ver seu rosto
escroto no meu hotel, estamos
entendido?
op
Elder solta Carlos que arruma seu terno.
CARLOS ROSEBAUN
Mais um blefe...
er
Carlos sai da sala em direção a saída. Elder observa da porta
do seu escritório. Antes de sair ele conversa no ouvido algo
ty
com Otília e sai. Elder volta a entrar no escritório.
Ele retira do bolso o pacote de anfetamina e joga sobre a

mesa. Do paletó pega um cigarro e senta. Observa fixamente os
Og
comprimidos. Seus olhos estão cansados, suas piscadas ficam

mais longas, está quase dormindo.
Elder pega o pacote, tira dois comprimidos e toma. Ele olha

para o lado e vê Rosa sorridente na fotografia em sua mesa.
er
Decide ligar para ela, tira o telefone do gancho. Desiste.

Apaga o cigarro no cinzeiro. Otília abre a porta, olha para o
seu chefe e se assusta com a aparência de Elder.
Se
OTÍLIA
Você tá um lixo.
po
Elder se recompõe. Passa o lenço sobre a testa porém está

começando a ficar eufórico e agressivo.
ELDER
l&
Sua delicadeza com as palavras me

emociona. Já pedi para bater na
porta antes de entrar. Quantas
vezes vou precisar pedir isso pra
você? O cara do 31 já ligou?
Mo
OTÍLIA
Não, senhor. Ele está quieto no
quarto, deve estar morto.
ro
ELDER
Não diga bobagem.
Otilia olha para o chefe e continua preocupada com a

Fi
aparencia de Elder.
OTÍLIA
lm
Você está bem Elder?
ELDER
Estou ótimo, não se preocupe
es
comigo... Que horas são Otília?
Ela olha para o relógio de pulso.

21.
OTÍLIA
Pr
Quase quatro.
Elder levanta de trás da mesa e sai da sala.

op
ELDER
Estou lá em cima Otília, ok?
er
28 INT. TERRAÇO HOTEL - DIA 28
Elder está sentado em uma viga de concreto observando a

ty
cidade. O terraço não é de acesso comum e não transmite
segurança. Rosa chega no terraço, vê Elder sentado e o chama.
ROSA
Og
Eldie, podemos conversar?
Elder não responde. Rosa chega mais próximo de Elder.
ROSA (CONT’D)
er
Eldie.
Ele novamente não responde, Rosa vai com cuidado até ele e
senta ao seu lado. Elder sorri. Os dois ficam em silêncio
Se
observando a cidade. Para Elder, tudo parece melhor, mais

bonito. Ele sente uma energia, uma vontade de que tudo vai
dar certo e principalmente que ele conseguirá resolver tudo.
Ele não faz a relação de que a anfetamina que tomou está
po
começando a fazer efeito.
ELDER
Meu pai deu a vida por esse hotel.
l&
Rosa está visivelmente triste.
ROSA
Você vai perder o hotel.
Mo
ELDER
Eu sei.
ROSA
ro
Não temos como pagar essa dívida.
Elder levanta e caminha em direção a ponta do prédio. Rosa

acompanha aflita.
Fi
ELDER
Você sobe o porque do nome do
lm
hotel?
ROSA
Não.
es
Ela levanta e se aproxima dele.

22.
ELDER
Pr
Meu pai era fascinado pelo cerco de
Orleans. Em como uma camponesa foi
responsável por ganhar a guerra
contra um império.
op
Elder fica mais perto da borda.
ELDER (CONT’D)
er
Tem que haver um jeito Rosa.
Rosa se aproxima preocupada.

ty
ROSA
Por favor saia daí, vamos conversar
em outro lugar.
Og
ELDER
As vezes temos que apostar todas as
nossas fichas. E eu não tenho
muitas delas.
er
Elder olha para a Rosa, fecha os olhos e sente o vento bater

em seu rosto. Ele se sente invencível.
Se
ROSA
Vamos pensar em alguma coisa, já
passamos por coisa pior. Por favor
saia daí Elder.
po
Rosa está apreensiva com Elder na borda do prédio. Ele

continua com os olhos fechados, curtindo a adrenalina da
situação.
l&
29 INT. - QUARTO 84 - NOITE 29
Ele tem flashes, a visão é subjetiva de uma pessoa. Ele está

Mo
bem próximo da bela mulher que viu na recepção do hotel. A

observa deitada na cama sob o lençol. Ela se vira e sorri ao
perceber que está sendo observada. Ela se insinua com
movimentos sensuais. O homem se aproxima e vemos suas pernas,
seus peitos, seu rosto, seus lábios, sua respiração, tudo
ro
muito de perto. O homem cheira seu pescoço.
30 INT. - ESCRITÓRIO ELDER - NOITE 30

Fi
Elder abre os olhos e se assusta. Ele se desequilibra para o

desespero de Rosa que o puxa para não cair. Elder recupera o
lm
equilíbrio e desce da beirada do prédio.
Ele fica de frente para Rosa e ri da situação, ficando os

dois um de frente para o outro. Elder se aproxima para beijar
es
Rosa que tentar cheirar a sua boca. Ele se afasta.
ROSA
Você bebeu?
23.
Elder explode irritado.

Pr
ELDER
Por que eu ia beber Rosa? Porque
minha vida é uma merda? Não bebi
op
porra.
Ele ri novamentes. Rosa, sem acreditar, sai.

er
ROSA
Você precisa de ajuda Elder.
ty
ELDER
Da sua...
Elder vê Rosa sair e não consegue evitar de rir novamente da

Og
situação.
31 INT. ELEVADOR HOTEL - NOITE 31

er
Elder está pensativo no elevador que pára. Elder sai no

automático.
Se
32 INT. CORREDOR OITAVO ANDAR - NOITE 32
O corredor está escuro, Elder percebe que está no oitavo

andar. Ele começa a voltar para o elevador quando um barulho
po
de choro chama a sua atenção. Elder olha para o corredor

tentando descobrir da onde veio o barulho, mas não escuta
mais.
l&
A porta do elevador começa a fechar e Elder volta a sua

atenção para não perder o elevador, ele abre a porta e entra.

Mo
Está escuro do lado de fora. Elder sai do elevador e encontra

a recepção vazia com o telefone tocando. Elder caminha em
direção ao balcão quando Otília entra.
ro
ELDER
Você pode atender Otília?
OTÍLIA
Fi
Ah, sim. Desculpe, seu Elder.
Ela corre até o balcão e atende. Elder sai em direção a sua

lm
sala.
OTÍLIA (CONT’D)
Recepção, pois não?... Sim,
es
senhor... Vou chamá-lo, um

instante.
Otília chama Elder.

24.
OTÍLIA (V.O.)
Pr
Seu Elder, é do quarto 31. O
hóspede quer falar com o senhor.
ELDER
op
Como?
OTÍLIA
É o rapaz do quarto 31.
er
ELDER
Passe a ligação.
ty

Og
Elder senta em sua mesa, pega o telefone, olha para a

recepção e vê Otilia escutando. Ele fala alto para ela.
ELDER
Otília, desliga o telefone e venha
er
fechar a porta da minha sala.
Otília desliga e em seguida fecha a porta do escritório.

Se
ELDER (CONT’D)
(ao telefone)
E aí garoto?
po
Luciano não responde mas é possível escutar sua respiração

pesada.
ELDER (CONT’D)
l&
(ao telefone)
Olha aqui, que merda você pensa que
tá fazendo no meu hotel?
Luciano desliga o telefone na cara de Elder. Irritado e sem

Mo
acreditar no que está acontecendo ele bate o telefone contra

a mesa. Um pouco mais calmo ele volta a ligar para o quarto
do Luciano. Ele respira fundo. Depois de tocar um pouco,
Luciano atende sem falar nada.
ro
ELDER (CONT’D)
Desculpa, não quis me exaltar.
LUCIANO(V.O.)
Fi
(ao telefone)
Chamei um amigo pra me ajudar, ele
vai pagar a nova diária e me tirar
lm
daqui. Ok?
ELDER
Não quero mais problemas.
es
LUCIANO(V.O.)
Ele vai subir quando chegar, pra me
ajudar.
25.
ELDER
Pr
Sem problemas mas saia daqui depois
disso ou vou ter que--
Luciano desliga o telefone. Elder coloca o telefone no

op
gancho. A euforia continua tomar conta do seu corpo mas agora
gera uma ansiedade, um nervosismo que ele não consegue
controlar. Ele levanta e começa a andar de um lado para o
outro da sala.
er
Elder olha para o lado e se enxerga no espelho do banheiro. O
suor faz brilhar seu rosto, olheiras inchadas e uma palidez
ty
intensa lhe dão um aspecto de cansado. Ele continua agoniado,
decide dar uma volta e sai da sala.
Og
Elder sai da sua sala e se assusta com Thomas chegando.
THOMAS
er
Boa noite, seu Elder. Tá de saída?
Elder se aproxima de Thomas e responde ignorando que ele

falou alguma coisa.
Se
ELDER
Preciso que você cuide de uma coisa
pra mim. O hóspede do 31 ainda está
po
no hotel. Mais tarde um amigo dele

vem buscá-lo e vai pagar a conta.
Cuide pra que eles saiam do hotel.
Juntos!
l&
THOMAS
O que aconteceu?
ELDER
Mo
Tá tudo certo. Só faça o que te

pedi.
THOMAS
Deixa comigo seu Elder. Qualquer
ro
problema eu te ligo. Olhos de águia

aqui na recepção...
Elder ignora e sai do hotel.

Fi

lm
Elder sai do hotel e começa a caminhar pelo centro da cidade.

A lojas em geral estão fechadas, aberto somente o comércio
noturno. Ele acende um cigarro enquanto observa a vida
es
noturna em sua volta. Ele passa por duas mulheres paradas na

esquina com roupas provocadoras. Ele as olha e imediatamente
uma mexe com ele.
26.
MULHER
Pr
Vamos se divertir?
Elder sorri mas continua andando. Ele observa as pessoas

bebendo, travesti, prostituta, risadas e quando percebe está
op
na frente do bar ao qual tinha parado no dia anterior e
decide entrar.
er
37 INT. BAR - NOITE 37
É um simples e pequeno bar de centro da cidade com poucas

ty
mesas de cerveja espalhadas. No bar está um casal bebendo em
das mesas e dois homens conversando enquanto jogam bilhar. Ao
fundo de costas tem um homem trabalhando vestindo uma jeans e
uma regata. Elder senta no banco junto ao balcão e apaga o
Og
seu cigarro.
O homem olha para Elder e sorri. É Osvaldo, amigo de longa

data de Elder e dono do estabelecimento.
er
OSVALDO
Puta que pariu! Quem é vivo sempre
aparece né seu filho da puta.
Se
Osvaldo sai detrás do balcão e abraça Elder que não

corresponde com a mesma intensidade. Ele volta a olhar para o
amigo.
po
OSVALDO (CONT’D)
Você tá um lixo!
Osvaldo ri e volta para o balcão.

l&
OSVALDO (CONT’D)
Veio bater papo ou precisa de
alguma coisa?
Mo
Elder está nervoso, ele bate com os dedos no balcão e range

um pouco os dentes. Osvaldo o observa.
ELDER
Precisava dar uma volta, uma
ro
pensada. Eu to fodido no hotel.
OSVALDO
A mulher sabe que você tá aqui? O
Fi
que você tomou?
Elder estranha a pergunta.

lm
ELDER
Tá loco? Não tomei nada.
es
Osvaldo ri ironicamente, pois sabe que o amigo está mentindo.

27.
OSVALDO
Pr
Quer ensinar o padre a rezar a
missa? Ta locão aí...
Osvaldo pega uma cerveja na geladeira e serve um copo para

op
Elder. Ele olha para a cerveja e tenta controlar a vontade
gigantesca de beber.
ELDER
er
Eu não bebo.
OSVALDO
ty
Mas locão tu fica né? Bebe aí
porra, vai dar uma baixada de bola.
Elder pega no copo mas não bebe. Ele então põe a mão no bolso
Og
e tira o pacote de comprimidos azuis. Ele mostra para Osvaldo

que dá uma analisada e sai. Elder olha para as pessoas do
bar, olha para o seu copo de cerveja mas não o pega. Osvaldo
volta e entrega um papelote na mão de Elder.
er
OSVALDO (CONT’D)
Guarda esse, se vai usar essas
merdas que seja de qualidade. Agora
bebe comigo, afinal fudido, fudido
Se
e meio.
Osvaldo se serve da cerveja e espera Elder pegar o copo. Os

dois brindam e bebem.
po
CORTA PARA PRETO.

l&
A porta se abre e Elder entra com cuidado. Ele anda com um

pouco de dificuldade por ter bebido demais. Ele caminha até a
porta do seu quarto mas ela está trancada. Ele ameaça bater
Mo
na porta porém pára antes de fazê-lo. Elder respira fundo e

volta em direção a sala.
Ele procura por algo, vasculha em um pequeno armario até

achar uma garrafa de uísque pela metade. Ele olha para os
ro
lados e ao perceber que não tem ninguém bebe um grande gole.

Ele guarda a garrafa e pega do bolso o papelote que Osvaldo
lhe deu, ao abrir vê que é cocaína. Ele observa e desiste
guardando novamente o papelote no bolso.
Fi
Elder caminha até o sofá, com cuidado para não fazer muito
barulho, e liga a televisão deixando em um volume baixo. Ele
lm
troca de canal até encontrar um filme com cenas um pouco mais

eróticas. Começa a ficar excitado. Porém sua paranóia
aumenta. Ele levanta e vai até ao quarto para ver se Rosa
continua lá. Volta, se encosta no sofá e fecha os olhos. Abre-
es
os novamente e se depara com uma mulher na tela, ela faz uma

dança sensual mas ele acaba cochilando. Quando acorda
novamente, a TV está em um info-comercial.
28.
Elder desliga a tv, passa no bar e toma o seu remédio de

Pr
dormir com um grande gole de uísque e vai até a porta do
quarto.
Elder tenta abri-la mas continua fechada. Ele senta no chão,

op
encostado na porta. Seu celular toca, com dificuldade ele
pega do seu bolso. É Thomas ligando. Elder ignora o telefone
e acaba dormindo ali mesmo.
er
39 INT. QUARTO HOTEL - NOITE 39
ty
SONHO ELDER. POV. A bela mulher continua deitada na cama. O
homem a cheira e vemos detalhes da sua boca, seus olhos, suas
pernas. O ambiente está pouco iluminado, percebemos ser um
quarto do hotel. O homem começa a amarrar as mãos e as pernas
Og
da mulher.
Em um primeiro momento ela parece gostar do que acontece mas

ao prendê-la o homem começa a fazer movimentos mais bruscos e
fortes. A mulher começa a sentir dor mas ela está presa e não
er
consegue reagir. A mão do homem sobe por sua perna, ela

começa a ficar assustada.
Se
CORTA PARA PRETO.

po
40 INT. CORREDOR APTO ELDER - DIA 40
Elder acorda suando muito. O sol ilumina o corredor e o faz

franzir os olhos. Ele levanta e caminha com dificuldade para
l&
a cozinha.
41 INT. COZINHA APTO ELDER - DIA 41

Mo
Elder está sentado, com uma xícara de café em sua mão. Ele
está abatido, com olheiras profundas e vestindo a mesma roupa
do dia anterior. Ele toma seu café sem pressa. Rosa entra e
se assusta com Elder.
ro
ROSA
Você dormiu em casa?
ELDER
Fi
Só não do seu lado...
Ela senta em sua frente na mesa e, com as mãos visivelmente

lm
trêmulas, arruma o cabelo. Elder bebe mais um gole do seu

café, não está disposto a falar, a discutir, está de ressaca
(moral e da bebida). Rosa sente o cheiro da bebida que exala
de Elder mas ignora. Está atônita, ela abaixa a cabeça e
es
tenta disfarçar seu choro. Ela olha para o marido com os

olhos mareados.
29.
ROSA
Pr
Eu não aguento passar mais uma vez
por isso Eldie. Eu não consigo.
Elder coloca a xícara na mesa. olha nos olhos mareados de

op
Rosa mas em seguida foge o olhar.
ROSA (CONT’D)
A gente não precisa do hotel para
er
viver.
ELDER
ty
O hotel vai se recuperar.
Rosa levanta, passa a mão na cabeça do marido e sai. Ela para

na porta da cozinha.
Og
ROSA
E a gente vai se recuperar?
Rosa sai e Elder continua olhando para o nada. Seus olhos

er
enchem de lágrimas mas ele não chora.

Se
Ele caminha para a sua mesa, senta e encosta a cabeça olhando

para cima. Está exausto e seu raciocínio e reflexo estão
afetados. Uma leve batida e a porta se abre. Elder olha para
po
a frente e Thomas entra no escritório.
THOMAS
Bom dia seu Elder, posso falar com
l&
o senhor um minuto?
ELDER
Entre, Thomas. Como foi a noite?
Mo
THOMAS
Acho que fudeu um pouco.
Thomas senta na cadeira em frente ao chefe. Ele fala

relutante, com medo da reação de Elder.
ro
THOMAS (CONT’D)
Sabe, quem veio pagar a conta do 31
não era bem um amigo, era uma
Fi
amiga...
Elder não fala nada, então Thomas continua.

lm
THOMAS (CONT’D)
E eles não saíram depois de pagar o
hotel... na verdade, não pagaram.
es
Continuam no quarto...
30.
ELDER
Pr
O que? Ainda tão lá? Você não tomou
nenhuma providência?
THOMAS
op
Liguei pro quarto várias vezes seu
Elder, mas eles não atendem. Pensei
em ligar pra polícia, mas achei
melhor esperar o senhor chegar.
er
Liguei no seu celular mas--
ELDER
ty
--Tudo bem, garoto. Agiu certo.
Elder bate o punho na mesa irritado.

Og
ELDER (CONT’D)
Esse piá de merda tá me fudendo...
Elder vê que Thomas o observa um pouco assustado. Ele se

acalma e tenta ser mais racional.
er
ELDER (CONT’D)
Vai ver era uma garota de programa
e o rapaz decidiu prolongar mais
Se
uma noite. Pode deixar que eu

resolvo. (pausa) Thomas algum
hóspede passou pela portaria? Algum
check-out novo?
po
THOMAS
Ah seu Elder, teve dois casais que
ficaram algumas horas, sabe como é
l&
né? Mas fora isso...
Elder olha para Thomas mas seus pensamentos estão longe.

Thomas espera o chefe falar alguma coisa mas ao perceber que
ele não fala, retoma a conversa.
Mo
THOMAS (CONT’D)
Então... Eu preciso ir... Até
amanhã.
ro
ELDER
Obrigado, Thomas.
Thomas levanta e sai da sala. Elder volta a sentar

Fi
confortavelmente em sua cadeira, ele olha para a estante ao

seu lado, levanta e afasta os livros revelando a garrafa de
uísque. Elder pega a garrafa e serve uma dose em um copo ao
lm
lado. Ele guarda e senta novamente com o copo em mãos.
Elder dá um grande gole e coloca o copo na mesa em frente a

foto de Rosa. Ele fica envergonhado por estar bebendo. Elder
es
pega o copo e joga o restante em um pequeno lixo ao lado da

sua mesa. Ele olha o porta retrato, pega o telefone e liga
para ela. Ela não atende e cai direto na secretária
eletronica e deixa uma mensagem.
31.
ELDER (CONT’D)
Pr
Você tem razão, você sempre foi a
forte do nosso relacionamento... e
eu... eu esse bosta mimado. Me
desculpa por tudo... Por não estar
op
na horas que você precisa... Eu sei
que você precisa de mim... quero
dizer do apoio... principalmente
por causa da nossa filha... vem pro
er
hotel, vamos conversar... beijos.
Elder desliga, ele se sente mais leve, aliviado com a

ty
perspectiva positiva. Ele procura na mesa pelo cartão de
visita do Carlos mas não encontra. Elder pega novamente o
telefone e liga para o quarto 31. O telefone toca por um
longo tempo mas ninguém atende. Ele desliga irritado,
Og
frustrado com a situação.
ELDER (CONT’D)
Garoto de merda...
er
Elder levanta e sai do escritório.

Se
Elder sai da sua sala e vê na porta do hotel Otília

conversando com Carlos Rosebaun. Elder caminha em direção aos
dois, Carlos sorri.
po
ELDER
Era você mesmo que eu estava
procurando.
l&
Carlos se faz de surpreso.
ELDER (CONT’D)
Podemos conversar no meu
Mo
escritório?
Carlos sorri e os dois vão até a sala de Elder.

ro
Carlos entra na sala seguido por Elder.

Fi
ELDER
Pode sentar.
lm
CARLOS ROSEBAUN
Estou confortável em pé.
Elder também fica de pé. Os dois estão de frente um para o

es
outro. É aparente o grau de satisfação de Carlos em ver Elder

tentando uma aproximação.
32.
ELDER
Pr
Eu li o contrato, topo assinar mas
queria mudar algumas das
exigências.
op
Carlos olha para o chão, vê o contrato rasgado e sorri.
CARLOS ROSEBAUN
Que parte de 24 horas você não
er
entendeu?
Elder fica sério, percebe que Carlos estava debochando. Ele

ty
volta a fazer o barulho irritante com a caneta.

Vou deixar algo bem claro para
Og
você. Esse hotel você já perdeu

para mim. Agora eu só quero que
você se foda. Quanto mais melhor,
vai deixar a compra mais barata
entende?
er
Carlos caminha em direção a porta.

Se
E pelo o que eu tô vendo, você está

fazendo um excelente trabalho.
Elder não consegue reagir. Ele olha para Carlos atravessando

po
a recepção em direção a porta do hotel. Antes de sair ele

fala algo no ouvido de Otília, dá um tchau para Elder e sai.
Otília olha para Elder mas desvia o olhar e sai.
l&
Elder vai até o balcão da recepção, olha para o painel de

chaves mas não consegue perceber se alguma coisa está
faltando, ele pega o livro de hóspedes e não encontra nenhuma
saída para aquele dia ou o anterior.
Mo
Elder pega a chave reserva na gaveta da recepção. Ele olha

novamente para o armario de chaves mas não consegue sentir
falta de nada. Elder sai em direção ao elevador.
ro
A porta do elevador se abre, Elder sai caminhando a passos

rápidos até a porta do quarto 31. Elder encosta o ouvido na
Fi
porta. Escuta o som da TELEVISÃO ligada. Ele bate mas ninguém

responde. Elder abre a porta com a chave reserva porém ela
está travada por dentro.
lm
Elder bate com a mão aberta, aquela situação lhe deixa cada
vez mais tenso pois não sabe o que o espera dentro do quarto.
es
ELDER
Tem alguém aí?
33.
O som de tv ligada continua mas ele não escuta nada diferente

Pr
disso. Ele bate novamente com mais força. Uma GAROTA, cabelos
compridos, olhos verdes, mas avermelhados pelo uso de bebida
e drogas, maquiagem exagerada, com meias pretas e enrolada em
uma toalha, aparece timidamente na fresta da porta. Elder
op
consegue ver Luciano, deitado na cama, ele parece
inconsciente. A garota, com os olhos vidrados, fica parada em
frente de Elder. Ele demora alguns segundos para reagir.
er
ELDER (CONT’D)
Está tudo bem com vocês? O que
aconteceu com o Luciano?
ty
GAROTA
Como é que você abriu a porta?
Og
ELDER
Eu sou o dono do hotel... Abra a
porta!
er
A garota tira a trava interna da porta. Elder empurra e entra

no quarto.
Se
ELDER
Há quanto tempo ele está assim?
po
Elder senta na beira da cama e checa o pulso do rapaz. A

garota sai de perto da porta e senta em frente à televisão,
onde passa um filme erótico, e ignora completamente a
presença de Elder. Ele tenta, com movimentos bruscos, acordar
l&
o rapaz que depois de uns dois grandes tapas reclama,

balbuciando alguma coisa e volta a dormir. A garota continua
vidrada na televisão, sem tirar os olhos. A toalha desliza
revelando um pouco mais do seu belo corpo.
Mo
Elder não consegue evitar de olhar para a jovem menina, ele

olha para a mesinha do quarto e repara algumas carreiras de
cocaína. Elder olha para a porta aberta. O suor escorre por
seu rosto enquanto tenta novamente acordar Luciano, sem
sucesso. Elder se aproxima da garota.
ro
ELDER (CONT’D)
Escuta, se vocês não fizerem o que
vou dizer, vai acabar todo mundo
Fi
fodido. Tá ouvindo? Vou mandar

alguém trazer um café pra vocês.
Acorde ele e parem de cheirar essa
lm
merda. Vocês não vão foder com o

meu hotel, tá entendendo?
Ele levanta e limpa rapidamente o quarto, sem tirar os olhos

es
da garota, agora deitada sensualmente com o corpo no chão e

as pernas estiradas sobre a cama.
34.
Ele não se contém, se aproxima da mesa de cabeceira e ao

Pr
perceber que ninguém o observa cheira uma carreira de cocaína
que está sobre a mesa, limpa o resto e volta a sentar em
frente à garota.
op
ELDER (CONT’D)
Você me entendeu? Preciso da sua
ajuda.
er
A Garota se ajoelha ao lado de Elder, faz sinal que não com a
cabeça e mexendo seus lábios sensualmente diz em um sussurro.
ty
GAROTA
Não...
Ela se aproxima de Elder e o beija na boca. Elder se entrega

Og
por alguns segundos ao beijo mas volta à si. Ele segura ela
pelos ombros, a afasta, levanta e sai do quarto.

er
Elder fecha a porta do quarto e respira fundo para se

recompor. Ele atravessa, a passos rápidos, o corredor até o
elevador. Enxuga o rosto suado e em seguida, com as mãos
Se
trêmulas, chama o elevador. A droga começa a surtir efeito,

ele ri de nervoso ao lembrar do que acabou de acontecer.
po
48 INT. ELEVADOR HOTEL - DIA 48
Elder entra no elevador e olha para o painel. Ele lembra do

sonho que teve na noite anterior.
l&
Flashes da mulher, dos seus lábios, suas pernas, seu corpo,

Mo
tumultuam sua mente.
50 INT. - ELEVADOR HOTEL - DIA 50

ro
Ele aperta o botão do térreo e o elevador desce.

Fi
Elder sai do elevador e olha para os lados. Percebe que a

recepção está vazia. Ele vai direto para o balcão do lobby e
lm
novamente começa a observar, com cuidado, o armário das

chaves. Percebe que a chave do quarto 84, não está ali. Ele
vira, pega o livro de registros e começa a checar quem está
no quarto. Percebe que nos ultimos três dias foi feito um
es
check in mas não tem o registro do nome de ninguém. Ele fecha

o livro e volta em direção ao elevador que ao chegar no
terréo, sai Otília com uma grande enceradeira.
35.
Otilia olha para Elder e estranha o nervosismo do chefe, ele

Pr
parece estar mais esquisito do que geralmente o é. Elder
tenta não olhar nos olhos da funcionária enquanto ela sai. Ao
ver que Otília está encarando decide conversar.
op
ELDER
Vou resolver alguns problemas no
oitavo andar...
er
Nisso ele já entrou no elevador e a porta já está se
fechando. Otilia vê o elevador partir e volta para o seus
afazeres.
ty
52 INT. CORREDOR OITAVO ANDAR - DIA 52

Og
A porta do elevador se abre e Elder caminha para a porta do

quarto 84. Ele olha para as portas dos outros quartos, todas
estão com cadeado. Ao se aproximar do quarto 84, ele checa se
está sozinho no corredor. Elder percebe que a porta não tem
nenhum cadeado. Ele se ajoelha e encosta o ouvido na porta
er
mas não escuta nada. Tenta olhar através da antiga fechadura

mas também não vê nada.
Elder coloca a chave mas a porta está aberta. O barulho do

Se
antigo elevador descendo assusta Elder mas ele volta sua

atenção para o quarto e entra.
po
As cortinas estão fechadas deixando o quarto bem escuro.

Elder acende a luz e vê tudo completamente bagunçado, sujo e
l&
quebrado. Ele não consegue entender o que pode ter acontecido

ali dentro.
Elder vai ao lado da cama observando a sujeira do quarto, ao

olhar para trás ele se assusta ao ver a mulher, machucada
Mo
dentro do banheiro. Ela vê Elder e fecha assustada a porta.

Elder tropeça e cai em cima do abajur da mesa de cabeceira e
acaba se cortando. Ele sangra e suja o chão do quarto.
Ele volta a levantar e vai em direção ao banheiro. Elder

ro
escuta alguém tentando abrir a porta. Assustado ele olha ao

redor e vê uma garrafa vazia. Ele a pega e com cuidado se
aproxima da porta na defensiva.
Fi
A porta abre e ele vê Rosa na entrada do quarto. O sorriso do

rosto dela se transforma em decepção. Elder segue o olhar da
sua mulher e percebe que ainda segura a garrafa vazia. Rosa
lm
sai a passos rápidos e ele vai atrás dela com a mão

sangrando.
es
Elder chama por Rosa.

36.
ELDER
Pr
Rosa!
ROSA
O que é Elder?
op
ELDER
Rosa... eu estava... eu to
preocupado com uma hóspede...
er
ROSA
É isso que voce faz o dia todo? É
ty
essa merda? Se olha no espelho!!!
Elder tem um impulso de raiva e eleva o tom de voz.

Og
ELDER
Voce não entende! Essa porra tá
saindo do controle.
Ela não acredita no que está vendo e tendo que ouvir. Ela se
er
recrimina por ter acreditado que algo podia ser diferente.
ROSA
Eu to vendo.
Se
Rosa dá as costas para Elder e caminha rapidamente em direção

ao elevador. Elder fica atônito com a situação e com sua
reação. Ele olha para o quarto e volta a ver Rosa saindo. Ela
po
aperta o botão do elevador, que abre as portas. Somente nesse

momento Elder corre em direção de Rosa.
ELDER
l&
Rosa, espera...
A porta se fecha. Elder tenta apertar o botão, mas a porta

não se abre. Ele chuta a porta do elevador e corre em direção
à escada.
Mo
Elder chega a tempo de escutar os últimos passos de Rosa

ro
ecoando pelo saguão.
ELDER
Rosa, espera!
Fi
Ela não lhe dá ouvidos. Elder pode ouvir, cada vez mais
baixo, o som do salto-alto contra a calçada. Elder vai até a
lm
porta e vê Rosa entrando em um taxi. Frustrado, volta e vai a

passos rápidos em direção ao elevador. Otília observa com a
enceradeira desligada. Ele pára e se vira para ela.
es
ELDER (CONT’D)
Otília!
37.
Otília desconfia que alguma coisa está errada, Elder não

Pr
aparenta estar bem. Porém ela não fala nada, apenas o escuta.
ELDER (CONT’D)
Leva um café reforçado no quarto
op
31, deixa na porta. Não fique
bisbilhotando, só deixe o café e
saia.
er
Elder entra no elevador.
ty
Elder sai do elevador e vai direto para a porta do quarto 84

que está fechada. Ele chega próximo e toma cuidado para não
Og
fazer nenhum barulho.
Ele bate na porta mas ninguém responde. Elder respira fundo e

abre novamente a porta.
er
Elder entra no quarto e observa mais uma vez a bagunça. Ele

Se
percebe que a porta do banheiro está fechada. Ele se aproxima

com cuidado e coloca o ouvido, tentando escutar alguma coisa.
Silencio. Ele então bate na porta e nada. Decide tentar abrir

po
a porta. Ela parece emperrada. Elder faz um pouco de força e

a porta abre toda de uma vez revelando o banheiro vazio.
CORTA PARA PRETO

l&
Elder pega a garrafa escondida de uísque, senta em sua

Mo
cadeira e acende um cigarro. Ele pega o copo que está no

lixo, enche e bebe um grande gole.
Ele pega no bolso o papelote de cocaína, abre e estranha ao

ver que só tem um pouco. Ele espalha em cima da mesa e arruma
ro
uma carreira, cheirando em seguida. Ele sorri ao curtir a

droga e sentir um impulso de energia.
Elder pega o cigarro, dá uma baforada, pega o telefone e

Fi
disca o ramal do quarto 31. O telefone chama uma vez. Ele dá

mais um grande gole do copo, e continua com o seu cigarro na
boca. O telefone continua a chamar. Elder está irritado.
lm
Chama mais uma vez. Ele bate sobre a mesa, com os nós dos
dedos, de raiva.
ELDER
es
Atende essa porra!
Finalmente, uma voz feminina responde.

38.
GAROTA
Pr
Alô?
ELDER
O Luciano já acordou?
op
A garota parece segurar o choro ao falar. É possível perceber
seu nervosismo.
er
GAROTA
(sussurra)
Sim... Mas... eu to com medo...
ty
Enquanto a garota fala é possível ouvir Luciano gritando

atrás perguntado o que ela está fazendo.
Og
GAROTA (CONT’D)
O pó dele sumiu... Ele tá quebrando
tudo.
A ligação cai. Elder bate o telefone repetidas vezes na mesa.

er
Ele então respira fundo, tentando se controlar para não

quebrar o telefone e o coloca novamente no gancho.
Elder pega um comprimido e toma dando um grande gole do

Se
uísque enquanto segura na outra mão o cigarro. Seus olhos se

deparam com a fotografia de Rosa no porta-retratos. Ele olha
fixamente para a esposa, ele se aproxima da sua mesa, deixa o
copo e o cigarro de lado e volta a olhar a fotografia. Ele
po
está triste, abatido e se ajoelha tentando descansar. Está

envergonhado, ele coloca as duas mãos em frente ao rosto e
respira fundo.
l&
59 INT. QUARTO HOTEL - NOITE 59
SONHO ELDER. POV. A mulher está amarrada na cama do hotel,

seus olhos estão vermelhos e inchados, ela chora enquanto
Mo
pede para que ele pare. Seus cabelos cobrem parte do seu
rosto. O homem tira o cabelo do rosto e coloca a mão na boca
dela. Ela o morde, ele reage dando um soco no rosto dela e
ela desmaia.
ro
CORTA PARA PRETO.

Fi
Elder acorda assustado, demora alguns segundos para perceber

que está em seu escritório. Ele olha para a fotografia de
lm
Rosa sobre a mesa. O porta-retratos cai, ele não arruma.

Elder termina de beber o uísque que está na garrafa. Ele bebe
de uma só vez, levanta e sai.
es
39.

Pr
Elder vai ao balcão onde está Thomas, ele olha a estante onde
estão guardadas as chaves dos quartos. Olha para o quarto 84
mas não encontra nada. Thomas se assusta com a aparencia e o
op
jeito nervoso de Elder.
THOMAS
Tá tudo bem seu Elder?
er
ELDER
Cadê a chave do 84?
ty
THOMAS
Se não está aí, deve estar com o
hóspede.
Og
Elder se irrita com a resposta. Ele se aproxima bravo de

Thomas, que está nervoso com o comportamento exaltado do
chefe.
er
ELDER
Como é que tem alguém nesse quarto
se eu tinha fechado para uso?
Se
Elder vê que só está piorando, respira fundo e volta a

conversar com o funcionário.
ELDER (CONT’D)
po
Você pelo menos sabe quem estava

nesse quarto?
Thomas gagueja.
l&
THOMAS
Não.. eu... mas...
Thomas vai afobado para perto do balcão e pega o livro de

Mo
registros.
THOMAS (CONT’D)
Tem uma entrada no livro de
registros... para o quarto 84.
ro
Thomas mostra o livro para o Elder.
ELDER
Fi
Mas cade o nome da pessoa? Quem fez

o check in? Você não viu nada?
lm
THOMAS
Não vi não seu Elder... Eu fiquei
por aqui a noite toda e não passou
ninguém.
es
Elder sai e caminha apressado até o elevador.

40.
62 INT. QUARTO 84 - NOITE 62

Pr
Elder abre a porta, acende a luz e volta a analisar a bagunça
do quarto. As diversas garrafas de bebidas espalhadas, a cama
desarrumada, toalhas no chão, cinzeiros cheios e marcas de
op
cigarros e sangue no lençol e nos travesseiros.
Dessa vez ele analisa tudo de maneira minuciosa. Ao passar

por uma das mesinhas de cabeceira, Elder se abaixa e passa a
er
mão devagar no tampo. Ele experimenta o pó branco, e confirma
ser cocaína. Elder senta na beirada da cama e observa aquela
situação tentando entender o que aconteceu. Ele está distante
ty
quando Otília entra no quarto.
OTÍLIA
Acho que o senhor não tem mais como
Og
não chamar a polícia, isso aqui

virou um inferno. O que aconteceu
nesse quarto?
Elder não se assusta com a presença da funcionária e, com os

er
olhos cada vez mais vermelhos, continua a observar o lugar.
ELDER
Otília, onde está a hóspede desse
Se
quarto? Você a viu?
OTÍLIA
Não, seu Elder. Nem faço questão de
po
conhecer.
Elder, sem responder, sai do quarto com Otília em seu

encalço.
l&
Elder vasculha, mais uma vez, o livro de hóspedes agora sob

Mo
os olhos atentos de seus funcionários.
ELDER
Ninguém viu essa mulher? Nunca?
ro
Ele mostra a assinatura no livro de entradas do hotel, mas é

só um rabisco.
THOMAS
Fi
Eu tenho certeza que não vi.
OTILIA
lm
Eu também não, seu Elder. Mas como

voce sabe que é uma mulher?
A porta do elevador se abre, Elder olha a garota do quarto 31

es
correr, com as roupas sujas de sangue, em direção à saída do

hotel. Ela desaparece rapidamente.
41.
OTÍLIA
Pr
Eu vou chamar a polícia antes que
alguém morra nesse maldito hotel.
Elder não detém Otília, ela se aproxima do telefone e o tira

op
do gancho mas desliga assim que percebe que Elder caminha
decidido até o elevador.
OTÍLIA (CONT’D)
er
Eu vou junto com o senhor.
ty
64 INT. CORREDOR TERCEIRO ANDAR - NOITE 64
Otília e Elder se deparam com a porta fechada do quarto 31.

Elder bate forte na porta.
Og
ELDER
Luciano, é o Elder.
Elder aguarda impaciente mas ninguém responde. Ele volta a

er
bater, cada vez mais forte, na porta.
ELDER (CONT’D)
Luciano!
Se
Otilia interrompe.
OTÍLIA
po
O senhor pode usar a chave reserva.
Elder pega o molho de chaves que Otília está segurando e

tenta abrir a porta.
l&
ELDER
Ele colocou alguma coisa na
fechadura. Filho da puta!
Mo
Ele volta a bater na porta com os nós dos dedos, para em

seguida começar a esmurrar. Elder perde o controle e joga o
corpo contra a porta. A chave quebra em sua mão quando
forçada.
ro
ELDER (CONT’D)
Abra essa porta, seu merda! Voce
não vai fuder com o meu hotel! Se
eu entrar aí vou te encher de
Fi
porrada, garoto de merda!
Nervosa, Otília puxa Elder para afastá-lo da porta. Elder

lm
empurra Otilia e ao perceber que está completamente fora de

controle ele pára e tenta a se acalmar, respirando fundo. Ele
percebe que Otília o observa assustada. O silencio só é
quebrado pela voz de Luciano.
es
42.
LUCIANO (V.O.)
Pr
Se tentar me tirar daqui eu me jogo
pela janela. Eu me mato, tá me
ouvindo? Vão embora porra!
op
Elder continua parado na mesma posição. Ele bate a cabeça
suavemente contra a porta, sua mão aperta o molho de chaves
até ficar vermelha e trêmula.
er
Otília sai assustada em direção ao elevador. Elder se encosta
na porta do quarto 31 e senta no chão. Agora um pouco mais
calmo ele volta a falar.
ty
ELDER
Luciano, está ouvindo?
Og
LUCIANO (V.O.)
O que é que você quer, porra?
Elder respira fundo antes de voltar a falar.

er
ELDER
Luciano é o Elder...
LUCIANO (V.O.)
Se
Aquela vagabunda... Jogou tudo

fora...
ELDER
po
(sussurra)
Garoto de merda...
Elder pensa no que fazer, ele se aproxima da porta e tenta

l&
falar da maneira mais calma possível.
ELDER (CONT’D)
Luciano, vamos resolver isso. O que
voce quer? Mais tempo? Mais pó?
Mo
A porta se abre e Elder vê Luciano voltar a sentar na cama.

Seus olhos estão vermelhos e sua aparência é de exaustão
extrema.
ro
Elder se identifica com a situação e por mais que sua vontade

seja tirar aquele homem à força ele tenta resolver sabendo em
como ele se sente. Elder fica na porta, Luciano conversa com
Elder da cama.
Fi
LUCIANO
Cara eu preciso de um teco, só um
lm
pouco.
ELDER
Eu te ajudo. Eu trago o suficiente
es
pra você sair dessa. Mas você me

ajuda e sai do hotel.
Luciano não responde.

43.
ELDER (CONT’D)
Pr
Entendidos?
Luciano ri.
op
LUCIANO
Cara, me consegue um pouco de pó e
eu te ajudo com o que você quiser.
er
Elder fecha a porta e sai.
ty
Otília e Thomas conversam atrás do balcão quando Elder sai do

elevador, eufórico com a possibilidade de buscar a droga.
Og
OTÍLIA
Vai embora, seu Elder?
Elder não dá tempo de Otilia falar. Ele responde e vai

er
caminhando em direção a saida.
ELDER
Já volto.
Se
Otília sai de trás do balcão correndo e se joga na frente de

Elder.
po
OTÍLIA
Seu Elder, o que a gente vai fazer.
Acho melhor chamar a polícia, o
senhor não acha?
l&
Elder vira para Otília irritado.
ELDER
A gente não tem que fazer nada. Eu
Mo
já estou resolvendo. Conversei com

ele e está tudo bem. Preciso sair
resolver um problema e já volto.
Elder volta a sair do hotel.

ro
ELDER (CONT’D)
Não precisa ligar para ninguém.
Fi
Otília e Thomas observam o chefe sair do hotel.

lm
Elder sai do hotel e caminha a passos rápidos pelo centro da

cidade. Ele novamente passa por pessoas bebendo, travestis,
es
prostitutas, risadas e quando percebe está na frente do bar

do Osvaldo e entra.
44.
67 INT. BAR - NOITE 67

Pr
Elder entra no bar olhando para os lados para ver se ninguém
está seguindo. Ele se aproxima do balcão do bar mas não
encontra Osvaldo. No bar somente um casal jogando bilhar.
op
Elder tira o celular do bolso e liga. Osvaldo sai dos fundos,
elder desliga o telefone.
OSVALDO
er
Vai chover! Dois dias seguidos!
Osvaldo se aproxima e abraça Elder que continua sério e

ty
preocupado.
OSVALDO (CONT’D)
Cara você tá pior que da outra vez.
Og
Que porra você tá fazendo?
Elder se aproxima de Osvaldo e fala baixo.
ELDER
er
Eu preciso de mais um pouco, uns 50

reais.
Osvaldo senta do lado do amigo.

Se
OSVALDO
Porra Elder, tenta relaxar cara.
Vai pra casa, vai dormir.
po
ELDER
Porra Osvaldo! Não to afim de
conversar caralho. Me consegue ou
l&
não?
Osvaldo pega do balcão um copo e uma garrafa de cachaça e

serve uma dose. Sem pressa ele dá um gole e volta a conversar
com Elder.
Mo
OSVALDO
Eu sempre invejei você, a tua vida--
ELDER
ro
--Minha é vida é uma merda!
OSVALDO
Ela pode tá uma merda.
Fi
Ele dá mais um gole na cachaça.

lm
OSVALDO (CONT’D)
E uma boa parte da merda a culpa é
tua.
es
Osvaldo sorri.
45.
OSVALDO (CONT’D)
Pr
Você sempre foi meu amigo. E sempre
foi um mimado da porra.
Elder levanta irritado com a conversa. Osvaldo termina a

op
cachaça e levanta encarando o amigo.
OSVALDO (CONT’D)
Tudo na tua vida veio fácil meu
er
amigo.
ELDER
ty
Herdar aquele hotel arruinou a
minha vida.
Osvaldo ri.
Og
OSVALDO
Foda-se o hotel. E as coisas fodem,
a vida nos fode, tudo fode. (pausa)
Você sabe o que eu daria pra ter um
er
relacionamento igual ao teu...
Elder olha nos olhos de Osvaldo.

Se
OSVALDO (CONT’D)
Tudo.
ELDER
po
Meu relacionamento tá longe de ser

perfeito.
OSVALDO
l&
Nada é perfeito.
Osvaldo sai e vai para dentro do bar. Ele volta logo em

seguida, abre a mão de Elder e lhe entrega dois papelotes de
cocaína.
Mo
ELDER
Obrigado, é só pra resolver um
problema no hotel--
ro
OSVALDO
Essa é a ultima vez que eu te
vendo.
Fi
Elder fecha a mão, guarda os dois papelotes no bolso e sai.

lm
Otília está atrás do balcão quando Elder entra no hotel

afobado.
es
OTÍLIA
Seu Elder.
46.
Ele passa sem lhe dizer uma palavra, e caminha direto em

Pr
direção ao elevador. Otília sai rápido em direção de Elder.
OTÍLIA
Seu Elder!
op
ELDER
O que foi Otília?
er
Elder pára e Otília chega ofegante ao seu lado.
OTÍLIA
ty
Aquele advogado veio aí no hotel.
ELDER
O que ele queria?
Og
OTÍLIA
Saber de coisas do hotel. Conversou
com o Thomas também.
er
ELDER
Tá, obrigado Otília. Depois a gente
conversa.
Se
Elder entra no elevador.
69 INT. CORREDOR HOTEL - NOITE 69

po
Elder bate na porta do quarto 31, ninguém responde. Ele bate

um pouco mais forte e chama por Luciano.
l&
ELDER
Luciano, é o Elder.
Elder aguarda mais um pouco e a porta se abre com a trava de

segurança. Vemos a mão de Luciano esticada. Elder tira do
Mo
bolso um dos papelotes e o entrega.
LUCIANO
Obrigado.
ro
ELDER
Você tem trinta minutos--
A porta se fecha.
Fi

lm
Luzes de um carro de polícia iluminam a recepção. Dois

policiais entram no hotel e vão até ao balcão. Os dois são
recebidos por Otília.
es
POLICIAL SANTOS
Boa noite, o responsável pelo hotel
se encontra?
47.
OTÍLIA
Pr
Seu Elder está no hotel, já deve
voltar. Em que posso ajudá-los?
Nesse momento Elder sai do elevador e se depara com os dois

op
policiais. Ele fica extremamente supreso com a presença dos
mesmos.
OTÍLIA (CONT’D)
er
Esse é o proprietário, seu Elder.
POLICIAL SANTOS
ty
Recebemos um chamado para o seu
hotel, uma ocorrência.
ELDER
Og
Ocorrencia?
Elder demora um pouco para processar o que está acontecendo.

Ele olha irritado para Otília que faz uma cara de também não
entender o que está acontecendo.
er
ELDER (CONT’D)
Desculpa mas não tô entendendo,
quem fez a chamada?
Se
SANTOS
Tivemos uma chamada anônima,
pertubação do sossego e lesão
po
corporal. Aparentemente você tem um

hóspede problemático.
Elder olha para Otília que observa a conversa do balcão da

l&
recepção. Ele volta a olhar para Santos e sorri sem graça.
ELDER
Realmente tivemos um rápido
problema com um hóspede mas já está
Mo
tudo resolvido. Agradeço a

preocupação de vocês e peço
desculpa por qualquer incoveniente.
SANTOS
ro
O hóspede ainda se encontra no

hotel?
Otília sai detrás do balcão e se intromete na conversa antes

Fi
que Elder possa responder.
OTÍLIA
lm
Só pode ser o do quarto 31. Eu

falei que ele ia dar problema,
louco daquele jeito.
es
Elder sorri sem graça.

48.
ELDER
Pr
Obrigado Otília, não tem nada pra
resolver no hotel não?
OTÍLIA
op
Não...
Elder olha irritado para funcionária que rapidamente sai da

recepção.
er
ELDER
Como eu disse, tivemos um pequeno
ty
problema mas já está sob controle.
Nesse momento entra no hotel Tavares, ele cumprimenta os dois

policiais e mostra seu distintivo de policial civil.
Og
TAVARES
Delegado Tavares, boa noite.
Ele cumprimenta Elder que não entende a chegada de um

er
delegado. Tavares volta a conversar com Santos.
TAVARES (CONT’D)
Vocês se incomodam se eu
Se
acompanhar?
SANTOS
De forma alguma delegado.
po
ELDER
Como eu disse, agradeço a
preocupação mas está tudo certo.
l&
Tavares ignora o comentário de Elder e continua conversando

com Santos.
TAVARES
Mo
Problemas com hóspede?
SANTOS
Pertubação de sossego e lesão
corporal.
ro
TAVARES
Então vamos bater um papo com o
meliante.
Fi
Elder não responde. Ele pensa nas possibilidades e no risco

do policial subir sozinho e responde.
lm
ELDER
Então vamos todos.
es
Elder caminha em direção ao elevador, os dois policiais o

acompanham e Otília que parecia ter saído volta rapidamente e
se junta ao grupo.
49.
71 INT. ELEVADOR HOTEL - NOITE 71

Pr
Elder, Tavares, Santos e Otilia estão dentro do elevador.
Elder tenta descontrair com Tavares.
op
ELDER
Não sabia que delegado atendia
ocorrencia.
er
Tavares ignora e Elder continua com a conversa tentando se
explicar.
ty
ELDER (CONT’D)
Bom, esse tipo de problema não
acontece no hotel...
Og
O elevador pára, a porta se abre e todos saem.
72 INT. CORREDOR TERCEIRO ANDAR - NOITE 72

er
Elder e Tavares caminham atrás, em direção ao quarto,

conversando e logo a frente está Santos com a Otilía.
ELDER
Se
Ele teve um desentendimento mais

cedo com uma mulher mas nada
preocupante.
po
TAVARES
Você devia ter ligado pra polícia
logo que o rapaz começou a criar
problemas.
l&
ELDER
Um escândalo é tudo o que o hotel
não pode ter.
Mo
Eles param em frente ao quarto. Elder fala baixo com Tavares.
ELDER (CONT’D)
Ele deve estar dormindo, não vejo a
urgencia disso. Posso passar os
ro
dados do hóspede para vocês

conversarem em um momento mais
oportuno.
Fi
Tavares olha atentamente para Elder. Elder seca o suor com a

manga da camisa.
lm
SANTOS
A porta por favor.
es
Elder coloca a mão na cabeça.

50.
ELDER
Pr
Esqueci a chave mestra, vou ter que
descer buscá-la.
Elder sai em direção ao elevador mas Otília faz questão de

op
falar alto.
OTILIA
Não se preocupe, eu tenho a minha!
er
Elder olha com raiva para Otília e volta. Santos fica na
frente de todos e bate na porta.
ty
SANTOS
Luciano é a polícia, podemos
conversar?
Og
Santos bate mais uma vez na porta mas ninguém responde.

Tavares assume o comando, ele bate na porta que, para espanto
de todos, abre.
er
73 INT. QUARTO 31 - NOITE 73
Os policiais entram na suíte, Elder no encalço dos dois.

Se
TAVARES
Com licença, a porta estava aberta.
Será que podemos conversar.
po
Tavares se aproxima de uma pequena mesa e passa os dedos pela

superfície e confirma serem restos de cocaína. O Policial
Santos encontra Luciano deitado no chão, ao lado da cama. Seu
l&
rosto está coberto com vomito e cocaína. Ele está

inconsciente. Tavares rapidamente se ajoelha ao lado de
Luciano e verifica seu pulso.
TAVARES (CONT’D)
Mo
Santos, uma ambulância.
Santos sai do quarto e Otília o acompanha extremamente

assustada. Tavares coloca Luciano de lado e checa seu pulso.
Elder está absorto com o que está acontecendo. Ele não sabe o
ro
que fazer ou como reagir. Tavares pede ajuda para Elder.
TAVARES (CONT’D)
Pega uma toalha no banheiro.
Fi
Elder não reage.

lm
74 INT. - CARRO - NOITE 74
Flashes do SONHO ELDER. POV. Vemos o corpo da mulher sendo

es
colocado no banco de trás de um carro.

51.

Pr
Ao fundo o berro de Tavares.
TAVARES
op
Uma toalha! Agora porra!
76 INT. - CARRO - NOITE 76

er
Os flashes continuam. POV. O carro anda pelas ruas da cidade.
O homem olha repetidas vezes para o banco traseiro onde está
ty
a mulher desmaiada. Ele passa a mão pelo corpo dela,
acariciando suas pernas e seu rosto. Um movimento brusco faz
com que ele olhe para frente e vemos o carro entrar no
estacionamento de um prédio abandonado.
Og
Tavares bate no ombro de Elder enquanto corre para o

er
banheiro, tirando do estado catatônico.
TAVARES
Uma toalha caralho!
Se
Tavares volta com uma toalha que rapidamente limpa o rosto de

Luciano. Ele pede ajuda para Elder com as mãos e os dois
colocam Luciano em cima da cama. O policial começa
po
imediatamente os procedimentos de ressucitação. Elder somente

observa e vai ficando cada vez mais nervoso. Ele sua muito,
continua sem saber o que fazer, ele senta em frente a cama e
assiste impressionado.
l&
CORTA PARA PRETO.

Mo
Otilia e Thomas observam, impressionados, a movimentação dos

socorristas e policiais. Elder e Tavares saem do elevador e
Otilia rapidamente vai em direção deles.
ro
OTÍLIA
Pelo amor de deus, tá tudo bem?
Otília está muito assustada com tudo que está acontecendo.

Fi
Tavares puxa Elder para um canto da recepção, um pouco mais

afastado do resto do pessoal, deixando Otília para trás.
Elder está pálido, sua muito. As noites mal dormidas com o
lm
consumo de bebida e drogas deixaram Elder em exaustão.
TAVARES
Vá pra casa, descanse. Amanhã, umas
es
nove da manhã conversamos com

calma, pode ser?
52.
ELDER
Pr
Ele vai ficar bem?
TAVARES
Aparentemente sim.
op
Tavares agradece com um tapa nas costas de Elder, ele lhe
entrega um cartão e se afasta. Elder guarda o cartão e
caminha em direção a Otília ao perceber que ela o encara,
er
Thomas está ao seu lado.
ELDER
ty
Eu vou pra casa. Combinei de
conversar com o delegado amanhã de
manhã. Thomas, me liga... melhor
não me liga, amanhã eu descubro se
Og
aconteceu mais alguma coisa.
Elder ri e sai. Otília sai detrás do balcão e corre até o

delegado.
er
OTÍLIA
Seu delegado?
Tavares se aproxima de Otília.

Se
OTÍLIA (CONT’D)
Isso nunca aconteceu no hotel.
po
TAVARES
Eu acredito.
OTÍLIA
l&
Só queria saber se vai ficar tudo

bem com o hóspede do 31.
TAVARES
Ele teve uma overdose mas chegamos
Mo
a tempo, ele vai ficar bem.
OTÍLIA
E a mulher do 84?
ro
TAVARES
Que mulher do 84?
OTÍLIA
Fi
A que desapareceu?
CORTA PRA PRETO.

lm
79 EXT./INT. RUAS DA CIDADE / CARRO - DIA 79

es
Elder dirige imprudente pela cidade. Ele liga o rádio.

53.
RÁDIO (V.O.)
Pr
... a inflação continua subindo e
fechou o ultimo mês em 1,2 pontos
acumulando 8,5 pontos no ano.
VINHETA - KBN sua rádio de
op
notícias. Nas notícias locais,
filho do desembargador Eliês Neto
foi internado por overdose depois
de ser encontrado em um hotel do
er
centro da cidade.
Elder desliga o rádio sem acreditar no que ouviu. Ele está

ty
exausto. Ele tira o papelote de cocaína do bolso e enquanto
dirige pega um cartão e sem cerimonias cheira uma grande
quantidade de pó. Ele sente uma forte pontada na cabeça.
Og
CORTA PARA PRETO

er
Elder acorda assustado, suas roupas estão amassadas, sujas.

Ele está com uma aparência horrível e machucados no rosto.
Ao se situar que está no seu apartamento ele levanta, sua

Se
cabeça dói pelos machucados. Elder passa a mão na cabeça e vê

um pouco de sague mas não se preocupa com o fato. Ele vai até
o bar e bebe um grande gole do uísque na garrafa.
po
Elder tenta abrir a porta do quarto mas está trancada. Ele

bate mas ninguém responde. Ele volta, tira a camisa e deita
no sofá. O calor intenso, os efeitos da droga e da bebida
fazem ele transpirar bastante. Ele tira do bolso o papelote
l&
com cocaína e joga em cima da mesa de centro.
Elder fecha os olhos ainda sentado, tentando recapitular o

dia. Ele volta a olhar o papelote, olha em direção ao seu
quarto, mas a porta ainda está fechada. Ele liga a televisão
Mo
e deixa o volume no mínimo.
Elder espalha a droga sobre a mesa de centro. Prepara uma

carreira e se abaixa para cheirar. No que ele levanta a
cabeça sente de imediato uma tontura.
ro
81 INT. - GALPÃO - NOITE 81

Fi
Ele vê imagens POV. O homem caminha com a mulher no colo até

uma imensa mesa industrial, ele a deita e sem pressa prende
seus braços e pernas à cama. Ele observa com calma o belo
lm
corpo da mulher que revela as pernas e uma parte dos seios.
82 INT. - SALA APTO ELDER - NOITE 82

es
Elder acorda assustado, olha para os lados, tentando se

localizar e vê Rosa em sua frente.
54.
ROSA
Pr
Você é um mimado de merda Elder.
Você nunca vai mudar.
Os olhos de Rosa se enchem de lágrimas.

op
ROSA (CONT’D)
Você podia pelo menos ter tentado.
er
Rosa vira as costas e sai rápido. Ela entra e bate a porta
enquanto Elder a observa do sofá. Ele prepara concentrado
outra grande carreira enquanto fala alto para Rosa escutar.
ty
ELDER
Você não entende, tem vida em
risco. É por isso que eu tava no
Og
quarto... lá no 84. A chave sumiu.

E a mulher tá correndo risco..
Ele cheira a grande carreira de uma só vez e levanta a voz

ainda falando alto e briganddo.
er
ELDER (CONT’D)
Agora tem esses merdas de policiais
que vão me foder.
Se
Elder sente uma pontada de dor de cabeça.

po
Ele vê imagens POV. O homem tira lentamente cada peça de

roupa da mulher com uma grande tesoura. Ela abre os olhos e
l&
se assusta com o homem tão próximo. Ela chora. Ele acaricia

ela com a ponta da tesoura.
84 INT. SALA APTO ELDER - DIA 84

Mo
Elder acorda assustado. Ao fundo ele vê na TV a foto do

Luciano e senta no sofá para prestar atenção, ele aumenta o
volume.
ro
TV (V.O.)
No caso do filho do desembargador
Eliês Neto, a polícia ainda
investiga o caso principalmente por
Fi
indícios de que o proprietário

estava envolvido com tráfico de
drogas e favorecimento à
lm
prostituição.
Elder desliga a TV. A luz do dia já ilumina o apartamento.

Ele levanta com dificuldade e guarda no bolso o papelote com
es
cocaina na mesa a frente.
Elder olha para o relógio e se assusta com a hora (8:30), ele

olha para o quarto, vê que a porta continua fechada e sai.
55.

Pr
Tavares entra no quarto falando no celular, ele dá uma
observada na bagunça do quarto que está muito sujo com
garrafas de vodka espalhadas, cinzeiros cheios de cigarros e
op
traços de sangue na roupa de cama. Ele chama um policial
perito que está ao lado de outros dois policiais.
TAVARES
er
E o que temos aqui?
PERITO
ty
Um quarto bem nojento. Fora isso
tem vestígio de cocaína em diversas
partes do quarto. Também
encontramos indícios do que parece
Og
ter sido uma briga com marcas de

sangue na cama e próximo ao abajur
quebrado.
O perito aponta para os lugares onde foi achado sangue.

er
PERITO (CONT’D)
Já coletamos o material e vamos
analisar o sangue. Mas a gente
Se
nunca sabe quando vai sair o

resultado.
TAVARES
po
A gente tem alguma descrição da

hóspede? Dados?
PERITO
l&
Ninguém sabe de nada, o controle é

feito em um caderno. O computador
não funciona faz 6 meses e não tem
nenhuma camera de segurança.
Somente uma assinatura de alguém
Mo
que fez check in. Esse hotel parou

no século passado.
Tavares agradece com um tapa nas costas do perito e sai do

quarto.
ro
86 INT. ESTACIONAMENTO - DIA 86

Fi
Elder caminha pensativo em direção ao seu carro enquanto olha

para baixo. Ele aperta o botão de alarme que revela o carro
ao seu lado. Ao olhar vê que está completamente amassado na
lm
frente.
Ele berra de ódio ao analisar com detalhes a batida. Ele olha

para dentro do carro, ele levanta e olha ao redor para ver se
es
alguêm está ali. Elder entra no carro, senta no banco do

passageiro, abre o porta luvas e guarda a arma na parte de
trás da calça.
56.
Ele sai do carro e corre novamente até o elevador.

Pr
op
Tavares sai do elevador em direção ao balcão da recepção. Ele
vê Otília e a chama.
TAVARES
er
Otília será que podemos conversar?
Otília sai detrás do balcão e Tavares se aproxima. Nesse

ty
momento entram dois homens de ternos acompanhados de mais
dois policiais. Logo atrás entra Carlos Rosenbaun com um
sorriso no rosto.
Og
HOMEM TERNO
Bom dia, o proprietário ou
responsável por favor.
Otília rapidamente assume como a responsável pelo lugar e se

er
aproxima do homem.
OTÍLIA
Eu sou a responsável pelo lugar.
Se
O homem lhe entrega dois envelopes.
HOMEM TERNO
po
Essa é a liminar de fechamento do

estabelecimento por falta de
alvará. O outro é ação de perda do
imóvel para leilão.
l&
O homem estende uma prancheta.
HOMEM TERNO (CONT’D)

Preciso da sua assinatura.
Mo
Otília assina no automático, não acreditando no que está

acontecendo.
HOMEM TERNO (CONT’D)

ro
O fechamento é efetivo a partir de

agora.
Os policiais começam a fechar a porta de entrada. Tavares se

Fi
intromente na conversa e estende a mão para o homem de terno.
TAVARES
lm
Delegado Tavares.
Os dois se cumprimentam.
es
TAVARES (CONT’D)
Eu tenho duas investigações no
hotel--
57.
HOMEM TERNO
Pr
--não se preocupe, você continua o
trabalho que for necessário.
Os dois homens de terno saem em direção ao interior do hotel

op
deixando Otília e Thomas atônitos. Carlos observa tudo com um
sorriso no rosto. Ele se aproxima de Tavares com a mão
estendida.
er
CARLOS ROSEBAUN
Delegado Tavares, quanto tempo.
ty
Dá um aperto de mão amigável.

Eu soube que salvei uma vida ontem.
Og
Tavares responde irônico.
TAVARES
Você é um verdadeiro herói. Só não
er
entendi porque eu tinha que vir.
CARLOS ROSEBAUN
Estamos negociando a compra do
Se
hotel, achei que com você aqui as

coisas iam se resolver mais rápido.
Tavares está sério enquanto Carlos sorri cinicamente.

po
TAVARES
Só que tem mais merda para atingir
o ventilador.
l&
Tavares sai deixando Carlos para trás.
88 EXT. RUA HOTEL - DIA 88

Mo
Elder se aproxima do hotel por uma rua próxima. Ao perceber,

de longe, o aglomerado de carros da polícia ele pára e
observa assustado.
ro
Ele vai até um ponto um pouco mais escondido na rua, tira o

seu celular do bolso e faz uma ligação.
Fi
O telefone toca na recepção do hotel. Thomas caminha em

lm
direção ao balcão e atende.
THOMAS
Hotel Orleans, bom dia.
es
ELDER (V.O.)
Thomas, quantos carros estão no
nosso estacionamento?
58.
Tavares sai do elevador e observa de longe Thomas no

Pr
telefone.
THOMAS
Quem é?
op
ELDER (V.O.)
Porra Thomas, mas que caralho. É o
Elder, quantos?
er
Thomas começa a ficar incomodado com Tavares na recepção. Ele
fala mais baixo.
ty
THOMAS
Uns quatro.
Og
ELDER (V.O.)
Preste atenção, veja qual carro tá
com a chave na recepção e traga pra
mim.
er
THOMAS
Pra você onde?
ELDER (V.O.)
Se
Do outro lado da praça.
THOMAS
Tá--
po
ELDER (V.O.)
E seja discreto.
l&
Elder desliga. Thomas coloca o telefone no gancho e sai

pegando a sua mochila. Tavares se aproxima.
TAVARES
Tudo bem?
Mo
THOMAS
Tudo bem seu delegado. Tá no meu
horário, vou avisar a Otília pra
vir aí na recepção.
ro
Thomas sai o mais rápido que pode sem também levantar

suspeita.
Fi
90 EXT. PRAÇA - DIA 90

lm
Elder está distante, do outro lado da praça. Ele caminha de

um lado para outro nervoso. Um carro pára ao seu lado. Thomas
sai e Elder entra afobado saindo acelerado em seguida.
es
59.

Pr
Elder dirige pela cidade de maneira imprudente. Ele pára em
frente a um bar no centro da cidade e sai comprar uma garrafa
de cachaça.
op
Ele entra no carro, dá um grande gole, pega o seu celular e
liga para Rosa. O celular cai na caixa postal. Ele irritado,
joga o celular da janela, dá mais um grande gole e sai
er
acelerando.
Ele dirige aleatorio pela cidade. As pessoas ao redor estão

ty
comprometidas com seus afazeres diários, trabalham, almoçam,
riem, conversam. Ele continua a beber cada vez mais.
Um cansaço nauseante o faz piscar longo e acorda ao passar em

Og
um grande buraco. Ele escuta um barulho nos fundos que o faz

parar o carro. Ele sai e caminha de um lado para o outro
tentando descobrir o que fazer.
Ele tira o papelote, que quase não tem mais cocaína, ele
er
cheira o que tem de uma só vez. Ao levantar a cabeça ele

acaba desmaiando na rua.
Se
Flashes e imagens em POV. O homem se aproxima e beija a

mulher na boca. Ao se afastar ela cospe em seu rosto. Ele
po
vira a cara impulsivamente revelando um imenso galpão,

coberto de pó, com algumas máquinas e janelas com vidros
quebrados. De uma dessas janelas é possível ver uma chaminé
de tijolos. O homem limpa o rosto e volta a ficar muito
l&
próximo da mulher. Ela sorri sarcásticamente. Ele tira sua

calça, sobe em cima da mulher e a estupra. Ela não reage,
está imparcial ao que acontece. Ela encara o homem enquanto
uma lágrima escorre pelo seu rosto.
Mo
CORTA PARA PRETO.
93 EXT. - CARRO - DIA 93

ro
Elder está desmaiado do lado do carro. Ele primeiro abre os

olhos para então levantar. Sua cabeça lateja de dor, ao
colocar a mão percebe que está sangrando no nariz e na testa.
Elder volta para o carro e checa o rosto no espelho
Fi
retrovisor. Fica um pouco mais calmo ao perceber que o

machucado é pequeno. Ele entra, liga o carro e sai em direção
ao centro da cidade novamente.
lm
94 EXT. BAR - DIA 94

es
Elder estaciona o carro na frente do bar do Osvaldo. Ele está

fechado. Ele sai do carro e bate na grade com força.
60.
ELDER
Pr
Osvaldo.
Não aparece ninguém. Elder bate com mais força.

op
ELDER (CONT’D)
Osvaldo!
OSVALDO (V.O.)
er
Caralho, que porra é essa Elder?
A grade se abre e Osvaldo se assuta com a aparência do amigo.

ty
Ele rapidamente o puxa para dentro do bar e fecha a grade.
OSVALDO
Caralho você tá bem?
Og
95 INT. BAR - DIA 95
O bar está fechado e vazio. Osvaldo vai rápido para trás do

er
balcão.
OSVALDO
Brigou com alguém? O que aconteceu.
Se
ELDER
Eu preciso de um telefone.
po
Osvaldo aponta para um telefone fixo perto do caixa.
OSVALDO
Fica a vontade.
l&
Osvaldo coloca um pano limpo e uma cachaça na frente de Elder

que tira do bolso o cartão de Tavares. Ele pega o telefone
mas desiste de ligar, joga o cartão no lixo e bebe de uma só
vez a cachaça.
Mo
ELDER
Fodeu meu amigo, fodeu.
OSVALDO
ro
Posso te ajudar com alguma coisa?
ELDER
Eu preciso de mais pó.
Fi
Osvaldo se irrita com a resposta. Ele joga vários copos no

chão e parte para cima de Elder.
lm
OSVALDO
Você merece é uma surra seu merda!
es
Elder se assusta e cai da cadeira que tinha acabado de

sentar. Ele levanta rápido e corre de Osvaldo.
61.
ELDER
Pr
Que é isso porra!
Osvaldo já está um pouco mais calmo e volta para trás do

balcão ainda irritado.
op
OSVALDO
Você tá se matando, tá fudendo a
vida das pessoas em sua volta e
er
quer cheirar porra.
Elder se aproxima de Osvaldo.

ty
ELDER
Eu te conheço a minha vida inteira.
Og
OSVALDO
E daí Elder--
ELDER
E daí que eu não to louco... Sumiu
er
uma mulher no hotel, ninguém sabe,

ninguém viu... eu sei, eu sei que
ela está em perigo. Eu tenho essas
visões, saca?
Se
OSVALDO
Que visão porra?
po
ELDER
Toda vez que eu dou um teco...
Osvaldo ri com a história absurda do amigo.

l&
OSVALDO
Você tá enlouquecendo.
Elder berra irritado.

Mo
ELDER
Não tô! Você acha que eu queria
essa merda. Tiraram meu hotel,
minha esposa não me quer e a
ro
polícia acha que eu sou bandido

porra.
Elder respira e se acalma.

Fi
ELDER (CONT’D)
Eu tenho que achar essa mulher.
lm
Osvaldo olha para o amigo que está fisicamente acabado e vê

que independente de estar certo ou errado precisa ajudá-lo.
Ele puxa o amigo pelo ombro.
es
OSVALDO
Eu não tenho nada aqui. Ia sair pra
pegar. Você ta de carro?
62.
Elder mostra chave e Osvaldo a pega.

Pr
OSVALDO (CONT’D)
Ótimo eu vou dirigindo.
op
96 INT. SALA DELEGADO - DIA 96
Tavares está sentado em sua sala, a porta abre e Rosa entra,

er
visivelmente desconfortável e envergonhada por estar ali.
TAVARES
ty
Senhora Rosa?
ROSA
Isso.
Og
TAVARES
Delegado Tavares, conversamos mais
cedo. Obrigado por ter vindo.
er
Tavares a convida com o braço para sentar.
ROSA
Fiquei preocupada com a sua
Se
ligação.
TAVARES
Quando foi a última vez que a
po
senhora viu Elder?
Rosa fica preocupada com a pergunta.

l&
ROSA
Ele está bem?
TAVARES
Não sei, acredito que esteja bem,
Mo
no momento. (pausa) Eu ainda não

sei se estou lidando com um azarão
ou bandido.
ROSA
ro
Meu marido não é bandido.
Diz Rosa na defensiva.

Fi
TAVARES
Eu também não acho mas o hotel do
seu marido acabou de ser fechado e
lm
eu tenho um mandato de prisão no

nome dele com acusações muito
sérias.
es
ROSA
O que você quer?
63.
TAVARES
Pr
Sua ajuda, preciso conversar com
ele.
Rosa levanta tentando encerrar a conversa.

op
ROSA
Vou conversar com nosso advogado e
te ligo senhor--
er
TAVARES
--tenho urgência. Quanto mais tempo
ty
passar pior para ele. Realmente
quero ajudar.
Diz Tavares interrompendo Rosa.

Og
TAVARES (CONT’D)
Você tem alguma idéia onde posso

er
encontrá-lo?
Rosa abaixa o rosto e balança a cabeça negativamente. Tavares

levanta e lhe entrega um cartão.
Se
TAVARES
po
Esse é o meu contato.
Rosa não reage e sai.

l&
97 EXT. CASA TRAFICANTE - DIA 97
Osvaldo estaciona o carro em frente a uma casa com

arquitetura moderna. Ele sai do carro, Elder abre a sua porta
Mo
e fica sentado com as pernas para fora do carro.
OSVALDO
Já volto.
ro
Osvaldo entra na casa. Elder desce do carro e aproveita para

fumar mais um cigarro. Após a primeira tragada ele escuta um
barulho de batida vindo do carro. Elder olha curioso enquanto
continua a fumar.
Fi
Novamente ele escuta um barulho de batida vindo do porta

malas. Elder apaga o cigarro no chão e vai com cuidado se
lm
aproximando.
Ele fica de frente para o porta malas quando mais uma vez
escuta batidas. Ele abre o porta malas e vê a mulher amarrada
es
e amordaçada chorando.
64.
Ele leva um susto, ele olha para frente e vê Osvaldo saindo

Pr
da casa. Elder volta a atenção para o porta malas e o fecha
desesperado.
OSVALDO (CONT’D)
op
Entra no carro porra.
Elder senta nervoso no carro. Osvaldo coloca a mão no bolso e

tira alguns papelotes.
er
OSVALDO (CONT’D)
Tá na mão. Pó mágico.
ty
Ele ri irônico.
ELDER
Og
Quanto deu?
Diz afobado.
OSVALDO
er
200.
Elder tira duas notas de cem reais da carteira.

Se
OSVALDO (CONT’D)
Me prometa que não vai fazer merda.
Elder ignora Osvaldo e na mesma hora pega os papelotes, abre

po
um e com um cartão cheira um punhado. Elder joga a cabeça pra

trás enquanto a droga imediatamente faz efeito. Ele olha para
o porta malas e olha para Osvaldo e ri de desespero
assustando Osvaldo.
l&
OSVALDO (CONT’D)
Você tá bem?
Elder tira a arma do porta luva e aponta para o amigo.

Mo
ELDER
Cara voce vai ter que ficar aqui.
ro
OSVALDO.
Que porra é essa? Ficou louco?
Abaixa essa arma.
Fi
ELDER
Fica longe Osvaldo.
lm
Elder sai do carro e dá a volta para sentar no banco do

motorista. Osvaldo levanta a mão e fica tranquilo porém sem
entender o que está acontecendo.
es
OSVALDO
Elder, você tá pirando cara. Baixa
issa aí e vamos conversar.
65.
Elder continua apontando a arma.

Pr
ELDER
É melhor eu ir sozinho, desculpa
Osvaldo.
op
OSVALDO
Pirô cara, voce tem que me levar de
volta caralho.
er
Elder liga o carro e sai, deixando Osvaldo pra trás.
ty
Elder dirige dirige de maneira errática, ziguezagueando pelas

Og
ruas. Ele simplesmente ignora todo e qualquer perigo no meio

do caminho.
99 EXT. ESTRADA - DIA 99

er
Elder pára no acostamento de uma pequena estrada. Nervoso ele

abre a bucha de pó e cheira de dentro do saquinho, seus olhos
marejam e lagrimas escorrem pelo seu rosto.
Se
Ele olha para frente catatônico. Um pouco depois ele começa a

berrar enquanto bate com as mãos no volante. Ele coloca a
arma na boca em desespero.
po
Elder chora enquanto sente o gosto da arma, seus olhos estão

fechados e ele sua muito. Ele começa a desarmar e tira a arma
da boca. Ele olha para o porta-malas ainda com a arma em
l&
punho.
Ele sai do carro e vai até o porta-malas. Quando abre a

mulher continua deitada mas inconsciente. Nervoso verifica se
está viva e tenta tirá-la de dentro, ele escuta um gemido de
Mo
dor.
ELDER
Não se assuste... está me ouvindo?
ro
A mulher abre os olhos com muito esforço, ela treme e chora

silenciosamente sem responder a pergunta. Elder volta a
guardar a arma na parte de trás da calça e a pega no colo.
Ele abre a porta traseira do carro e a deita com cuidado. Ela
Fi
parece estar em estado de choque e continua sem reação. Ele

carinhosamente afaga sua cabeça, fecha a porta e também entra
no carro.
lm
CORTA PARA PRETO.

es
100 INT. CARRO / ESTRADA - NOITE 100
Elder divide sua atenção entre a estrada e a bela mulher no

banco traseiro.
66.
Sempre que pode ele olha sobre seu ombro e vê as pernas bem
Pr
delineadas dela. A estrada está vazia. As faixas brancas
pintadas no meio da rua passam rápido, como carreiras de
cocaína sendo aspiradas.
op
Elder diminui a velocidade, sai da estrada e estaciona na
frente da recepção de um simples hotel de estrada.
er
101 INT. RECEPÇÃO HOTEL ESTRADA - NOITE 101
O hotel, é um prédio de dois andares simples, ao lado de um

ty
posto de gasolina. A recepção tem um jogo de sofás de couro
rústico, um tapete e uma mesinha com uma televisão ligada em
um programa esportivo. No balcão somente um telefone e logo
atrás um homem moreno com a barba por fazer.
Og
RECEPCIONISTA
Pois não?
ELDER
er
Um quarto com duas camas, por

favor.
O homem olha para fora mas não vê ninguém no carro. Elder

Se
percebe que ele está desconfiado mas ignora.
RECEPCIONISTA
(ríspido)
po
Aqui.
O recepcionista empurra o livro de entrada para Elder assinar

e entrega as chaves.
l&
RECEPCIONISTA (CONT’D)
Dá cem reais.
Elder pega sua carteira no bolso e percebe que está sem

Mo
dinheiro, ele tira um talão de cheques.
RECEPCIONISTA (CONT’D)
Sem cheque. Só dinheiro ou cartão.
ro
Elder guarda o talão e tira seu cartão de crédito.

Fi
Rosa está sentada no sofá da sala. Ela olha fixamente para o

telefone. Ela pega e liga para o celular do Elder mas cai
lm
direto na caixa postal. Ela está abalada, com os olhos

marcados pelo choro. Ela dobra os joelhos contra o peito e os
abraça. O telefone toca. Ela levanta afobada e atende o mais
rápido possível.
es
ROSA
Eldie?
67.
OSVALDO (V.O.)
Pr
Olá Rosa, é o Osvaldo. Por favor
não desliga.
ROSA
op
Ele tava com você? Quanto ele
pegou? Aonde ele está?
OSVALDO (V.O.)
er
Ele tava comigo mas eu o perdi.
Rosa eu nunca vi ele assim, me
sinto culpado. Seu eu puder ajudar
ty
em qualquer coisa--
ROSA
--vá se fuder Osvaldo.
Og
Rosa desliga o telefone e volta a sentar no sofá.
103 EXT. HOTEL ESTRADA - NOITE 103

er
Elder volta para o carro e estaciona mais próximo do seu

quarto. Ele sai e vai até a porta de trás. Ao se abaixar para
tentar levantar a mulher, a arma que estava na parte de trás
Se
da calça, cai. Elder se assusta, rapidamente olha para os

lados, para ver se alguém o viu, pega a arma e a guarda no
mesmo lugar. Ele tira a mulher com dificuldade e a leva para
o quarto que fica no térreo.
po
104 INT. QUARTO HOTEL ESTRADA - NOITE 104

l&
Elder abre a porta e com dificuldade deita a mulher em uma

das camas. Ela balbucia algumas palavras mas não acorda. Seu
rosto apresenta cortes, escoriações e está inchado em
determinados pontos. Elder a arruma com cuidado. Ele levanta
e a cobre com um cobertor que estava no pé da cama e volta a
Mo
sentar ao seu lado.
Seus olhos fecham enquanto o suor continua a escorrer pelo

seu rosto. Os lábios de Elder começam a grudar nos seus
dentes de tão secos, ele não tem mais saliva para engolir.
ro
Elder se levanta colocando as mãos em um dos bolsos e retira

os papelotes de cocaína, uma quantia relativamente grande.
Com as mãos trêmulas, espalha a droga na mesa de cabeceira
mas desiste de cheirar. Ele verifica se a mulher continua
Fi
dormindo, vai em direção a porta do quarto, a abre e sai com

cuidado.
lm
O calor continua massacrante, Elder tira um maço de cigarros

es
do bolso, pega um e acende. Sente aquela sensação de tontura

gerada pelo cigarro. Ele dá mais algumas tragadas, apaga o
cigarro e o joga para longe.
68.
O cigarro cai ao lado de um telefone publico. Elder observa,

Pr
ele sente a vontade de dizer que tudo está bem, então vai em
direção ao telefone e faz uma ligação.
op
Rosa está deitada no sofá, perdida em seus pensamentos. Seu

rosto está abatido e os olhos inchados pelo choro. O telefone
er
toca. Dessa vez Rosa continua deitada mas o telefone insiste
em tocar. Depois de algum tempo Rosa levanta e atende.
ty
ROSA
Alô?
ELDER (V.O.)
Og
Você vai ver que a gente vai

começar do início...
Rosa escuta no fundo um caminhão que acaba encobrindo a voz

de Elder.
er
ROSA
Elder?
Se
ELDER (V.O.)
Agora eu consegui.
ROSA
po
Onde você tá? Eldie!
ELDER (V.O.)
As coisas estão se resolvendo.
l&
Lembrei de você aqui e seu

barrigão.
ROSA
A polícia tá atras de você--
Mo
ELDER
--Aqueles merdas, eu que achei ela.
Amanhã vai ser diferente. Te amo.
ro
Ele desliga. Rosa volta a ficar desesperada. Ela está

extremamente nervosa, sem saber o que fazer ou agir. Ela
começa a andar de um lado para o outro da sala enquanto
lágrimas escorrem do seu rosto. Ela pára e olha para uma foto
Fi
dos dois mais jovens. A mesma foto que sua cliente perguntou
sobre o que era. Rosa se aproxima e olha a foto. Ela pega o
porta retrato, e o observa com cuidado.
lm
Ela olha para o cartão de Tavares que está em cima da mesa, o

pega e liga. O telefone demora um pouco até ele atender.
es
TAVARES (V.O.)
Tavares.
69.
ROSA
Pr
Aqui é a Rosa, você pediu pra ligar-
-
TAVARES (V.O.)
op
--você tem notícias do Elder.
ROSA
Ele me ligou, não falou coisa com
er
coisa.
TAVARES (V.O.)
ty
Ele falou onde estava?
ROSA
Não... Mas eu sei onde ele está.
Og
Estou indo para lá.
TAVARES (V.O.)
Me passa o endereço e fique em casa
por favor--
er
ROSA
--te passo por mensagem.
Se
Rosa desliga o telefone, pega as chaves sobre a mesa de

centro e sai.
po

l&
Elder entra no quarto e ao se aproximar da cama acorda a

mulher. Ela se assusta e se encolhe na cama, abraçando as
pernas, tremendo com um pavor estampado no rosto. Ele estende
os braços com as mãos espalmadas.
Mo
ELDER
Não vou machucá-la... Eu te
encontrei... desmaiada... eu te
trouxe pra um lugar seguro. Agora
tudo vai dar certo!
ro
Ela olha para Elder com olhos cheios de lágrimas.
ELDER (CONT’D)
Fi
É um hotel... Camas separadas. Eu

vou ficar ali pra cuidar de você.
Sou o gerente do hotel que você se
lm
hospedou, se lembra? Você sumiu...
Elder se aproxima da cama e senta próximo à mulher.

es
ELDER (CONT’D)
Não se preocupe, aquilo já
passou... Vai dar tudo certo...
70.
Ele se aproxima dela e fica ao seu lado até ela adormecer

Pr
novamente. Depois de se certificar que ela dormiu, Elder
levanta, coloca a arma em cima da mesa de cabeceira e senta
na cama. Ele observa as carreiras de pó e leva um susto
quando percebe que a mulher acordou e agora o encara. Ela
op
está sentada na cama. Ele olha para a mesa de cabeceira com a
arma. Ela levanta rápido e entra no banheiro, se trancando.
Ele não sabe o que fazer, caminha de um lado para o outro até
voltar sua atenção para as carreiras que já tinha preparado
er
na mesa de cabeceira. Elder se ajoelha em frente a mesa e
começa a limpar, nem percebe que a mulher já voltou e está ao
seu lado. Antes que ele possa reagir, a mulher se aproxima e
ty
se ajoelha.
Elder observa sem reação. Ela dá a entender que vai pegar a

arma que Elder deixou na mesa de cabeceira, mas dá uma
Og
cheirada no pouco que restou de cocaína em cima da mesa. Ela

então se aproxima de Elder e o beija.
Ela joga Elder para cima da cama e começa a tirar a blusa

revelando um lindo corpo torneado. Ela sobe em cima de Elder
er
que começa a ficar incomodado. Ele tenta tirar ela de cima

mas ela insiste se mexendo em movimentos sensuais. Elder está
agoniado, ele empurra com força a mulher que cai do outro
lado da cama.
Se
Elder levanta assustado com medo de tê-la machucado mas ela

vira e sorri maliciosamente curtindo a irritação de Elder.
po
ELDER (CONT’D)
Eu não queria machucar...
Ela levanta e aproxima seu corpo lentamente em direção a

l&
Elder e novamente tenta beijá-lo mas Elder interrompe mais

uma vez. Irritada ela dá um tapa na cara de Elder.
ELDER (CONT’D)
Quem é você?
Mo
MULHER
Por que Eldie?
Elder fica surpreso e incomodado com a resposta.

ro
ELDER
Quem é você?
Fi
Ela sorri sarcásticamente e o encara sem aparentar nenhum

medo. Elder se irrita ainda mais com a reação da mulher.
lm
ELDER (CONT’D)
Quem é você porra?
Ela então olha para a mesa de cabeceira, para arma que

es
continua ali. Agindo por instinto, Elder rapidamente pega a

arma de cima da mesa e aponta para ela.
71.
ELDER (CONT’D)
Pr
Vou perguntar só mais uma vez, quem
é voce?
Ela senta de joelhos na cama e sem medo vai se aproximando de

op
Elder, que continua apontando a arma para ela.
MULHER
Vai fazer o que Eldie?
er
Ela já está de frente para o Elder, a arma encosta em seu
peito e eles se encaram com os rostos muito próximos. Ele
ty
abaixa a arma.
MULHER (CONT’D)
Por que voce não vendeu aquela
Og
merda logo?
Elder não entende o que ela quer dizer e explode em um surto

de raiva tirando ela à força do quarto. Ele fecha a porta e
ela insistentemente bate do lado de fora.
er
MULHER (OFF) (CONT’D)

O jogo acabou!
Se
Elder encosta na porta, está sem reação. Sua cabeça lateja,

ele coloca a mão no bolso e tira o cartão do Carlos. Aquilo o
deixa atordoado. Ele começa a se lembrar de conversas que
teve e as coisas começam a fazer sentido enquanto a mulher
po
insiste em berrar do lado de fora e a bater cada vez mais

forte na porta.
MULHER (OFF) (CONT’D)

l&
Por que voce não vendeu aquela

merda logo?
Elder caminha em círculos. Tenta juntar as peças do aparente

quebra cabeça. Ele está eufórico, passa o cano da arma no
Mo
nariz, para coçá-lo.
CARLOS ROSEBAUN (OFF)

...queremos o seu hotel.
ro
As batidas ficam mais fortes, parecem chutes. Ele vai ficando

cada vez mais instável, balança a cabeça irritado.
MULHER (OFF)
Fi
O jogo acabou Eldie!
A porta ameaça a abrir.

lm
MULHER (V.O.)
Eldie abre a porta.
es
CARLOS ROSEBAUN (OFF)

...eu consigo o que eu quero de um
jeito ou de outro.
72.
Elder levanta a arma, ele está na defensiva sem saber agir.

Pr
ROSA (V.O.)
Eldie abra a porta.
op
A porta se abre e no impulso Elder atira. Elder olha para a
mulher e vê sua esposa caindo e rapidamente volta à si, ele
deixa a arma cair no chão e corre até Rosa.
er
ELDER
Rosa! Rosa, você está bem? Rosa!
Socorro!
ty
Rosa, com os olhos marcados pelo choro e a maquiagem borrada,

tem ainda um pouco de seu batom vermelho nos lábios.
Og
ROSA
Eldie...
ELDER
Rosa!
er
O policial Tavares entra no quarto acompanhado de outros dois

policiais e rapidamente assume o controle da situação. Ele
imobiliza Elder e em seguida passa um rádio.
Se
POLICIAL TAVARES
Preciso de uma ambulância, agora!
po
ELDER
Rosa!
Elder pode ver a esposa agonizando no chão.

l&
TAVARES
Cadê a mulher Elder?
ELDER
Mo
Não!
TAVARES
Cadê a mulher?
ro
Elder não consegue reagir, um policial assume o lugar de

Tavares deixando Elder ainda preso ao chão enquanto olha o
corpo da sua mulher no chão. Tavares checa o quarto e o
banheiro em busca da mulher. Ao não achar volta correndo para
Fi
ajudar Rosa.
lm
Na frente do hotel algumas viaturas da policia e uma

ambulância. Elder está dentro de uma das viaturas. Ele
es
observa os policias entrando e saindo do quarto. Ele está

abatido, preocupado. Um carro do IML estaciona próximo da sua
viatura.
73.
Vemos um corpo coberto por uma lona preta sair do quarto.

Pr
Elder acompanha o corpo até entrar no carro do IML e fecha os
olhos.
op
É a mesma cena de quando Elder vê a mulher no quarto. Ele

está do lado da cama observando a sujeira, ao olhar para trás
er
ele se assusta, tropeça e cai em cima do abajur da mesa de
cabeceira e acaba se cortando. Ele sangra e suja o chão onde
cai.
ty
110 EXT. CASA TRAFICANTE - DIA 110

Og
Elder está de frente para o porta malas, ele abre e não tem
ninguém. Ele leva um susto, olha para frente e vê Osvaldo
saindo da casa. Elder volta a atenção para o porta malas e o
fecha desesperado.
er
Elder está sentado na cama, como se estivesse olhando para

Se
alguém, mas não tem ninguém na cama.

po
Um policial entra no carro em que Elder está e sai com a

sirene ligada.
l&
CORTA PRA PRETO.
113 INT. PÁTIO PRESÍDIO - DIA 113

Mo
Letreiro: 6 meses depois.
O pátio interno está cheio, alguns jogam bola, outros

levantam peso, grupos espalhados recebem seus parentes. Elder
está sentado em um banco do pátio, ele está visivelmente
ro
abatido e alheio às pessoas que encontram seus parentes ou

estão concentradas em suas atividades.
Um homem de terno se aproxima e senta em frente a Elder. É

Fi
Carlos Rosebaun. Ele observa, por um tempo, os presos ao seu

redor para então começar a conversa.
lm
CARLOS
Não achei que você ia facilitar
tanto o meu trabalho, mas você foi
incrível.
es
Carlos ri. Elder não responde.

74.
CARLOS
Pr
30 anos é muito tempo...
Carlos abre uma maleta e tira de dentro um contrato. Ele pega

a caneta e enquanto fala, fica apertando em um clique
op
irritante.
CARLOS
O hotel já é meu mas você pode
er
facilitar um pouco a minha vida, o
que acha?
ty
Carlos estende o contrato. Elder ignora. Carlos coloca o
contrato em seu colo e continua com os cliques irritantes da
caneta.
Og
CARLOS
Preciso da sua assinatura. Vai me
fazer perder menos tempo com a
burocracia... Prometo que aqueles
dois funcionários teus tenham
er
alguma função no novo hotel, assim

você não deixa eles na mão.
Elder continua a ignorar, observando as pessoas no pátio.

Se
CARLOS
Tá bom, não tiro o seu apartamento,
assim se algum dia você sair daqui
po
tem onde cair morto.
Carlos sorri novamente.

l&
CARLOS
Com bom comportamento e um bom
advogado você sai daqui uns 10
anos. Nesse país assassinato nem é
lá grandes coisas... Veja como uma
Mo
oportunidade.
Elder olha para Carlos que estende a caneta. Elder a pega,

assina o contrato e em seguida enfia na garganta de Carlos.
ro
Carlos levanta jorrando sangue e cai no chão. Pela primeira

vez Elder olha nos seus olhos e sorri.
Elder volta a sentar onde estava, do seu lado está Rosa (com
Fi
o mesmo vestido da mulher misteriosa da primeira vez que

Elder à vê), eles se abraçam. Diversos guardas correm em
direção aos dois.
lm
FADE OUT
es

Antes Do Fim Ou Hotel Delire

Uploaded by

Document Information

Copyright

Available Formats

Share this document

Share or Embed Document

Sharing Options

Did you find this document useful?

Is this content inappropriate?

Copyright:

Available Formats

Antes Do Fim Ou Hotel Delire

Uploaded by

Copyright:

Available Formats

Pr

ANTES DO FIM AKA HOTEL DELIRE

Diego Lopes e Claudio Bitencourt

OGER SEPOL / MORO FILMES®

Ele fecha os olhos e respira profundamente. Elder levanta e

envidraçada e permite uma boa vista de toda a recepção do

trabalhistas e um contrato de banco com o título de

Ele começa a ler o contrato mas logo se irrita e o joga

novamente em cima da mesa. Elder olha para a estande ao seu

a esconde-la com os livros.

2 INT. CORREDOR HOTEL - NOITE 2

O longo corredor de paredes brancas envelhecidas contrastam

que tranca a porta.

Elder checa cada porta do corredor, analisando se estão bem

3 INT. RECEPÇÃO - NOITE 3

O salão possui grandes janelas ocultas por grossas cortinas

descanso. O chão de madeira parquet está coberto por tapetes

madeira mas não tem ninguém.

LUCIANO, jovem, calça jeans e camiseta, caminha em direção ao

Elder se aproxima do balcão e assume o comando da discussão.

Gostaria de passar apenas a noite

Elder analisa a garota. Luciano dá um gole da cerveja que

O rapaz concorda, com um aceno de cabeça, e pega sua

4 INT. ESCRITÓRIO ELDER - NOITE 4

Elder senta em sua cadeira. O calor intenso dentro da sala

esse hotel não se mantém--

lugar aqui. Ele sempre prezou pelos

Elder levanta da sua cadeira e aumenta o seu tom de voz,

Otília se assusta com a reação de Elder. Ele percebe que se

Eram outros tempos... melhores com

inclusive o seu salário.

Otília mantém a postura, mas está claramente incomodada.

Elder pega um cigarro e acende. Ele dá uma longa baforada

Até semana que vem está tudo

Otília sorri e levanta. Ela vai em direção a porta mas antes

Otília sorri e sai. Elder continua a fumar seu cigarro

CORTA PARA PRETO.

5 INT. - ESCRITÓRIO ELDER - NOITE 5

Um barulho de sapato salto alto acorda Elder e chama sua

porta, que Otília deixou aberta, Elder vê uma MULHER, com

cigarro acesso no seu colo.

Assustado, ele joga o corpo para trás e tenta limpar com a

Elder não está interessado nas preocupações da Otília. Ela

6 INT. SALA APTO ELDER - NOITE 6

A sala do apartamento é grande, com uma decoração um pouco

estampados, abajures e quadros de pintores locais. Estela e

mulher de meia idade, com roupas extravagantes e um belo

Silencio entre as duas.

Estela bebe o vinho em um grande gole.

7 INT. RECEPÇÃO - NOITE 7

Elder se aproxima de um jovem que acaba de chegar na recepção

Como tá, garoto?

THOMAS, vinte anos, veste um moletom e capacete. Ele guarda

cuidadosos em um armário atrás do balcão da recepção.

sentaram o dedo em dois amigos.

Elder se aproxima de Thomas.

Tá feio pra todo mundo. Lembre-se

Elder sai e tropeça na mochila de Thomas que esqueceu no

Elder está irritado.

Elder sai em direção a sua sala.

8 INT. ESCRITÓRIO ELDER - NOITE 8

Elder entra irritado em sua sala. Caminha direto à mesa e

Os olhos de Elder recaem sobre a fotografia de Rosa, que está

sair ele olha para sua mesa.