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SOBRAL - CE
2018
MARIELE TORRES CARNEIRO
SOBRAL - CE
2018
A FAMÍLIA NO ACOMPANHAMENTO DE DEPENDENTES QUÍMICOS DE
ÁLCOOL ATENDIDOS NOS CENTROS DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL ÁLCOOL
E DROGAS: UMA REVISÃO INTEGRATIVA
_________________________________________________
Orientador: Prof. Me. Denilson Gomes Silva
_________________________________________________
1a examinadora: Profa. Me. Isabelle Melo Rocha
_________________________________________________
2a examinadora: Profa. Me. Francisca Lopes de Souza
_________________________________________________
Coordenadora do curso: Profa. Me. Francisca Maria dos Santos
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus por ter me dado força e sabedoria nesta jornada, também a
minha família, que hoje compartilha comigo esta conquista maravilhosa.
Agradeço ao meu orientador, Prof.Me.Denilson Gomes Silva, pelo profissional
e pela pessoa que é, o qual eu tanto admiro, que juntamente comigo se dedicou no
decorrer deste trabalho, dando-me todo o suporte necessário.
Agradeço às professoras Alberlane Matos, Isabele Melo e Francisca Lopes
que sempre estiveram dispostas a ajudar e contribuir para um melhor aprendizado.
Agradeço aos colegas da faculdade pela confiança, companheirismo
compartilhado e o apoio no decorrer dos semestres.
Em especial a minha amiga Jessica Souza e minha mãe, Helen Lúcia, pois
sua colaboração foi essencial ao término do trabalho.
RESUMO
6. REFERÊNCIAS ............................................................................................................................. 47
1. INTRODUÇÃO
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resultados da revisão integrativa tiraram-se conclusões particulares e específicas a
respeito do que foi encontrado.
Desta forma, a partir desta revisão integrativa, será possível identificar em
resultados de outros pesquisadores aspectos e categorias que compreendem as
mudanças ocorridas no convívio familiar, ao longo dos anos e conhecer as
atividades ofertadas para a família no CAPS AD. Através desses questionamentos,
será possível identificar como os autores interessados em temas como o CAPS AD
vem construindo e embasando seu discurso acerca do profissional de saúde, do
sujeito, e outros desafios enfrentados pelos pesquisadores durante as entrevistas e
seu trabalho com as famílias e as relações familiares, assim como sobre os serviços
ofertados.
Desta forma, no capítulo 1 contextualiza-se o álcool como droga,
compreendendo seus conceitos e sua historicidade, apresentando impactos
negativos causados ao longo da sua história até a implementação da Política do
Ministério da Saúde para Atenção Integral a Usuários de Álcool e outras Drogas, em
um caráter mais descritivo do que analítico, este capítulo buscou proporcionar ao
leitor informações sobre as concepções históricas do álcool e as finalidades
enunciadas nos documentos que oficializam tais políticas. Inicialmente há uma
problematização sobre as principais influências na construção deste tema como uma
questão de saúde.
No capítulo 2 foram apresentados os serviços fornecidos pelos Centros
Psicossociais de Álcool e Drogas (CAPS AD), objetivando responder questões mais
específicas sobre o que é o Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas, seu
funcionamento, equipe profissional e ações de combate ao uso abusivo de álcool e
outras drogas em aspectos mais gerais, realizando considerações sobre seus
processos, correlacionando políticas públicas e o cuidado com as pessoas que mais
precisam deste acolhimento. Buscou-se também apontar uma perspectiva de
avaliação de políticas públicas, utilizada neste estudo para a compreensão da
implementação das políticas de álcool e drogas do Ministério da Saúde.
Nos capítulos que se seguem, após a seção de especificação dos objetivos e
metodologia, que embasou o percurso empreendido neste trabalho, foram
apresentados os resultados e discussão dos temas abordados. Tais resultados
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foram delineados sob um mesmo enquadre de análise, a fim de se viabilizarem a
sistematização e a síntese dos achados. Esta última, por sua vez, foi esboçada nas
considerações finais.
Apesar da complexidade do tema, este estudo contribuiu para o
reconhecimento do papel da família em todo o processo compreendido entre o uso
abusivo do álcool e a participação da família nas ações e procedimentos do CAPS
AD, a fim de que o debate sobre políticas públicas nesta área ocorra de uma
maneira mais contextualizada.
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2. A DROGA ÁLCOOL: COMPREENDENDO CONCEITOS E HISTORICIDADE
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O uso moderado de bebidas alcoólicas é um conceito de difícil definição,
uma vez que é interpretado de maneiras diferentes, conforme a percepção
de cada indivíduo. Comumente, essa definição é confundida com beber
socialmente, que significa uso de álcool dentro de padrões aceitos pela
sociedade. No entanto, frequentemente a moderação é vista de maneira
errônea, como uma forma de uso de álcool que não traz consequências
adversas ao consumidor. (HECKMANN; SILVEIRA, 2017, p. 72).
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Em um estudo sobre a ocorrência de violência doméstica contra crianças e
adolescentes, 32% das famílias afirmaram que o álcool é um fator desencadeante
da violência e 9% afirmaram que a ocorrência de violência está associada às drogas
ilícitas (BRITO et al., 2005). Diversos estudos constataram a alta proporção de atos
violentos quando o álcool ou as drogas ilícitas estão presentes entre agressores,
suas vítimas ou em ambos (CHALUB; TELLES, 2006).
Para além destas consequências negativas relacionadas ao uso abusivo de
álcool, citadas acima, aparecem, também correlacionados ao uso de álcool e outras
drogas, acidentes de trânsito. “Em um estudo brasileiro sobre as causas dos
acidentes de trânsito, 23,6% das vítimas de um hospital declararam ter consumido
álcool e outras drogas, e destes 94,6% haviam feito uso de bebidas alcoólicas. ”
(DESLANDES; SILVA, 2000, p. 90).
A pesquisa nacional Beber e Dirigir realizada em 2007 no município de São
Paulo entrevistou 2.520 motoristas no qual indica que 20% destes motoristas
dirigiam com índice de alcoolemia acima do permitido pelo Código Nacional de
Trânsito (que é de 0,06% grama por decilitro de sangue, de acordo com a legislação
brasileira em vigor naquele ano). (DUAILIBI; PINSKY; LARANJEIRA, 2007, p.1060).
Por mais que estas pesquisas apontem que o uso abusivo de álcool e outras
drogas está associado a uma multiplicidade de danos, muitas vezes sociais, as
mesmas podem gerar fortes consequências negativas e repercussões sobre a forma
de se implementar políticas públicas de atenção à saúde e o cuidado com usuários
dependentes químicos.
Com isso, é importante destacar que, apesar dos problemas sociais que
presenciamos todos os dias, pelas ruas e, em alguns casos, em nossas próprias
famílias, a maioria das drogas surgiu e existe para um fim diferente do que vemos
atualmente nas noites e, muitas vezes à luz do dia, em grupos de jovens ou pessoas
em situação de risco, que se arriscam com suas garrafas de bebidas embaixo do
braço entre os carros, pelas ruas, idosos e adolescentes que, muitas vezes,
parecem ter uma ligação muito estreita “afinal, dizem eles, tomar o primeiro porre é
como perder o primeiro dente: marca uma passagem obrigatória para todos os
indivíduos de nossa cultura.”. (ARATANGY, 2000, p. 70).
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No entanto, quase sempre consideram absolutamente normal a experiência
com o álcool, como se fosse parte do desenvolvimento de qualquer um, e não um
primeiro degrau na escalada das drogas.
A autora nos remete ao que entenderíamos como uma “cultura jovem”, o “rito
de passagem”, algo como a cultura entre os mesmos. Desta forma, objetivando
melhorar a qualidade do discurso sobre jovens, alcoolismo e história, parece fácil
afirmar que desde o surgimento da humanidade a mesma esteve envolvida com
álcool ou outras drogas. Algo como o desejo de desbravar e sentir em outras formas
diferentes sensações de prazer.
Ao longo da história do homem, estivemos e estamos envolvidos, mas
expostos, a este desejo. Se não por nós mesmos faremos por outros,
“principalmente quando pensamos na sociedade de consumo em que vivemos que
nos incita ao prazer e à busca de felicidade ao alcançarmos este prazer. ”
(BERTONI, 2010, p.12).
Muitas vezes soa como algo que representaria a felicidade que nos é
apresentada nas propagandas de bebidas alcoólicas, de forma eterna, muitas vezes
passageira, uma vez que a manutenção do prazer exige cada vez mais, já que
nunca poderá estar satisfeito. Ao menos, não a ponto de a conquistarmos somente
porque temos condições de consumir ou deixá-la quando quisermos.
Assim, com relação ao consumo de substâncias, de acordo com Lapate
(2001, p. 102), “que os homens primitivos e os animais em geral, já buscavam no
uso de frutas fermentadas, algum tipo de relaxamento e prazer. ”.
Desta forma, de acordo com Escohotado (2003, p. 20), existem registros que
comprovariam a proibição do consumo de cerveja, por esta ser considerada pela
igreja, “perdição da alma”. Muitas também são as referências sobre o vinho. O
Antigo Testamento da Bíblia Sagrada, no capítulo 9° do livro do Gênesis conta a
história de Noé. De acordo com a versão bíblica, “Noé foi o primeiro agricultor.
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Plantou uma vinha e tomou o vinho dela e embriagou-se e encontrou-se nu no
interior de sua tenda”. Um dos filhos de Noé o viu nu e comunicou a nudez de seu
pai aos irmãos, continua o texto bíblico.
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como crianças e adolescentes expostos a propagandas e aos pais que, por vezes,
os estimulam a experimentar “para não ficarem com vontade”.
Este é com certeza um assunto polêmico e digno de várias possibilidades
quando tentamos refletir sobre. Nenhuma dessas empresas divulga em suas
publicidades as consequências negativas do uso do álcool, nas pessoas ou nas
famílias, por isso o alcoolismo precisa ser alvo de discussões e debates, afinal, por
se tratar de um problema social de saúde pública, faz-se importante que
mantenhamos o debate e pensemos em alternativas de prevenção para uma melhor
qualidade de vida nossa e de nossos descendentes.
Na pesquisa das autoras Silva e Padilha (2010), torna-se claro, a partir da fala
dos adolescentes entrevistados, o prazer que os mesmos obtêm, ainda que com o
uso abusivo do álcool, “o álcool é bom porque faz a gente viajar”. Desta forma, o que
se percebe que é que há, desde o surgimento da sociedade, uma relação estreita
com a sensação de calma, empolgação, excitação e outros sentimentos. Há ainda o
fortalecimento dos vínculos entre aqueles que fazem parte do grupo e compartilham
da prática e do uso abusivo do álcool. De acordo com as autoras:
A relação que se faz aqui, apesar de este ser um estudo relativamente novo,
é sobre sinalizar para as questões entre possíveis motivações para o uso abusivo do
álcool historicamente e atualmente, afim de que possamos, de imediato, perceber
que, com exceção das influências mais protestantes da época, não há grandes
mudanças nas principais motivações que levam as pessoas a usarem a droga álcool
abusivamente nos dias de hoje, se não as que já mencionamos aqui.
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3. OS CENTROS DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL - CAPS ÁLCOOL E DROGAS
Diante desse quadro, o governo brasileiro tem adotado, por meio de política
do Ministério da Saúde, estratégias que visam combater o avanço do uso e abuso
de álcool e de outras drogas. Entre essas estratégias, está à implantação do Centro
de Atenção Psicossocial a Usuários de Álcool e Drogas (CAPS AD) em cidades com
mais de 100 mil habitantes, com a finalidade de disponibilizar tratamento a pacientes
que fazem uso prejudicial de álcool e outras drogas, por meio de uma proposta
baseada em serviços comunitários e apoiada por leitos psiquiátricos em hospital
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geral de acordo com as necessidades dos pacientes, permitindo o planejamento
terapêutico dentro de uma perspectiva individualizada de evolução contínua.
Assim, de acordo com a Portaria nº. 3.088, de 23 de dezembro de 2011,
republicada em 21 de maio de 2013 sobre os Centros de Atenção Psicossocial e os
organiza na modalidade AD:
CAPS AD - atende pessoas de todas as faixas etárias que apresentam
intenso sofrimento psíquico decorrente do uso de crack, álcool e outras
drogas. Indicado para municípios ou regiões de saúde com população
acima de setenta mil habitantes.
CAPS AD III - atende pessoas de todas as faixas etárias que apresentam
intenso sofrimento psíquico decorrente do uso de crack, álcool e outras
drogas. Proporciona serviços de atenção contínua, com funcionamento vinte
e quatro horas, incluindo feriados e finais de semana, ofertando retaguarda
clínica e acolhimento noturno. Indicado para municípios ou regiões com
população acima de cento e cinquenta mil habitantes.
CAPS i. - atende crianças e adolescentes que apresentam prioritariamente
intenso sofrimento psíquico decorrente de transtornos mentais graves e
persistentes, incluindo aqueles relacionados ao uso de substâncias
psicoativas, e outras situações clínicas que impossibilitem estabelecer laços
sociais e realizar projetos de vida. Indicado para municípios ou regiões com
população acima de setenta mil habitantes. (BRASIL, 2011).
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A Reforma Psiquiátrica brasileira iniciou a luta antimanicomial inspirada na
experiência italiana de desinstitucionalização, concatenada com as ideias do
psiquiatra Franco Basaglia, pois esse considerava que apenas a psiquiatria não era
capaz de responder pelo fenômeno complexo que é a loucura. Trata-se de processo
de questionamento e revisão dos vários conceitos e dispositivos jurídicos e legais,
que vão desde a legislação referente à organização dos serviços até às legislações
profissionais, mas, principalmente, dos conceitos e instrumentos referentes aos
direitos civis e políticos dos usuários, tanto nos serviços quanto na sociedade como
um todo, numa nova abordagem democrática e participativa que tem como
princípios a inclusão, a solidariedade e a cidadania. (VIEIRA et al, 2008, p.345).
E esta é uma informação importante, visto que o CAPS - AD atende aqueles
que muitos consideram “loucos”. Desta forma, fazem-se necessários
esclarecimentos sobre a importância da luta antimanicomial e o cuidado que se tem
com os usuários da Política álcool e drogas com a não reprodução do discurso
internalista, institucionalista, psiquiátrico ou manicomial, mas humanista.
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drogas. Na prestação do atendimento, também em regime de atenção diária, e na
promoção da inserção social.
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também como forma de complementar a estratégia de prevenção e redução de
danos.
Por mais que se considere que, para muitas pessoas, o ideal seria que não
usassem mais drogas, sabemos que isso pode ser muito difícil, demorado ou
inalcançável. É, portanto, necessário oferecer serviços, inclusive para aquelas
pessoas que não querem ou não conseguem interromper o uso dessas substâncias.
O oferecimento desses serviços pode evitar que se exponham a situações de maior
risco e viabilizar sua aproximação das unidades de saúde e acolhimento, abrindo a
possibilidade de que peçam ajuda quando quiserem ou precisarem.
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verdadeiro corpo do fato da dependência da droga, e remete aos vínculos afetados
do indivíduo com sua família, serviço ou meio em que está inserido.
Essa atuação do CAPS recebe a denominação de “rede operante” que é
definida por ser parte de uma “rede social com o qual o sujeito foco obtém apoio,
ajuda material, serviços e contatos sociais” (SOUZA; KANTORSKI; MIELKE, 2006).
Contudo, em determinadas situações identificamos que alguns profissionais não são
engajados na prática psicossocial devido a uma formação voltada para o modelo
médico e hospitalocêntrico. O resultado desse atendimento é a segregação e
exclusão do usuário dentro da própria unidade.
Um dos fatores que podem contribuir para os altos índices de evasão do
serviço e redução no tempo de permanência é a falta de vínculo com a unidade e/ou
profissional por receberem um atendimento pouco acolhedor. O usuário que chega
até um CAPS AD, em maioria, possui perda de grandes vínculos – familiares,
trabalho, amigos – e, partindo dos pressupostos estabelecidos pela Reforma
Psiquiátrica, o serviço deve ser capaz de auxiliar o indivíduo a estabelecer e manter
os vínculos saudáveis e duradouros, reduzindo assim a vulnerabilidade aos fatores
de risco para o consumo de álcool ou outras drogas. Dentro desse contexto, a
educação permanente dos profissionais de saúde pode qualificar o atendimento
prestado para o paciente.
A Rede de Atenção Psicossocial é parte integrante do Sistema Único de
Saúde (SUS), rede organizada de ações e serviços públicos de saúde, instituída no
Brasil através da Lei Federal na década de 90. O SUS regula e organiza em todo o
território nacional as ações e serviços de saúde de forma regionalizada e
hierarquizada, em níveis de complexidade crescente, tendo direção única em cada
esfera de governo: federal, municipal e estadual. (BRASIL, 2005).
Segundo o decreto n° 7. 508/11, é definido por Rede de Atenção à Saúde o
conjunto de ações e serviços de saúde articulados em níveis de complexidade
crescente, com a finalidade de garantir a integralidade da assistência à saúde. A
Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) é a rede de saúde mental integrada,
articulada e efetiva nos diferentes pontos de atenção para atender as pessoas em
sofrimento e/ou com demandas decorrentes dos transtornos mentais e/ou do
consumo de álcool, crack e outras drogas.
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Diante à complexidade das demandas de inclusão, conclui-se que somente
uma organização em rede, e não apenas um serviço ou equipamento, é capaz de
promover a inclusão e reinserção social de pessoas estigmatizadas. É a articulação
em rede de diversos equipamentos da cidade, e não apenas de equipamentos de
saúde, que pode garantir resolutividade, promoção da autonomia e da cidadania das
pessoas com transtornos mentais. Para a organização desta rede, a noção de
território é especialmente orientadora. (BRASIL, 2005).
Porém, em relação aos modelos relacionados à atenção ao uso de álcool e
drogas em nosso país, percebe-se que por muito tempo as concepções
reducionistas refletiram o modo de atuação utilizados. Observou-se, através de
estudos, a baixa efetividade da maioria dos tratamentos oferecidos aos usuários
que, a custo, conseguem realizar sua meta, que, em geral, é a de alcançar e manter
a abstinência (NOTO; GALDUROZ, 1999, p. 234).
Diante deste fato há que se questionar se a raiz do problema da efetividade
das ações não se encontra também nas próprias práticas em saúde. Não basta
concentrar a responsabilidade de resultados negativos no usuário, como é comum
em muitos serviços, que justificam a situação a partir da lógica de que a
dependência é uma doença crônica e recorrente e, portanto, a recaída é parte do
processo, ou ainda, da falta de motivação para os tratamentos, conforme
demonstram pesquisas anteriores (SCHNEIDER, 2009, p. 212)
Alguns autores apontam que no início do tratamento há sentimentos
ambivalentes, sendo necessária a construção de uma rede social e de estratégias
de atendimento consonantes às necessidades apresentadas. Isto facilita a promoção
da adesão aos serviços oferecidos e influencia beneficamente a motivação e os
resultados quanto à recuperação da qualidade de vida dos dependentes (PINHO;
OLIVEIRA; ALMEIDA, 2008, p. 111).
Ou seja, não se pode falar em CAPS-AD sem mencionar as práticas de
prevenção de uso de álcool e outras drogas e não se pode falar nestas sem
mencionar as críticas que alguns autores fazem às intervenções do Estado.
A intervenção do Estado sobre a questão das drogas no Brasil originou-se a
partir do espelho da concepção criminalizadora adotada nos Estados Unidos. Teve
seu primeiro registro de regulamentação em 1938, através da aprovação do
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Decreto-Lei Nº 891/38, mais tarde incorporada pelo Código Penal. Essa tendência
avançou no período da ditadura militar através de leis, a exemplo da Lei 6.368 de 21
de outubro de 1976, que dispuseram sobre medidas de prevenção e repressão ao
tráfico ilícito e uso indevido de substâncias entorpecentes ou que determinem
dependência física ou psíquica (MESQUITA, 2005, p. 34).
No entanto ainda temos que avançar bastante na elaboração de dispositivos
teóricos e de modelos de atuação que ampliem o alcance da rede e torne os ideais
evocados pela reforma psiquiátrica diretrizes presentes em nossa prática de maneira
sólida. O apelo midiático respaldado pelas últimas campanhas do Ministério da
Saúde evidenciam quão lentos são nossos passos para o avanço e como corremos
um grande risco de retroceder.
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4. A FAMÍLIA NO ACOMPANHAMENTO DE DEPENDENTES QUÍMICOS DE
ÁLCOOL ATENDIDOS NOS CENTROS DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL
ÁLCOOL E DROGAS: REVISÃO INTEGRATIVA
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autores Berenzon, Robles, Reed e Medina-Mora (2011); Artigo 2: rede social de
usuários de álcool, sob tratamento, em um serviço de saúde mental, dos autores:
Souza, Kantorski e Vasters (2011); Artigo 3: reflexões sobre a política de drogas no
Brasil, do autor: Andrade (2011); Artigo 4: relacionamento entre familiar e usuário de
álcool em tratamento em um centro de atenção especializado, dos autores:
Nascimento, Souza e Gaino (2015); Artigo 5: usuário de crack em situações de
tratamento: experiências, significados e sentidos, dos autores: Paula, Jorge e
Albuquerque (2014).
Desta forma, o debate que se segue compreende-se em condições
necessárias ao entendimento de Revisão Integrativa. Esta se refere de forma
genérica a busca, seleção e análise de publicações sobre os descritores: Álcool,
Família e Saúde Mental.
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Desta forma, de acordo com Soares et al (2014), o que temos aqui, por tanto,
é um conjunto de resultados de estudos realizados entre os anos de 2005 e 2017
que permitem a sintetização destes, a fim de responder sobre as necessidades do
cuidado com os usuários abusivos de álcool, a família destes usuários e saúde
mental, critérios utilizados para a realização das buscas deste estudo com base na
metodologia integrativa. Desta forma, reproduzir, incrementar e produzir
conhecimento novo a respeito deste e de outros temas exige que esta pesquisa seja
feita de forma ampla e plural por conta da quantidade dos fatores envolvidos.
Assim, neste capítulo, apresentaremos quais as pesquisas se adequaram aos
descritores utilizados na inclusão e exclusão das pesquisas apresentadas a seguir,
pois a mesmas apresentaram pontos em comum para sintetizar seus resultados e
autores, assim como sua natureza básica, qualitativa e o ano de publicação sobre a
temática abordada, 2005 e 2017, período que compreende a busca por resultados
de pesquisas no banco de dados bibliográficos da SCIELO – Scientific Electronic
Library Online, que compreende uma biblioteca digital no modelo cooperativo de
publicação digital de periódicos científicos brasileiros de acesso aberto, resultando
na identificação de cinco artigos científicos publicados em periódicos aleatórios.
Assim, pesquisadores indicam que a revisão integrativa permite que sejam
incorporadas aos estudos evidências práticas com a finalidade de reunir resultados
de outras pesquisas sobre determinado tema ou questão.
A revisão integrativa da literatura também é um dos métodos de pesquisa
utilizados na PBE que permite a incorporação das evidências na prática
clínica. Esse método tem a finalidade de reunir e sintetizar resultados de
pesquisas sobre um delimitado tema ou questão, de maneira sistemática e
ordenada, contribuindo para o aprofundamento do conhecimento do tema
investigado. Desde 1980 a revisão integrativa é relatada na literatura como
método de pesquisa. (MENDES et al, 2008, p 759).
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4.1 MÉTODO
35
questionamentos e objetivos da pesquisa, até os resultados encontrados e
apresentados neste capítulo.
Inicialmente, o primeiro passo para a realização desta pesquisa foi a
identificação dos descritores a serem pesquisados nas bases de dados Scientific
Eletronic Library Online (SciELO). Os descritores foram álcool, família e saúde
mental. Desta forma, foi realizada uma busca que permitisse a identificação de
pesquisas que se aproximassem do tema pretendido.
A seguir, foi feita a seleção destes estudos considerando alguns descritores
de seleção, entre eles: ter sido publicado na modalidade artigo científico (original ou
revisão), idioma português, pesquisas qualitativas, tendo como tema principal
assuntos que fizessem ligação direta ou indireta dos critérios apresentados
anteriormente e que tenham sido publicados entre os anos de 2011 a 2017.
Após a busca, foram encontrados 10 artigos publicados em periódicos
aleatórios. Logo, foi feita a leitura destes artigos a fim de que se pudesse ter uma
compreensão mais abrangente sobre os temas encontrados e consequentemente
sobre o tema de estudo desta pesquisa. Este período metodológico foi necessário
para que fossem identificados, ainda, abordagem utilizada e aspectos metodológicos
de cada pesquisa utilizada por seus autores, assim como as ideias centrais de cada
estudo.
Dos dez artigos encontrados, cinco foram eliminados por não atenderem aos
critérios determinados para a realização desta revisão integrativa, entre eles, total
relação com o tema.
Desta forma, os trabalhos que serão analisados a seguir foram publicados
entre os anos de 2011 a 2017, pesquisas de cunho qualitativo, que, consideramos
serem mais aprofundados e utilizam metodologias que possibilitam o entendimento
sobre o tema e os contextos que compreendem as revisões de literatura e pesquisas
diretamente ligadas aos descritores álcool, família e saúde mental. Totalizando a
exclusão de cinco artigos dos dez selecionados.
A seguir, será apresentada a revisão integrativa destes artigos. Os resultados
foram interpretados com base na sumarização obtida, constituindo a quinta fase.
Esta, por sua vez, foi iniciada com vistas a identificar a temática central abordada no
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estudo, verificando qual o objeto do estudo e sua relação aos temas álcool, família e
saúde mental.
4.2 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Nesta pesquisa o autor conclui que sim, existe relação entre o uso abusivo do
álcool, a saúde mental e a família do usuário abusivo de álcool: “síndrome de
abstinência, falta de controle e problemas jurídicos foram mais frequentes nos
homens”. O autor indica ainda que existe uma relação direta e social entre as
mulheres e o uso abusivo de álcool, fazendo referência a seu papel na família: “as
mulheres apresentaram maiores taxas de tentativas de abandonar o álcool e
dificuldades para realizar atividades diárias. ” Berenzon et al (2011).
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Artigo 2: segundo Souza et al (2011):
Nesta pesquisa, mais uma vez, é feita a relação direta entre álcool, família e
saúde mental: “Em tratamento, cujo objetivo último é a diminuição do uso de drogas,
todos esses recursos interacionais requer reestruturação. “O autor indica ainda,
assim como todos os autores desta revisão integrativa, que, em se tratando do uso
abusivo de álcool e relação família, exige-se o fortalecimento dos vínculos familiares,
“no caso da dependência, alguns vínculos necessariamente deverão ser rompidos”.
(Como as amizades e companheiros de uso), outros fortalecidos ou reatados (como
os vínculos familiares”. Souza et al (2011):
Artigo 3: segundo Andrade (2011):
A baixa cobertura da ESF é também um problema para os CAPS AD, uma
vez que compromete a essência da função para a qual estes Centros foram
concebidos, ou seja, prestar atendimento clínico em regime de atenção
diária, evitando as internações e ser o coordenador e articulador das ações
de saúde mental na atenção ao uso de álcool e outras drogas em um
determinado território17. Função esta que depende muito da articulação
com a ESF e da inclusão de ações de RD com base territorial. (ANDRADE
2011, p.4669).
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Além da apresentação dos critérios em estudo, álcool, família e saúde mental,
Nascimento et al (2015) sinaliza para o papel do CAPS AD na construção dos
vínculos em usuários que fazem uso abusivo de álcool, sua relação com a saúde
mental destes usuários e a construção de vínculos institucionais e familiares: “CAPS
AD trouxe inúmeros benefícios para o relacionamento da família com o usuário. O
relacionamento anterior ao início do tratamento, que era marcado por instabilidade,
transforma-se gradativamente em uma relação marcada pelo respeito através do
autoconhecimento e autocontrole por parte do usuário”.
Artigo 5: Segundo Paula et al (2014):
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QUADRO 2 - Descrição dos estudos incluídos seus resultados.
41
QUADRO 3 - Descrição dos estudos incluindo sua natureza metodológica.
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4.3 ÁLCOOL
Desta forma, sobre a categoria álcool, o que o autor indica é que há uma
“certa” negligência, por parte das políticas públicas de descategorizar o álcool como
droga, a medida em que não dão a devida importância aos cuidados com o
consumidor, usuário, abusivo de álcool, influenciando muitas vezes nas relações
intrafamiliares, debatidas no próximo tópico.
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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
46
6. REFERÊNCIAS
47
DESLANDES, S. F.; SILVA, C. M. F. P. Análise da morbidade hospitalar por
acidentes de trânsito em hospitais públicos do Rio de Janeiro. RJ. Revista de
Saúde Pública, São Paulo, v. 34, n. 4, p. 367-72, 2000.
FOUCAULT, Michel. História da sexualidade: o uso dos prazeres. 10. ed. São
Paulo: Graal, 2003.
LAPATE, Vagner. Hora zero: a independência das drogas – antes que os problemas
cheguem. São Paulo: Scortecci, 2001.
48
<http://www.brasil.gov.br/observatoriocrack/cuidado/centro-atencao-
psicossocial.html> Acesso em: 23 de dezembro de 2017.
POMPEO D. A.; Rossi L.A.; Galvão, C.M.; Revisão integrativa: etapa inicial do
processo de validação de diagnóstico de enfermagem. Acta Paul Enferm. V.22, n.4,
2009, p.434-8.
49
UNITED NATIONS ORGANIZATON (UNO). Drugs Crime and Viollence: the
microlevel impact. New York: UNO. 2004. 11p.
VIEIRA, J.K.S., et al. Concepções sobre Drogas: relatos dos usuários do CAPS-ad,
de Campina Grande, PB. Revista eletrônica de salud mental alcohol y drogas.
Penambuco, v.6, n.2. 2008.
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