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Sobre a segurança nos museus

por Paulo Macedo

A notícia de que os museus não têm pessoal suficiente para vigiar as suas obras de
arte já é recorrente e não é, ao contrário do que se poderia supor, um
problema exclusivamente português, dado já termos visto tal situação ocorrer noutros
países, designadamente em França, no Museu do Louvre. De facto, este já chegou
a fechar alas inteiras por motivos de falta de vigilância. Num país que não tem um
grande número de museus nacionais, mas que reconhece o turismo cultural como um
benefício económico, tal situação não é, aparentemente, compreensível.
Não haverá nenhum responsável que goste de ver o seu museu, ou aqueles que dele
dependem, fechados, seja qual for o motivo que a tal o obrigue até porque, por
definição, o museu é um espaço de exposição para ser fruído e não para servir de
casa-forte e, por outro lado, o trabalho daqueles responsáveis traduz-se na exibição
dos bens à sua guarda e conservação - de onde não pretendemos discutir a quantidade
ou a afectação de verbas disponíveis para a segurança dos
museus, mas sim olhar um pouco para as ferramentas usadas e questionarmos a sua
utilização.
Um museu tem, pelo menos, 3 períodos claramente distintos em termos de
funcionamento: abertura ao público, encerrado ao público mas com
serviços internos e completamente encerrado, ou seja, sem qualquer outra presença
que não seja a da segurança ou até, em muitos casos, sem ninguém no seu
interior recorrendo à selagem electrónica do edifício.
Desde sempre que se utilizam meios humanos na guarda e vigilância de obras de arte
e quando começou a generalizar-se a utilização dos meios electrónicos, estes passaram
a utilizar-se numa perspectiva de selagem electrónica das salas durante os
períodos nocturnos ou períodos de encerramento ao público.

O advento do CCTV veio permitir um aumento do raio de vigilância com a consequente


diminuição de meios humanos, mas nunca, em nossa opinião, permitirá a completa
anulação daqueles meios; por mais sofisticado que este equipamento seja – e há
muitos casos em que o é seguramente – será sempre um equipamento que permite, no
caso de um incidente, umavisualização a posteriori e não substituirá, portanto,
a intervenção imediata que pode ser levada a cabo por um vigilante no local,
designadamente no período de abertura ao público, alterando-se
significativamente esta argumentação no que se refere aos restantes dois períodos.

Dir-se-á que mesmo a presença de um vigilante nãoimpede um acto de vandalismo


que, pela sua própria natureza, é levado a cabo sem pré-aviso; é verdade, mas
também é verdade que a presença do vigilante diminuirá os efeitos daquele acto
devido à sua intervenção, para já não falarmos no efeito dissuasor que a presença de
um vigilante pode ter no potencial vândalo.
O vigilante de museu, por sua vez, tem tarefas que ultrapassam a simples guarda das
obras de arte no que respeita acomportamentos anti-sociais como o furto,
o vandalismo ou o roubo; a intervenção contra um foco de incêndio, a ajuda a uma
evacuação eventualmente necessária e a ronda de verificação do estado das obras,
são também funções do
vigilante para além do controlo dos meios electrónicos eventualmente existentes e
do CCTV.

Numa perspectiva económica, entre os dois meios atrás referidos, e pesadas as várias
vantagens e inconvenientes,
diremos sempre que a opção primária deverá ser pelos equipamentos de segurança,
adequando o número de vigilantes a situações aonde a presença humana não pode ser
substituída quer por questões de segurança de incêndio, de comportamentos
antisociais ou até de controlo e monitorização dos equipamentos de segurança.

Mas estes dois meios não nos resolvem, significativamente, a questão dos custos da
segurança num museu. É necessário falar de um terceiro meio ou das protecções
físicas. Diríamos que a forma mais económica de proteger obras de arte será com o
recurso, em primeira instância, a protecções físicas, como vitrinas, coberturas em vidro
e outras do mesmo género quegarantam um grau de protecção muito
significativo contra actos de vandalismo e contra o furto, ou seja, contra as formas
mais previsíveis da ameaça se materializar.

No entanto, a utilização destas protecções geralmente tem a oposição dos


conservadores e dos comissários de exposições temporárias, os quais entendem e
gostam de mostrar as obras no seu aspecto mais natural e não sujeitas a interferências
adicionais como, por exemplo, o reflexo dos vidros de protecção, por mais anti-reflexo
que sejam.

Não podemos discutir estes critérios, podemos quando muito levantar a questão se
fará sentido fechar uma sala versus colocar as respectivas peças sob protecção física.
A conjugação destes 3 meios, e após um estudo de segurança que vise o equilíbrio
entre o nível de segurança desejado e a disponibilidade económica existente, permite
na maior parte das situações uma resolução adequada à generalidade dos
espaços museológicos.

As arquitecturas complicadas de vários museus, a sinalética (por vezes de leitura não


imediata), a existência de
regras de segurança não actualizadas, a não existência de um responsável de
segurança com conhecimentos adequados (fazendo recair esta responsabilidade
no director do museu ou nos conservadores), também não
facilitam a segurança de um museu.
Será mais fácil fazer um concurso público para o fornecimento de serviços de
segurança para um conjunto de museus nacionais, mas será mais económico fazê-
lo sem que haja um levantamento criterioso das necessidades, das várias alternativas
que se podem colocar a cada espaço, das vantagens ou desvantagens de, em algumas
situações, optar-se pela utilização de protecções físicas em detrimento de meios
humanos ou electrónicos ou vice-versa?

Será tempo de o Instituto Português de Museus instituir um órgão, qualquer que seja,
com a responsabilidade
de tomar conta, exclusivamente, da segurança dos museus portugueses, um pouco à
semelhança do que existe em Espanha e na Grã-Bretanha. Esse órgão teria a
responsabilidade de, entre outras, realizar os estudos, definir as políticas e regras de
segurança, definir meios, propor um orçamento global para que possa ser adequado à
realidade, acompanhar a implementaçãodos meios aprovados no terreno e coordenar a
função segurança no seu todo com o objectivo de
manter um equilíbrio orçamental permanente face ao nível de segurança a ser
definido.

Podia ser diferente.

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