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SEMINÁRIO TEOLÓGICO

EBNESR

NT201 – PANORAMA DO NOVO


TESTAMENTO
Aula 01 – Introdução

Álvaro César Pestana

EBNESR
Recife, PE
2014
NT201-01 Introdução 2014 Álvaro C. Pestana

SEMINÁRIO TEOLÓGICO EBNESR


CNPJ.: 02.967.320/0001-40 Insc.: Isento
Rua Baronesa de Palmares, 190 - Boa Viagem
51030-110 – Recife, PE. (81) 3341-6514 / 3342-5269
ebnesr@gmail.com

Dedicatória:

Para
Lucas T. C. Pestana:
Meu filho amado.

PESTANA, Álvaro César. NT201 – Panorama


do Novo Testamento: Aula 01 – Introdução.
Recife: EBNESR, 2014.

26 p: 30 cm.

1. Bíblia; 2. Novo Testamento; 3. Introdução; 4.


Panorama; 5. Cristianismo.

© 2014 Álvaro César Pestana

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NT201-01 Introdução 2014 Álvaro C. Pestana

INTRODUÇÃO

Desde os tempos do profeta Jeremias, uma Nova Aliança já


estava prometida ao povo de Israel (Jr 31.31-34). Quando Jesus
estava prestes a consumar sua obra redentora na cruz, ligou sua
morte na cruz com o início desta Nova Aliança (Lc 22.20; 1Co
11.25). Os cristãos posteriores entenderam que estavam vivendo
nesta Nova Aliança por meio da fé em Jesus e no evangelho
anunciado por meio dele e nele (Hb 8.1-13). Assim, a Nova
Aliança se cumpre no cristianismo.
A palavra grega usada para designar aliança é o termo diatheke.
Esta palavra, em grego, também pode designar um testamento.
Foi por causa destes dois sentidos do termo que o autor da
Epístola aos Hebreus explicou que a Nova Aliança, mediada por
Jesus (Hb 9.15) era também um testamento: ou seja, um acordo
ou pacto que passa a vigorar com a morte do testador (Hb 9.16-
17). Ora, como a Nova Aliança entrou em vigor com o
derramamento do sangue de Jesus, ou seja, com sua morte (Hb
9.18), ela também é o nosso Novo Testamento.
Esta é a origem do termo Novo Testamento, aplicado aos livros
cristãos que foram produzidos pelo Espírito Santo, enviado por
Jesus, para guiar a igreja e anunciar o cumprimento das promessas
da Antiga Aliança, ou seja, do Antigo Testamento.1
Os vinte e sete livros que são agrupados como Novo Testamento
serão o alvo desta lição.

1
Lembro-me da objeção do finado prof. Walter Rehfeld, do Centro de Estudos Judaicos
da USP, contra usar o termo Velho Testamento para designar a Bíblia Hebraica, pois
para ele, o Novo Testamento era um testamento por causa da necessidade de
testemunhas para o ratificarem, mas na opinião dele, a Tanakh não veio por meio de
testemunhas. Contudo, ele não estava consciente deste jogo de palavras possível pela
dupla tradução de diatheke como aliança e testamento. Além disto, ele não levou em
conta a interpretação tradicional cristã que afirma que o Velho Testamento também é
um testamento, pois cumpriu-se com a morte de Jesus: ou seja, Jesus cumpre a Velha
Aliança com sua morte e estabelece a Nova Aliança, também com sua morte. Logo,
ambos podem ser entendidos legalmente como “testamentos”, pois atingem sua
consumação com a morte do Testador.
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SÍNTESE
O Novo Testamento como um agrupamento de livros cristãos.
Suas divisões e a classificação de seu conteúdo. A história entre o
Velho e o Novo Testamento. A história do Novo Testamento. A
formação do Novo Testamento e o reconhecimento dos livros
canônicos.

DISCUSSÃO
I. PANORAMA DOS AGRUPAMENTOS DOS LIVROS DO
NOVO TESTAMENTO.2
Numa análise do Novo Testamento, observemos as diferentes
formas de agrupar os livros. Normalmente, agrupamos os vinte e
sete livros da seguinte forma:
Evangelhos (4) Mt, Mc, Lc, Jo
História da At
Igreja (1)
Cartas (21) De Paulo: Rm, 1&2Co, Gl, Ef, Fp, Cl,
1&2Ts, 1&2Tm, Tt, Fm [Hb?]
Gerais: Hb, Tg, 1&2Pe, 1,2&3Jo, Jd
Profecia (1) Ap

Esta distribuição tornou-se muito tradicional, de forma que quase


todos os Novos Testamentos que encontramos apresentem os
livros nesta ordem e classificados mais ou menos desta forma. É
possível simplificá-la:

2
Para este primeiro ponto de nosso estudo, utilizo pesadamente o meu texto em:
PESTANA, Álvaro C. O que é a Bíblia: Aula 06 – Os Evangelhos e Atos. Campo
Grande: Escola de Teologia em Casa, 2011.
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Livros históricos Mt, Mc, Lc, Jo, At


(5)
Cartas (22) Rm, 1&2Co, Gl, Ef, Fp, Cl, 1&2Ts, 1&2Tm,
Tt, Fm, Hb, Tg, 1&2Pe, 1,2&3Jo, Jd, Ap

Podemos, contudo, agrupar os livros do Novo Testamento de


outros modos3.
EVANGELHOS
Os evangelhos, por exemplo, são normalmente divididos em dois
grupos:
Evangelhos Sinóticos Quarto Evangelho
Mt, Mc e Lc Jo
Evangelhos que contam a O evangelho de João narra a
história de Jesus de uma ótica história de Jesus de uma ótica
semelhante. Várias teorias diferente da dos outros três
tentam explicar o evangelhos.
relacionamento entre os três.

Por outro lado, nunca devemos olvidar o fato que o Evangelho de


Lucas e o Livro dos Atos dos Apóstolos são, na verdade, uma
obra única em dois volumes. Assim, embora Lucas esteja entre os
Evangelhos, sua obra é mais abrangente em tempo e escopo do
que qualquer dos outros evangelhos.
Os Evangelhos são um gênero literário difícil de classificar.
Acreditamos que, mesmo depois de notar muitas semelhanças e
contrastes com outras formas literárias, a melhor postura é
considerar os evangelhos como um novo gênero literário. Embora

3
BAXTER, J. S. Examinai as Escrituras: Gênesis a Josué (1). São Paulo: Vida Nova,
1992, p. 18-21, apresenta uma classificação curiosa e exótica. Ele divide o Novo
Testamento em: 5 livros de História (Mt, Mc, Lc, Jo, At) e 22 livros de Experiência-
Doutrina (9 Epístolas à Igreja Cristã: Rm, 1-2Co, Gl, Ef, Fp, Cl, 1-2Ts; 4 Epístolas
Pastorais e Pessoais: 1-2Tm, Tt, Fm; 9 Epístolas aos Cristãos Hebreus: Hb, Tg, 1-2Pe,
1-2-3Jo, Jd, Ap).
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nossas classificações tentem abordá-lo ora como história e ora


como biografia, esta forma literária vai muito além do que
consideramos os objetivos da história ou da biografia.
A forma dos evangelhos decorre da pessoa e da pregação de
Jesus, sendo preservados para a proclamação de sua pessoa a
obra.4
De nada nos serve uma história de Jesus que não o apresente
como Senhor e Salvador. A estultícia de compor uma biografia
científica de Jesus jamais passou pela cabeça das testemunhas
oculares que viram sua glória. Jesus é impossível de ser
“fotografado”: temos que nos contentar em andar na sua luz. Esta
luz brilha nos Evangelhos.
Os Evangelhos são a proclamação de Jesus, o Nazareno, o Filho
de Deus, o Salvador de todos os homens.
CARTAS
As Epístolas ou Cartas também são classificadas de vários
modos5. Podemos pensar nas cartas de Paulo como sendo:
Cartas para sete 1&2Co, Ef, Fp, Cl, Gl, 1&2Ts e Rm
igrejas (9)
Cartas para três Fm, Tt e 1&2Tm
amigos (4)
Carta para um Hb [supondo que seja de Paulo]
povo (1) [?]

Veja que o agrupamento das cartas de Paulo às sete igrejas sem


dúvida assentaria o fato destas representarem toda a cristandade,

4
PESTANA, Álvaro César, O Evangelho de Marcos: Arte Poética e Arte Retórica In:
POSSEBON, Fabrício (Org.). O Evangelho de Marcos. João Pessoa: Editora
Universitária UFPB, 2010, p. 27-30.
5
Sigo aqui, um pouco da classificação e ordem encontrada na mais antiga lista de livros
o Novo Testamento de que dispomos, o chamado “Cânon de Muratori”. Veja
BETTENSON, H. Documentos da Igreja Cristã. 3a Edição. São Paulo:
ASTE/Simpósio, 1998, p.67-68 § 48.
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como as sete igrejas da Ásia também representavam no livro de


Apocalipse.6
Também foi sugestivo que as “Epístolas Gerais” ou “Epístolas
Católicas” (no sentido de terem sido enviadas a “todas” as igrejas)
também somem sete: Tg, 1&2Pe, 1,2&3Jo e Jd – duas escritas por
apóstolos e duas escritas por irmãos de Jesus, filhos de José e
Maria.
Outras classificações também são úteis quando estudamos as
cartas de Paulo.
Lembre-se que a atual ordem das cartas nos nossos Novos
Testamentos não é cronológica, mas segue aproximadamente um
ordem de “tamanho” dos livros. Romanos, o maior de todos
encabeça a coleção e Filemom, o menor, termina o grupo7.
Assim, uma classificação cronológica ajuda a inserção das cartas
em seu contexto histórico, muitas vezes aludido no livro dos Atos.
Somente as chamadas “Epístolas Pastorais” foram escritas em
época posterior aos eventos registrados em Atos.
Epístolas da primeira viagem Gl
missionária (At 13-15)
Epístolas da segunda viagem 1&2Ts
missionária (At 15-18)
Epístolas da terceira viagem 1&2Co e Rm
missionária (At 19-21)
“Epístolas da Prisão” (At 28) Fp, Ef, Cl e Fm
“Epístolas Pastorais” 1Tm, Tt, 2Tm

6
FERGUSON, Everett. Early Christians Speak: Volume 2. Abilene: ACU Press,
2002, p. 66.
7
Para ser mais exato, a ordem de tamanho e importância é obedecida em duas séries:
(1) Rm-2Ts e (2) 1Tm-Fm. A primeira série é de cartas para igrejas e a segunda para
indivíduos.
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Estes agrupamentos das cartas de Paulo não somente servem a


princípios de organização histórica, mas também agrupa as cartas
por questões doutrinárias e vocabulares. As “Epístolas Pastorais”
escritas depois da libertação da prisão romana narrada em Atos
28, refletem um vocabulário próprio. Este vocabulário era
apropriado e adaptado ao assunto das cartas, além de poder
refletir um desenvolvimento vocabular de Paulo, talvez, devido à
sua possível viagem missionária à Espanha.8
As chamadas “Epístolas da Prisão” também têm certos temas
enfatizados, sobretudo quando comparamos Efésios e
Colossenses.
Assim, estes agrupamentos nos fazem ver como aqueles
documentos atingiam objetivos específicos de auxílio ao
desenvolvimento espiritual das igrejas.
As sete epístolas não paulinas do Novo Testamento foram
chamadas de “Epístolas Gerais” ou “Epístolas Católicas” por se
acreditar que foram dirigidas a toda a cristandade e não a um
grupo específico como as cartas de Paulo9.
Embora algumas cartas não tenham um endereçamento preciso, a
ideia de cartas “para todos os cristãos” ainda não parecia ser
possível. A Primeira carta de Pedro está endereçada para uma
região específica (1Pe 1.1-2). A Terceira Epístola de João é uma
carta para uma pessoa: Gaio (3Jo 1). De fato, o conteúdo de todas
as cartas mostram que cada autor tinha um grupo específico de
leitores em mente.
Assim, as “Epístolas Gerais” guardam características que lhes são
próprias. 2Pedro e Judas têm uma proximidade de conteúdo difícil
de não perceber. As três pequenas Epístolas de João respiram o
mesmo tipo de teologia e ambiente. 1Pedro guarda semelhanças e
diferenças notáveis com as cartas paulinas. Tiago, por sua vez,

8
Romanos 15.24, 28; Cânon Muratoriano; 1Clemente aos Coríntios 5.8.
9
A ausência da frase “em Éfeso” (Ef 1.1) em muitos manuscritos antigos, tem levado
muitos a imaginarem se esta carta não seria uma verdadeira “Encíclica” a ser lida nas
igrejas da Ásia. Poderia ser o que os Laodicenses receberam em Cl 4.16.
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apresenta um estilo e temática totalmente próprios. Talvez seja o


primeiro livro escrito no Novo Testamento.
Todas as cartas têm a função de instruir, animar e edificar a igreja
à distância10. São comunicação casual e extemporânea baseada
em princípios eternos e importantes. Por esta razão, o Novo
Testamento tem elementos que nos remetem ao momento
específico da produção dos documentos e, ao mesmo tempo, tem
elementos de validade para todas as gerações de cristãos em todas
as épocas e lugares. 11
A Epístola aos Hebreus é um dos mistérios do Novo Testamento.
Como veremos, começa como tratado, discorre como sermão e
termina como epístola.12 Sua forma é um enigma, mas a função de
“palavra de exortação” (Hb 13.22) consegue se estabelecer.
PROFECIA
Muitos classificam o livro de Apocalipse como o único livro
profético do Novo Testamento. De fato, o próprio livro nomeia a
si mesmo como profecia (Ap 1.3; 22.7, 10, 18-19). Contudo,
profecia não lida apenas com o futuro distante, mas com a
exortação, o ensino e a motivação (1Co 14. 3). É obvio que, no
livro de Apocalipse, o elemento de predição é muito forte, pois o
livro prevê a ação divina em vários momentos. Por outro lado,
vários textos dos Evangelhos13 e das Cartas14 também podem e
devem ser considerados proféticos, falando de ações divinas no
futuro.
Outros dois mal entendidos sobre o Apocalipse são: (i) que ele
seja um livro sobre o fim dos tempos ou (ii) apenas sobre as
10
Pensamos que Educação à Distância é um fenômeno moderno, mas o Novo
Testamento não deixa de ser uma forma de “Educação Religiosa à Distância”.
11
Outro modo de afirmar isto está em FERGUSON, Everett. The Church of Christ.
Grand Rapids: Eerdmans, 1996, p. xviii: “ ... as correções [do NT] são elevadas fora do
domínio do temporal e do temporário para o domínio do normativo e permanente. […]
Entretanto, as circunstâncias históricas do primeiro século não são normativas para os
cristãos de séculos posteriores, mas o ensino apostólico dado naquelas circunstâncias
históricas é normativo.”
12
LIGHTFOOT, Neil R. Hebreus. São Paulo: Ed. Vida Cristã, 1981, p. 46.
13
Mateus 24-25 por exemplo.
14
1Coríntios 15 por exemplo.
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catástrofes associadas com este fim. Na linguagem popular, a


palavra “apocalipse” e “fim do mundo” tornaram-se próximas.
Os dois erros precisam ser evitados. (1) O Apocalipse, como todo
livro bíblico fala do futuro, mas muito mais de sua época. (2) O
Apocalipse não está oferecendo um mapa do fim dos tempos, mas
uma descrição da vitória dos povo de Deus contra os poderes
políticos (diabólicos e humanos) do mal.
Apesar do Apocalipse usar uma enigmática linguagem simbólica,
ele também usa muitos elementos simples e conhecidos da
epistolografia antiga.
O primeiro parágrafo caracteriza o obra como um livro profético
(Ap 1.1-2). Outro parágrafo caracteriza o livro como epístola (Ap
1.4-8). De fato, dois capítulos são uma “compilação de cartas”
(Ap 2-3). Depois disto, o livro é composto por visões e
experiências do vidente em linguagem simbólica e exaltada. O
fecho da obra, contudo, é o fecho de um livro (Ap 22. 18-20) e
também o fecho de uma carta (Ap 22.21).
Assim, o livro é uma mistura de livro profético com epístola!
O Apocalipse, com seu gênero único, entrou no Novo Testamento
também para desempenhar uma função única: animar cristãos sob
perseguição imperial direta e aberta.
Recordando: Os livros históricos do Novo Testamento
não estão ali a serviço da história, mas a serviço da
proclamação do evangelho. As cartas do Novo
Testamento eram correspondência particular e para sua
época, mas, como os princípios que nortearam sua
redação eram o ensino de Jesus, tornaram-se modelos
de aplicação do evangelho na vida cotidiana. O
Apocalipse não é um livro para amedrontar, mas para
animar.
*********

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II. PANORAMA DA HISTÓRIA ENTRE O VELHO E O NOVO


TESTAMENTOS.15
Chama-se “Período Interbíblico”, “Período Intestestamental” ou
simplesmente “Intertestamento” ao tempo que vai deste cerca do
ano 400 a.C. até os tempos narrados no Novo Testamento, na
época do nascimento de João Batista e de Jesus, cerca do ano 7 ou
6 a.C. Como o próprio nome procura explicitar, o período tratado
não é acompanhado de nenhuma narrativa bíblica, nem do Velho
ou do Novo Testamentos, mas fica “entre” estes dois períodos.
Quando o Velho Testamento foi encerrado em sua redação, o
povo de Deus estava no território de Judá. Ela era uma pequena
província do Império Persa, que falava aramaico, ao redor da
cidade-templo de Jerusalém. Nesta época, os Medo-Persas regiam
o mundo por cerca de 90 anos e continuariam regendo por mais
uns 200 anos.
Contudo, quando abrimos o Novo Testamento temos muitas
mudanças: (i) o mundo já é regido pelos romanos, (ii) todo
mundo fala grego e (iii) os judeus estão mais espalhados,
ocupando até a Galileia, mas falando grego e o aramaico. Muitas
coisas mudaram; há os vários Herodes, encontramos pela primeira
vez as sinagogas, e nos deparamos com várias seitas judaicas.
Tudo isto é novidade: coisas que surgiram nestes 400 anos entre o
Velho e o Novo Testamento.
Este estudo esquemático do Período Interbíblico procura mostrar
como as coisas chegaram a ser o que encontramos no Novo
Testamento, ou seja, como o cenário do Velho Testamento mudou
para tornar-se o mundo do Novo Testamento.
ESBOÇO: PERIODIZAÇÃO DA HISTÓRIA.
Para ajudar entender as mudanças da história que ocorreram no
Período Interbíblico, é bom considerar abaixo os vários impérios
que dominaram, sucessivamente, a Palestina desde o fim do
Velho Testamento até a época do Novo Testamento.
15
Neste segundo ponto, utilizo amplamente: PESTANA, Álvaro C. A Bíblia Toda em
Um Ano. Recife: EBNESR, 2011.
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1. Período PERSA: [410-332] (de fato, de 539-332).


2. Período GREGO: [330-166]
a. Palestina sob domínio dos Ptolomeus [Egito]
b. Palestina sob domínio dos Selêucidas [Síria]
3. Período ASMONEU: [166-63]
4. Período ROMANO: [63 a.C.- ...]

RESUMO DA HISTÓRIA DOS JUDEUS, DESDE O IMPÉRIO


PERSA ATÉ O INÍCIO DO DOMÍNIO ROMANO:
Os judeus viviam em paz dentro do Império Persa. Além dos
persas terem permitido o retorno dos judeus para Jerusalém e
arredores (Judeia), eles foram tolerantes com os judeus e até os
apoiaram em várias ocasiões. No apogeu do seu poder, o Império
Persa invadiu a Grécia nos reinados de Dario e Xerxes. Estas
invasões pouco redundaram aos persas, mas despertaram nos
gregos o espírito bélico que, no transcorrer da história, resultará
na conquista do Império Persa por Alexandre Magno, o
macedônico.
Alexandre conquistou o Império Persa com incrível rapidez, mas
ao final de suas conquistas, sua morte prematura, deixou seu reino
fragmentado em cinco reinos concorrentes, que depois tornaram-
se quatro. Destes quatro reinos, dois são de primordial
importância para o estudo da história de Judá: O reino dos
Ptolomeus no Egito e o reino dos Selêucidas na Síria.
Na primeira partilha do reino de Alexandre Magno, a Palestina,
incluindo a Judéia, ficou incorporada ao reino dos Ptolomeus, do
Egito. Esta participação foi muito positiva para o judaísmo. Nesta
época iniciou-se a tradução do Velho Testamento do hebraico
para o Grego. Esta versão, mais tarde chamada Septuaginta, foi a
Bíblia dos judeus que falavam grego no mundo antigo. A própria
capital do Império Ptolemaico, Alexandria, tinha dois bairros
judeus na cidade que tinha apenas cinco bairros.

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Mais tarde, devido a guerras e intrigas entre os Ptolomeus e os


Selêucidas, a Palestina passou ao domínio dos gregos da Síria. O
resultado foi que, mais tarde, os reis gregos da Síria, os
Selêucidas, perseguiram os judeus. Em especial, o rei Antiôco
Epifânio tentou forçar os judeus a renegarem sua religião. O
resultado foi a revolta dos Macabeus, que acabou por gerar uma
relativa independência dos judeus com relação ao reino da Síria.
Os Macabeus eram os filhos de um sacerdote chamado Matatias
que revoltou-se contra os decretos dos reis da Síria que obrigam
os judeus a negarem sua fé. Seus filhos, em sucessivas guerras
acabaram por obter independência da Judeia em relação à Síria e
iniciou-se o Reino dos Asmoneus, pois Asmom era o nome do pai
de Matatias.
Alguns dos reis asmoneus foram os responsáveis pelo
crescimento do reino, de modo que eles acabaram por dominar
toda a Judéia, Iduméia, Samaria, Galileia e parte da Trans-
Jordânia. Esta dinastia destes reis-sacerdotes durou apenas cerca
de cem anos.
As intrigas internas pela sucessão do trono acabaram deixando
aproveitadores tomarem o poder. Um destes grandes
aproveitadores era Antipater, um idumeu, cujo filho Herodes,
acabou sendo o Herodes Magno que conhecemos pelas narrativas
do início do Novo Testamento. A dinastia dos Asmoneus acabou
e a família de Herodes, com auxílio dos romanos, reinou na
Judeia e em toda a Palestina.
Os romanos já interferiam na Judeia desde o tempo de Antiôco
Epifânio, mas a tomada da cidade de Jerusalém e a anexação da
Judéia ao domínio romano só ocorreu em 63 a.C., com a ação de
Pompeu. Desde esta época, a Judeia era governada por reis
fantoches da família de Herodes, e quando interessava aos
romanos, procuradores administravam a Judeia. O Império
Romano era um império, geograficamente, do Mediterrâneo,
culturalmente, Helenístico e politicamente, Romano.
As guerras judaicas de 66-70 d.C. e de 134-135 d.C. acabaram
com a independência, e a maior importância da Palestina na vida
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do judaísmo. Depois disto, a Dispersão dos judeus tornou-se o


mais importante local da vida do judaísmo.

NOVOS ELEMENTOS SURGIDOS NO PERÍODO


INTERBÍBLICO:
1. O JUDAÍSMO ANTIGO:
Os três serão os grandes focos e eixos do judaísmo no Novo
Testamento vão se desenvolver no intertestamento: Templo, Lei e
Sinagoga.
O Templo reconstruído no tempo dos Persas tornou-se o centro
da vida dos judeus da Judeia e até mesmo daqueles que viviam na
Dispersão. A hierarquia sacerdotal tornou-se muito importante
para o judaísmo.
O cultivo da Lei, a Toráh, escrita e a oral, no estudo e na prática,
tornou-se outra das principais características do Judaísmo. Da
tradição oral surgirá o Mishnah, a Gemara e finalmente o
Talmude – todos estes são livros de explicação da Toráh:
comentários de comentários.
A Sinagoga, que deve ter surgido no Exílio Babilônico tornou-se
outro grande centro da vida judaica. Nela, não apenas a vida
religiosa, mas a vida cívica e social dos judeus tinha seu eixo.
Mais tarde, quando o templo for destruído, a sinagoga e o cultivo
do estudo das leis orais e escritas serão centralizados nas
sinagogas e o judaísmo passa a ser um judaísmo da sinagoga.
2. AS SEITAS DO JUDAÍSMO ANTIGO:
No Novo Testamento serão citados os Fariseus, Saduceus, Zelotes
e Herodianos, contudo os Essênios e os Terapeutas e outros
grupos menores coexistiam.
Estas seitas que não são mencionadas no Velho Testamento
aparecem com toda a naturalidade no Novo Testamento. Elas
surgiram da luta do Judaísmo com as tendências do Helenismo e

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ao mesmo tempo com um pouco de sincretismo com outras linhas


de pensamento do mundo antigo.
FARISEUS: podemos considerá-los como um grupo de “centro-
esquerda” do judaísmo, com expressões populares e, também
eruditas. Os Fariseus descendem dos Hassidins que por sua vez
surgiram no período em que os Seleucidas reinaram dominando a
Palestina e especialmente na época em que perseguiram os
judeus. Estes Hassidins lutaram conta a helenização naquela
época. Os fariseus valorizavam a Toráh oral e escrita, que para
eles compreendia todo o Velho Testamento. Ocupavam-se da
interpretação a lei para viver uma vida pura nos padrões dela.
Apesar de lutarem contra o helenismo, eram influenciados pelos
gregos. Por exemplo, as “Sete Regras de Interpretação da Bíblia”
de Hillel são regras gregas! Criam no livre-arbítrio e também na
soberania divina, na imortalidade da alma, nas recompensas pós-
morte, na ressurreição, nos anjos, espíritos e demônios.
Enfatizavam era a ética e não a teologia: buscavam a pureza e a
observância da lei cerimonial. O interesse escatológico e
messiânico do grupo variava muito.
SADUCEUS: podemos caracterizá-los como um grupo de
“centro-direita” do judaísmo. Eram aristocratas e sacerdotal.
Acatavam apenas a Toráh escrita, e talvez apenas o Pentateuco.
Com interesses mais sacerdotais, sua interpretação da lei era mais
literal que a dos fariseus. Eles aceitaram um maior grau de
helenização para ter e manter o poder. Quase não tinham
esperança escatológica: para eles não havia mundo espiritual. Por
outro lado, eram muito exigentes na pureza levítica. Enfatizavam
o livre-arbítrio e resistiam às ideias Messiânicas, geralmente
revolucionárias.
ZELOTES ou CANANEUS: representavam a “extrema-esquerda
radical” do judaísmo. Originaram-se na Galileia, dos antigos
movimentos de resistência, que segundo alguns, vinha já do
tempo das conquistas dos Assírios! Os Zelotes que encontramos
no Novo Testamento são produto de vários movimentos políticos,
sociais e religiosos, ora associados a Judas, o Galileu, ora ligados
até mesmo aos fariseus. Inspiravam-se em Fineias em seu zelo
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sanguinário. Criam em um messianismo político extremado e


tinham um zelo igualmente extremado pelas tradições de Israel.
Um de seus lemas era “Não pagar imposto aos romanos”. Eram
contrários ao uso do grego na Palestina e desejariam banir toda
interferência estrangeira na Palestina.
HERODIANOS: embora seja difícil caracterizar plenamente os
Herodianos, eles seriam um “partido político-religioso de direita”
no judaísmo antigo. Não podemos saber muito sobre as
concepções deste grupo mas aparentemente era formado por um
grupo de cortesãos da família de Herodes com clara tendência
pró-romana no pensamento. Seu interesse imediato era a dinastia
de Herodes, que era um “cliente” do grande patrono, os Césares
Romanos.
ESSÊNIOS: podemos dizer que eles eram um grupo de “centro-
direita na esquerda” do judaísmo antigo. Também descendiam
dos Hassidins, mas em algum momento passado separaram-se
deles. Eram um grupo sacerdotal, e ao mesmo tempo contra-
sacerdotal, pois rejeitavam como indignos aos sacerdotes que, na
época, atuavam no templo judaico. O Novo Testamento não cita
este grupo, mas eles são influentes no ambiente do antigo
cristianismo. As ruínas descobertas em Qumrã trouxeram à luz a
literatura e algumas ideias deste grupo. Criam em dois messias,
um sacerdotal e outro davítico, mas em outras literaturas parece
que criam em três: um de Arão, outro de Moisés e um último de
Davi. Praticavam a mais rigorosa pureza ritual. Eles não tirariam
um boi que caísse num buraco no sábado! Viviam em
comunidades de partilha de bens, com culto, estudo e batismos
diários. Evitavam o casamento e proibiam o divórcio. Tinham a
escatologia e o messianismo em alta. Os TERAPEUTAS devem
ter sido um tipo ou uma variação desta seita sacerdotal. Filão, um
escritor judeu de Alexandria, descreve este grupo como ‘monges’
que vivem em grupos, mas em pequenas residências separadas.
3. DIÁSPORA ou DISPERSÃO:
Houve um grande aumento da Diáspora, ou seja, do número de
Judeus dispersos pelo mundo. Eles estavam em grandes

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concentrações na Babilônia e Egito. Depois também encheram a


Ásia Menor, a Síria e até mesmo Roma. Atos 2 é testemunha da
grande dispersão dos judeus.
4. LITERATURA:
No Intertestamento surgiram a Septuaginta, muitos livros
apócrifos e pseudo-epigráficos. Embora o cânon estivesse
“fechado” a atividade literária dos judeus foi intensa.
Embora os judeus venerassem especialmente o que chamamos
hoje de Velho Testamento, muitas outras literaturas religiosas
foram produzidas no Período Interbíblico. A confusão destes
livros com os do Velho Testamento só surgiu na controvérsia
Católica do Concílio de Trento. São, contudo, livros interessantes
para compreender o pensamento do judaísmo.
Neste período foi feita a tradução do Velho Testamento do
hebraico para o grego – a Septuaginta. Ela tornou-se a Bíblia dos
judeus fora da Palestina e um grande meio de evangelização para
a igreja.

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III. PANORAMA DA HISTÓRIA DO NOVO TESTAMENTOS.16


Estudaremos, em uma visão global e rápida, toda a história dos
tempos do Novo Testamento, o Primeiro Século da Era Cristã,
conforme os documentos neotestamentário lançam luz e se
relacionam com estes tempos.
I. A HISTÓRIA DE JESUS NOS EVANGELHOS.
Do ano 4 ou 6 a.C. até o ano 30 d.C. para ter uma sequência
histórica, precisamos ler os evangelhos: a vida de Jesus.
Os evangelhos não são biografias e nem uma história o sentido
restrito do termo. São documentos teológicos, altamente bem
pensados, mas também absolutamente baseados na verdade e nos
fatos, dada sua natureza sincera e honesta. São relatos de
testemunhas oculares que nos permitem conhecer algo da história
embora seu alvo não seja a pesquisa histórica e sim a proclamação
de Jesus como Senhor e Salvador.
O tempo que eles abrangem é pequeno em relação ao período
total da vida de Jesus: falam pouquíssimo da infância de Jesus e
não dão tratamento abrangente para sua vida, mas focalizam
sempre a semana da paixão. Contam as histórias e ensinos
necessários para a compreensão de Jesus e do significado de sua
obra.
Podemos ter uma sequência histórica da vida de Jesus e de um
pouco do seu tempo, lendo os evangelhos.
LIVROS BÍBLICOS DO PERÍODO:
Nenhum dos livros do Novo Testamento foi escrito durante este
período, visto que Jesus ainda estava vivo e só comissionou seus
apóstolos depois de sua ressurreição. Há quem acredite que o
“Documento Q”, que constava de ditos de Jesus poderia ter sido
compilado durante o ministério de Jesus por um de seus
apóstolos. Isto, contudo, é mera especulação.

16
Aqui também uso: PESTANA, Álvaro C. A Bíblia Toda em Um Ano. Recife:
EBNESR, 2011.
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II. A HISTÓRIA DA IGREJA NO LIVRO DE ATOS.


Do ano 30 ao 63 d.C. o livro de Atos nos ajuda a progredir na
história, observando o crescimento da igreja e a expansão do
evangelho.
O livro não abrange a história da igreja como um todo em todas
as regiões do mundo antigo, mas apenas mostra a trajetória do
evangelho, através de Pedro e, sobretudo, de Paulo, para mostrar
o evangelho chegando a Roma.
LIVROS BÍBLICOS:
Nesta primeira fase da história bíblica, temos a maior parte dos
livros do Novo Testamento sendo escritos. A Carta de Tiago pode
ter sido um dos primeiros livros cristãos, escrito depois da morte
de Estevão, bem no início dos anos 30 ou 40. Todas as cartas de
Paulo, menos as Epístolas Pastorais (1&2 Timóteo e Tito), são
deste período histórico que é narrado pelo livro de Atos dos
Apóstolos.
As cartas vão sendo escritas enquanto Lucas narra o trabalho
missionário de Paulo. Também os Evangelhos devem ser deste
período, pois a obra em dois volumes Lucas-Atos termina no ano
63. Ora se Lucas usou o evangelho de Marcos então podemos
supor que Marcos já estava escrito e que Lucas usou-o antes de
terminar sua obra. Assim, podemos supor que Mateus também já
tinha utilizado Marcos.
As cartas de Pedro e a de Judas também seriam deste período,
embora esta atribuição seja mais difícil de provar.
Pode-se dizer que, quase todo o Novo Testamento é escrito na
época narrada pelo Livro de Atos.
III. A HISTÓRIA DA IGREJA DEPOIS DO FIM DO LIVRO
DE ATOS.
Do ano 63 até o fim do primeiro século, o ano 100 d.C., não
temos mais nenhum livro único que dê uma linha de
desenvolvimento histórico. Temos apenas informações históricas
espalhadas em vários livros da época.
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Para fazer uma sequência histórica para este período, temos que
juntar pedaços esparsos e informação nas Epístolas Pastorais e,
sobretudo, na literatura Joanina, supondo que ela pertença a este
período.
Pode ser que as Epístolas de Pedro e Judas sejam desta época,
mas antes da morte de Pedro, que deve ter ocorrido antes do ano
68 AD.
Mesmo assim, as informações desta época são mais inseguras que
as que temos sobre os períodos anteriores.
No fim, teremos todo o Novo Testamento escrito e sendo
distribuído entre todas as igrejas antigas.
Eventos históricos importantes deste período, registrados por
outros historiadores, são: (1) A perseguição dos cristãos por Nero;
(2) A destruição de Jerusalém pelos romanos; (3) A perseguição
dos cristãos por Domiciano.
LIVROS BÍBLICOS:
Os livros escritos neste período são as Epístolas Pastorais e a
Literatura Joanina. Contudo, há quem afirme que o Evangelho de
João teria sido escrito antes do ano 70 d.C. por causa de
referências históricas que sugerem que Jerusalém ainda estava de
pé quando o livro foi escrito. Pedro e Judas podem ter escrito
nesta época ou não. De qualquer forma, Apocalipse certamente
pertence ao período final do Primeiro Século.

******
O quadro da próxima página procura sumarizar a história do
período do Novo Testamento, desde a chegada dos Romanos com
Pompeu até a morte do último dos apóstolos: João.

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TABELA DA HISTÓRIA DO NOVO TESTAMENTO


Data Evento Neotestamentário História Secular Texto Observações históricas e
Bíblico livros do Novo
Testamento
64 a.C. Pompeu toma Jerusalém A Judéia passa a ser
Província Romana.
6 a 4 a.C. Nascimento de Jesus Reinado de Augusto Mt 1; Lc 2
[31 a.C. – 14 d.C.]
Reinado de Herodes Magno
[37 – 4 a.C.]
6-8 d.C. Jesus no Templo Lc 2.41ss
25-26 d.C. Batismo de Jesus 15º Ano do reinado de Tibério Lc 3.1ss
[14 – 37 d.C.]. Pôncio Pilatos
governava a Judéia [26 – 36
d.C]
30 d.C. Morte e ressurreição de Jesus Segundo Tácito, Jesus morreu Mc 15-16
sob Tibério, no governo de
Pôncio Pilatos
30 d.C. Dia de Pentecostes – Início da At 2 50 dias depois da morte de
Igreja Jesus
31 d.C. Conversão de Saulo em Aretas IV reinava de 9 a.C até At 9; 22.5; Nesta época Tiago escreve
Damasco 40 d.C. Gl 1; 2Co a Epístola de Tiago
11.32
34 d.C. Saulo visita a igreja em At 9; Gl 1.18 3 anos depois da conversão
Jerusalém de Paulo
Viagens de Pedro At 9
Conversão de Cornélio At 10
43 d.C Saulo e Barnabé em Antioquia At 11.25-26
44 d.C. 2ª. visita de Paulo a Jerusalém A fome veio nos dias de Gl 2.1; At 14 anos depois da
Morte de Tiago, apóstolo. Cláudio entre 45 e 46 d.C. 11.29-30; conversão de Paulo
Agripa morreu em 44 d.C. 12.25
45-48 d.C. 1ª viagem missionária de Paulo Sérgio Paulo, Procônsul em At 13-14 Inicio das igrejas na
Chipre 45-46 d.C. Galácia.
48 d.C. Pedro em Antioquia Gl 2.11; At Paulo escreve a Carta aos
14.27-28 Gálatas
49 d.C. Reunião em Jerusalém At 15
49-51 d.C. 2ª viagem missionária de Paulo O decreto de Cláudio: 49 ou At 15-18 Redação de
(fim de 49 até Ano 50 = chegada a Corinto 50 d.C. 1 e 2 Tessalonicenses
outono de 51) Ano 51 = volta a Antioquia Gálio, Procônsul em Corinto
nos anos 51 – 52 d.C.
54-58 3ª viagem missionária Nero começa a reinar [54-68 At 18-21 Redação de 1&2Coríntios
d.C.] e Romanos
58-60 Prisão de Paulo Félix, procurador da Judéia At 21-28
58 Aprisionamento em Jerusalém nos anos 52-60 d.C.
58-60 Preso em Cesaréia Festo, procurador da Judéia
60 Viagem para Roma nos anos 60 – 62 d.C.
Década de 60 Atividades missionárias de Pedro parece ter viajado pela 1Pe 1.1 Redação de 1&2Pedro,
Pedro Ásia indo até Roma. [Talvez Judas]
61-63 Preso em Roma Parece que Paulo não foi At 27- 28 Redação de Filipenses,
julgado por Nero nesta ocasião Colossenses, Filemom e
e foi liberto depois de ficar 2 Efésios [Talvez Hebreus]
anos a disposição do Estado.
Cerca de 65 Intensa atividade literária da Nenhum destes livros 1Pe 5.13 Marcos, Mateus e Lucas-
d.C. igreja menciona a queda de Lc 1.1-4 Atos escritos antes de 70
Jerusalém no ano 70 d.C. d.C.
63 Viagem para a Espanha Rm 15.24
64-67 Viagens na Grécia e Ásia Descritas nas Epístolas 1Tm 1.3; Tt Redação de 1Timóteo e
Pastorais. 1.5 Tito
66 Morte de Tiago, irmão de Jesus. Início da Revolta Judaica na Mt 24
Judéia [66-70 d.C.]
67 Prisão e morte de Pedro e Paulo 2Tm 4.13 Redação de 2Timóteo
em Roma
68 Morte de Nero. Depois de Roma ficou em constante
Oto, Galba e Vitélio, guerra civil até o ano 69.
Vespasiano reina.
70 Destruição da cidade de Nenhum livro do NT cita
Jerusalém por Tito este evento.
Anos 80-90 Atividades de João em Éfeso e Tito reinou nos anos 79-81 Ap 1.9 Redação do Evangelho de
prisão em Patmos d.C. João, 1,2&3João e
Domiciano reinou entre 81-96 Apocalipse
d.C.
98-100 Morte de João Depois de libertado por Nerva.

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IV. PANORAMA DA HISTÓRIA DA FORMAÇÃO DO NOVO


TESTAMENTOS.17
Os 66 livros da Bíblia terminaram de ser redigidos no fim do
Século I A.D. A questão que esta lição vai responder de modo
rápido é: Como a Bíblia chegou até nós? Como ela atravessou os
séculos até chegar ao nosso tempo, o Século XXI?
O quadro abaixo contrasta dois processos de formação da Bíblia:
o primeiro coordenado diretamente por Deus, o segundo,
coordenado por Deus indiretamente, por meio de sua Providência
Soberana.
EM TERMOS ESPIRITUAIS EM TERMOS HUMANOS

DEUS LIVROS ESCRITOS E DIVULGADOS


ê ê
ESPÍRITO SANTO LIVROS COLECIONADOS E COPIADOS
ê ê
ESCRITORES INSPIRADOS LIVROS TRADUZIDOS
ê ê
LIVROS BÍBLIA

O PROCESSO ESPIRITUAL
Deus é aquele que iniciou o processo de revelação bíblica. Ele
inspirou os profetas (2Pedro 1.20-21) que produziram as
Escrituras (2Timóteo 3.16-17).
O processo é vividamente descrito em Apocalipse 1.1-3 com a
seguinte sequência: Deus è Jesus è Anjo è João (apóstolo) è
Livro è Igrejas.
Os cristãos herdaram o Velho Testamento dos judeus, pois foi a
eles que Deus confiou seus oráculos (Romanos 3.2). O Novo
Testamento foi redigido por apóstolos ou por pessoas ligadas ao
círculo apostólico e, assim, a Bíblia com seus dois Testamentos
estava completa.

17
Neste quarto ponto, também utilizo amplamente: PESTANA, Álvaro C. A Bíblia
Toda em Um Ano. Recife: EBNESR, 2011.
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O PROCESSO HUMANO
A história da compilação do Novo Testamento segue as seguintes
etapas:
1. CIRCULAÇÃO DOS LIVROS DO NOVO TESTAMENTO
Os livros do Novo Testamento, assim que recebidos pelas igrejas,
começaram a ser lidos publicamente (1Ts 5.27; Cl 4.16). De fato,
a ordem para que estes livros fossem circulados entre as igrejas já
estava incluída em alguns livros (Cl 4.16). Muitos livros têm
destinatários que indicam que o documento circularia entre várias
localidades (Ap 1-3; 1Pe 1.1-2). Associada a esta ordem de leitura
pública, percebe-se que as igrejas começaram a copiar os livros
para formar coleções dos livros apostólicos. Pedro, que não foi
destinatário de nenhuma carta de Paulo, conhecia todas as cartas
dele (2Pe 3.14-16).
2. RECONHECIMENTO DO CÂNON DO NOVO
TESTAMENTO
Já no tempo do Novo Testamento, os livros foram reconhecidos
como inspirados e dignos de obediência (1Co 14.37). Já no
Primeiro Século, um escritor cristão que morava em Roma
chamado Clemente, escreveu uma carta a qual ele menciona
vários livros do Novo Testamento. Até o ano 150 AD, quase
todos os livros do Novo Testamento já eram amplamente
conhecidos e usados pela igreja antiga. No Século IV, com o fim
das perseguições contra a igreja, os 27 livros do Novo Testamento
já são reconhecidos e usados pela igreja em toda parte.
O processo de reconhecimento do chamado “cânon” do Novo
Testamento não foi feito por uma igreja ou por concílios ou
papas, mas pela igreja como um todo, que reconhecia a
apostolicidade, antiguidade e inspiração divina dos nossos 27
livros do Novo Testamento.
Deus deixou o reconhecimento destes livros a cargo dos cristãos,
mas também podemos testemunhar a Providência Divina
protegendo estes livros e ajudando os cristãos a diferenciá-los dos
livros comuns ou dos livros espúrios.
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3. TRANSMISSÃO E PRESERVAÇÃO DOS LIVROS DA


BÍBLIA
Desde sua redação até o ano de 1452 a Bíblia foi preservada em
cópias feitas a mão, ou seja, cópias manuscritas. No ano de 1452
Gutemberg imprimiu o primeiro livro, uma versão latina da
Bíblia.
Antes disto, o texto do Velho Testamento foi preservado em
hebraico pelos judeus e o texto grego do Novo Testamento foi
copiado e preservado pelas igrejas de todo o mundo.
Apesar deste processo depender da qualidade das cópias
manuscritas, as descobertas de manuscritos bíblicos muito antigos
tem demonstrado que o texto bíblico tanto do Velho como do
Novo Testamento tem sido muito bem preservados. As edições
modernas da Bíblia baseiam-se em textos que comparam muitos
manuscritos de altíssima qualidade para se obter o texto mais
próximo dos originais.
As primeiras edições impressas da Bíblia hebraica foram: a edição
de Soncino (1494), a Poliglota Complutense (1514-17) e a Bíblia
Rabínica de Jacob ben Hayyim (1524-25). No caso do Novo
Testamento, Desidério Erasmo, publicou em 1516 o primeiro
Novo Testamento impresso em grego.
4. TRADUÇÃO DOS LIVROS DA BÍBLIA
A Bíblia da igreja antiga era composta pela tradução do Velho
Testamento para o Grego, a Septuaginta, e o Novo Testamento,
todo redigido em grego. Porém, logo foi necessário traduzir o
texto para outras línguas, onde o evangelho estava sendo pregado.
Traduções para o latim, copta, siríaco, etíope e outras línguas
antigas logo surgiram. Contudo, durante a Idade Média, no
cristianismo europeu, o uso predominante do latim a ponto de
muitos, ainda hoje, imaginarem que a Bíblia tivesse sido escrita
nesta língua. Com o advento da Reforma Protestante e também do
Renascimento, a busca da mensagem da Bíblia nas línguas
originais gerou novas traduções para os idiomas modernos.

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A versão de João Ferreira de Almeida, feita na Indonésia entre


1670 e 1753. Na verdade, Almeida publicou sua tradução do
Novo Testamento em 1681, mas morreu antes de terminar a
tradução do Velho Testamento. Seus colegas terminaram sua obra
que foi publicada por completo em 1753.
Atualmente, temos no Brasil várias versões de ótima qualidade:
Almeida Revista e Atualizada (2ª Edição); Nova Versão
Internacional; Nova Tradução na Linguagem de Hoje.

CONCLUSÃO
Assim, iniciamos o estudo do Novo Testamento com uma visão
global de seu conteúdo, da história do período que o precedeu, da
história da época do Novo Testamento e, finalmente, da história e
do processo de junção do mesmo com o Antigo Testamento para
formar a Bíblia Cristã que hoje utilizamos.
Não existe conjunto de livros mais influente e mais importante
que o Novo Testamento. Nas próximas lições, estudaremos cada
grupo de livros com mais detalhes, tratado de cada obra em
separado, aprofundando a leitura, que apesar de todos os
aprofundamentos, sempre será panorâmica e geral.

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BIBLIOGRAFIA CITADA

BAXTER, J. S. Examinai as Escrituras: Gênesis a Josué (1).


São Paulo: Vida Nova, 1992.
BETTENSON, H. Documentos da Igreja Cristã. 3a Edição. São
Paulo: ASTE/Simpósio, 1998.
FERGUSON, Everett. Early Christians Speak: Volume 2.
Abilene: ACU Press, 2002.
FERGUSON, Everett. The Church of Christ. Grand Rapids:
Eerdmans, 1996.
LIGHTFOOT, Neil R. Hebreus. São Paulo: Vida Cristã, 1981.
PESTANA, Álvaro C. A Bíblia Toda em Um Ano. Recife:
EBNESR, 2011.
PESTANA, Álvaro C. O que é a Bíblia: Aula 06 – Os
Evangelhos e Atos. Campo Grande: Escola de Teologia em
Casa, 2011.
PESTANA, Álvaro César, O Evangelho de Marcos: Arte Poética
e Arte Retórica In: POSSEBON, Fabrício (Org.). O
Evangelho de Marcos. João Pessoa: Editora Universitária
UFPB, 2010.

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