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caderno do

PROFESSOR

HISTÓRIA
ensino médio
2a SÉRIE
volume 1 - 2009
Coordenação do Desenvolvimento dos Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Conteúdos Programáticos e dos Cadernos dos Arte: Geraldo de Oliveira Suzigan, Gisa Picosque,
Professores Jéssica Mami Makino, Mirian Celeste Martins e
Ghisleine Trigo Silveira Sayonara Pereira

AUTORES Educação Física: Adalberto dos Santos Souza,


Jocimar Daolio, Luciana Venâncio, Luiz Sanches
Ciências Humanas e suas Tecnologias Neto, Mauro Betti e Sérgio Roberto Silveira
Filosofia: Paulo Miceli, Luiza Christov, Adilton LEM – Inglês: Adriana Ranelli Weigel Borges, Alzira
Luís Martins e Renê José Trentin Silveira da Silva Shimoura, Lívia de Araújo Donnini Rodrigues,
Geografia: Angela Corrêa da Silva, Jaime Priscila Mayumi Hayama e Sueli Salles Fidalgo
Tadeu Oliva, Raul Borges Guimarães, Regina Língua Portuguesa: Alice Vieira, Débora Mallet
Araujo, Regina Célia Bega dos Santos e Pezarim de Angelo, Eliane Aparecida de Aguiar,
Sérgio Adas José Luís Marques López Landeira e João Henrique
História: Paulo Miceli, Diego López Silva, Nogueira Mateos
Governador Glaydson José da Silva, Mônica Lungov Bugelli e Matemática
José Serra Raquel dos Santos Funari
Matemática: Nílson José Machado, Carlos
Sociologia: Heloisa Helena Teixeira de Souza Eduardo de Souza Campos Granja, José Luiz Pastore
Martins, Marcelo Santos Masset Lacombe, Mello, Roberto Perides Moisés, Rogério Ferreira da
Vice-Governador Melissa de Mattos Pimenta e Stella Christina Fonseca, Ruy César Pietropaolo e Walter Spinelli
Alberto Goldman Schrijnemaekers
Caderno do Gestor
Secretária da Educação Ciências da Natureza e suas Tecnologias
Maria Helena Guimarães de Castro Lino de Macedo, Maria Eliza Fini e Zuleika de Felice
Biologia: Ghisleine Trigo Silveira, Fabíola Bovo Murrie
Secretária-Adjunta Mendonça, Felipe Bandoni de Oliveira, Lucilene
Iara Gloria Areias Prado Aparecida Esperante Limp, Maria Augusta Equipe de Produção
Querubim Rodrigues Pereira, Olga Aguilar Coordenação Executiva: Beatriz Scavazza
Chefe de Gabinete Santana, Paulo Roberto da Cunha, Rodrigo
Fernando Padula Venturoso Mendes da Silveira e Solange Soares Assessores: Alex Barros, Antonio Carlos Carvalho,
de Camargo Beatriz Blay, Carla de Meira Leite, Eliane Yambanis,
Coordenadora de Estudos e Normas Ciências: Ghisleine Trigo Silveira, Cristina Heloisa Amaral Dias de Oliveira, José Carlos
Pedagógicas Leite, João Carlos Miguel Tomaz Micheletti Neto, Augusto, Luiza Christov, Maria Eloisa Pires Tavares,
Valéria de Souza Julio Cézar Foschini Lisbôa, Lucilene Aparecida Paulo Eduardo Mendes, Paulo Roberto da Cunha,
Esperante Limp, Maíra Batistoni e Silva, Maria Pepita Prata, Renata Elsa Stark, Solange Wagner
Coordenador de Ensino da Região Augusta Querubim Rodrigues Pereira, Paulo Locatelli e Vanessa Dias Moretti
Metropolitana da Grande São Paulo Rogério Miranda Correia, Renata Alves Ribeiro, Equipe Editorial
José Benedito de Oliveira Ricardo Rechi Aguiar, Rosana dos Santos Jordão,
Coordenação Executiva: Angela Sprenger
Simone Jaconetti Ydi e Yassuko Hosoume
Coordenadora de Ensino do Interior Assessores: Denise Blanes e Luis Márcio Barbosa
Aparecida Edna de Matos Física: Luis Carlos de Menezes, Sonia Salem,
Estevam Rouxinol, Guilherme Brockington, Ivã Projeto Editorial: Zuleika de Felice Murrie
Presidente da Fundação para o Gurgel, Luís Paulo de Carvalho Piassi, Marcelo de
Edição e Produção Editorial: Conexão Editorial,
Desenvolvimento da Educação – FDE Carvalho Bonetti, Maurício Pietrocola Pinto de
Buscato Informação Corporativa, Verba Editorial e
Fábio Bonini Simões de Lima Oliveira, Maxwell Roger da Purificação Siqueira e
Occy Design (projeto gráfico)
Yassuko Hosoume
Química: Denilse Morais Zambom, Fabio APOIO
Luiz de Souza, Hebe Ribeiro da Cruz Peixoto, FDE – Fundação para o Desenvolvimento da
Isis Valença de Sousa Santos, Luciane Hiromi Educação
Akahoshi, Maria Eunice Ribeiro Marcondes,
EXECUÇÃO Maria Fernanda Penteado Lamas e Yvone CTP, Impressão e Acabamento
Mussa Esperidião Imprensa Oficial do Estado de São Paulo
Coordenação Geral
Maria Inês Fini
Concepção
Guiomar Namo de Mello A Secretaria da Educação do Estado de São Paulo autoriza a reprodução do conteúdo do material de sua titularidade pelas demais
Lino de Macedo secretarias de educação do país, desde que mantida a integridade da obra e dos créditos, ressaltando que direitos autorais protegi-
Luis Carlos de Menezes dos* deverão ser diretamente negociados com seus próprios titulares, sob pena de infração aos artigos da Lei no 9.610/98.
Maria Inês Fini * Constituem “direitos autorais protegidos” todas e quaisquer obras de terceiros reproduzidas no material da SEE-SP que não
Ruy Berger estejam em domínio público nos termos do artigo 41 da Lei de Direitos Autorais.

GESTÃO
Fundação Carlos Alberto Vanzolini Catalogação na Fonte: Centro de Referência em Educação Mario Covas

Presidente do Conselho Curador: São Paulo (Estado) Secretaria da Educação.


Antonio Rafael Namur Muscat S239c Caderno do professor: história, ensino médio - 2a série, volume 1 / Secretaria
da Educação; coordenação geral, Maria Inês Fini; equipe, Diego López Silva,
Presidente da Diretoria Executiva:
Mauro Zilbovicius
Glaydson José da Silva, Mônica Lungov Bugelli, Raquel dos Santos Funari, Paulo
Miceli. – São Paulo : SEE, 2009.
Diretor de Gestão de Tecnologias
aplicadas à Educação: ISBN 978-85-7849-197-0
Guilherme Ary Plonski
1. História 2. Ensino Médio 3. Estudo e ensino I. Fini, Maria Inês. II. Silva,
Coordenadoras Executivas de Projetos:
Beatriz Scavazza e Angela Sprenger Diego López. III. Silva, Glaydson José da. IV. Bugelli, Mônica Lungov. V. Funari,
Raquel dos Santos. VI. Miceli, Paulo. VII. Título.
COORDENAÇÃO TÉCNICA
CDU: 373.5:93/99
CENP – Coordenadoria de Estudos e Normas
Pedagógicas
Prezado(a) professor(a),

Dando continuidade ao trabalho iniciado em 2008 para atender a uma das


prioridades da área de Educação neste governo – o ensino de qualidade –, enca-
minhamos a você o material preparado para o ano letivo de 2009.

As orientações aqui contidas incorporaram as sugestões e ajustes sugeridos


pelos professores, advindos da experiência e da implementação da nova pro-
posta em sala de aula no ano passado.

Reafirmamos a importância de seu trabalho. O alcance desta meta é concre-


tizado essencialmente na sala de aula, pelo professor e pelos alunos.

O Caderno do Professor foi elaborado por competentes especialistas na área


de Educação. Com o conteúdo organizado por disciplina, oferece orientação
para o desenvolvimento das Situações de Aprendizagem propostas.

Esperamos que você aproveite e implemente as orientações didático-peda-


gógicas aqui contidas. Estaremos atentos e prontos para esclarecer dúvidas ou
dificuldades, assim como para promover ajustes ou adaptações que aumentem
a eficácia deste trabalho.

Aqui está nosso novo desafio. Com determinação e competência, certamen-


te iremos vencê-lo!

Contamos com você.

Maria Helena Guimarães de Castro


Secretária da Educação do Estado de São Paulo
Sumário
São Paulo faz escola – Uma Proposta Curricular para o Estado 5
Ficha do Caderno 7
Orientação sobre os conteúdos do bimestre 8
Situações de Aprendizagem 13

Situação de Aprendizagem 1 – Que mundo é esse? 13

Situação de Aprendizagem 2 – As indulgências e os protestantes 23

Situação de Aprendizagem 3 – A Utopia, O Príncipe e a Cocanha 30

Situação de Aprendizagem 4 – Interações culturais 36


Considerações finais 44
SãO PAUlO FAz ESCOlA – UMA PrOPOStA
CUrriCUlAr PArA O EStAdO

Prezado(a) professor(a),

É com muita satisfação que apresento a todos a versão revista dos Cadernos
do Professor, parte integrante da Proposta Curricular de 5a a 8a séries do Ensino
Fundamental – Ciclo II e do Ensino Médio do Estado de São Paulo. Esta nova versão
também tem a sua autoria, uma vez que inclui suas sugestões e críticas, apresentadas
durante a primeira fase de implantação da proposta.

Os Cadernos foram lidos, analisados e aplicados, e a nova versão tem agora a


medida das práticas de nossas salas de aula. Sabemos que o material causou excelente
impacto na Rede Estadual de Ensino como um todo. Não houve discriminação.
Críticas e sugestões surgiram, mas em nenhum momento se considerou que os
Cadernos não deveriam ser produzidos. Ao contrário, as indicações vieram no sentido
de aperfeiçoá-los.

A Proposta Curricular não foi comunicada como dogma ou aceite sem restrição.
Foi vivida nos Cadernos do Professor e compreendida como um texto repleto de
significados, mas em construção. Isso provocou ajustes que incorporaram as práticas
e consideraram os problemas da implantação, por meio de um intenso diálogo sobre
o que estava sendo proposto.

Os Cadernos dialogaram com seu público-alvo e geraram indicações preciosas


para o processo de ensino-aprendizagem nas escolas e para a Secretaria, que gerencia
esse processo.

Esta nova versão considera o “tempo de discussão”, fundamental à implantação


da Proposta Curricular. Esse “tempo” foi compreendido como um momento único,
gerador de novos significados e de mudanças de ideias e atitudes.

5
Os ajustes nos Cadernos levaram em conta o apoio a movimentos inovadores, no
contexto das escolas, apostando na possibilidade de desenvolvimento da autonomia
escolar, com indicações permanentes sobre a avaliação dos critérios de qualidade da
aprendizagem e de seus resultados.

Sempre é oportuno relembrar que os Cadernos espelharam-se, de forma objetiva, na


Proposta Curricular, referência comum a todas as escolas da Rede Estadual, revelando
uma maneira inédita de relacionar teoria e prática e integrando as disciplinas e as
séries em um projeto interdisciplinar por meio de um enfoque filosófico de Educação
que definiu conteúdos, competências e habilidades, metodologias, avaliação e recursos
didáticos.

Esta nova versão dá continuidade ao projeto político-educacional do Governo de


São Paulo, para cumprir as 10 metas do Plano Estadual de Educação, e faz parte das
ações propostas para a construção de uma escola melhor.

O uso dos Cadernos em sala de aula foi um sucesso! Estão de parabéns todos os que
acreditaram na possibilidade de mudar os rumos da escola pública, transformando-a
em um espaço, por excelência, de aprendizagem. O objetivo dos Cadernos sempre será
apoiar os professores em suas práticas de sala de aula. Posso dizer que esse objetivo
foi alcançado, porque os docentes da Rede Pública do Estado de São Paulo fizeram
dos Cadernos um instrumento pedagógico com vida e resultados.

Conto mais uma vez com o entusiasmo e a dedicação de todos os professores, para
que possamos marcar a História da Educação do Estado de São Paulo como sendo
este um período em que buscamos e conseguimos, com sucesso, reverter o estigma
que pesou sobre a escola pública nos últimos anos e oferecer educação básica de
qualidade a todas as crianças e jovens de nossa Rede. Para nós, da Secretaria, já é
possível antever esse sucesso, que também é de vocês.

Bom ano letivo de trabalho a todos!

Maria inês Fini


Coordenadora Geral
Projeto São Paulo Faz Escola

6
FiCHA dO CAdErnO
nome da disciplina: História

área: Ciências Humanas e suas Tecnologias

Etapa da educação básica: Ensino Médio

Série: 2a

Período letivo: 1o bimestre de 2009

temas e conteúdos: Renascimento, Reforma e Contrarreforma


Religiosa
Formação dos Estados absolutistas europeus

Encontros entre europeus e as civilizações da


África, Ásia e América

7
OriEntAçãO SObrE OS COntEúdOS dO biMEStrE
Caro(a) professor(a), opiniões sobre seus legados a partir da avalia-
ção dos papéis que desempenharam no contex-
Os estudos de História na 2a série do En- to de suas épocas.
sino Médio começam com a Idade Moderna
europeia. As transformações culturais e tec- Assim, caro professor, um dos objetivos
nológicas promovidas pelo Renascimento, a deste Caderno é colaborar com o desenvolvi-
reforma da religiosidade cristã e a formação mento de suas aulas e avaliações. As sugestões
da base política das monarquias absolutistas aqui colocadas visam a auxiliar a realização de
europeias são os temas que devem nortear Situações de Aprendizagem em sala de aula re-
as atividades escolares para o estudo desse lacionadas aos temas do bimestre. Apresenta-
período, cuja importância para a história remos, a seguir, os conhecimentos que devem
ocidental decorre, em síntese, de ter sido o ser priorizados, as competências e habilidades
momento em que os europeus ampliaram focadas, as metodologias que podem ser uti-
ou estabeleceram contatos com civilizações lizadas e, por último, sugestões de avaliações
distantes, como as africanas, as asiáticas e para ser aplicadas ao término das atividades
as indígenas americanas. As trocas culturais sugeridas ou nas provas realizadas no bimes-
e comerciais, os conflitos e as miscigenações tre. Entretanto, é fundamental que você se sin-
populacionais tiveram lugar, interligando ta à vontade para adaptá-las ao seu contexto
povos e culturas, para formar um novo pa- escolar, às suas necessidades, assim como ao
radigma socioeconômico: o capitalismo mer- perfil de seus alunos. Tenha um bom bimestre!
cantilista, responsável pela constituição de

© Science Source / Photo Researchers, Inc/Latinstock


um mercado mundial, assentado no comér-
cio de especiarias e de escravos.

As Situações de Aprendizagem aqui sugeri-


das buscam enfatizar a importância dos estudos
sobre essa época intrigante, quando começa-
ram a se formar e a se desenvolver o sistema
econômico e social no qual nos situamos hoje,
bem como as religiões cristãs protestantes além
dos transportes intercontinentais, os cânones
artísticos soberanos até o século XIX, entre
outros. Nessa época também projetaram-se
personagens que ainda hoje inspiram paixões
e ódios, como Leonardo da Vinci, Hernán
Cortez, Cristóvão Colombo, Martinho Lutero
e Luís XIV. Além de estarem sempre presentes
no imaginário e na mídia contemporâneos, es-
sas personalidades despertam um grande inte-
resse nos alunos, podendo, portanto, suscitar
intrigantes discussões na sala de aula. Os de-
bates podem, por exemplo, levar à formação de Provável autorretrato de Leonardo da Vinci.

8
História – 2a série, 1o bimestre

Conhecimentos priorizados O estudo da Reforma Religiosa, por sua


vez, deve priorizar, em primeiro lugar, o con-
O primeiro tema a ser estudado é o Renas- texto de seu surgimento, no qual destacam-se
cimento Cultural, período muito fértil da pro- suas relações com o desenvolvimento intelec-
dução intelectual ocidental caracterizado por tual renascentista, o individualismo e o an-
transformações que atingiram profundamente tropocentrismo, bem como a formação dos
as artes e outras importantes manifestações do Estados Modernos, quando foi reduzido o
pensamento, como a Filosofia, a Matemática, poder político da Igreja Católica. Em segundo
a Astronomia e a Literatura. O trabalho com lugar, por se tratar de um movimento de opo-
os conteúdos aqui indicados deve ser centrado sição a dogmas da Igreja, como o acesso res-
no processo de racionalização do pensamento trito à Bíblia e à cobrança de indulgências, a
erudito europeu, que levou à criação de mo- Reforma culminou com a formação de novas
delos de representação do mundo – seja na doutrinas, como o luteranismo, o calvinismo
cartografia, seja na pintura – mais fiéis à reali- e o anglicanismo. Aqui deve-se enfatizar o es-
dade: a perspectiva matemática na pintura, o tudo dessas doutrinas devido às fortes influên-
heliocentrismo e a cartografia mais precisa são cias que exerceram na história da cristandade
exemplos de tal processo. O antropocentrismo ocidental.
coloca-se como outro tópico importante, pois
altera a percepção do homem em relação ao A Contrarreforma, consequência direta
mundo sem desconsiderar, contudo, a religio- dos questionamentos levantados em relação à
sidade. Igreja Católica nos séculos XV e XVI, rees-
truturou a ação da Igreja diante da perda de
Ressalta-se que o Renascimento não deve poder e prestígio, e pode ser tratada como um
ser entendido como um movimento de ruptu- evento tanto transformador da doutrina ca-
ra total, pois foram mantidos alguns laços de tólica – uma vez que propiciou o surgimento
continuidade com a cultura medieval. Tam- dos jesuítas e do Tribunal do Santo Ofício, so-
pouco se trata de um movimento de massas, lidificando suas práticas – quanto revelador
pois ficou restrito a grupos de intelectuais e de um posicionamento conservador, bastante
políticos. característico da Igreja em outros momentos
semelhantes ocorridos ao longo da História.
No que se refere à motivação de seus alunos,
convém lembrar que os estudos sobre o tema Em resumo, no que se refere à Reforma,
tornam-se muito mais ricos e atraentes quan- “Lutero não lutou simplesmente com a Igre-
do são desenvolvidos com o uso de imagens de ja por considerá-la doente e corrupta, mas sim
pinturas e mapas da época. Tais obras foram por considerá-la anticristã e diabólica. Por-
concebidas a partir de importantes cânones ar- que, no seu ponto de vista, a religião papista
tísticos, cartográficos e astronômicos que, ain- não deixava ‘Deus ser Deus’ [...]; a sua con-
da hoje, influenciam o conhecimento ocidental, cepção da salvação, baseada na sua visão de
fornecendo as bases para a compreensão do Deus, marcou tanto uma inovação total como
individualismo, da consideração da natureza o que ele considerava um retorno igualmente
como paradigma de beleza, da importância da revolucionário à Igreja mais primitiva”1.
difusão do livro e da praticidade do pensamen-
to técnico, concretizado no desenvolvimento de As reações da população ao surgimento das
diversas invenções tecnológicas. religiões protestantes foram violentas de am-

1
ELTON, G. R. A Europa durante a Reforma: 1517-1559. Lisboa: Editorial Presença, 1982. p. 220-221.

9
bos os lados. Assim como os católicos atiraram outros continentes, como África, Ásia e poste-
protestantes na fogueira, Calvino executou os riormente América.
“hereges” seguidores de Roma, Lutero acatou
a execução dos anabatistas no Sacro Império Na verdade, sabe-se que os encontros entre
Romano Germânico, e Henrique VIII travou tais povos e culturas têm uma história muito
“cruzadas” contra os que se opuseram à impo- longa, mas aqui pode-se desconsiderar o pe-
sição da Igreja Anglicana. Alguns eventos mar- ríodo pré-medieval, quando europeus, asiáti-
cantes podem ser explorados por você, como a cos e africanos já haviam mantido contato, a
Noite de São Bartolomeu, que se mistura à for- fim de manter o foco nas relações estabeleci-
mação política do reino francês – na verdade, das pelo comércio a partir do século XIII. As
foram quatro noites de carnificina nas ruas de viagens de Marco Polo são um bom exemplo
Paris, que serviram de palco para as batalhas dessas relações. O foco também deve ser man-
entre católicos e huguenotes calvinistas. tido na reativação das rotas comerciais e dos
contatos entre Europa e Oriente, ocorridos
O terceiro tema indicado é a formação dos nos séculos seguintes, exemplificados pelas
Estados absolutistas europeus, resultado dire- Cruzadas. Com os povos africanos, ao sul da
to da modernização capitalista e dos proces- região saariana, os contatos deram-se princi-
sos de centralização política na região. O palmente a partir do século XV, por conta das
estudo desse tema pode ser desdobrado em navegações portuguesas, ocorrendo o mesmo
duas Situações de Aprendizagem: na Situação com os indianos no final desse século.
de Aprendizagem 3 são trabalhados textos dos
filósofos que justificaram ou debateram o po- No caso dos povos americanos, os con-
der dos reis, como Thomas Hobbes, Jacques tatos começaram com as descobertas espa-
Bossuet, Jean Bodin e Nicolau Maquiavel. A nholas e portuguesas no final do século XV
análise das ideias desses autores é muito im- e início do XVI. Trabalhar esse tema requer
portante e enriquecedora, pois trazem ao de- um posicionamento consistente sobre ques-
bate questões atuais e fundamentais sobre tões de alteridade, orientado por debates que
ética e política. permitam caminhar contra a discriminação
de culturas tribais. Questione com os alunos
Na Situação de Aprendizagem 3 deve-se conceitos muito consolidados para eles, como
priorizar um breve histórico das monarquias “evolução”, “progresso” e “tecnologia”, res-
absolutistas portuguesa e espanhola, úteis ponsáveis pela construção de uma escala de
para a compreensão da colonização da Amé- valores que coloca como ápice a sociedade
rica – tema a ser estudado a seguir, no segun- urbana tecnicista e menospreza saberes locais
do bimestre –, e em seguida das monarquias de povos que, com base no senso comum, são
inglesa e francesa, para embasar os estudos considerados primitivos. Aqui não se propõe
sobre o Iluminismo, que também serão desen- a construção de um discurso leviano, defensor
volvidos no segundo bimestre. de uma homogeneização absoluta, mas que
as particularidades sejam valorizadas e que
Para o fechamento do bimestre, na Situa- o “outro” seja olhado apenas como diferente,
ção de Aprendizagem 4, você pode concentrar não como alguém inferior ou mesmo superior.
as atenções em um estudo de caráter históri- Com isso, além de incentivar o respeito à di-
co e antropológico: as relações ampliadas ou versidade, você também despertará em seus
estabelecidas entre os europeus e os povos de alunos o interesse por culturas diferentes.

10
História – 2a série, 1o bimestre

Competências e habilidades pois. Por que dar voz a tal documento? O que
o torna especial naquele momento e no tempo
As competências priorizadas nesse bimes- presente? Quais perguntas devemos fazer a ele?
tre, retiradas da matriz do Enem2 e que ser-
virão de guia para o desenvolvimento das Outro importante recurso de que você
Situações de Aprendizagem, são: pode lançar mão são os materiais disponíveis
na mídia. Não se pode esquecer, contudo, que
I. valorizar a diversidade dos patrimô- com o bombardeamento de informações, “o
nios etnoculturais e artísticos, identi- indivíduo tem toda a liberdade de escolher
ficando-a em suas manifestações e re- aquilo que quer saber, mas ele não tem refe-
presentações em diferentes sociedades, rências para julgar se aquilo que encontra é
épocas e lugares. necessário, útil ou correto”3. Por isso, um dos
principais objetivos das Situações de Apren-
II. construir e aplicar conceitos das várias dizagem é levar o aluno a situar-se conscien-
áreas do conhecimento para a com- temente nas discussões encontradas em seu
preensão de fenômenos naturais, pro- cotidiano, e não apenas desenvolver a capaci-
cessos histórico-geográficos, produção dade de compreender pequenos trechos relati-
tecnológica e manifestações artísticas. vos ao conteúdo estudado.

III. relacionar informações, representadas Em geral busca-se, de maneira lúdica e


em diferentes formas, e conhecimen- prática, apresentar conteúdos cuja compreen-
tos disponíveis em situações concretas são e entendimento sejam construídos pelo
para construir argumentação consis- diálogo constante entre mestres e alunos,
tente. alunos e alunos, e mestres consigo mesmos,
em um processo de aprendizagem contínua.
Metodologias e estratégias Numa dimensão mais profunda – conside-
rando que, de acordo com Martin Buber, a
Os temas estudados neste bimestre podem aprendizagem se dá por meio do diálogo4 –,
ser trabalhados a partir de atividades lúdicas e o encontro promovido pela escola facilita o
práticas, envolvendo análise de imagens e tex- processo de troca e construção de conheci-
tos. Como você sabe, a análise documental é um mentos: seja por meio de uma aula exposi-
importante recurso didático. Por isso, partindo tiva, com giz e lousa, seja por meio de uma
do princípio de que a sociedade forma um todo atividade complexa realizada em um espaço
e engloba os aspectos políticos, econômicos e não-formal, o objetivo é o mesmo, a apren-
culturais, os alunos devem ser levados a cons- dizagem, pois “centrar a escola no aprender
truir uma discussão que considere o documen- não é esvaziar todas as outras funções que
to no contexto em que foi produzido, inclusive ela pode assumir [...], mas é definir o profes-
levantando questões sobre a importância de ele sor como um profissional da aprendizagem e
ser discutido e trabalhado agora, séculos de- ajudá-lo a construir uma identidade”.5

2
Matriz de competências do Enem. Disponível em: <http://www.enem.inep.gov.br/index.php?option=com_content&task=view&
id=39&Itemid=73>. Acesso em: 10 dez. 2008.
3
FERRO, Marc em entrevista concedida a Sheila Schwartzman. O saber de hoje passa pela imagem. Folha de S.Paulo, 11 set. 2007.
4
Para saber mais, consulte: BUBER, Martin. Do diálogo e do dialógico. São Paulo: Perspectiva, 1982.
5
MEIRIEU, Philippe. Aprender... sim mas como? Porto Alegre: Artmed, 1998. p. 18.

11
Avaliação compreendendo a importância dos fatores so-
ciais, econômicos, políticos ou culturais”.
É importante que você analise, com liber-
dade, a proposta de avaliação aqui apresen- Contudo, algumas avaliações irão passar
tada, reformulando-a onde achar necessário, por modelos menos paramétricos, que levam
por conta da experiência adquirida em seu em consideração processos atitudinais inspi-
convívio cotidiano com os alunos e com a es- rados nos pressupostos da educação para a
cola onde estiver desenvolvendo seu trabalho paz, lançada pela Unesco em 2000. Segundo
docente. Em resumo, a avaliação foi formulada Ubiratan D’Ambrósio:
para uma realidade de ensino coletivo, objeti-
vando estabelecer parâmetros para o processo
de ensino e aprendizagem, bem como para o
envolvimento dos alunos na aquisição de no- “[...] só se justifica insistir em educação para
vos comportamentos e competências. todos se for possível conseguir, através dela,
melhor qualidade de vida e maior dignidade
Partindo do pressuposto de Philippe da humanidade como um todo, preservando
Perrenoud, de que o professor “deve trabalhar a diversidade, mas eliminando a desigualda-
a partir das representações dos alunos”6, as de discriminatória, assim dando origem a
atividades que sugerimos, além de valorizar uma nova organização da sociedade”.
esses conhecimentos, não partem deles para,
em seguida, corrigi-los ou desvalorizá-los, D’AMBROSIO, Ubiratan. A responsabilidade dos ma-
afirmando assim sua suposta inferioridade. temáticos na busca da paz. Disponível em: <http://vello.
Pelo contrário, tais atividades aproximam os sites.uol.com.br/responsabilidade.htm>. Acesso em: 24
conhecimentos pré-adquiridos dos conceitos nov. 2008.
que serão transmitidos. Os erros eventuais são
considerados parte do processo de aprendi-
zagem e devem ser assim compreendidos por
você. Embora esses ideais devam ser compar-
tilhados por todos os educadores, indepen-
Alguns procedimentos de avaliação foram dentemente de especializações, consideramos
concebidos visando a desenvolver a capaci- oportuno trabalhá-los em um conteúdo que
dade leitora e escritora do aluno, subsidiada trate do “encontro entre europeus, africanos,
por conhecimentos históricos. Aqui também asiáticos e americanos”, aqui sugerido.
os objetivos correspondem à matriz de com-
petências do Enem, buscando desenvolver nos Em seu conjunto, os objetivos indicados
alunos a habilidade de “comparar processos para as atividades deste Caderno visam a au-
de formação socioeconômica, relacionando-os xiliar a formação de um aluno crítico, capaz
com seu contexto histórico e geográfico”, ou de situar-se e de interferir no contexto social
ainda “dado um conjunto de informações so- em que vive, mas com o compromisso de que
bre uma realidade histórico-geográfica, con- isso seja construído tendo em vista uma His-
textualizar e ordenar os eventos registrados, tória de longa duração.

6
PERRENOUD, Philippe. 10 competências para ensinar. Porto Alegre: Artmed, 2000.

12
História – 2a série, 1o bimestre

SitUAçÕES dE APrEndizAGEM
SITUAçãO DE APRENDIzAGEM 1
QUE MUNDO É ESSE?
Nesta Situação de Aprendizagem, o foco tribui para a compreensão de valores que per-
temático é o Renascimento Cultural, com ên- meiam diferentes momentos históricos, com
fase no desenvolvimento de modelos de repre- ênfase nas transformações e permanências
sentação de mundo baseados no racionalismo, ocorridas na passagem da Idade Média para a
no cientificismo e no antropocentrismo. Do Idade Moderna. A valorização de estratégias
ponto de vista metodológico, as análises docu- que favoreçam a formulação de hipóteses e
mentais escritas e imagéticas são privilegiadas de raciocínios dedutivos permeia a proposta de
como fontes. O exercício de análise relacional trabalho a ser conduzida com base em intenso
entre diferentes representações de mundo con- diálogo entre o professor e seus alunos.

tempo previsto: 2 aulas.

Conteúdo e temas: Renascimento Cultural.

Competências e habilidades: valorizar a diversidade dos patrimônios etnoculturais e artísticos, identifi-


cando-os em suas manifestações e representações em diferentes sociedades, épocas e lugares; construir
e aplicar conceitos das várias áreas do conhecimento para a compreensão de fenômenos naturais, de
processos histórico-geográficos, da produção tecnológica e das manifestações artísticas.

Estratégias: análise documental.

recursos: giz, lousa e reprodução ou projeção de imagens.

Avaliação: oral ou escrita.

Pré-requisitos curriculares f características do pensamento renascentis-


ta: a recuperação do pensamento clássico, o
Esta Situação de Aprendizagem deve ocor- racionalismo, a natureza como paradigma
rer após a realização de uma aula expositiva so- de beleza, o antropocentismo, as relações
bre o Renascimento Cultural europeu que deve entre o pensamento clássico e religioso;
contemplar, no mínimo, os seguintes tópicos: f exemplificação da produção artística e
científica de Sandro Botticelli, Leonardo
f transição do pensamento da Idade Média da Vinci, Vesalius, Michelangelo, Copérni-
para o Humanismo; co e Galileu.

13
© Orsi Battaglini/akg-images /Latinstock

A pergunta disparadora da atividade deve


ser: Vocês imaginam o que é isso? Deixe a ima-
ginação dos alunos fluir e peça que, após ob-
servarem atentamente a imagem, escrevam a
hipótese que construíram sobre ela. Estimule
a participação dos alunos solicitando que dois
ou três leiam as hipóteses registradas, justifi-
cando os motivos que os levaram ao entendi-
mento realizado. Caso os alunos não tenham
chegado à conclusão desejada, ou seja, de que
se trata de uma representação de mapa-múndi,
faça novas perguntas que os ajudem a visua-
lizá-lo.

roteiro para aplicação da Situação


de Aprendizagem
Retrato de Galileu Galilei.
Continue: Bom, mas de fato, do que trata
essa imagem? O mapa foi produzido no sécu-
Sondagem e sensibilização lo XIII, durante a Idade Média, na península
Ibérica, e possui inúmeras características do
Inicie a atividade estimulando os alunos a pensamento daquela época, sendo um bom
observar a seguinte imagem: exemplo para demonstrar ao seu aluno parte
do pensamento transformado pelo Renasci-
mento Cultural.
© Biblioteca Nacional de Lisboa

Peça aos alunos que comparem o desenho


com as representações atuais de mapas; exalte
o racionalismo e o formalismo naturalista dos
mapas contemporâneos e mostre que aquele
do século XIII ainda não demonstrava tais
características. Indague-os sobre o porquê de
os mapas atuais serem mais precisos, ou de os
medievais, de uma maneira geral, não repre-
sentarem o mundo com o mesmo formato que
os atuais.

Com certeza os alunos apontarão diversos


avanços tecnológicos como diferenciais, no
que estão corretos, mas vamos demonstrar a
eles que, neste caso, também se trata de uma
Mapa-múndi de Ethimologiarum Libri Viginti, de transformação de mentalidades mais do que
Santo Isidoro de Sevilha, cópia do final do século simplesmente de técnicas.
XIII.

14
História – 2a série, 1o bimestre

Oficina de cartografia da Sciences Po


Oficina de cartografia da Sciences Po
Projeção Bertin 1953.
Projeção Bertin 1953
O mapa de Isidoro de Sevilha divide o Antes da utilização da bússola de maneira
mundo em três continentes (Europa, África definitiva na Europa, o Norte não possuía a
e Ásia). Trata-se de uma obra produzida no primazia da parte superior dos mapas e car-
século XIII, ainda um período de desconheci- tas. A parte superior era reservada ao Oriente,
mento do continente americano, “descoberto” a terra do sol nascente, da luz, do paraíso, de
pelos espanhóis somente em 1492. A triparti- onde haviam sido expulsos Adão e Eva. Ob-
ção apresentada no mapa deve-se, principal- serve a passagem a seguir:
mente, a influências bíblicas: os nomes dos
filhos de Noé – Sem, Iafech e Cham – são
colocados abaixo dos continentes, inspiração Gênesis 2
retirada de passagens como:
“10: E saía um rio do Éden para regar o
jardim, e dali se dividia e se tornava em qua-
Gênesis 9 tro braços.
11: O nome do primeiro é Pisom [...]
“18: E os filhos de Noé, que da arca saíram, 13: O nome do segundo rio é Giom [...]
foram Sem, Jafé e Cão; e Cão é pai de Canaã; 14: E o nome do terceiro rio é Tigre, este
19: Estes três foram os filhos de Noé; e é o que vai para o lado oriental da Assíria; e
destes se povoou toda a Terra.” o quarto rio é o Eufrates.”

ALMEIDA, João Ferreira de. A Bíblia sagrada. Versão ALMEIDA, João Ferreira de. A Bíblia sagrada. Versão
corrigida e revisada fiel. Disponível em: <http://www. Corrigida e Revisada Fiel. Disponível em: <http://www.
bibliaonline.com.br>. Acesso em: 17 set. 2008. bibliaonline.com.br>. Acesso em: 17 set. 2008.

15
Além dos nomes dos continentes e dos fi- mais precisos do que os desenhados na proje-
lhos de Noé, também encontramos os nomes ção de Mercator, após 1569.
de grandes veios de água assinalados no mapa.
Abaixo lemos Mare Magnu, o Mediterrâneo; à Com as navegações dos séculos XV e XVI
direita, Nilus, que corta a África e deságua no e com o desenvolvimento do pensamento re-
mar Mediterrâneo; abaixo do nome de Sean, nascentista, a representação do mundo sofreu
o filho de Noé na Ásia (daí também denomi- grandes alterações. O racionalismo estabe-
narmos os asiáticos de semitas), encontramos leceu uma relação mimética com a natureza;
Palus, a Palestina; e próximo desta está Tanis, os pintores, os cartógrafos e os estudiosos de
que corta o continente europeu. uma maneira geral (seja de cadáveres huma-
nos ou de astros celestes) passaram a rejeitar
A tripartição do mundo remete às três or- os modelos de explicação somente religiosos.
dens do imaginário medieval e colocam-no em Embora ainda não tivessem sido abandonados
correspondência com a tripartição da casa por completo, passaram a ser questionados
divina, assim como aparece no famoso tex- e colocados em uma perspectiva humanista e
to do Bispo de Laon, Adalberão, no final do naturalista, investigando formas e funções a
século X. partir da observação, dos órgãos de pessoas
mortas, da costa litorânea, do trajeto das es-
trelas no céu e da visão captada pelo olho hu-
“Portanto, a cidade de Deus, que se acre- mano. Daí surgiram os estudos de anatomia
dita única, está dividida em três ordens: uns de Leonardo e Vesalius, o heliocentrismo de
rogam, outros combatem e outros traba- Copérnico e Galileu, a perspectiva racional de
lham. Essas três ordens vivem juntas e não representação do espaço presente nas pintu-
suportam uma separação. Os serviços de um ras da maioria dos artistas do período – e
permitem os trabalhos dos outros dois. Cada a cartografia moderna, que acompanhava as
um, alternativamente, presta seus apoios a grandes navegações na descoberta de novos
todos.” continentes.

Adalberão. Carmen ad Robertum regem, séc. X. Feita a explanação sobre a cartografia me-
Disponível em: <http://educaterra.terra.com.br/voltaire/ dieval aos seus alunos, analise o texto a seguir,
artigos/ano_mil4.htm>. Acesso em: 25 nov. 2008. para encaminhar o fechamento desta Situação
de Aprendizagem.

O formato circular é recorrente em vários


mapas-múndi medievais; a perfeição da forma “Coloquei-te no centro do mundo para te
circular, uma tradição platônica, se mantém permitir ver melhor o que nele se passa. Não
como digna da perfeição de Deus. O Oceanus és divino, nem terrestre, mortal, ou imortal,
que circunda o mundo nos lembra as descri- embora à semelhança de teu próprio Cria-
ções de Homero. dor, possas moldar-te conforme o desejares.
Tens o poder de cair ao nível dos brutos e de
Trata-se, portanto, de um mapa com fortes renascer numa ordem mais elevada ou divi-
influências religiosas, uma representação es- na, segundo teu próprio julgamento.”
quemática e pouco precisa do mundo material
na visão dos viajantes da modernidade euro- MIRANDOLA, Giovani Pico Della. Discurso sobre a
peia. No imaginário medieval, talvez fossem dignidade dos homens. Lisboa: Edições 70, 2006.

16
História – 2a série, 1o bimestre

O objetivo da análise proposta é explicar Questões


aos alunos dois momentos de produção cul-
tural humana. Para tanto, indague-os sobre Em seguida, sugerimos que você proponha
as diferenças entre o pensamento colocado algumas questões para discussão, Peça aos alu-
por Pico Della Mirandola e o expresso ante- nos que registrem as principais ideias suscitadas.
riormente pelo mapa de Santo Isidoro de Se-
vilha: Quais são os dois pontos de percepção? Acompanhe o andamento das reflexões e
Como o humanismo ao mesmo tempo influen- contribua para que eles cheguem às relações
ciou e foi influenciado pela nova representação propostas, sempre estimulando o raciocínio
do mundo, resultante das viagens da expansão dedutivo dos alunos e tomando o cuidado de
marítima europeia? não responder ao que está proposto. Ao final,
abra a discussão para o conjunto da classe,
Peça aos alunos que registrem as respostas solicitando a participação voluntária. Realize
a essas duas perguntas. Lembre-os do exer- o registro das conclusões na lousa e peça que
cício comparativo, anteriormente realizado, eles façam as alterações ou complementos ne-
entre os mapas-múndi atual e o do século cessários nos registros pessoais.
XIII. Contudo, explique que não ocorreu
um abandono radical da religiosidade e que 1. Analise os seguintes versos, pautados na
não estamos falando de uma pura ruptura e discussão realizada em sala sobre o racio-
readequação do pensamento. Trata-se, isso nalismo na cartografia moderna:
sim, de uma diferenciação, pois os huma-
nistas interessavam-se pelo homem e seus
mistérios, fundamentando suas proposições “Diziam os argonautas que navegar é
e teorias na curiosidade, na observação, nos preciso, mas que viver não é preciso.”
textos clássicos, mas também no pensamen- Fernando Pessoa
to religioso, como se pode testemunhar com
o que teria dito Copérnico ao justificar o Sol Introdução ao poema “Mensagem”, que integra o livro
como centro do universo e refutar o geocen- Cancioneiro. Disponível em: <http://www.dominio
trismo: publico.gov.br>. Acesso em: 18 set. 2008.

“Deixam cada planeta governar-se por leis Condução: deixe-os conversando sobre o tema,
diferentes e fazem-nos crer que o Todo-Pode- mas evite comentar o duplo sentido da pala-
roso criou uma monstruosidade absurdamen- vra “preciso”, que pode ser interpretada como
te feita de corpos de natureza inteiramente “necessidade” ou “exato, que tem precisão”.
diversa.”
Conclusão: navegar, a partir do Renasci-
Copérnico. mento Cultural e Científico, passou a ser
preciso, mas e viver? Há precisão em nossas
vidas? Em que sentido?

17
© The Bridgeman Art Library/Keystone

Planisphaerium Copernicanum (1660).

2. Leia atentamente a definição de “desorien- Há alguma relação entre o que foi discu-
tado” do dicionário Aurélio: tido sobre cartografia medieval e o signi-
ficado que damos às palavras “orientado”
ou “desorientado”? Justifique.
“desorientado
[Part. De desorientar.] Condução: vale o mesmo da atividade an-
Adjetivo. terior.
1. Falto de orientação, de critério.
2. Embaraçado, confuso, desorientado. Conclusão: “norteado” e “orientado” apa-
3. Desequilibrado, desvairado, desatinado. recem como sinônimos, uma vez que,
Substantivo masculino. historicamente, os dois termos simboli-
4. Indivíduo desorientado”. zaram o mesmo: as principais partes de
um mapa. Será que na cultura cartográ-
Novo Dicionário Aurélio. 3. ed. Versão em CD-Rom. fica árabe são utilizados os mesmos re-
Curitiba: Positivo, 2004. ferenciais?

18
História – 2a série, 1o bimestre

Avaliação da Situação de início desprovida de forma, tenha resultado


Aprendizagem em uma perfeição que dificilmente a nature-
za consegue modelar na carne.”
Esta Situação de Aprendizagem está pau-
tada nos processos de dedução e indução, sen- Giorgio Vasari [1511-1574] comentando a famosa Pietá,
do necessário que você cuide para equilibrar de Michelangelo. In: A vida dos mais ilustres pintores,
as duas coisas. Não podemos “nos contentar escultores e arquitetos. Traduzido do original italiano,
com a suposição de que ela [a dedução] se disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/
dará espontaneamente; deve-se, ao contrário, download/texto/lb000995.pdf>. Acesso em: 15 out. 2008.
procurar estruturar uma situação de forma a
torná-la possível”.
a) Que características do Renascimento
Assim, a atividade do professor foi “es- Cultural do século XVI podemos retirar
colher materiais onde o conceito possa ser desse texto?
identificado, fazer com que seja descrito e re-
formulado aquilo que é visto, lido ou entendi- O Renascimento europeu valoriza o indivi-
do até que apareçam similaridades, introduzir dualismo; o artista adquire um importante
intrusos para fazer com que sejam percebidas papel, pois com seu trabalho é capaz de par-
as originalidades e fazer com que novos exem- ticularizar uma criação. Neste caso, Miche-
plos sejam buscados para de fato chegar à langelo produziu uma obra que a natureza
especificidade”7. raramente modela na carne. Outra caracte-
rística é a natureza como modelo de beleza.
Com base nessa proposição, você pode de-
safiar os alunos, pedindo-lhes que busquem b) Por que Michelangelo é aclamado por
outras relações além das apresentadas para Vasari como um artista “divino”?
que seja desenvolvida a habilidade de “valo-
rizar a diversidade dos patrimônios etnocul- Michelangelo supera a beleza que a nature-
turais e artísticos, identificando-a em suas za pode produzir.
manifestações e representações em diferentes
sociedades, épocas e lugares”. 2. Observe esta imagem:

Propostas de questões para avaliação Trata-se de uma xilogravura8 elabora-


da durante o período renascentista por
1. Leia este trecho: Albrecht Dürer. Nela pode-se ver um pin-
tor empregando regras e técnicas para
conseguir reproduzir com exatidão o seu
“Parece inacreditável que a mão do artis- objeto de interesse: a modelo seminua. Per-
ta tenha sido capaz de realizar em pouquís- ceba que a grade colocada diante do pin-
simo tempo algo tão extraordinário, pois é tor está reproduzida na mesa, e que o seu
certamente um milagre que uma pedra, de olhar é fixado por uma haste, que mira o
seu objeto de desenho em um ponto fixo.

7
MEIRIEU, Philippe. Aprender... sim, mas como? Porto Alegre: Artmed, 1998. p. 112.
8
Imagem retirada de GOMBRICH, E. H. Arte e ilusão: um estudo da psicologia da representação pictórica. São Paulo: Martins
Fontes, 1986. p. 267.

19
© Sheila Terry/Science Photo Library/Latinstock

GOMBRICH, E. H. Arte e ilusão: um estudo da psicologia da representação pictórica. São Paulo: Martins Fontes,
1986. p. 267.

a) Qual conceito renascentista essa gravu- II. Podemos perceber o antropocentrismo


ra de Dürer evidencia? no pensamento renascentista, princi-
palmente no reposicionamento do ho-
Dürer, assim como diversos outros artistas e mem diante da observação do mundo.
cientistas, tenta de maneira mimética repro-
duzir uma imagem do modo como ela se apre- III. Durante o Renascimento, a represen-
senta diante do olho humano. A técnica da tação do mundo na cartografia, na
perspectiva, utilizada nas pinturas, torna-se pintura e na ciência sofreu alterações
um eficaz instrumento para simular isso. motivadas por razões comerciais, reli-
giosas e filosóficas.
b) Qual a relação entre a técnica demons-
trada por Dürer e a cartografia, os es- São verdadeiras as proposições:
tudos anatômicos e astronômicos da
época? a) I, II, III.

Os estudos astronômicos, por meio de cál- b) I e II.


culos e observações, os estudos de anato-
mia, pela dissecação, e a cartografia, pela c) I e III.
observação astronômica feita com o uso de
instrumentos como o astrolábio e a balesti- d) II e III.
lha e realizada durante as viagens, também
buscam uma relação de maior fidelidade de e) nenhuma.
representação de como seus objetos se apre-
sentam diante do homem. O aluno deve perceber que apenas as propo-
sições indicadas caracterizam corretamen-
3. Assinale as proposições verdadeiras: te o pensamento renascentista, marcado
pelo antropocentrismo e por mudanças em
I. O Renascimento foi um movimento li- diferentes aspectos da vida em função do
gado somente à produção artística, des- cientificismo, do racionalismo, do desenvol-
tacando-se a pintura e a escultura. vimento técnico, entre outros aspectos.

20
História – 2a série, 1o bimestre

4. Em 1620, Francis Bacon publicou a primei-


ra versão de Novum Organum. Trata-se de tendem melhorar as obras da natureza [...]
um tratado sobre o avanço tecnológico e de modo que dão a uma criancinha de um
científico alcançado durante o Renascimen- ano as proporções de um homem de trinta.
to. Na capa apresentava os seguintes dizeres, Tão comumente eles têm praticado e visto
retirados do texto bíblico de Daniel: “mui- praticar tal erro, e com tal força seu exer-
tos passarão e a ciência avançará...”. Sobre cício penetrou e alojou-se em seu corrom-
o contexto da produção intelectual Renas- pido juízo, que se convenceram de que a
centista, podemos afirmar que: natureza é assim.”

a) os humanistas abandonaram comple- Leonardo da Vinci, Apud CARREIRA, Eduardo. Os


tamente as influências do pensamento escritos de Leonardo da Vinci. Brasília/São Paulo: UNB/
religioso medieval. Imprensa Oficial, 2000. p. 85.

b) o ateísmo foi uma constante na produ-


ção de diversos pensadores renascentis- Qual o contexto intelectual no qual o texto
tas, como é o caso de Bacon. acima foi produzido?

c) a Bíblia perdeu sua importância e foi pou- a) Durante o período medieval, no qual a
co lida pelos cientistas renascentistas. observação da natureza se dava a partir
da dedução e do estudo direto de suas
d) a Igreja foi obrigada a coibir a produção formas por meio da dissecação de ca-
artística e científica da época e não in- dáveres.
centivou nenhuma produção intelectual.
b) Trata-se de uma produção do Huma-
e) as descobertas científicas revelaram um nismo, pautada na busca de valores, to-
mundo ainda desconhecido, que ia além mando a observação da natureza como
do que os gregos conheciam, criando paradigma de beleza.
assim novos paradigmas e desafios.
c) Foi produzida no Renascimento Cultu-
O Renascimento também se caracterizou, ral, período de intensa criatividade e de
além das artes, por valiosas contribuições busca de formas abstratas nas artes.
no que se refere, por exemplo, a Astronomia,
Matemática, Filosofia, Anatomia, Física etc. d) O contexto motivava artistas como
Leonardo a buscar inspiração pura-
5. Leia o seguinte trecho: mente religiosa para produzir suas
obras.

“Mas se há de louvar aquela pintura e) O contexto intelectual medieval foi des-


que maior semelhança guarde com o que prezível e não influenciou os pensadores
imita. Digo isto contra os pintores que pre- humanistas.

21
O autor valoriza pinturas que guardam se- recursos para ampliar a perspectiva
melhanças com aquilo que representam, par- do professor e do aluno para a
ticularmente no que se refere à observação do compreensão do tema
homem e da natureza tal qual se apresentam,
sendo que a busca da perfeição ao retratá-los livros
passa a ser um objetivo no Renascimento.
KIMBLE, George H. T. A Geografia na Idade
Média. Londrina: Eduel, São Paulo: Impren-
Propostas de Situações de sa Oficial do Estado de São Paulo, 2005. Livro
recuperação com grande quantidade de mapas e muito rico
nas explanações sobre a cartografia medieval
Após o encerramento das atividades, é e seus avanços. Rompe a visão depreciativa
fundamental que os alunos sejam capazes de que havia sobre os mapas produzidos na Ida-
identificar algumas características do pensa- de Média.
mento renascentista, como o racionalismo, a
natureza como paradigma de beleza e realida- NOVAES, Adauto (Org.). A descoberta do ho-
de, a recuperação dos estudos clássicos fora mem e do mundo. São Paulo: Companhia das
dos mosteiros e o individualismo. Para que Letras, 1998. Coletânea de textos curtos de es-
isso seja atingido, apresentamos algumas su- tudiosos do mundo todo sobre o humanismo
gestões: e suas relações com as navegações, a literatu-
ra, as técnicas, o dia-a-dia de viajantes e a reli-
Proposta 1 giosidade durante os descobrimentos.

Indique a leitura de trechos dos textos uti- THEODORO, Janice. Descobrimentos e Renas-
lizados em aula, estimulando o aluno a buscar cimento. São Paulo: Contexto, 1997. <http://
as características indicadas. É importante que www.editoracontexto.com.br>. Livro da consa-
você acompanhe de perto a realização da ativi- grada série Repensando a História, ótima indi-
dade, ajudando-os na identificação solicitada. cação de leitura para os alunos sobre o tema.

Proposta 2 revista

Agora você pode trabalhar com o mesmo História Viva – Grandes Temas. Renascimen-
foco da proposta anterior, mas utilizando to. Edição especial temática n. 5. São Paulo:
imagens. Para tanto, selecione gravuras de Duetto Editorial. Revista de grande circula-
pinturas renascentistas e oriente os alunos a ção, contém artigos sobre arte e ciência renas-
compará-las com pinturas medievais. É im- centista; sobre Leonardo da Vinci, Francisco
portante que eles percebam, nas primeiras, a I e a origem da imprensa europeia.
perspectiva matemática racionalista, a busca
da representação dos corpos e objetos da ma- Artigo
neira mais fiel possível à realidade, assim como
as influências do pensamento greco-romano, CARVALHO, Márcia Siqueira de. O pensa-
evidente em obras de temática mitológica. mento cartográfico medieval e renascentista e

22
História – 2a série, 1o bimestre

o cyber espaço. Disponível em: <http://www. Filme


geocities.com/pensamentobr/medievalciber.
pdf>. Acesso em: 3 out. 2008. Artigo que 1492: A conquista do paraíso (1492: Conquest of
apresenta os frutos do projeto de pós-douto- Paradise). Direção: Ridley Scott. EUA, 1992. Fil-
rado da autora na área. Trata-se de uma boa me que retrata um período posterior ao foco da
indicação para aprofundar seus conhecimen- atividade, mas em que há uma cena que mostra
tos sobre o tema, com dicas de outros sites na a ida de Colombo à Universidade de Salamanca
internet e orientações de como “ler” um mapa para defender suas teorias acerca do formato da
medieval. Terra e é amplamente questionado.

SITUAçãO DE APRENDIzAGEM 2
AS INDULGêNCIAS E OS PROTESTANTES

O tema desta Situação de Aprendizagem é grandes transformações religiosas tanto na


a Reforma Religiosa. Europa quanto na América e no Oriente. O
clima apocalíptico presente na mentalidade
Um dos grandes desafios deste início de europeia já alardeava:
século é o trato com as diferenças religiosas,
questão presente em praticamente todas as
teorias e propostas pedagógicas. Os alunos “Agora, portanto digo que estamos no
devem ser estimulados ao convívio respei- momento e nos aproximamos da futura re-
toso com as diferenças, devendo a escola ser novação do mundo, ou de uma grande alte-
um ambiente de tolerância e compreensão da ração ou de sua aniquilação [...].”
religiosidade como um fenômeno histórico e
filosófico. Cônego de Langres, França, Livre de l’estat et mutation
des temps, 1550. Apud DELUMEAU, Jean. História do
Historicamente, o nascimento das religiões medo no Ocidente. São Paulo: Companhia das Letras,
protestantes é uma temática complexa e deli- 1989. p. 226.
cada, remontando ao século XVI, período de

tempo previsto: 2 aulas.

Conteúdos e temas: Reforma Religiosa europeia e Contrarreforma católica.

Competências e habilidades: valorizar a diversidade dos patrimônios etnoculturais e artísticos, identifi-


cando-a em suas manifestações e representações em diferentes sociedades, épocas e lugares.

Estratégias: análise documental, interpretação textual, pesquisa, realização de exercícios e produção de


texto.

recursos: giz e lousa.

Avaliação: escrita.

23
Pré-requisitos curriculares texto i
O desenvolvimento dessa Situação de Apren- “28: Concluímos, pois, que o homem é jus-
dizagem é recomendado quando os alunos já tificado pela fé, independentemente das obras
tiverem domínio sobre os seguintes conhecimen- da lei [...].”
tos relativos à Reforma Religiosa europeia, tra- Carta aos Romanos, Cap. 3, Versículo 28. ALMEIDA,
balhados em uma ou duas aulas anteriores: João Ferreira de. A Bíblia sagrada. Versão Corrigida
e Revisada Fiel. Disponível em: <http://www.biblia
f os questionamentos sobre a atuação do online.com.br/acf/rm/3>. Acesso em: 13 out. 2008.
clero católico europeu nos séculos XIV, XV
e XVI;
f desenvolvimento das doutrinas de Mar-
tinho Lutero, João Calvino e Henrique texto ii
VIII; “43. Deve-se ensinar aos cristãos que,
f Contrarreforma católica: o Concílio de dando ao pobre ou emprestando ao neces-
Trento. sitado, procedem melhor do que se compras-
sem indulgências. [...]
Sondagem e sensibilização 46. Deve-se ensinar aos cristãos que, se
não tiverem bens em abundância, devem
Inicialmente, faça um levantamento para conservar o que é necessário para sua casa
identificar as informações que os alunos têm a e de forma alguma desperdiçar dinheiro com
respeito das origens do protestantismo, como indulgências.”
também sobre as suas características atuais.
Debate para o Esclarecimento do Valor das Indulgên-
Em um canto da lousa, anote essas infor- cias pelo Doutor Martinho Lutero. 31 de outubro de
mações de maneira simplificada, evitando 1517. Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.
sempre quaisquer comentários preconceituo- br/download/texto/95%20Teses%20de%20Lutero.pdf>.
sos que os alunos porventura façam. Estimu- Acesso em: 13 out. 2008.
le a participação deles por meio de perguntas,
como:
O primeiro texto deu origem, posterior-
f Como são as igrejas protestantes? mente, à doutrina da “salvação pela fé”, que
f Quem são os seus sacerdotes? São celiba- se converteu na base da Reforma Protestante
tários? europeia, materializada na oposição de Lu-
f Qual o principal livro litúrgico protestante? tero às indulgências vendidas pela Igreja Ca-
f Como são os cultos? tólica para a salvação de seus fiéis. Segundo
f Do ponto de vista arquitetônico, como Lutero, o pecado original, a expulsão de Adão
são as edificações que abrigam igrejas e Eva, teria sido tão forte que o Homem está
protestantes? Qual a estética interna dos constantemente ligado a ele; não há obra que
templos? o redima, a não ser a graça de Deus – ou seja,
as indulgências não salvam.
roteiro para aplicação da Situação
de Aprendizagem O clima apocalíptico que dominou a menta-
lidade europeia desde o ano 1000, reforçado por
Após o levantamento de opiniões, disponi- inúmeros acontecimentos posteriores (como a
bilize os dois trechos a seguir aos alunos: Peste Negra, a Guerra dos Cem Anos, o exílio do

24
História – 2a série, 1o bimestre

papado em Avignon, e até mesmo a descoberta f a Igreja como uma cristandade espiritual
da América), foi um dos motivadores da reforma interior ao indivíduo, que pode se comu-
luterana no século XVI, levando ao rompimen- nicar diretamente com Deus, sem interme-
to do clima religioso que vivia no Sacro Império diários ou hierarquias (as preces realizadas
Romano Germânico com a Igreja de Roma. Não antes de dormir).
podemos esquecer que um dos temas centrais de
suas preocupações era a salvação. Após breve explanação, inicie uma discussão
em sala com base nas questões a seguir. Poste-
As 95 Teses, publicadas em Wittemberg, riormente, peça aos alunos que formalizem os
geraram várias consequências, a começar pela aspectos principais que foram analisados oral-
expulsão de Lutero da Igreja Católica. O caso mente, elaborando respostas às questões:
dele, contudo, é mais bem compreendido no
contexto de descontentamento e questiona- 1. Por que as igrejas protestantes não pos-
mento em relação à doutrina e à conduta da suem santos?
Igreja de Roma — algo que, então, atingia
todo o continente europeu. Em Genebra, ci- Condução: chame a atenção para a decora-
dade que, fazia tempo, declarava-se inimiga ção interna dos templos protestantes, sem
do papado, as ideias de Lutero motivaram imagens de santos, ressaltando a importân-
diversos reformistas, entre os quais zwinglio, cia das obras para a beatificação na doutri-
João Calvino e, posteriormente, na Inglater- na católica e a reafirmação das indulgências
ra, Henrique VIII, que também rompeu com no Concílio de Trento:
a Igreja romana, dando sequência à extensa
ramificação do protestantismo.
“989. Tendo recebido de Cristo o poder
No texto II evidencia-se outro motivo de de conferir Indulgências, já nos tempos anti-
questionamento da Igreja: sua riqueza pujante quíssimos usou a Igreja deste poder, que di-
e ostensiva. A campanha de Tetzel de cobran- vinamente lhe fora doado (cfr. Mt 16, 19; 18,
ça de indulgências na região onde vivia Lutero 18). Por isso ensina e ordena o sacro Concí-
para o levantamento de fundos para a constru- lio que se deve manter na Igreja o uso das
ção da Basílica de São Pedro, bem como seu Indulgências, aliás muito salutar para o povo
comércio desenfreado, praticamente determi- cristão, e aprovado pela autoridade os sacros
naram o rompimento de Lutero com a Igreja. Concílios, condenando como excomungados
os que afirmem serem as indulgências inúteis,
Após a leitura dos textos, retome com os bem como os que negarem à Igreja o poder
alunos alguns conceitos-chave da doutrina de concedê-las [...].”
luterana e ressalte o desdobramento contínuo
do movimento reformista. Entre os conceitos Resolução do Concílio Ecumênico de Trento (1545-1563),
e práticas do protestantismo, destaque: Sessão XXV. Retirado do site Montfort Associação
Cultural. Disponível em: <http://www.montfort.org.br/
f o livre sacerdócio – que deu origem aos index.php?secao=documentos&subsecao=concilios&ar
pastores protestantes e motivou a livre in- tigo=trento&lang=bra>. Acesso em: 13 out. 2008.
terpretação da Bíblia;
f a leitura livre da Bíblia – refletida na cena
cotidiana da Bíblia debaixo do braço e nas Conclusão: as divergências sobre a salva-
inúmeras ramificações do protestantismo; ção, para católicos e protestantes, geraram
f a infalibilidade das Sagradas Escrituras; questões sobre a importância das obras no

25
plano terrestre, mas nos dois casos as inter- quanto na sua formação, dada pela plurali-
pretações surgem da Bíblia, lembrando-se dade de interpretações e vertentes.
que a “infalibilidade das escrituras” é am-
plamente defendida por Lutero. Tanto no texto produzido pelo aluno quan-
to na discussão em sala de aula, o objetivo foi
2. Peça aos alunos que, em casa, produzam desenvolver a competência de “confrontar in-
um texto histórico sobre: terpretações diversas de situações ou fatos de
natureza histórico-geográfica, técnico-científi-
a) o catolicismo e a riqueza. ca, artístico-cultural ou do cotidiano, compa-
rando diferentes pontos de vista, identificando
b) o protestantismo e a riqueza. os pressupostos de cada interpretação e anali-
sando a validade dos argumentos utilizados”.10
Oriente-os a utilizar no texto argumentos
históricos que possam justificar e explicar Os textos produzidos pelos alunos devem
as afirmativas. Lembre-os também que um ser recolhidos e analisados por você. Novamen-
texto histórico caracteriza-se pela utiliza- te, lembramos ser importante identificar visões
ção de linguagem formal e conceitual, e preconceituosas, as quais devem ser comentadas
que juízos de valor não colaboram para o em sala sem identificação de autoria, a partir das
aprofundamento analítico do tema em foco. discussões da aula expositiva anterior e buscan-
Neste caso, o que se busca é a compreensão do contrapor seus argumentos a elas. Os alunos
do significado histórico de valores da dou- que atingirem o resultado esperado conseguirão
trina protestante em contraponto com valo- produzir um texto capaz de relativizar as rela-
res da doutrina católica. ções entre as Igrejas e a riqueza, colocando-a
como uma questão que gerou disputas e confli-
tos ao longo da história, diferenciando o trato
Avaliação da Situação de que fiéis católicos e protestantes deram a ela.
Aprendizagem
Além disso, os alunos devem relacionar o
Segundo os PCN, “as relações sociais efeti- desenvolvimento capitalista ligado ao protes-
vamente vividas, experienciadas, têm influência tantismo, algo que você já deve ter trabalhado
decisiva no processo de legitimação das regras em classe antes da realização da atividade na
[...]. Se o objetivo é formar alguém que procure aula de abertura, onde o tema foi apresentado.
resolver conflitos pelo diálogo, deve-se propor-
cionar um ambiente social em que tal possibili- Propostas de questões para avaliação
dade exista, onde possa, de fato, praticá-lo”9.

Essa orientação serviu de base para a ati- “O reino de Deus está dentro de nós
vidade proposta, que teve, como finalidade, mesmos.”
propiciar a discussão em grupo sobre tópicos
relativos ao protestantismo, tanto na sua ori- Martinho Lutero. Contra o papado de Roma, 1545.
gem (a partir dos escritos de Martinho Lutero)

9
Parâmetros Curriculares Nacionais – 1a a 4a séries. Volume 8.2: Temas transversais: Ética. Disponível em: <http://portal.mec.gov.
br/seb/arquivos/pdf/livro082.pdf>. Acesso em: 13 out. 2008.
10
Matriz de competências do Enem. Disponível em: <http://www.enem.inep.gov.br/index.php?option=com_content&task=view&
id=39&Itemid=73>. Acesso em: 10 dez. 2008.

26
História – 2a série, 1o bimestre

“Da mesma maneira, pois, que é neces- b) Que outras características da Reforma
sário crer na Igreja que não vemos e que só incentivaram o desenvolvimento capita-
Deus conhece, também nos está ordenado lista?
honrar a Igreja visível e nos mantermos em
sua comunhão.” As religiões protestantes, com exceção de
Lutero, possuem uma visão diferente da
João Calvino. Instituição cristã, 1560. católica em relação à usura, que gerou um
grande desenvolvimento bancário nas re-
giões onde o protestantismo se firmou, além
1. Analise os textos seguintes e responda: da vida regrada, que valoriza o acúmulo de
riquezas e o trabalho.
a) Que influência do pensamento de Lute-
ro percebemos na frase de Calvino? 3. Acompanhe o esquema do quadro a seguir
e relacione as características de cada movi-
Lutero e Calvino defendem a existência de mento ao seu respectivo precursor:
uma igreja invisível, interior e individual.
Atacam, dessa forma, a necessidade de uma
igreja hierarquizada e física. 1. A salvação se dá pela fé, condena a usura
e a transubstanciação.
b) Em qual trecho Calvino não concorda 2. Condutas rígidas de fé e trabalho.
com Lutero? 3. Expulsou a Igreja Católica de seus domí-
nios reais.
Calvino vai além de Lutero e defende que, 4. Pertencia ao clero católico e foi excomun-
apesar da existência de uma igreja interior, gado.
há um compromisso também social em rela- 5. Vivia em Genebra.
ção à vida religiosa, pois a igreja física “nos 6. Questionava a conduta da Igreja Católica.
mantém em comunhão”.

2. O veredicto do Juízo Final não é alterado, a Relacionam-se corretamente:


favor do predestinado, pelas boas obras. Na
verdade, o êxito nos negócios é um sinal de a) a João Calvino, somente os itens 1, 4 e 6.
salvação. Sobre o calvinismo, responda:
b) a Matinho Lutero, somente os itens 1, 4 e 5.
a) Qual a relação entre o calvinismo e o
desenvolvimento do capitalismo? c) a Henrique VIII, somente os itens 3, 4 e 6.

Já se tornou clássica a relação entre ambos, d) a Martinho Lutero, somente os itens 1,


principalmente pela difusão da obra de Max 4 e 6.
Weber, A ética protestante e o espírito do
capitalismo. Argumenta-se que o protes- e) a João Calvino, somente os itens 2, 3 e 5.
tantismo, em especial o calvinismo, incenti-
va o desenvolvimento capitalista graças ao Os itens 2 e 5 não se relacionam a Lutero,
individualismo e à valorização do trabalho pois não há uma doutrina rígida de fé e tra-
mundano, cotidiano, uma vez que as obras balho nas igrejas luteranas; além disso, ele
feitas para Deus não alteram o Juízo Final. não vivia em Genebra.

27
4. Leia o trecho: d) uma continuação das reformas políticas
iniciadas na Inglaterra e que, posterior-
mente, influenciaram Lutero e Calvino no
“A Reforma protestante foi oriunda, em Sacro Império Romano Germânico e na
certa medida, de uma profunda fermenta- região da atual Suíça, respectivamente.
ção escatológica [apocalíptica] e, em seguida,
contribuiu para aumentá-la. Parece-me que e) um movimento fracassado que foi dura-
essa ‘espera de Deus’ foi particularmente mente repreendido pela Igreja Romana
forte na Alemanha do século XVI, onde, em e pela Inquisição, capaz de condenar
um clima de ansiedade, as conjunções de pla- todos os envolvidos e puni-los com a
netas em 1525 criaram um pânico coletivo, execução na fogueira.
alarmando Lutero e Dürer.”
Apenas a alternativa a sintetiza de modo
DELUMEAU, Jean. História do medo no Ocidente. São apropriado as considerações de Jean Delu-
Paulo: Companhia das Letras, 1993. p. 225. meau sobre a Reforma, retratando as inse-
guranças de um momento histórico marcado
por profundas mudanças.
De acordo com o texto, podemos afirmar
que a Reforma Religiosa foi: 5. Leia o trecho:

a) um movimento ligado às transforma-


ções religiosas, políticas e intelectuais “O sinal está dado. Rua de Béthisy, os
do século XVI, nutridas pelas incertezas acólitos do duque de Guise acabam de assas-
dos novos tempos, pelo clima apocalíp- sinar o almirante e de jogar seu corpo pela
tico e pelo questionamento do poder da janela. Em todos os bairros da cidade desen-
Igreja de proteger a cristandade. cadeia-se infame carnificina [...]; no dia 26,
quando Carlos IX se dirige ao parlamento
b) uma reação ao fim do mundo, projetado para uma sessão solene, ele é aclamado pelos
pelas seitas pagãs para o fim do século parisienses.”
XVI, quando se considerou a conjun-
ção de planetas um efetivo como sinal BORDONOVE, G. São Bartolomeu, um massacre em
de fim dos tempos. nome de Deus. História Viva. Ano 1, no 6. São Paulo:
Duetto, 2004. p. 71.
c) um movimento de desenvolvimento de
heresias e seitas contrárias aos ensina-
mentos bíblicos, pois negavam tanto o A Noite de São Bartolomeu, retratada no
poder sagrado do papa quanto à veraci- texto, foi um evento do último quartel do
dade dos textos da Bíblia. século XVI e evidencia:

28
História – 2a série, 1o bimestre

a) a revolta de camponeses, gerada pela racterísticas de cada religião. Para facilitar seu
fome e miséria do período, marcado trabalho, apresentamos algumas sugestões:
ainda pelas pestes constantes.
Proposta 1
b) a destruição de Paris, gerada pelas refor-
mas urbanas necessárias ao crescimento Peça aos alunos que façam uma pesquisa
da cidade. sobre as igrejas presentes no bairro ou na ci-
dade onde moram, elaborando um pequeno
c) conflitos religiosos e políticos motiva- relatório com a descrição física e as princi-
dos pela Reforma Protestante e pela pais características doutrinárias de cada uma
formação do absolutismo francês. delas.

d) apoio dos reis franceses à Reforma Re- Proposta 2


ligiosa empreendida por Henrique VIII
na Inglaterra. Caso prefira, você pode solicitar uma pes-
quisa a respeito de Martinho Lutero, sobre
e) o incremento do poderio bélico francês, quem existe vasto material em livros, sites,
que se tornou a maior potência bélica filmes e revistas. Como orientação, peça aos
do século XVI. alunos que procurem identificar quais as ca-
racterísticas inovadoras de seu pensamento e
A Noite de São Bartolomeu conjugou ele- os motivos de sua perseguição na Europa do
mentos políticos e religiosos quando ocor- século XVI.
reu, na França, o massacre de protestantes
por reis católicos.

© SuperStock/keystone
Propostas de Situações de
recuperação
Ao final dos estudos sobre a Reforma Re-
ligiosa – além de compreendê-la em seu con-
texto histórico –, é importante que o aluno
consiga perceber a relevância desse movimen-
to para o surgimento das religiões protestan-
tes contemporâneas.

Inicialmente, você pode apresentar algumas


diferenças fundamentais entre o catolicismo e
o protestantismo, usando exemplos do coti-
diano dos alunos e citando igrejas próximas e
experiências pessoais, a fim de ressaltar as ca- Martinho Lutero.

29
recursos para ampliar a perspectiva Religião, no 2, ano 4. Disponível em: <http://
do professor e do aluno para a www.pucsp.br/rever/rv2_2004/t_bellotti.
compreensão do tema htm>. Acesso em: 18 set. 2008.Texto interes-
sante que contém uma série de atividades que
livros podem ser realizadas em sala de aula utilizan-
do a televisão, a internet e a mídia impressa
DELUMEAU, Jean. Sobre religiões e homens. para que os alunos discutam o protestantismo
São Paulo: Edições Loyola, 1998. Narrativa so- no Brasil.
bre o surgimento e as características de diversas
religiões europeias, orientais, africanas e ame- Filmes
ricanas. Está organizado cronologicamente e
contém informações breves de religiões desde a Lutero (Luther). Direção: Eric Till. Alema-
Pré-história até a contemporaneidade. nha, 2003. Biografia de Lutero narrada de
maneira superficial, com poucas análises so-
ELTON, G. R. A Europa durante a Reforma. bre sua obra, mas que se apresenta como uma
Lisboa: Presença, 1982. Esboça um panorama boa maneira de iniciar o assunto.
completo sobre a expansão da Reforma Religio-
sa até 1559. Contém poucos documentos, mas A rainha Margot (La Reine Margot). Diri-
há no final um bom compêndio sobre o tema. reção: Patrice Chéreau. Alemanha/França/
Itália, 1994. 136 min. Narra as disputas pelo
Artigo trono francês durante o reinado de Catarina
de Médici e as disputas religiosas ocorridas
BELLOTTI, Karina Kosicki. Ensino religio- na França, como a Noite de São Bartolo-
so entre sons e imagens. Revista de Estudos da meu.

SITUAçãO DE APRENDIzAGEM 3
A UTOPIA, O PRíNCIPE E A COCANHA

As duas obras trabalhadas nesta Situação dos alunos do Ensino Médio não somente
de Aprendizagem são muito representativas como um saber enciclopédico e biográfico,
do período histórico estudado no bimestre e, mas analítico.
se comparadas com o pensamento vernacu-
lar e popular do período, podem ser muito Esta Situação de Aprendizagem tem o in-
atraentes para os alunos, principalmente por tuito de, diante do turbilhão de aulas e con-
conta do imaginário da Cocanha. teúdos colocados para os alunos, fazer uma
pausa necessária para pensar e refletir sobre
Nicolau Maquiavel e Thomas Morus pro- a obra desses dois estudiosos renascentistas e
duziram obras e textos que se consagraram suas relações com o imaginário popular den-
na história do pensamento ocidental e devem tro de uma relação de “circularidade” cultural
fazer parte do repertório de conhecimentos entre o erudito e o popular.

30
História – 2a série, 1o bimestre

tempo previsto: 2 aulas.

Conteúdos e temas: formação dos Estados absolutistas europeus.

Competências e habilidades: valorizar a diversidade dos patrimônios etnoculturais e artísticos, identifi-


cando-a em suas manifestações e representações em diferentes sociedades, épocas e lugares. Construir e
aplicar conceitos das várias áreas do conhecimento para a compreensão de fenômenos naturais, proces-
sos histórico-geográficos, produção tecnológica e manifestações artísticas.

Estratégias: análise documental e interpretação textual.

recursos: giz, lousa e textos.

Avaliação: escrita.

Pré-requisitos curriculares roteiro para aplicação da Situação


de Aprendizagem
Esta Situação de Aprendizagem deve ser
desenvolvida após estudos sobre o processo de O primeiro texto da coletânea a ser apre-
formação dos Estados absolutistas europeus, sentado aos alunos é de Maquiavel:
nos quais tenham sido contemplados os se-
guintes temas:

f o contexto da centralização política na tran- texto i


sição do feudalismo para o capitalismo;
f os principais teóricos do absolutismo: Jean “O príncipe, de todo modo, deverá fa-
Bodin, Jacques Bossuet, Nicolau Maquia- zer-se temido, de sorte que, em não granjean-
vel e Thomas Hobbes; do a estima, ao menos evitará ser o alvo de
f os processos de formação do Estado ab- ódios, afinal, é perfeitamente possível a um
solutista na Inglaterra, França, Espanha e só tempo fazer-se temido sem fazer-se odia-
Portugal. do, o que, aliás, ocorrerá sempre que ele se
abstiver dos bens dos seus concidadãos e dos
Sondagem e sensibilização seus súditos, bem como das mulheres destes.
E, se ainda precisar atentar contra o sangue
Para esta Situação dde Aprendizagem, o de alguém, deverá fazê-lo com uma decoro-
início pode ser relacionado às questões: Qual a sa justificação e com uma razão manifesta.
sua utopia?; Como seria o mundo ideal?; Se você Mas, sobretudo, deverá ele abster-se dos bens
pudesse desenhar o mundo ideal, como ele seria? de outrem, visto que os homens não tardam
tanto a esquecer a morte de um pai quanto a
Da mesma maneira que na Situação de perda de um patrimônio.”
Aprendizagem anterior, enumere algumas co-
locações dos alunos na lousa e depois parta MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe. Porto Alegre:
para a apresentação dos textos sugeridos para LP&M, 2006.
a atividade.

31
Nicolau Maquiavel, um dos principais pen- sendo a atitude de fazer o que for preciso
sadores políticos da península Itálica no século diante de uma necessidade, sendo essa atitude
XVI, foi alto funcionário da chancelaria de Flo- efetiva para alcançar seus objetivos. Somente
rença e designado para tratar de assuntos exter- o homem virtuoso pode ficar livre da fortuna,
nos da República florentina. Sua obra principal, da sorte, ou qualquer outra contingência que
O Príncipe, foi publicada no final de sua vida e escape do controle do príncipe. Trata-se de um
reflete o pragmatismo típico de um funcionário pensamento fortemente ligado ao meio hostil
que transitou entre as esferas de poder da Euro- da política, das guerras, das disputas de po-
pa e conheceu os jogos políticos de seu tempo. der. É essa realidade, que deu origem a uma
Evidencia a grande fragilidade dos Estados eu- teoria política prática, que Maquiavel trans-
ropeus, ainda em processo de formação, e como mite em forma de ensinamentos pronunciados
se colocavam os governantes e políticos diante de forma imperativa.
das circunstâncias que lhes apareciam.
Paralelamente ao pragmatismo de Ma-
quiavel, a Europa Medieval conviveu com
© Photograph by Erich Lessing/Latinstock

inúmeras utopias, como o mito da Fonte da


Juventude e o Reino do preste João, sendo a
mais famosa delas a criada por Thomas Mo-
rus. No geral, elas constituíram as idealiza-
ções “de sociedades afortunadas, regidas por
leis muito diferentes dos rígidos preceitos que
ordenam a vida cotidiana. As utopias do sécu-
lo XVI desejaram fazer passar por concreto o
que era exagerado e o que contrariava frontal-
mente as duras regras da vida real, refletindo
um forte pessimismo em relação ao presente e
uma grande esperança no futuro”11.

texto ii

“Os utopianos vivem em paz e amizade


uns com os outros. Nenhum magistrado se
mostra orgulhoso ou temível. Chamam-lhes
pais e, de fato, agem como tal. Os cidadãos
prestam-lhes as devidas homenagens, espon-
Nicolau Maquiavel. taneamente, sem qualquer coação.
O próprio príncipe não se distingue dos ou-
Os alunos devem, antes de começar a ativi- tros cidadãos por vestuário principesco, nem
dade, conhecer os conceitos de Virtu (que não por coroa, diadema real ou manto, mas por
se confunde com virtude) e Fortuna que per- um pequeno feixe de trigo que leva consigo.
meiam a obra. Virtu pode ser definido como

LOPES, M. A. Uma história da ideia de utopia: o real e o imaginário no pensamento político de Thomas Morus. História: Questões e
11

debates. no 40, p. 137. Disponível em: <http://calvados.c3sl.ufpr.br/ojs2/index.php/historia/issue/view/299>. Acesso em: 17 nov. 2008.

32
História – 2a série, 1o bimestre

Espantam-se os utopianos que alguém defendidos sobre o poder e o dinheiro nos


seja tão louco que se deleite com o brilho textos de Maquiavel e Morus?
incerto de uma pérola ou pedra preciosa,
quando se pode olhar o brilho das estrelas Os alunos devem ressaltar o pragmatismo
e a luz do Sol. [...] Maravilham-se também de Maquiavel em buscar um funcionamento
que o ouro, por não servir para nada, seja pouco idealizado da sociedade, pessimista
mais estimado entre os outros povos que o até, devido ao conceito de virtu. No caso de
próprio homem [...].” Thomas Morus, um texto no qual o poder
real não é ostentado, e a riqueza do ouro,
MORUS, Thomas. Utopia. São Paulo: Martin Claret, desprezada.
2004.
2. Quais as principais críticas que Thomas
Morus fez ao contexto inglês do século
O texto de Thomas Morus é uma utopia XVI, ao descrever a ilha de Utopia?
erudita, na qual se descreve uma ilha bastan-
te organizada, onde os habitantes trabalham, O texto de Morus é uma crítica ao poderio
possuem poucas leis, mas elas existem; há um dos reis, da ganância gerada pela riqueza e
regramento da alimentação, embasado na pelo poder.
manutenção da saúde.
Morus escreveu Utopia no século XVI, du-
No caso das utopias populares, diferente- rante o reinado de Henrique VIII, em um
mente da obra de Morus, o destaque é a Co- contexto absolutista, no qual o poderio da
canha, região mitológica na qual as pessoas monarquia inglesa atingiu seu ápice.
não trabalhavam, só havia vinho para beber,
comida abundante, sexo ao bel-prazer e o me- 3. Que contexto da península Itálica no século
lhor de tudo: nada disso tinha fim. Era uma XVI levou Maquiavel a escrever O Príncipe?
quimera muito frequente no imaginário po-
pular da época: “representou os anseios dos Maquiavel escreveu o livro em uma penín-
homens pobres do Renascimento, e uma re- sula não-unificada, com guerras e invasões
cusa obstinada, por meio da imaginação, da estrangeiras constantes; a fragilidade de
precariedade da vida”12. alguns governos italianos preocupava-o,
se comparada com monarquias poderosas
Depois de apresentados os textos, os alunos como a inglesa, a francesa e a espanhola.
formarão grupos de no máximo seis membros
para a realização da atividade, que contempla 4. Indique como seria o funcionamento ideal,
os conteúdos das aulas anteriores e os textos segundo a opinião do grupo, dos seguintes
apresentados. tópicos para nossa sociedade:

roteiro para análise dos textos a) dinheiro;

1. Thomas Morus foi executado por Henri- b) política;


que VIII, um dos principais admiradores
de Maquiavel. Quais são os pontos de vista c) trabalho.

12
LOPES, M. A. Uma história da ideia de utopia: o real e o imaginário no pensamento político de Thomas Morus. História: Questões e
debates. no 40, p. 142. Disponível em: <http://calvados.c3sl.ufpr.br/ojs2/index.php/historia/issue/view/299>. Acesso em: 17 nov. 2008.

33
Analise o posicionamento dos alunos, colo- tem Direito a tudo; até mesmo ao corpo de
que seus projetos em discussão e debata com outros homens.”
a classe as colocações dos grupos, procurando
sempre incentivar a criatividade dos estudan- HOBBES, Thomas. Leviatã. p. 54-55. Tradução Maria do
tes, bem como valores humanistas e éticos. Carmo Martins Fontes-Davis. Disponível em: <http://
www.dominiopublico.gov.br/download/texto/Hobbes_
5. Quais as diferenças entre os modelos da Leviathan_1909.pdf>. Acesso em: 2 dez. 2008.
Ilha de Utopia e da Cocanha? Qual das
duas lhes parece mais viável? Por quê?

Analise quanto seus ideais utópicos asseme- A partir desse trecho, aponte as principais
lham-se a um projeto estruturado, funcio- características do pensamento de Thomas
nal, ou a um projeto mais livre, sem regras Hobbes e justifique o poder absolutista do
e ligado ao prazer, como a Cocanha. Aqui rei, segundo as justificativas do autor.
você pode relacionar a resposta dos alunos
a correntes de pensamento semelhantes, A partir do texto citado podemos perceber
como o hedonismo e o epicurismo. que o autor justifica o poder real apontando
uma condição natural do homem de “guerra
O roteiro sugerido engloba conteúdos refe- contra seus semelhantes”; o poder real tor-
rentes aos estudos sobre os Estados absolutis- na-se uma necessidade para que não sejam
tas europeus. Nas quatro primeiras questões, “guiados pela própria razão”. Dessa forma,
realmente há um parâmetro de correção, mas o poder real instaura-se para preservar a
isso não se aplica às duas últimas, que servem “segurança” e a sociedade.
para que os alunos aqueçam debates dentro
de seus respectivos grupos e levantem posi- 2. Leia o próximo trecho:
cionamentos diferentes em relação ao que foi
discutido na atividade.
“Origina-se aí a questão aqui discuti-
Propostas de questões para da: se é preferível ser amado ou ser temido.
avaliação Responder-se-á que se preferiria uma e ou-
tra coisa; porém, como é difícil unir, a um só
1. Leia o trecho: tempo, as qualidades que promovem aqueles
resultados, é muito mais seguro ser temido
do que amado, quando se veja obrigado a
“Por natureza, todo homem tem Direito falhar numa das duas.”
a tudo. A Lei Fundamental da Natureza. E
porque sua condição de Homem (tal como MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe. Capítulo XVII.
declarada no Capítulo anterior) é uma con- Porto Alegre: LP&M, 2006.
dição de Guerra de cada um contra cada um;
situação na qual cada um é governado por
sua própria Razão; e não há nada que possa A partir do trecho apresentado, responda:
utilizar que não o ajude a si mesmo a pre-
servar sua vida contra a dos seus inimigos. a) Qual foi a importância dessa obra de
Segue-se que, em tal condição, cada homem Maquiavel na época de sua produção?

34
História – 2a série, 1o bimestre

A obra de Nicolau Maquiavel foi escrita O absolutismo esteve em vigor nos séculos
durante a consolidação dos Estados Mo- XV, XVI, XVII e XVIII. Em algumas re-
dernos europeus. Há durante todo o livro li- giões chegou ao século XIX.
ções de como um governante deve agir para
que o poder seja adquirido e mantido em c) Cite duas características dos governos
suas mãos. democráticos atuais que sejam diferen-
tes das mencionadas no texto.
b) Qual sistema político Maquiavel consi-
dera em sua obra e no trecho citado? Os governos democráticos atuais são partici-
pativos. Ao contrário da frase do texto de Ma-
O autor trata da distinção entre o poder po- quiavel, que afirma que “todo o poder vem de
lítico baseado no temor e no amor. Exalta, Deus”, na democracia, o poder vem do povo,
de maneira pragmática, a manutenção do e os governantes precisam prestar contas de
poder pelo temor, critica as relações de po- seus atos. Diferentemente do trecho sobre o
der baseadas em laços de fidelidade. absolutismo, que afirma: “o príncipe não pre-
cisa dar contas de seus atos a ninguém”.
3. (Comvest/Vestibular Unicamp 2003) O
grande teórico do absolutismo monár-
quico, o bispo Jacques Bossuet, afirmou: Proposta de Situação de
“Todo poder vem de Deus. Os governan- recuperação
tes, pois, agem como ministros de Deus e
seus representantes na terra. Resulta de Caso alguns alunos não tenham consegui-
tudo isso que a pessoa do rei é sagrada e do corresponder às expectativas de suas ava-
que atacá-lo é sacrilégio. O poder real é ab- liações no bimestre, você pode desenvolver
soluto. O príncipe não precisa dar contas algumas ações especialmente voltadas à leitu-
de seus atos a ninguém” (citado em Coletâ- ra e interpretação de textos teóricos relaciona-
nea de documentos históricos para o 1o grau. dos ao Absolutismo e à formação dos Estados
São Paulo: SEE/CENP, 1978. p. 79). Nacionais europeus.

a) Aponte duas características do absolu- Inicialmente, você pode retomar os trechos


tismo monárquico. de Maquiavel, Morus e Hobbes estudados
nesta Situação de Aprendizagem. Em segui-
O absolutismo monárquico se caracteriza da, peça que identifiquem as ideias centrais de
pela intervenção direta do poder do rei em cada um, apontando as características essen-
esferas que estão além da política, como a ciais de seu pensamento. Solicite aos alunos
economia e a sociedade. A justificativa do que realizem uma pesquisa a respeito do con-
poder pode ser divina, como no caso da texto social em que os teóricos viveram e que
França. destaquem os seguintes temas essenciais para
o período: a transição do feudalismo para o
b) Em que período o regime político des- capitalismo comercial, o desenvolvimento da
crito no texto esteve em vigor? burguesia e a centralização política.

35
recursos para ampliar a perspectiva Artigo
do professor e do aluno para a
compreensão do tema LOPES, Marco A. Uma história da ideia de
utopia: o real e o imaginário no pensamen-
livros to político de Thomas Morus. História: Ques-
tões e debates. no 40. Disponível em: <http://
FRANCO JÚNIOR, Hilário. Cocanha, várias calvados.c3sl.ufpr.br/ojs2/index.php/historia/
faces de uma utopia. São Paulo: Ateliê, 1998. issue/view/299>. Acesso em: 17 nov. 2008.
Livro sobre as utopias populares da Idade
Média e da Idade Moderna. Site

MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe. Porto Wikipedia – Cocanha. Disponível em: <http://


Alegre: L&PM, 2006. Existem numerosas edi- pt.wikipedia.org/wiki/Cocanha>. Acesso em:
ções de bolso do livro de Maquiavel que po- 16 set. 2008. Pintura sobre a Cocanha, do sé-
dem ser colocadas como sugestão de leitura culo XVI. Repare na preguiça e na fartura re-
para os alunos. presentadas.

MORUS, Thomas. Utopia. São Paulo: Martin Filmes


Claret, 2004. O mesmo acontece com o livro
de Thomas Morus, do qual existem edições Elizabeth. Direção: Shekhar Kapur. Inglaterra,
acessíveis. Registre-se que se trata de uma lei- 1998. O filme retrata o reinado de Elizabeth I,
tura muito estimulante para motivar o traba- coroada rainha em 1554, após a Reforma Re-
lho interdisciplinar. ligiosa de Henrique VIII, e traça um panora-
ma sobre o absolutismo inglês.
SKINNER, Quentin. As fundações do pensa-
mento político moderno. São Paulo: Compa- O homem para todas as estações (A Man for
nhia das Letras, 1996. Trata-se de um grande All Seasons). Direção: Fred zinnermann. In-
manual de estudos políticos, com vários capí- glaterra, 1966. Narra a vida de Thomas Morus,
tulos que contemplam o tema estudado para desde seus estudos até a sua decapitação na
uma leitura de aprofundamento. Ponte de Londres.

SITUAçãO DE APRENDIzAGEM 4
INTERAçÕES CULTURAIS
Esta Situação de Aprendizagem pertence de novas rotas marítimas a partir da Europa,
ao tema “Encontros entre europeus e as civili- pondo em segundo plano a dinâmica, por as-
zações da África, Ásia e América”. sim dizer, humana dos contatos e as trocas cul-
turais que deles resultaram.
A produção didática a respeito dos encon-
tros entre europeus e povos de outros con- A Situação de Aprendizagem aqui pro-
tinentes, com frequência e predominância, posta, conquanto não desconsidere os aspec-
contemplou em suas análises pressupostos ex- tos ligados ao capitalismo mercantilista e à
pansionistas – destacando, sobretudo, os in- formação do mercado mundial, visa a am-
teresses comerciais, responsáveis pela abertura pliar o enfoque dos processos de interação

36
História – 2a série, 1o bimestre

cultural que acompanharam a expansão eu- ção e opostos binários, como bárbaros e civi-
ropeia a partir do final do século XV e início lizados ou desenvolvidos e atrasados.
do XVI.
Mais ainda, com esta Situação de Apren-
Nosso objetivo é contribuir para o rompi- dizagem, você poderá conduzir os alunos a
mento das habituais hierarquizações instituí- uma reflexão orientada sobre a importância
das no trato desta temática, assentadas em de respeitar a diversidade cultural, tanto no
valores ligados às ideias de progresso e evolu- passado quanto no presente.

tempo previsto: 2 aulas.

Conteúdos e temas: encontros entre europeus e as civilizações da África, Ásia e América.

Competências e habilidades: identificação e valorização da diversidade cultural.

Estratégias: análise documental, interpretação textual, pesquisa.

recursos: giz e lousa.

Avaliação: escrita.

Pré-requisitos curriculares ticas imperialistas e à dominação do “outro”, o


“diferente” do europeu. Pode-se dizer que isso
Apresentamos duas propostas de aulas que ocorreu nas colônias europeias da África, da
poderão auxiliá-lo na apresentação e na con- Ásia e da América.
clusão dos conteúdos ligados ao tema “Encon-
tros entre europeus e as civilizações da África, Como forma de despertar o interesse dos
Ásia e América”. Lembramos que, entre uma alunos para o tema, você pode colocar-lhes
e outra, você poderá desenvolver como tema a a seguinte questão (a ser respondida no Ca-
expansão marítima e colonial europeia. derno do Aluno): Quais motivações levaram os
europeus a sair de suas fronteiras?
Sondagem e sensibilização
As repostas a essa questão podem ser vá-
Dos encontros entre os povos da Europa e rias, mas é importante que se valorize, para
de civilizações da África, da Ásia e da América além de fatores individuais (desafios, aventuras
valorizou-se, sobretudo, aspectos ligados à óti- etc.), aquelas ligadas às políticas dos Estados
ca dos colonizadores, entendidos como aque- (guerras, expansionismo territorial, desloca-
les que levavam o progresso, a paz e a ordem mentos de rotas comerciais etc.). Liste na lou-
civilizada aos que deveriam ser colonizados. sa as contribuições dos alunos, organizando
A colonização sempre esteve associada a prá- as ideias e exemplos por eles apresentados.

37
roteiro para aplicação da Situação você, contrapondo a violência do processo de
de Aprendizagem exploração colonial e o massacre das popu-
lações locais resultante dos contatos entre as
Os encontros entre europeus e povos da culturas.
África, Ásia e América são associados à época
dos descobrimentos e à expansão e explora- Antes de trabalhar o tema a partir da óti-
ção colonial de países como Portugal, Espa- ca aqui sugerida, solicite aos alunos que rea-
nha e Inglaterra: “A tradição histórica associa lizem uma pesquisa documental, buscando
a expansão desses países ao descobrimento nas narrativas dos descobridores e viajantes
de terras longínquas nas Índias Ocidentais e, informações sobre seus primeiros contatos
depois, à instalação de entrepostos ao longo com os povos por eles encontrados. Por exem-
das rotas para a África, para a Índia e para a plo: Diários de Cristóvão Colombo, relatando
Ásia”13. a descoberta da América; Cartas de Américo
Vespúcio; Carta de Pero Vaz de Caminha. Em-
A esse largo movimento foi associada a bora se refira a período posterior à expansão
crença de que se tratava de levar a civilização europeia, os relatos de Marco Polo também
aos não-europeus, hierarquizando valores e poderão ser aqui utilizados para tratar do en-
modos de vida a partir de práticas constantes contro entre europeus e asiáticos.
de imposição e substituição das culturas locais.
A interpretação desses encontros pela historio- Esta atividade (a ser feita individualmen-
grafia tradicional por longa data baseou-se em te, no Caderno do Aluno) poderá ser distri-
um modelo etapista de análise historiográfica. buída por grupos, orientados a pesquisar os
Segundo esse modelo, teria ocorrido primeiro contatos entre europeus e africanos, europeus
a colonização e depois a resistência dos povos e asiáticos, e europeus e americanos. No caso
autóctones. Frequentemente, desconsiderou-se da África, pode ser mais difícil encontrar do-
que as “descolonizações” foram processos, ao cumentos textuais, pois não há edições brasi-
longo dos quais diferentes embates foram tra- leiras dos relatos conhecidos. Essa dificuldade
vados entre “colonizadores” e “colonizados”. pode ser superada com o uso de livros para-
Para tratar dessa questão, é importante que didáticos, como A formação do império portu-
você exponha aos alunos um aspecto pouco guês (1415-1580), de Janaína Amado e Luiz
contemplado nos estudos historiográficos: a Carlos Figueiredo (São Paulo: Atual, 1999).
não-passividade dos povos dominados diante
dos colonizadores. Além disso, você pode lembrar aos alu-
nos que devem considerar em suas pesquisas
A mitificação de navegantes descobridores, a existência de outras formas de represen-
como Bartolomeu Dias, Cristóvão Colombo, tação desses encontros, como pinturas, por
Vasco da Gama, Pedro Álvares Cabral, Fer- exemplo.
nando de Magalhães, e a glorificação de seus
descobrimentos e feitos, ao longo das lutas Individualmente, peça que desenvolvam
pelo controle das rotas marítimas e expansão por escrito no Caderno do Aluno, para a pri-
dos impérios, podem ser entendidas como im- meira aula desta Situação de Aprendizagem,
portantes aspectos a ser problematizados por uma reflexão a respeito das seguintes ques-

13
FERRO, Marc. História das colonizações: das conquistas às independências – séculos XIII a XX. Tradução Rosa Freire
D’Aguiar. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.

38
História – 2a série, 1o bimestre

tões: Sobre o tema “Encontros entre europeus beleça uma discussão com a turma. Para esta
e as civilizações da África, Ásia e América”, aula, os alunos poderão contar com o suporte
o que se pode deduzir a respeito da palavra dos conteúdos anteriormente ministrados.
encontros? O que houve de comum nesses en-
contros? Que outro resultado esses encontros Após ou mesmo durante as discussões uma
poderiam ter tido? outra atividade poderá ser desenvolvida apro-
fundando as análises propostas. Indague aos
1a aula – introdução ao tema alunos: Que relações vocês encontram entre os
conteúdos tratados e temas como miscigenação,
Solicite aos alunos que pesquisaram o mes- racismo e violência racial no mundo contempo-
mo tema que apresentem oralmente os excer- râneo? Considerações a esse respeito poderão
tos selecionados e o conteúdo pesquisado e, ser feitas no Caderno do Aluno. Faça uso de
quando for o caso, com a representação dos questões atuais presentes na mídia que infe-
encontros em outros suportes, como imagens. lizmente são constantes e conhecidas. Solicite
Promova uma discussão acerca das diferen- aos alunos que selecionem uma matéria jorna-
tes contribuições apresentadas, procurando lística cujo conteúdo retrate um destes temas
envolver todos os alunos. Na discussão, os (você poderá disponibilizar jornais ou solicitar
seguintes aspectos deverão ser ressaltados: aos alunos que pesquisem e tragam recortes
choque entre culturas, tentativas de comuni- sobre a temática para a sala de aula e a colem
cação, interações etc. no espaço destinado para esse fim no Caderno
do Aluno). Solicite que redijam um texto que
É importante que se valorize, sobretudo, comente a matéria à luz dos conteúdos traba-
a análise das reações dos povos locais, pois lhados nesta Situação de Aprendizagem, de
mesmo que sejam sempre documentadas à luz forma a analisar criticamente as permanências
das visões dos europeus, é possível refletir cri- relacionadas à ocorrência de choque cultural
ticamente sobre elas. Considere o fato de que, e diferentes tipos de preconceitos.
com frequência, os descobridores não consi-
deraram os modos de vida dos habitantes lo- Propostas de questões para
cais, sua religiosidade, formas de organização avaliação
social etc.
1. Os versos a seguir são representativos do
Ouça os grupos a respeito de suas respecti- expansionismo português, no século XVI.
vas pesquisas e problematize o conteúdo apre- Que motivações poderiam ser atribuídas a
sentado, anotando os apontamentos na lousa esse processo?
para que os alunos possam complementar, no
Caderno do Aluno, dados referentes aos gru-
pos não pesquisados.
“De África tem marítimos assentos
Para a aula de encerramento da atividade, É na Ásia mais que todas soberana
solicite aos alunos que tragam respondidas as Na quarta parte nova os campos ara
questões que lhes foram passadas. E se mais mundo houvera, lá chegara!”

2a aula – encerramento CAMÕES, Luiz Vaz de. Os Lusíadas, Canto VII, 14.
Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br>.
Com base nas perguntas anteriormente Acesso em: 18 set. 2008.
repassadas e respondidas pelos alunos, esta-

39
nota: a “quarta parte nova” é uma alusão lonizar e catequizar os índios; em resumo,
à América, sendo Europa, Ásia e África subjugá-los. Para tanto, os espanhóis se
entendidas como as três partes do mundo. valeram da imposição, pela força, de seus
valores culturais, exterminando as culturas
É importante que os alunos considerem que, indígenas.
para além das motivações de ordem pessoal,
eram interesses de fundo mercantil que mo- 3. Leia o trecho:
viam a empresa das navegações, visando a
buscar e expandir rotas marítimas (princi-
palmente pela realização do périplo africa-
no – o contorno da África), conquistando e “Têm alma os índios e negros? Onde fo-
dominando diferentes territórios. ram parar os terríveis monstros marinhos e
a zona tórrida do Equador, capaz de tudo
2. Leia o trecho: queimar? Cadê o caos? Por que povos bár-
baros e infiéis conseguiram acumular tantas
coisas? Como essa gente pode viver sem o
“Como já disse, nossos espanhóis desco- verdadeiro Deus? Quem explica essa indife-
briram, percorreram, converteram enorme- rença pelo ouro se nós matamos e morremos
mente terras em sessenta anos de conquista. por ele? Afinal quem tem razão?”
Nunca nenhum rei e nenhuma nação percor-
reram e subjugaram tantas coisas em tão AMADO, Janaína; GARCIA, Ledonias Franco. Nave-
pouco tempo, como nós fizemos, nem fize- gar é preciso: grandes descobrimentos marítimos euro-
ram nem mereceram o que nossas gentes peus. São Paulo: Atual, 1999. p. 62-63.
fizeram e mereceram pelas armas, pela nave-
gação, pela pregação do Santo Evangelho e
pela conversão dos idólatras. É por essa ra-
zão que os espanhóis são perfeitamente dig-
nos de louvor. Abençoado seja Deus que lhes Essas foram perguntas que os europeus
deu essa graça e esse poder.” do século XVI registraram em seus diá-
rios de viagens. Os grandes descobrimen-
GOMARA, López. Historia general de las Indias. Apud tos transformaram a vida dos povos eu-
FERRO, Marc. História das colonizações: das conquis- ropeus e dos povos que eles encontraram.
tas às independências, séculos XIII a XX. Tradução Nesse sentido, no que se refere aos desdo-
Rosa Freire D’Aguiar. São Paulo: Companhia das bramentos desse encontro entre europeus
Letras, 2002. p. 39. e não-europeus, assinale a alternativa cor-
reta:

a) Essa convivência constituiu uma das


Comente o documento citado. experiências mais fascinantes para os
europeus, pois significou confrontar a
Deseja-se que os alunos ressaltem que as própria civilização e abrir mão das suas
navegações espanholas, como as outras, convicções sobre o certo, o errado e o
pretendiam expandir rotas marítimas, co- ético.

40
História – 2a série, 1o bimestre

b) A fim de garantir as conquistas e delas caminho. Essa convicção e essa missão sig-
tirar melhor proveito, os europeus tive- nificavam que, no fundo, os outros eram jul-
ram de enfrentar as diferenças entre eles gados como representantes de uma cultura
e os povos encontrados, geralmente res- inferior, e cabia aos ingleses, ‘vanguarda’ da
peitando seus costumes, idiomas e reli- raça branca, educá-los, formá-los — embora
giões. sempre se mantendo à distância.”

c) Para os povos conquistados, os desco- FERRO, Marc. História das colonizações: das conquis-
brimentos e a posterior conquista euro- tas às independências – séculos XIII a XX. Tradução Rosa
peia significaram uma mudança positiva Freire D’Aguiar. São Paulo: Companhia das Letras,
em seus destinos. Eles conheceram ho- 2002. p. 39.
mens diferentes, que trouxeram outras
técnicas, costumes, valores e crenças.

d) A partir do contato com os europeus,


muitos africanos, asiáticos e america- A respeito dessa citação é correto afirmar
nos tiveram de reorganizar sua maneira que:
de viver. Às vezes essas reorganizações
implicaram mudanças tão grandes que, a) os colonizadores ingleses acreditavam-se
por fim, esses povos se perderam de si superiores aos povos conquistados e aos
mesmos, desfiguraram-se, não mais se demais colonizadores.
reconhecendo.
b) no contato com outros povos, os ingle-
O choque cultural marcou as relações entre ses ensinavam e aprendiam, constituin-
europeus e os povos de outros continentes do-se, assim, um mútuo processo de
a partir dos chamados Grandes Descobri- trocas culturais.
mentos. Os interesses europeus levaram ao
subjugo de povos que tiveram a sua cultura c) franceses e ingleses, ao contrário dos es-
transformada a partir de relações de domi- panhóis, estiveram à frente da empresa
nação. colonial.

4. Leia o trecho: d) o chamado “fardo do homem branco”


foi, predominantemente, conduzido por
franceses e espanhóis.
“‘Acredito nesta raça...’, disse Joseph
Chamberlain, em 1895. Ele entoava um hino A postura eurocêntrica marcou as relações
imperialista à glória dos ingleses e celebra- entre europeus e povos conquistados. No en-
va um povo cujos esforços superavam os de tanto, os ingleses vão além, considerando-se
seus rivais franceses, espanhóis e outros. Aos superiores a outros europeus. A colonização,
outros povos, ‘subalternos’, o inglês levava a por sua vez, era vista como uma tarefa que
superioridade de seu savoir-faire, de sua ciên- cabia ao homem branco, mas este deveria
cia também; o ‘fardo do homem branco’ era preserva-se e à sua cultura do contato direto
civilizar o mundo, e os ingleses mostravam o com povos considerados inferiores.

41
5. Leia o trecho: c) a ideia de “mistura” esteve na base dos
pressupostos coloniais, pois por meio
dela acreditou-se civilizar os povos co-
lonizados.
“Foram precisamente as atitudes racis-
tas dos colonizadores que constituíram um Os povos colonizadores agiram sob a égide
dos traços estruturais do colonialismo, para de pensamentos racistas de diferentes tipos,
torná-lo odioso, insuportável. Dois tipos de o que muitas vezes justificava ações de ca-
racismo intervieram. O primeiro se funda- ráter violento e de segregação. Segundo o
menta numa asserção de desigualdade. Esta autor, Marc Ferro, a miscigenação seria
se apoia às vezes numa concepção evolu- o principal temor.
cionista do ilimitado progresso civilizatório
trazido pelas raças mais evoluídas, as quais
avaliam o grau de avanço das raças ditas in- Propostas de Situações de
feriores e, por conseguinte, menos ou mais recuperação
assimiláveis. [...] Outras vezes, no mesmo re-
gistro, tal asserção se expressa de modo mais Proposta 1
radical, na crença de que há raças inaptas
para o progresso: melhor deixá-las morrer. Solicite aos alunos que escrevam um texto
[...] Outra forma de racismo [...] é a que [acre- sobre as características e consequências do en-
dita] existirem diferenças de natureza ou de contro dos antigos habitantes da África, ou da
genealogia entre certos grupos humanos. A Ásia, ou da América com os europeus.
principal obsessão que aterroriza refere-se à
mistura.” Proposta 2

FERRO, Marc (Org.). O livro negro do colonialismo. Racismo, colonialismo e imperialismo são
Tradução Joana Angélica. Rio de Janeiro: Ediouro, três temas interligados. Quais são suas rela-
2004. p. 30. ções? Faça um texto de análise a esse respeito
utilizando argumentos históricos desenvolvidos
nesta Situação de Aprendizagem. Retome suas
anotações de aula para realizar essa tarefa.
A respeito dessa citação, é possível afirmar
que: recursos para ampliar a perspectiva
do professor e do aluno para a
a) colonialismos e racismos são historica- compreensão do tema
mente dissociados, não podendo haver
entre eles nenhuma relação. FERRO, Marc. História das colonizações: das
conquistas às independências – séculos XIII
b) às atitudes racistas de povos coloni- a XX. Tradução Rosa Freire D’Aguiar. Com-
zadores se pode atribuir diferentes panhia das Letras: São Paulo, 2002. O livro
práticas racistas como seus desdobra- é uma boa referência para as pesquisas sobre
mentos. as conquistas e independências, pois apre-

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História – 2a série, 1o bimestre

senta um vasto panorama temporal, que vai Disponível em: <http://www.cpdoc.fgv.br/revista/


das expansões europeias da Modernidade à arq/18.pdf>. Acesso em: 16 set. 2008. O artigo
mundialização da economia no século XX, e é uma crítica às celebrações dos 500 anos do
territorial, pois estabelece paralelos das colo- descobrimento do Brasil e pretende analisar,
nizações orientais e ocidentais. com base na mídia, os conflitos que se esta-
beleceram entre uma comemoração oficial e
HERSCHMANN, Micael; PEREIRA, Alber- outra de caráter contestatório, organizada por
to Messeder. E la Nave Va… As celebrações diferentes grupos e/ou partidos políticos, em
dos 500 anos no Brasil: afirmações e dispu- especial representantes de grupos indígenas,
tas no espaço simbólico. Estudos Históricos, populações negras organizadas e membros do
Rio de Janeiro, v. 14, n. 26, 2000. p. 203-215. Movimento dos Sem Terra (MST).

43
COnSidErAçÕES FinAiS
Neste Caderno propusemos atividades rela- do povos e culturas, participaram da forma-
tivas às transformações culturais e tecnológicas ção de um novo paradigma socioeconômico,
promovidas pelo Renascimento, além de estu- o capitalismo mercantilista, responsável pela
dos sobre a Reforma Religiosa e a Contrar- constituição de um mercado mundial assen-
reforma, e a formação das bases políticas das tado no comércio de especiarias e escravos.
monarquias absolutistas europeias. A seleção Entretanto, é bom destacar, reforçamos o en-
desses temas para orientar as atividades escola- foque nos processos de circulação e interação
res no bimestre deveu-se à sua importância para cultural que acompanharam a expansão euro-
compreender uma época instigante, em que os peia a partir do final do século XV e início do
europeus ampliaram ou estabeleceram conta- XVI. Com isso, além de tentar contribuir para
tos com civilizações distantes, como a africana, o rompimento das habituais hierarquizações,
a asiática e as indígenas americanas, como se assentadas em valores ligados às ideias de pro-
pôde ver com o último tema proposto. gresso e evolução e opostos binários (bárbaros
e civilizados; desenvolvidos e atrasados), visa-
Em síntese, nosso objetivo foi levar o aluno mos a desenvolver nos alunos a capacidade de
a identificar de que maneira as trocas culturais reconhecer a importância de respeitar e valo-
e comerciais, os conflitos e as miscigenações rizar a diversidade cultural, tanto no passado
populacionais, combinando-se e interligan- quanto no presente.

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