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Sucessão - conceito - 2024º e discrepância1 com o disposto no art. 2025º: enquanto que o
art. 2024º refere como objecto da sucessão as relações jurídicas patrimoniais, para o art. 2025º
tal objecto é constituído pelas relações jurídicas que não devam extinguir-se por morte do
respectivo titular.
Há relações jurídicas que, constituídas intuitu personae, findam com a morte do
respectivo titular. É o caso do uso e habitação (1485º), do usufruto (1443º e 1446º), das
prestações alimentares (2013º, 1, a); outras podem extinguir-se por vontade do titular (servidões
activas - 1569º, 1, a) ou herança passível de repúdio - 2062º e ss.
Excluídas da sucessão estão ainda os direitos de carácter não patrimonial (de
personalidade, de investigação ou impugnação de paternidade ou maternidade, direitos morais de
autor, direito de continuar com a acção de divórcio para efeitos patrimoniais - 1785º, nº 3) que,
não obstante transitarem para os herdeiros do respectivo titular, não fazem parte da herança.
O mesmo acontece com direitos de carácter patrimonial, como o arrenda-mento para
habitação que, não caducando por morte do arrendatário, se transmite segundo regras próprias -
art. 85º do RAU - não coincidentes com as regras sucessórias e com o direito a indemnização
por danos não patrimoniais que nasce directamente na esfera jurídica das pessoas referidas no nº
2 do art. 496º do CC, ao menos para quem entenda que se não verifica aí transmissão do finado
para os seus herdeiros.
São dois os títulos de vocação sucessória - 2026º: a lei e a vontade, de que resulta serem
duas as formas de sucessão mortis causa,
A) - sucessão legal - defere-se por força de disposição normativa de carácter legal. Pode
ser - 2027º -
1 - legítima - é deferida por lei supletiva, pode ser afastada pelo de cuius - 2131º a 2155º
- Se o falecido não tiver disposto válida e eficazmente, no todo ou em parte, dos bens de que
podia dispor para depois da morte, são chamados à sucessão desses bens os seus herdeiros
legítimos: o cônjuge, os parentes e o Estado - 2132º - pela ordem fixada no art. 2133º.
2 - legitimária - necessária ou forçada, é deferida por lei (em sentido lato - 1º, nº 2)
imperativa, mesmo contra a vontade expressa do finado, na porção de bens de que não pode
dispor por ser legalmente destinada aos herdeiros legitimários - 2156º a 2178º - porção de bens
essa chamada legítima - 2156º - e que se destina, por força da lei, aos herdeiros legitimários que
são o cônjuge, os descendentes e os ascendentes - 2157º.
A legítima é variável conforme a qualidade e número de herdeiros - art. 2158º a 2161º - e
calcula-se nos termos do art. 2162º.
Ressalvam-se os casos de deserdação - 2166º - sendo o deserdado equiparado ao indigno
- 2034º a 2038º - para todos os efeitos legais.
1
(1701º, nº 1 e 1705º, nº 1); daí que uma deixa testamentária possa mais tarde ser revogada por
manifestação de vontade expressa ou tácita do de cuius ao doar mortis causa o mesmo bem -
2311º a 2313º.
Antes de aberta a sucessão, os contratos sucessórios (doações por morte, venda de herança
própria ou de terceiro) são em geral proibidos e nulos - 2028º, n.º 1, 286º e 289º e ss; as doações
por morte, quando não permitidas por lei, são legalmente convertidas em disposições
testamentárias, se observadas as formalidades dos testamentos - 946º, n.º 2 e 2204º e ss.
Casos de doações por morte válidas - 1700º (convenção antenupcial), (ir)revogáveis nos
termos do art. 1701º.
2 - Testamentária - 2179º e ss - pode incidir sobre toda a herança no caso de não haver
herdeiros legitimários ou somente sobre a quota disponível, quando os haja.
O testamento é um acto unilateral, livremente revogável a todo o tempo; nem sequer pode
o testador renunciar à faculdade de o revogar, no todo ou em parte - 2311º.
As doações mortis causa prevalecem sobre as deixas testamentárias, sejam estas anteriores
ou posteriores àquelas - 2171º.
2
- Dentro do património geral de uma pessoa existe uma massa de bens ou valores patrimoniais ou um conjunto de
relações jurídicas patrimoniais submetidos a um tratamento jurídico particular e unitário, com os elementos patrimo-
niais sujeitos a uma especial destinação e a um particular regime por dívidas. Casos da herança não partilhada, patri-
mónio conjugal
2
legatários só gozam de preferência nos termos gerais dos comproprietários, ou seja, depois de
aberta a sucessão em que estão em situação de compropriedade com o seu co-legatário.
No entanto, se os bens ainda não estiverem na posse do indigno, a indignidade pode ser
invocada a todo o tempo por via de excepção - 287º, nº 24.
3
- Comoriência - 68º, nº 2 - presunção ilidível. A prova do momento da morte pode fazer-se por todos os meios
possíveis, sem prejuízo das regras do registo. Curadoria e morte presumida - 89º e 114º CC e 1451º e ss do CPC.
4
- BMJ 239-224
3
Supõe que o herdeiro ou legatário não pôde (morreu antes, v. g.) ou não quis (repudiou)
aceitar a herança e que os descendentes tenham, no momento da abertura da sucessão, capacidade
sucessória.
No DR há apenas uma aquisição sucessória, os bens passam directamente do de cuius ao
representante, pelo que este deve ter existência e capacidade em relação ao de cuius e não ao
representado - 2043º.
Em caso de representação cabe a cada estirpe aquilo em que sucederia o ascendente
respectivo - art. 2044º.
Ver, para perfeita compreensão dos art. 2044º e 2045º, o CC Anotado, de P. Lima-A.
Varela, VI, 61 a 68.
DIREITO DE PREFERÊNCIA
PRÉDIO ENCRAVADO OBJECTO DE LEGADO
ABERTURA E ACEITAÇÃO (DA SUCESSÃO)
ACEITAÇÃO EXPRESSA E ACEITAÇÃO TÁCITA
5
- Para a posse, já assim o determina o art. 1225º. Posse jurídica ou civil porque prescinde do corpus.
6
- BMJ 326-483.
4
VENDA MEDIO TEMPORE
7
- Ac. RP, de 4.12.98, na Col. Jur. 1998-V-211, com numerosa indicação de doutrina e Jurisprudência no mesmo
sentido, e contra a opinião de A Varela.
5
Não parece merecer grande polémica o facto de a herança, enquanto indivisa ser encarada
pela lei como património autónomo de afectação especial (independentemente de se tentar
determinar, nesta sede, qual a verdadeira natureza jurídica da herança: património autónomo,
universalidade de direito ou situação jurídica complexa), assim se compreendendo que somente o
seu activo (e não o património dos herdeiros) responda pela satisfação das respectivas dívidas.
Por conseguinte, os herdeiros não detêm direitos próprios sobre cada um dos bens hereditários,
não sendo sequer comproprietários dos bens, mas tão-só titulares em comunhão desse património.
Deste modo e por efeito das disposições conjugadas dos artigos 2068º e 2097º, ambos do
Código Civil, estar-se-ia perante uma nítida situação de ilegitimidade passiva, no caso de acção
proposta contra os herdeiros para os responsabilizar directamente pelo pagamento das dívidas da
herança indivisa
Conforme salienta Capelo de Sousa (Lições de Direito dos Sucessões, Coimbra Editora,
1980/ 1982, pág. 109), a tónica objectivista na determinação da responsabilidade pelos encargos
da herança tem expressão no regime legal decorrente dos antigos 2068º e 2069º do Código Civil -
é a massa patrimonial que constitui a herança que é directamente responsável pelos encargos
desta - e «é sobretudo patente no caso da herança indivisa, em que se está perante um património
autónomo directamente responsável (artigo 2097º do Código Civil) e em que os herdeiros apenas
têm de intervir como co-titulares desse património (artigo 2091º do Código Civil)».
Transpondo estes aspectos para o âmbito processual, onde se constata que a herança
indivisa, embora não sendo pessoa colectiva, é dotada de personalidade judiciária (cfr. antigo 6º
do Código de Processo Civil), há que considerar que a legitimidade passiva relativamente às
questões de responsabilidade por encargos da herança indivisa terá necessariamente de caber aos
co-herdeiros, atendendo à respectiva natureza de co-titulares do património em causa (neste sen-
tido Vaz Serra, anotação do acórdão do Supremo Tribunal de Justiça de 27 de Julho de 1971, Re-
vista de Legislação e de Jurisprudência, ano 105º, pág. 208).
Com efeito, embora a lei processual atribua à herança cujo titular não seja determinado
personalidade judiciária, assumindo esta o estatuto de «verdadeira parte» (e, como tal, parte
legítima enquanto sujeito da relação material controvertida), a própria lei admite o carácter subsi-
diário do critério de legitimidade ínsito na regra constante do nº 3 do antigo 26º do Código de
Processo Civil. Consequentemente, admite-se legalmente a possibilidade de ser parte legítima
quem não é (ou apenas é em parte) titular da relação material. Assim, por efeito do artigo 2091º,
nº 1, do Código Civil, só os herdeiros podem praticar o pagamento do passivo hereditário,
sendo que esta disposição contempla uma das situações em que a lei atribuiu a necessidade
de fazer intervir o co-herdeiro para defender o acervo hereditário da retirada de bens
adstritos a este (neste sentido Vaz Serra. anotação do acórdão do Supremo Tribunal de Justiça de
27 de Julho de 1971, Revista de Legislação e de Jurisprudência, ano 105, pág. 208) - Ac. do
STJ, de 9.12.99, no BMJ 492-377.
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- restituição dos bens da herança possuídos pelo demandado, a título de herdeiro ou
outro ou sem título.
Tal como na reivindicação, pede-se a restituição de uma coisa. Mas enquanto que na
reivindicação o pedido de restituição assenta na prévia declaração de proprietário do A, na
petição de herança a restituição pressupõe a declaração prévia da qualidade de herdeiro.
Antes da partilha, o herdeiro usa a acção de petição de herança; partilhada a herança,
quem quiser pedir a restituição de um bem que herdou há-de usar a reivindicação porque então é
já proprietário.
8
- Importante estudo do Prof. A. Varela sobre o assunto na RLJ 120-152 e ss, em comentário ao ac. acima citado, do
BMJ 326-483.
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ADMINISTRAÇÃO DA HERANÇA
Fora destes casos e sem prejuízo do direito de petição de herança por um só herdeiro -
2078º - os direitos relativos à herança só podem ser exercidos por todos ou contra todos os
herdeiros - 2091º, nº 1, em litisconsórcio necessário, portanto.
Claro que os herdeiros demandam ou são demandados, não a título individual mas como
representantes da herança.
Assim, instaurada execução contra a herança de A, representada pelo cabeça de casal, e
tendo havido já habilitação de herdeiros, devia a execução ser proposta contra todos os herdeiros
e a oposição por embargos procede, com fundamento na ilegitimidade ou irregularidade da
representação do executado, determinante de absolvição da instância, como decidiu o STJ em
27.10. 98, no BMJ 480-392, de que se transcreve:
Essa personalidade judiciária da herança não deve, porém, justificar-se por se tratar de
herança jacente, uma vez que não foi sequer alegado que os seus titulares ainda não estejam
determinados (já houve mesmo habilitação de herdeiros) ou que não tenha havido a sua aceitação
(artigos 6º do Código de Processo Civil e 2046º e seguintes do Código Civil).
Do que se trata antes é de exigência do pagamento de alegada dívida do falecido que se
terá transmitido para a herança, a qual será a responsável por esse pagamento (artigo 2068º do
8
Código Civil), só podendo ser demandado algum dos herdeiros, pessoal e directamente, no caso
de ter assumido esse encargo na partilha da herança.
Assim, qualificada como património autónomo (Oliveira Ascenção, Direito Civil -
Sucessões, pág. 472), ou como universalidade, detentora de personalidade jurídica, por gozar de
aptidão para ser titular de relações jurídicas (citados artigos 2068º e 1462º do Código de Processo
Civil), a herança tem personalidade judiciária (artigos 5º e 6.º do CPC) e, sendo o sujeito
passivo da relação material controvertida, é ainda parte legítima na execução (art. 56º, nº 1, do
mesmo Código).
O problema reside apenas na representação da herança em juízo, por não gozar de
capacidade judiciária, e, neste ponto, a solução não é susceptível de dúvidas sérias.
Não se está perante qualquer das hipóteses previstas nos artigos 2087º a 2090º do Código
Civil, em que a administração e representação da herança pertence ao cabeça-de-casal, sendo pois
aplicável o artigo 2091º, nº 1, do mesmo Código, onde se estabelece que «os direitos relativos
à herança só podem ser exercidos ... contra todos os herdeiros».
Isso não significa que os herdeiros tenham de ser demandados pessoalmente, pois, como
se notou, a própria herança é que goza de personalidade judiciária e de legitimidade, mas apenas
que eles têm de intervir como representantes da herança, em suprimento da sua falta de
capacidade judiciária.
No caso presente, a execução foi instaurada contra a herança, «na pessoa do cabeça-de-
casal» ou representada por este, e, havendo outros herdeiros além do exequente e do cabeça-de-
-casal, ocorre o vício da ilegitimidade ou irregularidade da representação do executado, o que
constitui fundamento de oposição à execução por embargos [artigos 813º, alínea c), e 815º, nº 1,
do Código de Processo Civil.
A consequência desse vício, que integra excepção dilatória, é a absolvição do executado
da instância [artigos 288º, nº 1, alínea e), 494, nº 1, alínea b), e 801º do citado Código]; tal vício
pode, em princípio, ser sanado (artigos 23º e seguintes do citado Código) ...
Da mesma forma se entendeu que o cabeça de casal não tem legitimidade para pedir a
declaração de nulidade ou anulação de deliberação social, pedido que não cabe no âmbito de
administração ordinária9 e, por isso, devia ser formulado por todos os herdeiros.
Tal como nenhum dos comproprietários é obrigado a permanecer na indivisão, mas pode
convencionar-se por cinco anos, renováveis, que a coisa comum permaneça indivisa - 1412º -
qualquer co-herdeiro ou cônjuge meeiro tem o direito de exigir partilha quando lhe aprouver, sem
prejuízo de convenção de indivisão do património hereditário por não mais de cinco anos,
também renovável por nova convenção - 2101º.
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- BMJ 454-607
9
A partilha pode fazer-se extrajudicialmente, quando houver acordo de todos os interes-
sados ou por inventário judicial na falta de acordo ou quando a lei o exija, mercê do dever de
tutela especial dos direitos de algum dos interessados - 2102º, n.os 1 e 2.
O inventário judicial começa por requerimento subscrito por quem tenha legitimidade
para o requerer10 - 1327º CPC - acompanhado de certidão de óbito do finado e indicação de
quem, nos termos da lei, deve desempenhar as funções de cabeça de casal - 1338º.
Segue-se despacho do Juiz a nomear a pessoa proposta ou outra a quem tal cargo couber e
a designar dia e hora para as declarações do CC que é citado com a advertência a que se refere o
art. 1340º.
As declarações do CC são a peça fundamental do inventário, pois é ali que deve ficar a
constar não só a identificação dos sucessores como os elementos que permitirão conhecer os bens
a partilhar, a partir do regime de bens do dissolvido casal e da origem dos bens do finado.
Deve, ainda, o CC apresentar a relação de bens elaborada nos termos do art. 1345º a
1347º e instruída com os documentos pertinentes: matriciais e de registo, os testamentos, conven-
ção antenupcial, etc.
Citados os interessados a que se refere o art. 1341º, com cópia das declarações do cabeça
de casal - art. 1342º CPC - e decididas oposição ou impugnação a deduzir em trinta dias - 1343º
- segue-se eventual reclamação11 contra a falta, excesso ou inexactidão na descrição de bens na
relação apresentada - 1348º - que é decidida no inventário ou nos meios comuns se se tratar de
matéria de facto complexa, insusceptível de averiguação pela forma sumária do incidente - 1350º:
10
Na falta de acordo quanto à composição de quinhões seguem-se licitações e eventual
avaliação de bens doados em caso de arguida inoficiosidade - 1363º e ss.
Segue-se a indicação, pelo MºP e ou advogados dos interessados, da forma da partilha -
em que se diz como deve a herança ser partilhada - e despacho do Juiz a determinar o modo
como deve ser organizada a partilha - 1373º.
De seguida a Secretaria organiza o mapa da partilha, de acordo com o respectivo
despacho e em conformidade com a acta da conferência de interessados (licitações, adjudicações,
pagamento do passivo).
Pode haver necessidade de cumprir o disposto no art. 1377º - opções concedidas aos
interessados a quem haja de caber tornas:
Para reagir contra o despacho decisório da composição das quinhões, carece o impu-
gnante de lançar mão do recurso de agravo que, nos termos do artigo 735º, n° l, por força do
artigo 1396º, nº l, ambos do Código de Processo Civil, subirá com o primeiro que haja de subir
imediatamente, isto é, com a apelação da sentença homologatória da partilha - BMJ 480-381.
O inventário judicial tem, apenas, por fim relacionar os bens da herança e, eventual-
mente, servir de base à sua liquidação, se houver um único interessado - art. 2103º - que pode ter
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todo o interesse na aceitação a benefício de inventário, atenta a responsabilidade da herança por
dívidas - 2068º, 2071º e 2097º.
A partilha extrajudicial
deve ser reduzida a escritura pública, tal como o repúdio (2063º) ou a alienação da herança
(2126º), se na herança houver imóveis - 80º, nº 2, d), do C. Notariado.
É de todo o interesse atender às atribuições preferenciais do cônjuge sobrevivo - 2103ºA
a 2103º C, à colação12 - art. 2104º e ss - e eventual redução de liberalidades inoficiosas, as que
ofendem a legítima dos herdeiros legitimários - 2168º.
Para se encontrar o valor da herança a partilhar 13 é fundamental, no caso de indivíduo que
faleceu no estado de casado ou, mesmo divorciado, mas sem partilha dos bens do casal, conhecer
o regime de bens do casamento para se encontrar os bens próprios dele e a sua eventual
meação nos bens comuns, constituindo a soma destes valores (bens próprios mais a meação) o
activo da sua herança.
Com efeito, o acervo hereditário depende do regime de bens do casamento que, como se
sabe, é o vigente ao tempo do casamento, mesmo se anterior ao Código de 1967, nos termos do
art. 15º do Dec-lei nº 47.344, de 25.11.66, aprovador do CC actual.
Por isso, num casamento em segundas núpcias, celebrado em 1964, com filhos do
primeiro casamento, o bínubo não podia comunicar mais que metade dos bens que tinha ao tempo
do casamento ou que viesse a receber por doação ou herança de seus parentes - 1235º e 1109º do
C. Seabra (hoje - art. 1699º, nº 2.
Falecido o bínubo em 1980, aplica-se à partilha a lei então vigente, mas, porque é neces-
sário atender primeiro ao regime de bens do casamento para encontrar a massa de bens a par-
tilhar, mandou-se aplicar aquele regime do Código de Seabra e, portanto, os bens que se não
comunicaram continuaram bens próprios dele e integraram, juntamente com a sua meação nos
comuns, a sua herança14.
12
- muito bem explicadinha para militar entender no VI volume do C. Anotado do Prof. Varela, em notas aos art.
2104º e ss e C. de Sousa, II, 261.
13
- Capelo de Sousa, II vol.
14
- Col. STJ 96-III-88.
12
Trata-se de um património que pertence em comum a duas pessoas, mas sem se repartir
entre elas por quotas ideais, como na compropriedade: enquanto esta é uma comunhão por
quotas, aquela é uma comunhão sem quotas.
Mas o património comum pressupõe o vínculo conjugal, vínculo que tem as suas formas
de extinção próprias.
Dissolvido o vínculo conjugal, o património comum degenera em comunhão ou
compropriedade do tipo romano, podendo então, qualquer dos consortes dispor da sua quota
ideal ou pedir a divisão da massa patrimonial através da partilha.
A partilha é um negócio certificativo, um negócio que se destina a tornar certa uma
situação anterior.
Cada um dos ex-cônjuges já tinha direito a uma quota ideal do património do casal: com a
partilha esse direito vai concretizar-se em bens certos e determinados.
Mas, no fundo, esse direito a bens determinados que existe depois de efectuada a partilha
é o mesmo direito indeterminado que antes existia, apenas modificado no seu objecto.
Por isso a partilha não tem efeito translativo ou constitutivo, antes se reveste de um
carácter declarativo
Na definição de Manuel Andrade..., a herança é o conjunto dos direitos e obrigações
patrimoniais de que um indivíduo (pessoa física) era titular ao tempo da sua morte e que passam
para os seus herdeiros legatários.
A herança reveste a fisionomia de um património separado em confronto com o
património pessoal dos herdeiros.
Antes da partilha, a herança é uma "universitatis juris" com conteúdo próprio
fixado na lei.
Só o activo da herança, e não o património pessoal dos herdeiros, responde pelas dívidas
hereditárias; os credores pessoais dos herdeiros só podem pagar-se pelos bens hereditários depois
de satisfeitos os credores do de cujus e de desaparecer, consequentemente, a herança como
património autónomo, pois a sua autonomia foi instituída precisamente para o efeito de, com
aqueles bens, se prover ao pagamento destes últimos credores.
Os herdeiros são titulares de um direito indivisível enquanto se não fizer a partilha;
até á partilha tal direito recai sobre o conjunto da herança e não sobre bens certos e
determinados, sobre uma quota ideal, não de cada um dos bens que constituem a herança.
Ao cônjuge sobrevivo assiste o direito de receber a sua meação do património colectivo
(artigos 1688º e 1689º do Código Civil).
A partilha do património comum do casal dissolvido é, consequentemente, pressu-
posto necessário da determinação da herança do cônjuge que haja falecido (art. 2024º, in
fine, do CC).
Mas a meação e a herança não se confundem: a titularidade daquela constitui um
direito próprio relacionado com o vínculo conjugal, a desta do fenómeno sucessório.
São patrimónios autónomos, distintos e com diversa afectação.
Por seu turno, o cônjuge sobrevivo, além de herdeiro legitimário - 2157º - pode ser meeiro
e ter bens próprios - 1689º. Por tudo é fundamental distinguir entre meação e herança, sendo
aquela resultado do regime de bens do casamento cujas relações patrimoniais cessaram pela
dissolução, declaração de nulidade ou anulação do casamento - 1688º - pois o casamento
dissolve-se com a morte ou divórcio (1788º) e, quanto aos bens, também pela simples separação
judicial de bens - 1770º - ou separação judicial de pessoas e bens - 1795º.
13
Encontrado o acervo hereditário, é necessário saber se estamos perante sucessão legítima,
legitimária ou testamentária ou se, no caso de sucessão legitimária, há testamento ou doações a
considerar, encontrando-se então a legítima destinada aos herdeiros legitimários e a disponível do
de cuius pela forma fixada no art. 2162º e com os valores constantes dos art. 2158º a 2160º, como
já visto.
São tantas as hipóteses que é aqui impossível prevê-las a todas, mas pode encontrar-se as
mais frequentes nas Lições do Prof. Capelo de Sousa, II vol. e ainda no II vol. de Partilhas
Judiciais do Saudoso e Ilustre Advogado que foi o Ex.mo Dr. J. A. Lopes Cardoso.
DOAÇÕES
Conceito - 940º: contrato, vínculo jurídico pelo qual o doador fica adstrito à realização
da prestação para com o donatário; supõe proposta e sua aceitação, pois a proposta de doação
caduca se não for aceita em vida do donatário - 945º, nº 1; mesmo no caso de doações puras a
incapazes, é necessária a aceitação que a lei - 951º, nº 2 - presume.
A doação é essencialmente gratuita - só o doador fica obrigado a entregar a coisa doada -
e nas doações com encargos - 963º - (doações modais ou onerosas) estes hão-de ter valor
inferior ao dos bens doados; nas remuneratórias exige-se que os serviços assim remunerados
não tenham a natureza de dívida exigível - 941º; é da natureza da doação o espírito de
liberalidade (antónimo de dever ou necessidade), animus donandi.
Por isso não há doação nas hipóteses prevenidas no nº 2 do art. 940º: na renúncia trata-se
(quando não seja renúncia contratual e translativa) de atitude meramente passiva do renunciante
que não fica mais pobre por isso; no repúdio haverá doação no caso de aceitação e alienação
gratuita a que se refere o nº 2 do art. 2057º; nos donativos conformes aos usos sociais é
necessário ver se, pelo valor da diminuição do património do ofertante, não estaremos em
presença de verdadeira doação (família média que oferece um caro de alto preço).
- bens futuros, os que ainda não existem no património do doador: proibição pelo nº 1
do art. 942º, com a ressalva do nº 2 - universalidades de facto (206º, nº 1), biblioteca ou rebanho:
as crias que venham a nascer ou os livros adquiridos depois da doação pertencem ao donatário.
- promessa de doação - proibida ou sem valor. A promessa de doação não passa de
proposta de doação que se transforma em doação pela simples aceitação do donatário, enquanto
que é característico do contrato-promessa ficar o promitente obrigado a outorgar o contrato
prometido, obrigação que desvirtuaria a natureza de liberalidade à doação prometida. Não é, pois,
possível a execução específica de promessa de doação, por a tal se opor a natureza da
obrigação assumida (830º, nº 1, in fine), assim como a doação por morte (e não a promessa) só
seria válida como disposição testamentária se tivessem sido observadas as formalidades próprias
dos testamentos - 946º, nº 2 e 2204º e ss15.
- prestações periódicas - 943º - pagamento mensal das propinas ou da pensão de um
estudante. A doação extingue-se com a morte do doador.
- doação conjunta, feita a várias pessoas conjuntamente - 944º: salvo declaração do
doador em contrário, considera-se feita em partes iguais, sem direito de acrescer entre os dona-
tários, com regime especial - 944º, nº 2 - para o usufruto constituído por doação.
15
- BMJ 460-707.
14
- aceitação - 945º - também aqui, como em geral nos contratos, é necessária a aceitação
da proposta de doação para que o ciclo negocial se complete. Mas não se aplicam aqui as regras
do art. 228º: enquanto não ocorrer aceitação - e tem de sê-lo em vida do doador - 945º, nº 116 -, o
doador pode livremente revogar a sua declaração negocial - 969º - desde que observe as
formalidades desta.
Tradição de coisa móvel doada (ou de título que a represente, cheque) equivale a
aceitação (manual); se não houve tradição da coisa móvel (ou do título representativo) nem
aceitação no próprio acto, é indispensável escritura pública para os imóveis e escrito para os
móveis (947º) e declaração, ao doador, de aceitação, sob pena de não produzir efeitos - 945º,
nº 3.
Por isso se decidiu - R.ão do Porto, Ac. de 11.10.2001, na Col. Jur. 2001-IV-211, que
- Doações por morte são, em geral, proibidas - 946º, nº 1 - e como tal nulas - 294º. Os
casos ressalvados pela lei são
- as instituições de herdeiro ou legatário nas convenções antenupciais - 1700º, a) e b), as
chamadas doações para casamento;
- doações por morte em que foram respeitadas as formalidades dos testamentos (escritura
pública e testemunhas instrumentárias - 67º do C. Not.), mas então tais doações são
havidas como disposição testamentária, sujeitas à livre revogabilidade (2179º, nº 1) dos
testamentos.
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Capacidade activa - 948º e 949º; 1708º e 1709º, 1756º e 1700º (convenções
antenupciais); 123º, 127º, 1886º e 1893º, 1, c) e f) (menores); 156º, 160º, 257º, 149º e 148º
(interditos e inabilitados); 1681º a 1682ºB (cônjuges);
Tratando-se de doações mortis causa cada um dos cônjuges pode dispor dos bens
próprios e da sua meação nos bens comuns, sem prejuízo das restrições impostas por lei a favor
dos herdeiros legitimários, nos termos e com os efeitos previstos no art. 1685º.
Art. 160º (Pº especialidade das pessoas colectivas); indisponibilidade relativa - 2192º
a 2198º por remissão do art. 953º - razões de ordem moral e de liberdade de disposição.
Os efeitos essenciais das doações, constantes do art. 954º, permitem concluir que a
doação é um contrato de eficácia real, quoad effectum, pois a transferência da propriedade ou
da titularidade do direito verifica-se em consequência do próprio contrato.
Salvo nos casos em que se presume a aceitação (art. 951º, nº 2), porque a doação, como
contrato que é, só fica perfeito com a aceitação, é com esta que se produzem os aludidos efeitos
da doação.
A doação de bens alheios é nula, mas o doador não pode opor a nulidade ao donatário de
boa fé - 956º, nº 1 - respondendo nos termos dos n.os 2 a 4.
Também é nula a doação de parte certa e determinada de bens comuns - 1408º
(compropriedade).
De entre as restrições aos efeitos da doação como translativa do direito de propriedade
plena sobre a coisa doada destacam-se
- direito de reversão - 960º
- reserva do direito de dispor de coisa determinada ou
- reserva do usufruto, do direito de uso ou do direito de habitação - 958º e
- substituições fideicomissárias - 962º.
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Na doação com reserva constituiu-se um direito, de natureza real, do próprio doador
(ou do terceiro beneficiário) sobre a coisa doada. O doador ou o terceiro passa a ser titular de um
poder directo e imediato sobre a coisa doada). O donatário adquire um direito real limitado ou
menor, mas não assume qualquer obrigação (artigo 958.° do Código Civil).
Na doação modal constituiu-se um vínculo de natureza obrigacional em que é sujeito
activo o beneficiário (o próprio doador ou terceiro) e sujeito passivo o donatário. Nesta
modalidade o donatário assume contratualmente uma obrigação de prestar (artigo 963.° do
Código Civil).
Doações com encargos ou modais - 963º a 967º
Doação com encargos tanto é [...] aquela em que o donatário se compromete a dar ao
doador ou a terceiro, durante certo prazo, uma quota-parte dos rendimentos da coisa ou soma
doada, como aquela em que o donatário de um prédio urbano se obriga a pagar as dívidas do
doador, a mandar rezar umas tantas missas por alma deste ou a distribuir todos os anos certo bodo
pelos pobres da freguesia.
Nos termos do Assento de 25.2.97, no BMJ 464-58 e ss, a cláusula modal a que se refere
o artigo 963.° do Código Civil abrange todos os casos em que é imposto ao donatário o dever de
efectuar uma prestação, quer seja suportada pelas forças do bem doado quer o seja pelos
restantes bens do seu património.
Por isso podem o doador ou seus herdeiros ou qualquer interessado exigir do donatário ou
dos seus herdeiros o cumprimento dos encargos, segundo os meios coercivos facultados nos art.
817º e ss - 965º - como podem pedir (judicialmente) a resolução da doação, fundada no não
cumprimento dos encargos, quando esse direito lhes seja conferido pelo contrato - 966º.
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donatário) por ingratidão do donatário, ingratidão não no sentido corrente ou moral mas sim
quando se verifiquem os pressupostos da indignidade (art. 2034º) ou deserdação (2166º).
Prazo (de caducidade) e legitimidade para a acção de revogação e efeitos desta - 976º
a 979º
Doações para casamento - 1753º a 1760º - e entre casados - 1761º a 1766º.
Deve notar-se que as doações para casamento, apesar do regime especialmente favorável
que as caracteriza, estão sujeitas a redução por inoficiosidade nos termos gerais (art. 1759º),
pois a doação é um contrato feito sempre com a condição de não ofender a legítima dos herdeiros
do doador e, por isso, sujeita a redução quando o valor do benefício excede a legítima do dona-
tário e a quota disponível do doador (2168º).
Por remissão do art. 953º, são nulas as doações nos mesmos casos em que o são as deixas
testamentárias - 2192º a 2198º.
COLAÇÃO (2104º a 2118º) 17
17
- Parecer do Prof. Capelo de Sousa, na Col. Jur. (STJ) 2001-III-15.
18
- P. Coelho, 1968, 251
18
Quando assim sucede, a lei pressupõe, por conseguinte, que o pai ou a mãe, ao doarem
quaisquer bens ou valores a um de dois ou mais filhos, em vez de o quererem distinguir dos
outros, quiseram apenas, pressionados pelas necessidades pessoais e especiais da vida dele, fazer-
-lhe uma espécie de adiantamento por conta da quota hereditária que, em regime de igualdade,
projectam deixar a todos os filhos19.
Estão sujeitos a colação os bens doados e despesas feitas em proveito dos descendentes,
com excepção e nas condições do nº 2 do art. 2110º.
19
- P. Lima - A. Varela, CCA, VI, nota ao art. 2104º.
20
- Das Doações, 216, obra que vimos seguindo de muito perto.
19
Para que haja inoficiosidade e consequente redução na medida do necessário para
garantir a legítima do não donatário é preciso que o valor da doação exceda a soma da
quota disponível do doador com a legítima do donatário - 2108º, nº 2.
Conferir por metade, tomar por metade, fazer meia conferência, são expressões equiva-
lentes e significam que, para cálculo da legítima e da disponível do doador, se considera apenas
metade do valor dos bens doados a não ser que a doação o tenha sido de bens próprios do doador
e do inventariado. Rigorosamente, pois, a conferência apenas se efectua depois de separada a
meação do inventariante na qual ainda não há, por permanecer vivo, que considerar qualquer
conferência.
A colação é onus real sujeito a registo - 2118º.
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- Se o repudiante tivesse deixado representantes, estes concorriam à herança em seu lugar e, por isso, a doação
seria imputada na quota disponível (art. 2039º e 2043º).
22
- P. Lima - A.Varela, VI, 190.
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REDUÇÃO POR INOFICIOSIDADE (2168º a 2178º)
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