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HISTÓRIA

Volume 04
Sumário - História Frente A
16 3 Independência da América Espanhola
Autor: Geraldo Magela

17 13 Ideias sociais e políticas do século XIX


Autor: Geraldo Magela

18 21 Unificação italiana, alemã e Comuna de Paris


Autor: Geraldo Magela

19 31 Estados Unidos no século XIX


Autor: Geraldo Magela

20 39 Imperialismo
Autor: Geraldo Magela

Frente B
13 51 Brasil Império: Período Regencial
Autor: Edriano Abreu

14 63 Bases políticas do Brasil Império


Autor: Edriano Abreu

15 73 Grupos sociais em conflito no Brasil Império


Autor: Edriano Abreu

16 89 República Provisória e da Espada


Autor: Edriano Abreu

2 Coleção Estudo
HISTÓRIA MÓDULO FRENTE

Independência da América
Espanhola
16 A
CONTEXTO EUROPEU Europa e lá tomavam consciência dos ideais ilustrados,
fosse por meio do contrabando de livros para a América.
Dessa maneira, formou-se uma elite colonial que via na
O domínio europeu na América, iniciado no final do século XV,
Independência a única saída para seu desenvolvimento
acabou sendo colocado em xeque na passagem do
econômico e político. Além disso, essa elite de formação
século XVIII para o XIX, pois, entre outros motivos,
europeia se considerava igual aos europeus, por mais que
as transformações ocorridas no Velho Continente provocaram
estes adotassem uma visão etnocêntrica que vinculasse a
um contexto no qual se tornaram inevitáveis as lutas por
América à barbárie.
independência. O desenvolvimento industrial da Inglaterra,
por exemplo, fez crescer a demanda por matéria-prima e Além de influências ideológicas, como o Iluminismo,
por mercados. Apesar de a América Colonial ser parte do os colonos tomaram como exemplo algumas lutas liberais
mercado inglês, o comércio era mediado pelas metrópoles, burguesas ocorridas durante o século XVIII. Uma delas foi a
ou seja, atravessadores que, por vezes, inviabilizavam as Revolução Francesa, afinal, aquele processo revolucionário
relações comerciais inglesas. Mesmo sendo favorável à burguês, ocorrido em 1789, foi uma das mais importantes
Independência das Américas, a Inglaterra vivia um dilema, lutas contra o absolutismo. Além de conseguirem derrubar
pois não podia perder seu mercado europeu. Era necessário, o governo, que era considerado o mais despótico de toda a
portanto, apoiar as Independências sem entrar em conflito Europa, os revolucionários franceses implementaram novos
com as metrópoles, afinal, o objetivo dos ingleses era modelos políticos no país e, assim, evidenciaram o fracasso
aumentar o seu mercado consumidor, e não transferi-lo. do Antigo Regime.
Esse paradoxo foi resolvido com o apoio indireto da Inglaterra Uma clara manifestação da influência revolucionária
às Independências, por meio da concessão de empréstimos francesa nos processos de emancipação do continente
às colônias e de financiamentos a mercenários, como o lorde americano é a grande recorrência de bandeiras tricolores
Cochrane, que lutaram ao lado dos colonos. como estandartes das novas nações que se formaram.
O pensamento iluminista, que atingiu seu ápice na Europa Porém, ao contrário do azul, branco e vermelho – que
no século XVIII, chamado de Século das Luzes, também teve representam, respectivamente, liberdade, igualdade e
influência nos processos de Independência das Américas. fraternidade – da bandeira francesa, as nações americanas
Por acreditarem em uma ideologia essencialmente burguesa, adotaram cores que faziam alusão a elementos próprios
os iluministas eram contrários às distinções sociais oriundas do continente, por exemplo o amarelo, que representava a
do Período Feudal, defendendo, assim, a igualdade entre os riqueza oriunda dos metais preciosos.
homens, pelo menos juridicamente. O Iluminismo também
pregava o liberalismo econômico, que, na prática, significava
a não intervenção do Estado na economia. Dessa forma,
as relações existentes entre as metrópoles e as colônias
– baseadas completamente nos princípios mercantilistas –
eram vistas com extremo desprezo não só pela Inglaterra,
como também pelos ilustrados, afinal, os nativos não tinham
os mesmos direitos políticos que os indivíduos da metrópole,
a colônia não possuía liberdade comercial e mesmo a
liberdade de expressão era coibida no continente americano.

Posta, portanto, a divergência entre o sistema colonial e as


ideias iluministas, as metrópoles buscaram meios de proibir a
circulação das obras consideradas subversivas, principalmente
francesas, em seus domínios. Mesmo assim, livros de autores
como Voltaire, Montesquieu e Rousseau, por exemplo, chegavam Inspirados na bandeira da França, os estandartes do Chile e da
às colônias, fosse por intermédio das elites que iam estudar na Venezuela apresentam variações tricolores.

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Frente A Módulo 16

Mesmo tendo passado cerca de dez anos do início da Finalmente, é importante apontar a posição social inferior
Revolução Francesa, as lutas no continente europeu não ocupada pelos negros que, estando abaixo de qualquer outro
cessaram e, já no início do século XIX, a Europa vivenciava elemento social, muitas vezes eram submetidos à escravidão
as guerras napoleônicas, quando o poderio bélico francês e, logo, aos interesses das elites coloniais.
se impôs em praticamente todo o continente. A Europa se
rendia ao Exército de Napoleão Bonaparte, e a Inglaterra era Com o desenrolar da colonização espanhola, os criollos
a única potência que, devido à sua força econômica e à sua acabaram entrando em divergência com os chapetones,
posição insular, conseguia resistir à expansão napoleônica. pois a elite nativa ganhou muita força econômica pelo fato de
controlar as estruturas produtivas das colônias espanholas,
Diante da resistência inglesa, o imperador francês
estruturas estas que, ao longo do tempo, se desenvolveram
decretou o Bloqueio Continental (1806), que proibia os
países europeus de comercializarem com os britânicos. bastante. Apesar de parecer um paradoxo, o investimento
A Espanha, assim como outros países da Europa, tinha uma estrutural nas colônias era importante para a metrópole, que,
economia muito dependente dos ingleses, e, como a França a partir de então, teria condições de cobrar mais impostos
não estava no mesmo patamar industrial que a Inglaterra, sobre uma produção mais volumosa. Assim, em virtude da
os espanhóis romperam o Bloqueio. força econômica alcançada pelos criollos, estes passaram
a reivindicar maior representação política, uma vez que
A reação francesa foi imediata e se manifestou através
da invasão da Espanha e da deposição do rei daquele país, sustentavam a economia colonial com suas minas e fazendas.
Fernando VII. José Bonaparte, irmão de Napoleão, foi A única forma de obter essa participação, no entanto,
colocado no trono espanhol e, além da resistência interna era rompendo com a metrópole, já que, por serem espanhóis,
ao seu governo, o novo rei enfrentou a desobediência das os chapetones tinham maior influência junto à Coroa.
colônias que compunham a América Espanhola. Além do desejo de liberdade por parte da elite colonial,
a maior parte da sociedade, formada por pequenos
comerciantes, trabalhadores assalariados, mestiços, índios
CONTEXTO INTERNO DAS e negros, também via a Independência com bons olhos,
pois acreditava que, vivendo em um país independente,
AMÉRICAS conquistaria maiores direitos sociais e políticos.
Às vésperas do século XIX, portanto, a sociedade colonial
Apesar da importante contribuição europeia para as lutas espanhola, por mais que apresentasse projetos políticos
de Independência dos hispano-americanos, é necessário distintos, demonstrava seus anseios de liberdade, situação
compreender a realidade do continente americano à época, preocupante para a metrópole, que via o seu controle sobre
assim como as estruturas internas das colônias espanholas, as Américas ameaçado.
para se ter uma noção da realidade dos novos Estados
formados a partir desse processo emancipacionista.
Se a Revolução Francesa foi a maior inspiração europeia
para os colonos que ansiavam por liberdade, o melhor exemplo
PROCESSO DE EMANCIPAÇÃO
de luta em pleno continente americano foi a Independência
das Treze Colônias, processo também conhecido
POLÍTICA
como Revolução Americana, ocorrido no século XVIII.
No processo de emancipação política da América
A luta dos estadunidenses serviu de exemplo aos
Espanhola, há algumas peculiaridades e diferenças em
hispano-americanos, pois o norte da América foi a primeira
região do continente a conquistar a liberdade, livrando-se, relação ao das Treze Colônias e ao do Brasil. No caso das
inclusive, da nação mais poderosa da época, a Inglaterra. Treze Colônias, o que ocorreu após a Independência foi um
Além disso, o  considerável desenvolvimento tecnológico processo de expansão territorial. A Marcha para o Oeste
alcançado por parte dos estados que compunham aquele estava associada ao ideário do Destino Manifesto, uma
país levava as elites coloniais a acreditarem que a crença quase religiosa da missão dos estadunidenses em
independência seria a melhor saída naquele momento. expandir os valores da democracia e da liberdade. Já no
Uma clara manifestação da influência estadunidense nas caso brasileiro, houve a manutenção da unidade territorial,
Américas foi o sistema político adotado pela maioria dos se desconsiderarmos pequenas alterações sofridas ao longo
Estados formados, que, assim como os Estados Unidos, do século XIX e início do XX.
se tornaram republicanos.
O processo de Independência da América Latina,
Internamente, as colônias que compunham a América mais precisamente da América Espanhola, no entanto,
Espanhola apresentavam uma sociedade estratificada.
gerou uma grande fragmentação territorial em relação
Os chapetones, espanhóis que vinham para a América, tinham
às antigas possessões espanholas, que, já no século XIX,
a posição social mais privilegiada e, por isso, ocupavam
se desmembraram em vários Estados politicamente
os altos cargos administrativos e controlavam o comércio
autônomos. É importante ressaltar que, mesmo dentro
externo. Outra camada que ocupava posição de destaque
era os criollos, elite nativa descendente de espanhóis, de alguns desses Estados, houve sedições políticas,
que controlava a economia colonial e tinha poderes políticos pois, em virtude da disputa do poder entre os caudillos
limitados. A classe intermediária era formada por mestiços – líderes das independências –, países que haviam
e índios, que, por não terem grande prestígio social, conquistado sua emancipação, como a Grã-Colômbia,
eram excluídos de certos direitos políticos, como o voto. acabaram sofrendo fragmentações posteriores.

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Independência da América Espanhola

Outra reflexão interessante que devemos fazer é a maioria dos países não garantiu a sua emancipação política
a respeito do termo utilizado: emancipação política. em relação à Espanha. Tal situação se justifica pelo fato de
A preferência por esse termo, ao contrário de simplesmente a Inglaterra – diretamente interessada na Independência da
independência, tem por objetivo mostrar que, ao América – estar envolvida nas guerras napoleônicas, o que
conquistar a sua liberdade política, a América Latina não acabou inviabilizando o apoio daquela importante nação aos
conseguiu se livrar do jugo econômico europeu. O apoio movimentos emancipacionistas.
dado pela Inglaterra às Independências acabou por manter
laços de domínio econômico, uma vez que as estruturas Em 1815, Napoleão Bonaparte foi derrotado definitivamente
econômicas e mesmo culturais da região favoreciam a pelas forças conservadoras que, através do Congresso de
manutenção dessa dependência. Muitos membros das Viena, reconduziram o rei espanhol Fernando VII ao trono.
elites coloniais tinham ligações econômicas com a Europa Devido à sua tendência absolutista, o rei logo se empenhou
e acreditavam que o Velho Mundo poderia contribuir em reafirmar a sua autoridade política e econômica sobre as
culturalmente para o desenvolvimento da América, já que colônias instaladas na América. Tal imposição, no entanto,
grande parte dos membros dessa elite teve sua formação não agradou aos criollos, uma vez que a elite nativa
intelectual na Europa. americana não estava disposta a abrir mão da autonomia
conquistada. Assim, entre 1816 e 1825, houve um segundo
Um dos mais importantes precursores das Independências
momento emancipacionista, quando a maioria dos países da
latino-americanas aconteceu no vice-reino de Nova Granada
América conquistou sua autonomia política.
– atual Peru –, onde a mita e a encomienda, tipos de trabalho
compulsório indígena, eram utilizadas de forma extensiva
nas minas e haciendas. José Gabriel Tupac Amaru, que
afirmava ser um descendente dos incas, liderou, em 1780,
uma rebelião contra a exploração sofrida pela população
indígena e, reunindo índios, mestiços e criollos, chegou
a derrubar esses tipos de trabalho compulsório em várias

HISTÓRIA
cidades da região.

Apesar do sucesso inicial, o movimento acabou fracassando


devido a fatores como a inexperiência militar dos
rebeldes. Além disso, a elite colonial, que a princípio
apoiava o movimento, temendo a radicalização do projeto
emancipacionista, passou a facilitar a ação das tropas
espanholas na repressão aos rebeldes. Traído, Tupac Amaru
foi preso, julgado na cidade de Cuzco e condenado à morte

Francisco de Goya
em 1781.

É importante ressaltar que, apesar do aparente fracasso


do projeto emancipacionista elaborado por Tupac Amaru,
através daquele ato, a Espanha pôde perceber, já no Fernando VII
século XVIII, que a contestação ao domínio colonial estava
Apesar da concretização das Independências, é importante
em andamento, e que, no caso da América Hispânica,
ressaltar que a Espanha, que não concordava em perder
as massas reivindicavam não só maior liberdade, mas
seus domínios, passou a reprimir violentamente as lutas de
também mudanças sociais. Essa rebelião, ocorrida em uma
Independência. Os espanhóis contaram ainda com o apoio
das principais zonas mineradoras da América, assustou não
da Santa Aliança e de países como a França que, através
só a elite metropolitana, como também as elites coloniais,
do Congresso de Verona (1822), se dispôs a enviar tropas
que sentiram que seus privilégios sociais estavam sendo
à América em auxílio aos espanhóis.
ameaçados. Mais tarde, a Revolução de São Domingos (Haiti)
mostrou novamente às elites que as camadas exploradas das A vitória dos colonos sobre a Espanha só foi possível
sociedades americanas estavam se mobilizando. por causa da aliança realizada entre as elites coloniais e a
Ocorrido majoritariamente durante o século XIX, Inglaterra, diretamente interessada nas relações comerciais
o processo de Independência da América Espanhola pode com o continente americano. Tal postura da Coroa inglesa,
ser dividido em dois momentos. No  primeiro momento no entanto, causou uma crise na Quíntupla Aliança (criada
(1810-1816), as elites coloniais foram beneficiadas pelas durante o Congresso de Viena), uma vez que, desrespeitando
guerras napoleônicas, afinal, diante da desordem criada o caráter conservador dos aliados, a Inglaterra defendeu os
pelo imperador francês, os criollos tomaram frente na movimentos liberais emancipacionistas nas colônias espanholas
política colonial e transformaram os cabildos em juntas da América. A partir de então, os ingleses se desvincularam
governativas, órgãos com maior autonomia política. da Aliança, o que enfraqueceu o movimento conservador na
Ainda assim, nesse primeiro momento, não houve grandes Europa, facilitando a Independência da América Espanhola e
conquistas por parte dos colonos, ou seja, apesar das lutas, abrindo espaço para novos movimentos liberais.

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Frente A Módulo 16

Após a Independência, os caudillos, como ficaram Outro fator fundamental para o fracasso da união da
conhecidas as lideranças políticas e militares que haviam América foi a participação da Inglaterra no processo
figurado à frente dos movimentos de Independência, de emancipação, afinal, os ingleses não desejavam o
passaram a controlar politicamente as novas nações aparecimento de uma nação forte e poderosa no continente.
formadas. O principal desses líderes foi Simón Bolívar, É importante ressaltar, ainda, que a própria divisão política
responsável pela Independência de países como Bolívia, da América Espanhola, promovida pela metrópole, que não
Grã-Colômbia, Venezuela e Equador. Bolívar, um dos permitia a comunicação entre os vice-reinos e as capitanias
libertadores da América, defendia o pan-americanismo, gerais, foi responsável pela falta de unidade política.
através do qual toda a América Espanhola se unificaria em Porém, o elemento mais importante para a fragmentação
torno de uma confederação. Segundo ele, a união das ex- da América Espanhola foi as diferenças de interesses entre
colônias espanholas seria a melhor saída para viabilizar a os caudillos, que, após as Independências, passaram a
formação de uma nação hegemônica no cenário mundial, disputar o poder conforme seus interesses. Assim, em vez
nação esta que se estenderia da Terra do Fogo, na Argentina, de ceder parte dos seus poderes ao chefe do grande Estado
até o Alasca. projetado por Bolívar, os caudillos preferiram manter a sua
influência nos Estados que dominavam.
Em 1826, foi organizado o Congresso do Panamá, quando,
com base nas ideias de Simón Bolívar, houve uma tentativa
de reunir os chefes políticos dos Estados recém-formados,
com o objetivo de manter a unidade do continente. A maioria
dos representantes, entretanto, não compareceu, pois
CASOS PARTICULARES
os caudillos, que exerciam grande influência nos seus
países, não tinham interesse na união desejada por Bolívar.
Os  participantes do Congresso entraram em divergência
Argentina
também no que se refere ao sistema político ideal para As Províncias Unidas do Prata compreendiam o território
o país a ser formado. Os adeptos de José de San Martín onde hoje se situam a Argentina, o Uruguai, o Paraguai e
– outro libertador da América – defendiam que o regime parte da Bolívia. Já em 1811, a região iniciou um processo de
republicano, semelhante ao dos Estados Unidos, seria o mais emancipação fragmentada, pois, naquele ano, o Paraguai se
propício ao desenvolvimento econômico da grande nação tornou independente. Logo depois, foi a vez dos argentinos,
hispano-americana. Já os adeptos de Simón Bolívar que, apesar de jurarem fidelidade ao rei espanhol,
Fernando  VII, não toleraram as atitudes absolutistas
acreditavam que o sistema monárquico seria o mais viável,
tomadas pelo monarca após a sua volta ao poder, em 1815.
pois, desde a colonização, a América, em geral, já estava
Assim, reunidos no Congresso de Tucumã (1816),
ambientada com os regimes europeus. Assim, em virtude
os argentinos se declararam independentes sob o comando de
dessas divergências surgidas durante o Congresso, o
José de San Martín. Mesmo com a Independência argentina,
projeto de formação de uma grande nação americana não
o processo de fragmentação continuou, afinal, poucos anos
foi concretizado. após a libertação da Argentina, o Brasil anexou a região da
Cisplatina, hoje chamada de Uruguai.

A fragmentação do vice-reino do Prata, no entanto, nunca


agradou aos argentinos, que sempre mantiveram vivo o
sonho de reconstrução da unidade do Prata. Posicionamento
paradoxal, uma vez que, até a década de 1960, não havia
unidade política nem mesmo na Argentina, pois, até então,
cabia ao presidente argentino comandar a província de Buenos
Aires. Em cada uma das outras províncias, o poder era exercido
por caudillos, que faziam oposição ao governo central.

México
Artista desconhecido

As lutas pela Independência do México começaram em


1810, tendo sido lideradas pelos padres Hidalgo e Morelos,
que defendiam mudanças sociais favoráveis à população
Encontro entre Simón Bolívar e José de San Martín, dois dos indígena. Observa-se que essas lutas tinham, em sua
libertadores da América, em Guayaquil (atual Equador), em 1822. origem, um caráter de movimento revolucionário social.
Em parte, a fragmentação das ex-colônias espanholas Miguel Hidalgo, por exemplo, decretou que os indígenas
em Estados autônomos distintos pode ser justificada não seriam obrigados a arrendar suas terras e que elas
seriam trabalhadas exclusivamente pelos seus proprietários.
pelos aspectos geográficos que, por vezes, dificultavam
a comunicação entre as diversas regiões americanas. Já José María Morelos apoiou Hidalgo na supressão da
A Cordilheira dos Andes, que se estende por grande parte escravidão e foi além: defendia a extinção das qualificações
da América do Sul, é um claro exemplo dessa “fronteira discriminatórias entre índios, mulatos e negros, condenando
natural” existente entre os novos países. qualquer medida que representasse opressão.

6 Coleção Estudo
Independência da América Espanhola

O caráter revolucionário do México assustou não só as Apesar da emancipação política, os chefes de Estado da
elites metropolitanas, mas todos os poderosos da própria recém-formada Grã-Colômbia entraram em divergência,
colônia. Assim, esses padres foram assassinados, mas a luta afinal, enquanto Bolívar defendia o unitarismo, através de um
pela Independência continuou. governo forte e centralizado, Santander apoiava o federalismo,
com descentralização do poder. As disputas internas entre os
dois grupos foram tantas que, em 1829, a Confederação da
Grã-Colômbia iniciou um processo de fragmentação em três
países: Colômbia, Equador e Venezuela.

Cuba
Último país da América Espanhola a se livrar do domínio
colonial, Cuba recebeu o apoio dos Estados Unidos para sua
Independência, o que contrariava os interesses espanhóis.
A justificativa para tal atitude veio em 1898, quando um navio
estadunidense, ancorado em Havana, foi misteriosamente
queimado. Alguns autores afirmam que os Estados Unidos
foram os responsáveis pelo atentado, que serviria como um
motivo para o conflito. Fato é que tal incidente provocou a
Guerra Hispano-Americana, travada entre os Estados Unidos
e a Espanha, que acabou sendo derrotada.
Pelo Tratado de Paris (1898), além da Independência de
Cuba, os espanhóis reconheciam o domínio dos Estados
Unidos sobre Filipinas e Porto Rico, até hoje sob controle
daquele país. Em 1902, foi aprovada, pelo Senado dos Estados
Juan O’ Gorman

HISTÓRIA
Unidos, a Emenda Platt, que foi incorporada à Constituição
cubana. Esse dispositivo concedia a emancipação aos
cubanos, mas, ao mesmo tempo, dava ao governo dos EUA
o direito de intervir e de construir bases militares no país,
El grito de dolores, mural que retrata o padre Hidalgo à frente
sendo que, até hoje, uma delas, Guantánamo, funciona como
do povo mexicano durante a luta pela Independência.
uma prisão estadunidense em solo cubano.
As lutas emancipacionistas chegaram ao seu ápice em
1821, quando o general Iturbide – até então responsável
pela contenção às rebeliões separatistas – proclamou o Plano
Uruguai
Iguala. Apesar de concretizar a Independência mexicana, O Uruguai foi incorporado ao território brasileiro em 1820.
este plano assegurava os privilégios da Igreja Católica e a As pretensões lusas na região eram antigas, pois Portugal
proteção à propriedade, favorecendo, assim, os grandes desejava o controle sobre a Bacia do Prata. D. João, usando
proprietários de terras. A única mudança de fato gerada o argumento de que sua esposa, Carlota Joaquina, irmã de
Fernando VII, da Espanha, era herdeira da região, acabou
pela emancipação foi que as riquezas do país não iriam
por anexar a região ao Brasil.
mais para a Espanha, permanecendo agora no México, nas
mãos da elite econômica, responsável pelo comando de uma Em 1825, apoiados pela Argentina, que também tinha
monarquia personificada pelo general Iturbide. interesses na região, os uruguaios iniciaram uma guerra
para se livrarem do domínio brasileiro. Devemos lembrar
O regime monárquico durou até 1823, quando Iturbide que o Brasil, nesse momento, já era independente. A Guerra
foi forçado a abdicar e a se exilar na Europa, o que levou à da Cisplatina (1825-1828), como ficou conhecida, terminou
implantação da república no México. Assim, a partir daquele com a intervenção da Inglaterra, que, para não fortalecer um
ano, o Brasil passou a ser a única monarquia no continente lado ou outro, acabou determinando a criação da República
americano. da Banda Oriental do Uruguai, desvinculada do Brasil e
também da Argentina.

Confederação da Grã-Colômbia
Haiti
Em 1819, as elites coloniais do vice-reino de Nova Granada
se reuniram no Congresso de Angostura, quando anunciaram O Haiti faz parte da Ilha de Hispaniola (atual São Domingos),
dividida durante o Período Colonial entre Espanha, lado oriental,
o rompimento da região com a metrópole e a criação
e França, lado ocidental. O lado francês da ilha possuía três
da Confederação da Grã-Colômbia. Naquele momento,
classes sociais distintas: a  maior parte da população era
os colonos indicaram Simón Bolívar como o presidente da composta de escravos; os  mulatos e negros libertos, que
república ali instalada, e, como vice-presidente, foi nomeado podiam inclusive se tornar donos de escravos, compunham
Santander, que foi, de fato, quem governou, já que Bolívar uma classe intermediária; e, finalmente, os brancos,
continuava liderando lutas de independências em outras socialmente privilegiados, compunham a minoria responsável
regiões americanas. pela exploração econômica e pela administração colonial.

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O processo de Independência de São Domingos se iniciou D) os interesses ingleses, na América Hispânica, eram
durante a Revolução Francesa, em 1791, tendo como mais presentes e foram os únicos determinantes da
líder Toussaint Louverture, que, inspirado no movimento sua fragmentação, ao passo que, no Brasil, aqueles
burguês europeu, acabou se convencendo de que o interesses não existiram de maneira tão marcante,
Haiti deveria se tornar uma federação ligada à França. de forma a impedir a obra da centralização.
Assim, após a Convenção Nacional abolir a escravidão nas E) não existiu, na América Hispânica, uma facção
colônias francesas, Louverture se incorporou ao Exército oligárquica hegemônica que conseguisse levar adiante
francês na luta contra os ingleses, o que acabou lhe a obra da unidade, enquanto, no Brasil, os interesses
concedendo prestígio o suficiente para realizar mudanças escravistas aglutinaram as elites em torno de um
administrativas na ilha. Louverture criou hospitais, construiu projeto centralista.
parques, estimulou a produção das lavouras de açúcar, criou
escolas e chegou a redigir uma Constituição para o Haiti. 02. (UFMG) Leia este trecho:

A liderança de um negro na América, no entanto, assustou [...] não somos índios nem europeus, mas uma
as elites brancas e, principalmente, Napoleão Bonaparte, espécie intermediária entre os legítimos proprietários
o homem mais poderoso do mundo na época. A mando do do continente e os usurpadores espanhóis: em suma,
imperador francês, uma expedição militar, comandada pelo sendo americanos por nascimento e nossos direitos
general Leclerc, chegou ao Haiti em 1802. Louverture foi os da Europa, temos de disputar estes aos do país e
derrotado, preso e enviado à França, onde morreu um ano mantermo-nos nele contra a invasão dos invasores –
mais tarde. encontramo-nos, assim, na situação mais extraordinária
e complicada.
Apesar da aparente derrota do movimento emancipacionista BOLÍVAR, Simón. Carta de Jamaica, 1815.
haitiano, Jean-Jacques Dessalines deu continuidade à obra
Ao escrever esse texto, o autor refere-se à situação
de Louverture e, assim, proclamou a Independência da
ambígua dos
ilha – agora denominada Haiti – em 1804. Dessalines se
proclamou imperador com o título de Jacques I, mas, em A) criollos, formados na tradição europeia, mas
1806, acabou sendo assassinado. identificados com o novo continente.
B) escravos negros americanos, que perderam seus laços
A Independência do Haiti teve um caráter singular, uma vez
culturais com a África.
que foi o segundo país da América a conquistar a liberdade,
C) mulatos libertos nascidos na América, divididos entre
atrás apenas dos Estados Unidos. Além disso, a emancipação
diferentes tradições culturais.
foi realizada por uma classe socialmente subordinada, os
escravos, que, com requintes de crueldade, exterminaram a D) cholos, indígenas educados por europeus, afastados
elite branca daquela região. Vale ressaltar, no entanto, que das suas raízes identitárias originais.
essa conquista não significou o fim do preconceito étnico:
a minoria mulata, que assumiu o comando da nova nação, 03. (UFJF-MG–2010) A seguir, se encontram descritas
discriminava a maioria negra. diferentes características dos processos de Independência
da América Latina e da América do Norte. Sobre esse
contexto, leia as afirmativas seguintes.

EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
I. Nos Estados Unidos, como consequência imediata de
seu processo de Independência, ocorreu a abolição
da escravatura.
II. Em toda a América Espanhola, ocorreu uma aliança
01. (UNIRIO-RJ) Ao compararmos os processos de formação
entre as elites locais e os setores populares contra
dos Estados Nacionais no Brasil e na América Hispânica,
os interesses metropolitanos, sem, contudo, produzir
no século XIX, podemos afirmar que
mudanças nas formas de governo.
A) a unidade brasileira foi garantida pela existência de
III. Na América Portuguesa, a transferência da Corte para
uma monarquia de base popular, enquanto que o
o Rio de Janeiro, bem como a abertura dos portos às
caudilhismo, na América Hispânica, impediu qualquer tipo
nações amigas, constituiu-se em importante fator
de participação das camadas mais baixas da população.
para a crise do sistema colonial.
B) a unidade brasileira relacionou-se, exclusivamente, IV. O processo de Independência no Haiti caracterizou-se
ao forte carisma dos representantes da casa de por uma rebelião escrava, constituindo-se em um
Bragança, enquanto, na América Hispânica, não singular modelo de luta anticolonial.
surgiu nenhuma liderança que pudesse aglutinar os
Marque a opção CORRETA.
diversos interesses em disputa.
A) Todas estão corretas.
C) as diferenças regionais, no Brasil, não ofereceram
nenhum obstáculo à obra centralizadora em torno B) Todas estão incorretas.
da Coroa, ao passo que, na América Hispânica, C) Apenas a I e IV estão corretas.
as diferenças regionais contribuíram para a sua D) Apenas a I e III estão corretas.
fragmentação. E) Apenas a III e IV estão corretas.

8 Coleção Estudo
Independência da América Espanhola

04. (FGV-SP) O hispano-americano principia como uma


justificação da independência, mas se transforma quase
EXERCÍCIOS PROPOSTOS
imediatamente num projeto: a América é menos uma
tradição a seguir que um futuro a realizar. Projeto e utopia 01. (UFU-MG) Em relação aos processos de Independência das
são inseparáveis do pensamento hispano-americano, Américas Espanhola e Portuguesa, assinale a alternativa
desde o final do século XVIII até nossos dias.
CORRETA.
PAZ, Octavio. Labirintos da solidão. 2. ed.
A) O s d o i s p r i n c i p a i s l í d e r e s d o s m ov i m e n t o s
Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1984. p. 109.
emancipacionistas, Simón Bolívar e José de San
Sobre o processo de Independência na América Martín, tinham em comum a origem popular,
Espanhola, é CORRETO afirmar: propiciando a condução unificada das Independências
A) O Congresso do Panamá, de iniciativa de Simón e instalação de regimes republicanos que romperam
Bolívar, tinha como objetivo a criação de uma com as estruturas coloniais.
confederação pan-americana e contava com a
simpatia britânica. B) A Independência da Argentina foi um exemplo típico
de manutenção da influência dos caudilhos, líderes da
B) A utopia da unidade era compartilhada por líderes da
Independência, como San Martín, Hidalgo e Morelos. oligarquia rural e grandes pecuaristas, enquanto a do
Haiti, um dos países mais pobres da América Central,
C) A luta pela Independência visava à libertação
ex-colônia francesa, foi realizada com a participação
dos criollos da tutela do domínio metropolitano,
possibilitando, assim, a modificação da estrutura maciça de negros, defendendo a liberdade, igualdade

social e econômica das colônias. e o direito à propriedade de terras.

D) As guerras de Independência, inicialmente lideradas C) A vinda da família real portuguesa para o Brasil
pelas elites nativas, ganharam força com a participação

HISTÓRIA
proporcionou o fortalecimento dos laços coloniais
de índios e escravos que concretizaram a emancipação
entre Brasil e Portugal, por meio da decretação da
do domínio espanhol.
Abertura dos Portos e da assinatura dos tratados
E) Bolívar, chamado de o “libertador ”, era um comerciais de 1810 com a Inglaterra, os quais
político conservador, defensor de uma monarquia
impediram a afirmação de uma economia colonial
pan-americana.
autônoma.

05. (UNESP–2008) Os donos da terra e os grandes mercadores D) A vitória obtida nos processos de Independência do
aumentaram suas fortunas, enquanto se ampliava a Paraguai e do México propiciou um distanciamento
pobreza das massas populares oprimidas [...] A América das ex-colônias espanholas da influência inglesa,
Latina logo teve suas constituições burguesas, muito
assim como sua aproximação com os Estados Unidos,
envernizadas pelo liberalismo [...] As burguesias dessas
concretizando o sonho do pan-americanismo dos
terras nasceram como simples instrumentos do
libertadores, expresso no lema: “A América para os
capitalismo internacional.
americanos”.
GALEANO, Eduardo. As veias abertas da América Latina.

A partir do texto, é POSSÍVEL afirmar: 02. (UFMG) Considerando-se a formação dos Estados
A) As indústrias da América Latina independente Nacionais na América Latina, é CORRETO afirmar que
tornaram-se competitivas em relação às britânicas,
A) as ilhas caribenhas de colonização espanhola,
no mercado internacional.
seguindo o exemplo do continente, se emanciparam
B) A América Latina independente caracterizou-se
da metrópole nas primeiras décadas do século XIX.
pela igualdade, pelas leis autoritárias e pelo
desenvolvimento nacional autônomo. B) os Estados emergentes mantiveram as fronteiras
C) Os Estados Nacionais independentes criaram leis que separavam os vice-reinos e as capitanias-gerais,
baseadas nos princípios democráticos e na autonomia unidades administrativas do Império Espanhol.
econômica em relação ao capital externo.
C) os novos Estados adotaram a república, com exceção
D) Na América Latina, a Independência preservou a
do México e do Haiti, com suas breves experiências
economia colonial dependente do mercado externo
monárquicas, e do Brasil.
e aprofundou as desigualdades sociais.
E) As burguesias latino-americanas lutaram pela sua D) os novos Estados se consolidaram lentamente,
autonomia política e econômica em relação ao capital superando numerosos obstáculos, mas mantendo a
internacional. ordem política e a unidade nacional.

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9
Frente A Módulo 16

03. (UFMG) Para a América Espanhola e, pode-se acrescentar, 06. (UFJF-MG–2006) A respeito do processo de Independência
para o Brasil oitocentista e os Estados Unidos, o Haiti foi um na América Espanhola, é INCORRETO afirmar:
exemplo e uma advertência, observados com crescente A) A invasão da Espanha pelas tropas napoleônicas
horror tanto por governantes como por governados. levou à reorganização do comércio das colônias,
LYNCH, John. In: BETHELL, Leslie (Org.). favorecendo a desarticulação do pacto colonial e a
implantação de práticas comerciais mais livres.
História da América Latina. São Paulo:
Edusp; Imprensa Oficial do Estado; Brasília: B) A Inglaterra ofereceu apoio à Independência
Fundação Alexandre de Gusmão, 2001. v. 3. p. 69. das colônias espanholas, pois via na região uma
possibilidade de ampliação dos mercados para seus
Nesse trecho, faz-se referência produtos industrializados.
A) ao subdesenvolvimento e à miséria da ilha caribenha, C) Os índios lutaram contra a Independência e para
país mais pobre da América Latina. manutenção do trabalho forçado, pois viam no sistema
colonial a única maneira de preservação de suas
B) à desagregação da sociedade haitiana, reforçada pelas
atividades econômicas.
constantes turbulências econômicas.
D) Os criollos pretendiam romper o exclusivo colonial,
C) ao aumento crescente da influência dos ideais
mas não pretendiam encaminhar uma alteração na
anarquistas e evolucionistas na ilha caribenha.
estrutura social das colônias.
D) ao processo de Independência da ilha, marcado por
E) A emergência de uma revolução liberal na Espanha
uma sublevação maciça de escravos negros. dificultou o envio de tropas para as colônias,
favorecendo o processo de Independência.
04. (UFU-MG) Sobre o pan-americanismo do século XIX,
é CORRETO afirmar: 07. (FMCMG–2011) O rápido processo de Independência da
A) O bolivarismo defendia a criação de uma zona de América Espanhola ocorreu em um contexto político-social
livre-comércio na América do Sul, abolindo todas as de lutas internas e interesses estrangeiros, entre os quais
se pode identificar
tarifas alfandegárias.
A) a atuação de Simón Bolívar, cuja marcha popular
B) Ao formular suas ideias de união das sociedades
libertadora contra os interesses da Espanha e
americanas, Bolívar propunha a formação de uma
dos Estados Unidos defendia a formação de uma
poderosa república sob seu governo, unindo o
confederação de países soberanos e latinos na
Equador, Peru, Argentina e Chile.
América do Sul.
C) O monroísmo, substituto do bolivarismo, representou B) a vitória de diversas rebeliões populares lideradas por
o mais alto grau de solidariedade continental, indígenas, como as do Peru e México, que lutavam
garantindo a manutenção da independência de cada contra a opressão das elites espanholas e criollas,
país e realizando muitos dos ideais de Bolívar. criando novos países livres no continente.
D) Pode ser entendido como um movimento de C) a atuação dos criollos, membros das elites
solidariedade continental, com o objetivo de manter hispano-americanas, que buscavam romper com a
a paz nas Américas, defender a independência política metropolitana monopolista, que dificultava
dos Estados americanos e estimular seu suas transações mercantis, sobretudo com a Inglaterra.

inter-relacionamento. D) a derrota de Napoleão na Europa, o que ocasionou


o enfraquecimento das monarquias europeias
E) O monroísmo e o bolivarismo coexistiram como
comprometidas com o centralismo político e com o
doutrinas que pregavam a igualdade entre todos os
pacto colonial mercantilista na América.
Estados. Tinham como objetivo maior a formação de
uma Confederação de Estados na América do Sul.
08. (UFMG) O caudilhismo foi um fenômeno político surgido
na América Hispânica, na primeira metade do século XIX,
05. (FUVEST-SP–2007) Nas reivindicações dos movimentos a partir da crise do sistema colonial e em meio às guerras
políticos que levaram à Independência dos países da de Independência que se seguiram.
América Espanhola, encontram-se alguns traços comuns.
A) EXPLIQUE por que a ação dos caudilhos dificultou a
Entre eles, a consolidação dos Estados Nacionais em vários países
A) proposta de igualdade social e étnica. hispano-americanos.

B) proposição de aliança com a França revolucionária. B) EXPLIQUE por que o Brasil, ao contrário do que
ocorreu em países da América Hispânica, conseguiu
C) defesa da liberdade de comércio.
manter sua unidade territorial em meio ao processo
D) adoção do voto universal masculino. de Independência verificado na primeira metade do
E) decisão de separar o Estado da Igreja. século XIX.

10 Coleção Estudo
Independência da América Espanhola

09. (UNESP–2010) Leia atentamente o texto. C) oposição dos EUA às Independências latino-
americanas, o que levou essas jovens nações a
O período de Pré-Independência assistiu ao nascimento
buscarem o apoio da Inglaterra.
de uma literatura de identidade, na qual os americanos
glorificavam seus países, proclamavam seus recursos D) fragmentação territorial da América Espanhola,
e louvavam seu povo. Enquanto mostravam a seus levando à sua fragilidade, apesar da coalizão dos
compatriotas as suas qualidades, esses autores caudilhos, chefes políticos locais.
apontavam as qualificações dos americanos para os E) baixo desenvolvimento econômico do subcontinente,
cargos públicos e, na verdade, para o autogoverno. que possuía uma economia baseada somente no
Os próprios termos instilavam confiança por repetição – extrativismo mineral e animal.
pátria, país, nação, nossa América, nós americanos.
Embora ainda se tratasse de um nacionalismo mais 02.
cultural do que político e não fosse incompatível com a
unidade imperial, mesmo assim ele preparava as mentes
dos homens para a Independência, ao lembrar-lhes de Divisão Ano de
Regiões atuais
que a América tinha recursos independentes e as pessoas administrativa criação
para administrá-los.
LYNCH, John. As origens da independência Guatemala, Belize,
Capitania de
da América Espanhola. In: BETHELL, Leslie. 1527 El Salvador, Honduras,
Guatemala
História da América Latina, 2001. Nicarágua e Costa Rica

INDIQUE os principais motivos que levaram as colônias


Arizona, Califórnia,
espanholas à Independência. Vice-reino da
1537 Colorado, Nevada, Novo
Nova Espanha
México, Utah, México
10. (Unicamp-SP–2010) A Revolução de Saint Domingue
(Haiti), entre 1791 e 1803, destruiu a economia de Vice-reino do Peru, parte da Bolívia e
plantation na colônia europeia mais rica da época. 1543
Peru parte do Equador

HISTÓRIA
Como resultado disso e da abolição do tráfico de
escravos para as colônias britânicas, em 1807, a Vice-reino de Colômbia, Panamá e
exportação de açúcar, café e outros produtos tropicais 1717
Nova Granada parte do Equador
cresceu em Cuba e no Brasil, que experimentaram um
enorme aumento no afluxo de escravos. Essas regiões Capitania da
são caracterizadas no século XIX por uma “segunda 1773 Venezuela
Venezuela
escravidão”, mais próxima de um sistema industrial
na disciplina do trabalho e na inovação técnica na Argentina, Uruguai,
Vice-reino do Rio
produção. Longe de ser uma instituição moribunda 1776 Paraguai e parte da
da Prata
durante o século XIX, esta “segunda escravidão” Bolívia
demonstrou sua adaptabilidade e vitalidade.
TOMICH Dale W. Through the Prism of Slavery: Labor, Capital, Capitania de
1777 Caribe e Flórida
and World Economy. Lanham: Rowman & Littlefield Publishers, Cuba
2004. p. 69, 80. (Adaptação).
Capitania de
A) Segundo o texto, o que caracterizava a vitalidade e a 1778 Chile
Chile
adaptabilidade da “segunda escravidão”, desenvolvida
no século XIX?
B) IDENTIFIQUE duas características da Revolução de Disponível em: <http://n.i.uol.com.br/licaodecasa/ensmedio/
Saint Domingue (Haiti). historiageral/capit-espanholas.gif>. Acesso em: 30 jul. 2010.

A tabela anterior evidencia a divisão política da América


Espanhola no contexto da Independência. Entre os vários
SEÇÃO ENEM fatores que justificam essa fragmentação, destaca-se
A) a manutenção de um modelo econômico tipicamente
01. Após as Independências dos países latino-americanos, colonial após o processo emancipatório.
a autonomia política foi sendo limitada pela dependência
econômica. Na maioria das vezes, a Inglaterra substituiu B) a ação das lideranças regionais, conhecidas por
as antigas metrópoles na exploração econômica, caudilhos, que não aceitaram a submissão a qualquer
mantendo, com isso, o baixo padrão de vida das projeto de unificação.
camadas populares. Podemos afirmar que essa situação C) o apoio norte-americano à Independência, orientado
pós-Independência da América Latina foi fruto do (a) pela Doutrina Monroe e seu projeto da “América para
A) descaso das elites nativas em participarem do os americanos”.
processo de emancipação política, o que foi feito por
D) a interferência brasileira por meio de vários conflitos,
uma massa de camponeses sem consciência política.
como a Guerra da Cisplatina e a Guerra do Paraguai.
B) falta de participação política das massas durante o
Período Colonial e da ligação comercial das elites E) a existência de uma unidade linguística e religiosa que
nativas ao capital inglês. estimulou conflitos e divergências em toda a região.

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Frente A Módulo 16

03. Leia o texto a seguir.


É a América Latina, a região das veias abertas. Desde 08. A) Os caudilhos, que em muitos casos detinham
o descobrimento até nossos dias, tudo se transformou o poder econômico, político e constituíam a
em capital europeu ou, mais tarde, norte-americano, força repressiva em determinadas regiões,
e como tal tem-se acumulado e se acumula até hoje nos colaboraram para a fragmentação da América
distantes centros do poder. Tudo: a terra, seus frutos e Hispânica. A defesa de seus interesses foi
suas profundezas, ricas em minerais, os homens e sua empecilho para a consolidação das nações
capacidade de trabalho e de consumo, os recursos naturais latino-americanas.
e os recursos humanos. O modo de produção e a estrutura
B) A transferência da Corte e a manutenção da
de classes de cada lugar têm sido sucessivamente
monarquia portuguesa, após o processo de
determinados, de fora, por sua incorporação à engrenagem
Independência, aliadas aos interesses de uma
universal do capitalismo.
elite latifundiária e escravista, garantiram a
A cada um dá-se uma função, sempre em benefício do
unidade do território brasileiro.
desenvolvimento da metrópole estrangeira do momento,
e a cadeia das dependências sucessivas torna-se infinita, 09. Entre os motivos que levaram os colonos a
tendo muito mais de dois elos, e por certo também se rebelarem na América Espanhola, pode-se
incluindo, dentro da América Latina, a opressão dos destacar o contexto europeu do século XIX,
países pequenos por seus vizinhos maiores e, dentro quando Napoleão Bonaparte, durante suas
das fronteiras de cada país, a exploração que as grandes ações expansionistas, destronou o rei espanhol
cidades e os portos exercem sobre suas fontes internas Fernando VII e criou um ambiente propício ao
de víveres e mão de obra. início de tais rebeliões. É importante ressaltar,
GALEANO, Eduardo. Veias abertas da América Latina. também, que as insatisfações tiveram a sua
Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982. origem antes mesmo do século XIX, pois a

Esse texto retrata o quadro de exploração experimentado opressão política e fiscal, gerada pelo exclusivo
historicamente pela América Latina. Diante dessa relação, colonial, exercida pela Espanha, não era bem
é possível afirmar que vista pelos colonos, principalmente pelos criollos,
que almejavam o controle do continente assim
A) a América Latina mantém-se como área de exploração
das grandes potências mundiais, mas reproduz em que ele conquistasse sua Independência. Por
escala interna a relação de dominação à qual foi fim, cabe ressaltar a contribuição de algumas
submetida desde o período de colonização europeia. ideias, como o Iluminismo, de outros eventos,
como a Revolução Americana, e mesmo de
B) o processo de Independência dos países da América
Latina conferiu, aos mesmos, autonomia para outros países, como a Inglaterra, que apoiou o
determinarem internamente o melhor processo de processo de emancipação da América visando
relação geopolítica. à ampliação do seu mercado consumidor.

C) a dominação produzida pelos países mais desenvolvidos 10. A) De acordo com o texto, a “segunda escravidão”
da América Latina aos países menores da região não foi caracterizada pela adaptação dos escravos
pode ser considerada como relação de exploração, a um regime de trabalho semelhante ao
como a verificada anteriormente. dos operários de uma fábrica. Dessa forma,
D) o autor se equivoca quando afirma que terra, homens a escravidão no século XIX acabou distoando
e capacidade de consumo foram explorados no das antigas relações paternalistas de trabalho
processo de colonização, devido ao fato de serem travadas no início da colonização nas Américas.
valores imateriais de uma região.
B) Diferentemente das demais revoluções
E) atualmente a América Latina não pode ser considerada registradas no continente americano no final
área de exploração, devido ao desenvolvimento do século XVIII e no início do século XIX,
verificado em alguns países como o Brasil.
a Revolução Haitiana foi um movimento
de cunho inicialmente popular, quando
os negros tomaram o poder na ilha e

GABARITO submeteram a minoria branca


genocídio. Além disso, o regime político
a um

Fixação adotado pelo Haiti foi a monarquia, tendo


sido posteriormente apropriado por facções
01. E 02. A 03. E 04. D 05. D sociais que implementaram uma ditadura
republicana no país.
Propostos
01. B 03. D 05. C 07. C
Seção Enem
02. C 04. D 06. C 01. B 02. B 03. A

12 Coleção Estudo
HISTÓRIA MÓDULO FRENTE

Ideias sociais e políticas do


século XIX
17 A
O século XIX foi marcado por grandes transformações de Louis Blanc (1811-1882)
ordem econômica, social, política e ideológica. Abordaremos,
agora, os aspectos ideológicos que caracterizaram o De origem francesa, Blanc propunha a criação de

século XIX europeu e que deram configuração ao século oficinas nacionais ou sociais, também conhecidas

seguinte. como ateliers, nas quais todos os trabalhadores de


um mesmo setor se uniriam para produzir juntos.
Um dos grandes debates surgidos no século XIX foi se o O objetivo principal era conseguir melhor preço para os
avanço tecnológico poderia ou não tornar o homem feliz. produtos e enfrentar a concorrência dos produtos ingleses,
Os críticos do capitalismo acreditavam que era possível que levavam vantagem sobre os franceses. Em 1848,
alcançar a felicidade desde que fosse em uma outra ordem durante a Revolução que derrubou o rei francês Luís Felipe,
econômica. Vale ressaltar que, apesar de serem críticos do a burguesia criou os ateliers buscando o apoio do
capitalismo, tais pensadores propuseram ideologias que proletariado, mas, assim que os burgueses assumiram de
muitas vezes divergiam entre si. fato o poder, estes fecharam as oficinas.

Robert Owen (1771-1858)


SOCIALISMO UTÓPICO Empresário, filho de artesãos, Owen construiu creches
para os filhos dos seus empregados, diminuiu a jornada
Os socialistas utópicos criticavam o capitalismo sem,
de trabalho nas suas empresas e dividiu os lucros com os
no entanto, propor soluções reais para os problemas
funcionários, entre outras medidas. Robert Owen – também
apresentados. Alguns chegavam a idealizar a sociedade
conhecido como “Patrão Esclarecido” – chegou a criar uma
perfeita, mas sem demonstrar os caminhos para a construção
empresa nos Estados Unidos e entregou o controle aos
dessa sociedade, tendo sido esse um dos motivos que
operários. Acreditava, ao fazer isso, que outros empresários
levou Marx a chamá-los de socialistas românticos. Outros
o seguiriam e assim mudariam o mundo. Como agiu sozinho,
chegavam a acreditar que o próprio capitalismo encontraria
enfrentando a oposição dos outros industriais, Owen viu
solução para seus problemas estruturais.
as suas empresas, dentre elas a norte-americana New
Harmony, falirem.
Principais socialistas e suas ideias
Charles Fourier (1772-1837)
Fourier defendia a criação de falanstérios, que
funcionariam como cooperativas em que produtores
industriais, agrícolas e trabalhadores produziriam
juntos. Cada um ganharia conforme a sua participação,
ou seja, os trabalhadores receberiam menos. Para ele,
a função dos falanstérios não era distribuir riquezas igualmente
entre os homens. Nos falanstérios, cada um iria produzir o
que quisesse, e, com isso, os homens seriam mais felizes.
O projeto de Fourier acabou sendo prejudicado pela falta
F. Bate

de financiamento dos patrões, que acreditavam que quanto


mais sofrida fosse a vida dos trabalhadores, mais eles Representação da New Harmony, indústria idealizada por Robert
produziriam para esquecerem suas mazelas. Owen nos Estados Unidos.

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13
Frente A Módulo 17

Saint-Simon (1760-1825) Ainda de acordo com a ideologia marxista, a grande


contradição existente no capitalismo é que, para que
Nobre francês, Saint-Simon propunha uma sociedade na qual haja um desenvolvimento cada vez maior desse sistema,
não haveria ociosos e nem exploração de um homem sobre
o proletariado deve ser cada vez mais explorado. Tal imposição,
o outro. Defendia a associação dos produtores, combinando
apesar de parecer benéfica aos capitalistas, geraria uma
propriedade privada com planejamento centralizado, projeto
revolução proletária, através da qual os operários tomariam o
que contestava o liberalismo econômico vigente até então.
poder e os meios de produção.
Pierre-Joseph Proudhon (1809-1865)
Considerado por alguns como o pai do anarquismo, Proudhon Teoria do materialismo histórico
defendia a destruição do Estado, da Igreja e da propriedade De acordo com a teoria marxista, toda sociedade é
privada, que para ele seria um roubo. De acordo com alguns determinada pelo seu modo de produção. A economia é
historiadores, Proudhon não foi um socialista utópico, haja vista
a infraestrutura que sustenta a sociedade. Já a política,
a sua contribuição para a doutrina anarquista.
a religião, a ciência e a cultura representam a superestrutura
que se apoia na economia. Assim, o modo de produção de
cada período histórico seria o fator responsável por ditar
SOCIALISMO CIENTÍFICO as características de toda a sociedade. Entre os modos
de produção registrados pela história, Marx enfatizou o
Karl Marx (1818-1883) e Friedrich Engels (1820-1895) escravista, o feudal e o capitalista.
também criticaram o capitalismo, mas, diferentemente
de seus antecessores, propuseram um sistema, criado a
partir de análises históricas, que visava à substituição do Teoria do materialismo dialético
capitalismo. O conjunto de ideias defendido por Marx e Ao afirmarem que “todo sistema já traz em si os germes
Engels ficou conhecido como marxismo. da sua destruição”, Marx e Engels dão a entender que os
A primeira grande obra dos dois foi o Manifesto Comunista mesmos elementos que levam um sistema a crescer e a
de 1848, mas a principal obra veio somente em 1867, se desenvolver também contribuem para o seu declínio.
O Capital. Para eles, a transformação da sociedade se daria O capitalismo se assenta na exploração do capitalista sobre o
pela via revolucionária com a derrubada do capitalismo pela proletariado, e é justamente essa exploração que vai criar as
classe proletária. Podemos sintetizar o marxismo em quatro condições para a revolução proletária. Segundo Marx e Engels,
teorias fundamentais: a luta de classes, o materialismo quanto mais o capitalismo cresce, mais aumenta a exploração
histórico, o materialismo dialético e a mais-valia.
da burguesia sobre o proletariado e, quando o capitalismo
chegar ao seu auge, haverá o máximo da exploração. Como
o proletariado não terá nada a perder a não ser os seus
grilhões, este fará a revolução que vai derrubar o capitalismo
e implantar uma nova ordem, a socialista.

Teoria da mais-valia
Andrew Eland / Creative Commons

O marxismo defende a ideia de que o proletário vende


sua força de trabalho, mas produz um excedente que é
apropriado pelo capitalista. Tal ideologia tem as suas origens
no pensamento de David Ricardo, que afirma ser o valor de
uma mercadoria determinado pelo trabalho embutido nela.
Portanto, se o operário produz, deveria ficar com o
Monumento erguido em Xangai, China, em homenagem a
resultado da venda, afinal, ele produz com o seu trabalho
Marx e Engels. mais do que recebe. Tal excedente é denominado
mais-valia.

Teoria da luta de classes Segundo a análise marxista, seria necessário a


conscientização do proletariado quanto à exploração
Segundo Marx e Engels, “a história da humanidade é a
da mais-valia. Quando os trabalhadores assumissem
história das lutas de classes”, ou seja, toda sociedade sofre
tal consciência, portanto, seria o momento ideal para a
transformações devido aos conflitos existentes no seu
realização da revolução proletária já prevista pelas outras
interior. Dessa forma, sempre existiria uma classe dominante
e outra dominada: a primeira quer aumentar cada vez teorias. A burguesia seria derrubada do poder e os meios de
mais seu domínio, e a segunda quer sair da condição de produção passariam para as mãos do Estado, que distribuiria
dominada. No capitalismo, o grupo dominante é a burguesia as riquezas igualmente. Essa fase de socialização das
e o dominado é o proletariado. riquezas foi denominada de socialismo.

14 Coleção Estudo
Ideias sociais e políticas do século XIX

Quando as riquezas estivessem distribuídas de forma


igualitária, a sociedade entraria na fase comunista. Nessa
última fase, não haveria Estado, propriedade privada ou
classes sociais. Para o marxismo, toda sociedade caminha
para o comunismo, que é o estágio final e desejável para
as sociedades humanas.
Propriedade Propriedade Abolição da
privada dos estatal dos propriedade
O socialismo marxista teve uma enorme influência na
meios de meios de privada
política e no movimento operário mundial. A Revolução produção produção
Russa de 1917, por exemplo, teve inspiração marxista e Domínio da classe Função do Sociedade sem
contribuiu para, após a Segunda Guerra, a expansão do burguesa sobre o Estado: classes
proletariado dividir as riquezas
regime socialista pelo mundo.
igualmente Abolição do
Função
do Estado: Período de transição Estado
garantir a entre o capitalismo
ANARQUISMO propriedade
privada
e o comunismo Estágio final de
toda sociedade

O anarquismo – representado por Peter Kropotkin


Surgiu, paralelamente ao anarquismo, o
(1842-1921) e Mikhail Bakunin (1814-1876) – defendia a
anarcossindicalismo, teoria que defende os sindicatos como
abolição de toda espécie de autoridade. Para os anarquistas,
meios de educação ideológica do operário. Os anarquistas
os homens somente devem estar submetidos à natureza, se opuseram a essa adaptação por negarem toda espécie
ao bom senso e ao senso comum. A sociedade seria de estrutura hierárquica, inclusive os sindicatos. Assim,
organizada em comunidades de autoabastecimento, em que o que os diferencia é que os anarcossindicalistas veem uma
as trocas não teriam fins lucrativos. Ainda de acordo com os funcionalidade nos sindicatos, responsáveis por educar
anarquistas, todo Estado é opressor, devendo ser, portanto, o trabalhador para a posterior implantação da sociedade

HISTÓRIA
abolido, assim como a propriedade privada e as classes anárquica. Apesar das diferenças, essas duas vertentes
sociais. Em outras palavras, o objetivo final do anarquismo tiveram forte influência no movimento operário brasileiro,
e do marxismo é o mesmo. na segunda metade do século XIX e na primeira década do
século XX.

CRISTIANISMO SOCIAL OU
SOCIALISMO CRISTÃO
Percebendo os avanços de movimentos sociais que
questionavam as estruturas vigentes e, com isso, temendo
perder adeptos, a Igreja Católica passou a se posicionar
em relação a tais problemas. Em 1891, o papa Leão XIII
publicou a encíclica Rerum Novarum, em uma tentativa
de harmonizar as relações entre o capital e o trabalho.
O documento condenava o capitalismo selvagem, no
qual os capitalistas exploravam desmedidamente os
trabalhadores, mas, ao mesmo tempo, também condenava
o socialismo marxista, por seu caráter ateísta e materialista,
considerando-o pecado.
Claus Emp. / B. Bastian

Para a Igreja Católica, era possível existir uma variação


do capitalismo sem a exploração exagerada, desde que
o patrão controlasse sua ânsia excessiva pelo lucro, e o
trabalhador, sua natural insubordinação contra “aqueles que
Mikhail Bakunin, um dos idealizadores do anarquismo o alimentavam”. Na verdade, a Igreja, através da Rerum
Novarum, continuava a adotar um posicionamento neutro
Apesar das semelhanças iniciais, é válido ressaltar que a
diante dos grandes debates da sociedade.
forma de atingir esse objetivo é controversa entre as duas
ideologias. Para o marxismo, a construção do comunismo A Rerum Novarum foi a inspiração para outros
passa pela fase de transição, o socialismo. Já o anarquismo, posicionamentos da Igreja, como a Quadragesimo Anno
contrário ao Estado – existente na fase socialista –, defende (1931), do papa Pio XI; a Mater et Magistra (1961) e Pacem
a passagem direta do capitalismo ao comunismo. Observe o in Terris (1963), de João XXIII, e as Populorum Progressio
esquema a seguir, que diferencia o anarquismo do marxismo: (1967) e Humanae Vitae (1968), de Paulo VI.

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15
Frente A Módulo 17

LIBERALISMO E DEMOCRACIA Os regimes fascistas surgidos no século XX também se


basearam na exaltação dos sentimentos e no desprezo pelo
racionalismo para construir sua base de apoio das massas.
Apesar de ser propagado ainda no século XVIII através do
Deve-se ressaltar, entretanto, que os românticos possuíam um
Iluminismo e da Revolução Francesa, o liberalismo – seja em
enorme respeito pela individualidade humana, contrariando o
âmbito político ou mesmo econômico – também teve uma
nacionalismo exacerbado e racial do nazismo, por exemplo.
grande importância para o ideário dos homens do século XIX.
Dessa forma, não se pode dizer que o pensamento romântico
O liberalismo, no entanto, não deve ser confundido com os
foi o responsável pelo sentimento racista e belicista surgido
ideais democráticos, pois os primeiros liberalistas pregavam
na Alemanha no início do século XX.
a limitação do poder real, mas não a participação democrática
de todos os homens na política. Para eles, as massas
incultas, consideradas inexperientes e mesmo selvagens,
não tinham capacidade de se organizar politicamente e
de atuar como agentes transformadores da sociedade.

Assim, por terem sido lideradas pela burguesia liberal,


as revoluções liberais do século XIX não efetivaram mudanças
estruturais profundas na sociedade europeia. Foi comum,
naquele período, portanto, a adoção de regimes políticos
que protegessem a propriedade privada e, principalmente,

Egide Charles Gustave Wappers


adotassem o sistema de voto censitário, restringindo a
participação política àqueles homens mais abastados.

Mesmo se opondo à democracia, a ideologia liberal


favoreceu o surgimento e a ascensão desta posteriormente.
Os ideais de igualdade jurídica e política, de liberdade de
expressão e do fim dos privilégios sociais defendidos pelos A tela retrata as lutas que compuseram a revolução liberal
iluministas serviram de inspiração para o aumento das belga de 1830. Assim, é possível afirmar que o Romantismo
reivindicações das massas. Assim, no decorrer do século XIX foi contemporâneo e esteve associado ideologicamente ao
e principalmente no início do século XX, os trabalhadores nacionalismo e ao liberalismo europeu do século XIX.
de vários países europeus conquistaram o sufrágio universal
As divergências entre os ilustrados e os românticos
masculino, além de melhores condições de trabalho e
maiores salários. Tais conquistas só foram possíveis por também passavam pela interpretação que ambos faziam
meio de muitas lutas e, principalmente, de concessões por sobre a Idade Média. Enquanto os iluministas a consideravam
parte da alta burguesia, que, estrategicamente, passou a uma idade de trevas, mitos e superstições religiosas, os
fazer pequenas concessões de caráter democrático no intuito românticos consideravam-na rica em heróis, mistérios e
de evitar rupturas mais traumáticas, como uma revolução emoções. Para os românticos, a História era dotada da alma
proletária, por exemplo. e dos sentimentos dos indivíduos que haviam participado
da sua construção. Assim, cada período histórico, mesmo
o Medieval, seria um momento dotado de mitos e de

ROMANTISMO características culturais próprias, o que o tornaria portador


de heranças distintas e necessárias para a composição do
Apesar de o Romantismo também ter surgido no final do ideário dos homens.
século XVIII, ele influenciou fortemente a cultura europeia Vale ressaltar, também, que os românticos, assim como
no início do século XIX. Os românticos eram conhecidos os socialistas, foram importantes críticos do capitalismo
por discordarem dos iluministas e, ao contrário de valorizar
industrial, que, segundo eles, apesar de gerar um grande
a razão, como faziam os ilustrados, ressaltavam os
desenvolvimento tecnológico, acarretava uma subordinação
sentimentos como os principais elementos para a vida de um
do indivíduo aos interesses do capital e, por isso, era um
homem e, logo, para a sociedade. A essência do Romantismo
foi bem representada na obra de John Keats, que escreveu: dos piores males do novo século que se iniciava.
“Oh! Uma vida de sensações é muito melhor que uma só
de pensamentos”.

A fala de Keats também revela outra característica do


NACIONALISMO
Romantismo: a valorização do “eu interior”, elemento
explorado como força primitiva e fonte de inspiração criativa do O nacionalismo está relacionado a símbolos como bandeira,
homem. Esse “eu interior”, tão admirado pelo Romantismo, foi língua, cultura, tradição, etc. Esses elementos criam a
reinterpretado posteriormente e denominado de inconsciente identidade de um grupo de pessoas que partilham de um
por Sigmund Freud, o pai da Psicanálise, um dos principais sentimento de união, apesar de suas diferenças. A essência do
expoentes influenciados pelo pensamento romântico. nacionalismo – que ganhou enorme força durante o século XIX –

16 Coleção Estudo
Ideias sociais e políticas do século XIX

pôde ser percebida ainda no início da Idade Moderna, quando 03. (FAAP-SP) O socialismo científico tem as seguintes
houve a consolidação da maioria dos Estados Nacionais características, EXCETO
europeus e, logo, a implantação de línguas, bandeiras e
A) Desenvolvimento por Marx e Engels.
culturas comuns nos novos Estados unificados.
B) A crise do capitalismo daria origem ao socialismo.
A disseminação do nacionalismo no século XIX pode ser
atribuída principalmente à atitude de Napoleão Bonaparte. Ainda C) Luta de classes entre burguesia e proletariado.
no início do século, o imperador francês promoveu invasões em D) Ditadura do proletariado.
diversas partes do continente europeu, exaltando sempre os
E) Teoria da mais-valia com ênfase na defesa da
ideais da Revolução Francesa. Assim, grande parte dos povos
propriedade privada.
que foram submetidos ao Império Napoleônico passou a se
apropriar de princípios como a soberania e a cidadania buscando
se desvincular econômica, política e racialmente do domínio 04. (FUVEST-SP–2010) No Ocidente, o período entre 1848 e
francês. Os maiores exemplos da ideologia nacionalista do 1875 “é primariamente o do maciço avanço da economia
século XIX foram materializados pelas unificações da Itália e da do capitalismo industrial, em escala mundial, da ordem
Alemanha, processos que aumentaram ainda mais a rivalidade social que o representa, das ideias e credos que pareciam
entre os Estados Nacionais europeus e resultaram em diversos legitimá-lo e ratificá-lo”.
conflitos armados, como a Primeira Guerra Mundial. HOBSBAWM, E. J. A era do capital: 1848-1875.

A “ordem social” e as “ideias e credos” a que se refere o


autor se caracterizam, respectivamente, como
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO A) aristocrática e conservadores.
B) socialista e anarquistas.
01. (Fatec-SP) O Movimento Ludista e o Cartismo foram, C) popular e democráticos.
respectivamente,
D) tradicional e positivistas.
A) uma reação de defesa dos trabalhadores franceses

HISTÓRIA
E) burguesa e liberais.
que foram aprisionados pelos alemães na Guerra
Franco-Prussiana; e uma ação pacífica em defesa dos
trabalhadores irlandeses explorados pelos ingleses. 05. (Unicamp-SP) O liberalismo tornou-se ideologia
predominante na sociedade ocidental a partir da segunda
B) uma reação da camada operária inglesa, quebrando
máquinas, pois as identificavam como causadoras metade do século XIX.
de desemprego; e uma das primeiras tentativas A) Quais direitos naturais que o liberalismo se propõe a
de organização da classe operária através de garantir?
reivindicações contidas na “Carta do Povo”.
B) Quais as principais características do liberalismo
C) um movimento operário inglês, que reivindicava
econômico?
melhores condições de trabalho através da introdução
de máquinas; e um movimento operário que defendia C) Quais correntes de pensamento se opuseram ao
um governo socialista. liberalismo no século XIX?
D) uma ação isolada de trabalhadores ingleses
que, influenciados por Karl Marx, reivindicavam
a introdução das máquinas; e um movimento
de trabalhadores escoceses que defendiam o fim
EXERCÍCIOS PROPOSTOS
da servidão em seu território.
E) um movimento liderado por Willian Ludd, que defendia 01. (UFJF-MG) Exalta o direito de propriedade individual e da
melhores condições de trabalho; e uma reação riqueza; opondo-se, consequentemente, à intervenção
liderada por lord Strangford em defesa de 8 horas do Estado na economia. Defende intransigentemente que
de trabalho, por meio da “Carta do Povo”.
deve haver total liberdade de produção, circulação e venda.
Considera que o homem, enquanto indivíduo, deve desfrutar
02. (UFMG) Todas as alternativas contêm características
de todas as satisfações, não se submetendo, senão, aos
relativas à organização dos trabalhadores europeus no
limites da razão. Crê no progresso como sendo resultado
século XIX, EXCETO
de um fenômeno natural e decorrente da livre-concorrência,
A) A legislação impedia a organização dos trabalhadores
que, ao estimular as atividades econômicas, é a única forma
em nível nacional.
aceitável de proporcionar liberdade, felicidade, prosperidade
B) As demonstrações de massa, os motins e petições
e igualdade entre todos os homens.
eram as principais formas de manifestação.
O trecho anterior pode ser considerado uma síntese dos
C) O movimento operário defendia o sufrágio universal
valores constitutivos da ideologia política intitulada
e a igualdade econômica.
D) Os sindicatos incentivavam a quebra das máquinas A) catolicismo social. D) liberalismo.
para denunciar a exploração do trabalho. B) socialismo utópico. E) anarquismo.
E) Os sindicatos surgiram com força nova no cenário político. C) socialismo científico.

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17
Frente A Módulo 17

02. (PUC-SP) No século XIX, o desenvolvimento socialmente 04. (UECE) Reagindo à economia clássica, o socialismo
desigual da sociedade capitalista liberal deu origem à corporifica-se com as teorias de Karl Marx e Friedrich
“questão social”. Para resolvê-la, surgiram então Engels. A teoria desses dois pensadores
A) resulta da observação crítica das realidades
I. o socialismo utópico e reformista (de Fourier e outros),
socioeconômicas da Europa na fase da Revolução
que pretendia reconstruir a sociedade a partir de um
Industrial e no período imediatamente posterior.
plano ideal, igualitário e justo;
B) defende a propriedade privada como instrumento
II. o catolicismo social, preocupado com a defesa da indispensável para a superação das desigualdades
justiça social ameaçada pelo desenvolvimento da sociais.
sociedade industrial capitalista; C) prega a diminuição do Estado (Estado mínimo) e mais
espaço para a iniciativa privada.
III. o socialismo científico de Marx e Engels, baseado no
D) apresenta a síntese mais acabada do chamado
materialismo histórico e dialético, que propunha uma “socialismo utópico”.
sociedade sem classes;
05. (PUC-Campinas-SP) O desenvolvimento das ideias
IV. o Movimento Cartista, vitorioso na Inglaterra
socialistas, no século XIX, principalmente aquelas
(1838-1842), que preconizava o anarcossindicalismo. relacionadas às teorias de Marx e Engels, adquire
importância ímpar na organização e constituição dos
Assinale se estão CORRETAS apenas
partidos políticos operários que estão associados à
A) I e II. A) publicação, no final do século XIX, de O estado e a
revolução de Lênin e à Revolução Russa de 1917.
B) II e III.
B) publicação, em 1848, do Manifesto Comunista e
C) III e IV. à organização em Londres, em 1865, da Primeira
Internacional.
D) I, II e III.
C) publicação de A origem da família, da propriedade
E) I, II e IV. privada e do Estado, de Engels, e à fundação da
Associação Internacional de Trabalhadores em 1876.
03. (Cesgranrio) “Trabalhadores de todo o mundo, uni-vos!” D) publicação de O capital, em 1855, e à fundação do
Partido Socialista Francês, em 1870.
Com essa frase, que se tornou famosa, Marx e Engels
E) publicação do romance Os miseráveis, de Victor Hugo,
começavam o Manifesto Comunista, no fervilhar de um
e à fundação do Partido Trabalhista Inglês, em 1870.
período de profundas agitações em toda a Europa, no
período entre 1830 e 1848. Acerca dessa conjuntura, 06. (Mackenzie-SP) O historiador Eric J. Hobsbawm considera
podemos afirmar que que o período de 1789 a 1848 foi assinalado por uma

A) as barricadas de 1848, em Paris, exigiam mudanças “Dupla Revolução”, a Francesa e a Industrial Inglesa.

sociais na França e culminaram com a queda da Essas revoluções


monarquia de Luís Bonaparte. A) subordinaram o trabalho ao capital, propiciando
transformações muito mais técnicas do que sociais,
B) com a formação do II Reich, em 1830, os estados rompendo os laços de dominação burguesa.
alemães unificados começaram a atender aos anseios B) consolidaram os valores burgueses, disciplinando a
nacionalistas dos movimentos sociais. ação do capital, com o objetivo de dar à maioria, que
dispunha unicamente desse meio para sobreviver,
C) as vitórias do Movimento Cartista inglês criaram
condições de se sublevar.
as bases para o surgimento do Labour Party,
C) ocasionaram transformações econômicas, sociais e
intérprete das demandas operárias na vida política
políticas que superaram os resquícios do feudalismo
nacional.
e marcaram o triunfo do capitalismo liberal burguês.
D) a consolidação da Internacional Socialista, em 1848, D) condicionaram o capital ao trabalho, acentuando
unificando os vários partidos social-democratas o caráter igualitário das novas relações
europeus, colocou em xeque os governos democrata- político-ideológicas expressas nos chamados Direitos

cristãos. do Homem, permitindo o triunfo do capitalismo liberal.


E) estabeleceram novas relações de produção, nas quais
E) a atuação dos “déspotas esclarecidos” contra o o proletário, possuidor dos meios de produção e da
avanço do nacionalismo e do liberalismo reafirmou força de trabalho, acumula capital, para desenvolver
os compromissos do Congresso de Viena. a propriedade industrial e superar os laços feudais.

18 Coleção Estudo
Ideias sociais e políticas do século XIX

07. (UECE) C) defesa da livre associação dos trabalhadores em


corporações e sindicatos profissionais, proposta pelo
liberalismo doutrinário.
Documento 1
D) subordinação do cidadão a um Estado totalitário,
[...] a conversão da propriedade privada em propriedade
pregada pelo movimento anarquista.
coletiva, tão preconizada pelo socialismo, não teria outro
efeito que não fosse o de tornar a situação dos operários E) opção pela democracia partidária, defendida pelos
mais precária, retirando-lhes a livre disposição do seu socialistas utópicos, sendo o sufrágio universal censitário
salário [...] e toda a possibilidade de aumentar o seu o único meio de o proletariado alcançar o poder.
patrimônio e melhorar a sua situação [...] A propriedade
privada e pessoal é para o homem de direito natural [...] 09. (UFPR) As transformações estruturais que atingiram a
O homem deve tomar com paciência a sua condição; Europa, ao longo do século XIX, alteraram as relações
é impossível que, na sociedade civil, toda a gente seja sociais e as práticas políticas em diversos países
elevada ao mesmo nível [...] Contra a natureza todos europeus. Entre essas transformações, pode-se apontar
os esforços são vãos [...] O erro capital [...] é o de
CORRETAMENTE o(a)
crer que as duas classes são inimigas natas uma da
outra, como se a natureza tivesse armado os ricos e os A) formulação da doutrina social da Igreja, definida na
pobres para se combaterem mutuamente... Não pode encíclica Rerum Novarum, em 1891, que apoiou a
haver capital sem trabalho, nem trabalho sem capital. doutrina marxista da luta de classes em defesa dos
A concordância engendra a ordem e a beleza [...] Toda pobres, criando a Teologia da Libertação.
a economia das verdades religiosas [...] é de natureza B) instituição do Segundo Império, na França, entre 1852
a aproximar [...] os ricos e os pobres, lembrando às e 1870, por Napoleão III, que liderou a restauração da
duas classes os seus mútuos deveres [...]
monarquia absoluta baseada nas relações senhoriais
e nas instituições políticas do Antigo Regime.
Documento 2
C) unificação da Itália, em 1871, em consequência
O Congresso reunido em Saint Imier declara: da vitória do movimento anarquista, chefiado por

HISTÓRIA
1. Que a destruição de todo poder político é o primeiro Garibaldi, contra os grupos republicanos e as forças
dever do proletariado. militares monarquistas apoiadas pelo papado.
2. Que toda organização de um poder que pretende D) ideário socialista, expresso nos movimentos populares
ser provisório e revolucionário para efetivar aquela que eclodiram na Alemanha em 1848, o qual conduziu
destruição é um engano, e seria tão perigoso para à unificação do país, constituindo uma República
o proletariado como todos os governos que existem
Federativa presidida por Bismarck.
hoje.
E) fortalecimento das associações de trabalhadores com
3. Que, rejeitando todo compromisso para chegar
a formulação, a partir da Segunda Internacional,
à realização da Revolução Social, os proletários
reunida em 1889, de um ideário reformista político
de todos os países devem estabelecer, fora de
baseado na social-democracia.
toda política burguesa, a solidariedade da ação
revolucionária.
10. (UFF-RJ) Assinale a opção que sintetiza alguma das ideias
Os documentos anteriores correspondem a duas do líder anarquista Bakunin.
interpretações sobre a realidade social do século XIX. A) Bakunin é chamado de anarquista porque, em 1881,
Respectivamente, suas ideias resultaram em uma Internacional Socialista
A) ao socialismo científico e à doutrina social da igreja. separada da Primeira Internacional, semeando
B) à doutrina social da igreja e ao socialismo libertário. anarquia nas hostes do movimento operário europeu.

C) ao socialismo libertário e ao socialismo utópico. B) A sociedade livre deve recusar qualquer forma de
organização que limite a liberdade individual; por
D) ao socialismo utópico e ao socialismo científico.
tal razão, o anarquismo pode ser considerado um
E) à doutrina social da igreja e ao socialismo científico. movimento antissocial e antipolítico.
C) O anarquismo de Bakunin foi uma tentativa burguesa
08. (UFOP-MG) Ao longo do século XIX, a difusão da Revolução divisionista de opor ao marxismo uma contrafacção
Industrial alterou as condições de vida nas diversas áreas de socialismo baseada em ideias absurdas, mas de
atingidas pelo processo de industrialização, o que fez apelo para os operários.
surgirem novas concepções e doutrinas comprometidas D) A sociedade livre deve organizar-se espontaneamente
com o desenvolvimento ou com a reforma da sociedade em grupos de vizinhos (comunas) e de pessoas que
capitalista. Entre as propostas dessas doutrinas sociais, trabalham juntas (cooperativas); entre tais grupos
identificamos CORRETAMENTE a podem surgir confederações livres, mas sem que se
institua acima deles uma autoridade controladora.
A) crítica da propriedade privada, formulada pelo
E) Bakunin era um fidalgo russo boêmio e profundamente
marxismo científico.
reacionário, cujas ideias resumiam-se na recusa de
B) submissão integral do trabalhador ao capital, expressa qualquer autoridade ou associação de qualquer tipo
pela doutrina social da Igreja, na Rerum Novarum. e nível, tanto na economia quanto na política.

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19
Frente A Módulo 17

SEÇÃO ENEM 03. (Enem–2010) O movimento operário ofereceu uma nova


resposta ao grito do homem miserável no princípio do
século XIX. A resposta foi a consciência de classe e a
ambição de classe. Os pobres então se organizavam em
01. (Enem–1999) A Revolução Industrial ocorrida no final
uma classe específica, a classe operária, diferente da
do século XVIII transformou as relações do homem classe dos patrões (ou capitalistas). A Revolução Francesa
com o trabalho. As máquinas mudaram as formas de lhes deu confiança; a Revolução Industrial trouxe a
trabalhar, e as fábricas concentraram-se em regiões necessidade da mobilização permanente.
próximas às matérias-primas e grandes portos,
HOBSBAWM, E. J. A Era das Revoluções.
originando vastas concentrações humanas. Muitos dos
São Paulo: Paz e Terra, 1977.
operários vinham da área rural e cumpriam jornadas
No texto, analisa-se o impacto das Revoluções Francesa
de trabalho de 12 a 14 horas, na maioria das vezes
e Industrial para a organização da classe operária.
em condições adversas. A legislação trabalhista surgiu Enquanto a “confiança” dada pela Revolução Francesa era
muito lentamente ao longo do século XIX e a diminuição originária do significado da vitória revolucionária sobre
da jornada de trabalho para oito horas diárias as classes dominantes, a “necessidade da mobilização
concretizou-se no início do século XX. Pode-se afirmar permanente”, trazida pela Revolução Industrial, decorria
que as conquistas no início desse século, decorrentes da compreensão de que
da legislação trabalhista, estão relacionadas com A) a competitividade do trabalho industrial exigia
um permanente esforço de qualificação para o
A) a expansão do capitalismo e a consolidação dos
enfrentamento do desemprego.
regimes monárquicos constitucionais.
B) a completa transformação da economia capitalista
B) a expressiva diminuição da oferta de mão de obra, seria fundamental para a emancipação dos operários.
devido à demanda por trabalhadores especializados. C) a introdução das máquinas no processo produtivo
diminuía as possibilidades de ganho material para os
C) a capacidade de mobilização dos trabalhadores em
operários.
defesa dos seus interesses.
D) o progresso tecnológico geraria a distribuição de
D) o crescimento do Estado ao mesmo tempo que riquezas para aqueles que estivessem adaptados aos
diminuía a representação operária nos parlamentos. novos tempos industriais.
E) a melhoria das condições de vida dos operários seria
E) a vitória dos partidos comunistas nas eleições das
conquistada com as manifestações coletivas em favor
principais capitais europeias. dos direitos trabalhistas.

02. (Enem–2010) Homens da Inglaterra, por que arar para


os senhores que vos mantêm na miséria? Por que tecer
com esforços e cuidado as ricas roupas que vossos tiranos GABARITO
vestem? Por que alimentar, vestir e poupar do berço até
o túmulo esses parasitas ingratos que exploram vosso Fixação
suor — ah, que bebem vosso sangue? 01. B 02. D 03. E 04. E

SHELLEY. Os homens da Inglaterra. 05. A) O liberalismo, muito útil aos valores iluministas,
se propunha a garantir os direitos à vida,
Apud HUBERMAN, L. História da riqueza do homem.
à propriedade, à liberdade e à igualdade
Rio de Janeiro: Zahar, 1982.
perante a lei.
A análise do trecho permite identificar que o poeta B) Traduzido para a economia, o liberalismo
romântico Shelley (1792-1822) registrou uma contradição defendia a não intervenção do Estado na
nas condições socioeconômicas da nascente classe economia, assim como a não intervenção nas
trabalhadora inglesa durante a Revolução Industrial. relações de trabalho.
Tal contradição está identificada C) Além do absolutismo monárquico, os
movimentos socialistas (utópicos ou
A) na pobreza dos empregados, que estava dissociada
científicos) eram críticos ferrenhos do
da riqueza dos patrões. liberalismo, que era visto como responsável
pelas mazelas do operariado.
B) no salário dos operários, que era proporcional aos
seus esforços nas indústrias.
Propostos
C) na burguesia, que tinha seus negócios financiados
01. D 03. C 05. B 07. B 09. E
pelo proletariado.
02. D 04. A 06. C 08. A 10. D
D) no trabalho, que era considerado uma garantia de
liberdade. Seção Enem
E) na riqueza, que não era usufruída por aqueles que a 01. C 02. E 03. B
produziam.

20 Coleção Estudo
HISTÓRIA MÓDULO FRENTE

Unificação italiana, alemã e


Comuna de Paris
18 A
Para se entender o processo de unificação da Itália e o da Ao final do século XIX, os dois países – que até então eram
Alemanha, é necessário analisar a configuração geopolítica compostos de vários estados sem unidade – se encontravam
da Europa já no início do século XIX, tendo como base as em acelerado desenvolvimento, afinal, as mesmas elites que
decisões tomadas pelo Congresso de Viena (1814-1815).
patrocinaram a centralização política de ambos os Estados
O princípio de compensações utilizado durante esse
passaram a comandá-los politicamente. Assim, itálicos e
Congresso definia que as grandes potências que derrotaram
germânicos passaram a concorrer com as grandes potências
Napoleão, libertando a Europa, deveriam receber uma
recompensa em contrapartida. A Áustria, governada da época, Inglaterra e França, provocando o fim do equilíbrio

pelos Habsburgo, era uma dessas potências, cabendo- europeu. Por esse motivo, as unificações foram responsáveis
lhe os territórios italianos da Venécia e Lombardia e, pela exacerbação dos nacionalismos europeus que levaram
ainda, o direito de indicar os governantes dos estados à Primeira Guerra Mundial.
italianos de Módena, Parma e Toscana. O único estado
que manteve a sua autonomia na Península Itálica
foi o reino de Piemonte-Sardenha, situado ao norte.
UNIFICAÇÃO ITALIANA
Já entre os estados alemães, foi formada a Confederação
Germânica, composta inicialmente de 38 estados associados Desde o contexto das revoluções liberais, no século XIX,
e presidida politicamente pela Áustria. Para que houvesse os reinos da Península Itálica já demonstravam o desejo de
de fato uma unificação, quer seja entre os estados itálicos promover um processo de unificação. Naquele momento,
ou germânicos, seria necessário, portanto, eliminar
Giuseppe Mazzini, à frente da sua instituição – Jovem Itália –,
a influência austríaca daquelas respectivas regiões.
comandou uma insurreição em prol da unificação. O projeto
Devido à hegemônica força política e militar do Império de Mazzini incluía as massas italianas, acreditando que a
Austríaco, tanto o processo de unificação da Itália quanto o da
unificação emanaria das camadas populares.
Alemanha ocorreram somente no século XIX e foram marcados
por conflitos internos e externos. É importante ressaltar que, A proposta democrática de Mazzini não agradava às elites
após o Congresso de Viena, estabeleceu-se relativa paz no da região, que, visando a enfraquecer aquele movimento,
continente europeu. Assim, os principais conflitos ocorridos na dividiram os rebeldes, apoiando outra proposta de unificação,
Europa, no período entre o Congresso de Viena e a Primeira que deveria ocorrer sob a tutela de Vítor Emanuel II, rei de
Guerra Mundial, foram as guerras decorrentes das unificações
Piemonte-Sardenha, o único reino independente do norte
e a Guerra da Crimeia (1853-1856).
da Península.
Outro ponto a se ressaltar é que as duas unificações foram
processos elitistas e, logo, nada democráticos. O povo, Dessa forma, coube a Camilo de Cavour, primeiro-ministro
colocado à margem dos processos, assistiu à burguesia de Vítor Emanuel II e defensor da causa monárquica,
italiana do norte e à aristocracia prussiana liderarem as a responsabilidade pelo início do processo de unificação.
unificações na Itália e na Alemanha, respectivamente. Além Uma das justificativas para a liderança de Piemonte-
da participação das elites nos projetos centralizadores, dois Sardenha no processo de unificação era a riqueza
estados independentes – Piemonte, no caso italiano, e Prússia, desse reino, que contrastava com o caráter agrário
no caso alemão – tiveram grande influência na condução dos
dos estados do sul da Península. Apesar de serem
novos governos. Devido ao desenvolvimento desse processo
vistos como os líderes ideais do processo de unificação,
coordenado, vários historiadores consideram que a Itália e a
os piemonteses tinham como grande obstáculo para
Alemanha até hoje guardam claras heranças dos estados que
as originaram e, por isso, podem ser consideradas extensões esse processo a hegemonia da Áustria, que, desde o
de Piemonte e da Prússia, respectivamente. Congresso de Viena, dominava diversos estados itálicos.

Editora Bernoulli
21
Frente A Módulo 18

Percebendo as dificuldades que enfrentaria, Cavour passou Diante da vitória das tropas unificadoras, diversas outras
a buscar aliados no continente europeu, afinal, a Áustria regiões da Península Itálica, como os Estados Pontifícios,
era uma potência militar. Assim, a França, que desejava que também se encontravam subordinadas a outras
enfraquecer o Império Austríaco e, logo, aumentar a sua nações, organizaram revoltas buscando a sua libertação.
zona de influência na Europa, prontificou-se a apoiar a causa Essa expansão das revoltas, no entanto, não interessava aos
da unificação, desde que, em troca, recebesse as regiões católicos franceses, que temiam pela integridade do poder
de Nice e Savoia. Com o apoio das tropas de Napoleão III, do papa, que até então governava o centro da Península.

Cavour pôde, enfim, travar uma guerra contra a Áustria, que Assim, a ala católica conservadora francesa pressionou
Napoleão III a retirar o seu apoio a Piemonte-Sardenha,
foi derrotada pelas tropas francesas e piemontesas em 1859.
o que de fato ocorreu.
Ainda naquele ano, como sanção à derrota na guerra,
Se, ao norte, o reino de Piemonte foi o grande responsável
a Áustria foi punida com a perda de Lombardia, Toscana,
pela libertação de diversos estados, no sul, destacou-se a
Romagna, Parma e Módena, regiões anexadas ao reino
figura de Giuseppe Garibaldi, revolucionário republicano
de Piemonte. As regiões de Savoia e Nice também se
que havia lutado na Farroupilha, no Sul do Brasil, e que,
libertaram do domínio austríaco e, conforme havia
comandando mil homens, os Camisas Vermelhas, invadiu o
sido acertado, passaram para o controle dos franceses.
reino das Duas Sicílias e o de Nápoles em 1860. Devido ao
A exceção foi a região de Venécia, que, apesar de também
seu caráter republicano, Garibaldi não concordava com o
estar no norte da Península Itálica, continuou subordinada
processo de unificação comandado pelo reino de Piemonte.
ao Império Austríaco. Ao mesmo tempo, ele também sabia que os sulistas não
eram fortes o bastante para liderarem a unificação. Diante
Fases do processo de unificação da Itália
dessa situação, Garibaldi acabou se retirando das lutas para
SUÍÇA
não atrapalhar o processo iniciado por Piemonte-Sardenha,
SAVOIA
TRENTINO
IMPÉRIO
entregando, assim, as regiões conquistadas ao sul para
Trento
Milão
LOMBARDIA Udine
AUSTRO-HÚNGARO serem integradas às conquistas piemontesas.
Turim
VENÉCIA
FRANÇA PIEMONTE
Trieste
Parma Verona Veneza ÍSTRIA
Gênova Fiume
PARMA Módena
NICE ROMAGNA
MÓDENA Ravena
Nice Bolonha

Florença

TOSCANA
IMPÉRIO
Ancona
OTOMANO
JA
RE
IG

Córsega
DA
AR

(FRA) S
ESTADO
AD
RI

Roma
ÁT
IC
O

Sassari

Nápoles
SARDENHA

Cagliari MAR TIRRENO Tarento

Reprodução

Cala
taf o
imi rm
Pa
le MAR
JÔNICO
Marsala Representação de Giuseppe Garibaldi
SICÍLIA
N
Siracusa
0 200 km Em 1866, enquanto ocorria a Guerra Austro-Prussiana,
conflito que fez parte do processo de unificação da Alemanha,
Territórios pretendidos pela Itália
Reino de Piemonte-Sardenha
e só anexados em 1919 os italianos aproveitaram-se das derrotas austríacas para
Anexações de 1859-1860,
Campanha de Garibaldi
decorrentes da guerra contra a Áustria conquistar a Venécia. Assim, a Áustria, tendo de enfrentar
Territórios cedidos à França (1860) Campanha de tropas do Piemonte
dois inimigos, em duas frentes de batalhas, acabou derrotada
Territórios incorporados em 1860
em razão das campanhas de em ambos os conflitos e, logo, foi obrigada a ceder a Venécia
Garibaldi e de tropas piemontesas
Anexação em 1866 aos italianos.
Território anexado em 1870
No final da década de 1860, portanto, foi criado um Estado

SERRYN, Pierre; BLASSELLE, René. Atlas Bordas géographique et


unificado, com as suas fronteiras bem definidas no norte e
historique. Paris, Bordas, 1996. The Times atlas of world history. no sul da Península Itálica, sendo que os Estados Pontifícios,
London, Times Books Limited, 1990. protegidos por Napoleão III e situados na região central,

22 Coleção Estudo
Unificação italiana, alemã e Comuna de Paris

impediam a completa unificação italiana. Foi necessário o início


da Guerra Franco-Prussiana, em 1870, para que os italianos,
aproveitando-se do enfraquecimento francês, conquistassem
os Estados papais. Vale ressaltar que, naquele momento,
a França estava sendo derrotada pelos prussianos e,
por isso, retirou suas tropas da Itália.

Como o chefe da Igreja Católica e os seus domínios


ficaram desprotegidos, as tropas piemontesas não
hesitaram e, naquele mesmo ano, asseguraram a
conquista dos territórios sob domínio do papa. Estava
praticamente completo, portanto, o processo de unificação
da Itália, apesar de pequenas regiões — Trieste e
Trentino, regiões conhecidas como Itália Irredenta —
no norte italiano continuarem sob domínio austríaco até o
final da Primeira Guerra, quando foram, então, entregues

Evert A. Duykinck
aos italianos.

Também no século XX, foi resolvido o conflito gerado


entre a Igreja Católica e o Estado italiano, conhecido como
Questão Romana. O processo de unificação italiana havia Otto von Bismarck

desagradado ao papa, que se declarou um prisioneiro dos O primeiro passo nesse processo foi a instituição da
italianos. A solução, em 1929, veio com o Tratado de Latrão, Zollverein (1818), uma tentativa de unificar a economia dos
pelo qual Mussolini, primeiro-ministro da Itália fascista,

HISTÓRIA
estados germânicos e a da Prússia. O acordo estabelecia
desejando o apoio da Igreja, criou o Estado do Vaticano, uma união aduaneira entre as regiões, o que facilitaria a
indenizou a Igreja pelos territórios perdidos e instituiu o circulação de seus produtos em toda a Alemanha. Assim,
Ensino Religioso nas escolas italianas. se a Áustria exercia um domínio político sobre os estados
germânicos, a partir da criação da Zollverein, cabia à Prússia
controlar a economia da Confederação, o que gerou uma
UNIFICAÇÃO ALEMÃ grande insatisfação por parte dos austríacos.

Além da eliminação das barreiras alfandegárias no


A Confederação Germânica, ratificada pelo Congresso
comércio entre a Confederação Germânica e a Prússia,
de Viena, era uma entidade política formada por estados
esta procurou, principalmente sob o comando de Bismarck,
alemães e submetida ao controle político da Áustria. Assim
organizar um grande Exército que pudesse fazer frente às
como no caso italiano, em 1849, após as revoluções liberais
forças que se mostrassem contrárias ao projeto unificador.
que se alastraram pela Europa, houve uma fracassada
Pode-se afirmar, portanto, que a unificação alemã, assim
tentativa de eliminar o domínio austríaco na região e de
como a italiana, foi concretizada por meio de diversas
promover a unificação. O fracasso do movimento deveu-se
guerras, que serão detalhadas a seguir.
ao poderio bélico austríaco e também à atuação das elites
germânicas, que, percebendo a participação de operários Guerra dos Ducados (1864) – Interessadas nos
no processo revolucionário, abandonaram o projeto ducados de Schleswig e Holstein, até então vinculados à
unificador e criaram meios de facilitar a repressão por Dinamarca, a Áustria e a Prússia deixaram suas diferenças
parte do Império Austríaco. de lado para expandirem suas respectivas zonas de
influência. Dessa forma, as duas forças se uniram contra
Apesar da repressão ao movimento de unificação na
a Dinamarca, que não tinha condições de resistir à
primeira metade do século XIX, o projeto de libertar e unificar
investida. Conforme havia sido previamente combinado,
os estados subordinados aos austríacos não foi abandonado.
após a derrota dos dinamarqueses na Guerra dos Ducados,
Nesse sentido, conforme o desejo das elites germânicas,
os prussianos ficaram com o controle de Schleswig e aos
a unificação alemã foi arquitetada por Otto von Bismarck,
austríacos coube o controle do ducado de Holstein.
primeiro-ministro da Prússia e também representante dos
junkers, grandes proprietários de terras que defendiam o É importante ressaltar que, apesar da união entre a Áustria
uso da força para a construção do Estado Nacional alemão. e a Prússia em uma guerra contra a Dinamarca, o objetivo
Antes de concretizar a sua hegemonia sobre os estados de Bismarck era realizar um confronto militar com o Império
germânicos, no entanto, os prussianos deveriam eliminar por Austríaco, já que a Confederação Germânica continuava
completo a influência austríaca que era exercida na região. politicamente vinculada aos austríacos.

Editora Bernoulli
23
Frente A Módulo 18

Fases do processo de unificação da Alemanha

SUÉCIA

DINAMARCA MAR
BÁLTICO Tilsit
MAR DO
NORTE Königsberg
SCHLESWIG

Schleswig
Dantzig
kiel
HOLSTEIN
Rostock
lübeck
MECKLEMBURG
Stettin
PAÍSES OLDEMBURGO Hamburgo
BAIXOS Bremen
Amsterdã Berlim Posen
HANÔVER PRÚSSIA
RÚSSIA
Hanôver Magdeburgo
Münster
PRÚSSIA Göttingen
Kassel
Dortmund Leipzig
Bruxelas HESSE- Dresden
Düsseldorf
KASSEL Império Alemão (II Reich) – 1871–1918
Erfurt SAXÔNIA Breslau
BÉLGICA TURÍNGIA
Colônia Prússia em 1815
NASSAU HESSE
Frankfurt
Praga
LUXEMBURGO HESSE
Anexação de Schleswig-Holstein (1864-1866),
Luxemburgo
guerra da Áustria e da Prússia contra a Dinamarca
Darmstadt
PALATINADO
Metz
Incorporações em 1866 – Guerra Austro-Prussiana
Verdun Karlsruhe Nuremberg
LORENA
Stuttgart
BAVIERA
Unificação resultante da adesão
Estrasburgo
WÜRTTENBERG AUSTRO-HUNGRIA à guerra contra a França (1871)
FRANÇA ALSÁCIA Ulm
BADEN Munique Anexação resultante da Paz de Frankfurt (1871)
N
0 70 km Confederação Germânica do Norte (1867-1871)
SUÍÇA

Guerra Austro-Prussiana (1866) – Logo após a Guerra Bismarck, no entanto, não era favorável à postura
dos Ducados, Bismarck alegou que o Império Austríaco pacificadora tomada pelo kaiser prussiano e, por isso, alterou
havia descumprido o acordo de divisão dos ducados, pois o conteúdo da carta, fazendo com que esta passasse a ter
estaria realizando uma má gestão no ducado de Holstein. um tom ameaçador e ofensivo a todo o povo francês. Além
Esse, no entanto, era apenas um pretexto para iniciar um de alterar o conteúdo do documento, Bismarck ainda fez com
conflito com os austríacos, que, de fato, veio a ocorrer em 1866. que a carta fosse divulgada pela imprensa, o que tornou o
No momento em que a Guerra Austro-Prussiana se iniciou, conflito entre a França e a Prússia inevitável.
a Itália, interessada em domínios austríacos, aliou-se à
Como se pode perceber, o objetivo do primeiro-ministro
Prússia, o que favoreceu a derrota do Império Austríaco em
prussiano era eliminar a resistência francesa à unificação
poucas semanas.
alemã, além de fomentar o nacionalismo e unir todos os
Após a vitória dos prussianos, estes puderam, enfim,
estados alemães em torno de um inimigo em comum, o que
eliminar a influência austríaca na região alemã e, assim,
de fato ele conseguiu. Em aproximadamente seis meses, a
criar a Confederação Germânica do Norte, reunindo não só
França foi derrotada pela união dos alemães e Guilherme
economicamente, como previa a Zollverein, mas também
I foi coroado imperador de toda a Alemanha dentro da
politicamente vários estados que, a partir de então, foram
Sala dos Espelhos, em pleno Palácio de Versalhes, em
integrados aos domínios da Prússia.
território francês.
Guerra Franco-Prussiana (1870-1871) – Diante
da concretização do projeto unificador alemão, a França, A França, pelo Tratado de Frankfurt, foi obrigada a entregar

que temia a perda de seu prestígio no continente a Alsácia e a Lorena para os alemães, regiões ricas em
europeu, manifestou-se contrária à continuidade do minério de ferro e carvão. A conquista dessas regiões, em
processo liderado pela Prússia. Através do seu imperador, 1871, significou a finalização do processo de unificação da
Napoleão III, os franceses enviaram diversas cartas ao Alemanha e contribuiu para o desenvolvimento industrial do
kaiser prussiano, Guilherme I, ameaçando-o quanto às país. Entretanto, para os franceses, que tiveram de passar a
possíveis sanções caso o projeto de unificação fosse importar minério de ferro e carvão, a perda dessas regiões
levado à frente. Temendo a represália francesa, em acabou criando um forte sentimento de revanche, fator que,
uma de suas cartas, Guilherme respondeu a Napoleão, em partes, foi responsável pela eclosão da Primeira Guerra
alegando que não pretendia unificar toda a Alemanha. Mundial logo no início do século XX.

24 Coleção Estudo
Unificação italiana, alemã e Comuna de Paris

A expansão do café para o Oeste Paulista, que data da


segunda metade do século XIX, levou os cafeicultores da região a
buscarem o trabalho assalariado, representado, principalmente,
pelo imigrante europeu. Além disso, o governo brasileiro
incentivava a vinda desses imigrantes, com base na crença
da superioridade europeia, tão em voga no Velho Continente
durante o século XIX. As elites brasileiras acreditavam que o
negro era inferior e despreparado para o trabalho na indústria,
já que o trabalhador europeu tinha experiência nesse ofício.

Vale ressaltar, porém, que, apesar das contribuições que


os trabalhadores europeus concederam à agroexportação,
estes também tinham experiência na luta operária e foram
os líderes do início do movimento operário brasileiro.

Artista desconhecido
Os imigrantes, além disso, contribuíram significativamente
para a formação da sociedade brasileira em várias áreas,
como alimentação, cultura, técnicas agrícolas e capitais para
Representação do brasão da Prússia em 1871. Nas asas da águia o desenvolvimento industrial.
negra, é possível ler o nome de alguns estados germânicos
anexados pelos prussianos.

COMUNA DE PARIS (1870)


REFLEXOS NA EUROPA

HISTÓRIA
Quando a França se envolveu na Guerra Franco-Prussiana,
em 1870, Napoleão III foi para a frente de batalha, imaginando
Itália e Alemanha, após suas unificações, passaram por
que a sua presença iria aumentar o fervor militar de seus
um intenso processo de industrialização e entraram na soldados, que sofriam sucessivas derrotas para o Exército
corrida imperialista disputando mercados com a Inglaterra prussiano, mais bem preparado que o francês. A vitória
e com a França, até então as grandes potências da Europa. esperada, no entanto, não aconteceu, e, assim, Napoleão III
O equilíbrio de forças na Europa se alterou e os conflitos tornou-se prisioneiro dos prussianos após a Batalha de
tornaram-se latentes. A rivalidade entre os países europeus Sedan. Naquele momento, o imperador francês foi obrigado a
contribuiu para a eclosão da Primeira Guerra, afinal, além assinar a rendição do seu país, decisão que não foi aceita pela

do revanchismo francês gerado pela perda da Alsácia e da população francesa em geral. Diante do impasse instalado no
país, o Legislativo da França, que até então auxiliava o rei, se
Lorena, as nações alemã e italiana entraram na corrida
organizou e proclamou uma república na França, conhecida
imperialista atrasadas e acabaram, para atender seus
também como Terceira República Francesa.
interesses imperialistas, formando uma aliança militar,
que foi um dos elementos responsáveis pela deflagração Essa república, liderada por Thiers, insistiu em manter
do conflito. a soberania francesa e, para isso, manteve as suas tropas
na guerra. Mesmo com os esforços empregados pelo novo
governo diante dos prussianos, as tropas não resistiram e

REFLEXOS NO BRASIL voltaram a sofrer sucessivas derrotas. Temendo uma rebelião


ainda maior, o governo republicano acabou optando pelo
mesmo caminho de Napoleão III, ou seja, assinar a rendição,
Com as guerras de unificação, o número de pessoas
reconhecendo a derrota francesa na Guerra Franco-Prussiana.
fugindo dos conflitos aumentou. Assim, o fluxo de
Se a atitude dos governistas republicanos assemelhou-se
imigrantes, majoritariamente italianos e alemães, para o
à do imperador deposto, as consequências sofridas pelo
Brasil se intensificou, aumentando a oferta de mão de obra,
regime foram as mesmas e, em 1871, diante do fiasco
principalmente na cafeicultura. Essa imigração resolveu o
das tentativas de defesa, as massas de Paris, lideradas
problema brasileiro da carência de mão de obra, uma vez por anarquistas e, principalmente, por comunistas,
que a Lei Eusébio de Queirós (1850) proibia o tráfico negreiro revoltaram-se e tomaram o controle da cidade. Milícias
justamente no momento em que a cafeicultura passava por populares formaram-se e foi implantada a gestão operária
uma fase de expansão devido ao aumento da demanda no em várias fábricas durante o período em que a chamada
mercado externo. Comuna de Paris comandou as ações da capital francesa.

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25
Frente A Módulo 18

Durante esse curto período de aproximadamente 72 dias,


apesar das evidentes conquistas operárias, houve também No entanto, não são essas as linhas historiográficas mais
uma indecisão entre os communards, revolucionários que frequentes. Os historiadores da “nação francesa” vêem a Comuna
comandavam o movimento, pois, enquanto alguns achavam como um momentâneo desvio de rota, uma excrescência
originada na derrota francesa às mãos de Bismarck. Basta uma
que era necessário criar uma aliança com a burguesia,
rápida consulta a Seignobos para exemplificar esse modelo de
outros defendiam a ideia da luta isolada do povo, sem o
tratamento. Por sua parte, os historiadores do “movimento
auxílio burguês. operário” – aqui, por exemplo, bastaria uma não menos
rápida pesquisa nos volumes escritos por Édouard Deolléans –
interpretam-na como um ensaio vigoroso, talvez prematuro, da
primeira caminhada revolucionária dos movimentos operários
europeus, cheia de ensinamentos para os movimentos sociais
posteriores. Não é sustentável, porém, a idéia de que a
Comuna surge em um momento de “descuido” da nação em
guerra exterior, como também não é convincente o elo rígido
que a une aos movimentos revolucionários contemporâneos.
Nem uma “exceção”, nem uma “necessidade”; ou, dito de
melhor forma, ela parece ter muito de “necessária” aí onde os
Artista desconhecido historiadores tradicionais a vêem como um assalto inesperado
e fora de qualquer regra, e parece ter muito de descuido e de
“excepcionalidade” aí onde os historiadores dos movimentos
trabalhistas a vêem como o anúncio inexorável, apenas um
Barricada montada pelos communards em Paris
pouco corrigível e modelável, que pede e reproduz infinita e
Aproveitando a indecisão dos communards, as elites linearmente seus herdeiros. Se essas nuanças são válidas,
parisienses, que haviam sido prejudicadas pela Comuna elas justificarão este livro e seu duplo distanciamento (por
diferentes razões) a respeito das duas grandes abordagens
e temiam a realização de reformas ainda mais profundas,
que, contemporâneas à própria Comuna, vêm nos dizendo uma
aliaram-se aos prussianos para acabar com a revolta.
ou outra vez como sonharam, como lutaram e como morreram
Assim, a aliança formada entre a alta burguesia francesa os homens que ocuparam o Hôtel de Ville durante março, abril
e as tropas prussianas derrotou a Comuna através de e maio de 1871.
batalhas que resultaram na morte de milhares de franceses
GONZÁLEZ, Horácio. A Comuna de Paris: os assaltantes do céu.
e também na detenção de vários outros. Apesar da aparente São Paulo: Brasiliense, 1981. p. 114-115.
derrota do movimento de tendência comunista e anarquista,
é importante ressaltar que a Comuna de Paris foi uma das
primeiras experiências de governo popular da modernidade, Texto II
chegando a inspirar Lênin, revolucionário russo de 1917. Na Paris sitiada, a lógica da guerra civil.

Quando chega a Paris a notícia de Sedan – Bonaparte III


e o marechal Mac Mahon presos pelos prussianos –, os

LEITURA COMPLEMENTAR deputados republicanos, reunidos no Palais Bourbon, a velha


sede do Legislativo, não duvidam. Era preciso não deixar escapar
essa oportunidade única que lhes oferecia a marcha da guerra.

Texto I É domingo em Paris e se proclama a República. Estamos a 4 de


setembro de 1870. Dúvidas e hesitações. Onde proclamá-la?
Uma voz, muitas vozes: “Ao Hôtel de Ville!” A partir de
Atores e atrizes de Paris, pouco tempo depois de acabado o
então, os acontecimentos terão como epicentro o edifício
confronto entre versalheses e communards, eram convidados
da municipalidade de Paris, antiga construção de linhas
a encenar os principais episódios da Comuna. Cenas de massas
renascentistas, muito severas, datada de meados do século
em que os “vilões” eram os communards. Para que essas
XVI. Sempre associado às insurreições urbanas, o velho
encenações? Para tirar fotos, a arte então em moda em Paris.
prédio cairá com a Comuna, menos de um ano depois, entre
E de muitas dessas fotos hoje não é possível dizer com certeza se as chamas de um fantástico incêndio. Entre gritos esparsos de
correspondem à realidade ou a uma reconstrução “mitológica”. “Vive la Commune” – um presságio – começa sua marcha à
Bem, essa linha difusa de separação, a encontramos República, em mãos de um governo de defesa nacional, cuja
permanentemente presente em tudo o que diz respeito à tarefa principal será a de prosseguir a guerra que o Império
Comuna. Mas ela não parece ser apenas esse tênue fiapo com tinha começado com tão pouco êxito. Diz-se “defesa nacional”
que se mantêm juntas a reconstrução fotográfica e a realidade. como no século seguinte se dirá “resistência”.
É, na verdade, produto radical de uma transfiguração do espaço
Todos estão de acordo quanto a isso.
histórico que permite que uma guerra entre nações vá se
deslizando passo a passo em direção a uma guerra civil. Não há GONZÁLEZ, Horácio. A Comuna de Paris: os assaltantes do céu.
história da Comuna se não se faz a história dessa transfiguração. São Paulo: Brasiliense, 1981. p. 30-31.

26 Coleção Estudo
Unificação italiana, alemã e Comuna de Paris

EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO C) o apoio militar da Áustria para efetivar os interesses


nacionais dos povos que lutavam contra as forças
reacionárias francesas e do papado.
01. (Cesgranrio) Os movimentos nacionais, na Alemanha e na D) a ação inglesa contra as forças reacionárias que,
Itália, na 2ª metade do século XIX, além das diferenças
apoiadas nas decisões do Congresso de Viena,
políticas, têm como objetivo a
impediam a formação de novos Estados.
A) unidade política e econômica como requisito para o
E) o fato de esse processo ter sido liderado pelas classes
desenvolvimento capitalista através do fortalecimento
dominantes de regiões de crescente industrialização.
do Estado e da integração geográfica dos mercados.
B) independência econômica frente à intervenção
04. (PUC-SP) A Itália foi uma nação que se unificou
econômica inglesa com a manutenção de estruturas
tardiamente, na segunda metade do século XIX.
de produção medievais.
Levando em conta os fatores históricos desse processo,
C) valorização do arianismo como instrumento de é INCORRETO afirmar que
recuperação do homem germânico e italiano e criador
A) as determinações do Congresso de Viena (1814-1815)
do “espaço vital”.
assinalaram a divisão da Itália em sete estados,
D) construção de um Estado forte inspirado nos modelos
submetidos parcialmente à ocupação austríaca.
orientais como base política para a recuperação da
posição que Itália e Alemanha haviam ocupado no B) o norte da Península Itálica era industrializado, com
final do século XVIII. investimentos nos setores mecânicos e ferroviários,
na instalação de companhias de créditos e no
E) manutenção de uma política de proteção territorial
contra os interesses franceses, resultantes da estabelecimento de bancos e redes comerciais.
expansão napoleônica, assentados numa perspectiva C) após a unificação, a burguesia do sul da Península
política conservadora. Itálica promoveu um desenvolvimento capitalista a
partir de um intenso surto de industrialização.

HISTÓRIA
02. (Cesgranrio) Assinale a alternativa que apresenta uma
D) interessava à burguesia do norte da Península Itálica
afirmativa CORRETA sobre o processo de unificação da
superar todos os obstáculos que emperravam o
Alemanha (1871) e da Itália (1870).
crescimento capitalista. A Península Itálica, dividida
A) Na Itália, a proclamação da República por Giuseppe em vários reinos, apresentava diversas leis e impostos
Garibaldi, líder do movimento carbonário e republicano, que retardavam a livre-circulação das mercadorias.
estabilizou economicamente o país, permitindo a
fixação das fronteiras internacionais italianas e sua E) no norte da Península Itálica evidenciou-se a formação
unificação interna. de uma burguesia industrial interessada em fortalecer
os empreendimentos capitalistas, combatendo o
B) Na Itália, com o apoio do papa Pio IX, o movimento
domínio das forças conservadoras.
unificador difundiu-se a partir da cidade de Roma,
sendo contrário aos interesses econômicos da
burguesia do Piemonte e do norte do país. 05. (CEFET-PR) Sobre a unificação italiana, é CORRETO
afirmar que
C) Na Alemanha, Bismarck implementou a unificação
I. após o Congresso de Viena, a Itália foi dividida e
com a ajuda econômica e militar do Império Austríaco,
opondo-se à política separatista da Prússia de Guilherme I. transformada numa simples “expressão geográfica”,
motivando o Risorgimento.
D) A criação da União Alfandegária (Zollverein) entre os
estados alemães desenvolveu a industrialização e a II. a liderança na luta pela unificação coube ao reino
economia da Confederação Germânica, culminando de Piemonte-Sardenha, sob orientação de Benito
na unificação política com a criação do Segundo Reich Mussolini.
(Império) Alemão. III. foi na década de 1870 que os italianos conquistaram
E) Ambos os processos unificadores resultaram da Roma e completaram a unificação.
derrota dos movimentos nacionalistas locais frente
IV. a conquista da unidade deu origem à Questão
à reação das forças monárquicas reunidas pelo
Romana, monarquia italiana versus papa, que só foi
Congresso de Viena.
resolvida com o Tratado de Latrão, em 1929, quando
foi criado o Estado do Vaticano.
03. (UFTM-MG–2010) Pode-se apontar como característica
comum das unificações da Alemanha e da Itália Das proposições anteriores, são CORRETAS somente
A) a criação de uma república liberal, comandada pela A) II, III e IV.
pequena burguesia e ligada às tradições românticas B) I, III e IV.
do século XIX, em especial com a música.
C) I, II e III.
B) a participação de todas as classes – em especial
do operariado – associada à constituição de uma D) I e IV.
monarquia que respeitava as culturas regionais. E) I e II.

Editora Bernoulli
27
Frente A Módulo 18

EXERCÍCIOS PROPOSTOS 04. (UFRGS–2006) Entre as alternativas a seguir, assinale


aquela que está CORRETA em relação ao processo de
unificação italiana, concluída na segunda metade do
01. (FUVEST-SP) Fizemos a Itália, agora temos de fazer os século XIX.
italianos. A) O Congresso de Viena concluiu o processo de
Ao invés da Prússia se fundir na Alemanha, a Alemanha integração nacional italiano na medida em que este
se fundiu na Prússia. veio ao encontro dos interesses das elites locais.
Essas frases, sobre as unificações italiana e alemã, B) O processo de unificação nacional resultou das fortes
A) aludem às diferenças que as marcaram, pois, pressões da burguesia do sul do país, cuja economia
enquanto a alemã foi feita em benefício da Prússia, demandava um mercado interno homogêneo,
a italiana, como demonstra a escolha de Roma para dinâmico e integrado para a colocação da sua
capital, contemplou todas as regiões. moderna produção industrial.
B) apontam para as suas semelhanças, isto é, para o caráter C) A construção do Estado Nacional implicou enfrentar
autoritário e incompleto de ambas, decorrentes do e expulsar as tropas de ocupação pertencentes aos
passado fascista, no caso italiano, e nazista, no alemão. impérios Britânico, Russo e Espanhol, estabelecidas
C) chamam a atenção para o caráter unilateral e na Península Itálica desde os acontecimentos de 1848.
autoritário das duas unificações, imposta pelo D) O movimento de unificação partiu das áreas mais
Piemonte, na Itália, e pela Prússia, na Alemanha.
industrializadas, teve forte presença de uma burguesia
D) escondem suas naturezas contrastantes, pois a interessada na ampliação do mercado interno e foi
alemã foi autoritária e aristocrática e a italiana foi sustentado pela ideologia do nacionalismo.
democrática e popular.
E) A consolidação da formação do Estado Nacional
E) tratam da unificação da Itália e da Alemanha, italiano ocorreu com a anuência do papa Pio IX e
mas nada sugerem quanto ao caráter impositivo
o reconhecimento, pelo primeiro-ministro Cavour,
de processo liderado por Cavour, na Itália, e por
da existência e da soberania do Estado do Vaticano,
Bismarck, na Alemanha.
após as negociações da Questão Romana.

02. (Mackenzie-SP) A unificação política da Alemanha


05. (UNESP) As unificações políticas da Alemanha e da
(1870-1871) teve como consequências
Itália, ocorridas na segunda metade do século XIX,
A) a ruptura do equilíbrio europeu, o revanchismo francês, alteraram o equilíbrio político e social europeu. Entre os
a revolução industrial alemã e política de alianças.
acontecimentos históricos desencadeados pelos processos
B) enfraquecimento da Alemanha e miséria de grande de unificações, encontram-se
parte dos habitantes do sul, responsável pela onda
A) a ascensão do bonapartismo na França e o levante
migratória do final do século XIX.
operário em Berlim.
C) a anexação da Alsácia e Lorena, o empobrecimento do
B) a aliança da Alemanha com a Inglaterra e a
Zollverein e a retração do capitalismo.
independência da Grécia.
D) corrida colonial, revanchismo francês, enfraquecimento
C) o nacionalismo revanchista francês e a oposição do
do Reich e anexação da Áustria.
papa ao Estado italiano.
E) o equilíbrio europeu, a aliança com a França,
D) a derrota da Internacional Operária e o início da União
a formação da união aduaneira e a Liga dos Três
Europeia.
Imperadores.
E) o fortalecimento do Império Austríaco e a derrota dos
03. (PUC RS) Em 1871, alterava-se profundamente o quadro fascistas na Itália.
geopolítico europeu com a conclusão do processo de
unificação da Alemanha sob hegemonia prussiana e a 06. (UEL-PR) Sobre a unificação da Itália (1870) e a da
criação do Segundo Reich. É CORRETO afirmar que um Alemanha (1871), analise as afirmativas a seguir:
componente político fundamental da estratégia prussiana I. Os movimentos liberais, que nesses países assumiram
de unificação foi o _________, tendo como base social um aspecto fortemente nacionalista, tiveram
decisiva _________ . importante participação no processo de unificação.
A) republicanismo, a alta burguesia II. A ausência de guerras ou revoltas marcou a unificação
B) nacional-socialismo, os operários fabris italiana e alemã.
C) militarismo, a aristocracia fundiária III. O processo de unificação acelerou o desenvolvimento do
D) nacional-socialismo, a alta burguesia capitalismo na Alemanha e na Itália, o que resultou em
E) militarismo, os operários fabris disputas que desembocaram na Primeira Guerra Mundial.

28 Coleção Estudo
Unificação italiana, alemã e Comuna de Paris

Assinale a alternativa CORRETA. 09. (UFMG) Sobre a unificação alemã no século XIX,

A) Apenas a afirmativa II é verdadeira. Marionilde Magalhães afirma:

B) Apenas a afirmativa III é verdadeira. Desde o final do século XVIII, a criação de inúmeras

C) Apenas as afirmativas I e II são verdadeiras. associações resultou num determinado patriotismo


cultural e popular, num território dividido em estados
D) Apenas as afirmativas I e III são verdadeiras.
feudais dominados por uma aristocracia retrógrada.
E) Apenas as afirmativas II e III são verdadeiras.
Tais associações se dirigem à nação teuta, enfatizando

07. (PUC Minas) No processo de unificação da Itália de meados o idioma, a cultura e as tradições comunitárias,
do século XIX, destacam-se, EXCETO elementos para a elaboração de uma identidade

A) a preocupação da burguesia em evitar qualquer coletiva, independentemente do critério territorial.


aliança com a massa camponesa. E, de fato, esse nacionalismo popular, romântico-

B) a permanência de um sistema oligárquico que garante ilustrado (uma vez que pautado no princípio da
os interesses dos grandes proprietários da terra. cidadania e no direito à autodeterminação dos povos),

C) a ação dos liberais moderados, liderado por Cavour, inspirará uma boa parcela dos revolucionários de
para impedir as tentativas revolucionárias. 1848. Mas não serão eles a unificar a Alemanha.

D) a obtenção da unidade através do alargamento do Seus herdeiros precisarão aguardar até 1871, quando

estado piemontês e não de um movimento nacional. Bismarck realiza uma revolução de cima, momento

E) o papel decisivo dos movimentos populares para a em que, em virtude do poderio econômico e da

concretização da unidade italiana. força militar da Prússia, a Alemanha se unifica como


Estado forte, consolidando a sua trajetória rumo à

HISTÓRIA
08. (UFRGS–2007) A unificação alemã, habilmente modernização.
arquitetada por Otto von Bismarck, realizou-se em torno
de guerras bem-sucedidas contra potências vizinhas. MAGALHÃES, Marionilde D. B. de. A Reunificação:
enfim um país para a Alemanha? Revista Brasileira de História.
Assinale a alternativa CORRETA em relação às
motivações e aos acontecimentos que desencadearam São Paulo: ANPUH/Marco Zero, v. 14, n. 28. 1994. p. 102.

esse processo de unificação. (Adaptação).

A) A fragmentação política obstaculizava o pleno Tendo-se como referência essas considerações, pode-se
desenvolvimento comercial e industrial da região. concluir que
A unificação promoveria um mercado ágil e ampliado,
A) o principal fator que possibilitou a unificação alemã
com condições de enfrentar a concorrência inglesa
através da proteção governamental. foi o desenvolvimento econômico e social dos
Estados germânicos, iniciado com o estabelecimento
B) A unificação foi liderada pela Áustria, o mais poderoso
dos estados germânicos e sucessora do extinto do Zollverein – liga aduaneira que favoreceu os

Sacro-Império, capaz de eliminar as pretensões da interesses da burguesia.


Prússia. Aliado da França, o país austríaco contou com o
B) a unificação alemã atendeu aos interesses de uma
seu apoio para vencer as resistências germânicas do sul.
aristocracia rural desejosa de formar um amplo
C) A constituição, redigida por Bismarck, inaugurou uma
mercado nacional para seus produtos, alicerçando-se
era democrática nos estados alemães, sob influência
na ideia do patriotismo cultural e do nacionalismo
dos ideais da Revolução Francesa, baseados na
popular.
soberania e na participação popular.
D) As decisões do Congresso de Viena, ao reconhecerem C) na Alemanha, a unificação nacional ocorreu,
o direito de independência da Alemanha, foram principalmente, em virtude da formação de uma
fundamentais para a consolidação da unificação, pois identidade coletiva baseada no idioma, na cultura e
inibiram as pretensões italianas aos territórios do sul nas tradições comuns.
da Alemanha.
D) na Alemanha, a unificação política pôde ultrapassar
E) O processo de unificação alemã contou com o
apoio da França, que, acossada pela supremacia as barreiras impostas pela aristocracia territorial,

britânica, via no novo Estado um importante aliado que via no desenvolvimento industrial o caminho da
na corrida imperialista. modernização.

Editora Bernoulli
29
Frente A Módulo 18

10. (UFG–2006) A unificação italiana, no final do século XIX, 02. A unificação da Itália foi dificultada pelo controle que
ameaçou a integridade territorial da Igreja. Esse impasse o Império Austro-Húngaro exercia em alguns estados

resultou do norte da Itália e pela presença de Estados sobre o


controle do papado. Dessa forma, a centralização política
A) no reforço dos sentimentos nacionalistas na Itália,
foi viabilizada graças
provocando a expropriação das terras da Igreja.
A) à presença de um estado livre e independente,
B) no envolvimento da Igreja em lutas nacionais, criando o Piemonte-Sardenha, que liderou esse processo.
congregações para a expansão do catolicismo.
B) ao fortalecimento do papado, que desejava criar
C) na adoção de atitudes liberais pelo papa Pio IX, como uma unidade religiosa na Itália, região de influência
forma de deter as forças fascistas. protestante.

D) na assinatura do Tratado de Latrão, em 1929, quando C) à liderança de Cavour, primeiro-ministro do Piemonte,

Mussolini criou o Estado do Vaticano. ferrenho defensor do republicanismo.

E) no Risorgimento, processo em que segmentos ligados D) ao grande desenvolvimento econômico do Sul,


desenvolvido industrialmente, que liderou a unificação.
à Igreja defenderam a Itália independente.
E) ao apoio dado à Itália pela França, que desejava
ter um aliado católico, na Europa, para se opor à
SEÇÃO ENEM Inglaterra anglicana.

01.
GABARITO
A História possui rupturas e permanências, em que
determinados processos se assemelham e, alguns, até se
repetem. Dentro da história europeia, é possível observar
Fixação
permanências durante o longo processo de construção
01. A
de nacionalidade da Alemanha e na atual tentativa de
02. D
promover a unificação europeia.
03. E
Podemos considerar como pontos comuns a esses dois
04. C
momentos distintos da Europa:
05. B
A) Nos dois momentos, há a presença de uma economia
forte que pretende se expandir a partir de uma Propostos
unificação econômica.
01. C

B) Nos dois momentos, os objetivos principais foram 02. A


atingidos a partir de um conflito armado de grandes 03. C
proporções. 04. D

C) A Inglaterra assumiu a liderança nos dois momentos 05. C

citados, devido à sua visão cosmopolita da sociedade 06. D

europeia. 07. E

08. A
D) A eliminação do xenofobismo foi um elemento que
09. A
garantiu o sucesso das unificações nos momentos
10. D
citados.

E) A rivalidade entre França e Alemanha atrasou Seção Enem


tanto a unificação alemã quanto a formação da
01. A 02. A
União Europeia.

30 Coleção Estudo
HISTÓRIA MÓDULO FRENTE

Estados Unidos no século XIX 19 A


O século XIX foi importante para a história dos Estados Unidos,
pois foi o momento da expansão territorial e do desenvolvimento
EXPANSÃO TERRITORIAL
econômico e bélico, o que fez com que as Treze Colônias A expansão territorial dos Estados Unidos relaciona-se
se transformassem em um dos maiores países do mundo. com sua expansão imperialista e com o Destino Manifesto.
No início daquele século, já era propagada a doutrina do Destino Inicialmente, o país se restringia ao território das antigas
Manifesto, que defendia a superioridade dos estadunidenses. Treze Colônias, e, por isso, a conquista do oeste significaria
Segundo essa ideologia, os Estados Unidos tinham recebido de a expansão de mercado e a aquisição de novas terras para
Deus a missão de levar o desenvolvimento a toda a América, o cultivo de monoculturas de exportação ou agricultura para
favorecendo, assim, a postura imperialista do país. o mercado interno.
Dando início ao projeto expansionista, os estadunidenses,
Data do século XIX, também, a Segunda Guerra de em 1803, compraram de Napoleão Bonaparte, imperador da
Independência dos Estados Unidos (1812-1815). Naquele França, que estava em guerra contra a Inglaterra, o território
contexto, a Inglaterra, envolvida nas guerras napoleônicas, de Louisiana, por 15 milhões de dólares. Em 1819, foi a vez
passou a apreender navios e a utilizar suas tripulações nos da compra da Flórida, que pertencia à Espanha, favorecendo,
navios de guerra ingleses. Como existiam embarcações assim, o acesso às Antilhas.
estadunidenses entre as apreendidas pelos ingleses, houve O número enorme de colonos no México levou à
um embate diplomático entre as duas nações, o que acabou Independência do Texas, em 1836. Em 1845, para impedir a
desembocando em um conflito entre a Inglaterra e a sua influência da Inglaterra e da França, os Estados Unidos, com
ex-colônia. Uma vez que os Estados Unidos não estavam a anuência da própria população local, anexaram o Texas.
envolvidos em outros conflitos, estes venceram a guerra, Em 1848, após uma guerra contra o México, os estadunidenses
consolidando de uma vez por todas a Independência das deram um importante passo para a sua empreitada sobre
Treze Colônias. o Pacífico. Pelo Tratado de Guadalupe-Hidalgo, o México
perdia 2 milhões de quilômetros quadrados, que abrigariam
Fortalecidos ainda mais após a Segunda Guerra de posteriormente regiões que possuíam jazidas de ouro, como
Independência, os estadunidenses lançaram, em  1823, os estados da Califórnia, do Novo México, do Arizona, de Utah
a  Doutrina Monroe. O então presidente, James Monroe, e de Nevada.
fez um discurso alegando que não aceitaria a interferência Vale ressaltar ainda que, em 1867, os Estados Unidos
europeia na América e que qualquer tentativa de recolonização compraram o Alasca da Rússia, ampliando, assim, a sua
seria considerada um ataque aos Estados Unidos. É importante produção de petróleo, uma vez que o estado é um grande
ressaltar que, ao utilizarem a frase “A  América para os produtor petrolífero.
americanos”, os estadunidenses defendiam não só o interesse
dos colonos americanos que buscavam sua soberania, mas
também os seus próprios interesses, no intuito de exercer um
Oregon: comprado
domínio hegemônico sobre o continente americano. da Inglaterra
em 1846

Louisiana: comprada Região cedida


da França em 1803 pela Inglaterra
no Tratado
de 1783 Área original
Territórios conquistados
do México em 1848 das Treze
Colônias

Texas: anexado
em 1845
Flórida:
comprada
da Espanha
em 1819

Alasca: Havaí: N
comprado anexado 0 360 km
em 1867 em 1898

A partir da segunda metade do século XIX, ou seja,


Artista desconhecido

concomitantemente ao processo de expansão territorial,


vários homens partiram para o oeste, porção pouco habitada
e vista como uma terra sem leis. As regiões mais procuradas
eram a Califórnia, o Colorado e Nevada, que, juntas, tinham
Presidente James Monroe uma população que não ultrapassava 400 000 pessoas.

Editora Bernoulli
31
Frente A Módulo 19

Além de apresentar a possibilidade de extração aurífera aos seus produtos industrializados. Já o sul estava a favor
– o que proporcionou a corrida do ouro e, logo, a obtenção da diminuição das barreiras alfandegárias, pois era consumidor
de uma renda per capita elevada –, essa região favorecia e queria estimular a concorrência, diminuindo os preços finais
a caça de animais, como o castor e o bisão, o cultivo da dos produtos industrializados. Diante do impasse gerado,
cana-de-açúcar e de algodão, a pecuária e o comércio. o governo estadunidense buscou amenizar a situação
por meio da adoção de tarifas alfandegárias moderadas,
Apesar de ter sido importante para o desenvolvimento
sendo que estas seriam aumentadas gradativamente a cada
dos Estados Unidos, a Marcha para o Oeste provocou a
ano. Mesmo com a intervenção do governo dos Estados
morte de milhares de indígenas que habitavam a região.
Unidos, a situação continuou não sendo favorável nem ao
O choque com os nativos foi inevitável, pois a incorporação
dos indígenas à nova cultura americana não estava prevista na norte nem ao sul, o que fomentou ainda mais a animosidade
doutrina do Destino Manifesto, que pregava a superioridade entre esses dois lados.
dos estadunidenses diante das demais etnias. Assim, além O segundo impasse interno entre os estadunidenses
de não respeitarem os legítimos donos das terras a oeste, girava em torno da questão escravista: o norte visava
os estadunidenses se limitaram a demarcar pequenas à expansão do mercado consumidor interno para os seus
porções de terras para as poucas tribos que conseguiram produtos e, por isso, defendia a abolição da escravidão
sobreviver à Marcha para o Oeste. e, logo, a adoção do trabalho assalariado. Posto que nos
Devemos ressaltar, ainda, que, mesmo após a grande estados do sul a economia era agroexportadora e a mão
expansão territorial garantida pelos Estados Unidos de obra predominante era a escrava negra, os sulistas
durante o século XIX, estes continuaram expandindo eram contrários à abolição, o que caracterizou mais um
suas fronteiras, exercendo um forte imperialismo, conflito de interesses dentro de um país claramente
principalmente na América do Norte e na América Central. dividido politicamente.
Apesar de o México ter sido o país mais prejudicado
Como as leis eram criadas pelo Congresso dos Estados
territorialmente, devido à sua proximidade com os
Unidos, formado por representantes do norte e do sul,
Estados Unidos, outras nações, como Cuba e Porto Rico,
surgiu um novo problema, a questão da expansão para o
sofreram intervenções militares por parte dos estadunidenses,
oeste. À medida que as terras a oeste iam sendo incorporadas
que, principalmente no final do século XIX, adotaram essa
aos Estados Unidos e ocupadas, estas se tornavam estados.
tática militar para viabilizar seus interesses econômicos.
Havia, então, a preocupação por parte do norte e do sul se
Essa política de intervenção, que afetou toda a América e
esses novos estados seriam abolicionistas ou escravistas.
favoreceu o imperialismo estadunidense, ficou conhecida
A fim de manter o equilíbrio, um dos mecanismos adotados
como Big Stick.
foi o Acordo do Missouri (1820), determinando que todo
estado surgido acima do paralelo de 36º 30’ deveria ser
GUERRA CIVIL AMERICANA abolicionista, e os estados surgidos abaixo desse paralelo
deveriam ser escravistas. Como esse paralelo corta o
(1861-1865) território dos Estados Unidos quase ao meio, pretendia-se,
A Guerra Civil americana, também conhecida como Guerra com isso, manter a harmonia entre abolicionistas e
de Secessão, foi um dos eventos mais importantes para o escravistas no Congresso.
desenvolvimento dos Estados Unidos, pois, apesar de ter
COLÔNIAS INGLESAS
deixado um saldo de mais de seiscentos mil mortos e de
REGIÃO DE
ter destruído grande parte da produção de algodão do sul, OREGON
Área da disputa VT.
o conflito contribuiu para o avanço das forças produtivas britânico-americana TERRITÓRIO N.H.
MASS.
DESORGANIZADO TERR. N.Y.
capitalistas no país. Para compreender melhor o conflito MICHIGAN R.I.
PA. CONN.
deflagrado no século XIX, entretanto, é necessário remontar Admitido como OHIO N.J.
escravocrata ILL. IND. DEL.
o contexto do século XVIII, quando as divergências internas em 1821
MISS.
VA. MD.
KY. D.C.
entre os estadunidenses já se demonstravam latentes. 36˚ 30`
Linha do TENN.
N.C.
TERR.
Mesmo com a vitória dos colonos nas lutas pela emancipação Compromisso
Missouri
ARK S.C.
OCEANO
em 1776, a realidade do país ainda era muito heterogênea, NOVA ESPANHA
MISS. ALA. GA.
ATLÂNTICO
pois o norte, mais voltado às atividades industriais, e o sul, (México independente em 1821) LA. TERR.
FLA. N
majoritariamente agrário, divergiam em várias questões, OCEANO
PACÍFICO 0 360 km
criando um ambiente propício à eclosão de uma guerra civil.

Algumas questões foram fundamentais para o início Região fechada à Estados


escravidão pelo escravocratas
da Guerra de Secessão. A primeira delas foi a questão Compromisso de Missouri
alfandegária: o norte advogava a favor do protecionismo Estado aberto à escravidão Estados e territórios
alfandegário com o objetivo de evitar a concorrência estrangeira pelo Compromisso Missouri abolicionistas

32 Coleção Estudo
Estados Unidos no século XIX

Apesar da tentativa da imposição de um equilíbrio,


em 1849, a Califórnia, estado abaixo do paralelo, pediu a sua
entrada na União como estado abolicionista, e o pedido foi
aprovado pelo Congresso. Em 1850, foi a vez de o Novo México
mostrar a fragilidade do Acordo do Missouri. Diante
dos precedentes abertos, portanto, o governo instituiu
o Compromisso de 1850, que facultava aos novos estados
a decisão sobre a questão da escravidão e, ao mesmo tempo,
criava um clima ainda mais favorável à guerra civil.

As decisões tomadas pelo governo estadunidense,


na segunda metade do século XIX, revelavam claramente

Anthony Berger
que os estados sulistas estavam com menos influência
política do que os estados nortistas. A diferença era tanta
que, nas eleições presidenciais de 1860, o vencedor foi
Abraham Lincoln, candidato republicano que havia feito Abraham Lincoln, presidente eleito em 1860
uma campanha aberta em favor do protecionismo e do A segunda foi a Abolição da Escravidão (1863), que permitiu
abolicionismo. Não aceitando a derrota, a Carolina do Sul, a participação dos negros no Exército, além de provocar a
seguida por mais dez estados, declarou-se em secessão, fuga de milhares de negros do sul para o norte, aumentando
formando os Estados Confederados com a capital em mais ainda o contingente militar da União. Apesar da
Richmond e tendo por presidente Jefferson Davis. conquista por parte dos escravos, é importante ressaltar
que os negros tiveram de servir por mais tempo, usar armas
Diante da separação dos sulistas, Lincoln, o presidente de inferiores e ganhar menos que os soldados brancos. Assim,
fato, argumentou a favor da questão da União, o que talvez a consequência foi, ao final da guerra, um número de soldados

HISTÓRIA
tenha sido o principal elemento responsável pela guerra. negros mortos três vezes maior do que o de soldados brancos.
Lincoln dizia que a manutenção da União era mais fundamental Após os quatro anos de duração da Guerra Civil, o general
que a abolição e, de acordo com ele, se fosse necessário confederado Robert Lee se rendeu ao comandante do Exército do
manter a escravidão para manter a União, ele o faria. norte, general Ulysses Grant, em 1865. Naquele ano, portanto,
Por isso, em 1861, não aceitando a separação do sul, foi determinado o final dos combates e a reincorporação
o norte se empenhou para reincorporar os estados sulistas ao dos estados do sul aos Estados Unidos. Além de garantir a
país e, assim, iniciou-se o mais violento conflito da história recomposição dos estadunidenses, os conflitos renderam
também a morte de Abraham Lincoln, que, cinco dias antes do
dos Estados Unidos da América.
final da guerra, foi assassinado por John Booth, um ator sulista.
Perante a investida nortista, o sul levava vantagem, pois
sua população estava acostumada a atirar, a caçar e a montar.
Além disso, estava defendendo o seu próprio território, ESTADOS UNIDOS APÓS
que conhecia bem. Por outro lado, o norte tinha um A GUERRA
maior contingente populacional, algo em torno de onze
A Guerra Civil americana matou mais estadunidenses do que as
milhões a mais de pessoas, lembrando que um percentual
duas Grandes Guerras e a do Vietnã juntas – no total, foram mais
enorme do sul era composto de escravos. O norte possuía
de 600 000 pessoas. Se, por um lado, a guerra gerou uma grande
também uma melhor rede de transportes, favorecendo a
perda humana e material, ao final dos conflitos, dada a vitória do
movimentação de tropas e armas e maior autossuficiência norte, a política protecionista e industrializante foi colocada em
industrial. Tais recursos, portanto, faziam com que o sul se prática em todo o território dos Estados Unidos. Desde então,
tornasse dependente dos produtos industrializados do norte foi registrado um grande desenvolvimento industrial e
e da Europa. Dessa forma, uma das saídas adotadas pelos populacional, o incentivo à instalação de imigrantes, a ampliação
nortistas durante a guerra foi a realização de um bloqueio da malha ferroviária e a mecanização da agricultura, fatores
marítimo, o que impedia os Confederados de venderem sua fundamentais para o fortalecimento do capitalismo no país.
produção agrícola e comprarem armas junto aos europeus. No campo social, houve a aprovação da 13ª Emenda, que
ratificava a abolição da escravidão, e da 14ª Emenda, que
Durante os conflitos, Lincoln, atuando como presidente
concedia alguns direitos civis aos negros. Porém, na prática,
dos Estados Unidos, além de bloquear as vias de acesso
a situação dos negros era difícil, pois existiam leis discriminatórias
aos estados do sul, tomou duas medidas fundamentais para
em alguns estados, que chegavam mesmo a proibir o casamento
a vitória dos nortistas. A primeira foi o Homestead Act (1862), de negros com brancos. Surgiram grupos como a Ku Klux Klan,
que previa a doação de terras no oeste para quem fosse os Cavaleiros da Camélia Branca, os Cavaleiros do Sol Nascente,
viver na região por 5 anos sem utilizar mão de obra escrava; entre outros. Esses grupos, formados por brancos radicais,
com isso, houve um significativo esvaziamento da guerra e perseguiam os negros e seus aliados, promovendo linchamentos
o aumento da expansão rumo ao oeste. em grande parte dos estados do país.

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33
Frente A Módulo 19

A abolição da escravidão foi outra questão que convulsionou a


vida política dos EUA e do Brasil, no século XIX. No sul dos EUA,
a escravidão foi tão importante quanto nas regiões brasileiras
de grande lavoura. Em ambos os países, os setores escravistas
passaram a maior parte do século à procura de maneiras
de preservar essa relação de trabalho contra as restrições
gradativamente colocadas por grupos fora desses  setores.
Mas  nos EUA a abolição final foi imposta a ferro e fogo pela

Denver News / Creative Commons


vitória do norte no fim da Guerra Civil, enquanto no Brasil
a abolição resultou de uma combinação de longas campanhas
de mobilização popular, das revoltas dos próprios  escravos
e do oportunismo dos escravocratas, que, antes da abolição,
já acharam substitutos para os seus escravos, ou entre os
trabalhadores nacionais, ou entre os imigrantes estrangeiros.
Finalmente, muitos historiadores norte-americanos entendem
Membros da Ku Klux Klan durante uma cerimônia a Guerra Civil como um conflito entre duas sociedades diferentes:
a do norte, baseada nas manufaturas e caminhando rapidamente
A mais importante consequência da Guerra, no entanto, talvez
para a industrialização, e a do sul, baseada na economia agrária de
tenha sido a expansão da influência estadunidense para além
exportação e procurando expandir a área dessas lavouras. Embora
de seu território. Os Estados Unidos, após o conflito interno,
em escala bem menor, e em data bem posterior, o Brasil também
passaram a se dedicar a uma expansão ideológica, cultural,
experimentou momentos de atrito entre o setor nascente das
política e econômica que ultrapassava os seus limites territoriais.
manufaturas e o setor agrário, como nos debates sobre o nível de
Tal postura seria fundamental para as pretensões do país, que,
tarifas aduaneiras na Primeira República. É notável, entretanto, que
durante o século XX, foi hegemônico no continente americano.
a historiografia brasileira moderna em geral reconheça uma certa
complementaridade dos interesses dos industriais e dos grandes

LEITURA COMPLEMENTAR
agricultores, ao contrário da situação nos EUA no século passado.
Os paralelos entre a história dos EUA e a do Brasil, nessas
questões de separatismo, abolição e competição entre a indústria
Texto I e a agricultura, convidam a uma reflexão bem maior sobre a razão
Guerra Civil americana pela qual, no Brasil, tais questões encontraram um encaminhamento
e uma solução às vezes bastante diferente dos encontrados pelos
A Guerra Civil norte-americana (1861-1865) merece EUA, e o que isso teria a ver com as diferenças atuais entre as
a atenção do estudante brasileiro por diversos motivos. políticas, as economias e as sociedades dos dois países. Ao longo
Primeiro, foi uma guerra que marcou profundamente a evolução dessa história, que aliás não pretende fornecer mais do que uma
histórica dos Estados Unidos da América (EUA). Até essa introdução ao estudo da guerra, procuraremos levantar diversos
guerra, todos os conflitos políticos mais importantes entre as pontos de comparação específica entre os EUA e o Brasil, no século
grandes regiões norte-americanas, do norte e do sul, tinham XIX. Caberia ao leitor, entretanto, partir dessas informações para
sido resolvidos, adiados ou escamoteados entre as linhas da desenvolver as suas próprias explicações das diferenças.
Constituição de 1787, e através de processos pacíficos de
EISENBERG, Peter Louis. Guerra Civil americana.
barganha, conchavo, negociação e voto. A guerra representou
São Paulo: Brasiliense, 1982.
uma confissão de que o sistema político falhou, esgotou os seus
recursos sem encontrar uma solução. Foi uma prova de que,
mesmo numa das democracias mais antigas, houve uma época Texto II
em que somente a guerra podia superar os antagonismos políticos.
O total dos mortos ajuda a apreciar a magnitude desse A guerra dos ricos... travada pelos pobres
evento traumático para os EUA. Calcula-se que um total de
618 000 americanos combatentes morreram nos dois lados, um A Guerra de Secessão, iniciada com um ataque confederado
total que excede o de todos os mortos americanos na Primeira ao Forte – I Sumter, em abril de 1861, foi considerada como a
Guerra Mundial (1914-1918, com 125 000 mortos americanos); primeira das grandes guerras modernas. “Durante quatro longos
na Segunda Guerra Mundial (1939-1945, com 322 000 mortos anos a luta continuou, com enormes perdas de vidas de ambos
americanos), na Guerra da Coreia (1950-1953, com 55 000 os lados (620 000 mortos). Primeiro, ambos os lados recrutaram
mortos americanos) e na Guerra do Vietnã (1961-1975, com voluntários; depois, os homens eram convocados para o Exército.
57 000 mortos americanos). Isso causou profundo ressentimento, tanto no norte como no
sul. Tanto em um como em outro lado era permitido pagar
Em segundo lugar, essa guerra lembra vários aspectos da
substitutos para prestar o serviço militar. No sul havia muitas
história do Brasil, quando questões semelhantes surgiram. Para
brechas nas leis de convocação, através das quais escapavam
começar, a guerra foi uma reação a um movimento separatista.
os proprietários de grandes plantações, ou os que possuíam
O sul declarou a sua independência do norte e estabeleceu uma nova
mais de 15 escravos (isto quando a guerra tinha sido provocada
nação, os Estados Confederados da América (ECA). O norte teve de
por eles mesmos). No norte, um indivíduo convocado podia
invadir o sul e lutar por quatro anos até destruir esse separatismo.
ser isento da convocação se pagasse ao governo 300 dólares.
Da mesma forma, o governo imperial brasileiro teve de reprimir
Não se admira que muitas pessoas pobres se referissem à guerra
com armas a Confederação do Equador no Nordeste, em 1824,
como ‘a guerra dos ricos na qual lutam os pobres’.”
a República de Piratini e a República Catarinense, criadas pela
Revolução dos Farroupilhas no Rio Grande do Sul, em 1835-1845. HUBERMAN, Leo. Nós, o povo. São Paulo: Brasiliense, 1996.

34 Coleção Estudo
Estados Unidos no século XIX

EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO 03. (Fatec-SP–2010) No caso da história americana,


um dos eventos mais retratados pela memória social
é, sem dúvida, a chamada Marcha para o Oeste.
01. (UFU-MG) Entre os diversos fatores que contribuíram Mesmo antes do surgimento do cinema, esses temas
para o rápido desenvolvimento industrial e agrícola dos já faziam parte das imagens da história americana.
Estados Unidos no século XIX, podemos destacar:
A fronteira foi um tema constante dos pintores do
I. A construção das ferrovias transcontinentais, que século XIX. A imagem das caravanas de colonos e
aceleraram a conquista do oeste, atraindo mais
peregrinos, da Corrida do Ouro, dos cowboys, das
imigrantes.
estradas de ferro cruzando os desertos, dos ataques
II. A criação de um sistema bancário de âmbito nacional,
dos índios marcam a arte, a fotografia e também a
baseado no poderio econômico dos grandes bancos
cinematografia americana.
estatais de cada estado da União.
CARVALHO, Mariza Soares de. Disponível em:
III. A redução ou eliminação significativa das tarifas
aduaneiras, como forma de estimular a concorrência <http://www.historia.uff.br/primeirosescritos

da indústria local com as europeias. /files/pe02-2.pdf>. Acesso em: 29 ago. 2009.

IV. O aperfeiçoamento técnico dos transportes e das Entre os fatores que motivaram e favoreceram a Marcha
comunicações, com o desenvolvimento do telégrafo, para o Oeste, está
das ferrovias e das hidrovias. A) a possibilidade de as famílias de colonos tornarem-se
V. O afluxo de capitais europeus, investidos na proprietárias, o que também atraiu imigrantes
agricultura e nas bolsas de valores. europeus.
Assinale
B) o desejo de fugir da região litorânea afundada em
A) se apenas I e IV forem corretas. guerras com tribos indígenas fixadas ali, desde o
B) se apenas II e III forem corretas. período da colonização.

HISTÓRIA
C) se apenas III e IV forem corretas.
C) a beleza das paisagens americanas, o que atraiu
D) Se apenas I e II forem corretas.
muitos pintores e fotógrafos para aquela região.
E) se apenas I e V forem corretas.
D) o avanço da indústria cinematográfica, que encontrou
02. (UFMG) Leia este trecho de documento: no oeste o lugar perfeito para a realização de seus
Odeio-a porque impede a nossa República de influenciar filmes.
o mundo pelo exemplo da liberdade; oferece possibilidade
E) a existência de terras férteis que incentivaram a ida
aos inimigos das instituições livres de taxar-nos, com razão,
para o oeste, de agricultores que buscavam ampliar
de hipocrisia e faz com que os verdadeiros amigos da
suas plantações de algodão.
liberdade nos olhem com desconfiança. Mas, sobretudo,
porque obriga tantos entre nós, realmente bons, a uma
guerra aberta contra os princípios da liberdade civil. 04. (UFV-MG) Leia os trechos de notícias de jornais publicados
DISCURSO de Abraham Lincoln, em 1859. nos Estados Unidos no século XIX:
Nesse trecho de discurso, Abraham Lincoln, que seria eleito 1. [...] um espírito de interferência hostil [de outras nações]
presidente dos Estados Unidos no ano seguinte, faz referência para conosco, com o objetivo confesso de deformar
nossa política e prejudicar nosso poder, limitando
A) à política de segregação racial existente nos estados
do sul dos Estados Unidos, que gerou a formação nossa grandeza e impedindo a realização de nosso
de organismos voltados ao extermínio dos negros, Destino Manifesto, que é estendermo-nos sobre
à destruição de suas propriedades e a atentados o continente que a Providência fixou para o livre
constantes contra suas comunidades. desenvolvimento de nossos milhões de habitantes, que
B) à posição dos estados do sul de defesa intransigente ano após ano se multiplicam.
de tarifas protecionistas, o que levava os Estados Democratic Review
Unidos a comprometer a crença na liberdade de
mercado, numa conjuntura de predomínio do 2. A universal nação ianque pode regenerar e libertar o
capitalismo liberal. povo do México em poucos anos; e cremos que é parte
C) à questão da escravidão, que levou a uma guerra civil, de nosso destino civilizar esse belo país e capacitar
nos Estados Unidos, entre o norte, industrializado, e o seus habitantes para apreciar algumas das numerosas
sul, que lutava para preservar a mão de obra escrava vantagens e bênçãos de que dispõem.
nas suas plantações de produtos para a exportação.
New York Herald
D) à defesa, pelos imigrantes, do extermínio dos índios
nas terras conquistadas a oeste, especialmente após a Citados por AQUINO, R.S.L. et al. História das
edição do Homestead Act, visando ao desenvolvimento sociedades americanas. Rio de Janeiro:
da agricultura e da pecuária naquelas áreas. Livraria Eu e Você, 1981. p. 140-141.

Editora Bernoulli
35
Frente A Módulo 19

Quanto à história do expansionismo norte-americano no ( ) Houve uma política voltada para a expansão
século XIX, pode-se afirmar que territorial tanto no Período Colonial quanto no
A) na época, os Estados Unidos apossaram-se de várias Pós-Independência (até meados do século XIX), rumo
áreas do território mexicano sem o pagamento de ao oeste e ao sul.
indenizações e, da mesma forma, apropriaram-se ( ) A Carta Constitucional dos Estados Unidos e a
de colônias da França, da Inglaterra e da Rússia, Constituição (1824) adotada no 1º Império do Brasil
orientados por seu Destino Manifesto. seguem o modelo de Estado e de governo federalista.
B) as ações expansionistas dos Estados Unidos visavam A sequência CORRETA é
a empurrar suas fronteiras até o Oceano Pacífico e
excluir a região sul do país, porque nela predominava A) V V F V. D) F F V F.
uma economia agroexportadora que impedia o avanço B) V V V F. E) F F V V.
da industrialização.
C) F V F F.
C) o expansionismo norte-americano sobre as colônias
espanholas contou com o apoio da Santa Aliança
02. (UFU-MG) Os Estados Unidos tornaram-se uma nação
porque ela pretendia ver instauradas repúblicas,
economicamente poderosa na segunda metade do
livres e democráticas, nas metrópoles europeias
século XIX, desenvolvendo um forte mercado interno e
e em suas colônias.
uma política externa imperialista em relação ao continente
D) por força de seu Destino Manifesto, a descoberta do
americano.
ouro nas colinas californianas estreitou as relações
entre mexicanos e americanos, evitando novos Assinale a alternativa que retrata CORRETAMENTE
conflitos e disputas nas fronteiras, o que permitiu o esse contexto.
acesso dos Estados Unidos ao Oceano Pacífico. A) A Doutrina Monroe, sintetizada na afirmação
E) a imprensa dos Estados Unidos, na época, acreditava “A América para os americanos” e criada pelo grupo
que eles tinham uma predestinação: a missão de político Democrata, procurava defender os princípios
civilizar povos inferiores do continente americano de igualdade de direito à propriedade e à liberdade da
por causa de seu Destino Manifesto, ou seja, o seu Constituição, resguardando a soberania do indivíduo
domínio representava a vontade de Deus.
perante o Estado.
B) A situação dos índios e afro-americanos, nesse
05. (UFJF-MG) Sobre a história dos Estados Unidos, no contexto
contexto, foi sanada, respectivamente, pela criação
da Guerra de Secessão, aponte a afirmativa CORRETA.
de reservas mantidas pelo Estado e pela abolição da
A) A emergente burguesia industrial propunha a criação
escravidão logo após a vitória do norte na Guerra de
de uma civilização com bases mais aristocráticas, em
Secessão, incorporando-os ao mercado de trabalho
que a elite tivesse um comportamento semelhante ao
e de consumo.
da nobreza inglesa.
B) Os estados do norte eram contra o protecionismo C) A expansão territorial em direção ao oeste permitiu a
alfandegário, porque queriam importar livremente anexação de enormes faixas de terras, interiorizando
produtos manufaturados. a ocupação. O Homestead Act incentivou essa marcha,
com a distribuição gratuita de terras aos estrangeiros,
C) No sul dos EUA, concentrava-se a elite agrária
além da grande atração motivada pela Corrida do Ouro
escravista, que se opunha aos estados do norte, onde
na Califórnia.
se concentrava a elite industrial.
D) Após a Guerra de Secessão, foi abolida a escravidão D) A política externa norte-americana no século XIX foi
e houve uma significativa melhora nas condições de sustentada pelo Destino Manifesto, responsável pelo
vida dos negros, que foram beneficiados por vários desenvolvimento de áreas atrasadas no continente,
programas do governo. tais como: o México, Cuba, a Nicarágua e a região
do Canal do Panamá, incorporando-as ao mercado
E) Mesmo com a vitória dos Estados Confederados, não
houve uma reconciliação entre as elites do sul e as internacional, possibilitando a supremacia dos Estados
do norte. Unidos como potência mundial.

03. (UEL-PR) Sobre a Guerra de Secessão, é CORRETO


afirmar:
EXERCÍCIOS PROPOSTOS A) Os Estados Confederados eram os de economia
basicamente industrial e com os interesses mais
voltados para o mercado externo.
01. (UFSM-RS) A história dos Estados Unidos e a história do
Brasil possuem aproximações, semelhanças. B) A abolição da escravidão era desejada pelos nortistas,
e, quando se efetivou, enfraqueceu os sulistas.
Marque VERDADEIRA (V) na(s) frase(s) que comprova(m)
essa afirmação e FALSA (F) na(s) que não a comprova(m). C) Os sulistas venceram a guerra, e a escravidão só foi
abolida cerca de 50 anos depois.
( ) A abolição nacional da escravidão se processou na
D) Os ex-escravos se organizaram e criaram a Ku Klux
2ª metade do século XIX nos dois países.
Klan para lutarem pela igualdade social.
( ) Ideias e movimentos defenderam a soberania das
províncias ou colônias, através de propostas de E) Ela se iniciou com o assassinato do presidente Lincoln
adoção de uma Confederação. e terminou com o decreto abolicionista.

36 Coleção Estudo
Estados Unidos no século XIX

04. (UFF-RJ) A Guerra de Secessão, nos Estados Unidos da C) Refere-se à violência das práticas por meio das quais o
América, promoveu a implantação de novas bases para capitalismo foi introduzido nas “regiões selvagens” da
a nação americana, porque a vitória do norte América do Norte, tendo como resultado a transformação
radical da natureza do oeste dos Estados Unidos e o
A) desencadeou o movimento racista de oposição ao
desaparecimento de grupos indígenas da região.
desenvolvimento da modernização americana que D) Esse episódio favoreceu a construção de vias
culminou com a fundação da Ku Klux Klan. modernas de comunicação nos Estados Unidos,
B) acelerou o processo de estabelecimento do capitalismo como as linhas férreas e os telégrafos, possibilitando
no sul, permitindo a unificação de mercados, a ligação entre diversas partes do país no contexto
o desenvolvimento urbano e o melhor aproveitamento da sua industrialização.
das matérias-primas e produtos agrícolas do sul.
C) não significou a eliminação do peso político do sul
07. (UFPR–2007) Alexis de Tocqueville, um dos grandes teóricos
da democracia na América, afirma em sua obra de 1835:
que, no início do século XX, retomou sua hegemonia
econômica com a anexação do Texas. Quando comparo as repúblicas gregas e romanas com
essas repúblicas da América, as bibliotecas manuscritas
D) expôs o grande dilema americano do Destino
das primeiras e seu populacho grosseiro com os mil jornais
Manifesto e determinou a supremacia da perspectiva
que circulam nas segundas e com o povo esclarecido que
econômica agrária sobre a industrial.
as habita; quando em seguida penso em todos os esforços
E) teve consequências cruciais para os escravos do sul, que ainda são feitos para julgar uns com a ajuda dos
pois produziu uma legislação social que excluía os negros outros e prever, pelo que aconteceu há dois mil anos,
da terra, com a proibição do trabalho dos ex-escravos. o que acontecerá em nossos dias, sou tentado a queimar
meus livros, a fim de aplicar apenas idéias novas a um
05. (UFMG) Todas as alternativas apresentam aspectos da estado social tão novo.
expansão da fronteira norte-americana na segunda TOCQUEVILLE, Alexis. de. A Democracia na América.
metade do século XIX, EXCETO São Paulo: Martins Fontes, 2005. p. 355-356.
A) Desenvolvimento da indústria têxtil e metalúrgica na Com base no texto e nos conhecimentos sobre a
costa do Pacífico. formação da democracia nos Estados Unidos da América,

HISTÓRIA
B) Dizimação dos indígenas e confinamento das é CORRETO afirmar:
comunidades remanescentes. A) O “estado social tão novo” apregoado pelo autor
C) Expansão das ferrovias ligando o Vale do Mississippi r e f e r e - s e à e x i s t ê n c i a d e u m a d e m o c ra c i a
ao oeste. fundamentada nos pressupostos do Despotismo
D) Exploração de ouro, prata e outros minerais em várias Esclarecido que caracterizava o sistema político no
regiões do oeste. Antigo Regime na Europa.
B) Tocqueville sugere que, diferentemente das repúblicas
gregas e romanas, a experiência democrática
06. (UFU-MG–2006) Leia o trecho a seguir.
americana resultou na formação de uma população
Disfarçado com nomes como “A conquista do Oeste” ou grosseira e iletrada, consequência da leitura de jornais
“Vaqueiros e índios”, esse golpe final da história ocidental em vez de livros.
tem a mesma popularidade na América Latina [...] e no C) A instituição precoce da democracia liberal nos Estados
Quartier Latin de Paris, onde se podem comprar enormes Unidos foi responsável pela implementação da “missão
chapéus de vaqueiro, cordas de amarrar gado e botas civilizadora”, que possibilitou a incorporação pacífica das
de vaqueiro feitas com couro sintético do Oriente. [...] populações indígenas nativas na sociedade nacional e
Nos Estados Unidos, a platéia continua a crescer ainda assegurou a manutenção do seu modo de viver.
hoje e continua tão crédula quanto sempre em relação a D) Por considerar a democracia na América uma ruptura
ficções sobre a vitória e os adversários derrotados. Poucos histórica, Alexis de Tocqueville afirma que a democracia
compreendem ou se importam com o fato de que esse norte-americana foi um episódio original e sem
episódio final é na realidade um retrato da civilização precedentes em experiências históricas anteriores.
ocidental, tão irônico quanto trágico. E) Ao destacar o ineditismo da democracia norte-americana,
Tocqueville refere-se ao fato de a Declaração de
TURNER, Frederick. O espírito ocidental contra a natureza. Independência dos Estados Unidos (1776) ter
Rio de Janeiro: Campus, 1990. p. 257. conferido igualdade, liberdade e direitos irrestritos
No trecho apresentado, a cultura western, por exemplo, às mulheres e aos escravos.
nos filmes de faroeste, é tratada como espetáculo relativo
a um episódio considerado irônico e trágico da civilização 08. (PUC SP–2011) A expansão dos Estados Unidos em
ocidental. Em relação a tal episódio, assinale a alternativa direção ao oeste, na primeira metade do século XIX,
INCORRETA. envolveu, entre outros fatores, a
A) Refere-se a um processo de desapropriação de A) intervenção norte-americana na guerra de Independência
terras indígenas, exploração sistemática de recursos do México, da América Central e de Cuba.
B) anexação militar do Alasca, resultado de longo conflito
naturais do oeste dos Estados Unidos e extermínio
armado com a Rússia.
de populações nativas da região, que é operado,
C) Guerra de Secessão, que opôs os escravistas dos
sobretudo, na segunda metade do século XIX.
estados do sul aos abolicionistas do norte.
B) Refere-se à maneira pela qual os ingleses, no D) implantação de um sistema legal rigoroso nas áreas
momento de sua fixação nas 13 colônias, lidaram ocupadas, evitando conflitos armados na região.
com as populações indígenas da América do Norte, E) remoção indígena, transferindo comunidades indígenas
desapropriando-as e dizimando-as. que viviam a leste do Rio Mississippi para outras regiões.

Editora Bernoulli
37
Frente A Módulo 19

09. (UERJ) Do trecho, infere-se que, para Tocqueville, os norte-


americanos do seu tempo
O Compromisso do Missouri (1820) e a
delimitação entre territórios livres e escravistas A) buscavam o êxito, descurando as virtudes cívicas.
B) tinham na vida moral uma garantia de enriquecimento
Inglês
Oregon rápido.
(aberto à C) valorizavam um conceito de honra dissociado do
Grã-Bretanha 45˚
e aos Território comportamento ético.
fechado à
Estados Unidos)
12 estados D) relacionavam a conduta moral dos indivíduos com o
escravidão
não escravistas progresso econômico.
E) acreditavam que o comportamento casto perturbava
a harmonia doméstica.
36˚30`
12 estados
Espanhol escravistas 02. Tanto nos Estados Unidos como no Brasil, a política
rural estava ligada a uma certa concepção de trabalho.
Mas, enquanto a lei brasileira de 1850 dificultava a obtenção
30˚ de terra pelo trabalhador livre, o Homestead Act de 1862, nos
EUA, doava terra a todos os que desejassem nela se instalar.
COSTA, Emília Viotti. Da Monarquia à República.
Momentos decisivos. São Paulo: UNESP, 1999.
Territórios abertos à escravidão
As políticas rurais do Brasil e dos EUA no século XIX,
O motivo que levou à assinatura do Compromisso do
a partir da Lei de Terras e do Homestead Act, são muito
Missouri, apresentado graficamente, está expresso em
distintas, pois
A) controle do apoio do norte capitalista à luta
A) o Homestead Act refletiu o desejo dos EUA em atrair
abolicionista no sul.
imigrantes que contribuíssem para o desenvolvimento
B) defesa dos territórios escravocratas diante do do país, enquanto a Lei de Terras do Brasil mostrou
expansionismo capitalista do norte.
o projeto do governo monárquico para conter a
C) ampliação do comércio entre o norte manufatureiro imigração europeia para o país.
e o sul produtor de matérias-primas.
B) o Homestead Act, nos EUA, favoreceu a formação
D) manutenção do equilíbrio de poder entre representantes de minifúndios e o trabalho livre, o que pode ser
congressistas escravistas e não escravistas. contraposto à experiência brasileira, na qual a Lei
de Terras consolidou a concentração fundiária e o
10. (UFMG) Considerando-se as relações entre a América predomínio da agricultura de exportação.
Latina e os Estados Unidos a partir de meados do
C) a política rural dos EUA, evidenciada pelo Homestead
século XIX, é CORRETO afirmar que
Act, privilegiou a economia voltada para exportação,
A) a abertura do canal no estreito do Panamá possibilitou diferentemente do Brasil, que, durante o II Reinado,
o desenvolvimento de relações comerciais equilibradas vivenciou a expansão da agricultura familiar.
entre as Américas. D) o Homestead Act não tem relação com o crescimento
B) a consolidação dos Estados antilhanos e centro- industrial estadunidense no final do século XIX. Já a
americanos viabilizou o apoio constante do governo Lei de Terras brasileira influenciou negativamente a
norte-americano às democracias dessa região. formação de um sólido mercado interno em nosso país.
C) a derrota do México, na guerra com os Estados Unidos, E) os objetivos do governo estadunidense com
significou a perda de quase metade do território o Homestead Act foram atingidos mediante a
mexicano para este país. distribuição agrária e a ocupação do oeste do país,
D) a política do Big Stick, implementada pelo presidente ao passo que, no Brasil, a legislação foi tratada com
Theodore Roosevelt, visava a estreitar o diálogo indiferença pela sociedade.
diplomático entre os países americanos.

GABARITO
SEÇÃO ENEM
Fixação
01. (Enem–2009) Na década de 30 do século XIX, Tocqueville 01. A 02. C 03. A 04. E 05. C
escreveu as seguintes linhas a respeito da moralidade
nos EUA: Propostos
A opinião pública norte-americana é particularmente dura 01. B 03. B 05. A 07. D 09. D
com a falta de moral, pois esta desvia a atenção frente à
02. C 04. B 06. B 08. E 10. C
busca do bem-estar e prejudica a harmonia doméstica, que
é tão essencial ao sucesso dos negócios. Nesse sentido,
pode-se dizer que ser casto é uma questão de honra. Seção Enem
TOCQUEVILLE, A. Democracy in America. Chicago: Encyclopædia 01. D 02. B
Britannica, Inc., Great Books 44, 1990. (Adaptação).

38 Coleção Estudo
HISTÓRIA MÓDULO FRENTE

Imperialismo 20 A
Na segunda metade do século XIX, a Europa vivia
Colonialismo do Neocolonialismo do
transformações de ordem econômica e cultural que se
século XVI século XIX
fizeram sentir em outras partes do planeta. Nesse contexto,
as principais potências europeias adotaram a política Atuação América Ásia e África
imperialista, também chamada de neocolonialismo, para
suprirem suas necessidades comerciais e expandirem suas Portugal, Espanha,
Potências Europa, EUA e Japão
zonas de influência sobre o restante do mundo. Quanto às Inglaterra e França
nomenclaturas dadas a esse processo histórico, é importante
Investimentos
ressaltar que elas se referem a características distintas Busca de novas fontes
externos e regiões
observadas naquele contexto. Objetivos de riquezas e expansão
para o excedente
da fé católica
O termo neocolonialismo apresenta a possibilidade de populacional europeu
diferenciar o processo transcorrido no século XIX daquele
Mão de Escrava negra e
colonialismo desenvolvido entre os séculos XVI e XVIII, Assalariada livre
obra indígena
no contexto das Grandes Navegações. No colonialismo
característico da Idade Moderna, as principais potências Expansão Marítima 2ª Revolução
Contexto
dominadoras eram Portugal, Espanha, França, Holanda e Europeia Industrial
Inglaterra, que atuavam majoritariamente no continente
americano. As metrópoles buscavam lucrar com as suas
colônias e, para isso, incentivavam a exploração de gêneros
EXPANSÃO DA CIVILIZAÇÃO
tropicais, metais e pedras preciosas nos seus domínios.
A mão de obra predominante nas áreas de domínio foi o A dominação na Ásia e na África não se baseou somente
trabalho compulsório, variando entre a escravidão negra e em pressupostos econômicos, afinal, as nações imperialistas
a servidão indígena. precisavam justificar os motivos pelos quais seria necessária
a intervenção nas regiões a serem dominadas. Assim,
O neocolonialismo do século XIX, por sua vez, foi
uma das justificativas utilizadas foi a missão civilizadora,
comandado por nações que iam além da Europa. Esta
ideologia que defendia a superioridade do homem branco
era representada por países como a Inglaterra, a França, europeu. Segundo essa ideologia, o europeu, quando
a Bélgica, a Itália, a Alemanha, a Rússia e a Holanda. exercia seu domínio em outras regiões, estava, na verdade,
Os Estados Unidos e o Japão foram exemplos de potências levando o desenvolvimento e a civilização para esses povos
alternativas ao Velho Continente que também atuaram na supostamente inferiores. O poeta inglês Rudyard Kipling
dominação de regiões não só da América, mas também chegou a chamar a dominação imperialista de “fardo
da África e da Ásia. Os principais objetivos das nações do homem branco”, como se o imperialismo fosse uma
imperialistas compreendiam a busca por matéria-prima e obrigação penosa delegada por Deus aos europeus.
mercado consumidor para os produtos industrializados, além Teorias pseudocientíficas também foram desenvolvidas por
da busca por regiões que pudessem receber investimentos pensadores europeus para demonstrar a sua superioridade.
de capital e o excedente populacional das grandes potências. Uma delas, o darwinismo social, alegava que, assim como
A mão de obra predominante foi o trabalho assalariado, pois existe a seleção natural entre as espécies – teoria proposta
isso representava formação de mercados consumidores. por Darwin –, entre os humanos existem raças mais ou
menos desenvolvidas em meio a um processo natural.
Observe o quadro a seguir que sintetiza uma comparação
Assim, adaptando o darwinismo, essa corrente social julgava
entre o colonialismo do século XVI e o neocolonialismo que o branco, mais apto naturalmente, seria o responsável
desenvolvido no século XIX. por civilizar os demais povos.

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39
Frente A Módulo 20

Um dos defensores do darwinismo social foi o francês A solução encontrada pelos grandes capitalistas do Velho
Gobineau, que, em 1853, escreveu o Ensaio sobre Continente, portanto, foi buscar novas áreas para investir o
a desigualdade das raças, no qual desenvolveu um estudo excedente de capital europeu. Naquele momento, a África
sobre a superioridade dos nórdicos. Mais tarde, outro e a Ásia foram os continentes mais cobiçados pelas nações
darwinista social, o filósofo inglês Spencer, alegou que imperialistas, haja vista que grande parte da América havia
os indivíduos que se adaptassem melhor ao ambiente se tornado independente ainda no início do século XIX.
seriam superiores. Spencer defendia ainda que as raças A partir do início da corrida imperialista, os excedentes antes
superiores tinham o direito natural de exercer sua dominação acumulados na Europa foram redirecionados para as diversas
sobre os povos considerados inferiores. Tais valores, além colônias instaladas em solos africano e asiático. É necessário
de demonstrarem o etnocentrismo reinante, justificaram ressaltar, no entanto, que tais investimentos visavam tão
posteriormente o aparecimento de teorias racialistas, somente ao lucro das grandes corporações europeias e,
como é o caso do nazismo. dessa forma, não necessariamente produziram melhoria
das condições de vida dos povos dominados, ao contrário,
promoveram o endividamento e a dependência econômica.

CONTEXTO EUROPEU Além da inegável importância econômica da África e da


Ásia para as nações imperialistas, estas utilizaram suas
O avanço tecnológico promovido pela Segunda colônias também para abrigar o seu excedente populacional,
Revolução Industrial favoreceu a crença, na Europa, de afinal, o século XIX, marcado pelos avanços na indústria
que a felicidade humana estava próxima. Para muitas farmacêutica, destacou-se também como um período de
pessoas que vivenciaram a chamada Belle Époque, grande crescimento populacional. O excesso de pessoas
o crescimento econômico e o avanço tecnológico iriam acabar no continente europeu não interessava às potências
com o sofrimento, com as desigualdades e com as doenças da imperialistas, pois a mecanização das indústrias acabava
humanidade. De fato, o padrão de vida dos europeus sofreu gerando uma grande massa de desempregados e, logo,
uma considerável melhora, afinal, gozando de elementos como inúmeros problemas sociais.
a energia elétrica e a indústria farmacêutica, a população, em
Antes de abordar os casos específicos de colonização,
geral, passou a ter uma expectativa de vida maior.
é importante ressaltar, ainda, que a corrida imperialista
Levando em conta o crescimento institucional e econômico acabou gerando aspectos negativos para os europeus.
registrado principalmente pelas nações europeias durante o Se, por um lado, as colônias foram capazes de receptar os
século XIX, estas passaram a buscar mercados consumidores investimentos industriais europeus e o excedente populacional
e matéria-prima para as suas indústrias, que estavam em metropolitano, por outro, a corrida imperialista acabou
ampla expansão. Posto que o crescimento da economia fomentando também a exacerbação dos nacionalismos
europeia gerava acúmulo de capitais, estes eram reinvestidos europeus, afinal, buscando ampliar seus domínios, vários
na indústria, aumentando a capacidade produtiva, a países entraram em divergência durante a divisão dos
contratação de funcionários e a modernização das máquinas, continentes africano e asiático. Dessa forma, é possível
o que gerava consequências aparentemente benéficas às afirmar que o neocolonialismo favoreceu a formação de um
unidades produtivas. É necessário ressaltar, no entanto, clima tenso na geopolítica europeia, influenciando, inclusive,
que esse ciclo de reinvestimentos registrado pela economia a eclosão da Primeira Guerra Mundial em 1914.
europeia tem um limite dentro da lógica do capitalismo.
Assim, por volta da década de 70 do século XIX, o mercado
europeu se encontrava saturado de investimentos, ou seja, o
excedente de capital europeu havia se tornado um problema. IMPERIALISMO NA ÁFRICA
A região que mais sofreu com a dominação imperialista
foi a África, tanto que, no início do século XX, quase todo
o continente estava dominado pelas potências europeias.
As únicas regiões que conseguiram manter a sua
independência diante da dominação imperialista europeia
foram a Libéria e a Abissínia, atual Etiópia. A Libéria
conseguiu manter a sua autonomia, pois foi comprada
pelos Estados Unidos para que estes pudessem utilizá-la
para enviar os seus escravos negros recém-libertos.
William Henry / Creative Commons

Tal atitude, autodenominada filantrópica pelo governo


estadunidense, acabou sendo taxada de preconceituosa por
diversos humanistas mundiais, pois, apesar da liberdade
conquistada, parte dos negros foram arbitrariamente
devolvidos à África, pois não faziam parte do projeto
de construção dos Estados Unidos. A partir de então,
Vista da capital francesa, Paris, no primeiro ano do século XX. a Libéria passou a ser vista como um depositário de negros
Paris foi o maior exemplo da Belle Époque europeia, chegando a estadunidenses, posto que ostentou até 1845, quando
influenciar a arquitetura de diversas cidades em todo o mundo. conquistou a sua independência.

40 Coleção Estudo
Imperialismo

No caso da Abissínia, a dificuldade de dominar a região Dominação europeia na África


esteve relacionada à cultura de seu povo, afinal, os etíopes
eram tradicionalmente conhecidos por serem exímios EUROPA

guerreiros, o que facilitava a sua resistência diante da Tunísia


cos ÁSIA
presença dos europeus no continente africano. Além disso, rro
Ma Tripolitânia

o
a geografia da Abissínia, caracterizada pela existência

Or
Argélia

de
Egito
de grandes cadeias montanhosas, dificultava as ações

o

imperialistas em seu território. África Ocidental
Francesa Tibesti
Senegal
Apesar de a Abissínia e a Libéria não terem sido diretamente Sudão
Guiné FR
dominadas pelas potências imperialistas europeias, essas Daomé Antigo
regiões foram exceções, pois, desde o início do século Braleda Nigéria Egito
Togo Abissínia
XIX, boa parte do continente africano já sofria influência Libéria Camarões Somália
dessas grandes potências. Naquele primeiro momento, Costa do Costa África
Marfim do Oriental
no  entanto, as  ações  imperialistas eram extraoficiais, ou Congo Congo Britânica
Ouro
Colônias de Francês Belga
seja, eram exercidas por investidores particulares e não Portugal África OCEANO
Oriental ÍNDICO
diretamente pelos Estados europeus. Um exemplo disso foi Colônias da
Alemã
Espanha
a ação dos franceses que, em 1857, durante o governo de Colônias Angola
Moçambique
Napoleão III, já influenciavam o norte da África em regiões da Itália
Países independentes
como a Argélia, a Tunísia, o Senegal e parte do Congo. Ainda ou associados Madagascar
Sudoeste
no norte do continente, os franceses, em associação com Colônias Africano
da França Alemão
os ingleses, mantinham dupla administração sobre o Egito,
Colônias da Orange
onde construíram o Canal de Suez, em 1869. Projetado pelo Grã-Bretanha União
francês Ferdinand Lesseps, o canal artificial que liga o Mar Colônias da OCEANO Sul Africana
Alemanha ATLÂNTICO N
Vermelho ao Mediterrâneo era de extrema importância para Colônia 0 1 000 km

HISTÓRIA
as duas nações, afinal, ele encurtava a distância entre os belga
centros de dominação (Europa) e as áreas coloniais africanas
No continente europeu, as consequências da Conferência
e asiáticas.
de Berlim foram imediatas, pois, confirmando a situação que
Na porção sul do continente, foram os ingleses que existia antes mesmo do acordo, a maior parte do continente
comandaram as ações imperialistas, pois estes dominavam a foi concedida aos franceses e aos ingleses. Dessa forma,
região do Cabo, a de Transvaal e a de Orange, ricas em ouro criou-se um sentimento de revolta por parte das demais
nações, que, prejudicadas, passaram a pressionar a França
e em pedras preciosas. Para exercerem a sua hegemonia,
e a Inglaterra para que estas pudessem abrir mão de parte
no entanto, os ingleses tiveram de depor os holandeses que
das suas possessões. Além de criar um clima tenso entre as
já se faziam presentes na região. Dessa forma, no final do
nações europeias, é válido ressaltar que essa situação fez
século XIX, iniciou-se a Guerra dos Bôeres (1899-1902), com que alguns dos países que se sentiram desfavorecidos,
que terminou com a vitória dos ingleses, que coordenaram, como a Alemanha, chegassem a patrocinar colonos africanos
em 1910, a criação da União Sul-Africana, composta das para que estes pudessem se revoltar contra suas metrópoles,
regiões do Cabo, Transvaal, Orange e Natal. desde que estas fossem a França ou a Inglaterra.
Com base no exemplo dos franceses e dos ingleses, portanto, No continente africano, a inserção dos chamados “brancos”
é possível perceber que a África já vinha sendo dividida, gerava grandes impasses, como a segregação racial.
através da força, pelas maiores nações europeias. Mesmo Um dos maiores exemplos de situações como essa foi o regime
do Apartheid, na África do Sul, pois os ingleses que foram viver
assim, a divisão oficial das zonas coloniais se fez necessária,
naquela região, baseados nas visões etnocêntricas, julgavam-se
principalmente após o rei da Bélgica, Leopoldo II, comprar
mais capazes do que os nativos, taxados pejorativamente
a região do Congo, rica em diamantes, dos nativos. A partir de negros. O que a princípio parecia ser apenas mais uma
daquele ato, as ações sobre o continente africano deixaram, demonstração de racismo acabou se tornando um dos sistemas
nitidamente, de ser extraoficiais e, por isso, as demais nações mais absurdos de toda a História, afinal, com o passar do
europeias se mobilizaram para garantir possessões para si. tempo, os próprios descendentes dos ingleses acabaram
Dessa forma, caso não fosse feito um acordo diplomático, uma assumindo os principais postos políticos e econômicos da
guerra entre os europeus seria inevitável. colônia, o que os permitiu legitimar as ações racistas. Dessa
forma, durante quase todo o século XX, a África do Sul abrigou
Em 1885, após várias ações impositivas por parte dos uma sociedade dividida constitucionalmente entre uma minoria
europeus, ocorreu a Conferência de Berlim, formalizando privilegiada de brancos e uma maioria desfavorecida de negros.
a partilha da África. As potências europeias se reuniram
Diante da dominação europeia e da segregação racial
a pedido da Alemanha, que havia entrado na corrida
imposta, vários reinos africanos procuraram resistir, mesmo
imperialista atrasada, quando, então, assinaram um que de formas variadas. Como muitos desses reinos africanos
documento no qual cada nação reconhecia o domínio da se mostraram intransigentes com as imposições europeias,
outra sobre as regiões africanas. Decidiu-se ainda que, toda várias batalhas foram travadas entre africanos e europeus,
vez que uma potência dominasse uma nova região, deveria que, tecnologicamente superiores, na maioria das vezes se
avisar às demais, para evitar novos conflitos entre elas. sagraram vencedores e ratificaram a sua política imperialista.

Editora Bernoulli
41
Frente A Módulo 20

Reações alternativas também foram registradas, pois,


percebendo que não poderiam resistir às pressões
europeias, alguns reinos africanos optaram por se aliar aos
metropolitanos em busca de desenvolvimento tecnológico
ou mesmo de armamentos para que pudessem combater
um outro rival africano.
Independentemente da reação diante do imperialismo
europeu, o importante é ter a consciência que a partilha
da África acabou deixando marcas profundas naquele
continente, pois, ao atender os interesses europeus,
a divisão acabou segregando reinos que antes eram unidos

Artista desconhecido
entre si ou mesmo unindo reinos até então rivais. Dessa
forma, ainda hoje se registram em solo africano diversos
conflitos étnicos, originados ainda no século XIX.

IMPERIALISMO NA ÁSIA Ilustração das batalhas travadas durante a Revolta


dos Cipaios
Índia Mesmo na ilegalidade, um movimento nacionalista
composto de intelectuais indianos foi organizado para manter
O interesse inglês na Índia data do século XVIII, pois,
além do fornecimento de especiarias muito valorizadas no viva a luta pela resistência. O objetivo dos nativos era se
mercado europeu, a região representava um entreposto de apropriar de alguns aspectos culturais ingleses, para que
ligação comercial entre a Inglaterra e o Extremo Oriente. estes possibilitassem o desenvolvimento da Índia e, logo,
As pretensões da Inglaterra eram tantas que, naquele mesmo favorecessem a luta pela Independência da região. Dessa
século, os ingleses travaram com a França a Guerra dos forma, temendo uma nova rebelião em território indiano,
Sete Anos (1756-1763), oriunda da disputa entre as duas a Inglaterra permitiu, a partir de 1885, a existência de
nações pela Índia e por regiões na América do Norte. partidos políticos de representação nativa, desde que estes
Como a Inglaterra saiu vitoriosa, após a guerra, a influência fossem controlados pela Coroa britânica. O mais importante
francesa na região foi afastada, o que abriu caminho para
desses partidos foi o Partido do Congresso Nacional Indiano,
as ações imperialistas inglesas.
que mais tarde viria a ser um dos responsáveis pela
Inicialmente, o controle do comércio com a Índia ficou Independência do país.
a cargo da Companhia de Comércio das Índias Orientais, sendo
que os administradores da Companhia podiam arrecadar
impostos e exercer funções judiciais na região. Em 1858,
China
no entanto, tais prerrogativas foram transferidas para a A China, que já no século XIX era o país mais populoso do
Coroa britânica, que passou a adotar uma intervenção mundo, era comandada pela dinastia Manchu, composta de
econômica mais efetiva junto aos indianos. governantes impopulares que se mantinham no poder pelo
Mesmo com a mudança da postura dos ingleses na Índia, a uso da força. No plano econômico, os governantes chineses
dominação imperialista não acarretou grandes mudanças nos se caracterizavam por optar por um um isolamento comercial
aspectos mais tradicionais da cultura indiana. A sociedade em relação ao Ocidente, ou seja, havia uma resistência
nativa, por exemplo, continuou dividida pelo sistema de castas,
chinesa em relação ao consumo dos produtos ocidentais.
que define, de forma intransigente, as posições sociais através
A postura da China, entretanto, desagradava as nações
da hereditariedade. Tal posição era defendida pelos hindus, que
acreditavam que os membros de uma casta inferior teriam a imperialistas, que viam naquele país um grande mercado
função de aproveitar a sua vida para evoluir e, ao voltar em consumidor em potencial.
outra vida, ser incorporado em uma casta superior. Um dos países que se interessavam pela China era a
Por outro lado, no campo econômico, o artesanato Inglaterra, que, além de ser a principal potência industrial
indiano não conseguiu enfrentar a concorrência dos europeia, já produzia ópio no continente asiático, mais
industrializados têxteis ingleses, chegando a atingir níveis especificamente em território indiano. Aproveitando a
de produção mínimos. Dessa forma, a predominância dos proximidade entre as regiões, os comerciantes ingleses
produtos ingleses na Índia acabou gerando grandes taxas
contrabandeavam o ópio, recebendo produtos chineses –
de desemprego, além de submeter os nativos à pobreza,
como seda, porcelana e arroz – em troca. Tal prática trouxe
ao deslocamento populacional para as cidades manufatureiras
e à concentração em cidades portuárias. enormes problemas sociais para a China, pois o ópio é uma
droga extraída da papoula, extremamente viciante. Dado
Percebendo os aspectos negativos da presença inglesa,
o contrabando inglês, portanto, o consumo dessa droga
parte dos indianos se rebelou e, em 1857, organizou
a Revolta dos Cipaios, que exigia o fim do domínio inglês se popularizou entre os chineses e, como cada vez mais
na região. Contando com o apoio dos ingleses, dos sikhs pessoas de todas as classes sociais se tornavam dependentes
e dos guras – castas indianas –, os governantes indianos do ópio, o governo chinês se empenhou em impedir
conseguiram conter os revoltosos em 1859, o que possibilitou o consumo da droga no país, passando a combater
a retomada do controle sobre a Índia pela Inglaterra. rigorosamente o contrabando.

42 Coleção Estudo
Imperialismo

Após a emissão de sucessivos alertas chineses aos Cinco décadas mais tarde, foi a vez da eclosão da Guerra
contrabandistas, um enorme carregamento de ópio dos Boxers (1900), quando lutadores de artes marciais
(aproximadamente 20 000 caixas) foi apreendido e destruído afrontaram o domínio estrangeiro, atacando missões
pelo governo. Aquela era a desculpa que a Inglaterra precisava religiosas e diplomáticas. A força dos nativos foi tanta que
para declarar guerra à China, o que foi feito em 1840. houve a necessidade da criação de uma força multinacional
Do conflito entre os dois países, que ficou conhecido como formada por ingleses, franceses, alemães, russos, japoneses
Guerra do Ópio (1840-1842), os ingleses saíram vencedores. e estadunidenses para acabar com a revolta.
A China, por sua vez, foi obrigada a assinar os Tratados Desiguais,
assim denominados porque favoreciam somente a Inglaterra. Japão
O mais importante deles foi o Tratado de Nanquim (1842),
Até meados do século XIX, o Japão vivia um regime
segundo o qual a China era obrigada a abrir cinco dos
comparável ao semifeudal, denominado xogunato. Apesar da
seus portos às potências imperialistas, além de passar
existência de um imperador, o Micado, este não governava de
o controle da ilha de Hong Kong para a Inglaterra. Hong Kong,
fato; era a nobreza, camada mais privilegiada da sociedade,
que hoje é uma das regiões mais desenvolvidas da China, quem escolhia um dos seus iguais, muitas vezes através de
só foi devolvida aos chineses 155 anos depois (1997). guerras, para governar de acordo com os seus interesses.
Nas décadas que se seguiram aos conflitos, os ingleses O regime do xogunato se caracterizava por isolar o Japão
ainda tiveram de conter a segunda (1857) e a terceira Guerra do mundo ocidental, afinal, a singular cultura japonesa e a
do Ópio (1859-1860). Naquelas ocasiões, a Inglaterra foi distância geográfica da ilha em relação à Europa acabavam
auxiliada pela França, que, por ser uma outra potência favorecendo tal situação.
imperialista, também tinha interesse no mercado chinês. Em 1854, a Esquadra Perry (assim chamada devido ao
Dessa forma, após estancar a resistência chinesa, ingleses nome de seu comandante), que havia sido enviada pelos
e franceses promoveram o chamado break-up da China, Estados Unidos ao Japão, forçou os japoneses a abrirem
dividindo o país em áreas de influência entre as principais seus portos aos produtos estadunidenses. Aquele, portanto,
nações imperialistas europeias. era o início da dominação imperialista no país, pois, após a

HISTÓRIA
abertura dos portos aos Estados Unidos, algumas potências
europeias exigiram os mesmos privilégios, situação que fez
com que os japoneses percebessem que seu país deveria se
tornar uma potência imperialista para sair dessa condição
de submissão.
Ainda no século XIX, parte da população japonesa,
inconformada com a submissão do seu país, promoveu
uma guerra civil no país, conflito que acabou por derrubar
o xogunato. Em 1868, após o fim das batalhas, o poder
foi centralizado nas mãos do imperador Mutsuhito, que
passou a adotar um conjunto de medidas modernizantes
que caracterizaram a chamada Era Meiji e transformaram
Joseph Keppler

o Japão em uma referência imperialista na Ásia. Entre


essas  medidas, pode-se ressaltar o investimento em
educação, afinal, o  governo japonês passou a bancar o
A charge retrata as diversas potências imperialistas dominando estudo de alguns jovens no exterior, no intuito de que estes
o “dragão” chinês. voltassem para aplicar no Japão estratégias semelhantes às
adotadas pelas maiores potências da época. Houve também a
Os Estados Unidos, que já vinham atuando em uma modernização dos meios de transporte, através da aplicação
empreitada imperialista no continente americano, de recursos para a construção de ferrovias e, principalmente,
defenderam, através da Doutrina Hay, que a China, sendo para melhorias no transporte marítimo. Pode-se mencionar
um enorme mercado, deveria estar aberta a quem quisesse ainda a ampliação e a modernização do Exército japonês,
vender seus produtos lá, adotando uma política de portas que, equipado com armamentos de origem ocidental, pôde
abertas, Open Door. Dessa forma, além das maiores fazer frente a diversos povos no continente asiático e, assim,
nações imperialistas da Europa, os Estados Unidos também levar adiante o projeto expansionista japonês.
passaram a manter relações comerciais com a China.
É importante ressaltar, entretanto, que o Japão só
Mesmo com a reunião de diversas forças políticas e conseguiu promover esse conjunto de mudanças graças ao
econômicas na vida institucional chinesa, a dominação auxílio de outras nações imperialistas, com destaque para
no país não foi pacífica, pois os nativos organizaram os Estados Unidos, que pretendiam barrar o expansionismo
diversos movimentos de resistência à dominação russo no Oriente. Tal estratégia acabou sendo muito efetiva
imperialista. Um desses movimentos foi a Revolta Taiping para as pretensões dos Estados Unidos, tanto que, em 1904,
(1851-1864), encabeçada pelos camponeses, que defendiam a Rússia e o Japão travaram a Guerra Russo-Japonesa, que
a distribuição de terras e almejavam um cristianismo terminou com a derrota dos russos e com a ampliação da
sincretizado com as tradições populares chinesas. crise que levou à queda do regime czarista.

Editora Bernoulli
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Frente A Módulo 20

Um outro alvo dos japoneses foi a China, de quem o Dessa forma, tal doutrina – que não passava de uma
Japão reivindicava a região da Manchúria, rica em minério adaptação da missão civilizadora utilizada pelos europeus na
de ferro. Tal disputa acabou levando ambos os países à África e na Ásia – acabou servindo como a base ideológica
Guerra Sino-Japonesa (1894-1895), da qual o Japão saiu responsável por justificar as ações impositivas por parte dos
novamente vitorioso. Dessa forma, a China, derrotada, foi Estados Unidos no continente americano.
obrigada a entregar a Ilha de Formosa aos japoneses, além
de ser obrigada a aceitar a Independência da Coreia, região Para alguns autores, o marco inicial do imperialismo
que foi anexada pelo Japão em 1910. estadunidense foi a Doutrina Monroe (1823), lançada por
James Monroe, presidente dos Estados Unidos à época,
em defesa da Independência das Américas. Ao adotar
o slogan: “A América para os americanos”, os Estados
Unidos queriam, na verdade, afastar a interferência europeia
e garantir a América como área de influência para si. Baseados
em tal doutrina, os estadunidenses foram os primeiros
a reconhecerem a Independência do Brasil e de outros
países da América Latina, assim que estes se declararam
independentes em relação às suas antigas metrópoles,
na primeira metade do século XIX.

Quase um século mais tarde, Theodore Roosevelt,


eleito pelo Partido Republicano como presidente dos
Estados Unidos em 1901, foi empossado na Presidência
daquele país, assumindo deliberadamente a postura
imperialista dos Estados Unidos da América. A nova
posição adotada pelo presidente foi bem resumida na frase
em que ele próprio recomenda aos seus compatriotas:
Wonsoo Yi

“Fale macio, mas tenha sempre um porrete na mão”.


A chamada política do Big Stick (grande porrete, em
A charge representa a política expansionista do Japão, que português), iniciada por Roosevelt, acabou fazendo parte de
acabou por anexar a Coreia ao seu Império. um conjunto de medidas denominado Corolário Roosevelt,
Diante dos benefícios gerados pela Era Meiji e das que serviu de base para as várias intervenções que os
conquistas oriundas do imperialismo, o Japão acabou estadunidenses realizaram em regiões da América Latina e de
materializando seu desenvolvimento nos Zaibatsus, grandes outras partes do mundo ao longo de boa parte do século XX,
conglomerados industriais que passaram a caracterizar ou seja, mesmo após o final do mandato de Roosevelt.
a economia japonesa no início do século XX. O crescimento
foi tanto que, na década de 1930, às vésperas da Segunda
Guerra Mundial, o Japão tinha forças suficientes para invadir
toda a China, o que de fato ocorreu. Além disso, várias ilhas
do Sudeste Asiático foram postas sob o domínio nipônico,
o que acabou contrariando os Estados Unidos, contra quem
os japoneses lutaram durante a Segunda Guerra.

IMPERIALISMO NA AMÉRICA
Granger Collection, Nova Yorque

A América também sofreu uma dominação imperialista,


sendo os Estados Unidos a principal potência a exercer
influência no continente. O caso estadunidense é de
fácil compreensão, afinal, desde a sua Independência,
no século XVIII, os Estados Unidos possuíam uma tendência Com seu porrete na mão, Theodore Roosevelt é representado
imperialista. A própria expansão do seu território revela como “gendarme (policial) do mundo” em caricatura do começo
muito bem isso, pois, durante a chamada Marcha para o do século XX.
Oeste, os estadunidenses suprimiram os interesses dos
Um grande exemplo do imperialismo estadunidense
indígenas e dos mexicanos em nome da formação de um
país forte. Concomitantemente à expansão territorial, ocorreu em Cuba, um dos últimos países da América
os estadunidenses elaboraram a doutrina do Destino Manifesto, Espanhola a se livrar do domínio colonial. Posto que na última
um conjunto de ideias que os julgava um povo escolhido década do século XIX aquela ilha ainda estava sob o domínio
por Deus para levar o desenvolvimento a toda a América. espanhol, tal situação incomodava os Estados Unidos,

44 Coleção Estudo
Imperialismo

que possuíam grandes investimentos econômicos ligados A partir de seus conhecimentos históricos e da atenta
à produção de açúcar, aos cassinos e ao plantio de tabaco observação do trecho anterior citado da ata, assinale
em Cuba. Dessa forma, bastava um pretexto para que os a alternativa CORRETA.
estadunidenses declarassem guerra aos espanhóis, que não A) O mais importante objeto de interesse europeu na África
concordavam com a Independência cubana. era a região congolesa, em função de sua importância
estratégica na área setentrional do continente.
Tal situação ocorreu em 1898, quando o navio estadunidense
B) A garantia da liberdade comercial europeia sobre o
Maine, que se encontrava ancorado em Havana, foi
território africano somente respeitaria os interesses
misteriosamente queimado e afundado. Alguns autores
das grandes corporações já instaladas no continente.
afirmam que os Estados Unidos foram os responsáveis pelo
C) A criação de monopólios estaria proibida, evitando,
atentado, já que precisavam de uma desculpa para afrontar
assim, que as áreas ocupadas sofressem restrições
a Espanha. Fato é que os estadunidenses não hesitaram em ao comércio interno das nações africanas.
responsabilizar os espanhóis pelo ocorrido, o que levou à
D) A ocupação da África dependeu mais das condições de
eclosão da Guerra Hispano-Americana (1898).
intervenção de cada país europeu, considerando-se
Como a Espanha se encontrava em franca decadência as diversas reações das populações locais, do que de
à época, os estadunidenses não enfrentaram muitas uma prévia delimitação territorial.
dificuldades para derrotá-la. Assim, Pelo Tratado de Paris
(1898), além da Independência de Cuba, os espanhóis 02. (UFU-MG) [...] no capitalismo, em sua fase imperialista,
foram obrigados a reconhecer o domínio dos Estados Unidos a produção torna-se social, mas a apropriação continua
privada. Os meios de produção sociais permanecem
sobre Filipinas e Porto Rico, que até hoje sofrem influência
propriedade privada de um pequeno número de indivíduos.
do governo dos Estados Unidos.
O quadro geral da livre-concorrência, que se reconhece
Em 1902, foi aprovada, pelo Senado dos Estados Unidos, nominalmente, subsiste e o jugo exercido por um punhado
a Emenda Platt, que foi incorporada à Constituição cubana, dando de monopolistas sobre o restante da população torna-se
ao governo dos EUA o direito de intervir militarmente em Cuba, cem vezes mais pesado, mais sensível, mais intolerável.

HISTÓRIA
em caso de desordem interna. A Emenda também reservava LENIN, V. O imperialismo: fase superior do capitalismo.
às empresas estadunidenses a prioridade na exploração dos São Paulo: Global, 1979.
recursos naturais cubanos e concedia aos Estados Unidos o direito Com relação às questões políticas internacionais
de construir bases militares no país; Guantánamo, uma das predominantes no final do século XIX e na primeira
bases construídas, apesar de atualmente funcionar como uma metade do século XX, podemos afirmar que
prisão estadunidense, ainda hoje continua em plena atividade. I. a política imperialista apresentava razões filantrópicas
e humanitárias para se autojustificar. Entre elas,
podemos destacar a noção de progresso das

EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO civilizações e a superioridade racial, em que as “nações


adiantadas” possuíam como missão civilizadora livrar
os “nativos” de concepções religiosas equivocadas
e instituições políticas “ultrapassadas”.
01. (FMCMG–2010) Leia a seguir um trecho da ata da
Conferência de Berlim de 1885. II. na fúria imperialista por novos mercados extraeuropeus,
muitas vezes, a política colonizadora fundia-se ao
Capítulo 1. – Declaração referente à liberdade de imperialismo econômico, submetendo os territórios
comércio na Bacia do Congo, suas embocaduras e regiões conquistados sob a forma política, ideológica e
circunvizinhas, e disposições conexas. militar. Nesse sentido, é comum a utilização do termo
Artigo 1. O comércio de todas as nações gozará de neocolonialismo como sinônimo de imperialismo.
completa liberdade […] III. uma das práticas econômicas características da Era
Imperialista é a concentração da produção e do capital
Artigo 5. Qualquer potência que exerça ou venha a exercer
em torno de grandes empresas, o que rapidamente gerou
direitos de soberania nos territórios acima indicados
os monopólios industriais, eliminando a concorrência e
não poderá conceder nem monopólio nem privilégio de controlando os preços dos produtos monopolizados.
nenhuma espécie em matéria comercial. Os estrangeiros
IV. assim como o imperialismo capitalista, os revolucionários
gozarão indistintamente, quanto à proteção de suas
soviéticos buscaram sua expansão, marchando rumo à
pessoas e de seus bens, da aquisição e da transmissão Ásia, apoiando militar e financeiramente aqueles que
de suas propriedades mobiliárias e imobiliárias, e quanto abraçavam o regime socialista. A diferença fundamental
ao exercício das profissões, do mesmo tratamento e dos é que os socialistas eram contra o desenvolvimento
mesmos direitos que os nacionais. científico, optando por preservar as tradições milenares
Disponível em: <http://newton-miranda.blogspot.com/ da cultura oriental.
2008/09/ata-daconferncia-de-berlim-1885.html.>
Assinale a alternativa CORRETA.
Acesso em: 25 set. 2009.
A) Apenas II e III são corretas.
O trecho citado contraria uma versão corrente de que os
B) Apenas I, II e III são corretas.
territórios africanos foram divididos entre os signatários
da Conferência com fronteiras já pré-definidas pelos C) Apenas II, III e IV são corretas.
interesses em questão. D) Todas são corretas.

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Frente A Módulo 20

03. (UFTM-MG–2010) Assinale a alternativa que apresenta A partir da citação anterior e de seus conhecimentos
fatores que explicam as práticas imperialistas, a partir acerca do tema, examine as afirmativas a seguir.
da segunda metade do século XIX, pelas potências I. A ideia de levar a civilização aos povos considerados
capitalistas. bárbaros estava presente no discurso dos que
defendiam a política imperialista.
A) Buscava-se controlar as regiões fornecedoras de mão
de obra escrava e ampliava-se a exploração de regiões II. Aquela não era a primeira vez que o continente
africano era alvo dos interesses europeus.
mais afastadas com o objetivo de descobrir novas
fontes energéticas e comprar metais preciosos. III. Uma das preocupações dos países, como a França,
que participavam da expansão imperialista, era
B) Precisava-se de mão de obra da África e da Ásia para
justificar a ocupação dos territórios apresentando
trabalhar como colonos na zona rural das potências
os melhoramentos materiais que beneficiariam as
europeias e realizar investimentos em áreas de
populações nativas.
urbanização, como transporte, saneamento e ferrovias.
IV. Para os editores da Revue Scientifique (Revista
C) Diante da existência de capitais excedentes na Europa, Científica), civilizar consistia em retirar o continente
procuravam-se novos mercados consumidores, africano da condição de atraso em relação à Europa.
buscava-se controlar regiões produtoras de
Assinale a alternativa CORRETA.
matérias-primas e direcionar para as áreas coloniais
excedentes populacionais europeus. A) Somente a afirmativa IV está correta.

D) Em função de um crescimento econômico sem B) Somente as afirmativas II e IV estão corretas.

precedentes na Europa, os capitais excedentes C) Somente as afirmativas I e III estão corretas.


precisavam ser aplicados em áreas que necessitavam D) Somente as afirmativas I, II e III estão corretas.
de investimentos humanitários, daí a escolha da África E) Todas as afirmativas estão corretas.
e da Ásia.
E) A Europa necessitava com urgência de metais preciosos,
abundantes na África, e conflitos religiosos obrigaram os EXERCÍCIOS PROPOSTOS
governos da França e da Inglaterra a mandarem para
a Ásia parte dos religiosos mais radicais.
01. (UERJ–2011)
04. (UFOP-MG–2008) Das duas últimas décadas do século XIX
Progresso americano (1872)
até os anos que antecederam à Primeira Guerra Mundial,
ocorreu a expansão das economias capitalistas. A respeito
das consequências do imperialismo nos continentes
asiático e africano, no período indicado, assinale
a afirmativa INCORRETA.
A) Os povos asiáticos e africanos aceitaram pacificamente
as políticas implementadas pelas potências europeias
em seus países.
B) Ocorreu a desorganização das atividades econômicas
tradicionais, como a agricultura de subsistência,
o artesanato coletivista e a pecuária itinerante.
C) Na Índia, houve a decadência da indústria têxtil
artesanal, pois essa foi obrigada a comprar produtos
John Gast

industrializados da Inglaterra.
D) Ocorreu a divisão territorial da China em várias zonas Disponível em: www.askart.com
de influência europeia e norte-americana.
A tela de John Gast simboliza a difusão de progressos
materiais, como as ferrovias e o telégrafo, nos EUA, no
05. (PUC Rio–2007) [...] Nós conquistamos a África pelas
decorrer do século XIX. Essas mudanças contribuíram
armas [...] temos direito de nos glorificarmos, pois após
para a conquista de novos territórios e foram justificadas
ter destruído a pirataria no Mediterrâneo, cuja existência
pelo seguinte conjunto de ideias:
no século XIX é uma vergonha para a Europa inteira, agora
temos outra missão não menos meritória, de fazer penetrar A) Doutrina Monroe
a civilização num continente que ficou para trás [...] B) Política do Big Stick

DA INFLUÊNCIA civilizadora das ciências aplicadas às artes e às C) Política da Boa Vizinhança


indústrias. Revue Scientifique, 1889. D) Doutrina do Destino Manifesto

46 Coleção Estudo
Imperialismo

02. (UFU-MG) A ideia de modernidade foi marcante no mundo 04. (UFMG) Entre, aproximadamente, 1880 e 1914, ocorreu
na virada do século XIX para o XX, atingindo espaços a “corrida para a África”, ou seja, uma aceleração no
públicos e privados, nações e indivíduos. A esse respeito, processo de conquista desse continente por parte das
assinale a alternativa INCORRETA. potências europeias. Nesse curto período – cerca de três
A) A crença no poder do homem e da ciência sobre a décadas –, o continente africano foi quase inteiramente
natureza, a concepção de superioridade racial e o retalhado por alguns Estados europeus, que disputavam
nacionalismo sustentaram as políticas imperialistas, a primazia na formação de impérios coloniais.
nas quais o darwinismo social pregava que, assim
Considerando-se a conquista imperialista e a subsequente
como na natureza, os mais fortes conseguem
suplantar os mais fracos. colonização da África, é CORRETO afirmar que

B) A ideia de modernidade envolvia o espetacular, A) os missionários religiosos e cientistas que atuavam


o movimento, a transformação, a velocidade, o culto ao nesse continente denunciaram as ações praticadas
belo, atingindo o mundo das diversões com a invenção do pelos conquistadores, tentando deter a colonização.
cinema, o ambiente doméstico, as fábricas e as artes, tal
B) a instalação efetiva de colonos europeus se deu em
como expressavam os artistas do movimento futurista.
maior proporção nas atuais regiões da África do Sul
C) Ao clima de modernidade associava-se uma onda
e da Argélia.
crescente de nacionalismo, a exemplo da Alemanha,
unificada, industrializada, fortalecida militarmente C) os Estados dominantes reservaram para si as
e disposta a expandir seu território com o apoio de conquistas, impedindo a participação das potências
movimentos que pregavam a superioridade da raça europeias de menor expressão na divisão das terras.
germânica.
D) os europeus encontraram facilidade para estabelecer o
D) O Japão, com a Restauração Meiji, e os Estados Unidos,
domínio militar, dada a ausência de instituições políticas
tardiamente industrializados, eram nações que se
e de líderes locais capazes de organizar a resistência.

HISTÓRIA
mantinham isoladas dos progressos tecnológicos do
mundo ocidental, o que se refletia, nesses países,
respectivamente, na manutenção de tradições feudais e 05. (UFMG–2007) Na história da África, jamais se sucederam
na frágil penetração das novidades trazidas pelo cinema. tantas e tão rápidas mudanças como durante o período
entre 1880 e 1935. Na verdade, as mudanças mais
03. (UFMG) Em 1793, uma missão comercial britânica chegou importantes, mais espetaculares – e também mais
à China e conseguiu ser recebida pelo próprio imperador.
trágicas –, ocorreram num lapso de tempo bem
Os ingleses solicitavam, principalmente, autorização para
mais curto, de 1880 a 1910, marcado pela conquista
abrir uma representação diplomática em Pequim, a abertura
e ocupação de quase todo o continente africano pelos
de mais portos chineses ao comércio internacional e a
imperialistas e, depois, pela instauração do sistema
redução de tarifas alfandegárias. Em sua resposta ao rei
da Inglaterra, escreveu o imperador chinês: “Nunca demos colonial. A fase posterior a 1910 caracterizou-se
valor a artigos engenhosos, nem temos a menor necessidade essencialmente pela consolidação e exploração do
das manufaturas de seu país. Portanto, ó rei, no tocante sistema.
à tua solicitação de enviar alguém para permanecer na BOAHEN, Albert Adu. História geral da África. VII. A África sob
capital, ao mesmo tempo que não está em harmonia com os
dominação colonial, 1880-1935. São Paulo: Ática / Unesco,
regulamentos do Império Celestial, sentimos também muito
1991. p. 25.
que isso não trará nenhuma vantagem para o teu país”.
Apud SPENCE, Jonathan. Em busca da China moderna. São Considerando-se o contexto da colonização europeia da
Paulo: Companhia das Letras, 1996. p. 134. África, é CORRETO afirmar que

Essa atitude do Império Chinês estava relacionada A) a demarcação das fronteiras entre as diferentes
colônias respeitou as divisões territoriais previamente
A) ao temor dos governantes chineses de afrontar a
opinião nacionalista do país, notadamente após a existentes entre as etnias africanas.
Revolta Taiping. B) a derrota da Alemanha na Primeira Guerra implicou
B) à autossuficiência do sistema econômico imperial, que a concessão de independência aos territórios por ela
admitia receber, preferencialmente, metais preciosos colonizados, sob a proteção da ONU.
em troca de seus produtos.
C) essa colonização resultou em decréscimo da
C) à preferência que os chineses davam ao comércio
população africana, devido à intensa exploração dos
com o Império Espanhol, tradicional parceiro dos
recursos humanos e materiais.
negociantes orientais.
D) à preocupação em proteger a burguesia chinesa, que D) os Estados europeus, embora negassem oficialmente
se sentia ameaçada em relação à concorrência dos a escravidão, adotavam trabalho compulsório em
produtos ingleses. alguns territórios coloniais.

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Frente A Módulo 20

06. (FUVEST-SP–2011) África vive [...] prisioneira de um 08. (UFES)


passado inventado por outros. Pedra Assassina
COUTO, Mia. Um retrato sem moldura. In: HERNANDEZ, Leila.
O diamante é o combustível que alimenta três das
A África na sala de aula. São Paulo: Selo Negro, 2005. p.11.
mais violentas guerras africanas. [...] Nestes lugares,
A frase anterior se justifica porque
companhias mineradoras ou seus intermediários
A) os movimentos de independência na África foram
estimulam o prosseguimento dos combates fornecendo
patrocinados pelos países imperialistas, com
armas e mercenários. Em alguns casos, apoiam governos,
o objetivo de garantir a exploração econômica do
em outros dão suporte a grupos guerrilheiros.
continente.

B) os distintos povos da África preferem negar suas VEJA, 31 maio 2000.

origens étnicas e culturais, pois não há espaço, Os conflitos, aos quais se refere a matéria, estão
no mundo de hoje, para a defesa da identidade
localizados em Angola, no Congo e em Serra Leoa. Esses
cultural africana.
conflitos
C) a colonização britânica do litoral atlântico da África
provocou a definitiva associação do continente A) resultaram da partilha colonial europeia, que criou

à escravidão e sua submissão aos projetos de Estados, segundo seus interesses, sem respeitar as

hegemonia europeia no Ocidente. especificidades africanas.

D) os atuais conflitos dentro do continente são comandados B) estabeleceram-se após a Primeira Guerra Mundial,
por potências estrangeiras, interessadas em dividir quando os países africanos se aliaram aos europeus.
a África para explorar mais facilmente suas riquezas. C) não preocupam os organismos internacionais, pois
E) a maioria das divisões políticas da África definidas prejudicam áreas restritas do continente, sem
pelos colonizadores se manteve, em linhas gerais, importância econômica.
mesmo após os movimentos de independência.
D) diminuíram após a Segunda Guerra Mundial,
quando os norte-americanos se retiraram do espaço
07. (UFF-RJ) A Revolução Meiji é um evento da história do
Japão que determinou geográfico africano.

A) o processo de avanço do capitalismo internacional na E) não representam ameaça à população civil, pois

área da Ásia e o movimento de defesa de um Japão atingem apenas os governos e os revolucionários.


socialista, próximo da experiência da China.
09. (Unicamp-SP–2010) No século XIX, surgiu um novo modo
B) o movimento de defesa das tradições orientais que
de explicar as diferenças entre os povos: o racismo.
propunha a união com a China a fim de fortalecer
as áreas orientais contra o imperialismo ocidental. No entanto, os argumentos raciais encontravam muitas
dificuldades: se os arianos originaram tanto os povos
C) divisões internas das elites dirigentes decorrentes das
da Índia quanto os da Europa, o que poderia justificar o
diferentes visões com relação à cultura ocidental –
domínio dos ingleses sobre a Índia, ou a sua superioridade
os progressistas, aliados da China, e os conservadores,
aliados dos países ocidentais reconheciam que em relação aos indianos? A única resposta possível

a manutenção de uma estrutura fragmentada das parecia ser a miscigenação. Em algum momento de sua
ilhas limitava o desenvolvimento da agricultura e que história, os arianos da Índia teriam se enfraquecido ao se
a saída era a industrialização. misturarem às raças aborígenes consideradas inferiores.

D) a modernização da estrutura econômica japonesa Mas ninguém podia explicar realmente por que essa idéia
facilitou a entrada de capital estrangeiro, o processo de não foi aplicada nos dois sentidos, ou seja, por que os
urbanização e a alteração de valores, desencadeando arianos da Índia não aperfeiçoaram aquelas raças em vez
a “ocidentalização” do Japão. de se enfraquecerem.

E) a defesa da propriedade privada com a eliminação das PAGDEN, Anthony. Povos e Impérios. Rio de Janeiro:
formas feudais de organização da terra e o incentivo Objetiva, 2002. p. 188-194. (Adaptação).
às reformas agrárias vinculadas ao socialismo,
A) Segundo o texto, quais as incoerências presentes no
bem como a manutenção das tradições, mediante
o fechamento das relações com os países ocidentais pensamento racista do século XIX?

e o avanço militar sobre o Império Russo. B) O que foi o imperialismo?

48 Coleção Estudo
Imperialismo

10. (UFRJ–2010) C) das extensas áreas desérticas que dificultam a


demarcação dos limites naturais.
Rodésia

Bechuanalândia D) da natureza nômade das populações africanas,


Moçambique
especialmente aquelas oriundas da África Subsaariana.
Transvaal

Joanesburgo
E) da grande extensão longitudinal, o que demandaria
Pretória
Vereeniging
Suazilândia enormes gastos para demarcação.
Bechuanalândia
Britânica
OCEANO
Orange ÍNDICO
Natal
02. (Enem–2005) Um professor apresentou os mapas a
seguir numa aula sobre as implicações da formação das
OCEANO Colônia
ATLÂNTICO do Cabo Basutolândia fronteiras no continente africano. Com base na aula e na
observação dos mapas, os alunos fizeram três afirmativas:
N
Cidade do Cabo 0 610 I. A brutal diferença entre as fronteiras políticas e as

Natal 1839
fronteiras étnicas no continente africano aponta para a
Grande marcha
Estados dos bôeres Orange 1843
artificialidade em uma divisão com objetivo de atender
Ocupação da Grã-Bretanha Transvaal 1852
Territórios anexados apenas aos interesses da maior potência capitalista
Cidades governamentais ou controlados entre 1843 e 1899
em 1910
Diamante na época da descolonização.
Limites de República
Sul-Africana Ouro
II. As fronteiras políticas jogaram a África em uma
Atlas Historique. Paris: Hachette, 1987. p. 239. (Adaptação). situação de constante tensão ao desprezar a
A Guerra dos Bôeres (1899-1902), na África do Sul, diversidade étnica e cultural, acirrando conflitos entre

HISTÓRIA
levou a Inglaterra a mobilizar aproximadamente 450 mil tribos rivais.
soldados, trazidos de todo o seu Império. A vitória britânica
III. As fronteiras artificiais criadas no contexto do
fez com que fosse limitada a autonomia dos estados
colonialismo, após os processos de Independência,
bôeres. No entanto, o sistema eleitoral permitiu que,
terminada a guerra, os africânderes (bôeres) dominassem fizeram da África um continente marcado por

o poder político em diversas províncias. No mapa anterior, guerras civis, golpes de Estado e conflitos étnicos
pode-se observar o cenário dessa guerra e a indicação e religiosos.
geográfica de fatores a ela relacionados.
A) APRESENTE uma razão para o início dessa guerra. As fronteiras étnicas e políticas da África

B) EXPLIQUE o que permitiu aos bôeres obter o controle


Divisão política Divisão étnica
político de diversas províncias, mesmo tendo perdido
a guerra para os ingleses.

SEÇÃO ENEM
01. (Enem–2002) O continente africano em seu conjunto
apresenta 44% de suas fronteiras apoiadas em meridianos
e paralelos; 30% por linhas retas e arqueadas, e apenas
26% se referem a limites naturais que geralmente coincidem
com os de locais de habitação dos grupos étnicos.
Atualidades / Vestibular 2005, 1º sem, Abril, p. 68.
MARTIN, A. R. Fronteiras e Nações. São Paulo: Contexto, 1998.
É verdadeiro apenas o que se afirma em
Diferentemente do continente americano, onde quase
que a totalidade das fronteiras obedece a limites naturais, A) I.
a África apresenta as características citadas em
B) II.
virtude, principalmente,
A) da sua recente demarcação, que contou com técnicas C) III.
cartográficas antes desconhecidas.
D) I e II.
B) dos interesses de países europeus preocupados com
a partilha dos seus recursos naturais. E) II e III.

Editora Bernoulli
49
Frente A Módulo 20

03. O Canal do Panamá uniu os oceanos Atlântico e Pacífico,


facilitando o transporte de mercadorias e reafirmando o 09. A) O texto apresentado pela questão alega
poder norte-americano sobre a região. que os ingleses e os indianos descenderiam
de um mesmo povo, os indo-europeus,
JUNQUEIRA, Mary Anne. Estados Unidos: a consolidação da
nação. São Paulo: Contexto, 2001. denominados arianos. Assim, qualquer tipo
de dominação inglesa na Índia, como aquela
que ocorria no século XIX, seria incoerente
e  injustificável. O  texto ainda questiona o
desenvolvimento de ambas as civilizações,
afinal, para o autor, não há uma justificativa
concreta que revele os motivos pelos quais
os arianos da Índia não se desenvolveram
tanto quanto os ingleses.

B) O imperialismo, ou neocolonialismo, foi a


corrida dos Estados europeus para garantir
colônias ou mesmo zonas de influência
principalmente nos continentes africano e
asiático. As regiões dominadas, de acordo
com o viés imperialista, seriam capazes
Disponível em: <http://sdc.eu>. Acesso em: 13 out. 2010. de consumir os produtos industrializados
europeus, fornecer as matérias-primas
A imagem e o texto anterior referem-se à construção
necessárias à produção, abrigar o contingente
do Canal do Panamá, obra almejada pelos Estados
populacional das nações dominantes e ainda
Unidos, que aliaram as suas necessidades comerciais
aos seus anseios expansionistas. Para que obtivessem receber reinvestimentos oriundos dos lucros
o seu controle, entretanto, os estadunidenses apoiaram gerados pela Revolução Industrial.
a Independência do Panamá, que à época integrava 10. A) Desde o início do século XIX, a região que
a  Grã-Colômbia. Em  contrapartida, o alto comando de
hoje corresponde à África do Sul era ocupada
Washington exigiu que a zona do Canal do Panamá
por holandeses, que viam nas riquezas
permanecesse sob controle dos EUA de 1904 até o
minerais da região uma grande possibilidade
Reveillon do ano 2000. A ação dos Estados Unidos
de enriquecimento. Devido ao seu poderio
no Panamá reflete uma faceta das suas relações
internacionais do século XX, marcada sobretudo pela econômico e militar, no entanto, a Inglaterra
conquistou várias colônias na África ao final
A) imposição dos interesses da Casa Branca no Caribe das decisões da Conferência de Berlim, entre
e na América Central, desde que ela não interferisse elas a região ocupada pelos holandeses.
na soberania dos nativos. Assim, dado o impasse entre os holandeses,
B) difusão do projeto político-institucional estadunidense também chamados de bôeres, que já
pela América Latina, vista como uma área a ser ocupavam a região e eram os detentores
dominada, mesmo que militarmente. legais da mesma, houve o início de uma
C) constituição de alianças, garantindo a Independência dos guerra entre a Inglaterra e a Holanda.
países latino-americanos de forma legal e diplomática.
B) A partir das informações do texto e de
D) parceria dos EUA com as maiores potências
outros conhecimentos sobre o assunto,
europeias no intuito de imperar sobre as nações
é possível afirmar que, mesmo perdendo
subdesenvolvidas da América Latina.
a guerra, os holandeses ainda conseguiram
E) aplicação de capitais nos países recém-independentes, manter certa influência política nas regiões
para que estes compartilhassem o seu desenvolvimento
próximas à África do Sul. Tal conquista só
com os estadunidenses.
foi possível porque os bôeres, em grande
número no continente africano, criaram
dispositivos legais que privavam os nativos

GABARITO do direito de votar. Assim, os eleitores de


maioria holandesa mantinham seus iguais
no poder.
Fixação
01. D 02. B 03. C 04. A 05. E
Seção Enem
Propostos 01. B

01. D 03. B 05. D 07. D 02. E

02. D 04. B 06. E 08. A 03. B

50 Coleção Estudo
HISTÓRIA MÓDULO FRENTE

Brasil Império:
Período Regencial
13 B
Entre os anos de 1831 a 1840, o Brasil enfrentava uma ficou conhecida como Regência Trina Provisória e era
inédita situação política: a recente nação começava a ser formada por Nicolau Pereira de Campos Vergueiro, José
governada pelos próprios brasileiros. Com um atraso de Joaquim Carneiro de Campos e Francisco de Lima e Silva.
nove anos – nossa Independência data de 1822 –, o novo A primeira ação dessa regência foi readmitir o gabinete do
cenário político criou uma natural divergência nos setores da Ministério dos Brasileiros, anteriormente demitido por D. Pedro I,
elite nacional, levando a dois momentos distintos no Período além de anistiar os presos políticos que estavam detidos
Regencial: o “avanço liberal” e o “regresso conservador”. devido ao autoritarismo do imperador. Após terem sido
No primeiro período, que engloba as três primeiras regências convocados, os políticos da Assembleia Geral já estavam
(Provisória, Permanente e de padre Feijó), entre os anos de aptos a escolher a Regência Trina Permanente.
1831 a 1837, o Brasil seguiu uma linha liberal, conduzida
pelos políticos de oposição ao autoritarismo do imperador
e desejosos de uma maior descentralização do poder em REGÊNCIA TRINA PERMANENTE
favor das províncias. Porém, a fase liberal se encerra
com a Regência de Araújo Lima, em 1837, dando início à (1831-1835)
centralização do “regresso conservador”, assim classificado
A Regência Trina Permanente era composta do brigadeiro
devido aos receios, por parte da elite, de ver o Brasil ser
Francisco de Lima e Silva e dos deputados João Bráulio Munis
fragmentado pelas rebeliões regenciais e ao temor da
e José da Costa Carvalho e foi eleita pela Assembleia Geral,
radicalização das reformas, principalmente aquelas que
convocada para a escolha dos regentes e para estabelecer
pudessem ter algum caráter democrático.
os rumos políticos da nação. Apesar da presença dos três
regentes, o destaque administrativo ficou por conta do
A história regencial pode ser dividida em 4 etapas: ministro da Justiça, padre Diogo Antônio Feijó, defensor de
• Regência Trina Provisória (abril a julho de 1831) um Poder Executivo forte e independente. Sua postura se
• Regência Trina Permanente (1831-1835) refletiu nos vários conflitos entre ele e a Assembleia Geral.
• Regência Una de Padre Feijó (1835-1837)
• Regência Una de Araújo Lima (1837-1840)

REGÊNCIA TRINA PROVISÓRIA


(ABRIL A JULHO DE 1831)
Após a renúncia de D. Pedro I, o Brasil ficou sem
governante. Segundo a Constituição de 1824, na ausência
do imperador, o país deveria ser governado por uma regência
Sébastien Auguste Sisson

composta de três pessoas (trina) eleitas pela Assembleia


Brasileira, que, no momento da renúncia, estava em recesso.
A situação de vacância do poder foi solucionada por um
grupo de políticos residentes na capital, que assumiu por
um curto prazo o controle da nação. Assim, essa regência Padre Feijó, símbolo maior do avanço liberal

Editora Bernoulli
51
Frente B Módulo 13

A vontade política de padre Feijó era deter um poder D. Pedro I Regências D. Pedro II
centralizado para manter a ordem no país, haja vista a 1822-1831 1831-1840 1840-1889
instabilidade política do período. O cenário conturbado do
início da Regência pode ser primeiramente identificado pelas
Grupo Português Restauradores
distinções dos projetos defendidos após a abdicação de Partido
D. Pedro I, o que estimulava o confronto entre os interesses Conservador
Grupo Brasileiro Liberais
em jogo. O exemplo dessa diversidade política foi a substituição moderados
do modelo partidário anterior, português e brasileiro, por um Partido Liberal
Liberais
modelo regencial caracterizado pela existência de três partidos. exaltados

Organização partidária Facções políticas de longa duração


• Restauradores ou caramurus: defensores do Facções políticas de curta duração
poder do imperador conforme as determinações
Pequeno número de adeptos
presentes na Constituição de 1824. Para atingir seu
objetivo, desejavam o retorno de Pedro I ao Brasil. Grande número de adeptos

O sonho dos restauradores foi interrompido em 1834,


quando o primeiro imperador brasileiro faleceu. A diversidade de projetos, somada à ausência da
Os membros dessa agremiação originavam-se dos autoridade monárquica, foi responsável pela criação de um
setores burocratas e dos comerciantes portugueses, quadro de instabilidade que dominou as relações políticas e
que acreditavam que um governo conduzido por um sociais no Brasil. Como o compromisso das Forças Armadas
líder lusitano se encarregaria de manter os cargos e os frente aos interesses dos regentes era sempre carregado de
privilégios de cada grupo, respectivamente. A origem dúvida, padre Feijó propôs a criação de uma força militar
política dos restauradores é o antigo Partido Português. que pudesse servir de instrumento contra as insurgências
políticas e sociais existentes no período. Essa força militar
• Liberais moderados ou chimangos: buscavam
estabelecer reformas que aproximassem o Império ficou conhecida como Guarda Nacional.
Brasileiro de uma estrutura federalista que viesse
garantir uma relativa autonomia das províncias. Guarda Nacional
Porém, essa ideia não excluía o regime monárquico,
já que os moderados aceitavam a existência do Composta de cidadãos de alta renda, a nova tropa, formada
imperador, mas lutavam por uma maior divisão dos em 18 de agosto de 1831, mostrou-se um considerável
poderes e, consequentemente, por uma organização instrumento repressor. Dando o título honorário de coronel para
política com um maior grau de descentralização. parte dos fazendeiros, estes assumiam o controle de milícias
Os principais atuantes desse partido eram originários regionais, representando a força governamental disposta
do antigo Partido Brasileiro, entre os quais se a abafar revoltas. Nota-se, que graças à Guarda Nacional,
destacavam os proprietários escravocratas do criou-se o costume de chamar os fazendeiros de “coronéis”.
Sudeste, responsáveis pelo abastecimento da Corte A Guarda Nacional foi responsável por um certo enfraquecimento
carioca, garantindo uma maior influência dessa região do Exército brasileiro, pois aqueles que participassem da
na política brasileira. Como o próprio nome indica, nova força seriam dispensados dos compromissos com as
os membros desse partido não estavam dispostos tropas nacionais. Essa Guarda cumpriu um importante papel
a investir em um projeto de grandes rupturas e
controlador e, ao mesmo tempo, indicador do excessivo poder
transformações da sociedade brasileira.
das elites nacionais e da tendência de descentralização da
• Liberais exaltados, farroupilhas ou jurujubas: época. Pode-se dizer que a criação da Guarda Nacional e
partilhavam de vários projetos para o Brasil, variando sua prática cotidiana simbolizaram a transferência da função
da redução do poder real até a sua total extinção. policial do Estado para os detentores do poder local, ou seja, a
Essa diversidade era reflexo de uma composição migração da função repressora pública para setores privados.
heterogênea, social e economicamente, visto que Sua extinção só ocorreu na Primeira República, em 1918.
estavam presentes desde setores exportadores
de vários gêneros agrícolas tropicais a grupos
urbanos, como jornalistas, profissionais liberais e Código de Processo Criminal
funcionários públicos. Projetavam transformações
Durante a Regência Trina Permanente, foram realizadas
mais concretas para a nação, como a implantação
de um sistema político mais democrático e liberal. algumas mudanças no Código Criminal do país. Até o
Eram defensores do federalismo e da descentralização processo de Independência, nossa legislação penal era
administrativa, exemplificada no desejo da abolição do orientada pelas ordens portuguesas, visto que a colônia
Poder Moderador, do Senado Vitalício e do Conselho submetia-se às determinações metropolitanas. Porém,
de Estado. Alguns dos seus membros mais radicais após a Constituição de 1824, foi elaborado pelo político
chegavam a desafiar a autoridade imperial, sugerindo Bernardo Pereira de Vasconcelos o Código Criminal
a implantação de uma República e o fim da escravidão. (1830), modificado em 1832 pelo governo regencial.

52 Coleção Estudo
Brasil Império: Período Regencial

Conhecida como Código de Processo Criminal, a nova O Ato Adicional atendeu aos interesses de exaltados
legislação apresentava como novidade o alargamento do e moderados através da criação de um clima de maior
poder entregue aos juízes de paz, eleitos nas localidades pacificação política, mediante a liberalização da vida política
para o exercício do papel policial e judiciário, o que permitiu brasileira. Porém, após a instauração da Regência Una,
iniciou-se um conjunto de revoltas regionais que levaria
maior influência da elite agrária sobre as questões jurídicas
a elite brasileira a afastar-se da postura liberal, para
locais. O novo código também determinou a criação de um
voltar a impor medidas conservadoras, evitando, assim,
júri, que seria responsável por julgar crimes, e do habeas
os distúrbios locais e a ampliação das reformas democráticas,
corpus, instrumento jurídico que impede prisões arbitrárias. tão desagradáveis para a elite. No ano de 1835, enfrentando
Apesar dessa legislação descentralizadora, o ministro Feijó difícil eleição indireta, padre Feijó retornou à política
exigiu que a Assembleia ampliasse seu poder, ameaçando brasileira, eleito para chefiar a primeira Regência Una.
os deputados através da Guarda Municipal, que cercou a
câmara. Porém, viu seu plano fracassar, pois, mesmo sob
ameaça, os deputados não estavam dispostos a lhe conceder REGÊNCIA UNA DE PADRE
poder absoluto. O insucesso do golpe levou Feijó a renunciar
ao cargo de ministro da Justiça.
FEIJÓ (1835-1837)
A nova situação política gerada pela saída de Feijó Apesar das concessões liberais e da maior autonomia
possibilitou um consenso entre moderados e exaltados política das províncias, nota-se que o Brasil continuava
quanto à necessidade de se empreender uma reforma liberal vivendo um período de instabilidade. Politicamente, ocorreu
que ampliasse a autonomia das províncias e garantisse uma uma reordenação entre os partidos. Substituindo os três
experiência próxima do ideal republicano. Sendo assim, foram grupos partidários existentes, o poder político brasileiro
passou a ser disputado majoritariamente por duas facções
instauradas algumas mudanças na Constituição de 1824, que
políticas: os progressistas e os regressistas. O grupo
foram classificadas como Ato Adicional de 1834.

HISTÓRIA
dos progressistas foi formado pelos antigos membros dos
Partidos Exaltado e Moderado. Já o Partido Regressista era
Ato Adicional de 1834 composto de políticos do Partido Moderado e do Restaurador.
Este já havia desaparecido desde 1834, após a morte de
O projeto descentralizador seria a direção política a ser D. Pedro I, em Portugal, levando o partido a perder o seu
seguida pela nova lei. Como o maior símbolo do poder sentido. Os progressistas eram defensores de padre Feijó
central era o Poder Moderador, este foi suspenso durante o e lutavam pela manutenção da autonomia das províncias.
regime regencial, junto com o Conselho de Estado, principal Já os regressistas desejavam uma maior centralização do
instrumento consultivo do monarca. Visando fortalecer o poder e o fim das revoltas provinciais que começavam
poder local, o Ato Adicional criou as Assembleias Legislativas a tomar conta do país. Na medida em que padre Feijó
Provinciais, que poderiam nomear funcionários e legislar governava e demonstrava o seu caráter autoritário,
o Parlamento reduzia cada vez mais o seu apoio ao regente,
quanto à questão tributária, rompendo com o controle
ao mesmo tempo que este entrava em conflito com a Igreja
econômico exercido pelo governo imperial. Quanto ao
Católica ao defender o fim do celibato clerical. Assim, sofrendo
formato político, optou-se pela criação da Regência Una.
um enorme desgaste na condução do governo, Feijó renunciou
Apesar de o comando regencial ser exercido por uma só ao cargo de regente, dando fim à fase conhecida como
pessoa, a medida apresentou um ato descentralizador, visto “maré liberal” e permitindo a ascensão do grupo regressista,
que o regente seria escolhido por um pleito que incluía os representado pelo substituto de Feijó: Araújo Lima.
eleitores provinciais.

Outra visão... REGÊNCIA UNA DE ARAÚJO


Existe um consenso acerca do papel descentralizador
do Ato Adicional. Porém, esse não representou uma total
LIMA (1837-1840)
ruptura com a antiga ordem. O fato de que o Senado
Araújo Lima, membro do grupo regressista, assumiu
Vitalício não foi extinto, os governadores provinciais interinamente em 1837, mas sua confirmação só aconteceu
ainda eram escolhidos pelo governo central e o Poder em nova eleição em 1838. Era o início do chamado “regresso
Moderador foi suspenso, mas não suprimido, demonstra a conservador”, período em que a elite buscou frear as
persistência de traços da ordem imperial arquitetada por transformações do Brasil visando à manutenção de uma
D. Pedro I. Além disso, o Ato Adicional criou o município ordem aristocrática.
neutro do Rio de Janeiro, buscando impedir a influência Formando um novo gabinete, composto majoritariamente de
provincial fluminense nas determinações do governo regressistas, Araújo Lima criava o “Ministério das Capacidades”,
central, sediado na capital do Império. que contou com um antigo representante dos moderados, Bernardo
Pereira de Vasconcelos, conhecido por sua liderança liberal.

Editora Bernoulli
53
Frente B Módulo 13

Muitos se perguntavam: o que fazia um liberal entre os Isso explica por que os regressistas classificavam o Ato
regressistas? A questão é facilmente compreendida pelo Adicional de 1834 como “Ato da Anarquia”. Para solucionar
contexto da época. Como assinalado anteriormente, tal  questão, foi aprovada a Lei Interpretativa do Ato
havia um temor da elite quanto a uma possível Adicional em maio de 1840, responsável pelo fortalecimento
radicalização das reformas, levando a maior parte do corpo do poder central em detrimento das províncias. Essa lei reduziu
político nacional a apoiar um projeto regressista. as conquistas obtidas pela legislação de 1834, garantindo ao
Nas próprias palavras de Bernardo Pereira de Vasconcelos governo central um controle maior das estruturas judiciária,
encontraremos esse novo caminho dos liberais: policial e administrativa e das prerrogativas de nomeação de
funcionários obtidas pelas províncias, minimizando o poder
das Assembleias Provinciais e seu espaço de ação.
Fui liberal, então a liberdade era nova no país, estava nas
aspirações de todos, mas não nas leis; o poder era tudo:
fui liberal. Hoje, porém, é diverso o aspecto da sociedade:
os princípios democráticos tudo ganharam, e muito
GOLPE DA MAIORIDADE
comprometeram a sociedade, que então corria risco pelo Apesar da Lei Interpretativa, o Brasil ainda enfrentava as
poder, corre risco pela desorganização e pela anarquia. revoltas regionais. Na busca de uma solução que garantisse
Como então quis, quero hoje servi-la, quero salvá-la; o interesse dos setores elitistas, foi criado pelos liberais o
por isso sou regressista. Clube da Maioridade, que desejava antecipar a ascensão
de D. Pedro II e colocar fim nos conflitos existentes.
Assim, como liberal, Vasconcelos combateu o centralismo O grupo obteve, com o decorrer dos meses, o apoio dos
de D. Pedro I, mas passou a temer que sua luta por políticos mais conservadores, também temerosos de
descentralização estivesse levando o Brasil a uma restruturação uma possível fragmentação do Brasil, como ocorrera na
sociopolítica, desinteressante para a elite. Por isso, Bernardo América Hispânica.
Pereira afirma: “[...] eu quis parar o carro revolucionário”, O projeto do Clube da Maioridade se confirmou em junho
mostrando a indisposição dos liberais em apostar em um de 1840, quando D. Pedro II foi aclamado imperador do
caminho que ameaçasse os tradicionais mecanismos de Brasil, em um movimento histórico conhecido como Golpe
exercício do poder pelo corpo aristocrático do país. da Maioridade, já que ele assumiu o controle do país com
apenas 14 anos de idade. Encerravam-se as regências, dando
início ao mais longo governo da História do Brasil: o Segundo
Reinado, período em que o Brasil foi governado por D. Pedro II.
O fato de esse golpe ter sido desferido pelos liberais demonstra
como a diferença entre os grupos políticos no Brasil era
diminuta. Nesse sentido, é importante perceber que liberais
e conservadores, na verdade, desejavam resguardar a
manutenção das estruturas política, econômica e social do
Brasil, tendo a questão escravista, em especial, maior ênfase.
Sébastien Auguste Sisson

Bernardo Pereira de Vasconcelos. Sua passagem dos liberais


aos conservadores ilustra o movimento realizado por grande
Arnaud Pallière

parte da elite brasileira, durante o conturbado Período Regencial.

Durante o governo regressista de Araújo Lima, houve


uma tentativa de abafar as revoltas regenciais que Representação de D. Pedro II durante sua menoridade no
explodiam no Brasil. Nessa ocasião, os regressistas, que Período Regencial
já dominavam o Parlamento, culparam o Ato Adicional Cabe observar que, além das mudanças na esfera política,
de 1834 por tantas revoltas. Afinal, esse ato visava a a Regência de Araújo Lima foi responsável pela criação do
dar maior liberdade às províncias, permitindo que estas Colégio Pedro II, do Arquivo Público Nacional e do IHGB
flexibilizassem seus laços com o governo sediado no Rio de (Instituto Histórico Geográfico Brasileiro), responsável pela
Janeiro, criando certa autonomia que culminou no desejo formação dos primeiros compêndios oficiais que construíram
emancipatório, exemplificado na Farroupilha e na Cabanagem. a História Brasileira, entre outras realizações.

54 Coleção Estudo
Brasil Império: Período Regencial

REBELIÕES REGENCIAIS Liderados pelos irmãos Vinagre, por Félix Clemente


Malcher e por Eduardo Angelim, os revoltosos
conseguiram tomar o governo central do Pará, com a
Durante o Período Regencial, principalmente nas Regências ajuda da população mais simples. Porém, o movimento
de padre Feijó e Araújo Lima, o Brasil foi varrido por um apresentava divergências internas e havia a ausência
conjunto de revoltas que são genericamente classificadas de um plano para a região após a tomada do poder.
como rebeliões regenciais. Estas apresentavam uma postura Os cabanos eram excelentes no combate, mas se
mostraram ineficientes na administração do Pará. Isso
regional de resistência às determinações do governo central
explica a constante troca de administradores da província
e, ao mesmo tempo, a luta por autonomia de algumas
durante um ano e quatro meses em que permaneceram
regiões, que viviam isoladas politicamente e em condições
no poder. O primeiro a assumir o controle do governo foi
de miséria. As revoltas regenciais marcaram o momento em Félix Clemente, que, em poucos meses, foi executado pelos
que o Brasil esteve com sua unidade territorial ameaçada, próprios rebeldes. Em seguida, assumiu Francisco Vinagre,
visto que buscavam a emancipação de algumas regiões. morto em combate, sendo substituído por Eduardo Angelim,
É necessário ressaltar que, no Brasil do período, não era preso pelas forças do governo. Apesar de ser uma revolta
possível se afirmar a existência de uma efetiva identidade contrária às situações políticas ligadas ao autoritarismo da
nacional, predominando identidades regionais. As principais província e do governo central, os dois primeiros líderes
revoltas ocorridas no Período Regencial foram: da rebelião se mantiveram fiéis ao Império. Somente
o último líder, Eduardo Angelim, ligado aos interesses dos
• Revolta de Malês (Bahia, 1835) cabanos, conseguiu romper com essa postura, formando
uma República no Pará durante os poucos meses em que
• Cabanagem (Pará, 1835-1840)
esteve à frente da administração.
• Sabinada (Bahia, 1837-1838) A reação do governo central conseguiu acabar com
• Balaiada (Maranhão, 1838-1841) o movimento na capital, Belém, em maio de 1836, utilizando
uma esquadra liderada pelo brigadeiro José de Souza Soares.
• Revolução Farroupilha (Rio Grande do Sul, 1835-1845) Porém, foram necessários aproximadamente 4 anos para

HISTÓRIA
conseguir destruir a resistência ao governo central que
persistia no interior do Pará. A Cabanagem foi um movimento
Revolta de Malês (Bahia, 1835) profundamente violento; durante a rebelião, morreram
mais de 40 000 pessoas. Cabe destacar que essa revolta
A Revolta de Malês, ocorrida em Salvador, em janeiro
marcou o primeiro movimento brasileiro em que a população
de 1835, marcou uma das facetas da resistência escrava no
de menor renda conseguiu êxito por certo tempo ao ascender
Brasil. Desde o Período Colonial, os africanos transportados ao poder político de uma província.
para a colônia lutaram contra o cativeiro que o novo
continente lhes impunha. Tal luta se dava por meio dos
quilombos, das revoltas locais e das fugas, entre outras Sabinada (Bahia, 1837-1838)
formas de resistência. Porém, a revolta ocorrida na Bahia
A Bahia era, desde o final do século XVIII, uma região
em 1835 apresentou um maior grau de organização. Esse de conflitos políticos que foram retomados durante
diferencial foi obtido por uma situação especial: alguns dos a   nstabilidade do Período Regencial. A insatisfação da
escravos rebeldes vieram para o Brasil alfabetizados em sociedade baiana originou-se da convocação promovida
árabe e eram seguidores da religião muçulmana, permitindo pelo governo regencial para que a população se alistasse
uma maior identificação e consequente articulação contra nas forças de combate ao movimento da Farroupilha
as forças políticas e econômicas da sociedade, a ponto de no Sul do país. Indispostos a obedecer ao governo, os
planejarem a tomada de Salvador e do Recôncavo Baiano. revoltosos iniciaram um movimento republicano que ficou
conhecido como Sabinada, homenagem a um dos líderes
Apesar de uma relativa organização dos rebeldes, do movimento, o médico Francisco Sabino Barroso. Essa
o movimento não obteve o sucesso esperado, principalmente insurgência apresentou uma característica distinta, pois
por ter sido denunciado por ex-escravos. A repressão do a ruptura com o governo do Rio de Janeiro só ocorreria
governo foi violenta: 5 escravos condenados à morte e enquanto houvesse o governo regencial, já que os rebeldes
fuzilados em 14 de maio de 1835, além de mais de 400 manteriam o regime republicano até a aclamação de
D. Pedro II. Essa postura indica, com clareza, o respeito
presos e deportados para a África.
que a figura simbólica do imperador exercia sobre o país.

Cabanagem (Pará, 1835-1840) Tomando o poder após uma revolta no dia 7 de


novembro de 1837, os rebeldes conseguiram expulsar
O termo cabanagem é proveniente das habitações onde os representantes do governo central e proclamar a
morava a maioria da população que participou da revolta: República Bahiense, separada do restante do Brasil. Para
obter o apoio de parcela da população negra, os revoltosos
casas de palafitas, toscas e simples, cujos moradores recebiam
prometeram liberdade para os escravos nascidos no Brasil.
o nome de cabanos. Faziam parte do grupo combatentes
A República Baiana durou apenas 4 meses, já que as tropas
negros, mulatos, índios e brancos pobres. A revolta originou-se fiéis à Regência cercaram Salvador, prendendo alguns líderes
da insatisfação da população frente ao autoritarismo do do movimento. Os que sobreviveram à ação repressora do
governador da província do Pará, Lobo de Souza. governo foram anistiados por D. Pedro II no ano de 1840.

Editora Bernoulli
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Frente B Módulo 13

Balaiada (Maranhão, 1838-1841) Em 1835, data de início da revolução, Bento Gonçalves,


filho de um fazendeiro da região, passou a liderar um
A situação do Maranhão não era diferente da das outras grupo de revoltosos que conseguiu depor o presidente
regiões do Brasil, apresentando uma população de 200 mil da província do Rio Grande do Sul e assumir o governo.
pessoas que viviam em total condição de miséria, sendo mais Acabava de ser fundada a República Rio-Grandense ou
da metade da população composta de escravos. República Piratini. A revolução atingiu outras regiões,
sendo estabelecida em Santa Catarina a República Juliana,
Em 1838, um mestiço chamado Raimundo Gomes,
com o apoio da luta luta armada de Davi Canabarro e
apelidado de “Cara Preta”, invadiu a cadeia da Vila de
Giuseppe Garibaldi, futuras lideranças do processo de
Manga para libertar seu irmão. Seu ato audacioso o fez
Unificação italiana na segunda metade do século XIX.
ficar conhecido na região e obter o apoio de parcela da
Assim, grande parte do Sul do Brasil se declarava
população marginalizada. Novas investidas contra outras
independente do restante do Império Brasileiro, chegando
vilas começaram a ocorrer, agora com o objetivo de
a realizar uma Assembleia Constitucional que se inspirou
reivindicar melhorias sociais e econômicas para os excluídos.
nos princípios da Revolução Francesa e na Constituição
Raimundo Gomes obteve o apoio de um mestiço, fabricante
norte-americana.
de balaios, chamado Manuel Francisco dos Anjos Ferreira.
Este, conhecido como Balaio, por vingança familiar, resolveu
perseguir todos aqueles que não eram de sua raça e de
sua classe social. Foi graças a Manuel Francisco que o
movimento passou a se chamar Balaiada. Porém, o apoio
mais substancial ficou por conta de Cosme Bento das Chagas,
conhecido como Preto Cosme, que liderava um grupo de
3 000 escravos fugidos.

Em agosto de 1839, os rebeldes tomaram a cidade de


Caxias e enviaram um representante ao governo de São
Luís, que encaminhou um conjunto de exigências para evitar
uma batalha com o governo central. As reivindicações não
foram aceitas e o clima de impasse se tornou insustentável.
Em 7 de fevereiro do ano seguinte, o coronel Luís Alves
de Lima e Silva assumiu a presidência da província com a

Guilherme Litran
função de acabar com a revolta. Liderando vários grupos
de combate, o coronel conseguiu abafar a Balaiada, que se
mostrou desorganizada para reunir mais adeptos e para
concretizar os principais projetos do grupo. Com a chegada
de D. Pedro II ao trono em 1840, Lima e Silva concedeu Representação da Cavalaria Farroupilha
anistia aos balaios, obtendo a rendição de 2 500 pessoas. A luta pela reintegração do Sul ao Brasil foi intensa. Com a
Restavam ainda os líderes, que, resistindo na frente de função de abafar o movimento, o barão de Caxias, que após o
batalha, acabaram sendo presos e mortos, como aconteceu conflito recebeu o título de “Pacificador do Império”, conseguiu
com Preto Cosme, em setembro de 1842. obter sucesso na desarticulação da revolta. Atacando os rebeldes,
ao mesmo tempo que mantinha um canal de negociação, o barão
Revolução Farroupilha conseguiu, em 1845, assinar um acordo de paz que estabelecia
a anistia aos revoltosos (Paz de Ponche Verde). Além disso, eles
(Rio Grande do Sul, 1835-1845) obtiveram outras conquistas, destacando:

Apesar de o nome da revolta estar associado aos farrapos • o Império pagaria as dívidas do governo republicano;
dos pobres trabalhadores da região Sul do Brasil, a Revolução
• os rio-grandenses indicariam o novo presidente da
Farroupilha, ou Revolta dos Farrapos, teve a liderança
províncias;
dos grandes fazendeiros e proprietários de gado de corte.
A questão econômica por trás dessa luta se explica pelo • os oficiais republicanos seriam incorporados ao
interesse na redução dos impostos que o governo central Exército imperial nos mesmos postos, com exceção
impunha sobre a carne-seca, chamada de charque. Havia dos generais;
uma dificuldade na comercialização do produto, já que
• eram declarados livres todos os escravos que
a concorrência da região platina, que não sofria a carga
tinham lutado nas tropas republicanas (apesar dessa
de impostos do liberal Estado brasileiro, levava a uma
garantia, muitos dos ex-soldados negros foram
fragilização do comércio sulista. Além disso, o fato de
levados para o Rio de Janeiro e vendidos como
argentinos e uruguaios utilizarem mão de obra assalariada
escravos, sem que os republicanos protestassem);
proporcionava uma produção de melhor qualidade e em
maior quantidade. Além do charque, outros produtos, como • continuavam válidos todos os processos em
o couro e o sebo, enfrentavam o mesmo problema tributário. julgamento na Justiça republicana;

56 Coleção Estudo
Brasil Império: Período Regencial

• seriam garantidas a segurança individual e a propriedade;


• seriam devolvidos à província todos os prisioneiros de guerra;
• os oficiais e soldados que tivessem aderido à causa rebelde seriam anistiados e reincorporados ao Exército imperial;
• o Império demarcaria definitivamente a fronteira com o Uruguai.
Os acordos de paz também estabeleceram a tributação do charque platino, garantindo uma igualdade comercial. Nota-se
que a Farroupilha, pelo seu caráter elitista, teve um maior espaço de diálogo com o Império, sofrendo em menor grau a
repressão governamental.

LEITURA COMPLEMENTAR
Ato Adicional O secretário de Estado dos Negócios do Império as faça juntar à
Constituição, imprimir, promulgar e correr.
(Lei nº 16 – de 12 de agosto de 1834)
[Ass.] Francisco Lima e Silva, João Bráulio Moniz, Antônio Pinto
A Regência permanente, em nome do Imperador o sr. D. Pedro II,
Chichorro da Gama.
faz saber a todos os súditos do Império que a Câmara dos
Deputados, competentemente autorizada para reformar a Proclamação ao Povo sobre a Maioridade (1840)
Constituição do Império, nos termos da carta de lei de 12 de
Brasileiros!
outubro de 1832, decretou as seguintes mudanças e adições à
mesma Constituição: A Assembléia Geral Legislativa do Brasil, reconhecendo o
feliz desenvolvimento intelectual de S.M.I. o Senhor D. Pedro
Art. 10: O direito reconhecido e garantido pelo art. 71 da Constituição II, com que a Divina Providência favoreceu o império de Santa
será exercido pelas Câmaras dos distritos e pelas Assembléias que, Cruz, reconhecendo igualmente os males inerentes a governos
substituindo os Conselhos Gerais, se estabelecerão em todas as excepcionais, e presenciando o desejo unânime do povo desta capital;
províncias, com o título de Assembléias Legislativas Provinciais.

HISTÓRIA
convencida de que com este desejo está de acordo o de todo o
[...] império, pra conferir-se ao mesmo Augusto Senhor o exercício
dos poderes que, pela Constituição lhe competem; houve por
Art. 21: Os membros das Assembléias Provinciais serão invioláveis bem, por tão poderosos motivos declará-lo em maioridade, para o
pelas opiniões que emitirem no exercício de suas funções. efeito de entrar imediatamente no pleno exercício desses poderes,
[...] como Imperador Constitucional e Defensor Perpétuo do Brasil.

O Augusto Monarca acaba de prestar o juramento solene


Art. 32: Fica suprimido o Conselho de Estado de que trata o título
determinado no art. 103 da Constituição do Império.
5º, capítulo 7º da Constituição.
Brasileiros! Estão convertidas em realidades as esperanças da Nação;
Manda, portanto, a todas as autoridades, a quem o conhecimento
uma nova era apontou; seja ela de união e prosperidade. Sejamos nós
e execução das referidas mudanças e adições pertencer, que as
dignos de tão grandioso benefício.
cumpram e façam cumprir e guardar tão inteiramente como nelas
se contém. Paço da Assembléia Geral, 23 de julho de 1840.

EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO 02. (UFMG) A organização do sistema político foi objeto


de discussões e conflitos ao longo do Período Imperial
no Brasil.
01. (FGV-SP–2010) A respeito da Revolução Farroupilha Com relação ao contexto histórico do Brasil Imperial e aos
(1835-1845), a mais prolongada revolta brasileira no problemas a ele relacionados, é CORRETO afirmar que
Período Monárquico, é CORRETO afirmar:
A) a centralização do poder foi objeto de sérias disputas
A) Foi motivada por um amplo movimento abolicionista e ao longo de todo o século XIX e explica várias
pela influência das ideias republicanas e democráticas contendas internas às elites imperiais, como a
do século XIX. Rebelião Praieira.
B) A República Rio-Grandense, fundada em 1836, B) o constitucionalismo ganhou força, fazendo com que
estabelecia o voto censitário, preservando o controle o Legislativo, o Executivo e o Judiciário se tornassem
social dos latifundiários e grandes comerciantes gaúchos. independentes e harmônicos, o que atendia às queixas
C) Por iniciativa de Giuseppe Garibaldi e Davi Canabarro, dos rebeldes da Balaiada.
líderes da esquerda gaúcha, iniciou-se o primeiro C) o federalismo, de inspiração francesa e jacobina,
processo de reforma agrária em terras brasileiras. foi uma das principais bandeiras do Partido Liberal,
D) Reivindicava a antecipação da maioridade de Dom a partir da publicação do Manifesto Republicano, o que
Pedro e a adoção de uma monarquia parlamentarista, explica, entre outras, a Revolução Liberal de 1842.
nos moldes do Estado britânico. D) os movimentos de contestação armada – como a
E) Derrotados pelas forças comandadas pelo Barão de Revolução Farroupilha, a Sabinada ou a Cabanagem –
Caxias, os líderes rebeldes foram deportados para a tinham em comum a crítica liberal às tendências
Itália e para países da região do Prata. absolutistas, persistentes no governo de D. Pedro II.

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Frente B Módulo 13

03. (Fatec-SP) O Ato Adicional de 1834 foi de importância


EXERCÍCIOS PROPOSTOS
significativa para o Brasil porque

A) restaurou a paz no Império, tendo em vista o término


01. (FEI-SP) O equilíbrio federativo brasileiro vem sendo
das rebeliões no Nordeste do país.
discutido no Congresso Nacional e entre os estudiosos
B) possibilitou a tomada do poder pelos conservadores do sistema político brasileiro. A construção da federação
que formavam a aristocracia rural. brasileira foi obra da República em nosso país, já que,
C) antecipou a maioridade de D. Pedro I, evitando, assim, no Império, vivíamos um período de centralismo bastante
um golpe de Estado dos conservadores. acentuado. No entanto, mesmo naquele momento,

D) ampliou a autonomia das províncias, neutralizando a a discussão e os embates acerca da maior ou da menor

tendência centralizadora do Primeiro Reinado. centralização do poder estavam em pauta. Acerca da


questão centralização x descentralização no Período
E) limitou os poderes excessivos das Câmaras Municipais,
Imperial, é CORRETO afirmar que
que poderiam dividir a nação.
A) a defesa do ideal descentralista era feita pelo Partido
04. (UFTM-MG–2010) O caráter multiclassista expressou-se Conservador.
na própria amplitude geográfica da rebelião, que
B) o grande número de rebeliões ocorridas no Período
abrangeu, no sul do Maranhão e Piauí, os fazendeiros de
Regencial teve como causa fundamental a defesa da
gado ou bem-te-vis [...] e camadas populares e escravos
maior liberdade para as províncias.
no vale do Rio Itaperuna (Maranhão oriental). O conflito
no seio das elites regionais deflagrou o movimento, C) a maior liberdade das províncias no período do

opondo bem-te-vis aos cabanos – denominação dada aos Segundo Reinado foi obra do Conselho de Estado.

conservadores da região [...]


D) poucas foram as manifestações a favor da
VAINFAS, Ronaldo (Org.). Dicionário do Brasil Imperial. descentralização política no final do Império.

O fragmento apresenta E) a defesa do descentralismo encontrava adeptos


A) a Praieira. principalmente entre os membros da elite do Rio de
Janeiro e da Bahia.
B) a Balaiada.

C) a Sabinada.
02. (UEL-PR) No governo do regente Araújo Lima (1837-1840),
D) a Confederação do Equador.
foi aprovada a Lei de Interpretação ao Ato Adicional. Essa lei
E) as revoltas liberais de 1842.
A) modificava alguns pontos centrais da Constituição
vigente, extinguindo o Conselho de Estado, mas
05. (FUVEST-SP) Sobre a Guarda Nacional, é CORRETO
conservando o Poder Moderador e a vitaliciedade do
afirmar que ela foi criada
Senado.
A) pelo imperador, D. Pedro II, e era por ele diretamente
B) buscava a centralização como forma de enfrentar
comandada, razão pela qual se tornou a principal força
os levantes provinciais que ameaçavam a ordem
durante a Guerra do Paraguai.
estabelecida, limitando os poderes das Assembleias
B) para atuar unicamente no Sul, a fim de assegurar a
Legislativas Provinciais.
dominação do Império na Província Cisplatina.
C) criava o município neutro do Rio de Janeiro, território
C) segundo o modelo da Guarda Nacional Francesa,
independente da Província, como sede da administração
o que fez dela o braço armado de diversas rebeliões
central, propiciando a centralização política.
no Período Regencial e início do Segundo Reinado.

D) para substituir o Exército extinto durante a menoridade, D) revelava o caráter liberal dos regentes, suspendendo

o qual era composto, em sua maioria, por portugueses o exercício do Poder Moderador pelo governo, eixo da

e ameaçava restaurar os laços coloniais. centralização política no Primeiro Reinado.

E) no Período Regencial como instrumento dos setores E) restabelecia os poderes legislativos dos Conselhos
conservadores destinado a manter e restabelecer a Municipais, colocando nas mãos dos conselheiros o
ordem e a tranquilidade públicas. direito de governar as províncias.

58 Coleção Estudo
Brasil Império: Período Regencial

03. (PUC Minas / Adaptado) Com a abdicação de D. Pedro I, 06. (UFLA-MG) Leia o texto a seguir, analise e faça o que
o Brasil entra no período denominado Regencial se pede.
(1831-1840),caracterizado por, EXCETO Por mais estranho que pareça, a Agência Nacional de

A) intensa agitação social, expressa nas rebeliões Telecomunicações (ANATEL) está impondo o Global
Standart Mobile (GSM) como única tecnologia de segunda
ocorridas em vários pontos do país.
geração a ser adotada no país e bloqueando o uso do
B) diminuição da interferência britânica na economia no Code Division Multiplex Access (CDMA) em serviços de
pós-1827, época do término dos tratados comerciais terceira geração (3G). Como consequência, a agência
de 1810. cria a mais anacrônica reserva de mercado na área de
telecomunicações.
C) fortalecimento do poder político dos senhores de terra,
com a criação da Guarda Nacional. ARTIGO “Anatel recria a reserva de mercado”,
O Estado de São Paulo, 13 abr. 2003.
D) dificuldades econômicas geradas pela ausência de um
produto agrícola de exportação. O texto em questão, com base em uma situação
específica do mercado de telefonia celular do país,
E) agravamento da crise financeira devido à anterior
faz uma crítica aos procedimentos da ANATEL e, para
utilização de recursos em campanhas militares
tanto, traz de volta a chamada “Política de Reserva de
desvantajosas, como a Guerra da Cisplatina.
Mercado” criada no início da década de 70 (1974) com
o intuito de proteger a indústria de informática nacional.
04. (PUC Minas) O Período Regencial no Brasil (1830-1840) foi Tal política causou, naquele momento histórico, atritos
um dos mais agitados da história política do país. Foram com os EUA que, em retaliação, taxou produtos

HISTÓRIA
questões centrais do debate político que marcaram esse brasileiros naquele país. Historicamente, práticas de
período, EXCETO “reserva de mercado” têm contribuído para a gestação

A) a questão do grau de autonomia das províncias. de guerras. No caso específico da nossa história, qual
das guerras a seguir teria sido causada por tentativas
B) a preocupação com a unidade territorial brasileira.
de “reserva de mercado”?

C) os temas da centralização e descentralização do poder. A) A Guerras dos Mascates (1710-1712) em Pernambuco.

D) o acirramento das discussões sobre o processo B) A Guerra de Canudos (1893-1897) na Bahia.


abolicionista. C) Revolta da Vacina (1904) no Rio de Janeiro.

D) Guerra no Contestado (1912-1916) em região


05. (UFMG–2007) De 1835 a 1845, ocorreu o mais longo fronteiriça do Paraná e Santa Catarina.
conflito militar interno da história do Brasil – a chamada
E) A Revolução Farroupilha (1835-1845) no Sul do país.
Guerra dos Farrapos, ou Rebelião Farroupilha.

Considerando-se esse conflito, é CORRETO afirmar que 07. (Fatec-SP–2007) Preparado por uma comissão especial

A) o apelido dado aos revoltosos – farroupilhas – fazia liderada por Bernardo Pereira de Vasconcelos, após longos
debates na Assembleia Geral, foi promulgado, em 18 de
alusão ao caráter do movimento e de seus principais
agosto de 1834, o Ato Adicional à Constituição do Império,
líderes, oriundos das camadas populares gaúchas.
que promovia mudanças como
B) o governo central, a fim de possibilitar o final do conflito,
A) a criação de Conselhos de Estado em substituição às
atendeu a uma das principais reivindicações dos
Assembleias Legislativas Provinciais.
rebeldes: a libertação dos escravos negros da província.
B) a criação de uma Regência Trina Permanente, eleita
C) o movimento rebelde, com diferentes correntes por voto indireto, para governar até a maioridade de
internas, defendia interesses rio-grandenses – como D. Pedro de Alcântara.
diminuição de impostos e maior autonomia política. C) diminuir a autonomia que era dada às províncias.

D) os rebeldes rio-grandenses se uniram aos republicanos D) a criação do município neutro, independente da

argentinos, com o objetivo de fortalecer as tropas, província do Rio de Janeiro.

aumentar o poderio bélico e reafirmar os ideais E) a substituição da Regência Una por uma Regência
federalistas. Trina, sendo esta escolhida por meio de eleições gerais.

Editora Bernoulli
59
Frente B Módulo 13

08. (UFSM-RS) O Período Regencial no Império Brasileiro 10. (UFV-MG) Das afirmativas a seguir, referentes ao Período
(1831-1840) caracterizou-se pelo governo exercido por Regencial no Brasil, assinale a CORRETA.
representantes do Poder Legislativo que promoveram A) Ocorreram vários movimentos e revoltas que não se
A) uma estabilidade política fundamentada no centralismo enquadravam em um único propósito, pois cada um
resultava de realidades regionais específicas e de
e na ampliação das atribuições do Poder Moderador.
grupos sociais distintos.
B) a criação da Guarda Nacional em 1831, composta
B) A unidade política e territorial desse período visou
de tropas de confiança e controlada, principalmente,
à superação da crise econômica que se arrastava
pelos grandes fazendeiros, que receberam o posto de
desde o Período Colonial, tendo como consequência
comando e o título de coronéis.
o abandono da vocação agrícola brasileira.
C) a mudança da Constituição de 1824 através do Ato C) O Período Regencial foi um dos mais agitados da
Adicional de 1834, no qual a Regência Una passaria história política brasileira até então, durante o qual
a ser Trina e o poder municipal se restringiria ao surgiram vários partidos políticos que representavam
Executivo. os setores sociais revoltosos.

D) a criação das faculdades de Direito de São Paulo, D) A ausência de instabilidade política nesse período
de Olinda / Recife e de Porto Alegre, com o fim de devia-se ao rigor das políticas regenciais diante do
formar uma classe política nacional diferenciada das federalismo e da centralização administrativa.

influências recebidas nas universidades portuguesas. E) O liberalismo, marca do Período Regencial, incentivou
a participação popular e, ao mesmo tempo, fortaleceu
E) o surgimento de movimentos armados, que
o poder das oligarquias sulistas e nortistas.
contestavam a legalidade do governo regencial,
como a Revolução Pernambucana, a Cabanagem e a
11. (UNESP–2007) Sobre as revoltas do Período Regencial
Revolução Farroupilha.
(1831-1840), é CORRETO afirmar que
A) indicavam o descontentamento de diferentes
09. (UFSM-RS–2007) Sobre a história do Rio Grande do Sul,
setores sociais com as medidas de cunho liberal e
espaço fronteiriço do Brasil meridional, nos séculos XVIII
antiescravista dos regentes, expressas no Ato Adicional.
e XIX, é CORRETO afirmar:
B) algumas, como a Farroupilha (RS) e a Cabanagem (PA),
A) O objetivo da colonização açoreana, a partir de foram organizadas pelas elites locais e não conseguiram
meados do século dezoito, foi estratégico, pois mobilizar as camadas mais pobres e os escravos.
visava a estabelecer latifúndios agroexportadores C) provocavam a crise da Guarda Nacional, espécie de
que defendessem o domínio da Coroa espanhola no milícia que atuou como poder militar da Independência
Brasil meridional. do país até o início do Segundo Reinado.

B) A produção de charque, iniciada na 2a metade do D) a Revolta dos Malês (BA) e a Balaiada (MA) foram as
século XIX, com mão de obra majoritariamente livre, únicas que colocaram em risco a ordem estabelecida,

destinava-se ao mercado interno. sendo sufocadas pelo duque de Caxias.


E) expressavam o grau de instabilidade política que se
C) A parcela da elite rio-grandense, que se revoltou
seguiu à abdicação, o fortalecimento das tendências
contra o Império, na Guerra Farroupilha, defendia
federalistas e a mobilização de diferentes setores sociais.
o federalismo, pois seus interesses políticos e
econômicos não eram atendidos pelo centralismo
12. (UFC–2008) Em 07 de abril de 1831, o imperador D. Pedro
monárquico. I renunciou ao trono do Brasil, deixando como herdeiro seu
D) Entre os objetivos da imigração alemã, que se iniciou filho de apenas cinco anos de idade, o futuro D. Pedro II.
no final do século XVIII, estavam o desenvolvimento A) CITE quatro elementos que provocaram a renúncia
da agricultura monocultora, a disseminação da de D. Pedro I.
pequena propriedade e a obtenção de soldados para B) Como ficou conhecido o sistema de governo que
auxiliar na defesa do Império. vigorou no período entre a abdicação de D. Pedro I e
E) À semelhança dos imigrantes italianos que vinham a coroação de D. Pedro II?

para São Paulo e empregavam-se nas fazendas C) O que motivou a instalação desse sistema de governo?
de café, os que vinham para o Rio Grande do Sul D) CITE dois fatores que contribuíram diretamente para
destinavam-se a substituir o trabalho escravo, sem a a antecipação da coroação de D. Pedro II, por meio
possibilidade de se tornarem produtores autônomos. do “Golpe da Maioridade”.

60 Coleção Estudo
Brasil Império: Período Regencial

13. (UFJF-MG–2007) Observe o mapa:


SEÇÃO ENEM
Revoltas do Período Regencial

VENEZUELA
01. Observe o mapa a seguir:
COLÔMBIA
Cabanagem
(1833-1836)
Belém
s
ona
EQUADOR az São Luís
m
Rio A

GRÃO-PARÁ
MARANHÃO RIO Balaiada
GRANDE
Caxias CEARÁ DO NORTE (1838-1841)
PIAUÍ PARAÍBA
PERNAMBUCO
ALAGOAS
Sabinada

o
cisc
SERGIPE
(1837-1838)

ran
BAHIA

o F
PERU MATO Salvador
GROSSO GOIÁS Sã
Cachoeira
Rio

MINAS
GERAIS
OCEANO BOLÍVIA ESPÍRITO

PACÍFICO SANTO
ra

Farroupilha
a
P

(1835-1845)
io

Revoluções RIO DE
R

SÃO PAULO
JANEIRO
PARAGUAI
Cabanagem
SANTA
Balaiada CATARINA As revoltas regenciais exibiram a fragilidade política do
OCEANO
RIO GRANDE Laguna
Sabinada DO SUL Porto Alegre
ATLÂNTICO
Brasil na medida em que a própria ideia de nação passou
Farrouppilhas

a sofrer ameaça em meio aos conflitos regionais e projetos


Repúblicas

Juliana (SC) Alegrete




URUGUAI
N
Rio-Grandense 0 500 km
separatistas.
(Piratini/RS)

HISTÓRIA
A alternativa política para a instabilidade apresentada
No Período Regencial (1831-1840), uma série de conflitos exigiu o fortalecimento do poder central, visando reprimir
os movimentos revoltosos. Assinale a alternativa seguinte
surgiu em algumas províncias brasileiras. Sobre esse
que melhor representa essa alternativa.
contexto, responda ao que se pede.
A) A Constituição de 1824.
A) CITE e ANALISE duas características do contexto no
B) O Ato Adicional de 1834.
qual ocorreram esses conflitos assinalados no mapa.
C) A criação das Assembleias Provinciais.
B) ELEJA um desses conflitos e ANALISE-O.
D) A criação do município neutro do Rio de Janeiro.
E) O Golpe da Maioridade.
14. (UFRRJ) O texto a seguir refere-se ao período da política
regencial no Brasil.
02. (Enem–2010) Após a abdicação de D. Pedro I, o Brasil
A Câmara que se reunia em 1834 trazia poderes atravessou um período marcado por inúmeras crises:
constituintes para realizar a reforma constitucional as diversas forças políticas lutavam pelo poder e as
prevista na lei de 12 de outubro de 1832. De seu trabalho reivindicações populares eram por melhores condições de
resultou o Ato Adicional publicado a 12 de agosto de 1834 vida e pelo direito de participação na vida política do país.
[...] O programa de reformas já fora estabelecido na lei de Os conflitos representavam também o protesto contra a
12 de outubro, o Senado já manifestara sua concordância centralização do governo. Nesse período, ocorreu também
em relação ao mesmo e só havia em aberto questões de a expansão da cultura cafeeira e o surgimento do poderoso
grupo dos “barões do café”, para o qual era fundamental
pormenor. No decorrer das discussões, poder-se-ia fixar
a manutenção da escravidão e do tráfico negreiro.
o grau maior ou menor das autonomias provinciais, mas
já havia ficado decidido que não se adotaria a monarquia O contexto do Período Regencial foi marcado

federativa, o que marcava como que um teto à ousadia A) por revoltas populares que reclamavam a volta da
dos constituintes. monarquia.
CASTRO, P. P. de. A experiência republicana, 1831-1840. B) por várias crises e pela submissão das forças políticas
In: HOLANDA, S. B. de. História Geral da Civilização ao poder central.
Brasileira. v. 4. São Paulo: Difel, 1985. p. 37. C) pela luta entre os principais grupos políticos que
reivindicavam melhores condições de vida.
A) CITE duas reformas instituídas pelo Ato Adicional de
D) pelo governo dos chamados regentes, que promoveram
12 de agosto de 1834. a ascensão social dos “barões do café”.
B) APONTE a razão pela qual se costuma dizer que E) pela convulsão política e por novas realidades
a Regência correspondeu a uma “experiência econômicas que exigiam o reforço de velhas
republicana”. realidades sociais.

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61
Frente B Módulo 13

GABARITO 13. A) Deve-se indicar e analisar duas características


do Período Regencial. Entre elas, destacamos,
Fixação no período marcado pela abdicação de
D.  Pedro  I, pela minoridade de D.  Pedro  II e
01. B 02. A 03. D 04. B 05. E pelo exercício do poder nas mãos dos regentes:

Propostos • Governo marcado por uma instabilidade


política, no qual emergiram projetos
01. B 04. D 07. D 10. A de natureza política diversa, como
02. B 05. C 08. B 11. E o republicanismo, a presença de
03. B 06. E 09. C restauradores, os embates entre liberais
12. A) No início da década de 1830, a continuidade do e conservadores, etc.
reinado de D. Pedro I tornou-se insustentável. • Questionamento ao modelo político
A crise financeira, desencadeada pelo declínio proposto pela Constituição de 1824 com a
das exportações, pelo crescente endividamento aprovação do Ato Adicional, o debate em
externo e pelos gastos com a Guerra da
torno da autonomia provincial, a criação
Cisplatina, resultou em um aumento da inflação
da Guarda Nacional, as restrições ao
e no agravamento da pobreza. A isso somou-se
exercício do Poder Moderador, entre outros.
a insatisfação com a centralização do poder e o
autoritarismo do imperador, em especial, após B) A partir do auxílio do mapa e de seus
a outorga da Constituição de 1824, levando a conhecimentos, o aluno deve realizar a escolha
intensos conflitos entre facções favoráveis (em por uma das revoltas. Por exemplo, pode-se
sua maioria ligadas ao Partido Português) e abordar a Revolução Farroupilha, demonstrando
contrárias (em sua maioria ligadas ao Partido a liderança da elite sobre o movimento, a crítica
Brasileiro) ao imperador. O envolvimento de à centralização monárquica e a ausência de
D. Pedro I na chamada “questão sucessória” taxas sobre o charque platino. Também deve ser
também provocou forte oposição devido refletida a tomada do poder pelas revoltosos no
ao temor de uma possível recolonização do Rio Grande do Sul e Santa Catarina através das
território brasileiro. A junção desses elementos repúblicas Piratini e Juliana, respectivamente.
provocou a renúncia do imperador ao trono Por fim, pode ser exposto o desfecho do conflito
brasileiro em favor de seu filho, o  príncipe D. mediante a Paz de Poncho Verde e o caráter
Pedro de Alcântara.
conciliador deste.
B) Período Regencial.
14. A) Extinção do Conselho de Estado, substituição
C) A menoridade do herdeiro, que tinha, à época
da Regência Trina pela Regência Una, criação
da abdicação de D. Pedro I, apenas cinco
de Assembleias Legislativas nas províncias.
anos de idade, o  impossibilitou de governar.
B) A maior autonomia provincial durante o
Por esse motivo, foi estabelecido um governo
regencial, que deveria dirigir o Império até período, conferida, sobretudo, pela criação
que o príncipe atingisse a maioridade. de Assembleias Provinciais, mas também a
D) Um cenário conturbado e de forte instabilidade, renovação periódica do regente, por meio
somado a fatores ligados à disputa política entre de votação, mesmo que censitária. A eleição
regressistas (depois chamados conservadores) para regente simbolizava o deslocamento da
e progressistas (depois chamados liberais) soberania do monarca para os setores aptos a
e às revoltas e rebeliões que ocorriam nas votarem.
províncias, fomentou o Golpe da Maioridade, O governo regencial representou uma vitória
antecipando a coroação do príncipe, que foi dos liberais moderados, que avançaram
declarado imperador do Brasil, sob o título de algumas propostas descentralistas de
D.  Pedro  II, em 1840, quando tinha apenas governo. Mas, apesar de derrotados, algumas
14 anos de idade. Foram causas imediatas das propostas dos exaltados foram ao menos
disso: a ascensão dos regressistas ao poder,
parcialmente contempladas. Entre elas, está
com a Regência de Pedro Araújo Lima (1837)
a autonomia provincial. Ora, o  modelo de
e o consequente alijamento dos progressistas;
república que esses exaltados tinham na
a limitação da autonomia provincial, com a
cabeça era precisamente o modelo americano,
aprovação da Lei de Interpretação do Ato
que punha uma ênfase forte na autonomia das
Adicional (1840); a articulação entre liberais e
palacianos ou áulicos em favor da antecipação unidades federativas. Assim, apesar de não se
da maioridade do príncipe herdeiro; o tratar de uma federação, tal como a americana,
interesse dos grandes proprietários rurais em alguns autores têm falado em “experiência
restabelecer a “ordem social”, convulsionada republicana” para se referir a algumas das
pelos sucessivos levantes populares ocorridos conquistas dos exaltados republicanos durante
no Período Regencial, como a Revolta dos a Regência.
Malês (1835); o desejo das elites políticas de
evitar que a unidade territorial brasileira fosse
quebrada por movimentos separatistas, como
Seção Enem
a Farroupilha (1835) e a Sabinada (1837). 01. E 02. E

62 Coleção Estudo
HISTÓRIA MÓDULO FRENTE

Bases políticas do Brasil


Império
14 B
Finalizadas as Regências, iniciou-se o mais longo período
administrativo da história brasileira: o Segundo Reinado.
POLÍTICA DO SEGUNDO
Após o insucesso do processo descentralizador, estava clara REINADO
para a elite brasileira a necessidade de se manter o poder
centralizado nas mãos de D. Pedro II, para a perpetuação dos
privilégios baseados na posse de terras, no controle da renda
Os primeiros anos (1840-1848)
e do poder político e na manutenção do trabalho escravo. Ainda no Período Regencial, observou-se a transformação
A aristocracia afastou a ideia descentralizadora, temendo dos partidos Progressista e Regressista em Partido Liberal e
a radicalização e a fragmentação territorial observada nas Conservador, respectivamente. Nessa fase, o Partido Liberal
revoltas regenciais. O imperador simbolizava o desejo pela se preocupava em concretizar os principais pontos do Ato
unidade política do Brasil, promovendo a coalizão social Adicional, já o Partido Conservador queria restringir a capacidade
e política fundamental para manter a aristocracia agrária descentralizadora desse ato, o que conseguiu através da Lei
no poder. O caráter predominantemente latifundiário, Interpretativa. Apesar de algumas diferenças, os dois partidos
exportador e escravista do Brasil não mudaria durante o não apresentavam grandes distinções ideológicas, uma vez
longo Segundo Reinado. que, após as rebeliões regenciais, o setor político liberal
progressivamente adotou um discurso mais convergente
Analisaremos esse período sob os pontos de vista político,
ao ideário conservador. Compostos de facções políticas que
econômico, social e de suas relações externas.
buscavam o poder, não havia nas propostas partidárias o eixo
encaminhador de uma discussão que pudesse democratizar a
nação ou promover uma melhoria social. Isso é compreensível
na medida em que, para compor o quadro partidário ou para
exercer o direito de voto no Segundo Reinado, era obrigatória
uma seleção censitária responsável por impedir que os
representantes das camadas menos abastadas participassem
das discussões políticas, ao mesmo tempo que a elite não se
preocupava em promover reformas sociais.

Após a ascensão de D. Pedro II, foi instaurado um ministério


composto de liberais, conhecido como Ministério dos Irmãos,
devido à presença dos irmãos Andradas (Antônio Carlos
e Martim Francisco) e dos irmãos Cavalcanti (Antônio
Francisco e Francisco de Paula). Esse novo Ministério sofria
a oposição dos conservadores, que detinham a maioria
das cadeiras no Parlamento. Evitando um conflito maior,
D. Pedro II dissolveu o Parlamento e convocou novas eleições.
No intuito de obter maioria na votação, os liberais utilizaram
todos os instrumentos de opressão durante o processo
eleitoral, que passou a ser conhecido como “Eleições do
Félix Èmile

Cacete”. Após o fraudulento pleito, ocorreu uma enorme


pressão dos conservadores junto ao imperador, que optou
Pedro II no contexto do Golpe da Maioridade por colocá-los no poder, dissolvendo o Ministério dos Irmãos.

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63
Frente B Módulo 14

Os saquaremas retomaram o projeto de centralização do Assim, a disputa entre o Partido Liberal e o Partido Conservador
sistema administrativo através das seguintes ações: se restringia ao controle do cargo de presidente do Conselho de
Ministros, atendendo aos interesses políticos de D. Pedro II,
• reformulação do Código de Processo Criminal Penal,
que se afastava do conflito partidário para governar sem
diminuindo o poder regional; enfrentar oposições. Nota-se que, no parlamentarismo
• reorganização da Guarda Nacional, acabando com a brasileiro, diferentemente do inglês, o peso do eleitor
eleição de seus dirigentes e instituindo a nomeação; na decisão política era limitado, assumindo o imperador,
• restauração do Conselho de Estado – órgão consultivo via Poder Moderador, o protagonismo político. Da mesma
do Poder Moderador que havia sido fechado forma, essa organização política gerava um esvaziamento
do debate político nacional através da atuação arbitrária de
temporariamente pelo Ato Adicional de 1834;
Pedro II. Durante todo o Segundo Reinado, 21 gabinetes
• convocação de novas eleições, em 1º de maio ficaram sob o controle dos luzias (liberais) e 15 ficaram sob
de 1842. o controle dos saquaremas (conservadores).
O novo processo eleitoral promoveu a vitória dos
conservadores por meio dos mesmos métodos das “Eleições
do Cacete”: o uso da repressão, provocando a insatisfação
dos liberais, pois perderam o controle do gabinete e a maioria
do Parlamento. O reflexo imediato foi a eclosão de várias
revoltas nas províncias de São Paulo e Minas Gerais.

As revoltas liberais de 1842

Reprodução / O Besouro
Contestando as reformas e a exclusão do Partido Liberal
do poder, insurgentes paulistas iniciaram revoltas liberais,
dominando algumas cidades do interior, como Sorocaba,
mas sendo derrotados pelas tropas imperiais chefiadas
pelo brigadeiro Lima e Silva, responsável pela prisão de Pedro II – Diversão com a política brasileira. Publicado no
uma das lideranças do movimento, o antigo regente padre Periódico O besouro, 22 jan. 1878
Feijó. Avançando em direção a Minas Gerais, o futuro duque
de Caxias conseguiu desarticular a resistência coordenada
pelo liberal Teófilo Otoni. Demonstrando pouca organização,
Revolução Praieira
os revoltosos foram rapidamente detidos. Alguns líderes do (Pernambuco, 1848-1850)
movimento enfrentaram o exílio ao serem deportados para
Portugal, sendo anistiados apenas em 1844, com a posse No ano de 1848, em sintonia com a Primavera dos Povos
que se desenrolava na Europa, ocorreu a última revolta
de um gabinete composto de liberais.
que resistiu ao poder centralizado vindo do Rio de Janeiro:
Parte da explicação do longo período do governo de a Revolução Praieira. Um grupo de liberais pernambucanos
D. Pedro II foi sua habilidade e jogo político de alternância contestava o controle político da província pelas oligarquias
de liberais e conservadores no poder. Esse revezamento regionais, em especial a família Cavalcanti de Albuquerque,
que tinha representantes no Partido Liberal e no Partido
conseguia garantir certa tranquilidade política, evitando-se,
Conservador. Para demonstrar a insatisfação, os liberais
assim, motins e revoltas. Embora os liberais tenham formado
radicais (praieiros) fundaram o jornal Diário Novo, principal
um número maior de ministérios, os conservadores ficaram veículo de comunicação da oposição, localizado na Rua da
mais tempo no poder. Praia, em Recife.
Com o decorrer dos anos, os políticos ligados aos praieiros
O “parlamentarismo às avessas” obtiveram destaque no quadro político de Pernambuco,
sobressaindo os seguintes líderes: Manuel Nunes Machado,
Em 1847, D. Pedro II organizou a política brasileira sob Félix Peixoto de Brito e Melo, Felipe Lopes Neto, Jerônimo
a orientação parlamentarista, com a criação do cargo de Vilela de Castro Tavares e Urbano Sabino Correia de Melo.
presidente do Conselho de Ministros, que deveria cumprir Em 1848, o Diário Novo publicou um manifesto
a função de primeiro-ministro na estrutura administrativa revolucionário para a população, intitulado Manifesto
do Brasil. Porém, no caso brasileiro, o primeiro-ministro se ao Mundo, contendo as principais reivindicações
do movimento, entre as quais merecem destaque:
encontrava subordinado à autoridade do Poder Moderador,
ou seja, a D. Pedro II. Isso significava que o parlamentarismo • voto livre e universal;
no Brasil era o inverso do sistema conhecido na Inglaterra, • plena liberdade de divulgar os pensamentos através
pois, no modelo clássico inglês, nota-se que o rei estava da imprensa;
subordinado à autoridade do primeiro-ministro, levando • extinção do Poder Moderador;
essa inversão do nosso sistema político pró-imperador • introdução do federalismo e da República no Brasil;
a ser conhecida como “parlamentarismo às avessas”. • reforma no Poder Judiciário.

64 Coleção Estudo
Bases políticas do Brasil Império

Durante a Revolução Praieira, a temática da escravidão Deve-se ressaltar que, tanto na produção realizada no Vale
foi objeto de divergência. Alguns setores do movimento do Paraíba quanto na do Oeste paulista, não houve a ruptura
se manifestavam favoráveis ao abolicionismo, posição brasileira com o modelo tradicional de divisão internacional
conflitante com os grupos elitistas, que participavam das do trabalho, permanecendo a nação dependente de gêneros
manifestações apenas por questões  políticas. O  que  se primários.
observa é que a publicação do Manifesto ao Mundo não faz Essa rápida queda da produção do Vale do Paraíba se
uma citação direta do tema, porém uma interpretação do explica pelo desgaste do solo e pela ausência de uma
documento nos faz acreditar que alguns dos participantes racionalidade na produção, que se baseava nos conceitos
eram simpáticos a tal causa. Exemplo desse conflito arcaicos do Período Colonial, sendo a elite da região incapaz
fica explícito na discussão historiográfica, caracterizada de empreender a modernização da produção. Exemplo disso
pela ausência de consenso e pelas divergências de foi a insistência dos fazendeiros do Vale do Paraíba em
interpretação sobre esse aspecto específico. Na abordagem utilizar o regime de trabalho escravocrata, não investindo na
de historiadores como Nelson Piletti e Cláudio Vicentino, mão de obra livre, que poderia fornecer maior lucro. Havia
destaca-se o  empenho antiescravista do movimento, outras vantagens no Oeste Paulista que colaboraram para
enquanto Gilberto Cotrim e Francisco M. P. Teixeira o desenvolvimento da lavoura cafeeira durante a segunda
discordam dessa opinião. metade do século XIX, como a terra roxa – solo propício ao
Apesar da luta armada dos praieiros pelas reformas plantio – e o clima muito favorável para a produção. Destaca-se
liberais, o movimento foi massacrado pelas tropas fiéis ao também a utilização da mão de obra livre, principalmente dos
Governo Federal. Alguns líderes foram presos, mas anistiados imigrantes, fundamental no desenvolvimento de São Paulo,
no ano de 1851. que lentamente assumiria a hegemonia econômica do Brasil.
A expansão do café na região Sudeste também estimulou a
Estabilização política e conciliação formação da malha ferroviária brasileira, fundamental para o
escoamento da produção nos portos do Rio de Janeiro e São
Após o conflito da Revolução Praieira, o cenário político Paulo. O país apresentou um salto de 14,5 km de estradas
do Império se estabilizou. Os atritos entre liberais e de ferro em 1854 para 13 980 km em 1899, sendo que
conservadores permaneceram minimizados, haja vista a 8 713 km estavam na região cafeeira.
semelhança nas propostas dos dois grupos, evidenciada na

HISTÓRIA
Socialmente, a riqueza oriunda do café foi responsável pela
articulação política ocorrida entre os anos de 1853 e 1858 projeção política dos fazendeiros do Sudeste, chamados de
pelo marquês de Paraná. Este conseguiu promover a união barões do café, que foram fundamentais para as mudanças
entre o Partido Liberal e o Partido Conservador dentro de um nos rumos políticos do país na transição do Império para
projeto administrativo conhecido como fase da conciliação, a República.
no qual os dois partidos governariam juntos. Aproveitando
a situação, D. Pedro II permanecia próximo ao gabinete
para exercer o controle sobre os políticos brasileiros.
Assim, a condição política mostrou-se estável até o início
do movimento republicano na década de 1870.

ECONOMIA
A economia dos primeiros anos do Império apresentou
sinais de retração, principalmente durante a instabilidade
política e social do Primeiro Reinado e das regências.
Além disso, também houve o endividamento originado do
pagamento de indenização a Portugal para o reconhecimento
da independência do Brasil, o alto custo da montagem de um
aparato burocrático-administrativo para o Estado nascente
e a ausência de uma economia autossustentável.
A mudança do quadro econômico veio durante o Segundo
Reinado através da entrada brasileira no mercado de
exportação de um produto primário: o café. Introduzido no A produção cafeeira liderou o processo de expansão econômica
Brasil em 1727, o café era utilizado apenas na agricultura do Segundo Reinado.
de subsistência, não tendo função comercial. Somente no
século XIX o produto adquiriu um amplo mercado para Não se pode esquecer, porém, de que, no século XIX,
exportação, principalmente na Europa. Como a economia das o Brasil teve outros tipos de produção agrícola que foram
colônias francesas, que já comercializavam café, estava em importantes para o desenvolvimento da economia nacional.
crise, o Brasil intensificou o plantio da cultura no Sudeste. Merece destaque a produção do açúcar, do algodão e do cacau.
A partir de 1825, a área plantada alastrou-se pela região Durante praticamente todo o Segundo Reinado, o açúcar
do Vale do Paraíba, seguindo o padrão do açúcar, ou seja, manteve a condição de segundo principal produto de
utilizando mão de obra escrava em grandes latifúndios. exportação, perdendo apenas para o café. Isso mostra que,
A região do Vale do Paraíba foi a grande responsável pelo apesar da concorrência das Antilhas e do açúcar de beterraba
avanço da economia cafeeira até os anos de 1870, quando da Europa, a produção açucareira brasileira ainda detinha
o Oeste Paulista conseguiu ultrapassar a produção do Vale. uma considerável importância econômica.

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Frente B Módulo 14

Um dos períodos em que o açúcar perdeu a posição de importação a uma taxa de 60% para os produtos que tivessem
segundo lugar na exportação brasileira foi durante os anos similares no Brasil. Já os produtos que não fossem fabricados em
de 1861 a 1870, quando o Brasil apresentou um aumento território nacional pagariam apenas 30% de taxa de importação.
na venda de algodão para a Europa. Essa exportação Assim, a elevação dos preços das mercadorias estrangeiras
esteve associada à queda da produção norte-americana foi fundamental para incentivar a indústria do Brasil Império.
em virtude da Guerra de Secessão, permitindo um rápido e Deve-se lembrar, no entanto, de que a medida imperial não
curto processo de desenvolvimento da região do Maranhão, possuia o objetivo de proteger a indústria nacional, sendo
principal área de plantio de algodão no país. direcionada pelo interesse de aumento da arrecadação estatal.
Já no final do século XIX, foi a vez da borracha assumir um
papel importante nas exportações nacionais. Nesse período, Desvio do capital antes investido na
as economias inglesa e norte-americana necessitavam compra de escravos
desse produto para a fabricação de componentes da
Após o ano de 1850, o governo brasileiro, pressionado
indústria automobilística. Como na Amazônia existia uma
pelos interesses ingleses, proibiu o tráfico de escravos no
considerável quantidade de seringais nativos, essa região
Brasil através da Lei Eusébio de Queirós. Como havia um
transformou-se em uma das maiores exportadoras de látex.
considerável investimento no lucrativo comércio de escravos,
Porém, a borracha brasileira mostrou-se cara para os países
o fim do tráfico acarretou o excedente de capitais que
industrializados, já que o extrativismo era realizado no meio
passaram a ser investidos em outros setores da economia,
de floresta e o trabalho manual era lento e dispendioso.
entre os quais, a indústria.
A solução encontrada pela Inglaterra e pelos EUA foi o
plantio de seringais na Ásia, o que levou a uma repentina
queda das exportações brasileiras, promovendo a decadência Lucros provenientes do café
econômica da região. Como o lucro do café ampliava-se cada vez mais, temia-se
reinvestir esse lucro na própria produção cafeeira,
Principais produtos agrícolas para exportação provocando a queda dos preços. Assim, parte considerável do
(em porcentagem sobre o valor global das exportações) que era conseguido com as exportações de café era investida
Período Café Açúcar Algodão Fumo Cacau em outros ramos da economia, merecendo destaque as
atividades industriais. Isso explica o fato de São Paulo e
1831-1840 43,8 24,0 10,8 1,9 0,6
Rio de Janeiro terem uma predominância no processo de
1841-1850 41,4 26,7 7,5 1,8 1,0 desenvolvimento industrial brasileiro, já que o café esteve
1851-1860 48,8 21,2 6,2 2,6 1,0 ligado diretamente à economia desses estados no final do
século XIX e início do século XX.
1861-1870 45,5 12,3 18,3 3,0 0,9
1871-1880 56,6 11,8 9,5 3,4 1,2 Iniciativas particulares
1881-1890 61,5 9,9 4,2 2,7 1,6
Algumas iniciativas particulares foram fundamentais para
1891-1900 64,5 6,0 2,7 2,2 1,5 o desenvolvimento da indústria nacional. Os pioneiros na
industrialização foram capazes de lutar contra a própria
Anuário Estatístico do Brasil, 1939.
tendência econômica do Brasil, concretizando projetos que
não eram compactuados pela maior parte da elite. Entre os
O desenvolvimento industrial grandes responsáveis por esses empreendimentos, destaca-se
Irineu Evangelista de Souza, mais conhecido como barão e
A indústria do Período Imperial encontrava alguns depois visconde de mauá.
obstáculos para promover seu desenvolvimento, como
a manutenção da mão de obra escrava, o que restringia
o mercado consumidor e potencial, e os privilégios comerciais
obtidos pela Inglaterra (acordo de 1810 e renovação
no ano de 1827), responsáveis pelo fracasso das manufaturas
nacionais, que não conseguiam concorrer com os produtos
ingleses. Apesar do cenário adverso para o desenvolvimento
industrial nacional, o Brasil assistiu à formação das
suas primeiras manufaturas com a contribuição dos
seguintes elementos:

Tarifa Alves Branco


Após a Independência do país, o governo brasileiro foi
Sébastien Auguste Sisson

pressionado pelos ingleses e por outras nações a conceder taxas


de importação de baixo valor. Assim, os produtos estrangeiros
que entravam no Brasil impediam o desenvolvimento da
nascente indústria nacional, devido ao maior grau de avanço
tecnológico da indústria europeia, em especial, inglesa.
Esse quadro começou a se modificar em 1844, quando o ministro Estação ferroviária, a modernização em torno da produção
da Fazenda, Manuel Alves Branco, elevou os impostos de cafeeira

66 Coleção Estudo
Bases políticas do Brasil Império

Construindo obras importantes para a modernização do


Brasil, Mauá foi um dos pioneiros no investimento do capital A Tarifa Alves Branco
proveniente do fim do tráfico de escravos. Entre as suas
obras, destacam-se: A questão orçamentária era um problema de grandes
proporções para o Império. Os críticos do governo monárquico
• Construção das primeiras estradas de ferro, para apontavam o déficit como uma das principais chagas do
facilitar o escoamento do café aos portos brasileiros; governo. Afinal, quais os motivos que tornavam a situação
tão drástica, se o país despontava como o principal produtor
• Construção de um estaleiro;
de café do mundo? A grande questão é que a principal

• Fundação de bancos; fonte de receita do governo era a tributação alfandegária.


Como sabemos, as diversas vantagens concedidas ao comércio
• Implantação da iluminação a gás do Rio de Janeiro; inglês não propiciavam rendimentos aduaneiros apreciáveis.
Devemos acrescentar que a situação orçamentária poderia
• Criação da companhia de bondes; ter sido mais bem gerida se o Império estabelecesse um
imposto sobre a grande propriedade rural e vendesse terras
• Construção do primeiro cabo telegráfico submarino
públicas, como forma de aumentar a receita, tal qual o governo
ligando o Brasil à Europa.
norte-americano no século XIX.
O desenvolvimento da indústria brasileira está diretamente Em 1844, visando aumentar a renda do Estado, em um
ligado à história do visconde de Mauá. Porém, por falta de momento de consolidação do sistema imperial, o liberalismo
incentivo governamental, já que o Império estava atrelado alfandegário foi abandonado em prol do protecionismo
aos interesses da elite agrária, e com a pressão do capital aduaneiro. Manuel Alves Branco, ministro da Fazenda, tinha
estrangeiro, Mauá viu seus empreendimentos entrarem em em mente aumentar a carga fiscal do Estado, aspecto que
falência no ano de 1878. foi bem recebido pela Câmara. A nova lei – denominada
Tarifa Alves Branco – estabeleceu que os tributos sobre os

HISTÓRIA
produtos de importação subiriam de 15% para 30% (caso
não houvesse similar nacional) ou 60% (caso o artigo fosse

LEITURA COMPLEMENTAR produzido no Brasil).

Não se iluda em relação à proteção à indústria nacional. Se as


Lei de extinção do tráfico negreiro – poucas indústrias existentes fossem favorecidas – ou surgissem
Eusébio de Queirós (1850) novas – seria uma mera consequência. Especialmente para
um homem, a tarifa abria as portas de um verdadeiro mundo
Dom Pedro por graça de Deus e unânime aclamação dos
de negócios. Seu nome, Irineu Evangelista de Sousa, o futuro
povos, imperador constitucional e defensor perpétuo do Brasil:
barão de Mauá.
fazemos saber a todos os nossos súditos que a Assembléia Geral
decretou e nós queremos a Lei seguinte: Diante das perspectivas governamentais, os resultados
da Tarifa Alves Branco foram positivos, sendo que as novas
Art. 1o. As embarcações brasileiras encontradas em qualquer diretrizes se manteriam por mais de uma década, apesar da
parte, e as estrangeiras encontradas nos portos, enseadas, pressão inglesa.
ancoradouros, ou mares territoriais do Brasil, tendo a seu AQUINO, Rubim L. S. de. Sociedade brasileira: uma história através
bordo escravos, cuja importação é proibida pela Lei de sete dos movimentos sociais. Rio de Janeiro: Record, 1999.
de novembro de mil oitocentos e trinta e um, ou havendo-os
desembarcado, serão apreendidas pelas autoridades, ou pelos “Manifesto ao Mundo”, de 1º de janeiro de
navios de guerra brasileiros, e consideradas importadoras de 1849, assinado pelos chefes militares praieiros:
escravos.
Protestamos só largar as armas quando virmos instalada
[...] uma Assembléia Constituinte. Esta Assembléia deve realizar
os seguintes princípios:
Art. 4o. A importação de escravos no território do Império
1º) O voto livre e universal do povo brasileiro.
fica nele considerada como pirataria, e será punida pelos seus
tribunais com as penas declaradas no artigo segundo da Lei de 2º) A plena e absoluta liberdade de comunicar os pensamentos
sete de novembro de mil oitocentos e trinta e um. A tentativa por meio da imprensa.
e a cumplicidade serão punidas segundo as regras dos artigos 3º) O trabalho como garantia de vida para o cidadão brasileiro.
trinta e quatro e trinta e cinco do Código Criminal.
4º) O comércio a retalho só para cidadãos brasileiros.

[...] 5º) A inteira e efetiva independência dos poderes constituídos.

6º) A extinção do Poder Moderador e do direito de agraciar.


IMPERADOR com Rubrica e Guarda
Eusébio de Queirós Coutinho Mattoso Câmara. 7º) O elemento federal na nova organização [...]

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Frente B Módulo 14

EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO C) o emprego nos cafezais de defensivos agrícolas


contaminava as nascentes de água e as ferrovias
favoreciam a fixação de pequenas propriedades nas
01. (UFMG) Leia este texto: áreas agrestes.
Sigamos os passos da política centralizadora e veremos D) as locomotivas eram movidas a vapor, cujo combustível
que é a centralização das luzes o seu complemento. era a madeira, e os cafezais, por esgotarem o solo,
A interpretação do ato adicional roubou às províncias o exigiam a incorporação de novas terras para o plantio.
melhor do seu poder, reconcentrando na Corte a maior E) a expansão da frente pioneira devastava as matas
parte das atribuições das Assembléias. As reformas e abria grandes reservas de territórios e de terras
judiciárias avocaram para o mesmo centro a nomeação agricultáveis para os indígenas.

de quase todos os empregos judiciais. As províncias se


03. (PUC Minas–2010) Segundo Sérgio Silva: No começo
acham pois já esgotadas de seus recursos; porque até
da segunda metade do século XIX, a produção de café
se lhes tirou a administração da maior parte de seus
toma proporções muito importantes: a cifra se aproxima
rendimentos. Suas forças físicas, o recrutamento as
de 3 milhões de sacas em média por ano. A partir da
tem extenuado. Que faltava pois tirar-lhes? A instrução, década de 1870, e sobretudo a partir de 1880, quando a
o único apoio que lhes resta. produção média anual ultrapassa os 5 milhões de sacas,
O ATHLETA, 16 set. 1843. o café torna-se o centro motor do desenvolvimento do
A partir das ideias contidas nesse trecho e considerando-se capitalismo no Brasil.

o contexto histórico do Brasil Imperial, é CORRETO SILVA, Sérgio. A expansão cafeeira e


afirmar que origens da indústria no Brasil.

A) o restauracionismo, que congregava as classes médias Pode-se apontar como fator responsável por esse
urbanas, foi, durante esse período, um dos mais aumento de produtividade
severos críticos do processo de centralização imposto A) o aporte de grande capital internacional para o
pelo imperador. financiamento da safra.

B) a centralização do poder foi um dos instrumentos B) a diminuição da produção colombiana de café


provocada por problemas climáticos.
utilizados pela monarquia no sentido de tentar coibir
os conflitos que haviam eclodido na primeira metade C) o uso intensivo de trabalho escravo na produção e
do século XIX. beneficiamento do café.
D) o crescimento dos mercados externos consumidores
C) o constitucionalismo das elites rurais advogava o
do produto, o que estimulou o crescimento da
fim da anarquia inicialmente vigente nas províncias,
produção interna.
o que se faria a partir do controle das novas
instituições educacionais. 04. (UFMG) Auguste de Saint Hilaire, naturalista francês,
D) o corporativismo influenciou diversas instituições realizou inúmeras andanças pelo Brasil entre 1816 e 1822.
na primeira metade do século XIX – como o Exército De volta à França, ao publicar seus relatos de viagem,
e a escola, ambos em processo de progressiva afirmou, intrigado, que “havia um país chamado Brasil, mas
absolutamente não havia brasileiros”.
profissionalização.
Considerando-se essa reação de Saint Hilaire e as dificuldades
02. (UNESP–2008) As estradas de ferro paulistas dos que marcaram a definição da identidade brasileira,
séculos XIX e XX dirigiam-se para as regiões do interior é CORRETO afirmar que elas se explicam porque

do estado. Sua importância para o complexo econômico A) o grande número de índios, negros e mestiços fazia
cafeeiro e para o desenvolvimento de São Paulo pode ser com que a população brasileira não fosse capaz de
vista sob múltiplos aspectos. O cultivo do café e as ferrovias formular um projeto de emancipação política.
provocaram mudanças ambientais em várias regiões B) a baixa densidade populacional do país, que, resolvida
paulistas, porque com a vinda dos imigrantes estrangeiros, gerou
a sensação de que essa população não seria, de fato,
A) as estradas de ferro formavam redes no interior
brasileira.
das matas e permitiam o acesso do capital
C) o processo de construção de uma nação brasileira
norte-americano à exploração e à exportação de
foi dificultado pela força das identidades regionais
madeiras para o mercado europeu.
formadas durante a colonização portuguesa.
B) a economia cafeeira foi responsável pela predomínio D) a Independência foi uma conquista dos portugueses,
da agricultura de subsistência sobre as áreas especialmente os comerciantes estabelecidos
florestais, e as locomotivas levaram à exploração do no Brasil, o que dificultou a afirmação da cidadania
carvão mineral no planalto paulista. dos brasileiros.

68 Coleção Estudo
Bases políticas do Brasil Império

05. (CEFET-MG–2010) Analise a tabela adiante, referente à 02. (UFMG) Considerando-se o segundo Reinado brasileiro,
representação partidária no Período Imperial brasileiro: é CORRETO afirmar que
A) a alternância, no comando do Estado, entre os dois
Partido Conservador Partido Liberal principais partidos do período expressava o poder e
a vontade política do imperador.
Proprietários rurais 47,54% 47,83% B) a dissolução do Conselho de Estado, à época, foi
compensada com a criação do cargo de presidente
Comerciantes 13,12% 8,69% do Conselho de Ministros.
C) a eliminação do Poder Moderador para a implementação
Outros 18,03% 26,09% do “parlamentarismo às avessas” estabilizou, então,
o regime.
Sem informação 21,31% 17,39% D) o fortalecimento das elites locais nas províncias
permitiu, então, que fossem aprovadas leis de caráter
CARVALHO, José Murilo. A construção da ordem: teatro de descentralizador.
sombras. Rio de Janeiro: UFRJ, Relume-Dumará, 1996. p. 192.
03. (FGV-SP–2008) [...] visando aumentar a renda do Estado,
Considerando-se o contexto sociopolítico nesse período e
em um momento de consolidação do sistema imperial,
as informações obtidas na tabela, é CORRETO afirmar que
o liberalismo alfandegário foi abandonado em prol do
A) a predominância de proprietários rurais e comerciantes protecionismo aduaneiro. [...] O ministro da Fazenda tinha
acirrava os conflitos internos. em mente aumentar a carga fiscal do Estado, aspecto que
foi bem recebido pela Câmara. A nova lei [...] estabeleceu
B) os partidos políticos no Império representavam
que os tributos sobre os produtos de importação subiriam
igualmente os interesses sociais no Brasil.
de 15% para 30% (caso não houvesse similar nacional) ou
C) o índice de filiados sem informação profissional refletia 60% (caso o artigo fosse produzido no país).

HISTÓRIA
a atuação de escravos forros na política. AQUINO, Rubim Santos Leão et al. Sociedade brasileira:
uma história através dos movimentos sociais.
D) a origem social comum dos membros fazia com
que ambos os partidos representassem as elites No contexto do Brasil Império, o trecho apresenta
econômicas. A) a Lei de Terras. D) a Tarifa Alves Branco.
E) a presença de classes populares nos partidos facilitava B) o Tratado de 1827. E) a Lei Eusébio de Queirós.
a mobilização de massas através de comitês eleitorais. C) a Bill Aberdeen.

EXERCÍCIOS PROPOSTOS 04. (Mackenzie-SP–2010) Ao longo do Império, a economia


do país foi se tornando cada vez mais complexa,
aprofundando sua inserção no capitalismo, sem contudo
perder sua condição de periferia.
01. (UFMG) Considerando-se as relações entre a conjuntura
GRAÇA FILHO, Afonso de Alencastro; LIBBY, Douglas Cole.
econômica e o sistema de transporte brasileiro no A economia do Império Brasileiro.
século XIX, é CORRETO afirmar que
Corroborando a afirmação anterior, considere I, II e III
A) o surgimento de uma extensa rede viária destinada
a seguir.
ao escoamento da produção industrial foi possível,
I. O café, apesar de ter recuperado a economia brasileira
fundamentalmente, a partir do investimento público durante o 2º Reinado, manteve uma estrutura agrícola de
capitaneado pelo Banco do Brasil. plantation, predominante desde nosso Período Colonial.
B) as principais rotas do sistema de circulação então II. Apesar da relativa recuperação de nossa balança
criadas subsistem até os dias de hoje, notadamente comercial, o Brasil manteve sua tradicional posição
no que respeita às autoestradas, que começaram a na Divisão Internacional do Trabalho.
surgir no fim do século, para atender à crescente III. O surto de industrialização decorrente da assinatura
produção de automóveis. da Tarifa Alves Branco (1844) garantiu nosso
C) as principais vias de transporte criadas à época se superávit primário, com as exportações de bens de
consumo não duráveis.
situaram na região Sudeste, atendendo às demandas
crescentes da cafeicultura, sendo os investimentos Assim,
oriundos, em grande parte, de capital estrangeiro. A) somente I e III estão corretas.
D) o comércio do açúcar, reabilitado após a crise da B) somente II e III estão corretas.
mineração, estimulou o surgimento de inúmeras C) somente I está correta.
autovias e ferrovias, construídas com capital nacional D) I, II e III estão corretas.
e que se concentravam na região da mata nordestina. E) somente I e II estão corretas.

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69
Frente B Módulo 14

05. (UFSM-RS) O processo do desenvolvimento capitalista Analise as afirmativas que se seguem, tomando como
no Brasil, no século XIX, foi acelerado pelos seguintes base o quadro apresentado, que permite uma visão geral
fatores, EXCETO da economia brasileira do Império.
A) A ampla disponibilidade de terras férteis e a ausência I. O crescimento da produção cafeeira, após 1850,
de obstáculos políticos e jurídicos para ocupá-las. possibilitou o investimento de capitais em indústrias,
B) A edição da Lei de Terras de 1850, que intensificou a serviços e transportes.
mercantilização das terras, encarecendo-as.
C) A abolição do tráfico negreiro, em 1850, que liberou II. A queda acelerada das exportações de açúcar, a partir
capitais para investimentos em outros setores de 1850, está relacionada ao uso intensivo do solo
dinâmicos de economia. por trabalhadores livres e inexperientes.
D) O afluxo de crescentes contingentes de imigrantes III. O crescimento das exportações de algodão, entre
europeus para as regiões em expansão. 1861 e 1870, pode ser explicado pela desorganização
E) A gradativa abolição do trabalho escravo e a ênfase da produção norte-americana, atingida, na época,
crescente no trabalho assalariado. pelos efeitos da Guerra de Secessão.

06. (UFMG) Considerando-se a dinâmica da economia brasileira Está(ão) CORRETA(S) a(s) afirmativa(s)
no decorrer do Período Imperial, é CORRETO afirmar que
A) I, apenas. D) II e III, apenas.
A) o negócio açucareiro, embora decadente, permaneceu
importante o suficiente para fornecer capitais para a B) II, apenas. E) I, II e III.
industrialização da região Sudeste. C) I e III, apenas.
B) a produção cafeeira foi implantada, originalmente, no
Oeste Paulista, tendo-se expandido, posteriormente, 09. (Fatec-SP) Em janeiro de 1849, os praieiros apresentaram
em direção ao litoral e ao Vale do Paraíba. o seu programa revolucionário, escrito por Borges
C) o primeiro setor industrial moderno a surgir no país da Fonseca, o qual ficou conhecido como Manifesto
foi a tecelagem, implantada com auxílio de máquinas ao Mundo.
e técnicos importados dos países desenvolvidos.
Nele, defendiam
D) a transição do trabalho escravo para o livre foi
A) voto censitário, liberdade de imprensa e trabalho para
dificultada por empecilhos colocados pelo Império à
todos os brasileiros.
utilização de mão de obra europeia.
B) fim do Poder Moderador e da escravatura e
07. (UFC) A manutenção do parlamentarismo, durante quase
transferência do comércio para as mãos de brasileiros.
todo o Segundo Reinado, esteve relacionada
C) maior autonomia para as províncias, voto livre e
A) ao apoio dado pelos liberais ao monarca, de forma
universal e liberdade de trabalho para todos os
a manter o poder dos conservadores circunscrito às
áreas interioranas do país. cidadãos brasileiros.

B) à concessão de muitos poderes ao imperador e D) fim da escravatura, maior autonomia para as


à alternância dos partidos Liberal e Conservador províncias e voto censitário.
no governo.
E) liberdade de trabalho para todos os cidadãos
C) à inexistência de eleições para a escolha dos senadores
brasileiros, voto censitário, fim do Poder Moderador.
e deputados, todos nomeados pelo imperador.
D) à estabilidade do cargo de presidente do Conselho de
Estado, escolhido pela Câmara dos Deputados. 10. (UFPI) O nome de Irineu Evangelista de Souza, o visconde
de Mauá, vincula-se à ideia de modernização do Brasil,
E) à difusão dos ideais revolucionários franceses, adotados
pelo monarca na condução da política imperial. difundida na segunda metade do século XIX, que se
expressa através do
08. (Cesgranrio)
A) declínio da produção cafeeira, que incentivava
Quadro das exportações brasileiras a migração dos trabalhadores europeus para as
1821- 1831- 1841- 1851- 1861- 1871- 1881- grandes cidades.
1830 1840 1850 1860 1870 1880 1890
B) fato de o país deixar de ser uma nação agroexportadora,
Açúcar Café Café Café Café Café Café
30,1% 43,8% 41,4% 48,8% 45,5% 56,6% 61,5% em virtude da implantação de uma política liberal.
Algodão Açúcar Açúcar Açúcar Algodão Açúcar Açúcar
20,6% 24,0% 26,7% 21,2% 18,3% 11,8% 9,9%
C) incremento às atividades industriais no país, além da
Café Algodão
Couros e
Algodão
Couros e Couros e
Algodão
implantação de estradas de ferro e melhorias urbanas.
pele pele pele
18,4% 10,8% 7,2% 8,0%
8,5% 12,3% 9,5% D) substitutivo dos valores culturais oriundos da
Couros e Couros e Couros e Couros e
Algodão Algodão Algodão Inglaterra pelas inovações trazidas pelos comerciantes
pele pele pele pele
7,5% 6,2% 4,2%
13,6% 7,9% 6,0% 5,6% franceses.
Borracha Borracha Borracha Couros e pele
2,3% 3,1% 5,5% 3,2% E) movimento em prol do nacionalismo econômico,
LOPEZ, Luiz Roberto. História do Brasil Imperial. Porto Alegre: contrário à presença inglesa nas exportações
Mercado Aberto, 1982. p. 68. brasileiras.

70 Coleção Estudo
Bases políticas do Brasil Império

11. (UEL-PR–2008) Observe a imagem e leia o texto a seguir: 13. (UNESP) O texto seguinte se refere a um esforço de
implantação de fábricas no Brasil em meados do século XIX.
Não se pode dizer [...] que tenha havido falta de proteção
depois de 1844. Nem é lícito considerar reduzido seu nível
[...] Não se está autorizado, portanto, a atribuir o bloqueio
da industrialização à carência de proteção. O verdadeiro
problema começa aí: há que explicar por que o nível de
proteção, que jamais foi baixo, revelou-se insuficiente.
MELLO, J. M. Cardoso de. O capitalismo tardio, 1982.
A) Qual foi a novidade da Tarifa Alves Branco (1844),
comparando-a com os tratados assinados com a
Inglaterra em 1810?
B) INDIQUE duas razões do “bloqueio da industrialização”
ao qual se refere o autor.

14. (Unicamp-SP–2010) O imperador D. Pedro II era um


mito antes de ser realidade. Responsável desde pequeno,
pacato e educado, suas imagens constroem um príncipe
MEIRELLES, V. Primeira Missa no Brasil, 1860.
diferente de seu pai, D. Pedro I. Não se esperava do futuro
Victor Meirelles foi aluno da Academia Imperial de Belas monarca que tivesse os mesmos arroubos do pai, nem
Artes durante o Segundo Reinado no Brasil. A pintura a imagem de aventureiro, da qual D. Pedro I não pôde
revela a influência do Romantismo no trabalho do artista. se desvincular. A expectativa de um imperador capaz
Esse movimento, ao lado do Neoclassicismo, orientou o de garantir segurança e estabilidade ao país era muito
trabalho dos artistas da Academia nesse período. grande. Na imagem de um monarca maduro, buscava-se
Sobre o Romantismo no Brasil, é correto afirmar: unificar um país muito grande e disperso.
SCHWARCZ, Lilia Moritz. As barbas do imperador: D. Pedro II,
I. Demonstrou grande originalidade em relação a
um monarca nos trópicos. São Paulo: Companhia das Letras,

HISTÓRIA
modelos anteriores, consagrados pela História da Arte. 2006. p. 64, 70, 91 (Adaptação).
II. Estava diretamente relacionado ao chamado projeto A) Segundo o texto, quais os significados políticos da
civilizatório da elite política e cultural do século XIX construção de uma imagem de D. Pedro II que o
brasileiro. diferenciasse de seu pai?
III. Buscou a idealização por meio da razão e de formas B) Que características do Período Regencial ameaçavam
eruditas resgatadas do passado clássico, capazes de a estabilidade do país?
expressar valores universais e eternos.
IV. Procurou valorizar o índio e a exuberância da natureza
tropical, com a finalidade de construir uma identidade
SEÇÃO ENEM
nacional. 01. (Enem–1999) Viam-se de cima as casas acavaladas umas
Assinale a alternativa que contém todas as afirmativas pelas outras, formando ruas, contornando praças. As
CORRETAS. chaminés principiavam a fumar, deslizavam as carrocinhas
multicores dos padeiros; as vacas de leite caminhavam
A) I e II C) II e IV E) II, III e IV
como seu passo vagaroso, parando à porta dos fregueses,
B) I e III D) I, III e IV tilintando o chocalho; os quiosques vendiam café a homens
de jaqueta e chapéu desabado; cruzavam-se na rua os
12. (UFG–2007) Senhores, é tempo de cuidar, exclusivamente – libertinos retardios com os operários que se levantavam
notai que digo exclusivamente – dos melhoramentos para a obrigação; ouvia-se o ruído estalado dos carros de
materiais do país. Não desconheço o que se me pode água, o rodar monótono dos bondes.
replicar, dir-me-eis que uma nação não se compõe só de AZEVEDO, Aluísio de. Casa de Pensão. São Paulo: Martins, 1973.
estômago para digerir, mas de cabeça para pensar e de
O trecho, retirado de romance escrito em 1884, descreve
coração para sentir. Respondo-vos que tudo isso não valerá
o cotidiano de uma cidade, no seguinte contexto:
nada ou pouco, se ela não tiver pernas para caminhar.
O Brasil é uma criança que engatinha; só começará A) A convivência entre elementos de uma economia
a andar quando tiver cortado de estradas de ferro. agrária e os de uma economia industrial indicam o
ASSIS, M. de. Evolução. Os melhores contos. início da industrialização no Brasil, no século XIX.
In: Seleção de Domício Proença. São Paulo: Global, 1997, B) Desde o século XVIII, a principal atividade da
p.239-240 (Adaptação). economia brasileira era industrial, como se observa
Publicado no início do século XX, o conto incorpora o no cotidiano descrito.
discurso evolucionista. A comparação sugere um processo C) Apesar de a industrialização ter-se iniciado no
de crescimento no qual a nação é tomada como metáfora século XIX, ela continuou a ser uma atividade pouco
do corpo humano. Se as estradas são pernas, desenvolvida no Brasil.
D) Apesar da industrialização, muitos operários
A) IDENTIFIQUE a principal região cortada pelas
levantavam cedo, porque iam diariamente para o
estradas de ferro e o produto que era transportado.
campo desenvolver atividades rurais.
B) EXPLIQUE os limites impostos ao crescimento da E) A vida urbana, caracterizada pelo cotidiano apresentado
economia nacional. no texto, ignora a industrialização existente na época.

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71
Frente B Módulo 14

02. No Império, basicamente dois partidos das elites


(Liberal e Conservador) se revezavam na composição do 12. A) Região Sudeste, o produto transportado era
Parlamento, submetidos ao Poder Moderador. O Partido o café.
Republicano, que se organiza a partir de l870, era mera
expressão dos interesses dos grandes proprietários B) Questionava-se a organização voltada,
rurais (alguns, inclusive, possuidores de escravos), com fundamentalmente, para o mercado externo
algumas divergências com os dois partidos hegemônicos e (economia de exportação), o controle da
que foram os beneficiários do golpe militar que instaurou tecnologia e do domínio financeiro pelos
a República (uma república, aliás, sem republicanos...). países centrais e os escassos investimentos
na infraestrutura nacional.
Na chamada 1ª República (1889-1930), o domínio
absoluto das oligarquias representadas pelo Partido 13. A) Enquanto os Tratados de 1810 entre Brasil
Republicano, um período que teve como característica e Inglaterra estabeleciam privilégios
escassa participação eleitoral e fraudes nas eleições como alfandegários à Inglaterra no comércio com
regra. Não havia necessidade de coligações porque o o Brasil, a Tarifa Alves Branco estabeleceu
domínio do PR era absoluto. não intencionalmente o protecionismo ao
De 1930 a 1945, até o golpe de 10 de novembro de 1937, elevar em 60% as tarifas alfandegárias,
quando é instaurada a ditadura do Estado Novo, havia criando condições para um incipiente
ainda arremedos de partidos (basicamente regionais). desenvolvimento industrial.
De 1937 a 1945, a ditadura fechou o Congresso e, B) A falta de apoio governamental aos projetos
portanto, acabou com os partidos. de industrialização, em razão da sustentação
COSTA, Homero Oliveira. O Jornal de Hoje. política de Dom Pedro II pela aristocracia
23 out. 2009. rural, e a dificuldade de concorrência com os
competitivos produtos ingleses no mercado
O texto anterior apresenta uma visão da evolução
brasileiro.
partidária do Brasil do Império até as primeiras décadas
do Período Republicano. A abordagem do autor ressalta 14. A) A construção da imagem de um imperador
que os partidos, no Brasil, maduro e comprometido com a causa da nação
seria fundamental para a obtenção do respeito
A) evoluíram para uma clara tendência de esquerda,
de todos os setores da sociedade, promovendo
na medida em que as demandas populares
a estabilidade política tão necessária ao país.
se intensificavam.
O projeto de difusão dessa imagem também
B) ficaram sujeitos aos desígnios do Poder Moderador visava distanciar o jovem Pedro II da memória
durante os séculos XIX e XX. política das ações impetuosas e polêmicas que
C) apresentavam uma fragilidade programático-ideológica, caracterizavam seu próprio pai, o monarca
pois estavam sob o controle de setores privilegiados Pedro I. Dessa forma, a imagem de D. Pedro II
da sociedade. seria associada à capacidade de deliberação,
D) entraram em conflito pela causa da centralização de diálogo com os diversos atores políticos da
política, até culminar no fechamento do Congresso sociedade brasileira. Seria enfatizada a imagem
por Vargas. de um político conciliador, em oposição ao
enfrentamento característico de Pedro I.
E) enfrentaram adversidades e complicações políticas,
mas nunca foram extintos em nosso país. B) A época das Regências apresentou a eclosão
de movimentos separatistas que ameaçavam
promover a fragmentação do país, como é
o caso da Farroupilha no Sul do país. Além
GABARITO disso, o período foi marcado pelo avanço
de movimentos populares que passaram a
ser temidos pelos setores da elite, como foi
Fixação o caso da Cabanagem (Pará), da Balaiada
(Maranhão) e da Revolta de Malês (Bahia).
01. B
As divergências políticas entre setores
02. D favoráveis e desfavoráveis ao processo
03. D de descentralização do poder completam
04. C o quadro de instabilidade do período, em
conjunto com a ausência da figura do
05. D
monarca, capaz de conferir ordem e unidade
à nação.
Propostos
01. C 05. A 09. C Seção Enem
02. A 06. C 10. C
01. A
03. D 07. B 11. C
04. E 08. C 02. C

72 Coleção Estudo
HISTÓRIA MÓDULO FRENTE

Grupos sociais em conflito no


Brasil Império
15 B
SOCIEDADE Espaço comum para os contatos sociais e o deleite da boa
música, os salões eram encontros festivos que serviam para
promover a integração das elites urbanas, que, por meio
A sociedade brasileira do Segundo Reinado não rompeu
do bom divertimento e de jantares suntuosos, buscavam
as estruturas constituídas durante o Período Colonial,
encarnar, no Brasil, os cafés parisienses, sendo o francês
pautada na autoridade político-social de um restrito grupo
a língua predileta dessa elite emergente. Realizados de
de latifundiários monocultores, conhecidos no Império como
maneira periódica e tendo um anfitrião que abria as suas
os coronéis ou os barões do café. O cenário de domínio dos
portas para esses encontros, os salões representavam
grupos associados à agricultura exportadora permaneceu
uma reafirmação das estruturas hierárquicas vigentes
até o fim da Primeira República em 1930, não impedindo
na sociedade, em especial, a capacidade de influência e
a formação de novos setores sociais ligados às atividades
de agregação de forças sociais em torno de si. Montar
desvinculadas diretamente da produção do café. Essa nova
e participar de encontros sociais dessa magnitude era
composição social só foi possível graças a um processo
fundamental para a projeção social dos indivíduos que
de urbanização que garantiu a formação de uma classe
compunham a Corte carioca.
média, composta majoritariamente de profissionais liberais
e funcionários públicos que seguiam os padrões culturais e A cultura nacional também apresentou, como destaque,
estéticos das principais cidades europeias. Mesmo com o o Romantismo, importante movimento literário. Influenciados
advento de novos setores sociais, a maioria da população pelo mundo europeu, escritores brasileiros como José
brasileira permaneceu marginalizada, desvinculada da de Alencar, autor de O Guarani e Iracema, e Gonçalves
efetiva noção de cidadania. Da mesma forma, o choque de Magalhães, autor de A Confederação dos Tamoios,
entre cidade e campo não marcou os anos da monarquia, buscaram vincular o Romantismo ao fenômeno indianista.
tornando-se mais intenso apenas nos últimos anos da Para esses escritores, a ideia central era transformar o
República Velha. índio em figura principal na construção da imagem do
brasileiro, em detrimento da figura do negro, malvisto
pelo avanço das teorias de eugenia vigentes no mundo
ocidental do século XIX, envolto em um imperialismo racista.
Nesse sentido, o Romantismo foi apropriado pelo Estado
monárquico, na medida em que essa mensagem idealizada
do índio fazia parte de uma política pública de construção
dos símbolos nacionais e afirmação de valores e identidades
que seriam tipicamente brasileiras. No âmbito da poesia,
destacam-se importantes poetas nacionais como Álvares de
Azevedo, Casimiro de Abreu e Castro Alves.
Johann Moritz Rugendas

Escravidão
Outro ponto de destaque da sociedade imperial foi a
manutenção do trabalho escravo, já que a Independência do
O trabalho escravo na produção de café: a persistência da ordem
escravocrata.
Brasil não se comprometeu em libertar a população cativa,
que permaneceu durante mais algumas décadas como os

Cultura “braços do país”. O discurso dominador esteve ligado à ideia


de que dar a liberdade para os escravos seria correr o risco de
A influência europeia no desenvolvimento cultural do uma perigosa rebelião social. Temendo que o Brasil repetisse
Brasil durante o Segundo Reinado ocorreu, em especial, a experiência da revolta escravista do Haiti, a elite brasileira
no esforço da Corte em reproduzir, em terras tropicais, adiou a libertação dos escravos o máximo possível, levando o
o fenômeno dos salões que se espalhavam por toda a Europa. país a preservar suas arcaicas estruturas sociais de trabalho.

Editora Bernoulli
73
Frente B Módulo 15

A permanência da escravidão trouxe um considerável


O movimento abolicionista
atrito diplomático com os ingleses, que pressionavam o
governo brasileiro para interromper o tráfico de escravos O projeto abolicionista nacional se estruturou dentro de
um diversificado caminho, que pode ser exemplificado desde
para o país. O  empenho britânico em concretizar tal
as manifestações de resistência à escravidão ocorridas nas
medida se justificava pela intenção de promover o fim
senzalas até o esforço internacional ao combate do trabalho
do trabalho escravo e criar um mercado consumidor
cativo do negro no Brasil.
para seus produtos através do estímulo à mão de obra
assalariada. As motivações da Inglaterra também podem Dentro desse amplo debate, cabe destacar os esforços
ser explicadas pelo interesse em manter a África isolada empreendidos pelas sociedades abolicionistas, em especial
de ingerências externas que viessem a atrapalhar o após o ano 1880, que buscavam defender o interesse
dos negros em um país economicamente dependente
processo de dominação imperialista que se constituía no
do trabalho escravo. Entre os vários grupos, destaca-se
século XIX. Uma outra leitura possível é a contemporânea,
a  Sociedade Brasileira contra a Escravidão, fundada
que credita os interesses ingleses no fim da escravidão
em 1881 e ligada ao jornal O Abolicionista, importante
aos ganhos obtidos na agricultura com o uso de mão de
espaço de divulgação das ideias contrárias ao trabalho
obra livre e, consequentemente, à redução no preço dos
escravo. Entre as principais lideranças abolicionistas,
gêneros agrícolas. estão os monarquistas Joaquim Nabuco e André Rebouças,
Assim, a legislação responsável pelo fim do regime e os republicanos José do Patrocínio e João Clapp.

escravocrata no Brasil foi sendo lentamente elaborada, A ampla divulgação das ideias abolicionistas favoreceu
à  medida que os eventos externos (pressão inglesa) e o avanço de ações que iam além das famosas leis que
internos provocavam a necessidade de supressão desse tipo tratavam do tema do trabalho escravo. Nesse sentido,
de trabalho. Entre os eventos internos que colaboraram para pode-se destacar:
a condução do processo abolicionista, está a participação
• o apoio dado à fuga de escravos por parte de algumas
das pessoas que se situavam fora dos setores agrários e,
sociedades abolicionistas, em especial na região
por isso, não estavam vinculadas à escravidão. Pode ser Sudeste;
incluída, nesse contexto, a classe média urbana, composta
de profissionais liberais, intelectuais, universitários e • a criação de fundos de emancipação, que conseguiram

proprietários de pequenos estabelecimentos comerciais e acabar com o trabalho escravo nas províncias do

industriais. Esse cenário é produto da transformação pela Ceará e Amazonas ainda antes da Lei Áurea;

qual passava o Rio de Janeiro, na medida em que a crescente • o contato com sociedades abolicionistas internacionais
urbanização propiciava a expansão das atividades industriais, empreendido por Joaquim Nabuco e José de Patrocínio
a introdução do trabalho assalariado e o crescimento da nas visitas realizadas à Europa nos anos de 1881 e 1884,
população livre. respectivamente.

Para fazer jus às transformações que julgava necessárias,


a nascente classe média fez-se representar no Exército, mais
especificamente nos ideais republicanos. Nesse sentido,
destacam-se as seguintes leis acerca do fim do trbalho
escarvo:

Bill Aberdeen (Lei Inglesa) – 1845


Desde o início do século XIX, a Inglaterra já pressionava
o Brasil para por fim ao tráfico de escravos, levando
as autoridades legais a formalizar uma lei proibindo
o tráfico em 1831. Porém, essa lei não saiu do papel
Reprodução / Revista Ilustrada

(“Lei  para inglês ver”), mantendo-se a entrada de


levas de escravos africanos no país. Percebendo que as
tentativas para acabar com a vinda de escravos para o
Brasil eram inócuas, os ingleses mudaram de tática. Em 8
de agosto de 1845, o Parlamento inglês aprovou uma lei
Crítica à manutenção do trabalho escravo no Brasil, única nação a chamada Bill Aberdeen, que determinava que os navios
manter tal regime na década de 1880. Na satirização, D. Pedro II ingleses teriam autoridade para aprisionar qualquer navio
é impedido de participação em congressos internacionais. negreiro que encontrassem, de qualquer nacionalidade.

74 Coleção Estudo
Grupos sociais em conflito no Brasil Império

Inúmeros navios brasileiros foram apreendidos e afundados Lei Áurea – 1888


pelas autoridades britânicas na busca de coibir o tráfico.
A Bill Aberdeen também pode ser compreendida como uma
reação inglesa frente à aplicação da Tarifa Alves Branco,
que dificultou a entrada de produtos industriais britânicos
no Brasil. Contudo, apesar das restrições inglesas, o tráfico
se manteve vigoroso nos anos seguintes, principalmente
pela elevação do preço dos escravos, consequência direta
da lei inglesa.

Lei Eusébio de Queirós – 1850


Não resistindo à pressão da Inglaterra, o Brasil criou uma
nova lei que proibia o tráfico de escravos e que, ao contrário das
ordens anteriores, mostrou-se mais eficaz, haja vista a pressão
exercida pelo próprio governo para a sua execução. Criada em
4 de setembro de 1850, a Lei Eusébio de Queirós já
apresentava resultados em 1851, quando o Brasil recebeu
apenas 3 287 escravos, sendo que, no ano anterior, antes da

Ana Nascimento / ABr


lei, entraram no Brasil 23 000 escravos. A redução foi ainda
maior em 1852, quando entraram apenas 700 escravos.

Lei do Ventre Livre – 1871

HISTÓRIA
Lei Áurea
No contexto de uma pressão exercida por setores da
Assinada em 13 de maio de 1888 pela princesa Isabel,
população urbana e da classe média que discordava da
visto que o imperador se encontrava em viagem, essa lei
escravidão, a Lei do Ventre Livre, também conhecida por Lei
estabelecia a liberdade para todos os escravos no Brasil.
Rio Branco, foi homologada em 1871, sendo uma tentativa
Entretanto, a Lei Áurea foi omissa sobre possíveis indenizações
de acalmar a discussão sobre o tema. Dando continuidade a
a serem pagas aos escravos pelos anos de trabalho
um projeto elitista, que visava à lenta extinção do trabalho
gratuito aos seus senhores. Isso significa que a maioria
compulsório, essa lei propunha que todos os escravos
dos antigos escravos não tinha como recomeçar a vida
nascidos a partir daquela data seriam considerados livres.
sem estarem submetidos ao mesmo sistema econômico
Porém, o efeito de tal resolução não foi tão significativo para
que os havia transformado em uma força de trabalho
os filhos dos escravos, afinal, como poderia uma criança ser desqualificada. As redes de preconceito e de desvalorização
livre se seus pais permaneciam em cativeiro? Além disso, social não foram desfeitas, não houve efetiva integração
a lei estabelecia a responsabilidade do senhor da fazenda social e a condição do ex-escravo permaneceu próxima
de cuidar da criança até os 21 anos de idade, sendo que os àquela estalebecida durante o período anterior à Lei Áurea.
senhores se aproveitavam do trabalho dos “escravos livres” Muitos permaneceram nas fazendas onde já trabalhavam
sob o pretexto de que estavam colaborando para a formação como escravos, visto que desconheciam outros projetos
dos libertos pela lei. de vida que pudessem permitir seu desenvolvimento
econômico. Os libertos que buscavam as cidades após
Lei do Sexagenário – 1885 a abolição encontravam poucas opções de trabalho.
Acabavam, por conta disso, muitas vezes incorporados
Declarava livres os escravos com 60 anos de idade ou mais.
à criminalidade.
Essa lei beneficiava, em última instância, os proprietários,
afinal, os poucos escravos que chegavam a essa idade não
tinham condição de assumir trabalhos pesados, sendo então A imigração para o Brasil
libertos e dispensados das fazenda, o que reduzia o custo do Durante a segunda metade do século XIX, alguns fazendeiros
proprietário. Quando um escravo conseguia chegar a essa começaram a perceber que a utilização de mão  de  obra
idade e se interessava em se beneficiar dessa lei, era muito livre poderia ser mais rentável que a mão de obra escrava,
difícil a aplicação da nova legislação, devido à ausência de devido  ao elevado preço dos cativos e ao fato de estes
comprovantes que pudessem assegurar a sua idade, afinal, estarem indispostos a elevar a produção, já que não gozavam
todos os documentos relativos à vida de cada cativo ficavam de nenhum estímulo para tal, o que reduzia a produtividade
sob a posse de seus proprietários. e a competitividade do gênero agrícola brasileiro.

Editora Bernoulli
75
Frente B Módulo 15

A primeira iniciativa de imigração para o Brasil havia ocorrido


durante o governo de D. João VI (1808-1821), através da Um determinado grupo de fazendeiros chegou a propor,
formação de uma colônia de imigrantes suíços em Nova em 1870, que fossem importados trabalhadores chineses,
Friburgo, no Rio de Janeiro (1818), além da chegada de para que fosse levada adiante a ideia de branqueamento
germânicos no Rio Grande do Sul, em 1824. Entretanto, da população brasileira. A proposta, entretanto,
o empenho sistemático de utilização desse tipo de mão foi questionada, visto desejar-se o sangue europeu, tido
de obra partiu do senador Nicolau de Campos Vergueiro, como vivaz, e não o chinês, visto como “envelhecido”
em 1847, depois de adotar em sua fazenda, em São Paulo, e “envenenado”.
o sistema de parceria. Nesse sistema, o fazendeiro custeava
a vinda do imigrante e o sustento durante os primeiros anos NABUCO. O Abolicionismo, p. 152.
no Brasil. Os novos trabalhadores deveriam produzir o café
e os produtos de subsistência. Após certo período, 1/3 de
todo lucro seria entregue aos imigrantes e o restante, ficaria O acesso dos imigrantes à posse da terra chegou
com o proprietário da fazenda. a  acontecer, mas com muitas dificuldades, já que a elite
O sistema de parceria não obteve sucesso por vários agrária pressionou o Estado Imperial a criar um instrumento
motivos, entre os quais se destacam os maus tratos dos legal que possibilitasse a manutenção da arcaica estrutura
fazendeiros aos imigrantes, os elevados juros cobrados pelo fundiária brasileira. De acordo com a Lei de Terras, aprovada
valor referente ao custeio da viagem e o fato de muitos em 1850, as terras públicas só poderiam se tornar propriedade
fazendeiros omitirem a obtenção de lucro, não pagando privada por meio de compra, e não mais por doação ou posse.
a parte devida aos trabalhadores. Os fazendeiros ainda
Como a legalização dessas terras exigia a obtenção de títulos
tinham uma mentalidade escravocrata e, em função disso,
e pagamento de elevadas taxas, aqueles que detinham
ocorreram revoltas dos imigrantes contra os proprietários,
baixa renda não conseguiam ter acesso à propriedade no
como a de Ibicaba (SP), em 1857. Algumas regiões da
Europa, de onde vinha a maioria dos trabalhadores, Brasil. Pode-se realizar o contraste com o Homestead act
chegaram, inclusive, a proibir a vinda de novos imigrantes norte-americano, que, em período próximo ao da Lei de Terras
para o Brasil. Posteriormente, o governo brasileiro interveio brasileira, facilitou o acesso à terra por meio da doação.
na questão da imigração, realizando o sistema de imigração
subvencionada, que, com dinheiro público, pagava a
passagem para o imigrante sob a fiscalização governamental,
evitando o abuso dos fazendeiros.
POLÍTICA EXTERNA
Mesmo com tais problemas, a imigração para o Brasil As relações externas durante o Segundo Reinado foram
e para outros países da América, principalmente EUA marcadas por dois momentos: os conflitos diplomáticos com
e Argentina, continuou a ocorrer, já que a situação política
a Inglaterra e a constante intervenção brasileira realizada
e econômica da Europa era completamente instável, levando
nos países que fazem fronteira com a região sul.
muitos europeus a tentarem obter trabalho na América.
Os principais países que enviaram imigrantes ao Brasil foram
a Itália e a Alemanha, seguidas de perto pelos povos eslavos, Conflitos diplomáticos
durante o Período Imperial. Após o fim da escravidão e
o início da República, outras nacionalidades entraram no O conflito diplomático entre Brasil e Inglaterra esteve
Brasil, com destaque para portugueses, sírios, libaneses, associado às décadas de interferência econômica e
espanhóis e japoneses. Grande parte dos imigrantes política inglesa nos negócios brasileiros. Durante todo o
instalava-se nas regiões Sudeste e Sul, sendo o estado Período Imperial, o Brasil sofreu a pressão britânica para
de São Paulo o local de maior presença desse tipo de que os seus interesses fossem plenamente atendidos.
mão de obra. Os imigrantes evitavam trabalhar nas fazendas Mas, com o amadurecimento da política nacional,
do Vale do Paraíba, indo, preferencialmente, para a região principalmente durante o Segundo Reinado, o Brasil
do Oeste Paulista, onde os fazendeiros estabeleciam uma
começou a romper os laços que o prendiam à Inglaterra,
relação de produção mais racional. Nessa região, existiam
gerando, assim, enormes conflitos diplomáticos que quase
melhores remunerações pelo trabalho, seja sob a forma de
arrendamentos ou mediante os pagamentos em dinheiro culminaram em uma guerra. Entre as questões diplomáticas
pela formação da lavoura. existentes, merece destaque a pressão do governo inglês
para que o Brasil pusesse fim ao tráfico de escravos.
O estímulo à imigração também está associado ao projeto
A essa exigência, o Brasil não conseguiu resistir e teve de
de branqueamento do povo brasileiro, orientado por um
estabelecer novas legislações para atender aos interesses
pensamento europeu em um contexto de avanço imperialista,
que pressupunha a ideia de uma raça branca superior. Esse britânicos. Entretanto, os principais conflitos diplomáticos
pensamento era defendido por parcela da elite brasileira, vinculam-se às hostis manifestações do diplomata inglês
em contato com teorias como o evolucionismo social, que no Brasil, William Dougal Christie. Esses conflitos foram
lamentava a origem miscigenada de nossa sociedade. denominados historicamente como a Questão Christie.

76 Coleção Estudo
Grupos sociais em conflito no Brasil Império

Irritado com o roubo de uma carga de um navio chamado Em 1864, ocorreu novo conflito na região, envolvendo
Príncipe de Gales, que havia naufragado na costa brasileira, Uruguai, Argentina e Paraguai. Novamente o conflito estava
o embaixador exigiu que o governo brasileiro pagasse a associado aos problemas enfrentados pelos fazendeiros
quantia de 3 200 libras esterlinas para ressarcir o prejuízo
gaúchos e pelos membros do Partido Blanco, que realizavam
inglês. No meio de tal discussão, em 1862, alguns marinheiros
ações militares nas fazendas brasileiras. Nessa época,
ingleses, embriagados e trajados de civis, foram presos no Rio
de Janeiro por estarem promovendo arruaças. Mesmo sendo o Uruguai estava sob o controle do líder Blanco, Atanásio
soltos imediatamente, ao se verificar que eram militares, Cruz Aguirre, que agora detinha o apoio do Paraguai, liderado
o embaixador William Christie exigiu, além do pagamento da por Solano López. Mais uma vez, o Brasil invadiu o Uruguai,
carga do navio, que os soldados brasileiros que prenderam retirando Aguirre do poder e colocando o líder colorado,
os ingleses fossem encarcerados e que o governo brasileiro Venâncio Flores. O Paraguai, que nessa época era um país
fizesse um pedido formal de desculpas. Tal questão beirou fortalecido por sua política econômica e por uma considerável
a guerra, quando navios ingleses aprisionaram cinco
força militar, rompeu relações diplomáticas com o Brasil,
navios brasileiros no Rio de Janeiro. Para evitar o conflito,
devido à intervenção realizada no Uruguai. Era o prelúdio
D. Pedro II solicitou a mediação do rei da Bélgica, Leopoldo I.
Durante o processo, D. Pedro II pagou ao governo inglês a da Guerra do Paraguai.
carga do navio roubado. Em 1863, diante do parecer favorável
ao Brasil, e como o governo inglês se negou a pedir desculpas Política externa do Brasil – século XIX
oficiais pelo incidente, o imperador rompeu laços diplomáticos
com os ingleses, até que, em 1865, a Inglaterra, oficialmente, MATO GROSSO
Territórios perdidos
pelo Paraguai
pediu desculpas ao Brasil em virtude desse incidente.
PARAGUAI BRASIL
5

uai
Intervenções no sul Rio de Janeiro

arag
icórnio
Trópico de Capr
OCEANO

Rio P
ATLÂNTICO

raná

HISTÓRIA
Se o Brasil, em relação à Inglaterra, sofria consideráveis Assunção

Rio Pa
intervenções, sua postura em relação aos países do sul foi
1
idêntica. Porém, nesse caso, era o Brasil que se mostrava 2
Guerras
Data Adversários
raná

platinas
autoritário. Envolvido em disputas de fronteira, interessado
Rio Pa

1 Cisplatina 1825-1828 Brasil x Argentina, Uruguai


em garantir o controle da navegação nos rios da região e
Rio Uruguai

4
contra Brasil + “colorados” x
2
preocupado com o desenvolvimento de potências políticas ARGENTINA (Província da 3
Oribe
1850-1851
Argentina + “blancos”
Cisplatina entre
no sul que fizessem oposição ao Brasil, o governo imperial 1816-1828) 3
contra
Rosas
1852 Brasil x Argentina
URUGUAI
realizou intervenções militares nessa região, determinando, Buenos Aires Rio
da
Montevidéu 4
contra
Aguirre
1864-1865
Brasil x Argentina +
“colorados” x “blancos”
N Pra
de acordo com seus interesses, o funcionamento de sua
ta
Tríplice Aliança (Brasil,
0 300 km 5 do Paraguai 1864-1870 Argentina e Uruguai x
política. O Brasil chegou a realizar intervenções no Uruguai, Paraguai)

na Argentina e no Paraguai.

No caso do Uruguai, o Brasil, que havia anexado o território Guerra do Paraguai (1864-1870)
entre 1821 e 1828 (Província da Cisplatina), ainda influenciava
a política interna daquele país dividido em duas legendas Diferentemente dos demais países da América Latina,
partidárias: o Partido Blanco e o Partido Colorado. O primeiro o Paraguai constituiu suas atividades econômicas, desde
contava com a participação dos grandes proprietários de terra,
sua Independência, dentro de um sistema autossustentável.
sob a liderança de Manuel Oribe, com o apoio do presidente
Durante os governos de José Francia (1811-1840)
argentino, Juan Manuel Rosas, que desejava se unir ao
Uruguai e formar um poderoso país na região. Já o Partido e Carlos López (1840-1862), o país acabou com o
Colorado contava com o apoio dos comerciantes do Uruguai, analfabetismo, organizou fábricas, ferrovias, siderúrgicas
liderados por Frutuoso Rivera, que obtinha o auxílio explícito e redes de comunicação. Esse desenvolvimento estrutural
do Brasil e de José Urquiza, governador da província argentina foi complementado por uma política de organização
de Entre Rios e opositor de Manuel Rosas. militar promovida por Solano López a partir de 1862.
Paralelamente, os fazendeiros gaúchos entravam em conflito Com o objetivo de ampliar a área territorial do Paraguai,
na fronteira por disputas de terras com fazendeiros uruguaios o governo daquele país desejava anexar alguns territórios
ligados ao Partido Blanco. Com a vitória de Oribe nas eleições pertencentes ao Brasil, à Argentina e ao Uruguai.
uruguaias e com a intensificação dos conflitos entre fazendeiros, O objetivo principal era obter uma saída para o mar, visto
o imperador iniciou a intervenção no sul, de acordo com seus
que o Paraguai era um país isolado dentro da porção sul da
interesses. Em um mesmo movimento militar, o Exército
América. Nota-se que a postura paraguaia inseria-se em
brasileiro invadiu Montevidéu e Buenos Aires, capitais do
Uruguai e da Argentina, respectivamente, depondo os um cenário de fortes disputas fronteiriças no cone sul do
governantes Oribe e Rosas e substituindo-os por Rivera, continente, em que todas as nações envolvidas no conflito
no Uruguai, e Urquiza, na Argentina, entre 1851 e 1852. almejavam ganhos territoriais.

Editora Bernoulli
77
Frente B Módulo 15

Dessa forma, o governo paraguaio ordenou, em novembro


de 1864, o aprisionamento do navio brasileiro Marquês de Olinda,
FIM DO IMPÉRIO
no Rio Paraguai, retendo, entre seus passageiros e tripulantes, O fim do Império brasileiro esteve vinculado aos desgastes
o presidente da Província de Mato Grosso, Carneiro de Campos. vividos pelo imperador durante seu governo. A oposição ao
Após essa postura hostil, o governo brasileiro declarou guerra centralismo imperial foi orientada por um projeto republicano,
ao Paraguai. No início de 1865, continuando a ofensiva, ou seja, pela necessidade de substituir o sistema imperial
o governo paraguaio ordenou a invasão do norte da Argentina. por um regime que correspondesse à tendência da América:
Para realizar a resistência, Argentina, Uruguai e Brasil o presidencialismo e o federalismo. Assim, quatro questões
formaram a Tríplice Aliança contra Solano López. relevantes levaram à queda do Império:

Apesar de as primeiras vitórias da guerra terem sido


paraguaias, o país de Solano López não pôde resistir à
Questão abolicionista
combinação da Tríplice Aliança. As condições populacionais A política empreendida pelo governo imperial frente
do Paraguai e a localização geográfica do país acabaram ao problema da escravidão acabou por gerar adversários
impedindo a sua vitória. Além disso, a Tríplice Aliança contou políticos que podem ser divididos entre os que se opunham
com o apoio de empréstimos ingleses, já que a Inglaterra ao regime escravocrata e aqueles que o apoiavam.
desejava expandir a sua área de influência e via no conflito Entre os que discordavam do trabalho cativo no Brasil, nota-se
a possibilidade de acúmulo de capital. a oposição ao governo de D. Pedro II por considerá-lo omisso
quanto ao trato da questão escravocrata. Assim, a campanha
Mesmo com essas limitações, as tropas paraguaias
abolicionista, desenvolvida pela imprensa e por intelectuais em
resistiram durante aproximadamente 5 anos. O Exército núcleos urbanos, acabou por associar a luta contra a escravidão
brasileiro teve, durante a própria guerra, de se reorganizar ao projeto republicano, gerando assim a adesão, entre outros
para ser capaz de sair vitorioso. No ano de 1866, foi permitida setores, da maior parcela do Exército. Alguns fazendeiros
a presença de escravos no Exército, sendo prometido aos começaram a se empenhar para libertar os escravos e grupos
voluntários o direito à liberdade. Com o auxílio do barão de se organizavam para libertar os cativos, facilitando a fuga para
Caxias e, posteriormente, sob a liderança do conde D’Eu, os núcleos de resistência: os quilombos. Assim, na medida em
genro de D. Pedro II, o Brasil conseguiu sair vitorioso da que se desenvolvia a luta pela liberdade dos escravos, crescia
o desejo de se implantar a República no Brasil.
guerra. Na última batalha, conhecida como Campanha da
Cordilheira, o Exército brasileiro conseguiu matar Solano O ato de libertar os escravos representava, no jogo
López. Acredita-se que a guerra levou à morte cerca de 75% político do século XIX, uma tentativa da princesa Isabel de
da população paraguaia, sendo que aproximadamente 99% estabelecer um projeto de enfraquecimento daqueles que
da população masculina com mais de 20 anos foi massacrada. desejavam a República, visto que a monarquia se mostrou
moderna a ponto de conceder a libertação dos escravos.
Como consequência dessa desastrosa guerra, merece
Porém, quando o governo imperial se propôs à abolição da
destaque a destruição do Paraguai e a perda de parte de
escravatura, através da Lei Áurea, em 1888, a situação do
seu território, o endividamento do Brasil com a Inglaterra
governo se complicou ainda mais, visto que os fazendeiros
e o fortalecimento do Exército brasileiro, que, a partir da escravistas que apoiavam o Império começaram uma
Guerra do Paraguai, exerceu um grande papel político no oposição ao regime, já que não foram indenizados pela perda
Brasil, inclusive no Período Republicano. dos escravos. Esses fazendeiros optaram pela defesa do
movimento republicano, na esperança de serem ressarcidos
do prejuízo a que foram submetidos. Dessa forma, tanto
fazendeiros do Vale do Paraíba quanto do Oeste Paulista,
Outra visão... apesar de dotados de motivações distintas, atuaram no
A historiografia brasileira apresenta uma infinidade de enfraquecimento do regime monárquico.
justificativas estruturais para a Guerra do Paraguai. Uma
das vertentes construiu a imagem de um Paraguai potência, Questão religiosa
ameaçador dos interesses britânicos na América e exemplo
A questão religiosa representa o conflito entre Igreja
para as nações latino-americanas. Por isso, justifica-se a
Católica e o governo imperial. O atrito esteve ligado ao fato
guerra como uma articulação inglesa, visando a enfraquecer
de D. Pedro II ter a possibilidade, através de determinações
a única referência de desenvolvimento na região. Apesar constitucionais, de envolver-se com os assuntos da Igreja,
da simpatia inglesa pelo conflito, acreditar que a principal por meio do padroado e do beneplácito. O padroado
guerra da história da América do Sul foi motivada por determinava que D. Pedro II teria a prerrogativa de nomear
manipulação europeia seria uma redução simplista e bispos e controlar a Igreja Católica no Brasil, uma vez
maniqueísta das questões políticas que envolveram as que a Igreja estava a serviço do Estado. Já o beneplácito
recém-criadas nações do cone sul. determinava que qualquer ordem vinda de Roma deveria
ser aprovada por D. Pedro II.

78 Coleção Estudo
Grupos sociais em conflito no Brasil Império

A difícil ligação entre Exército e o imperador se agravou


com a prisão de dois oficiais que fizeram declarações públicas
contrárias ao regime. Defendendo os militares, Rui Barbosa
e Deodoro da Fonseca lançaram o Manifesto de 1887,
documento que defendia a honra militar, que estava em
jogo com as atitudes despóticas de D. Pedro II. Para evitar
o aumento da crise, o monarca anistiou os oficiais presos.

Reprodução / O mosquito
Essa atitude mostrou a fraqueza do Império e a força dos
militares, que começaram a se empenhar, cada vez mais,
na defesa do republicanismo.

Charge satirizando a questão religiosa: o papa repreende o Questão republicana


imperador. Publicado no Periódico O Mosquito, 1878.
O ideal republicano no Brasil já havia manifestado
No ano de 1864, o papa Pio IX determinou que a Igreja
sinais desde o Período Colonial através de revoltas como
deveria proibir a presença de maçons entre seus seguidores.
a Inconfidência Mineira e a Inconfidência Baiana, defensoras
Como o Império brasileiro sempre esteve ligado à maçonaria,
sendo o próprio D. Pedro II um maçom, o imperador exigiu desse projeto político. Durante o Período Regencial, surgiram
que a ordem do papa não fosse acatada no Brasil. Porém, outras revoltas republicanas. Na segunda metade do
os bispos de Olinda, D. Vidal de Oliveira, e de Belém, século  XIX, o movimento voltou a crescer, principalmente
D. Antônio de Macedo, não aceitaram as ordens de D. Pedro II, entre os militares e na imprensa. Entre as décadas de 70 e 80
mantendo-se fiéis à ordem papal. A reação do monarca do século XIX, São Paulo ocupava posição de progressiva
não se fez esperar: os bispos foram presos e condenados relevância na economia nacional, por conta da produção

HISTÓRIA
a trabalhos forçados, sendo anistiados meses depois. cafeeira do Oeste Paulista, acarretando a intensificação do
O episódio levou a um mal-estar entre Igreja e Império, poder econômico. A representação política, todavia, não
enfraquecendo a forte aliança entre as duas instituições e
era proporcional à tal expansão, apontando para profundo
impedindo que a Igreja socorresse o imperador caso o seu
descontentamento com a excessiva centralização política do
poder fosse ameaçado.
Segundo Reinado. O Manifesto Republicano, publicado
em 1870, foi organizado por membros dissidentes do Partido
Questão militar Liberal, que, em 1873, formaram o Partido Republicano.
Desde as primeiras décadas pós-Independência, o Exército Este contou com o apoio dos agricultores de café da região
brasileiro não exercia participação política. Mostrando-se do  Oeste Paulista e de setores urbanos. Liderando os
uma instituição fraca frente à força imperial, o Exército opositores ao regime imperial, estavam civis, como Quintino
cumpria a função de assegurar a paz nacional sem se Bocaiuva, Saldanha Marinho, Rui Barbosa, Silva Jardim,
preocupar com as questões que envolviam os princípios e  ilitares, como Benjamim Constant e Floriano Peixoto. Todos
administrativos do Brasil. Esse quadro mudou a partir da eles pertenciam à alta hierarquia maçônica, o que corrobora
Guerra do Paraguai, quando o Exército brasileiro passou
a estreita ligação entre as lojas maçônicas e os centros de
a exercer uma maior influência nas atividades políticas
discussão da causa republicana, unificando-a ideologicamente
brasileiras. Essa mudança se efetuou por vários motivos,
e fortalecendo-a no que se refere à articulação de um projeto
entre os quais se destacam a importância do Exército para
político comum à elite cafeicultora.
a vitória brasileira, a reorganização da instituição e o fato de
que, nas repúblicas do sul, as Forças Armadas detinham uma O movimento republicano brasileiro teve uma forte
considerável influência política. A instituição militar passou influência do pensamento positivista de Auguste Comte
por profundas transformações, entre elas a de ter o controle
(1798-1857). A ideia de progresso defendida por esse
ocupado paulatinamente por brasileiros, bem como leis que
pensador acabou por ser a orientação estabelecida pelo
estabeleceram normas de promoção por antiguidade, mérito
grupo de militares que estavam dispostos a derrubar a
e profissionalização dos oficiais, sem, contudo, incorporar
melhorias financeiras. Esse processo fez com que os militares monarquia. Além do positivismo, o movimento republicano
se afastassem dos altos cargos políticos, perdendo terreno brasileiro, através da elite cafeeira, apresentou o
para os juristas. Para obterem uma maior participação federalismo como uma tendência marcante, ou seja,
nos quadros políticos do país, os militares optaram por o desejo de se constituir uma autonomia autêntica nos
apoiar a causa republicana. Assim, buscando um papel de núcleos regionais do Brasil, que futuramente seriam
protagonismo na vida política brasileira, alguns militares representados pelos estados brasileiros. Cabe destacar
começaram a fazer críticas públicas ao sistema imperial, que o movimento republicano não chegou a mobilizar as
gerando um cenário de conflito com o governo. massas populares.

Editora Bernoulli
79
Frente B Módulo 15

Positivismo Assim, Deodoro proclamou a República em 15 de


novembro de 1889, informando a D. Pedro II que ele
Desenvolvido pelo filósofo francês Auguste Comte deveria se retirar do Brasil. Este, não conseguindo reagir à
(1798-1857), o positivismo representa um conjunto de força dos opositores, abandonou o Brasil e se refugiou na
postulados filosóficos que, em linhas gerais, foi estruturado França. Estava implantada, através de um golpe militar,
na crença inabalável na ciência e no primado da razão. a República no Brasil.
O apogeu de sua influência ocorreu na segunda metade
Novamente, o Brasil passava por uma transição sem
do século XIX, em meio a Segunda Revolução Industrial
a participação popular. Os republicanos se mostraram
e às críticas aos modelos políticos tradicionais vigentes no
reformistas, mas não revolucionários, permanecendo, assim,
Antigo Regime, sendo defendida a República como sistema
a estrutura social vigente.
capaz de superar as amarras tradicionais que ainda inibiam
o homem de continuar sua trajetória de evolução. O modelo
republicano positivista pode ser caracterizado por seu
traço centralizador, chegando-se a afirmar uma “ditadura LEITURA COMPLEMENTAR
republicana”. As ideias de Comte serviram como inspiração
Lei de Terras
aos combatentes da monarquia brasileira, que, aos olhos dos
A Lei nº 601 do Império do Brasil, conhecida como Lei de
positivistas, era compreendida como responsável pelo atraso
Terras, foi sancionada em 18 de setembro de 1850, 14 dias após
da nação, e, portanto, injustificada e incapaz de modenizar a aprovação da lei da abolição do tráfico atlântico de escravos.
o país. O apoio ao movimento positivista mostrou-se mais Determinou que as terras devolutas do país não poderiam ser
intenso nas academias militares, médicas, de engenharia ocupadas por qualquer outro título que não o de compra ao Estado
e de Direito. em hasta pública, garantindo, porém, os direitos dos ocupantes de
terra por posse mansa e pacífica e dos possuidores de sesmarias
com empreendimentos agrícolas instalados até aquela data. Previa
O GOLPE REPUBLICANO ainda a criação de uma Repartição Geral de Terras Públicas.
[...]
Os analistas são unânimes em considerar as limitações da
aplicação da lei de 1850, embora a considerem um marco na história
da propriedade privada da terra no Brasil, e na sua transformação
em mercadoria. José Murilo de Carvalho fala em “veto dos barões”
à efetiva separação das terras públicas e privadas.”
VAINFAS, Ronaldo. Dicionário do Brasil Imperial.
Rio de Janeiro: Objetiva, 2000.

1870 – O Manifesto Republicano

Aos Nossos Concidadãos


Fortalecidos, pois, pelo nosso direito e pela nossa consciência,
apresentamo-nos perante os nossos concidadãos, arvorando
resolutamente a bandeira do partido republicano federativo.
Somos da América e queremos ser americanos.
A nossa forma de governo é, em sua essência e em sua
D. Pedro II e o Golpe Republicano
prática, antinômica e hostil ao direito e aos interesses dos
No final de 1888, D. Pedro II nomeou para primeiro- Estados americanos.

ministro Afonso Celso Figueiredo, com a intenção que este A permanência dessa forma tem de ser forçosamente, além da

pudesse estabelecer reformas que aproximassem o Brasil origem da opressão no interior, a fonte perpétua da hostilidade
e das guerras com os povos que nos rodeiam.
do projeto republicano. Entretanto, o Parlamento brasileiro
Perante a Europa, passamos por ser uma democracia
negou a aprovação das mudanças propostas, o que gerou
monárquica que não inspira simpatia nem provoca adesões.
uma crise que durou meses. Os republicanos aproveitaram
Perante a América, passamos por ser uma democracia
a instabilidade para divulgar um boato de que D. Pedro II monarquizada, em que o instinto e a força do povo não podem
realizaria uma repressão contra os militares que fossem a preponderar ante o arbítrio e a onipotência do soberano.
favor da República. No dia 14 de novembro de 1889, alguns Em tais condições, pode o Brasil considerar-se um país
agrupamentos rebeldes estacionaram suas tropas em São isolado, não só no seio da América, mas no seio do mundo.
Cristóvão, no Rio de Janeiro. Deodoro da Fonseca, militar O nosso esforço dirige-se a suprimir este estado de cousas,

experiente, foi convencido pelos republicanos de que ele pondo-nos em contacto fraternal com todos os povos e em
solidariedade democrática com o continente que fazemos parte.
representaria melhor o grupo de insatisfeitos contra o regime.

80 Coleção Estudo
Grupos sociais em conflito no Brasil Império

D) alguns integrantes da elite dominante passaram a


O povo e a proclamação da República
compreender a escravidão como um problema que
O golpe do quartel-general fora uma surpresa, não diremos já dificultava o progresso nacional, já que a sua manutenção
para a Nação em geral, mas mesmo para a cidade em geral. Dos desestimulava novos empreendimentos econômicos.
habitantes desta grande Capital, ninguém esperava por aquilo, E) as elites dirigentes do Brasil estavam convencidas
ninguém sabia o que aquilo era, ninguém compreendia aquilo. de que a abolição da escravidão ocorreria mais cedo
O povo assistiu àquilo bestializado, atônico, surpreso, sem ou mais tarde e era necessário, portanto, substituir
conhecer o que significava – disse Aristides Lobo, um dos principais o escravo pelo trabalhador livre.
corresponsáveis daquele acontecimento. Muitos acreditavam
sinceramente estar vendo uma parada. Era um fenômeno digno de 02. (UFMG) Considerando-se os fatos relacionados à Guerra
ver-se. O entusiasmo veio depois, quebrando o enleio dos espíritos. do Paraguai (1864-1870), é CORRETO afirmar que

Este entusiasmo, de que falava Aristides Lobo, não foi, porém, A) a Tríplice Aliança agiu sob a ingerência dos Estados
o entusiasmo do povo – e sim o entusiasmo da pequena minora Unidos, que pretendiam, após o término da Guerra
republicana. O povo, o nosso povo, mostrou-se, como sempre, Civil, ampliar o comércio de seus produtos nos países
indiferente às formas de governo: aceitou a República, como já da Região Platina.
havia aceitado a Monarquia, como aceitaria, amanhã, o regime B) o Brasil e a Argentina romperam a aliança durante
bolchevista ou o fascismo italiano. essa guerra, o que possibilitou não só o fortalecimento
militar e político paraguaio, mas também o
VIANNA, Oliveira. O ocaso do Império. 4. ed. Recife: FUNDAJ
retardamento do final do conflito.
Edit. Massangana, 1990. p. 161-162.
C) o Brasil entrou nessa guerra motivado por interesses
relacionados à definição das fronteiras e à garantia
de livre navegação pelo Rio Paraguai, principal via de

EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO acesso ao Mato Grosso.


D) o Exército brasileiro, apesar da vitória, se enfraqueceu
após essa guerra, em razão do elevado número de
baixas e das dificuldades políticas e militares em
01. (UFPR–2008) A introdução de novos africanos no Brasil não colocar um ponto final no conflito.

HISTÓRIA
aumenta a nossa população e só serve de obstar a nossa
indústria. Apesar de entrarem no Brasil perto de quarenta 03. (UFMG) Leia este trecho de documento:
mil escravos anualmente, o aumento desta classe é nulo, Pela presente, por um de nós escrita e por ambos assinada,
ou de muito pouca monta: quase tudo morre ou de miséria declaramos que, desejando comemorar por um ato digno da
ou de desesperação, e todavia custaram imensos cabedais. religião de Cristo, o redentor, e de humanidade, o aniversário
[...] Os senhores que possuem escravos vivem, em que hoje celebramos, e atendendo aos serviços que já
grandíssima parte, na inércia, pois não se vêem, precisados tem nos prestado o pardo Sabino, nosso escravo, temos
pela fome ou pobreza, a aperfeiçoar sua indústria ou de comum acordo e de muita nossa livre e espontânea
melhorar sua lavoura. [...] Ainda quando os estrangeiros vontade, resolvido conferir ao mesmo, como conferimos,
pobres venham estabelecer-se no país, em pouco tempo a sua liberdade, podendo conduzir-se como se de ventre
deixam de trabalhar na terra com seus próprios braços e, livre fosse nascido: com a cláusula porém de continuar a
logo que podem ter dois ou três escravos, entregam-se à servir-nos, ou a pessoa por qualquer de nós designada, ainda
por espaço de cinco anos a partir desta data.
vadiação e desleixo.
ANDRADA E SILVA, José Bonifácio de. Representação à REGISTRO de uma carta de liberdade conferida, em 1866,
Assembleia Geral Constituinte e Legislativa do Império do Brasil pelo Dr. Agostinho Marques Perdigão Malheiro e sua mulher
sobre a Escravatura, de 1823. In: DOLHNIKOF, Miriam. ao pardo Sabino. Citado por CHALHOUB, Sidney. Visões da
liberdade. São Paulo: Companhia das Letras, 1990. p. 140.
José Bonifácio de Andrada e Silva: Projetos para o Brasil.
São Paulo: Companhia das Letras, 1998. p. 56-57. Com relação à conjuntura histórica em que foi abolida a
escravidão e com base nas informações contidas nesse
Com base no texto e nos conhecimentos sobre o
trecho, é CORRETO afirmar que
abolicionismo no Brasil, é CORRETO afirmar que, nas
duas primeiras décadas do século XIX, A) a extinção da escravidão se deu de forma abrupta,
sendo que as elites abolicionistas optaram por uma
A) o movimento abolicionista consolidava uma articulação estratégia radical de enfrentamento com a Coroa,
de partidos políticos em prol da libertação dos africanos o que causou grandes traumas sociais.
e da sua inserção na sociedade brasileira como B) as soluções encontradas para o problema da
trabalhadores livres para a agricultura e para a indústria. escravidão não escaparam ao controle político da
B) as elites dirigentes estavam plenamente convencidas da Igreja Católica, que acabou impondo aos fiéis da elite
necessidade da abolição do tráfico negreiro para defender uma teoria particular do abolicionismo.
o sistema escravista das pressões empreendidas pelo C) o debate sobre a abolição trouxe à tona as
movimento humanitário internacional. ambiguidades das atitudes políticas de uma parte
da elite brasileira, que julgava o ato de emancipação
C) alguns setores sociais pretendiam promover
uma benesse, pela qual o ex-escravo deveria pagar.
o progresso econômico do Brasil com base na
D) os problemas ligados à escravidão se atenuaram
indústria e viam os negros como obstáculo a esse
ao longo do século XIX, quando o crescimento das
desenvolvimento, na medida em que eles não tinham revoltas escravas suprimiu conflitos entre os negros
qualquer aptidão para o trabalho naquele setor. e as elites rurais.

Editora Bernoulli
81
Frente B Módulo 15

04. (UFMG–2006) Analise esta charge: C) o aumento do fluxo de imigrantes para o Brasil
determinou a limitação da população livre.
D) a população total brasileira apresenta uma redução
no ritmo de seu crescimento a partir de 1872.
E) a Lei dos Sexagenários de 1885 foi a principal
responsável pela queda no contingente de escravos
no Brasil.

EXERCÍCIOS PROPOSTOS
01. (UNESP–2010) A expansão da economia do café para
o Oeste Paulista, na segunda metade do século XIX,
e a grande imigração para a lavoura de café trouxeram
modificações na história do Brasil como
Ângelo Agostini

A) o fortalecimento da economia de subsistência e a


manutenção da escravidão.
B) a diversificação econômica e o avanço do processo

Na bandeira, lê-se: “Abaixo a Monarquia abolicionista! Viva a de urbanização.

República com indenização!” C) a divisão dos latifúndios no Vale do Paraíba e a crise


da economia paulista.
Considerando-se as informações dessa charge, D) o fim da república oligárquica e o crescimento do
é CORRETO afirmar que, nela, se faz referência movimento camponês.

A) à intensa mobilização das camadas populares a favor E) a adoção do sufrágio universal nas eleições federais

de uma transição da monarquia para a República. e a centralização do poder.

B) à adesão de muitos fazendeiros escravocratas à


02. (UFMG–2010) Analise estas duas imagens.
República, logo após a abolição da escravatura.

C) aos movimentos republicano e abolicionista no Brasil,


que se fortaleceram desde a década de 1870.

D) à decidida opção do regime monárquico pela abolição


da escravatura, apesar da oposição republicana.

05. (PUC Minas)

% da
População População População População
Anos
livre escrava total escrava sobre
a total
Relacionando-se essas imagens à crise da ordem imperial
1850 5 520 000 2 500 000 8 020 000 31%
brasileira, é CORRETO afirmar que elas expressam
1872 8 449 672 1 510 806 9 930 478 15% A) a força dos ideais contrários à abolição da escravidão
e à república, que retardou a crise da ordem imperial
1887 13 278 816 723 419 14 002 235 5%
brasileira após a Guerra do Paraguai.

Com base nos dados disponíveis anteriormente, acerca da B) a fusão dos ideais monárquicos e republicanos, o que

composição da população brasileira na segunda metade ajudou a acelerar a abolição da escravidão no final do
século XIX.
do século XIX, é CORRETO concluir que
C) o militarismo predominante no Império do Brasil,
A) às vésperas da promulgação da Lei Áurea, a população
indicado pela presença marcante dos militares –
cativa encontrava-se drasticamente reduzida.
inclusive o próprio imperador – no poder.
B) o crescimento vegetativo apresentado pela população D) os efeitos da Guerra do Paraguai sobre a ordem
escrava garantiu o abastecimento constante de imperial e a crescente influência do republicanismo
mão de obra. no cenário político brasileiro.

82 Coleção Estudo
Grupos sociais em conflito no Brasil Império

03. (FGV-SP–2007) A Lei de Terras, aprovada em 1850, duas Considere os mapas anteriores e seus conhecimentos
semanas após a proibição do tráfico de escravos, tentou pôr para analisar as frases:
ordem na confusão existente em matéria de propriedade I. As maiores populações de escravos do Império, naquele
rural, determinando que, no futuro, as terras públicas fossem período, estavam concentradas principalmente em
vendidas e não doadas, como acontecera com as antigas
províncias do atual Sudeste brasileiro, onde, na época,
sesmarias, estabeleceu normas para legalizar a posse de
se desenvolvia, de forma acelerada, a cultura do café.
terras e procurou forçar o registro das propriedades.
II. A grande parte dos índios aldeados do Império,
FAUSTO, Boris. História do Brasil, 1994.
relativamente à população de escravos, distribuía-se
Sobre a Lei de Terras, é CORRETO afirmar que por territórios que hoje correspondem às regiões
A) sua promulgação coincidiu com a Lei Eusébio de Norte e Centro-Oeste, onde trabalhavam na extração
Queirós, mas não há nenhuma relação de causalidade da borracha e em atividades mineradoras.
entre ambas. III. A baixa porcentagem de escravos, vivendo nas
B) ao entrar em vigor, não foi respeitada, podendo ser províncias da porção nordeste da atual região
considerada mais uma “lei para inglês ver”. Nordeste do país, é indicativa do pouco dinamismo
C) sua promulgação foi concebida como uma forma de econômico dessa sub-região, naquele período.
evitar o acesso à propriedade da terra por parte de
Está CORRETO o que se afirma apenas em
futuros imigrantes.
D) sua aprovação naquele momento decorreu de os A) I.
Estados Unidos terem acabado de aprovar uma lei
B) I e II.
de terras para o seu território.
C) I e III.
E) ao entrar em vigor, teve efeito contrário ao de sua intenção
original, que era a de facilitar o acesso à propriedade. D) II e III.

HISTÓRIA
E) III.
04. (FUVEST-SP–2008) Em 1872, foi realizado o primeiro
recenseamento do Império. Baseado nos dados desse
censo, o mapa 1 apresenta a distribuição de escravos 05. (UEPB) Assinale a alternativa que contém uma ou mais
nas províncias brasileiras em relação à população total. causas que NÃO contribuíram para o processo que pôs
O mapa 2 mostra a porcentagem de índios aldeados em fim ao Império brasileiro.
relação ao total de escravos nessas mesmas províncias A) Movimento abolicionista, mentalidade positivista,
e nesse mesmo ano. lançamento do Manifesto Republicano.

B) Movimento republicano, atritos do governo imperial


Mapa 1
com a Igreja, luta contra a monarquia.
Porcentagem de escravos
sobre a população total C) Insatisfações do Exército, formação de partidos
Até 6% republicanos, trabalho assalariado.
De 6% a 10% D) Abolição da escravidão, conflitos interoligárquicos,
De 10% a 12%
aliança entre Exército e cafeicultores.
De 12% a 16%
De 16% a 25% E) Aliança do Exército com o imperador, processo de
De 25% a 33% imigração, pensamento liberal.
Não considerado

06. (PUCPR–2008) A abolição da escravatura no Brasil, sem


uma política de inserção social daqueles trabalhadores,
Mapa 2
trouxe uma imensa marginalização social dos
Porcentagem de índios
aldeados sobre afrodescendentes. Afinal, havia uma nova ordem social
total de escravos na qual a referência pelos imigrantes gerou a exclusão
Até 10% do negro do mercado de trabalho, levando-o à miséria e
De 10% a 20% a um tratamento diferenciado. Essa assimetria social –
De 20% a 40% sustentada e reforçada pelo racismo científico do séc. XIX –
De 40% a 100%
gerou uma situação lastimável: negros ainda eram
De 100% a 400%
Mais de 400% oprimidos pelas idéias escravocratas que pareciam não
ter realmente desaparecido do contexto.

KOSSLING, Karin Sant’Anna. Da liberdade à exclusão.


História da vida privada no Brasil Império. Vol.2 São Paulo.
Companhia das Letras, 1997. Desvendando a História. Ano 2, n. 10, p. 39 (Adaptação).

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83
Frente B Módulo 15

De acordo com o texto: 09. (UFPel-RS–2007)


I. A abolição da escravatura em 1888 pela princesa
Isabel resolveu a questão de três séculos de População de escravos e imigrantes em São Paulo
exploração, maus tratos e sofrimentos. A lei restituiu

Milhares
aos afrodescendentes a dignidade e o direito à 180
cidadania.
160
II. A Lei Áurea emancipou os negros da escravidão sem,
contudo, lhes oferecer possibilidades reais e dignas 140
de participação no mercado de trabalho. 120

174 662

169 964
III. Os afrodescendentes foram levados a exercer um 100

156 612
papel subalterno na sociedade, levando-os à miséria.

128 000
80

107 829
106 685
IV. A preferência pelos imigrantes reforçou a tese da 60

16 387
15 309
igualdade racial tão propagada no século XIX.

11 054

12 477
11 174
10 484
40
Estão CORRETAS
20
A) I e IV. C) II e IV. E) I e III.
00
B) II e III. D) III e IV. 1872 1873 1874 1875 1876 1877

07. (PUC-SP–2006) O Segundo Império brasileiro (1840-1889) Escravos Imigrantes


realizou várias expedições na região do Prata. Entre os
motivos dessas ações, podemos destacar O gráfico está diretamente relacionado
A) o esforço brasileiro de diminuir a influência inglesa na A) à estabilidade do sistema escravista e à emigração
região e assegurar o controle estratégico do comércio europeia no século XIX, quando iniciou a
e da exploração mineral no Prata.
industrialização paulista.
B) a tentativa de impedir que a Argentina, logo após a
B) à crise do escravismo e à imigração europeia
Independência, ampliasse seus domínios territoriais
para o Brasil, em período de desenvolvimento da
e anexasse parte do sul do Brasil.
cafeicultura.
C) o projeto do imperador brasileiro de estabelecer
hegemonia militar e naval do Brasil nas Américas, C) ao ciclo da mineração, quando escravos e imigrantes
rivalizando com os Estados Unidos. formaram o principal contingente de mão de obra.

D) a reação ao acelerado crescimento econômico do D) ao processo de transição do escravismo colonial


Paraguai e à tentativa de seu presidente de construir brasileiro para o trabalho assalariado durante o
o primeiro Estado socialista de toda a América. Primeiro Reinado.
E) a intenção brasileira de ampliar sua influência E) à necessidade de manutenção de uma força de
política e comercial na região platina, expressa nas trabalho em torno de 150 mil pessoas no processo de
intervenções no Uruguai, na Argentina e no Paraguai. industrialização paulista, durante o Período Regencial.

08. (PUC-SP–2007) Muitos europeus emigraram para o Brasil


10. (UFPI–2007) Assinale a alternativa CORRETA sobre
e para os países da América Hispânica da metade do
as ideologias políticas que inspiraram os grupos que
século XIX em diante. Esses fluxos de imigração
defenderam o fim da monarquia e a implantação da
A) variaram conforme sua procedência, seus motivos República no Brasil.
e destinos, e em certos casos foram provocados
por perseguições políticas nos países de origem A) O positivismo atraiu fortemente vários grupos
(sobretudo de anarquistas e socialistas). militares, que defendiam a necessidade de um Poder
Executivo forte.
B) ofereceram uma alternativa para a substituição da
mão de obra escrava, em declínio em toda a América B) Os vários grupos envolvidos não aderiram a nenhuma
Latina desde que a Espanha impôs leis de proibição ideologia em particular, pois suas ações eram
do tráfico de africanos pelo Atlântico. motivadas apenas por interesses econômicos.
C) impediram a formação de identidades nacionais, uma vez C) Os grandes fazendeiros de café, particularmente os
que provocaram mudanças profundas na formação de São Paulo, opunham-se à ideologia liberal, bem
étnica e cultural dos países latino-americanos
como ao federalismo e à autonomia das províncias.
(principalmente no Brasil e na Argentina).
D) O chamado jacobinismo, em virtude da inspiração na
D) iniciaram a industrialização e a agricultura no Brasil
Revolução Francesa, foi a ideologia básica de todos
e na América Hispânica, pois os imigrantes, em sua
maioria, traziam capitais e conhecimento tecnológico os grupos republicanos, que defendiam uma real
adequados à renovação econômica. democratização do país.

E) foram ocasionais e descontrolados, e, na maior parte dos E) A proposta dos setores médios urbanos, como o de
casos, revelavam as más condições sociais e econômicas professores e jornalistas, era a de um republicanismo
dos países de origem e o fascínio pela oportunidade de conservador, capaz de manter intocada a rígida
obter terras para produção de subsistência. hierarquia social brasileira.

84 Coleção Estudo
Grupos sociais em conflito no Brasil Império

11. (UFRGS) Observe a gravura a seguir: 13. (Unicamp-SP–2011) O primeiro recenseamento geral do
Império foi realizado em 1872. Nos recenseamentos parciais
anteriores, não se perguntava sobre a cor da população.
O censo de 1872, ao inserir essa informação, indica uma
mudança, orientada por um entendimento do conceito de
raça que ancorava a cor em um suporte pretensamente mais
rígido. Com a crise da escravidão e do regime monárquico,
que levou ao enfraquecimento dos pilares da distinção
social, a cor e a raça tornavam-se necessárias.
LIMA, Ivana Stolze. Cores, marcas e falas:
sentidos da mestiçagem no Império do Brasil.
Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 2003. p. 109, 121.
A charge faz referência à chamada “questão religiosa”,
A partir do enunciado, podemos concluir que há um uso
ocorrida durante o Segundo Reinado. Essa disputa entre político na maneira de classificar a população, já que
o Estado imperial e a Igreja Católica aconteceu devido à
A) o conceito de raça permitia classificar a população a partir
A) rejeição, pelo governo, dos dispositivos da bula de um critério mais objetivo do que a cor, garantindo mais
Syllabus baixada pelo papa Pio IX, que proibia a exatidão nas informações, o que era necessário em um
permanência de membros da maçonaria dentro dos momento de transição para um novo regime.
quadros da Igreja. B) no final do Império, o enfraquecimento dos pilares da
B) adesão do governo de Dom Pedro I aos tratados de distinção social era causado pelo fim da escravidão.
livre-comércio de escravos, o que era condenado pela Nesse contexto, ao perguntar sobre a raça da
Santa Sé, com base em argumentos de cunho moral. população, o censo permitiria a elaboração de políticas
públicas visando à inclusão social dos ex-escravos.
C) rejeição da encíclica Rerum Novarum, baixada
pelo papa Leão XIII, que defendia a coexistência C) a introdução do conceito de raça no censo devia-se
a uma concepção, cada vez mais difundida após
harmoniosa do capital e do trabalho, no sentido de

HISTÓRIA
1870, que propunha a organização e o governo da
evitar a luta de classes.
sociedade a partir de critérios objetivos e científicos,
D) adesão do governo imperial aos ditames do Tratado de o que levaria a uma maior igualdade social.
Latrão, que limitava os poderes da Igreja expressos D) no final do Império, a associação entre a cor da pele e
na instituição do padroado. o conceito de raça criava um novo critério de exclusão
E) recusa do governo de Dom Pedro II em aceitar as social, capaz de substituir as formas de distinção que
manobras parlamentares dos deputados católicos, eram próprias da sociedade escravista e monárquica
visando à extinção do direito do padroado. em crise.

12. (UFTM-MG–2011) Leia o trecho, retirado do primeiro 14. (PUC Rio–2008) A capa da Revista Ilustrada do ano de
número do jornal A Redenção, de 2 de janeiro de 1887: 1880 apresenta a ilustração de Ângelo Agostini intitulada
“Emancipação: uma nuvem que não para de crescer”.
[...] o título do nosso jornal já indica nossa missão na
imprensa
[...] Nós queremos a libertação imediata [dos escravos]
[...] A escravidão é um cancro que corrói o Brasil,
o paliativo da Lei Saraiva Cotegipe prolonga a enfermidade.
Contamos com o povo e nada mais.
Apud SCHWARCZ, Lilia M. Retrato em branco e preto, 1987.

O excerto expressa
A) a concordância com os conservadores, que
incentivavam a adoção de leis favoráveis à libertação
dos escravos.
B) o desejo dos proprietários de engenhos do Nordeste,
que não possuíam mais escravos e necessitavam de
imigrantes livres.
C) a posição dos grupos abolicionistas, que defendiam
o fim do regime, sem indenização ou compensações
para os escravocratas.
A) EXPLIQUE por que a “nuvem da emancipação” não
D) a concepção republicana, que pregava o fim da parava de crescer naquela conjuntura.
monarquia e o estabelecimento da igualdade entre
B) Com base na ilustração e nos seus conhecimentos,
brancos e negros.
IDENTIFIQUE dois argumentos utilizados por uma
E) a opinião dos social-democratas, que se apoiaram na parcela dos proprietários de escravos para se oporem
família imperial para impor os seus ideais abolicionistas. ao crescimento da “nuvem da emancipação.”

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85
Frente B Módulo 15

SEÇÃO ENEM 03. (Enem–2008) O abolicionista Joaquim Nabuco fez um


resumo dos fatores que levaram à abolição da escravatura
com as seguintes palavras:
01. (Enem–2007) Cinco ações ou concursos diferentes cooperaram para o
resultado final: 1.º) o espírito daqueles que criavam a
Abolição da escravatura opinião pela idéia, pela palavra, pelo sentimento, e que
1850 1871 1885 1888 a faziam valer por meio do Parlamento, dos meetings
[reuniões públicas], da imprensa, do ensino superior,
Lei Eusébio de Queirós

do púlpito, dos tribunais; 2.º) a ação coercitiva dos que

(abolição da escravatura)
(liberdade para os filhos
(fim do tráfico negreiro)

se propunham a destruir materialmente o formidável


Lei do Ventre Livre

de escravos nascidos
a partir dessa data)

aparelho da escravidão, arrebatando os escravos ao

(liberdade para os
escravos maiores
Sexagenários poder dos senhores; 3.º) a ação complementar dos
próprios proprietários, que, à medida que o movimento se
de 60 anos)

Lei Áurea
precipitava, iam libertando em massa as suas ‘fábricas’; 4.º)
Lei dos

a ação política dos estadistas, representando as


concessões do governo; 5.º) a ação da família imperial.
Considerando a linha do tempo anterior e o processo NABUCO, Joaquim. Minha formação. São Paulo:
de abolição da escravatura no Brasil, assinale a opção Martin Claret, 2005. p. 144 (Adaptação).
correta.
Nesse texto, Joaquim Nabuco afirma que a abolição da
A) O processo abolicionista foi rápido porque recebeu a escravatura foi o resultado de uma luta
adesão de todas as correntes políticas do país. A) de ideias, associada a ações contra a organização
B) O primeiro passo para a abolição da escravatura foi a escravista, com o auxílio de proprietários que
proibição do uso dos serviços das crianças nascidas libertavam seus escravos, de estadistas e da ação da
em cativeiro. família imperial.

C) Antes que a compra de escravos no exterior fosse B) de classes, associada a ações contra a organização
proibida, decidiu-se pela libertação dos cativos escravista, que foi seguida pela ajuda de proprietários
mais velhos. que substituíam os escravos por assalariados, o que
provocou a adesão de estadistas e, posteriormente,
D) Assinada pela princesa Isabel, a Lei Áurea concluiu o ações republicanas.
processo abolicionista, tornando ilegal a escravidão
C) partidária, associada a ações contra a organização
no Brasil.
escravista, com o auxílio de proprietários que
E) Ao abolir o tráfico negreiro, a Lei Eusébio de Queirós mudavam seu foco de investimento e da ação da
bloqueou a formulação de novas leis antiescravidão família imperial.
no Brasil.
D) política, associada a ações contra a organização
escravista, sabotada por proprietários que buscavam
02. (Enem–2000) O texto a seguir foi extraído de uma
manter o escravismo, por estadistas e pela ação
crônica de Machado de Assis e refere-se ao trabalho de republicana contra a realeza.
um escravo.
E) religiosa, associada a ações contra a organização
Um dia começou a Guerra do Paraguai e durou cinco anos, escravista, que fora apoiada por proprietários que
João repicava e dobrava, dobrava e repicava pelos mortos haviam substituído os seus escravos por imigrantes,
e pelas vitórias. Quando se decretou o ventre livre dos o que resultou na adesão de estadistas republicanos
escravos, João é que repicou. Quando se fez a abolição na luta contra a realeza.
completa, quem repicou foi João. Um dia proclamou-se
a República. João repicou por ela, repicara pelo Império, 04. (Enem–2010) Substitui-se então uma história crítica,
se o Império retornasse. profunda, por uma crônica de detalhes onde o patriotismo
MACHADO, Assis de. “Crônica sobre a morte e a bravura dos nossos soldados encobrem a vilania dos
do escravo João”, 1897. motivos que levaram a Inglaterra a armar brasileiros e
argentinos para a destruição da mais gloriosa república
A leitura do texto permite afirmar que o sineiro João que já se viu na América Latina, a do Paraguai.
A) por ser escravo, tocava os sinos, às escondidas,
CHIAVENATTO, J. J. Genocídio americano: A Guerra do Paraguai.
quando ocorriam fatos ligados à abolição.
São Paulo: Brasiliense, 1979 (Adaptação).
B) não poderia tocar os sinos pelo retorno do Império,
visto que era escravo. O imperialismo inglês, “destruindo o Paraguai, mantém o
status quo na América Meridional, impedindo a ascensão
C) tocou os sinos pela República, proclamada pelos
do seu único Estado economicamente livre”. Essa teoria
abolicionistas que vieram libertá-lo. conspiratória vai contra a realidade dos fatos e não tem
D) tocava os sinos quando ocorriam fatos marcantes provas documentais. Contudo, essa teoria tem alguma
porque era costume fazê-lo. repercussão.
E) tocou os sinos pelo retorno do Império, comemorando DORATIOTO. F. Maldita guerra: nova história da Guerra do
a volta da princesa Isabel. Paraguai. São Paulo: Cia. das Letras, 2002 (Adaptação).

86 Coleção Estudo
Grupos sociais em conflito no Brasil Império

Uma leitura dessas narrativas divergentes demonstra que C) no “branqueamento” da população, para afastar
ambas estão refletindo sobre o predomínio das raças consideradas inferiores
A) a carência de fontes para a pesquisa sobre os reais e concretizar a ideia do Brasil como modelo de
motivos dessa guerra. civilização dos trópicos.
B) o caráter positivista das diferentes versões sobre
D) no tráfico interprovincial dos escravos das áreas
essa guerra.
decadentes do Nordeste para o Vale do Paraíba, para
C) o resultado das intervenções britânicas nos cenários
a garantia da rentabilidade do café.
de batalha.
D) a dificuldade de elaborar explicações convincentes E) na adoção de formas disfarçadas de trabalho
sobre os motivos dessa guerra. compulsório com emprego dos libertos nos cafezais
E) o nível de crueldade das ações do Exército brasileiro paulistas, uma vez que os imigrantes foram trabalhar
e argentino durante o conflito. em outras regiões do país.

05. (Enem–2010) Negro, filho de escrava e fidalgo português, 07. (Enem–2010) Para o Paraguai, portanto, essa foi uma
o baiano Luiz Gama fez da lei e das letras suas armas na guerra pela sobrevivência. De todo modo, uma guerra
luta pela liberdade. Foi vendido ilegalmente como escravo
contra dois gigantes estava fadada a ser um teste
pelo seu pai para cobrir dívidas de jogo. Sabendo ler e
debilitante e severo para uma economia de base tão
escrever, aos 18 anos de idade conseguiu provas de que
havia nascido livre. Autodidata, advogado sem diploma, estreita. Lopez precisava de uma vitória rápida e, se não
fez do direito o seu ofício e transformou-se, em pouco conseguisse vencer rapidamente, provavelmente não
tempo, em proeminente advogado da causa abolicionista. venceria nunca.
AZEVEDO, E. O Orfeu de carapinha. In: Revista de História. LYNCH, J. As Repúblicas do Prata: da Independência à guerra do
Ano 1, nº 3. Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional, Paraguai. BETHELL, Leslie (Org). História da América Latina: da
jan. 2004 (Adaptação). Independência até 1870, v. III. São Paulo: EDUSP, 2004.

HISTÓRIA
A conquista da liberdade pelos afro-brasileiros na segunda A Guerra do Paraguai teve consequências políticas
metade do século XIX foi resultado de importantes lutas importantes para o Brasil, pois
sociais condicionadas historicamente. A biografia de Luiz
Gama exemplifica a A) representou a afirmação do Exército brasileiro como
um ator político de primeira ordem.
A) impossibilidade de ascensão social do negro forro em
uma sociedade escravocrata, mesmo sendo alfabetizado. B) confirmou a conquista da hegemonia brasileira sobre
B) extrema dificuldade de projeção dos intelectuais a Bacia Platina.
negros nesse contexto e a utilização do Direito como
canal de luta pela liberdade. C) concretizou a emancipação dos escravos negros.
C) rigidez de uma sociedade, assentada na escravidão, D) incentivou a adoção de um regime constitucional
que inviabilizava os mecanismos de ascensão social. monárquico.
D) possibilidade de ascensão social, viabilizada pelo
apoio das elites dominantes, a um mestiço filho de E) solucionou a crise financeira, em razão das
pai português. indenizações recebidas.
E) troca de favores entre um representante negro e
a elite agrária escravista que outorgara o direito 08. (Enem–2010)
advocatício ao mesmo.
Ó sublime pergaminho

06. (Enem–2010) A dependência regional maior ou menor da Libertação geral


mão de obra escrava teve reflexos políticos importantes
no encaminhamento da extinção da escravatura. Mas A princesa chorou ao receber
a possibilidade e a habilidade de lograr uma solução A rosa de ouro papal
alternativa – caso típico de São Paulo – desempenharam,
ao mesmo tempo, papel relevante. Uma chuva de flores cobriu o salão
FAUSTO, B. História do Brasil. São Paulo: EDUSP, 2000.
E o negro jornalista
A crise do escravismo expressava a difícil questão em
De joelhos beijou a sua mão
torno da substituição da mão de obra, que resultou
A) na constituição de um mercado interno de mão Uma voz na varanda do paço ecoou:
de obra livre, constituído pelos libertos, uma vez
“Meu Deus, meu Deus
que a maioria dos imigrantes se rebelou contra a
superexploração no trabalho. Está extinta a escravidão”
B) no confronto entre a aristocracia tradicional,
que defendia a escravidão e os privilégios políticos, MELODIA, Z.; RUSSO, N.; MADRUGADA, C. Sublime
e os cafeicultores, que lutavam pela modernização Pergaminho. Disponível em: <http:// www.letras.terra.com.br>.
econômica com a adoção do trabalho livre. Acesso em: 28 abr.2010.

Editora Bernoulli
87
Frente B Módulo 15

O samba-enredo de 1968 reflete e reforça uma concepção


acerca do fim da escravidão ainda viva em nossa 10. A

memória, mas que não encontra respaldo nos estudos 11. A


históricos mais recentes. Nessa concepção ultrapassada,
12. C
a abolição é apresentada como
13. D
A) conquista dos trabalhadores urbanos livres, que
14. A) A “nuvem da emancipação” não parava de
demandavam a redução da jornada de trabalho.
crescer naquela conjuntura porque foi a
B) concessão do governo, que ofereceu benefícios aos partir da década de 1880 que o movimento
negros, sem consideração pelas lutas de escravos e
abolicionista ganhou força com o surgimento
abolicionistas.
de associações, jornais e com o avanço da

C) ruptura na estrutura socioeconômica do país, sendo propaganda, construindo uma opinião pública

responsável pela otimização da inclusão social dos favorável à abolição da escravidão no Brasil.
libertos. Por outro lado, nesse mesmo momento,

intensificaram-se as fugas coletivas e as


D) fruto de um pacto social, uma vez que agradaria
revoltas escravas. Em 1886, atuaram em
os agentes históricos envolvidos na questão:
São Paulo os chamados caifazes, libertando
fazendeiros, governo e escravos.
os escravos das fazendas. No contexto
E) forma de inclusão social, uma vez que a abolição
internacional, o Brasil figurava como a única
possibilitaria a concretização de direitos civis e sociais
nação escravista.
para os negros.
B) Ao longo da década de 1880, apegavam-se

à escravidão os proprietários de terras das

zonas cafeeiras do Vale do Paraíba. Diante


GABARITO do crescimento do movimento abolicionista,

os defensores dos interesses escravocratas


Fixação colocavam-se contra o crescimento da “nuvem
01. D da emancipação”, argumentando que a abolição

02. C feria seu direito de propriedade e que, portanto,

deveria ser realizada com indenização.


03. C
Afirmavam, ainda, que a imediata libertação
04. B
dos escravos provocaria a perturbação da
05. A
tranquilidade e da segurança pública.

Propostos
Seção Enem
01. B
01. D
02. D
02. D
03. C
03. A
04. C
04. D
05. E

06. B 05. B

07. E 06. B

08. A 07. A

09. B 08. B

88 Coleção Estudo
HISTÓRIA MÓDULO FRENTE

República Provisória
e da Espada
16 B
A transição do Império para a República no Brasil foi O Conselho de Estado e o Senado eram compostos
caracterizada por um difícil período de instabilidade política e de membros vitalícios, já a Câmara dos Deputados
econômica. Da saída de D. Pedro II do poder até a ascensão do era baseada em eleições. Estavam associados, em
primeiro presidente eleito, Prudente de Morais, passaram-se termos político-administrativos, às articulações do
cinco anos. Nesse intervalo, o país obteve uma nova regime monárquico e, por isso, foram abolidos tão
Constituição, enfrentou duas revoltas da Marinha, conviveu logo foi instaurada a república.
com conflitos políticos que culminaram na renúncia de um
presidente e elegeu o primeiro governante federal por via • dissolução da Câmara dos Deputados e do Senado;
direta em 1894. Essa fase da nossa história foi dividida em • reconhecimento dos compromissos estabelecidos
dois momentos: Governo Provisório e República da Espada. pelo governo anterior;
Tendo papel preponderante na implementação do sistema • separação da Igreja do Estado (formação do Estado
republicano, deve-se lembrar de que, ao longo do século XIX, laico) e instituição do casamento civil;
o Exército brasileiro organiza suas bases, edifica-se sobre
o cientificismo positivista e a valorização tecnológica, • grande naturalização, ou seja, concessão da
construindo para si a imagem de agente do progresso e da cidadania nacional aos estrangeiros interessados;
promoção do bem público. Atrai para si, em virtude disso, • criação de uma nova bandeira, já que a anterior
o objetivo de civilizar um Estado Nacional em gestação, remetia ao regime monárquico brasileiro;
atuando como sujeito político gestor da República, bem como
• convocação de uma Assembleia Constituinte, visando
interventor intelectual e político capaz de levar adiante o
projeto de nacionalidade e modernização. redigir uma Constituição que assumisse plenamente
o ideal republicano do novo regime.
Museu da República

Bandeira republicana içada em Alagoas, no contexto da


proclamação

GOVERNO PROVISÓRIO
Entende-se por Governo Provisório o curto período
de organização das instituições brasileiras após o Golpe
Republicano. A administração do Estado ficou a cargo de
Deodoro da Fonseca.
Algumas medidas foram tomadas para o estabelecimento
da nova ordem. Entre elas, destacam-se:
• banimento da família real e proclamação de um
Henrique Bernardelli

regime republicano e federativo;


• abolição do Conselho de Estado e do Senado Vitalício.
O sistema político herdado do período em que
vigia o autoritarismo monárquico concebia Senado, Representação de Deodoro da Fonseca lhe conferindo postura
Conselho de Estado e Câmara dos Deputados. heroica e de liderança.

Editora Bernoulli
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Frente B Módulo 16

Reforma econômica: o encilhamento Influenciada pela Carta Constitucional norte-americana,


a Constituição de 1891 confirmou ações do Governo Provisório,
como a proclamação da República, o federalismo, o casamento
Em janeiro de 1890, o ministro da Fazenda do novo
civil e a separação entre Igreja e Estado, o que transformou
governo, Rui Barbosa, lançou um projeto econômico que
o Brasil em um país laico. Foi determinada a tripartição
objetivava o desenvolvimento industrial e o aumento
dos poderes e uma certa descentralização administrativa,
de recursos financeiros circulantes para solucionar a
já que os estados poderiam legislar conforme seus
baixa quantidade de dinheiro em um período em que a
interesses, o que conferia certo caráter liberal à Constituição.
mão de obra passou a ser assalariada.
Apenas em 1926, durante o governo de Artur Bernardes,
foram realizadas modificações que possibilitaram uma maior
centralização do poder federal. Quanto ao direito de voto,
a nova Constituição apresentou uma considerável evolução
comparada com a Carta anterior, à medida que estabelecia
o voto universal no lugar do voto censitário da Carta
de 1824. Apesar das conquistas, ainda existiam limitações
à participação política, pois o direito de sufrágio era restrito
aos brasileiros do sexo masculino maiores de 21 anos,
excluindo-se vários grupos, como mendigos, analfabetos,
soldados e religiosos (esses dois últimos não tinham direito
a voto, pois estavam sujeitos a uma hierarquia). A restrição
aos analfabetos acarretava a exclusão de imensa parcela
da população de um país com ínfimo desenvolvimento
Reprodução / Revista Ilustrada

educacional, como era o Brasil no período. Além das nítidas


limitações democráticas mencionadas, as votações não eram
secretas (voto aberto), possibilitando um maior controle dos
currais eleitorais por parte das oligarquias brasileiras.

Pereira Neto (criador da revista Dom Quixote em 1895)


Satirização do encilhamento

Autorizando a emissão de moeda por parte de alguns


bancos, o plano econômico de Rui Barbosa surpreendeu
pelas suas graves consequências para a economia brasileira.
A elevada inflação, a desvalorização da moeda brasileira,
o desequilíbrio nas contas externas da nação e a alta do
custo de vida foram acrescidas de um considerável corpo
de indústrias fantasmas, que surgiram com o único objetivo
de obterem o crédito disponível para o desenvolvimento
industrial. A crise foi ampliada pela especulação econômica BUENO, Eduardo. História do Brasil. RBS Jornal, p.168.
ocorrida na bolsa de valores do Rio de Janeiro, gerando Deodoro e Floriano eleitos para o primeiro mandato
o apelido pejorativo dado ao plano de Rui Barbosa:
A Constituição de 1891 definiu que o presidente e
encilhamento. Essa expressão remete à prática de encilhar
o vice deveriam ser eleitos pelo voto direto. Porém,
cavalos, tendo, portanto, uma nítida associação do universo
as determinações provisórias da nova Carta abriam uma
econômico brasileiro a uma corrida hípica e suas apostas.
exceção apenas para a primeira eleição, que seria indireta.
O encilhamento, responsável pela emissão de três vezes
As disputas para o cargo de presidente ficaram entre Deodoro
a quantidade de moeda circulante no período, gerou
da Fonseca, ainda provisoriamente no controle do país,
como consequência a demissão do ministro da Fazenda,
e Prudente de Morais, representante das oligarquias cafeeiras
em janeiro de 1891, e um profundo desarranjo nas
de São Paulo. Deodoro venceu com curta margem de votos,
estruturas econômicas brasileiras. tendo como vice Floriano Peixoto, candidato da chapa
adversária (esse sistema valeu para o país até as eleições
de Jânio Quadros e João Goulart, em 1961). A ausência
Constituição de 1891 de um forte apoio no Congresso, evidente na difícil vitória,
seria um preço caro para as pretensões centralizadoras do
A segunda Constituição brasileira, a primeira de caráter
presidente em um curto prazo.
republicano, foi elaborada por um Congresso Constituinte
que iniciou seu trabalho em dezembro de 1890 e encerrou Como os dois responsáveis por assumir o Poder Executivo
suas atividades com a promulgação da nova Carta em do Brasil eram militares, esse período passou a ser conhecido
24 de fevereiro de 1891. como República da Espada.

90 Coleção Estudo
República Provisória e da Espada

REPÚBLICA DA ESPADA Um dos elementos mais agravantes de contestação da ordem


vigente cabia a uma falha constitucional. A lei determinava
que o vice-presidente, após a renúncia de Deodoro, deveria
O curto governo de Deodoro da Fonseca, na nova fase,
convocar novas eleições para o cargo Executivo. Entretanto,
foi caracterizado pelo autoritarismo do presidente e pelos
Floriano argumentava que a lei possuía uma contradição
reflexos econômicos do encilhamento. Enfrentando uma
jurídica evidente: como convocar novas eleições em
oposição acirrada do Parlamento brasileiro, Deodoro
um país que nunca tivera uma eleição para presidente?
mostrou-se indisposto com a Lei de Responsabilidade
Aproveitando-se da situação, resolveu cumprir o parágrafo
votada no Congresso, que, na prática, cumpria o papel
2º do artigo 1º das disposições transitórias, que estabelecia:
de limitar as ações do presidente e abria a possibilidade
“O presidente e o vice-presidente, eleitos na forma deste
de afastamento do mesmo, caso descumprisse as normas
artigo, ocuparão a Presidência e a Vice-Presidência durante o
legais do Estado Nacional. Como a lei foi vetada por
primeiro período presidencial”. Assim, Floriano governaria até
Deodoro, o Legislativo, agindo na contramão do Poder
o fim do mandato. Essa manobra interpretativa já apontava
Executivo, aprovou o projeto no dia 2 de novembro
para a corriqueira prática política da história republicana
de  1891. Insatisfeito, o presidente fechou a casa no dia
brasileira de descumprir os textos constitucionais.
seguinte e decretou estado de sítio (suspensão de direitos e
garantias individuais, na totalidade ou em parte do território
nacional). A Primeira República começava autoritária.

HISTÓRIA
Artista desconhecido
Reprodução / Revista Ilustrada

Floriano Peixoto: o avanço da consolidação republicana

A oposição ao novo presidente foi conduzida em várias


Deodoro tenta apagar os inúmeros problemas enfrentados pelo
frentes. Em março de 1892, Floriano recebeu uma
seu governo.
carta-manifesto de treze generais, exigindo convocação
A reação à atitude do presidente veio das próprias Forças de eleições. Foram todos punidos. A Marinha, espelhada
Armadas. A Marinha brasileira, ainda simpática ao Antigo no sucesso da reação contra Deodoro, repetiu a fórmula e
Regime monárquico, mas sem um projeto de retorno da apontou os canhões dos navios para o Rio de Janeiro, em
antiga ordem, deu início à conhecida Primeira Revolta da setembro de 1893, no episódio conhecido como Segunda
Armada. Conduzida pelo almirante Custódio José de Melo, Revolta da Armada, conduzida pelo mesmo almirante,
alguns navios de guerra colocaram suas armas apontadas Custódio José de Melo. Paralelamente, no mesmo ano, o Sul
para a capital e exigiram a restauração da ordem democrática foi palco de um dos mais violentos episódios ocorridos em
no país. A atitude da Marinha veio acompanhada da oposição solo nacional durante a República: a Revolução Federalista
de vários setores da sociedade que se indispuseram com a (1893-1895).
arbitrariedade do presidente da República. Este, pressionado
No Sul do Brasil, principalmente no estado do Rio
pelas surpreendentes reações, renunciou ao cargo no dia
Grande do Sul, as disputas políticas acerca do projeto
23 de novembro de 1891.
republicano e pelo poder se intensificavam. Os defensores
O controle do Executivo cabia agora ao vice-presidente do ideal positivista, concentrados no PRR (Partido
Floriano Peixoto, que reabriu o Congresso e encerrou o estado Republicano Rio-grandense), liderados por Júlio de
de sítio. O novo governante, também autoritário, estava Castilhos, enfrentavam o Partido Federalista, defensor de
longe de representar uma unanimidade no Brasil do período. um projeto liberal e descentralizador. Entre suas lideranças,

Editora Bernoulli
91
Frente B Módulo 16

destacava-se Gumercindo Saraiva. As disputas no Sul O  papel centralizador desse modelo, assim como
assumiram uma feição de guerra civil a partir do ano a  secundarização de questões sociais, era condizente
de 1893, quando as forças federalistas pegaram em armas com os anseios dos militares, principais defensores do
contra o governo estadual, chegando a ocupar os estados do positivismo. Da mesma forma, a crença positivista no avanço
Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. Como as tropas racional e industrial se conformava com o desejo militar
de Júlio de Castilhos contavam com o apoio do governo de modernização do Brasil. A própria bandeira brasileira,
de Floriano Peixoto, os federalistas, também chamados renovada a partir da Proclamação da República, carregava
de  maragatos, assumiram uma postura antiflorianista, a máxima positivista: Ordem e Progresso.
unindo-se aos participantes da Segunda Revolta da Armada,
Já os jacobinos projetavam uma pátria com o ideal de
que haviam se deslocado para a cidade de Desterro, capital
participação popular, apesar de não terem um claro conceito
de Santa Catarina. Apenas em 1895, durante o governo de
em que consistiria o povo brasileiro e quais os mecanismos
Prudente de Morais, as tropas federalistas foram derrotadas
de participação para este. Os adeptos de tal corrente,
através da união entre contingentes do governo central e
oriundos dos grupos urbanos de média e baixa renda
de tropas estaduais. A revolução teve como saldo a morte
e intelectuais, inspiravam-se nas ações de alguns líderes da
de mais de cinco mil pessoas, sendo muitos degolados
Revolução Francesa, como Robespierre e Danton. Cercados
quando capturados pelas tropas inimigas. Quanto à Segunda
do imaginário dessa Revolução, os jacobinos interpretavam
Revolta da Armada, a rebeldia da Marinha foi derrotada
Floriano Peixoto como uma referência política no Brasil,
no ano de 1894, com o apoio de navios estrangeiros que
apesar de o vice-presidente não ter a mesma identificação
colaboraram com o governo de Floriano Peixoto.
com o projeto jacobino. Essa ligação com Floriano se deu por
As atitudes repressoras de Floriano foram responsáveis conta de medidas progressistas, como construção de casas
por duas homenagens: o tratamento como Marechal de populares e o incentivo ao desenvolvimento industrial do
Ferro e a mudança do nome da capital de Santa Catarina, Brasil feito pelo vice-presidente, sem contar o fato de que este
que passou de Desterro para Florianópolis. assumiu o poder no lugar de um líder com traços positivistas.

EVOLUÇÃO POLÍTICA
DOS PRIMEIROS ANOS
DA REPÚBLICA
Um considerável debate político marcou a organização
da República nos seus primeiros anos. O fortalecimento
do novo regime foi pautado pela construção de símbolos
que pudessem garantir a autenticidade do projeto que,
agora, se firmava como representante do novo e moderno.
A Primeira República brasileira foi erigida por meio de um
movimento elitista que excluia grande parte da população
brasileira. Nesse sentido, era preciso a criação de símbolos
que possibilitassem a necessária identificação entre o povo
e o nascente Estado republicano. No livro A Formação das
Reprodução / Revista Ilustrada

Almas, José Murilo de Carvalho retrata como os símbolos


republicanos – como hino, bandeira, monumentos, heróis
e outros ícones – foram fundamentais para a consolidação
de uma nova concepção de pátria. Porém, na mesma obra,
o autor destaca a ausência de uma unanimidade quanto ao
projeto político republicano a ser implantado. Não existia no
Alegoria jacobina – República francesa comemora a República
Brasil um consenso acerca do encaminhamento do governo
com o Brasil. Publicado na Revista Ilustrada, 21 jun. 1890.
inaugurado em 1889, principalmente no que tange ao
controle do poder e à atuação dos setores governamentais O terceiro projeto, chamado de liberal, era defendido pelos
nas estruturas de nossa sociedade. cafeicultores, partidários de uma organização política elitista
e desejosos de uma estrutura administrativa descentralizada
Entre as correntes conflitantes, destacam-se três grupos:
e que garantisse a manutenção da propriedade e da liberdade
positivistas, jacobinos e liberais.
individual. Inspirado na república norte-americana, esse
Os defensores do positivismo articulavam suas ideias em projeto foi o que mais influenciou os governos posteriores
torno do pensamento do francês Auguste Comte, afirmando à República da Espada, principalmente após a vitória de
que um governo fortalecido e consciente das necessidades do Prudente de Morais, em 1894, tornando-se hegemônico na
Estado seria capaz de arbitrar as questões gerais da nação. vida política nacional durante o período oligárquico.

92 Coleção Estudo
República Provisória e da Espada

LEITURA COMPLEMENTAR EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO


01.
Texto I (FGV-SP) Heróis são símbolos poderosos, encarnações
de idéias e aspirações [...] São, por isso, instrumentos
eficazes para atingir a cabeça e o coração dos cidadãos
O número de eleitores na República
a serviço da legitimação de regimes políticos [...]
Nessa linha, o decreto de 19 de novembro de 1889 estabelece Os candidatos a herói não tinham, eles também,
nova qualificação eleitoral. Trata-se da primeira regulação profundidade histórica, não tinham a estatura exigida para
republicana no Brasil a respeito dos critérios de inclusão da o papel. Não pertenciam ao movimento da propaganda
população no mundo da cidadania política. Pelo decreto, eliminam-se republicana, ativa desde 1870 [...] A busca de um
as restrições censitárias do Império, mas prossegue a exclusão herói para a República acabou tendo êxito onde não o
dos analfabetos imposta pela Lei Saraiva. A nova lei propicia imaginavam muitos dos participantes da proclamação.
um acréscimo do eleitorado, se levarmos em conta o número
CARVALHO, J. M. de. A formação das almas. O imaginário da
de eleitores definido pela última reforma eleitoral do Império.
República no Brasil. São Paulo: Cia das Letras. p. 55-57.
Se a memória, contudo, alcançar o contingente eleitoral brasileiro
quantificado no censo de 1872 – em torno de 1,1 milhão de eleitores, A escolha e a construção do principal herói da República
ou 11% da população – o decreto republicano é tímido. Enquanto recaíram sobre
que com a Lei Saraiva (1881) o eleitorado passa a representar
cerca de 1% da população, com a República, levando em conta
A) Deo d o ro d a Fo n s ec a, d ev i d o à s u a i men s a
as eleições presidenciais de 1894, o percentual alcança 2%. popularidade, por ser um republicano histórico e um
ferrenho adversário dos poderes monárquicos.
CARVALHO, Maria Alice Rezende de. República no Catete.
Rio de Janeiro: Museu da República, 2001. B) Benjamin Constant, líder popular identificado com
a causa operária, defensor do positivismo e um
OBSERVAÇÃO representante civil com amplo trânsito entre os militares.
A Lei Saraiva (1881), decretada ainda durante o Período C) Duque de Caxias, grande comandante da Guerra do

HISTÓRIA
Imperial, proibia o acesso ao voto aos analfabetos, reduzindo Paraguai, identificado com uma política centralizadora
consideravelmente o número de eleitores, conforme o texto anterior.
e patrono do Exército brasileiro.
D) B e n t o G o n ç a l v e s , p r e s i d e n t e d a r e p ú b l i c a
Texto II rio-grandense e principal líder da Revolta Farroupilha
do século XIX, considerado o patrono militar do
Os símbolos do Novo Regime republicanismo no Brasil.

O extravasamento das visões de República para o mundo E) Tiradentes, militar e republicano transformado em
extraelite, ou as tentativas de operar tal extravasamento, mártir, cuja morte passou a ser associada ao sacrifício
é que me interessarão diretamente. Ele não poderia ser feito de Jesus Cristo.
por meio do discurso, inacessível a um público com baixo
nível de educação formal. Ele teria de ser feito mediante 02. (PUC Minas–2006)
sinais mais universais, de leitura mais fácil, como as imagens,
Tudo se torceu, tudo se falseou, tudo se confundiu. De um
as alegorias, os símbolos, os mitos. De fato, um exame
sistema cheio de correspondências complexas e sutis, onde
preliminar da ação dos jacobinos e positivistas já me tinha
não se podia tocar em qualquer parte, sem modificar a
revelado o emprego de tais instrumentos, frequentemente
ação das outras, fizeram um atarrancado de ferros velhos,
sob inspiração francesa. As descrições da época trazem
digno de figurar numa exposição industrial de doidos.
referências ao costume dos republicanos brasileiros de cantarem
a Marselhesa, de representarem a república com o barrete BARBOSA Rui. Finanças e Política.
frígio; informam também sobre a luta dos positivistas pela nova Com esse desabafo, o ministro da Fazenda do Governo
bandeira e sobre a disputa em torno da definição do panteão Provisório da República tenta justificar, perante a opinião
cívico do novo regime. pública, o fracasso de sua política financeira. São efeitos
[...] imediatos dessa política, EXCETO

A batalha em torno da simbologia republicana deu-se também A) a inflação desenfreada, falência de inúmeras
em relação à bandeira e ao hino. Não podia ser de outra maneira, empresas e desvalorização da moeda nacional em
de vez que são esses, tradicionalmente, os símbolos nacionais mais relação à libra esterlina.
evidentes, de uso quase obrigatório [...] No caso da bandeira, a B) a substituição dos capitais ingleses por norte-americanos
vitória pertenceu a uma facção, os positivistas, mas ela se deveu para restaurar e equilibrar o combalido sistema
certamente ao fato de que o novo símbolo incorporou elementos financeiro brasileiro.
da tradição imperial. No caso do hino, a vitória da tradição foi total:
C) a alta geral do custo de vida, instabilidade financeira
permaneceu o hino antigo. Foi também a única vitória popular no
e profundo desequilíbrio nas contas externas do país.
novo regime, ganha à revelia da liderança republicana.
D) a enorme especulação gerada pelo surgimento de
CARVALHO, José Murilo de. A formação das almas. empresas-fantasma, cujo objetivo era obter facilidade
São Paulo: Companhia das Letras, 1990. de crédito bancário.

Editora Bernoulli
93
Frente B Módulo 16

03. (PUC Minas–2007) Segundo o historiador José Murilo


de Carvalho, o povo acompanhou bestializado a criação
EXERCÍCIOS PROPOSTOS
do regime republicano no Brasil. Essa afirmação pode
explicar nossa Proclamação da República no Brasil como
A) adoção das teses sobre a ordem e o progresso, inspiradas
01. (PUCPR) O estudo da Carta Outorgada de 1824, Ato
na revolução norte-americana do século XVIII. Adicional de 1834 e Constituição Republicana de 1891
B) uma ruptura com os valores liberais, instituídos pelo mostra, no Brasil, notável evolução política.
ideário dos membros do clube militar do Rio de Janeiro. Assinale a alternativa CORRETA
C) um golpe militar ou quartelada, que instaurou novo
modelo político nos moldes que tivemos mais tarde A) O Ato Adicional de 1834 atribui às províncias a mesma
em 1964. autonomia estabelecida pela Constituição de 1891.
D) estabelecimento de uma nova ordem social, que B) Enquanto a Carta Outorgada de 1824 inspirou-se nos
promovia a igualdade social com base na organização
Estados Unidos, a Constituição de 1891 baseou-se em
do trabalho.
modelo europeu.
04. (PUCPR–2007) O clima de crise permanente que C) A Carta Outorgada de 1824 estabelecia quatro
caracterizou o mandato de Floriano Peixoto, segundo poderes, reduzidos a três na Constituição de 1891,
presidente do Brasil, foi provocado com a supressão do Poder Moderador.
A) pelo problema da sucessão entre “civilistas” e “militaristas”,
D) A religião Católica Apostólica Romana, oficial no
tendo como foco principal a figura de Rui Barbosa.
Império, assim continuou na República, com base em
B) pelo desencadeamento do problema de Canudos, que
envolveu grande parte do Exército brasileiro. artigo específico na Constituição de 1891.
C) pela contestação da legalidade da sucessão do E) O Ato Adicional de 1834 transformou a forma de
vice-presidente e da necessidade de novas eleições Estado do Brasil de unitária em federativa.
após a renúncia de Deodoro da Fonseca.
D) pela manutenção da política de Deodoro, sobretudo
quanto à dissolução do Congresso e à permanência 02. (UFF-RJ) A segunda metade do século XIX foi marcada
do estado de sítio. pelo apogeu do cientificismo no mundo ocidental.
E) pelo descontentamento dos cafeicultores, ainda A ciência transformava-se na panaceia para todos os
inconformados com a abolição da escravatura. males, capaz de indicar soluções para tudo, inclusive
prever, controlar e disciplinar os homens e seus
05. (UFRGS) Observe o cartum a seguir, que faz referência
comportamentos. Desde o evolucionismo de Darwin até o
à Proclamação da República no Brasil.
positivismo de Augusto Comte, a ideia de progresso servia
como “bússola” no caminho da modernidade.

À luz dessas informações, indique a opção que define o


contexto de introdução das ideias positivistas no Brasil.

A) O positivismo ganhou destaque no Brasil ao penetrar


na Escola Militar do Rio de Janeiro, que preparava
jovens oficiais com vistas à abolição da escravidão e
à implantação do regime republicano.
B) O positivismo penetrou no Brasil através da visita
de uma missão militar inglesa ao país, atingindo seu
apogeu com a Proclamação da República por Deodoro
da Fonseca, um de seus principais líderes.
REVISTA ILUSTRADA, 16 nov. 1889.
C) A ideia de progresso contida no positivismo baseava-se
Considere as seguintes afirmações, referentes a na crença em um estágio superior da evolução
elementos do cartum. humana a ser atingido, no caso do Brasil, quando toda
I. A figura feminina empunhando a bandeira representa a população do país fosse alfabetizada e gozasse de
a nova república brasileira, instaurada através do cidadania política.
golpe militar de 15 de novembro.
D) O positivismo difundiu-se no Brasil sobretudo
II. A bandeira representada na imagem constituiria a
versão preliminar da atual, que seria acrescida da através da juventude militar formada pela Escola da
divisa positivista. Praia Vermelha, que valorizava o mérito individual
III. Em segundo plano, montado a cavalo, aparece a figura e acreditava na ciência positiva como religião da
do suposto “proclamador” da República, o marechal humanidade, em oposição ao catolicismo.
Floriano Peixoto.
E) A difusão do positivismo no Brasil deveu-se à sua
Quais estão CORRETAS? penetração no Exército, envolvendo tanto a juventude
A) Apenas II D) Apenas II e III militar quanto suas lideranças formadas pelos oficiais
B) Apenas I e II E) I, II e III de alta patente, dentre eles, Deodoro da Fonseca
C) Apenas I e III e Caxias.

94 Coleção Estudo
República Provisória e da Espada

03. (FGV-SP) Caracterizou-se por “encilhamento” a política C) a Guerra do Paraguai não teve relação com o
econômica que crescimento das ideias republicanas e positivistas,
A) levou o país a uma crise inflacionária pela emissão de fundamentais para o advento da República.
moeda, sem lastro-ouro e com escassos empréstimos D) o Terceiro Reinado era visto de forma positiva e
estrangeiros, gerando inúmeras falências. otimista pela população, já que a princesa Isabel
B) pôde acomodar os primeiros anos da República à tinha uma liderança expressiva, apesar dos valores
estabilização e ao investimento em políticas públicas, patriarcais da época.
principalmente educacionais.
E) as críticas à centralização monárquica e o surgimento
C) levou o país a pedir empréstimos para a reorganização de novos segmentos sociais não tiveram influência no
do parque industrial e para a exploração da borracha sucesso do movimento republicano.
na região amazônica.
D) pôde acomodar, por aproximadamente 50 anos, uma 06. (Mackenzie-SP–2011)
economia ainda dependente, permitindo a aplicação
de recursos em serviços públicos.
E) levou o país a receber apoio de todas as nações
industrializadas para desenvolvimento de parcerias,
apesar da crescente inflação decorrente dos inúmeros
empréstimos pedidos.

04. (UNESP–2010) Nas palavras de Aristides Lobo, o povo


brasileiro assistiu à queda da monarquia “bestializado, atônito,
sem conhecer o que significava”. Sobre a Proclamação da
República no Brasil, analise as afirmações a seguir.
1. A implantação do regime republicano no Brasil,
Rui Barbosa, quando assumiu a função de ministro da
em 1889, entre os seus significados, representou

HISTÓRIA
Fazenda durante o Governo Provisório do marechal
culminância do processo de deterioração do poder
Deodoro da Fonseca (1889-1891), pretendeu garantir a
político de Pedro II.
independência econômica do Brasil frente ao capitalismo
2. O povo foi surpreendido com o novo regime, cuja
europeu. Para ele, a República somente se consolidaria
implantação se deveu muito mais ao descontentamento
sobre alicerces seguros, quando suas funções se firmarem
dos militares, após a guerra do Paraguai, do que
na democracia do trabalho industrial. Sua política
propriamente às ações do Partido Republicano.
financeira, contudo, não foi bem sucedida, como mostra
3. A Proclamação da República no Brasil foi um ato há
a charge dada, devido à
muito planejado e contou com a adesão da família
real brasileira. A) emissão de papel-moeda em larga escala para
4. A insatisfação militar com o regime monárquico deveu-se incentivar o crédito para investidores do setor
principalmente à abolição da escravidão, uma vez industrial, o que gerou uma política inflacionária,
que os soldados escravos eram muito apreciados por visto que o aumento do meio circulante não foi
serem confiáveis e eficientes nas batalhas. acompanhado pela elevação da produção interna.
5. O rol das insatisfações com a monarquia intensificou-se B) restrição de crédito para financiamento de novas
com a crise provocada pela tentativa do bispo de empresas, além de cortes no gasto público e aumento
Olinda e Recife, D. Vital, de fazer cumprir as ordens
dos impostos, o que gerou diversas manifestações,
papais que condenavam a maçonaria.
principalmente no meio do operariado nacional,
Estão CORRETAS apenas prejudicado pelo aumento no custo de vida.
A) 1, 3 e 4. C) 3, 4 e 5. E) 1, 3 e 5. C) adoção de tarifas alfandegárias protecionistas e
B) 1, 2 e 5. D) 2, 3 e 4. estímulo às indústrias nacionais visando a aumentar
a produção nacional, porém congelou os salários dos
05. (Mackenzie-SP) trabalhadores e aumentou os gastos na construção
O povo assistiu àquilo bestializado, atônito, surpreso, de obras públicas.
sem conhecer o que significava. Muitos acreditavam D) realização de uma política financeira anti-inflacionária
sinceramente estar vendo uma parada. que buscou equilibrar nossa economia frente aos
Aristides Lobo
prejuízos herdados do Período Monárquico, graças
O texto refere-se à Proclamação da República, em 15 de aos vultosos empréstimos externos, realizados para
novembro de 1889. Podemos, então, concluir que sanar o déficit orçamentário.
A) o movimento contou com sólido apoio popular, luta E) especulação financeira graças à facilidade de
armada e resistência violenta dos monarquistas. créditos concedidos pelo governo, que, ao invés de
B) a proclamação vitoriosa resultou da conjugação de contribuirem para a instalação de novas indústrias
parte do Exército, fazendeiros do Oeste Paulista e no país, foram utilizados para saldar as dívidas dos
classes médias urbanas. cafeicultores perante os banqueiros estrangeiros.

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Frente B Módulo 16

07. (UFTM-MG–2006) 10. (UFRN)


[...] Nada se mudaria. O regime sim, era possível, mas O movimento militar chefiado pelo marechal Deodoro
também se muda de roupa sem trocar de pele. [...] da Fonseca, em 1889, proclamou a República no Brasil,
No sábado, ou quando muito na segunda-feira, tudo implantando um modelo de governo que se declarava
voltaria ao que era na véspera, menos a Constituição. democrático. Décio Saes, ao estudar posteriormente esse
movimento, afirma que a democracia nascente definia-se
MACHADO, Assis de. Esaú e Jacó.
desde logo como uma democracia elitista e limitada, que
Esse comentário do Conselheiro Aires, personagem de correspondia a um refinamento da dominação de classe dos
Machado de Assis, revela que a implantação da República proprietários de terras no plano das instituições políticas,
no Brasil configurando um novo modelo de exclusão política.

A) não acarretou transformações sociais significativas, SAES, Décio. Classe média e sistema político no Brasil.
apesar da nova Constituição. São Paulo: T. A. Queiroz, 1984.

B) assegurou a modernização da estrutura socioeconômica, Pode-se afirmar que a democracia da República Velha
mas não da política. foi um novo modelo de exclusão política na medida em
que, nesse período,
C) dependeu da ação dos militares, que impuseram uma
Constituição positivista. A) i m p l a n t o u - s e o f e d e ra l i s m o, e m q u e c a d a
estado-membro ganhava autonomia para eleger o
D) alterou o regime político, com a implantação de uma governador do estado e os deputados, que deveriam
duradoura ditadura militar. ser grandes proprietários rurais.
E) levou as camadas baixas à hegemonia no poder, B) adotou-se como sistema de governo o presidencialismo,
devido às mudanças constitucionais. em que o presidente da República deveria escolher
seus ministros entre os grandes cafeicultores paulistas.
08. (UERJ)
C) garantiu-se o direito de voto aos brasileiros do
A febre especulativa começou ainda sob o Império [...]. sexo masculino, maiores de 21 anos, excetuando
A libertação dos escravos provocara o súbito aumento analfabetos, mendigos, soldados e religiosos sujeitos
da necessidade de pagar salários e os fazendeiros à obediência eclesiástica.
sentiam carência de dinheiro [...]. [O] primeiro D) proclamou-se a independência entre o Estado e a
governo republicano, [...] convicto de que a circulação Igreja, pondo fim ao regime do padroado, vigente
monetária era insuficiente e, ademais, aberto a idéias no Império, embora fosse vetado o acesso de
de industrialização, [...] estabeleceu um mecanismo de protestantes aos cargos públicos.
bancos privados emissores, o que incitou ainda mais a
especulação [...]. 11. (UNESP–2011) [...] “Confeitaria do Custódio”. Muita gente
GORENDER, Jacob. A burguesia brasileira. certamente lhe não conhecia a casa por outra designação.
São Paulo: Brasiliense, 1986. Um nome, o próprio nome do dono, não tinha significação
política ou figuração histórica, ódio nem amor, nada que
O processo descrito anteriormente ilustra a seguinte chamasse a atenção dos dois regimes, e conseguintemente
política econômica desenvolvida no Governo Provisório que pusesse em perigo os seus pastéis de Santa Clara,
de Deodoro da Fonseca, de 1889 a 1891: menos ainda a vida do proprietário e dos empregados. Por
A) creditismo que é que não adotava esse alvitre? Gastava alguma coisa
com a troca de uma palavra por outra, Custódio em vez
B) federalismo
de Império, mas as revoluções trazem sempre despesas.
C) naturalização
ASSIS, Machado de. Esaú e Jacó. Obra completa, 1904.
D) encilhamento
O fragmento, extraído do romance Esaú e Jacó, de
09. (UFPel-RS–2006) Entre 1893 e 1895, o Sul do Brasil foi Machado de Assis, narra a desventura de Custódio, dono
palco de uma sangrenta guerra que colocou frente a frente de uma confeitaria no Rio de Janeiro, que, às vésperas da
republicanos jacobinos e positivistas contra os antigos Proclamação da República, mandou fazer uma placa com o
liberais do regime monárquico. A violência das facções, nome “Confeitaria do Império” e agora temia desagradar
o terror indiscriminado e, sobretudo, o apelo a chavões ao novo regime. A ironia com que as dúvidas de Custódio
ideológicos como justificadores da ação bélica e repressiva são narradas representa o
antecipam as carnificinas do século XX cometidas em A) desconsolo popular com o fim da monarquia e a queda
nome de ideais progressistas ou reacionários. do imperador, uma personagem política idolatrada.
FRANCO, Sérgio da Costa. A guerra civil de 1893. B) respaldo da sociedade com que a Proclamação da
República contou e que a transformou numa revolução
Porto Alegre: Ed. da Universidade / UFRGS, 1993.
social.
A guerra civil descrita no texto foi a C) alheamento de parte da sociedade brasileira diante
A) Guerra do Contestado. do conteúdo ideológico da mudança política.

B) Revolta dos Mückers. D) reconhecimento, pelos cidadãos brasileiros, da ampliação


dos direitos de cidadania trazidos pela República.
C) Revolta da Armada.
E) impacto profundo da transformação política no
D) Revolução Federalista. cotidiano da população, que imediatamente apoiou
E) Revolução Farroupilha. o novo regime.

96 Coleção Estudo
República Provisória e da Espada

12. (UFSM-RS) A Constituição Brasileira de 1891 estabeleceu 15. (UFMG–2009) Observe a imagem:
a organização de um Estado Federal. Sobre o período
histórico e essa Constituição, pode-se afirmar que
A) efetivou a República federal presidencialista, através
da divisão dos três poderes e da transformação das
províncias em estados-membros com autonomia
relativa.

B) consolidou a República no Brasil, através de um


governo parlamentar fundamentado na doutrina
positivista.

C) seguiu o modelo federal dos EUA, no qual os


estados-membros teriam total independência e só
permaneceriam unidos em questões relativas ao
comércio internacional e em casos de guerra.

D) criou a República e, pela primeira vez, garantiu o voto


ao analfabeto, tendo como característica inovadora a
concentração do poder no Legislativo.

E) f o r t a l e c e u o s i s t e m a p r e s i d e n c i a l i s t a e o REVISTA ILUSTRADA, 16 nov. 1889.


pluripartidarismo e restringiu os poderes do Legislativo,
A partir dessa análise e considerando outros conhecimentos
enfraquecendo os poderes dos coronéis regionais.
sobre o assunto,
1. IDENTIFIQUE o significado de cada uma das três
13. (Unimontes-MG) Na última década do século XIX, o Rio figuras humanas que aparecem em destaque nessa
Grande do Sul foi palco da Revolução Federalista. Acerca

HISTÓRIA
imagem e ANALISE a mensagem política nela contida.
dessa revolução, é CORRETO afirmar que
2. ANALISE o papel dos militares no processo referido
A) o conflito, após longos anos de combate, terminou nessa imagem.
com a vitória dos federalistas, cuja hegemonia política
duraria até os anos 20 do século seguinte. 16. (UERJ–2010)

B) o conflito repetia a Guerra da Cisplatina e, mais uma Bandeira do Império do Brasil


vez, evoluiu de uma divergência de famílias para um
movimento de caráter separatista.
C) o conflito opôs interesses políticos de republicanos
e federalistas que disputavam a hegemonia político-
administrativa e divergiam quanto ao modelo ideal
de nação.
D) o conflito, no qual se opunham estancieiros e
as elites urbanas, teve um caráter estritamente
regional, motivo pelo qual a União não interferiu
Bandeira adotada pela República
no mesmo.

14. (UERJ) Poucos anos após sua proclamação, a república


no Brasil já sofria contestações. A Revolta da Armada,
que eclodiu no governo de Floriano Peixoto, refletiu as
insatisfações decorrentes da implantação do sistema
republicano no país, somando-se a outras rebeliões
como a Federalista, ocorrida na mesma época, no Rio
Grande do Sul. Esta última, apesar de ser uma rebelião
regional, também foi influenciada pelas tensões políticas CARVALHO, José Murilo de. A formação das almas. O imaginário
que caracterizaram esse governo. da República do Brasil. São Paulo: Cia. das Letras, 1990.

A) EXPLIQUE um fator que tenha levado os membros da A Proclamação da República no Brasil, em 1889,
Marinha a se rebelarem contra o governo de Floriano instituiu a necessidade de revisão dos símbolos
Peixoto. nacionais. A  nova bandeira, por exemplo, expressou
rupturas e continuidades, bem como a valorização de
B) DESCREVA a situação política do Rio Grande do determinadas ideias para o novo regime. APONTE a
Sul durante esse governo, de forma a explicar a corrente político-filosófica que interferiu na remodelação
aproximação entre federalistas gaúchos e integrantes da bandeira brasileira e o argumento dessa corrente para
da Revolta da Armada. a condenação do regime monárquico.

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Frente B Módulo 16

SEÇÃO ENEM
GABARITO
01. (Enem–2009) A definição de eleitor foi tema de artigos
nas Constituições brasileiras de 1891 e de 1934. Diz a
Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil Fixação
de 1891: 01. E 02. B 03. C 04. C 05. B
Art. 70. São eleitores os cidadãos maiores de 21 anos
que se alistarem na forma da lei.
Propostos
A Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil
de 1934, por sua vez, estabelece que: 01. C 04. B 07. A 10. C 13. C

Art. 180. São eleitores os brasileiros de um e de outro 02. D 05. B 08. D 11. C
sexo, maiores de 18 anos, que se alistarem na forma da lei. 03. A 06. A 09. D 12. A
Ao se comparar os dois artigos, no que diz respeito ao
14. A) Considere uma, entre as explicações:
gênero dos eleitores, depreende-se que
• Descontentamento de oficiais da
A) a Constituição de 1934 avançou ao reduzir a idade Marinha, com a perda dos postos de
mínima para votar. destaque no cenário político nacional,
B) a Constituição de 1891, ao se referir a cidadãos, em detrimento dos oficiais do Exército.
referia-se também às mulheres.
• Eram contrários à posse de Floriano
C) os textos de ambas as Cartas permitiam que qualquer
Peixoto na Presidência, considerando-a
cidadão fosse eleitor.
inconstitucional por não haver
D) o texto da Carta de 1891 já permitia o voto feminino. transcorrido o período de dois anos do
E) a Constituição de 1891 considerava eleitores apenas mandato de Deodoro da Fonseca.
os indivíduos do sexo masculino.
B) Os dois grupos oligárquicos gaúchos – os
maragatos e os chimangos ou pica-paus –
02. (Enem–2010) divergiam quanto ao caráter da política nos
Para consolidar-se como governo, a República precisava níveis regional e nacional. Os maragatos
eliminar as arestas, conciliar-se com o passado monarquista, eram federalistas, defensores do liberalismo,
incorporar distintas vertentes do republicanismo. Tiradentes e acusados de simpatizantes da monarquia,
não deveria ser visto como herói republicano radical, mas levando o Governo Federal a apoiar os
sim como herói cívico-religioso, como mártir, integrador, chimangos, positivistas e defensores da
portador da imagem do povo inteiro. centralização política que caracterizava o
governo de Floriano Peixoto.
CARVALHO, J. M. C. A formação das almas: o imaginário da
República no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1990. 15. 1. A imagem ao fundo simboliza os militares
responsáveis pelo Golpe Republicano,
Ei-lo, o gigante da praça, / O Cristo da multidão!
representados na figura de Deodoro da
É Tiradentes quem passa / Deixem passar o Titão.
Fonseca. A mulher ao centro idealiza a
ALVES, C. Gonzaga ou a revolução de Minas. In: CARVALHO, imagem da República brasileira, indicada
J. M. C. A formação das almas: o imaginário da República no pela nova bandeira nacional influenciada
Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1990. pela ideologia positivista. A terceira figura
simboliza a monarquia em declínio, através
A 1ª República brasileira, nos seus primórdios, precisava
de um gesto de plena submissão à nova
constituir uma figura heroica capaz de congregar diferenças
ordem republicana.
e sustentar simbolicamente o novo regime. Optando pela
figura de Tiradentes, deixou de lado figuras como frei Caneca 2. O Exército, em processo de ascensão desde
ou Bento Gonçalves. A transformação do inconfidente em a Guerra do Paraguai, assumiu uma posição
herói nacional evidencia que o esforço de construção de um de destaque no cenário nacional e exigiu
simbolismo por parte da República estava relacionado maior participação nos destinos do país.
A) ao caráter nacionalista e republicano da Inconfidência, Nessa condição, os militares atuaram como
evidenciado nas ideias e na atuação de Tiradentes. elemento transformador da ordem política,
responsáveis pela derrubada da monarquia e
B) à identificação da Conjuração Mineira como o
pela implantação da República.
movimento precursor do positivismo brasileiro.
C) ao fato de a Proclamação da República ter sido um 16. O positivismo, que compreendia a monarquia
movimento de poucas raízes populares, que precisava como símbolo de atraso, identificando-a como
de legitimação. organização política arcaica, e a República como o
D) à semelhança física entre Tiradentes e Jesus, que regime que traria a modernização e o progresso.
proporcionaria, a um povo católico como o brasileiro,
uma fácil identificação. Seção Enem
E) ao fato de frei Caneca e Bento Gonçalves terem
liderado movimentos separatistas no Nordeste e no 01. E 02. C
Sul do país.

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