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Volume 04
Sumário - História Frente A
16 3 Independência da América Espanhola
Autor: Geraldo Magela
20 39 Imperialismo
Autor: Geraldo Magela
Frente B
13 51 Brasil Império: Período Regencial
Autor: Edriano Abreu
2 Coleção Estudo
HISTÓRIA MÓDULO FRENTE
Independência da América
Espanhola
16 A
CONTEXTO EUROPEU Europa e lá tomavam consciência dos ideais ilustrados,
fosse por meio do contrabando de livros para a América.
Dessa maneira, formou-se uma elite colonial que via na
O domínio europeu na América, iniciado no final do século XV,
Independência a única saída para seu desenvolvimento
acabou sendo colocado em xeque na passagem do
econômico e político. Além disso, essa elite de formação
século XVIII para o XIX, pois, entre outros motivos,
europeia se considerava igual aos europeus, por mais que
as transformações ocorridas no Velho Continente provocaram
estes adotassem uma visão etnocêntrica que vinculasse a
um contexto no qual se tornaram inevitáveis as lutas por
América à barbárie.
independência. O desenvolvimento industrial da Inglaterra,
por exemplo, fez crescer a demanda por matéria-prima e Além de influências ideológicas, como o Iluminismo,
por mercados. Apesar de a América Colonial ser parte do os colonos tomaram como exemplo algumas lutas liberais
mercado inglês, o comércio era mediado pelas metrópoles, burguesas ocorridas durante o século XVIII. Uma delas foi a
ou seja, atravessadores que, por vezes, inviabilizavam as Revolução Francesa, afinal, aquele processo revolucionário
relações comerciais inglesas. Mesmo sendo favorável à burguês, ocorrido em 1789, foi uma das mais importantes
Independência das Américas, a Inglaterra vivia um dilema, lutas contra o absolutismo. Além de conseguirem derrubar
pois não podia perder seu mercado europeu. Era necessário, o governo, que era considerado o mais despótico de toda a
portanto, apoiar as Independências sem entrar em conflito Europa, os revolucionários franceses implementaram novos
com as metrópoles, afinal, o objetivo dos ingleses era modelos políticos no país e, assim, evidenciaram o fracasso
aumentar o seu mercado consumidor, e não transferi-lo. do Antigo Regime.
Esse paradoxo foi resolvido com o apoio indireto da Inglaterra Uma clara manifestação da influência revolucionária
às Independências, por meio da concessão de empréstimos francesa nos processos de emancipação do continente
às colônias e de financiamentos a mercenários, como o lorde americano é a grande recorrência de bandeiras tricolores
Cochrane, que lutaram ao lado dos colonos. como estandartes das novas nações que se formaram.
O pensamento iluminista, que atingiu seu ápice na Europa Porém, ao contrário do azul, branco e vermelho – que
no século XVIII, chamado de Século das Luzes, também teve representam, respectivamente, liberdade, igualdade e
influência nos processos de Independência das Américas. fraternidade – da bandeira francesa, as nações americanas
Por acreditarem em uma ideologia essencialmente burguesa, adotaram cores que faziam alusão a elementos próprios
os iluministas eram contrários às distinções sociais oriundas do continente, por exemplo o amarelo, que representava a
do Período Feudal, defendendo, assim, a igualdade entre os riqueza oriunda dos metais preciosos.
homens, pelo menos juridicamente. O Iluminismo também
pregava o liberalismo econômico, que, na prática, significava
a não intervenção do Estado na economia. Dessa forma,
as relações existentes entre as metrópoles e as colônias
– baseadas completamente nos princípios mercantilistas –
eram vistas com extremo desprezo não só pela Inglaterra,
como também pelos ilustrados, afinal, os nativos não tinham
os mesmos direitos políticos que os indivíduos da metrópole,
a colônia não possuía liberdade comercial e mesmo a
liberdade de expressão era coibida no continente americano.
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Frente A Módulo 16
Mesmo tendo passado cerca de dez anos do início da Finalmente, é importante apontar a posição social inferior
Revolução Francesa, as lutas no continente europeu não ocupada pelos negros que, estando abaixo de qualquer outro
cessaram e, já no início do século XIX, a Europa vivenciava elemento social, muitas vezes eram submetidos à escravidão
as guerras napoleônicas, quando o poderio bélico francês e, logo, aos interesses das elites coloniais.
se impôs em praticamente todo o continente. A Europa se
rendia ao Exército de Napoleão Bonaparte, e a Inglaterra era Com o desenrolar da colonização espanhola, os criollos
a única potência que, devido à sua força econômica e à sua acabaram entrando em divergência com os chapetones,
posição insular, conseguia resistir à expansão napoleônica. pois a elite nativa ganhou muita força econômica pelo fato de
controlar as estruturas produtivas das colônias espanholas,
Diante da resistência inglesa, o imperador francês
estruturas estas que, ao longo do tempo, se desenvolveram
decretou o Bloqueio Continental (1806), que proibia os
países europeus de comercializarem com os britânicos. bastante. Apesar de parecer um paradoxo, o investimento
A Espanha, assim como outros países da Europa, tinha uma estrutural nas colônias era importante para a metrópole, que,
economia muito dependente dos ingleses, e, como a França a partir de então, teria condições de cobrar mais impostos
não estava no mesmo patamar industrial que a Inglaterra, sobre uma produção mais volumosa. Assim, em virtude da
os espanhóis romperam o Bloqueio. força econômica alcançada pelos criollos, estes passaram
a reivindicar maior representação política, uma vez que
A reação francesa foi imediata e se manifestou através
da invasão da Espanha e da deposição do rei daquele país, sustentavam a economia colonial com suas minas e fazendas.
Fernando VII. José Bonaparte, irmão de Napoleão, foi A única forma de obter essa participação, no entanto,
colocado no trono espanhol e, além da resistência interna era rompendo com a metrópole, já que, por serem espanhóis,
ao seu governo, o novo rei enfrentou a desobediência das os chapetones tinham maior influência junto à Coroa.
colônias que compunham a América Espanhola. Além do desejo de liberdade por parte da elite colonial,
a maior parte da sociedade, formada por pequenos
comerciantes, trabalhadores assalariados, mestiços, índios
CONTEXTO INTERNO DAS e negros, também via a Independência com bons olhos,
pois acreditava que, vivendo em um país independente,
AMÉRICAS conquistaria maiores direitos sociais e políticos.
Às vésperas do século XIX, portanto, a sociedade colonial
Apesar da importante contribuição europeia para as lutas espanhola, por mais que apresentasse projetos políticos
de Independência dos hispano-americanos, é necessário distintos, demonstrava seus anseios de liberdade, situação
compreender a realidade do continente americano à época, preocupante para a metrópole, que via o seu controle sobre
assim como as estruturas internas das colônias espanholas, as Américas ameaçado.
para se ter uma noção da realidade dos novos Estados
formados a partir desse processo emancipacionista.
Se a Revolução Francesa foi a maior inspiração europeia
para os colonos que ansiavam por liberdade, o melhor exemplo
PROCESSO DE EMANCIPAÇÃO
de luta em pleno continente americano foi a Independência
das Treze Colônias, processo também conhecido
POLÍTICA
como Revolução Americana, ocorrido no século XVIII.
No processo de emancipação política da América
A luta dos estadunidenses serviu de exemplo aos
Espanhola, há algumas peculiaridades e diferenças em
hispano-americanos, pois o norte da América foi a primeira
região do continente a conquistar a liberdade, livrando-se, relação ao das Treze Colônias e ao do Brasil. No caso das
inclusive, da nação mais poderosa da época, a Inglaterra. Treze Colônias, o que ocorreu após a Independência foi um
Além disso, o considerável desenvolvimento tecnológico processo de expansão territorial. A Marcha para o Oeste
alcançado por parte dos estados que compunham aquele estava associada ao ideário do Destino Manifesto, uma
país levava as elites coloniais a acreditarem que a crença quase religiosa da missão dos estadunidenses em
independência seria a melhor saída naquele momento. expandir os valores da democracia e da liberdade. Já no
Uma clara manifestação da influência estadunidense nas caso brasileiro, houve a manutenção da unidade territorial,
Américas foi o sistema político adotado pela maioria dos se desconsiderarmos pequenas alterações sofridas ao longo
Estados formados, que, assim como os Estados Unidos, do século XIX e início do XX.
se tornaram republicanos.
O processo de Independência da América Latina,
Internamente, as colônias que compunham a América mais precisamente da América Espanhola, no entanto,
Espanhola apresentavam uma sociedade estratificada.
gerou uma grande fragmentação territorial em relação
Os chapetones, espanhóis que vinham para a América, tinham
às antigas possessões espanholas, que, já no século XIX,
a posição social mais privilegiada e, por isso, ocupavam
se desmembraram em vários Estados politicamente
os altos cargos administrativos e controlavam o comércio
autônomos. É importante ressaltar que, mesmo dentro
externo. Outra camada que ocupava posição de destaque
era os criollos, elite nativa descendente de espanhóis, de alguns desses Estados, houve sedições políticas,
que controlava a economia colonial e tinha poderes políticos pois, em virtude da disputa do poder entre os caudillos
limitados. A classe intermediária era formada por mestiços – líderes das independências –, países que haviam
e índios, que, por não terem grande prestígio social, conquistado sua emancipação, como a Grã-Colômbia,
eram excluídos de certos direitos políticos, como o voto. acabaram sofrendo fragmentações posteriores.
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Independência da América Espanhola
Outra reflexão interessante que devemos fazer é a maioria dos países não garantiu a sua emancipação política
a respeito do termo utilizado: emancipação política. em relação à Espanha. Tal situação se justifica pelo fato de
A preferência por esse termo, ao contrário de simplesmente a Inglaterra – diretamente interessada na Independência da
independência, tem por objetivo mostrar que, ao América – estar envolvida nas guerras napoleônicas, o que
conquistar a sua liberdade política, a América Latina não acabou inviabilizando o apoio daquela importante nação aos
conseguiu se livrar do jugo econômico europeu. O apoio movimentos emancipacionistas.
dado pela Inglaterra às Independências acabou por manter
laços de domínio econômico, uma vez que as estruturas Em 1815, Napoleão Bonaparte foi derrotado definitivamente
econômicas e mesmo culturais da região favoreciam a pelas forças conservadoras que, através do Congresso de
manutenção dessa dependência. Muitos membros das Viena, reconduziram o rei espanhol Fernando VII ao trono.
elites coloniais tinham ligações econômicas com a Europa Devido à sua tendência absolutista, o rei logo se empenhou
e acreditavam que o Velho Mundo poderia contribuir em reafirmar a sua autoridade política e econômica sobre as
culturalmente para o desenvolvimento da América, já que colônias instaladas na América. Tal imposição, no entanto,
grande parte dos membros dessa elite teve sua formação não agradou aos criollos, uma vez que a elite nativa
intelectual na Europa. americana não estava disposta a abrir mão da autonomia
conquistada. Assim, entre 1816 e 1825, houve um segundo
Um dos mais importantes precursores das Independências
momento emancipacionista, quando a maioria dos países da
latino-americanas aconteceu no vice-reino de Nova Granada
América conquistou sua autonomia política.
– atual Peru –, onde a mita e a encomienda, tipos de trabalho
compulsório indígena, eram utilizadas de forma extensiva
nas minas e haciendas. José Gabriel Tupac Amaru, que
afirmava ser um descendente dos incas, liderou, em 1780,
uma rebelião contra a exploração sofrida pela população
indígena e, reunindo índios, mestiços e criollos, chegou
a derrubar esses tipos de trabalho compulsório em várias
HISTÓRIA
cidades da região.
Francisco de Goya
em 1781.
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Após a Independência, os caudillos, como ficaram Outro fator fundamental para o fracasso da união da
conhecidas as lideranças políticas e militares que haviam América foi a participação da Inglaterra no processo
figurado à frente dos movimentos de Independência, de emancipação, afinal, os ingleses não desejavam o
passaram a controlar politicamente as novas nações aparecimento de uma nação forte e poderosa no continente.
formadas. O principal desses líderes foi Simón Bolívar, É importante ressaltar, ainda, que a própria divisão política
responsável pela Independência de países como Bolívia, da América Espanhola, promovida pela metrópole, que não
Grã-Colômbia, Venezuela e Equador. Bolívar, um dos permitia a comunicação entre os vice-reinos e as capitanias
libertadores da América, defendia o pan-americanismo, gerais, foi responsável pela falta de unidade política.
através do qual toda a América Espanhola se unificaria em Porém, o elemento mais importante para a fragmentação
torno de uma confederação. Segundo ele, a união das ex- da América Espanhola foi as diferenças de interesses entre
colônias espanholas seria a melhor saída para viabilizar a os caudillos, que, após as Independências, passaram a
formação de uma nação hegemônica no cenário mundial, disputar o poder conforme seus interesses. Assim, em vez
nação esta que se estenderia da Terra do Fogo, na Argentina, de ceder parte dos seus poderes ao chefe do grande Estado
até o Alasca. projetado por Bolívar, os caudillos preferiram manter a sua
influência nos Estados que dominavam.
Em 1826, foi organizado o Congresso do Panamá, quando,
com base nas ideias de Simón Bolívar, houve uma tentativa
de reunir os chefes políticos dos Estados recém-formados,
com o objetivo de manter a unidade do continente. A maioria
dos representantes, entretanto, não compareceu, pois
CASOS PARTICULARES
os caudillos, que exerciam grande influência nos seus
países, não tinham interesse na união desejada por Bolívar.
Os participantes do Congresso entraram em divergência
Argentina
também no que se refere ao sistema político ideal para As Províncias Unidas do Prata compreendiam o território
o país a ser formado. Os adeptos de José de San Martín onde hoje se situam a Argentina, o Uruguai, o Paraguai e
– outro libertador da América – defendiam que o regime parte da Bolívia. Já em 1811, a região iniciou um processo de
republicano, semelhante ao dos Estados Unidos, seria o mais emancipação fragmentada, pois, naquele ano, o Paraguai se
propício ao desenvolvimento econômico da grande nação tornou independente. Logo depois, foi a vez dos argentinos,
hispano-americana. Já os adeptos de Simón Bolívar que, apesar de jurarem fidelidade ao rei espanhol,
Fernando VII, não toleraram as atitudes absolutistas
acreditavam que o sistema monárquico seria o mais viável,
tomadas pelo monarca após a sua volta ao poder, em 1815.
pois, desde a colonização, a América, em geral, já estava
Assim, reunidos no Congresso de Tucumã (1816),
ambientada com os regimes europeus. Assim, em virtude
os argentinos se declararam independentes sob o comando de
dessas divergências surgidas durante o Congresso, o
José de San Martín. Mesmo com a Independência argentina,
projeto de formação de uma grande nação americana não
o processo de fragmentação continuou, afinal, poucos anos
foi concretizado. após a libertação da Argentina, o Brasil anexou a região da
Cisplatina, hoje chamada de Uruguai.
México
Artista desconhecido
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Independência da América Espanhola
O caráter revolucionário do México assustou não só as Apesar da emancipação política, os chefes de Estado da
elites metropolitanas, mas todos os poderosos da própria recém-formada Grã-Colômbia entraram em divergência,
colônia. Assim, esses padres foram assassinados, mas a luta afinal, enquanto Bolívar defendia o unitarismo, através de um
pela Independência continuou. governo forte e centralizado, Santander apoiava o federalismo,
com descentralização do poder. As disputas internas entre os
dois grupos foram tantas que, em 1829, a Confederação da
Grã-Colômbia iniciou um processo de fragmentação em três
países: Colômbia, Equador e Venezuela.
Cuba
Último país da América Espanhola a se livrar do domínio
colonial, Cuba recebeu o apoio dos Estados Unidos para sua
Independência, o que contrariava os interesses espanhóis.
A justificativa para tal atitude veio em 1898, quando um navio
estadunidense, ancorado em Havana, foi misteriosamente
queimado. Alguns autores afirmam que os Estados Unidos
foram os responsáveis pelo atentado, que serviria como um
motivo para o conflito. Fato é que tal incidente provocou a
Guerra Hispano-Americana, travada entre os Estados Unidos
e a Espanha, que acabou sendo derrotada.
Pelo Tratado de Paris (1898), além da Independência de
Cuba, os espanhóis reconheciam o domínio dos Estados
Unidos sobre Filipinas e Porto Rico, até hoje sob controle
daquele país. Em 1902, foi aprovada, pelo Senado dos Estados
Juan O’ Gorman
HISTÓRIA
Unidos, a Emenda Platt, que foi incorporada à Constituição
cubana. Esse dispositivo concedia a emancipação aos
cubanos, mas, ao mesmo tempo, dava ao governo dos EUA
o direito de intervir e de construir bases militares no país,
El grito de dolores, mural que retrata o padre Hidalgo à frente
sendo que, até hoje, uma delas, Guantánamo, funciona como
do povo mexicano durante a luta pela Independência.
uma prisão estadunidense em solo cubano.
As lutas emancipacionistas chegaram ao seu ápice em
1821, quando o general Iturbide – até então responsável
pela contenção às rebeliões separatistas – proclamou o Plano
Uruguai
Iguala. Apesar de concretizar a Independência mexicana, O Uruguai foi incorporado ao território brasileiro em 1820.
este plano assegurava os privilégios da Igreja Católica e a As pretensões lusas na região eram antigas, pois Portugal
proteção à propriedade, favorecendo, assim, os grandes desejava o controle sobre a Bacia do Prata. D. João, usando
proprietários de terras. A única mudança de fato gerada o argumento de que sua esposa, Carlota Joaquina, irmã de
Fernando VII, da Espanha, era herdeira da região, acabou
pela emancipação foi que as riquezas do país não iriam
por anexar a região ao Brasil.
mais para a Espanha, permanecendo agora no México, nas
mãos da elite econômica, responsável pelo comando de uma Em 1825, apoiados pela Argentina, que também tinha
monarquia personificada pelo general Iturbide. interesses na região, os uruguaios iniciaram uma guerra
para se livrarem do domínio brasileiro. Devemos lembrar
O regime monárquico durou até 1823, quando Iturbide que o Brasil, nesse momento, já era independente. A Guerra
foi forçado a abdicar e a se exilar na Europa, o que levou à da Cisplatina (1825-1828), como ficou conhecida, terminou
implantação da república no México. Assim, a partir daquele com a intervenção da Inglaterra, que, para não fortalecer um
ano, o Brasil passou a ser a única monarquia no continente lado ou outro, acabou determinando a criação da República
americano. da Banda Oriental do Uruguai, desvinculada do Brasil e
também da Argentina.
Confederação da Grã-Colômbia
Haiti
Em 1819, as elites coloniais do vice-reino de Nova Granada
se reuniram no Congresso de Angostura, quando anunciaram O Haiti faz parte da Ilha de Hispaniola (atual São Domingos),
dividida durante o Período Colonial entre Espanha, lado oriental,
o rompimento da região com a metrópole e a criação
e França, lado ocidental. O lado francês da ilha possuía três
da Confederação da Grã-Colômbia. Naquele momento,
classes sociais distintas: a maior parte da população era
os colonos indicaram Simón Bolívar como o presidente da composta de escravos; os mulatos e negros libertos, que
república ali instalada, e, como vice-presidente, foi nomeado podiam inclusive se tornar donos de escravos, compunham
Santander, que foi, de fato, quem governou, já que Bolívar uma classe intermediária; e, finalmente, os brancos,
continuava liderando lutas de independências em outras socialmente privilegiados, compunham a minoria responsável
regiões americanas. pela exploração econômica e pela administração colonial.
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O processo de Independência de São Domingos se iniciou D) os interesses ingleses, na América Hispânica, eram
durante a Revolução Francesa, em 1791, tendo como mais presentes e foram os únicos determinantes da
líder Toussaint Louverture, que, inspirado no movimento sua fragmentação, ao passo que, no Brasil, aqueles
burguês europeu, acabou se convencendo de que o interesses não existiram de maneira tão marcante,
Haiti deveria se tornar uma federação ligada à França. de forma a impedir a obra da centralização.
Assim, após a Convenção Nacional abolir a escravidão nas E) não existiu, na América Hispânica, uma facção
colônias francesas, Louverture se incorporou ao Exército oligárquica hegemônica que conseguisse levar adiante
francês na luta contra os ingleses, o que acabou lhe a obra da unidade, enquanto, no Brasil, os interesses
concedendo prestígio o suficiente para realizar mudanças escravistas aglutinaram as elites em torno de um
administrativas na ilha. Louverture criou hospitais, construiu projeto centralista.
parques, estimulou a produção das lavouras de açúcar, criou
escolas e chegou a redigir uma Constituição para o Haiti. 02. (UFMG) Leia este trecho:
A liderança de um negro na América, no entanto, assustou [...] não somos índios nem europeus, mas uma
as elites brancas e, principalmente, Napoleão Bonaparte, espécie intermediária entre os legítimos proprietários
o homem mais poderoso do mundo na época. A mando do do continente e os usurpadores espanhóis: em suma,
imperador francês, uma expedição militar, comandada pelo sendo americanos por nascimento e nossos direitos
general Leclerc, chegou ao Haiti em 1802. Louverture foi os da Europa, temos de disputar estes aos do país e
derrotado, preso e enviado à França, onde morreu um ano mantermo-nos nele contra a invasão dos invasores –
mais tarde. encontramo-nos, assim, na situação mais extraordinária
e complicada.
Apesar da aparente derrota do movimento emancipacionista BOLÍVAR, Simón. Carta de Jamaica, 1815.
haitiano, Jean-Jacques Dessalines deu continuidade à obra
Ao escrever esse texto, o autor refere-se à situação
de Louverture e, assim, proclamou a Independência da
ambígua dos
ilha – agora denominada Haiti – em 1804. Dessalines se
proclamou imperador com o título de Jacques I, mas, em A) criollos, formados na tradição europeia, mas
1806, acabou sendo assassinado. identificados com o novo continente.
B) escravos negros americanos, que perderam seus laços
A Independência do Haiti teve um caráter singular, uma vez
culturais com a África.
que foi o segundo país da América a conquistar a liberdade,
C) mulatos libertos nascidos na América, divididos entre
atrás apenas dos Estados Unidos. Além disso, a emancipação
diferentes tradições culturais.
foi realizada por uma classe socialmente subordinada, os
escravos, que, com requintes de crueldade, exterminaram a D) cholos, indígenas educados por europeus, afastados
elite branca daquela região. Vale ressaltar, no entanto, que das suas raízes identitárias originais.
essa conquista não significou o fim do preconceito étnico:
a minoria mulata, que assumiu o comando da nova nação, 03. (UFJF-MG–2010) A seguir, se encontram descritas
discriminava a maioria negra. diferentes características dos processos de Independência
da América Latina e da América do Norte. Sobre esse
contexto, leia as afirmativas seguintes.
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
I. Nos Estados Unidos, como consequência imediata de
seu processo de Independência, ocorreu a abolição
da escravatura.
II. Em toda a América Espanhola, ocorreu uma aliança
01. (UNIRIO-RJ) Ao compararmos os processos de formação
entre as elites locais e os setores populares contra
dos Estados Nacionais no Brasil e na América Hispânica,
os interesses metropolitanos, sem, contudo, produzir
no século XIX, podemos afirmar que
mudanças nas formas de governo.
A) a unidade brasileira foi garantida pela existência de
III. Na América Portuguesa, a transferência da Corte para
uma monarquia de base popular, enquanto que o
o Rio de Janeiro, bem como a abertura dos portos às
caudilhismo, na América Hispânica, impediu qualquer tipo
nações amigas, constituiu-se em importante fator
de participação das camadas mais baixas da população.
para a crise do sistema colonial.
B) a unidade brasileira relacionou-se, exclusivamente, IV. O processo de Independência no Haiti caracterizou-se
ao forte carisma dos representantes da casa de por uma rebelião escrava, constituindo-se em um
Bragança, enquanto, na América Hispânica, não singular modelo de luta anticolonial.
surgiu nenhuma liderança que pudesse aglutinar os
Marque a opção CORRETA.
diversos interesses em disputa.
A) Todas estão corretas.
C) as diferenças regionais, no Brasil, não ofereceram
nenhum obstáculo à obra centralizadora em torno B) Todas estão incorretas.
da Coroa, ao passo que, na América Hispânica, C) Apenas a I e IV estão corretas.
as diferenças regionais contribuíram para a sua D) Apenas a I e III estão corretas.
fragmentação. E) Apenas a III e IV estão corretas.
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Independência da América Espanhola
D) As guerras de Independência, inicialmente lideradas C) A vinda da família real portuguesa para o Brasil
pelas elites nativas, ganharam força com a participação
HISTÓRIA
proporcionou o fortalecimento dos laços coloniais
de índios e escravos que concretizaram a emancipação
entre Brasil e Portugal, por meio da decretação da
do domínio espanhol.
Abertura dos Portos e da assinatura dos tratados
E) Bolívar, chamado de o “libertador ”, era um comerciais de 1810 com a Inglaterra, os quais
político conservador, defensor de uma monarquia
impediram a afirmação de uma economia colonial
pan-americana.
autônoma.
05. (UNESP–2008) Os donos da terra e os grandes mercadores D) A vitória obtida nos processos de Independência do
aumentaram suas fortunas, enquanto se ampliava a Paraguai e do México propiciou um distanciamento
pobreza das massas populares oprimidas [...] A América das ex-colônias espanholas da influência inglesa,
Latina logo teve suas constituições burguesas, muito
assim como sua aproximação com os Estados Unidos,
envernizadas pelo liberalismo [...] As burguesias dessas
concretizando o sonho do pan-americanismo dos
terras nasceram como simples instrumentos do
libertadores, expresso no lema: “A América para os
capitalismo internacional.
americanos”.
GALEANO, Eduardo. As veias abertas da América Latina.
A partir do texto, é POSSÍVEL afirmar: 02. (UFMG) Considerando-se a formação dos Estados
A) As indústrias da América Latina independente Nacionais na América Latina, é CORRETO afirmar que
tornaram-se competitivas em relação às britânicas,
A) as ilhas caribenhas de colonização espanhola,
no mercado internacional.
seguindo o exemplo do continente, se emanciparam
B) A América Latina independente caracterizou-se
da metrópole nas primeiras décadas do século XIX.
pela igualdade, pelas leis autoritárias e pelo
desenvolvimento nacional autônomo. B) os Estados emergentes mantiveram as fronteiras
C) Os Estados Nacionais independentes criaram leis que separavam os vice-reinos e as capitanias-gerais,
baseadas nos princípios democráticos e na autonomia unidades administrativas do Império Espanhol.
econômica em relação ao capital externo.
C) os novos Estados adotaram a república, com exceção
D) Na América Latina, a Independência preservou a
do México e do Haiti, com suas breves experiências
economia colonial dependente do mercado externo
monárquicas, e do Brasil.
e aprofundou as desigualdades sociais.
E) As burguesias latino-americanas lutaram pela sua D) os novos Estados se consolidaram lentamente,
autonomia política e econômica em relação ao capital superando numerosos obstáculos, mas mantendo a
internacional. ordem política e a unidade nacional.
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03. (UFMG) Para a América Espanhola e, pode-se acrescentar, 06. (UFJF-MG–2006) A respeito do processo de Independência
para o Brasil oitocentista e os Estados Unidos, o Haiti foi um na América Espanhola, é INCORRETO afirmar:
exemplo e uma advertência, observados com crescente A) A invasão da Espanha pelas tropas napoleônicas
horror tanto por governantes como por governados. levou à reorganização do comércio das colônias,
LYNCH, John. In: BETHELL, Leslie (Org.). favorecendo a desarticulação do pacto colonial e a
implantação de práticas comerciais mais livres.
História da América Latina. São Paulo:
Edusp; Imprensa Oficial do Estado; Brasília: B) A Inglaterra ofereceu apoio à Independência
Fundação Alexandre de Gusmão, 2001. v. 3. p. 69. das colônias espanholas, pois via na região uma
possibilidade de ampliação dos mercados para seus
Nesse trecho, faz-se referência produtos industrializados.
A) ao subdesenvolvimento e à miséria da ilha caribenha, C) Os índios lutaram contra a Independência e para
país mais pobre da América Latina. manutenção do trabalho forçado, pois viam no sistema
colonial a única maneira de preservação de suas
B) à desagregação da sociedade haitiana, reforçada pelas
atividades econômicas.
constantes turbulências econômicas.
D) Os criollos pretendiam romper o exclusivo colonial,
C) ao aumento crescente da influência dos ideais
mas não pretendiam encaminhar uma alteração na
anarquistas e evolucionistas na ilha caribenha.
estrutura social das colônias.
D) ao processo de Independência da ilha, marcado por
E) A emergência de uma revolução liberal na Espanha
uma sublevação maciça de escravos negros. dificultou o envio de tropas para as colônias,
favorecendo o processo de Independência.
04. (UFU-MG) Sobre o pan-americanismo do século XIX,
é CORRETO afirmar: 07. (FMCMG–2011) O rápido processo de Independência da
A) O bolivarismo defendia a criação de uma zona de América Espanhola ocorreu em um contexto político-social
livre-comércio na América do Sul, abolindo todas as de lutas internas e interesses estrangeiros, entre os quais
se pode identificar
tarifas alfandegárias.
A) a atuação de Simón Bolívar, cuja marcha popular
B) Ao formular suas ideias de união das sociedades
libertadora contra os interesses da Espanha e
americanas, Bolívar propunha a formação de uma
dos Estados Unidos defendia a formação de uma
poderosa república sob seu governo, unindo o
confederação de países soberanos e latinos na
Equador, Peru, Argentina e Chile.
América do Sul.
C) O monroísmo, substituto do bolivarismo, representou B) a vitória de diversas rebeliões populares lideradas por
o mais alto grau de solidariedade continental, indígenas, como as do Peru e México, que lutavam
garantindo a manutenção da independência de cada contra a opressão das elites espanholas e criollas,
país e realizando muitos dos ideais de Bolívar. criando novos países livres no continente.
D) Pode ser entendido como um movimento de C) a atuação dos criollos, membros das elites
solidariedade continental, com o objetivo de manter hispano-americanas, que buscavam romper com a
a paz nas Américas, defender a independência política metropolitana monopolista, que dificultava
dos Estados americanos e estimular seu suas transações mercantis, sobretudo com a Inglaterra.
B) proposição de aliança com a França revolucionária. B) EXPLIQUE por que o Brasil, ao contrário do que
ocorreu em países da América Hispânica, conseguiu
C) defesa da liberdade de comércio.
manter sua unidade territorial em meio ao processo
D) adoção do voto universal masculino. de Independência verificado na primeira metade do
E) decisão de separar o Estado da Igreja. século XIX.
10 Coleção Estudo
Independência da América Espanhola
09. (UNESP–2010) Leia atentamente o texto. C) oposição dos EUA às Independências latino-
americanas, o que levou essas jovens nações a
O período de Pré-Independência assistiu ao nascimento
buscarem o apoio da Inglaterra.
de uma literatura de identidade, na qual os americanos
glorificavam seus países, proclamavam seus recursos D) fragmentação territorial da América Espanhola,
e louvavam seu povo. Enquanto mostravam a seus levando à sua fragilidade, apesar da coalizão dos
compatriotas as suas qualidades, esses autores caudilhos, chefes políticos locais.
apontavam as qualificações dos americanos para os E) baixo desenvolvimento econômico do subcontinente,
cargos públicos e, na verdade, para o autogoverno. que possuía uma economia baseada somente no
Os próprios termos instilavam confiança por repetição – extrativismo mineral e animal.
pátria, país, nação, nossa América, nós americanos.
Embora ainda se tratasse de um nacionalismo mais 02.
cultural do que político e não fosse incompatível com a
unidade imperial, mesmo assim ele preparava as mentes
dos homens para a Independência, ao lembrar-lhes de Divisão Ano de
Regiões atuais
que a América tinha recursos independentes e as pessoas administrativa criação
para administrá-los.
LYNCH, John. As origens da independência Guatemala, Belize,
Capitania de
da América Espanhola. In: BETHELL, Leslie. 1527 El Salvador, Honduras,
Guatemala
História da América Latina, 2001. Nicarágua e Costa Rica
HISTÓRIA
Como resultado disso e da abolição do tráfico de
escravos para as colônias britânicas, em 1807, a Vice-reino de Colômbia, Panamá e
exportação de açúcar, café e outros produtos tropicais 1717
Nova Granada parte do Equador
cresceu em Cuba e no Brasil, que experimentaram um
enorme aumento no afluxo de escravos. Essas regiões Capitania da
são caracterizadas no século XIX por uma “segunda 1773 Venezuela
Venezuela
escravidão”, mais próxima de um sistema industrial
na disciplina do trabalho e na inovação técnica na Argentina, Uruguai,
Vice-reino do Rio
produção. Longe de ser uma instituição moribunda 1776 Paraguai e parte da
da Prata
durante o século XIX, esta “segunda escravidão” Bolívia
demonstrou sua adaptabilidade e vitalidade.
TOMICH Dale W. Through the Prism of Slavery: Labor, Capital, Capitania de
1777 Caribe e Flórida
and World Economy. Lanham: Rowman & Littlefield Publishers, Cuba
2004. p. 69, 80. (Adaptação).
Capitania de
A) Segundo o texto, o que caracterizava a vitalidade e a 1778 Chile
Chile
adaptabilidade da “segunda escravidão”, desenvolvida
no século XIX?
B) IDENTIFIQUE duas características da Revolução de Disponível em: <http://n.i.uol.com.br/licaodecasa/ensmedio/
Saint Domingue (Haiti). historiageral/capit-espanholas.gif>. Acesso em: 30 jul. 2010.
Editora Bernoulli
11
Frente A Módulo 16
Esse texto retrata o quadro de exploração experimentado opressão política e fiscal, gerada pelo exclusivo
historicamente pela América Latina. Diante dessa relação, colonial, exercida pela Espanha, não era bem
é possível afirmar que vista pelos colonos, principalmente pelos criollos,
que almejavam o controle do continente assim
A) a América Latina mantém-se como área de exploração
das grandes potências mundiais, mas reproduz em que ele conquistasse sua Independência. Por
escala interna a relação de dominação à qual foi fim, cabe ressaltar a contribuição de algumas
submetida desde o período de colonização europeia. ideias, como o Iluminismo, de outros eventos,
como a Revolução Americana, e mesmo de
B) o processo de Independência dos países da América
Latina conferiu, aos mesmos, autonomia para outros países, como a Inglaterra, que apoiou o
determinarem internamente o melhor processo de processo de emancipação da América visando
relação geopolítica. à ampliação do seu mercado consumidor.
C) a dominação produzida pelos países mais desenvolvidos 10. A) De acordo com o texto, a “segunda escravidão”
da América Latina aos países menores da região não foi caracterizada pela adaptação dos escravos
pode ser considerada como relação de exploração, a um regime de trabalho semelhante ao
como a verificada anteriormente. dos operários de uma fábrica. Dessa forma,
D) o autor se equivoca quando afirma que terra, homens a escravidão no século XIX acabou distoando
e capacidade de consumo foram explorados no das antigas relações paternalistas de trabalho
processo de colonização, devido ao fato de serem travadas no início da colonização nas Américas.
valores imateriais de uma região.
B) Diferentemente das demais revoluções
E) atualmente a América Latina não pode ser considerada registradas no continente americano no final
área de exploração, devido ao desenvolvimento do século XVIII e no início do século XIX,
verificado em alguns países como o Brasil.
a Revolução Haitiana foi um movimento
de cunho inicialmente popular, quando
os negros tomaram o poder na ilha e
12 Coleção Estudo
HISTÓRIA MÓDULO FRENTE
século XIX europeu e que deram configuração ao século oficinas nacionais ou sociais, também conhecidas
Editora Bernoulli
13
Frente A Módulo 17
Teoria da mais-valia
Andrew Eland / Creative Commons
14 Coleção Estudo
Ideias sociais e políticas do século XIX
HISTÓRIA
abolido, assim como a propriedade privada e as classes anárquica. Apesar das diferenças, essas duas vertentes
sociais. Em outras palavras, o objetivo final do anarquismo tiveram forte influência no movimento operário brasileiro,
e do marxismo é o mesmo. na segunda metade do século XIX e na primeira década do
século XX.
CRISTIANISMO SOCIAL OU
SOCIALISMO CRISTÃO
Percebendo os avanços de movimentos sociais que
questionavam as estruturas vigentes e, com isso, temendo
perder adeptos, a Igreja Católica passou a se posicionar
em relação a tais problemas. Em 1891, o papa Leão XIII
publicou a encíclica Rerum Novarum, em uma tentativa
de harmonizar as relações entre o capital e o trabalho.
O documento condenava o capitalismo selvagem, no
qual os capitalistas exploravam desmedidamente os
trabalhadores, mas, ao mesmo tempo, também condenava
o socialismo marxista, por seu caráter ateísta e materialista,
considerando-o pecado.
Claus Emp. / B. Bastian
Editora Bernoulli
15
Frente A Módulo 17
16 Coleção Estudo
Ideias sociais e políticas do século XIX
pôde ser percebida ainda no início da Idade Moderna, quando 03. (FAAP-SP) O socialismo científico tem as seguintes
houve a consolidação da maioria dos Estados Nacionais características, EXCETO
europeus e, logo, a implantação de línguas, bandeiras e
A) Desenvolvimento por Marx e Engels.
culturas comuns nos novos Estados unificados.
B) A crise do capitalismo daria origem ao socialismo.
A disseminação do nacionalismo no século XIX pode ser
atribuída principalmente à atitude de Napoleão Bonaparte. Ainda C) Luta de classes entre burguesia e proletariado.
no início do século, o imperador francês promoveu invasões em D) Ditadura do proletariado.
diversas partes do continente europeu, exaltando sempre os
E) Teoria da mais-valia com ênfase na defesa da
ideais da Revolução Francesa. Assim, grande parte dos povos
propriedade privada.
que foram submetidos ao Império Napoleônico passou a se
apropriar de princípios como a soberania e a cidadania buscando
se desvincular econômica, política e racialmente do domínio 04. (FUVEST-SP–2010) No Ocidente, o período entre 1848 e
francês. Os maiores exemplos da ideologia nacionalista do 1875 “é primariamente o do maciço avanço da economia
século XIX foram materializados pelas unificações da Itália e da do capitalismo industrial, em escala mundial, da ordem
Alemanha, processos que aumentaram ainda mais a rivalidade social que o representa, das ideias e credos que pareciam
entre os Estados Nacionais europeus e resultaram em diversos legitimá-lo e ratificá-lo”.
conflitos armados, como a Primeira Guerra Mundial. HOBSBAWM, E. J. A era do capital: 1848-1875.
HISTÓRIA
E) burguesa e liberais.
que foram aprisionados pelos alemães na Guerra
Franco-Prussiana; e uma ação pacífica em defesa dos
trabalhadores irlandeses explorados pelos ingleses. 05. (Unicamp-SP) O liberalismo tornou-se ideologia
predominante na sociedade ocidental a partir da segunda
B) uma reação da camada operária inglesa, quebrando
máquinas, pois as identificavam como causadoras metade do século XIX.
de desemprego; e uma das primeiras tentativas A) Quais direitos naturais que o liberalismo se propõe a
de organização da classe operária através de garantir?
reivindicações contidas na “Carta do Povo”.
B) Quais as principais características do liberalismo
C) um movimento operário inglês, que reivindicava
econômico?
melhores condições de trabalho através da introdução
de máquinas; e um movimento operário que defendia C) Quais correntes de pensamento se opuseram ao
um governo socialista. liberalismo no século XIX?
D) uma ação isolada de trabalhadores ingleses
que, influenciados por Karl Marx, reivindicavam
a introdução das máquinas; e um movimento
de trabalhadores escoceses que defendiam o fim
EXERCÍCIOS PROPOSTOS
da servidão em seu território.
E) um movimento liderado por Willian Ludd, que defendia 01. (UFJF-MG) Exalta o direito de propriedade individual e da
melhores condições de trabalho; e uma reação riqueza; opondo-se, consequentemente, à intervenção
liderada por lord Strangford em defesa de 8 horas do Estado na economia. Defende intransigentemente que
de trabalho, por meio da “Carta do Povo”.
deve haver total liberdade de produção, circulação e venda.
Considera que o homem, enquanto indivíduo, deve desfrutar
02. (UFMG) Todas as alternativas contêm características
de todas as satisfações, não se submetendo, senão, aos
relativas à organização dos trabalhadores europeus no
limites da razão. Crê no progresso como sendo resultado
século XIX, EXCETO
de um fenômeno natural e decorrente da livre-concorrência,
A) A legislação impedia a organização dos trabalhadores
que, ao estimular as atividades econômicas, é a única forma
em nível nacional.
aceitável de proporcionar liberdade, felicidade, prosperidade
B) As demonstrações de massa, os motins e petições
e igualdade entre todos os homens.
eram as principais formas de manifestação.
O trecho anterior pode ser considerado uma síntese dos
C) O movimento operário defendia o sufrágio universal
valores constitutivos da ideologia política intitulada
e a igualdade econômica.
D) Os sindicatos incentivavam a quebra das máquinas A) catolicismo social. D) liberalismo.
para denunciar a exploração do trabalho. B) socialismo utópico. E) anarquismo.
E) Os sindicatos surgiram com força nova no cenário político. C) socialismo científico.
Editora Bernoulli
17
Frente A Módulo 17
02. (PUC-SP) No século XIX, o desenvolvimento socialmente 04. (UECE) Reagindo à economia clássica, o socialismo
desigual da sociedade capitalista liberal deu origem à corporifica-se com as teorias de Karl Marx e Friedrich
“questão social”. Para resolvê-la, surgiram então Engels. A teoria desses dois pensadores
A) resulta da observação crítica das realidades
I. o socialismo utópico e reformista (de Fourier e outros),
socioeconômicas da Europa na fase da Revolução
que pretendia reconstruir a sociedade a partir de um
Industrial e no período imediatamente posterior.
plano ideal, igualitário e justo;
B) defende a propriedade privada como instrumento
II. o catolicismo social, preocupado com a defesa da indispensável para a superação das desigualdades
justiça social ameaçada pelo desenvolvimento da sociais.
sociedade industrial capitalista; C) prega a diminuição do Estado (Estado mínimo) e mais
espaço para a iniciativa privada.
III. o socialismo científico de Marx e Engels, baseado no
D) apresenta a síntese mais acabada do chamado
materialismo histórico e dialético, que propunha uma “socialismo utópico”.
sociedade sem classes;
05. (PUC-Campinas-SP) O desenvolvimento das ideias
IV. o Movimento Cartista, vitorioso na Inglaterra
socialistas, no século XIX, principalmente aquelas
(1838-1842), que preconizava o anarcossindicalismo. relacionadas às teorias de Marx e Engels, adquire
importância ímpar na organização e constituição dos
Assinale se estão CORRETAS apenas
partidos políticos operários que estão associados à
A) I e II. A) publicação, no final do século XIX, de O estado e a
revolução de Lênin e à Revolução Russa de 1917.
B) II e III.
B) publicação, em 1848, do Manifesto Comunista e
C) III e IV. à organização em Londres, em 1865, da Primeira
Internacional.
D) I, II e III.
C) publicação de A origem da família, da propriedade
E) I, II e IV. privada e do Estado, de Engels, e à fundação da
Associação Internacional de Trabalhadores em 1876.
03. (Cesgranrio) “Trabalhadores de todo o mundo, uni-vos!” D) publicação de O capital, em 1855, e à fundação do
Partido Socialista Francês, em 1870.
Com essa frase, que se tornou famosa, Marx e Engels
E) publicação do romance Os miseráveis, de Victor Hugo,
começavam o Manifesto Comunista, no fervilhar de um
e à fundação do Partido Trabalhista Inglês, em 1870.
período de profundas agitações em toda a Europa, no
período entre 1830 e 1848. Acerca dessa conjuntura, 06. (Mackenzie-SP) O historiador Eric J. Hobsbawm considera
podemos afirmar que que o período de 1789 a 1848 foi assinalado por uma
A) as barricadas de 1848, em Paris, exigiam mudanças “Dupla Revolução”, a Francesa e a Industrial Inglesa.
18 Coleção Estudo
Ideias sociais e políticas do século XIX
HISTÓRIA
1. Que a destruição de todo poder político é o primeiro Garibaldi, contra os grupos republicanos e as forças
dever do proletariado. militares monarquistas apoiadas pelo papado.
2. Que toda organização de um poder que pretende D) ideário socialista, expresso nos movimentos populares
ser provisório e revolucionário para efetivar aquela que eclodiram na Alemanha em 1848, o qual conduziu
destruição é um engano, e seria tão perigoso para à unificação do país, constituindo uma República
o proletariado como todos os governos que existem
Federativa presidida por Bismarck.
hoje.
E) fortalecimento das associações de trabalhadores com
3. Que, rejeitando todo compromisso para chegar
a formulação, a partir da Segunda Internacional,
à realização da Revolução Social, os proletários
reunida em 1889, de um ideário reformista político
de todos os países devem estabelecer, fora de
baseado na social-democracia.
toda política burguesa, a solidariedade da ação
revolucionária.
10. (UFF-RJ) Assinale a opção que sintetiza alguma das ideias
Os documentos anteriores correspondem a duas do líder anarquista Bakunin.
interpretações sobre a realidade social do século XIX. A) Bakunin é chamado de anarquista porque, em 1881,
Respectivamente, suas ideias resultaram em uma Internacional Socialista
A) ao socialismo científico e à doutrina social da igreja. separada da Primeira Internacional, semeando
B) à doutrina social da igreja e ao socialismo libertário. anarquia nas hostes do movimento operário europeu.
C) ao socialismo libertário e ao socialismo utópico. B) A sociedade livre deve recusar qualquer forma de
organização que limite a liberdade individual; por
D) ao socialismo utópico e ao socialismo científico.
tal razão, o anarquismo pode ser considerado um
E) à doutrina social da igreja e ao socialismo científico. movimento antissocial e antipolítico.
C) O anarquismo de Bakunin foi uma tentativa burguesa
08. (UFOP-MG) Ao longo do século XIX, a difusão da Revolução divisionista de opor ao marxismo uma contrafacção
Industrial alterou as condições de vida nas diversas áreas de socialismo baseada em ideias absurdas, mas de
atingidas pelo processo de industrialização, o que fez apelo para os operários.
surgirem novas concepções e doutrinas comprometidas D) A sociedade livre deve organizar-se espontaneamente
com o desenvolvimento ou com a reforma da sociedade em grupos de vizinhos (comunas) e de pessoas que
capitalista. Entre as propostas dessas doutrinas sociais, trabalham juntas (cooperativas); entre tais grupos
identificamos CORRETAMENTE a podem surgir confederações livres, mas sem que se
institua acima deles uma autoridade controladora.
A) crítica da propriedade privada, formulada pelo
E) Bakunin era um fidalgo russo boêmio e profundamente
marxismo científico.
reacionário, cujas ideias resumiam-se na recusa de
B) submissão integral do trabalhador ao capital, expressa qualquer autoridade ou associação de qualquer tipo
pela doutrina social da Igreja, na Rerum Novarum. e nível, tanto na economia quanto na política.
Editora Bernoulli
19
Frente A Módulo 17
SHELLEY. Os homens da Inglaterra. 05. A) O liberalismo, muito útil aos valores iluministas,
se propunha a garantir os direitos à vida,
Apud HUBERMAN, L. História da riqueza do homem.
à propriedade, à liberdade e à igualdade
Rio de Janeiro: Zahar, 1982.
perante a lei.
A análise do trecho permite identificar que o poeta B) Traduzido para a economia, o liberalismo
romântico Shelley (1792-1822) registrou uma contradição defendia a não intervenção do Estado na
nas condições socioeconômicas da nascente classe economia, assim como a não intervenção nas
trabalhadora inglesa durante a Revolução Industrial. relações de trabalho.
Tal contradição está identificada C) Além do absolutismo monárquico, os
movimentos socialistas (utópicos ou
A) na pobreza dos empregados, que estava dissociada
científicos) eram críticos ferrenhos do
da riqueza dos patrões. liberalismo, que era visto como responsável
pelas mazelas do operariado.
B) no salário dos operários, que era proporcional aos
seus esforços nas indústrias.
Propostos
C) na burguesia, que tinha seus negócios financiados
01. D 03. C 05. B 07. B 09. E
pelo proletariado.
02. D 04. A 06. C 08. A 10. D
D) no trabalho, que era considerado uma garantia de
liberdade. Seção Enem
E) na riqueza, que não era usufruída por aqueles que a 01. C 02. E 03. B
produziam.
20 Coleção Estudo
HISTÓRIA MÓDULO FRENTE
pelos Habsburgo, era uma dessas potências, cabendo- europeu. Por esse motivo, as unificações foram responsáveis
lhe os territórios italianos da Venécia e Lombardia e, pela exacerbação dos nacionalismos europeus que levaram
ainda, o direito de indicar os governantes dos estados à Primeira Guerra Mundial.
italianos de Módena, Parma e Toscana. O único estado
que manteve a sua autonomia na Península Itálica
foi o reino de Piemonte-Sardenha, situado ao norte.
UNIFICAÇÃO ITALIANA
Já entre os estados alemães, foi formada a Confederação
Germânica, composta inicialmente de 38 estados associados Desde o contexto das revoluções liberais, no século XIX,
e presidida politicamente pela Áustria. Para que houvesse os reinos da Península Itálica já demonstravam o desejo de
de fato uma unificação, quer seja entre os estados itálicos promover um processo de unificação. Naquele momento,
ou germânicos, seria necessário, portanto, eliminar
Giuseppe Mazzini, à frente da sua instituição – Jovem Itália –,
a influência austríaca daquelas respectivas regiões.
comandou uma insurreição em prol da unificação. O projeto
Devido à hegemônica força política e militar do Império de Mazzini incluía as massas italianas, acreditando que a
Austríaco, tanto o processo de unificação da Itália quanto o da
unificação emanaria das camadas populares.
Alemanha ocorreram somente no século XIX e foram marcados
por conflitos internos e externos. É importante ressaltar que, A proposta democrática de Mazzini não agradava às elites
após o Congresso de Viena, estabeleceu-se relativa paz no da região, que, visando a enfraquecer aquele movimento,
continente europeu. Assim, os principais conflitos ocorridos na dividiram os rebeldes, apoiando outra proposta de unificação,
Europa, no período entre o Congresso de Viena e a Primeira que deveria ocorrer sob a tutela de Vítor Emanuel II, rei de
Guerra Mundial, foram as guerras decorrentes das unificações
Piemonte-Sardenha, o único reino independente do norte
e a Guerra da Crimeia (1853-1856).
da Península.
Outro ponto a se ressaltar é que as duas unificações foram
processos elitistas e, logo, nada democráticos. O povo, Dessa forma, coube a Camilo de Cavour, primeiro-ministro
colocado à margem dos processos, assistiu à burguesia de Vítor Emanuel II e defensor da causa monárquica,
italiana do norte e à aristocracia prussiana liderarem as a responsabilidade pelo início do processo de unificação.
unificações na Itália e na Alemanha, respectivamente. Além Uma das justificativas para a liderança de Piemonte-
da participação das elites nos projetos centralizadores, dois Sardenha no processo de unificação era a riqueza
estados independentes – Piemonte, no caso italiano, e Prússia, desse reino, que contrastava com o caráter agrário
no caso alemão – tiveram grande influência na condução dos
dos estados do sul da Península. Apesar de serem
novos governos. Devido ao desenvolvimento desse processo
vistos como os líderes ideais do processo de unificação,
coordenado, vários historiadores consideram que a Itália e a
os piemonteses tinham como grande obstáculo para
Alemanha até hoje guardam claras heranças dos estados que
as originaram e, por isso, podem ser consideradas extensões esse processo a hegemonia da Áustria, que, desde o
de Piemonte e da Prússia, respectivamente. Congresso de Viena, dominava diversos estados itálicos.
Editora Bernoulli
21
Frente A Módulo 18
Percebendo as dificuldades que enfrentaria, Cavour passou Diante da vitória das tropas unificadoras, diversas outras
a buscar aliados no continente europeu, afinal, a Áustria regiões da Península Itálica, como os Estados Pontifícios,
era uma potência militar. Assim, a França, que desejava que também se encontravam subordinadas a outras
enfraquecer o Império Austríaco e, logo, aumentar a sua nações, organizaram revoltas buscando a sua libertação.
zona de influência na Europa, prontificou-se a apoiar a causa Essa expansão das revoltas, no entanto, não interessava aos
da unificação, desde que, em troca, recebesse as regiões católicos franceses, que temiam pela integridade do poder
de Nice e Savoia. Com o apoio das tropas de Napoleão III, do papa, que até então governava o centro da Península.
Cavour pôde, enfim, travar uma guerra contra a Áustria, que Assim, a ala católica conservadora francesa pressionou
Napoleão III a retirar o seu apoio a Piemonte-Sardenha,
foi derrotada pelas tropas francesas e piemontesas em 1859.
o que de fato ocorreu.
Ainda naquele ano, como sanção à derrota na guerra,
Se, ao norte, o reino de Piemonte foi o grande responsável
a Áustria foi punida com a perda de Lombardia, Toscana,
pela libertação de diversos estados, no sul, destacou-se a
Romagna, Parma e Módena, regiões anexadas ao reino
figura de Giuseppe Garibaldi, revolucionário republicano
de Piemonte. As regiões de Savoia e Nice também se
que havia lutado na Farroupilha, no Sul do Brasil, e que,
libertaram do domínio austríaco e, conforme havia
comandando mil homens, os Camisas Vermelhas, invadiu o
sido acertado, passaram para o controle dos franceses.
reino das Duas Sicílias e o de Nápoles em 1860. Devido ao
A exceção foi a região de Venécia, que, apesar de também
seu caráter republicano, Garibaldi não concordava com o
estar no norte da Península Itálica, continuou subordinada
processo de unificação comandado pelo reino de Piemonte.
ao Império Austríaco. Ao mesmo tempo, ele também sabia que os sulistas não
eram fortes o bastante para liderarem a unificação. Diante
Fases do processo de unificação da Itália
dessa situação, Garibaldi acabou se retirando das lutas para
SUÍÇA
não atrapalhar o processo iniciado por Piemonte-Sardenha,
SAVOIA
TRENTINO
IMPÉRIO
entregando, assim, as regiões conquistadas ao sul para
Trento
Milão
LOMBARDIA Udine
AUSTRO-HÚNGARO serem integradas às conquistas piemontesas.
Turim
VENÉCIA
FRANÇA PIEMONTE
Trieste
Parma Verona Veneza ÍSTRIA
Gênova Fiume
PARMA Módena
NICE ROMAGNA
MÓDENA Ravena
Nice Bolonha
Florença
TOSCANA
IMPÉRIO
Ancona
OTOMANO
JA
RE
IG
Córsega
DA
AR
(FRA) S
ESTADO
AD
RI
Roma
ÁT
IC
O
Sassari
Nápoles
SARDENHA
Reprodução
Cala
taf o
imi rm
Pa
le MAR
JÔNICO
Marsala Representação de Giuseppe Garibaldi
SICÍLIA
N
Siracusa
0 200 km Em 1866, enquanto ocorria a Guerra Austro-Prussiana,
conflito que fez parte do processo de unificação da Alemanha,
Territórios pretendidos pela Itália
Reino de Piemonte-Sardenha
e só anexados em 1919 os italianos aproveitaram-se das derrotas austríacas para
Anexações de 1859-1860,
Campanha de Garibaldi
decorrentes da guerra contra a Áustria conquistar a Venécia. Assim, a Áustria, tendo de enfrentar
Territórios cedidos à França (1860) Campanha de tropas do Piemonte
dois inimigos, em duas frentes de batalhas, acabou derrotada
Territórios incorporados em 1860
em razão das campanhas de em ambos os conflitos e, logo, foi obrigada a ceder a Venécia
Garibaldi e de tropas piemontesas
Anexação em 1866 aos italianos.
Território anexado em 1870
No final da década de 1860, portanto, foi criado um Estado
22 Coleção Estudo
Unificação italiana, alemã e Comuna de Paris
Evert A. Duykinck
aos italianos.
desagradado ao papa, que se declarou um prisioneiro dos O primeiro passo nesse processo foi a instituição da
italianos. A solução, em 1929, veio com o Tratado de Latrão, Zollverein (1818), uma tentativa de unificar a economia dos
pelo qual Mussolini, primeiro-ministro da Itália fascista,
HISTÓRIA
estados germânicos e a da Prússia. O acordo estabelecia
desejando o apoio da Igreja, criou o Estado do Vaticano, uma união aduaneira entre as regiões, o que facilitaria a
indenizou a Igreja pelos territórios perdidos e instituiu o circulação de seus produtos em toda a Alemanha. Assim,
Ensino Religioso nas escolas italianas. se a Áustria exercia um domínio político sobre os estados
germânicos, a partir da criação da Zollverein, cabia à Prússia
controlar a economia da Confederação, o que gerou uma
UNIFICAÇÃO ALEMÃ grande insatisfação por parte dos austríacos.
Editora Bernoulli
23
Frente A Módulo 18
SUÉCIA
DINAMARCA MAR
BÁLTICO Tilsit
MAR DO
NORTE Königsberg
SCHLESWIG
Schleswig
Dantzig
kiel
HOLSTEIN
Rostock
lübeck
MECKLEMBURG
Stettin
PAÍSES OLDEMBURGO Hamburgo
BAIXOS Bremen
Amsterdã Berlim Posen
HANÔVER PRÚSSIA
RÚSSIA
Hanôver Magdeburgo
Münster
PRÚSSIA Göttingen
Kassel
Dortmund Leipzig
Bruxelas HESSE- Dresden
Düsseldorf
KASSEL Império Alemão (II Reich) – 1871–1918
Erfurt SAXÔNIA Breslau
BÉLGICA TURÍNGIA
Colônia Prússia em 1815
NASSAU HESSE
Frankfurt
Praga
LUXEMBURGO HESSE
Anexação de Schleswig-Holstein (1864-1866),
Luxemburgo
guerra da Áustria e da Prússia contra a Dinamarca
Darmstadt
PALATINADO
Metz
Incorporações em 1866 – Guerra Austro-Prussiana
Verdun Karlsruhe Nuremberg
LORENA
Stuttgart
BAVIERA
Unificação resultante da adesão
Estrasburgo
WÜRTTENBERG AUSTRO-HUNGRIA à guerra contra a França (1871)
FRANÇA ALSÁCIA Ulm
BADEN Munique Anexação resultante da Paz de Frankfurt (1871)
N
0 70 km Confederação Germânica do Norte (1867-1871)
SUÍÇA
Guerra Austro-Prussiana (1866) – Logo após a Guerra Bismarck, no entanto, não era favorável à postura
dos Ducados, Bismarck alegou que o Império Austríaco pacificadora tomada pelo kaiser prussiano e, por isso, alterou
havia descumprido o acordo de divisão dos ducados, pois o conteúdo da carta, fazendo com que esta passasse a ter
estaria realizando uma má gestão no ducado de Holstein. um tom ameaçador e ofensivo a todo o povo francês. Além
Esse, no entanto, era apenas um pretexto para iniciar um de alterar o conteúdo do documento, Bismarck ainda fez com
conflito com os austríacos, que, de fato, veio a ocorrer em 1866. que a carta fosse divulgada pela imprensa, o que tornou o
No momento em que a Guerra Austro-Prussiana se iniciou, conflito entre a França e a Prússia inevitável.
a Itália, interessada em domínios austríacos, aliou-se à
Como se pode perceber, o objetivo do primeiro-ministro
Prússia, o que favoreceu a derrota do Império Austríaco em
prussiano era eliminar a resistência francesa à unificação
poucas semanas.
alemã, além de fomentar o nacionalismo e unir todos os
Após a vitória dos prussianos, estes puderam, enfim,
estados alemães em torno de um inimigo em comum, o que
eliminar a influência austríaca na região alemã e, assim,
de fato ele conseguiu. Em aproximadamente seis meses, a
criar a Confederação Germânica do Norte, reunindo não só
França foi derrotada pela união dos alemães e Guilherme
economicamente, como previa a Zollverein, mas também
I foi coroado imperador de toda a Alemanha dentro da
politicamente vários estados que, a partir de então, foram
Sala dos Espelhos, em pleno Palácio de Versalhes, em
integrados aos domínios da Prússia.
território francês.
Guerra Franco-Prussiana (1870-1871) – Diante
da concretização do projeto unificador alemão, a França, A França, pelo Tratado de Frankfurt, foi obrigada a entregar
que temia a perda de seu prestígio no continente a Alsácia e a Lorena para os alemães, regiões ricas em
europeu, manifestou-se contrária à continuidade do minério de ferro e carvão. A conquista dessas regiões, em
processo liderado pela Prússia. Através do seu imperador, 1871, significou a finalização do processo de unificação da
Napoleão III, os franceses enviaram diversas cartas ao Alemanha e contribuiu para o desenvolvimento industrial do
kaiser prussiano, Guilherme I, ameaçando-o quanto às país. Entretanto, para os franceses, que tiveram de passar a
possíveis sanções caso o projeto de unificação fosse importar minério de ferro e carvão, a perda dessas regiões
levado à frente. Temendo a represália francesa, em acabou criando um forte sentimento de revanche, fator que,
uma de suas cartas, Guilherme respondeu a Napoleão, em partes, foi responsável pela eclosão da Primeira Guerra
alegando que não pretendia unificar toda a Alemanha. Mundial logo no início do século XX.
24 Coleção Estudo
Unificação italiana, alemã e Comuna de Paris
Artista desconhecido
Os imigrantes, além disso, contribuíram significativamente
para a formação da sociedade brasileira em várias áreas,
como alimentação, cultura, técnicas agrícolas e capitais para
Representação do brasão da Prússia em 1871. Nas asas da águia o desenvolvimento industrial.
negra, é possível ler o nome de alguns estados germânicos
anexados pelos prussianos.
HISTÓRIA
Quando a França se envolveu na Guerra Franco-Prussiana,
em 1870, Napoleão III foi para a frente de batalha, imaginando
Itália e Alemanha, após suas unificações, passaram por
que a sua presença iria aumentar o fervor militar de seus
um intenso processo de industrialização e entraram na soldados, que sofriam sucessivas derrotas para o Exército
corrida imperialista disputando mercados com a Inglaterra prussiano, mais bem preparado que o francês. A vitória
e com a França, até então as grandes potências da Europa. esperada, no entanto, não aconteceu, e, assim, Napoleão III
O equilíbrio de forças na Europa se alterou e os conflitos tornou-se prisioneiro dos prussianos após a Batalha de
tornaram-se latentes. A rivalidade entre os países europeus Sedan. Naquele momento, o imperador francês foi obrigado a
contribuiu para a eclosão da Primeira Guerra, afinal, além assinar a rendição do seu país, decisão que não foi aceita pela
do revanchismo francês gerado pela perda da Alsácia e da população francesa em geral. Diante do impasse instalado no
país, o Legislativo da França, que até então auxiliava o rei, se
Lorena, as nações alemã e italiana entraram na corrida
organizou e proclamou uma república na França, conhecida
imperialista atrasadas e acabaram, para atender seus
também como Terceira República Francesa.
interesses imperialistas, formando uma aliança militar,
que foi um dos elementos responsáveis pela deflagração Essa república, liderada por Thiers, insistiu em manter
do conflito. a soberania francesa e, para isso, manteve as suas tropas
na guerra. Mesmo com os esforços empregados pelo novo
governo diante dos prussianos, as tropas não resistiram e
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Frente A Módulo 18
26 Coleção Estudo
Unificação italiana, alemã e Comuna de Paris
HISTÓRIA
02. (Cesgranrio) Assinale a alternativa que apresenta uma
D) interessava à burguesia do norte da Península Itálica
afirmativa CORRETA sobre o processo de unificação da
superar todos os obstáculos que emperravam o
Alemanha (1871) e da Itália (1870).
crescimento capitalista. A Península Itálica, dividida
A) Na Itália, a proclamação da República por Giuseppe em vários reinos, apresentava diversas leis e impostos
Garibaldi, líder do movimento carbonário e republicano, que retardavam a livre-circulação das mercadorias.
estabilizou economicamente o país, permitindo a
fixação das fronteiras internacionais italianas e sua E) no norte da Península Itálica evidenciou-se a formação
unificação interna. de uma burguesia industrial interessada em fortalecer
os empreendimentos capitalistas, combatendo o
B) Na Itália, com o apoio do papa Pio IX, o movimento
domínio das forças conservadoras.
unificador difundiu-se a partir da cidade de Roma,
sendo contrário aos interesses econômicos da
burguesia do Piemonte e do norte do país. 05. (CEFET-PR) Sobre a unificação italiana, é CORRETO
afirmar que
C) Na Alemanha, Bismarck implementou a unificação
I. após o Congresso de Viena, a Itália foi dividida e
com a ajuda econômica e militar do Império Austríaco,
opondo-se à política separatista da Prússia de Guilherme I. transformada numa simples “expressão geográfica”,
motivando o Risorgimento.
D) A criação da União Alfandegária (Zollverein) entre os
estados alemães desenvolveu a industrialização e a II. a liderança na luta pela unificação coube ao reino
economia da Confederação Germânica, culminando de Piemonte-Sardenha, sob orientação de Benito
na unificação política com a criação do Segundo Reich Mussolini.
(Império) Alemão. III. foi na década de 1870 que os italianos conquistaram
E) Ambos os processos unificadores resultaram da Roma e completaram a unificação.
derrota dos movimentos nacionalistas locais frente
IV. a conquista da unidade deu origem à Questão
à reação das forças monárquicas reunidas pelo
Romana, monarquia italiana versus papa, que só foi
Congresso de Viena.
resolvida com o Tratado de Latrão, em 1929, quando
foi criado o Estado do Vaticano.
03. (UFTM-MG–2010) Pode-se apontar como característica
comum das unificações da Alemanha e da Itália Das proposições anteriores, são CORRETAS somente
A) a criação de uma república liberal, comandada pela A) II, III e IV.
pequena burguesia e ligada às tradições românticas B) I, III e IV.
do século XIX, em especial com a música.
C) I, II e III.
B) a participação de todas as classes – em especial
do operariado – associada à constituição de uma D) I e IV.
monarquia que respeitava as culturas regionais. E) I e II.
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Frente A Módulo 18
28 Coleção Estudo
Unificação italiana, alemã e Comuna de Paris
Assinale a alternativa CORRETA. 09. (UFMG) Sobre a unificação alemã no século XIX,
B) Apenas a afirmativa III é verdadeira. Desde o final do século XVIII, a criação de inúmeras
07. (PUC Minas) No processo de unificação da Itália de meados o idioma, a cultura e as tradições comunitárias,
do século XIX, destacam-se, EXCETO elementos para a elaboração de uma identidade
B) a permanência de um sistema oligárquico que garante ilustrado (uma vez que pautado no princípio da
os interesses dos grandes proprietários da terra. cidadania e no direito à autodeterminação dos povos),
C) a ação dos liberais moderados, liderado por Cavour, inspirará uma boa parcela dos revolucionários de
para impedir as tentativas revolucionárias. 1848. Mas não serão eles a unificar a Alemanha.
D) a obtenção da unidade através do alargamento do Seus herdeiros precisarão aguardar até 1871, quando
estado piemontês e não de um movimento nacional. Bismarck realiza uma revolução de cima, momento
E) o papel decisivo dos movimentos populares para a em que, em virtude do poderio econômico e da
HISTÓRIA
08. (UFRGS–2007) A unificação alemã, habilmente modernização.
arquitetada por Otto von Bismarck, realizou-se em torno
de guerras bem-sucedidas contra potências vizinhas. MAGALHÃES, Marionilde D. B. de. A Reunificação:
enfim um país para a Alemanha? Revista Brasileira de História.
Assinale a alternativa CORRETA em relação às
motivações e aos acontecimentos que desencadearam São Paulo: ANPUH/Marco Zero, v. 14, n. 28. 1994. p. 102.
A) A fragmentação política obstaculizava o pleno Tendo-se como referência essas considerações, pode-se
desenvolvimento comercial e industrial da região. concluir que
A unificação promoveria um mercado ágil e ampliado,
A) o principal fator que possibilitou a unificação alemã
com condições de enfrentar a concorrência inglesa
através da proteção governamental. foi o desenvolvimento econômico e social dos
Estados germânicos, iniciado com o estabelecimento
B) A unificação foi liderada pela Áustria, o mais poderoso
dos estados germânicos e sucessora do extinto do Zollverein – liga aduaneira que favoreceu os
britânica, via no novo Estado um importante aliado que via no desenvolvimento industrial o caminho da
na corrida imperialista. modernização.
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Frente A Módulo 18
10. (UFG–2006) A unificação italiana, no final do século XIX, 02. A unificação da Itália foi dificultada pelo controle que
ameaçou a integridade territorial da Igreja. Esse impasse o Império Austro-Húngaro exercia em alguns estados
01.
GABARITO
A História possui rupturas e permanências, em que
determinados processos se assemelham e, alguns, até se
repetem. Dentro da história europeia, é possível observar
Fixação
permanências durante o longo processo de construção
01. A
de nacionalidade da Alemanha e na atual tentativa de
02. D
promover a unificação europeia.
03. E
Podemos considerar como pontos comuns a esses dois
04. C
momentos distintos da Europa:
05. B
A) Nos dois momentos, há a presença de uma economia
forte que pretende se expandir a partir de uma Propostos
unificação econômica.
01. C
europeia. 07. E
08. A
D) A eliminação do xenofobismo foi um elemento que
09. A
garantiu o sucesso das unificações nos momentos
10. D
citados.
30 Coleção Estudo
HISTÓRIA MÓDULO FRENTE
Texas: anexado
em 1845
Flórida:
comprada
da Espanha
em 1819
Alasca: Havaí: N
comprado anexado 0 360 km
em 1867 em 1898
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Frente A Módulo 19
Além de apresentar a possibilidade de extração aurífera aos seus produtos industrializados. Já o sul estava a favor
– o que proporcionou a corrida do ouro e, logo, a obtenção da diminuição das barreiras alfandegárias, pois era consumidor
de uma renda per capita elevada –, essa região favorecia e queria estimular a concorrência, diminuindo os preços finais
a caça de animais, como o castor e o bisão, o cultivo da dos produtos industrializados. Diante do impasse gerado,
cana-de-açúcar e de algodão, a pecuária e o comércio. o governo estadunidense buscou amenizar a situação
por meio da adoção de tarifas alfandegárias moderadas,
Apesar de ter sido importante para o desenvolvimento
sendo que estas seriam aumentadas gradativamente a cada
dos Estados Unidos, a Marcha para o Oeste provocou a
ano. Mesmo com a intervenção do governo dos Estados
morte de milhares de indígenas que habitavam a região.
Unidos, a situação continuou não sendo favorável nem ao
O choque com os nativos foi inevitável, pois a incorporação
dos indígenas à nova cultura americana não estava prevista na norte nem ao sul, o que fomentou ainda mais a animosidade
doutrina do Destino Manifesto, que pregava a superioridade entre esses dois lados.
dos estadunidenses diante das demais etnias. Assim, além O segundo impasse interno entre os estadunidenses
de não respeitarem os legítimos donos das terras a oeste, girava em torno da questão escravista: o norte visava
os estadunidenses se limitaram a demarcar pequenas à expansão do mercado consumidor interno para os seus
porções de terras para as poucas tribos que conseguiram produtos e, por isso, defendia a abolição da escravidão
sobreviver à Marcha para o Oeste. e, logo, a adoção do trabalho assalariado. Posto que nos
Devemos ressaltar, ainda, que, mesmo após a grande estados do sul a economia era agroexportadora e a mão
expansão territorial garantida pelos Estados Unidos de obra predominante era a escrava negra, os sulistas
durante o século XIX, estes continuaram expandindo eram contrários à abolição, o que caracterizou mais um
suas fronteiras, exercendo um forte imperialismo, conflito de interesses dentro de um país claramente
principalmente na América do Norte e na América Central. dividido politicamente.
Apesar de o México ter sido o país mais prejudicado
Como as leis eram criadas pelo Congresso dos Estados
territorialmente, devido à sua proximidade com os
Unidos, formado por representantes do norte e do sul,
Estados Unidos, outras nações, como Cuba e Porto Rico,
surgiu um novo problema, a questão da expansão para o
sofreram intervenções militares por parte dos estadunidenses,
oeste. À medida que as terras a oeste iam sendo incorporadas
que, principalmente no final do século XIX, adotaram essa
aos Estados Unidos e ocupadas, estas se tornavam estados.
tática militar para viabilizar seus interesses econômicos.
Havia, então, a preocupação por parte do norte e do sul se
Essa política de intervenção, que afetou toda a América e
esses novos estados seriam abolicionistas ou escravistas.
favoreceu o imperialismo estadunidense, ficou conhecida
A fim de manter o equilíbrio, um dos mecanismos adotados
como Big Stick.
foi o Acordo do Missouri (1820), determinando que todo
estado surgido acima do paralelo de 36º 30’ deveria ser
GUERRA CIVIL AMERICANA abolicionista, e os estados surgidos abaixo desse paralelo
deveriam ser escravistas. Como esse paralelo corta o
(1861-1865) território dos Estados Unidos quase ao meio, pretendia-se,
A Guerra Civil americana, também conhecida como Guerra com isso, manter a harmonia entre abolicionistas e
de Secessão, foi um dos eventos mais importantes para o escravistas no Congresso.
desenvolvimento dos Estados Unidos, pois, apesar de ter
COLÔNIAS INGLESAS
deixado um saldo de mais de seiscentos mil mortos e de
REGIÃO DE
ter destruído grande parte da produção de algodão do sul, OREGON
Área da disputa VT.
o conflito contribuiu para o avanço das forças produtivas britânico-americana TERRITÓRIO N.H.
MASS.
DESORGANIZADO TERR. N.Y.
capitalistas no país. Para compreender melhor o conflito MICHIGAN R.I.
PA. CONN.
deflagrado no século XIX, entretanto, é necessário remontar Admitido como OHIO N.J.
escravocrata ILL. IND. DEL.
o contexto do século XVIII, quando as divergências internas em 1821
MISS.
VA. MD.
KY. D.C.
entre os estadunidenses já se demonstravam latentes. 36˚ 30`
Linha do TENN.
N.C.
TERR.
Mesmo com a vitória dos colonos nas lutas pela emancipação Compromisso
Missouri
ARK S.C.
OCEANO
em 1776, a realidade do país ainda era muito heterogênea, NOVA ESPANHA
MISS. ALA. GA.
ATLÂNTICO
pois o norte, mais voltado às atividades industriais, e o sul, (México independente em 1821) LA. TERR.
FLA. N
majoritariamente agrário, divergiam em várias questões, OCEANO
PACÍFICO 0 360 km
criando um ambiente propício à eclosão de uma guerra civil.
32 Coleção Estudo
Estados Unidos no século XIX
Anthony Berger
que os estados sulistas estavam com menos influência
política do que os estados nortistas. A diferença era tanta
que, nas eleições presidenciais de 1860, o vencedor foi
Abraham Lincoln, candidato republicano que havia feito Abraham Lincoln, presidente eleito em 1860
uma campanha aberta em favor do protecionismo e do A segunda foi a Abolição da Escravidão (1863), que permitiu
abolicionismo. Não aceitando a derrota, a Carolina do Sul, a participação dos negros no Exército, além de provocar a
seguida por mais dez estados, declarou-se em secessão, fuga de milhares de negros do sul para o norte, aumentando
formando os Estados Confederados com a capital em mais ainda o contingente militar da União. Apesar da
Richmond e tendo por presidente Jefferson Davis. conquista por parte dos escravos, é importante ressaltar
que os negros tiveram de servir por mais tempo, usar armas
Diante da separação dos sulistas, Lincoln, o presidente de inferiores e ganhar menos que os soldados brancos. Assim,
fato, argumentou a favor da questão da União, o que talvez a consequência foi, ao final da guerra, um número de soldados
HISTÓRIA
tenha sido o principal elemento responsável pela guerra. negros mortos três vezes maior do que o de soldados brancos.
Lincoln dizia que a manutenção da União era mais fundamental Após os quatro anos de duração da Guerra Civil, o general
que a abolição e, de acordo com ele, se fosse necessário confederado Robert Lee se rendeu ao comandante do Exército do
manter a escravidão para manter a União, ele o faria. norte, general Ulysses Grant, em 1865. Naquele ano, portanto,
Por isso, em 1861, não aceitando a separação do sul, foi determinado o final dos combates e a reincorporação
o norte se empenhou para reincorporar os estados sulistas ao dos estados do sul aos Estados Unidos. Além de garantir a
país e, assim, iniciou-se o mais violento conflito da história recomposição dos estadunidenses, os conflitos renderam
também a morte de Abraham Lincoln, que, cinco dias antes do
dos Estados Unidos da América.
final da guerra, foi assassinado por John Booth, um ator sulista.
Perante a investida nortista, o sul levava vantagem, pois
sua população estava acostumada a atirar, a caçar e a montar.
Além disso, estava defendendo o seu próprio território, ESTADOS UNIDOS APÓS
que conhecia bem. Por outro lado, o norte tinha um A GUERRA
maior contingente populacional, algo em torno de onze
A Guerra Civil americana matou mais estadunidenses do que as
milhões a mais de pessoas, lembrando que um percentual
duas Grandes Guerras e a do Vietnã juntas – no total, foram mais
enorme do sul era composto de escravos. O norte possuía
de 600 000 pessoas. Se, por um lado, a guerra gerou uma grande
também uma melhor rede de transportes, favorecendo a
perda humana e material, ao final dos conflitos, dada a vitória do
movimentação de tropas e armas e maior autossuficiência norte, a política protecionista e industrializante foi colocada em
industrial. Tais recursos, portanto, faziam com que o sul se prática em todo o território dos Estados Unidos. Desde então,
tornasse dependente dos produtos industrializados do norte foi registrado um grande desenvolvimento industrial e
e da Europa. Dessa forma, uma das saídas adotadas pelos populacional, o incentivo à instalação de imigrantes, a ampliação
nortistas durante a guerra foi a realização de um bloqueio da malha ferroviária e a mecanização da agricultura, fatores
marítimo, o que impedia os Confederados de venderem sua fundamentais para o fortalecimento do capitalismo no país.
produção agrícola e comprarem armas junto aos europeus. No campo social, houve a aprovação da 13ª Emenda, que
ratificava a abolição da escravidão, e da 14ª Emenda, que
Durante os conflitos, Lincoln, atuando como presidente
concedia alguns direitos civis aos negros. Porém, na prática,
dos Estados Unidos, além de bloquear as vias de acesso
a situação dos negros era difícil, pois existiam leis discriminatórias
aos estados do sul, tomou duas medidas fundamentais para
em alguns estados, que chegavam mesmo a proibir o casamento
a vitória dos nortistas. A primeira foi o Homestead Act (1862), de negros com brancos. Surgiram grupos como a Ku Klux Klan,
que previa a doação de terras no oeste para quem fosse os Cavaleiros da Camélia Branca, os Cavaleiros do Sol Nascente,
viver na região por 5 anos sem utilizar mão de obra escrava; entre outros. Esses grupos, formados por brancos radicais,
com isso, houve um significativo esvaziamento da guerra e perseguiam os negros e seus aliados, promovendo linchamentos
o aumento da expansão rumo ao oeste. em grande parte dos estados do país.
Editora Bernoulli
33
Frente A Módulo 19
LEITURA COMPLEMENTAR
agricultores, ao contrário da situação nos EUA no século passado.
Os paralelos entre a história dos EUA e a do Brasil, nessas
questões de separatismo, abolição e competição entre a indústria
Texto I e a agricultura, convidam a uma reflexão bem maior sobre a razão
Guerra Civil americana pela qual, no Brasil, tais questões encontraram um encaminhamento
e uma solução às vezes bastante diferente dos encontrados pelos
A Guerra Civil norte-americana (1861-1865) merece EUA, e o que isso teria a ver com as diferenças atuais entre as
a atenção do estudante brasileiro por diversos motivos. políticas, as economias e as sociedades dos dois países. Ao longo
Primeiro, foi uma guerra que marcou profundamente a evolução dessa história, que aliás não pretende fornecer mais do que uma
histórica dos Estados Unidos da América (EUA). Até essa introdução ao estudo da guerra, procuraremos levantar diversos
guerra, todos os conflitos políticos mais importantes entre as pontos de comparação específica entre os EUA e o Brasil, no século
grandes regiões norte-americanas, do norte e do sul, tinham XIX. Caberia ao leitor, entretanto, partir dessas informações para
sido resolvidos, adiados ou escamoteados entre as linhas da desenvolver as suas próprias explicações das diferenças.
Constituição de 1787, e através de processos pacíficos de
EISENBERG, Peter Louis. Guerra Civil americana.
barganha, conchavo, negociação e voto. A guerra representou
São Paulo: Brasiliense, 1982.
uma confissão de que o sistema político falhou, esgotou os seus
recursos sem encontrar uma solução. Foi uma prova de que,
mesmo numa das democracias mais antigas, houve uma época Texto II
em que somente a guerra podia superar os antagonismos políticos.
O total dos mortos ajuda a apreciar a magnitude desse A guerra dos ricos... travada pelos pobres
evento traumático para os EUA. Calcula-se que um total de
618 000 americanos combatentes morreram nos dois lados, um A Guerra de Secessão, iniciada com um ataque confederado
total que excede o de todos os mortos americanos na Primeira ao Forte – I Sumter, em abril de 1861, foi considerada como a
Guerra Mundial (1914-1918, com 125 000 mortos americanos); primeira das grandes guerras modernas. “Durante quatro longos
na Segunda Guerra Mundial (1939-1945, com 322 000 mortos anos a luta continuou, com enormes perdas de vidas de ambos
americanos), na Guerra da Coreia (1950-1953, com 55 000 os lados (620 000 mortos). Primeiro, ambos os lados recrutaram
mortos americanos) e na Guerra do Vietnã (1961-1975, com voluntários; depois, os homens eram convocados para o Exército.
57 000 mortos americanos). Isso causou profundo ressentimento, tanto no norte como no
sul. Tanto em um como em outro lado era permitido pagar
Em segundo lugar, essa guerra lembra vários aspectos da
substitutos para prestar o serviço militar. No sul havia muitas
história do Brasil, quando questões semelhantes surgiram. Para
brechas nas leis de convocação, através das quais escapavam
começar, a guerra foi uma reação a um movimento separatista.
os proprietários de grandes plantações, ou os que possuíam
O sul declarou a sua independência do norte e estabeleceu uma nova
mais de 15 escravos (isto quando a guerra tinha sido provocada
nação, os Estados Confederados da América (ECA). O norte teve de
por eles mesmos). No norte, um indivíduo convocado podia
invadir o sul e lutar por quatro anos até destruir esse separatismo.
ser isento da convocação se pagasse ao governo 300 dólares.
Da mesma forma, o governo imperial brasileiro teve de reprimir
Não se admira que muitas pessoas pobres se referissem à guerra
com armas a Confederação do Equador no Nordeste, em 1824,
como ‘a guerra dos ricos na qual lutam os pobres’.”
a República de Piratini e a República Catarinense, criadas pela
Revolução dos Farroupilhas no Rio Grande do Sul, em 1835-1845. HUBERMAN, Leo. Nós, o povo. São Paulo: Brasiliense, 1996.
34 Coleção Estudo
Estados Unidos no século XIX
IV. O aperfeiçoamento técnico dos transportes e das Entre os fatores que motivaram e favoreceram a Marcha
comunicações, com o desenvolvimento do telégrafo, para o Oeste, está
das ferrovias e das hidrovias. A) a possibilidade de as famílias de colonos tornarem-se
V. O afluxo de capitais europeus, investidos na proprietárias, o que também atraiu imigrantes
agricultura e nas bolsas de valores. europeus.
Assinale
B) o desejo de fugir da região litorânea afundada em
A) se apenas I e IV forem corretas. guerras com tribos indígenas fixadas ali, desde o
B) se apenas II e III forem corretas. período da colonização.
HISTÓRIA
C) se apenas III e IV forem corretas.
C) a beleza das paisagens americanas, o que atraiu
D) Se apenas I e II forem corretas.
muitos pintores e fotógrafos para aquela região.
E) se apenas I e V forem corretas.
D) o avanço da indústria cinematográfica, que encontrou
02. (UFMG) Leia este trecho de documento: no oeste o lugar perfeito para a realização de seus
Odeio-a porque impede a nossa República de influenciar filmes.
o mundo pelo exemplo da liberdade; oferece possibilidade
E) a existência de terras férteis que incentivaram a ida
aos inimigos das instituições livres de taxar-nos, com razão,
para o oeste, de agricultores que buscavam ampliar
de hipocrisia e faz com que os verdadeiros amigos da
suas plantações de algodão.
liberdade nos olhem com desconfiança. Mas, sobretudo,
porque obriga tantos entre nós, realmente bons, a uma
guerra aberta contra os princípios da liberdade civil. 04. (UFV-MG) Leia os trechos de notícias de jornais publicados
DISCURSO de Abraham Lincoln, em 1859. nos Estados Unidos no século XIX:
Nesse trecho de discurso, Abraham Lincoln, que seria eleito 1. [...] um espírito de interferência hostil [de outras nações]
presidente dos Estados Unidos no ano seguinte, faz referência para conosco, com o objetivo confesso de deformar
nossa política e prejudicar nosso poder, limitando
A) à política de segregação racial existente nos estados
do sul dos Estados Unidos, que gerou a formação nossa grandeza e impedindo a realização de nosso
de organismos voltados ao extermínio dos negros, Destino Manifesto, que é estendermo-nos sobre
à destruição de suas propriedades e a atentados o continente que a Providência fixou para o livre
constantes contra suas comunidades. desenvolvimento de nossos milhões de habitantes, que
B) à posição dos estados do sul de defesa intransigente ano após ano se multiplicam.
de tarifas protecionistas, o que levava os Estados Democratic Review
Unidos a comprometer a crença na liberdade de
mercado, numa conjuntura de predomínio do 2. A universal nação ianque pode regenerar e libertar o
capitalismo liberal. povo do México em poucos anos; e cremos que é parte
C) à questão da escravidão, que levou a uma guerra civil, de nosso destino civilizar esse belo país e capacitar
nos Estados Unidos, entre o norte, industrializado, e o seus habitantes para apreciar algumas das numerosas
sul, que lutava para preservar a mão de obra escrava vantagens e bênçãos de que dispõem.
nas suas plantações de produtos para a exportação.
New York Herald
D) à defesa, pelos imigrantes, do extermínio dos índios
nas terras conquistadas a oeste, especialmente após a Citados por AQUINO, R.S.L. et al. História das
edição do Homestead Act, visando ao desenvolvimento sociedades americanas. Rio de Janeiro:
da agricultura e da pecuária naquelas áreas. Livraria Eu e Você, 1981. p. 140-141.
Editora Bernoulli
35
Frente A Módulo 19
Quanto à história do expansionismo norte-americano no ( ) Houve uma política voltada para a expansão
século XIX, pode-se afirmar que territorial tanto no Período Colonial quanto no
A) na época, os Estados Unidos apossaram-se de várias Pós-Independência (até meados do século XIX), rumo
áreas do território mexicano sem o pagamento de ao oeste e ao sul.
indenizações e, da mesma forma, apropriaram-se ( ) A Carta Constitucional dos Estados Unidos e a
de colônias da França, da Inglaterra e da Rússia, Constituição (1824) adotada no 1º Império do Brasil
orientados por seu Destino Manifesto. seguem o modelo de Estado e de governo federalista.
B) as ações expansionistas dos Estados Unidos visavam A sequência CORRETA é
a empurrar suas fronteiras até o Oceano Pacífico e
excluir a região sul do país, porque nela predominava A) V V F V. D) F F V F.
uma economia agroexportadora que impedia o avanço B) V V V F. E) F F V V.
da industrialização.
C) F V F F.
C) o expansionismo norte-americano sobre as colônias
espanholas contou com o apoio da Santa Aliança
02. (UFU-MG) Os Estados Unidos tornaram-se uma nação
porque ela pretendia ver instauradas repúblicas,
economicamente poderosa na segunda metade do
livres e democráticas, nas metrópoles europeias
século XIX, desenvolvendo um forte mercado interno e
e em suas colônias.
uma política externa imperialista em relação ao continente
D) por força de seu Destino Manifesto, a descoberta do
americano.
ouro nas colinas californianas estreitou as relações
entre mexicanos e americanos, evitando novos Assinale a alternativa que retrata CORRETAMENTE
conflitos e disputas nas fronteiras, o que permitiu o esse contexto.
acesso dos Estados Unidos ao Oceano Pacífico. A) A Doutrina Monroe, sintetizada na afirmação
E) a imprensa dos Estados Unidos, na época, acreditava “A América para os americanos” e criada pelo grupo
que eles tinham uma predestinação: a missão de político Democrata, procurava defender os princípios
civilizar povos inferiores do continente americano de igualdade de direito à propriedade e à liberdade da
por causa de seu Destino Manifesto, ou seja, o seu Constituição, resguardando a soberania do indivíduo
domínio representava a vontade de Deus.
perante o Estado.
B) A situação dos índios e afro-americanos, nesse
05. (UFJF-MG) Sobre a história dos Estados Unidos, no contexto
contexto, foi sanada, respectivamente, pela criação
da Guerra de Secessão, aponte a afirmativa CORRETA.
de reservas mantidas pelo Estado e pela abolição da
A) A emergente burguesia industrial propunha a criação
escravidão logo após a vitória do norte na Guerra de
de uma civilização com bases mais aristocráticas, em
Secessão, incorporando-os ao mercado de trabalho
que a elite tivesse um comportamento semelhante ao
e de consumo.
da nobreza inglesa.
B) Os estados do norte eram contra o protecionismo C) A expansão territorial em direção ao oeste permitiu a
alfandegário, porque queriam importar livremente anexação de enormes faixas de terras, interiorizando
produtos manufaturados. a ocupação. O Homestead Act incentivou essa marcha,
com a distribuição gratuita de terras aos estrangeiros,
C) No sul dos EUA, concentrava-se a elite agrária
além da grande atração motivada pela Corrida do Ouro
escravista, que se opunha aos estados do norte, onde
na Califórnia.
se concentrava a elite industrial.
D) Após a Guerra de Secessão, foi abolida a escravidão D) A política externa norte-americana no século XIX foi
e houve uma significativa melhora nas condições de sustentada pelo Destino Manifesto, responsável pelo
vida dos negros, que foram beneficiados por vários desenvolvimento de áreas atrasadas no continente,
programas do governo. tais como: o México, Cuba, a Nicarágua e a região
do Canal do Panamá, incorporando-as ao mercado
E) Mesmo com a vitória dos Estados Confederados, não
houve uma reconciliação entre as elites do sul e as internacional, possibilitando a supremacia dos Estados
do norte. Unidos como potência mundial.
36 Coleção Estudo
Estados Unidos no século XIX
04. (UFF-RJ) A Guerra de Secessão, nos Estados Unidos da C) Refere-se à violência das práticas por meio das quais o
América, promoveu a implantação de novas bases para capitalismo foi introduzido nas “regiões selvagens” da
a nação americana, porque a vitória do norte América do Norte, tendo como resultado a transformação
radical da natureza do oeste dos Estados Unidos e o
A) desencadeou o movimento racista de oposição ao
desaparecimento de grupos indígenas da região.
desenvolvimento da modernização americana que D) Esse episódio favoreceu a construção de vias
culminou com a fundação da Ku Klux Klan. modernas de comunicação nos Estados Unidos,
B) acelerou o processo de estabelecimento do capitalismo como as linhas férreas e os telégrafos, possibilitando
no sul, permitindo a unificação de mercados, a ligação entre diversas partes do país no contexto
o desenvolvimento urbano e o melhor aproveitamento da sua industrialização.
das matérias-primas e produtos agrícolas do sul.
C) não significou a eliminação do peso político do sul
07. (UFPR–2007) Alexis de Tocqueville, um dos grandes teóricos
da democracia na América, afirma em sua obra de 1835:
que, no início do século XX, retomou sua hegemonia
econômica com a anexação do Texas. Quando comparo as repúblicas gregas e romanas com
essas repúblicas da América, as bibliotecas manuscritas
D) expôs o grande dilema americano do Destino
das primeiras e seu populacho grosseiro com os mil jornais
Manifesto e determinou a supremacia da perspectiva
que circulam nas segundas e com o povo esclarecido que
econômica agrária sobre a industrial.
as habita; quando em seguida penso em todos os esforços
E) teve consequências cruciais para os escravos do sul, que ainda são feitos para julgar uns com a ajuda dos
pois produziu uma legislação social que excluía os negros outros e prever, pelo que aconteceu há dois mil anos,
da terra, com a proibição do trabalho dos ex-escravos. o que acontecerá em nossos dias, sou tentado a queimar
meus livros, a fim de aplicar apenas idéias novas a um
05. (UFMG) Todas as alternativas apresentam aspectos da estado social tão novo.
expansão da fronteira norte-americana na segunda TOCQUEVILLE, Alexis. de. A Democracia na América.
metade do século XIX, EXCETO São Paulo: Martins Fontes, 2005. p. 355-356.
A) Desenvolvimento da indústria têxtil e metalúrgica na Com base no texto e nos conhecimentos sobre a
costa do Pacífico. formação da democracia nos Estados Unidos da América,
HISTÓRIA
B) Dizimação dos indígenas e confinamento das é CORRETO afirmar:
comunidades remanescentes. A) O “estado social tão novo” apregoado pelo autor
C) Expansão das ferrovias ligando o Vale do Mississippi r e f e r e - s e à e x i s t ê n c i a d e u m a d e m o c ra c i a
ao oeste. fundamentada nos pressupostos do Despotismo
D) Exploração de ouro, prata e outros minerais em várias Esclarecido que caracterizava o sistema político no
regiões do oeste. Antigo Regime na Europa.
B) Tocqueville sugere que, diferentemente das repúblicas
gregas e romanas, a experiência democrática
06. (UFU-MG–2006) Leia o trecho a seguir.
americana resultou na formação de uma população
Disfarçado com nomes como “A conquista do Oeste” ou grosseira e iletrada, consequência da leitura de jornais
“Vaqueiros e índios”, esse golpe final da história ocidental em vez de livros.
tem a mesma popularidade na América Latina [...] e no C) A instituição precoce da democracia liberal nos Estados
Quartier Latin de Paris, onde se podem comprar enormes Unidos foi responsável pela implementação da “missão
chapéus de vaqueiro, cordas de amarrar gado e botas civilizadora”, que possibilitou a incorporação pacífica das
de vaqueiro feitas com couro sintético do Oriente. [...] populações indígenas nativas na sociedade nacional e
Nos Estados Unidos, a platéia continua a crescer ainda assegurou a manutenção do seu modo de viver.
hoje e continua tão crédula quanto sempre em relação a D) Por considerar a democracia na América uma ruptura
ficções sobre a vitória e os adversários derrotados. Poucos histórica, Alexis de Tocqueville afirma que a democracia
compreendem ou se importam com o fato de que esse norte-americana foi um episódio original e sem
episódio final é na realidade um retrato da civilização precedentes em experiências históricas anteriores.
ocidental, tão irônico quanto trágico. E) Ao destacar o ineditismo da democracia norte-americana,
Tocqueville refere-se ao fato de a Declaração de
TURNER, Frederick. O espírito ocidental contra a natureza. Independência dos Estados Unidos (1776) ter
Rio de Janeiro: Campus, 1990. p. 257. conferido igualdade, liberdade e direitos irrestritos
No trecho apresentado, a cultura western, por exemplo, às mulheres e aos escravos.
nos filmes de faroeste, é tratada como espetáculo relativo
a um episódio considerado irônico e trágico da civilização 08. (PUC SP–2011) A expansão dos Estados Unidos em
ocidental. Em relação a tal episódio, assinale a alternativa direção ao oeste, na primeira metade do século XIX,
INCORRETA. envolveu, entre outros fatores, a
A) Refere-se a um processo de desapropriação de A) intervenção norte-americana na guerra de Independência
terras indígenas, exploração sistemática de recursos do México, da América Central e de Cuba.
B) anexação militar do Alasca, resultado de longo conflito
naturais do oeste dos Estados Unidos e extermínio
armado com a Rússia.
de populações nativas da região, que é operado,
C) Guerra de Secessão, que opôs os escravistas dos
sobretudo, na segunda metade do século XIX.
estados do sul aos abolicionistas do norte.
B) Refere-se à maneira pela qual os ingleses, no D) implantação de um sistema legal rigoroso nas áreas
momento de sua fixação nas 13 colônias, lidaram ocupadas, evitando conflitos armados na região.
com as populações indígenas da América do Norte, E) remoção indígena, transferindo comunidades indígenas
desapropriando-as e dizimando-as. que viviam a leste do Rio Mississippi para outras regiões.
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37
Frente A Módulo 19
GABARITO
SEÇÃO ENEM
Fixação
01. (Enem–2009) Na década de 30 do século XIX, Tocqueville 01. A 02. C 03. A 04. E 05. C
escreveu as seguintes linhas a respeito da moralidade
nos EUA: Propostos
A opinião pública norte-americana é particularmente dura 01. B 03. B 05. A 07. D 09. D
com a falta de moral, pois esta desvia a atenção frente à
02. C 04. B 06. B 08. E 10. C
busca do bem-estar e prejudica a harmonia doméstica, que
é tão essencial ao sucesso dos negócios. Nesse sentido,
pode-se dizer que ser casto é uma questão de honra. Seção Enem
TOCQUEVILLE, A. Democracy in America. Chicago: Encyclopædia 01. D 02. B
Britannica, Inc., Great Books 44, 1990. (Adaptação).
38 Coleção Estudo
HISTÓRIA MÓDULO FRENTE
Imperialismo 20 A
Na segunda metade do século XIX, a Europa vivia
Colonialismo do Neocolonialismo do
transformações de ordem econômica e cultural que se
século XVI século XIX
fizeram sentir em outras partes do planeta. Nesse contexto,
as principais potências europeias adotaram a política Atuação América Ásia e África
imperialista, também chamada de neocolonialismo, para
suprirem suas necessidades comerciais e expandirem suas Portugal, Espanha,
Potências Europa, EUA e Japão
zonas de influência sobre o restante do mundo. Quanto às Inglaterra e França
nomenclaturas dadas a esse processo histórico, é importante
Investimentos
ressaltar que elas se referem a características distintas Busca de novas fontes
externos e regiões
observadas naquele contexto. Objetivos de riquezas e expansão
para o excedente
da fé católica
O termo neocolonialismo apresenta a possibilidade de populacional europeu
diferenciar o processo transcorrido no século XIX daquele
Mão de Escrava negra e
colonialismo desenvolvido entre os séculos XVI e XVIII, Assalariada livre
obra indígena
no contexto das Grandes Navegações. No colonialismo
característico da Idade Moderna, as principais potências Expansão Marítima 2ª Revolução
Contexto
dominadoras eram Portugal, Espanha, França, Holanda e Europeia Industrial
Inglaterra, que atuavam majoritariamente no continente
americano. As metrópoles buscavam lucrar com as suas
colônias e, para isso, incentivavam a exploração de gêneros
EXPANSÃO DA CIVILIZAÇÃO
tropicais, metais e pedras preciosas nos seus domínios.
A mão de obra predominante nas áreas de domínio foi o A dominação na Ásia e na África não se baseou somente
trabalho compulsório, variando entre a escravidão negra e em pressupostos econômicos, afinal, as nações imperialistas
a servidão indígena. precisavam justificar os motivos pelos quais seria necessária
a intervenção nas regiões a serem dominadas. Assim,
O neocolonialismo do século XIX, por sua vez, foi
uma das justificativas utilizadas foi a missão civilizadora,
comandado por nações que iam além da Europa. Esta
ideologia que defendia a superioridade do homem branco
era representada por países como a Inglaterra, a França, europeu. Segundo essa ideologia, o europeu, quando
a Bélgica, a Itália, a Alemanha, a Rússia e a Holanda. exercia seu domínio em outras regiões, estava, na verdade,
Os Estados Unidos e o Japão foram exemplos de potências levando o desenvolvimento e a civilização para esses povos
alternativas ao Velho Continente que também atuaram na supostamente inferiores. O poeta inglês Rudyard Kipling
dominação de regiões não só da América, mas também chegou a chamar a dominação imperialista de “fardo
da África e da Ásia. Os principais objetivos das nações do homem branco”, como se o imperialismo fosse uma
imperialistas compreendiam a busca por matéria-prima e obrigação penosa delegada por Deus aos europeus.
mercado consumidor para os produtos industrializados, além Teorias pseudocientíficas também foram desenvolvidas por
da busca por regiões que pudessem receber investimentos pensadores europeus para demonstrar a sua superioridade.
de capital e o excedente populacional das grandes potências. Uma delas, o darwinismo social, alegava que, assim como
A mão de obra predominante foi o trabalho assalariado, pois existe a seleção natural entre as espécies – teoria proposta
isso representava formação de mercados consumidores. por Darwin –, entre os humanos existem raças mais ou
menos desenvolvidas em meio a um processo natural.
Observe o quadro a seguir que sintetiza uma comparação
Assim, adaptando o darwinismo, essa corrente social julgava
entre o colonialismo do século XVI e o neocolonialismo que o branco, mais apto naturalmente, seria o responsável
desenvolvido no século XIX. por civilizar os demais povos.
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39
Frente A Módulo 20
Um dos defensores do darwinismo social foi o francês A solução encontrada pelos grandes capitalistas do Velho
Gobineau, que, em 1853, escreveu o Ensaio sobre Continente, portanto, foi buscar novas áreas para investir o
a desigualdade das raças, no qual desenvolveu um estudo excedente de capital europeu. Naquele momento, a África
sobre a superioridade dos nórdicos. Mais tarde, outro e a Ásia foram os continentes mais cobiçados pelas nações
darwinista social, o filósofo inglês Spencer, alegou que imperialistas, haja vista que grande parte da América havia
os indivíduos que se adaptassem melhor ao ambiente se tornado independente ainda no início do século XIX.
seriam superiores. Spencer defendia ainda que as raças A partir do início da corrida imperialista, os excedentes antes
superiores tinham o direito natural de exercer sua dominação acumulados na Europa foram redirecionados para as diversas
sobre os povos considerados inferiores. Tais valores, além colônias instaladas em solos africano e asiático. É necessário
de demonstrarem o etnocentrismo reinante, justificaram ressaltar, no entanto, que tais investimentos visavam tão
posteriormente o aparecimento de teorias racialistas, somente ao lucro das grandes corporações europeias e,
como é o caso do nazismo. dessa forma, não necessariamente produziram melhoria
das condições de vida dos povos dominados, ao contrário,
promoveram o endividamento e a dependência econômica.
40 Coleção Estudo
Imperialismo
o
a geografia da Abissínia, caracterizada pela existência
Or
Argélia
de
Egito
de grandes cadeias montanhosas, dificultava as ações
o
Rí
imperialistas em seu território. África Ocidental
Francesa Tibesti
Senegal
Apesar de a Abissínia e a Libéria não terem sido diretamente Sudão
Guiné FR
dominadas pelas potências imperialistas europeias, essas Daomé Antigo
regiões foram exceções, pois, desde o início do século Braleda Nigéria Egito
Togo Abissínia
XIX, boa parte do continente africano já sofria influência Libéria Camarões Somália
dessas grandes potências. Naquele primeiro momento, Costa do Costa África
Marfim do Oriental
no entanto, as ações imperialistas eram extraoficiais, ou Congo Congo Britânica
Ouro
Colônias de Francês Belga
seja, eram exercidas por investidores particulares e não Portugal África OCEANO
Oriental ÍNDICO
diretamente pelos Estados europeus. Um exemplo disso foi Colônias da
Alemã
Espanha
a ação dos franceses que, em 1857, durante o governo de Colônias Angola
Moçambique
Napoleão III, já influenciavam o norte da África em regiões da Itália
Países independentes
como a Argélia, a Tunísia, o Senegal e parte do Congo. Ainda ou associados Madagascar
Sudoeste
no norte do continente, os franceses, em associação com Colônias Africano
da França Alemão
os ingleses, mantinham dupla administração sobre o Egito,
Colônias da Orange
onde construíram o Canal de Suez, em 1869. Projetado pelo Grã-Bretanha União
francês Ferdinand Lesseps, o canal artificial que liga o Mar Colônias da OCEANO Sul Africana
Alemanha ATLÂNTICO N
Vermelho ao Mediterrâneo era de extrema importância para Colônia 0 1 000 km
HISTÓRIA
as duas nações, afinal, ele encurtava a distância entre os belga
centros de dominação (Europa) e as áreas coloniais africanas
No continente europeu, as consequências da Conferência
e asiáticas.
de Berlim foram imediatas, pois, confirmando a situação que
Na porção sul do continente, foram os ingleses que existia antes mesmo do acordo, a maior parte do continente
comandaram as ações imperialistas, pois estes dominavam a foi concedida aos franceses e aos ingleses. Dessa forma,
região do Cabo, a de Transvaal e a de Orange, ricas em ouro criou-se um sentimento de revolta por parte das demais
nações, que, prejudicadas, passaram a pressionar a França
e em pedras preciosas. Para exercerem a sua hegemonia,
e a Inglaterra para que estas pudessem abrir mão de parte
no entanto, os ingleses tiveram de depor os holandeses que
das suas possessões. Além de criar um clima tenso entre as
já se faziam presentes na região. Dessa forma, no final do
nações europeias, é válido ressaltar que essa situação fez
século XIX, iniciou-se a Guerra dos Bôeres (1899-1902), com que alguns dos países que se sentiram desfavorecidos,
que terminou com a vitória dos ingleses, que coordenaram, como a Alemanha, chegassem a patrocinar colonos africanos
em 1910, a criação da União Sul-Africana, composta das para que estes pudessem se revoltar contra suas metrópoles,
regiões do Cabo, Transvaal, Orange e Natal. desde que estas fossem a França ou a Inglaterra.
Com base no exemplo dos franceses e dos ingleses, portanto, No continente africano, a inserção dos chamados “brancos”
é possível perceber que a África já vinha sendo dividida, gerava grandes impasses, como a segregação racial.
através da força, pelas maiores nações europeias. Mesmo Um dos maiores exemplos de situações como essa foi o regime
do Apartheid, na África do Sul, pois os ingleses que foram viver
assim, a divisão oficial das zonas coloniais se fez necessária,
naquela região, baseados nas visões etnocêntricas, julgavam-se
principalmente após o rei da Bélgica, Leopoldo II, comprar
mais capazes do que os nativos, taxados pejorativamente
a região do Congo, rica em diamantes, dos nativos. A partir de negros. O que a princípio parecia ser apenas mais uma
daquele ato, as ações sobre o continente africano deixaram, demonstração de racismo acabou se tornando um dos sistemas
nitidamente, de ser extraoficiais e, por isso, as demais nações mais absurdos de toda a História, afinal, com o passar do
europeias se mobilizaram para garantir possessões para si. tempo, os próprios descendentes dos ingleses acabaram
Dessa forma, caso não fosse feito um acordo diplomático, uma assumindo os principais postos políticos e econômicos da
guerra entre os europeus seria inevitável. colônia, o que os permitiu legitimar as ações racistas. Dessa
forma, durante quase todo o século XX, a África do Sul abrigou
Em 1885, após várias ações impositivas por parte dos uma sociedade dividida constitucionalmente entre uma minoria
europeus, ocorreu a Conferência de Berlim, formalizando privilegiada de brancos e uma maioria desfavorecida de negros.
a partilha da África. As potências europeias se reuniram
Diante da dominação europeia e da segregação racial
a pedido da Alemanha, que havia entrado na corrida
imposta, vários reinos africanos procuraram resistir, mesmo
imperialista atrasada, quando, então, assinaram um que de formas variadas. Como muitos desses reinos africanos
documento no qual cada nação reconhecia o domínio da se mostraram intransigentes com as imposições europeias,
outra sobre as regiões africanas. Decidiu-se ainda que, toda várias batalhas foram travadas entre africanos e europeus,
vez que uma potência dominasse uma nova região, deveria que, tecnologicamente superiores, na maioria das vezes se
avisar às demais, para evitar novos conflitos entre elas. sagraram vencedores e ratificaram a sua política imperialista.
Editora Bernoulli
41
Frente A Módulo 20
Artista desconhecido
entre si ou mesmo unindo reinos até então rivais. Dessa
forma, ainda hoje se registram em solo africano diversos
conflitos étnicos, originados ainda no século XIX.
42 Coleção Estudo
Imperialismo
Após a emissão de sucessivos alertas chineses aos Cinco décadas mais tarde, foi a vez da eclosão da Guerra
contrabandistas, um enorme carregamento de ópio dos Boxers (1900), quando lutadores de artes marciais
(aproximadamente 20 000 caixas) foi apreendido e destruído afrontaram o domínio estrangeiro, atacando missões
pelo governo. Aquela era a desculpa que a Inglaterra precisava religiosas e diplomáticas. A força dos nativos foi tanta que
para declarar guerra à China, o que foi feito em 1840. houve a necessidade da criação de uma força multinacional
Do conflito entre os dois países, que ficou conhecido como formada por ingleses, franceses, alemães, russos, japoneses
Guerra do Ópio (1840-1842), os ingleses saíram vencedores. e estadunidenses para acabar com a revolta.
A China, por sua vez, foi obrigada a assinar os Tratados Desiguais,
assim denominados porque favoreciam somente a Inglaterra. Japão
O mais importante deles foi o Tratado de Nanquim (1842),
Até meados do século XIX, o Japão vivia um regime
segundo o qual a China era obrigada a abrir cinco dos
comparável ao semifeudal, denominado xogunato. Apesar da
seus portos às potências imperialistas, além de passar
existência de um imperador, o Micado, este não governava de
o controle da ilha de Hong Kong para a Inglaterra. Hong Kong,
fato; era a nobreza, camada mais privilegiada da sociedade,
que hoje é uma das regiões mais desenvolvidas da China, quem escolhia um dos seus iguais, muitas vezes através de
só foi devolvida aos chineses 155 anos depois (1997). guerras, para governar de acordo com os seus interesses.
Nas décadas que se seguiram aos conflitos, os ingleses O regime do xogunato se caracterizava por isolar o Japão
ainda tiveram de conter a segunda (1857) e a terceira Guerra do mundo ocidental, afinal, a singular cultura japonesa e a
do Ópio (1859-1860). Naquelas ocasiões, a Inglaterra foi distância geográfica da ilha em relação à Europa acabavam
auxiliada pela França, que, por ser uma outra potência favorecendo tal situação.
imperialista, também tinha interesse no mercado chinês. Em 1854, a Esquadra Perry (assim chamada devido ao
Dessa forma, após estancar a resistência chinesa, ingleses nome de seu comandante), que havia sido enviada pelos
e franceses promoveram o chamado break-up da China, Estados Unidos ao Japão, forçou os japoneses a abrirem
dividindo o país em áreas de influência entre as principais seus portos aos produtos estadunidenses. Aquele, portanto,
nações imperialistas europeias. era o início da dominação imperialista no país, pois, após a
HISTÓRIA
abertura dos portos aos Estados Unidos, algumas potências
europeias exigiram os mesmos privilégios, situação que fez
com que os japoneses percebessem que seu país deveria se
tornar uma potência imperialista para sair dessa condição
de submissão.
Ainda no século XIX, parte da população japonesa,
inconformada com a submissão do seu país, promoveu
uma guerra civil no país, conflito que acabou por derrubar
o xogunato. Em 1868, após o fim das batalhas, o poder
foi centralizado nas mãos do imperador Mutsuhito, que
passou a adotar um conjunto de medidas modernizantes
que caracterizaram a chamada Era Meiji e transformaram
Joseph Keppler
Editora Bernoulli
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Frente A Módulo 20
Um outro alvo dos japoneses foi a China, de quem o Dessa forma, tal doutrina – que não passava de uma
Japão reivindicava a região da Manchúria, rica em minério adaptação da missão civilizadora utilizada pelos europeus na
de ferro. Tal disputa acabou levando ambos os países à África e na Ásia – acabou servindo como a base ideológica
Guerra Sino-Japonesa (1894-1895), da qual o Japão saiu responsável por justificar as ações impositivas por parte dos
novamente vitorioso. Dessa forma, a China, derrotada, foi Estados Unidos no continente americano.
obrigada a entregar a Ilha de Formosa aos japoneses, além
de ser obrigada a aceitar a Independência da Coreia, região Para alguns autores, o marco inicial do imperialismo
que foi anexada pelo Japão em 1910. estadunidense foi a Doutrina Monroe (1823), lançada por
James Monroe, presidente dos Estados Unidos à época,
em defesa da Independência das Américas. Ao adotar
o slogan: “A América para os americanos”, os Estados
Unidos queriam, na verdade, afastar a interferência europeia
e garantir a América como área de influência para si. Baseados
em tal doutrina, os estadunidenses foram os primeiros
a reconhecerem a Independência do Brasil e de outros
países da América Latina, assim que estes se declararam
independentes em relação às suas antigas metrópoles,
na primeira metade do século XIX.
IMPERIALISMO NA AMÉRICA
Granger Collection, Nova Yorque
44 Coleção Estudo
Imperialismo
que possuíam grandes investimentos econômicos ligados A partir de seus conhecimentos históricos e da atenta
à produção de açúcar, aos cassinos e ao plantio de tabaco observação do trecho anterior citado da ata, assinale
em Cuba. Dessa forma, bastava um pretexto para que os a alternativa CORRETA.
estadunidenses declarassem guerra aos espanhóis, que não A) O mais importante objeto de interesse europeu na África
concordavam com a Independência cubana. era a região congolesa, em função de sua importância
estratégica na área setentrional do continente.
Tal situação ocorreu em 1898, quando o navio estadunidense
B) A garantia da liberdade comercial europeia sobre o
Maine, que se encontrava ancorado em Havana, foi
território africano somente respeitaria os interesses
misteriosamente queimado e afundado. Alguns autores
das grandes corporações já instaladas no continente.
afirmam que os Estados Unidos foram os responsáveis pelo
C) A criação de monopólios estaria proibida, evitando,
atentado, já que precisavam de uma desculpa para afrontar
assim, que as áreas ocupadas sofressem restrições
a Espanha. Fato é que os estadunidenses não hesitaram em ao comércio interno das nações africanas.
responsabilizar os espanhóis pelo ocorrido, o que levou à
D) A ocupação da África dependeu mais das condições de
eclosão da Guerra Hispano-Americana (1898).
intervenção de cada país europeu, considerando-se
Como a Espanha se encontrava em franca decadência as diversas reações das populações locais, do que de
à época, os estadunidenses não enfrentaram muitas uma prévia delimitação territorial.
dificuldades para derrotá-la. Assim, Pelo Tratado de Paris
(1898), além da Independência de Cuba, os espanhóis 02. (UFU-MG) [...] no capitalismo, em sua fase imperialista,
foram obrigados a reconhecer o domínio dos Estados Unidos a produção torna-se social, mas a apropriação continua
privada. Os meios de produção sociais permanecem
sobre Filipinas e Porto Rico, que até hoje sofrem influência
propriedade privada de um pequeno número de indivíduos.
do governo dos Estados Unidos.
O quadro geral da livre-concorrência, que se reconhece
Em 1902, foi aprovada, pelo Senado dos Estados Unidos, nominalmente, subsiste e o jugo exercido por um punhado
a Emenda Platt, que foi incorporada à Constituição cubana, dando de monopolistas sobre o restante da população torna-se
ao governo dos EUA o direito de intervir militarmente em Cuba, cem vezes mais pesado, mais sensível, mais intolerável.
HISTÓRIA
em caso de desordem interna. A Emenda também reservava LENIN, V. O imperialismo: fase superior do capitalismo.
às empresas estadunidenses a prioridade na exploração dos São Paulo: Global, 1979.
recursos naturais cubanos e concedia aos Estados Unidos o direito Com relação às questões políticas internacionais
de construir bases militares no país; Guantánamo, uma das predominantes no final do século XIX e na primeira
bases construídas, apesar de atualmente funcionar como uma metade do século XX, podemos afirmar que
prisão estadunidense, ainda hoje continua em plena atividade. I. a política imperialista apresentava razões filantrópicas
e humanitárias para se autojustificar. Entre elas,
podemos destacar a noção de progresso das
Editora Bernoulli
45
Frente A Módulo 20
03. (UFTM-MG–2010) Assinale a alternativa que apresenta A partir da citação anterior e de seus conhecimentos
fatores que explicam as práticas imperialistas, a partir acerca do tema, examine as afirmativas a seguir.
da segunda metade do século XIX, pelas potências I. A ideia de levar a civilização aos povos considerados
capitalistas. bárbaros estava presente no discurso dos que
defendiam a política imperialista.
A) Buscava-se controlar as regiões fornecedoras de mão
de obra escrava e ampliava-se a exploração de regiões II. Aquela não era a primeira vez que o continente
africano era alvo dos interesses europeus.
mais afastadas com o objetivo de descobrir novas
fontes energéticas e comprar metais preciosos. III. Uma das preocupações dos países, como a França,
que participavam da expansão imperialista, era
B) Precisava-se de mão de obra da África e da Ásia para
justificar a ocupação dos territórios apresentando
trabalhar como colonos na zona rural das potências
os melhoramentos materiais que beneficiariam as
europeias e realizar investimentos em áreas de
populações nativas.
urbanização, como transporte, saneamento e ferrovias.
IV. Para os editores da Revue Scientifique (Revista
C) Diante da existência de capitais excedentes na Europa, Científica), civilizar consistia em retirar o continente
procuravam-se novos mercados consumidores, africano da condição de atraso em relação à Europa.
buscava-se controlar regiões produtoras de
Assinale a alternativa CORRETA.
matérias-primas e direcionar para as áreas coloniais
excedentes populacionais europeus. A) Somente a afirmativa IV está correta.
industrializados da Inglaterra.
D) Ocorreu a divisão territorial da China em várias zonas Disponível em: www.askart.com
de influência europeia e norte-americana.
A tela de John Gast simboliza a difusão de progressos
materiais, como as ferrovias e o telégrafo, nos EUA, no
05. (PUC Rio–2007) [...] Nós conquistamos a África pelas
decorrer do século XIX. Essas mudanças contribuíram
armas [...] temos direito de nos glorificarmos, pois após
para a conquista de novos territórios e foram justificadas
ter destruído a pirataria no Mediterrâneo, cuja existência
pelo seguinte conjunto de ideias:
no século XIX é uma vergonha para a Europa inteira, agora
temos outra missão não menos meritória, de fazer penetrar A) Doutrina Monroe
a civilização num continente que ficou para trás [...] B) Política do Big Stick
46 Coleção Estudo
Imperialismo
02. (UFU-MG) A ideia de modernidade foi marcante no mundo 04. (UFMG) Entre, aproximadamente, 1880 e 1914, ocorreu
na virada do século XIX para o XX, atingindo espaços a “corrida para a África”, ou seja, uma aceleração no
públicos e privados, nações e indivíduos. A esse respeito, processo de conquista desse continente por parte das
assinale a alternativa INCORRETA. potências europeias. Nesse curto período – cerca de três
A) A crença no poder do homem e da ciência sobre a décadas –, o continente africano foi quase inteiramente
natureza, a concepção de superioridade racial e o retalhado por alguns Estados europeus, que disputavam
nacionalismo sustentaram as políticas imperialistas, a primazia na formação de impérios coloniais.
nas quais o darwinismo social pregava que, assim
Considerando-se a conquista imperialista e a subsequente
como na natureza, os mais fortes conseguem
suplantar os mais fracos. colonização da África, é CORRETO afirmar que
HISTÓRIA
mantinham isoladas dos progressos tecnológicos do
mundo ocidental, o que se refletia, nesses países,
respectivamente, na manutenção de tradições feudais e 05. (UFMG–2007) Na história da África, jamais se sucederam
na frágil penetração das novidades trazidas pelo cinema. tantas e tão rápidas mudanças como durante o período
entre 1880 e 1935. Na verdade, as mudanças mais
03. (UFMG) Em 1793, uma missão comercial britânica chegou importantes, mais espetaculares – e também mais
à China e conseguiu ser recebida pelo próprio imperador.
trágicas –, ocorreram num lapso de tempo bem
Os ingleses solicitavam, principalmente, autorização para
mais curto, de 1880 a 1910, marcado pela conquista
abrir uma representação diplomática em Pequim, a abertura
e ocupação de quase todo o continente africano pelos
de mais portos chineses ao comércio internacional e a
imperialistas e, depois, pela instauração do sistema
redução de tarifas alfandegárias. Em sua resposta ao rei
da Inglaterra, escreveu o imperador chinês: “Nunca demos colonial. A fase posterior a 1910 caracterizou-se
valor a artigos engenhosos, nem temos a menor necessidade essencialmente pela consolidação e exploração do
das manufaturas de seu país. Portanto, ó rei, no tocante sistema.
à tua solicitação de enviar alguém para permanecer na BOAHEN, Albert Adu. História geral da África. VII. A África sob
capital, ao mesmo tempo que não está em harmonia com os
dominação colonial, 1880-1935. São Paulo: Ática / Unesco,
regulamentos do Império Celestial, sentimos também muito
1991. p. 25.
que isso não trará nenhuma vantagem para o teu país”.
Apud SPENCE, Jonathan. Em busca da China moderna. São Considerando-se o contexto da colonização europeia da
Paulo: Companhia das Letras, 1996. p. 134. África, é CORRETO afirmar que
Essa atitude do Império Chinês estava relacionada A) a demarcação das fronteiras entre as diferentes
colônias respeitou as divisões territoriais previamente
A) ao temor dos governantes chineses de afrontar a
opinião nacionalista do país, notadamente após a existentes entre as etnias africanas.
Revolta Taiping. B) a derrota da Alemanha na Primeira Guerra implicou
B) à autossuficiência do sistema econômico imperial, que a concessão de independência aos territórios por ela
admitia receber, preferencialmente, metais preciosos colonizados, sob a proteção da ONU.
em troca de seus produtos.
C) essa colonização resultou em decréscimo da
C) à preferência que os chineses davam ao comércio
população africana, devido à intensa exploração dos
com o Império Espanhol, tradicional parceiro dos
recursos humanos e materiais.
negociantes orientais.
D) à preocupação em proteger a burguesia chinesa, que D) os Estados europeus, embora negassem oficialmente
se sentia ameaçada em relação à concorrência dos a escravidão, adotavam trabalho compulsório em
produtos ingleses. alguns territórios coloniais.
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47
Frente A Módulo 20
origens étnicas e culturais, pois não há espaço, Os conflitos, aos quais se refere a matéria, estão
no mundo de hoje, para a defesa da identidade
localizados em Angola, no Congo e em Serra Leoa. Esses
cultural africana.
conflitos
C) a colonização britânica do litoral atlântico da África
provocou a definitiva associação do continente A) resultaram da partilha colonial europeia, que criou
à escravidão e sua submissão aos projetos de Estados, segundo seus interesses, sem respeitar as
D) os atuais conflitos dentro do continente são comandados B) estabeleceram-se após a Primeira Guerra Mundial,
por potências estrangeiras, interessadas em dividir quando os países africanos se aliaram aos europeus.
a África para explorar mais facilmente suas riquezas. C) não preocupam os organismos internacionais, pois
E) a maioria das divisões políticas da África definidas prejudicam áreas restritas do continente, sem
pelos colonizadores se manteve, em linhas gerais, importância econômica.
mesmo após os movimentos de independência.
D) diminuíram após a Segunda Guerra Mundial,
quando os norte-americanos se retiraram do espaço
07. (UFF-RJ) A Revolução Meiji é um evento da história do
Japão que determinou geográfico africano.
A) o processo de avanço do capitalismo internacional na E) não representam ameaça à população civil, pois
a manutenção de uma estrutura fragmentada das parecia ser a miscigenação. Em algum momento de sua
ilhas limitava o desenvolvimento da agricultura e que história, os arianos da Índia teriam se enfraquecido ao se
a saída era a industrialização. misturarem às raças aborígenes consideradas inferiores.
D) a modernização da estrutura econômica japonesa Mas ninguém podia explicar realmente por que essa idéia
facilitou a entrada de capital estrangeiro, o processo de não foi aplicada nos dois sentidos, ou seja, por que os
urbanização e a alteração de valores, desencadeando arianos da Índia não aperfeiçoaram aquelas raças em vez
a “ocidentalização” do Japão. de se enfraquecerem.
E) a defesa da propriedade privada com a eliminação das PAGDEN, Anthony. Povos e Impérios. Rio de Janeiro:
formas feudais de organização da terra e o incentivo Objetiva, 2002. p. 188-194. (Adaptação).
às reformas agrárias vinculadas ao socialismo,
A) Segundo o texto, quais as incoerências presentes no
bem como a manutenção das tradições, mediante
o fechamento das relações com os países ocidentais pensamento racista do século XIX?
48 Coleção Estudo
Imperialismo
Joanesburgo
E) da grande extensão longitudinal, o que demandaria
Pretória
Vereeniging
Suazilândia enormes gastos para demarcação.
Bechuanalândia
Britânica
OCEANO
Orange ÍNDICO
Natal
02. (Enem–2005) Um professor apresentou os mapas a
seguir numa aula sobre as implicações da formação das
OCEANO Colônia
ATLÂNTICO do Cabo Basutolândia fronteiras no continente africano. Com base na aula e na
observação dos mapas, os alunos fizeram três afirmativas:
N
Cidade do Cabo 0 610 I. A brutal diferença entre as fronteiras políticas e as
Natal 1839
fronteiras étnicas no continente africano aponta para a
Grande marcha
Estados dos bôeres Orange 1843
artificialidade em uma divisão com objetivo de atender
Ocupação da Grã-Bretanha Transvaal 1852
Territórios anexados apenas aos interesses da maior potência capitalista
Cidades governamentais ou controlados entre 1843 e 1899
em 1910
Diamante na época da descolonização.
Limites de República
Sul-Africana Ouro
II. As fronteiras políticas jogaram a África em uma
Atlas Historique. Paris: Hachette, 1987. p. 239. (Adaptação). situação de constante tensão ao desprezar a
A Guerra dos Bôeres (1899-1902), na África do Sul, diversidade étnica e cultural, acirrando conflitos entre
HISTÓRIA
levou a Inglaterra a mobilizar aproximadamente 450 mil tribos rivais.
soldados, trazidos de todo o seu Império. A vitória britânica
III. As fronteiras artificiais criadas no contexto do
fez com que fosse limitada a autonomia dos estados
colonialismo, após os processos de Independência,
bôeres. No entanto, o sistema eleitoral permitiu que,
terminada a guerra, os africânderes (bôeres) dominassem fizeram da África um continente marcado por
o poder político em diversas províncias. No mapa anterior, guerras civis, golpes de Estado e conflitos étnicos
pode-se observar o cenário dessa guerra e a indicação e religiosos.
geográfica de fatores a ela relacionados.
A) APRESENTE uma razão para o início dessa guerra. As fronteiras étnicas e políticas da África
SEÇÃO ENEM
01. (Enem–2002) O continente africano em seu conjunto
apresenta 44% de suas fronteiras apoiadas em meridianos
e paralelos; 30% por linhas retas e arqueadas, e apenas
26% se referem a limites naturais que geralmente coincidem
com os de locais de habitação dos grupos étnicos.
Atualidades / Vestibular 2005, 1º sem, Abril, p. 68.
MARTIN, A. R. Fronteiras e Nações. São Paulo: Contexto, 1998.
É verdadeiro apenas o que se afirma em
Diferentemente do continente americano, onde quase
que a totalidade das fronteiras obedece a limites naturais, A) I.
a África apresenta as características citadas em
B) II.
virtude, principalmente,
A) da sua recente demarcação, que contou com técnicas C) III.
cartográficas antes desconhecidas.
D) I e II.
B) dos interesses de países europeus preocupados com
a partilha dos seus recursos naturais. E) II e III.
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Frente A Módulo 20
50 Coleção Estudo
HISTÓRIA MÓDULO FRENTE
Brasil Império:
Período Regencial
13 B
Entre os anos de 1831 a 1840, o Brasil enfrentava uma ficou conhecida como Regência Trina Provisória e era
inédita situação política: a recente nação começava a ser formada por Nicolau Pereira de Campos Vergueiro, José
governada pelos próprios brasileiros. Com um atraso de Joaquim Carneiro de Campos e Francisco de Lima e Silva.
nove anos – nossa Independência data de 1822 –, o novo A primeira ação dessa regência foi readmitir o gabinete do
cenário político criou uma natural divergência nos setores da Ministério dos Brasileiros, anteriormente demitido por D. Pedro I,
elite nacional, levando a dois momentos distintos no Período além de anistiar os presos políticos que estavam detidos
Regencial: o “avanço liberal” e o “regresso conservador”. devido ao autoritarismo do imperador. Após terem sido
No primeiro período, que engloba as três primeiras regências convocados, os políticos da Assembleia Geral já estavam
(Provisória, Permanente e de padre Feijó), entre os anos de aptos a escolher a Regência Trina Permanente.
1831 a 1837, o Brasil seguiu uma linha liberal, conduzida
pelos políticos de oposição ao autoritarismo do imperador
e desejosos de uma maior descentralização do poder em REGÊNCIA TRINA PERMANENTE
favor das províncias. Porém, a fase liberal se encerra
com a Regência de Araújo Lima, em 1837, dando início à (1831-1835)
centralização do “regresso conservador”, assim classificado
A Regência Trina Permanente era composta do brigadeiro
devido aos receios, por parte da elite, de ver o Brasil ser
Francisco de Lima e Silva e dos deputados João Bráulio Munis
fragmentado pelas rebeliões regenciais e ao temor da
e José da Costa Carvalho e foi eleita pela Assembleia Geral,
radicalização das reformas, principalmente aquelas que
convocada para a escolha dos regentes e para estabelecer
pudessem ter algum caráter democrático.
os rumos políticos da nação. Apesar da presença dos três
regentes, o destaque administrativo ficou por conta do
A história regencial pode ser dividida em 4 etapas: ministro da Justiça, padre Diogo Antônio Feijó, defensor de
• Regência Trina Provisória (abril a julho de 1831) um Poder Executivo forte e independente. Sua postura se
• Regência Trina Permanente (1831-1835) refletiu nos vários conflitos entre ele e a Assembleia Geral.
• Regência Una de Padre Feijó (1835-1837)
• Regência Una de Araújo Lima (1837-1840)
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51
Frente B Módulo 13
A vontade política de padre Feijó era deter um poder D. Pedro I Regências D. Pedro II
centralizado para manter a ordem no país, haja vista a 1822-1831 1831-1840 1840-1889
instabilidade política do período. O cenário conturbado do
início da Regência pode ser primeiramente identificado pelas
Grupo Português Restauradores
distinções dos projetos defendidos após a abdicação de Partido
D. Pedro I, o que estimulava o confronto entre os interesses Conservador
Grupo Brasileiro Liberais
em jogo. O exemplo dessa diversidade política foi a substituição moderados
do modelo partidário anterior, português e brasileiro, por um Partido Liberal
Liberais
modelo regencial caracterizado pela existência de três partidos. exaltados
52 Coleção Estudo
Brasil Império: Período Regencial
Conhecida como Código de Processo Criminal, a nova O Ato Adicional atendeu aos interesses de exaltados
legislação apresentava como novidade o alargamento do e moderados através da criação de um clima de maior
poder entregue aos juízes de paz, eleitos nas localidades pacificação política, mediante a liberalização da vida política
para o exercício do papel policial e judiciário, o que permitiu brasileira. Porém, após a instauração da Regência Una,
iniciou-se um conjunto de revoltas regionais que levaria
maior influência da elite agrária sobre as questões jurídicas
a elite brasileira a afastar-se da postura liberal, para
locais. O novo código também determinou a criação de um
voltar a impor medidas conservadoras, evitando, assim,
júri, que seria responsável por julgar crimes, e do habeas
os distúrbios locais e a ampliação das reformas democráticas,
corpus, instrumento jurídico que impede prisões arbitrárias. tão desagradáveis para a elite. No ano de 1835, enfrentando
Apesar dessa legislação descentralizadora, o ministro Feijó difícil eleição indireta, padre Feijó retornou à política
exigiu que a Assembleia ampliasse seu poder, ameaçando brasileira, eleito para chefiar a primeira Regência Una.
os deputados através da Guarda Municipal, que cercou a
câmara. Porém, viu seu plano fracassar, pois, mesmo sob
ameaça, os deputados não estavam dispostos a lhe conceder REGÊNCIA UNA DE PADRE
poder absoluto. O insucesso do golpe levou Feijó a renunciar
ao cargo de ministro da Justiça.
FEIJÓ (1835-1837)
A nova situação política gerada pela saída de Feijó Apesar das concessões liberais e da maior autonomia
possibilitou um consenso entre moderados e exaltados política das províncias, nota-se que o Brasil continuava
quanto à necessidade de se empreender uma reforma liberal vivendo um período de instabilidade. Politicamente, ocorreu
que ampliasse a autonomia das províncias e garantisse uma uma reordenação entre os partidos. Substituindo os três
experiência próxima do ideal republicano. Sendo assim, foram grupos partidários existentes, o poder político brasileiro
passou a ser disputado majoritariamente por duas facções
instauradas algumas mudanças na Constituição de 1824, que
políticas: os progressistas e os regressistas. O grupo
foram classificadas como Ato Adicional de 1834.
HISTÓRIA
dos progressistas foi formado pelos antigos membros dos
Partidos Exaltado e Moderado. Já o Partido Regressista era
Ato Adicional de 1834 composto de políticos do Partido Moderado e do Restaurador.
Este já havia desaparecido desde 1834, após a morte de
O projeto descentralizador seria a direção política a ser D. Pedro I, em Portugal, levando o partido a perder o seu
seguida pela nova lei. Como o maior símbolo do poder sentido. Os progressistas eram defensores de padre Feijó
central era o Poder Moderador, este foi suspenso durante o e lutavam pela manutenção da autonomia das províncias.
regime regencial, junto com o Conselho de Estado, principal Já os regressistas desejavam uma maior centralização do
instrumento consultivo do monarca. Visando fortalecer o poder e o fim das revoltas provinciais que começavam
poder local, o Ato Adicional criou as Assembleias Legislativas a tomar conta do país. Na medida em que padre Feijó
Provinciais, que poderiam nomear funcionários e legislar governava e demonstrava o seu caráter autoritário,
o Parlamento reduzia cada vez mais o seu apoio ao regente,
quanto à questão tributária, rompendo com o controle
ao mesmo tempo que este entrava em conflito com a Igreja
econômico exercido pelo governo imperial. Quanto ao
Católica ao defender o fim do celibato clerical. Assim, sofrendo
formato político, optou-se pela criação da Regência Una.
um enorme desgaste na condução do governo, Feijó renunciou
Apesar de o comando regencial ser exercido por uma só ao cargo de regente, dando fim à fase conhecida como
pessoa, a medida apresentou um ato descentralizador, visto “maré liberal” e permitindo a ascensão do grupo regressista,
que o regente seria escolhido por um pleito que incluía os representado pelo substituto de Feijó: Araújo Lima.
eleitores provinciais.
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53
Frente B Módulo 13
Muitos se perguntavam: o que fazia um liberal entre os Isso explica por que os regressistas classificavam o Ato
regressistas? A questão é facilmente compreendida pelo Adicional de 1834 como “Ato da Anarquia”. Para solucionar
contexto da época. Como assinalado anteriormente, tal questão, foi aprovada a Lei Interpretativa do Ato
havia um temor da elite quanto a uma possível Adicional em maio de 1840, responsável pelo fortalecimento
radicalização das reformas, levando a maior parte do corpo do poder central em detrimento das províncias. Essa lei reduziu
político nacional a apoiar um projeto regressista. as conquistas obtidas pela legislação de 1834, garantindo ao
Nas próprias palavras de Bernardo Pereira de Vasconcelos governo central um controle maior das estruturas judiciária,
encontraremos esse novo caminho dos liberais: policial e administrativa e das prerrogativas de nomeação de
funcionários obtidas pelas províncias, minimizando o poder
das Assembleias Provinciais e seu espaço de ação.
Fui liberal, então a liberdade era nova no país, estava nas
aspirações de todos, mas não nas leis; o poder era tudo:
fui liberal. Hoje, porém, é diverso o aspecto da sociedade:
os princípios democráticos tudo ganharam, e muito
GOLPE DA MAIORIDADE
comprometeram a sociedade, que então corria risco pelo Apesar da Lei Interpretativa, o Brasil ainda enfrentava as
poder, corre risco pela desorganização e pela anarquia. revoltas regionais. Na busca de uma solução que garantisse
Como então quis, quero hoje servi-la, quero salvá-la; o interesse dos setores elitistas, foi criado pelos liberais o
por isso sou regressista. Clube da Maioridade, que desejava antecipar a ascensão
de D. Pedro II e colocar fim nos conflitos existentes.
Assim, como liberal, Vasconcelos combateu o centralismo O grupo obteve, com o decorrer dos meses, o apoio dos
de D. Pedro I, mas passou a temer que sua luta por políticos mais conservadores, também temerosos de
descentralização estivesse levando o Brasil a uma restruturação uma possível fragmentação do Brasil, como ocorrera na
sociopolítica, desinteressante para a elite. Por isso, Bernardo América Hispânica.
Pereira afirma: “[...] eu quis parar o carro revolucionário”, O projeto do Clube da Maioridade se confirmou em junho
mostrando a indisposição dos liberais em apostar em um de 1840, quando D. Pedro II foi aclamado imperador do
caminho que ameaçasse os tradicionais mecanismos de Brasil, em um movimento histórico conhecido como Golpe
exercício do poder pelo corpo aristocrático do país. da Maioridade, já que ele assumiu o controle do país com
apenas 14 anos de idade. Encerravam-se as regências, dando
início ao mais longo governo da História do Brasil: o Segundo
Reinado, período em que o Brasil foi governado por D. Pedro II.
O fato de esse golpe ter sido desferido pelos liberais demonstra
como a diferença entre os grupos políticos no Brasil era
diminuta. Nesse sentido, é importante perceber que liberais
e conservadores, na verdade, desejavam resguardar a
manutenção das estruturas política, econômica e social do
Brasil, tendo a questão escravista, em especial, maior ênfase.
Sébastien Auguste Sisson
54 Coleção Estudo
Brasil Império: Período Regencial
HISTÓRIA
conseguir destruir a resistência ao governo central que
persistia no interior do Pará. A Cabanagem foi um movimento
Revolta de Malês (Bahia, 1835) profundamente violento; durante a rebelião, morreram
mais de 40 000 pessoas. Cabe destacar que essa revolta
A Revolta de Malês, ocorrida em Salvador, em janeiro
marcou o primeiro movimento brasileiro em que a população
de 1835, marcou uma das facetas da resistência escrava no
de menor renda conseguiu êxito por certo tempo ao ascender
Brasil. Desde o Período Colonial, os africanos transportados ao poder político de uma província.
para a colônia lutaram contra o cativeiro que o novo
continente lhes impunha. Tal luta se dava por meio dos
quilombos, das revoltas locais e das fugas, entre outras Sabinada (Bahia, 1837-1838)
formas de resistência. Porém, a revolta ocorrida na Bahia
A Bahia era, desde o final do século XVIII, uma região
em 1835 apresentou um maior grau de organização. Esse de conflitos políticos que foram retomados durante
diferencial foi obtido por uma situação especial: alguns dos a nstabilidade do Período Regencial. A insatisfação da
escravos rebeldes vieram para o Brasil alfabetizados em sociedade baiana originou-se da convocação promovida
árabe e eram seguidores da religião muçulmana, permitindo pelo governo regencial para que a população se alistasse
uma maior identificação e consequente articulação contra nas forças de combate ao movimento da Farroupilha
as forças políticas e econômicas da sociedade, a ponto de no Sul do país. Indispostos a obedecer ao governo, os
planejarem a tomada de Salvador e do Recôncavo Baiano. revoltosos iniciaram um movimento republicano que ficou
conhecido como Sabinada, homenagem a um dos líderes
Apesar de uma relativa organização dos rebeldes, do movimento, o médico Francisco Sabino Barroso. Essa
o movimento não obteve o sucesso esperado, principalmente insurgência apresentou uma característica distinta, pois
por ter sido denunciado por ex-escravos. A repressão do a ruptura com o governo do Rio de Janeiro só ocorreria
governo foi violenta: 5 escravos condenados à morte e enquanto houvesse o governo regencial, já que os rebeldes
fuzilados em 14 de maio de 1835, além de mais de 400 manteriam o regime republicano até a aclamação de
D. Pedro II. Essa postura indica, com clareza, o respeito
presos e deportados para a África.
que a figura simbólica do imperador exercia sobre o país.
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55
Frente B Módulo 13
Guilherme Litran
função de acabar com a revolta. Liderando vários grupos
de combate, o coronel conseguiu abafar a Balaiada, que se
mostrou desorganizada para reunir mais adeptos e para
concretizar os principais projetos do grupo. Com a chegada
de D. Pedro II ao trono em 1840, Lima e Silva concedeu Representação da Cavalaria Farroupilha
anistia aos balaios, obtendo a rendição de 2 500 pessoas. A luta pela reintegração do Sul ao Brasil foi intensa. Com a
Restavam ainda os líderes, que, resistindo na frente de função de abafar o movimento, o barão de Caxias, que após o
batalha, acabaram sendo presos e mortos, como aconteceu conflito recebeu o título de “Pacificador do Império”, conseguiu
com Preto Cosme, em setembro de 1842. obter sucesso na desarticulação da revolta. Atacando os rebeldes,
ao mesmo tempo que mantinha um canal de negociação, o barão
Revolução Farroupilha conseguiu, em 1845, assinar um acordo de paz que estabelecia
a anistia aos revoltosos (Paz de Ponche Verde). Além disso, eles
(Rio Grande do Sul, 1835-1845) obtiveram outras conquistas, destacando:
Apesar de o nome da revolta estar associado aos farrapos • o Império pagaria as dívidas do governo republicano;
dos pobres trabalhadores da região Sul do Brasil, a Revolução
• os rio-grandenses indicariam o novo presidente da
Farroupilha, ou Revolta dos Farrapos, teve a liderança
províncias;
dos grandes fazendeiros e proprietários de gado de corte.
A questão econômica por trás dessa luta se explica pelo • os oficiais republicanos seriam incorporados ao
interesse na redução dos impostos que o governo central Exército imperial nos mesmos postos, com exceção
impunha sobre a carne-seca, chamada de charque. Havia dos generais;
uma dificuldade na comercialização do produto, já que
• eram declarados livres todos os escravos que
a concorrência da região platina, que não sofria a carga
tinham lutado nas tropas republicanas (apesar dessa
de impostos do liberal Estado brasileiro, levava a uma
garantia, muitos dos ex-soldados negros foram
fragilização do comércio sulista. Além disso, o fato de
levados para o Rio de Janeiro e vendidos como
argentinos e uruguaios utilizarem mão de obra assalariada
escravos, sem que os republicanos protestassem);
proporcionava uma produção de melhor qualidade e em
maior quantidade. Além do charque, outros produtos, como • continuavam válidos todos os processos em
o couro e o sebo, enfrentavam o mesmo problema tributário. julgamento na Justiça republicana;
56 Coleção Estudo
Brasil Império: Período Regencial
LEITURA COMPLEMENTAR
Ato Adicional O secretário de Estado dos Negócios do Império as faça juntar à
Constituição, imprimir, promulgar e correr.
(Lei nº 16 – de 12 de agosto de 1834)
[Ass.] Francisco Lima e Silva, João Bráulio Moniz, Antônio Pinto
A Regência permanente, em nome do Imperador o sr. D. Pedro II,
Chichorro da Gama.
faz saber a todos os súditos do Império que a Câmara dos
Deputados, competentemente autorizada para reformar a Proclamação ao Povo sobre a Maioridade (1840)
Constituição do Império, nos termos da carta de lei de 12 de
Brasileiros!
outubro de 1832, decretou as seguintes mudanças e adições à
mesma Constituição: A Assembléia Geral Legislativa do Brasil, reconhecendo o
feliz desenvolvimento intelectual de S.M.I. o Senhor D. Pedro
Art. 10: O direito reconhecido e garantido pelo art. 71 da Constituição II, com que a Divina Providência favoreceu o império de Santa
será exercido pelas Câmaras dos distritos e pelas Assembléias que, Cruz, reconhecendo igualmente os males inerentes a governos
substituindo os Conselhos Gerais, se estabelecerão em todas as excepcionais, e presenciando o desejo unânime do povo desta capital;
províncias, com o título de Assembléias Legislativas Provinciais.
HISTÓRIA
convencida de que com este desejo está de acordo o de todo o
[...] império, pra conferir-se ao mesmo Augusto Senhor o exercício
dos poderes que, pela Constituição lhe competem; houve por
Art. 21: Os membros das Assembléias Provinciais serão invioláveis bem, por tão poderosos motivos declará-lo em maioridade, para o
pelas opiniões que emitirem no exercício de suas funções. efeito de entrar imediatamente no pleno exercício desses poderes,
[...] como Imperador Constitucional e Defensor Perpétuo do Brasil.
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57
Frente B Módulo 13
D) ampliou a autonomia das províncias, neutralizando a a discussão e os embates acerca da maior ou da menor
opondo bem-te-vis aos cabanos – denominação dada aos Segundo Reinado foi obra do Conselho de Estado.
C) a Sabinada.
02. (UEL-PR) No governo do regente Araújo Lima (1837-1840),
D) a Confederação do Equador.
foi aprovada a Lei de Interpretação ao Ato Adicional. Essa lei
E) as revoltas liberais de 1842.
A) modificava alguns pontos centrais da Constituição
vigente, extinguindo o Conselho de Estado, mas
05. (FUVEST-SP) Sobre a Guarda Nacional, é CORRETO
conservando o Poder Moderador e a vitaliciedade do
afirmar que ela foi criada
Senado.
A) pelo imperador, D. Pedro II, e era por ele diretamente
B) buscava a centralização como forma de enfrentar
comandada, razão pela qual se tornou a principal força
os levantes provinciais que ameaçavam a ordem
durante a Guerra do Paraguai.
estabelecida, limitando os poderes das Assembleias
B) para atuar unicamente no Sul, a fim de assegurar a
Legislativas Provinciais.
dominação do Império na Província Cisplatina.
C) criava o município neutro do Rio de Janeiro, território
C) segundo o modelo da Guarda Nacional Francesa,
independente da Província, como sede da administração
o que fez dela o braço armado de diversas rebeliões
central, propiciando a centralização política.
no Período Regencial e início do Segundo Reinado.
D) para substituir o Exército extinto durante a menoridade, D) revelava o caráter liberal dos regentes, suspendendo
o qual era composto, em sua maioria, por portugueses o exercício do Poder Moderador pelo governo, eixo da
E) no Período Regencial como instrumento dos setores E) restabelecia os poderes legislativos dos Conselhos
conservadores destinado a manter e restabelecer a Municipais, colocando nas mãos dos conselheiros o
ordem e a tranquilidade públicas. direito de governar as províncias.
58 Coleção Estudo
Brasil Império: Período Regencial
03. (PUC Minas / Adaptado) Com a abdicação de D. Pedro I, 06. (UFLA-MG) Leia o texto a seguir, analise e faça o que
o Brasil entra no período denominado Regencial se pede.
(1831-1840),caracterizado por, EXCETO Por mais estranho que pareça, a Agência Nacional de
A) intensa agitação social, expressa nas rebeliões Telecomunicações (ANATEL) está impondo o Global
Standart Mobile (GSM) como única tecnologia de segunda
ocorridas em vários pontos do país.
geração a ser adotada no país e bloqueando o uso do
B) diminuição da interferência britânica na economia no Code Division Multiplex Access (CDMA) em serviços de
pós-1827, época do término dos tratados comerciais terceira geração (3G). Como consequência, a agência
de 1810. cria a mais anacrônica reserva de mercado na área de
telecomunicações.
C) fortalecimento do poder político dos senhores de terra,
com a criação da Guarda Nacional. ARTIGO “Anatel recria a reserva de mercado”,
O Estado de São Paulo, 13 abr. 2003.
D) dificuldades econômicas geradas pela ausência de um
produto agrícola de exportação. O texto em questão, com base em uma situação
específica do mercado de telefonia celular do país,
E) agravamento da crise financeira devido à anterior
faz uma crítica aos procedimentos da ANATEL e, para
utilização de recursos em campanhas militares
tanto, traz de volta a chamada “Política de Reserva de
desvantajosas, como a Guerra da Cisplatina.
Mercado” criada no início da década de 70 (1974) com
o intuito de proteger a indústria de informática nacional.
04. (PUC Minas) O Período Regencial no Brasil (1830-1840) foi Tal política causou, naquele momento histórico, atritos
um dos mais agitados da história política do país. Foram com os EUA que, em retaliação, taxou produtos
HISTÓRIA
questões centrais do debate político que marcaram esse brasileiros naquele país. Historicamente, práticas de
período, EXCETO “reserva de mercado” têm contribuído para a gestação
A) a questão do grau de autonomia das províncias. de guerras. No caso específico da nossa história, qual
das guerras a seguir teria sido causada por tentativas
B) a preocupação com a unidade territorial brasileira.
de “reserva de mercado”?
Considerando-se esse conflito, é CORRETO afirmar que 07. (Fatec-SP–2007) Preparado por uma comissão especial
A) o apelido dado aos revoltosos – farroupilhas – fazia liderada por Bernardo Pereira de Vasconcelos, após longos
debates na Assembleia Geral, foi promulgado, em 18 de
alusão ao caráter do movimento e de seus principais
agosto de 1834, o Ato Adicional à Constituição do Império,
líderes, oriundos das camadas populares gaúchas.
que promovia mudanças como
B) o governo central, a fim de possibilitar o final do conflito,
A) a criação de Conselhos de Estado em substituição às
atendeu a uma das principais reivindicações dos
Assembleias Legislativas Provinciais.
rebeldes: a libertação dos escravos negros da província.
B) a criação de uma Regência Trina Permanente, eleita
C) o movimento rebelde, com diferentes correntes por voto indireto, para governar até a maioridade de
internas, defendia interesses rio-grandenses – como D. Pedro de Alcântara.
diminuição de impostos e maior autonomia política. C) diminuir a autonomia que era dada às províncias.
aumentar o poderio bélico e reafirmar os ideais E) a substituição da Regência Una por uma Regência
federalistas. Trina, sendo esta escolhida por meio de eleições gerais.
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Frente B Módulo 13
08. (UFSM-RS) O Período Regencial no Império Brasileiro 10. (UFV-MG) Das afirmativas a seguir, referentes ao Período
(1831-1840) caracterizou-se pelo governo exercido por Regencial no Brasil, assinale a CORRETA.
representantes do Poder Legislativo que promoveram A) Ocorreram vários movimentos e revoltas que não se
A) uma estabilidade política fundamentada no centralismo enquadravam em um único propósito, pois cada um
resultava de realidades regionais específicas e de
e na ampliação das atribuições do Poder Moderador.
grupos sociais distintos.
B) a criação da Guarda Nacional em 1831, composta
B) A unidade política e territorial desse período visou
de tropas de confiança e controlada, principalmente,
à superação da crise econômica que se arrastava
pelos grandes fazendeiros, que receberam o posto de
desde o Período Colonial, tendo como consequência
comando e o título de coronéis.
o abandono da vocação agrícola brasileira.
C) a mudança da Constituição de 1824 através do Ato C) O Período Regencial foi um dos mais agitados da
Adicional de 1834, no qual a Regência Una passaria história política brasileira até então, durante o qual
a ser Trina e o poder municipal se restringiria ao surgiram vários partidos políticos que representavam
Executivo. os setores sociais revoltosos.
D) a criação das faculdades de Direito de São Paulo, D) A ausência de instabilidade política nesse período
de Olinda / Recife e de Porto Alegre, com o fim de devia-se ao rigor das políticas regenciais diante do
formar uma classe política nacional diferenciada das federalismo e da centralização administrativa.
influências recebidas nas universidades portuguesas. E) O liberalismo, marca do Período Regencial, incentivou
a participação popular e, ao mesmo tempo, fortaleceu
E) o surgimento de movimentos armados, que
o poder das oligarquias sulistas e nortistas.
contestavam a legalidade do governo regencial,
como a Revolução Pernambucana, a Cabanagem e a
11. (UNESP–2007) Sobre as revoltas do Período Regencial
Revolução Farroupilha.
(1831-1840), é CORRETO afirmar que
A) indicavam o descontentamento de diferentes
09. (UFSM-RS–2007) Sobre a história do Rio Grande do Sul,
setores sociais com as medidas de cunho liberal e
espaço fronteiriço do Brasil meridional, nos séculos XVIII
antiescravista dos regentes, expressas no Ato Adicional.
e XIX, é CORRETO afirmar:
B) algumas, como a Farroupilha (RS) e a Cabanagem (PA),
A) O objetivo da colonização açoreana, a partir de foram organizadas pelas elites locais e não conseguiram
meados do século dezoito, foi estratégico, pois mobilizar as camadas mais pobres e os escravos.
visava a estabelecer latifúndios agroexportadores C) provocavam a crise da Guarda Nacional, espécie de
que defendessem o domínio da Coroa espanhola no milícia que atuou como poder militar da Independência
Brasil meridional. do país até o início do Segundo Reinado.
B) A produção de charque, iniciada na 2a metade do D) a Revolta dos Malês (BA) e a Balaiada (MA) foram as
século XIX, com mão de obra majoritariamente livre, únicas que colocaram em risco a ordem estabelecida,
para São Paulo e empregavam-se nas fazendas C) O que motivou a instalação desse sistema de governo?
de café, os que vinham para o Rio Grande do Sul D) CITE dois fatores que contribuíram diretamente para
destinavam-se a substituir o trabalho escravo, sem a a antecipação da coroação de D. Pedro II, por meio
possibilidade de se tornarem produtores autônomos. do “Golpe da Maioridade”.
60 Coleção Estudo
Brasil Império: Período Regencial
VENEZUELA
01. Observe o mapa a seguir:
COLÔMBIA
Cabanagem
(1833-1836)
Belém
s
ona
EQUADOR az São Luís
m
Rio A
GRÃO-PARÁ
MARANHÃO RIO Balaiada
GRANDE
Caxias CEARÁ DO NORTE (1838-1841)
PIAUÍ PARAÍBA
PERNAMBUCO
ALAGOAS
Sabinada
o
cisc
SERGIPE
(1837-1838)
ran
BAHIA
o F
PERU MATO Salvador
GROSSO GOIÁS Sã
Cachoeira
Rio
MINAS
GERAIS
OCEANO BOLÍVIA ESPÍRITO
ná
PACÍFICO SANTO
ra
Farroupilha
a
P
(1835-1845)
io
Revoluções RIO DE
R
SÃO PAULO
JANEIRO
PARAGUAI
Cabanagem
SANTA
Balaiada CATARINA As revoltas regenciais exibiram a fragilidade política do
OCEANO
RIO GRANDE Laguna
Sabinada DO SUL Porto Alegre
ATLÂNTICO
Brasil na medida em que a própria ideia de nação passou
Farrouppilhas
URUGUAI
N
Rio-Grandense 0 500 km
separatistas.
(Piratini/RS)
HISTÓRIA
A alternativa política para a instabilidade apresentada
No Período Regencial (1831-1840), uma série de conflitos exigiu o fortalecimento do poder central, visando reprimir
os movimentos revoltosos. Assinale a alternativa seguinte
surgiu em algumas províncias brasileiras. Sobre esse
que melhor representa essa alternativa.
contexto, responda ao que se pede.
A) A Constituição de 1824.
A) CITE e ANALISE duas características do contexto no
B) O Ato Adicional de 1834.
qual ocorreram esses conflitos assinalados no mapa.
C) A criação das Assembleias Provinciais.
B) ELEJA um desses conflitos e ANALISE-O.
D) A criação do município neutro do Rio de Janeiro.
E) O Golpe da Maioridade.
14. (UFRRJ) O texto a seguir refere-se ao período da política
regencial no Brasil.
02. (Enem–2010) Após a abdicação de D. Pedro I, o Brasil
A Câmara que se reunia em 1834 trazia poderes atravessou um período marcado por inúmeras crises:
constituintes para realizar a reforma constitucional as diversas forças políticas lutavam pelo poder e as
prevista na lei de 12 de outubro de 1832. De seu trabalho reivindicações populares eram por melhores condições de
resultou o Ato Adicional publicado a 12 de agosto de 1834 vida e pelo direito de participação na vida política do país.
[...] O programa de reformas já fora estabelecido na lei de Os conflitos representavam também o protesto contra a
12 de outubro, o Senado já manifestara sua concordância centralização do governo. Nesse período, ocorreu também
em relação ao mesmo e só havia em aberto questões de a expansão da cultura cafeeira e o surgimento do poderoso
grupo dos “barões do café”, para o qual era fundamental
pormenor. No decorrer das discussões, poder-se-ia fixar
a manutenção da escravidão e do tráfico negreiro.
o grau maior ou menor das autonomias provinciais, mas
já havia ficado decidido que não se adotaria a monarquia O contexto do Período Regencial foi marcado
federativa, o que marcava como que um teto à ousadia A) por revoltas populares que reclamavam a volta da
dos constituintes. monarquia.
CASTRO, P. P. de. A experiência republicana, 1831-1840. B) por várias crises e pela submissão das forças políticas
In: HOLANDA, S. B. de. História Geral da Civilização ao poder central.
Brasileira. v. 4. São Paulo: Difel, 1985. p. 37. C) pela luta entre os principais grupos políticos que
reivindicavam melhores condições de vida.
A) CITE duas reformas instituídas pelo Ato Adicional de
D) pelo governo dos chamados regentes, que promoveram
12 de agosto de 1834. a ascensão social dos “barões do café”.
B) APONTE a razão pela qual se costuma dizer que E) pela convulsão política e por novas realidades
a Regência correspondeu a uma “experiência econômicas que exigiam o reforço de velhas
republicana”. realidades sociais.
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Frente B Módulo 13
62 Coleção Estudo
HISTÓRIA MÓDULO FRENTE
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Frente B Módulo 14
Os saquaremas retomaram o projeto de centralização do Assim, a disputa entre o Partido Liberal e o Partido Conservador
sistema administrativo através das seguintes ações: se restringia ao controle do cargo de presidente do Conselho de
Ministros, atendendo aos interesses políticos de D. Pedro II,
• reformulação do Código de Processo Criminal Penal,
que se afastava do conflito partidário para governar sem
diminuindo o poder regional; enfrentar oposições. Nota-se que, no parlamentarismo
• reorganização da Guarda Nacional, acabando com a brasileiro, diferentemente do inglês, o peso do eleitor
eleição de seus dirigentes e instituindo a nomeação; na decisão política era limitado, assumindo o imperador,
• restauração do Conselho de Estado – órgão consultivo via Poder Moderador, o protagonismo político. Da mesma
do Poder Moderador que havia sido fechado forma, essa organização política gerava um esvaziamento
do debate político nacional através da atuação arbitrária de
temporariamente pelo Ato Adicional de 1834;
Pedro II. Durante todo o Segundo Reinado, 21 gabinetes
• convocação de novas eleições, em 1º de maio ficaram sob o controle dos luzias (liberais) e 15 ficaram sob
de 1842. o controle dos saquaremas (conservadores).
O novo processo eleitoral promoveu a vitória dos
conservadores por meio dos mesmos métodos das “Eleições
do Cacete”: o uso da repressão, provocando a insatisfação
dos liberais, pois perderam o controle do gabinete e a maioria
do Parlamento. O reflexo imediato foi a eclosão de várias
revoltas nas províncias de São Paulo e Minas Gerais.
Reprodução / O Besouro
Contestando as reformas e a exclusão do Partido Liberal
do poder, insurgentes paulistas iniciaram revoltas liberais,
dominando algumas cidades do interior, como Sorocaba,
mas sendo derrotados pelas tropas imperiais chefiadas
pelo brigadeiro Lima e Silva, responsável pela prisão de Pedro II – Diversão com a política brasileira. Publicado no
uma das lideranças do movimento, o antigo regente padre Periódico O besouro, 22 jan. 1878
Feijó. Avançando em direção a Minas Gerais, o futuro duque
de Caxias conseguiu desarticular a resistência coordenada
pelo liberal Teófilo Otoni. Demonstrando pouca organização,
Revolução Praieira
os revoltosos foram rapidamente detidos. Alguns líderes do (Pernambuco, 1848-1850)
movimento enfrentaram o exílio ao serem deportados para
Portugal, sendo anistiados apenas em 1844, com a posse No ano de 1848, em sintonia com a Primavera dos Povos
que se desenrolava na Europa, ocorreu a última revolta
de um gabinete composto de liberais.
que resistiu ao poder centralizado vindo do Rio de Janeiro:
Parte da explicação do longo período do governo de a Revolução Praieira. Um grupo de liberais pernambucanos
D. Pedro II foi sua habilidade e jogo político de alternância contestava o controle político da província pelas oligarquias
de liberais e conservadores no poder. Esse revezamento regionais, em especial a família Cavalcanti de Albuquerque,
que tinha representantes no Partido Liberal e no Partido
conseguia garantir certa tranquilidade política, evitando-se,
Conservador. Para demonstrar a insatisfação, os liberais
assim, motins e revoltas. Embora os liberais tenham formado
radicais (praieiros) fundaram o jornal Diário Novo, principal
um número maior de ministérios, os conservadores ficaram veículo de comunicação da oposição, localizado na Rua da
mais tempo no poder. Praia, em Recife.
Com o decorrer dos anos, os políticos ligados aos praieiros
O “parlamentarismo às avessas” obtiveram destaque no quadro político de Pernambuco,
sobressaindo os seguintes líderes: Manuel Nunes Machado,
Em 1847, D. Pedro II organizou a política brasileira sob Félix Peixoto de Brito e Melo, Felipe Lopes Neto, Jerônimo
a orientação parlamentarista, com a criação do cargo de Vilela de Castro Tavares e Urbano Sabino Correia de Melo.
presidente do Conselho de Ministros, que deveria cumprir Em 1848, o Diário Novo publicou um manifesto
a função de primeiro-ministro na estrutura administrativa revolucionário para a população, intitulado Manifesto
do Brasil. Porém, no caso brasileiro, o primeiro-ministro se ao Mundo, contendo as principais reivindicações
do movimento, entre as quais merecem destaque:
encontrava subordinado à autoridade do Poder Moderador,
ou seja, a D. Pedro II. Isso significava que o parlamentarismo • voto livre e universal;
no Brasil era o inverso do sistema conhecido na Inglaterra, • plena liberdade de divulgar os pensamentos através
pois, no modelo clássico inglês, nota-se que o rei estava da imprensa;
subordinado à autoridade do primeiro-ministro, levando • extinção do Poder Moderador;
essa inversão do nosso sistema político pró-imperador • introdução do federalismo e da República no Brasil;
a ser conhecida como “parlamentarismo às avessas”. • reforma no Poder Judiciário.
64 Coleção Estudo
Bases políticas do Brasil Império
Durante a Revolução Praieira, a temática da escravidão Deve-se ressaltar que, tanto na produção realizada no Vale
foi objeto de divergência. Alguns setores do movimento do Paraíba quanto na do Oeste paulista, não houve a ruptura
se manifestavam favoráveis ao abolicionismo, posição brasileira com o modelo tradicional de divisão internacional
conflitante com os grupos elitistas, que participavam das do trabalho, permanecendo a nação dependente de gêneros
manifestações apenas por questões políticas. O que se primários.
observa é que a publicação do Manifesto ao Mundo não faz Essa rápida queda da produção do Vale do Paraíba se
uma citação direta do tema, porém uma interpretação do explica pelo desgaste do solo e pela ausência de uma
documento nos faz acreditar que alguns dos participantes racionalidade na produção, que se baseava nos conceitos
eram simpáticos a tal causa. Exemplo desse conflito arcaicos do Período Colonial, sendo a elite da região incapaz
fica explícito na discussão historiográfica, caracterizada de empreender a modernização da produção. Exemplo disso
pela ausência de consenso e pelas divergências de foi a insistência dos fazendeiros do Vale do Paraíba em
interpretação sobre esse aspecto específico. Na abordagem utilizar o regime de trabalho escravocrata, não investindo na
de historiadores como Nelson Piletti e Cláudio Vicentino, mão de obra livre, que poderia fornecer maior lucro. Havia
destaca-se o empenho antiescravista do movimento, outras vantagens no Oeste Paulista que colaboraram para
enquanto Gilberto Cotrim e Francisco M. P. Teixeira o desenvolvimento da lavoura cafeeira durante a segunda
discordam dessa opinião. metade do século XIX, como a terra roxa – solo propício ao
Apesar da luta armada dos praieiros pelas reformas plantio – e o clima muito favorável para a produção. Destaca-se
liberais, o movimento foi massacrado pelas tropas fiéis ao também a utilização da mão de obra livre, principalmente dos
Governo Federal. Alguns líderes foram presos, mas anistiados imigrantes, fundamental no desenvolvimento de São Paulo,
no ano de 1851. que lentamente assumiria a hegemonia econômica do Brasil.
A expansão do café na região Sudeste também estimulou a
Estabilização política e conciliação formação da malha ferroviária brasileira, fundamental para o
escoamento da produção nos portos do Rio de Janeiro e São
Após o conflito da Revolução Praieira, o cenário político Paulo. O país apresentou um salto de 14,5 km de estradas
do Império se estabilizou. Os atritos entre liberais e de ferro em 1854 para 13 980 km em 1899, sendo que
conservadores permaneceram minimizados, haja vista a 8 713 km estavam na região cafeeira.
semelhança nas propostas dos dois grupos, evidenciada na
HISTÓRIA
Socialmente, a riqueza oriunda do café foi responsável pela
articulação política ocorrida entre os anos de 1853 e 1858 projeção política dos fazendeiros do Sudeste, chamados de
pelo marquês de Paraná. Este conseguiu promover a união barões do café, que foram fundamentais para as mudanças
entre o Partido Liberal e o Partido Conservador dentro de um nos rumos políticos do país na transição do Império para
projeto administrativo conhecido como fase da conciliação, a República.
no qual os dois partidos governariam juntos. Aproveitando
a situação, D. Pedro II permanecia próximo ao gabinete
para exercer o controle sobre os políticos brasileiros.
Assim, a condição política mostrou-se estável até o início
do movimento republicano na década de 1870.
ECONOMIA
A economia dos primeiros anos do Império apresentou
sinais de retração, principalmente durante a instabilidade
política e social do Primeiro Reinado e das regências.
Além disso, também houve o endividamento originado do
pagamento de indenização a Portugal para o reconhecimento
da independência do Brasil, o alto custo da montagem de um
aparato burocrático-administrativo para o Estado nascente
e a ausência de uma economia autossustentável.
A mudança do quadro econômico veio durante o Segundo
Reinado através da entrada brasileira no mercado de
exportação de um produto primário: o café. Introduzido no A produção cafeeira liderou o processo de expansão econômica
Brasil em 1727, o café era utilizado apenas na agricultura do Segundo Reinado.
de subsistência, não tendo função comercial. Somente no
século XIX o produto adquiriu um amplo mercado para Não se pode esquecer, porém, de que, no século XIX,
exportação, principalmente na Europa. Como a economia das o Brasil teve outros tipos de produção agrícola que foram
colônias francesas, que já comercializavam café, estava em importantes para o desenvolvimento da economia nacional.
crise, o Brasil intensificou o plantio da cultura no Sudeste. Merece destaque a produção do açúcar, do algodão e do cacau.
A partir de 1825, a área plantada alastrou-se pela região Durante praticamente todo o Segundo Reinado, o açúcar
do Vale do Paraíba, seguindo o padrão do açúcar, ou seja, manteve a condição de segundo principal produto de
utilizando mão de obra escrava em grandes latifúndios. exportação, perdendo apenas para o café. Isso mostra que,
A região do Vale do Paraíba foi a grande responsável pelo apesar da concorrência das Antilhas e do açúcar de beterraba
avanço da economia cafeeira até os anos de 1870, quando da Europa, a produção açucareira brasileira ainda detinha
o Oeste Paulista conseguiu ultrapassar a produção do Vale. uma considerável importância econômica.
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Frente B Módulo 14
Um dos períodos em que o açúcar perdeu a posição de importação a uma taxa de 60% para os produtos que tivessem
segundo lugar na exportação brasileira foi durante os anos similares no Brasil. Já os produtos que não fossem fabricados em
de 1861 a 1870, quando o Brasil apresentou um aumento território nacional pagariam apenas 30% de taxa de importação.
na venda de algodão para a Europa. Essa exportação Assim, a elevação dos preços das mercadorias estrangeiras
esteve associada à queda da produção norte-americana foi fundamental para incentivar a indústria do Brasil Império.
em virtude da Guerra de Secessão, permitindo um rápido e Deve-se lembrar, no entanto, de que a medida imperial não
curto processo de desenvolvimento da região do Maranhão, possuia o objetivo de proteger a indústria nacional, sendo
principal área de plantio de algodão no país. direcionada pelo interesse de aumento da arrecadação estatal.
Já no final do século XIX, foi a vez da borracha assumir um
papel importante nas exportações nacionais. Nesse período, Desvio do capital antes investido na
as economias inglesa e norte-americana necessitavam compra de escravos
desse produto para a fabricação de componentes da
Após o ano de 1850, o governo brasileiro, pressionado
indústria automobilística. Como na Amazônia existia uma
pelos interesses ingleses, proibiu o tráfico de escravos no
considerável quantidade de seringais nativos, essa região
Brasil através da Lei Eusébio de Queirós. Como havia um
transformou-se em uma das maiores exportadoras de látex.
considerável investimento no lucrativo comércio de escravos,
Porém, a borracha brasileira mostrou-se cara para os países
o fim do tráfico acarretou o excedente de capitais que
industrializados, já que o extrativismo era realizado no meio
passaram a ser investidos em outros setores da economia,
de floresta e o trabalho manual era lento e dispendioso.
entre os quais, a indústria.
A solução encontrada pela Inglaterra e pelos EUA foi o
plantio de seringais na Ásia, o que levou a uma repentina
queda das exportações brasileiras, promovendo a decadência Lucros provenientes do café
econômica da região. Como o lucro do café ampliava-se cada vez mais, temia-se
reinvestir esse lucro na própria produção cafeeira,
Principais produtos agrícolas para exportação provocando a queda dos preços. Assim, parte considerável do
(em porcentagem sobre o valor global das exportações) que era conseguido com as exportações de café era investida
Período Café Açúcar Algodão Fumo Cacau em outros ramos da economia, merecendo destaque as
atividades industriais. Isso explica o fato de São Paulo e
1831-1840 43,8 24,0 10,8 1,9 0,6
Rio de Janeiro terem uma predominância no processo de
1841-1850 41,4 26,7 7,5 1,8 1,0 desenvolvimento industrial brasileiro, já que o café esteve
1851-1860 48,8 21,2 6,2 2,6 1,0 ligado diretamente à economia desses estados no final do
século XIX e início do século XX.
1861-1870 45,5 12,3 18,3 3,0 0,9
1871-1880 56,6 11,8 9,5 3,4 1,2 Iniciativas particulares
1881-1890 61,5 9,9 4,2 2,7 1,6
Algumas iniciativas particulares foram fundamentais para
1891-1900 64,5 6,0 2,7 2,2 1,5 o desenvolvimento da indústria nacional. Os pioneiros na
industrialização foram capazes de lutar contra a própria
Anuário Estatístico do Brasil, 1939.
tendência econômica do Brasil, concretizando projetos que
não eram compactuados pela maior parte da elite. Entre os
O desenvolvimento industrial grandes responsáveis por esses empreendimentos, destaca-se
Irineu Evangelista de Souza, mais conhecido como barão e
A indústria do Período Imperial encontrava alguns depois visconde de mauá.
obstáculos para promover seu desenvolvimento, como
a manutenção da mão de obra escrava, o que restringia
o mercado consumidor e potencial, e os privilégios comerciais
obtidos pela Inglaterra (acordo de 1810 e renovação
no ano de 1827), responsáveis pelo fracasso das manufaturas
nacionais, que não conseguiam concorrer com os produtos
ingleses. Apesar do cenário adverso para o desenvolvimento
industrial nacional, o Brasil assistiu à formação das
suas primeiras manufaturas com a contribuição dos
seguintes elementos:
66 Coleção Estudo
Bases políticas do Brasil Império
HISTÓRIA
produtos de importação subiriam de 15% para 30% (caso
não houvesse similar nacional) ou 60% (caso o artigo fosse
Editora Bernoulli
67
Frente B Módulo 14
A) o restauracionismo, que congregava as classes médias Pode-se apontar como fator responsável por esse
urbanas, foi, durante esse período, um dos mais aumento de produtividade
severos críticos do processo de centralização imposto A) o aporte de grande capital internacional para o
pelo imperador. financiamento da safra.
do estado. Sua importância para o complexo econômico A) o grande número de índios, negros e mestiços fazia
cafeeiro e para o desenvolvimento de São Paulo pode ser com que a população brasileira não fosse capaz de
vista sob múltiplos aspectos. O cultivo do café e as ferrovias formular um projeto de emancipação política.
provocaram mudanças ambientais em várias regiões B) a baixa densidade populacional do país, que, resolvida
paulistas, porque com a vinda dos imigrantes estrangeiros, gerou
a sensação de que essa população não seria, de fato,
A) as estradas de ferro formavam redes no interior
brasileira.
das matas e permitiam o acesso do capital
C) o processo de construção de uma nação brasileira
norte-americano à exploração e à exportação de
foi dificultado pela força das identidades regionais
madeiras para o mercado europeu.
formadas durante a colonização portuguesa.
B) a economia cafeeira foi responsável pela predomínio D) a Independência foi uma conquista dos portugueses,
da agricultura de subsistência sobre as áreas especialmente os comerciantes estabelecidos
florestais, e as locomotivas levaram à exploração do no Brasil, o que dificultou a afirmação da cidadania
carvão mineral no planalto paulista. dos brasileiros.
68 Coleção Estudo
Bases políticas do Brasil Império
05. (CEFET-MG–2010) Analise a tabela adiante, referente à 02. (UFMG) Considerando-se o segundo Reinado brasileiro,
representação partidária no Período Imperial brasileiro: é CORRETO afirmar que
A) a alternância, no comando do Estado, entre os dois
Partido Conservador Partido Liberal principais partidos do período expressava o poder e
a vontade política do imperador.
Proprietários rurais 47,54% 47,83% B) a dissolução do Conselho de Estado, à época, foi
compensada com a criação do cargo de presidente
Comerciantes 13,12% 8,69% do Conselho de Ministros.
C) a eliminação do Poder Moderador para a implementação
Outros 18,03% 26,09% do “parlamentarismo às avessas” estabilizou, então,
o regime.
Sem informação 21,31% 17,39% D) o fortalecimento das elites locais nas províncias
permitiu, então, que fossem aprovadas leis de caráter
CARVALHO, José Murilo. A construção da ordem: teatro de descentralizador.
sombras. Rio de Janeiro: UFRJ, Relume-Dumará, 1996. p. 192.
03. (FGV-SP–2008) [...] visando aumentar a renda do Estado,
Considerando-se o contexto sociopolítico nesse período e
em um momento de consolidação do sistema imperial,
as informações obtidas na tabela, é CORRETO afirmar que
o liberalismo alfandegário foi abandonado em prol do
A) a predominância de proprietários rurais e comerciantes protecionismo aduaneiro. [...] O ministro da Fazenda tinha
acirrava os conflitos internos. em mente aumentar a carga fiscal do Estado, aspecto que
foi bem recebido pela Câmara. A nova lei [...] estabeleceu
B) os partidos políticos no Império representavam
que os tributos sobre os produtos de importação subiriam
igualmente os interesses sociais no Brasil.
de 15% para 30% (caso não houvesse similar nacional) ou
C) o índice de filiados sem informação profissional refletia 60% (caso o artigo fosse produzido no país).
HISTÓRIA
a atuação de escravos forros na política. AQUINO, Rubim Santos Leão et al. Sociedade brasileira:
uma história através dos movimentos sociais.
D) a origem social comum dos membros fazia com
que ambos os partidos representassem as elites No contexto do Brasil Império, o trecho apresenta
econômicas. A) a Lei de Terras. D) a Tarifa Alves Branco.
E) a presença de classes populares nos partidos facilitava B) o Tratado de 1827. E) a Lei Eusébio de Queirós.
a mobilização de massas através de comitês eleitorais. C) a Bill Aberdeen.
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Frente B Módulo 14
05. (UFSM-RS) O processo do desenvolvimento capitalista Analise as afirmativas que se seguem, tomando como
no Brasil, no século XIX, foi acelerado pelos seguintes base o quadro apresentado, que permite uma visão geral
fatores, EXCETO da economia brasileira do Império.
A) A ampla disponibilidade de terras férteis e a ausência I. O crescimento da produção cafeeira, após 1850,
de obstáculos políticos e jurídicos para ocupá-las. possibilitou o investimento de capitais em indústrias,
B) A edição da Lei de Terras de 1850, que intensificou a serviços e transportes.
mercantilização das terras, encarecendo-as.
C) A abolição do tráfico negreiro, em 1850, que liberou II. A queda acelerada das exportações de açúcar, a partir
capitais para investimentos em outros setores de 1850, está relacionada ao uso intensivo do solo
dinâmicos de economia. por trabalhadores livres e inexperientes.
D) O afluxo de crescentes contingentes de imigrantes III. O crescimento das exportações de algodão, entre
europeus para as regiões em expansão. 1861 e 1870, pode ser explicado pela desorganização
E) A gradativa abolição do trabalho escravo e a ênfase da produção norte-americana, atingida, na época,
crescente no trabalho assalariado. pelos efeitos da Guerra de Secessão.
06. (UFMG) Considerando-se a dinâmica da economia brasileira Está(ão) CORRETA(S) a(s) afirmativa(s)
no decorrer do Período Imperial, é CORRETO afirmar que
A) I, apenas. D) II e III, apenas.
A) o negócio açucareiro, embora decadente, permaneceu
importante o suficiente para fornecer capitais para a B) II, apenas. E) I, II e III.
industrialização da região Sudeste. C) I e III, apenas.
B) a produção cafeeira foi implantada, originalmente, no
Oeste Paulista, tendo-se expandido, posteriormente, 09. (Fatec-SP) Em janeiro de 1849, os praieiros apresentaram
em direção ao litoral e ao Vale do Paraíba. o seu programa revolucionário, escrito por Borges
C) o primeiro setor industrial moderno a surgir no país da Fonseca, o qual ficou conhecido como Manifesto
foi a tecelagem, implantada com auxílio de máquinas ao Mundo.
e técnicos importados dos países desenvolvidos.
Nele, defendiam
D) a transição do trabalho escravo para o livre foi
A) voto censitário, liberdade de imprensa e trabalho para
dificultada por empecilhos colocados pelo Império à
todos os brasileiros.
utilização de mão de obra europeia.
B) fim do Poder Moderador e da escravatura e
07. (UFC) A manutenção do parlamentarismo, durante quase
transferência do comércio para as mãos de brasileiros.
todo o Segundo Reinado, esteve relacionada
C) maior autonomia para as províncias, voto livre e
A) ao apoio dado pelos liberais ao monarca, de forma
universal e liberdade de trabalho para todos os
a manter o poder dos conservadores circunscrito às
áreas interioranas do país. cidadãos brasileiros.
70 Coleção Estudo
Bases políticas do Brasil Império
11. (UEL-PR–2008) Observe a imagem e leia o texto a seguir: 13. (UNESP) O texto seguinte se refere a um esforço de
implantação de fábricas no Brasil em meados do século XIX.
Não se pode dizer [...] que tenha havido falta de proteção
depois de 1844. Nem é lícito considerar reduzido seu nível
[...] Não se está autorizado, portanto, a atribuir o bloqueio
da industrialização à carência de proteção. O verdadeiro
problema começa aí: há que explicar por que o nível de
proteção, que jamais foi baixo, revelou-se insuficiente.
MELLO, J. M. Cardoso de. O capitalismo tardio, 1982.
A) Qual foi a novidade da Tarifa Alves Branco (1844),
comparando-a com os tratados assinados com a
Inglaterra em 1810?
B) INDIQUE duas razões do “bloqueio da industrialização”
ao qual se refere o autor.
HISTÓRIA
modelos anteriores, consagrados pela História da Arte. 2006. p. 64, 70, 91 (Adaptação).
II. Estava diretamente relacionado ao chamado projeto A) Segundo o texto, quais os significados políticos da
civilizatório da elite política e cultural do século XIX construção de uma imagem de D. Pedro II que o
brasileiro. diferenciasse de seu pai?
III. Buscou a idealização por meio da razão e de formas B) Que características do Período Regencial ameaçavam
eruditas resgatadas do passado clássico, capazes de a estabilidade do país?
expressar valores universais e eternos.
IV. Procurou valorizar o índio e a exuberância da natureza
tropical, com a finalidade de construir uma identidade
SEÇÃO ENEM
nacional. 01. (Enem–1999) Viam-se de cima as casas acavaladas umas
Assinale a alternativa que contém todas as afirmativas pelas outras, formando ruas, contornando praças. As
CORRETAS. chaminés principiavam a fumar, deslizavam as carrocinhas
multicores dos padeiros; as vacas de leite caminhavam
A) I e II C) II e IV E) II, III e IV
como seu passo vagaroso, parando à porta dos fregueses,
B) I e III D) I, III e IV tilintando o chocalho; os quiosques vendiam café a homens
de jaqueta e chapéu desabado; cruzavam-se na rua os
12. (UFG–2007) Senhores, é tempo de cuidar, exclusivamente – libertinos retardios com os operários que se levantavam
notai que digo exclusivamente – dos melhoramentos para a obrigação; ouvia-se o ruído estalado dos carros de
materiais do país. Não desconheço o que se me pode água, o rodar monótono dos bondes.
replicar, dir-me-eis que uma nação não se compõe só de AZEVEDO, Aluísio de. Casa de Pensão. São Paulo: Martins, 1973.
estômago para digerir, mas de cabeça para pensar e de
O trecho, retirado de romance escrito em 1884, descreve
coração para sentir. Respondo-vos que tudo isso não valerá
o cotidiano de uma cidade, no seguinte contexto:
nada ou pouco, se ela não tiver pernas para caminhar.
O Brasil é uma criança que engatinha; só começará A) A convivência entre elementos de uma economia
a andar quando tiver cortado de estradas de ferro. agrária e os de uma economia industrial indicam o
ASSIS, M. de. Evolução. Os melhores contos. início da industrialização no Brasil, no século XIX.
In: Seleção de Domício Proença. São Paulo: Global, 1997, B) Desde o século XVIII, a principal atividade da
p.239-240 (Adaptação). economia brasileira era industrial, como se observa
Publicado no início do século XX, o conto incorpora o no cotidiano descrito.
discurso evolucionista. A comparação sugere um processo C) Apesar de a industrialização ter-se iniciado no
de crescimento no qual a nação é tomada como metáfora século XIX, ela continuou a ser uma atividade pouco
do corpo humano. Se as estradas são pernas, desenvolvida no Brasil.
D) Apesar da industrialização, muitos operários
A) IDENTIFIQUE a principal região cortada pelas
levantavam cedo, porque iam diariamente para o
estradas de ferro e o produto que era transportado.
campo desenvolver atividades rurais.
B) EXPLIQUE os limites impostos ao crescimento da E) A vida urbana, caracterizada pelo cotidiano apresentado
economia nacional. no texto, ignora a industrialização existente na época.
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Frente B Módulo 14
72 Coleção Estudo
HISTÓRIA MÓDULO FRENTE
Escravidão
Outro ponto de destaque da sociedade imperial foi a
manutenção do trabalho escravo, já que a Independência do
O trabalho escravo na produção de café: a persistência da ordem
escravocrata.
Brasil não se comprometeu em libertar a população cativa,
que permaneceu durante mais algumas décadas como os
Editora Bernoulli
73
Frente B Módulo 15
escravocrata no Brasil foi sendo lentamente elaborada, A ampla divulgação das ideias abolicionistas favoreceu
à medida que os eventos externos (pressão inglesa) e o avanço de ações que iam além das famosas leis que
internos provocavam a necessidade de supressão desse tipo tratavam do tema do trabalho escravo. Nesse sentido,
de trabalho. Entre os eventos internos que colaboraram para pode-se destacar:
a condução do processo abolicionista, está a participação
• o apoio dado à fuga de escravos por parte de algumas
das pessoas que se situavam fora dos setores agrários e,
sociedades abolicionistas, em especial na região
por isso, não estavam vinculadas à escravidão. Pode ser Sudeste;
incluída, nesse contexto, a classe média urbana, composta
de profissionais liberais, intelectuais, universitários e • a criação de fundos de emancipação, que conseguiram
proprietários de pequenos estabelecimentos comerciais e acabar com o trabalho escravo nas províncias do
industriais. Esse cenário é produto da transformação pela Ceará e Amazonas ainda antes da Lei Áurea;
qual passava o Rio de Janeiro, na medida em que a crescente • o contato com sociedades abolicionistas internacionais
urbanização propiciava a expansão das atividades industriais, empreendido por Joaquim Nabuco e José de Patrocínio
a introdução do trabalho assalariado e o crescimento da nas visitas realizadas à Europa nos anos de 1881 e 1884,
população livre. respectivamente.
74 Coleção Estudo
Grupos sociais em conflito no Brasil Império
HISTÓRIA
Lei Áurea
No contexto de uma pressão exercida por setores da
Assinada em 13 de maio de 1888 pela princesa Isabel,
população urbana e da classe média que discordava da
visto que o imperador se encontrava em viagem, essa lei
escravidão, a Lei do Ventre Livre, também conhecida por Lei
estabelecia a liberdade para todos os escravos no Brasil.
Rio Branco, foi homologada em 1871, sendo uma tentativa
Entretanto, a Lei Áurea foi omissa sobre possíveis indenizações
de acalmar a discussão sobre o tema. Dando continuidade a
a serem pagas aos escravos pelos anos de trabalho
um projeto elitista, que visava à lenta extinção do trabalho
gratuito aos seus senhores. Isso significa que a maioria
compulsório, essa lei propunha que todos os escravos
dos antigos escravos não tinha como recomeçar a vida
nascidos a partir daquela data seriam considerados livres.
sem estarem submetidos ao mesmo sistema econômico
Porém, o efeito de tal resolução não foi tão significativo para
que os havia transformado em uma força de trabalho
os filhos dos escravos, afinal, como poderia uma criança ser desqualificada. As redes de preconceito e de desvalorização
livre se seus pais permaneciam em cativeiro? Além disso, social não foram desfeitas, não houve efetiva integração
a lei estabelecia a responsabilidade do senhor da fazenda social e a condição do ex-escravo permaneceu próxima
de cuidar da criança até os 21 anos de idade, sendo que os àquela estalebecida durante o período anterior à Lei Áurea.
senhores se aproveitavam do trabalho dos “escravos livres” Muitos permaneceram nas fazendas onde já trabalhavam
sob o pretexto de que estavam colaborando para a formação como escravos, visto que desconheciam outros projetos
dos libertos pela lei. de vida que pudessem permitir seu desenvolvimento
econômico. Os libertos que buscavam as cidades após
Lei do Sexagenário – 1885 a abolição encontravam poucas opções de trabalho.
Acabavam, por conta disso, muitas vezes incorporados
Declarava livres os escravos com 60 anos de idade ou mais.
à criminalidade.
Essa lei beneficiava, em última instância, os proprietários,
afinal, os poucos escravos que chegavam a essa idade não
tinham condição de assumir trabalhos pesados, sendo então A imigração para o Brasil
libertos e dispensados das fazenda, o que reduzia o custo do Durante a segunda metade do século XIX, alguns fazendeiros
proprietário. Quando um escravo conseguia chegar a essa começaram a perceber que a utilização de mão de obra
idade e se interessava em se beneficiar dessa lei, era muito livre poderia ser mais rentável que a mão de obra escrava,
difícil a aplicação da nova legislação, devido à ausência de devido ao elevado preço dos cativos e ao fato de estes
comprovantes que pudessem assegurar a sua idade, afinal, estarem indispostos a elevar a produção, já que não gozavam
todos os documentos relativos à vida de cada cativo ficavam de nenhum estímulo para tal, o que reduzia a produtividade
sob a posse de seus proprietários. e a competitividade do gênero agrícola brasileiro.
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Frente B Módulo 15
76 Coleção Estudo
Grupos sociais em conflito no Brasil Império
Irritado com o roubo de uma carga de um navio chamado Em 1864, ocorreu novo conflito na região, envolvendo
Príncipe de Gales, que havia naufragado na costa brasileira, Uruguai, Argentina e Paraguai. Novamente o conflito estava
o embaixador exigiu que o governo brasileiro pagasse a associado aos problemas enfrentados pelos fazendeiros
quantia de 3 200 libras esterlinas para ressarcir o prejuízo
gaúchos e pelos membros do Partido Blanco, que realizavam
inglês. No meio de tal discussão, em 1862, alguns marinheiros
ações militares nas fazendas brasileiras. Nessa época,
ingleses, embriagados e trajados de civis, foram presos no Rio
de Janeiro por estarem promovendo arruaças. Mesmo sendo o Uruguai estava sob o controle do líder Blanco, Atanásio
soltos imediatamente, ao se verificar que eram militares, Cruz Aguirre, que agora detinha o apoio do Paraguai, liderado
o embaixador William Christie exigiu, além do pagamento da por Solano López. Mais uma vez, o Brasil invadiu o Uruguai,
carga do navio, que os soldados brasileiros que prenderam retirando Aguirre do poder e colocando o líder colorado,
os ingleses fossem encarcerados e que o governo brasileiro Venâncio Flores. O Paraguai, que nessa época era um país
fizesse um pedido formal de desculpas. Tal questão beirou fortalecido por sua política econômica e por uma considerável
a guerra, quando navios ingleses aprisionaram cinco
força militar, rompeu relações diplomáticas com o Brasil,
navios brasileiros no Rio de Janeiro. Para evitar o conflito,
devido à intervenção realizada no Uruguai. Era o prelúdio
D. Pedro II solicitou a mediação do rei da Bélgica, Leopoldo I.
Durante o processo, D. Pedro II pagou ao governo inglês a da Guerra do Paraguai.
carga do navio roubado. Em 1863, diante do parecer favorável
ao Brasil, e como o governo inglês se negou a pedir desculpas Política externa do Brasil – século XIX
oficiais pelo incidente, o imperador rompeu laços diplomáticos
com os ingleses, até que, em 1865, a Inglaterra, oficialmente, MATO GROSSO
Territórios perdidos
pelo Paraguai
pediu desculpas ao Brasil em virtude desse incidente.
PARAGUAI BRASIL
5
uai
Intervenções no sul Rio de Janeiro
arag
icórnio
Trópico de Capr
OCEANO
Rio P
ATLÂNTICO
raná
HISTÓRIA
Se o Brasil, em relação à Inglaterra, sofria consideráveis Assunção
Rio Pa
intervenções, sua postura em relação aos países do sul foi
1
idêntica. Porém, nesse caso, era o Brasil que se mostrava 2
Guerras
Data Adversários
raná
platinas
autoritário. Envolvido em disputas de fronteira, interessado
Rio Pa
4
contra Brasil + “colorados” x
2
preocupado com o desenvolvimento de potências políticas ARGENTINA (Província da 3
Oribe
1850-1851
Argentina + “blancos”
Cisplatina entre
no sul que fizessem oposição ao Brasil, o governo imperial 1816-1828) 3
contra
Rosas
1852 Brasil x Argentina
URUGUAI
realizou intervenções militares nessa região, determinando, Buenos Aires Rio
da
Montevidéu 4
contra
Aguirre
1864-1865
Brasil x Argentina +
“colorados” x “blancos”
N Pra
de acordo com seus interesses, o funcionamento de sua
ta
Tríplice Aliança (Brasil,
0 300 km 5 do Paraguai 1864-1870 Argentina e Uruguai x
política. O Brasil chegou a realizar intervenções no Uruguai, Paraguai)
na Argentina e no Paraguai.
No caso do Uruguai, o Brasil, que havia anexado o território Guerra do Paraguai (1864-1870)
entre 1821 e 1828 (Província da Cisplatina), ainda influenciava
a política interna daquele país dividido em duas legendas Diferentemente dos demais países da América Latina,
partidárias: o Partido Blanco e o Partido Colorado. O primeiro o Paraguai constituiu suas atividades econômicas, desde
contava com a participação dos grandes proprietários de terra,
sua Independência, dentro de um sistema autossustentável.
sob a liderança de Manuel Oribe, com o apoio do presidente
Durante os governos de José Francia (1811-1840)
argentino, Juan Manuel Rosas, que desejava se unir ao
Uruguai e formar um poderoso país na região. Já o Partido e Carlos López (1840-1862), o país acabou com o
Colorado contava com o apoio dos comerciantes do Uruguai, analfabetismo, organizou fábricas, ferrovias, siderúrgicas
liderados por Frutuoso Rivera, que obtinha o auxílio explícito e redes de comunicação. Esse desenvolvimento estrutural
do Brasil e de José Urquiza, governador da província argentina foi complementado por uma política de organização
de Entre Rios e opositor de Manuel Rosas. militar promovida por Solano López a partir de 1862.
Paralelamente, os fazendeiros gaúchos entravam em conflito Com o objetivo de ampliar a área territorial do Paraguai,
na fronteira por disputas de terras com fazendeiros uruguaios o governo daquele país desejava anexar alguns territórios
ligados ao Partido Blanco. Com a vitória de Oribe nas eleições pertencentes ao Brasil, à Argentina e ao Uruguai.
uruguaias e com a intensificação dos conflitos entre fazendeiros, O objetivo principal era obter uma saída para o mar, visto
o imperador iniciou a intervenção no sul, de acordo com seus
que o Paraguai era um país isolado dentro da porção sul da
interesses. Em um mesmo movimento militar, o Exército
América. Nota-se que a postura paraguaia inseria-se em
brasileiro invadiu Montevidéu e Buenos Aires, capitais do
Uruguai e da Argentina, respectivamente, depondo os um cenário de fortes disputas fronteiriças no cone sul do
governantes Oribe e Rosas e substituindo-os por Rivera, continente, em que todas as nações envolvidas no conflito
no Uruguai, e Urquiza, na Argentina, entre 1851 e 1852. almejavam ganhos territoriais.
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Frente B Módulo 15
78 Coleção Estudo
Grupos sociais em conflito no Brasil Império
Reprodução / O mosquito
Essa atitude mostrou a fraqueza do Império e a força dos
militares, que começaram a se empenhar, cada vez mais,
na defesa do republicanismo.
HISTÓRIA
a trabalhos forçados, sendo anistiados meses depois. cafeeira do Oeste Paulista, acarretando a intensificação do
O episódio levou a um mal-estar entre Igreja e Império, poder econômico. A representação política, todavia, não
enfraquecendo a forte aliança entre as duas instituições e
era proporcional à tal expansão, apontando para profundo
impedindo que a Igreja socorresse o imperador caso o seu
descontentamento com a excessiva centralização política do
poder fosse ameaçado.
Segundo Reinado. O Manifesto Republicano, publicado
em 1870, foi organizado por membros dissidentes do Partido
Questão militar Liberal, que, em 1873, formaram o Partido Republicano.
Desde as primeiras décadas pós-Independência, o Exército Este contou com o apoio dos agricultores de café da região
brasileiro não exercia participação política. Mostrando-se do Oeste Paulista e de setores urbanos. Liderando os
uma instituição fraca frente à força imperial, o Exército opositores ao regime imperial, estavam civis, como Quintino
cumpria a função de assegurar a paz nacional sem se Bocaiuva, Saldanha Marinho, Rui Barbosa, Silva Jardim,
preocupar com as questões que envolviam os princípios e ilitares, como Benjamim Constant e Floriano Peixoto. Todos
administrativos do Brasil. Esse quadro mudou a partir da eles pertenciam à alta hierarquia maçônica, o que corrobora
Guerra do Paraguai, quando o Exército brasileiro passou
a estreita ligação entre as lojas maçônicas e os centros de
a exercer uma maior influência nas atividades políticas
discussão da causa republicana, unificando-a ideologicamente
brasileiras. Essa mudança se efetuou por vários motivos,
e fortalecendo-a no que se refere à articulação de um projeto
entre os quais se destacam a importância do Exército para
político comum à elite cafeicultora.
a vitória brasileira, a reorganização da instituição e o fato de
que, nas repúblicas do sul, as Forças Armadas detinham uma O movimento republicano brasileiro teve uma forte
considerável influência política. A instituição militar passou influência do pensamento positivista de Auguste Comte
por profundas transformações, entre elas a de ter o controle
(1798-1857). A ideia de progresso defendida por esse
ocupado paulatinamente por brasileiros, bem como leis que
pensador acabou por ser a orientação estabelecida pelo
estabeleceram normas de promoção por antiguidade, mérito
grupo de militares que estavam dispostos a derrubar a
e profissionalização dos oficiais, sem, contudo, incorporar
melhorias financeiras. Esse processo fez com que os militares monarquia. Além do positivismo, o movimento republicano
se afastassem dos altos cargos políticos, perdendo terreno brasileiro, através da elite cafeeira, apresentou o
para os juristas. Para obterem uma maior participação federalismo como uma tendência marcante, ou seja,
nos quadros políticos do país, os militares optaram por o desejo de se constituir uma autonomia autêntica nos
apoiar a causa republicana. Assim, buscando um papel de núcleos regionais do Brasil, que futuramente seriam
protagonismo na vida política brasileira, alguns militares representados pelos estados brasileiros. Cabe destacar
começaram a fazer críticas públicas ao sistema imperial, que o movimento republicano não chegou a mobilizar as
gerando um cenário de conflito com o governo. massas populares.
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Frente B Módulo 15
ministro Afonso Celso Figueiredo, com a intenção que este A permanência dessa forma tem de ser forçosamente, além da
pudesse estabelecer reformas que aproximassem o Brasil origem da opressão no interior, a fonte perpétua da hostilidade
e das guerras com os povos que nos rodeiam.
do projeto republicano. Entretanto, o Parlamento brasileiro
Perante a Europa, passamos por ser uma democracia
negou a aprovação das mudanças propostas, o que gerou
monárquica que não inspira simpatia nem provoca adesões.
uma crise que durou meses. Os republicanos aproveitaram
Perante a América, passamos por ser uma democracia
a instabilidade para divulgar um boato de que D. Pedro II monarquizada, em que o instinto e a força do povo não podem
realizaria uma repressão contra os militares que fossem a preponderar ante o arbítrio e a onipotência do soberano.
favor da República. No dia 14 de novembro de 1889, alguns Em tais condições, pode o Brasil considerar-se um país
agrupamentos rebeldes estacionaram suas tropas em São isolado, não só no seio da América, mas no seio do mundo.
Cristóvão, no Rio de Janeiro. Deodoro da Fonseca, militar O nosso esforço dirige-se a suprimir este estado de cousas,
experiente, foi convencido pelos republicanos de que ele pondo-nos em contacto fraternal com todos os povos e em
solidariedade democrática com o continente que fazemos parte.
representaria melhor o grupo de insatisfeitos contra o regime.
80 Coleção Estudo
Grupos sociais em conflito no Brasil Império
Este entusiasmo, de que falava Aristides Lobo, não foi, porém, A) a Tríplice Aliança agiu sob a ingerência dos Estados
o entusiasmo do povo – e sim o entusiasmo da pequena minora Unidos, que pretendiam, após o término da Guerra
republicana. O povo, o nosso povo, mostrou-se, como sempre, Civil, ampliar o comércio de seus produtos nos países
indiferente às formas de governo: aceitou a República, como já da Região Platina.
havia aceitado a Monarquia, como aceitaria, amanhã, o regime B) o Brasil e a Argentina romperam a aliança durante
bolchevista ou o fascismo italiano. essa guerra, o que possibilitou não só o fortalecimento
militar e político paraguaio, mas também o
VIANNA, Oliveira. O ocaso do Império. 4. ed. Recife: FUNDAJ
retardamento do final do conflito.
Edit. Massangana, 1990. p. 161-162.
C) o Brasil entrou nessa guerra motivado por interesses
relacionados à definição das fronteiras e à garantia
de livre navegação pelo Rio Paraguai, principal via de
HISTÓRIA
aumenta a nossa população e só serve de obstar a nossa
indústria. Apesar de entrarem no Brasil perto de quarenta 03. (UFMG) Leia este trecho de documento:
mil escravos anualmente, o aumento desta classe é nulo, Pela presente, por um de nós escrita e por ambos assinada,
ou de muito pouca monta: quase tudo morre ou de miséria declaramos que, desejando comemorar por um ato digno da
ou de desesperação, e todavia custaram imensos cabedais. religião de Cristo, o redentor, e de humanidade, o aniversário
[...] Os senhores que possuem escravos vivem, em que hoje celebramos, e atendendo aos serviços que já
grandíssima parte, na inércia, pois não se vêem, precisados tem nos prestado o pardo Sabino, nosso escravo, temos
pela fome ou pobreza, a aperfeiçoar sua indústria ou de comum acordo e de muita nossa livre e espontânea
melhorar sua lavoura. [...] Ainda quando os estrangeiros vontade, resolvido conferir ao mesmo, como conferimos,
pobres venham estabelecer-se no país, em pouco tempo a sua liberdade, podendo conduzir-se como se de ventre
deixam de trabalhar na terra com seus próprios braços e, livre fosse nascido: com a cláusula porém de continuar a
logo que podem ter dois ou três escravos, entregam-se à servir-nos, ou a pessoa por qualquer de nós designada, ainda
por espaço de cinco anos a partir desta data.
vadiação e desleixo.
ANDRADA E SILVA, José Bonifácio de. Representação à REGISTRO de uma carta de liberdade conferida, em 1866,
Assembleia Geral Constituinte e Legislativa do Império do Brasil pelo Dr. Agostinho Marques Perdigão Malheiro e sua mulher
sobre a Escravatura, de 1823. In: DOLHNIKOF, Miriam. ao pardo Sabino. Citado por CHALHOUB, Sidney. Visões da
liberdade. São Paulo: Companhia das Letras, 1990. p. 140.
José Bonifácio de Andrada e Silva: Projetos para o Brasil.
São Paulo: Companhia das Letras, 1998. p. 56-57. Com relação à conjuntura histórica em que foi abolida a
escravidão e com base nas informações contidas nesse
Com base no texto e nos conhecimentos sobre o
trecho, é CORRETO afirmar que
abolicionismo no Brasil, é CORRETO afirmar que, nas
duas primeiras décadas do século XIX, A) a extinção da escravidão se deu de forma abrupta,
sendo que as elites abolicionistas optaram por uma
A) o movimento abolicionista consolidava uma articulação estratégia radical de enfrentamento com a Coroa,
de partidos políticos em prol da libertação dos africanos o que causou grandes traumas sociais.
e da sua inserção na sociedade brasileira como B) as soluções encontradas para o problema da
trabalhadores livres para a agricultura e para a indústria. escravidão não escaparam ao controle político da
B) as elites dirigentes estavam plenamente convencidas da Igreja Católica, que acabou impondo aos fiéis da elite
necessidade da abolição do tráfico negreiro para defender uma teoria particular do abolicionismo.
o sistema escravista das pressões empreendidas pelo C) o debate sobre a abolição trouxe à tona as
movimento humanitário internacional. ambiguidades das atitudes políticas de uma parte
da elite brasileira, que julgava o ato de emancipação
C) alguns setores sociais pretendiam promover
uma benesse, pela qual o ex-escravo deveria pagar.
o progresso econômico do Brasil com base na
D) os problemas ligados à escravidão se atenuaram
indústria e viam os negros como obstáculo a esse
ao longo do século XIX, quando o crescimento das
desenvolvimento, na medida em que eles não tinham revoltas escravas suprimiu conflitos entre os negros
qualquer aptidão para o trabalho naquele setor. e as elites rurais.
Editora Bernoulli
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Frente B Módulo 15
04. (UFMG–2006) Analise esta charge: C) o aumento do fluxo de imigrantes para o Brasil
determinou a limitação da população livre.
D) a população total brasileira apresenta uma redução
no ritmo de seu crescimento a partir de 1872.
E) a Lei dos Sexagenários de 1885 foi a principal
responsável pela queda no contingente de escravos
no Brasil.
EXERCÍCIOS PROPOSTOS
01. (UNESP–2010) A expansão da economia do café para
o Oeste Paulista, na segunda metade do século XIX,
e a grande imigração para a lavoura de café trouxeram
modificações na história do Brasil como
Ângelo Agostini
A) à intensa mobilização das camadas populares a favor E) a adoção do sufrágio universal nas eleições federais
% da
População População População População
Anos
livre escrava total escrava sobre
a total
Relacionando-se essas imagens à crise da ordem imperial
1850 5 520 000 2 500 000 8 020 000 31%
brasileira, é CORRETO afirmar que elas expressam
1872 8 449 672 1 510 806 9 930 478 15% A) a força dos ideais contrários à abolição da escravidão
e à república, que retardou a crise da ordem imperial
1887 13 278 816 723 419 14 002 235 5%
brasileira após a Guerra do Paraguai.
Com base nos dados disponíveis anteriormente, acerca da B) a fusão dos ideais monárquicos e republicanos, o que
composição da população brasileira na segunda metade ajudou a acelerar a abolição da escravidão no final do
século XIX.
do século XIX, é CORRETO concluir que
C) o militarismo predominante no Império do Brasil,
A) às vésperas da promulgação da Lei Áurea, a população
indicado pela presença marcante dos militares –
cativa encontrava-se drasticamente reduzida.
inclusive o próprio imperador – no poder.
B) o crescimento vegetativo apresentado pela população D) os efeitos da Guerra do Paraguai sobre a ordem
escrava garantiu o abastecimento constante de imperial e a crescente influência do republicanismo
mão de obra. no cenário político brasileiro.
82 Coleção Estudo
Grupos sociais em conflito no Brasil Império
03. (FGV-SP–2007) A Lei de Terras, aprovada em 1850, duas Considere os mapas anteriores e seus conhecimentos
semanas após a proibição do tráfico de escravos, tentou pôr para analisar as frases:
ordem na confusão existente em matéria de propriedade I. As maiores populações de escravos do Império, naquele
rural, determinando que, no futuro, as terras públicas fossem período, estavam concentradas principalmente em
vendidas e não doadas, como acontecera com as antigas
províncias do atual Sudeste brasileiro, onde, na época,
sesmarias, estabeleceu normas para legalizar a posse de
se desenvolvia, de forma acelerada, a cultura do café.
terras e procurou forçar o registro das propriedades.
II. A grande parte dos índios aldeados do Império,
FAUSTO, Boris. História do Brasil, 1994.
relativamente à população de escravos, distribuía-se
Sobre a Lei de Terras, é CORRETO afirmar que por territórios que hoje correspondem às regiões
A) sua promulgação coincidiu com a Lei Eusébio de Norte e Centro-Oeste, onde trabalhavam na extração
Queirós, mas não há nenhuma relação de causalidade da borracha e em atividades mineradoras.
entre ambas. III. A baixa porcentagem de escravos, vivendo nas
B) ao entrar em vigor, não foi respeitada, podendo ser províncias da porção nordeste da atual região
considerada mais uma “lei para inglês ver”. Nordeste do país, é indicativa do pouco dinamismo
C) sua promulgação foi concebida como uma forma de econômico dessa sub-região, naquele período.
evitar o acesso à propriedade da terra por parte de
Está CORRETO o que se afirma apenas em
futuros imigrantes.
D) sua aprovação naquele momento decorreu de os A) I.
Estados Unidos terem acabado de aprovar uma lei
B) I e II.
de terras para o seu território.
C) I e III.
E) ao entrar em vigor, teve efeito contrário ao de sua intenção
original, que era a de facilitar o acesso à propriedade. D) II e III.
HISTÓRIA
E) III.
04. (FUVEST-SP–2008) Em 1872, foi realizado o primeiro
recenseamento do Império. Baseado nos dados desse
censo, o mapa 1 apresenta a distribuição de escravos 05. (UEPB) Assinale a alternativa que contém uma ou mais
nas províncias brasileiras em relação à população total. causas que NÃO contribuíram para o processo que pôs
O mapa 2 mostra a porcentagem de índios aldeados em fim ao Império brasileiro.
relação ao total de escravos nessas mesmas províncias A) Movimento abolicionista, mentalidade positivista,
e nesse mesmo ano. lançamento do Manifesto Republicano.
Editora Bernoulli
83
Frente B Módulo 15
Milhares
aos afrodescendentes a dignidade e o direito à 180
cidadania.
160
II. A Lei Áurea emancipou os negros da escravidão sem,
contudo, lhes oferecer possibilidades reais e dignas 140
de participação no mercado de trabalho. 120
174 662
169 964
III. Os afrodescendentes foram levados a exercer um 100
156 612
papel subalterno na sociedade, levando-os à miséria.
128 000
80
107 829
106 685
IV. A preferência pelos imigrantes reforçou a tese da 60
16 387
15 309
igualdade racial tão propagada no século XIX.
11 054
12 477
11 174
10 484
40
Estão CORRETAS
20
A) I e IV. C) II e IV. E) I e III.
00
B) II e III. D) III e IV. 1872 1873 1874 1875 1876 1877
E) foram ocasionais e descontrolados, e, na maior parte dos E) A proposta dos setores médios urbanos, como o de
casos, revelavam as más condições sociais e econômicas professores e jornalistas, era a de um republicanismo
dos países de origem e o fascínio pela oportunidade de conservador, capaz de manter intocada a rígida
obter terras para produção de subsistência. hierarquia social brasileira.
84 Coleção Estudo
Grupos sociais em conflito no Brasil Império
11. (UFRGS) Observe a gravura a seguir: 13. (Unicamp-SP–2011) O primeiro recenseamento geral do
Império foi realizado em 1872. Nos recenseamentos parciais
anteriores, não se perguntava sobre a cor da população.
O censo de 1872, ao inserir essa informação, indica uma
mudança, orientada por um entendimento do conceito de
raça que ancorava a cor em um suporte pretensamente mais
rígido. Com a crise da escravidão e do regime monárquico,
que levou ao enfraquecimento dos pilares da distinção
social, a cor e a raça tornavam-se necessárias.
LIMA, Ivana Stolze. Cores, marcas e falas:
sentidos da mestiçagem no Império do Brasil.
Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 2003. p. 109, 121.
A charge faz referência à chamada “questão religiosa”,
A partir do enunciado, podemos concluir que há um uso
ocorrida durante o Segundo Reinado. Essa disputa entre político na maneira de classificar a população, já que
o Estado imperial e a Igreja Católica aconteceu devido à
A) o conceito de raça permitia classificar a população a partir
A) rejeição, pelo governo, dos dispositivos da bula de um critério mais objetivo do que a cor, garantindo mais
Syllabus baixada pelo papa Pio IX, que proibia a exatidão nas informações, o que era necessário em um
permanência de membros da maçonaria dentro dos momento de transição para um novo regime.
quadros da Igreja. B) no final do Império, o enfraquecimento dos pilares da
B) adesão do governo de Dom Pedro I aos tratados de distinção social era causado pelo fim da escravidão.
livre-comércio de escravos, o que era condenado pela Nesse contexto, ao perguntar sobre a raça da
Santa Sé, com base em argumentos de cunho moral. população, o censo permitiria a elaboração de políticas
públicas visando à inclusão social dos ex-escravos.
C) rejeição da encíclica Rerum Novarum, baixada
pelo papa Leão XIII, que defendia a coexistência C) a introdução do conceito de raça no censo devia-se
a uma concepção, cada vez mais difundida após
harmoniosa do capital e do trabalho, no sentido de
HISTÓRIA
1870, que propunha a organização e o governo da
evitar a luta de classes.
sociedade a partir de critérios objetivos e científicos,
D) adesão do governo imperial aos ditames do Tratado de o que levaria a uma maior igualdade social.
Latrão, que limitava os poderes da Igreja expressos D) no final do Império, a associação entre a cor da pele e
na instituição do padroado. o conceito de raça criava um novo critério de exclusão
E) recusa do governo de Dom Pedro II em aceitar as social, capaz de substituir as formas de distinção que
manobras parlamentares dos deputados católicos, eram próprias da sociedade escravista e monárquica
visando à extinção do direito do padroado. em crise.
12. (UFTM-MG–2011) Leia o trecho, retirado do primeiro 14. (PUC Rio–2008) A capa da Revista Ilustrada do ano de
número do jornal A Redenção, de 2 de janeiro de 1887: 1880 apresenta a ilustração de Ângelo Agostini intitulada
“Emancipação: uma nuvem que não para de crescer”.
[...] o título do nosso jornal já indica nossa missão na
imprensa
[...] Nós queremos a libertação imediata [dos escravos]
[...] A escravidão é um cancro que corrói o Brasil,
o paliativo da Lei Saraiva Cotegipe prolonga a enfermidade.
Contamos com o povo e nada mais.
Apud SCHWARCZ, Lilia M. Retrato em branco e preto, 1987.
O excerto expressa
A) a concordância com os conservadores, que
incentivavam a adoção de leis favoráveis à libertação
dos escravos.
B) o desejo dos proprietários de engenhos do Nordeste,
que não possuíam mais escravos e necessitavam de
imigrantes livres.
C) a posição dos grupos abolicionistas, que defendiam
o fim do regime, sem indenização ou compensações
para os escravocratas.
A) EXPLIQUE por que a “nuvem da emancipação” não
D) a concepção republicana, que pregava o fim da parava de crescer naquela conjuntura.
monarquia e o estabelecimento da igualdade entre
B) Com base na ilustração e nos seus conhecimentos,
brancos e negros.
IDENTIFIQUE dois argumentos utilizados por uma
E) a opinião dos social-democratas, que se apoiaram na parcela dos proprietários de escravos para se oporem
família imperial para impor os seus ideais abolicionistas. ao crescimento da “nuvem da emancipação.”
Editora Bernoulli
85
Frente B Módulo 15
(abolição da escravatura)
(liberdade para os filhos
(fim do tráfico negreiro)
de escravos nascidos
a partir dessa data)
(liberdade para os
escravos maiores
Sexagenários poder dos senhores; 3.º) a ação complementar dos
próprios proprietários, que, à medida que o movimento se
de 60 anos)
Lei Áurea
precipitava, iam libertando em massa as suas ‘fábricas’; 4.º)
Lei dos
C) Antes que a compra de escravos no exterior fosse B) de classes, associada a ações contra a organização
proibida, decidiu-se pela libertação dos cativos escravista, que foi seguida pela ajuda de proprietários
mais velhos. que substituíam os escravos por assalariados, o que
provocou a adesão de estadistas e, posteriormente,
D) Assinada pela princesa Isabel, a Lei Áurea concluiu o ações republicanas.
processo abolicionista, tornando ilegal a escravidão
C) partidária, associada a ações contra a organização
no Brasil.
escravista, com o auxílio de proprietários que
E) Ao abolir o tráfico negreiro, a Lei Eusébio de Queirós mudavam seu foco de investimento e da ação da
bloqueou a formulação de novas leis antiescravidão família imperial.
no Brasil.
D) política, associada a ações contra a organização
escravista, sabotada por proprietários que buscavam
02. (Enem–2000) O texto a seguir foi extraído de uma
manter o escravismo, por estadistas e pela ação
crônica de Machado de Assis e refere-se ao trabalho de republicana contra a realeza.
um escravo.
E) religiosa, associada a ações contra a organização
Um dia começou a Guerra do Paraguai e durou cinco anos, escravista, que fora apoiada por proprietários que
João repicava e dobrava, dobrava e repicava pelos mortos haviam substituído os seus escravos por imigrantes,
e pelas vitórias. Quando se decretou o ventre livre dos o que resultou na adesão de estadistas republicanos
escravos, João é que repicou. Quando se fez a abolição na luta contra a realeza.
completa, quem repicou foi João. Um dia proclamou-se
a República. João repicou por ela, repicara pelo Império, 04. (Enem–2010) Substitui-se então uma história crítica,
se o Império retornasse. profunda, por uma crônica de detalhes onde o patriotismo
MACHADO, Assis de. “Crônica sobre a morte e a bravura dos nossos soldados encobrem a vilania dos
do escravo João”, 1897. motivos que levaram a Inglaterra a armar brasileiros e
argentinos para a destruição da mais gloriosa república
A leitura do texto permite afirmar que o sineiro João que já se viu na América Latina, a do Paraguai.
A) por ser escravo, tocava os sinos, às escondidas,
CHIAVENATTO, J. J. Genocídio americano: A Guerra do Paraguai.
quando ocorriam fatos ligados à abolição.
São Paulo: Brasiliense, 1979 (Adaptação).
B) não poderia tocar os sinos pelo retorno do Império,
visto que era escravo. O imperialismo inglês, “destruindo o Paraguai, mantém o
status quo na América Meridional, impedindo a ascensão
C) tocou os sinos pela República, proclamada pelos
do seu único Estado economicamente livre”. Essa teoria
abolicionistas que vieram libertá-lo. conspiratória vai contra a realidade dos fatos e não tem
D) tocava os sinos quando ocorriam fatos marcantes provas documentais. Contudo, essa teoria tem alguma
porque era costume fazê-lo. repercussão.
E) tocou os sinos pelo retorno do Império, comemorando DORATIOTO. F. Maldita guerra: nova história da Guerra do
a volta da princesa Isabel. Paraguai. São Paulo: Cia. das Letras, 2002 (Adaptação).
86 Coleção Estudo
Grupos sociais em conflito no Brasil Império
Uma leitura dessas narrativas divergentes demonstra que C) no “branqueamento” da população, para afastar
ambas estão refletindo sobre o predomínio das raças consideradas inferiores
A) a carência de fontes para a pesquisa sobre os reais e concretizar a ideia do Brasil como modelo de
motivos dessa guerra. civilização dos trópicos.
B) o caráter positivista das diferentes versões sobre
D) no tráfico interprovincial dos escravos das áreas
essa guerra.
decadentes do Nordeste para o Vale do Paraíba, para
C) o resultado das intervenções britânicas nos cenários
a garantia da rentabilidade do café.
de batalha.
D) a dificuldade de elaborar explicações convincentes E) na adoção de formas disfarçadas de trabalho
sobre os motivos dessa guerra. compulsório com emprego dos libertos nos cafezais
E) o nível de crueldade das ações do Exército brasileiro paulistas, uma vez que os imigrantes foram trabalhar
e argentino durante o conflito. em outras regiões do país.
05. (Enem–2010) Negro, filho de escrava e fidalgo português, 07. (Enem–2010) Para o Paraguai, portanto, essa foi uma
o baiano Luiz Gama fez da lei e das letras suas armas na guerra pela sobrevivência. De todo modo, uma guerra
luta pela liberdade. Foi vendido ilegalmente como escravo
contra dois gigantes estava fadada a ser um teste
pelo seu pai para cobrir dívidas de jogo. Sabendo ler e
debilitante e severo para uma economia de base tão
escrever, aos 18 anos de idade conseguiu provas de que
havia nascido livre. Autodidata, advogado sem diploma, estreita. Lopez precisava de uma vitória rápida e, se não
fez do direito o seu ofício e transformou-se, em pouco conseguisse vencer rapidamente, provavelmente não
tempo, em proeminente advogado da causa abolicionista. venceria nunca.
AZEVEDO, E. O Orfeu de carapinha. In: Revista de História. LYNCH, J. As Repúblicas do Prata: da Independência à guerra do
Ano 1, nº 3. Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional, Paraguai. BETHELL, Leslie (Org). História da América Latina: da
jan. 2004 (Adaptação). Independência até 1870, v. III. São Paulo: EDUSP, 2004.
HISTÓRIA
A conquista da liberdade pelos afro-brasileiros na segunda A Guerra do Paraguai teve consequências políticas
metade do século XIX foi resultado de importantes lutas importantes para o Brasil, pois
sociais condicionadas historicamente. A biografia de Luiz
Gama exemplifica a A) representou a afirmação do Exército brasileiro como
um ator político de primeira ordem.
A) impossibilidade de ascensão social do negro forro em
uma sociedade escravocrata, mesmo sendo alfabetizado. B) confirmou a conquista da hegemonia brasileira sobre
B) extrema dificuldade de projeção dos intelectuais a Bacia Platina.
negros nesse contexto e a utilização do Direito como
canal de luta pela liberdade. C) concretizou a emancipação dos escravos negros.
C) rigidez de uma sociedade, assentada na escravidão, D) incentivou a adoção de um regime constitucional
que inviabilizava os mecanismos de ascensão social. monárquico.
D) possibilidade de ascensão social, viabilizada pelo
apoio das elites dominantes, a um mestiço filho de E) solucionou a crise financeira, em razão das
pai português. indenizações recebidas.
E) troca de favores entre um representante negro e
a elite agrária escravista que outorgara o direito 08. (Enem–2010)
advocatício ao mesmo.
Ó sublime pergaminho
Editora Bernoulli
87
Frente B Módulo 15
C) ruptura na estrutura socioeconômica do país, sendo propaganda, construindo uma opinião pública
responsável pela otimização da inclusão social dos favorável à abolição da escravidão no Brasil.
libertos. Por outro lado, nesse mesmo momento,
Propostos
Seção Enem
01. B
01. D
02. D
02. D
03. C
03. A
04. C
04. D
05. E
06. B 05. B
07. E 06. B
08. A 07. A
09. B 08. B
88 Coleção Estudo
HISTÓRIA MÓDULO FRENTE
República Provisória
e da Espada
16 B
A transição do Império para a República no Brasil foi O Conselho de Estado e o Senado eram compostos
caracterizada por um difícil período de instabilidade política e de membros vitalícios, já a Câmara dos Deputados
econômica. Da saída de D. Pedro II do poder até a ascensão do era baseada em eleições. Estavam associados, em
primeiro presidente eleito, Prudente de Morais, passaram-se termos político-administrativos, às articulações do
cinco anos. Nesse intervalo, o país obteve uma nova regime monárquico e, por isso, foram abolidos tão
Constituição, enfrentou duas revoltas da Marinha, conviveu logo foi instaurada a república.
com conflitos políticos que culminaram na renúncia de um
presidente e elegeu o primeiro governante federal por via • dissolução da Câmara dos Deputados e do Senado;
direta em 1894. Essa fase da nossa história foi dividida em • reconhecimento dos compromissos estabelecidos
dois momentos: Governo Provisório e República da Espada. pelo governo anterior;
Tendo papel preponderante na implementação do sistema • separação da Igreja do Estado (formação do Estado
republicano, deve-se lembrar de que, ao longo do século XIX, laico) e instituição do casamento civil;
o Exército brasileiro organiza suas bases, edifica-se sobre
o cientificismo positivista e a valorização tecnológica, • grande naturalização, ou seja, concessão da
construindo para si a imagem de agente do progresso e da cidadania nacional aos estrangeiros interessados;
promoção do bem público. Atrai para si, em virtude disso, • criação de uma nova bandeira, já que a anterior
o objetivo de civilizar um Estado Nacional em gestação, remetia ao regime monárquico brasileiro;
atuando como sujeito político gestor da República, bem como
• convocação de uma Assembleia Constituinte, visando
interventor intelectual e político capaz de levar adiante o
projeto de nacionalidade e modernização. redigir uma Constituição que assumisse plenamente
o ideal republicano do novo regime.
Museu da República
GOVERNO PROVISÓRIO
Entende-se por Governo Provisório o curto período
de organização das instituições brasileiras após o Golpe
Republicano. A administração do Estado ficou a cargo de
Deodoro da Fonseca.
Algumas medidas foram tomadas para o estabelecimento
da nova ordem. Entre elas, destacam-se:
• banimento da família real e proclamação de um
Henrique Bernardelli
Editora Bernoulli
89
Frente B Módulo 16
90 Coleção Estudo
República Provisória e da Espada
HISTÓRIA
Artista desconhecido
Reprodução / Revista Ilustrada
Editora Bernoulli
91
Frente B Módulo 16
destacava-se Gumercindo Saraiva. As disputas no Sul O papel centralizador desse modelo, assim como
assumiram uma feição de guerra civil a partir do ano a secundarização de questões sociais, era condizente
de 1893, quando as forças federalistas pegaram em armas com os anseios dos militares, principais defensores do
contra o governo estadual, chegando a ocupar os estados do positivismo. Da mesma forma, a crença positivista no avanço
Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. Como as tropas racional e industrial se conformava com o desejo militar
de Júlio de Castilhos contavam com o apoio do governo de modernização do Brasil. A própria bandeira brasileira,
de Floriano Peixoto, os federalistas, também chamados renovada a partir da Proclamação da República, carregava
de maragatos, assumiram uma postura antiflorianista, a máxima positivista: Ordem e Progresso.
unindo-se aos participantes da Segunda Revolta da Armada,
Já os jacobinos projetavam uma pátria com o ideal de
que haviam se deslocado para a cidade de Desterro, capital
participação popular, apesar de não terem um claro conceito
de Santa Catarina. Apenas em 1895, durante o governo de
em que consistiria o povo brasileiro e quais os mecanismos
Prudente de Morais, as tropas federalistas foram derrotadas
de participação para este. Os adeptos de tal corrente,
através da união entre contingentes do governo central e
oriundos dos grupos urbanos de média e baixa renda
de tropas estaduais. A revolução teve como saldo a morte
e intelectuais, inspiravam-se nas ações de alguns líderes da
de mais de cinco mil pessoas, sendo muitos degolados
Revolução Francesa, como Robespierre e Danton. Cercados
quando capturados pelas tropas inimigas. Quanto à Segunda
do imaginário dessa Revolução, os jacobinos interpretavam
Revolta da Armada, a rebeldia da Marinha foi derrotada
Floriano Peixoto como uma referência política no Brasil,
no ano de 1894, com o apoio de navios estrangeiros que
apesar de o vice-presidente não ter a mesma identificação
colaboraram com o governo de Floriano Peixoto.
com o projeto jacobino. Essa ligação com Floriano se deu por
As atitudes repressoras de Floriano foram responsáveis conta de medidas progressistas, como construção de casas
por duas homenagens: o tratamento como Marechal de populares e o incentivo ao desenvolvimento industrial do
Ferro e a mudança do nome da capital de Santa Catarina, Brasil feito pelo vice-presidente, sem contar o fato de que este
que passou de Desterro para Florianópolis. assumiu o poder no lugar de um líder com traços positivistas.
EVOLUÇÃO POLÍTICA
DOS PRIMEIROS ANOS
DA REPÚBLICA
Um considerável debate político marcou a organização
da República nos seus primeiros anos. O fortalecimento
do novo regime foi pautado pela construção de símbolos
que pudessem garantir a autenticidade do projeto que,
agora, se firmava como representante do novo e moderno.
A Primeira República brasileira foi erigida por meio de um
movimento elitista que excluia grande parte da população
brasileira. Nesse sentido, era preciso a criação de símbolos
que possibilitassem a necessária identificação entre o povo
e o nascente Estado republicano. No livro A Formação das
Reprodução / Revista Ilustrada
92 Coleção Estudo
República Provisória e da Espada
HISTÓRIA
Imperial, proibia o acesso ao voto aos analfabetos, reduzindo Paraguai, identificado com uma política centralizadora
consideravelmente o número de eleitores, conforme o texto anterior.
e patrono do Exército brasileiro.
D) B e n t o G o n ç a l v e s , p r e s i d e n t e d a r e p ú b l i c a
Texto II rio-grandense e principal líder da Revolta Farroupilha
do século XIX, considerado o patrono militar do
Os símbolos do Novo Regime republicanismo no Brasil.
O extravasamento das visões de República para o mundo E) Tiradentes, militar e republicano transformado em
extraelite, ou as tentativas de operar tal extravasamento, mártir, cuja morte passou a ser associada ao sacrifício
é que me interessarão diretamente. Ele não poderia ser feito de Jesus Cristo.
por meio do discurso, inacessível a um público com baixo
nível de educação formal. Ele teria de ser feito mediante 02. (PUC Minas–2006)
sinais mais universais, de leitura mais fácil, como as imagens,
Tudo se torceu, tudo se falseou, tudo se confundiu. De um
as alegorias, os símbolos, os mitos. De fato, um exame
sistema cheio de correspondências complexas e sutis, onde
preliminar da ação dos jacobinos e positivistas já me tinha
não se podia tocar em qualquer parte, sem modificar a
revelado o emprego de tais instrumentos, frequentemente
ação das outras, fizeram um atarrancado de ferros velhos,
sob inspiração francesa. As descrições da época trazem
digno de figurar numa exposição industrial de doidos.
referências ao costume dos republicanos brasileiros de cantarem
a Marselhesa, de representarem a república com o barrete BARBOSA Rui. Finanças e Política.
frígio; informam também sobre a luta dos positivistas pela nova Com esse desabafo, o ministro da Fazenda do Governo
bandeira e sobre a disputa em torno da definição do panteão Provisório da República tenta justificar, perante a opinião
cívico do novo regime. pública, o fracasso de sua política financeira. São efeitos
[...] imediatos dessa política, EXCETO
A batalha em torno da simbologia republicana deu-se também A) a inflação desenfreada, falência de inúmeras
em relação à bandeira e ao hino. Não podia ser de outra maneira, empresas e desvalorização da moeda nacional em
de vez que são esses, tradicionalmente, os símbolos nacionais mais relação à libra esterlina.
evidentes, de uso quase obrigatório [...] No caso da bandeira, a B) a substituição dos capitais ingleses por norte-americanos
vitória pertenceu a uma facção, os positivistas, mas ela se deveu para restaurar e equilibrar o combalido sistema
certamente ao fato de que o novo símbolo incorporou elementos financeiro brasileiro.
da tradição imperial. No caso do hino, a vitória da tradição foi total:
C) a alta geral do custo de vida, instabilidade financeira
permaneceu o hino antigo. Foi também a única vitória popular no
e profundo desequilíbrio nas contas externas do país.
novo regime, ganha à revelia da liderança republicana.
D) a enorme especulação gerada pelo surgimento de
CARVALHO, José Murilo de. A formação das almas. empresas-fantasma, cujo objetivo era obter facilidade
São Paulo: Companhia das Letras, 1990. de crédito bancário.
Editora Bernoulli
93
Frente B Módulo 16
94 Coleção Estudo
República Provisória e da Espada
03. (FGV-SP) Caracterizou-se por “encilhamento” a política C) a Guerra do Paraguai não teve relação com o
econômica que crescimento das ideias republicanas e positivistas,
A) levou o país a uma crise inflacionária pela emissão de fundamentais para o advento da República.
moeda, sem lastro-ouro e com escassos empréstimos D) o Terceiro Reinado era visto de forma positiva e
estrangeiros, gerando inúmeras falências. otimista pela população, já que a princesa Isabel
B) pôde acomodar os primeiros anos da República à tinha uma liderança expressiva, apesar dos valores
estabilização e ao investimento em políticas públicas, patriarcais da época.
principalmente educacionais.
E) as críticas à centralização monárquica e o surgimento
C) levou o país a pedir empréstimos para a reorganização de novos segmentos sociais não tiveram influência no
do parque industrial e para a exploração da borracha sucesso do movimento republicano.
na região amazônica.
D) pôde acomodar, por aproximadamente 50 anos, uma 06. (Mackenzie-SP–2011)
economia ainda dependente, permitindo a aplicação
de recursos em serviços públicos.
E) levou o país a receber apoio de todas as nações
industrializadas para desenvolvimento de parcerias,
apesar da crescente inflação decorrente dos inúmeros
empréstimos pedidos.
HISTÓRIA
Fazenda durante o Governo Provisório do marechal
culminância do processo de deterioração do poder
Deodoro da Fonseca (1889-1891), pretendeu garantir a
político de Pedro II.
independência econômica do Brasil frente ao capitalismo
2. O povo foi surpreendido com o novo regime, cuja
europeu. Para ele, a República somente se consolidaria
implantação se deveu muito mais ao descontentamento
sobre alicerces seguros, quando suas funções se firmarem
dos militares, após a guerra do Paraguai, do que
na democracia do trabalho industrial. Sua política
propriamente às ações do Partido Republicano.
financeira, contudo, não foi bem sucedida, como mostra
3. A Proclamação da República no Brasil foi um ato há
a charge dada, devido à
muito planejado e contou com a adesão da família
real brasileira. A) emissão de papel-moeda em larga escala para
4. A insatisfação militar com o regime monárquico deveu-se incentivar o crédito para investidores do setor
principalmente à abolição da escravidão, uma vez industrial, o que gerou uma política inflacionária,
que os soldados escravos eram muito apreciados por visto que o aumento do meio circulante não foi
serem confiáveis e eficientes nas batalhas. acompanhado pela elevação da produção interna.
5. O rol das insatisfações com a monarquia intensificou-se B) restrição de crédito para financiamento de novas
com a crise provocada pela tentativa do bispo de empresas, além de cortes no gasto público e aumento
Olinda e Recife, D. Vital, de fazer cumprir as ordens
dos impostos, o que gerou diversas manifestações,
papais que condenavam a maçonaria.
principalmente no meio do operariado nacional,
Estão CORRETAS apenas prejudicado pelo aumento no custo de vida.
A) 1, 3 e 4. C) 3, 4 e 5. E) 1, 3 e 5. C) adoção de tarifas alfandegárias protecionistas e
B) 1, 2 e 5. D) 2, 3 e 4. estímulo às indústrias nacionais visando a aumentar
a produção nacional, porém congelou os salários dos
05. (Mackenzie-SP) trabalhadores e aumentou os gastos na construção
O povo assistiu àquilo bestializado, atônito, surpreso, de obras públicas.
sem conhecer o que significava. Muitos acreditavam D) realização de uma política financeira anti-inflacionária
sinceramente estar vendo uma parada. que buscou equilibrar nossa economia frente aos
Aristides Lobo
prejuízos herdados do Período Monárquico, graças
O texto refere-se à Proclamação da República, em 15 de aos vultosos empréstimos externos, realizados para
novembro de 1889. Podemos, então, concluir que sanar o déficit orçamentário.
A) o movimento contou com sólido apoio popular, luta E) especulação financeira graças à facilidade de
armada e resistência violenta dos monarquistas. créditos concedidos pelo governo, que, ao invés de
B) a proclamação vitoriosa resultou da conjugação de contribuirem para a instalação de novas indústrias
parte do Exército, fazendeiros do Oeste Paulista e no país, foram utilizados para saldar as dívidas dos
classes médias urbanas. cafeicultores perante os banqueiros estrangeiros.
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95
Frente B Módulo 16
A) não acarretou transformações sociais significativas, SAES, Décio. Classe média e sistema político no Brasil.
apesar da nova Constituição. São Paulo: T. A. Queiroz, 1984.
B) assegurou a modernização da estrutura socioeconômica, Pode-se afirmar que a democracia da República Velha
mas não da política. foi um novo modelo de exclusão política na medida em
que, nesse período,
C) dependeu da ação dos militares, que impuseram uma
Constituição positivista. A) i m p l a n t o u - s e o f e d e ra l i s m o, e m q u e c a d a
estado-membro ganhava autonomia para eleger o
D) alterou o regime político, com a implantação de uma governador do estado e os deputados, que deveriam
duradoura ditadura militar. ser grandes proprietários rurais.
E) levou as camadas baixas à hegemonia no poder, B) adotou-se como sistema de governo o presidencialismo,
devido às mudanças constitucionais. em que o presidente da República deveria escolher
seus ministros entre os grandes cafeicultores paulistas.
08. (UERJ)
C) garantiu-se o direito de voto aos brasileiros do
A febre especulativa começou ainda sob o Império [...]. sexo masculino, maiores de 21 anos, excetuando
A libertação dos escravos provocara o súbito aumento analfabetos, mendigos, soldados e religiosos sujeitos
da necessidade de pagar salários e os fazendeiros à obediência eclesiástica.
sentiam carência de dinheiro [...]. [O] primeiro D) proclamou-se a independência entre o Estado e a
governo republicano, [...] convicto de que a circulação Igreja, pondo fim ao regime do padroado, vigente
monetária era insuficiente e, ademais, aberto a idéias no Império, embora fosse vetado o acesso de
de industrialização, [...] estabeleceu um mecanismo de protestantes aos cargos públicos.
bancos privados emissores, o que incitou ainda mais a
especulação [...]. 11. (UNESP–2011) [...] “Confeitaria do Custódio”. Muita gente
GORENDER, Jacob. A burguesia brasileira. certamente lhe não conhecia a casa por outra designação.
São Paulo: Brasiliense, 1986. Um nome, o próprio nome do dono, não tinha significação
política ou figuração histórica, ódio nem amor, nada que
O processo descrito anteriormente ilustra a seguinte chamasse a atenção dos dois regimes, e conseguintemente
política econômica desenvolvida no Governo Provisório que pusesse em perigo os seus pastéis de Santa Clara,
de Deodoro da Fonseca, de 1889 a 1891: menos ainda a vida do proprietário e dos empregados. Por
A) creditismo que é que não adotava esse alvitre? Gastava alguma coisa
com a troca de uma palavra por outra, Custódio em vez
B) federalismo
de Império, mas as revoluções trazem sempre despesas.
C) naturalização
ASSIS, Machado de. Esaú e Jacó. Obra completa, 1904.
D) encilhamento
O fragmento, extraído do romance Esaú e Jacó, de
09. (UFPel-RS–2006) Entre 1893 e 1895, o Sul do Brasil foi Machado de Assis, narra a desventura de Custódio, dono
palco de uma sangrenta guerra que colocou frente a frente de uma confeitaria no Rio de Janeiro, que, às vésperas da
republicanos jacobinos e positivistas contra os antigos Proclamação da República, mandou fazer uma placa com o
liberais do regime monárquico. A violência das facções, nome “Confeitaria do Império” e agora temia desagradar
o terror indiscriminado e, sobretudo, o apelo a chavões ao novo regime. A ironia com que as dúvidas de Custódio
ideológicos como justificadores da ação bélica e repressiva são narradas representa o
antecipam as carnificinas do século XX cometidas em A) desconsolo popular com o fim da monarquia e a queda
nome de ideais progressistas ou reacionários. do imperador, uma personagem política idolatrada.
FRANCO, Sérgio da Costa. A guerra civil de 1893. B) respaldo da sociedade com que a Proclamação da
República contou e que a transformou numa revolução
Porto Alegre: Ed. da Universidade / UFRGS, 1993.
social.
A guerra civil descrita no texto foi a C) alheamento de parte da sociedade brasileira diante
A) Guerra do Contestado. do conteúdo ideológico da mudança política.
96 Coleção Estudo
República Provisória e da Espada
12. (UFSM-RS) A Constituição Brasileira de 1891 estabeleceu 15. (UFMG–2009) Observe a imagem:
a organização de um Estado Federal. Sobre o período
histórico e essa Constituição, pode-se afirmar que
A) efetivou a República federal presidencialista, através
da divisão dos três poderes e da transformação das
províncias em estados-membros com autonomia
relativa.
HISTÓRIA
imagem e ANALISE a mensagem política nela contida.
dessa revolução, é CORRETO afirmar que
2. ANALISE o papel dos militares no processo referido
A) o conflito, após longos anos de combate, terminou nessa imagem.
com a vitória dos federalistas, cuja hegemonia política
duraria até os anos 20 do século seguinte. 16. (UERJ–2010)
A) EXPLIQUE um fator que tenha levado os membros da A Proclamação da República no Brasil, em 1889,
Marinha a se rebelarem contra o governo de Floriano instituiu a necessidade de revisão dos símbolos
Peixoto. nacionais. A nova bandeira, por exemplo, expressou
rupturas e continuidades, bem como a valorização de
B) DESCREVA a situação política do Rio Grande do determinadas ideias para o novo regime. APONTE a
Sul durante esse governo, de forma a explicar a corrente político-filosófica que interferiu na remodelação
aproximação entre federalistas gaúchos e integrantes da bandeira brasileira e o argumento dessa corrente para
da Revolta da Armada. a condenação do regime monárquico.
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Frente B Módulo 16
SEÇÃO ENEM
GABARITO
01. (Enem–2009) A definição de eleitor foi tema de artigos
nas Constituições brasileiras de 1891 e de 1934. Diz a
Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil Fixação
de 1891: 01. E 02. B 03. C 04. C 05. B
Art. 70. São eleitores os cidadãos maiores de 21 anos
que se alistarem na forma da lei.
Propostos
A Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil
de 1934, por sua vez, estabelece que: 01. C 04. B 07. A 10. C 13. C
Art. 180. São eleitores os brasileiros de um e de outro 02. D 05. B 08. D 11. C
sexo, maiores de 18 anos, que se alistarem na forma da lei. 03. A 06. A 09. D 12. A
Ao se comparar os dois artigos, no que diz respeito ao
14. A) Considere uma, entre as explicações:
gênero dos eleitores, depreende-se que
• Descontentamento de oficiais da
A) a Constituição de 1934 avançou ao reduzir a idade Marinha, com a perda dos postos de
mínima para votar. destaque no cenário político nacional,
B) a Constituição de 1891, ao se referir a cidadãos, em detrimento dos oficiais do Exército.
referia-se também às mulheres.
• Eram contrários à posse de Floriano
C) os textos de ambas as Cartas permitiam que qualquer
Peixoto na Presidência, considerando-a
cidadão fosse eleitor.
inconstitucional por não haver
D) o texto da Carta de 1891 já permitia o voto feminino. transcorrido o período de dois anos do
E) a Constituição de 1891 considerava eleitores apenas mandato de Deodoro da Fonseca.
os indivíduos do sexo masculino.
B) Os dois grupos oligárquicos gaúchos – os
maragatos e os chimangos ou pica-paus –
02. (Enem–2010) divergiam quanto ao caráter da política nos
Para consolidar-se como governo, a República precisava níveis regional e nacional. Os maragatos
eliminar as arestas, conciliar-se com o passado monarquista, eram federalistas, defensores do liberalismo,
incorporar distintas vertentes do republicanismo. Tiradentes e acusados de simpatizantes da monarquia,
não deveria ser visto como herói republicano radical, mas levando o Governo Federal a apoiar os
sim como herói cívico-religioso, como mártir, integrador, chimangos, positivistas e defensores da
portador da imagem do povo inteiro. centralização política que caracterizava o
governo de Floriano Peixoto.
CARVALHO, J. M. C. A formação das almas: o imaginário da
República no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1990. 15. 1. A imagem ao fundo simboliza os militares
responsáveis pelo Golpe Republicano,
Ei-lo, o gigante da praça, / O Cristo da multidão!
representados na figura de Deodoro da
É Tiradentes quem passa / Deixem passar o Titão.
Fonseca. A mulher ao centro idealiza a
ALVES, C. Gonzaga ou a revolução de Minas. In: CARVALHO, imagem da República brasileira, indicada
J. M. C. A formação das almas: o imaginário da República no pela nova bandeira nacional influenciada
Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1990. pela ideologia positivista. A terceira figura
simboliza a monarquia em declínio, através
A 1ª República brasileira, nos seus primórdios, precisava
de um gesto de plena submissão à nova
constituir uma figura heroica capaz de congregar diferenças
ordem republicana.
e sustentar simbolicamente o novo regime. Optando pela
figura de Tiradentes, deixou de lado figuras como frei Caneca 2. O Exército, em processo de ascensão desde
ou Bento Gonçalves. A transformação do inconfidente em a Guerra do Paraguai, assumiu uma posição
herói nacional evidencia que o esforço de construção de um de destaque no cenário nacional e exigiu
simbolismo por parte da República estava relacionado maior participação nos destinos do país.
A) ao caráter nacionalista e republicano da Inconfidência, Nessa condição, os militares atuaram como
evidenciado nas ideias e na atuação de Tiradentes. elemento transformador da ordem política,
responsáveis pela derrubada da monarquia e
B) à identificação da Conjuração Mineira como o
pela implantação da República.
movimento precursor do positivismo brasileiro.
C) ao fato de a Proclamação da República ter sido um 16. O positivismo, que compreendia a monarquia
movimento de poucas raízes populares, que precisava como símbolo de atraso, identificando-a como
de legitimação. organização política arcaica, e a República como o
D) à semelhança física entre Tiradentes e Jesus, que regime que traria a modernização e o progresso.
proporcionaria, a um povo católico como o brasileiro,
uma fácil identificação. Seção Enem
E) ao fato de frei Caneca e Bento Gonçalves terem
liderado movimentos separatistas no Nordeste e no 01. E 02. C
Sul do país.
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