Professional Documents
Culture Documents
DISSERTAÇÃO
Maio / 2006
AGRADECIMENTOS
Neste trabalho colaboraram diversas pessoas e entidades, a quem não posso deixar de
expressar o meu agradecimento:
À minha família.
À minha orientadora, Professora Doutora Irene Garcia Medina, pela disponibilidade e pelo
conhecimento generosamente partilhado.
A todas as pessoas que se disponibilizaram para dar o seu contributo respondendo aos
inquéritos.
2
UNIVERSIDADE DA MADEIRA
O Turismo e o Cidadão Deficiente
RESUMO
3
UNIVERSIDADE DA MADEIRA
O Turismo e o Cidadão Deficiente
que são contempladas. Finalmente, chegou-se à conclusão de que a quase totalidade das
facilidades/características consideradas com interesse para a população com deficiência é já
observada, embora de forma dispersa. As adaptações mais comuns são as que se destinam ao
utilizador de cadeira de rodas.
Se é certo que existem bons exemplos, o destino Madeira ainda não preenche os
requisitos necessários às pessoas com deficiências.
4
UNIVERSIDADE DA MADEIRA
O Turismo e o Cidadão Deficiente
ABSTRACT
5
UNIVERSIDADE DA MADEIRA
O Turismo e o Cidadão Deficiente
Finally, one has come to the conclusion that almost all facilities for disabled people are
observed, although in a dispersed way. The most common changes/adaptations suit the wheel
chair users.
Certainly good examples should be taken into account, notwithstanding it must be
mentioned that Madeira region has not yet fulfilled all demands for disabled people.
6
UNIVERSIDADE DA MADEIRA
O Turismo e o Cidadão Deficiente
ÍNDICE GERAL
Capítulo I
Introdução
1.1. O porquê da escolha do tema 16
1.2. Objectivos
1.2.1. Objectivo geral 21
1.2.2. Objectivos específicos 21
1.3. Estrutura e metodologia 22
Capítulo II
Cultura, Lei e Deficiência
2.1. Cultura e Lei
2.1.1. Razão e verdade 24
2.1.2. As novas teorias da geração e evolução das espécies e a sua
contribuição para a desigualdade entre os homens 25
2.1.3. A economia liberal e os novos movimentos sociais 28
2.2. O direito face às pessoas com deficiências 31
2.2.1. O direito internacional 32
2.2.2. O direito comunitário 35
2.2.3. O direito interno 40
2.2.4. A lei das acessibilidades 41
2.2.4.1. Barreiras arquitectónicas 42
2.2.4.2. A legislação que regula a actividade turística 43
2.2.4.3. A lei das acessibilidades e o regulamento dos
estabelecimentos hoteleiros 43
2.2.4.4. A necessidade da existência de uma legislação normalizada 47
2.2.4.5. Acções de sensibilização 48
2.3. O cidadão deficiente
2.3.1. A Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde 49
2.3.1.1. Conceitos 49
2.3.1.2. Historial 50
2.3.1.3. A interacção entre os componentes da CIF 52
2.3.1.4. Definições 53
2.3.2. Glossário 54
7
UNIVERSIDADE DA MADEIRA
O Turismo e o Cidadão Deficiente
2.4. O Desenho Universal e o Turismo para Todos
2.4.1. O Desenho Universal 57
2.4.2. O Turismo para Todos 59
Capítulo III
O destino Madeira
3.1. A Indústria de Viagens, Turismo e Lazer
3.1.1. A cadeia de valor 60
3.1.2. Os transportes 61
3.1.2.1. O aeroporto e as empresas de transporte aéreo 61
3.1.2.2. As empresas de transporte rodoviário 62
3.1.2.3. A empresa de transporte marítimo 63
3.1.3. As empresas de animação turística 63
3.1.4. A restauração 64
3.2. A acessibilidade dos municípios
3.2.1. Introdução 65
3.2.2. Iniciativas recentes na cidade do Funchal 66
3.3. Breve caracterização do turista que visita a Madeira 67
3.3.1. Classes etárias 68
3.3.2. Situação perante o trabalho 70
3.3.3. Duração da estada 70
3.3.4. Razões da escolha 71
3.3.5. Grau de satisfação 72
3.4. O envelhecimento da população 75
3.5. Idosos e pessoas com deficiências 76
3.6. O turismo sénior
3.6.1. Breve descrição 79
3.6.2. O perfil do turista sénior 81
3.6.3. O turista sénior e o turista com deficiência 82
3.6.4. O turismo sénior, um segmento de mercado com elevado potencial de
crescimento 83
3.7. O não acompanhamento das exigências crescentes de qualidade 85
3.8. O que fazer 88
8
UNIVERSIDADE DA MADEIRA
O Turismo e o Cidadão Deficiente
Capítulo IV
Como ajudar a população com deficiência
4.1. Introdução 95
4.2. Necessidades das pessoas com deficiências
4.2.1. Breve descrição 97
4.2.2. Necessidades comuns das pessoas com deficiências 97
4.2.3. Necessidades das pessoas invisuais/com baixa visão
4.2.3.1. Breve descrição 98
4.2.3.2. Necessidades 98
4.2.3.3. Recomendações para facilitar a comunicação/ajuda 98
4.2.3.4. Recursos 101
4.2.4. Necessidades das pessoas surdas/com deficiência auditiva
4.2.4.1. Breve descrição 103
4.2.4.2. Necessidades 103
4.2.4.3. Recomendações para facilitar a comunicação/ajuda 104
4.2.4.4. Recursos 105
4.2.5. Necessidades das pessoas com deficiência mental
4.2.5.1. Breve descrição 107
4.2.5.2. Necessidades 108
4.2.5.3. Recomendações para facilitar a comunicação/ajuda 108
4.2.5.4. Recursos 109
4.2.6. Necessidades das pessoas com deficiência física/motora
4.2.6.1. Breve descrição 110
4.2.6.2. Necessidades 110
4.2.6.3. Recomendações para facilitar a comunicação/ajuda 111
4.2.6.4. Recursos 112
4.3. A adequação do meio físico às pessoas com actividade limitada 113
Capítulo V
Metodologia
5.1. A informação estatística
5.1.1. A recolha de dados
5.1.1.1. Fontes de informação 119
5.1.1.2. Os universos 120
5.1.1.3. As amostras 121
5.1.2. A análise dos dados 124
9
UNIVERSIDADE DA MADEIRA
O Turismo e o Cidadão Deficiente
5.2. A estatística descritiva
5.2.1. Breve descrição 125
5.2.2. Medidas de localização 125
5.2.3. A representação gráfica 125
5.3. A inferência estatística
5.3.1. Breve descrição 126
5.3.2. O teste de Mann-Whitney 126
5.4. Escalas de medida
5.4.1. Breve descrição 127
5.4.2. Critérios de escolha 128
Capítulo VI
Apresentação dos resultados e discussão
6.1. Resultados
6.1.1. Resultados dos inquéritos sobre as necessidades a satisfazer às
pessoas com deficiências por parte do alojamento turístico 131
6.1.2. Resultados do inquérito sobre a adaptabilidade do alojamento turístico
ao cidadão com deficiência 151
6.1.3. Resultados dos inquéritos complementares 153
6.1.3.1. Resultados inquérito sobre a acessibilidade dos municípios ao
cidadão com deficiência 153
6.1.3.2. Resultados inquérito sobre a adaptabilidade da restauração ao
cidadão com deficiência 154
6.2. Discussão
6.2.1. A análise das questões abertas 156
6.2.1.1. O preconceito 156
6.2.1.2. O turismo, um sector de actividade que mais contribui para a
integração da pessoa com deficiência 158
6.2.1.3. A posição da família do cidadão com deficiência face ao
turismo 164
6.2.2. A análise do alojamento 167
6.2.3. O cálculo do número de hóspedes com deficiência 170
6.2.4. A formação do pessoal no atendimento das pessoas com deficiências e
apoio aos seus familiares 172
6.2.5. Os transportes adequados 174
6.2.6. A auto-avaliação dos municípios 174
10
UNIVERSIDADE DA MADEIRA
O Turismo e o Cidadão Deficiente
Capítulo VII
Conclusão, recomendações e reflexões finais
7.1. Conclusão 178
7.2. Recomendações 184
7.3. Reflexões finais 191
ANEXOS
ANEXO A - Inquérito sobre as necessidades a satisfazer às pessoas com
deficiência física por parte do alojamento turístico 201
ANEXO B - Inquérito sobre as necessidades a satisfazer às pessoas com
deficiência mental por parte do alojamento turístico 213
ANEXO C - Inquérito sobre as necessidades a satisfazer às pessoas
invisuais/com baixa visão por parte do alojamento turístico 218
ANEXO D - Inquérito sobre as necessidades a satisfazer aos surdos/pessoas com
dificuldades de audição por parte do alojamento turístico 223
ANEXO E - Questões abertas 226
ANEXO F - Inquérito sobre a adaptabilidade do alojamento turístico ao cidadão
deficiente 227
ANEXO G - Inquérito sobre a acessibilidade dos serviços de transporte ao
cidadão deficiente 243
ANEXO H - Inquérito sobre a acessibilidade dos municípios ao cidadão deficiente 247
ANEXO I - Inquérito sobre a adaptabilidade da restauração ao cidadão deficiente 251
ANEXO J - O Código da Ética Mundial do Turismo 255
ANEXO K - A classificação do alojamento turístico 258
ANEXO L - A adequação do meio físico às pessoas com actividade limitada 260
ANEXO M - Resultados dos inquéritos sobre as necessidades a satisfazer às
pessoas com deficiências por parte do alojamento turístico 320
ANEXO N – Resultados dos inquéritos sobre a adaptabilidade do alojamento
turístico ao cidadão com deficiência 346
ANEXO O - Instituições/Associações colaborantes 350
11
UNIVERSIDADE DA MADEIRA
O Turismo e o Cidadão Deficiente
ÍNDICE DE FIGURAS
12
UNIVERSIDADE DA MADEIRA
O Turismo e o Cidadão Deficiente
ÍNDICE DE QUADROS
13
UNIVERSIDADE DA MADEIRA
O Turismo e o Cidadão Deficiente
ÍNDICE DE TABELAS
14
UNIVERSIDADE DA MADEIRA
O Turismo e o Cidadão Deficiente
15
UNIVERSIDADE DA MADEIRA
O Turismo e o Cidadão Deficiente
Capítulo I
Introdução
Sabido que hoje ainda existem muitas restrições à prática do turismo pelas pessoas
com deficiências, dado que os produtos e serviços turísticos não estão adaptados às suas
necessidades, parece-nos oportuna esta reflexão, sem pretensões de exaurir o tema, mas
assinalando alguns aspectos que, de um outro modo, podem contribuir, designadamente para:
a) Aumentar o conhecimento das necessidades dos cidadãos com deficiências, enquanto
praticantes do turismo; b) Dar a conhecer as suas necessidades ao sector do turismo; c)
Sensibilizar os empresários para as vantagens que podem usufruir com a adequação dos seus
empreendimentos na captação de um público mais amplo, para que façam as obras
necessárias, para que construam melhor no futuro tendo em atenção as normas essenciais,
para que adquiram o equipamento adequado, para que formem o seu pessoal no atendimento
de pessoas com deficiências; d) Conhecer mais sobre as condições de acessibilidade do
destino Madeira, em especial das unidades de alojamento; e) Reflectir sobre a protecção
jurídica do cidadão deficiente e a forma como é posta em prática pelas entidades públicas e
privadas e pela própria comunidade.
16
UNIVERSIDADE DA MADEIRA
O Turismo e o Cidadão Deficiente
Do ponto de vista económico, este segmento de mercado é bastante atractivo. Hoje,
representa cerca de 10 % da população mundial e, com o envelhecimento da população, essa
percentagem tende a aumentar.
A crescente procura por produtos e serviços turísticos, mesmo em períodos de crise
económica ou política, embora nessas alturas com um crescimento abaixo da média de longo
prazo, não está limitada a certas categorias de cidadãos, mas envolve também os cidadãos
com deficiências, um segmento de mercado que viaja para destinos em que a oferta satisfaz as
suas necessidades.
A competitividade de um destino turístico está directamente ligada aos produtos e
serviços que pode oferecer. Os turistas escolherão aqueles que melhor satisfaçam as suas
expectativas, de acordo com as suas possibilidades económicas. No caso das pessoas com
deficiências existem expectativas adicionais às dos demais cidadãos que são aquelas
facilidades/características que lhes permitem gozar as suas férias com autonomia e
independência.
O segmento de mercado para quem as acessibilidades constituem um pré-requisito
para participarem nas mais diversas actividades, entre elas a actividade turística, é constituído
não só pelas pessoas com deficiências (pessoas com limitações físicas, sensoriais e mentais),
mas também pelas pessoas que sofrem temporariamente os efeitos de um acidente, as
famílias com crianças muito jovens, as pessoas idosas. Ao grupo de pessoas com deficiências
devemos ainda juntar os familiares ou amigos que com eles habitualmente viajam ou
pretendem viajar, a fim de poderem participar nas mesmas actividades.
Os dados sobre a população com deficiência apresentam alguma variação e aos 10%
acima referidos – da Organização das Nações Unidas (ONU) -, estudos recentes indicam que a
população com deficiência é de 14% (11% explicados pelas estatísticas oficiais, a que
acrescem 3 a 4% não explicados nas mesmas estatísticas), o que corresponde a
aproximadamente 50 milhões de pessoas na Europa Ocidental.
Considerando que nem todas as pessoas com deficiências têm possibilidades de viajar,
atendendo à sua limitação e às circunstâncias socioeconómicas, o número de potenciais
clientes turísticos é, na Europa Ocidental, de aproximadamente 37,5 milhões de pessoas.
Destes, 5 a 6 milhões já estavam a viajar regularmente em 1993.
Mais de 30 milhões de pessoas, no mesmo espaço geográfico, querem viajar, mas por
falta de condições de acessibilidade e acolhimento dos destinos turísticos, não o fazem.
Em Portugal, segundo resultados definitivos dos censos 2001, divulgados pelo Instituto
Nacional de Estatística (INE) indicam que o número de pessoas com deficiências recenseadas
em 12 de Março de 2001, é de 636 059, representando 6,1 % da população residente. Este
resultado só pode ser explicado pela falta de compreensão do significado de deficiência por
17
UNIVERSIDADE DA MADEIRA
O Turismo e o Cidadão Deficiente
parte dos respondentes, uma vez que as respostas sobre a deficiência, obtidas nos Censos
2001, resultaram da auto-avaliação de cada um, ou das características dos membros da família
em relação aos quais prestaram informações. De facto este resultado é não só inferior aos
acima indicados – ONU e estimativas de estudos posteriores realizados na União Europeia –
como também é inferior ao valor estimado num estudo realizado em 1994, pelo Secretariado
Nacional para a Reabilitação e Integração de Pessoas com Deficiência (SNRIPD), com a
colaboração do próprio INE e do Departamento de Estatística do Trabalho, Emprego e
Formação Profissional (DETEFP), que indicava ser de 905488 o número de pessoas com
deficiências, representando 9,2% da população total, valor que está mais em consonância com
os primeiros.
93,90%
0,80%
1,40% 1,60%
0,10% 1,50%
0,70%
População sem deficiência Auditiva Visual Motora Mental Paralesia cerebral Outra deficiência
18
UNIVERSIDADE DA MADEIRA
O Turismo e o Cidadão Deficiente
A Europa está a tornar-se num grande espaço de idosos, mais instruídos, exigentes,
activos por mais anos e com maior poder de compra, o que significa um incremento da procura
de produtos e serviços que respondam às suas necessidades de autonomia e qualidade de
vida.
Os idosos, tal como os deficientes (idosos ou não) dadas as suas condições de
desvantagem, em consequência de barreiras de ordem psicológica, cultural, familiar,
profissional, financeira, e outras referidas ao longo deste trabalho – condições arquitectónicas,
de inacessibilidade dos transportes, da comunicação e da informação - tendem a reduzir a sua
participação na sociedade e os casos de isolamento multiplicam-se.
Estes factos justificam a associação da população idosa com o grupo das pessoas com
deficiências, em políticas que conduzam à eliminação de todas as barreiras, de forma a
assegurar as estes grupos de pessoas as mesmas oportunidades de que desfrutam os demais
cidadãos, mesmo que os Estados sejam chamados a suportar alguns custos adicionais no
âmbito de políticas sociais abrangentes, equilibradas e não discriminatórias.
19
UNIVERSIDADE DA MADEIRA
O Turismo e o Cidadão Deficiente
formação, aprendizagem ao longo da vida e emprego e o aumento do número e da
qualidade das estruturas de cuidados e das tecnologias de apoio 1.
O Turismo, com fins de lazer, é hoje considerado uma necessidade fundamental que
permite às pessoas escapar ao quotidiano, conviver, descobrir riquezas naturais, patrimoniais e
culturais dos diversos povos.
É neste contexto que se torna necessário que as politicas do turismo tenham em
atenção todas as pessoas, em especial os grupos em desvantagem, como é o caso das
pessoas com necessidades especiais, nas quais se incluem as pessoas com deficiências e os
idosos, de forma a que o turismo seja acessível a todos.
1
Proposta de decisão do concelho 2003, Ano Europeu das Pessoas com Deficiência COM (2001) 271
final, Bruxelas, 29/05/2001.
20
UNIVERSIDADE DA MADEIRA
O Turismo e o Cidadão Deficiente
1.2. Objectivos
21
UNIVERSIDADE DA MADEIRA
O Turismo e o Cidadão Deficiente
22
UNIVERSIDADE DA MADEIRA
O Turismo e o Cidadão Deficiente
lacunas na recolha dos dados que permitam tratar estatisticamente o turismo da RAM,
variáveis a introduzir, e a necessidade de realizar estudos periódicos.
Terminamos o capítulo com uma referência à R.A.M. acentuando o não
acompanhamento das exigências crescentes de qualidade, apresentando, também, algumas
soluções.
Os anexos são constituídos pelos inquéritos, duas abordagens, uma delas sobre o
código da ética mundial do turismo e outra sobre a classificação do alojamento turístico,
matrizes de resultados e uma listagem das entidades colaborantes na primeira parte deste
trabalho – levantamento e ponderação das necessidades da população com deficiência.
23