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PROFESSOR
HISTÓRIA
ensino médio
2a SÉRIE
volume 1 - 2009
Coordenação do Desenvolvimento dos Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Conteúdos Programáticos e dos Cadernos dos Arte: Geraldo de Oliveira Suzigan, Gisa Picosque,
Professores Jéssica Mami Makino, Mirian Celeste Martins e
Ghisleine Trigo Silveira Sayonara Pereira
GESTÃO
Fundação Carlos Alberto Vanzolini Catalogação na Fonte: Centro de Referência em Educação Mario Covas
Prezado(a) professor(a),
É com muita satisfação que apresento a todos a versão revista dos Cadernos
do Professor, parte integrante da Proposta Curricular de 5a a 8a séries do Ensino
Fundamental – Ciclo II e do Ensino Médio do Estado de São Paulo. Esta nova versão
também tem a sua autoria, uma vez que inclui suas sugestões e críticas, apresentadas
durante a primeira fase de implantação da proposta.
A Proposta Curricular não foi comunicada como dogma ou aceite sem restrição.
Foi vivida nos Cadernos do Professor e compreendida como um texto repleto de
significados, mas em construção. Isso provocou ajustes que incorporaram as práticas
e consideraram os problemas da implantação, por meio de um intenso diálogo sobre
o que estava sendo proposto.
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Os ajustes nos Cadernos levaram em conta o apoio a movimentos inovadores, no
contexto das escolas, apostando na possibilidade de desenvolvimento da autonomia
escolar, com indicações permanentes sobre a avaliação dos critérios de qualidade da
aprendizagem e de seus resultados.
O uso dos Cadernos em sala de aula foi um sucesso! Estão de parabéns todos os que
acreditaram na possibilidade de mudar os rumos da escola pública, transformando-a
em um espaço, por excelência, de aprendizagem. O objetivo dos Cadernos sempre será
apoiar os professores em suas práticas de sala de aula. Posso dizer que esse objetivo
foi alcançado, porque os docentes da Rede Pública do Estado de São Paulo fizeram
dos Cadernos um instrumento pedagógico com vida e resultados.
Conto mais uma vez com o entusiasmo e a dedicação de todos os professores, para
que possamos marcar a História da Educação do Estado de São Paulo como sendo
este um período em que buscamos e conseguimos, com sucesso, reverter o estigma
que pesou sobre a escola pública nos últimos anos e oferecer educação básica de
qualidade a todas as crianças e jovens de nossa Rede. Para nós, da Secretaria, já é
possível antever esse sucesso, que também é de vocês.
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FiCHA dO CAdErnO
nome da disciplina: História
Série: 2a
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OriEntAçãO SObrE OS COntEúdOS dO biMEStrE
Caro(a) professor(a), opiniões sobre seus legados a partir da avalia-
ção dos papéis que desempenharam no contex-
Os estudos de História na 2a série do En- to de suas épocas.
sino Médio começam com a Idade Moderna
europeia. As transformações culturais e tec- Assim, caro professor, um dos objetivos
nológicas promovidas pelo Renascimento, a deste Caderno é colaborar com o desenvolvi-
reforma da religiosidade cristã e a formação mento de suas aulas e avaliações. As sugestões
da base política das monarquias absolutistas aqui colocadas visam a auxiliar a realização de
europeias são os temas que devem nortear Situações de Aprendizagem em sala de aula re-
as atividades escolares para o estudo desse lacionadas aos temas do bimestre. Apresenta-
período, cuja importância para a história remos, a seguir, os conhecimentos que devem
ocidental decorre, em síntese, de ter sido o ser priorizados, as competências e habilidades
momento em que os europeus ampliaram focadas, as metodologias que podem ser uti-
ou estabeleceram contatos com civilizações lizadas e, por último, sugestões de avaliações
distantes, como as africanas, as asiáticas e para ser aplicadas ao término das atividades
as indígenas americanas. As trocas culturais sugeridas ou nas provas realizadas no bimes-
e comerciais, os conflitos e as miscigenações tre. Entretanto, é fundamental que você se sin-
populacionais tiveram lugar, interligando ta à vontade para adaptá-las ao seu contexto
povos e culturas, para formar um novo pa- escolar, às suas necessidades, assim como ao
radigma socioeconômico: o capitalismo mer- perfil de seus alunos. Tenha um bom bimestre!
cantilista, responsável pela constituição de
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História – 2a série, 1o bimestre
1
ELTON, G. R. A Europa durante a Reforma: 1517-1559. Lisboa: Editorial Presença, 1982. p. 220-221.
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bos os lados. Assim como os católicos atiraram outros continentes, como África, Ásia e poste-
protestantes na fogueira, Calvino executou os riormente América.
“hereges” seguidores de Roma, Lutero acatou
a execução dos anabatistas no Sacro Império Na verdade, sabe-se que os encontros entre
Romano Germânico, e Henrique VIII travou tais povos e culturas têm uma história muito
“cruzadas” contra os que se opuseram à impo- longa, mas aqui pode-se desconsiderar o pe-
sição da Igreja Anglicana. Alguns eventos mar- ríodo pré-medieval, quando europeus, asiáti-
cantes podem ser explorados por você, como a cos e africanos já haviam mantido contato, a
Noite de São Bartolomeu, que se mistura à for- fim de manter o foco nas relações estabeleci-
mação política do reino francês – na verdade, das pelo comércio a partir do século XIII. As
foram quatro noites de carnificina nas ruas de viagens de Marco Polo são um bom exemplo
Paris, que serviram de palco para as batalhas dessas relações. O foco também deve ser man-
entre católicos e huguenotes calvinistas. tido na reativação das rotas comerciais e dos
contatos entre Europa e Oriente, ocorridos
O terceiro tema indicado é a formação dos nos séculos seguintes, exemplificados pelas
Estados absolutistas europeus, resultado dire- Cruzadas. Com os povos africanos, ao sul da
to da modernização capitalista e dos proces- região saariana, os contatos deram-se princi-
sos de centralização política na região. O palmente a partir do século XV, por conta das
estudo desse tema pode ser desdobrado em navegações portuguesas, ocorrendo o mesmo
duas Situações de Aprendizagem: na Situação com os indianos no final desse século.
de Aprendizagem 3 são trabalhados textos dos
filósofos que justificaram ou debateram o po- No caso dos povos americanos, os con-
der dos reis, como Thomas Hobbes, Jacques tatos começaram com as descobertas espa-
Bossuet, Jean Bodin e Nicolau Maquiavel. A nholas e portuguesas no final do século XV
análise das ideias desses autores é muito im- e início do XVI. Trabalhar esse tema requer
portante e enriquecedora, pois trazem ao de- um posicionamento consistente sobre ques-
bate questões atuais e fundamentais sobre tões de alteridade, orientado por debates que
ética e política. permitam caminhar contra a discriminação
de culturas tribais. Questione com os alunos
Na Situação de Aprendizagem 3 deve-se conceitos muito consolidados para eles, como
priorizar um breve histórico das monarquias “evolução”, “progresso” e “tecnologia”, res-
absolutistas portuguesa e espanhola, úteis ponsáveis pela construção de uma escala de
para a compreensão da colonização da Amé- valores que coloca como ápice a sociedade
rica – tema a ser estudado a seguir, no segun- urbana tecnicista e menospreza saberes locais
do bimestre –, e em seguida das monarquias de povos que, com base no senso comum, são
inglesa e francesa, para embasar os estudos considerados primitivos. Aqui não se propõe
sobre o Iluminismo, que também serão desen- a construção de um discurso leviano, defensor
volvidos no segundo bimestre. de uma homogeneização absoluta, mas que
as particularidades sejam valorizadas e que
Para o fechamento do bimestre, na Situa- o “outro” seja olhado apenas como diferente,
ção de Aprendizagem 4, você pode concentrar não como alguém inferior ou mesmo superior.
as atenções em um estudo de caráter históri- Com isso, além de incentivar o respeito à di-
co e antropológico: as relações ampliadas ou versidade, você também despertará em seus
estabelecidas entre os europeus e os povos de alunos o interesse por culturas diferentes.
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História – 2a série, 1o bimestre
Competências e habilidades pois. Por que dar voz a tal documento? O que
o torna especial naquele momento e no tempo
As competências priorizadas nesse bimes- presente? Quais perguntas devemos fazer a ele?
tre, retiradas da matriz do Enem2 e que ser-
virão de guia para o desenvolvimento das Outro importante recurso de que você
Situações de Aprendizagem, são: pode lançar mão são os materiais disponíveis
na mídia. Não se pode esquecer, contudo, que
I. valorizar a diversidade dos patrimô- com o bombardeamento de informações, “o
nios etnoculturais e artísticos, identi- indivíduo tem toda a liberdade de escolher
ficando-a em suas manifestações e re- aquilo que quer saber, mas ele não tem refe-
presentações em diferentes sociedades, rências para julgar se aquilo que encontra é
épocas e lugares. necessário, útil ou correto”3. Por isso, um dos
principais objetivos das Situações de Apren-
II. construir e aplicar conceitos das várias dizagem é levar o aluno a situar-se conscien-
áreas do conhecimento para a com- temente nas discussões encontradas em seu
preensão de fenômenos naturais, pro- cotidiano, e não apenas desenvolver a capaci-
cessos histórico-geográficos, produção dade de compreender pequenos trechos relati-
tecnológica e manifestações artísticas. vos ao conteúdo estudado.
2
Matriz de competências do Enem. Disponível em: <http://www.enem.inep.gov.br/index.php?option=com_content&task=view&
id=39&Itemid=73>. Acesso em: 10 dez. 2008.
3
FERRO, Marc em entrevista concedida a Sheila Schwartzman. O saber de hoje passa pela imagem. Folha de S.Paulo, 11 set. 2007.
4
Para saber mais, consulte: BUBER, Martin. Do diálogo e do dialógico. São Paulo: Perspectiva, 1982.
5
MEIRIEU, Philippe. Aprender... sim mas como? Porto Alegre: Artmed, 1998. p. 18.
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Avaliação compreendendo a importância dos fatores so-
ciais, econômicos, políticos ou culturais”.
É importante que você analise, com liber-
dade, a proposta de avaliação aqui apresen- Contudo, algumas avaliações irão passar
tada, reformulando-a onde achar necessário, por modelos menos paramétricos, que levam
por conta da experiência adquirida em seu em consideração processos atitudinais inspi-
convívio cotidiano com os alunos e com a es- rados nos pressupostos da educação para a
cola onde estiver desenvolvendo seu trabalho paz, lançada pela Unesco em 2000. Segundo
docente. Em resumo, a avaliação foi formulada Ubiratan D’Ambrósio:
para uma realidade de ensino coletivo, objeti-
vando estabelecer parâmetros para o processo
de ensino e aprendizagem, bem como para o
envolvimento dos alunos na aquisição de no- “[...] só se justifica insistir em educação para
vos comportamentos e competências. todos se for possível conseguir, através dela,
melhor qualidade de vida e maior dignidade
Partindo do pressuposto de Philippe da humanidade como um todo, preservando
Perrenoud, de que o professor “deve trabalhar a diversidade, mas eliminando a desigualda-
a partir das representações dos alunos”6, as de discriminatória, assim dando origem a
atividades que sugerimos, além de valorizar uma nova organização da sociedade”.
esses conhecimentos, não partem deles para,
em seguida, corrigi-los ou desvalorizá-los, D’AMBROSIO, Ubiratan. A responsabilidade dos ma-
afirmando assim sua suposta inferioridade. temáticos na busca da paz. Disponível em: <http://vello.
Pelo contrário, tais atividades aproximam os sites.uol.com.br/responsabilidade.htm>. Acesso em: 24
conhecimentos pré-adquiridos dos conceitos nov. 2008.
que serão transmitidos. Os erros eventuais são
considerados parte do processo de aprendi-
zagem e devem ser assim compreendidos por
você. Embora esses ideais devam ser compar-
tilhados por todos os educadores, indepen-
Alguns procedimentos de avaliação foram dentemente de especializações, consideramos
concebidos visando a desenvolver a capaci- oportuno trabalhá-los em um conteúdo que
dade leitora e escritora do aluno, subsidiada trate do “encontro entre europeus, africanos,
por conhecimentos históricos. Aqui também asiáticos e americanos”, aqui sugerido.
os objetivos correspondem à matriz de com-
petências do Enem, buscando desenvolver nos Em seu conjunto, os objetivos indicados
alunos a habilidade de “comparar processos para as atividades deste Caderno visam a au-
de formação socioeconômica, relacionando-os xiliar a formação de um aluno crítico, capaz
com seu contexto histórico e geográfico”, ou de situar-se e de interferir no contexto social
ainda “dado um conjunto de informações so- em que vive, mas com o compromisso de que
bre uma realidade histórico-geográfica, con- isso seja construído tendo em vista uma His-
textualizar e ordenar os eventos registrados, tória de longa duração.
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PERRENOUD, Philippe. 10 competências para ensinar. Porto Alegre: Artmed, 2000.
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História – 2a série, 1o bimestre
SitUAçÕES dE APrEndizAGEM
SITUAçãO DE APRENDIzAGEM 1
QUE MUNDO É ESSE?
Nesta Situação de Aprendizagem, o foco tribui para a compreensão de valores que per-
temático é o Renascimento Cultural, com ên- meiam diferentes momentos históricos, com
fase no desenvolvimento de modelos de repre- ênfase nas transformações e permanências
sentação de mundo baseados no racionalismo, ocorridas na passagem da Idade Média para a
no cientificismo e no antropocentrismo. Do Idade Moderna. A valorização de estratégias
ponto de vista metodológico, as análises docu- que favoreçam a formulação de hipóteses e
mentais escritas e imagéticas são privilegiadas de raciocínios dedutivos permeia a proposta de
como fontes. O exercício de análise relacional trabalho a ser conduzida com base em intenso
entre diferentes representações de mundo con- diálogo entre o professor e seus alunos.
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© Orsi Battaglini/akg-images /Latinstock
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História – 2a série, 1o bimestre
ALMEIDA, João Ferreira de. A Bíblia sagrada. Versão ALMEIDA, João Ferreira de. A Bíblia sagrada. Versão
corrigida e revisada fiel. Disponível em: <http://www. Corrigida e Revisada Fiel. Disponível em: <http://www.
bibliaonline.com.br>. Acesso em: 17 set. 2008. bibliaonline.com.br>. Acesso em: 17 set. 2008.
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Além dos nomes dos continentes e dos fi- mais precisos do que os desenhados na proje-
lhos de Noé, também encontramos os nomes ção de Mercator, após 1569.
de grandes veios de água assinalados no mapa.
Abaixo lemos Mare Magnu, o Mediterrâneo; à Com as navegações dos séculos XV e XVI
direita, Nilus, que corta a África e deságua no e com o desenvolvimento do pensamento re-
mar Mediterrâneo; abaixo do nome de Sean, nascentista, a representação do mundo sofreu
o filho de Noé na Ásia (daí também denomi- grandes alterações. O racionalismo estabe-
narmos os asiáticos de semitas), encontramos leceu uma relação mimética com a natureza;
Palus, a Palestina; e próximo desta está Tanis, os pintores, os cartógrafos e os estudiosos de
que corta o continente europeu. uma maneira geral (seja de cadáveres huma-
nos ou de astros celestes) passaram a rejeitar
A tripartição do mundo remete às três or- os modelos de explicação somente religiosos.
dens do imaginário medieval e colocam-no em Embora ainda não tivessem sido abandonados
correspondência com a tripartição da casa por completo, passaram a ser questionados
divina, assim como aparece no famoso tex- e colocados em uma perspectiva humanista e
to do Bispo de Laon, Adalberão, no final do naturalista, investigando formas e funções a
século X. partir da observação, dos órgãos de pessoas
mortas, da costa litorânea, do trajeto das es-
trelas no céu e da visão captada pelo olho hu-
“Portanto, a cidade de Deus, que se acre- mano. Daí surgiram os estudos de anatomia
dita única, está dividida em três ordens: uns de Leonardo e Vesalius, o heliocentrismo de
rogam, outros combatem e outros traba- Copérnico e Galileu, a perspectiva racional de
lham. Essas três ordens vivem juntas e não representação do espaço presente nas pintu-
suportam uma separação. Os serviços de um ras da maioria dos artistas do período – e
permitem os trabalhos dos outros dois. Cada a cartografia moderna, que acompanhava as
um, alternativamente, presta seus apoios a grandes navegações na descoberta de novos
todos.” continentes.
Adalberão. Carmen ad Robertum regem, séc. X. Feita a explanação sobre a cartografia me-
Disponível em: <http://educaterra.terra.com.br/voltaire/ dieval aos seus alunos, analise o texto a seguir,
artigos/ano_mil4.htm>. Acesso em: 25 nov. 2008. para encaminhar o fechamento desta Situação
de Aprendizagem.
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História – 2a série, 1o bimestre
“Deixam cada planeta governar-se por leis Condução: deixe-os conversando sobre o tema,
diferentes e fazem-nos crer que o Todo-Pode- mas evite comentar o duplo sentido da pala-
roso criou uma monstruosidade absurdamen- vra “preciso”, que pode ser interpretada como
te feita de corpos de natureza inteiramente “necessidade” ou “exato, que tem precisão”.
diversa.”
Conclusão: navegar, a partir do Renasci-
Copérnico. mento Cultural e Científico, passou a ser
preciso, mas e viver? Há precisão em nossas
vidas? Em que sentido?
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© The Bridgeman Art Library/Keystone
2. Leia atentamente a definição de “desorien- Há alguma relação entre o que foi discu-
tado” do dicionário Aurélio: tido sobre cartografia medieval e o signi-
ficado que damos às palavras “orientado”
ou “desorientado”? Justifique.
“desorientado
[Part. De desorientar.] Condução: vale o mesmo da atividade an-
Adjetivo. terior.
1. Falto de orientação, de critério.
2. Embaraçado, confuso, desorientado. Conclusão: “norteado” e “orientado” apa-
3. Desequilibrado, desvairado, desatinado. recem como sinônimos, uma vez que,
Substantivo masculino. historicamente, os dois termos simboli-
4. Indivíduo desorientado”. zaram o mesmo: as principais partes de
um mapa. Será que na cultura cartográ-
Novo Dicionário Aurélio. 3. ed. Versão em CD-Rom. fica árabe são utilizados os mesmos re-
Curitiba: Positivo, 2004. ferenciais?
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História – 2a série, 1o bimestre
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MEIRIEU, Philippe. Aprender... sim, mas como? Porto Alegre: Artmed, 1998. p. 112.
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Imagem retirada de GOMBRICH, E. H. Arte e ilusão: um estudo da psicologia da representação pictórica. São Paulo: Martins
Fontes, 1986. p. 267.
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© Sheila Terry/Science Photo Library/Latinstock
GOMBRICH, E. H. Arte e ilusão: um estudo da psicologia da representação pictórica. São Paulo: Martins Fontes,
1986. p. 267.
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História – 2a série, 1o bimestre
c) a Bíblia perdeu sua importância e foi pou- a) Durante o período medieval, no qual a
co lida pelos cientistas renascentistas. observação da natureza se dava a partir
da dedução e do estudo direto de suas
d) a Igreja foi obrigada a coibir a produção formas por meio da dissecação de ca-
artística e científica da época e não in- dáveres.
centivou nenhuma produção intelectual.
b) Trata-se de uma produção do Huma-
e) as descobertas científicas revelaram um nismo, pautada na busca de valores, to-
mundo ainda desconhecido, que ia além mando a observação da natureza como
do que os gregos conheciam, criando paradigma de beleza.
assim novos paradigmas e desafios.
c) Foi produzida no Renascimento Cultu-
O Renascimento também se caracterizou, ral, período de intensa criatividade e de
além das artes, por valiosas contribuições busca de formas abstratas nas artes.
no que se refere, por exemplo, a Astronomia,
Matemática, Filosofia, Anatomia, Física etc. d) O contexto motivava artistas como
Leonardo a buscar inspiração pura-
5. Leia o seguinte trecho: mente religiosa para produzir suas
obras.
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O autor valoriza pinturas que guardam se- recursos para ampliar a perspectiva
melhanças com aquilo que representam, par- do professor e do aluno para a
ticularmente no que se refere à observação do compreensão do tema
homem e da natureza tal qual se apresentam,
sendo que a busca da perfeição ao retratá-los livros
passa a ser um objetivo no Renascimento.
KIMBLE, George H. T. A Geografia na Idade
Média. Londrina: Eduel, São Paulo: Impren-
Propostas de Situações de sa Oficial do Estado de São Paulo, 2005. Livro
recuperação com grande quantidade de mapas e muito rico
nas explanações sobre a cartografia medieval
Após o encerramento das atividades, é e seus avanços. Rompe a visão depreciativa
fundamental que os alunos sejam capazes de que havia sobre os mapas produzidos na Ida-
identificar algumas características do pensa- de Média.
mento renascentista, como o racionalismo, a
natureza como paradigma de beleza e realida- NOVAES, Adauto (Org.). A descoberta do ho-
de, a recuperação dos estudos clássicos fora mem e do mundo. São Paulo: Companhia das
dos mosteiros e o individualismo. Para que Letras, 1998. Coletânea de textos curtos de es-
isso seja atingido, apresentamos algumas su- tudiosos do mundo todo sobre o humanismo
gestões: e suas relações com as navegações, a literatu-
ra, as técnicas, o dia-a-dia de viajantes e a reli-
Proposta 1 giosidade durante os descobrimentos.
Indique a leitura de trechos dos textos uti- THEODORO, Janice. Descobrimentos e Renas-
lizados em aula, estimulando o aluno a buscar cimento. São Paulo: Contexto, 1997. <http://
as características indicadas. É importante que www.editoracontexto.com.br>. Livro da consa-
você acompanhe de perto a realização da ativi- grada série Repensando a História, ótima indi-
dade, ajudando-os na identificação solicitada. cação de leitura para os alunos sobre o tema.
Proposta 2 revista
Agora você pode trabalhar com o mesmo História Viva – Grandes Temas. Renascimen-
foco da proposta anterior, mas utilizando to. Edição especial temática n. 5. São Paulo:
imagens. Para tanto, selecione gravuras de Duetto Editorial. Revista de grande circula-
pinturas renascentistas e oriente os alunos a ção, contém artigos sobre arte e ciência renas-
compará-las com pinturas medievais. É im- centista; sobre Leonardo da Vinci, Francisco
portante que eles percebam, nas primeiras, a I e a origem da imprensa europeia.
perspectiva matemática racionalista, a busca
da representação dos corpos e objetos da ma- Artigo
neira mais fiel possível à realidade, assim como
as influências do pensamento greco-romano, CARVALHO, Márcia Siqueira de. O pensa-
evidente em obras de temática mitológica. mento cartográfico medieval e renascentista e
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História – 2a série, 1o bimestre
SITUAçãO DE APRENDIzAGEM 2
AS INDULGêNCIAS E OS PROTESTANTES
Avaliação: escrita.
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Pré-requisitos curriculares texto i
O desenvolvimento dessa Situação de Apren- “28: Concluímos, pois, que o homem é jus-
dizagem é recomendado quando os alunos já tificado pela fé, independentemente das obras
tiverem domínio sobre os seguintes conhecimen- da lei [...].”
tos relativos à Reforma Religiosa europeia, tra- Carta aos Romanos, Cap. 3, Versículo 28. ALMEIDA,
balhados em uma ou duas aulas anteriores: João Ferreira de. A Bíblia sagrada. Versão Corrigida
e Revisada Fiel. Disponível em: <http://www.biblia
f os questionamentos sobre a atuação do online.com.br/acf/rm/3>. Acesso em: 13 out. 2008.
clero católico europeu nos séculos XIV, XV
e XVI;
f desenvolvimento das doutrinas de Mar-
tinho Lutero, João Calvino e Henrique texto ii
VIII; “43. Deve-se ensinar aos cristãos que,
f Contrarreforma católica: o Concílio de dando ao pobre ou emprestando ao neces-
Trento. sitado, procedem melhor do que se compras-
sem indulgências. [...]
Sondagem e sensibilização 46. Deve-se ensinar aos cristãos que, se
não tiverem bens em abundância, devem
Inicialmente, faça um levantamento para conservar o que é necessário para sua casa
identificar as informações que os alunos têm a e de forma alguma desperdiçar dinheiro com
respeito das origens do protestantismo, como indulgências.”
também sobre as suas características atuais.
Debate para o Esclarecimento do Valor das Indulgên-
Em um canto da lousa, anote essas infor- cias pelo Doutor Martinho Lutero. 31 de outubro de
mações de maneira simplificada, evitando 1517. Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.
sempre quaisquer comentários preconceituo- br/download/texto/95%20Teses%20de%20Lutero.pdf>.
sos que os alunos porventura façam. Estimu- Acesso em: 13 out. 2008.
le a participação deles por meio de perguntas,
como:
O primeiro texto deu origem, posterior-
f Como são as igrejas protestantes? mente, à doutrina da “salvação pela fé”, que
f Quem são os seus sacerdotes? São celiba- se converteu na base da Reforma Protestante
tários? europeia, materializada na oposição de Lu-
f Qual o principal livro litúrgico protestante? tero às indulgências vendidas pela Igreja Ca-
f Como são os cultos? tólica para a salvação de seus fiéis. Segundo
f Do ponto de vista arquitetônico, como Lutero, o pecado original, a expulsão de Adão
são as edificações que abrigam igrejas e Eva, teria sido tão forte que o Homem está
protestantes? Qual a estética interna dos constantemente ligado a ele; não há obra que
templos? o redima, a não ser a graça de Deus – ou seja,
as indulgências não salvam.
roteiro para aplicação da Situação
de Aprendizagem O clima apocalíptico que dominou a menta-
lidade europeia desde o ano 1000, reforçado por
Após o levantamento de opiniões, disponi- inúmeros acontecimentos posteriores (como a
bilize os dois trechos a seguir aos alunos: Peste Negra, a Guerra dos Cem Anos, o exílio do
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História – 2a série, 1o bimestre
papado em Avignon, e até mesmo a descoberta f a Igreja como uma cristandade espiritual
da América), foi um dos motivadores da reforma interior ao indivíduo, que pode se comu-
luterana no século XVI, levando ao rompimen- nicar diretamente com Deus, sem interme-
to do clima religioso que vivia no Sacro Império diários ou hierarquias (as preces realizadas
Romano Germânico com a Igreja de Roma. Não antes de dormir).
podemos esquecer que um dos temas centrais de
suas preocupações era a salvação. Após breve explanação, inicie uma discussão
em sala com base nas questões a seguir. Poste-
As 95 Teses, publicadas em Wittemberg, riormente, peça aos alunos que formalizem os
geraram várias consequências, a começar pela aspectos principais que foram analisados oral-
expulsão de Lutero da Igreja Católica. O caso mente, elaborando respostas às questões:
dele, contudo, é mais bem compreendido no
contexto de descontentamento e questiona- 1. Por que as igrejas protestantes não pos-
mento em relação à doutrina e à conduta da suem santos?
Igreja de Roma — algo que, então, atingia
todo o continente europeu. Em Genebra, ci- Condução: chame a atenção para a decora-
dade que, fazia tempo, declarava-se inimiga ção interna dos templos protestantes, sem
do papado, as ideias de Lutero motivaram imagens de santos, ressaltando a importân-
diversos reformistas, entre os quais zwinglio, cia das obras para a beatificação na doutri-
João Calvino e, posteriormente, na Inglater- na católica e a reafirmação das indulgências
ra, Henrique VIII, que também rompeu com no Concílio de Trento:
a Igreja romana, dando sequência à extensa
ramificação do protestantismo.
“989. Tendo recebido de Cristo o poder
No texto II evidencia-se outro motivo de de conferir Indulgências, já nos tempos anti-
questionamento da Igreja: sua riqueza pujante quíssimos usou a Igreja deste poder, que di-
e ostensiva. A campanha de Tetzel de cobran- vinamente lhe fora doado (cfr. Mt 16, 19; 18,
ça de indulgências na região onde vivia Lutero 18). Por isso ensina e ordena o sacro Concí-
para o levantamento de fundos para a constru- lio que se deve manter na Igreja o uso das
ção da Basílica de São Pedro, bem como seu Indulgências, aliás muito salutar para o povo
comércio desenfreado, praticamente determi- cristão, e aprovado pela autoridade os sacros
naram o rompimento de Lutero com a Igreja. Concílios, condenando como excomungados
os que afirmem serem as indulgências inúteis,
Após a leitura dos textos, retome com os bem como os que negarem à Igreja o poder
alunos alguns conceitos-chave da doutrina de concedê-las [...].”
luterana e ressalte o desdobramento contínuo
do movimento reformista. Entre os conceitos Resolução do Concílio Ecumênico de Trento (1545-1563),
e práticas do protestantismo, destaque: Sessão XXV. Retirado do site Montfort Associação
Cultural. Disponível em: <http://www.montfort.org.br/
f o livre sacerdócio – que deu origem aos index.php?secao=documentos&subsecao=concilios&ar
pastores protestantes e motivou a livre in- tigo=trento&lang=bra>. Acesso em: 13 out. 2008.
terpretação da Bíblia;
f a leitura livre da Bíblia – refletida na cena
cotidiana da Bíblia debaixo do braço e nas Conclusão: as divergências sobre a salva-
inúmeras ramificações do protestantismo; ção, para católicos e protestantes, geraram
f a infalibilidade das Sagradas Escrituras; questões sobre a importância das obras no
25
plano terrestre, mas nos dois casos as inter- quanto na sua formação, dada pela plurali-
pretações surgem da Bíblia, lembrando-se dade de interpretações e vertentes.
que a “infalibilidade das escrituras” é am-
plamente defendida por Lutero. Tanto no texto produzido pelo aluno quan-
to na discussão em sala de aula, o objetivo foi
2. Peça aos alunos que, em casa, produzam desenvolver a competência de “confrontar in-
um texto histórico sobre: terpretações diversas de situações ou fatos de
natureza histórico-geográfica, técnico-científi-
a) o catolicismo e a riqueza. ca, artístico-cultural ou do cotidiano, compa-
rando diferentes pontos de vista, identificando
b) o protestantismo e a riqueza. os pressupostos de cada interpretação e anali-
sando a validade dos argumentos utilizados”.10
Oriente-os a utilizar no texto argumentos
históricos que possam justificar e explicar Os textos produzidos pelos alunos devem
as afirmativas. Lembre-os também que um ser recolhidos e analisados por você. Novamen-
texto histórico caracteriza-se pela utiliza- te, lembramos ser importante identificar visões
ção de linguagem formal e conceitual, e preconceituosas, as quais devem ser comentadas
que juízos de valor não colaboram para o em sala sem identificação de autoria, a partir das
aprofundamento analítico do tema em foco. discussões da aula expositiva anterior e buscan-
Neste caso, o que se busca é a compreensão do contrapor seus argumentos a elas. Os alunos
do significado histórico de valores da dou- que atingirem o resultado esperado conseguirão
trina protestante em contraponto com valo- produzir um texto capaz de relativizar as rela-
res da doutrina católica. ções entre as Igrejas e a riqueza, colocando-a
como uma questão que gerou disputas e confli-
tos ao longo da história, diferenciando o trato
Avaliação da Situação de que fiéis católicos e protestantes deram a ela.
Aprendizagem
Além disso, os alunos devem relacionar o
Segundo os PCN, “as relações sociais efeti- desenvolvimento capitalista ligado ao protes-
vamente vividas, experienciadas, têm influência tantismo, algo que você já deve ter trabalhado
decisiva no processo de legitimação das regras em classe antes da realização da atividade na
[...]. Se o objetivo é formar alguém que procure aula de abertura, onde o tema foi apresentado.
resolver conflitos pelo diálogo, deve-se propor-
cionar um ambiente social em que tal possibili- Propostas de questões para avaliação
dade exista, onde possa, de fato, praticá-lo”9.
Essa orientação serviu de base para a ati- “O reino de Deus está dentro de nós
vidade proposta, que teve, como finalidade, mesmos.”
propiciar a discussão em grupo sobre tópicos
relativos ao protestantismo, tanto na sua ori- Martinho Lutero. Contra o papado de Roma, 1545.
gem (a partir dos escritos de Martinho Lutero)
9
Parâmetros Curriculares Nacionais – 1a a 4a séries. Volume 8.2: Temas transversais: Ética. Disponível em: <http://portal.mec.gov.
br/seb/arquivos/pdf/livro082.pdf>. Acesso em: 13 out. 2008.
10
Matriz de competências do Enem. Disponível em: <http://www.enem.inep.gov.br/index.php?option=com_content&task=view&
id=39&Itemid=73>. Acesso em: 10 dez. 2008.
26
História – 2a série, 1o bimestre
“Da mesma maneira, pois, que é neces- b) Que outras características da Reforma
sário crer na Igreja que não vemos e que só incentivaram o desenvolvimento capita-
Deus conhece, também nos está ordenado lista?
honrar a Igreja visível e nos mantermos em
sua comunhão.” As religiões protestantes, com exceção de
Lutero, possuem uma visão diferente da
João Calvino. Instituição cristã, 1560. católica em relação à usura, que gerou um
grande desenvolvimento bancário nas re-
giões onde o protestantismo se firmou, além
1. Analise os textos seguintes e responda: da vida regrada, que valoriza o acúmulo de
riquezas e o trabalho.
a) Que influência do pensamento de Lute-
ro percebemos na frase de Calvino? 3. Acompanhe o esquema do quadro a seguir
e relacione as características de cada movi-
Lutero e Calvino defendem a existência de mento ao seu respectivo precursor:
uma igreja invisível, interior e individual.
Atacam, dessa forma, a necessidade de uma
igreja hierarquizada e física. 1. A salvação se dá pela fé, condena a usura
e a transubstanciação.
b) Em qual trecho Calvino não concorda 2. Condutas rígidas de fé e trabalho.
com Lutero? 3. Expulsou a Igreja Católica de seus domí-
nios reais.
Calvino vai além de Lutero e defende que, 4. Pertencia ao clero católico e foi excomun-
apesar da existência de uma igreja interior, gado.
há um compromisso também social em rela- 5. Vivia em Genebra.
ção à vida religiosa, pois a igreja física “nos 6. Questionava a conduta da Igreja Católica.
mantém em comunhão”.
27
4. Leia o trecho: d) uma continuação das reformas políticas
iniciadas na Inglaterra e que, posterior-
mente, influenciaram Lutero e Calvino no
“A Reforma protestante foi oriunda, em Sacro Império Romano Germânico e na
certa medida, de uma profunda fermenta- região da atual Suíça, respectivamente.
ção escatológica [apocalíptica] e, em seguida,
contribuiu para aumentá-la. Parece-me que e) um movimento fracassado que foi dura-
essa ‘espera de Deus’ foi particularmente mente repreendido pela Igreja Romana
forte na Alemanha do século XVI, onde, em e pela Inquisição, capaz de condenar
um clima de ansiedade, as conjunções de pla- todos os envolvidos e puni-los com a
netas em 1525 criaram um pânico coletivo, execução na fogueira.
alarmando Lutero e Dürer.”
Apenas a alternativa a sintetiza de modo
DELUMEAU, Jean. História do medo no Ocidente. São apropriado as considerações de Jean Delu-
Paulo: Companhia das Letras, 1993. p. 225. meau sobre a Reforma, retratando as inse-
guranças de um momento histórico marcado
por profundas mudanças.
De acordo com o texto, podemos afirmar
que a Reforma Religiosa foi: 5. Leia o trecho:
28
História – 2a série, 1o bimestre
a) a revolta de camponeses, gerada pela racterísticas de cada religião. Para facilitar seu
fome e miséria do período, marcado trabalho, apresentamos algumas sugestões:
ainda pelas pestes constantes.
Proposta 1
b) a destruição de Paris, gerada pelas refor-
mas urbanas necessárias ao crescimento Peça aos alunos que façam uma pesquisa
da cidade. sobre as igrejas presentes no bairro ou na ci-
dade onde moram, elaborando um pequeno
c) conflitos religiosos e políticos motiva- relatório com a descrição física e as princi-
dos pela Reforma Protestante e pela pais características doutrinárias de cada uma
formação do absolutismo francês. delas.
© SuperStock/keystone
Propostas de Situações de
recuperação
Ao final dos estudos sobre a Reforma Re-
ligiosa – além de compreendê-la em seu con-
texto histórico –, é importante que o aluno
consiga perceber a relevância desse movimen-
to para o surgimento das religiões protestan-
tes contemporâneas.
29
recursos para ampliar a perspectiva Religião, no 2, ano 4. Disponível em: <http://
do professor e do aluno para a www.pucsp.br/rever/rv2_2004/t_bellotti.
compreensão do tema htm>. Acesso em: 18 set. 2008.Texto interes-
sante que contém uma série de atividades que
livros podem ser realizadas em sala de aula utilizan-
do a televisão, a internet e a mídia impressa
DELUMEAU, Jean. Sobre religiões e homens. para que os alunos discutam o protestantismo
São Paulo: Edições Loyola, 1998. Narrativa so- no Brasil.
bre o surgimento e as características de diversas
religiões europeias, orientais, africanas e ame- Filmes
ricanas. Está organizado cronologicamente e
contém informações breves de religiões desde a Lutero (Luther). Direção: Eric Till. Alema-
Pré-história até a contemporaneidade. nha, 2003. Biografia de Lutero narrada de
maneira superficial, com poucas análises so-
ELTON, G. R. A Europa durante a Reforma. bre sua obra, mas que se apresenta como uma
Lisboa: Presença, 1982. Esboça um panorama boa maneira de iniciar o assunto.
completo sobre a expansão da Reforma Religio-
sa até 1559. Contém poucos documentos, mas A rainha Margot (La Reine Margot). Diri-
há no final um bom compêndio sobre o tema. reção: Patrice Chéreau. Alemanha/França/
Itália, 1994. 136 min. Narra as disputas pelo
Artigo trono francês durante o reinado de Catarina
de Médici e as disputas religiosas ocorridas
BELLOTTI, Karina Kosicki. Ensino religio- na França, como a Noite de São Bartolo-
so entre sons e imagens. Revista de Estudos da meu.
SITUAçãO DE APRENDIzAGEM 3
A UTOPIA, O PRíNCIPE E A COCANHA
As duas obras trabalhadas nesta Situação dos alunos do Ensino Médio não somente
de Aprendizagem são muito representativas como um saber enciclopédico e biográfico,
do período histórico estudado no bimestre e, mas analítico.
se comparadas com o pensamento vernacu-
lar e popular do período, podem ser muito Esta Situação de Aprendizagem tem o in-
atraentes para os alunos, principalmente por tuito de, diante do turbilhão de aulas e con-
conta do imaginário da Cocanha. teúdos colocados para os alunos, fazer uma
pausa necessária para pensar e refletir sobre
Nicolau Maquiavel e Thomas Morus pro- a obra desses dois estudiosos renascentistas e
duziram obras e textos que se consagraram suas relações com o imaginário popular den-
na história do pensamento ocidental e devem tro de uma relação de “circularidade” cultural
fazer parte do repertório de conhecimentos entre o erudito e o popular.
30
História – 2a série, 1o bimestre
Avaliação: escrita.
31
Nicolau Maquiavel, um dos principais pen- sendo a atitude de fazer o que for preciso
sadores políticos da península Itálica no século diante de uma necessidade, sendo essa atitude
XVI, foi alto funcionário da chancelaria de Flo- efetiva para alcançar seus objetivos. Somente
rença e designado para tratar de assuntos exter- o homem virtuoso pode ficar livre da fortuna,
nos da República florentina. Sua obra principal, da sorte, ou qualquer outra contingência que
O Príncipe, foi publicada no final de sua vida e escape do controle do príncipe. Trata-se de um
reflete o pragmatismo típico de um funcionário pensamento fortemente ligado ao meio hostil
que transitou entre as esferas de poder da Euro- da política, das guerras, das disputas de po-
pa e conheceu os jogos políticos de seu tempo. der. É essa realidade, que deu origem a uma
Evidencia a grande fragilidade dos Estados eu- teoria política prática, que Maquiavel trans-
ropeus, ainda em processo de formação, e como mite em forma de ensinamentos pronunciados
se colocavam os governantes e políticos diante de forma imperativa.
das circunstâncias que lhes apareciam.
Paralelamente ao pragmatismo de Ma-
quiavel, a Europa Medieval conviveu com
© Photograph by Erich Lessing/Latinstock
texto ii
LOPES, M. A. Uma história da ideia de utopia: o real e o imaginário no pensamento político de Thomas Morus. História: Questões e
11
debates. no 40, p. 137. Disponível em: <http://calvados.c3sl.ufpr.br/ojs2/index.php/historia/issue/view/299>. Acesso em: 17 nov. 2008.
32
História – 2a série, 1o bimestre
12
LOPES, M. A. Uma história da ideia de utopia: o real e o imaginário no pensamento político de Thomas Morus. História: Questões e
debates. no 40, p. 142. Disponível em: <http://calvados.c3sl.ufpr.br/ojs2/index.php/historia/issue/view/299>. Acesso em: 17 nov. 2008.
33
Analise o posicionamento dos alunos, colo- tem Direito a tudo; até mesmo ao corpo de
que seus projetos em discussão e debata com outros homens.”
a classe as colocações dos grupos, procurando
sempre incentivar a criatividade dos estudan- HOBBES, Thomas. Leviatã. p. 54-55. Tradução Maria do
tes, bem como valores humanistas e éticos. Carmo Martins Fontes-Davis. Disponível em: <http://
www.dominiopublico.gov.br/download/texto/Hobbes_
5. Quais as diferenças entre os modelos da Leviathan_1909.pdf>. Acesso em: 2 dez. 2008.
Ilha de Utopia e da Cocanha? Qual das
duas lhes parece mais viável? Por quê?
Analise quanto seus ideais utópicos asseme- A partir desse trecho, aponte as principais
lham-se a um projeto estruturado, funcio- características do pensamento de Thomas
nal, ou a um projeto mais livre, sem regras Hobbes e justifique o poder absolutista do
e ligado ao prazer, como a Cocanha. Aqui rei, segundo as justificativas do autor.
você pode relacionar a resposta dos alunos
a correntes de pensamento semelhantes, A partir do texto citado podemos perceber
como o hedonismo e o epicurismo. que o autor justifica o poder real apontando
uma condição natural do homem de “guerra
O roteiro sugerido engloba conteúdos refe- contra seus semelhantes”; o poder real tor-
rentes aos estudos sobre os Estados absolutis- na-se uma necessidade para que não sejam
tas europeus. Nas quatro primeiras questões, “guiados pela própria razão”. Dessa forma,
realmente há um parâmetro de correção, mas o poder real instaura-se para preservar a
isso não se aplica às duas últimas, que servem “segurança” e a sociedade.
para que os alunos aqueçam debates dentro
de seus respectivos grupos e levantem posi- 2. Leia o próximo trecho:
cionamentos diferentes em relação ao que foi
discutido na atividade.
“Origina-se aí a questão aqui discuti-
Propostas de questões para da: se é preferível ser amado ou ser temido.
avaliação Responder-se-á que se preferiria uma e ou-
tra coisa; porém, como é difícil unir, a um só
1. Leia o trecho: tempo, as qualidades que promovem aqueles
resultados, é muito mais seguro ser temido
do que amado, quando se veja obrigado a
“Por natureza, todo homem tem Direito falhar numa das duas.”
a tudo. A Lei Fundamental da Natureza. E
porque sua condição de Homem (tal como MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe. Capítulo XVII.
declarada no Capítulo anterior) é uma con- Porto Alegre: LP&M, 2006.
dição de Guerra de cada um contra cada um;
situação na qual cada um é governado por
sua própria Razão; e não há nada que possa A partir do trecho apresentado, responda:
utilizar que não o ajude a si mesmo a pre-
servar sua vida contra a dos seus inimigos. a) Qual foi a importância dessa obra de
Segue-se que, em tal condição, cada homem Maquiavel na época de sua produção?
34
História – 2a série, 1o bimestre
A obra de Nicolau Maquiavel foi escrita O absolutismo esteve em vigor nos séculos
durante a consolidação dos Estados Mo- XV, XVI, XVII e XVIII. Em algumas re-
dernos europeus. Há durante todo o livro li- giões chegou ao século XIX.
ções de como um governante deve agir para
que o poder seja adquirido e mantido em c) Cite duas características dos governos
suas mãos. democráticos atuais que sejam diferen-
tes das mencionadas no texto.
b) Qual sistema político Maquiavel consi-
dera em sua obra e no trecho citado? Os governos democráticos atuais são partici-
pativos. Ao contrário da frase do texto de Ma-
O autor trata da distinção entre o poder po- quiavel, que afirma que “todo o poder vem de
lítico baseado no temor e no amor. Exalta, Deus”, na democracia, o poder vem do povo,
de maneira pragmática, a manutenção do e os governantes precisam prestar contas de
poder pelo temor, critica as relações de po- seus atos. Diferentemente do trecho sobre o
der baseadas em laços de fidelidade. absolutismo, que afirma: “o príncipe não pre-
cisa dar contas de seus atos a ninguém”.
3. (Comvest/Vestibular Unicamp 2003) O
grande teórico do absolutismo monár-
quico, o bispo Jacques Bossuet, afirmou: Proposta de Situação de
“Todo poder vem de Deus. Os governan- recuperação
tes, pois, agem como ministros de Deus e
seus representantes na terra. Resulta de Caso alguns alunos não tenham consegui-
tudo isso que a pessoa do rei é sagrada e do corresponder às expectativas de suas ava-
que atacá-lo é sacrilégio. O poder real é ab- liações no bimestre, você pode desenvolver
soluto. O príncipe não precisa dar contas algumas ações especialmente voltadas à leitu-
de seus atos a ninguém” (citado em Coletâ- ra e interpretação de textos teóricos relaciona-
nea de documentos históricos para o 1o grau. dos ao Absolutismo e à formação dos Estados
São Paulo: SEE/CENP, 1978. p. 79). Nacionais europeus.
35
recursos para ampliar a perspectiva Artigo
do professor e do aluno para a
compreensão do tema LOPES, Marco A. Uma história da ideia de
utopia: o real e o imaginário no pensamen-
livros to político de Thomas Morus. História: Ques-
tões e debates. no 40. Disponível em: <http://
FRANCO JÚNIOR, Hilário. Cocanha, várias calvados.c3sl.ufpr.br/ojs2/index.php/historia/
faces de uma utopia. São Paulo: Ateliê, 1998. issue/view/299>. Acesso em: 17 nov. 2008.
Livro sobre as utopias populares da Idade
Média e da Idade Moderna. Site
SITUAçãO DE APRENDIzAGEM 4
INTERAçÕES CULTURAIS
Esta Situação de Aprendizagem pertence de novas rotas marítimas a partir da Europa,
ao tema “Encontros entre europeus e as civili- pondo em segundo plano a dinâmica, por as-
zações da África, Ásia e América”. sim dizer, humana dos contatos e as trocas cul-
turais que deles resultaram.
A produção didática a respeito dos encon-
tros entre europeus e povos de outros con- A Situação de Aprendizagem aqui pro-
tinentes, com frequência e predominância, posta, conquanto não desconsidere os aspec-
contemplou em suas análises pressupostos ex- tos ligados ao capitalismo mercantilista e à
pansionistas – destacando, sobretudo, os in- formação do mercado mundial, visa a am-
teresses comerciais, responsáveis pela abertura pliar o enfoque dos processos de interação
36
História – 2a série, 1o bimestre
cultural que acompanharam a expansão eu- ção e opostos binários, como bárbaros e civi-
ropeia a partir do final do século XV e início lizados ou desenvolvidos e atrasados.
do XVI.
Mais ainda, com esta Situação de Apren-
Nosso objetivo é contribuir para o rompi- dizagem, você poderá conduzir os alunos a
mento das habituais hierarquizações instituí- uma reflexão orientada sobre a importância
das no trato desta temática, assentadas em de respeitar a diversidade cultural, tanto no
valores ligados às ideias de progresso e evolu- passado quanto no presente.
Avaliação: escrita.
37
roteiro para aplicação da Situação você, contrapondo a violência do processo de
de Aprendizagem exploração colonial e o massacre das popu-
lações locais resultante dos contatos entre as
Os encontros entre europeus e povos da culturas.
África, Ásia e América são associados à época
dos descobrimentos e à expansão e explora- Antes de trabalhar o tema a partir da óti-
ção colonial de países como Portugal, Espa- ca aqui sugerida, solicite aos alunos que rea-
nha e Inglaterra: “A tradição histórica associa lizem uma pesquisa documental, buscando
a expansão desses países ao descobrimento nas narrativas dos descobridores e viajantes
de terras longínquas nas Índias Ocidentais e, informações sobre seus primeiros contatos
depois, à instalação de entrepostos ao longo com os povos por eles encontrados. Por exem-
das rotas para a África, para a Índia e para a plo: Diários de Cristóvão Colombo, relatando
Ásia”13. a descoberta da América; Cartas de Américo
Vespúcio; Carta de Pero Vaz de Caminha. Em-
A esse largo movimento foi associada a bora se refira a período posterior à expansão
crença de que se tratava de levar a civilização europeia, os relatos de Marco Polo também
aos não-europeus, hierarquizando valores e poderão ser aqui utilizados para tratar do en-
modos de vida a partir de práticas constantes contro entre europeus e asiáticos.
de imposição e substituição das culturas locais.
A interpretação desses encontros pela historio- Esta atividade (a ser feita individualmen-
grafia tradicional por longa data baseou-se em te, no Caderno do Aluno) poderá ser distri-
um modelo etapista de análise historiográfica. buída por grupos, orientados a pesquisar os
Segundo esse modelo, teria ocorrido primeiro contatos entre europeus e africanos, europeus
a colonização e depois a resistência dos povos e asiáticos, e europeus e americanos. No caso
autóctones. Frequentemente, desconsiderou-se da África, pode ser mais difícil encontrar do-
que as “descolonizações” foram processos, ao cumentos textuais, pois não há edições brasi-
longo dos quais diferentes embates foram tra- leiras dos relatos conhecidos. Essa dificuldade
vados entre “colonizadores” e “colonizados”. pode ser superada com o uso de livros para-
Para tratar dessa questão, é importante que didáticos, como A formação do império portu-
você exponha aos alunos um aspecto pouco guês (1415-1580), de Janaína Amado e Luiz
contemplado nos estudos historiográficos: a Carlos Figueiredo (São Paulo: Atual, 1999).
não-passividade dos povos dominados diante
dos colonizadores. Além disso, você pode lembrar aos alu-
nos que devem considerar em suas pesquisas
A mitificação de navegantes descobridores, a existência de outras formas de represen-
como Bartolomeu Dias, Cristóvão Colombo, tação desses encontros, como pinturas, por
Vasco da Gama, Pedro Álvares Cabral, Fer- exemplo.
nando de Magalhães, e a glorificação de seus
descobrimentos e feitos, ao longo das lutas Individualmente, peça que desenvolvam
pelo controle das rotas marítimas e expansão por escrito no Caderno do Aluno, para a pri-
dos impérios, podem ser entendidas como im- meira aula desta Situação de Aprendizagem,
portantes aspectos a ser problematizados por uma reflexão a respeito das seguintes ques-
13
FERRO, Marc. História das colonizações: das conquistas às independências – séculos XIII a XX. Tradução Rosa Freire
D’Aguiar. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.
38
História – 2a série, 1o bimestre
tões: Sobre o tema “Encontros entre europeus beleça uma discussão com a turma. Para esta
e as civilizações da África, Ásia e América”, aula, os alunos poderão contar com o suporte
o que se pode deduzir a respeito da palavra dos conteúdos anteriormente ministrados.
encontros? O que houve de comum nesses en-
contros? Que outro resultado esses encontros Após ou mesmo durante as discussões uma
poderiam ter tido? outra atividade poderá ser desenvolvida apro-
fundando as análises propostas. Indague aos
1a aula – introdução ao tema alunos: Que relações vocês encontram entre os
conteúdos tratados e temas como miscigenação,
Solicite aos alunos que pesquisaram o mes- racismo e violência racial no mundo contempo-
mo tema que apresentem oralmente os excer- râneo? Considerações a esse respeito poderão
tos selecionados e o conteúdo pesquisado e, ser feitas no Caderno do Aluno. Faça uso de
quando for o caso, com a representação dos questões atuais presentes na mídia que infe-
encontros em outros suportes, como imagens. lizmente são constantes e conhecidas. Solicite
Promova uma discussão acerca das diferen- aos alunos que selecionem uma matéria jorna-
tes contribuições apresentadas, procurando lística cujo conteúdo retrate um destes temas
envolver todos os alunos. Na discussão, os (você poderá disponibilizar jornais ou solicitar
seguintes aspectos deverão ser ressaltados: aos alunos que pesquisem e tragam recortes
choque entre culturas, tentativas de comuni- sobre a temática para a sala de aula e a colem
cação, interações etc. no espaço destinado para esse fim no Caderno
do Aluno). Solicite que redijam um texto que
É importante que se valorize, sobretudo, comente a matéria à luz dos conteúdos traba-
a análise das reações dos povos locais, pois lhados nesta Situação de Aprendizagem, de
mesmo que sejam sempre documentadas à luz forma a analisar criticamente as permanências
das visões dos europeus, é possível refletir cri- relacionadas à ocorrência de choque cultural
ticamente sobre elas. Considere o fato de que, e diferentes tipos de preconceitos.
com frequência, os descobridores não consi-
deraram os modos de vida dos habitantes lo- Propostas de questões para
cais, sua religiosidade, formas de organização avaliação
social etc.
1. Os versos a seguir são representativos do
Ouça os grupos a respeito de suas respecti- expansionismo português, no século XVI.
vas pesquisas e problematize o conteúdo apre- Que motivações poderiam ser atribuídas a
sentado, anotando os apontamentos na lousa esse processo?
para que os alunos possam complementar, no
Caderno do Aluno, dados referentes aos gru-
pos não pesquisados.
“De África tem marítimos assentos
Para a aula de encerramento da atividade, É na Ásia mais que todas soberana
solicite aos alunos que tragam respondidas as Na quarta parte nova os campos ara
questões que lhes foram passadas. E se mais mundo houvera, lá chegara!”
2a aula – encerramento CAMÕES, Luiz Vaz de. Os Lusíadas, Canto VII, 14.
Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br>.
Com base nas perguntas anteriormente Acesso em: 18 set. 2008.
repassadas e respondidas pelos alunos, esta-
39
nota: a “quarta parte nova” é uma alusão lonizar e catequizar os índios; em resumo,
à América, sendo Europa, Ásia e África subjugá-los. Para tanto, os espanhóis se
entendidas como as três partes do mundo. valeram da imposição, pela força, de seus
valores culturais, exterminando as culturas
É importante que os alunos considerem que, indígenas.
para além das motivações de ordem pessoal,
eram interesses de fundo mercantil que mo- 3. Leia o trecho:
viam a empresa das navegações, visando a
buscar e expandir rotas marítimas (princi-
palmente pela realização do périplo africa-
no – o contorno da África), conquistando e “Têm alma os índios e negros? Onde fo-
dominando diferentes territórios. ram parar os terríveis monstros marinhos e
a zona tórrida do Equador, capaz de tudo
2. Leia o trecho: queimar? Cadê o caos? Por que povos bár-
baros e infiéis conseguiram acumular tantas
coisas? Como essa gente pode viver sem o
“Como já disse, nossos espanhóis desco- verdadeiro Deus? Quem explica essa indife-
briram, percorreram, converteram enorme- rença pelo ouro se nós matamos e morremos
mente terras em sessenta anos de conquista. por ele? Afinal quem tem razão?”
Nunca nenhum rei e nenhuma nação percor-
reram e subjugaram tantas coisas em tão AMADO, Janaína; GARCIA, Ledonias Franco. Nave-
pouco tempo, como nós fizemos, nem fize- gar é preciso: grandes descobrimentos marítimos euro-
ram nem mereceram o que nossas gentes peus. São Paulo: Atual, 1999. p. 62-63.
fizeram e mereceram pelas armas, pela nave-
gação, pela pregação do Santo Evangelho e
pela conversão dos idólatras. É por essa ra-
zão que os espanhóis são perfeitamente dig-
nos de louvor. Abençoado seja Deus que lhes Essas foram perguntas que os europeus
deu essa graça e esse poder.” do século XVI registraram em seus diá-
rios de viagens. Os grandes descobrimen-
GOMARA, López. Historia general de las Indias. Apud tos transformaram a vida dos povos eu-
FERRO, Marc. História das colonizações: das conquis- ropeus e dos povos que eles encontraram.
tas às independências, séculos XIII a XX. Tradução Nesse sentido, no que se refere aos desdo-
Rosa Freire D’Aguiar. São Paulo: Companhia das bramentos desse encontro entre europeus
Letras, 2002. p. 39. e não-europeus, assinale a alternativa cor-
reta:
40
História – 2a série, 1o bimestre
b) A fim de garantir as conquistas e delas caminho. Essa convicção e essa missão sig-
tirar melhor proveito, os europeus tive- nificavam que, no fundo, os outros eram jul-
ram de enfrentar as diferenças entre eles gados como representantes de uma cultura
e os povos encontrados, geralmente res- inferior, e cabia aos ingleses, ‘vanguarda’ da
peitando seus costumes, idiomas e reli- raça branca, educá-los, formá-los — embora
giões. sempre se mantendo à distância.”
c) Para os povos conquistados, os desco- FERRO, Marc. História das colonizações: das conquis-
brimentos e a posterior conquista euro- tas às independências – séculos XIII a XX. Tradução Rosa
peia significaram uma mudança positiva Freire D’Aguiar. São Paulo: Companhia das Letras,
em seus destinos. Eles conheceram ho- 2002. p. 39.
mens diferentes, que trouxeram outras
técnicas, costumes, valores e crenças.
41
5. Leia o trecho: c) a ideia de “mistura” esteve na base dos
pressupostos coloniais, pois por meio
dela acreditou-se civilizar os povos co-
lonizados.
“Foram precisamente as atitudes racis-
tas dos colonizadores que constituíram um Os povos colonizadores agiram sob a égide
dos traços estruturais do colonialismo, para de pensamentos racistas de diferentes tipos,
torná-lo odioso, insuportável. Dois tipos de o que muitas vezes justificava ações de ca-
racismo intervieram. O primeiro se funda- ráter violento e de segregação. Segundo o
menta numa asserção de desigualdade. Esta autor, Marc Ferro, a miscigenação seria
se apoia às vezes numa concepção evolu- o principal temor.
cionista do ilimitado progresso civilizatório
trazido pelas raças mais evoluídas, as quais
avaliam o grau de avanço das raças ditas in- Propostas de Situações de
feriores e, por conseguinte, menos ou mais recuperação
assimiláveis. [...] Outras vezes, no mesmo re-
gistro, tal asserção se expressa de modo mais Proposta 1
radical, na crença de que há raças inaptas
para o progresso: melhor deixá-las morrer. Solicite aos alunos que escrevam um texto
[...] Outra forma de racismo [...] é a que [acre- sobre as características e consequências do en-
dita] existirem diferenças de natureza ou de contro dos antigos habitantes da África, ou da
genealogia entre certos grupos humanos. A Ásia, ou da América com os europeus.
principal obsessão que aterroriza refere-se à
mistura.” Proposta 2
FERRO, Marc (Org.). O livro negro do colonialismo. Racismo, colonialismo e imperialismo são
Tradução Joana Angélica. Rio de Janeiro: Ediouro, três temas interligados. Quais são suas rela-
2004. p. 30. ções? Faça um texto de análise a esse respeito
utilizando argumentos históricos desenvolvidos
nesta Situação de Aprendizagem. Retome suas
anotações de aula para realizar essa tarefa.
A respeito dessa citação, é possível afirmar
que: recursos para ampliar a perspectiva
do professor e do aluno para a
a) colonialismos e racismos são historica- compreensão do tema
mente dissociados, não podendo haver
entre eles nenhuma relação. FERRO, Marc. História das colonizações: das
conquistas às independências – séculos XIII
b) às atitudes racistas de povos coloni- a XX. Tradução Rosa Freire D’Aguiar. Com-
zadores se pode atribuir diferentes panhia das Letras: São Paulo, 2002. O livro
práticas racistas como seus desdobra- é uma boa referência para as pesquisas sobre
mentos. as conquistas e independências, pois apre-
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História – 2a série, 1o bimestre
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COnSidErAçÕES FinAiS
Neste Caderno propusemos atividades rela- do povos e culturas, participaram da forma-
tivas às transformações culturais e tecnológicas ção de um novo paradigma socioeconômico,
promovidas pelo Renascimento, além de estu- o capitalismo mercantilista, responsável pela
dos sobre a Reforma Religiosa e a Contrar- constituição de um mercado mundial assen-
reforma, e a formação das bases políticas das tado no comércio de especiarias e escravos.
monarquias absolutistas europeias. A seleção Entretanto, é bom destacar, reforçamos o en-
desses temas para orientar as atividades escola- foque nos processos de circulação e interação
res no bimestre deveu-se à sua importância para cultural que acompanharam a expansão euro-
compreender uma época instigante, em que os peia a partir do final do século XV e início do
europeus ampliaram ou estabeleceram conta- XVI. Com isso, além de tentar contribuir para
tos com civilizações distantes, como a africana, o rompimento das habituais hierarquizações,
a asiática e as indígenas americanas, como se assentadas em valores ligados às ideias de pro-
pôde ver com o último tema proposto. gresso e evolução e opostos binários (bárbaros
e civilizados; desenvolvidos e atrasados), visa-
Em síntese, nosso objetivo foi levar o aluno mos a desenvolver nos alunos a capacidade de
a identificar de que maneira as trocas culturais reconhecer a importância de respeitar e valo-
e comerciais, os conflitos e as miscigenações rizar a diversidade cultural, tanto no passado
populacionais, combinando-se e interligan- quanto no presente.
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