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Foi o que deu pra pensar

Na tentativa de escrever sobre elementos da cultura que me constituem, me deparo


inicialmente com o próprio meio de escrita que utilizo, um computador. Tento entender como
um computador pode ter a ver com minha constituição enquanto sujeito e penso que possa ser
muito. O meu contato com tecnologia de alguma forma me atravessa em aspectos que eu
consigo explicar, como gostar de estar em casa jogando tanto quanto sair e encontrar amigos, e
aspectos que estão fora do meu alcance exploratório, por exemplo, em como essas tecnologias
estão relacionadas com meu desenvolvimento emocional, cognitivo e lógico. Desde sempre
estou inserido em um contexto de relações rápidas, então, as tecnologias que ampliam isso
fazem parte da minha vida e da minha linguagem pelo contato com computadores, vídeo games,
celulares.

Sobre minha relação com a música, aconteceram dois processos, primeiro o que recebi de meus
pais, de seus gostos particulares (rock, tradicionalista e sertanejo), formaram minhas primeiras
inserções em meios culturais específicos. Com a minha adolescência, fico atravessado pelo
popular em circulação, funk (anos 2000), e juntamente atravessado por rock, em uma busca de
estar me inserindo aos poucos em grupos sociais dentro da escola. Passo a pesquisar, aprender,
entender este estilo e traze-lo aos poucos para a minha vida e meu modo de pensar.

Por mais que não seja religioso, sou atravessado por questões religiosas em minha ética e moral,
e isso se deve ao fato de estar inserido em um país de maioria cristãos e por ter participado
ativamente em religiões cristãs durante minha infância e adolescência.

Se há um modo de pensar em mim que exige organização metódica, está relacionado ao meu
atravessamento constante pela escola, que no modo como se configura, vai formando sujeitos
de formas bem características herdadas do pensamento cartesiano. A escola separa seus
saberes em disciplinas organizadas especialmente para “inserir” o conhecimento no sujeito que
passa por ela, e reconheço que muitas das minhas tentativas de colocar a realidade em caixinhas
são frutos do modo como a escola e a universidade me subjetivaram e subjetivam.

Olhando para minha localização espacial, inserido no Rio Grande do Sul, também vejo que sou
constituído pela cultura em minha linguagem, atravessamento visto nos meus “tu”, “bah”,
“guris” e “gurias”, e muitas outras palavras. Não dispenso um bom chimarrão e uma boa milonga
para acompanhar, algo que compartilho especialmente com meus pais, pois foi em grande parte
recebido pela família.

Em geral, sinto que nas minhas relações fui e sou atravessado por muitas outras questões, vejo
em mim aquela resiliência característica do povo brasileiro. Gosto de samba, de axé, de forró, e
só entendi que sou constituído também por essa música depois que entendi que em nenhum
momento a neguei, só estava pouco inserido nos meios de subjetivação em que elas ocorrem.

Entendo que todos esses atravessamentos que se encontram em mim vão se transformando, se
ampliando, se apagando e dando lugar a novos atravessamentos que vão ser mais importantes
para mim de acordo com o contexto. Algo fica, algo dá espaço a novos gostos, a uma linguagem
diferente e a diferentes relações com o mundo e as pessoas.

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