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1 Grosso modo, a chamada Reconquista foi uma guerra travada durante séculos entre Cristãos
e Muçulmanos. O objetivo cristão era reconquistar o domínio da península Ibérica que havia
sido tomada pelos muçulmanos.
2 NEVES, Guilherme Pereira. A religião do império e a Igreja. In.: GRINBERG, KEILA &
3 BRUNEAU, Thomas C.. Catolicismo Brasileiro em época de transição. São Paulo: Loyola,
1974. Pág. 34
4 Thomas Bruneau afirma que em fins do Império, o Brasil contava apenas com 700 padres
para os mais de 14 milhões de habitantes espalhados pelo vasto território do Império. Cf.:
BRUNEAU, Thomas C.. Catolicismo Brasileiro em época de transição. São Paulo: Loyola,
1974. Pág. 55.
5 Como nos lembra Bruneau, diante dos poderes e práticas do padroado e do beneplácito,
pode-se afirmar que “ o que foi decretado no Concílio de Trento, pouca relevância tinha no
Brasil”. BRUNEAU, Thomas C. Op. Cit. Pág. 43
6 Cf. REIS, João José. A morte é uma festa: ritos fúnebres e revolta popular no Brasil do século
8 ABREU, Marta. O Império do Divino: Festas religiosas e cultura popular no Rio de Janeiro.
1830 – 1900. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999. Pág. 34.
9 BRUNEAU, Thomas C.. Catolicismo Brasileiro em época de transição. São Paulo: Loyola,
10 REIS, João José. A morte é uma festa: ritos fúnebres e revolta popular no Brasil do século
XIX, São Paulo, Cia. das Letras, 1991. Pág. 53.
11 Idem. Pág. 51.
12 BOSCHI, Caio César. Os leigos e o poder: irmandades leigas e política colonizadora em
In.: LEME, Sebastião. Carta pastoral de Dom Sebastião Leme saudando a sua Archidiocese.
Petropolis: Typ. Vozes de Petropolis, 1916. Summario.
16 Em 1889, a Igreja no Brasil contava com apenas 11 dioceses e 1 Arquidiocese, o que é um
seus associados. Mesmo aquelas que permitiam, restringiam a participação feminina vetando a
elas lugares de destaque na associação. Não encontrei registros de irmandades leigas
exclusivamente femininas anteriores ao processo de romanização.
os excessos, os batuques e as bebedeiras, além das faltas ao trabalho nos
dias que sucediam as festas. Tal mudança favorecia a audiência do público
feminino às celebrações litúrgicas, especialmente aquelas jovens de famílias
mais conservadoras que sentiam-se mais seguras nas festas romanizadas.
Para essas famílias o modelo proposto pela Pia União das Filhas de Maria era
também muito oportuno por seu caráter moralizador e disciplinador,
cuidadosamente pensado para as jovens católicas solteiras. Para Riolando
Azzi,
a reforma católica dava à religião uma forma
acentuadamente clerical, não só pela ênfase na recepção
dos sacramentos administrados pelos clérigos, como
também pelo controle maior que os padres passavam a
exercer nas associações e movimentos religiosos. Foram
as mulheres que mais sintonizaram com essa nova
modalidade de vivência da fé vinculada diretamente ao
clero.22
24 Nos primeiros anos da Revista Maria, é possível perceber que se dá visibilidade a todas as
indulgências concedidas às Associadas da Pia União. A indulgência, dentro do catolicismo tem
o papel de conceder o perdão dos pecados e diminuir as penas e o tempo que a alma
permaneceria no purgatório. A indulgência, portanto cria uma categoria de tempo própria, onde
as ações são contabilizadas em dias a menos no purgatório.
25 Decreto URBI ET ORBI da Sagrada Congregação das Indulgências. In: Manual da Pia União
das Filhas de Maria. Trad.: Ananias Corrêa Amaral. Rio de Janeiro: 1926. Aprovações. pág.
XXV. Em todas as citações do Manual, manteve-se a grafia original.
Submetidas a muitas regras e cobradas em seus
comportamentos, as Filhas de Maria de Limoeiro não se
resignaram diante da vigilância, pelo contrário, resistiram
sutilmente de muitas formas. Porém a sutileza de suas
resistências nem sempre as livraram da punição. Uma vez
punidas, não desistiam de permanecer na irmandade, que
havia se constituído como um espaço privilegiado.
Essa importância, conquistada paulatinamente pelas ações do
grupo, tornava a Pia União um projeto não só da Igreja, mas
também dessas jovens mulheres, que atuavam com vigor na
manutenção de sua associação.26
26 ANDRADE, Maria Lucelia de. “Filhas de Eva como anjos sobre a Terra”: A Pia União das
Filhas de Maria em Limoeiro-CE (1915-1945). Dissertação de Mestrado. Fortaleza:
Universidade Federal do Ceará, 2008. Pág. 65.
Senhor no claustro, ou ainda castas donzelas no meio do
mundo, no seio das suas famílias, servindo aí como flores
ilibadas, de exemplo a todos na piedade e na virtude. [...]
Ela quer formar RELIGIOSAS com verdadeiro espirito de
pureza, de caridade, de abnegação e humildade, com
verdadeira vocação; FILHAS dedicadíssimas a seus pais e
ESPOSAS verdadeiramente cristãs, que fomentem em suas
casas o amor, a virtude e a piedade, e eduquem os seus filhos,
no santo temor de Deus.27 (Caixas altas no original)
27Manual da Pia União das Filhas de Maria. Trad.: Ananias Corrêa Amaral. Rio de Janeiro:
1926. Págs. 6-7.
secretária, eram as chamadas Dignatárias. A escolha das dignatárias era feita
mediante eleição interna, onde todas as Filhas de Maria votavam.
Embora fosse uma devoção incentivada pela Igreja, não era tarefa
rápida, nem de todo fácil, compor uma Pia União. Para que se pudesse chegar
ao “grau de Filha de Maria” era antes necessário passar por um período de
experiência, durante o qual a candidata à Filha de Maria era chamada de
“Aspirante”. Somente depois de um período, que poderia variar de três meses a
um ano, é que a Aspirante seria avaliada pelas associadas da Pia União, bem
como pelo diretor, que em um “escrutínio secreto” votariam pela “promoção” da
aspirante à Filha de Maria. Para que uma jovem fosse admitida como
Aspirante, o manual aponta como requisitos mínimos:
1º - que seja solteira;
2º - que mostre singular devoção a Maria Santíssima;
3º - que a sua conduta seja tal, que dê esperanças de que será
virtuosa;
4º - que requeira a sua admissão ao diretor, ou diretora,
conforme se determinar cada Congregação;
5º - que haja frequentado a Congregação ao menos durante
um mês, se nela houver as reuniões semanais, e não as
havendo, que tenha pelo menos assistido a uma reunião
mensal,
6º - que obtenha, finalmente no escrutínio secreto a maioria
dos votos em seu favor.28
28 Manual da Pia União das Filhas de Maria. Trad.: Ananias Corrêa Amaral. Rio de Janeiro:
1926. Págs. 31-32.
29 Uma vez que oficializasse o noivado, a associada entrava numa espécie de tempo de
30 Manual da Pia União das Filhas de Maria. Trad.: Ananias Corrêa Amaral. Rio de Janeiro:
1926. Pág. 46.
31 Idem. Pág.32
religiosa e social, buscando uniformizar as práticas e normas seguidas por
todas as Filhas de Maria.
Traduzido do italiano pelo “Conego Dr. Ananias Corrêa do
Amaral”, tal livro traz em suas páginas a aprovação de diversos bispos de
Portugal e do Brasil. Nele, em pequeno texto direcionado às Filhas de Maria, o
fundador e diretor da primária romana, Alberto Passeri afirma “[...] êste Manual,
desde há muito tempo desejado saiu finalmente á luz, e vos foi oferecido, para
que, mediante as mesmas normas e usos, podesseis conseguir o almejado fim
que é a União do espirito, a qual como uma fonte, dimana da Pia União
Primária.” O intuito era fornecer instruções que deveriam ser seguidas
igualmente por todas as Pias Uniões das Filhas de Maria em todo o mundo.
Ao longo do século XX muitas foram as reimpressões do referido
Manual, especialmente no Brasil. No entanto, não se pode verificar alteração
em seu conteúdo32. As diferenças em torno do impresso se restringiam à
questões estéticas. O Manual da Pia União das Filhas de Maria chegou a ser
impresso em edições luxuosas. Como era um artigo obrigatório a todas as
associadas da congregação, havia opções para gostos e condições sociais
diferenciadas. A própria sofisticação da edição do manual, muitas vezes servia
de diferencial dentro do grupo de jovens Filhas de Maria.
O Manual é uma compilação que reúne as informações, estatutos,
normas, orientações práticas do funcionamento da congregação, além de
trazer uma coleção de preceitos e práticas da vida cristã, muitas orações,
cânticos e exercícios de devoção. Nele, o diretor encontrará as orientações
práticas para a criação e funcionamento da Pia União, e as Filhas de Maria
encontrarão orientações para todos os momentos do dia, da semana, do mês e
do ano. É ele, grosso modo, e salvo exceções que deveriam ser avaliadas pelo
diretor da congregação, que deveria orientar o comportamento das associadas
da Pia União das Filhas de Maria. Por isso, assume um caráter de fonte
32 É importante que se ressalte que a partir da década de 1930 é possível localizar edições
mais compactas, com o intuito de oferecer, segundo seus editores, um exemplar mais portátil
e ao mesmo tempo mais barato. A diferença básica entre essa versão mais compacta e a
versão completa do Manual, é que na primeira, a parte relativa ao hinário foi suprimida, e a
parte do devocionário, onde se colocam hinos e orações ficam restritos àqueles específicos
para as cerimônias da Pia União. No entanto, toda a parte dos estatutos e normas permanece
inalterada. Tivemos o cuidado de examinar algumas edições, de diferentes décadas, do
manual. E para efeito de fonte, optamos por sua versão mais longa, que inclui também o
hinário. São dessa edição as referências aqui apontadas.
importante dentro desse trabalho, posto que representa a “a voz” oficial da
Igreja e a leitura da tradição onde nada mais precisaria ser acrescentado a
norma que deve ser observada pela mulher católica ideal, reiterada por
prelados de várias partes do Brasil.
Logo em sua primeira página, após a folha de rosto, o Manual traz
o Diploma de Admissão, que deveria ser preenchido manualmente com os
dados da associada, bem como os dados da Pia União da qual fazia parte,
devidamente assinado pelo Diretor, diretora, e presidente da associação.
Aquele diploma representava a oficialização de sua identidade de Filha de
Maria.
33 Os exemplos de maior destaque no Manual eram Maria e Santa Inês. Santa Inês “é um
exemplo de jovem virtuosa que “abraçou a morte” para não ter sua pureza maculada, e que
durante a vida terrena deu diversos exemplos de caridade e obediência.” Dois modelos de
virtude cristã que a Igreja colocava como espelho para as associadas da Pia União. Cf.
Andrade, Maria Lucélia de “Filhas de Eva como anjos sobre a Terra”: a Pia União das Filhas de
Maria em Limoeiro (1915-1945) Dissertação de Mestrado. Fortaleza: UFC. 2008.