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RESUMO
Esta pesquisa discutirá sobre a importância do ato de contar histórias no espaço da educação infantil,
realizando uma reflexão sobre possíveis estratégias que auxiliam na prática da contação de histórias.
Como objetivos destacamos: levantar informações sobre como surgiu a contação de histórias, dissertar
sobre a importância da literatura na Educação Infantil e descrever estratégias para o trabalho com a
contação de histórias. A metodologia usada foi levantamento de dados encontrados na literatura já
existente, por meio de pesquisas bibliográficas. Concluímos que a literatura juntamente com a prática da
contação de histórias, representa várias possibilidades, desenvolvendo não somente a linguagem, como
também auxiliando na elaboração e produção de bons textos, criando possibilidades pedagógicas
diversificadas, criativas e estimulantes para desenvolver a atenção e a concentração dos alunos.
Palavras-chave: Contação de histórias, Estratégias, Linguagem.
ABSTRACT
This research has the purpose of discuss the importance of the act of storytelling on children`s
educational environment, conducting a reflection on possible strategies that assist in the practice of
storytelling. Objectives include as follow: raising information on how the storytelling was created, the
lecture of the importance of literature in early Childhood Education as also describe some strategies for
working with the storytelling. The methodology used was based on data collection found in existing
literature through bibliographics researches. In conclusion, we understand that the literature in
connection with the practice of storytelling provides several possibilities such as developing not only the
language but also assisting in the elaboration and production of well developed texts, creating
pedagogical diversity possibilities, in a creative and stimulating way in order to develop the student`s
attention and concentration.
Keywords: Storytelling, Strategies, Language.
Colloquium Humanarum, Presidente Prudente, v. 14, n. 1, p.40-51 jan/mar 2017. DOI: 10.5747/ch.2017.v14.n1.h292
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atividades de contação de histórias na Assim, Coelho (1984, p. 31) afirma que “estudar
Educação Infantil. a história é ainda escolher a melhor forma ou o
recurso mais adequado de apresentá-la”.
1 O Surgimento da Contação de Histórias Desde a pré-história até os dias de hoje,
O ato de contar e recontar histórias são há a necessidade de descobrir o sentido da vida,
uma ação que ocupa a mente humana há buscando interpretações para as inquietações,
muitos e muitos anos. Pessoas de vários transmitindo conhecimento dos antepassados
lugares do mundo contam histórias para se para as novas gerações, o que impulsiona a
descontraírem, passarem conhecimento, ou necessidade de ouvir, contar e recontar
para simplesmente não sentirem o tempo histórias.
passar. Até mesmo antes da invenção da De Acordo com Coelho (1984), o ato de
escrita pela humanidade, já se contavam contar histórias, muito antes da invenção da
histórias. As histórias foram passadas de escrita, era o jeito mais importante de passar
geração em geração e hoje são relembradas uma informação adiante. Tudo que uma
em livros, filmes na televisão e até mesmo nos cultura precisava preservar, suas crenças, sua
jogos. Mesmo com toda a tecnologia, a história e suas tradições tinha que ser contado
tradição do conto oral ainda se mantém. oralmente, ato este conhecido como tradição
Definindo “contação de histórias”, oral. Em algumas culturas apenas os
Torres e Tettamanzy (2008) afirmam que: contadores podiam usar essa metodologia de
[...] o termo 'Contação de contar e passar tradições e crenças oralmente.
histórias' não existe Os bons contadores precisavam ter boa
gramaticalmente. O memória e utilizavam-se de estratégias
termo é uma expressão interessantes para contar suas histórias, assim
relativamente recente,
as pessoas nunca esqueciam-nas. Muitas
livremente traduzida e
adaptada de países de
vezes, essas histórias eram contadas de forma
língua castelhana ritmada, assim tornavam-se mais fáceis de
"cuentacuentos", que serem lembradas.
pode significar tanto o Pontes (2010) comenta que a
ato de se contar literatura de cordel se desenvolveu no
histórias, quanto o nordeste do Brasil, estando presente até hoje.
próprio contador.” na Segundo o autor, as histórias têm sempre seu
língua inglesa, temos o início nos poemas cantados. O cordelista vai
termo "Storytelling” que improvisando seus versos e de forma rimada,
é o ato, ou capacidade de
constrói-se as histórias, e somente depois
se narrar um fato, ou
história, de improviso, ou
viram livros impressos para serem colocados à
planejadamente, usando venda em um cordão, o que define a literatura
diversos tipos de de cordel. Para que os livros sejam vendidos, o
recursos, ou um apenas. vendedor precisa ir cantando as histórias,
Os termos que se acompanhado de um instrumento musical,
encontram fora do uso geralmente uma viola.
oficinal da língua, mesmo As histórias narradas por uma
que nela não encontrem determinada população vão ganhando novas
referência nos versões com o tempo. Um bom contador de
dicionários e acordos
histórias pode modificar uma história com o
ortográficos, sim, fazem
parte da nossa língua,
intuito de aprimorá-la ou pelo fato de ter
desde que não seja um esquecido uma parte dela, acaba inventando
erro ortográfico, ou de algumas partes, fazendo uma nova versão.
construção verbal A tradição oral é diferente da escrita e
(TORRES; TETTAMANZY, não é criada por somente uma pessoa. Ela
2008, p. 5). necessita de toda uma cultura para remodelar
uma história, que vai se reformulando a cada
As primeiras produções infantis foram geração. Na maioria das vezes, as histórias só
realizadas pelos profissionais da educação no passam a ser escritas muito depois que foram
fim do século XVII e durante todo o século XVIII. criadas e transmitidas oralmente.
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Segundo Scholes e Kellogg (1977), chamadas de mitos, e que estes dizem como um
Enquanto um homem tem povo acredita ou acreditou um dia, podendo
a capacidade de criar uma explicar a origem do mundo ou como as pessoas
nova habilidade, outro a surgiram, como nasce o arco-íris, o sol, o mar,
tem para julgar se ela será etc. Na tradição esotérica asiática acredita-se
bênção ou maldição para
que as histórias guardam muita sabedoria. Por
seus usuários. Você não
inventou um
esse motivo, toda vez que acreditavam que uma
medicamento para pessoa poderia estar “louca”, chamavam um
fortalecer a memória, mas contador de histórias para acalmá-la.
um substituto inferior para Os contos folclóricos também surgem
ela. Você está em diversas culturas, podendo ser muito
proporcionando aos seus parecidos com os mitos. Eles podem causar
alunos uma maneira de medo, contar uma aventura, serem engraçados,
parecem sábios sem etc. Alguns contos narram histórias sobre heróis
verdadeira sabedoria poderosos ou sobre trapaceiros espertos que
(SCHOLES; KELLOGG, 1977,
enganam outros personagens, ou ainda contos
p. 12).
que falam sobre caipiras, ladrões, fantasmas,
bruxas, animais que falam. As histórias que
Pode-se dizer que não existe uma
sempre apresentam elementos como paixão,
sociedade que não apresente a necessidade de
mistério e aventura estão presentes na
fabular, de inventar-se ou de construir seus
coletânea das “Mil e Uma Noites”, na qual a
mitos e seu imaginário. Toda civilização que
personagem Sherazade “curou” o coração do
existiu contou. A nossa sociedade é
sultão” (SCHOLES; KELLOGG,1977).
mecanicalizada, e a contação de histórias nos
As cantigas infantis, parlendas,
faz refletir sobre qualidades e morais já não
quadrinhas, contos de fadas, fábulas e algumas
muito presentes no cotidiano. Porém, até hoje
brincadeiras com as palavras fazem parte dos
são valorizados os conhecimentos transmitidos
contos folclóricos. A fábula ensina uma lição
pela oralidade em que se redescobre o
sobre o comportamento adequado das pessoas
significado das experiências coletivas. Nesse
com a utilização de personagens animais que
sentido, Meireles (1979) destaca que:
O ofício de contar
falam e que apresentam comportamentos
histórias é remoto [...] e parecidos como de uma pessoa. “Os contos de
por ele se perpetua a fadas falam sobre seres mágicos como fadas,
literatura oral, bruxas, dragões e duendes, entre outras
comunicando de criaturas fantásticas” (BETTELHEIM, 2002, p.
indivíduo a indivíduo e de 152).
povo a povo o que os Um jeito de entreter as crianças com
homens, através das versos curtos são parlendas ou os trava-línguas
idades, têm selecionado que as pessoas vêm usando há séculos,
da sua experiência como
proporcionando momentos prazerosos e lúdicos
mais indispensável à vida
(MEIRELES, 1979, p. 41).
para uma aprendizagem significativa.
Os acalantos e os chamados brincos
O costume de ser ouvinte de histórias são as brincadeiras musicais que fazem parte
desde muito pequeno auxilia na formação da do começo da vida de qualquer criança. Os
identidade, pois, no momento da contação, adultos usam-nos para adormecer bebês e
estabelece-se uma relação de troca entre tranquilizar crianças pequenas; para entretê-
contador e ouvintes, o que faz com que toda las e animá-las. Entre os brincos, os adultos
história cultural e afetiva destes volte à tona, usam “Serra, serra, serrador, serra o papo do
levando-os a ser quem são. “Contar histórias é vovô”, dentre outras variações possíveis de
uma arte porque traz significações ao propor serem encontradas em toda parte do país. Este
um diálogo entre as diferentes dimensões do brinco é cantado enquanto se imita o
ser” (BUSATTO, 2003, p. 10). movimento do serrador. “Palminhas de guiné,
Coelho (1984) afirma que as crenças pra quando papai vier...”, “Dedo mindinho, seu
sobre deuses relacionadas à religião são vizinho, maior de todos...”, “Upa, upa,
cavalinho...” (domínio popular) são exemplos
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