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26 de Junho de 2017

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Denise M. Osborne

23/06/2017, às 08:42:06

Muito Mulher

“Mulher minha só vai a dois lugares: da cozinha pro quarto e do quarto pra cozinha.”
Essa foi uma piada que um amigo de Araxá me contava quando eu era adolescente. Para
ele, era muito engraçado. Para mim, era desconfortável.

“Você deve requebrar mais quando anda. Você é muito dura.”, me dizia uma colega da 6ª
série, me ensinando a ser mais feminina. Conselho, aliás, que entrou em um ouvido e
saiu pelo outro.

“Você não tem namorado? Você tem que arrumar um namorado e casar. É muito
importante para a mulher. Ninguém é feliz sozinho”, me dizia minha prima sinceramente
preocupada comigo.

Todas nós mulheres já vivemos situações como essas: uma piada de mau gosto ou um
comentário ofensivo para levar ao esvaziamento da nossa própria identidade.

Há alguns anos, vi a peça de teatro “O Monólogo da Vagina”, na cidade de Nova York.


Essa peça traz relatos verdadeiros de mulheres que sofreram tipos de abusos em suas
vidas. Antes de começar a peça, a apresentadora pediu para que aquelas mulheres que já
tivessem sofrido algum tipo de abuso ou assédio sexual (como alguém ter passado a mão
nelas ou ter tentado agarrá-las à força, em qualquer momento de suas vidas) levantassem
a mão. Quase todas as mulheres da plateia levantaram a mão. Então, a apresentadora
falou para aquelas que não haviam levantado a mão, que se ela desse mais alguns
minutos, elas também iriam lembrar de alguma situação constrangedora. Ela estava
certa. Logo depois da sua fala, eu me lembrei! Isso também havia acontecido comigo.
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certa. Logo depois da sua fala, eu me lembrei! Isso também havia acontecido comigo.

Há também aqueles que promovem a discriminação a mulheres de forma pública, como


certo político brasileiro que apoia a ideia de que as mulheres deveriam ter salários mais
baixos porque elas poderiam engravidar. Esse é o mesmo político que disse a uma
deputada brasileira: “Jamais iria estuprar você, porque você não merece”. Declarações de
ódio como essa levam a mais ódio e não problematizam, para dizer o mínimo.

Nem a igreja escapa. Aliás, a igreja, muitas vezes, ajuda a promover esse sistema
opressor. Conheci uma americana que fazia parte de um grupo de mulheres de uma
igreja protestante. Era um grupo pequeno e não havia homens. Então, as mulheres
lideravam as reuniões. Quando uma família se juntou ao grupo, automaticamente o pai
foi nomeado a pastor e as mulheres que antes exerciam papéis de liderança na igreja
tiveram que se acomodar a outras posições menos expressivas. O argumento para tal
atitude era bíblico: supostamente o homem deve sempre ser o líder (claro que esse
argumento é circular).

Todos esses exemplos nos levam a pensar como o machismo e o mundo patriarcal no
qual vivemos tem moldado o papel da mulher tanto na esfera pública (por exemplo, na
política) como na esfera privada (por exemplo, nas nossas relações com os amigos).
Todas as nossas relações estão de uma forma ou de outra marcadas por um sistema que
coloca a mulher em um plano inferior e que a empurra para se ajustar às regras vigentes.
Discursos prontos, que nos dizem como a mulher dever ser, nos previne de viver a nossa
vida de forma plena. Se sujeitar a esses discursos e aceitá-los como dogmas, sem
reflexão, sem questionamento, é contribuir para o esvaziamento da nossa própria
identidade. Ter a chance de experimentar a condição humana em sua plenitude é tudo
que queremos!

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