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Os problemas éticos do aperfeiçoamento biológico do ser humano:

Juiz (Marcelo): (batendo com o martelo na mesa) – Silêncio senhores e senhoras que a
audiência vai começar!
Alberta Morais, médica no Instituto Superior de Saúde é acusada pelo cidadão José
Baptista de ter infringido a lei ao: elaborar projetos e operações cirúrgicas tendo por
base o aperfeiçoamento humano, colocando em risco a vida dos pacientes e promover
a desigualdade humana, desafiando a Natureza ao tentar cumprir a função de Deus.
Passamos a palavra agora ao senhor José Baptista.
Zé- Muito bem caros ouvintes, não precisamos de entrar em pormenores científicos,
nem sentimentais, pois creio que a vossa consciência tratará disso. Em primeiro lugar
defendo que devemos dar prioridade ao que é natural face ao artificial, porque o que é
natural é, em geral, bom e o que não é natural é mau. O que me refiro é que somos de
tal maneira de uma natureza inexplicável e que o nosso objetivo não é tentar mudar as
coisas, mas sim usufruir do que temos enquanto seres humanos.
Acho que o Marcelo aqui devia passar-te a palavra
Alberta (Dani): Saudações a todos, para começar a minha consciência esta sossegada.
Creio que nem toda a gente apoie a minha defesa, pois todos pensamos de formas
diferente, mas como médica tanto apoio o tratamento, geralmente compreendido
como cuidar da pessoa, trazer a sua saúde de volta ao seu estado típico e o
melhoramento, ou seja, o aperfeiçoamento de um corpo que se encontra saudável.
Bem… este aperfeiçoamento assim dito não é como todos imaginam, nenhum paciente
é desmembrado para colocarem braços metálicos, apenas em caso de acidente,
quando os pacientes perdem os seus membros. Consiste, de uma forma geral em
tentar provocar alterações no corpo humano para que estes fiquem aptos a todas as
condições ambientais possíveis e adquirirem resistência a várias doenças. Teríamos a
capacidade de curar doenças, prolongar a vida e a sua qualidade. A meu ver, isto é,
uma mais valia.
Zé- Sabemos que essa “mais valia”, como a senhora o considera, não é instantânea,
envolvendo muito poder e dinheiro, dinheiro esse que seria fornecido pelo Estado, e
como conhecemos a economia do nosso país seria um grande problema para todos.
Alberta- Pedir dinheiro ao Estado não é o nosso objetivo, não queremos trazer mais
dividas ao nosso país. Para este projeto inicial, tentaríamos ser reconhecidos por
empresas de alto renome, fornecendo-nos a verba necessária para a realização do
mesmo.
Zé- Então se bem entendi, basta alguém ir ter com vocês, que tenha posses é claro, e
pedia que o aperfeiçoassem, fariam sem qualquer problema?
Alberta- O aperfeiçoamento não é assim tão simples, é claro que envolve bastante,
dinheiro porque é algo inovador, mas nenhum paciente vai contra a sua vontade e
todos assinam uma espécie de contrato de responsabilização. Qualquer paciente que
venha até nós e possua estes requisitos, é lhe permitido o seu aperfeiçoamento
biológico.
Zé- Então as intervenções técnicas da engenharia genética na natureza humana são
muito caras e só os mais favorecidos poderão delas beneficiar. Acha isso moralmente
correto? Isto conduzirá à desigualdade humana e fará com que todos os valores
conquistados sejam esquecidos….
Alberta- Mas isso não mostra o que há de errado com o aperfeiçoamento dito. Não
conseguimos fazer nada em relação ao efeito de uma injusta distribuição da riqueza.
Se a injusta distribuição pudesse ser resolvida, nós ainda continuaríamos com mesmo
problema, se o melhoramento genético é moralmente aceitável ou não?!
E quanto à desigualdade humana, vou utilizar um exemplo para ser mais clara a
compreensão do meu ponto de vista. Nesse caso, podemos concluir que alguns atletas
são melhor dotados geneticamente do que outros sem nenhum esforço próprio,
simplesmente nasceram assim, com esses dons. Mas sendo assim, porque que as
diferenças genéticas geradas pelo aperfeiçoamento biológico produzem injustiças
sociais, mas diferenças genéticas não?
Zé- Mas sobre as diferenças genéticas só Deus é responsável por isso, ninguém
consegue mudar a natureza humana de uma forma natural e tentar ser uma força
maior que Deus, sendo algo moralmente errado, alterando o maravilhoso acaso da
natureza.
Alberta- Esse argumento só será válido para crentes. Sendo eu uma cientista, só
acredito naquilo que a ciência me mostra. Nem tudo o que a natureza oferece é
sagrado e merecedor de honra. A natureza é também responsável pelo cancro, SIDA e
catástrofes naturais. Se for permitido interferir com os problemas da natureza, então
parece que também é correto permitir a extensão de nossa vida e evitar certos aspetos
do envelhecimento e doenças.

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