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Fernando Pessoa e Luís Vaz de Camões, são dois poetas que usaram a
poesia para mostrarem os valores de um mesmo feito, a glória de Portugal, não
hesitando na crítica e nos elogios. Este ensaio colocará em tensão o poema
Nevoeiro de Fernando Pessoa e o Canto X estrofe 145 de Luiz Vaz de
Camões, contextualizando ambos no seu período histórico.
Camões também tentará sacudir a nobreza da época com seus versos, a qual
não julgava mais digna de si guerrear, deixando essa incumbência ao povo, e o
poeta tristemente diz:
Séculos mais tarde um outro poeta se levantou, e desta feita, para cantar de
novo Portugal de uma forma gloriosa, o passado heróico de Portugal, que
passou e não mais volta. Esse poeta foi Fernando Pessoa. O poeta tão grande
quanto a glória de Portugal, escreveu a Mensagem que, segundo Leyla
Perrone-Moisés, "....em Mensagem, o poeta aparentemente alarga seu EU
lírico , para ser o vate das antigas grandezas portuguesas e o profeta do V
Império, a epopéia redunda também em auto-análise. A navegação se
metaforiza como o anseio da descoberta de um EU que é ao mesmo tempo, a
identidade nacional e auto-identidade pessoal." E mais na frente ela continua
dizendo: "O nevoeiro em que Portugal jaz, é a mesma névoa que separa
Pessoa do mundo. A queda e a impotência portuguesas são suas próprias. Ao
debruçar-se sobre a história de seu País, Pessoa encontra um espelho que,
por sua vez ele espelha... Encantados e nostálgicos, Portugal e Pessoa se
desconhecem na incerteza imobilizante, perdem-se em fragmentos sem um
todo ‘tudo é incerto e derradeiro, tudo é disperso nada é inteiro’ ".
Fernando Pessoa não sofreu pressão de ter aprovada ou não sua obra pela
igreja ( que naturalmente ele ignorava, desprezando-a até), mas a obra não
teve a recepção que merecia, pois ao publicar seu livro Mensagem (única obra
do poeta publicada em vida), ganhou em 3l de dezembro de 1934, somente o
prêmio Antero de Quental de segunda categoria do Secretariado de
Propaganda Nacional.
Nada mais parece sacudir a inércia na qual Portugal mergulhou, nem rei nem
lei, nem paz nem guerra", podem simbolizar , encorajar ou até mesmo conduzir
o povo a algum lugar. O desencanto do poeta se sente quando ele escreve:
Fulgor que ficou opaco, não deixando mais ver os grandes heróis do passado.
Ele continua:
O poeta continua:
Ele está cansado, triste até, pois seu canto não encoraja mais as pessoas:
Para quê?
É como Fernando Pessoa, que numa outra época mais adiante, se identifica
com o desalento que o pais está atravessando e escreve:
Quem sabe talvez todo o clima político de brigas pelo poder, culminadas com a
instalação da ditadura de Salazar, levem o poeta a um mergulho na incerteza,
no saudosismo de um passado que não retornará nunca mais, pois ele olha ao
seu redor e nada vê de concreto.
"vil tristeza", sim pois nunca se erigiu tanto templo para a glória de abade e
bispo, numa religião cuja base era a pobreza, não deveria esse clero dar o
exemplo para o povo?
"É a hora!".
Clama o poeta, Hora com letra maiúscula, como um grito lancinante de ataque
"É a Hora" de acordarem, de se unirem, e de fazerem voltar tudo de novo, e
quem sabe D. Sebastião não aparecerá fulgurante, do opaco nevoeiro em que
sumiu, montado no seu cavalo branco, e o mito e a glória de Portugal
ressurgirão das cinzas, como o Fênix o faz na sua recriação de nova vida após
a morte.
Tanto Luis Vaz de Camões quanto Fernando Pessoa encontram na poesia uma
forma de levantarem um estandarte de aclamações, de denúncia, de fuga, de
sonho, enfim, de mergulharem nos grandes feitos de outrora da história de
Portugal como se mergulhassem no próprio EU, pois como diz Leyla Perrone
Moisés "O Homem e a Hora são um só", no próprio sonho de existir.