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A EDUCAÇÃO QUE DESEJAMOS:


NOVOS DESAFIOS E COMO CHEGAR LÁ

Evandro da Cruz BASTOS1


Maria Eugênia CASTANHO2

MORAN, José Manuel. A educação que desejamos: novos desafios e como chegar lá. 2. ed.
Campinas, SP: Papirus, 2007. 174p.

O Professor José Manuel Moran, doutor da sociedade da informação e do conhecimento


em Ciências da Comunicação pela Universidade por meio da renovação de sua organização
de São Paulo, atualmente é membro do comitê didático-curricular e na gestão, fazendo uma
de avaliação de projetos da UAB - Universidade crítica ao ensino tradicional, aos profissionais da
Aberta do Brasil do MEC, e possui publicações educação.
nos temas tecnologia da educação e educação Por outro lado, põe em destaque a
a distância. Nessa obra que completa sua 2ª importância de se adotar currículo flexível/
edição, propõe-se a alargar as discussões no personalizado, a importância de bons gestores
campo das tecnologias educacionais, tendo como na instituição como peças fundamentais à
foco as mudanças que estas trazem à educação realização das inovações, além da valorização
presencial e a distância. Para tanto, o autor dos aspectos afetivos, da flexibilização dos
procura (re)forçar o caráter educacional objetivos, e do ensino focado na pesquisa e no
humanístico, atrelado à concepção de desenvolvimento de competências, tudo isso
competências de Perrenoud. ligado às possibilidades do ensino virtual oferecido
Em seu primeiro capítulo, Moran procura pelas tecnologias de ensino.
demonstrar o quanto a educação tem mudado No capítulo seguinte, o autor propõe os
nos últimos tempos, constatando que a sociedade eixos para uma proposta inovadora de educação
sofre um processo de transição onde se pode atrelada a cinco princípios que são: o
perceber “[...]o atraso, a burocracia e a conhecimento integrador e inovador, o
inovação”(p.14). Partindo dessa constatação, o desenvolvimento de auto-estima/
autor chama a atenção para o grande desafio a autoconhecimento, a formação do aluno-
ser enfrentado pelas instituições educacionais empreendedor, a construção do aluno-cidadão, o
em prol de sua adequação às novas demandas processo flexível personalizado. Esses eixos,

1
Graduando em Pedagogia, Pontifícia Universidade Católica de Campinas. Campinas, SP, Brasil. Bolsista do CNPq – Brasil. E-
mail: <eb_cruz@ig.com.br>.
2
Docente, Programa de Pós-Graduação em Educação, Pontifícia Universidade Católica de Campinas. Campinas, SP, Brasil. E-
mail: <meu@dglnet.com.br>.

Revista de Educação PUC-Campinas, Campinas, n. 24, p. 121-131, junho 2008


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segundo o próprio autor “[...] relacionam-se com Em seu quinto capítulo, Moran apresenta
os quatro pilares da educação do relatório Delors as situações enfrentadas na educação brasileira
[...]” (p.69). Nesse sentido, o autor discorre sobre na introdução das tecnologias da educação, e
as diferentes formas de conhecimento e, aponta para o atraso existente nas instituições
sobretudo, o conhecimento construído por meio educacionais, a resistência entre os educadores
dos meios de comunicação. Faz a crítica ao à introdução dessas tecnologias, o que, segundo
ensino de conteúdos e chama a atenção para a ele, deriva de um certo preconceito. Discute
importância de uma escola aberta à sociedade; também o processo de mudança do ensino pre-
aponta para uma formação de profissionais da sencial ao semipresencial e on-line, as experiên-
educação voltada para as dimensões emocional, cias vividas na Universidade Aberta do Brasil
empreendedora e ética. (UAB) - da transição das aulas centradas no pro-
fessor, características do ensino presencial, às
No terceiro capítulo, o autor foca sua teleaulas em tempo real transmitidas a diversos
atenção nos desafios a serem enfrentados pelos locais do mundo -, e os programas personalizados.
educadores. A principio, traça um quadro sobre
os educadores e a sua trajetória profissional, O sexto capítulo é dedicado a traçar
chegando a um quadro sobre o que seria um bom caminhos a serem seguidos para que se chegue
educador “O bom educador é um otimista, sem à “escola que desejamos”. Moran arrisca-se a
descrever um prognóstico de como será a
ser ‘ingênuo’, consegue ‘despertar’, estimular,
educação formal daqui a alguns anos, uma
incentivar as melhores qualidade de cada pessoa.”
realidade não muito distante, na qual “Todos os
(p.81).
alunos estarão conectados às redes digitais por
Em seguida, o autor analisa as celulares, computador portáteis, TVs digitais
possibilidades de ação das tecnologias no interativas.” (p.145) “Em poucos anos, dificilmente
processo de ensino e aprendizagem. Baseado teremos algum curso presencial.” (p.146).
em suas experiências com implantação de Descreve também o perfil do professor dos
tecnologias em alguns cursos, Moran aponta próximos anos, definido como o professor autor
um percurso geral que as instituições seguem: e autogestor, e como serão as aulas desses
a princípio as mudanças são de caráter periférico, professores.
tendo as tecnologias como ferramenta de apoio Em sua conclusão, o autor reforça alguns
à aprendizagem presencial e às rotinas adminis- elementos pontuais em sua obra, como a adesão
trativas. Na segunda etapa, as atividades desen- ao currículo flexível, o caráter tecnológico
volvidas presencialmente expandem-se aos humanístico aliado às competências: “Quanto
ambientes virtuais. E, por fim, a terceira etapa, mais avançam as tecnologias, mais a educação
onde ocorrem modificações inovadoras, precisa de pessoas humanas, evoluídas,
flexibilização da organização curricular, competentes, éticas” (p.167). É a partir dessa
introdução de atividades semipresenciais ou posição que o autor se posiciona no sentido de
quase totalmente a distância. construir a “educação que desejamos”.
O autor chama a atenção para as mudanças Podemos destacar alguns pontos
exigidas pela introdução das tecnologias nas relevantes de crítica a esta obra. O tema objeto
atividades de avaliação, sugerindo métodos de da discussão do livro é alvissareiro, ou melhor,
avaliações a distância. Dá ainda exemplos de desafiador, já que se propõe a discutir a educação
algumas ferramentas de pesquisa como o que desejamos, traçando esses desafios e como
webquet, Wikipedia, bem como a utilização de chegar lá, tendo como um dos meios de superação
fóruns, chats e blogs como auxiliares no processo desses desafios a utilização das tecnologias e o
do ensino-aprendizagem, discussão e divulgação ensino a distância. Podemos dizer que o ponto
de resultados das pesquisas desenvolvidas por forte do livro está no que concerne à forma de
alunos. utilização das tecnologias de ensino.

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No entanto, em se tratando de um tema Em síntese, trata-se de uma obra que tem


como este, o texto não poderia deixar de lado as como destaque o fato de não cair no simplismo
inúmeras possibilidades de discuti-lo em uma a priori de conceber como nocivas as aplicações
esfera macroestrutural. Falamos aqui das das tecnologias à educação, e traz questões
questões concretas presentes no universo da bastante relevantes quanto a sua aplicação na
educação, pois é a partir delas que, ao afirmar “a educação semipresencial ou a distância e nas
educação que desejamos”, precisamos antes formas de avaliação. Entretanto o faz de maneira
dizer de qual educação estamos falando, pois descontextualizada, pois não podemos conceber
em uma realidade diversa e adversa, onde público nenhuma possibilidade de mudança ou de
e privado dividem espaço, contextualizá-la é introdução ampla das tecnologias no ensino
fundamental, antes de afirmar a educação que formal, sem que estejam acompanhadas de
desejamos. medidas políticas que viabilizem sua introdução
nos diversos níveis (do básico ao superior) ou
Quanto aos desafios a serem enfrentados
modalidades (do público ou privado). Nesse
pela educação, apresentam-se também
sentido, não podemos chegar à educação que
desarticulados de um contexto que tem raízes
desejamos sem considerar suas determinações
políticas, o que leva o autor a deslocar muitos
e sem que se modifiquem as estruturas. Ao
desses problemas à pratica do profissional da
deixar de lado essas questões, o autor ou
educação, sendo ele o responsável em grande
desconsidera ou está em conformidade com as
medida pela melhora do sistema educacional
estruturas aí existentes, preocupando-se em
que se pode perceber em passagens como “uma
discutir tais questões dentro da ordem vigente.
boa escola começa com um bom gestor”(p.25)
“Um bom gestor muda uma escola”(p.25), o que
acaba redundando em um apelo à atitude Recebido em 31/1/2008 e aceito para publica-
moralista de individualização dos problemas. ção em 2/4/2008.

Revista de Educação PUC-Campinas, Campinas, n. 24, p. 121-131, junho 2008

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