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As reproduções de desigualdades em um novo espaço social e as

iniciativas do Direito em regular tais espaços.


Vitor Alessandro Veiga Salazar1

Resumo: O soerguimento de uma nova ordem global que altera as


estruturas de sociabilidade transferindo para um novo e desconhecido campo as nossas
relações, exige mudanças também na forma como serão conduzidas essas novas
relações, as quais reproduzem e refletem violências e desigualdades raciais contínuas ao
longo do tempo. Lançar-se em busca de melhor compreender os fenômenos das redes
sociais e como estas impactam nossa vida em sociedade é um desafio pro Direito, o qual
se ajusta para promover direitos fundamentais na tentativa de alcançar relações mais
cidadãs e respeitosas, em que a pluralidade de subjetividades possam coexistir de
maneira mesmo se não pacífica, mas que garanta um dissenso respeitoso e não
supressor da alteridade.

Palavras Chaves: Redes Sociais, Racismo, Regulação, direitos fundamentais

1- INTRODUÇÃO

Os tempos atuais, trazidos pela pós-modernidade, chegam marcados pela


modificação na noção real de espaço-tempo com o encurtamento das distâncias e a
redução do tempo para se deslocar ou se comunicar com outras pessoas. Isso se deu pela
massificação de meios de comunicação, o que permite apagar fronteiras reais e criar
mundos imaginários e de convivência, onde a eficácia das normas se diluem e onde
mesmo a normatização de comportamentos pouco se faz. Mundos virtuais que se
transformam em verdadeiras terras sem leis, onde o desrespeito, bem como a
aniquilação do outro, por força de posturas, palavras e opiniões ocorrem
corriqueiramente.

1
Graduando em Direito pela Universidade de Brasília
Artigo de iniciação científica sob orientação da professora Ana Claudia Farranha
Deste modo é contraditório a manutenção de espaços virtuais excludentes, os
quais atentem contra a diversidade de pessoas, em uma democracia, cuja primazia das
garantias dos direitos fundamentais é uma ordem constitucional indispensável às
relações em sociedade. Neste sentido a importância de haver medidas regulatórias das
redes sociais é necessário na condução e concretização de políticas igualitárias que
condizem com a solidificação da Democracia.
O grande poder político das redes sociais é fato identificável e imensurável no
atual contexto político. Cabe, então, apurar se a possibilidade de ampliar a democracia
por meio do fazer político na internet produz mais cultura cívica, ou se junto a
possibilidade de ampliação do debate político tem-se, também, um espaço de
reproduções de preconceitos, racismos e discurso de ódios, os quais são
redimensionados pelo alcance dos meios virtuais, como também recriados.
Destarte, a analise da dimensão do racismo identificado no Facebook a partir da
Campanha Ah, branco dá um tempo e de casos emblemáticos como o sofrido pela atriz
Thaís Araújo, Sheron Menezes e pela jornalista Maria Júlia Coutinho, nesta mesma rede
social, é central para tatear as possibilidades de recriações das manifestações de
violência ( racismo, discurso de ódio, discriminações) que estão se tornando ordinárias,
neste meio. A partir disso , perceber qual tem sido o posicionamento do judiciário na
composição dessas novas lides, bem como evidenciar quais as medidas normativas
podem ser aplicadas a esses casos ou que outras propostas poderiam ser para a
regulamentação desse espaço. Assim, recorre-se a normativa relativa ao marco civil da
internet (Lei 12965/2014), que, no Brasil, aponta a um conjunto de princípios para a
regulação da internet. Além de orientações que estão sendo tomadas após as conclusões
da Comissão Parlamentar de Inquérito do Crimes Cibernéticos.

2. DESDOBRAMENTOS DA RECONFIGURAÇÃO DO ESPAÇO SOCIAL

Por volta da segunda metade do século XX, faz-se em curso a terceira revolução
industrial ou a revolução do meio técnico-científico-informacional, principalmente nos
antigos países imperialistas, que se tornaram, em sua maioria, os países desenvolvidos
ou centrais, todavia o que se observa é uma nova ordem mundial, em que a globalização
recrudesce, devido ao avanço das indústrias de tecnologia, como as de
telecomunicações, a comunicabilidade, a qual ultrapassa os limites territoriais dando um
tom de uniformidade, apesar das especificidades de cada região. Evidencia-se, pois,
uma nova ordem das relações estatais às relações interpessoais, em que há virtualização
dos espaços ganha primazia e reorienta a sociabilidade dos seres humanos.
Essa nova ordem das relações interpessoais, que traz à tona outras socializações,
ganha corpo no século XXI com as redes sociais. A primeira de grande sucesso no
Brasil ( a partir de 2004) foi o Orkut, depois a bem sucessão se espalha para uma
diversidade; Facebook, Twiter, whatssap, snapchat, que tomam de conta do imaginário
coletivo promovendo um série de alterações sociais como: do diálogo, por meio do ato
comunicativo, uma vez que a mensagem é transmitida virtualmente e com uma série de
artifícios (imagens, áudios, os vídeos), do fazer política, haja vista enorme abrangência
da mensagem propagada nessas redes e, dentre outros, o que mais nos chama a atenção
é a massificação das reproduções das opressões e violências contra as diversidades
étnicas, estéticas e éticas das pessoas. Fato que colide com qualquer status quo de
princípios inalienáveis em um Estado Democrático de Direito, como mesmo nos ensina
professor Menelick2:
No paradigma vigente, entretanto, a liberdade e a igualdade são
reinterpretadas como direitos que implicam, expressam e possibilitam
uma comunidade de princípios, composta por indivíduos que se
reconhecem como seres livres e iguais.

Destarte, é nítido para quaisquer indivíduos, os quais estejam conectadas nas


redes, que estas passam longe de sedimentar uma convivência ambientada em uma
comunidade constitucional e a grande dificuldade disto, faz-se na medida da
virtualização do espaço e na ambiguidade do afastamento ( pela ausência de contato
físico) promovendo as transferências, também, dos preconceitos, a partir das
desigualdades sociais, de gênero, de raça, de orientação sexual e etc. Nesse sentido
essas novas interações veem formulando novos conflitos, os quais desafiam as
tradicionais formas de regulação exigindo de novos dispositivos legais a eficiência de
promover uma convivência cívica nesses meios.
De mais e mais, inicia-se uma série de querelas, mas especificamente de ataques,
ofensas, injúrias, basicamente, de grupos hegemônicos contra grupos minoritários, ou
maiorias minorizadas, em termos políticos, em que a ambiência se torna as redes

2
CARVALHO NETTO, Menelick de. A hermenêutica constitucional sob o paradigma do

Estado Democrático de Direito. In: CATTONI DE OLIVEIRA, Marcelo Andrade (Coord.).

Jurisdição e hermenêutica constitucional no Estado Democrático de Direito. Belo Horizonte:

Mandamentos, 2004, p. 25-44.


sociais. Estas passam a ser palco de reproduções de preconceitos incrustados e velados
na sociedade, isso porque nelas se tem a impressão do anonimato e sobretudo da não
responsabilização pelas condutas. Por conseguinte as redes sociais possuem em seu viés
nocivo a degradante potencialidade de ir na contramão de preceitos e garantias
constitucionais, nos quais assentam uma sociedade democrática.
Com efeito, esta dimensão das redes sociais nos intui a pensar sobre o
questionamento do renomado filósofo americano Eugene Thacker ( apud COSTA), em
seu estudo “Redes, Enxames e Multidão”, o qual lança o seguinte questionamento:
“Estamos conectados porque somos um coletivo ou somos um coletivo porque estamos
conectados?” posteriori o filósofo afirma que coletividade está relacionada a possuir
objetivos e propósitos em comum, diferenciando assim de conectividade, que não prevê
tal exigência. Todavia, ao pensarmos em crimes cibernéticos, discursos de ódio, injúria
racial, em exposições públicas de montagem de fotos e comentários ofensivos,
apresentamos a dimensão disfórica das redes sociais, que vai de encontro com a ideia de
coletividade e se houver conexão, não excederá o status de on-line. Cria-se então um
sentimento anti-coletivo de não pertencimento, em que a conexão na rede lembrará que
os negros, continuam sendo negros e, só por isso, já são passíveis de todo azar da
violência permanente em nossa sociedade não exaurida nestes meios.
Há, com isto, uma evidente tensão que se concretiza nas redes sociais, qual seja,
a confusão entre o discurso de ódio e a liberdade de expressão, pois a coabitação de
ambos é insustentável nesse paradigma contemporâneo de Estado e os poderes
responsáveis na manutenção deste tem de se mover na tentativa de sanar e compor essas
novas lides de modo satisfatório. Não por acaso tem-se a intentona de melhor regulação
respeitando preceitos constitucionais basilares com o Marco Civil da internet, cujos
primados são o respeito a liberdade e a privacidade.
No entanto, observa-se uma grande dificuldade na efetividade das normas do
Marco Civil, não por causa deste, certamente, mas devido ao quesito desigualdade que
permeia o seio de nossas relações. Não há plena liberdade se não há igualdade material,
desta forma o uso da liberdade de expressão trará discursos ofensivos e odiosos,
porquanto as fendas das desigualdades serão um empecilho no reconhecimento mútuo
da identidade constitucional de cada grupo, de cada indivíduo. Não por acaso, emerge
junto às redes sociais uma séria de crimes contra a honra constituintes de discursos na
internet, que são justificados como um exercício a liberdade de expressão, sem contudo,
perceberem que evidenciar e intensificar uma assimetria social é ir contra uma lógica
garantidora da própria liberdade, como se o discurso de ódio fosse a radicalização de
um discurso que atenta contra o próprio sistema que o permite.
Portanto há uma dimensão das redes sociais, em que se encontra uma certa
permissividade para a perpetuação deste tipo de discurso, bem como outras formas de
violências contra a incolumidade física e moral de muitas pessoas, sobretudo, negras,
que veem sofrendo ataques e ofensas determinantes em suas vidas; afetiva, profissional,
psicológica, cujos danos são incomensuráveis na medida em que a rejeição de si mesmo
por si é uma constante em uma sociedade construída sobre a evidente desigualdade
racial e sob os discursos de harmonia entre as raças.

3. RACISMO NAS REDES SOCIAIS.

Com a vigência das redes sociais e as novas formas de sociabilidade, nota-se,


também, um cenário em que a roupagem das opressões muda, mantendo o conteúdo
violento e discriminatório. Traremos à tona o racismo na internet, como uma ideologia
estruturante que permite a perpetuação da assimetria racial tornando-se um grande
estorvo para o alcance da democracia e dos direitos basilares previstos na constituição.
Em casos emblemáticos e de como as autoridades legislativas estão se movimentando
para ceifar tais problemas.
Em julho de 2015, a jornalista Maria Julia Coutinho sofre ataques racistas nas
redes sociais, na página do facebook do jornal Nacional, ofensas como: “preta imunda”,
“ Só conseguiu emprego no Jorna Nacional por causa das cotas. Preta imunda”, “ Não
tenho tv colorida para ficar olhando essa preta não”, “ Por que preto não vira anjo?
Porque se criar asas vira morcego”, “ macaca”, “puta africana”, dentre outras agressões
à jornalista. Devido a posição social de Maju, houve uma maior visibilidade com a
hashtag SomosTodosMajuCoutinho, na tentativa de apoio e fortalecimento da vítima.
Em outubro de 2015, a atriz Taís Araújo, também, foi vítima de racismo em sua
página no facebook. Os agressores escreveram comentários abaixo de uma foto da atriz
com os seguintes teores: “ Cabelo de esfregão”, “Já voltou pra senzala?”, “Entrou na
globo pelas cotas”, “ Negra escrota”, “ Parece um animal”. Notadamente, esse caso teve
grande repercussão, houve uma mobilização de vários artistas em torno da hashtag
SomosTodosTaísAraújo.
Também, em dezembro de 2015, a atriz Sheron Menezes sofre agressões em
comentários racistas de uma foto em sua página no facebook, o conteúdos destes eram:
“ Se misturar, vira Nescau”, “ Munição de churrasqueira”, “ Não paguei a conta da
internet para ver tudo em preto e branco” e etc. Nota-se o teor e a intenção de ofender e
deslegitimar a humanidade de um ser humano com frases pejorativas que fraturam a
autoestima dessas pessoas negras.
Esses casos devido a influência das vítimas e a repercussão social foram parar na
Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática( DRCI), onde motivou uma
operação comandada pela polícia civil do Rio de Janeiro que contou com a ajuda de
outras em estados diferentes, uma vez que os delitos foram cometido por associações
criminosas de pessoas em vários estados do Brasil, foram detidos, até o presente
momento, 4 suspeitos e um menor de idade. Observa-se um desafio trazidos pelos
crimes cibernéticos a multiplicidade do lugar do crime, o qual se apresenta em vários
espaços virtuais, já que as redes sociais ultrapassam os limites de quaisquer fronteiras.
Ademais vem o questionamento se a individualização da pena ou mesmo se a pretensa
punitiva do Estado gera consequências eficazes no combate ao racismo.
Nesse sentido, percebe-se também uma certa semelhança nas ofensas sofridas
por pessoas negras, como a comparação com animal, a afirmação da incapacidade
intelectual, comentários relacionando a cor com a da falta de higiene, comentários
remetendo uma animalização e reificação racista atribuídas historicamente às pessoas
negras.
Para não irmos tão longe, em julho de 2015 também aconteceu ataques racistas à
estudantes negros da Universidade de Brasília, ocasião em que a estudante de ciências
sociais e youtuber, Lorena Monique, realizava uma campanha de fotos, na qual
estudantes negros exibiam em uma placa frases racistas que já haviam ouvido, numa
tentativa de denúncia ao racismo velado de todo dia e aproveitando a enorme
abrangência que as redes sociais poderiam dar à campanha. Todavia ao serem expostas
no facebook, as fotos da campanha foram alteradas, tendo seus conteúdos modificados
em um viés que afirmava estereótipos negativos e ditados injuriosos às pessoas negras.
Como mais um procedimento que vem sendo tomado, a denúncia foi aceita pelo
Ministério Público, o qual promoveu o bloqueio do site onde as imagens foram
remontadas e está tentando a identificação dos infratores. A ineficácia desse
procedimento é clara, já que outros sites e páginas são criados facilmente permitindo
outros ambientes de reproduções de violência.
Segundo a ONG Safernet Brasil, que controla a Central Nacional de Denúncia a
Crimes Cibernéticos, recebeu, em 2013, 78.690 denúncias de racismo, sendo este o
segundo crime mais denunciado( mas que vem apresentando o maior crescimento anual)
perdendo somente para o crime de pornografia infantil que recebeu 80.195, neste
mesmo ano. Entre o ano de 2006 a 2013 foram registrados 383.372 denúncias de
racismo, envolvendo 51.649 páginas distintas. Nos primeiros quatro anos da pesquisa o
crime de racismo era o quarto maior denunciado, pulando para segunda posição em
2013, apesar de ter diminuído a quantidade de páginas de veiculação de conteúdos
ofensivos, as denúncias aumentaram, logo o bloqueio de páginas e sites não levarão a
redução de crime cometido.

4. INSTRUMENTOS REGULATÓRIO DAS REDES SOCIAIS

O principal instrumento regulador das redes sociais, devido a sua consonância


aos ideários do Estado Democrático de Direito, é o Marco Civil da Internet, lei nº
12.965/14, cuja preocupação com a proteção dos direitos fundamentais do usuário se faz
evidente, resguardando a privacidade, a intimidade, o sigilo de comunicações dos
usuários, bem como o exercício da liberdade nesses meios. Certamente, o Marco Civil é
uma forte possibilidade, apesar de não dá conta do uso perverso, que muitas vezes
fazem os usuários, na utilização desses direito, como a liberdade. Todavia, restringi-la,
tampouco, ensinariam-nos ao bom uso, porquanto o problema está no nascedouro das
relações sociais que reproduzimos.
Com a efervescência e a crescente exponencial do uso dos meios virtuais na
primeira década do século XXI, a lei nº 12.965/2014 surge devido a ausência de uma
legislação que normatizasse o uso de usuários e provedores, bem como em resposta aos
inúmeros( ao todo 26) projetos de lei, que tramitavam no Congresso Nacional no ano
de 2009, principalmente o PL 84/99, conhecido como AI 5 digital, de autoria do então
senador Eduardo Azeredo, cujos pontos mais polêmicos eram a criminalização e a
identificação obrigatória dos ofensores na internet com a guarda dos registros de
navegação pelos provedores.
Apesar do Marco Civil tentar se contrapor a esse Projeto de Lei, não foi
suficiente para barrar a onda punitivista no trato dos conflitos nas redes sociais, pois
aquele Pl se tornou lei e fomentou a formação da Comissão Parlamentar de Inquérito
dos Crimes Cibernéticos, cujo relatório final foi apresentado em março de 2016, e que
apresenta uma guinada a um autoritarismo judicial em detrimento a responsabilizações
civis concernentes a lei 12965/14.
O relatório final desta CPI apresenta conclusões que legitimam, em prol de uma
suposta educação nas redes sociais, medidas extremadas como: as de bloqueios de sites,
páginas e aplicativos, invasões de contas de usuários, criações de varas criminais
especializadas, a inserção de alguns crimes cibernéticos no rol de crimes hediondos e a
alteração em leis, a fim de um maior enrijecimento punitivo como a de lavagem de
dinheiro, a lei de organizações criminosas e o próprio Marco civil da internet. Se a
instrumentalização do Direito Penal fosse resolutiva não só dos conflitos mas também
promovesse uma maior civilidade nas rede, não haveria em nada de se obstar, todavia é
patente que a particularização e punição de cada caso em nada penetra o cerne
problemático das reproduções de violências.
Todas aquelas medidas elencadas para uma suposta contenção dos conflitos nos
meios virtuais são imediatistas e de promoção de uma resposta social, que poderia ser
alcançada por responsabilizações no âmbito civil, mantendo princípios limitadores de
um Estado policialesco em benefício da proteção dos direitos de cada usuário. O
problema não está na rede ou nos sites ou páginas do facebook, mas sim na negligência
e aceitação em não enxergar uma sociedade que segrega as pessoas meramente por seu
fenótipo ou por sua etnia.

5. CONCLUSÃO

Da análise do fomento de novos projetos de lei e mesmo das conclusões da CPI


dos crimes cibernéticos( que acabam por influenciar novas legislações, para os que
enxergam o problema na falta de legislação e não na efetividade normativa) constata-se
uma maior restrição da liberdade de expressão individual e espacial, uma vez que
medidas de bloqueios de sites passam a serem legitimadas. Percebe-se, pois, a ausência
de ponderação no trato com os discursos de ódio e a liberdade de expressão, ao passo
que esta é ceifada e aquele se redimensiona em outro espaço do meio virtual, violando o
art. 2° da lei 12965/2014.
É notório também um avanço da escalada punitivista com as decisões de juízes
de bloqueamento de sites e aplicativos( este passa a ter seu bloqueio proibido, se for de
caráter de envio de mensagens instantâneas) sem tocar de fato o cerne dos problemas
das discriminações e desrespeitos nestes meios. Permitindo que a criminalização de
espaços se sobreponha sobre as condutas de pessoas cometidas neles.
A campanha Ah, branco dá um tempo é um exemplo que políticas policialescas
de criminalização de sites, invasão de computadores e censuras de conteúdos não
combatem a real faceta do racismo e das discriminações contra minorias, pois os espaço
virtual é facilmente recriado e outros meios são criados diuturnamente. Portanto,
apostar nos direitos e garantias dos usuários, como atesta o art. 7 da lei supracitada, é
traçar uma internet cidadã e livre, em que as sanções sejam mais efetivas na tentativa de
gerar respeito e não mais ódio na convivência.
Desta forma, observa-se a necessidade de uma reorientação de nossos
legisladores em pensar a efetividade das normas que já existem, as quais muito bem
regulam, como o marco civil, apesar de não possuir força normativa. Algumas
reformulações na própria lei são cabíveis já que a tecnologia informacional avança em
uma velocidade bem mais rápida do que a própria criação de um novo projeto.
Combater discursos de ódios com medidas punitivistas sem um mínimo nexo
causal entre a conduta delitiva e a sanção penal é incorrer no erro de não ter o Direito
Penal como a ultima ratio, gerando mais violência e resignificando os meios desses
discursos. Por conseguinte, pensar a internet com uma terra de lei, não é querer que a
mesma seja um espaço sem liberdade, privacidade, sem uma proteção de sigilo, mas sim
um espaço em que estas garantias basilares a um ser humano sejam asseguradas e
devidamente respeitadas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. SANTOS, Milton. Por uma outra globalização: Do pensamento único à
consciência universal. 6. ed. São Paulo: Record, 2001.
2. ARAUJO, Beatriz Pozzobon. Redes sociais na Internet e novas formas de
sociabilidade: Um estudo do Facebook. Intercom – Sociedade Brasileira de
Estudos Interdisciplinares da Comunicação XIII Congresso de Ciências da
Comunicação na Região Sul – Chapecó – SC, 2012.

3. COSTA, Rogério da. Os afetos de rede: individualismo conectado ou


interconexão do coletivo? IARA - Revista de Moda, Cultura e Arte. v.4,
n.1/2011. Disponível em:
http://www.iararevista.sp.senac.br/arquivos/noticias/arquivos/178/anexos/PDF.p
df. Acesso em: 25 de outubro de 2011.
.
4. POTIGUAR, Alex Lobato. DISCURSO DO ÓDIO NO ESTADO
DEMOCRÁTICO DE DIREITO: o uso da liberdade de expressão como forma
de violência. Brasília, 2015. Tese ( Doutorado)- Universidade de Brasília, 2015.

5. CARVALHO NETTO, Menelick de. A hermenêutica constitucional sob o


paradigma doEstado Democrático de Direito. In: CATTONI DE OLIVEIRA,
Marcelo Andrade (Coord.).Jurisdição e hermenêutica constitucional no Estado
Democrático de Direito. Belo Horizonte Mandamentos, 2004.

6. http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2016/03/1750488-policia-tenta-prender-
autores-de-mensagens-racistas-contra-tais-araujo.shtml.

7. http://televisao.uol.com.br/noticias/redacao/2015/07/03/famosos-saem-em-
defesa-de-maju-apos-jornalista-sofrer-ataque-racista-na-web.htm.

8. http://revistadonna.clicrbs.com.br/gente/sheron-menezzes-e-alvo-de-racismo-
em-rede-social-e-responde-comentarios.
9. http://atarde.uol.com.br/bahia/noticias/racismo-e-o-segundo-crime-mais-
denunciado-na-internet-1618809
10. http://www.compolitica.org/home/wp-content/uploads/2013/05/GT04-Internet-
e-politica-RafaelCardosoSampaio.pdf
11. http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=14471
25&filename=Tramitacao-RCP+10/2015

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