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Cidades Resilientes a inundações
2015
Sumário
1. Introdução..................................................................................................................... 1
2. Cidades Resilientes ...................................................................................................... 2
2.1 Definição e abrangência ......................................................................................... 2
2.2 Contexto internacional e importância...................................................................... 2
2.3 Panorama brasileiro e ações estruturais ................................................................ 3
2.4 Fundamentos para construção de cidades resilientes ............................................ 4
3. Águas em cidades resilientes ....................................................................................... 5
3.1 Panorama atual ...................................................................................................... 5
3.2 Casos de sucesso: água e a infraestrutura urbana ................................................ 6
4. Medidas estruturais ...................................................................................................... 9
4.1 Definição ................................................................................................................. 9
4.2 Medidas Estruturais Tradicionais ............................................................................ 9
4.3 Sistema de Drenagem Urbana Sustentável .......................................................... 10
5. Medidas não-estruturais ............................................................................................. 11
5.1 Definição ............................................................................................................... 11
5.2 Mapeamento das áreas sujeitas às inundações ................................................... 12
5.3 Elaboração de um plano diretor de uso do solo ................................................... 12
5.4 Fiscalização da ocupação do solo ........................................................................ 13
5.5 Seguros e taxas .................................................................................................... 14
5.6 Sistemas de alerta e defesa civil .......................................................................... 15
5.7 Programas de reassentamento............................................................................. 15
6. Conclusão................................................................................................................... 15
7. Bibliografia .................................................................................................................. 16
Cidades resilientes à inundações
1. Introdução
Formadas por redes interconectadas de infraestruturas, instituições e informações, além de apresentarem
uma alta concentração de valor, as cidades são constantemente expostas a fatores externos de estresse que
podem resultar em colapsos físicos e sociais, com perdas econômicas significativas. Tais elementos, aliados
com um rápido crescimento populacional, grandes transformações ambientais e um ascendente
agrupamento da população em centros urbanos, provoca um aumento da complexidade e da incerteza nas
cidades, o que influencia na escala de risco no qual estão sujeitas.
O risco é uma função do tipo e magnitude da ameaça (um ciclone, um terremoto ou a cheia de um rio, por
exemplo), da exposição de pessoas e bens a essa ameaça e das condições de vulnerabilidades dos mesmos.
Dependendo dos processos de desenvolvimento social e ambiental de uma região, esses fatores podem ser
afetados e agravados. Assim, o crescimento da população urbana implica no aumento da exposição às
ameaças e a ausência de serviços básicos em certas regiões de ocupação desordenada, na ampliação da
vulnerabilidade por exemplo. Por isso, a maior parte da população em situação de pobreza urbana está mais
exposta a ameaças e desastres.
Problemas e limitações no manejo de águas urbanas estão entre as principais causas de mortes e perdas
econômicas nas cidades. Fatores como a ausência de sistemas adequados de drenagem e mudanças no uso
e ocupação do solo, que permitiram invasões às margens de corpos hídricos e excessiva impermeabilização,
expuseram muitas áreas urbanas às inundações. Falhas nas infraestruturas de abastecimento, coleta e
tratamento de esgotos também contribuem para o aumento da vulnerabilidade a eventos extremos. Os
gráficos a seguir apresentam os principais desastres que causam perdas humanas e econômicas no Brasil,
sendo as enchentes a principal causa de mortes e a seca, de perdas econômicas.
Figura 1 Mortalidade e perdas econômicas devido aos fenômenos naturais no Brasil. Fonte: CRED EM-DAT (Feb. 2015). The
OFDA/CRED – InternationalDisasterDatabase
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Cidades resilientes a inundações
Para combater tal cenário, novas tecnologias e sistemas estão sendo desenvolvidos e implementados.
Medidas estruturais, como a construção de sistemas de drenagens eficientes e de infraestruturas de retenção
e detenção, são soluções que impactam significativamente na vulnerabilidade, reduzindo o risco. Mas apenas
tecnologias não são suficientes para tornar cidades resilientes. É necessário mudar convenções sociais,
políticas e econômicas, envolvendo medidas não estruturais, como alterações no planejamento do uso do
solo e o estabelecimento de uma rede de comunicações efetiva e colaborativa. Portanto, somente a
formação de uma estrutura holística e integrada, que considere não só os aspectos físicos das cidades, mas
também questões intangíveis ligadas ao comportamento humano, seria capaz de tornar uma cidade
preparada e segura, independente da complexidade, incerteza e mutabilidade dos riscos futuros.
2. Cidades Resilientes
A Estratégia Internacional das Nações Unidas para a Redução de Desastres (UN/ISDR, 2004) define resiliência
como “a capacidade de um sistema, comunidade ou sociedade, exposto a riscos potenciais, de se adaptar,
resistindo ou transformando-se, a fim de atingir e manter um nível aceitável de funcionamento e segurança
estrutural. Isso é determinado pelo grau em que o sistema social é capaz de se organizar e por sua capacidade
de aprender com os desastres passados para uma melhor proteção futuro e para melhorar as medidas de
redução de riscos.” Nesse contexto, define-se desastre como “eventos causados por riscos de origem natural,
ambiental e tecnológica”. Impõe-se uma abordagem holística e multidisciplinar para a gestão do risco de
desastres e suas implicações sobre os sistemas sociais, econômicos, culturais e ambientais.
No âmbito dos organismos de representação internacionais, o mandato do Escritório das Nações Unidas para
a Redução do Risco de Desastres (UNISDR) foi definido por resolução da Assembleia Geral das Nações Unidas,
com o intuito de “servir como o ponto focal do Sistema das Nações Unidas para coordenar atividades de
redução do risco de desastres e para assegurar sinergias entre as atividades de redução do risco de desastres
de organizações do Sistema das Nações Unidas e organizações regionais nos campos socioeconômico e
humanitário” (United Nations General Assembly, 2002).
Como motivações e justificativas para o foco em cidades resilientes, o Marco de Ação de Hyogo (UNSDR,
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Cidades resilientes a inundações
2007), produto da conferência internacional sobre o tema no Japão, provê algumas características
condicionantes da estima ao tema:
De forma compreensiva e não definindo de forma estrita os indicadores ou forma de avaliação, a UNSDR
(2012) define risco de desastre:
Numa iniciativa pontual, o Centro de Excelência para a Redução do Risco de Desastres (UNISDR-CERRD)
resultou de uma parceria entre o Governo Federal e o UNISDR, numa ação pioneira em âmbito global e
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Cidades resilientes a inundações
alinhada com as ações previstas no Marco de Ação de Hyogo (MAH) e com a Política Nacional de Proteção e
Defesa Civil (PNPDEC). O lançamento no Brasil da Campanha Construindo Cidades Resilientes: Minha Cidade
está se Preparando, da Estratégia Internacional para a Redução de Desastres (ISDR), pretende sensibilizar
governos e cidadãos para os benefícios de se reduzir os riscos por meio da atuação de forma a construir
cidades resilientes.
Tais ações baseiam-se num protocolo mais amplo, definido pelo Marco de Ação de Hyogo (UNSDR, 2007),
que contem dez pontos em formato de check-list:
Implantar organização e coordenação para entender e reduzir o risco de desastres, com base na
participação de grupos de cidadãos e da sociedade civil. Construir alianças locais. Certificar a
compreensão por parte de todos os departamentos de seu papel na redução do risco de desastres;
Atribuir um orçamento para a redução do risco de desastres e fornecer incentivos para os
proprietários, famílias de baixa renda, comunidades, empresas e setor público a investir na redução
dos riscos que enfrentam;
Manter atualizados dados sobre riscos e vulnerabilidades; preparar avaliações de risco e utilizá-los
como base para planos de desenvolvimento urbano e decisões. Certificar-se de que as informações
e os planos para a resiliência da sua cidade estão prontamente disponíveis ao público e amplamente
debatido com eles;
Investir e manter infraestruturas críticas que reduzam o risco, tais como drenagem inundação,
ajustados sempre que necessário para lidar com a mudança climática;
Avaliar a segurança de todas as escolas e instalações de saúde e atualizá-las conforme necessário;
Aplicar e fazer cumprir os regulamentos de construção econformidade a risco e princípios de uso e
ocupação do território. Identificar terreno seguro para os cidadãos de baixa renda e desenvolver
melhorias nos assentamentos informais, sempre que possível;
Assegurar que os programas de educação e formação sobre a redução do risco de desastres estão
em vigor nas escolas e nas comunidades locais;
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Cidades resilientes a inundações
Nas últimas duas décadas, grande parte da atenção direcionada às cidades resilientes está ligada à ocorrência
de falhas relacionadas à infraestrutura deficiente de abastecimento, tratamento, coleta e manejo de água
no meio urbano. Tais deficiências são particularmente evidenciadas ao se constatar o impacto de episódios
de eventos extremos nos últimos anos em diversas regiões do mundo.
Atualmente, o estado da Califórnia nos Estados Unidos está passando pela mais drástica crise hídrica da
história do país. Ao longo de 2013, choveu no estado o equivalente a um terço do que choveu no primeiro
semestre em 2014 em São Paulo. Por não estar preparada para eventos deste porte, o governo do estado
passou a tomar medidas impactantes de racionalização e a aplicar multas severas àqueles que não
colaborarem com desperdício. No último ano, mais de 1 milhão de dólares em multa foram arrecadados,
evidenciando a falta de conscientização e preparo da população (SUPER INTERESSANTE, 2014).
No Brasil, a cidade de São Paulo vive desde 2014 o antagonismo da crise hídrica e o risco de inundações. A
falta de resiliência da infraestrutura da cidade evidencia, ao mesmo tempo, perdas de cerca de 25% no
sistema de distribuição (60% de perdas reais e 40% aparentes – SABESP, 2015), utilização do volume morto
dos principais reservatórios e mais de 420 mil pessoas morando em zonas de risco de inundação (SWISS
REINSURANCE COMPANY, 2011).
Assim, diversos são os exemplos que evidenciam a necessidade de uma infraestrutura urbana mais resiliente.
Seja em países subdesenvolvidos ou não, poucos são aqueles que estão realmente preparados, cabendo aos
que não estão, aprender com as experiências de sucesso e adaptá-las à sua respectiva realidade.
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Cidades resilientes a inundações
O projeto de tornar a cidade de Nova Iorque mais resiliente surgiu após a ocorrência do furacão Sandy em
outubro de 2012. O efeito das ondas e a chuva extrema gerada pelo furacão na região fizeram com que a
cidade litorânea sofresse danos severos em sua infraestrutura e na vida de sua população. 43 pessoas
morreram e milhares foram feridas. O nível da água chegou a mais de 2 metros acima do nível da rua, de
forma que estações de metrô ficaram submergidas, ruas e comércio foram destruídos, instalações elétricas
e de telecomunicações foram devastadas e milhares ficaram sem luz e energia por mais de 15 dias. Estima-
se que o dano total chega a, pelo menos, 19 bilhões de dólares (THE CITY OF NEW YORK, 2013). As figuras
seguintes ilustram alguns dos danos ocorridos.
Assim, com a participação de diversas organizações públicas e privadas, do poder público municipal, estadual
e da comunidade nova iorquina, elaborou-se o plano de resiliência, que inclui medidas estruturais e não
estruturais para reduzir a vulnerabilidade da cidade a eventos extremos.
Quando o foco é a influência da água na resiliência, como exemplo, duas medidas vêm se destacando. A
primeira delas é atuação da agência metropolitana de metrô e trens de Nova Iorque junto a empresas
privadas para elaboração de medidas mitigadoras para evitar a entrada de água em estações, evitando,
principalmente, danos nos sistemas elétricos, mecânicos e de telecomunicação. As medidas, de caráter
puramente estrutural, são equipamentos instalados nos pontos de vulnerabilidade para entrada de água nas
estações, como bocas de lobo, bueiros, grelhas de ventilação, penetração de conduítes e até as próprias
entradas de pedestres. As figuras seguintes mostram alguns destes equipamentos que vem sido instalados
nas estações de metrô e arredores para evitar entrada de água, que são, respectivamente: capas destacáveis
nas entradas e grelha de ventilação (acima), e espécies de portas mecanizadas que vedam a entrada de água
em grelhas de ventilação (abaixo).
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Cidades resilientes a inundações
Figura 3–Equipamentos para evitar a entrada da água nas estações subterrâneas de metrô
Outro projeto que vem se destacando na cidade é o parque linear Hunter’s Point South, localizado na região
da costa de Long Island. A utilização da chamada infraestrutura verde para retenção e absorção da água de
chuva vem garantido alta eficiência e servindo de modelo para este tipo de prática. Conforme mostram as
figuras seguintes, à esquerda, o parque conta com uma área circular equivalente a um campo de futebol com
vegetação que permite a penetração da água de chuva; logo abaixo desta área se encontra uma bacia de
retenção, que retardar os efeitos da chuva sobre a infraestrutura de captação e, então, não a sobrecarrega.
A imagem à direita ilustra outros elementos utilizados no parque, chamados de “bioswale” e calçadas
permeáveis, que são, basicamente, áreas permeáveis que garantem que parte da água da chuva seja
absorvida pelo próprio terreno.
Figura 4–Bacia de retenção (esquerda) e elementos permeáveis (direita) no parque Hunter’s Point South
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Cidades resilientes a inundações
sistema de distribuição de água para atender a todos, ou seja, para que o sistema seja resiliente às
transformações urbanas. Com isto, a SABESP, agência reguladora e responsável por este sistema na cidade,
introduziu o Nova SCOA, projeto em parceria com a Siemens para garantir a qualidade do serviço e o tempo
de resposta na distribuição de água (SIEMENS, 2013). Através da instalação de 180 estações de
monitoramento remoto distribuídas em toda a região metropolitana, o sistema visa administrar pontos
críticos de pressão e facilitar a comunicação com a população durante períodos de falhas no
abastecimento(ARUP, RPA, and SIEMENS, 2013). As estações medem constantemente a pressão nas
tubulações, o consumo nos principais bairros, temperaturas do ambiente externo (para prever condições
climáticas) e, com isso, são capazes de administrar o sistema conforme a demanda em cada região, evitando
pontos críticos, identificando falhas e otimizando o sistema de distribuição.
Em termos de resiliência água de chuva, a cidade de São Paulo conta com uma central de gerenciamento de
emergências que, através de sensores de temperatura e pluviômetros, monitora as principais áreas de risco
da região metropolitana. A localização dos pontos mais críticos na cidade, vulneráveis a riscos de inundação
ou desabamento, pode ser prevista com 2 dias de antecedência pela Central. À medida que eventos de chuva
vão ocorrendo na cidade, o Centro entra em contato com a Defesa Civil, que é a responsável por alertar e
retirar comunidades de regiões de risco.
Uma das críticas referentes a este Centro é a falta de comunicação com a população da cidade. Poucos são
aqueles que conhecem o serviço disponibilizado pelo Centro (no site é possível ver em mapa os pontos de
alagamento), de forma que não se evita que as pessoas se direcionem aos locais onde há risco. Além disto,
aquelas que já se encontram em regiões de risco são pouco instruídas sobre a veracidade dos dados e a
confiabilidade com o trabalho da defesa civil é baixa.
Com isto, a defesa civil e agentes locais podem intervir em regiões de risco e evitar grande impacto sobre a
população. O centro também possui acesso a sirenes espalhadas em algumas comunidades de risco,
alertando-as através de aviso sonoro sobre riscos de desabamento e inundação (CENTRO DE OPERAÇÕES,
2015). A crítica relacionada ao centro de emergências de São Paulo quanto à comunicação com a população
também é válida para o Centro de Operações do Rio de Janeiro.
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Cidades resilientes a inundações
4. Medidas estruturais
4.1 Definição
As medidas estruturais são aquelas que envolvem obras de engenharia e ações de infraestrutura de
drenagem. A seguir, são discutidas algumas medidas estruturais segundo uma divisão em dois grandes
grupos: medidas estruturais tradicionais e sistema de drenagem urbana sustentável.
Sistema unificado: sistema combinado de esgotos no qual a água pluvial é misturada a efluentes
domésticos e industriais antes de ser tratada em uma estação central de tratamento de efluentes e
despejada em um curso de água receptor;
Sistema separador: o sistema separador de águas superficiais coleta apenas águas pluviais e as
despeja nos cursos de água receptores com pouco ou nenhum tratamento.
A infraestrutura comumente utilizada para coletar e conduzir águas pluviais pela abordagem convencional
inclui:
Microdrenagem superficial: Chuva escoada de telhados, ruas e outras áreas impermeáveis fluem por
sarjetas em direção a canais subterrâneos para assegurar a rápida remoção da superfície;
Canais de drenagem de concreto: canais para a condução das águas de escoamento às ETEs ou curso
de águas receptoras;
Os sistemas convencionais de drenagem são os métodos mais comumente utilizados na gestão de águas
pluviais. Entretanto, esse sistema possui algumas limitações para a construção de cidades resilientes, pois
estão baseadas em prioridades que auxiliam na redução do risco de inundações localizados, mas raramente
atendem uma abordagem integrada e frequentemente são implantados com pouca consideração do impacto
a jusante, por exemplo.
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Cidades resilientes a inundações
Segundo Pompêo(2000), sistema de drenagem urbana sustentável é o conjunto de ações integradas que
possam articular a sustentabilidade com o tratamento de enchentes urbanas e as políticas de saneamento e
recursos hídricos. Esse sistema apoia-se na ideia de o ciclo hidrológico da região ser parecido ao ciclo
hidrológico natural. O sistema, queé desenvolvido para melhorar a gestão de riscos ambientais,também
maximiza as oportunidades de revitalização do espaço urbano e incremento da biodiversidade.
A seguir, destacamos dois exemplos de medidas estruturais sustentáveis, procurando descrevê-las e discutir
suas vantagens e suas limitações.
Pavimento poroso
Um dos maiores impactos da urbanização na gestão de águas pluviais é a transformação de vegetação e solos
permeáveis em superfícies pavimentadas permeáveis, que aumentam o volume e a velocidade de
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Cidades resilientes a inundações
escoamento superficial.
A estrutura do pavimento poroso surge, portanto, como forma de minimização dos efeitos da
impermeabilização, pois permite a drenagem das águas pluviais através do pavimento, o armazenamento e
lenta liberação do volume por tubulações coletoras subterrâneas, amortecendo o escoamento das águas
pluviais.
O pavimento poroso é uma opção de controle local, concebida para controlar apenas a água que cai sobre
sua superfície. Esse tipo de solução possui algumas limitações, pois está intimamente ligado ao
enquadramento da utilização da via e, portanto, deve possuir resistência para suportar o peso e o volume de
tráfego local. Além disso, a construção de pavimentação porosa exige uma manutenção para que os
sedimentos e a própria compactação do pavimento devido a carga dos veículos não obstruam a drenagem
das águas. Atualmente, uma das utilizações mais comuns dessa solução são os pavimentos permeáveis em
estacionamentos.
Os sistemas de infiltração são trincheiras ou bacias que coletam as águas pluviais e as infiltram no solo por
um meio de cascalho e pedra. O escoamento é tratado por meio da filtração pelas pedras e cascalhos que
preenchem a trincheira ou reservatório e são capazes de remover diversos poluentes. A principal diferença
em relação as valas é que os sistemas de infiltração não possuem uma saída e, portanto, não são
descarregados em nenhum outro sistema de drenagem ou descarregado nos cursos de água receptores.
Dessa forma, atuam com maior amortecimento das águas. Esses sistemas de infiltração são mais eficazes
quando construídos em conjunto com outras opções de controle na origem como valas, coletores de
sedimentos, ou certos tipos de telhados verdes, pois o tratamento prévio desses outros sistemas reduz o
risco de águas subterrâneas.
5. Medidas não-estruturais
5.1 Definição
São medidas não estruturais aquelas que envolvem o convívio da sociedade com o fenômeno das cheias sem
a construção adicional de infraestrutura de drenagem – por oposição às medidas estruturais. Tais ações têm
se tornado cada vez mais importantes, por múltiplas razões. Em primeiro lugar, são medidas geralmente
muito menos custosas que as estruturais, embora suas exigências em termos de capital político sejam
elevadas (Zahed Filho, Martins, Porto, 2012; Andrade Filho, Széliga eEnomoto, 2000; Tucci, 1997). Em
segundo lugar, em inúmeras cidades, o estabelecimento de medidas estruturais intensivas contra as
inundações – tais como as canalizações – agrava os problemas a jusante, caso em que o uso conjunto de
medidas estruturais extensivas – visando a atenuar ou retardar o escoamento superficial – e de medidas não
estruturais se torna essencial. Com efeito, ainda que as medidas não estruturais fossem relegadas a um status
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Cidades resilientes a inundações
secundário no paradigma tácito que regia os projetos de drenagem no século XX, elas vêm assumindo um
papel de muito maior destaque neste século. As medidas não estruturais referentes a áreas não ocupadas
sob alto risco de inundação são chamadas preventivas, enquanto as ações em áreas de alto risco previamente
ocupadas são denominadas corretivas – e naturalmente envolvem maior resistência por parte da população.
A seguir, destacamos um conjunto não exaustivo de medidas não estruturais, procurando não somente
descrevê-las, mas também discutir suas vantagens e suas limitações.
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Cidades resilientes a inundações
Em princípio, uma situação em que haja agentes racionais (no sentido econômico do termo), informação
perfeita e competição livre pelas parcelas de terra levará a um equilíbrio espacial que representa a alocação
ótima dos recursos fundiários. Nesse contexto, qualquer interferência direta do setor público – por exemplo,
pela confecção de um plano diretor que restrinja a ocupação de certas áreas – seria necessariamente
deletéria. O que, então, poderia sustentar a recomendação de elaborar um zoneamento urbano? Um dos
exemplos clássicos das chamadas falhas de mercado é a presença de externalidades, isto é, benefícios ou
prejuízos que recaem sobre agentes que não participam diretamente de uma transação. Na classificação
sugerida por Tucci (1997) e mencionada no parágrafo anterior, a ocupação das zonas de passagem da
enchente impõe uma clara externalidade negativa aos habitantes a montante, sem que esse efeito possa ser
incorporado no sistema de preços. A solução típica que um economista sugeriria para responder a tal
situação seria um tributo pigouviano – ou seja, os ocupantes das zonas de passagem da enchente deveriam
ser sobretaxados e a receita arrecadada deveria ser distribuída aos habitantes a montante como forma de
compensação. Embora essa solução seja teoricamente apropriada, não é difícil perceber que o cálculo do
nível apropriado dessa taxa envolveria técnicas extremamente sofisticadas, além do que se pode esperar do
ponto de vista prático – sem contar o fato de que sua aceitação social seria bastante problemática.
As zonas de passagem da enchente não são as únicas que impõem limitações ao funcionamento dos
mecanismos de mercado. As demais zonas inundáveis também exigem que se considerem certas
constatações da economia comportamental, citadas por exemplo em Kahneman (2011), especialmente o
fato de que considerar que o sistema de preços possa lidar adequadamente com fenômenos relativamente
pouco frequentes, porém com alto dano potencial (como é o caso de desastres naturais), pode ser
incompatível com as limitações cognitivas humanas. Assim, as chamadas zonas com restrições parecem ainda
justificar um nível moderado de ação estatal no sentido de regular diretamente o uso do solo; no caso de
zonas de baixo risco, provavelmente as medidas mais adequadas são aquelas que se assemelham a seguros,
que serão discutidas adiante.
Por fim, talvez a principal peculiaridade das áreas urbanas sujeitas a inundações seja que, não raro, tais áreas
são ocupadas de forma irregular. Como a existência de direitos de propriedade assegurados são uma
condição essencial ao funcionamento normal dos mercados, as ocupações irregulares representam um
contexto de necessidade de ação estatal, tanto no sentido de fiscalizar e impor aquilo que for decidido na
elaboração do plano diretor, quanto para encontrar alternativas de reassentamento das famílias afetadas.
Ambos os pontos serão tratados adiante. Planos diretores podem ainda ser importantes para a escolha de
localização de equipamentos públicos, que certamente devem considerar a possibilidade de inundações.
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Cidades resilientes a inundações
imposição efetiva das restrições preconizadas pelo plano diretor pode ser impedida por algo que a literatura
de ciência política e econômica denomina dilema de agência: um prefeito que promova a remoção de lares
em áreas restritas arca sozinho com o ônus político substancial desse tipo de ação, embora os benefícios se
estendam muito além da duração de seu mandato; dessa forma, nenhum representante tem o incentivo de
tomar esse tipo de atitude, independentemente de quão socialmente benéfica possa ser. A ocupação
irregular de áreas de mananciais apresenta exatamente o mesmo tipo de conflito de interesses – e os
habitantes de áreas metropolitanas brasileiras estão cientes de que, até o presente momento, nenhuma
solução adequada foi encontrada. Apenas uma conscientização ampla das populações, que envolvesse a
cobrança de medidas apropriadas da parte dos governos municipais e estaduais, parece ser capaz de evitar
esse tipo de situação. Em outras palavras, a única forma de viabilizar esse conjunto de ações socialmente
benéficas parece ser reduzir o ônus político associado a elas.
Pelo menos duas formas de implementar essa medida são concebíveis. A primeira é o condicionamento da
ocupação dessas áreas à aquisição de um seguro fornecido por empresas privadas. A segunda é a cobrança
de uma taxa regular pela ocupação de áreas sujeitas a inundações, cuja receita seria reservada num fundo
público destinado à compensação de vítimas desse tipo de evento e a outras medidas mitigadoras. Não
parece haver clara superioridade de uma opção em relação à outra. A via pelo emprego de transações
privadas poderia beneficiar o cidadão por meio de uma competição de preços entre tais empresas. Por outro
lado, o mercado de seguros opera primordialmente com apólices cujos sinistros são pouco correlacionados
entre si – a ocorrência de um acidente com o veículo de um cliente, em princípio, não altera o risco associado
a outro cliente. Tal condição é obviamente falsa no caso de áreas sujeitas a inundações: se graves danos
decorrentes de inundações são impostos a um lar, é extremamente provável que lares vizinhos também
sejam afetados, o que torna muito mais complexa a precificação de seguros residenciais contra esse tipo de
desastre. Isso poderia ser encarado como um argumento a favor da solução inteiramente estatal – embora,
na prática, o cálculo da taxa apropriada seja igualmente complexo, e problemas de aceitação social possam
ser vislumbrados para ambas as opções.
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Cidades resilientes a inundações
6. Conclusão
Inundações e emergências hídricas de forma geral são fenômenos cujas consequências para os habitantes
de áreas urbanas podem ser devastadoras – tanto em termos de perda de vidas humanas quanto de prejuízos
econômicos.
Cidades resilientes são aquelas capazes de atenuar os danos causados pelos desastres naturais, adaptar-se a
essas situações de estresse dos sistemas urbanos e garantir um nível mínimo de funcionamento e segurança
estrutural. É de vital importância que as cidades sujeitas a inundações – boa parte delas situada em países
em desenvolvimento – tornem-se resilientes para que possam garantir a integridade dos seus cidadãos e se
tornem mais prósperas.
Isso exige um conjunto bastante diverso de iniciativas. Certamente as medidas estruturais intensivas, como
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as tradicionais canalizações de cursos d’água, fazem parte do repertório de que devem dispor as autoridades
públicas para lidar com tais fenômenos. Entretanto, o escopo de ações também deve incluir medidas
estruturais extensivas – destinadas a reduzir ou retardar o escoamento superficial, como os pavimentos
permeáveis e sistemas de infiltração – e medidas não estruturais – como a regulação do uso do solo e o
estabelecimento de um sistema de alerta e defesa civil.
As decisões sobre as medidas mais adequadas são altamente dependentes do contexto local. Embora a maior
parte das cidades sujeitas a inundações observe problemas semelhantes, as melhores soluções devem ser
elaboradas considerando as peculiaridades do ambiente natural e da situação socioeconômica, o que exige
a colaboração eficaz de pessoas com uma grande variedade de perfis.
7. Bibliografia
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Cidades resilientes a inundações
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