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BRASIL
Malaquias Zildo António Tsambe1*, Cássio Florisbal de Almeida1, Gabriele Lohmann1, Mariana Ribeiro Santiago1, Luiz Fernado
de Abreu Cybis2
1PPG em Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental, UFRGS – IPH, 91501-970, Porto Alegre, Brasil.
2Professor do departamento de Obras Hidráulicas, UFRGS - IPH, 91501-970, Porto Alegre, Brasil.
*E-mail: m.tsambe@yahoo.com.br
Recebido em: 02/08/2016
Aceito em: 01/05/2017
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RESUMO
A crescente conscientização em relação ao desenvolvimento tecnológico que atenda as questões relacionadas à sustentabilidade
constitui um marco importante para a garantia da satisfação socioeconômica e ambiental. A Política Nacional de Resíduos Sólidos
(PNRS) e a resolução 362/2005 do Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA) são alguns dos instrumentos legais que
garantem a materialização parcial dessa conscientização. O presente estudo avalia o estágio atual do sistema de gerenciamento do Óleo
Lubrificante Usado ou Contaminado (OLUC), discute a legislação vigente para o setor e as tecnologias usadas para o seu
reaproveitamento. O gerenciamento adequado do OLUC é fundamental para evitar o conjunto de problemas ambientais resultantes do
seu descarte inadequado, como a contaminação da água, do solo e do ar. Atualmente, o Brasil é o sexto maior consumidor mundial de
óleos lubrificantes, consequentemente, o sexto maior produtor de OLUC, com uma produção de cerca de um milhão de litros/ano. O
País atingiu a capacidade de coleta de 38,5%, considerada satisfatória de acordo com a meta de coleta mínima estabelecida pela UNEP
e pela resolução 362/2005 do CONAMA. Os resultados sustentam a necessidade de melhorar o gerenciamento do OLUC, desde as
questões socioeconômicas às ambientais. Existe a necessidade urgente de fiscalizar e monitorar a atividade a fim de minimizar os
impactos causados pela destinação inadequada de OLUC.
Lei
12.305/10 óleos lubrificantes com regras e metodologias definidas
riscos potenciais de contaminação do meio ambiente e de seu nos acordos setoriais. Ela institui a PNRS
efeito à saúde pública, em função de suas características de Res. Determina a coleta e destinação de todo óleo lubrificante
o
CONAMA n usado ou contaminado e, as obrigações ambientais de
inflamabilidade, corrosividade, reatividade, toxicidade e 362/05
Resoluções
cada agente do setor.
patogenicidade [16]. Devido a isso, há necessidade de Res. ANP no Estabelece os requisitos necessários à autorização para o
manusear e destinar mais rigorosamente o resíduo. 19/09 exercício da atividade de rerrefino de óleo lubrificante
A legislação brasileira aplicável aos casos de infração usado ou contaminado e sua regulação.
relacionados à gestão e destinação adequada do OLUC é Res. ANP no Estabelece os requisitos necessários à autorização para o
20/09 exercício da atividade de coleta de óleo lubrificante usado
bastante vasta e depende principalmente dos desdobramentos ou contaminado e sua regulação.
que a inobservância da lei venha causar [5]. Assim, o infrator Port. MMA no Institui o grupo de monitoramento permanente da Res.
está sujeito às penalidades administrativas, penais e civis nas 31/07 CONAMA 362/05. Constituído pelo MMA, MME,
esferas ambientais, do consumidor, da indústria petrolífera, Ministério das Cidades, IBAMA, ANP, ABEMA,
ANAMMA, SINDICOM, SINDIRREFINO,
Portarias
trabalhista, criminal, civil, entre outras. Além disso, o estado ou SIMEPETRO, ONGs Ambientalistas.
município pode ter leis específicas sobre o assunto a partir das Port. Estabelece as diretrizes para o recolhimento, coleta e
particularidades de cada região. A análise da legislação voltada Interministeri destinação dos OLUC, determina os percentuais mínimos
aos óleos lubrificantes encontra sua âncora num conjunto de al de coleta a serem atendidos pelos produtores e
MME/MMA importadores de lubrificantes acabados, por regiões e no
atribuições definidas por leis e regulamentos que coordenam as no 59/12 País.
atividades dos vários intervenientes do ciclo de óleo Fonte: Adaptado de [8,17]
lubrificantes. Levando em consideração o potencial poluidor do
OLUC, existe a necessidade de dar um destino ambientalmente Assim, chama-se à responsabilidade compartilhada aos
seguro a ele. Os regulamentos e normas definidas nas autores da cadeia produtiva e de consumo, desde o produtor, o
resoluções do CONAMA, na ABNT NBR 10.004, na PNRS e importador e o revendedor de óleo lubrificante acabado, até aos
Portarias Interministeriais trazem uma nova abordagem para o geradores de OLUC para a necessidade de coleta e
gerenciamento desse resíduo [8,16]. encaminhamento do resíduo ao destino legalmente definido, no
Em relação ao OLUC, o CONAMA apresenta o caso, uma indústria de rerrefino [8,17].
instrumento legal com leis específicas e severas que Apesar de ser um resíduo tóxico, o OLUC apresenta
regulamentam seu gerenciamento. Através da resolução NR. valor econômico, pois contém hidrocarbonetos que podem ser
362/05, o órgão estabelece que o OLUC deve ser recolhido, recuperados e representam um ganho econômico, uma vez que
coletado e ter destinação final de modo que não afete o óleo básico retirado deste pode receber novos aditivos e
negativamente o meio ambiente. Esta destinação deve conduzir, retomar as propriedades de óleo lubrificante. Devido a isso,
através de processos tecnológicos, uma máxima recuperação existem vários intervenientes na sua cadeia de gerenciamento,
dos constituintes iniciais do óleo lubrificante. A mesma cabendo à Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e
resolução veda o descarte do OLUC em solos, subsolos, águas Biocombustíveis (ANP) a responsabilidade de cadastrar todos
interiores e superficiais, em sistemas de esgotos ou em águas os intervenientes, desde compradores, coletores e empresas de
residuais. Ainda de acordo com essa resolução, o OLUC deve rerrefino. Esta medida ajuda a diminuir a pressão sobre a
Fracionamento
Tratamento final
OLUC
Processos de Produtos de
Reaproveitamento
* tecnologia de tratamento de OLUC derivados de óleos para motores sem cloro, óleos hidráulicos, óleos minerais hidráulicos, óleos minerais
diatérmicos (de acordo com a classificação da API).
Figura 3: Vias de tratamento do OLUC
TECNO-LÓGICA, Santa Cruz doFonte: Sul, v. 21, n. de
Adaptado 2, [19].
p. 75-79, jul./dez. 2017 62
O conjunto de instrumentos para a coleta de dados foi
2 Metodologia
aplicado entre Março e Setembro de 2016. A aplicação foi
precedida de visitas técnicas, testagem e aprovação dos
A metodologia utilizada para a realização da pesquisa instrumentos por profissionais ligados ao processo de
baseou-se numa avaliação do sistema de gerenciamento do gerenciamento do OLUC. O público alvo foi definido em
OLUC, destacando todos os processos, e das tecnologias
função das atividades desenvolvidas em cada uma das etapas
aplicadas no seu ciclo de vida. O trabalho teve como
deste ciclo. Esse público foi agrupado por: colaboradores de
perspectiva, ainda, a avaliação de possíveis impactos
postos de combustíveis e de oficinas mecânicas, colaboradores
ambientais e socioeconômicos, que podem servir para dar
das empresas de coleta e técnicos da indústria de rerrefino de
suporte na tomada de decisões sobre o sistema de OLUC.
gerenciamento adotado para este tipo de resíduo perigoso. A
fase de análise integrou uma abordagem ambiental, econômica
e social do processo de gerenciamento do OLUC no seu ciclo 3 Resultados e discussões
de vida. Para a efetivação dos pressupostos do estudo, houve a
necessidade de agregar um conjunto de informações O mapa da figura 4 mostra a situação da distribuição
relacionadas à distribuição geográfica das indústrias de geográfica dos centros de coleta e das indústrias responsáveis
rerrefino nas diferentes regiões do país. Os dados foram obtidos pelo rerrefino do OLUC no Brasil.
a partir de quatro visitas técnicas e entrevistas realizadas nas
três diferentes etapas do processo de gerenciamento do OLUC, 2 Coletores
2 Rerrefinadores 1 Coletor
e também através das informações obtidas na Fundação
Estadual de Proteção Ambiental (FEPAM), na Agência
Nacional de Petróleo (ANP) e no SINDIRREFINO (licenças de
1 Coletor
operação e relatórios institucionais, de 2012-2015). Para isso,
foram elaborados três guias de entrevistas: 1 Coletor
(i) Guia 1: Para Empresas de Geração de OLUC -
este guia foi elaborado com a finalidade de obter informações 2 Coletores
1 Rerrefinador
sobre o processo de geração de OLUC, suas particularidades
em relação à segurança dos colaboradores e os cuidados 5 Coletores
1 Coletor 2 Rerrefinadores
ambientais que devem caracterizar essa etapa. Procurou-se
ainda obter informações sobre a quantidade e o mecanismo de 2 Coletores
3 Coletores
gerenciamento de OLUC nessa fase. Para isso foram definidos
seis pontos geradores (três postos de combustíveis e três Região Norte
4 Coletores
1 Rerrefinador
2 Coletores
oficinas mecânicas). Não se definiu nenhuma indústria como Região Nordeste
ponto de coleta de informação de geração de OLUC, em virtude Região Centro-Oeste
6 Coletores
16 Coletores
7 Rerrefinadores
da pequena quantidade de OLUC produzida nesses locais, Região Sudeste
quando comparado com outras fontes. Como refere GOSALIA, Região Sul
2 Coletores 2 Coletores
a maior quantidade de OLUC gerado no mundo é proveniente 1 Rerrefinador
da troca em veículos automotivos; cerca de 3/5 da geração
anual [9]. Figura 4: Distribuição dos centros de coleta e rerrefinarias de OLUC pelo
Brasil.
(ii) Guia 2: Para Empresas de Coleta de OLUC - este Fonte: adaptado de [11,17].
guia foi elaborado com a finalidade de obter informações sobre
o processo de coleta de OLUC e todas as questões que estão O mapa foi elaborado a partir do conjunto de
envolvidas no gerenciamento do OLUC desde o local de informações disponibilizadas nos sítios eletrônicos da ANP e
geração até aos centros de transbordo ou até ao portão da do SINDIRREFINO. Pode-se observar que a região Sudeste
indústria de rerrefino. Nesta fase, deu-se particular atenção a apresenta maior número de centros de coleta de OLUC e um
aspectos relacionados aos possíveis impactos socioambientais maior número de rerrefinarias, totalizando 10 (4 não associadas
que advém desta fase do gerenciamento do OLUC. ao SINDIRREFINO), e um total de 28 centros de coleta (12
(iii) Guia 3: Para Empresas de Rerrefino de não associados). A região Sul apresenta 10 centros de coleta de
OLUC – com este guia, obteve-se informações sobre o OLUC (1 não associado) e 1 rerrefinaria. A região Nordeste
processo tecnológico de rerrefino de OLUC, suas possui 4 centros de coleta de OLUC e 1 rerrefinaria, enquanto a
particularidades, insumos para o processo, a produtividade do região Norte possui 3 centros de coleta (2 não associados) e 2
óleo básico, e o gerenciamento dos resíduos gerados nesse rerrefinarias (não associadas ao SINDIRREFINO). Por fim a
processo. região Centro-Oeste conta com 5 centros de coleta de OLUC (2
[17] AGÊNCIA NACIONAL DE PETRÓLEO GÁS NATURAL E [23] SILVA, R. J. ; BELATO, M. e LOPES, A. Cooprocessamento de Pneus
BIOCOMBUSTÍVEIS – ANP. Oficina Técnica: Logística Reversa dos usados e resíduos de Rerrefino de óleos lubrificantes usados em forno de
Lubrificantes. Curitiba, 2013. Disponível em: http://www.anp.gov.br. Acesso Clinquer. XX Congresso Brasileiro de Engenharia Química. Florianópolis,
em 26/11/2015. 2014.