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FONÉTICA E FONOLOGIA

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Uníntese | Uníntese Virtual

Pedro Stieler
Diretor

Maria Bernardete Bechler


Vice-Diretora

Carmem Regina dos Santos Ferreira


Gestora de Marketing

Roberto de Oliveira
Gestor Administrativo

Wiltom Dourado
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Maria Bernardete Bechler


Texto

Aline Madrid
Flávia Burdzinski de Souza
Designers Educacionais
FONÉTICA E FONOLOGIA

- 2016 -
Direitos Autorais reservados à UNÍNTESE

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FONÉTICA E FONOLOGIA

II FONÉTICA E FONOLOGIA

Maria Bernardete Bechler 1

2.1- A Relação entre Fonética e Fonologia

Antes de tratarmos das áreas da Fonética e da Fonologia na Língua


Brasileira de Sinais, consideramos importante uma abordagem sobre como esses
aspectos da linguagem humana se realizam nas línguas orais.

A Fonética e a Fonologia se dedicam a estudar os sons da fala. Sempre


que a fala for usada para a comunicação através do uso de uma língua oral,
falantes e ouvintes necessitam requisitos físicos essenciais para que esse processo
realmente se concretize: o funcionamento adequado do cérebro, dos pulmões, da
laringe, do ouvido e de outros órgãos que se estruturam para possibilitar a
produção e a percepção dos sons da fala.

Mesmo contando com todos os órgãos físicos em perfeito estado, esse


processo de comunicação somente se efetivará se ambos conhecerem a língua
que estiver sendo usada no processo da fala. Para a compreensão da língua, é
fundamental que os sons emitidos através da fala estejam organizados em uma
estrutura linguística, expressa através de palavras, frases, que possibilitem um
sentido, permitindo que o ouvinte possa entendê-las e interpretá-las.

1
.Possui especialização em Supervisão Escolar, em Filosofia da Educação e em Coordenação de Práticas e
Processos Pedagógicos. Graduação em Letras pela Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio
Grande do Sul e graduação em Letras pela Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões.
Atualmente é professora visitante da Universidade Tuiuti do Paraná e vice-diretora da UNÍNTESE. Tem
experiência na área de Educação, com ênfase em educação, ensino e aprendizagem e elaboração de
projetos.

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Veremos que esses aspectos serão estudados por duas áreas da ciência,
uma que descreve os sons da fala no processo de comunicação: a FONÉTICA, e a
outra ciência que estuda a relação de cada um dos sons emitidos, as combinações
que irão originar as palavras, as frases, permitindo que a fala seja compreendida,
que é o campo da FONOLOGIA.

Assim sendo, cabe à Fonética descrever os aspectos fisiológicos, acústicos


e perceptuais (ouvidos) dos sons da fala. Cabe à Fonologia estudar os sons,
estabelecendo as distinções, diferenças de significado entre as palavras, bem
como a relação e a organização dos sons nos sistemas combinatórios que
estruturam as palavras.

A seguir estaremos apresentando algumas informações sobre a Fonética


e a Fonologia em nas línguas orais.

2.1.1 Sobre a Fonética das Línguas Orais

A Fonética é a área da linguística que estuda os sons da fala humana e


fornece instrumentos para a sua descrição, classificação e transcrição. Vimos
anteriormente que sempre que um falante transmitir uma mensagem oral para
um ouvinte e for por ele compreendido, se efetiva um processo de comunicação
que envolve a Fonética e a Fonologia. Os sons pronunciados pelos falantes e
descritos pela Fonética são chamados de “fones”: fones são as unidades de som
que constituem uma palavra. Por exemplo, na palavra “bota” (b-o-t-a) temos
quatro sons que constituem as unidades mínimas em que se pode segmentar
numa sequência sonora. Essa separação só pode ocorrer linearmente, um som
após o outro, pois não podemos emitir os sons ao mesmo tempo. Além de ser
possível segmentar, também é possível trocar um som por outro, formando outra
palavra, no caso de “bota”, por exemplo, podemos formar “rota” ou “cota”
somente substituindo o primeiro fone.

No estudo da Fonética, alguns sinais são convencionais, por isso vamos


apresentá-los para melhorar o entendimento deste estudo: quando
transcrevemos foneticamente, os fones são colocados entre colchetes [ ]. Por
exemplo, a transcrição fonética da palavra “bota” é *‘bo.ta]. Note que há uma
aspa simples colocada antes de uma sílaba ou da primeira sílaba, sinal que marca
que a sílaba é acentuada. O ponto final entre as sílabas marca a separação silábica.

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Para descrever os sons da fala, a Fonética se utiliza do Alfabeto Fonético


Internacional (AFI)2, criado em 1886, sendo, desde então, muito utilizado por
linguistas, fonoaudiólogos, professores, estudantes e por todas as pessoas
interessadas em saber a pronúncia de uma palavra em qualquer idioma. Em
muitos dicionários de língua estrangeira podemos encontrar ao lado da palavra
em português, a sua transcrição fonética, visando auxiliar na pronúncia da palavra.

As descrições dos sons poderão ser realizadas nas dimensões da Fonética


Articulatória, da Fonética Auditiva e da Fonética Acústica.

A Fonética Articulatória estuda a estrutura biológica, fisiológica,


anatômica, que permite a articulação dos sons, a produção da mensagem. Leva
em conta o que acontece no aparelho fonador durante a produção dos sons.

Na dimensão da Fonética Auditiva ou perceptiva são realizados estudos


sobre os mecanismos de percepção do ouvinte, como os sons são decodificados
pela nossa mente, o nosso cérebro. Nessa dimensão são analisadas as variações
linguísticas, os falares característicos de cada região e a capacidade que os
ouvintes têm de distinguir os sons, bem como de identificar as diferenças entre os
sons falados nas regiões ou grupos, em relação ao padrão linguístico de um povo.

A dimensão da Fonética Acústica estuda as características físicas como a


amplitude, a duração e frequência do som que é emitido na realização da fala
através das ondas sonoras, que são produzidas quando o ar passa pelo aparelho
fonador. A partir da invenção do fonógrafo, aparelho criado por Thomas Edison, os
pesquisadores da Fonética puderam efetuar gravações de sons para análise
acústica, contribuindo para significativos estudos e descobertas, incluindo a
possibilidade de identificar características do falante que emitiu determinados
sons.

Resumidamente, podemos dizer que para a produção dos sons da fala, o


ser humano necessita a corrente de ar que sai dos pulmões, a contração dos
pulmões que produz o percurso do ar e faz vibrar as pregas vocais. Esse ar quando
sai, passa pelas cordas vocais excitando o trato vocal, que funciona como uma
caixa de ressonância, amplificando as frequências do trato vocal, gerando os sons
que ouvimos.

Abaixo, a gravura demonstra a passagem do ar pelas pregas (cordas)


vocais gerando o som:

2
O Alfabeto Fonético Internacional está disponível em http://www.fonologia.org/arquivos/tb_ipa_chart.pdf

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Corrente de Ar3

O Aparelho Fonador humano é formado pelos pulmões, os brônquios, a


traqueia (que constituem os órgãos respiratórios), pela laringe ( que é o local onde
estão as pregas vocais ou "cordas vocais" que produzem a sonoridade e a vibração
dos sons); e pelo trato vocal - formado pela faringe, boca (lábios, dentes, alvéolos,
palato, véu palatino, língua e úvula) e cavidade nasal (composta pelas fossas
nasais e parte superior da laringe).

Aparelho Fonador4

2.2- A Fonologia

No início desta unidade vimos que a fonética estuda os sons da fala nas
dimensões articulatória, auditiva e acústica - ou os gestos corporais, na
3
Disponível em: http://www.thomazaquino.med.br/leitura_do.php?id=40
4
Disponível em: http://www.ocorpohumano.com.br/img/respiratorio_anato.jpg

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modalidade das línguas visoespaciais. Assim, vimos que a Fonética se propõe a


descrever todos os sons ou gestos das línguas humanas de uma forma autônoma,
fora de um sistema de relações com os outros sons, como por exemplo, os sons
[p], [b], [d] [K] são apenas sons da fala, existentes nas línguas orais, analisados
isoladamente. A unidade mínima da Fonética é o “fone”, o som da fala.

Diferentemente da Fonética, a Fonologia se preocupa em saber como


esses sons funcionam no sistema da língua, as relações que eles estabelecem
entre si, as diferenciações e as combinações que originam os morfemas, sílabas,
palavras, frases. O som da língua para ser considerado um fonema, tem que ter
algum valor no sistema linguístico. Segundo Saussure (1995), um som tem valor
linguístico se ele tiver o poder de modificar o significado de um signo, de uma
palavra. Vamos observar o exemplo nos signos: bota e cota – os sons [b] e [k] são
distintivos porque mudam o significado, assim também em bala e vala, os sons /b/
e /v/ são distintivos, mudam o significado da palavra. Quando somente um som
muda o significado de uma palavra, como nos exemplos: bota e cota, bala e vala,
constituem o que chamamos de pares mínimos. Esse som que tem valor distintivo
se chama Fonema. Existem situações em que uma palavra é pronunciada de forma
diferente, conforme o meio cultural e geográfico do falante, por exemplo:
bassoura e vassoura- temos dois sons diferentes /b/ e /v, porém não são
considerados fonemas diferentes porque eles não alteram o significado da
palavra, representam apenas uma variação linguística. Não têm valor distintivo.

Retomando: “o fonema é a menor unidade linguística que distingue


significados” (VIOTTI, 2008, p.53). É a menor unidade linguística que muda o
sentido de um signo, que é formado por um significante e um significado.
Observemos agora as palavras “tia” e “dia”. O /t/ e o /d/ são fonemas porque
mudam o significado das palavras. Se estivermos no Rio de Janeiro, a palavra tia
será pronunciada como tchia e dia como djia, porém, mesmo com pronúncia
diferente, a comunicação não será prejudicada, porque o significado de cada
palavra não foi alterado, são modos diferentes de realização dos fonemas /t/ da
palavra tia e /d/ da palavra dia.

A Fonética e a Fonologia são ciências interdependentes, pois qualquer


estudo fonológico parte da análise fonética ou acústica, para depois analisar as
unidades distintivas da língua que são os fonemas.

2.2.1 A Fonologia das Línguas de Sinais

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As línguas de sinais não usam sons. Então, a área da Linguística, que


estuda a Fonética e a Fonologia, não se aplica às línguas de sinais? Vamos explicar
um pouco sobre essa questão para que fique bem claro para todos, uma vez que a
Fonética e a Fonologia foram criadas a partir dos estudos das línguas orais.

Como explicar a Fonética e a Fonologia das línguas de sinais? Vamos


lembrar que o signo linguístico é formado por significante e significado, unidades
inseparáveis. O significante é uma representação mental acústica (na modalidade
oral) ou ótica (na modalidade das línguas de sinais). Essa representação mental
acústica existe no pensamento, não se concretiza na fala. No início dos estudos
linguísticos das línguas de sinais, William Stokoe - o criador da linguística da língua
de sinais- chamou o estudo dos significantes dos sinais de quirologia, que é uma
palavra de origem grega, formada a partir da raiz “quir”, que significa mão. Porém,
este nome não foi bem aceito, caiu em desuso, e, tanto surdos quanto ouvintes
passaram a usar os termos da Fonética e da Fonologia para tratar dos significantes
das línguas de sinais. Vimos, então, que tanto a Fonética quanto a Fonologia nas
línguas orais estudam os sons da fala e, nas línguas de sinais, os estudos da
Fonética e da Fonologia, segundo Quadros & Karnopp abrangem a descrição
espaço-visual:

A fonética descreve as propriedades físicas, articulatórias e perceptíveis de


configuração e orientação de mão, movimento, locação, expressão corporal e
facial. [...] A primeira tarefa da fonologia para as línguas de sinais é
determinar as unidades mínimas que formam os sinais. A segunda tarefa é
estabelecer quais são os padrões possíveis de combinação entre essas
unidades e as variações permitidas/possíveis no ambiente fonológico (2004,
p. 81-82).

Nas línguas orais, cujo processo de comunicação é oral-auditivo, a


Fonética descreve os sons da fala; nas línguas de sinais, por serem gestual-visual, a
comunicação acontece através dos movimentos, gestos e expressões faciais que
são percebidos pela visão. Assim sendo, a Fonética estuda as unidades mínimas,
os aspectos físicos dos sinais, dos gestos corporais, independentemente do valor
que assumem no funcionamento da língua.

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Produção e Expressão / Português5

Português recepção6

Produção e Expressão / LIBRAS7

8
Recepção /LIBRAS

5
Fonte: http://image.slidesharecdn.com/librasaspectoslinguisticos-140131045446-phpapp02/95/lngua-brasileira-de-
sinais-libras-aspectos-lingusticos-10-638.jpg?cb=1391144185
6
Fonte: http://image.slidesharecdn.com/librasaspectoslinguisticos-140131045446-phpapp02/95/lngua-brasileira-de-
sinais-libras-aspectos-lingusticos-11-638.jpg?cb=1391144185
7
Fonte: http://image.slidesharecdn.com/librasaspectoslinguisticos-140131045446-phpapp02/95/lngua-brasileira-de-
sinais-libras-aspectos-lingusticos-12-638.jpg?cb=1391144185
8
Fonte: http://pt.slideshare.net/andreconeglian/libras-aspectos-linguisticos-30661546

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Anteriormente, vimos que a linearidade é característica, uma


propriedades do signo linguístico. Convém lembrar que a linearidade nas línguas
orais assim se manifesta: na hora da fala, os sons são pronunciados um após o
outro, não sendo pronunciados dois sons ao mesmo tempo; na hora da escrita de
uma palavra escrevemos uma letra após a outra, assim também nas frases, nos
textos, sempre uma palavra após a outra, nunca duas ao mesmo templo,
simultaneamente. A linearidade pressupõe um som articulado de cada vez e, na
escrita, uma letra após a outra, uma palavra após a outra, formando frases ou
textos. Nas línguas orais não há simultaneidade

No início dos estudos linguísticos das línguas de sinais, Stokoe (apud


Quadros & Karnopp, 2007, p. 48), percebeu que a diferença fundamental entre
línguas de sinais e línguas orais, está na simultaneidade de organização dos
elementos das línguas de sinais. Na época, a característica fundamental das
línguas orais estava na linearidade e nas línguas de sinais a principal característica
estava na simultaneidade. Segundo Stokoe (apud Quadros & Karnopp, 2007, p. 48)
a diferença fundamental entre línguas de sinais e línguas orais, está na
simultaneidade de organização dos elementos das línguas de sinais.

Primeiramente, foi Stokoe quem indicou a estrutura para análise da


formação e da decomposição dos sinais da ASL - American Sign Language em três
parâmetros, os quais, assim como os fonemas das línguas orais, não têm
significado isoladamente. Os parâmetros são os seguintes:

a) Configuração de Mãos (CM)

b) Locação de Mãos (L) (ou ponto de articulação)

c) Movimento da mão (M)

O esquema abaixo, apresentado por Hultst (apud Quadros & Karnopp,


2004, p.49) procura demonstrar as características da linearidade na Língua
Portuguesa e da simultaneidade na Língua de Sinais. Na Língua Portuguesa
percebemos a sucessão temporal na estrutura da organização dos fonemas na
composição do morfema, linearmente. Na Língua de Sinais percebemos a
simultaneidade, com a estrutura vertical da organização dos elementos
fonológicos que compõem o sinal.

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9
Produção, Expressão e Recepção

Estudos posteriores realizados a partir do trabalho de Stokoe apresentam


avanços nos estudos fonológicos das línguas de sinais, constatando a presença da
linearidade também nas línguas de sinais e a adição de outros parâmetros que
foram adicionados à Fonologia das línguas de sinais.

Segundo Viotti (2008, p.50), a fonética-fonologia das línguas de sinais


apresentam as características de linearidade e simultaneidade. A linearidade se
apresenta quando, na realização de um sinal, há sequência de suspensões e
movimentos. As suspensões ocorrem quando os sinais são realizados com as
mãos, ou parte delas, paradas. Os movimentos ocorrem quando os sinais são
realizados com as mãos em movimento. Vamos demonstrar a linearidade na
língua de sinais com um modelo de usado por Viotti no sinal EXEMPLO.

Nesse sinal, a mão, posicionada à frente do queixo, faz um pequeno


movimento até contactar o queixo. Esse contacto corresponde a uma
suspensão. A seguir, a mão se afasta até a posição inicial, repete o movimento
e faz o contacto com o queixo novamente. Por isso podemos dizer que o sinal
EXEMPLO constitui-se de quatro segmentos: um movimento, uma suspensão,
outro movimento e outra suspensão (VIOTTI, 2008, p. 50).

A Fonologia da Língua de Sinais Brasileira estuda os traços distintivos, as


unidades mínimas que formam os sinais. As unidades mínimas que formam os
sinais são constituídas pelos seguintes parâmetros:

a) Configuração de mão,

b) Locação (ponto de articulação)

c) Movimento,

d) Orientação da mão

9
Fonte: http://image.slidesharecdn.com/librasaspectoslinguisticos-140131045446-phpapp02/95/lngua-brasileira-de-
sinais-libras-aspectos-lingusticos-16-638.jpg?cb=1391144185

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e) Aspectos não-manuais.

As mãos são os principais articuladores das línguas de sinais. Os


movimentos das mãos se realizam no espaço em frete ao corpo em determinados
pontos de articulação.

Um sinal pode ser articulado com uma ou duas mãos. Um mesmo


sinal pode ser articulado tanto com a mão direita quanto com esquerda; tal
mudança, portanto, não é distintiva. Sinais articulados com uma mão são
produzidos pela mão dominante (tipicamente a direita para destros e
esquerda para canhotos), sendo que sinais articulados com as duas mãos
também ocorrem e apresentam restrições em relação ao tipo de interação
com as mãos.(Quadros & Karnopp 2004,p.51)

Os movimentos da face, expressão do olhar e movimentos do corpo


também têm funções linguísticas.

A produção de um sinal pode ser realizada com uma só mão, e quando


ocorre é realizada pela mão dominante. Um sinal pode ser realizado pela mão
direita ou esquerda.

A seguir serão descritos parâmetros, ou unidades distintivas, da Língua


Brasileira de Sinais, segundo Quadros & Karnopp (2004, p.51-64), que assim os
define: locação, movimento, configuração de mão, orientação da mão e
expressões não-manuais.

2.2.2 Parâmetros ou Unidades Distintivas da Língua de Sinais Brasileira

Configuração de Mão (CM)

Movimento (M)

Locação (L)

Orientação da Mão (OM)

Expressões Não-Manuais (ENM)

Nas línguas de sinais os parâmetros fonológicos (configurações de mão,


as locações e os movimentos) têm caráter distintivo. O que isso quer dizer? Nas
línguas orais, muitas palavras, quando comparadas entre si, diferem no
significante e no significado apenas por um fone, um som diferente entre elas,
exemplo pata e bata. Esse fone é uma unidade distintiva. Os sinais da LIBRAS,
assim como as palavras do português, se estruturam a partir de unidades mínimas

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espaciais, respectivamente. Podemos exemplificar com os sinais distintos


APRENDER e SÁBADO. Os significados distintos entre os sinais acontecem pelo fato
de que em APRENDER o sinal é articulado na testa e em SÁBADO o sinal é
articulado na boca do usuário da LIBRAS. Isto é, há uma característica espacial
distinta nos sinais, o ponto de articulação, que os distingue. Quando o significado
de um sinal é alterado somente por um dos parâmetros, chamamos de pares
mínimos. A seguir, apresentaremos os exemplos disponíveis em Quadros &
Karnopp (2004, p. 52):

Pares Mínimos na LIBRAS10

Configuração de Mãos (CM)

Ponto inicial para realização de um sinal. Para Lucinda Ferreira (2010, p.


36) entende-se por configuração de mãos as diferentes formas que a(s) mão(s)
assume(m) na articulação de um sinal.

10
Fonte: http://www.pead.faced.ufrgs.br/sites/publico/eixo7/libras/unidade4/unidade4_arquivos/imagem4.jpg

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A configuração é um elemento distintivo, podendo mudar o significado do


sinal.

Movimento (M)

O movimento, como o próprio nome diz, dá dinamismo para a língua. É


uma habilidade fundamental para a realização da comunicação na língua de sinais.

O movimento é um parâmetro importantíssimo na produção do sinal.


Normalmente indica uma variação da raiz, da base, mudando o significado do
sinal, porém sempre relacionado ao sinal de origem, distinguindo nomes, verbos,
tempos verbais.

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FONÉTICA E FONOLOGIA

Para a realização do movimento é necessário o objeto e o espaço


(Quadros e Karnopp, 2004, p. 54). O objeto refere-se à mão, enquanto que o
espaço refere-se à área em torno do corpo da pessoa que realiza o sinal.

Segundo Ferreira Brito (apud Quadros e Karnopp, 2004, p.56) os


movimentos referem-se ao:

• Tipo (movimentos retos, curvos, sinuosos, circulares e em várias


direções, de interação, dobramento de pulso, curvamento, interno de mãos...)

• Direcionalidade (para cima, baixo, direita, esquerda, dentro, fora,...)

• Maneira (qualidade, tensão, velocidade)

• Frequência (repetição)

O movimento é um parâmetro que pode variar, seguindo as regras da


língua, sabendo-se que a variação resulta em significado diferente. Mudanças no
movimento podem “distinguir itens lexicais, como por exemplo, nomes de
verbos”, direcionalidade e tempos do verbo (Quadros e Karnopp, 2004, p.55).

Movimento11

11
Fonte: Quadros & Karnopp (2004, p. 55).

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Tipos de Movimentos12

a)Movimento Retilíneo

b) Movimento Helicoidal

c) Movimento Sinuoso

d) Movimento Circular

12
Fonte: http://pt.slideshare.net/janinhaF/libras-16843549

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e) Movimento Semicircular

Locação (L) ou Ponto de Articulação

A locação é um dos principais parâmetros na realização do sinal. É a área


que contém todos os pontos de articulação dos sinais. Compreende um número
limitado de locações que são: tronco, cabeça, mão e espaço neutro e subespaços
como o nariz, boca, olho, etc.

Locação13

A realização de alguns sinais necessita de movimento, indo de um ponto


de locação para outro. Ainda assim o sinal somente terá um ponto de locação.

Ferreira Brito e Langevin (1995) (apud Quadros e Karnopp, 2004, p. 58)


detalham os pontos de articulação apresentados no quadro:

13
Fonte: Quadros & Karnopp , 2004, p.57

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topo da cabeça, testa, rosto, parte superior do rosto, parte


CABEÇA
inferior do rosto, orelha, olhos, nariz, boca, bochechas, queixo
Pescoço, ombro, busto, estômago, cintura, braços, braço/
TRONCO
antebraço, cotovelo
palmas, costas das mãos, lado do indicador, lado do dedo
MÃOS mínimo, dedos, ponta dos dedos, dedo mínimo, anelar, dedo
médio, indicador, polegar
É o espaço à frente do corpo da pessoa que sinaliza (sinalizador).
Vejamos o sinal:
ESPAÇO
NEUTRO
Significado do sinal: casa, morar.
Para realizar este sinal, não tocamos nenhuma parte do corpo.
Assim dizemos que esse sinal é realizado no espaço neutro.
Orientação de Mão (OR)14

Entende-se por orientação a direção para a qual a palma da mão aponta


na realização do sinal: para cima, para baixo, para o corpo, para a frente, para a
direita, para a esquerda.

14
Fonte: Quadros & Karnopp, 2004,p.59-60

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Expressões Não-Manuais15

As expressões não-manuais são unidades mínimas que se realizam com o


movimento da face, dos olhos, da cabeça e do tronco. Segundo Quadros e
Karnopp (2004, p. 60), as expressões não-manuais têm duas importantes funções
nas línguas de sinais:

• Marcação de construções sintáticas – marcam frases interrogativas, sim-


não interrogativas, orações relativas;

• Diferenciações de itens lexicais - marcam referência específica,


referência pronominal, partículas negativas, grau do espectro.

a) Exemplos de expressões não-manuais (ENM)

b) Gestos bucais são realizados concomitantemente com um sinal,


podendo ser uma marca icônica do significado representado pelo
sinal. Exemplos:
15
Fonte: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2176-45732013000200005

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c) Imagem visual da palavra através de uma articulação da boca


relacionada a palavra que está sendo pronunciada.

EXPRESSÕES NÃO-MANUAIS NA LIBRAS


(Ferreira Brito e Langevin, 1995)
ROSTO CABEÇA ROSTO E CABEÇA TRONCO
Parte superior: balanceamento Cabeça projetada para frente
Sobrancelhas franzidas/olhos para frente e para frente,
arregalados/ lance de olhos / para trás (sim) para trás
sobrancelhas levantadas. Olhos levemente
balanceamento cerrados, balanceamento
Parte inferior para os lados alternado dos
Bochechas infladas/bochechas (não) sobrancelhas ombros
contraídas/ franzidas.
inclinação para balanceamento
Lábios contraídos e projetados frente Cabeça projetada simultâneo dos
e sobrancelhas franzidas / para trás e olhos ombros
inclinação para o arregalados.
Correr de língua na parte lado balanceamento de
inferior interna da bochecha um único ombro
inclinação para
Apenas bochecha direita trás
inflada

Contração do lábio superior


Franzir de nariz

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2.3 Restrições na Formação de Sinais

Segundo Quadros e Karnopp, (2004, p.79), restrições físicas e linguísticas


explicitam possíveis combinações entre as unidades mínimas (CM,M e L) na
formação dos sinais.

As restrições na formação dos sinais são oriundas do sistema de


percepção visual e do sistema articulatório – fisiologia das mãos. Há duas
restrições fonológicas para a boa formação dos sinais envolvendo as duas mãos: a
condição de simetria e a condição de dominância.

Condição de simetria: determinadas restrições aparecem caso as duas


mãos se movam na produção de um sinal: A CM deve ser a mesma para asa duas
mãos, a Locação deve ser a mesma ou simétrica, e o movimento deve ser o
mesmo ou alternado.

Condição de simetria16

Condição de dominância: se as mãos apresentam distintas CM, então a


mão ativa produz o movimento, e a mão passiva serve de apoio, apresentando um
conjunto de CM (não-marcados).

Condição de dominância17

16
Fonte: Quadros & Karnopp,2004,p.79
17
Fonte: Quadros & Karnopp,2004,p.79

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