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Os conteúdos disponibilizados ao Utilizador assinante não poderão ser copiados, alterados ou distribuídos salvo com autorização expressa do Público – Comunicação Social, S.A.
Domingo, 21 de Janeiro de 2018 ESTE SUPLEMENTO É PARTE INTEGRANTE DO JORNAL PÚBLICO N.º 10.137 E NÃO PODE SER VENDIDO SEPARADAMENTE
O miúdo porta-se
mal? Não chame
a supernanny P10 a 13
Um ano de Trump
América, a vida
normal? P14 a 19
ENRIC VIVES-RUBIO
Índice
4 10 14 20
Tema de capa O miúdo Um ano de Carlota
Sim, o afecto na porta-se mal? Trump América, Joaquina
política conta para Não chame a vida normal? foi às compras
o sucesso de um país a supernanny
Ficha técnica Director David Dinis Directora de Arte Sónia Matos Editor Sérgio B. Gomes Designers Marco Ferreira e Sandra Silva Email: sgomes@publico.pt
As imagens de camiões de
bombeiros, carros de polícia,
luzes de sirenes a iluminar a noite,
pessoas agasalhadas com cobertores
de olhar perdido pareciam ter
ficado em 2017, depois dos trágicos
incêndios que, em dois períodos
catastróficos, ceifaram a vida a
dezenas de pessoas e deixaram um
rasto de destruição que será difícil
de esquecer. Claro que os acidentes
e as catástrofes não escolhem lugar,
contexto ou oportunidade para se
manifestarem. E tudo o que se pode
fazer é tentar evitar que aconteçam
ou minimizar os seus efeitos.
O início de 2018 começou com
mais uma tragédia em Portugal.
Desta vez em Tondela, quando,
no sábado à noite da semana
passada, a cobertura do salão da
Associação Recreativa de Vila Nova
da Rainha entrou em combustão,
espalhando o pânico entre as
cerca de 70 pessoas que, no piso
superior, jogavam ou assistiam a
um campeonato de sueca. O último
balanço aponta para nove mortos
e dezenas de feridos, alguns ainda
em estado grave. Uma tragédia que
talvez pudesse ter sido evitada. Caso
os bombeiros tivessem alguma vez
vistoriado o edifício; se a câmara
local tivesse licenciado as obras;
ou se a cobertura que o abrigava,
feita de um material altamente
combustível, tivesse sido declarada
inapropriada.
Sérgio B. Gomes
Ama
O dicionário ensina que “ama” é seja escolhida, recebe a visita de das crianças, designadamente o público. “Pode um drama real
uma “mulher que amamenta o filho uma ‘superama’ para a ajudar a direito à imagem, à reserva da vida duma criança — no contexto duma
de outra mulher” (a que também recuperar ‘o controlo da educação privada e à intimidade”. Os pais do exposição que a compromete,
se chama “ama-de-leite”) ou ainda dos filhos’. Funciona assim o “episódio” de hoje tentaram que para sempre — ser considerado...
uma “mulher que, na sua própria Supernanny.” não fosse transmitido. entretenimento?”, questionou o
casa, toma conta de crianças”. Vai para o ar, de novo, logo A “superama” chama-se Teresa psicólogo Eduardo Sá.
Não se regista “superama”, como à noite, apesar das críticas da Paula Marques, é psicóloga clínica O programa foi criado em 2004
seria a tradução do título do novo Comissão Nacional de Promoção e propõe-se ajudar famílias “a no Reino Unido e reproduzido
programa da SIC: Supernanny. E dos Direitos e Protecção das controlar a rebeldia dos filhos”. em Espanha, Alemanha, França,
que parece ser a antítese de quem Crianças e Jovens, da Unicef e do À vista de todos. De acordo com Suécia, EUA, Brasil e China. Não
se dedica a “criar uma criança”, Instituto de Apoio à Criança e das informações divulgadas, os recebemos notícias de “filhos
com os erros e dificuldades que queixas recebidas pela Entidade agregados receberão mil euros problemáticos” agora adultos
humanamente implica. Reguladora para a Comunicação para ser “ajudados”. terem tentado processar os pais ou
Descrição no PÚBLICO: “Uma Social e Ordem dos Psicólogos. O íntimo e privado que a as produtoras. Mas temos pena.
criança porta-se mal, a família Em causa está o “elevado risco educação pressupõe transforma-
inscreve-se no programa e, caso de o programa violar os direitos se assim em entretenimento rpimenta@publico.pt
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22 24 30 31
Obituário Televisão Toda Estar bem Crónica
Paul Bocuse a gente fuma Malucos da As redes sociais são
(1926-2018) “Monsieur Tecnologia A bitcoin corrida? fantásticas. As redes
Paul era a França” pela voz dos donos sociais são perigosas
Instagramar @project.vanlife
Eles tiveram a coragem de instagram @project.vanlife países, que impedem a utilização quotidianamente as suas imagens
necessária (e os recursos) para se transmite uma imagem positiva do veículo como domicílio. Os nas redes sociais. A liberdade e as
despedirem dos seus empregos —, no entanto, como qualquer grandes adeptos deste modo de paisagens de cortar a respiração
e se dedicarem inteiramente outra experiência, esta acarreta vida são, segundo a mesma fonte, estão patentes nas fotografias
às viagens a bordo de vantagens e desvantagens. O os entusiastas da vida ao ar livre, que marcam no Instagram com a
autocaravanas. Disseram adeus site thevanual.com, um guia as pessoas que “trabalhavam hashtag #projectvanlife, que, mais
à rede wi-fi ilimitada, ao conforto online exclusivamente dedicado num escritório e que agora tarde, sob escrutínio curatorial,
de uma casa de banho privada, à vida sobre rodas, refere como realizam trabalho freelance”, os passam a integrar a conta oficial
de uma máquina de lavar a loiça e
até de um sofá digno desse nome,
em virtude de uma experiência de
principais benefícios deste
estilo de vida a liberdade de
movimento, a poupança e o
jovens que não podem gastar
quantias exorbitantes em espaços
de habitação ou até mesmo os
@project.vanlife, que é seguida
por mais de 700 mil pessoas. A seguir
estrada. minimalismo material; como “recém-casados que desejam Ana Marques Maia
Viver numa carrinha pode inconvenientes, o isolamento, o iniciar a sua vida a dois com Mário Centeno
parecer uma experiência desconforto logístico, e, por fim, uma grande aventura”. São eles Ver mais em
idílica — o conteúdo da conta as leis que vigoram em alguns nómadas urbanos, que partilham p3.publico.pt Depois de nas últimas
semanas ter estado em
digressão pelas principais
capitais europeias, o
ministro das Finanças
português vai, amanhã,
liderar pela primeira
vez uma reunião do
Eurogrupo. Na agenda
estão, além da inevitável
Grécia, os dois grandes
desafios de Mário
Centeno. Em primeiro
lugar, o debate sobre a
reforma da zona euro, que
foi aliás o grande tema das
suas reuniões recentes
com os ministros francês e
alemão. Por esta altura, o
ministro português já terá
uma ideia mais concreta
sobre como encontrar
um plano que possa ser
apoiado em simultâneo
por Paris e Berlim. Em
segundo lugar, a situação
de Portugal, com a análise
do último relatório sobre
o país pela Comissão
Europeia. Aqui, Centeno
beneficia do facto de este
relatório ter pelo menos
tantos elogios como
alertas, mas ainda assim
terá, na conferência de
imprensa que se segue à
reunião, de encontrar a
fórmula certa para falar de
Portugal como presidente
do Eurogrupo.
Sérgio Anibal
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Marcelo
Público • Domingo, 21 de Janeiro de 2018 • 5
Sim, o afecto
ANTÓNIO PEDRO SANTOS/LUSA
na política conta
para o sucesso
de um país
M
arcelo Rebelo de tos dos líderes políticos contam e potenciam todos os organismos biológicos, mesmo os uni-
Sousa trouxe os afec- o sucesso de um país. celulares, que os impulsiona não só no sentido
tos para a arena po- “Não tenho qualquer dúvida de que o perfil da sobrevivência, mas da criação das melhores
lítica. A sua eleição afectivo dos líderes políticos tem uma influ- condições possíveis para a sua evolução e a da
como Presidente da ência notável na homeostasia sócio-cultural e espécie. E defende que a interacção favorável e
República, apenas que pouco importa o tamanho do país, dado desfavorável entre sentimento e razão deve ser
dois meses depois da que a influência das personalidades políticas reconhecida nessa homeostasia, se quisermos
entrada em cena de é transmitida à distância pelos meios da co- compreender os conflitos e as contradições
uma solução governativa inédita, consagrou municação”, afirma o neurocientista António que afligem a condição humana, dos dramas
o novo ciclo político e psicológico do país. Damásio, em resposta escrita às perguntas do humanos pessoais às crises políticas.
Portugal entrou a partir daí numa autêntica P2. “O afecto das figuras de autoridade copia-se Perguntámos-lhe se esse raciocínio também
espiral ascendente, com resultados positivos e interioriza-se, inconscientemente e não só. se aplica a países e civilizações, ou seja, se é
claros na economia e na governação em geral, Reflecte-se nos afectos de um povo e exprime- possível, através dos afectos, inverter o sen-
mas também com sucessos invejáveis e inespe- se através da esperança, do desespero, da cal- timento colectivo negativo em positivo. “Os
rados em muitos outros sectores — empresa- ma e da confiança, da ansiedade e irritação instrumentos e as práticas culturais têm sido,
riais, culturais, desportivos, diplomáticos — com desse mesmo povo.” historicamente, motivadas e moduladas pela
evidente reconhecimento internacional. Em Mas isso, alerta, é uma faca de dois gumes: homeostasia e pelos seus agentes principais:
meros dois anos, passámos de “lixo” a “heróis “O perfil afectivo de um líder, para o melhor e os sentimentos. É esta a ideia que defendo em
do mar”, numa visão feliz que Lídia Jorge es- para o pior, pode actuar independentemente A Estranha Ordem das Coisas. Assim sendo, a
creveu ainda antes da vinda da troika. das ideias e das acções políticas objectivas. É forma como decorrem os processos sociais
Em que medida se pode relacionar a mu- possível a um líder de que o povo gosta defen- e culturais está sujeita, inevitavelmente, em
dança política com esta profunda alteração do der políticas desastrosas e a situação inversa maior ou menor grau, à influência dos impe-
sentimento colectivo e as vitórias alcançadas é igualmente possível.” O facto de viver nos rativos homeostáticos”, responde.
em catadupa? E que papel podem ter desem- Estados Unidos da América não deve ser alheio Mas a transposição do raciocínio original da
penhado as emoções nessa terapia colectiva à necessidade de fazer este aviso. biologia para a política exige cautela e tempo:
(ou nessa revolução silenciosa)? Desafiámos Na sua última obra, A Estranha Ordem das “É necessário ter em conta que a homeostasia
cinco estudiosos das emoções de diferentes Coisas - A Vida, os Sentimentos e as Culturas Hu- se desenvolveu e refinou ao longo da evolução
áreas a percorrer o caminho dos afectos até à manas, Damásio parte do conceito de home- biológica de modo a promover a eficiência de
política. E a resposta comum é: sim, os afec- ostasia como aquela energia vital presente em vidas individuais e de pequenos grupos. c
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Claro que é possível transferir essa eficiência denção pela via da austeridade foi executado desse “alinhamento de astros”: “Tivemos esta
para a escala de nações, mas a transferência
não é fácil. Requer um esforço civilizacional
“Marcelo Rebelo com notório desacautelamento emocional”,
analisa Lídia Jorge, anotando o contraste: “En-
maravilhosa conjugação de um Governo que
tem conseguido, de forma mais distanciada
intenso e duradouro. Uma parte significativa
dos problemas das sociedades actuais tem que de Sousa tem quanto em Itália uma ministra chorava em pú-
blico porque aumentava os impostos da classe
das pessoas e mais focada na performance, ob-
ter resultados a transcender as limitações que
ver com esta dificuldade e com a insuficiência média, em Portugal as medidas de austeridade estávamos a viver, com um Presidente mais
do esforço civilizacional.”
Um esforço civilizacional “intenso e dura-
uma vantagem eram apresentadas com notória satisfação e
regozijo. Estabeleceu-se um horizonte de não
próximo das pessoas.”
Na sua perspectiva de psicologia positiva,
douro” para promover a eficiência da vida
colectiva é algo de que Portugal não se pode muito grande: esperança.”
“O país estava de gatas”, resume o psiquiatra
Helena Marujo considera que Marcelo Rebe-
lo de Sousa “faz parte do modelo de como se
gabar; ao invés, o seu percurso tem sido dis-
ruptivo e com picos de profundo retrocesso.
O período que antecedeu estes dois últimos
ele é muito José Gameiro, especialista em Terapia Fami-
liar, colunista do Expresso e colega de escola de
Marcelo Rebelo de Sousa. “Foram anos muito
constrói a felicidade pública”. Mas, para isso,
“temos de ter organizações virtuosas, um cres-
cimento sustentável e relações entre as pessoas
anos foi um deles.
próximo das duros, sobretudo para algumas pessoas, com
uma crispação muito grande, quer social, quer
que trazem a fraternidade e a reciprocidade
para o centro das relações”. “Marcelo Rebelo
De “lixo” a “heróis do mar”
O momento em que Lídia Jorge escreveu o en-
pessoas e precisa pessoal, quer com os actores políticos.”
“Era necessária uma mudança de protago-
nistas e uma mudança de sentido político”, afir-
de Sousa tem tentado fazer esse caminho, tam-
bém na maneira como se tem interligado com
os nossos líderes governativos, com diálogo,
saio O Contrato Sentimental (Sextante Editora,
Setembro, 2009) é anterior à crise económica,
que as pessoas ma a escritora. Quis o calendário eleitoral que
entre a tomada de posse do Governo apoiado
uma tentativa de não estar inclinado sobre si
próprio, fazendo a diferença num tempo em
política e social ocorrida a partir de 2011 em
Portugal, mas a sua visão sobre a bipolarida-
de lusa, oscilante entre o sentimento de não
sejam próximas pelas esquerdas e a eleição de Marcelo Rebelo
de Sousa passassem meros dois meses. E quis
o destino e as circunstâncias conjunturais que
que tudo é instrumentalizado”, defende a pro-
fessora do ISCSP e coordenadora do projecto
da cátedra UNESCO para o Desenvolvimento
ser mais que “lixo” e a condição de “heróis
do mar” a que se alcandora com pequenas
dele”, revela o precisassem tanto um do outro.
Aos novos rostos institucionais do país, assu-
da Paz Sustentável.
Outra vantagem das emoções e dos afectos é
vitórias, era premonitória. Foi nesse ano de
2011 que as agências de rating atiraram Portu-
gal para o “lixo” e durante quatro anos o país
psiquiatra José midos por António Costa e Marcelo Rebelo de
Sousa, “cabia trazer uma mensagem oposta à
que vinha vigorando”. Nesse sentido, sustenta
que ultrapassa as ideologias, nota a psicóloga:
“A complementaridade Governo/Presidência
está quase ao nível do arquétipo e tem conse-
viveu como tal, num período de austeridade
(não apenas económica e financeira, mas até
Gameiro, que Bruno Paixão, “a mudança de pessoas trouxe
a almejada mudança no clima político e social
guido criar um nível de confiança, de abertura,
de respeito que nos tem ajudado a ganhar de
colectivamente emocional) apresentado co-
mo uma inevitabilidade. A saída do resgate,
em 2013/14, podia ter alterado naturalmente
conhece o actual e permitiu a Portugal virar efectivamente a pá-
gina, com a inerente retoma de optimismo e
confiança”.
novo uma certa estima como portugueses.”
Mas não tenhamos ilusões: “Continua a ser di-
fícil termos uma relação construtiva, positiva,
esse panorama, mas foi preciso a entrada em
cena de um novo ciclo político para que essa
Presidente da Isto apesar de as políticas que se seguiram
não terem invertido a lógica da severidade
com a nossa identidade nacional.”
Um tónico
chamado Marcelo
A escritora Lídia Jorge, a
psicóloga Helena Marujo
e o neurocientista António
Damásio (à esquerda,
respectivamente) elogiam a
presidência “afectuosa” de
Marcelo Rebelo de Sousa.
O novo ciclo político Costa/
Marcelo deu alento ao país
astuto, surpreendendo, tanto quanto me dou viragem política fundamental”, diz o investiga-
conta, aqueles que pensavam que o comenta- dor em comunicação política. Parafraseando
dor iria transformar-se num criador desestabili- Marcelo, hoje é impossível fazer política na
zante de casos políticos. Tem sido o contrário”, base apenas da cabeça.
sustenta a escritora. “O Presidente procura que os afectos sejam
Desde o princípio do mandato, Marcelo foi inseparáveis da razão, inaugurando assim uma
MIGUEL MANSO
construindo essa imagem de proximidade, tan- nova sensibilidade política e uma maior proxi-
to do Governo como do povo. Sobretudo do midade entre o Estado e os cidadãos. Ele sabe
povo, que lhe devolvia os afectos e as selfies que corre com isto alguns riscos de administrar
em recordes de popularidade. E não esperou em excesso a dose dos afectos e assim vulga-
pelas tragédias para entrar pelo “país esque- rizar a função, transformando a sua comuni-
cido” adentro, já lá tinha ido antes, em festas, cação num ‘saco roto de beijos e selfies’. Corre
feiras ou eventos. Quando voltou, nos dias de inclusivamente o risco de os afectos abafarem
luto, já era da casa. o papel da racionalidade. Agir com emoção é
“Não duvido de que Marcelo Rebelo de Sou- poder precipitar-se, o que já lhe aconteceu”,
sa estabeleceu um contrato sentimental com acentua Bruno Paixão.
o país e incita os outros a estabelecerem-no Helena Marujo junta outros perigos. “Na psi-
também. Se não houver nenhuma surpresa, cologia, estudamos os contratos psicológicos
o seu mandato ficará na lembrança como o que as pessoas têm com as empresas e as or-
de alguém que soube segurar a cúpula e ser ganizações, qual é a expectativa que crio e que
ao mesmo tempo eminentemente popular”, me é criada. É uma espécie de contrato sen-
prevê a escritora. Um contrato sentimental timental. Acho que o Presidente faz mais um
baseado nos afectos: “Tem estado ao lado das convite do que um contrato, no sentido de que,
populações, interpretando numa só pessoa o sabendo que é uma relação de longa duração,
que as anteriores presidências interpretavam não pode viver só de paixão, as pessoas têm
com duas. Marcelo Rebelo de Sousa desenvol- de ser integradas em projectos, em sentidos
ve a actividade da Presidência em pleno e é a colectivos. É um pau de dois gumes: de que
sua própria primeira-dama. Ele dá o rosto nos maneira é que isto pode ser vivido e alimenta-
actos de caridade, nas festas escolares, nos la- do não apenas com a emoção e a intensidade
res de terceira idade, junto dos pobres e dos do momento, mas numa perspectiva de longo
sem-abrigo.” Emotions — Why love matter for justice, onde lo tem necessidade disso. Sempre foi assim. prazo. O Presidente tem feito grandes esforços
Quem estuda as questões da liderança anda reflecte sobre a necessidade de trazermos para Conheço-o desde os oito anos, andámos na para estar muito envolvido em tudo o que está
muito interessado nesta dicotomia das lideran- o foro público as emoções, encaradas como escola juntos.” a acontecer no país, talvez seja a sua forma de
ças mais femininas ou mais masculinas — que instrumento fundamental de justiça e de igual- Gameiro conta que, em Cascais, Marcelo perceber que este convite à relação emocional
não tem que ver com o ser homem ou mulher dade; estratégia para conseguirmos caminhar parava para falar com as pessoas todas, cum- precisa de saber que está associado a projectos.
— e dos líderes integradores, que conseguem para formas sociais de maior paridade e maior primentava toda a gente, e não era Presidente Não é só paixão e comoção imediata.”
ter características de um lado e de outro, como respeito. “O problema é conseguir isto sem sen- da República nem sonhava ser. “Era uma coisa
explica Helena Marujo: “Penso que no Presi- timentalismos”, explica Helena Marujo. natural nele. Está muito à vontade, gosta e, O provedor de cada português
dente há uma complementaridade entre as A opção pelos afectos não é isenta de ris- provavelmente, tem necessidade [desse con-
emoções — que são do domínio tradicional do cos, nem mesmo para o chefe de Estado. A tacto]. As pessoas precisam dele hoje em dia, De certa forma, é a essa ligação directa povo-
feminino — e a razão, no sentido de assegurar psicóloga explica porquê: “A presença do Pre- de facto precisam, porque ele tornou-se uma Presidente, sem intermediação nem no voto
que há uma resposta de estruturação racional. sidente da República em múltiplos momen- pessoa próxima, presente, mas ele também nem na rua, que dá corpo à nova competência
O Presidente faz esse esforço de assegurar os tos associados a emoções negativas, em que precisa das pessoas, o que é óptimo.” que Bruno Paixão constata ter sido acrescen-
dois lados, de ser um líder integrador, apesar ele mostrou compaixão — uma emoção que Mas nem sempre a autenticidade chega. tada ao papel presidencial por Marcelo Rebelo
de ser mais visível o lado feminino da sua li- estamos a estudar no contexto das organiza- Na visão de José Gameiro, Marcelo Rebelo de de Sousa: a de “provedor de cada português”.
derança.” ções — tem riscos, porque é uma emoção da Sousa “usou politicamente” os incêndios “e as “Ele é um activo termómetro que mede a tem-
Esse esforço pela omnipresença, que tam- qual nos cansamos. Ninguém consegue estar pessoas não gostam disso”: “Custa-me que ata- peratura do povo, é seu porta-voz, a sua alma
bém lhe vale críticas, a escritora interpreta-o muito tempo a ser compassivo, e isso também quem o Governo por causa daquilo, acho que mater. Mesmo ao aprovar ou vetar diplomas,
como um factor positivo. “O país profundo, pode acontecer a quem vê alguém ser com- aconteceu assim. Marcelo foi lá muito, tirou parece fazê-lo sob essa condição. Aconteceu
para usar o chavão, é pobre e carente de tudo. passivo. E porque é uma emoção que tem de dividendos políticos disso. Mas aquilo é genu- ainda recentemente, com a devolução ao Par-
Encontrarem-se os populares com o Presiden- ser autêntica, não pode ser percepcionada íno nele. É um lado cristão, que antes de ser lamento da alteração à lei do financiamento
te do seu país transforma-se num episódio de como um processo manipulatório, com uma Presidente o fazia visitar doentes em estado partidário”, avalia o investigador.
relevo nas suas vidas. Já vi pessoas que guar- outra intenção.” terminal, ou que o levou a ajudar muita gente “Marcelo é um estratega político que ar-
dam na sala a fotografia com Marcelo, ainda Mas esse é um risco muito reduzido para o aqui em Cascais, até financeiramente.” risca com base nas suas percepções, emo-
que das suas pessoas só apareça um pouco da actual Presidente da República, pelo menos a Não é preciso ser-se psiquiatra para perceber ções e sentimentos. A sua mundividência,
cabeça. Essa dimensão representativa junto julgar pelo que dele conhece o psiquiatra José que a expressão dos afectos é um instrumento que inspira e expira política, fê-lo montar
das populações, no nosso regime, é muito im- Gameiro. “Marcelo Rebelo de Sousa tem uma da acção política deste Presidente, “mas, mais desde o início da sua campanha um cenário
portante.” vantagem muito grande: ele é muito próximo do que isso, é um traço da sua personalidade”, de afectos para o exercício do seu mandato,
das pessoas e precisa que as pessoas sejam nota Bruno Paixão. “A sua biografia mostra-o com um guião gizado pelo próprio. A deter-
Ninguém consegue sentir próximas dele. É uma vantagem porque se em diversas circunstâncias, o que leva a que minação de conciliar as partes e a empatia
percebe que é genuíno. Houve muitos líderes essa prática não seja artificial. Como o próprio que coloca na sua comunicação têm-no aju-
sempre compaixão políticos que tentaram ser próximos das pes- afirmou, as pessoas estavam pessimistas, cép- dado no objectivo de abranger quase todas as
Há cerca de quatro anos, a filósofa norte-ameri- soas, mas percebia-se que não tinham grande ticas e crispadas e a mera viragem psicológica, franjas da população e do espectro político.
cana Martha Nussbaum lançou o livro Political necessidade pessoal disso. Acho que Marce- que passou pelo universo dos afectos, foi uma A consequência disso é uma atenuação c
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ideológica de facção que o seu antecessor O Presidente-provedor “É sempre especulativo fazer a ligação en- os êxitos, junta-se à festa e à alegria, e faz delas
não conseguiu apagar”, prossegue. A ligação directa povo- tre uma coisa e outra”, diz Lídia Jorge. “Os bons cartazes de difusão, mostrando os casos
É também surpreendente, considera Bruno Presidente, sem intermediação sucessos dos portugueses são fruto da escola de sucesso ao país, como espelho. Ajuda a ter
Paixão, que Marcelo mantenha um ritmo fre- nem no voto nem na rua, dá democrática prolongada, do investimento na confiança e crença no futuro”.
nético ininterrupto há tanto tempo, “transfor- corpo a uma nova competência ciência que foi feito, na capacidade de circu- E o país bem precisa disso, diagnostica He-
mando a maratona presidencial de cinco anos presidencial muito privilegiada lação dos portugueses pelos fora internacio- lena Marujo. “Partimos de um défice tão gran-
numa corrida veloz de 100 metros”. “Ninguém por Marcelo: a de “provedor de nais, e, sobretudo, de alguma coisa que não de, de carências afectivas tão profundas, que
mais tinha mostrado tanto pulmão político co- cada português” se explica — a vontade e o empenho individual conseguirmos encher este reservatório é um
mo Marcelo, sendo presente, activo e dedican- que acontece por emulação, por acaso ou por processo longo. Mesmo neste momento bom
do humanismo em cada acção presidencial. milagre.” Ou por homeostasia, talvez dissesse em que estamos a viver continua a haver a di-
Por isso, Marcelo consegue fazer pontes on- António Damásio. “O que sabemos, isso sim”, ficuldade de termos uma perspectiva honrada
de a direita não está habituada e aproxima-se prossegue a romancista, “é que Marcelo acolhe de nós próprios. Continuamos a ser um povo
mais daquilo que a própria esquerda vê num PAULO NOVAIS/LUSA
que não arrisca a alegria, a esperança.”
Presidente.” “Quando trazemos uma linguagem políti-
“Claro que ele não tem de governar, é muito ca diferente — e eu acredito que a linguagem
mais fácil para ele, ser Presidente da República constrói a realidade —, quando trazemos um
é muito mais fácil do que ser primeiro-minis- sentido de colectivo maior e abrimos esse es-
tro”, salienta por seu lado José Gameiro. “Ele paço estranho da ternura, do carinho, como
interpreta os sentimentos das pessoas e tem um fio que ajuda a tecer a coesão social, nós
um primeiro-ministro muito mais frio, mui- ficamos melhor. Mas depois, quando acontece
to mais contido, que tem de governar, mas alguma coisa má, temos uma grande tendên-
claramente com muito mais dificuldade de cia a generalizar o negativo e não fazemos o
se aproximar das pessoas. O Presidente faz o mesmo com o positivo. Mas são duas faces da
contraponto. No Governo, não há ninguém que mesma moeda”, analisa a psicóloga.
consiga expor esse lado mais empático, mais Lídia Jorge vê uma relação entre essa “alter-
afectuoso”, frisa o psiquiatra. Nesse sentido, nância bipolar” lusa com a alternância demo-
considera que Marcelo Rebelo de Sousa “de- crática em Portugal: “Os exageros do desastre,
sempenha muito bem o papel: ser Presidente sempre arvorados pelas oposições, e as glori-
da República em Portugal é 95% disto e depois ficações mirabolantes dos governos, nos perí-
há 5% complicados”. odos dos actos eleitorais, ajudam a criar essa
Antigo apoiante da candidatura de Jorge bipolaridade que passa de campo para campo
Sampaio a Belém, Gameiro analisa as diferen- em ciclos de alternância, conforme as cores po-
ças entre os dois tipos de homens de afecto que líticas que estão no poder, o que deixa sempre
são os dois presidentes. “Jorge Sampaio é um um lastro de insegurança e mal-estar.”
homem muito emotivo, muito afectuoso mas Politicamente, diz a escritora, somos extre-
tem um enorme pudor em relação às pessoas, mamente emocionais e clubistas. “O mesmo
tem sempre medo de as incomodar ou de que hospital, com os mesmos problemas, os mes-
elas pensem que ele está a usá-las. Se houver mos hábitos, é visto, pelo médico que nele tra-
um grupo de pessoas, Sampaio tem algum me- balha, como um lugar bastante razoável quan-
do de se intrometer, enquanto Marcelo avança do o seu partido está no governo, e passa a um
e cumprimenta toda a gente. Sampaio é um lugar execrável, logo no dia a seguir à mudança
low profile, é muito afectuoso mas muito mais de liderança. Os próprios comentadores, mar-
esquivo, por pudor. Ao longo dos dez anos de cados também por forte carga ideológica, con-
mandato foi melhorando isso.” correm para os cenários de êxito/desastre. O
E Mário Soares? “Era diferente, ele sabia maniqueísmo ideológico de cúpula transforma-
relacionar-se bem com as pessoas, mas não se em maniqueísmo cultural de base.”
sei se era tão genuíno, era mais do teatro po- Estamos condenados a isso? “Vivemos um
lítico. Soares não era um homem do povo, tempo de distopias, de muito cinismo. Tudo o
estava bem num meio mais intelectual; acho que sejam sinais, práticas que ajudem a man-
que não se sentia bem numa tasca, enquanto termo-nos humanos e voltar a acreditar em
Marcelo se sente bem numa tasca. Acho que utopias é aquilo que nos fará acreditar em nós
é essa a diferença.” como seres humanos”, defende Helena Marujo.
Mas este processo demora e precisa de estímulo.
E as vitórias, interiorizamo-las? Precisa de pessoas que estão “em lugares sim-
bólicos, como a Presidência da República”, que
A espiral de energia positiva que se gerou com nos “possam chamar a atenção para sinais de
a mudança de ciclo político é poderosa, mas que continuamos humanos e promovam esta
não se deve a qualquer “milagre”. Ressalvadas capacidade de acreditarmos uns nos outros, de
as conquistas obtidas a nível económico, finan- construirmos em conjunto, de nos sentarmos
ceiro, político e social, o que já não é pouco, a colaborar, a dialogar, virados para um sen-
para os interlocutores ouvidos pelo P2, todas as tido comum colectivo. Quando isso acontece,
outras vitórias alcançadas a título desportivo, tudo floresce.”
científico e cultural no arranque do novo ciclo
político não passam de coincidências. leonete.botelho@publico.pt
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DIA
25 O
A 25 de Janeiro Eusébio faria
76 anos de vida, uma data que
continua a ser carinhosamente
recordada pelos seus muitos
admiradores e no mundo do futebol.
O Público traz-lhe a banda desenhada
Eusébio Pantera Negra, da autoria
KING
de Eugénio Silva, que mostra
o percurso de vida do craque
e o impacto que teve a nível
mundial, em particular
no nosso país
FAZ
ANOS
Limitado ao stock existente | Copyright official product under SLB Management
BD BIOGRÁFICA EM
EDIÇÃO DE CAPA DURA
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COM O PÚBLICO
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N
ão é fácil educar. É raro o
pai que nunca se confron-
tou com um dilema, com
uma dúvida sobre a edu-
cação dos filhos. E agora
o que vou fazer? Fiz bem?
Devia ter feito de outra ma-
neira? A culpa é minha? Se
calhar tenho de pedir ajuda, mas a quem? O
polémico programa televisivo Supernanny
procura dar essa ajuda aos pais dos filhos mais
malcomportados. O guião é simples: há uma
família que precisa de ajuda e há uma psicólo-
ga ou terapeuta familiar que tem a solução. A
criança problemática deixa de o ser e os pais
aprendem a gerir os problemas. Final feliz?
Nem por isso. Não é na televisão nacional que
se resolvem os problemas privados. Os pais
têm outras alternativas.
O programa foi para o ar no último domingo
e na segunda-feira de manhã já a Comissão Na-
cional de Promoção dos Direitos e Protecção
das Crianças e Jovens (CNPDPCJ) criticava o
conteúdo por considerar que existe um “ele-
vado risco de o programa violar os direitos das
crianças, designadamente o direito à imagem,
à reserva da vida privada e à intimidade”. Tam-
bém a Unicef e o Instituto de Apoio à Criança
subscreveram as críticas; e a Entidade Regu-
ladora para a Comunicação Social e a Ordem
dos Psicólogos receberam queixas. No final da
semana, já a família do segundo episódio pedia
para que este não fosse para o ar; e a Comissão
de Protecção de Crianças e Jovens de Loures
exigia à SIC que retirasse as imagens da criança
do primeiro episódio do ar, ao que a estação
respondeu que não iria obedecer. c
O miúdo porta-se
Não chame a sup
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Chuva de queixas
Logo depois da emissão
do primeiro episódio do
novo programa da SIC,
choveram críticas e queixas
de várias instituições ligadas
à protecção das crianças.
A estação de televisão
defende que “Supernanny”
tem “uma vertente
pedagógica” e promete
manter o programa
e mal?
diálogo com os pais, no recato próprio seguros e firmes nas suas decisões e nos
que exige qualquer acto clínico, quer seus modos de a educar, mas sem nunca
médico quer de qualquer técnico de abdicar de ter a “ternura na ponta dos
saúde mental infantil, de forma a que, dedos” própria de um cuidador parental
depois de estabelecido um diagnóstico de uma criança com a idade da menina
a partir dos sinais clínicos, se possa que apareceu no programa Supernanny.
estabelecer um plano terapêutico com a Ana Vasconcelos, pedopsiquiatra
ernanny
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• Li, nos últimos dias, tanta coisa e tão causa de tais imagens, como vi escrito!
negativa sobre o programa Supernanny Quem decidiu a sua participação no
que estava preparado para ver um evento programa? Certamente que a mãe, muito
trágico com uma violação evidente e provavelmente também o pai, isto é, aqueles
sistemática dos direitos básicos de uma a quem caberão as responsabilidades
criança designada por “furacão Margarida”. parentais. E são estes que, em primeira linha
Mas, na verdade, não foi isso que vi. e salvo violações graves dos direitos dos
É um programa algo triste e doloroso, filhos, devem decidir estas questões, sem
que retrata uma vida familiar que prejuízo, naturalmente, de a criança ser
compreendemos e, de alguma forma, ouvida e participar na decisão.
todos conhecemos. O chamado “furacão O Estado só deve intervir, nos termos da
Margarida” é uma miúda de sete anos, lei, quando os pais ponham em perigo a
normalíssima, birrenta e afectiva, segurança, saúde, formação, educação
habituada a ver feitas as suas vontades ou desenvolvimento das crianças. E, em
pela mãe e pela avó que — como tantas e princípio, uma criança só estará nessa
tantas mães e avós — exprimem o seu amor situação de perigo, igualmente nos
de forma errática e confusa em termos termos da lei, quando está abandonada,
educacionais e emocionais. sofre maus tratos físicos ou psíquicos ou
Os comportamentos desequilibrados é vítima de abusos sexuais, não recebe
da Margarida no início do programa os cuidados ou a afeição adequados à
— que me pareceram, em certos sua idade e situação pessoal, é obrigada
momentos, teatralizados — vão evoluindo a actividades ou trabalhos excessivos
positivamente e o programa termina ou inadequados à sua idade, dignidade
com uma mensagem de esperança na e situação pessoal ou prejudiciais à sua
evolução daquele furacão que já nem uma formação ou desenvolvimento ou,
tempestade tropical é. Todos ficamos a ainda, está sujeita a comportamentos
gostar da Margarida. que afectem gravemente a sua segurança
Não sendo psicólogo nem educador, ou o seu equilíbrio emocional. Será esta
pareceu-me, também, que os conselhos a situação que legalmente justificaria
e opiniões da designada “Supernanny” a intervenção do Estado na vida da
eram genericamente sensatos, talvez tudo Margarida e da sua família?
tratado de uma forma simplista e algo Na verdade, seria bom que o Estado, tendo
primária, mas este programa da SIC não é tido, agora, conhecimento das dificuldades
propriamente um programa do canal 2 da da Margarida e da sua família, queira
RTP, visto por uma elite, com um debate ajudá-los, eventualmente substituindo-se
entre especialistas sobre a educação e a à Supernanny. Será o Estado capaz disso?
psicologia das crianças. Tem psicólogos e educadores para o
É tão-só um reality show que pretende ser fazer? Ou prepara-se o Estado para fazer
visto por um grande número de pessoas intervir as instâncias repressivas afectando
com tudo o que isso acarreta. Mas estou gravemente o equilíbrio emocional da
em crer que para a Margarida e para a sua Margarida? Ou prefere avançar com a
Família arrependida Negrão. Assim como há cursos de preparação família a participação no mesmo terá sido censura, como parece querer fazer a CPCJ
No final desta semana, para o parto, também devia haver de paren- uma experiência positiva. de Loures, afectando-nos a todos nós?
a família do segundo talidade, considera. “Não se nasce ensinado, Embora ver crianças a fazer birras, a chorar Dito tudo isto, acrescento que poderia
episódio pedia para os pais têm de experimentar, ir aprendendo e e a serem malcriadas com os pais não seja naturalmente a produção do programa
que este não fosse não ter receio de expor a sua ‘incompetência’”, propriamente uma novidade ou motivo ter evitado algumas imagens mais directas,
para o ar. A audiência acrescenta. de escândalo, é certo que imagens da reduzindo o grau de exposição pública
do primeiro episódio Hoje, os pais sentem a pressão para ser per- Margarida e da sua vida privada foram das birras ou dos castigos da Margarida
foi de um milhão de feitos, aponta a professora da Católica. Mas expostas publicamente o que poderá ter mas não vi nada que justifique actuações
espectadores “não precisamos de superpais”, diz José Mor- um efeito, de alguma forma estigmatizante do Estado para além das que a
gado. “Se houvesse receitas, saíamos todos — sendo absurdo que venha a perder Margarida e a sua família desejem.
direitinhos, desenhados a regra e esquadro. possibilidades de emprego futuro por Francisco Teixeira da Mota, advogado
Claro que há princípios e valores que devem ser
ensinados, mas que servem para apoiar a rela-
ção da criança com o mundo. Não queremos
que haja uma receita para educar porque cada
criança é única e queremos que as crianças re-
criem o mundo!”, conclui Ana Teresa Brito.
bwong@publico.pt
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E América,
ntre Washington e Nova
Iorque, o comboio atraves-
sa as traseiras de pequenas e
grandes cidades, subúrbios e
alguns focos de ruralidade que
deixam a nu as camadas que
marcaram o desenvolvimento
nas últimas décadas. Histórias
de sucesso, esquecimento e revivalismo e o
modo como a arte e a cultura alternativas se
foram apropriando disso. Esse é o lugar onde o
a vida
país se revela naquilo que esconde. Armazéns
sem telhado, gravitações, invadidos por ervas,
prédios em construção, casinhotos de madeira
com muitos acrescentos, gigantescos parques
de estacionamento, carros abandonados em
baldios, parques de caravanas, caravanas so-
litárias, jardins cuidados, jardins onde uma
cadeira de baloiço é a única coisa que resistiu ao
abandono do que já foi uma habitação familiar.
Há alguém que passa, alguém sentado de olhar
parado, miúdos de skate, miúdos que fumam,
gente drogada, bêbedos, muitas pessoas que
normal?
correm para o trabalho, restos de gelo no chão,
restos de folhas, sobras de comida.
As carruagens atravessam o que parece ser
a vida normal quando se sai de Washington a
caminho de Baltimore, Filadélfia, Newark e,
por fim, Nova Iorque. São as cidades onde pára
o rápido que cruza tudo o resto que se interpõe
no percurso apressado, tratando-o como uma
paisagem que irremediavelmente fica para trás.
O que contam esses lugares de passagem? O
que podem contar num dia em que essa viagem
se faz em sentido inverso à que se fez há um
ano quando o caminho foi entre Nova Iorque
e Washington para a tomada de posse do 45.º
Presidente dos Estados Unidos?
Passaram 365 dias. Em jeito de balanço, há
quem fale de um efeito de soco no estômago.
Um ano depois de Donald Trump ter chegado à Casa
Nos jornais, não faltam adjectivos para classifi-
car carácter e administração. Autoritário surge
Branca, Nova Iorque diz-se deprimida e o país aprende
como eufemismo para falar de “um imperador
monstruoso”, por exemplo. Ou seja, escreve-se
a viver o quotidiano com o efeito dos tweets do Presidente.
no presente e, sabe-se, isso é pouco acertado;
escreve-se quando sai um livro como Fire and A crispação é a nova normalidade na América atenta a
Fury, do jornalista Michael Wolff. Mas sabe-se.
Trump inaugurou uma nova maneira de gover-
nar que abanou as regras do sistema. A cada
sinais de mudança. Eis a vida, normalmente
dia, o americano mais atento ia sabendo como
ia o país e a Casa Branca a partir do tweet mais Por Isabel Lucas, em Nova Iorque
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recente do Presidente. O que se seguia era a pára na Penn Station de Nova Iorque às cinco imenso espaço entre a conversa dela, ela e a espaço e os meus filhos têm uma boa escola.”
reacção dos media e do mundo a esse mesmo e 20 dessa mesma tarde. A sensação de quem multidão que continua a circular. Sarah não é Entre 500 mil e 700 mil dólares, é possível
tweet e às suas possíveis consequências. chega é a de que a cidade está a ser evacuada dali, mas tampouco se deixa intimidar. Já co- ser dono de uma casa com três ou quatro quar-
O Presidente que prometera abanar Wa- por uma qualquer emergência. Centenas de nhece a estação por onde todos os dias passam tos, garagem e jardim numa zona com baixos
shington, limpar o pântano, dar emprego à pessoas correm em várias direcções, sabendo mais de 600 mil pessoas no chamado commu- índices de criminalidade, numa área de flores-
classe média, travar a imigração, acabar com exactamente onde se dirigir. Uma multidão te — palavra que define o quase sempre com- ta, servida por bons hospitais, escolas, estra-
o programa de segurança social Obamacare, que se dilui e volta a ser uma massa antes de plexo e determinante percurso casa/trabalho das. No centro de Nova Iorque, o mínimo para
construir um muro, evitar refugiados, comba- se voltar a perder em cada uma das entradas definidor de estilo de vida — entre a cidade e a um apartamento com um quarto vai entre os
ter o terrorismo evitando a entrada de muçul- para os comboios que as levam de volta a casa área metropolitana. Parte dessas pessoas que 650 mil e um milhão de dólares. O preço médio
manos, diminuir impostos, fazer a América depois de um dia de trabalho. É a hora de pon- andam por ali habita as tais traseiras por onde de uma casa nos Estados Unidos é de 200 mil
grande outra vez desafiava a tradição presi- ta de regresso. Não se ouve uma conversa. A continuam a passar os comboios, antes e de- dólares. Depende se quer viver no Ohio, Kan-
dencial de serenar. O Presidente que dramatiza Babel das ruas desaparece e toda a atenção de pois do dia em que metade da América achava sas, Michigan, S. Francisco ou Nova Iorque.
ao vivo a realidade, via redes sociais, abrin- cada um dos ex-falantes se fixa num trajecto a que a outra metade estava errada quando a 8 O metro chega, Jerry passa do pacato cida-
do hostilidades com a imprensa livre, indo às cumprir o mais depressa possível. “Um nova- de Outubro de 2016 elegeu Donald Trump para dão que escuta podcast em mais um commuter
Nações Unidas ameaçar destruir a Coreia do iorquino só sabe andar depressa ou a correr”, a presidência do país. a atacar o espaço por um lugar na carruagem
Norte, rasgando os Acordos de Paris sobre o dissera uns dias antes Martha, uma rapariga Nesse compacto humano em hora de pon- cheia. Braços em asa, ar decidido, quer vencer
clima, sorrindo à Rússia e fazendo cara feia que pedira desculpa por estar a ocupar o lado ta na Penn Station, nada identifica quem fez a batalha por mais uns minutos sentado. Con-
aos aliados. esquerdo da escada rolante que — regra — deve silêncio e quem celebrou nesse dia. Só Sarah, seguiu. O sorriso voltou-lhe ao rosto, ele acena
Esse Presidente mentiu? “Disse inverdades”, ser sempre deixado livre aos que correm para porque a deixamos falar. “Fiquei muito tris- antes de mergulhar outra vez na voz que só ele
sorri Andrea Smith, uma atenta leitora de jor- baixo ou para cima. Ela distraiu-se e foi brinda- te. Não votei. Achei que não era preciso.” O ouve e o entretém.
nais, a única que dobra e desdobra as páginas da com um palavrão, o tradicional vernáculo que é que mudou? “Para já, o muito maior à- Jerry teve tempo para dizer que é um privile-
da edição do New York Times numa tarde de dos stressados de Nova Iorque. vontade com que ouço manifestações racistas giado. Sozinho ganha mais de 160 mil dólares
domingo no metro de Nova Iorque. “Todas as Mas nada como a multidão em hora de ponta entre colegas da universidade... e uma espécie por ano. O rendimento da mulher é irregular,
palavras que ele diz são um exercício ao nosso na Penn Station. O som é dos passos apressados de raiva contida.” mas ajuda a que o orçamento comum fique
entendimento e um teste aos nossos nervos”, e de uma respiração que abafa tudo. Sarah olha Passou um ano, “apenas um ano”, como sa- entre os 200 mil e os 220 mil dólares. A mé-
continua esta psicóloga clínica num dia de um painel. Tem um trólei na mão direita e aper- lienta Jerry. Tem auscultadores nos ouvidos dia nacional, segundo o U.S. Census Bureau,
pausa antes de entrar numa sala de cinema, ta a mochila contra o peito. É uma excepção no que tanto servem para ouvir o podcast como foi de 59 mil dólares em 2016 e tem registado
exactamente o que fez no dia seguinte à vitória formigueiro. “Estou a ver a hora do comboio para proteger as orelhas do frio gelado. “Pa- crescimento nos quatro antes anteriores. Jerry
de Trump, o “Presidente que nos pôs a pensar para Princeton.” Volta à universidade depois rece que está lá há tanto tempo. Já viu tudo o é um dos felizes oito por cento da população
acerca do que é a verdade”. de uns dias de férias forçadas em casa dos pais, que ele disse, a quantidade de polémicas que americana com rendimento de 200 mil dóla-
em New Heaven, no estado vizinho do Connec- criou? Felizmente não tem conseguido fazer res por ano.
Metade certa, metade errada ticut. Loura, alta, destaca-se pela calma e um muito do que prometeu, à excepção da lei de
certo ar perdido. “Vou ter de esperar”, diz, impostos”, continua, sem desviar a atenção Ao volante da “Van Halen”
Foi há um ano. Na América do Presidente que enquanto procura um sítio onde se encostar, do túnel por onde há-de chegar o E Train — a
governa por tweets, a vida diária decorre nor- talvez ler um livro, ver uns mails. Tem 21 anos, linha de metro que vai de Jamaica, em Que- “A casa leva a grande fatia dos rendimentos,
malmente. Ou assim parece, seja lá o que for estuda Arte e aproveitou para ver a exposição ens, junto ao aeroporto JFK, e o World Trade numa percentagem cada vez maior desde os
essa normalidade, pelo menos no eixo entre de David Hockney que acaba de se estrear no Center — e o levará até à Baixa, onde trabalha últimos 30 ou 40 anos”, refere Jessica Bruder.
Washington DC, a cidade para onde se mudou, Metropolitan Museum, uns quarteirões acima. como consultor jurídico num banco. Vive em É jornalista, especializou-se em subculturas
e Nova Iorque, a cidade onde nasceu e sempre “É emocionante! Gosto daquela espécie de rea- Monclair, uma pequena cidade no estado de e em questões laborais na era digital. Quan-
viveu. São 360 quilómetros e uns milhões de lismo brutal, dos retratos, e gostei muito de um New Jersey maioritariamente habitada por uma do Trump estava a ser eleito, ela terminava
pessoas que vivem ou cruzam diariamente es- quadro onde há uma estrada, sabe? Costumo classe média que escolheu ter uma casa maior Nomadland, um livro sobre quem deixou de
se atlas de raças, classes sociais, expectativas, fotografar estradas em Princeton. São largas, por um preço muito menor do que qualquer ter casa e vive sobre rodas, literalmente. Em
frustrações, sonhos. Estão no caminho entre a têm pouco movimento e podemos parar por T1 em Manhattan. carrinhas, caravanas, roulottes, autocarros es-
capital política e a capital dos costumes, acor- ali à espera do melhor ângulo.” Tem dois filhos adolescentes, a mulher dá colares, uma comunidade itinerante que vive
dam, trabalham, fazem as suas refeições, de- Fala de Pearlblossom Highway, de 1986, uma aulas particulares e todos os dias repete a ro- de trabalho precário e cresce desde a crise de
ambulam, vão para a escola e regressam para, fotografia feita de colagens de uma estrada no tina: dez minutos de carro até à estação, mais 2008. Ou seja, antes de Trump. Para isso, ela
no dia seguinte, se tudo correr bem, tudo se deserto americano, paisagem característica do uma hora e 15, se tudo correr bem até à Baixa fez o que se chama “jornalismo de imersão”.
repetir. Que rotina ou rotinas são estas? Sul. Princeton não é assim. Árvores, rios, um de Manhattan. Às cinco da tarde, o mesmo, Pegou ela própria numa van, baptizou-a “Van
O comboio que atravessa as traseiras dessa verde que no Inverno se cobre de branco, de em sentido contrário. Se tudo correr bem. Halen” e fez-se à estrada para conhecer a vida
América sai de Union Station, a estação central neve e gelo. Mas Sarah tenta a experimentação “Foi uma escolha. Leio, ouço música, dormi- e as motivações destas pessoas que deixaram
de Washington DC, às duas e cinco da tarde e de Hockney e quando fala parecer abrir-se um to um pouco, mas chego a casa e posso ter de conseguir pagar uma casa e escolhe- c
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aumenta o número dos que vão para a estrada, pelas semelhanças, a procurarem quem é igual,
afirma Jessica. “Usa-se muito a palavra ‘liberda- é importante que o jornalismo possa ajudar
de’ para qualificar o modo de vida, a escolha, essas pessoas a passar algum tempo com quem
mas é uma escolha de certa maneira imposta, é, de algum modo, diferente delas.”
sistémica.” Como é que eles, os que andam
sobre as rodas, se vêem a si próprios; vítimas, Um famoso com outro famoso
sobreviventes, aventureiros, sonhadores? “So-
nhadores, de certeza.” Ninguém gosta da pa- Agora há um café quente na mesa. Através dos
lavra “homeless” que carrega um estigma, a
palavra que usam é “houseless”.
vidros embaciados, vê-se a neve e o silêncio que
ela traz sempre. São poucos os que passam. En-
Os americanos que estão de luto pelo fim da
“Depois de ter escrito o livro, falei com um
sociólogo que gostaria de ter ouvido antes.
colhidos, quase todos. Ao lado, um homem abre
o jornal. Traz na capa Oprah Winfrey no discur-
era Obama — e chocados com o início da era
Disse-me que sim, fazemos escolhas, mas fa-
zemos essas escolhas dentro de uma selecção
so dos Globos de Ouro na noite anterior. A noite
em que as mulheres se vestiram de negro contra
Trump — fazem há meses terapia colectiva no
limitada, escolhas constrangidas. Por isso, os abusos sexuais. Lê-se que há quem peça que Instagram de Pete Souza, o fotógrafo oficial do
quando muitas dessas pessoas dizem ‘esco- Oprah se candidate. Vejo-o a abanar a cabeça.
lhi isto’, a escolha tem que ver com a mani- Pergunto o que acha. “Acho que quem acha que ex-Presidente democrata. Agora, puseram o seu
festação da autonomia, ter uma razão para se ela se deve candidatar não percebe nada disto.”
levantarem todas as manhãs e manterem um Porquê? “porque está a tentar combater um fa- novo livro no topo de vendas
certo controlo sobre as suas vidas. Foi isso que moso com outro famoso, talvez mais competen-
escolheram.” te, mas o que sabe ela de administrar um país?”
Jessica esteve três anos a fazer esse trabalho No país do culto da personalidade, quem tem Por Bárbara Reis
em vários estados. Como eles trabalhou nos êxito pessoal pode chegar ao comando do país.
armazéns da Amazon, a grande empregadora Foi isso que Trump, para já, mostrou. Há quem
Nostalgia por
deste tipo de população, flutuante. A empresa lamente que os democratas não avancem com
de Jeff Bezos criou até uma campanha para os alternativa, que os republicanos se mantenham
atrair, a Campforce. Dá-lhes trabalho na época mais ou menos silenciados por Trump, como
alta de encomendas, três/quatro meses antes quem espera que alguma coisa aconteça. Todos
inesperado
ele foi guarda prisional de Sing Sing durante nhece melhor. Movimenta-se no mundo da arte,
um ano. Provavelmente eu tinha alguns este- da cultura, dos restaurantes de luxo. Viaja para o
reótipos na minha cabeça sobre as pessoas que estrangeiro. Trabalha como consultora de arte,
acabam por ser guardas prisionais. Depois de decora apartamentos na área da grande metró-
ler o livro de Ted, acho que fui capaz de olhar pole, com gente que não conta tostões e maiorita-
para essas pessoas com compaixão e ver os riamente até votou em Hillary Clinton. Como ela.
E
matizes das suas vidas.” “Votei na Senhora Clinton convictamente. Não m tempos extraordinários, Unido pela Allen Jane, da Penguin Books) já ti-
Foi isso que se propôs. É isso que propõe por a achar a melhor solução para o país, mas rótulos extraordinárias. Pete nha vendido 200 mil exemplares quando ainda
que faça o espectro que olha pela janela do porque o adversário nem sequer contava para Souza, que foi o principal faltava uma semana para o Natal. Nessa altura,
comboio entre Washington DC e Nova Iorque. este campeonato. Era o que eu achava”, diz en- fotógrafo de Barack Obama a Amazon ficou sem stock, criou uma “janela”
Que olhe e imagine como será viver ali. Como quanto encolhe os ombros e esbugalha os olhos durante oito anos na Casa no site para informar que só aceitaria novas
será ter Trump Presidente, como será cortar numa incredulidade já tantas vezes remoída. Branca, tornou-se uma pílula encomendas quando o livro voltasse a “estar
e enfrentar o trânsito, a agressão da cidade, “Além disso, sou democrata, acredito nos antidepressiva para a América disponível” e criou listas de espera internacio-
beber a energia que ela tem, ouvir as razões princípios da igualdade de direitos, do direito que vive em sobressalto com nais. Neste momento, no site da Little, ainda
da diferença. à diferença; revoltam-me o racismo, a clivagem a nova realidade política. há um comunicado oficial dirigido aos leito-
“Sou mais uma contadora de histórias do que social... Pertenço a um grupo que tem sofrido e Ao fim do primeiro ano de Donald Trump no res, que diz isto: “Estamos encantados com o
uma activista, mas se houver algum activismo parece que vai continuar a sofrer. O Presidente poder, as saudades do ex-Presidente democrata entusiasmo pelo incrível livro de Pete Souza.
no que faço... talvez seja passar a mensagem, é tem instigado discursos xenófobos. Sou uma tornaram aquilo que poderia ter sido apenas Esta procura sem precedentes fez com que este
muito fácil ter estereótipos.” Numa sociedade negra em Nova Iorque, mas pelo menos sou mais um livro de fotografia num inesperado tenha sido o livro do Hachette Book Group que
tão polarizada em que se promove o encontro uma negra em Nova Iorque. Uma privilegiada. blockbuster. mais vendeu num só dia na Amazon em toda a
virtual entre semelhantes ideológicos e se for- Se tudo correr mal, posso pagar uma viagem Lançado a 7 de Novembro, Obama: An In- história. [...] Estamos a trabalhar para além do
talece uma rede em que as pessoas só se dão para sair daqui. Passou só um ano, mas os si- timate Portrait (editado nos EUA pela Little, normal para conseguir pôr mais livros nas lojas
com quem gosta delas, e a só se encontrarem nais são os que todos os dias lemos e ouvimos.” Brown, do Hachette Book Group, e no Reino o mais rapidamente possível.” c
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James Warren, do Poynter Institute, um pres- Livre acesso na Casa Branca tados Unidos” e por isso não tem tempo para of Boulder Church para o grande auditório do
tigiado centro norte-americano de reflexão e No elevador depois da tomada de falar com os media. teatro da cidade.
estudo sobre jornalismo, analisou o fenóme- posse a 21.01.09 (pág. anterior); Não é totalmente falso. A sua agenda pública O próximo show — a palavra usada por alguns
no editorial de Obama: An Intimate Portrait e na véspera, a caminho da festa impressiona. Nos últimos dias, Souza esgotou dos teatros para descrever estas palestras — é a 3
atribuiu a Pete Souza uma faceta não-humana: oficial (nesta pág.); num jogo de os bilhetes em Los Angeles para duas sessões de Fevereiro, no Teatro Paramount de Austin, no
com o seu novo livro, o fotojornalista tornou-se basquetebol de Sasha em 2011; de apresentação do livro, das 7h45 às 9h15, e à Texas. Aqui, o “bilhete VIP” custa 76 dólares (cos-
“um veículo de duas pernas para a nostalgia Halloween de 2015, e a ouvir noite, na sala do histórico Wilshire Ebell Thea- tuma ser 60), mas dá direito a “conhecer e cumpri-
instantânea por Obama”. Thelma McNair, cuja filha foi tre; três dias depois esgotou o grande auditório mentar Pete Souza”, ter o seu autógrafo e tirar uma
Ninguém na Penguin quis comentar ao PÚ- morta num atentado racista em do Teatro Ikeda, em Phoenix, Arizona; e esta fotografia com o autor. Antes, Souza fez dezenas de
BLICO as razões deste inesperado sucesso. Uma Birmingham em 1963 terça-feira esteve em Boulder, Colorado, onde sessões semelhantes em Washington, Nova Iorque,
assessora de Londres disse que Pete Souza está a procura ultrapassou de tal modo as expecta- Seattle (onde também teve de ser transferido para o
“demasiado ocupado com a digressão nos Es- tivas que a sessão teve de ser mudada da Unity Moore Theatre para responder à procura elevada),
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Joaquina
(e gastou 15% da despesa do Estado)
J
á de luvas brancas na mão, Inês das peças mais vistosas”, avisa Inês Ferro, “mas por exemplo, são detalhados de forma mais importante historiador brasileiro nascido na
Ferro, directora do Palácio Nacional tem um “potencial enorme” de investigação. viva — há referência aos tipos de materiais, segunda metade do século XIX, descreve Car-
de Queluz, prepara-se para folhear A directora do palácio nota ainda o excelente cortes e cores. “Era interessante conseguir lota Joaquina como “um dos maiores, senão o
uma das mais recentes aquisições ao estado de conservação em que se encontra o fazer corresponder a objectos reais aquilo maior estorvo da vida de Dom João VI”, cujas
espólio: um documento datado a 1816 documento com mais de 200 anos. que vem elencado nesta exaustiva listagem ambições faziam a diplomacia da época “de
onde estão registadas as compras que “Queremos sobretudo sistematizar e de algu- de itens de moda”, de forma a que “as pes- tempo a tempo andar numa roda-viva”.
a rainha Carlota Joaquina fez em Paris, ma forma ilustrar esta listagem, num contexto soas possam ver as tipologias e perceberem “Os traços varonis e grosseiros do seu rosto,
a partir do Rio de Janeiro, onde vivia alargado do que era a silhueta, os adereços, os o que eram os toucados da época, qual era o seu género de preocupações, o seu próprio
em fuga com a família real e corte por- hábitos, os gestos”, indica. Nos próximos me- a linha da indumentária”, refere Inês Ferro. impudor, denotam que em D. Carlota havia
tuguesas desde 1808 — tendo embarcado no ses, o documento será alvo de uma investigação “Do ponto de vista da documentação [este apenas de feminino o invólucro”, escreve em
final do ano anterior, antes da primeira invasão multidisciplinar, com o objectivo de fazer cor- manuscrito] é de um valor incalculável”, co- D. João VI no Brasil. “O traço convencional-
francesa de Portugal. responder as referências às respectivas peças e menta ao PÚBLICO a investigadora Mafalda mente feminino de Dona Carlota era o amor
De barco, chegaram ao Rio de Janeiro oito retratos da época. Deverá culminar com uma Barros, actualmente a desenvolver um dou- das jóias e vestidos, o fraco pelo luxo”, aponta
caixas. Entre largas centenas de peças — cujo publicação dos resultados na linha editorial toramento sobre o legado cultural da rainha ainda, referindo que esta “nunca se resignou
número total ainda não foi contabilizado —, Colecções em Foco, da Parques de Sintra. Carlota Joaquina. “É de todo o interesse ter a ser aquilo para que nascera — uma princesa
contam-se 560 lencinhos de mão, corpetes, im- Antes disso, porém, o público poderá vislum- um conhecimento mais aprofundado das fon- consorte” e que “sentia em si sobeja virilidade
pressionantes vestidos dos mais luxuosos ma- brar a lista de compras da rainha. Ainda não tes primeiras da nossa história porque passa- para ser ela o rei”.
teriais, luvas, cosméticos e peças de joalharia. existem datas ou planos concretos, mas Inês mos muito tempo a ler fontes secundárias que Certo é que a rainha tinha interesses vinca-
Parte das peças vinham compor os enxovais Ferro avança que o documento deverá ser ex- muitas vezes estão contaminadas por visões dos e exercia um poder político activo. Sendo
das princesas Maria Isabel e Maria Francisca posto ainda este ano, à partida no toucador de ideológicas dos seus autores”, acrescenta a ex- a única Bourbon livre — numa altura em que a
de Assis — que iriam casar com dois dos seus Carlota Joaquina — que no Palácio Nacional de vice-presidente Instituto Português do Patri- família real espanhola estava detida em Baiona
tios —, indica a directora do palácio. Para ho- Queluz passou os últimos momentos de vida. mónio Arquitectónico e Arqueológico (actual —, ambicionou tornar-se regente da América
mem, há também dois registos: 144 camisas e Nascida em Espanha, a 1775, Carlota Joaquina Direcção-Geral do Património Cultural). Espanhola. Por outro lado, era uma absolutista
228 pares de meias. de Bourbon — filha do rei espanhol Carlos IV As visões condenatórias e por vezes contradi- ferrenha, que mais tarde viria a apoiar o filho
Ao Palácio de Queluz, o documento che- — chegou com dez anos à corte portuguesa, tórias de Carlota Joaquina são exemplo flagran- D. Miguel na luta entre liberais e absolutistas.
gou no final de Setembro do ano passado. para casar com D. João, que se tornou mais te disso. “Tanto dizem que ela tem traços va- Foi portanto “muito mal tratada pelos liberais.
Foi adquirido através da leiloeira Sotheby’s e tarde príncipe herdeiro aquando da morte do ronis, como depois de certo modo condenam Sobre ela diz-se tudo e mais alguma coisa”,
do antiquário S. J. Phillips, por um valor não irmão primogénito. esse gosto pela moda ou pelas jóias, quando remata Inês Ferro.
divulgado. A faustosa compra da rainha (de O documento permite identificar os gostos isso são leituras feitas em épocas posteriores”,
1.103.709,13 reais) é detalhada em francês e, no da Carlota Joaquina e determinar até que pon- observa a investigadora. Não existe também
Economia de 1816
final, resumida em espanhol pelas 71 páginas to estavam em linha com as correntes euro- falta de fontes que lhe apontem defeitos ao
de um caderno sóbrio de couro marroquino peias da época. Nem todas as peças têm uma aspecto físico, desde a irregularidade das fei- As compras de Carlota Joaquina equivalem de
vermelho, com 22 por 20,5 centímetros. “Não é descrição muito extensiva, mas os vestidos, ções ao formato da cara. Oliveira Lima, um grosso modo a um sétimo da despesa de esta-
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P
aul Bocuse teria gostado Guerra Mundial, foi gravemente ferido e teve
de ouvir os obituários que que levar uma transfusão de sangue num
sobre ele foram escritos hospital militar norte-americano, o que o
e as palavras que foram deixou com uma dívida de gratidão para com
ditas após o anúncio da sua os Estados Unidos. Em 1956 voltou para, ao
morte, ontem, aos 91 anos, lado do pai, Georges, trabalhar no restaurante
na mesma localidade onde da família, onde em 58 conquistou a primeira
nasceu, em Collonges-au- estrela (a segunda surgiu em 62 e a terceira
Mont-d’Or, perto de Lyon. em 65). Em 1975, o então Presidente francês
Todos os artigos recuperaram as Valéry Giscard d’Estaing distinguiu-o com a
expressões que, ao longo de décadas, vieram Legião de Honra.
a definir aquele que é considerado um dos Nas décadas seguintes abriu mais de 20
maiores chefs da cozinha francesa: “Papa da restaurantes em vários pontos do mundo,
gastronomia”, “Leão de Lyon”, “Cozinheiro entre os quais um, Les Chefs de France, no
do século”, ou, simplesmente “Monsieur parque temático Epcot, na Florida, e outro
Paul”. Christophe Marguin, restaurador de na Disneylândia de Paris, inspirado no filme
Lyon, resumiu assim o que sentia: “Para Ratatouille, o Bistrot Chez Rémy.
mim, Deus morreu.” “Monsieur Paul era Criou também, em Lyon, em 1987, o
a França”, declarou o ministro francês do concurso Bocuse d’Or, uma competição
Interior, Gerard Collomb. “Simplicidade e entre equipas de cozinheiros de todo o
generosidade. Excelência e arte de viver.” mundo que têm de apresentar elaboradas
Os franceses são, como se sabe, composições perante claques que as
profundamente orgulhosos da sua cozinha aplaudem como se estivessem num estádio
e para muitos Paul Bocuse, que há mais de trabalho nada tinha a ver com a imagem relações com duas outras mulheres, de futebol. Em 90, inaugurou a escola
meio século mantinha as suas três estrelas de pratos com pouca comida e outros Raymonde Carlut e Patricia Zizza), em 1976 Instituto Paul Bocuse, em Ecully.
Michelin no restaurante L’Auberge du Pont estereótipos que ficaram ligados àquele disse à revista People que “as mulheres são Nos últimos anos, já sofrendo de
de Collonges (conquistou a terceira em 1965), movimento que revolucionou a cozinha boas cozinheiras, mas não boas chefs”. problemas de saúde, não aparecia em
era o expoente máximo desse orgulho. francesa e mundial, dando uma nova No entanto, Bocuse era de uma cidade público, embora continuasse a receber
Egocêntrico, por vezes excessivo, outras atenção aos produtos frescos e reduzindo onde, em determinado momento da história, admiradores e amigos na sua casa. O seu
polémico, tornou-se famoso não apenas pelo a presença excessiva de molhos e técnicas as mulheres dominavam o mundo da filho Jerôme é o seu herdeiro no mundo da
seu talento como cozinheiro, mas também que marcara as gerações anteriores cozinha — eram as famosas “mães de Lyon”, gastronomia, dirigindo o Bocuse d’Or e o
pela forma como geriu a sua carreira e se de cozinheiros, inspirados ainda pelos e o jovem Paul formou-se com uma delas, restaurante de Epcot.
tornou mediático numa época em que isso ensinamentos de Escoffier. Eugénie Brazier, La Mére Brazier, a primeira O nome de Paul Bocuse “resumia a
não era tão habitual como hoje no universo Muito antes de os chefs se tornarem mulher a conquistar três estrelas Michelin. gastronomia francesa na sua generosidade,
da gastronomia. marcas comerciais, Bocuse fê-lo “de uma A sua grande referência, toda a vida, foi, respeito pelas tradições, mas também na sua
Foi, na década de 70, um dos rostos forma que escandalizou os tradicionalistas”, contudo, um homem, que considerava o seu inventividade”, disse o Presidente francês
principais da nouvelle cuisine — um termo recorda o The Washington Post. Acusado mestre: o chef Fernand Point, com quem Emmanuel Macron, num comunicado
usado pela primeira vez pela revista Gault frequentemente de ser machista (era trabalhou no restaurante Le Pyramide, em divulgado ontem. “Os chefs choram nas suas
& Millau, que viria a considerá-lo “Chef do também polígamo, mantendo em Vienne, a sul de Lyon. cozinhas, no Eliseu e por toda a França.”
Século” — embora mais tarde se definisse simultâneo, para além do casamento com Nasceu em 1926, numa família ligada à
como “clássico” e sublinhasse que o seu Raymonde Duvert, longas e assumidas restauração e à hotelaria. Combateu na II apc@publico.pt
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Media&Tecnologia
Televisão Tecnologia
A bitcoin
Toda a gente fuma pela voz
dos donos
High Maintenance começou por ser porque estavam contratualmente
Marco Vaza uma web series em 2012, produzida em obrigados a fazê-lo. E o “The Guy”,
modo crowdfunding para o serviço de na série, vive no mesmo prédio e no João Pedro Pereira
“Comédias passadas em Nova Ior- partilha de vídeos Vimeo. “A melhor mesmo andar que a ex-mulher, que
que” é todo um género televisivo que série que não se vê na televisão”, era vive com a namorada. Esta semana arrancou com a bitcoin
dá para tudo — e nada, como era Sein- assim que era promovida nesses tem- “Isto obrigou-nos a confrontar e as restantes criptomoedas (são mais
feld. Sexo e a Cidade era exactamente pos em que cada episódio custava mil muitas coisas e lidar com elas de de mil) a cair abruptamente. O preço
o que o título prometia — sexo na ci- dólares, antes de passar para as mãos uma forma madura. Se não tivésse- da bitcoin chegou a descer para me-
dade. Táxi sobre táxis e taxistas, 30 do gigante do cabo e rei da televisão mos esta série, sabe-se lá como é que nos de dez mil dólares, cerca de me-
Rock era mais “meta” e falava sobre de prestígio, a HBO. Aumentou a visi- isto teria corrido”, questiona Katja tade do pico atingido no ano passa-
os bastidores de uma comédia televi- bilidade, aumentaram os orçamentos, Blichfeld numa entrevista conjunta do, antes de recuperar parcialmente
siva. Faltava uma comédia sobre um aumentou também a visibilidade do à Time Out com o ex-marido. “Talvez As discussões (a volatilidade é enorme; quando ler
gajo barbudo que anda de bicicleta elenco — já não eram só os amigos dos de forma mais tradicional”, respon- online dão um este texto, é possível que o cenário
em Brooklyn. Nada mais “hipster”, criadores —, mas, na essência, ficou deu Sinclair. “O que é a mesma coi- vislumbre do seja diferente).
certo? Talvez. Mas High Maintenance, na mesma, mini-retratos (vários por sa que dizer que teria corrido bem medo, dúvidas A queda levou muitos a afirmar
cuja segunda temporada se estreou episódio) de nova-iorquinos, que, por pior. Quem sabe? A verdade é que, e confiança que é o início do fim da bolha (“A
na madrugada de sexta para sába- uma razão ou por outra, têm o “The de uma forma bizarra e interessante, inabalável bitcoin acaba de rebentar?”, ques-
do no TVSéries (às 4h da manhã), é Guy” na lista de contactos. Entra- preservou a nossa relação e isso é que povoam tionou a agência Bloomberg num
ainda mais hipster que isso: é sobre mos brevemente na casa deles e nas fixe”, acrescenta Blichfeld. Ambos o mundo título, sem dar uma resposta con-
um gajo barbudo que anda de bici- vidas deles, eles compram, fumam trabalharam juntos 70 horas por se- caótico das clusiva). Os defensores das cripto-
cleta em Brooklyn e que vende erva (ou não), e seguimos o gajo da bar- mana e vivem perto um do outro no criptomoedas moedas apressaram-se a lembrar
ao domicílio. ba a pedalar até ao cliente seguinte. mesmo bairro em Nova Iorque, com que já houve descidas no passado e
Comédia sobre marijuana já foi feito. Quando dizemos que High Main- as suas vidas pessoais resolvidas. que os preços acabaram sempre por
Muito bem, como foi Erva, sobre uma tenance não tem um arco narrativo, Há algo a que High Maintenan- recuperar. As discussões online dão
mãe solteira traficante nas “little bo- não é bem verdade, porque a série ce não escapa, que é a referência à um vislumbre do mundo caótico do
xes” dos subúrbios, e muito mal, como transporta, em certa medida, o cres- eleição de Donald Trump. É assim investimento em criptomoedas: há
está a ser Disjointed, comédia falhada cimento pessoal dos seus criadores, que começa o primeiro episódio da dúvidas e medo, confiança aparente-
da Netflix sobre venda de marijuana Ben Sinclair (que é o “The Guy) e Ka- segunda temporada. O “The Guy” mente inabalável e, pelo meio, vários
para uso medicinal, mas com inegável tja Blichfeld, ele então um actor com está a dormir com a namorada, acor- conselhos de investimento.
sentido de oportunidade, porque está pouco trabalho (que só conseguia da, olha para o telemóvel e tem uma “Perdi os meus fundos para a uni-
é uma discussão que ocorre um pouco emprego a fazer de sem-abrigo), ela data de mensagens de clientes. Não versidade nesta queda de preço.
por todo o mundo, Portugal incluído. uma directora de casting com uma há qualquer referência a Trump, Não vou conseguir pagar o próximo
High Maintenance é um bocadinho di- agenda de contactos de centenas de mas deve ter sido exactamente assim semestre se o preço não recuperar,
ferente. Não é sobre charrados nem actores à espera de uma oportunida- que aconteceu a todos os gajos que mas estou confiante de que isso vai
sobre narcotráfico. E não tem propria- de. Eram um casal e foram um casal vendem erva: na manhã seguinte, a acontecer. Até lá, não vou conseguir
mente um arco narrativo forte para até ao dia das eleições norte-ameri- acordar para um novo mundo, muita dormir :)”, desabafou um investidor
além do homem sem nome — “The canas em 2016. Separaram-se, ela gente deve ter precisado de fumar no popular fórum Reddit, onde a bi-
Guy” — que anda de bicicleta a ven- assumiu-se como lésbica, mas con- um charro. tcoin é um dos temas discutidos até
der erva porta a porta. É sobre pes- tinuaram a trabalhar juntos — em à exaustão. Foi criticado por ter apli-
soas, que por acaso também fumam. primeira instância, reconheceram, mvaza@publico.pt cado dinheiro que não se podia dar
DR ao luxo de perder.
jppereira@publico.pt
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Semana de lazer
Dia de ficar
Cloud Atlas
CINEMA Os mais vistos da TV RTP1 12,4% Hollywood, 22h
Sexta-feira, 19 Dos aclamados realizadores Lana
A Ponte dos Espiões
SIC, 16h55 A Herdeira
% Aud. Share
TVI 13,8 28,6
RTP2 1,5 e Andy Wachowski (saga Matrix) e
Tom Tykwer (Corre, Lola, Corre),
Com realização do veterano
Steven Spielberg, um thriller
Paixão SIC 11,8 24,4 SIC 17,0 um épico inspirado no best-seller
do escritor inglês David Mitchell.
TVI
Jornal das 8 TVI 10,8 23,1
político que se baseia em eventos
reais ocorridos durante a década
Televisão Telejornal RTP1 9,2 20,1 20,8 Uma história de amor que se
desdobra em vários lugares no
Cabo
lazer@publico.pt Espelho D'Água SIC 8,9 23,7
de 1960, hoje conhecido por
FONTE: CAEM
35,9 tempo, durante um período
“incidente do avião U-2”. A 1 de de 500 anos. Personagens
Maio de 1960, um U-2 (avião de conhecem-se, separam-se e
reconhecimento norte-americano) RTP 1 16.30 Um Pai Natal Para Esquecer FOX voltam a reunir-se em vários
sobrevoava o território soviético 6.00 As Horas Extraordinárias 6.30 18.05 Vizinhos Espiões 19.55 13.14 Hawai Força Especial 17.28 ciclos de nascimento e morte.
quando é atingido pelo inimigo. Espaço Zig Zag 8.00 Bom Dia Portugal Underworld: Guerras de Sangue 21.30 Velocidade Furiosa - Ligação Tóquio Todas as suas acções e escolhas se
Francis Gary Powers, o piloto, Fim de Semana 10.30 Eucaristia Collide - A Alta Velocidade 23.10 19.24 Velozes e Furiosos 21.20 interligam e vão ter implicações
consegue sobreviver ao saltar de Dominical 11.32 Paraíso Verde 12.07 Fragmentado 1.15 A Lagosta 3.10 A Velocidade Furiosa 6 23.34 Blindspot no passado, presente e futuro.
pára-quedas mas é capturado e Pacífico: A Estrada Austral 13.00 Jornal Criada 0.25 Blindspot 1.12 MacGyver Uma alma é moldada a partir de
feito prisioneiro. A sua captura da Tarde 14.23 Sociedade Recreativa um assassino e transformada em
transforma-se num problema 15.27 Flash 16.18 As Aventuras de herói. Cada gesto de bondade
de Estado pois, se Powers Tintin: O Segredo do Licorne 18.13 FOX MOVIES FOX LIFE é replicado através dos séculos
ceder, pode revelar informações Sarilhos em Família 19.59 Telejornal 9.25 Nova Iorque 1997 10.58 Robin 13.42 9-1-1 14.24 Favores Arriscados até se tornar em algo inesperado
fundamentais que porão em 21.16 Planeta Azul: Mares Verdes 22.24 Hood: Heróis em Collants 12.37 O 16.02 Em Risco 17.45 Pretty Woman: que pode inspirar revoluções,
causa muitas das estratégias Os Extraordinários 23.45 Gravidade Lutador da Rua 14.06 O Ás Vale Mais Um Sonho de Mulher 19.57 O Segundo independentemente do espaço ou
militares dos EUA. É então que 1.21 Pacífico: A Estrada Austral 3.10 16.07 O Código do Silêncio 17.44 Exótico Hotel Marigold 22.20 Joy do tempo, seja no século XIX ou
James B. Donovan, o advogado Sociedade Recreativa 3.58 Parlamento Olho por Olho (1981) 19.27 47 Ronin - A 0.41 Noiva em Fuga 2.47 Conviction num futuro longínquo. Com Tom
encarregado de defender Grande Batalha Samurai 21.15 Correio 3.30 Conviction 4.14 Conviction 4.58 Hanks, Halle Berry e Hugh Grant.
Rudolf Abel, um espião do KGB de Risco 22.43 Força Explosiva 0.02 Conviction 5.41 Conviction
capturado anos antes pelo FBI, RTP 2 Predador 1.43 O Mafioso 3.20 A
é contactado para negociar a 7.00 Euronews 7.55 Espaço Zig Zag Grande Evasão 3.54 Justiça Vermelha DOCUMENTÁRIO
libertação do piloto em troca 12.59 Voz do Cidadão 13.13 Caminhos DISNEY
da libertação do seu ex-cliente, 13.40 70x7 14.10 À Grande e à Inglesa 15.23 Lab Rats 16.10 K.C. Agente Jóias, Para Que Vos Quero?
a cumprir 30 anos de pena de 14.33 O Circo No Mundo 15.00 CANAL HOLLYWOOD Secreta 16.35 Mickey Mouse - Edição RTP2, 21h01
prisão. Num esforço para fazer Desporto 2 17.03 Vamos à Descoberta 11.00 Missão Quase Impossível 12.30 A Especial 17.03 Entrelaçados: A Série Uma série documental
o que é correcto e cumprir a sua 17.54 A Mentira da Verdade 18.23 Fonte Misteriosa 14.05 Maléfica 15.50 17.26 Acampamento Kikiwaka 17.50 protagonizada por joalheiros,
missão, Donovan vê-se enredado Cuidado com o Batman 18.48 Os Doze Missão Impossível 3 18.00 A Branca de Melhores Amigas Sempre 18.14 K.C. artistas, artesãos e designers
num ambiente de tensão política Trabalhos de Astérix 20.08 E2 - Escola Neve e o Caçador 20.10 Transporter - Agente Secreta 18.37 Lab Rats 19.00 que contribuem com as suas
entre dois pólos inimigos. E ele Superior de Comunicação Social Correio de Risco 3 22.00 Cloud Atlas A Irmã do Meio 20.59 Miraculous - criações para a história da
sabe que qualquer passo em falso 20.35 Madeira Prima 21.01 Jóias, Para 0.55 Dia de Treino 3.00 EuroTrip 4.30 As Aventuras de Ladybug 21.45 K.C. joalharia portuguesa. Neste
pode significar o início de uma Que Vos Quero?Estreia 21.30 Jornal Platoon - Os Bravos do Pelotão Agente Secreta 22.09 Mickey Mouse primeiro episódio, visita-se o
guerra entre duas superpotências 2 22.13 A Agência Clandestina 23.10 - Edição Especial 22.53 Miraculous - As atelier de Teresa Milheiro, com
e a consequente morte de Curso de Cultura Geral 0.06 Il Volo Aventuras de Ladybug quem se compreende que estar
milhares de inocentes. Com Tom - Noite Mágica 1.57 Cinemax 3.06 AXN vivo não é necessariamente o
Hanks, Mark Rylance, Amy Ryan e Portugal 3.0 3.49 Euronews 13.13 S.W.A.T.: Força de Intervenção contrário de estar morto. Por
Alan Alda. 14.02 Peões em Jogo 15.39 O DISCOVERY entre esqueletos debaixo da cama
Náufrago 18.03 Indiana Jones e o 17.20 Tuning Urbano 18.15 Jóias Sobre e asas de insectos asiáticos, uma
Collide - A Alta Velocidade SIC Templo Perdido 20.06 Invencível Rodas 20.05 A Febre do Jade 21.00 incursão ao universo mais punk
TVC1, 21h30 6.05 Uma Aventura 6.45 Espaço (2006) 21.55 As Voltas da Vida 23.49 A Febre do Ouro 22.00 A Febre do da joalharia portuguesa. Como é
Thriller de acção realizado Infantil 10.15 Lua Vermelha 12.15 Vida Chicago Fire 0.34 Chicago Fire 1.17 Ouro: Austrália 23.50 A Febre do Ouro que uma jóia pode romper tabus
por Eran Creevy (Conspiração Selvagem: The Hunt 13.00 Primeiro Perigosa Perseguição 2.41 Castle 3.27 0.40 A Febre do Jade 1.30 A Febre e falar da alienação social?
Explosiva), segundo um Jornal 14.10 Fama Show 15.00 Dentro Como Defender Um Assassino 4.12 do Ouro 3.00 Segredos do Universo
argumento seu e de F. Scott da Tempestade 16.55 A Ponte dos Castle 5.40 As Voltas da Vida Com Morgan Freeman 4.30 Guerra de
Frazier. Depois de um passado Espiões 19.57 Jornal da Noite 21.40 Leilões Canadá 5.00 Misfit Garage MÚSICA
duvidoso ligado ao submundo Supernanny 22.30 Espelho de Água
do crime, Casey Stein (Nicholas 23.45 O Outro Lado do Paraíso AXN BLACK Il Volo - Noite Mágica
Hoult) é hoje um homem novo. 0.55 Parker 3.15 Os Europeus 3.35 14.36 The Runner - Fator de Risco HISTÓRIA RTP2, 0h06
Mas quando descobre que precisa Poderosas 4.15 Televendas 15.59 Jackie Brown 18.29 Fuga 20.34 17.05 O Génio dos Milhões de Dólares A 7 de Julho de 1990, num dos
de uma enorme quantia de Confronto de assassinos 22.00 Duplo 18.25 Leepu & Pitbull 20.38 Génio do templos mais impressionantes
dinheiro para pagar o transplante Confronto 23.35 Os Soldados da Mal 22.45 102 Minutos Que Mudaram da ópera, o Teatro delle Terme
de rim que salvará a vida de TVI Fortuna 1.07 Fuga 3.10 Confronto de os EUA 0.46 A Maldição de Oak Island di Caracalla, em Roma, José
Juliette (Felicity Jones), a mulher 6.40 Detective Maravilhas 8.23 assassinos 4.34 Velas Negras 2.10 Navy Seals 5.08 Génio do Mal Carreras, Plácido Domingo e
que ama, percebe que a única Campeões e Detectives 9.16 O Bando Luciano Pavarotti cantaram
solução é voltar ao activo. É assim dos Quatro 9.58 Querido, Mudei a juntos pela primeira vez, dando
que decide procurar Geran (Ben Casa! 11.12 Missa 12.27 Somos Portugal AXN WHITE ODISSEIA início ao maior projecto de
Kingsley), o traficante de droga - Carregal do Sal 13.00 Jornal da Uma 14.16 Antárctida - Da Sobrevivência 17.42 Através da Objectiva 18.30 Israel música clássica do século: Os
com quem antes trabalhara. O 14.01 Somos Portugal - Carregal do ao Resgate 16.17 Os Passageiros do Selvagem 19.17 A Vida Secreta dos Três Tenores. Vinte seis anos
que lhe é proposto é simples: em Sal 19.58 Jornal das 8 21.14 Masterchef Tempo 17.03 Psych - Agentes Especiais Cangurus 20.05 Impérios do Reino depois, o trio de jovens italianos
troca do dinheiro, tem de ajudar Júnior 23.00 Amor SOS 0.55 Querido, 17.51 Psych - Agentes Especiais 18.35 Animal 20.52 Planeta Azul Selvagem Il Volo prestou uma homenagem
num assalto a um carregamento Mudei a Casa! 1.54 Anjo Meu A Teoria do Big Bang 20.26 Young 21.38 Através da Objectiva 22.26 ao trio, oferecendo a um
pertencente a Hagen (Anthony Sheldon 21.14 A Teoria do Big Bang Resgate na Praia 23.56 Arte Erótica público mais jovem a mesma
Hopkins), um dos mais perigosos TVC1 22.00 A Troca (2010) 23.39 Alfie e as 0.41 O Ponto G, Uma História de Prazer experiência e emoção daquela
mafiosos da zona. Mas, quando 9.15 O Número 10.55 Uma História Mulheres 1.22 Mágoas de Grandeza 1.34 Arte Erótica 2.19 O Ponto G, Uma “noite mágica”. Destaque para
a missão corre mal, não apenas Americana 12.45 Kubo e as Duas 2.08 Família de Acolhimento 2.53 A História de Prazer 3.11 Resgate na Praia a participação de Nicoletta
a sua vida como a de Juliette fica Cordas (V.P.) 14.30 Capitão Fantástico Troca (2010) 4.30 Alfie e as Mulheres 4.46 A Vida Secreta dos Cangurus Mantovani, viúva de Pavarotti, e
ameaçada. de Plácido Domingo.
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Dia de sair
21h05, 23h40; 47 Metros de Terror M16. 18h45 (V.Port./2D); Jumanji: Bem-Vindos Bad Investigate M14. 13h05, 15h55, 18h40, 17h30 (V.Port./2D); Três Cartazes à Beira
Jogos
José Paulo Viana e Cristina Sampaio dia 4 de Fevereiro, tendo como “tiro recordamos, acabou de se sagrar 218682241 Sete Rios (Sete Rios) - Estrada
de partida” a publicação do primeiro campeã nacional 2017, depois de uma das Laranjeiras, 202-B - Tel. 217264841
desafio, vamos fazer o ponto da situação recuperação notável. Por este blogue
daquilo que todos os confrades poderão passa a divulgação de alguma da imensa Outras Localidades - Serviço Permanente
encontrar no que ao Policiário diz obra do mestre Manuel Constantino Alandroal - Santiago Maior , Alandroalense
Jogos
HORIZONTAIS 1. Escorrer.
Parcela. 2. Curso de água 1,5-2m
natural, mais ou menos © Alastair Chisholm 2008 and www.indigopuzzles.com
caudaloso. Narrativa ou
Sagres
acontecimento terrível e Faro
comovente. 3. As regiões
superiores da atmosfera. DESCUBRA AS 8 DIFERENÇAS 11º 16º
10º 19º
Estender ao comprido. 4. 16º
Nivelar. Baixio. 5. Comprimir, 0,5-1m
apertar para extrair um líquido.
6. Vazio. Grande massa de água Açores
salgada. Virtude. 7. Máquina Corvo
para pesar. 8. Contr. da prep.
Graciosa
em com o art. def. os. Aparelhar Terceira
(o cavalo). 9. Junto. Grande ave Flores
S. Jorge 16º 18º
galinácea. 10. Escassez. Grande 15º 18º
porção. 11. Que é feito de
cobre, de bronze ou de arame. 17º 18º
Pico
Elegante.
VERTICAIS 1. Da natureza do Faial
2-3m
éter. Semente do cafezeiro. 2.
Taberna (pop.). Número que é 16º 18º
3-4m S. Miguel
divisível por dois. 3. Eriçado.
Arroz com casca (Índia). 4. Ter 16º 18º
tonturas. Limite ou intersecção Ponta
de linhas (Geom.). 5. Contr. 18º Delgada
da prep. a com o art. def. o. 1-2m
Aquilo que se remete. 6. Senão,
dificuldade. 7. A valer. Graceja. 9. Tatu, Bolero. 10. Ema, Gerar. 11. Maré, Marujo.
Madeira Sta Maria
8. Irisar. Destituir. 9. Variedade Oirar, Ponto. 5. Ao, Remessa. 6. Mas. 7. Deveras, Ri. 8. Iriar, Depor.
de porco doméstico. Dança VERTICAIS: 1. Etéreo, Café. 2. Tasco, Par. 3. Crespo, Nele. 4. Porto Santo
espanhola a três tempos. 10. 15º 19º
Ave pernalta corredora que se Selar. 9. Apenso, Peru. 10. Falta, Ror. 11. Éreo, Airoso. 18º
assemelha à avestruz. Procriar. Rasar, Vau. 5. Espremer. 6. Oco, Mar, Bem. 7. Pesadora. 8. Nos,
11. Movimento periódico do nível HORIZONTAIS: 1. Escoar, Item. 2. Rio, Drama. 3. Éter, Deitar. 4.
das águas do mar. Marinheiro. Solução Funchal
1,5-2m
1m 19º 16º 22º
XADREZ Sol
Nascente 07h51
Lua Crescente
1–0
Baixa-mar 11h27 0,7 11h02 0,9 10h53 0,8
4.c6 Rd6 5.e7! Rxe7 6.c7 Rd7 7.c8=D+ Rxc8 8.g8=D
23h38 0,9 23h11 1,0 23h03 0,9
[3...Rxe6 4.g8=D+]
[3...Rxc5 4.Rg6]
1.g6! Cc7 2.g7 Ce8 3.c5+! Re7 A pega do carrinho; Uma estrela; A boca do senhor. Fonte: www.AccuWeather.com *de amanhã
Solução: Soluções: O cartaz; O cabelo da senhora; A perna da mesa; A mala; A boca da senhora;
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Estar bem
Malucos da corrida?
De footing passou Correr. Tão simples e acessível, Local de corrida atividade física em grupo, como tantas pessoas agora fisicamente
tão natural e, no entanto, antes do Múltiplas escolhas possíveis (%) a competição e o desafio da auto- ativas. A ocorrência de eventos
a jogging... de mera
25 de Abril, as provas de corrida superação. Mas há mais: graves de natureza cardíaca
corrida passou-se à apenas tinham permissão oficial Rio 1 A crescente sensibilização em pessoas que praticam
moda do running. se fossem organizadas pelo Inatel, Pista 3 da população para as questões corrida é muito reduzida,
Ministério da Educação, Exército da saúde e bem-estar e para os quando comparada com outras
A prática de corrida Estádio 4
ou Federação Portuguesa de efeitos benéficos do exercício atividades do dia-a-dia e,
recreativa popularizou- Atletismo. O objetivo de todas elas
Casa 5 (nomeadamente, na gestão de sobretudo, quando contrastada
-se em Portugal, sendo era a competição pura e simples, Praia 6 peso); com o “risco” de melhorias
ou seja, o apurar dos melhores. Parque 14 O efeito agregador e motivador marcantes na saúde e bem-estar.
hoje uma das atividades
As provas oficiais principais dos grupos formais e informais Como problemas, sobram assim
físicas mais praticadas. resumiam-se a corridas na clássica
Trilho 17 de corrida, cada vez em maior para análise as “mazelas do
São mesmo um grupo pista de 400 metros no Verão e Ginásio 30 número; corredor” e o que estas podem
provas de corta-mato e estrada Rua 58 A oportunidade de “correr representar para o abandono
de “malucos” todos estes
no Inverno. Na década de 1960, por uma causa” (para lembrar precoce da prática.
corredores? as provas nacionais de maratona uma efeméride, angariar fundos, No domínio das lesões
não registavam mais do que meia Participou numa prova/evento? celebrar a superação de uma do corredor, importa referir
dúzia de intervenientes e pairava o Nos últimos 12 meses doença); que estas são, sobretudo, de
Pedro Teixeira,
“fantasma” de que as corridas com O marketing associado à corrida, “sobrecarga” e quando existe
Paulo Beckert mais de dez quilómetros eram não só apelando à participação em uma inadequada adaptação dos
e Mário Machado pouco saudáveis. A maratona
Sim
eventos, mas também à compra músculos, tendões, ossos ou
chegou mesmo a ser considerada de equipamento, tecnologia e cartilagens às cargas de treino.
21%
uma prova desumana! outros produtos e serviços (p.ex., Com frequência identifica-se, na
A partir de 1975, a liberdade profissionais de exercício físico prática clínica, que os corredores
chegou também às corridas e a especializados no treino da corrida lesionados têm volumes de treino
pioneira Meia Maratona da Nazaré para “não-atletas”). elevados e metodologias de
demonstrou que pessoas de A corrida é uma verdadeira treino inadequadas. As lesões
todas as idades e níveis de prática história de sucesso na promoção apresentam-se com um quadro
desportiva podiam facilmente Não da atividade física em Portugal, clínico de dor progressiva,
correr 21 quilómetros. O país
vivia uma onda de entusiasmo e
79% pese embora não resulte de
uma estratégia ou de políticas
localizada, e que, numa primeira
fase, não são limitativas da
o aparecimento das chamadas especificamente desenhadas para prática mas que, com o passar do
“provas abertas” disparou por esse efeito. Importa aprender tempo e a persistência da corrida,
todo o país e foi um dos segredos Com quem corre habitualmente? com este exemplo. Mas importa levam à paragem da atividade.
do crescimento desta atividade Múltiplas escolhas possíveis (%) também, para além de atrair novos Por vezes, podem mesmo causar
nas décadas de 80 e 90. Hoje, participantes, preservar tanto alterações dos tecidos que se
temos centenas de corridas Grupo de corrida a motivação como a saúde dos tornam crónicas e prolongam o
abertas todos os anos e, em 2017, 13 actuais corredores. tempo de inatividade.
decorreram 53 provas com mais Família Como vimos antes, o corredor É fundamental que o
de mil corredores a conseguir 14 médio ultrapassa claramente praticante, para além de
terminá-las. Amigos as recomendações para a respeitar as regras e orientações
Desde então, a massificação 23 saúde (150 minutos ou mais de na administração de cargas
da prática de corrida acentuou- Sozinho atividade física moderada numa (planos de treino adequados à
se, sendo hoje a terceira forma 73 semana), algo que apenas um condição e capacidade), saiba
Pedro Teixeira, professor da de atividade física mais popular quarto da população em geral identificar os sinais que o corpo
Faculdade de Motricidade dos portugueses com mais de 14 consegue. Sabemos também que vai dando, nomeadamente
Humana, Universidade de anos. Cerca de 15% dos adultos Corre habitualmente fora de portas? a prevalência da obesidade nos a dor. Para além disso, pode
Lisboa, e diretor do Programa portugueses reporta correr Em ambiente natural corredores recreativos é cerca ser útil envolver profissionais
Nacional para a Promoção da “regularmente” e 11% indica que de 6%, versus 22% na população. de exercício físico, para um
Atividade Física, Direção-Geral corre, por semana, pelo menos Finalmente, é bem provável que correto planeamento do treino,
da Saúde. duas vezes, 60 ou mais minutos no estes “atletas”, ao terem passado e profissionais de saúde, de
Paulo Beckert, médico total. O praticante médio corre 3 a a treinar regularmente, adotem preferência com formação
de Medicina Desportiva 4 vezes, durante 3 horas no total, Não também outros comportamentos específica na área da medicina
e de Medicina Fisica e de percorrendo 20 quilómetros por 32% saudáveis, como melhor desportiva, quando existe dor
Reabilitaçao. Unidade de Saúde semana. alimentação e menor consumo persistente e suspeita de lesão.
e Performance da Federação Serão várias as razões deste de tabaco e álcool, o que significa A corrida recreativa parece
Portuguesa de Futebol; Clínica fenómeno, como a generalização melhorias substanciais nos custos estar para ficar e os benefícios
CUF Alvalade. das oportunidades para correr para o sistema de saúde. para a saúde da população
Mário Machado, diretor da em passeios marítimos/fluviais, Sim
Assim, os badalados largamente superam os
revista Spiridon e organizador passadiços e trilhos cada vez mais riscos da prática de corrida, riscos. Venham, por isso, mais
de eventos de corrida atraentes, bem como os muitos 68% nomeadamente em distâncias praticantes e que a “maluquice”
eventos e “corridas populares” superiores a dez quilómetros, se resuma a saber apreciar uma
Os autores seguem o novo de todos os tipos, que valorizam devem sempre ser considerados vida fisicamente activa, por
Fonte: PÚBLICO
Acordo Ortográfico tanto a participação e o prazer da à luz dos benefícios de existirem muitos anos.
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Crónica
U
m destes dias,
vi na minha
colectivo abafa a racionalidade
dos argumentos. As redes ridículos. São fantásticas porque
nos emocionam, quando, por
timeline no
Twitter algo
As redes sociais são
fantásticas porque sociais são exemplo, vemos discursos
como os de Oprah Winfrey
que dizia o democratizaram o espaço contra o racismo e o assédio ou
seguinte: público. Já não é apenas uma elite perigosas intervenções como a de Anderson
“Coisas que tem voz. E muitas vezes é lá Cooper a contestar a posição
Por Hugo Daniel que não
existiam em 2003: Facebook,
que se denunciam as mentiras, a
manipulação, as notícias falsas.
porque racista de Trump sobre o Haiti e
outros países pobres.
Sousa Twitter, iPhone, iPad, (...),
Spotify, Dropbox, Instagram,
E foi também lá que nasceram
vários movimentos de indignação
destapam As redes sociais são perigosas
porque destapam e amplificam o
Snapchat, WhatsApp...” A
lista era longa e incluía várias
colectiva, justos e necessários.
As redes sociais são perigosas
e amplificam que de pior o ser humano tem.
As redes sociais são
aplicações e redes sociais que
hoje fazem parte do nosso dia-
porque ajudaram pessoas como
Donald Trump a chegar ao poder,
o que de fantásticas porque nos dão
a conhecer o melhor do ser
a-dia. Algumas fazem parte de
uma forma assustadoramente
seja pela comunicação directa
via Twitter, seja pela propaganda
pior o ser humano e projectos (como o
Humans of New York) que noutras
omnipresente, quase como se
fôssemos incapazes de viver sem
dissimulada e assente em notícias
falsas. E são perigosas porque
humano tem circunstâncias não veriam (ou
teriam mais dificuldade em ver) a
elas. Basta ver, por exemplo, o ajudam a disseminar pensamentos luz do dia.
ruído que se cria de cada vez que abjectos e racistas. As redes sociais são
o Whatsapp ou o Facebook estão As redes sociais são perigosas porque são um vício
em baixo. Uma reacção que não é fantásticas porque permitem e, como alertava Arwa Mahdawi
muito diferente do que acontece combater pessoas como Donald numa recente crónica no
quando faltam a electricidade Trump e desmontar argumentos jornal Guardian, foram feitas para
e o gás e estamos perante a DADO RUVIC/REUTERS
ser adictivas, sendo difícil usá-las
perspectiva de um banho gelado de forma moderada. São também
ou de um jantar frio. palco de hipocrisia social, como
As redes sociais têm hoje a daqueles “amigos” virtuais que
um lugar central (às vezes, passam por nós na rua e não nos
demasiado central) na vida cumprimentam.
das pessoas. Os números de As redes sociais são
utilizadores activos de algumas fantásticas porque são
delas são impressionantes e úteis, como diversão, como
assustadores: Facebook (dois instrumento de trabalho e como
mil milhões de utilizadores rede de contactos.
activos), Facebook Messenger As redes sociais são tudo isto e
(1300 milhões), Whatsapp muito mais. Quando olhamos para
(1200 milhões), Instagram (800 a gravura Day and Night do artista
milhões), etc. O que pensar das holandês M. C. Escher (uma bela
redes sociais? exposição para ver em Lisboa),
As redes sociais são perigosas podemos ver as aves brancas ou
porque lhes demos um poder as aves negras, consoante o foco
desmedido. Sabem quem somos, do nosso olhar. O mesmo acontece
onde estamos, do que gostamos, com as redes sociais. A diferença
de quem somos amigos. Demos- é que nas redes sociais podemos
lhe informação valiosa que gera ir além da atitude contemplativa
milhões em receitas publicitárias. de quem olha para um quadro de
As redes sociais são Escher.
fantásticas porque nos ligam Podemos ser activos e usá-las
(gratuitamente ou a um preço com critério, protegendo-nos. E
reduzido) àqueles de quem até podemos experimentar um
mais gostamos. Conseguimos, período de desintoxicação, como
de forma fácil e prática, falar ou fez Arwa Mahdawi, percebendo o
trocar imagens com familiares e que as redes sociais, em concreto,
amigos que estão do outro lado nos dão e nos tiram. O mais
do mundo. perto que estive disso foi numa
As redes sociais são viagem à Amazónia, onde fiquei
perigosas porque se tornaram num hotel sem telefone e sem
campo aberto para a mentira, a Internet. Como foi? Foi uma bela
manipulação, as notícias falsas, “massagem mental”, em que
a demagogia e, em particular, desliguei do mundo e trouxe sons
para o fenómeno da indignação e cheiros que nenhum smartphone
hugo.sousa@publico.pt colectiva acéfala, em que o ruído consegue captar.
Os direitos de propriedade intelectual de todos os conteúdos do Público – Comunicação Social S.A. são pertença do Público.
Os conteúdos disponibilizados ao Utilizador assinante não poderão ser copiados, alterados ou distribuídos salvo com autorização expressa do Público – Comunicação Social, S.A.
INÉDITO
EM PORTUGAL
c7cefd8c-c234-4fc7-a112-a5487cd94c2a