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DIREITO INTERNACIONAL – PONTO 17

Contratos internacionais. Cláusulas típicas.

Elaborado por Ingrid Aragão Freitas Porto em junho de 2010.


Atualizado e revisado por Diogo Souza Santa Cecília em agosto de 2012
Atualizado por Fernanda Schorr

Nota do revisor (ago/2012): O presente resumo é composto, basicamente, de três textos


gerais e independentes sobre o tema e de julgados relacionados. Excepcionalmente,
optei por manter ambos os textos (que são notadamente curtos e se complementam) por
entender que o tema é bastante específico, tornando recomendável uma melhor
compreensão a partir de fontes e abordagens distintas, sem perder de vista a
objetividade necessária ao propósito deste estudo (todo o ponto foi sintetizado em cerca
de 30 páginas).

Texto 1 - CONTRATOS INTERNACIONAIS DO COMÉRCIO

Conceito: são todas as manifestações bi ou plurilaterais das partes, objetivando


relações patrimoniais ou de serviços, cujos elementos sejam vinculantes de dois ou
mais sistemas jurídicos extraterritoriais, pela força do domicílio, nacionalidade,
sede principal dos negócios, lugar do contrato, lugar da execução, ou qualquer
circunstancia que exprima um liame indicativo de direito aplicável (Irineu Strenger).

Negociações Preliminares: nos contratos internacionais, mais do que outros, é


freqüente a existência de uma fase de negociações preliminares em que se irão
sedimentar as bases do futuro acordo. Surge então a esfera das chamadas
responsabilidades pré-contratuais.

Formação do Contrato: o contrato normalmente se forma através de atos que


representam a oferta e a aceitação.

1- Oferta de Negociação: é a comunicação da intenção de venda ou compra, em


condições e quantidades a determinar e sob condições ainda imprecisas.

2- Oferta Firme: materializa de forma certa e objetiva a intenção e cuja


aceitação, na prática, delineia os contornos do contrato.

Cartas de Intenção: é comum que nas negociações preliminares, ao menos nos


contratos de formação mais complexa ou que demandam fases sucessivas, dependentes
de eventos futuros, sejam representados por cartas de intenção de conteúdo obrigacional
preliminar ou condicionado a eventos futuros, cuja redação exige grande cautela.
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Pedidos de Reparação no Processo Preliminar de Formação do Contrato


1- Justificativa: mobilização, desde logo, de recursos, pessoal, aquisição ou
movimentação de equipamentos.

2- Condição: que sejam frustradas as tratativas contratuais por culpa da outra parte, que
ocultou ou falseou dados ou criou falsas expectativas.

Adaptação do Contrato – Hardship


São inúmeros os imprevistos que podem ocorrer num contrato internacional do
comércio. Tais imprevistos podem prejudicar sobremaneira contratos que não dispõe de
cláusulas de adaptação ou hardship que possam minorar tais efeitos. São cláusulas
de revisão, freqüentes em contratos internacionais, principalmente os de longa
duração. A expressão hardship pode ser traduzida como adversidade, infortúnio ou
necessidade.

Objetivo: tornar mais equilibrado e exeqüível o contrato, conforme a vontade das


partes, evitando o judiciário e a arbitragem. Possibilitando a auto- reformulação das
cláusulas contratuais ante ao surgimento de fatores imprevisíveis e excepcionais
que tornem o contrato excessivamente oneroso para uma das partes.

Diferença entre Hardship e Força Maior e Caso Fortuito: no primeiro caso o


contratante, embora não esteja impossibilitado de cumprir o contrato, se o fizer estará
dilapidando seu patrimônio e provocando um lucro excessivo a outra parte. Na força
maior existe a impossibilidade absoluta do cumprimento do contrato por
circunstâncias alheias e imprevisíveis às partes.

Questão de Concurso: Em um mundo globalizado, são cada vez mais freqüentes os


contratos internacionais de compra e venda de mercadorias (exportação e importação de
mercadorias). Buscando uniformizar e regulamentar alguns aspectos do comércio
internacional, a Comissão das Nações Unidas de Direito do Comércio Internacional
(UNCITRAL) estabeleceu algumas cláusulas típicas de contratos internacionais, entre
as quais destacam-se as hardship clauses, que tratam: dos efeitos danosos de mudanças
ocorridas no ambiente institucional, político, comercial ou legal dos contratos.

“(...). Ao invés de um contrato "estático", cujas disposições tendem a ser mais


completos e exaustivos quanto possíveis, excluindo qualquer elemento exterior,
passamos a ter um contrato cujo vínculo e participação entre as partes tem um cunho
"dinâmico", onde a sua revisão passa a ser feita de forma contínua. As partes ficam
obrigadas a manter uma relação de mútua cooperação, provendo trocas de informações
a respeito da atividade contratual, bem como das condições exteriores que influenciam o
contrato. (...). O princípio do pacta sunt servanda (6) perde força e passa a ter uma
dominância relativa. Com muita propriedade, o Prof. Dr. Júlio Gomes explica que: "Nos
contratos de longa duração o risco contratual a que as partes se expõem é mais intenso,
como também mais intensa é a interação e a interdependência entre as partes enquanto
nos contratos de execução instantânea o principio pacta sunt servanda apenas conhece
limitações nos casos excepcionais em que a modificação das circunstâncias, de acordo
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com o princípio da boa-fé, torna inexigível o cumprimento, nos contratos de longa


duração a própria autonomia privada colocaria um outro limite ao pacta sunt servanda, a
saber, a possibilidade de uma qualquer das partes denunciar o contrato: ´a
autodeterminação contratual significa não apenas a liberdade de celebrar contratos, mas
também a liberdade de lhes pôr fim` (...). Igualmente com a boa-fé objetiva, a
razoabilidade e a proporcionalidade, ganham força passando a serem princípios gerais
de direito, governantes de todos os contratos de comércio internacional. (...). Corolário
de todos esses fenômenos surge o hardship (11), como princípio da renegociação ou
adaptação contratual oriundo de alterações (supervenientes ou não) das circunstâncias
que alteram fundamentalmente o equilíbrio econômico do contrato. Sua previsão
jurídica pode ser encontrada nos Princípios dos Contratos do Comércio Internacional
(doravante Princípios Unidroit) (12) elaborados pelo Instituto Internacional para a
Unificação do Direito Privado (UNIDROIT). (13) (...). O termo hardship vem explicado
no Segundo Comentário do Artigo 6.2.2 dos Princípios. Consta que este foi escolhido
por uma questão formal, pois os Princípios Unidroit evitam utilizar terminologias
específicas de determinados ordenamentos jurídicos. Para realçar a sua finalidade, ou
seja, a internacionalização de seus princípios, fez-se uso de uma expressão largamente
aceita na comunidade internacional. O presente termo se refere aos casos de
onerosidade excessiva – dificuldade econômico-financeira de uma das partes para
adimplir sua prestação – ou aos casos conhecidos como eccessiva onerosità
sopravenuta, Wegfall der Geschäftsgrundlage, imprevisión, frustration of purpose,
impracticability, sushestvennoe izmenenie obstoyatelstv etc. (...). Há hardship quando
surgem acontecimentos que alteram fundamentalmente o equilíbrio das prestações quer
por aumento do custo do cumprimento das obrigações quer por diminuição do valor da
contraprestação. (36). (...) o hardship, pela sua própria natureza, só é relevante em
relação às prestações futuras, ou seja, aquelas que ainda não foram realizadas. Se a parte
lesada cumpre a sua prestação deixa de poder invocar o hardship em relação a esta. E
caso as prestações forem parciais, o hardship poderá curtir efeitos somente em relação à
parte da prestação que falta realizar (...)” (CHEMIN, Luiz Ramiro Camilotti. Notas
sobre hardship nos princípios Unidroit e nos contratos de comércio internacional . Jus
Navigandi, Teresina, ano 9, n. 662, 29 abr. 2005. Disponível em:
<http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=6648).

Contratos Internacionais de Compra e Venda


São operações de importação e exportação de bens em que uma das partes é
vendedora e a outra compradora, ainda que a última possa atuar apenas com a finalidade
de revenda. A intenção do contrato é remover as incertezas e anular os riscos que podem
ser elevadíssimos, como guerras, etc.

A Convenção de Viena de 1980 sobre compra e venda internacional visa minorar as


circunstâncias de risco, o Brasil aderiu a Convenção em 2012 que passou a ter vigência
em 01/04/2014. Estima-se que mais de dois terços de todas as transações internacionais
de mercadorias sejam reguladas pela Convenção de Viena de 1980, incluindo aquelas
dos parceiros comerciais mais importantes do Brasil, como a China, países do Mercosul,
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Estados Unidos, Canadá e várias nações europeias. A importância do Brasil no mercado


global de venda de bens faz sua adesão a um sistema internacional de regras unificadas
ainda mais importante.

Elementos Principais: a) a descrição; b) quantificação e discriminação da


qualidade das mercadorias; c) valores e formas de pagamento; d) a referência ao
transporte, seguro, frete, lugar, tempo de embarque/desembarque; e) distribuição dos
custos; f) garantias de qualidade; g) garantias de pagamento; h) obrigações das
partes; i) inexecução; j) penalidades; k) exoneração de responsabilidades; l) escolha da
lei de regência e do foro; m) escolha das fórmulas alternativas de solução de conflitos.

INCOTERMS: A Câmara de Comércio Internacional (CCI) criou regras para


administrar conflitos oriundos da interpretação de contratos internacionais
firmados entre exportadores e importadores concernentes à transferência de
mercadorias, às despesas decorrentes das transações e à responsabilidade sobre perdas e
danos.

A CCI instituiu, em 1936, os INCOTERMS (International Commercial


Terms). Os Termos Internacionais de Comércio, inicialmente, foram empregados nos
transportes marítimos e terrestres e a partir de 1976, nos transportes aéreos. Mais dois
termos foram criados em 1980 com o aparecimento do sistema intermodal de transporte
da carga.

Em 1990, adaptando-se ao intercâmbio informatizado de dados, uma nova versão


dos INCOTERMS foi instituída contendo treze termos.

Está em vigor desde 01.01.2000 o Incoterms 2000, que leva em consideração o


recente crescimento das zonas de livre comércio, o aumento de comunicações
eletrônicas em transações comerciais e mudanças nas práticas relativas ao transporte de
mercadorias.

Além disso, o Incoterms 2000 oferece uma visão mais simples e mais clara dos 13
Incoterms.

Representados por siglas de 3 letras, os termos internacionais de comércio


simplificam os contratos de compra e venda internacional, ao contemplarem os
direitos e obrigações mínimas do vendedor e do comprador quanto às tarefas
adicionais ao processo de elaboração do produto. Por isso, são também denominados
"Cláusulas de Preço", pelo fato de cada termo determinar os elementos que compõem o
preço da mercadoria, adicionais aos custos de produção.

Após agregados aos contratos de compra e venda, os Incoterms passam a ter força
legal, com seu significado jurídico preciso e efetivamente determinado. Assim,
simplificam e agilizam a elaboração das cláusulas dos contratos de compra e venda.
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Definições

Grupo E

EXW - Ex Works - a mercadoria é entregue no estabelecimento do vendedor, em


local designado. O comprador recebe a mercadoria no local de produção (fábrica,
plantação, mina, armazém), na data combinada; todas as despesas e riscos cabem ao
comprador, desde a retirada no local designado até o destino final; são mínimas as
obrigações e responsabilidade do vendedor.

Grupo F

FCA - Free Carrier - Franco Transportador ou Livre Transportador. A obrigação


do vendedor termina ao entregar a mercadoria, desembaraçada para a exportação,
à custódia do transportador nomeado pelo comprador, no local designado; o
desembaraço aduaneiro é encargo do vendedor.

FAS - Free Alongside Ship - Livre no Costado do Navio. A obrigação do vendedor é


colocar a mercadoria ao lado do costado do navio no cais do porto de embarque
designado ou em embarcações de transbordo. Com o advento do Incoterms 2000, o
desembaraço da mercadoria passa a ser de responsabilidade do vendedor, ao
contrário da versão anterior quando era de responsabilidade do comprador.

FOB - Free on Board - Livre a Bordo do Navio. O vendedor, sob sua conta e risco,
deve colocar a mercadoria a bordo do navio indicado pelo comprador, no porto de
embarque designado. Compete ao vendedor atender as formalidades de exportação; esta
fórmula é a mais usada nas exportações brasileiras por via marítima ou aquaviário
doméstico. A utilização da cláusula FCA será empregada, no caso de utilizar o
transporte rodoviário, ferroviário ou aéreo.

Grupo C

CFR - Cost and Freight - Custo e Frete. As despesas decorrentes da colocação da


mercadoria a bordo do navio, o frete até o porto de destino designado e as
formalidades de exportação correm por conta do vendedor; os riscos e danos da
mercadoria, a partir do momento em que é colocada a bordo do navio, no porto de
embarque, são de responsabilidade do comprador, que deverá contratar e pagar o
seguro e os gastos com o desembarque. Este termo pode ser utilizado somente para
transporte marítimo ou transporte fluvial doméstico. Será utilizado o termo CPT quando
o meio de transporte for rodoviário, ferroviário ou aéreo.

CIF - Cost, Insurance and Freight - Custo, Seguro e Frete. Cláusula universalmente
utilizada em que todas despesas, inclusive seguro marítimo e frete, até a chegada da
mercadoria no porto de destino designado correm por conta do vendedor; todos os
riscos, desde o momento que transpõe a amurada do navio, no porto de embarque, são
de responsabilidade do comprador; o comprador recebe a mercadoria no porto de
destino e arca com todas despesas, tais como, desembarque, impostos, taxas, direitos
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aduaneiros. Esta modalidade somente pode ser utilizada para transporte marítimo.
Deverá ser utilizado o termo CIP para os casos de transporte rodoviário, ferroviário ou
aéreo.

CPT - Carriage Paid To - Transporte Pago Até. O vendedor paga o frete até o local
do destino indicado; o comprador assume o ônus dos riscos por perdas e danos, a
partir do momento em que a transportadora assume a custódia das mercadorias.
Este termo pode ser utilizado independentemente da forma de transporte, inclusive
multimodal.

CIP - Carriage and Insurance Paid to - Transporte e Seguro Pagos até. O frete é
pago pelo vendedor até o destino convencionado; as responsabilidades são as mesmas
indicadas na CPT, acrescidas do pagamento de seguro até o destino; os riscos e danos
passam para a responsabilidade do comprador no momento em que o
transportador assume a custódia das mercadorias. Este termo pode ser utilizado
idependentemente da forma de transporte, inclusive multimodal.

Grupo D

DAF - Delivered At Frontier - Entregue na Fonteira. A entrega da mercadoria é feita em


um ponto antes da fronteira alfandegária com o país limítrofe desembaraçada para
exportação, porém não desembaraçada para importação; a partir desse ponto a
responsabilidade por despesas, perdas e danos é do comprador.

DES - Delivered Ex-Ship - Entregue no Navio. O vendedor coloca a mercadoria, não


desembaraçada, a bordo do navio, no porto de destino designado, à disposição do
comprador; até chegar ao destino, a responsabilidade por perdas e danos é do vendedor.
Este termo somente pode ser utilizado quando tratar-se de transporte marítimo.

DEQ - Delivered Ex-Quay - Entregue no Cais. O vendedor entrega a mercadoria não


desembaraçada ao comprador, no porto de destino designado; a responsabilidade pelas
despesas de entrega das mercadorias ao porto de destino e desembarque no cais é do
vendedor. Este Incoterm prevê que é de responsabilidade do comprador o desembaraço
das mercadorias para importação e o pagamento de todas as formalidades, impostos,
taxas e outras despesas relativas à importação, ao contrário dos Incoterms 1990.

DDU - Delivered Duty Unpaid - Entregues Direitos Não-pagos. Consiste na entrega de


mercadorias dentro do país do comprador, descarregadas; os riscos e despesas até a
entrega da mercadoria correm por conta do vendedor exceto as decorrentes do
pagamento de direitos, impostos e outros encargos decorrentes da importação.

DDP - Delivered Duty Paid - Entregue Direitos Pagos. O vendedor cumpre os termos de
negociação ao tornar a mercadoria disponível no país do importador no local combinado
desembaraçada para importação, porém sem o compromisso de efetuar desembarque; o
vendedor assume os riscos e custos referentes a impostos e outros encargos até a entrega
da mercadoria; este termo representa o máximo de obrigação do vendedor em
contraposição ao EXW.
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Tabela de Incoterms

Categorias

E de Ex
Mercadoria
(Partida -
entregue ao comprador no
Mínima EXW - Ex Works
estabelecimento do
obrigação para
vendedor.
o exportador)

F de FCA - Free Carrier Mercadoria


Free
entregue a um
(Transporte FAS - Free Alongside
transportador
Principal não Ship
internacional indicado
Pago Pelo
Exportador) FOB - Free on Board pelo comprador.

CFR - Cost and Freight O vendedor


C de
contrata o transporte, sem
Cost ou CIF - Cost, Insurance assumir riscos por perdas
Carriage and Freight ou danos às mercadorias
(Transporte
Principal Pago CPT - Carriage Paid To ou custos adicionais
decorrentes de eventos
Pelo
CIP - Carriage and ocorridos após o
Exportador)
Insurance Paid to embarque e despacho.

D de DAF - Delivered At O vendedor se


Delivery Frontier responsabiliza por todos
(Chegada - os custos e riscos para
Máxima DES - Delivered Ex- colocar a mercadoria no
obrigação para Ship local de destino.
o exportador) DEQ - Delivered Ex-
Quay

DDU - Delivered Duty


Unpaid

DDP - Delivered Duty


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Paid

Acordos de Bitributação

Lista de acordos para evitar a bitributação

Para os correspondentes provenientes de países com os quais o Brasil mantém


Acordos para evitar a bitributação, o tratamento fiscal é aquele pactuado entre o
Brasil e o país contratante, com o fim de evitar a dupla tributação internacional da
renda, ou o definido na legislação que permita a reciprocidade de tratamento fiscal
sobre os ganhos e os impostos em ambos os países.

A invocação de lei estrangeira que concede reciprocidade deve ser comprovada pelo
sujeito passivo. A prova de reciprocidade de tratamento é feita com cópia da lei
publicada em órgão da imprensa oficial do país de origem do rendimento, traduzida por
tradutor juramentado e autenticada pela representação diplomática do Brasil naquele
país, ou mediante declaração desse órgão atestando a reciprocidade de tratamento
tributário.

Para maiores detalhes, consultar o site da Receita Federal


(http://www.receita.fazenda.gov.br), no link «legislação», em «Acordos Internacionais».

Contratos Financeiros Internacionais


São os contratos de empréstimos e financiamentos internacionais em que a parte
devedora for brasileira sujeitando-se ao regime das Leis n. 4.131/62 (lei dos capitais
estrangeiros) e n. 4.390/64, ambas regulamentadas pelo decreto n. 55.762/65.
Dependem de aprovação e registro no BACEN, que controla o capital estrangeiro no
país.

Os contratos financeiros internacionais negociados diretamente entre entidade


financeira do exterior e a entidade nacional sujeitam-se às regras da primeira,
seguindo uma estruturação contratual típica.

Garantias aos Contratos Internacionais


Por várias razões, nem sempre os compradores conseguem crédito junto aos seus
fornecedores. Uma forma de viabilizar o negócio será oferecer ao fornecedor o amparo
de uma garantia ou um aval bancário, de sorte a assegurar-lhe o pagamento da operação.
Tais instrumentos de garantia também podem ser utilizados para dar proteção ao
comprador que antecipa um pagamento e deseja assegurar a devolução do dinheiro em
caso de não embarque. Ou, simplesmente, deseja assegurar o recebimento de uma
indenização no caso de non-performance de um contrato de fornecimento de bens ou
serviços.
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AVAL
É uma obrigação internacional assumida por uma Instituição Financeira, a fim de
garantir o pagamento de um título de crédito aceito ou sacado contra o cliente.
Assegura ao exportador o pagamento assumido pelo importador, nos prazos e condições
negociadas.

O aval se destina às empresas importadoras que necessitam de aval de um banco


nacional como garantia para o financiamento obtido junto ao exportador.

Este tipo de garantia possui algumas vantagens, como por exemplo, permitir ao
importador fazer negócios com empresas exportadoras que não queiram assumir os
riscos comerciais.

O aval pode ser concedido em:

1. Título de crédito (saque) emitido pelo exportador.

2. Nota Promissória emitida pelo importador.

FIANÇA
É um contrato através do qual o BANCO (neste caso, o fiador) garante o cumprimento
da obrigação de seu cliente (o afiançado), junto a um credor em favor do qual a
obrigação deve ser cumprida (o beneficiário).

Existe ainda um tipo de fiança que podem ser emitidas com caráter financeiro por
empresas brasileiras a bancos no exterior a fim de que estes concedam crédito a uma
subsidiária da empresa.

STAND BY LETTER OF CREDIT


É uma carta de crédito que garante o pagamento ao beneficiário, em caso de
inadimplência do tomador. É uma garantia internacional em formato livre para
diferentes tipos de operações. Pode ser utilizada para dar cobertura à transação
comercial ou financeira e que tem como finalidade, usualmente, prevenir uma possível
falta de pagamento ou cumprimento do objeto a que a garantia se refere. Essa carta pode
ser utilizada para operações sucessivas dentro de seu prazo de validade.

Podemos dizer de outra forma que é uma ordem dada pelo importador ao seu Banco
para que este, perante o Beneficiário (exportador) assuma o compromisso de
pagar, aceitar ou negociar um efeito com um determinado montante (valor da
mercadoria), desde que o Beneficiário apresente os documentos exigidos, em
conformidade com todos os termos definidos nesse compromisso (Carta de Crédito).

Dirige-se a empresas com atividade exportadora/importadora que necessitem de


realizar cobranças ou pagamentos e em que o grau de confiança entre
comprador/vendedor seja muito baixo.
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Conhecida como Carta de Crédito ou Crédito Documentário, é muito usual porque


oferece maiores garantias tanto ao exportador quanto ao importador por ser uma ordem
de pagamento condicional. Ela é emitida por um banco, a pedido do importador em
favor do exportador, que somente fará jus ao recebimento se cumprir todas as
exigências estipuladas. O exportador tem a garantia de pagamento de dois ou mais
bancos e o importador tem a certeza de que só haverá pagamento se suas exigências
forem cumpridas. A carta de crédito é uma alternativa para o exportador que não quer
assumir os riscos comerciais de uma operação, pois ela confere ao banco a
responsabilidade pelo pagamento, mediante o cumprimento dos termos e condições do
crédito. Os riscos políticos também podem ser eliminados ou reduzidos, se utilizada
uma carta de crédito confirmada. Neste tipo de crédito um outro banco, geralmente fora
do país do importador, confirma a garantia dada pelo banqueiro emissor do crédito. Na
prática, se o banco emissor não puder pagar por qualquer motivo, inclusive políticos, o
banco confirmador pagará em seu nome.

A carta de crédito pode ser emitida para pagamento à vista ou a prazo. Como se
constitui em garantia bancária, acarreta custos adicionais para o importador, que paga
taxas e comissões para abertura de crédito, além de contra garantias exigidas pelo banco
emissor. Na negociação de crédito deve-se observar o conceito e porte do banco
emissor. Existem muitos bancos pequenos e regionais. Os bancos mais tradicionais e de
grande patrimônio são considerados de primeira linha. A carta de crédito pode sofrer
emendas desde que aceitas por todas as partes envolvidas a saber: banco emissor, banco
confirmador, tomador de crédito (importador) e beneficiário (exportador). A CCI definiu
normas para emissão e uso de cartas de crédito divulgadas na Publicação 500,
denominadas “Regras e usos Uniformes para Créditos Documentários”. Essas regras são
aceitas em todo mundo.

Os custos para a abertura de uma carta de crédito variam entre 1% e 4% do valor da


carta de crédito. Entretanto, dependendo do banco e do cadastro do cliente, o custo pode
ser fixo, independente do valor do crédito aberto, e até mesmo não custar nada. A carta
de crédito pode ser transferida a um ou mais beneficiários. Este, porém, não tem o poder
de efetuar outra transferência. Para que a transferência seja possível é indispensável que
na carta de crédito conste a expressão "transferível".

Seguro de Crédito à Exportação


Seguro de Crédito à Exportação, com Garantia da União – SCE - Conforme
disposto na Lei nº 11.281, de 20.02.2006, a União poderá, por intermédio do Ministério
da Fazenda, conceder garantia da cobertura dos riscos comerciais e dos riscos
políticos e extraordinários assumidos em virtude do Seguro de Crédito à Exportação –
SCE, e contratar instituição habilitada a operar o SCE para a execução de todos os
serviços a ele relacionados, inclusive análise, acompanhamento, gestão das operações
de prestação de garantia e de recuperação de créditos sinistrados.
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De acordo com a Portaria MF nº 416, de 16.12.2005, compete à Secretaria de Assuntos


Internacionais – SAIN, autorizar a garantia de cobertura do Seguro de Crédito à
Exportação, ao amparo do FGE.

Seguradora Brasileira de Crédito à Exportação – SBCE - Companhia privada


constituída sob a forma de Sociedade anônima, com finalidade de atuar na área de
Seguro de Crédito à Exportação, contratada pela União através de licitação, presta
serviço de análise de risco das operações de médio e longo prazos, caracterizadas por
exportações financiadas com prazos de pagamentos superiores há 2 anos e, em geral,
relacionadas a projetos envolvendo bens de capital, estudos e serviços ou contratos com
características especiais.

Comitê de Financiamento e Garantia das Exportações – COFIG - Colegiado


integrante da Câmara de Comércio Exterior - CAMEX, do Conselho de Governo,
com as atribuições de enquadrar e acompanhar as operações do Programa de
Financiamento às Exportações - PROEX e do Fundo de Garantia à Exportação -
FGE, estabelecendo os parâmetros e condições para concessão de assistência financeira
às exportações e de prestação de garantia da União.

Criado pelo Decreto nº 4.993, de 18.02.2004, o COFIG unifica as atribuições que


pertenciam ao Comitê de Crédito às Exportações – CCEx e ao Conselho Diretor do
Fundo de Garantia à Exportação – CFGE, com o objetivo de examinar, conjuntamente,
as operações de financiamento e garantia para exportação.

Legislação Básica:

• Lei nº 11.281, de 20.02.2006 - Altera a Lei nº 6.704, de 26.10.79, e regula outras


questões acerca do Seguro de Crédito à Exportação;

• Portaria MF nº 416, de 16.12.2005 - Delega competência ao Secretario de


Assuntos Internacionais para autorizar a garantia de cobertura dos ricos comerciais e
dos riscos políticos e extraordinários assumidos pela União;

• Decreto nº 4.993, de 18.02.2004 - Cria o Comitê de Financiamento e Garantia


das Exportações – COFIG;

• Decreto nº 3.937, de 25.09.2001 - Regulamenta a Lei 6.704, de 26.10.1979, que


dispõe sobre o Seguro de Crédito à Exportação;

• Lei nº 9.818, de 23.08.1999 - Cria o Fundo de Garantia à Exportação – FGE;

• Resolução CMN nº 2.532, de 14.08.1998 - Dispõe sobre o Seguro de Crédito à


Exportação contratado no país e permite a abertura e a movimentação de conta em
moeda estrangeira para empresas autorizadas a operar no referido ramo de seguro; e

• Lei nº 6.704, de 26.10.1979 - Dispõe sobre o Seguro de Crédito à Exportação.


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Contrato de Leasing Internacional


O contrato de leasing consiste em uma operação na qual uma empresa, proprietária
de um bem, o cede em locação a outrem por um prazo determinado, recebendo em
troca um pagamento. Ao final deste contrato, o arrendatário pode devolver o bem,
renovar o contrato ou optar pela compra do bem, mediante o pagamento de um
valor residual previsto no contrato. Esta é uma das tradicionais definições para se
caracterizar o instituto do leasing, ou contrato de arrendamento mercantil.

Desta forma, o leasing é um contrato semelhante a uma locação, mas que caracteriza-se
fundamentalmente por oferecer ao arrendatário, ao termo final do contrato, a tríplice
opção acima exposta, conjuntamente com vantagens tributárias, usufruíveis ao longo do
contrato, pelas quais o arrendatário pode contabilizar os custos do arrendamento
mercantil como despesas operacionais. Em síntese, é um contrato que permite o
financiamento a médio e longo prazo de bens móveis e imóveis, sem que o arrendatário
tenha que se descapitalizar.

Contratos de Câmbio
No Brasil não é permitido o livre curso da moeda estrangeira, isto é, as pessoas
físicas ou jurídicas só podem comprar ou vender moedas estrangeiras nos
estabelecimentos legalmente autorizados pelo Banco Central do Brasil (Bacen).

Toda a regulamentação do controle cambial exercido pelo BACEN se encontra


no Regulamento do Mercado de Câmbio e Capitais Internacionais (RMCCI).

O ingresso e a saída de moeda estrangeira correspondente ao recebimento


das exportações e ao pagamento das importações deve ser efetuado mediante a
celebração e liquidação de contrato de câmbio em banco autorizado a operar no
mercado de câmbio.

O Contrato de Câmbio é o instrumento firmado entre o vendedor e o


comprador de moedas estrangeiras, no qual se definem as características completas
das operações de câmbio e as condições sob as quais se realizam, cujos dados são
registrados no Sistema de Informações do Banco Central do Brasil (Sisbacen).

O contrato pode ser celebrado prévia ou posteriormente ao embarque das


mercadorias para o exterior ou a sua chegada no País.

Na exportação, a liquidação do contrato se dá mediante a entrega da moeda


estrangeira ou do documento que a represente ao banco com o qual tenha sido celebrado
o contrato de câmbio. O recebimento em moeda nacional decorrente da exportação deve
ocorrer mediante crédito do correspondente contravalor em conta titulada pelo
comprador ou acolhimento de cheque de emissão do banco, nominativo ao exportador,
cruzado e não endossável.

Na importação, o pagamento deve ser processado em consonância com os


dados constantes na DI registrada no Siscomex ou na documentação da operação
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comercial, no caso de ainda não estar disponível a DI. O contravalor em moeda nacional
deve ser levado a débito de conta titulada pelo comprador ou pago com cheque de sua
emissão, nominativo ao agente autorizado vendedor, cruzado e não endossável.

No caso de exportações realizadas por meio de declaração registrada no


Siscomex, comum ou simplificada, cujo somatório dos valores dos registros de
exportação (RE ou RES) não exceda o limite de US$ 20,000.00, o recebimento pode
também ser conduzido mediante utilização de cartão de crédito internacional emitido no
exterior ou por meio de vale postal internacional.

No caso de importações realizadas por meio de Declaração Simplificada de


Importação, registrada no Siscomex, o pagamento pode ser conduzido mediante
utilização de cartão de crédito internacional emitido no País.

Adicionalmente, sujeitam-se a registro no Bacen, por meio do módulo Registro


de Operação Financeira (ROF) do Sisbacen, todas as importações de mercadorias
(inclusive arrendamento mercantil externo ("leasing"), arrendamento simples e aluguel
de equipamentos), com prazo de pagamento superior a 360 (trezentos e sessenta) dias e
as importações de bens, sem cobertura cambial, destinados à integralização de capital da
empresa.

O registro no ROF de cada operação deve ser providenciado anteriormente ao


registro da DI ou DIs a que se refere, mediante declaração do importador no Sisbacen,
por meio da Internet ou pela rede Serpro. No sítio na Internet do Bacen encontra-se o
RDE-ROF Manual do Declarante, onde podem ser encontradas todas as informações
necessárias ao correto preenchimento do ROF.

(TEXTO 2) O CONTRATO INTERNACIONAL

I-DEFINIÇÃO DE CONTRATO INTERNACIONAL:


Definir Contrato Internacional não é tarefa simples. A doutrina não apresenta
solução muito satisfatória para a questão, e tampouco a legislação conseguiu pôr termo
às divergências que a matéria comporta. É prudente ressaltar que na caracterização dos
contratos internacionais, formaram-se na doutrina francesa duas correntes: a
econômica e a jurídica.

Para a corrente econômica seria internacional o contrato que simplesmente


permitisse um duplo trânsito de bens ou valores, do país para o exterior e vice-
versa.

No Brasil, prevaleceram os critérios caracterizadores da chamada corrente


jurídica, mais abrangente que a primeira, em que a internacionalidade do contrato se
14

verifica quando contenha ele algum "elemento de estraneidade", que pode ser o
domicílio das partes, o local da execução de seu objeto ou outro equivalente.

Segundo o critério jurídico, defendido por Batiffol (1), um contrato é


internacional quando, pelos atos concernentes à sua conclusão ou execução, ou ainda
à situação das partes quanto à sua nacionalidade ou seu domicílio, ou à localização
de seu objeto, tem ele liames com mais de um sistema jurídico.

Na verdade, uma relação jurídica pode estar em contato com mais de um


sistema jurídico ou somente com um. Neste último caso, estaremos diante de um
contrato nacional; no primeiro, estaremos frente a um contrato internacional.

Desta forma, podemos dizer que o caráter internacional do contrato só poderá


ser verificado mediante uma situação de fato, onde será possível determinarmos a
intensidade do elemento estrangeiro na relação jurídica. Além disso, devemos lembrar
que existem certos elementos formais que influem decisivamente na identificação do
contrato internacional, como a redação, estilo, presença de cláusulas típicas, etc.

Segundo a legislação brasileira, evidenciada no art. 2 do Decreto- Lei n. 857


de 1969, o contrato internacional será aquele que possuir elementos que permitam
vinculá-lo a mais de um sistema jurídico e tiver por objeto uma operação que
envolva o duplo fluxo de bens pela fronteira.

Acredita-se, pois, que um contrato pode caracterizar-se como internacional


quando reflete, em sentido amplo, a conseqüência do intercâmbio entre os Estados e
pessoas em diferentes territórios. Logo, embora o MERCOSUL represente a união de
vários países do cone sul, todos os contratos realizados por cada Estado- membro com
outro País ou entre eles próprios são de natureza internacional.

Poderíamos dizer que uma diferença fundamental entre um contrato de direito


interno e um internacional, é que no último, as cláusulas concernentes quanto à
capacidade das partes, objeto e à conclusão relacionam-se com mais de um sistema
jurídico.

Diversos são os elementos que poderão vincular o contrato a Estados diferentes:


a vontade das partes, o lugar de execução das obrigações, a nacionalidade, o lugar de
conclusão, o domicílio ou a localização do estabelecimento das partes, a moeda
utilizada, a procedência ou o destino dos bens ou direitos objeto do contrato.

Entretanto, as questões mais importantes a serem resolvidas no âmbito do


contrato internacional são aquelas relativas à constituição, conteúdo e efeitos das
obrigações, através da determinação das leis que regerão os mais diversos aspectos do
contrato, mediante diferentes critérios ou elementos de conexão.

O direito das partes de escolher a lei aplicável, num contrato internacional, além
de ser aceito quase que universalmente pelas legislações, é também reconhecido pelos
15

tribunais arbitrais. A escolha de lei aplicável pelas partes, pode ser expressa ou
implícita.

No primeiro caso (escolha expressa), não encontramos maiores dificuldades


quanto à intenção das partes. Só encontramos, nessa hipótese, os obstáculos da ordem
pública, o controle da internacionalidade do contrato pelo juiz ou a ocorrência de
fraude, enquanto elementos impeditivos da eficácia do contrato.

No segundo caso (escolha implícita), a solução dependerá do país em questão.


Nos países onde a manifestação da vontade das partes é regra para a localização de uma
convenção e esta for ausente, os tribunais procurarão deduzir de certos aspectos do
contrato qual seria esta vontade. Para tanto, adotam uma série de critérios, mas todos
contêm suas imperfeições.

II - A CRIAÇÃO DO CONTRATO INTERNACIONAL:


A primeira observação a ser feita no tocante à formação do contrato
internacional, é a relativa à capacidade das partes. Não podemos analisar a questão da
capacidade das partes, em direito internacional, do mesmo modo que fazemos em
relação ao direito civil. Assim sendo, não podemos excluir as pessoas jurídicas do
exame da capacidade num contrato internacional.

No que diz respeito às pessoas físicas, tem nossa doutrina pátria distinguido
entre capacidade de fato e de direito, muito embora o art. 7º da LICC (2) não o faça. No
entanto, é o exame da capacidade das pessoas jurídicas o que mais interessa nos
contratos internacionais.

A capacidade das pessoas jurídicas deverá ser verificada em relação à


legislação do país em que a mesma se constituiu, segundo o art. 9º, caput (3),
combinado com o art. 11 , ambos da LICC. Além da verificação da capacidade, feita
com base na lei do local de constituição da sociedade contratante, temos ainda que o art.
7º da LICC impõe a verificação da capacidade da pessoa física com que se trata em
nome da empresa.

No tocante ao contratante, pessoa jurídica desconhecida, outras cautelas deverão


ainda ser observadas, em relação ao tratamento que a lei aplicável dispensa ao
patrimônio social, à integralização e existência do capital, ao montante dos negócios que
o órgão administrativo pode realizar e ao objeto social.

Todos estes aspectos serão ligados ao direito do local da constituição, segundo a


lei brasileira, ou do local principal, ou sede efetiva dos negócios da pessoa jurídica,
segundo outras regras conflituais.

A segunda observação importante quanto à formação do contrato internacional, é


relativa à escolha da lei aplicável. Como sabemos, a regra contida na lei brasileira é
a "lex loci contractus" - a lei do local de constituição do contrato. Mas ocorre que a
lei brasileira não é a que impera universalmente: entre nossos juristas, como exemplo
16

temos Irineu Strenger (5), que é de opinião de que a soberania da autonomia da vontade
na escolha da lei aplicável, sobrepõe- se mesmo à lei do local de constituição.

A lei do lugar da constituição da obrigação é, hoje, uma fórmula bastante


criticada pelos estudiosos do Direito Internacional. O mesmo ocorre com a fórmula
proposta por países vizinhos como Argentina, Uruguai e Paraguai, que utilizam em
âmbito nacional o local da execução do contrato como critério de determinação da lei
aplicável.

Procura-se, hoje, no mais das vezes, identificar as normas do direito com o qual
o contrato mantenha os vínculos mais estreitos, para que as partes possam consagrá-lo.
A liberdade de escolha da lei aplicável, faz parte de grande número de tratados que
compõe o cenário das relações internacionais.

Vários países, no entanto, adotam a lei do local de execução - "lex loci


executionis", norma esta que a lei brasileira segue nos termos do parágrafo 1 do artigo
9º da LICC. Adota-se, também, o local de execução para a determinação da
competência, como ocorre na lei brasileira (art. 12 da LICC e art. 88, II, do Código de
Processo Civil) (6).

É preciso atentarmos também, para a questão da ordem pública, visto que a lei
que, segundo o elemento de conexão deverá ser a aplicável, não poderá em hipótese
alguma, ofender a ordem pública internacional, caso em que a lei estrangeira aplicável
será afastada.

Importante realizarmos alguns comentários sobre a forma dos contratos


internacionais, antes de passarmos a examinar as cláusulas mais importantes.

Com efeito, o contrato, qualquer que seja ele, não deixa de ser um ato jurídico,
que deverá, assim, exteriorizar-se através de uma forma determinada, já que a forma,
nada mais é do que o modo pelo qual a manifestação de vontade se exibe nas relações
sociais e se destina a garantir a legalidade do conteúdo. A lei aplicável é que deverá
determinar se a falha formal acarretará ou não a nulidade do contrato.

O Direito Internacional possui uma variante da cláusula rebus sic stantibus,


onde toda e qualquer relação contratual que gera obrigações, pode ser alterada e
até extinta quando da argüição das cláusulas de revisão (hard ship clause),
freqüentes nos contratos internacionais e em particular, nos de longa duração, que tem o
propósito de prevenir os casos de adversidade, infortúnio, necessidade ou privação
(de fatos ou circunstâncias) que as partes possam sofrer.

A mesma possui, em seu conteúdo dispositivo que aduz da possibilidade de


resolução do contrato, por este proporcionar a uma das partes situação danosa e
insustentável.

A doutrina internacional diverge quanto à necessidade de inclusão desta


cláusula no instrumento contratual. Parte entende que esta cláusula deveria estar
17

contida no contrato de forma expressa, e outra entende, ainda, que apenas nas
hipóteses descritas no instrumento contratual poderia esta ser argüida.

Uma terceira parte da doutrina acha desnecessária a colocação desta


cláusula, pois se deve sempre contar com sua presença implicitamente em quaisquer
acordos ou simples convergências de vontades.

Os contratos de adesão, freqüentemente utilizados no comércio internacional nos


negócios bancários, de seguros e de importação e exportação, costumam ter formas
padronizadas devido a sua "confeccção" em série, por isso geralmente há previsão de
cláusulas de exclusão (ou de limitação) de responsabilidades.

É prudente em quaisquer contratos nacionais ou internacionais, fazer a inclusão


de fórmulas alternativas amigáveis para a solução de conflitos antes da submissão do
litígio a julgamento por árbitros ou juizes, como, por exemplo, a arbitragem.

III-AS CLÁUSULAS TÍPICAS DOS CONTRATOS INTERNACIONAIS:


Além da presença do elemento de conexão, outros fatores identificam os
contratos como sendo internacionais, dentre os quais a presença de determinadas
cláusulas. São cláusulas relativas à escolha do foro, ao efeito do tempo sobre o
contrato, ao risco e à moeda.

Finalizando, vamos examinar aqui, num primeiro momento, as cláusulas de foro,


passando em seguida ao exame das cláusulas arbitrais.

A Cláusula de Eleição de Foro:


A problemática da eleição de foro antecede e modifica a escolha da lei aplicável.
Tanto a cláusula de foro, quanto a cláusula arbitral tratam da questão do conflito
de leis, visando assegurar a aplicação de determinado direito ao contrato e facilitar
a solução das pendências que porventura possam surgir entre as partes.

A cláusula de eleição do foro é comum, mesmo nos contratos de direito interno.


Entretanto, nos contratos internacionais, tal cláusula reveste-se de uma importância
muito maior, pois é dela que irão decorrer as regras conflituais que indicarão a lei
aplicável a uma determinada situação. As cláusulas de eleição de foro nos contratos
internacionais são quase sempre aceitas. Isto porque se exige que o foro escolhido tenha
alguma relação relevante com o contrato, e que a escolha não configure tentativa de
fraude à lei.

No Brasil, a doutrina e a jurisprudência demoraram para aceitá-las, o que se


resolveu com a Súmula 335 do STF (7), a qual se aplica também aos contratos
internacionais entre pessoas físicas ou jurídicas de direito privado.

O fundamento legislativo da cláusula de eleição de foro é o art. 42 do C.C., o


qual permite às partes contratantes "especificar domicílio onde se exercitem e cumpram
os direitos e obrigações deles resultantes", bem como o art. 846 parágrafo único, onde
18

se lê que "o credor, além do seu domicílio real, poderá designar outro, onde possa
também ser citado".

As cláusulas de eleição de foro são muito úteis, desde que bem escolhidas, o que
implica o estudo das normas conflituais e das leis por elas indicadas.

Cláusulas Arbitrais:

As cláusulas arbitrais são aquelas que prevêem o recurso a um tribunal


arbitral para a solução das possíveis futuras pendências que surjam durante a
implementação das normas contratuais. A cláusula arbitral, também chamada de
cláusula compromissória, distingue-se do compromisso, sendo este um negócio
jurídico de características muito precisas, através do qual as partes deliberam, de
modo irretratável, colocar nas mãos de árbitro a solução de um litígio já existente.

Informações bibliográficas:

Conforme a NBR 6023:2000 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT),


este texto científico publicado em periódico eletrônico deve ser citado da seguinte
forma: YONEKURA, Sandra Yuri. O contrato internacional . Jus Navigandi, Teresina,
ano 8, n. 146, 29 nov. 2003. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?
id=4527>.

TEXTO 3 - CLÁUSULAS ESSENCIAIS DOS CONTRATOS INTERNACIONAIS


DE COMPRA E VENDA

1. INTRODUÇÃO
Os contratos que regulam a importação e exportação de bens são instrumentos
complexos: incluem, em um só documento, acordos sobre as condições de venda,
transporte, seguro e meios de pagamento (que muitas vezes envolvem serviços
financeiros), além de estabelecer a divisão dos ônus por serviços portuários e custos
alfandegários, sem esquecer de eventuais obrigações adicionais, tais como a preparação
de documentos e licenças governamentais.

Como se pode perceber, os contratos de compra e venda internacional regulam a


relação das partes sob vários aspectos, e por isso são de extrema importância. Devem,
portanto, ser redigidos com cuidado e prudência, a fim de que, na eventualidade de um
desentendimento futuro, sirvam como fiel guia da vontade originária das partes, em
cada um dos detalhes da negociação.

Apesar disso, é comum para micro e pequenas empresas, e até para alguns
empreendimentos de porte médio, realizarem negócios de compra e venda internacional
sem a proteção de um contrato escrito. Dado o grande número de sub operações que
estão envolvidas na importação ou exportação, e às dificuldades inerentes ao comércio
exterior (distância, desconhecimento das leis do outro país, incerteza quanto à entrega
19

dos bens), essa prática torna-se altamente desaconselhável. O risco da operação, que
poderia ser controlável, torna-se imenso ao admitir-se que a transferência internacional
de mercadorias dependa unicamente da memória e boa-fé das partes envolvidas.

Visando a contribuir para desmistificar o assunto, e dessa forma estimular a


adoção de instrumentos contratuais escritos pelas micro e pequenas empresas,
apresentam-se aqui os aspectos principais a considerar quando da redação de um
contrato internacional de compra e venda, bem como as principais cláusulas que devem
constar do referido instrumento.

Apenas para delimitar o tema, e sem pretensões de exaurir o assunto, pode-se


definir o contrato internacional como aquele que tem elementos de conexão com mais
de um ordenamento jurídico.

Nas palavras da Profa. Sandra Yuri Yonekura[01]:

Para a corrente econômica seria internacional o contrato que simplesmente


permitisse um duplo trânsito de bens ou valores, do país para o exterior e vice-versa. No
Brasil prevaleceram os critérios caracterizadores da chamada corrente jurídica, mais
abrangente que a primeira, em que a internacionalidade do contrato se verifica quando
contenha ele algum "elemento de estraneidade", que pode ser o domicílio das partes, o
local da execução de seu objeto ou outro equivalente. Segundo o critério jurídico,
defendido por Batiffol, um contrato é internacional quando, pelos atos concernentes à
sua conclusão ou execução, ou ainda à situação das partes quanto à sua nacionalidade
ou seu domicílio, ou à localização de seu objeto, tem ele liames com mais de um
sistema jurídico.

Apesar do conceito exposto, não existe um conceito definitivo e


internacionalmente aceito para delimitar, dentre os contratos internacionais, quais se
referem especificamente à compra e venda. Todavia, alguns critérios podem ajudar a
identificar tais acordos.

A convenção das Nações Unidas para Contratos de Venda Internacional de


Mercadorias (United Nations Convention on Contracts for International Sale of
Goods[02]), conhecida pela sua sigla em inglês, CISG é atualmente um dos principais
instrumentos de harmonização do Comércio Internacional. Adotada pelas Nações
Unidas em 1980, a Convenção já foi assinada por 59 países, dentre eles os Estados
Unidos, Alemanha, França, China, Argentina, Espanha e México, e suas prescrições são
largamente utilizadas como orientação por tribunais arbitrais de todo o mundo.

Segundo a CISG, ficam excluídos do conceito de contratos de compra e venda:

Artigo 2

Essa convenção não se aplica às vendas


20

(a) de bens comprados para uso pessoal, familiar ou doméstico, a não ser que o
vendedor, a qualquer tempo antes ou no ato da conclusão do contrato, não soubesse nem
pudesse saber que os bens foram adquiridos para estes usos;

(b) por leilão;

(c) por execução, ou de qualquer outra forma advinda da autoridade da Lei;

(d) de ações, participações, investimentos, instrumentos negociáveis ou dinheiro;

(e) de barcos, navios, hovercrafts ou aeronaves;

(f) de eletricidade.

Artigo 3

Esta convenção não se aplica a contratos em que a parte preponderante da


obrigação da parte que fornece os bens consista em fornecer trabalho ou outros serviços

Como se pode perceber, vários são os casos de transferência de propriedade que


não caracterizam, segundo a CISG, uma compra e venda mercantil. Para fins deste
artigo, buscar-se-á refinar ainda mais o conceito, visando a abordar unicamente a venda
de bens móveis e tangíveis. Excluindo-se, portanto, a venda de direitos, tais como venda
de patentes e licenças de uso de software.

2. CLÁUSULAS ESSENCIAIS ENCONTRADAS NAS PROPOSTAS


Para estudar as principais cláusulas de um contrato de venda internacional, antes é
preciso esclarecer que os contratos internacionais não se corporificam unicamente no
instrumento final. Em geral, todo o processo de negociação, incluindo as ofertas feitas
por escrito, pode ser considerado parte do acordo final. De fato[03]

A oferta comercial é a base do contrato de venda. Ela deve ser firme, clara e sem
qualquer ambigüidade. (...) Ela é considerada como uma estimativa na qual se
descrevem os termos gerais da venda.

Ainda, segundo Schmitthoff[04], um dos principais autores a tratar sobre o Direito


do Comércio Internacional:

A importância, para as vendas internacionais, de termos gerais de negócios bem


escritos dificilmente pode ser exagerada. O litígio frequentemente pode ser prevenido
quando o vendedor está apto a mostrar ao comprador uma cláusula presente por escrito
em seus termos gerais de negócios.

É importante salientar que os termos gerais de negócio aos quais o autor se refere
nada mais são do que cláusulas comerciais padronizadas, que em última instância irão
fazer parte do contrato internacional.

Ainda segundo o mesmo autor, as principais cláusulas dos termos gerais de


compra e venda são:
21

1) Cláusula geral:
Está cláusula deverá estabelecer que todos os contratos de compra e venda a
serem celebrados estarão sujeitos às condições de venda do vendedor.

2) Cláusula de retenção de título:

Esta importante cláusula, de interesse do vendedor, deve estabelecer que a


propriedade dos bens só será transferida após o pagamento integral do preço. É
usual estabelecer também que o vendedor tenha direito a adentrar o estabelecimento do
comprador para retomar os bens, caso o preço não seja pago.

Esta cláusula, contudo, deve ser utilizada com parcimônia, pois pode contrastar
com outras cláusulas que também regulem a transferência de propriedade dos bens, tais
como a definição de Incoterms (ver abaixo), ou mesmo com a legislação do país de
destino dos bens.

3) Cláusula da escala de preços


Cumpre a função de estabelecer que, antes de firmado o contrato entre as
partes, as condições comerciais do vendedor podem oscilar, de acordo com o
mercado, ou de acordo com os aumentos nos custos de mão de obra e matéria-prima.

4) Cláusula sobre juros


Esta cláusula visa a determinar qual será a taxa de juros aplicável aos atrasos de
pagamento. Em geral adota-se a taxa LIBOR (London Interbank Offered Rate), ou
alguma taxa nela referenciada. Ex: 3 pontos acima da LIBOR.

5) Cláusula de Force Majeure


Usualmente retratada em sua forma francesa, essa cláusula trata dos casos de
não cumprimento do contrato devido a fatos de Força Maior. Aqui, as partes devem
decidir se eventos extraordinários estarão aptos a gerar suspensão, execução parcial ou
mesmo descontinuidade do contrato.

6) Cláusula de escolha da lei aplicável


Ponto vital nos contratos internacionais é a escolha da Lei Aplicável. O uso de
expressões vagas como "Direito Internacional" ou "Costumes do Comércio" em geral
não traz bons resultados. No caso de opções vagas ou inexistentes, o contrato será
submetido às legislações de Direito Internacional Privado dos dois países, que
deverão indicar, com base em vários elementos de conexão, qual a lei aplicável ao caso.

Para evitar a incerteza, é recomendável que as partes escolham desde logo qual
Lei regerá o contrato. Não se deve confundir, nesse caso, Lei e foro. Dependendo do
caso, os litígios advindos de um contrato podem ser julgados em um país, segundo
a lei de outro. Da mesma forma, no caso de adoção da arbitragem, os litígios podem ser
julgados de acordo com leis diferentes das dos países envolvidos. Por exemplo: Um
22

contrato entre um importador Brasileiro e um exportador Belga, que pode ser julgado
segundo o Direito Comercial dos Estados Unidos.

Em geral, costuma-se recomendar a escolha da legislação do país da parte que


cumpre a "obrigação característica do contrato". No caso do contrato de compra e
venda, em geral a lei do país do produtor ou vendedor. Embora essa generalização aceite
várias exceções, o princípio que a norteia é o seguinte: É mais fácil para o vendedor
assegurar o recebimento do pagamento, principalmente através de meios de cobrança
documentária, ou do recebimento antecipado, do que para o comprador conseguir
reparação por produtos danificados, ou por quebras contratuais, tais como a quebra de
exclusividade. Adotando-se a lei do país do produtor ou vendedor, aumentam as chances
de se conseguir um provimento jurisdicional que o obrigue a cumprir o contrato, ou a
pagar eventuais indenizações devidas. Mesmo porque os bens do vendedor estão, em
muitos casos, no seu país de origem.

7) Cláusula de arbitragem.
A arbitragem é uma forma de solução de conflitos que busca compor os interesses
das partes sem necessidade de acesso à justiça estatal, exceto na fase de execução da
decisão.

Grande parte dos países tem leis próprias regulando a arbitragem, e aceitam as
decisões arbitrais como verdadeiras sentenças judiciais, executáveis e irrecorríveis.

Ao se adotar uma cláusula arbitral, é importante criar uma cláusula "Cheia". Isto
é, uma cláusula que indique, antecipadamente, qual órgão presidirá a arbitragem, qual
será a lei aplicável, quantos árbitros comporão o painel, onde ocorrerá a arbitragem, e
quais serão as regras procedimentais adotadas.

Caso a cláusula arbitral seja "Vazia", ou seja, não indique o número de árbitros, a
instituição arbitral e tão pouco a lei aplicável, corre-se o risco de ter de recorrer à justiça
estatal para definir estas lacunas, antes mesmo de iniciar a arbitragem.

As mais importantes câmaras arbitrais do mundo guiam-se por dois


regulamentos básicos: as regras da Câmara Internacional de Comércio, de Paris, e a
Lei Modelo de Arbitragem Comercial Internacional, publicada pela Comissão das
Nações Unidas para o Direito do Comércio Internacional (UNCITRAL Model Law
on International Commercial Arbitration). Ambas são regras modernas, que buscam
conceder celeridade e confiabilidade ao procedimento arbitral. Recomenda-se, portanto,
adotar uma das duas alternativas, de modo a diminuir os riscos da arbitragem.

A arbitragem é um assunto amplo, e merece ser avaliada quanto a vários fatores.


Muitas vezes, o local de emissão do laudo arbitral pode influenciar nos requisitos para
reconhecimento da sentença pelo país de destino, para citar apenas uma variável. Assim,
é importante buscar um profissional que possa orientar qual a opção mais segura para o
importador/exportador.
23

3. CLÁUSULAS ESSENCIAIS ENCONTRADAS NO INSTRUMENTO


CONTRATUAL
Superados os termos gerais de negócios (que podem ou não estar presentes no
início da negociação, mas que certamente integrarão o contrato em algum momento),
chega a hora de analisar outras disposições essenciais para o bom andamento da relação
contratual entre as partes, e para a segurança da relação comercial. É o que se faz a
seguir.

8) Preço e Forma de Entrega (Incoterms)

Nos contratos internacionais, o preço e a forma de entrega em geral não se


dissociam, pois a prática do comércio internacional levou a uma padronização dos
procedimentos de entrega das mercadorias.

Nesse sentido, a Câmara Internacional de Comércio de Paris elaborou uma


lista de termos comerciais padrão, denominados Incoterms, que são largamente
utilizados no comércio internacional.

Na prática, o uso de um Incoterm significa a inclusão de uma cláusula contratual


complexa, que estabelecerá as obrigações do comprador e do vendedor quanto a vários
pontos, dentre eles responsabilidades pela perda da mercadoria, momento de
transferência da propriedade, responsabilidade por arranjar o frete, seguro e
documentação, entre outras.

Assim, a título de exemplo, tem-se que o Incoterm FOB (Free on Board,


livremente traduzido como "Livre à bordo) determina que os produtos serão
considerados entregues pelo vendedor quando cruzarem a amurada do navio que os
transportará. A responsabilidade de pagar o frete e o seguro recairá sobre o comprador.

A escolha correta do Incoterm também é importante para a definição do preço.


Em geral, os preços são oferecidos de acordo com um Incoterm e um local de entrega
específicos. Por exemplo, U$100.00, FOB – Porto de Rotterdam.

É intuitivo que, quanto maiores as responsabilidades do vendedor, maior será o


preço. No caso acima, caso o vendedor tivesse que contratar também o frete e o seguro
da mercadoria (o que corresponderia ao Incoterm CIF – Cost, Insurance and Freight,
Custo Seguro e Frete), o preço poderia alcançar U$150.00, CIF – Porto de Santos (nesse
caso, o porto indicado seria o de destino).

Por fim, é importante notar que o Incoterm acaba por determinar também a forma
de transporte das mercadorias, já que existem termos específicos para cada modalidade
de transporte. (A lista completa pode ser encontrada no site da Câmara Internacional de
Comércio: www.iccwbo.org)

9) Forma de Pagamento
A forma de pagamento deve estar claramente disposta no contrato. Em geral, os
meios mais utilizados são a transferência bancária direta (T/T remittance ou Bank
24

Transfer), a Remessa Direta de Documentos, a Cobrança Documentária e a Carta de


Crédito. Esta última a mais segura, mas também a mais burocrática.

Em cada uma das formas de pagamento, é importante indicar quais documentos


serão exigidos para comprovar o embarque das mercadorias ou o pagamento antecipado.
Esta exortação é válida principalmente para as Cartas de Crédito, uma vez que as
exigências documentais para sua aceitação pelos bancos costumam ser extremamente
rígidas.

Em caso de pagamentos parcelados, o prazo, bem como a forma de contagem do


prazo, devem ser indicados.

10) Prazo de Entrega e de Recebimento


Este é um ponto facilmente negligenciado, mas que pode gerar complicações de
difícil reparação.

O cumprimento dos prazos de entrega da mercadoria pelo vendedor, e de


recebimento da mercadoria pelo comprador, são considerados indicadores fundamentais
da boa execução dos contratos pela CISG.

Em termos práticos, isso significa que um contrato pode ser declarado não
cumprido caso o comprador deixe de tomar posse das mercadorias no prazo acordado,
ainda que o preço esteja pago, e as mercadorias já no país de destino. Da mesma forma,
bens perfeitamente dentro das especificações podem ser rejeitados pelo comprador, se
entregues com um dia de atraso.

Portanto, ao estipular os prazos máximos de entrega e recebimento, convém


utilizar toda a prudência, e preparar-se contra imprevistos.

Algumas outras cláusulas típicas dos contratos internacionais são indicadas por
José Maria Rossani Carcez, em sua obra "Contratos Internacionais Comerciais". São
elas:

11) Cláusula de escolha da língua do contrato

Essa cláusula visa a evitar mal entendidos advindos de erros de tradução,


principalmente quando os contratos são concluídos em duas ou mais línguas.

12) Cláusula atributiva de jurisdição

Complementando a Cláusula de escolha da lei aplicável, a cláusula atributiva de


jurisdição visa a indicar qual país terá competência para julgar litígios advindos do
contrato. Pode também ser utilizada para indicar, dentro daquele país, qual unidade
administrativa terá jurisdição sobre o litígio. É o caso de indicar que os litígios seriam
julgados em Londres, e não "na Inglaterra".

13) Cláusula de rescisão


25

Ainda segundo José Maria Garcez[05]:

Na maioria dos contratos costuma-se inserir cláusulas que prevêem a


possibilidade de rescisão unilateral dos pactos, seja em caráter normal, sem depender de
qualquer circunstância, nos casos de contratos por prazo indeterminado (...) seja em
virtude da ocorrência de eventos como a insolvência de uma das partes ou o
descumprimento por elas das obrigações contratuais.

De fato, a inserção de cláusulas que regulem a rescisão contratual facilita em


muito o processo de desfazimento do vínculo contratual, sobretudo quanto regula, desde
logo, quais são os deveres residuais das partes.

14) Confidencialidade
Geralmente adotada através de cláusulas padronizadas, os acordos de
confidencialidade visam a proteger as partes da publicação de informações técnicas,
administrativas ou mercadológicas que sejam de seu interesse, e que venha a ser
transmitidas à outra parte durante o decurso da relação contratual.

15) Hardship clauses


Traduzidas como cláusulas de adversidade ou infortúnio, visam regular
modificações nas responsabilidades das partes, devido a mudanças nos ambientes
institucional, político, comercial ou legal do contrato.

Diferentemente das cláusulas de força maior, que cuidam da impossibilidade


total ou parcial de cumprimento do contrato, as cláusulas hardship regulam as
situações em que o cumprimento é possível, mas em que a manutenção dos termos
do contrato se torna excessivamente onerosa para uma ou ambas as partes.

Sua adoção é recomendada principalmente nos contratos de execução continuada,


tais como os contratos de fornecimento contínuo de matéria-prima.

16) Cláusula Penal e garantias


Muitas vezes, é mais viável para as partes receber uma pequena indenização em
decorrência de uma falha da outra, do que terminar o contrato.

Por outro lado, muitas vezes o estabelecimento de multas contratuais pesadas de


nada vale, caso não existam garantias de recebimento.

É com essas preocupações em mente que os contratos internacionais geralmente


trazem um par de cláusulas, denominadas Cláusula Penal e Cláusula de Garantia.

A primeira, nas palavras do mestre Irineu Strenger[06]: é de extrema eficácia, por


conduzir à sanção, os comportamentos incondizentes com os ajustes contratuais, que,
exemplificativamente, podem ser elencados entre a mora na execução, inexecução das
garantias de rendimento ou de qualidade, falhas no fornecimento, inexecução de
obrigação de compra, inexecução por parte do transmitente de licença e de suas
obrigações, relativas à defesa de patentes, ou ainda inexecução das obrigações de não
26

fazer. (...) além disso, esta cláusula desempenha papel que está longe de ser simples,
pois pode ser associada, paradoxalmente, a um mecanismo de recompensa à diligencia
do empresário, ou ainda, ao inverso, desde que seja legalmente possível, responder a
preocupação de limitação da responsabilidade.

A segunda revela seu valor quando a relação contratual torna-se irrecuperável, e é


necessário garantir-se contra futuras perdas. Sua adoção deve ser condizente com a lei
onde se encontram os bens que servirão de garantia. Deve-se, ainda, verificar quais tipos
de bens podem ser hipotecados ou penhorados de acordo com a lei local, ou corre-se o
risco de adotar uma falsa garantia, que não poderá ser executada.

17) Formas de comunicação válidas


Muitos adotam esta cláusula para estabelecer que comunicações por fax e e-mail
serão plenamente válidas, inclusive para gerar alterações no contrato. Outros a utilizam
de maneira inversa, restringindo a comunicação formal entre as partes a cartas
registradas, com confirmação de recebimento.

Tais previsões são muito importantes caso se queira assegurar uma maior rigidez
nas comunicações, já que, segundo a CISG, comunicações por e-mail são, por definição,
plenamente aceitáveis para gerar obrigações entre as partes.

4. CONCLUSÃO
A lista apresentada na verdade representa pouco mais que os termos básicos de
um contrato internacional. Os contratos reais devem sempre ser permeados pelas
características do caso. Não se deve esquecer que existem infindáveis outros arranjos
contratuais que podem vir a integrar um acordo internacional, a fim de espelhar a
riqueza de alternativas criadas pela realidade dinâmica do comércio internacional, e que
a melhor solução será sempre a que se adequar às circunstâncias e desejos das partes no
caso concreto.

Informações bibliográficas:

Conforme a NBR 6023:2000 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT),


este texto científico publicado em periódico eletrônico deve ser citado da seguinte
forma: MARTINS, Adler Antonio Jovito Araujo de Gomes. Cláusulas essenciais dos
contratos internacionais de compra e venda . Jus Navigandi, Teresina, ano 12, n. 1592,
10 nov. 2007. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=10640>.

__________________________________________________________________

OBS. Cláusula Calvo: cláusula segundo a qual os estrangeiros renunciam à


possibilidade de solicitar a proteção diplomática de seus estados de origem, aceitando os
foros locais como os únicos competentes para apreciar reclamações contra atos estatais.
Normalmente consta de contratos que envolvem governos (de um lado) e pessoas físicas
ou jurídicas estrangeiras (na extremidade oposta da relação contratual), sendo muito
criticada por significar uma renúncia a direito que não pertence ao contratante (pessoa
27

física ou jurídica), mas sim ao Estado, único ente capaz de conferir a proteção
diplomática (que é ato discricionário fundamentado no Direito interno do concedente),
inclusive independentemente de pedido do interessado (de ofício).

Sobre o tema “proteção diplomática”, apesar de alheio ao objeto deste ponto, mostra-se
relevante a transcrição da síntese extraída do material didático do curso FMB –
Intensivo Federal 2010, apenas para uma melhor compreensão da cláusula supracitada:

“Proteção diplomática A proteção diplomática representa um instituto através do qual


o Estado, no âmbito internacional, assume certa lesão sofrida por um seu nacional
como se contra ele (Estado) tivesse sido praticado. Passa, assim, a demandar contra o
agressor, em nome próprio. A proteção diplomática é assegurada por meio do
denominado endosso, que representa um ato discricionário do Estado, pelo que não é
obrigatória a sua concessão.

São duas as condições para a concessão do endosso: 1) A nacionalidade – o


beneficiário do endosso deve ser nacional do Estado que o concede. Obs.: O endosso
pode ser concedido tanto em favor de particular, quanto de empresa; o endosso não
pode ser concedido em favor de quem tenha dupla nacionalidade, quando a outra
nacionalidade seja do Estado agressor. 2) Esgotamento dos recursos internos do
Estado agressor - antes de requerer o endosso, o particular ou empresa deve esgotar
todos os recursos administrativos ou judiciais internos do Estado agressor. Obs.: No
caso do apátrida, poderá ele valer-se da proteção diplomática do Estado que o
acolheu, por conta do princípio humanitário.

Efeitos decorrentes da concessão do endosso: Concedido o endosso, haverá a


transformação de uma reclamação particular em uma reclamação do próprio Estado,
que passará a litigar em seu próprio nome.”

JULGADOS

(CONTRATO FIRMADO PELA ITAIPU BINACIONAL) LEI 9.307/96 – LEI DE


ARBITRAGEM. APLICAÇÃO IMEDIATA. CONTRATO CELEBRADO ANTES DE
SUA VIGÊNCIA. POSSIBILIDADE. PRECEDENTES DO STJ. CLÁUSULA
CONTRATUAL DE ARBITRAGEM. 1. A Corte Especial deste STJ, por ocasião do
julgamento da Sentença Estrangeira 349/EX, de relatoria da Min. ELIANA CALMON
(DJ 21/5/07), pacificou entendimento no sentido de que as disposições contidas na Lei
9.307/96 têm incidência imediata nos contratos em que estiver incluída cláusula arbitral,
inclusive naqueles celebrados anteriormente à sua vigência, ante a natureza processual
da referida norma. 2. Colhe-se do voto condutor da Min. NANCY ANDRIGHI no REsp
712.566/RJ, que : "... com a alteração do art. 267, VII, do CPC pela Lei de Arbitragem,
a pactuação tanto do compromisso como da cláusula arbitral passou a ser considerada
hipótese de extinção do processo sem julgamento do mérito". Assim, "impõe-se a
extinção do processo sem julgamento do mérito se, quando invocada a existência de
28

cláusula arbitral, já vigorava a Lei de Arbitragem, ainda que o contrato tenha sido
celebrado em data anterior à sua vigência, pois, as normas processuais têm aplicação
imediata". Ademais, "pelo Protocolo de Genebra de 1923, subscrito pelo Brasil, a
eleição de compromisso ou cláusula arbitral imprime às partes contratantes a obrigação
de submeter eventuais conflitos à arbitragem, ficando afastada a solução judicial. Nos
contratos internacionais, devem prevalecer os princípios gerais de direito internacional
em detrimento da normatização específica de cada país, o que justifica a análise da
cláusula arbitral sob a ótica do Protocolo de Genebra de 1923". (...) (RESP
200700500908, ARNALDO ESTEVES LIMA, STJ - PRIMEIRA TURMA, DJE
DATA:20/10/2010.)

CARTA DE CRÉDITO DOCUMENTÁRIO. Análise das regras específicas


relacionadas a tal forma de crédito. 'Brochura 500' da Câmara de Comércio
Internacional. Limitação da responsabilidade do banco confirmador à análise formal dos
documentos requeridos para o pagamento ao exportador. Prevalência da interpretação
que confere maior segurança às operações internacionais. - O crédito documentário é
utilizado em operações internacionais de comércio. Além da relação entre o importador
e o exportador, envolve uma instituição financeira que garante o pagamento do contrato
por intermédio de uma carta de crédito. Na prática, o banco emitente da carta de crédito
é procurado por um cliente com o objetivo de efetuar o pagamento a um terceiro,
beneficiário, ou, ainda, autorizar outro banco a fazer o pagamento ou a negociar.
Precedente. - Como importante instrumento de fomento às operações internacionais de
comércio, ao crédito documentário costuma-se atribuir as qualidades relativas à
irrevogabilidade e à autonomia. Assim, uma eventual mudança posterior de idéia do
tomador do crédito (importador) quanto à realização do negócio é irrelevante, pois, para
que o banco confirmador honre seu compromisso perante o exportador, basta que este
tenha cumprido os requisitos formais exigidos anteriormente pelo importador,
salientando-se, ainda, que o banco sequer participa do contrato de compra e venda. - Na
presente hipótese, o importador condicionou o pagamento à apresentação, pelo
exportador, do boleto de embarque da mercadoria, a ser realizado antes de determinada
data. A data do embarque, assim, foi erigida a requisito formal, a ser verificado antes do
pagamento. Ocorre que, segundo o importador, o exportador apresentou um certificado
de embarque ideologicamente falso, pois inverídica a data ali inserida. Em
conseqüência, sustenta o importador que o pagamento foi indevido. - Nos termos da
doutrina que trata dessa operação mercantil, a análise a ser realizada pelo banco, no
sentido de verificar se está presente o dever de pagar ao importador, é limitada ao
aspecto formal dos documentos exigidos. Em uma análise estrita, o certificado de
embarque apresentado não contém nenhum vício aparente. A alegada falsidade na
aposição de data pretérita não se confunde com algum defeito formal perceptível de
plano. - O pretendido dever de não honrar a carta de crédito, na presente hipótese,
significa atribuir ao banco a obrigação de realizar um verdadeiro juízo de valor sobre
documento formalmente autêntico, de modo a desconsiderar seu aspecto formal
exterior, privilegiar elementos fáticos que lhe são externos e concluir, em uma
investigação em última instância verdadeiramente policial, que houve a prática de um
29

ilícito grave. (RESP 200602101994, NANCY ANDRIGHI, STJ - TERCEIRA TURMA,


DJE DATA:05/03/2008.)

LEASING INTERNACIONAL (...) O Órgão Pleno do Supremo Tribunal Federal ao


examinar violação à alínea "a" do inciso IX do § 2º do artigo 155 da Constituição, com
a redação dada pela EC 33/01, decidiu que "O disposto no art. 3º, inciso VIII, da Lei
Complementar nº 87/96 aplica-se exclusivamente às operações internas de leasing" (RE
206.069/SP, Relatora Ministra Ellen Gracie, sessão de 1.9.2005). 4. No julgamento do
RE 461.968/SP, da relatoria do Ministro Eros Grau, sessão de 30.5.2007, o Órgão Pleno
da Corte Constitucional declarou não incidir ICMS sobre importação de aeronaves,
peças e equipamentos decorrentes de contrato de leasing internacional acordado entre
fabricante estrangeira de aeronaves e empresa aérea nacional. 5. A Primeira Seção desta
Corte Superior no julgamento do EREsp 783.814/RJ, da relatoria do Ministro Herman
Benjamin, sessão de 28.11.2007, decidiu por adotar os seguintes entendimentos acerca
do leasing internacional: i) deve incidir ICMS quando o bem for destinado ao ativo fixo;
ii) não deve incidir o ICMS no caso de leasing de aeronaves, equipamentos e peças
adquiridos por empresas de transporte aéreo. (AGRESP 201001434960, BENEDITO
GONÇALVES, STJ - PRIMEIRA TURMA, DJE DATA:05/11/2010.)

1 - SENTENÇA ARBITRAL ESTRANGEIRA. LEGITIMIDADE ATIVA. INTERESSE.


CONTRATO DE COMPRA E VENDA. MÉRITO DA DECISÃO ARBITRAL.
ANÁLISE NO
STJ. IMPOSSIBILIDADE. AUSÊNCIA DE VIOLAÇÃO À ORDEM PÚBLICA.
1. O pedido de homologação pode ser proposto por qualquer pessoa interessada nos
efeitos da sentença estrangeira. 2. O mérito da sentença estrangeira não pode ser
apreciado pelo Superior Tribunal de Justiça, pois o ato homologatório restringe-se à
análise dos seus requisitos formais. Precedentes.
4. O pedido de homologação merece deferimento, uma vez que, a par da ausência de
ofensa à ordem pública, reúne os requisitos essenciais e necessários a este desideratum,
previstos na Resolução nº 9/2005 do Superior Tribunal de Justiça e dos artigos 38 e 39
da Lei 9.307/96. (SEC 3035/FR 2008/0044435-0, STJ, Corte Especial, Rel. Min.
Fernando Gonçalves, DJE 31/08/2009)

Comentários: Trata-se de uma hipótese em que ocorreu contrato de compra e venda em


país estrangeiro. Surgida a lide acerca de cláusulas contratuais, as partes submeteram o
litígio ao árbitro. Foi preferida uma sentença arbitral no país designado no contrato de
compra e venda. O contrato teve aplicação no Brasil. A sentença arbitral estrangeira foi
submetida a homologação pelo STJ. Pronunciou-se este Tribunal no sentido de que o
mérito da sentença estrangeira não pode ser objeto de apreciação, pois o ato
homologatório está restrito à análise dos aspectos formais.

2) CONFLITO DE COMPETÊNCIA. UNIVERSIDADE FEDERAL. REVALIDAÇÃO


E REGISTRO DE DIPLOMA ESTRANGEIRO. AÇÃO ORDINÁRIA FUNDADA EM
CONVENÇÃO E ACORDO INTERNACIONAIS. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA
FEDERAL COMUM.
1. A causa fundada em Convenção e Acordo Internacionais encontra-se inserida no rol de
30

exceções da regra que disciplina a competência do Juizado Especial Federal (art. 3º, § 1º,
I, da Lei nº 10.259/01).
2. De acordo com o art. 109, III, da Constituição da República, "as causas fundadas em
tratado ou contrato da União com Estado estrangeiro ou organismo internacional" são da
competência da Justiça Federal.
3. É competente a Justiça Federal Comum para a análise da ação ordinária que busca a
revalidação e registro de diploma estrangeiro, com base em Convenção e Acordo
Internacionais, como se deduz do exame conjunto dos arts. 3º da Lei nº 10.259/01 e 109,
da CF.
4. Conflito conhecido para declarar competente o Juízo Federal da 3ª Vara da Seção
Judiciária do Estado do Maranhão, ora suscitado. (CC 104102 / MA
2009/0047402-8, STJ, 2009)

3)
SENTENÇA ESTRANGEIRA. JUÍZO ARBITRAL. CONTRATO INTERNACIONAL
FIRMADO COM CLÁUSULA ARBITRAL. CONTRATO INADIMPLIDO. LEI
9.307/96 (LEI DE ARBITRAGEM), ARTS. 38, III E 39, PARÁGRAFO ÚNICO.
SENTENÇA HOMOLOGADA.
1. Contrato internacional de fornecimento de algodão firmado entre agricultor brasileiro
e empresa francesa, com cláusula arbitral expressa. Procedimento arbitral instaurado
ante o inadimplemento do contrato pela parte brasileira.
2. Nos termos do art. 39, parágrafo único, da Lei de Arbitragem, é descabida a alegação,
in casu, de necessidade de citação por meio de carta rogatória ou de ausência de citação,
ante a comprovação de que o requerido foi comunicado acerca do início do
procedimento de arbitragem, bem como dos atos ali realizados, tanto por meio das
empresas de serviços de courier, como também via correio eletrônico e fax.
3. O requerido não se desincumbiu do ônus constante no art. 38, III, da mesma lei, qual
seja, a comprovação de que não fora notificado do procedimento de arbitragem ou que
tenha sido violado o princípio do contraditório, impossibilitando sua ampla defesa.
4. Doutrina e precedentes da Corte Especial.
5. Sentença arbitral homologada. (SEC 3660 / GB 08/0218282-4, STJ, Corte Especial,
2009)

Comentários: O ponto central deste julgado diz respeito à aceitação plena por parte do
STJ das sentenças arbitrais celebradas em países estrangeiros. Vê-se que o caso
envolvia uma empresa francesa e um agricultor brasileiro. Conforme jurisprudência
pacificada na corte Superior não há necessidade da expedição de carta rogatória para
citação de pessoa domiciliada no Brasil para fins de cumprimento do disposto na
sentença arbitral prolatada no exterior.
Saliento que ante da previsão expressa de que o litígio seria submetido a um juízo
arbitral situado na Inglaterra, descabe a aplicação do disposto no art. 9º, da LICC.
- A título exclusivamente de debate, trago à baila os contornos traçados pelo art. 9º da
LICC.
Dispõe o art. 9º em epígrafe: “Para qualificar e reger as obrigações, aplicar-se-á
a lei do país em que se constituírem.”
Analisemos a hipótese do contrato ter sido firmado no Brasil e não existisse a
fixação de que o possível litígio seria submetido a um árbitro no estrangeiro:
- caberia a justiça brasileira a competência direta para julgamento da lide em todos os
seus contornos, inclusive com análise dos elementos extrínsecos e intrínsecos do
contrato celebrado. Do ponto de vista processual haveria competência da justiça
31

brasileira para conhecer do tema, com fulcro no art. 88, I, do CPC. Nesta hipótese,
teríamos a competência da Justiça Estadual, eis que não haveria cumprimento de
convenção ou tratado firmado pelo Brasil a atrair a competência da Justiça Federal, mas
relação exclusivamente privada.

4) TRIBUTÁRIO. TRANSPORTE INTERNACIONAL DE CARGAS E


PASSAGEIROS. PIS. ISENÇÃO. LEIS NOS 9.004/95 E 9.715/95. CONTRATO.
EMPRESA DOMICILIADA NO EXTERIOR. EXPORTAÇÃO DE SERVIÇOS.
1. De acordo com a redação do caput do art. 4º da Lei nº 9.715/98, as hipóteses de
isenção então instituídas encontravam-se atreladas à norma contida na Lei nº 9.004/95, a
qual se destinava essencialmente a desonerar as operações de exportação.
2. Se o próprio caput do art. 4º da Lei nº 9.715/98 determinou expressamente que as
isenções concedidas deveriam observar os preceitos da Lei nº 9.004/95, torna-se
inarredável a conclusão de que a "exportação" constitui elemento indispensável para se
afastar a incidência do PIS sobre operações que envolvam transporte internacional de
cargas e passageiros.
3. A inovação legal objetivava estimular a exportação de serviços, facilitando a
contratação do transporte internacional por empresa tomadora domiciliada no
estrangeiro, não se mostrando admissível que o comando legal seja desvirtuado para
contemplar as receitas decorrentes de avenças de frete para o exterior pactuadas apenas
entre residentes no país. (REsp 824176 / PR 2006/0043421-8, STJ, 2009)

Comentários: Para fins tributários não interessa o contexto previsto no art. 9º da LICC.

5)
PROCESSUAL CIVIL. SENTENÇA ESTRANGEIRA CONTESTADA. AÇÃO
PROPOSTA NO ESTRANGEIRO PARA CONVERTER EM DIVÓRCIO A
SEPARAÇÃO JUDICIAL CONSENSUAL OCORRIDA NO BRASIL. CITAÇÃO DA
REQUERIDA NÃO-COMPROVADA. INDEFERIMENTO DA HOMOLOGAÇÃO.
1. A competência do juízo decorre, geralmente, do domicílio das partes ou de sua
submissão ao foro eleito. No caso dos autos, além de o requerente e a requerida serem
domiciliados no Brasil, a exceção declinatória do foro, por ela oferecida, indica sua
negativa de submissão à jurisdição concorrente. 2. Para homologação de sentença
estrangeira proferida em processo judicial proposto contra pessoa residente no Brasil, é
imprescindível que tenha havido a sua regular citação por meio de carta rogatória ou se
verifique legalmente a ocorrência de revelia.
3."Ainda que a citação assim tivesse sido procedida, viciada estaria a competência do
juízo alienígeno pela expressa recusa da pessoa citanda de se submeter àquela jurisdição,
nos termos da jurisprudência uniforme da Corte". Precedentes do STF.
4. A competência para conversão da separação judicial é exclusiva do juiz brasileiro,
conforme inteligência do art. 7º da LICC, segundo o qual a lei do país em que for
domiciliada a pessoa determina as regras sobre os direitos de família. (STJ, 2009)

Comentários: Existe posição consolidada do STJ e do STF(quando tinha competência


para homologação de sentença estrangeira) de que é elemento primordial para a
validade da sentença estrangeira a citação por carta rogatória da pessoa domiciliada no
Brasil, em tema de divórcio pedido no estrangeiro.
32

Bibliografia utilizada: MAZZUOLI, Valério Oliveira. Curso de direito internacional


público. 3. ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2008; REZEK, José
Francisco. Direito internacional público: curso elementar. 11. ed. São Paulo: Saraiva,
2008; e FIGUEIREDO, Leonardo Vizeu. Lições de direito econômico. 3. ed. Rio de
Janeiro: Forense, 2010. PORTELA, Paulo Henrique Gonçalves, Direito Internacional
Público e Privado, 4ª ed. Salvador: Editora Juspodivm, 2012; Material didático do
Curso FMB – Anual Federal 2010.

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