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IDADE MÉDIA - AS RELAÇÕES ENTRE A IGREJA E O ESTADO 1

A SOCIEDADE FEUDAL SÉCULO V clássica, greco-romana, da destruição típica de


uma conjuntura belicosa e destruidora.
AO XV
Foi nesse contexto, no qual sua capacidade
AS RELAÇÕES ENTRE A IGREJA E O ESTADO
organizacional e unificada superou a
O surgimento e consolidação da Igreja capacidade do Estado, que a Igreja assumiu o
como instituição caráter católico, ou seja, de universal. Além
disso, os membros do clero passaram a ser a
Em 313, o Imperador
maioria da minoria intelectual, monopolizando
Constantino deu
o saber elaborado, o ensino, as atividades
liberdade de culto aos
culturais, a formulação dos princípios jurídicos,
cristãos, pelo Edito de
éticos e comportamentais.
Milão, foi ele que
também convocou seu A teoria dos dois Gládios
o primeiro Concílio, o Em 494, o Papa Gelásio I afirma a supremacia
de Niceia, em 325, no encontro o arianismo foi da Igreja sobre o Estado, com sua Teoria dos
condenado, uma das primeiras e mais Dois Gládios, depois reforçada pelo Papa
importantes heresias cristãs, além de Gregório I (590-604) e Gregório VII (1073-1085)
reconhecer que o bispo de Roma, e não . Essa teoria afirma que o Gládio Espiritual
outro, seria o chefe da Igreja. governa as almas e o Gládio Temporal governa
Concílio de Niceia os corpos. A primeira trata do espírito, e é
superior à segunda, que trata do corpo. Assim,
No final do século IV, o
o Poder Espiritual, da Igreja nucleada no
imperador Teodósio
papado, é superior ao Poder Terreno, dos
converteu o cristianismo na
leigos, dos príncipes, dos reis, dos imperadores.
religião oficial do Estado
Romano, inclusive proibindo As relações entre a Igreja e os francos
o paganismo e confiscando Clóvis (481-511) , unindo as tribos dos francos,
templos dos não-cristãos. tornou-se rei e, apoiado pelo Papa, converteu-
Estavam, assim, iniciadas as se ao cristianismo. Estavam iniciadas as fortes
relações entre a Igreja e o Estado que se relações entre a Igreja e o Estado Franco,
desenvolveriam na Idade Média, às vezes de primeiro povo bárbaro a abraçar o cristianismo
aproximação, mas muitas vezes de conflitos herdado da velha Roma.
entre as partes. Ao nascer, a Igreja identificou- Depois de Clóvis, os
se com o poder instituído do Baixo Império reis merovíngios
Romano adotando para sua organização tornaram-se “reis
interna o modelo administrativo e hierárquico indolentes”, maus
do Estado. A crise estrutural do modo de governantes, e o
produção escravista e as invasões bárbaras, verdadeiro dirigente
intensificadas no século III, redundaram no fim do Reino foi o major
da unidade do Estado romano no Ocidente domus (“mordomo”)
(476) , substituída pelo fracionamento de vários ou Maire de Palais (“Prefeito do Palácio”) . Um
reinos bárbaros. Enquanto a unidade romana deles foi Carlos Martel (ou Martelo) que, em
desaparecia, a Igreja passou a ser a única 732, derrotou os muçulmanos em Poitiers,
instituição verdadeiramente organizada, impedindo o avanço do Islão na Gália
centralizada, capaz de oferecer proteção e cristianizada.
socorro às populações indefesas. Foi a Igreja,
ainda, quem preservou grande parte da cultura Seu filho, Pepino, o Breve, reforçou ainda mais
a ligação com o papado romano. A Igreja

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precisava da força dos francos para dar eclesiásticos, como a simonia, o nicolaísmo e
combate aos os lombardos e bizantinos, em contra a interferência leiga, temporal, nas
contrapartida, Pepino precisava do apoio papal decisões da Igreja. Para ele, era preciso
para legitimar seu golpe contra o último rei purificar o comportamento clerical e consolidar
merovíngio. Tornou-se Rei dos Francos, a supremacia da Igreja sobre o
iniciando a Dinastia Carolíngia, abençoado por Estado. Publicou um dos mais importantes
Roma. Para favorecer a Igreja derrotou os documentos políticos da História da Igreja,
lombardos e doou à Igrejaas terras o Dictatus Papae, que, entre outras coisas,
do Patrimônio de São Pedro à Santa Sé. Tomou proibia a investidura leiga e proibia qualquer
ainda, dos bizantinos, a região de Ravena, autoridade leiga de intervir em eleições e
incorporando-a aos domínios papais. escolhas eclesiásticas.
Formaram-se, assim, os Estados Pontificais, ou O imperador Henrique IV, interessado em
Estados da Igreja. manter feudos eclesiásticos vassalos do
Império, recusou-se a acatar as decisões de
Roma. Gregório VII o excomungou, o que
Com Carlos Magno,
significava a privação dos direitos imperiais e a
considerado o maior
liberação para a ruptura dos laços de fidelidade
imperador medieval, mais
de seus vassalos. Henrique IV foi obrigado a
uma vez as relações Estado-
pedir perdão ao Papa, num episódio conhecido
Igreja beneficiaram os dois
por Humilhação de Canossa.
lados: Carlos Magno
derrotou definitivamente os O choque entre a Igreja e o Sacro Império
lombardos, assegurando e ampliando as terras continuou até a Concordata de Worms (1122) ,
papais e o Papa Leão III, no Natal do ano 800 o entre o Papa Calixto II e o imperador Henrique
coroou Imperador Romano do Ocidente, era V. Consagrou-se a supremacia da Igreja sobre o
um paradoxo, pois o imperador era franco, Estado.
bárbaro, não romano. O Cativeiro de Avignon e o Cisma do
Ocidente
O poder espiritual versus poder Felipe, o Belo
temporal – as Investiduras Durante o processo de
A relação de aliança com a Igreja iniciada com formação da monarquia
os francos, estado institucionalizado, passou nacional francesa, Felipe IV,
por duras provas com o correr da Idade Média. o Belo (1285-1314) ,
Entre os anos de 1075 e 1122, ocorreu um dos estendeu seu domínio por
mais importantes choques entre o Estado e a vastas áreas, como a da
Igreja, conhecido como Querela das região de Champagne, local de realização das
Investiduras. Entre outros fatores, o direito de feiras mais importantes da Baixa Idade Média,
nomear bispos, ou seja, de praticar a que atraía mercadores e mercadorias de três
investidura. Do ponto de vista do imperador de continentes, Europa, Ásia e África. Tentou sem
Sacro Império Romano Germânico, era um sucesso anexar a rica região de Flandres. No
direito seu, pois o bispado encontrava-se campo jurídico, fundamentou seu governo
territorialmente dentro do Império. Do ponto no Direito Romano, que pressupunha um poder
de vista papal, evocando a Teoria dos Dois centralizado. Porém, o Papa Bonifácio VIII
Gládios, era direito da Igreja, do Gládio pretendia manter a supremacia da Igreja contra
Espiritual. a centralização do poder real. Quando Felipe, o
Belo, cobrou impostos sobre o clero, o Papa
O Papa Gregório VII lutou contra os desvios
reagiu damaneira tradicional,excomungando
clericais, contra os desregramentos

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orei, na intenção de enfraquecê-lo diante de Em 1414, no Concílio de Constança, a Igreja


seus vassalos. Contudo, a reação da Monarquia conseguiu finalmente voltar a se unificar, tendo
Francesa foi manter os tributos e prender o apenas um Papa, Martinho V, que assumiu em
Papa. O universalismo pontifical foi abalado Roma, em 1417.
pelo crescimento da afirmação do poder O Cisma do Oriente
monárquico.
A igreja primitiva como era chamada nos
Com a morte de Bonifácio VIII, Felipe, o Belo, primeiros tempos do cristianismo estava
interferiu e conseguiu a eleição do novo papa, dividida em cinco grandes patriarcados para
o francês Clemente V, pressionado pelo rei, melhor propagação na doutrina cristã, Roma,
Clemente V foi obrigado a transferir a sede do Constantinopla, Antioquia, Jerusalém e
papado de Roma para Avignon, dando início Alexandria. Com o passar do tempo e a
ao Cativeiro de Avignon, que se prolongou de institucionalização do trono de Pedro, o
1307 a 1377. papado, Roma se tornou muito poderosa, em
Vários pontífices foram eleitos sob pressão da contrapartida Constantinopla se mantinha
França e mantiveram a sede naquela cidade como um centro irradiador do cristianismo,
francesa, até que o Papa Gregório XI reconduziu uma vez que a cidade permanecia como a sede
a sede da Igreja para Roma, em 1377. do império no mundo bizantino, algo que Roma
havia perdido no século
V. As igrejas controladas
por Roma parte ocidental
e por Constantinopla na
parte oriental foram se
Porém, no ano seguinte, Gregório XI distanciado em relação
morreu e as próximas eleições papais às questões de natureza
ocorreram em clima de competição entre as teológica e política. Em
várias forças europeias, o que levou ao Cisma vários momentos, os
concílios ocorridos nas
do Ocidente, que durou de 1378 a 1417. O novo
cidades orientais e ocidentais exprimiam
Papa, Clemente VII, tomou posse em Avignon,
diferentes concepções de fé. Logicamente, o
apoiado pela França, Aragão, Castela, Leão,
Chipre, Borgonha, Saboia e Nápoles. Outro desenvolvimento desse debate não só
Papa foi eleito em Roma, apoiado pela determinava o enfraquecimento de uma Igreja
Dinamarca, Inglaterra, Flandres, Sacro Império, una, mas também estabelecia uma tensa
Hungria, Norte da Itália, Irlanda, Noruega, disputa de autoridade.
Polônia e Suécia. Portanto, a cristandade Em princípio, o poder de influência da Igreja de
europeia tinha, ao mesmo tempo, dois Papas, Constantinopla era mais visível, tendo em vista
um em Avignon e outro em Roma. a prosperidade econômica e política de todo o
A eleição e o exercício do papado não era seu território. Até então, os clérigos ocidentais
apenas uma questão religiosa, interna da Igreja, não tinham condições de impor regras que
mas um jogo político e diplomático dos poderes pudessem fazer oposição à sustentação teórica
laicos. e política dos cristãos orientais. Entretanto,
chegando ao século VI, vemos que o
Mas a situação do Cisma se complicou ainda desenvolvimento e a expansão do reino dos
mais, em 1409, quando o Concílio de Francos ofereceram os meios necessários para
Pisa tentou anular a força dos dois Papas, que os líderes romanos viessem a ter maior
escolhendo um terceiro. Agora, a cristandade independência.
tinha três Papas. Acelerava-se a crise
institucional da Igreja Católica. Os cristãos do ocidente passaram mostrar
evidências em relação aos seus irmãos do

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oriente, dentre elas as mais marcantes, o não


reconhecimento da autoridade papal sobre o
patriarcado de Constantinopla, o repúdio a
iconoclastia, o culto à imagens de gesso;
divergia sobre a natureza de Cristo,
monofisismo, para os orientais Cristo só
possui/possuiu uma única natureza, a divina.
Assim em 1054, por causa do acirramento entre
Roma e Constantinopla surgiu a Igreja Ortodoxa
Grega, e esta passou a ser a religião oficial do
Império Bizantino.

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