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PROFESSOR
HISTÓRIA
ensino médio
1a SÉRIE
volume 2 - 2009
Coordenação do Desenvolvimento dos Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Conteúdos Programáticos e dos Cadernos dos Arte: Geraldo de Oliveira Suzigan, Gisa Picosque,
Professores Jéssica Mami Makino, Mirian Celeste Martins e
Ghisleine Trigo Silveira Sayonara Pereira
GESTÃO
Catalogação na Fonte: Centro de Referência em Educação Mario Covas
Fundação Carlos Alberto Vanzolini
Prezado(a) professor(a),
É com muita satisfação que apresento a todos a versão revista dos Cadernos
do Professor, parte integrante da Proposta Curricular de 5a a 8a séries do Ensino
Fundamental – Ciclo II e do Ensino Médio do Estado de São Paulo. Esta nova versão
também tem a sua autoria, uma vez que inclui suas sugestões e críticas, apresentadas
durante a primeira fase de implantação da proposta.
A Proposta Curricular não foi comunicada como dogma ou aceite sem restrição.
Foi vivida nos Cadernos do Professor e compreendida como um texto repleto de
significados, mas em construção. Isso provocou ajustes que incorporaram as práticas
e consideraram os problemas da implantação, por meio de um intenso diálogo sobre
o que estava sendo proposto.
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Os ajustes nos Cadernos levaram em conta o apoio a movimentos inovadores, no
contexto das escolas, apostando na possibilidade de desenvolvimento da autonomia
escolar, com indicações permanentes sobre a avaliação dos critérios de qualidade da
aprendizagem e de seus resultados.
O uso dos Cadernos em sala de aula foi um sucesso! Estão de parabéns todos os que
acreditaram na possibilidade de mudar os rumos da escola pública, transformando-a
em um espaço, por excelência, de aprendizagem. O objetivo dos Cadernos sempre será
apoiar os professores em suas práticas de sala de aula. Posso dizer que esse objetivo
foi alcançado, porque os docentes da Rede Pública do Estado de São Paulo fizeram
dos Cadernos um instrumento pedagógico com vida e resultados.
Conto mais uma vez com o entusiasmo e a dedicação de todos os professores, para
que possamos marcar a História da Educação do Estado de São Paulo como sendo
este um período em que buscamos e conseguimos, com sucesso, reverter o estigma
que pesou sobre a escola pública nos últimos anos e oferecer educação básica de
qualidade a todas as crianças e jovens de nossa Rede. Para nós, da Secretaria, já é
possível antever esse sucesso, que também é de vocês.
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FIChA dO CAdERnO
nome da disciplina: História
Série: 1a
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ORIEnTAçãO SOBRE OS COnTEúdOS dO BImESTRE
Caro(a) professor(a), cidadão é algo variável no espaço e no tempo.
Essa dimensão da temática possibilita a você,
Este Caderno tem como objetivo auxiliá-lo professor, tratar de um tema tão distante, es-
no desenvolvimento de dois temas relaciona- pacial e temporalmente, como A constituição
dos ao mundo antigo, Civilização Grega – A da cidadania clássica e as relações sociais mar-
constituição da cidadania clássica e as relações cadas pela escravidão por meio do recurso de
sociais marcadas pela escravidão e O Império frequentes aproximações com a realidade dos
de Alexandre e a fusão cultural entre Oriente e alunos, chamando sua atenção não só para
Ocidente. Sugerimos uma seleção de conteúdos a importância do conhecimento ministrado,
e planos de aulas para que, a partir de suas mas também para as significações práticas
experiências docentes, desenvolvidas no con- desse conhecimento na sua própria vivência.
tato com os alunos e nos ambientes em que A exclusão social, a gestão dos regimes de-
realiza suas atividades profissionais, você pos- mocráticos e nossas práticas sociais poderão,
sa decidir sobre sua aplicação, alterando-os frequentemente, ser utilizadas como paralelos
ou adequando-os. Para cada um dos temas, é para reflexão.
proposto um conjunto de atividades, nas quais
foram priorizados aspectos representativos de No que diz respeito ao segundo tema, tam-
seu conteúdo e das discussões historiográficas bém buscamos contemplar aspectos entendi-
que, atualmente, são travadas sobre eles. dos como significativos para sua compreensão.
Um aspecto definidor do que convencio-
No primeiro tema, buscamos traçar uma nalmente designamos por cultura helenísti-
caracterização da constituição do pensamen- ca consiste no contato das culturas orientais
to democrático grego, comumente referido so- com a cultura grega. Tradicionalmente, esse
mente pelos princípios do século V ateniense. contato foi percebido por meio da prevalên-
É da Atenas desse período que advém a quase cia da cultura helênica (que teria difundido o
totalidade dos referenciais que temos acerca pensamento racional e a civilização) sobre as
da democracia e da escravidão gregas, mas demais. Procuramos apontar os limites desse
esses referenciais nos são passados como se modelo interpretativo, alinhando-nos com
tivessem existido sempre da mesma forma, ou propostas que percebem o contato entre os
seja, sem historicidade, problema para o qual povos como uma dimensão de trocas e de in-
nos voltamos, buscando ofertar uma resposta terações culturais.
que contemple um pouco da história da de-
mocracia grega, sobretudo ateniense. Assim como o tema da cidadania, O Impé-
rio de Alexandre e a fusão cultural entre Orien-
A ênfase na experiência de Atenas deve-se te e Ocidente oferece ampla gama de possíveis
ao fato de ser a cidade do mundo grego que co- paralelos e significações práticas relativos à
nheceu o maior aperfeiçoamento do regime realidade dos alunos. Pensar as interações
democrático, sistema que não se pode com- culturais, sem hierarquizações, pode consistir
preender bem se dissociado de estudos sobre a num exercício que resulte na valorização, pelo
escravidão. A cidadania, tema ligado a todas aluno, das diferenças entre as culturas e no re-
as experiências sociais, não pode ser entendida conhecimento da diversidade e complexidade
senão por uma percepção histórico-social. Ser dos grupos sociais.
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História – 1a série - Volume 2
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TEmA 1 – CIvIlIzAçãO GREGA: A COnSTITUIçãO
dA CIdAdAnIA CláSSICA E AS RElAçõES SOCIAIS
mARCAdAS PElA ESCRAvIdãO
A história da Antiguidade Clássica (grega los quais lutavam. Pierre Vidal-Naquet (VI-
e romana), em particular, e do mundo antigo, DAL-NAQUET, 2002, p. 32), ao analisar as
de maneira geral, foi acompanhada, ao lon- tradições interpretativas da história da Grécia
go dos últimos anos, principalmente a partir na França, por exemplo, aponta a construção
do início da década de 1980, por grandes mu- de uma Grécia francesa, dizendo tratar-se não
danças ocorridas nos domínios da História. só de uma Grécia Antiga, mas também de uma
O estudo das relações entre a Antiguidade Grécia situada entre a Antiguidade e o século
e o mundo contemporâneo, entre o passado e XIX, tingida por paixões nacionalistas, mar-
o presente, na escrita da história do mundo cas do cruzamento e do diálogo entre presente
antigo, tem sido, desde então, objeto de inú- e passado. A Grécia Antiga não é a Grécia em
meros trabalhos, que têm contribuído para o si, é a Grécia representada, dada a ler, com as
desenvolvimento de uma História Antiga mais distintas influências dos valores daqueles que
problematizada. Esses trabalhos têm buscado a narraram e de seu contexto de produção.
compreender melhor as tênues relações entre
o passado estudado e o presente vivido por Tomando-se ainda a França como exem-
seus intérpretes. Em uma ampla perspectiva, plo, pode-se ver que, nas análises da produção
eles têm se pautado por uma análise na qual intelectual de historiadores da Antiguidade,
os objetos não se desvinculam de suas tradi- como Nicole Loraux e Pierre Vidal-Naquet,
ções histórico-interpretativas. Neste sentido, nos séculos XVIII e XIX, criou-se a imagem de
diferentes temas relacionados à história grega uma Atenas burguesa, preocupada com o res-
são pensados não como objetos isolados num peito à propriedade, à vida privada e à expan-
passado distante, plasmados e à espera de sua são do comércio, do trabalho e da indústria,
apreensão pelos historiadores, mas como ob- refletindo anseios e hesitações da burguesia
jetos cujas próprias análises ao longo da his- desse período, às quais não são indiferentes
tória devem ser consideradas, sobretudo pelo as leituras dos textos clássicos acerca da de-
fato de terem sido sempre influenciadas pelos mocracia grega. Essa dinâmica não é distinta
valores que lhes foram contemporâneos. A quando se considera a escravidão antiga, cujos
nossa compreensão da democracia e da escra- estudos também estiveram fortemente marca-
vidão na Grécia Antiga é fortemente influen- dos por valores contemporâneos subjacentes
ciada pelos conhecimentos que a esse respeito às suas análises. Em uma obra clássica na
produziram, por exemplo, autores dos séculos área, Escravidão antiga e ideologia moderna,
XVIII e XIX, sobretudo europeus. (1991) Moses I. Finley aborda as influências
subjacentes que se fazem presentes nos traba-
Nosso conhecimento da Antiguidade pas- lhos dos historiadores da Antiguidade sobre
sa, necessariamente, pelos embates dos revolu- a escravidão. Esse aspecto, que desenvolvere-
cionários de 1789, que instrumentalizaram os mos ao longo das Situações de Aprendizagem
estudos do mundo antigo de forma a atender apresentadas, além de propiciar aos alunos
aos diferentes interesses dos grupos políticos uma compreensão mais dinâmica da própria
envolvidos, em prol da defesa dos ideais pe- História, pode ser entendido como uma for-
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História – 1a série - Volume 2
SITUAçãO DE APRENDIzAGEM 1
OS PRIMEIROS TEMPOS DA DEMOCRACIA GREGA
E O REGIME DEMOCRáTICO ATENIENSE
NA ÉPOCA CLáSSICA
Esta Situação de Aprendizagem tem como Nessa caracterização, você poderá trabalhar
objetivo propor reflexões em torno de uma te- os seguintes conteúdos:
mática clássica nos estudos da história da An-
tiguidade grega: a democracia. Cientes de que f Localização geográfica da Grécia
as delimitações implicam a necessidade de es-
colhas e de que estas podem não contemplar Solicite aos alunos que observem, no Ca-
aspectos importantes para um bom entendi- derno do Aluno, o mapa do mundo grego
mento do conteúdo a ser tratado, sugerimos antigo. Nessa oportunidade, observe que di-
que, em duas ou três aulas que antecedam ferentes cidades na Antiguidade buscaram
o desenvolvimento do tema, você apresente a ampliação de seus domínios por meio de
aos alunos uma caracterização dos períodos políticas expansionistas e muitas chegaram a
da história grega anteriores à Época Clássi- formar verdadeiros impérios ou constituíram
ca (séculos V e IV a.C.). Esse procedimento áreas nas quais exerceram fortes influências.
também será útil para o desenvolvimento das Por vários motivos (dificuldades de gestão,
atividades que se seguirão. guerras etc.), esses impérios e essas áreas se
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desestruturaram. No caso da Grécia Antiga, Convém destacar que, face à inexistência
especificamente, foram criadas diferentes co- de outras obras, a Ilíada e a Odisseia (prova-
lônias ao longo do Mediterrâneo cujo controle velmente compostas no século VIII a.C., mas
foi disputado entre as próprias cidades gregas, que só conheceram forma escrita no século VI
que acabaram, posteriormente, dominadas a.C.), comumente atribuídas a Homero, consti-
pelo Império de Alexandre e pelos romanos. tuem as principais fontes de conhecimento so-
bre o período analisado. A própria natureza
f Período Pré-Homérico (anterior ao século desses textos, considerados pela tradição histo-
XII a.C.) riográfica compilações de relatos orais, auxilia
a compreensão do modo de vida grego des-
Procure enfatizar a formação do povo e das sa época. Escritos para serem recitados, e não
primeiras cidades, com o advento das ondas lidos, eles nos dão mostras das formas de or-
migratórias de povos de língua indo-europeia, ganização social, do pensamento religioso, da
provavelmente entre 2200 e 2100 a.C. vida econômica etc. Uma breve apresentação
problematizada dos argumentos centrais des-
f Período Homérico (século XII a.C. ao século sas obras pode, inclusive, despertar nos alunos
VIII a.C.) a curiosidade intelectual pelo conhecimento da
A Grécia Antiga
ARRUDA, José Jobson de A. Atlas histórico básico. São Paulo: ática, 2002. p. 8.
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história antiga grega. Para embasar essa apre- to de trabalhadores (artesãos, médicos, poetas,
sentação, você pode consultar esses livros na etc.) que prestavam serviços às casas nobres,
biblioteca da escola, além de usar seu material camponeses e pequenos proprietários de terras
didático (a caracterização do Período Homéri- (a esse respeito ver: CARDOSO, 1990, p. 20).
co é comum na maioria dos livros didáticos), ou
mesmo consultar sites que disponibilizam gran- Já no Período Arcaico, diferentes estudos
de quantidade de excertos deles, como: apontam para a concentração de terras sob o
poder da aristocracia e a consequente redu-
– Ilíada: <http://www.ufrgs.br/proin/ ção do papel do rei, posteriormente substituído
versao_1/iliada/index.html>; por magistrados eleitos e por nobres de san-
gue. Esses nobres eram proprietários de terras
– Odisseia: <http://www.ufrgs.br/proin/ e detentores de poderes políticos e judiciários,
versao_1/odisseia/index.html>. possuindo grande prestígio num regime que
pode ser entendido como aristocrático ou oli-
f Período Arcaico (século VIII a.C. ao sécu- gárquico. Desse novo modelo organizacional
lo VI a.C.) resultou a subordinação do genos e do oikos
à comunidade. Essas importantes mudanças,
É importante destacar que foi no Período junto do significativo aumento populacional
Arcaico que ocorreram significativas mudan- observado pelos estudiosos desse período, fo-
ças na organização socioeconômica do mun- ram fundamentais para a constituição da pólis
do grego, sobretudo aquelas relacionadas à e de suas instituições na época clássica. Nas
desagregação das comunidades gentílicas. No propostas de aulas apresentadas nesta primei-
Período Homérico, o genos (família extensa, ra Situação de Aprendizagem, abordaremos
agregada em torno de um patriarca) era o núcleo aspectos relevantes para a compreensão da
em torno do qual se organizava o oikos (casa formação do pensamento democrático grego,
real ou nobre), que era composto por membros analisando seus principais fundamentos e sua
da família, agregados, escravos, bens, alimen- manifestação mais completa na Atenas do pe-
tos, etc. Fora dessa estrutura, havia um conjun- ríodo clássico.
Estratégia: aula expositiva, dinâmica de grupos, análise de textos e mapas e elaboração de glossário.
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Sondagem e sensibilização seguintes termos que aparecem nessa Situa-
ção de Aprendizagem: Arconte, areópago,
À Grécia Antiga comumente se associa um bulé, eclésia, estratego, eupátridas, hilotas,
número muito grande de temáticas que podem hoplitas, metecos, periecos e pólis.
envolver os alunos dessa fase escolar. Falar do
surgimento das olimpíadas, do pensamento míti- Roteiro para a aplicação da
co, da crença em diferentes divindades, dos gran- Situação de Aprendizagem
des combates bélicos, como a Guerra de Troia
ou a Guerra do Peloponeso, pode constituir um A ideia contemporânea de democracia
interessante fator de sensibilização e motivação comumente associa o termo a duas esferas
em relação à importância do tema. Além disso, do universo social: a da política e a das rela-
associações não tão frequentes, com a Filosofia ções interpessoais. Na primeira, a democracia
ou o teatro, poderão também despertar-lhes o in- é entendida como o regime em que os cida-
teresse pelo conhecimento da Grécia Antiga. dãos elegem seus representantes políticos, a
democracia representativa. Nesse sentido,
No que diz respeito diretamente à te- a democracia se contraporia à autocracia, o
mática aqui proposta, apresente à classe a poder absoluto de um governante (eleito ou
seguinte questão: O que é democracia? Nas in- não). No que se refere às relações interpes-
tervenções obtidas, você possivelmente ouvi- soais, um espaço democrático, por exemplo,
rá respostas que se aproximam de expressões é entendido como aquele em que diferentes
como: “poder do povo”, “governo do povo”. posicionamentos podem ser manifestados e
Transcreva o significado da palavra na lousa, devem ser respeitados. É claro que ambas as
mesmo no caso de ela não ter sido menciona- caracterizações são superficiais, a ponto de se
da pelos alunos, explorando etimologicamen- poder apontar aspectos tidos como autocráti-
te o termo: demos = povo / kratos = força, cos em uma democracia e outros tidos como
soberania, poder. Como o objetivo proposto democráticos em uma autocracia. Contudo,
para esse momento é somente a sensibilização são esses os conhecimentos que geralmente
para a temática a ser tratada, não aprofunde se associam à ideia de democracia e que nos
muito as problematizações do conceito, vis- serão úteis como ponto de partida para as re-
to que elas serão realizadas na primeira aula flexões desta Situação de Aprendizagem.
e no decorrer desta Situação de Aprendiza-
gem. Solicite aos alunos que anotem no Ca- 1a aula
derno do Aluno uma síntese das discussões.
Aproveite o momento para propor-lhes a As reflexões realizadas na Sondagem e sen-
elaboração de um glossário, em ordem alfa- sibilização em torno da análise terminológica
bética, que os ajude a sintetizar e organizar da palavra “democracia” orientarão o desen-
os inúmeros conceitos novos que serão aqui volvimento dessa primeira aula. Ao explorar
trabalhados. No decorrer das aulas, desta- etimologicamente os termos demos e kratos,
que esses conceitos na lousa, estimulando os anotados na lousa, é importante que se ob-
alunos a formular definições objetivas dos serve que a democracia grega antiga pode ser
mesmos. Nas aulas subsequentes, pergunte se entendida como poder do demos ou gover-
pairou alguma dúvida e a solucione antes de no pelo demos, o povo. Logo, importa saber,
prosseguir. Vale lembrá-los que, além de ser para essa discussão, o que era o povo e quem
uma estratégia de estudo individual, o glos- o compunha. Em vez de ofertar, de antemão,
sário será objeto de avaliação final. Para ela- essas informações, você pode propor aos alu-
boração desse glossário sugerimos alguns dos nos que sorteiem, dentre papéis previamente
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acerca de outra conotação de demo (também ciedades ateniense e espartana. As respostas
corrente em textos gregos antigos), ligada aos poderão ser as mais variadas, desde o conheci-
pobres dentre os cidadãos (logo, à maioria). mento advindo de sua formação escolar ante-
rior até filmes e mitos, além daqueles obtidos
Observe que considerar que a maioria dos pela curiosidade intelectual dos alunos, a par-
cidadãos era composta por camponeses e ar- tir de leituras já realizadas e trabalho investi-
tesãos implica atribuição de maiores poderes gativo (seguramente, aspectos relacionados a
àqueles que, na sociedade, possuem menos re- experiências e exemplos de outras cidades gre-
cursos. Nesse sentido, os pobres teriam experi- gas serão arrolados). Você poderá anotar no
mentado (ainda que se considerem os limites quadro as características apontadas de cada
da democracia grega) um regime excepcional uma dessas sociedades, auxiliando dialogi-
de exercício de poder, não só na Antiguidade camente os alunos a expor os próprios conhe-
grega, mas na história humana, ao ser-lhes cimentos.
permitido o acesso às instâncias de participa-
ção política como cidadãos, em que poderiam Com o quadro elaborado, comente suas
decidir sobre as questões da cidade. anotações considerando sobretudo as espe-
cificidades político-sociais dos dois modelos,
Conclua a aula dizendo que se tratou de problematizando e acrescentando as informa-
uma breve introdução ao tema e que o que foi ções que julgar necessárias. O conteúdo pode-
discutido representa alguns aspectos impor- rá ser retomado e mais bem desenvolvido nas
tantes da democracia ateniense do século V etapas a seguir. Esclareça que, num primeiro
a.C. Diga aos alunos que, no próximo encon- momento, vocês analisarão o modelo demo-
tro, vocês darão início ao estudo do desenvol- crático ateniense e, posteriormente, a socie-
vimento do pensamento democrático grego, dade aristocrática espartana. Diga que tanto
sobretudo ateniense. Atenas quanto Esparta são consideradas
cidades-Estado da Antiguidade grega, daí a
2a à 7a aulas necessidade de uma reflexão a esse respeito.
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dos por um conselho de anciãos), e os reis de- demos passaram a exercer forte poder político
tinham em suas mãos a autoridade religiosa, junto à aristocracia da cidade, pressionando-a
militar e judicial. em prol de maiores benefícios políticos.
Há uma transição desse primeiro momento É desse contexto que data a introdução de
para um regime aristocrático, que vai do sé- grandes reformas políticas instituídas pelos le-
culo IX ao século VI a.C., com a detenção de gisladores Drácon e Sólon – na aula que ante-
amplos poderes pelos eupátridas (nobres), “os ceder o desenvolvimento do conteúdo a seguir,
bem-nascidos”, “filhos de bons pais”. Os eu- solicite aos alunos que pesquisem e tragam
pátridas eram grandes proprietários de terras, apontado no Caderno do Aluno o significado
responsáveis pelo cultivo de cereais, criação de das palavras draconiano(a) e ostracismo. Es-
gado e produção de vinho e de azeite, princi- sas palavras são intimamente ligadas ao voca-
pais fontes de riqueza dos atenienses. bulário dos estudos sobre a democracia grega,
apresentando, contudo, um significado atual
Os reis foram substituídos por magistra- diferenciado. Sua análise, além de auxiliar na
dos, encarregados da guerra. Como cabia aos compreensão mais elaborada do processo de-
guerreiros prover seus armamentos, os eupá- mocrático ateniense, seguramente enriquecerá
tridas, em virtude de sua condição econômica o vocabulário de seus alunos. Referenciais im-
favorecida, tinham grande influência sobre o portantes do processo histórico que conduziu
controle da guerra. ao regime democrático poderão ser verifica-
dos no conteúdo a seguir, que trata das princi-
Somente aos eupátridas era reservado o pais reformas instituídas por Drácon, Sólon,
direito de participação no Areópago, coluna Psístrato e Clístenes.
na qual se reunia um conselho com os aris-
tocratas da cidade, os arcontes (magistrados, drácon (621-620 a.C.)
em número de nove, que substituíram o rei),
eleitos entre os aristocratas para exercício de O conhecimento a respeito das reformas
cargo vitalício e, posteriormente, para perío- draconianas (adjetivo que nos traz, hoje, a
dos de dez e de um ano (a esse respeito ver: ideia de rigidez) foi referenciado muito depois
CARDOSO, 1990, p. 42). O Areópago exer- da época de sua aplicação. Em síntese, pode-
cia amplas funções políticas, e seus membros -se dizer que elas tiveram por objetivo tornar
eram vitalícios. as leis públicas e aplicáveis a todos.
Além dos eupátridas, compunham o corpo Segundo a tradição que lhe sucedeu, desse
social os camponeses e os demiurgos (aqueles conhecimento se pode dizer que propunha:
que trabalhavam para o demos), que exerciam
várias funções: médicos, adivinhos, mensagei- f concessão da cidadania a todos os hoplitas
ros etc. (soldados) que pudessem, às suas próprias
custas, possuir equipagens militares. Essa
1.2. A transição democrática concessão incluía os hoplitas de origem não
nobre, que passavam a ter direito de eleger
Com a expansão de Atenas (fortalecimen- os arcontes, embora talvez não pudessem,
to de sua economia, por meio do comércio como observa Ciro Flamarion Cardoso,
com outros povos, anexação de novos domí- “[...] ingressar no Areópago” (CARDOSO,
nios etc.), os comerciantes que compunham o 1990, p. 43);
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f obrigatoriedade de se recorrer aos tribu- Nesse contexto de crise social, Sólon foi
nais quando de contendas privadas, fixan- nomeado legislador, estabelecendo inovações
do condições para se recorrer à vingança e reformas institucionais (de caráter socioeco-
ou à conciliação; nômico) de grande importância para o pro-
f desagregação dos grupos familiares, sepa- cesso democrático ateniense. Além do fim da
rados em círculos de parentela mais ou me- escravidão por dívidas, com a interdição da
nos próximos. hipoteca pessoal, como visto no documento
citado anteriormente, você pode acrescentar
As informações contidas nos itens acima que Sólon:
devem ser colocadas na lousa, com a orien-
tação de que os alunos as copiem no caderno f repatriou atenienses pobres que tinham
para usá-las em seus estudos. sido vendidos como escravos;
f tornou público o conhecimento das leis,
O trecho IV da Constituição de Atenas, es- escrevendo-as em axones ou kyrbeis expos-
crita por Aristóteles, trata justamente das re- tos para consulta na acrópole, na ágora, no
formas draconianas. Portanto, peça aos alunos pórtico real e no Pritaneu;
que pesquisem o significado das palavras ar- f atribuiu mais poderes à Eclésia (assembleia
conte, estratego e areópago, anotando no glos- dos cidadãos);
sário indicado no Caderno do Aluno. f vinculou os direitos políticos da cidade às
fortunas (dividindo os cidadãos em gru-
Há um fragmento da Constituição de Atenas pos, de acordo com seu rendimento), e não
no Caderno do Aluno. Versões digitalizadas da mais aos laços familiares ou de sangue;
obra podem ser consultadas na internet. Uma f criou a Bulé (conselho encarregado do pre-
delas está no link “Biblioteca” do site: <www. paro de leis para serem votadas);
consciencia.org>. f reorganizou a agricultura em torno da oli-
veira e da vinha, conferindo ênfase ao co-
Sólon (592-591 a.C.) mércio do azeite;
f desenvolveu o comércio marítimo, fazen-
As reformas de Drácon privilegiaram os do frente à competição com as demais
atenienses ricos não aristocratas, deixando cidades.
de lado os camponeses pobres que compu-
nham o demos. Clientes e arrendatários dos Psístrato e a tirania (560-527 a.C.)
ricos proprietários de terras, esses campo-
neses endividavam-se a ponto de não mais No longo processo de democratização,
conseguirem pagar as dívidas contraídas, Atenas não acabou com a instauração das re-
tornando-se escravos de seus credores e po- formas de Sólon, que apaziguaram somente
dendo, inclusive, ser vendidos por eles. Essa por um tempo os conflitos sociais, visto que
condição mudou com as reformas de Sólon, não atenderam aos interesses do demos, e sim
mediante a instauração do fim da escravi- a imperativos ligados ao controle e à organi-
dão por dívidas, e poderá ser analisada por zação do Estado, à instituição da legalida-
você ao consultar a mesma fonte indicada de, na busca do que os gregos denominavam
anteriormente (A Constituição de Atenas, de eunomia ou “boa ordem”. Na continuida-
Aristóteles, Livro II). de desse processo, os gregos conheceram a
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Wikipedia
tirania, com Psístrato e, posteriormente, duas
tentativas malsucedidas de manutenção desse
regime por parte de seus filhos. A Psístrato
atribuem-se:
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como você percebe, surge uma oportunidade Somente os esparciatas pertenciam ao gru-
singular para tratar de questões ligadas às cha- po dos chamados iguais. Proibidos de traba-
madas minorias sociais na atualidade, tais lhar, eram sustentados pelos hilotas (o que foi
como mulheres, negros, índios, gays etc. motivo de diferentes revoltas entre eles, sendo
uma das mais conhecidas a de Messênia, no
2. Pólis espartana (militar e aristocrática) século VIII a.C.), ao passo que os esparciatas
(homens) estavam envolvidos em diferentes
No mesmo período, em Esparta, vivia-se atividades militares, fator determinante da
um regime aristocrático (“governo dos me- educação masculina do cidadão espartano
lhores”, os nobres). Para que os alunos te- desde sua infância (geralmente, a partir dos
nham outros referenciais importantes para a sete anos). Um perfil do homem espartano vi-
construção do próprio conhecimento e con- sado por essa educação pode ser trabalhado
dições de estabelecer paralelos entre os dife- por você, apontando a valorização da força
rentes regimes, apresentamos a seguir uma física e da coragem nos combates, a solidarie-
breve caracterização do modelo aristocrático dade para com os companheiros e a entrega
espartano. de sua vida, se necessário, em benefício da ci-
dade.
A pólis espartana (os lacedemônios) não
era sinônimo de conjunto de cidadãos, ao con- Essas eram as virtudes esperadas de um
trário do que ocorria em Atenas. A pólis era esparciata, e é importante que os alunos com-
composta pelos esparciatas (cidadãos), mas preendam muito bem as mesmas, visto cons-
também pelos periecos (súditos de Esparta, tituírem aspectos referenciais da formação do
não-metecos), que tinham autonomia inter- cidadão espartano. Observe que a conquista
na em suas cidades e povoados (CARDOSO, da Messênia e a transformação de sua popu-
1990, p. 50). lação em hilotas (com frequentes conflitos) é
entendida, historicamente, como fator deter-
As atividades econômicas de Esparta fica- minante na história de Esparta, visto ser uma
vam a cargo dos periecos e dos hilotas (lite- explicação possível para a grande especializa-
ralmente, aprisionados). Os hilotas não eram ção militar dos esparciatas.
escravos, porque não eram de fato proprieda-
de dos espartanos. Eles eram submetidos, mas Do ponto de vista da organização polí-
formavam uma comunidade à parte, embora tica, um documento do período clássico da
não tivessem direitos legais e pudessem ser história espartana, conhecido como Grande
mortos por qualquer espartano sem que este Rectra, nos dá uma indicação da organiza-
sofresse nenhuma punição pelo assassinato ção da “constituição” espartana e da concen-
(FUNARI, 2001, p. 28). tração de poderes:
“Depois que o povo estabelecer o santuário de zeus Silânio, distribuir-se em tribos, e tiver
estabelecido um conselho (gerúsia) de 30 [anciãos], incluindo os reis, que se reúna de estação a
estação para a festa de ápelas. Que os anciãos apresentem ou rejeitem propostas, mas que o povo
tenha a decisão final. No entanto, se o povo se manifestar de forma incorreta, que os anciãos e os
reis rejeitem [o que o povo tiver decidido].”
Grande Rectra. Apud FUNARI, Pedro Paulo Abreu. Grécia e Roma. Vida pública e vida privada. Cultura, pensamento e mito-
logia. Amor e sexualidade. 4. ed. 1. reimp. São Paulo: Contexto, 2007. p. 30. <http://www.editoracontexto.com.br>.
22
História – 1a série - Volume 2
23
do-se da oligarquia (“poder de poucos”) os cidadãos espartanos podiam dedicar
e da aristocracia (“poder dos melhores”). seu tempo a uma educação militarizada,
Espera-se que os alunos contemplem a no- indispensável à manutenção desse siste-
ção de “povo” para os atenienses. ma. A base dessa educação estava no con-
vívio público dos homens (cidadãos) da
2. Sobre Esparta, o estudioso Moses Finley cidade, que partilhavam de diversas ativi-
afirmou: dades comuns e obrigatórias: rígido treino
militar, policiamento dos hilotas, refeições
conjuntas, etc.
24
História – 1a série - Volume 2
a) aristocrático e democrático.
“Depois que o povo estabelecer o santuá-
rio de zeus Silânio, distribuir-se em tribos, e b) tirânico e democrático.
tiver estabelecido um conselho (gerúsia) de
trinta [anciãos], incluindo os reis, que se reú- c) oligárquico e democrático.
na de estação a estação para a festa de ápelas. d) democrático/oligárquico e aristocrático.
Que os anciãos apresentem ou rejeitem pro-
postas, mas que o povo tenha a decisão final. Propostas de Situação de
No entanto, se o povo se manifestar de forma
Recuperação
incorreta, que os anciãos e os reis rejeitem [o
que o povo tiver decidido].” Depois da realização das atividades aqui
propostas (aulas, exercícios de análise de texto
FUNARI, Pedro Paulo Abreu. Grécia e Roma. Vida pú- e avaliação final), você poderá identificar entre
blica e vida privada. Cultura, pensamento e mitologia.
seus alunos alguns que não tenham alcançado
Amor e sexualidade. 4. ed., 1. reimp., São Paulo: Contex-
seus objetivos, tanto no que concerne à apreen-
to, 2007. p. 30. <http://www.editoracontexto.com.br>.
são dos conteúdos quanto no desenvolvimento
das habilidades e competências contempladas.
Para esses casos, sugerimos as seguintes
Esse trecho refere-se a um documento gre- atividades:
go do século VI a.C., denominado Grande f proponha aos alunos que elaborem um
Rectra, representativo de reformas dos pri- texto que estabeleça comparação entre os
mórdios da pólis espartana. A seu respeito regimes democrático ateniense e aristocrá-
se pode afirmar que:
tico espartano;
a) o poder do povo era superior ao dos an- f solicite aos alunos que, com base na cita-
ciãos. ção a seguir, sobre democracias contem-
b) o poder dos anciãos se sobrepunha à porâneas, desenvolvam um paralelo com a
decisão do povo. democracia ateniense.
“Ser cidadão é ter direito à vida, à liberdade, à propriedade, à igualdade perante a lei: é, em resumo,
ter direitos civis. É, também, participar no destino da sociedade, votar, ser votado, ter direitos políticos.
Os direitos civis e políticos não asseguram a democracia sem os direitos sociais, aqueles que garantem
a participação do indivíduo na riqueza coletiva: o direito à educação, ao trabalho, ao salário justo, à
saúde, a uma velhice tranquila. Exercer a cidadania plena é ter direitos civis, políticos e sociais.”
PINSKY, Jaime; PINSKY, Carla Bassanezi (Orgs.). História da cidadania. 4. ed., 2. reimp., São Paulo: Contexto, 2008. p. 9.
<http://www.editoracontexto.com.br>.
25
SITUAçãO DE APRENDIzAGEM 2
OS LIMITES DA DEMOCRACIA GREGA:
MULHERES, ESCRAVOS E ESTRANGEIROS
OS EXCLUÍDOS DO REGIME DEMOCRáTICO
Sondagem e sensibilização
Esta Situação de Aprendizagem tem como estudados, possibilitará a oportunidade de que
objetivo trabalhar com as formas de exclusão estabeleçam paralelos com o mundo contem-
social da democracia ateniense. Com a dinâmi- porâneo, numa rica experiência comparativa.
ca realizada em classe na Situação de Apren- Provavelmente, escravos, mulheres, menores de
dizagem anterior, em que se propôs a votação 16 anos e estrangeiros serão lembrados como
de uma hipotética declaração de guerra, os excluídos do regime democrático ateniense.
alunos tiveram um primeiro contato com a Já em relação às sociedades contemporâneas,
temática. Neste momento, com o intuito de espera-se que associações sejam feitas a res-
aprofundar os conhecimentos referenciados, peito da exclusão social advinda da pobreza,
proponha como sensibilização o debate da o que é pertinente, visto que hoje entendemos
seguinte questão: Na Antiguidade e no mundo por democracia o direito à participação dos
contemporâneo, quem são e quais lugares ocu- cidadãos nas decisões políticas, participação
pam os excluídos do regime democrático? esta que guarda estreita relação com a cons-
cientização política, à qual, muitas vezes, se
Essa pergunta, além de dar margem para associa a instrução formal dos cidadãos para
que os alunos recapitulem os conhecimentos o exercício de uma cidadania crítica.
26
História – 1a série - Volume 2
Não deixe de explorar outras formas de desta forma, separados. Assim, as filhas casa-
exclusão social que transcendem, por vezes, das pelo pai são, pelas nuanças da lei, neces-
as barreiras impostas pelo poder aquisi- sariamente submetidas à reivindicação. A lei
tivo, como, por exemplo, a discriminação declara, explicitamente, que se pode dispor,
de “minorias” étnicas e sexuais que, histo- com liberdade, de seus bens, na ausência de
ricamente, estiveram fora dos poderes de- filhos legítimos do sexo masculino. Se há fi-
cisórios e que, hoje, apesar de “incluídas” lhas, deve dispor-se delas ao mesmo tempo.
democraticamente, ainda experimentam Para decidir-se sobre o destino das filhas,
uma forte rejeição social nas lutas pelos pode doar-se e legar-se seus bens. Não se
próprios direitos. Você pode ilustrar com pode, contudo, sem dispor as filhas legítimas,
os fatos de que as mulheres não votavam, adotar e legar nenhuma parte de seus bens.”
no Brasil, até 1932, e os negros não tinham
direito ao voto, nos Estados Unidos, até a Tradução Pedro Paulo Abreu Funari. In: _____. Anti-
década de 1960. Tanto em um país, como guidade Clássica: a história e a cultura a partir dos do-
em outro, hoje, mulheres e negros votam e cumentos. Campinas: Editora da Unicamp, 2002.
podem ser votados, mas prevalecem fortes
as discriminações de caráter sexual e étni-
co, o que contribui em ampla medida para 2a aula – mulheres
a exclusão desses grupos dos processos de-
mocráticos plenos. Nesta segunda aula, solicite aos alunos que
estabeleçam relações entre o texto de Isaios e
1a aula – mulheres a imagem do gineceu, analisando a figuração
feminina em Atenas. Se achar necessário reco-
Para o desenvolvimento dessa temática, lha essa produção para correção.
propomos o trabalho com dois documentos
antigos, relacionados à mulher grega. A suces-
27
3a aula – devolução das produções seguir e continuar a instrução, com o estudo
da Filosofia”.
No momento da devolução dos trabalhos
corrigidos, incite os alunos a manifestar o FUNARI, Pedro Paulo Abreu. Grécia e Roma. Vida
conteúdo de suas análises, que você poderá pública e vida privada. Cultura, pensamento e mitolo-
complementar, considerando que: gia. Amor e sexualidade. 4a edição, 1a reimpressão, São
Paulo: Contexto, 2007. pp. 43-44. <http://www.editora
f a educação das meninas, variável no tem- contexto.com.br>.
po e no espaço, tem em comum na história
grega o fato de ser claramente diferenciada
da educação dos meninos. Enquanto estes,
desde a primeira infância, eram afastados
do núcleo doméstico, as meninas ficavam A educação das meninas, em sua infância
restritas a ele, literalmente; e adolescência, era voltada para a “formação
f na casa das famílias mais abastadas, havia ideal das mulheres”, às quais competia servir
um espaço masculino e um feminino; no aos maridos e fornecer cidadãos para a pó-
feminino (gineceu), elas brincavam e eram lis (o cidadão é, em geral, filho de pai e mãe
instruídas a cuidar das coisas cotidianas da atenisenses). Você pode solicitar aos alunos
casa. que ouçam a música Mulheres de Atenas, de
Chico Buarque. Seu conteúdo é simples, e sua
mensagem, bastante direta, o que ajudará na
associação e compreensão das temáticas estu-
dadas.
Você pode observar que seus brinque-
dos eram representativos da vida que teriam Em relação ao texto e à imagem do gine-
como adultas, ceu, ambos se complementam no auxílio ao
“[...] basicamente como mães e donas de estudo das representações da vida feminina
casa, dedicadas à costura da lã, ao cuidado no universo grego. O primeiro mostra a tutela
dos filhos e ao comando dos escravos do- feminina, ou seja, sua frequente dependência
em relação aos homens (marido ou pai) no
mésticos. Os meninos brincavam de lutas, já
espaço da pólis, enquanto o segundo apresen-
antecipando sua entrada no exército. Quan- ta o espaço destinado às mulheres dentro da
do chegavam à adolescência, as meninas par- casa, o que é bastante significativo de sua fi-
ticipavam de cerimônias que as preparavam guração social.
para o casamento; as garotas de famílias
com mais recursos podiam aprender, tam- Para os dois casos analisados, é importan-
te que você observe que, a despeito do lugar
bém, a tocar e dançar. Já os rapazes começa-
social ocupado pelas mulheres, a dominação
vam o treinamento para o serviço militar. A masculina não as relegou à invisibilidade.
caça, para eles, era um treino para a guerra, Diferentes estudos, hoje, apontam para resis-
assim como as competições esportivas de tências a essa dominação e novos papéis das
que participavam. A educação dos rapazes mulheres nas sociedades gregas, ainda que
consistia no conhecimento das letras, da
persista a constatação de sua exclusão dos
espaços decisórios da cidade. A naturalização
poesia e da retórica, ainda que se pudesse
da total exclusão feminina e do silêncio das
28
História – 1a série - Volume 2
mulheres esteve fortemente ligada a valores como a Ilíada e a Odisseia, podemos ler que a
contemporâneos de estudiosos da Antiguida- prática da guerra com outros povos, a pirata-
de, principalmente nos séculos XVIII e XIX. ria e os saques de territórios da Hélade eram
A moral vitoriana, por exemplo, muitíssimo a grande fonte de fornecimento de escravos.
ligada aos valores clássicos, legitimou os pró- Em Atenas, não era diferente. Os escravos
prios valores ao consolidar uma leitura das obtidos dessa forma poderiam ser gregos ou
mulheres gregas como totalmente submissas não-gregos (esses últimos foram, pejorati-
aos homens e a seus desígnios, reiterando, vamente, designados pelos gregos de bár-
assim, o “papel da mulher”, tanto na socie- baros) e exerceram diferentes funções, que
dade grega, quanto naquela em que viviam os iam da agricultura e trabalho nas minas
historiadores. aos trabalhos públicos e domésticos na ci-
dade. É importante que se observe a grande
Ao encerrar a aula, anuncie que, na próxi- variedade das condições de vida e funções
ma, será tratado o status dos escravos na Gré- exercidas pelos escravos e que muitos deles
cia Antiga, particularmente em Atenas. possuíam mais instrução que a maioria dos
cidadãos.
4a aula – Escravos
Aos escravos, em diferentes situações, po-
A democracia ateniense antiga é comu- deria ser conferida a liberdade (quando, por
mente entendida pelos historiadores da Anti- exemplo, eram utilizados em guerra, algo ex-
guidade como um regime que só pôde existir cepcional no caso de Atenas, contrariamente
graças à escravidão. Assim, escravidão e de- ao que ocorria em Esparta, onde também os
mocracia, aparentemente incompatíveis, fo- hilotas combatiam nas guerras), mas nunca a
ram formas vivenciadas concomitantemente cidadania, fazendo com que jamais partici-
em Atenas. Indague aos alunos, inicialmente, passem das instâncias decisórias sobre os pro-
se há uma incompatibilidade entre os termos. blemas das cidades.
Promova um debate e, se necessário, inter-
venha e acrescente informações a respeito, Além disso, os escravos não eram consi-
deixando claro que, naquela sociedade, escra- derados seres humanos, mas “instrumentos
vidão e democracia não eram incompatíveis, vivos” ou coisas, podendo ser cedidos, vendi-
contrariamente ao que se poderia observar dos ou alugados, como quaisquer outras pro-
em sociedades contemporâneas, nas quais priedades e bens. Note-se que as reformas de
porventura existisse a escravidão. A demo- Sólon e o fim da escravidão por dívida liberta-
cracia ateniense não poderia existir se não ram um grande número de pessoas, mas eram
houvesse a escravidão, pois era o escravo que atenienses que se tornavam escravos de outros
tornava possível o estatuto claro e definido atenienses, uma condição entendida como in-
do cidadão, constituindo a figura decisiva digna na Atenas do século V.
para a manutenção econômica e política da
pólis. Os escravos eram aqueles que, na socieda-
de democrática ateniense, viviam sob a coação
Na sequência da aula, observe que, desde dos outros, dos cidadãos, e cujo trabalho não
as primeiras organizações familiares, os es- era realizado para si, mas para os outros. Essa
cravos já apareciam como componentes do dimensão quase não aparece nos livros didáti-
“grupo familiar”, sempre submetidos à total cos, nos temas dedicados à história da Grécia.
vontade dos senhores, representando a força Por isso, sugerimos que você enfatize essa
de trabalho no interior do oikos. Em textos questão propondo aos alunos que reflitam em
29
torno de dois aspectos já anunciados, e que Com base nos excertos documentais a se-
são importantes para a compreensão do tema: guir, peça aos alunos que tracem em seus ca-
o do tornar-se escravo e o da natureza do tra- dernos um perfil dos metecos. Posteriormente,
balho escravo. ao discutir o conteúdo elaborado pelos alunos,
verifique se apontaram e/ou articularam as-
Para encerrar a aula, você poderá colocar pectos definidores do status dos metecos entre
na lousa, para reflexão com os alunos, alguns os atenienses (não eram cidadãos, mas tinham
aspectos definidores da escravidão ateniense: alguns direitos; eram recrutados e guerrea-
vam ao lado dos soldados atenienses; desen-
f a escravidão era entendida como uma ins- volviam importantes papéis na economia da
tância natural da vida dos homens da cida- cidade; para serem assistidos juridicamente, ti-
de, à qual alguns eram contrários e outros, nham de ser representados por um ateniense).
favoráveis (dentre esses últimos, pode-se
citar Aristóteles, para quem alguns indiví-
duos eram naturalmente destinados à es-
cravidão, visto terem nascido para servir); “Hoje estamos sós, desembaraçados da
f a origem étnica não esteve na base da es- palha. Sim, que os metecos constituem a pa-
cravidão grega, como ocorrera com os ne- lha dos cidadãos, ao que penso.”
gros africanos na escravidão moderna; ARISTÓFANES, Acarnenses, 502-508. Apud FER-
f os escravos estiveram na base da economia REIRA, 1990, p. 258.
ateniense, que, voltada para o comércio, ti-
nha na escravatura sua mão de obra para
os serviços agrícolas.
5a aula – Estrangeiros
“Nas proximidades do outono daquele
Os metecos eram os estrangeiros na pólis ano os atenienses em massa, recrutados en-
ateniense, aos quais era concedido o direito de tre os cidadãos e os residentes estrangeiros,
nela habitar. Os metecos eram livres, podendo invadiram o território de Mégara.”
ser gregos ou não-gregos. A eles competia a rea-
TUCIDIDES. História da Guerra do Peloponeso, II, 31.
lização de atividades comerciais e artesanais,
Tradução de Mario de Gama Kury. Brasília: Editora da
mas não podiam exercer os direitos políticos
Universidade de Brasília, 1982.
dos cidadãos. Na condição de estrangeiros, ti-
nham de ser registrados e pagar impostos so-
bre sua pessoa; caso contrário, poderiam ser
vendidos como escravos. Com essa situação re-
gularizada, podiam apelar à justiça, mas sem-
“[...] a cidade tem necessidade dos mete-
pre por meio de um patrono ateniense. No que
cos devido ao grande número de profissões e
se refere à democracia ateniense, pode-se dizer
da frota.”
que ela também necessitava dos metecos, espe-
cialmente no que se refere à prestação de servi- XENOFONTE, República dos atenienses, I, 10-12,
ços à coletividade dos cidadãos. Como observa apud CASSIN, Barbara et al. Gregos, bárbaros, estran-
Nicole Louraux, “[...] a democracia atribuía geiros. A cidade e seus outros. Tradução de Ana Lúcia
direitos aos metecos e os protegia prescreven- de Oliveira e Lúcia Cláudia Leão. Rio de Janeiro:
do-lhes deveres” (CASSIN, B.; LOURAUX, Editora 34, 1993. p. 20
N.; PESCHANSKIC, C., 1993, p. 14).
30
História – 1a série - Volume 2
31
O trecho foi extraído de uma comédia 4. Para o estudioso Moses I. Finley, “[...] com
grega, na qual o autor, Aristófanes, iro- raras exceções, não havia atividade, lucra-
nicamente simula um diálogo entre um tiva ou não lucrativa, pública ou privada,
homem e uma mulher gregos, quando a agradável ou desagradável que não fosse
mulher busca envolver-se com as ques- executada por escravos em algum momen-
tões entendidas como “dos homens”. À to e em algum lugar no mundo grego. A
luz dos conhecimentos adquiridos, desen- exceção era, naturalmente, a política: ne-
volva uma reflexão (entre 10 a 15 linhas) nhum escravo tinha um cargo público ou
sobre a condição social das mulheres em assento nos órgãos deliberativos ou judi-
Atenas. ciais (embora os escravos fossem emprega-
dos habitualmente no ‘serviço civil’, como
Espera-se que, neste exercício, o aluno seja secretários e escriturários, como policiais e
capaz de analisar o documento transcri- guardas das prisões”.
to, percebendo que a personagem femini-
na é inquiridora e busca envolver-se com FINLEY, Moses I. Economia e sociedade na Grécia Anti-
questões que, na Atenas clássica, eram ga. Tradução Marylene Pinto Michael. São Paulo: Martins
entendidas como exclusivas do universo Fontes, 1989. p. 105.
masculino. A partir dessa constatação, o
aluno deve observar que, apesar de estar a) Os escravos não tinham direitos políticos,
em um ambiente em que vive junto de um pois eram cidadãos de segunda categoria.
cidadão, usufruindo do status de uma pes-
soa nessa condição, a mulher não tem di- b) Os escravos desenvolviam diferentes ativi-
reitos políticos. dades, podendo exercer, inclusive, alguns
cargos políticos, mas isso era exceção.
3. As cidades de Atenas e Esparta foram tra-
dicionalmente entendidas como um “clube c) Os escravos tinham poucos direitos po-
de homens” e como um “clube de cida- líticos.
dãos”. Por que comumente se associa, ao
se tratar de democracia grega, o destino de d) Os escravos jamais participavam das
escravos e mulheres? instâncias decisórias a respeito dos pro-
blemas das cidades, porque não tinham
a) Porque, assim como as mulheres, os escra- nenhum direito.
vos também habitavam a cidade grega.
5. Qual dos itens abaixo apresenta categorias
b) Porque as mulheres gregas possuíam di- excluídas da vida política da cidade ate-
reitos, mas os escravos não. niense?
32
História – 1a série - Volume 2
SITUAçãO DE APRENDIzAGEM 3
DEMOCRACIA E ESCRAVIDãO NO MUNDO ANTIGO
E NO MUNDO CONTEMPORÂNEO
33
Sondagem e sensibilização de que poderão realizar como pesquisa e cujos
resultados deverão ser partilhados com os co-
Coloque na lousa as seguintes afirmações: legas e problematizados por você. Essa ativida-
de, além de propiciar uma reflexão em torno do
f “Os negros escravizados no Brasil foram conteúdo estudado, dará margem para que os
trazidos do continente africano.” alunos o pensem à luz de experiências que lhes
f “No Brasil, as mulheres votam desde 1932.” são conhecidas ou contemporâneas.
f “Um estrangeiro naturalizado pode votar
nas eleições no Brasil.” Na primeira aula após a pesquisa, divida
a turma em três grupos e solicite a produção
Solicite aos alunos que, à luz dos conteú- de um fichamento (em tópicos), por grupo, a
dos estudados, reflitam em relação a cada respeito da análise comparativa solicitada.
uma das afirmações e considerem as seguintes Essa seleção de dados deve refletir o conteú-
questões: Quem eram os escravizados na Gré- do pesquisado pelos componentes do grupo.
cia Antiga? Por que as mulheres e estrangeiros Para a aula seguinte, solicite que representan-
não tinham direito ao voto nas assembleias? A tes dos grupos apresentem os resultados que
discussão dessas contraposições é importan- obtiveram, dando margem para que os demais
te, visto que orientará a continuidade das ati- participantes também manifestem opiniões e
vidades. complementações em relação a cada um dos ei-
xos temáticos propostos. Nessa oportunidade,
1a e 2a aulas sintetize e problematize o conteúdo arrolado
anotando-o na lousa. Proceda de igual maneira
O principal objetivo das duas aulas a se- com os dois outros grupos, verificando e valo-
guir consiste em propiciar aos alunos uma rizando, de modo problemático, suas contri-
compreensão comparativa de referenciais li- buições. Não deixe de solicitar aos alunos que
gados à democracia e à escravidão antigas e anotem os dados novos em seus cadernos.
contemporâneas, permitindo ao aluno a pro-
dução de reflexões críticas a respeito de ambos Provavelmente, em suas análises, os alunos
os contextos. Tendo desenvolvido aspectos puderam identificar algumas características
referenciais da democracia e da escravidão entendidas como de atenuação das condições
gregas você pode, oportunamente, estabelecer de exclusão social de mulheres e estrangeiros
uma análise comparativa entre valores a elas nos contextos contemporâneos, percebendo-
ligados e outros que, em contextos modernos -os como integrados socialmente. Em relação
e contemporâneos, nortearam e norteiam re- à escravidão, apesar de as referências, em prin-
flexões acerca do pensamento democrático cípio, serem dadas a partir da escravização dos
e da escravidão em nosso contexto. Ofereça negros, não deixe de fazer menção aos cons-
aos alunos um conjunto de temas a respeito tantes casos contemporâneos de escravidão de
do conteúdo, como, por exemplo, escravidão crianças, homens e mulheres que aparecem na
brasileira, participação feminina na sociedade mídia e são objeto de preocupação. Em todos
brasileira contemporânea e inserção política os casos, estabeleça uma comparação com os
dos estrangeiros no Brasil, e, na sequência, pressupostos relacionados à história grega
solicite-lhes a elaboração de uma análise com- sem, contudo, hierarquizar essas diferentes
parativa dessas diferentes realidades, ativida- situações.
34
História – 1a série - Volume 2
35
d) Em ambos os contextos, as mulheres po- a) sempre houve uma visão negativa da
diam ser eleitas para cargos políticos. democracia como governo do povo.
36
História – 1a série - Volume 2
FERREIRA, José Ribeiro. A democracia na FUNARI, Pedro Paulo Abreu. Grécia e Roma.
Grécia Antiga. Coimbra: Livraria Minerva, Vida Pública e vida privada. Cultura, pensa-
1990. mento e mitologia. Amor e sexualidade. 4. ed.
1. reimp. São Paulo: Contexto, 2007. <http://
www.editora contexto.com.br>
FINLEY, M. Esparta. In: ______. Uso e abu- GUARINELO, Norberto Luiz. Imperialismo
so da História. Tradução Marylene Pinto greco-romano. São Paulo: ática, 1991. (Prin-
Michael. São Paulo: Martins Fontes, 1989. cípios).
37
TEmA 2 – O ImPÉRIO dE AlEXAndRE
SITUAçãO DE APRENDIzAGEM 4
O IMPÉRIO DE ALEXANDRE E A FUSãO CULTURAL
ENTRE ORIENTE E OCIDENTE
Ao se tratar da cultura helenística, um o Egito, a Mesopotâmia, a Palestina e parte
primeiro aspecto a ser observado consiste na da Índia.
análise de sua denominação. Os gregos an-
tigos denominavam-se helenos, mas helenís- A curta duração do Império de Alexandre,
tica não é somente a cultura dos helenos, e principalmente por causa das dificuldades e divi-
sim um conceito comumente utilizado pela sões políticas que o enfraqueciam, é, sobretudo,
historiografia contemporânea para designar lembrada pela “fusão cultural entre Ocidente e
a cultura de todos os povos falantes do gre- Oriente”, atribuindo-se a Alexandre a junção dos
go, desde a conquista de Alexandre, o Gran- elementos da cultura grega à cultura oriental de
de (336 a.C.) até 146 a.C., período em que egípcios, persas, fenícios, assírios etc. Esse proces-
a Grécia esteve sob domínio da Macedônia. so ficou conhecido como helenismo, denominan-
Sob o comando de Filipe II, da Macedônia, os do-se a cultura daí oriunda de cultura helenística.
macedônios estenderam sua conquista por
um vasto território, empreendimento que foi Essa atividade foi planejada para tratar
ampliado por Alexandre, filho de Filipe II. dos principais aspectos e resultados desse vas-
Essa expansão submeteu as cidades gregas, to processo de fusão histórico-cultural.
Competências e habilidades: reconhecimento das interações e trocas culturais entre povos sem hierarqui-
zações preconcebidas – cultura superior/cultura inferior.
38
História – 1a série - Volume 2
39
ARRUDA, José Jobson de. Atlas histórico básico. São Paulo: ática, 2002. p. 9.
Providencie, também, para seu uso, um não deve ser analisado a partir de conceitos de
mapa político atual da Europa. Logo no iní- superioridade ou inferioridade.
cio, divida a classe em três grupos e solicite a
cada um deles que desenvolva uma pesquisa Em seguida, estabeleça a distinção entre
sobre uma das três áreas em que foram gran- cultura helênica e cultura helenística:
des as contribuições da cultura helenística:
Filosofia, Ciências e Artes. Oriente os alunos - cultura helênica = grega;
a buscar aspectos gerais e definidores dessas
áreas: - cultura helenística = cultura de todos
os povos falantes do grego, desde a
f Filosofia: estoicismo, epicurismo e ceti- conquista de Alexandre, o Grande (336
cismo; a.C.) até 146 a.C.
f Ciências: Biblioteca de Alexandria, desen-
volvimento da Matemática, da Física e de Para facilitar seu trabalho, procure tratar,
outras ciências; sequencialmente, das seguintes questões:
f Artes: mudanças na Arquitetura, na Escul-
tura, na Literatura etc. f contextualize o enfraquecimento das cida-
des-Estado (dificuldades e divisões políti-
1a e 2a aulas cas, além do enfraquecimento dos exércitos,
provocado por conflitos internos);
Inicialmente, solicite aos alunos que deem f solicite aos alunos que localizem a Mace-
um exemplo de interação de diferentes cul- dônia nos mapas que possuem e que veri-
turas. Eles provavelmente farão referência a fiquem a extensão do Império conquistado
aspectos ligados à cultura nacional e à con- por Alexandre. Não deixe de observar que,
tribuição de nossas diferentes etnias formado- conhecido como o mais extenso império da
ras, o que poderá ser desenvolvido por você e Antiguidade, o Império de Alexandre teve
exemplificado com ilustrações acerca da plu- curta duração (aproximadamente 13 anos);
ralidade das culturas no Brasil, sempre lem- f apresente o mapa-múndi e peça aos alunos
brando que o contato entre diferentes culturas que comparem as dimensões do Império
40
História – 1a série - Volume 2
- permissão para permanência das insti- 1. Qual a distinção entre cultura helênica e
tuições políticas e religiosas locais; cultura helenística?
- incentivo à união, por meio de casamen- Helênico é o termo utilizado pelos gregos
tos, entre vencedores e vencidos, do que para se referir a si mesmos; logo, cultura he-
deu exemplo o próprio Alexandre; lênica é um sinônimo de cultura grega. He-
lenístico é como ficou conhecido o período
- integração ao exército macedônico de que vai das conquistas de Alexandre até o
contingentes militares dos povos con- domínio romano da Grécia, sendo a cultu-
quistados; ra helenística aquela dos povos falantes do
grego, desde as conquistas de Alexandre.
- governo dos territórios conquistados
por gregos e macedônicos, incorporan- 2. Cite algumas das principais contribuições
do, em grande medida, aspectos impor- da cultura helenística.
tantes dos governos locais.
A influência da cultura helenística se fez
Após a problematização dos aspectos ar- sentir em diferentes áreas do conhecimento.
rolados, solicite aos grupos que apresentem, Na Filosofia, resultou no desenvolvimento
sucessivamente, por temática, os resultados de de escolas filosóficas, como o Estoicismo,
suas pesquisas. No Caderno do Aluno, os es- o Epicurismo e o Ceticismo. Nas Ciências,
41
houve um grande avanço dos estudos da c) diferentes trocas culturais entre gregos e
Matemática, com a Geometria de Euclides não-gregos.
e a Física de Arquimedes, além dos estudos
astronômicos e cartográficos, como os de d) trocas culturais somente no que se refe-
Cláudio Ptolomeu. Nas Artes, a busca de re à Literatura.
um realismo maior e mais dramático, que
contemplasse os sentimentos humanos, defi- 5. Assinale algumas características da expan-
ne a cultura helenística nesse campo, assina- são do Império Macedônico de Alexandre,
lado pela predominância de obras de grande o Grande:
porte nas esculturas e edifícios públicos.
a) globalização das instituições romanas
3. Sobre os termos helênico(a) e helenístico(a) como a república e o papado.
relacionados à cultura, pode-se afirmar que
são, respectivamente: b) criação de um verdadeiro intercâmbio
entre as culturas dos povos anexados ao
a) adjetivo que se refere à cultura grega/ Império.
adjetivo utilizado por estudiosos con-
temporâneos para se referir ao período c) crucificação de todos os opositores e
que vai das conquistas de Alexandre até proibição de lutas nas arenas romanas.
o domínio romano sobre a Grécia.
d) proibição de toda manifestação cultural
b) adjetivo utilizado por estudiosos con-
que não fosse grega.
temporâneos para se referir ao período
que vai das conquistas de Alexandre até
o domínio romano sobre a Grécia/adje-
Propostas de Situações de
tivo que se refere à cultura grega.
Recuperação
d) adjetivo que designa como ficou conhe- Em relação ao conteúdo ministrado, solici-
cido o período de Péricles/adjetivo que te aos alunos que retomem suas anotações e,
se refere à cultura grega após a domina- com base nas mesmas, redijam um texto sobre
ção romana. o tema “interações culturais”. É importante
que esse texto contemple referenciais tratados
4. Em relação à civilização helenística, é ao longo das aulas.
correto afirmar que, na relação entre gre-
gos e não-gregos, no período helenístico, Proposta 2
houve:
Solicite aos alunos que pesquisem a escultu-
a) predomínio da cultura grega sobre as ra Laocoonte e seus filhos e façam uma análise
demais. sobre o porquê de essa obra ser representativa
da cultura helenística no campo da escultura.
b) predomínio das culturas locais dos po- Observe que essa escultura é conhecida por
vos conquistados sobre a dos conquis- simbolizar o trágico e a monumentalidade das
tadores. esculturas do período.
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História – 1a série - Volume 2
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COnSIdERAçõES FInAIS
Ao desenvolver os temas tratados neste Ca- O que aqui apresentamos foram propostas
derno, duas orientações principais guiaram de modos de abordar um conteúdo rico em
nossas preocupações: fazer com que este mate- paralelos, com significações práticas da vida
rial apresente discussões historiográficas recen- dos alunos, o que pode propiciar interesse e
tes em relação ao conteúdo arrolado e fornecer gosto pelo tema, cabendo a você verificar a
a você, professor, propostas detalhadas para o sua aplicabilidade.
desenvolvimento dos temas; enfim, algo que
possa colaborar na elaboração de suas aulas.
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História – 1a série - Volume 2
BIBlIOGRAFIA
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