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Disciplina: Noções de Igualdade Racial e gênero Nas Ordenações Filipinas, não encontramos, no

Professora: Karla Dias livro V, nenhum tipo de preconceito; pelo contrário, a


escravidão humana existia (negro, índio) e o livro V tratava

Constitucional da matéria, mas nenhum dispositivo condenava o racismo.

 Constituição Federal de 1988 artigos 1º,3º,4º e 5º) Tinham dispositivos que estimulavam o racismo. Por
exemplo: contra os judeus, ciganos, mouros, os quais eram
 Constituição do Estado da Bahia: (Cap. XXIII “ Do
obrigados a usar roupas e chapéus de determinada cor,
Negro”)
forma etc. e, se não o fizessem, estariam praticando uma
Humanos
infração penal.
 Convenção Internacional Sobre a Eliminação de
Em suma, nos primeiros tempos após o
Todas as Formas de Discriminação Racial (Decreto
descobrimento, durante 300 anos, a nossa própria legislação
nº 65.810/69).
penal estimulava a ação discriminatória, envolvendo certas
 Convenção Sobre Eliminação de Todas as Formas
e determinadas pessoas.
de Discriminação Contra a Mulher (Decreto nº
Proclamada a independência, passamos para o
4.377/02).
Código Criminal de 1830, no qual não figurava nenhum
Administrativo
dispositivo consagrando ou prestigiando esse procedimento
 Criação da Secretaria de Promoção da Igualdade
preconceituoso, mas também nada dizendo que racismo,
Racial (Lei nº 10.549/06) modificada pela Lei nº
preconceito envolvendo religião, sexo etc., configuraria
12.212/11.
infração penal.
 Criação da Secretaria de Políticas de Promoção da A escravidão continuava e no Código Criminal de
Igualdade Racial da Presidência da República (Lei 1830, existia toda uma parte dedicada aos escravos, quando
nº 10.678/03). eles infringiam a lei penal. Eles recebiam tratamento
Processual diferente.
 Lei de Combate ao Genocídio (Lei nº 2.889/56). No artigo 60 do Código Criminal do Império, se o
 Lei Caó (Lei nº 7.437/85). réu fosse escravo e incorresse em penas que não fossem a
 Estatuto da Igualdade Racial (Lei nº 12.888, de 20 pena capital ou de galés, ele seria condenado à pena de
de Julho de 2010). açoites e depois, seria entregue ao seu senhor, que colocaria

 Lei Federal no 11.340, de 7 de agosto de 2006 (Lei nele, escravo, um ferro pelo tempo e maneira que o juiz

Maria da Penha). designasse.

 Lei Federal no 7.716, de 5 de janeiro de 1989, Mais ainda, o número de açoites seria fixado na
sentença e o escravo, não poderia levar mais de cinqüenta
alterada pela Lei Federal no 9.459 de 13 de maio de
(açoites) por dia.
1997 (Tipificação dos crimes resultantes de
O mesmo se diga do Código da República, de 1890
preconceito de raça ou de cor).
que não trazia nenhuma alusão ao preconceito.
Penal
Verificado aqui no Brasil o movimento de Vargas,
 Código Penal Brasileiro (art. 140).
o Estado Novo, adotamos uma nova codificação penal que é
o Código Penal de 1940.
INTRODUÇÃO
Ocorrendo a revolução de 1964, partimos também
para um novo código penal; foi o código de 1969, que não
O problema do racismo é antigo. A legislação
entrou em vigor, por circunstâncias diversas.Continua em
penal positiva brasileira vigora na égide do Código Penal de
vigor o código de 1940, com muitas modificações e
1940, da era getulista. Voltando no tempo, o código penal
alterações.No código de 1940 não há nenhum dispositivo a
em vigor era o da República, de 1890; antes dele o Código
respeito de racismo ou de preconceito.
Criminal do Império de 1830 e antes do código do Império,
vigoravam as Ordenações Filipinas, Livro V.
Uma lei de 1951, a lei 1390/51 - Lei Afonso racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito
Arinos, dizia: "constitui infração penal (contravenção penal) à pena de reclusão nos termos da Lei”.
punida nos termos dessa lei, a recusa por estabelecimento Constata-se, contudo, que mesmo após mais de cem
comercial ou de ensino, de qualquer natureza, de hospedar, anos da abolição da escravatura encontramos preconceitos
servir, atender ou receber clientes, comprador ou não, o constrangedores de um indivíduo em relação a seu
preconceito de raça ou de cor". semelhante, resultado de um triste legado da colonização e
O que temos, através dessa lei e de leis posteriores, do imperialismo opressor, dominador e explorador.
é o combate ao preconceito, à chamada ação discriminatória,
que nem sempre envolve raça. 2. Legislações “Anti-discriminação”
Quando falamos em racismo, limitamos a área de
incidência do preconceito. As manifestações preconceituosas 2.1. Lei nº 1.390/1951 – Lei Afonso Arinos
são muitas: podem envolver a raça, cor, idade, sexo, grupo Texto legal de importantíssima relevância na História
social etc. brasileira, não muito por suas penas, mas pelo simples
Preconceito é uma infração genérica; neste gênero reconhecimento da existência do racismo no Brasil, tão
chamamos de preconceito de: raça, cor, estado civil, sexo, frequente na realidade e não tendo sido reconhecido
inclinação religiosa etc. O preconceito é considerado legalmente até então. Tomou, assim, rumo completamente
contravenção penal. diferente das Leis de condutas omissas que a antecederam.
O que a lei pune é o preconceito apenas de raça e Assim, com a promulgação da referida Lei, não havia mais
cor. Preconceito é gênero; o que se combate realmente é o como negar a existência do racismo. Todavia, tal diploma
preconceito. legislativo sofreu inúmeras críticas, vez que caracterizava as
Em 1985, 34 anos depois da Lei Afonso Arinos, foi ações preconceituosas como meras contravenções penais,
promulgada a lei nº 7437/85. Essa lei continua a considerar puníveis com 1 ano de prisão simples e com multas entre 15
os comportamentos preconceituosos, meramente dias a 3 meses, bem como suas condutas eram pouco
contravenção penal. Pela lei, a contravenção foi estendida abrangentes, o que gerava dificuldade na aplicação da Lei.
para preconceito de: raça, cor, sexo, estado civil. Outra crítica que merece ser tecida com relação à referida
A ideia central continua a ser preconceito, mas a lei Lei diz respeito à penalização apenas das condutas
evoluiu pois aumentou o número de crimes de natureza preconceituosas geradas por preconceito de raça ou cor,
preconceituosa. Preconceito de sexo é não permitir por ignorando aqueles advindos de etnia, religião, procedência
exemplo a entrada de mulheres desacompanhadas em nacional, classe social, sexo e estado civil. Estes dois
determinados lugares; isto acontecia em certos últimos foram remediados pelo legislador com a Lei nº
estabelecimentos em São Paulo, tais como boates, bares 7.437/1985, trazendo nova redação à Lei Afonso Arinos,
dançantes etc. aumentando a gama das possíveis vítimas ao prever também
O legislador constituinte ofereceu proteção à como infração penal o preconceito por sexo ou estado civil.
igualdade entre todos os seres humanos ao definir que “a lei O preconceito por raça surge em patamar constitucional
punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos e somente a partir da Carta da República de 1967.
liberdades fundamentais” (art. 5º, inciso XLI, CF). Esse A Lei Afonso Arinos foi derrogada pela Lei 7.716/1989,
trato igualitário entre todos, base das democracias modernas, podendo ainda ser aplicada apenas contra preconceitos por
proíbe a prática de discriminações e preconceitos sexo ou estado civil.
decorrentes de raça, cor, origem étnica, preferência religiosa
e procedência nacional, o que constitui odiosa e histórica CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988
afronta ao princípio isonômico. (ARTIGOS 1º,3º,4º E 5º)
Mais enfática é, nossa Constituição Federal, ao
estabelecer em seu artigo 5o, XLII, que: “a prática do TÍTULO I - Dos Princípios Fundamentais
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união Min. Celso de Mello, DJ 23/05/90) file:///K|/STF%20-
indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, %20CF.htm (1 of 574)17/08/2005 13:02:39
constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como
fundamentos: I - a soberania;
I - a soberania; “O mero procedimento citatório não produz qualquer
II - a cidadania; efeito atentatório à soberania nacional ou à ordem
III - a dignidade da pessoa humana; pública, apenas possibilita o conhecimento da ação que
IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; tramita perante a justiça alienígena e faculta a apresentação
V - o pluralismo político. de defesa”. (CR 10.849-AgR, Rel. Min. Maurício Corrêa, DJ
"Inexistente atribuição de competência exclusiva à União, 21/05/04)
não ofende a Constituição do Brasil norma constitucional
estadual que dispõe sobre aplicação, interpretação e II - a cidadania
integração de textos normativos estaduais, em conformidade "Ninguém é obrigado a cumprir ordem ilegal, ou a ela se
com a Lei de Introdução ao Código Civil. Não há falar-se submeter, ainda que emanada de autoridade judicial. Mais: é
em quebra do pacto federativo e do princípio da dever de cidadania opor-se à ordem ilegal; caso contrário,
interdependência e harmonia entre os poderes em razão da nega-se o Estado de Direito." (HC 73.454, Rel. Min.
aplicação de princípios jurídicos ditos 'federais' na Maurício Corrêa, DJ
interpretação de textos normativos estaduais. Princípios são
normas jurídicas de um determinado direito, no caso, do III - a dignidade da pessoa humana;
direito brasileiro. Não há princípios jurídicos aplicáveis no "A duração prolongada, abusiva e irrazoável da prisão
território de um, mas não de outro ente federativo, sendo cautelar de alguém ofende, de modo frontal, o postulado da
descabida a classificação dos princípios em 'federais' e dignidade da pessoa humana, que representa
'estaduais'." (ADI 246, Rel. Min. Eros Grau, DJ 29/04/05) considerada a centralidade desse princípio essencial (CF,
“Se é certo que a Nova Carta Política contempla um elenco art. 1º, I) significativo vetor interpretativo, verdadeiro valor-
menos abrangente de princípios constitucionais sensíveis, a fonte que conforma e inspira todo o ordenamento
denotar, com isso, a expansão de poderes jurídicos na esfera constitucional vigente em nosso País e que traduz, de modo
das coletividades autônomas locais, o mesmo não se pode expressivo, um dos fundamentos em que se assenta, entre
afirmar quanto aos princípios federais extensíveis e aos nós, a ordem republicana e democrática consagrada pelo
princípios constitucionais estabelecidos, os quais, embora sistema de direito constitucional positivo." (HC 85.988-MC,
disseminados pelo texto constitucional, posto que não é Rel. Min. Celso de Mello, DJ 10/06/05).
tópica a sua localização, configuram acervo expressivo de “A mera instauração de inquérito, quando evidente a
limitações dessa autonomia local, cuja identificação – até atipicidade da conduta, constitui meio hábil a impor
mesmo pelos efeitos restritivos que deles decorrem – impõe- violação aos direitos fundamentais, em especial ao
se realizar. A questão da necessária observância ou não, princípio da dignidade humana”. (HC 82.969, Rel. Min.
pelos Estados-Membros, das normas e princípios inerentes Gilmar Mendes, DJ 17/10/03)
ao processo legislativo, provoca a discussão sobre o alcance “Sendo fundamento da República Federativa do Brasil a
do poder jurídico da União Federal de impor, ou não, às dignidade da pessoa humana, o exame da
demais pessoas estatais que integram a estrutura da constitucionalidade de ato normativo faz-se considerada a
federação, o respeito incondicional a padrões heterônomos impossibilidade de o Diploma Maior permitir a exploração
por ela própria instituídos como fatores de compulsória do homem pelo homem. O credenciamento de profissionais
aplicação. (...) Da resolução dessa questão central, emergirá do volante para atuar na praça implica ato do administrador
a definição do modelo de federação a ser efetivamente que atende às exigências próprias à permissão e que
observado nas práticas institucionais.” (ADI 216-MC, Rel. objetiva, em verdadeiro saneamento social, o endosso de lei
viabilizadora da transformação, balizada no tempo, de
taxistas auxiliares em permissionários.” (RE 359.4, Rel. (CF, art. 4º, VIII), além de haver qualificado o terrorismo,
Min. Carlos Velloso, DJ 28/05/04) para efeito de repressão interna, como crime equiparável aos
“O direito ao nome insere-se no conceito de dignidade da delitos hediondos, o que o expõe, sob tal perspectiva, a
pessoa humana, princípio alçado a fundamento da República tratamento jurídico impregnado de máximo rigor, tornando-
Federativa do Brasil”. (RE 248.869, Rel. Min. Maurício o inafiançável e insuscetível da clemência soberana do
Corrêa, DJ 12/03/04) Estado e reduzindo-o, ainda, à dimensão ordinária dos
Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce crimes meramente comuns (CF, art. 5º, XLIII). A
por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos Constituição da República, presentes tais vetores
termos desta Constituição. interpretativos (CF, art. 4º, VIII, e art. 5º, XLIII), não
autoriza que se outorgue, às práticas delituosas de caráter
Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da terrorista, o mesmo tratamento benigno dispensado ao autor
República Federativa do Brasil: de crimes políticos ou de opinião, impedindo, desse modo,
I - construir uma sociedade livre, justa e solidária; que se venha a estabelecer, em torno do terrorista, um
II - garantir o desenvolvimento nacional; inadmissível círculo de proteção que o faça imune ao poder
III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as extradicional do Estado brasileiro, notadamente se se tiver
desigualdades sociais e regionais; em consideração a relevantíssima circunstância de que a
IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de Assembleia Nacional Constituinte formulou um claro e
origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de inequívoco juízo de desvalor em relação a quaisquer atos
discriminação. delituosos revestidos de índole terrorista, a estes não
reconhecendo a dignidade de que muitas vezes se acha
Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas impregnada a prática da criminalidade política." (Ext 855,
suas relações internacionais pelos seguintes princípios: Rel. Min. Celso de Mello, DJ
I - independência nacional; Parágrafo único. A República Federativa do Brasil buscará a
II - prevalência dos direitos humanos; integração econômica, política, social e cultural dos povos
III - autodeterminação dos povos; da América Latina, visando à formação de uma comunidade
IV - não-intervenção; latino-americana de nações.
V - igualdade entre os Estados;
VI - defesa da paz; TÍTULO II - Dos Direitos e Garantias Fundamentais
VII - solução pacífica dos conflitos;
VIII - repúdio ao terrorismo e ao racismo; Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de
IX - cooperação entre os povos para o progresso da qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
humanidade; estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à
X - concessão de asilo político. vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade,
nos termos seguintes:
VIII - repúdio ao terrorismo e ao racismo;
"O repúdio ao terrorismo: um compromisso ético-jurídico "(...) é consentânea com a Carta da República previsão
assumido pelo Brasil, quer em face de sua própria normativa asseguradora, ao militar e ao dependente
Constituição, quer perante a comunidade internacional. Os estudante, do acesso a instituição de ensino na localidade
atos delituosos de natureza terrorista, considerados os para onde é removido. Todavia, a transferência do local do
parâmetros consagrados pela vigente Constituição da serviço não pode se mostrar verdadeiro mecanismo para
República, não se subsumem à noção de criminalidade lograr-se a transposição da seara particular para a pública,
política, pois a Lei Fundamental proclamou o repúdio ao sob pena de se colocar em plano secundário a isonomia —
terrorismo como um dos princípios essenciais que devem artigo 5º, cabeça e inciso I —, a impessoalidade, a
reger o Estado brasileiro em suas relações internacionais moralidade na Administração Pública, a igualdade de
condições para o acesso e permanência na escola "Promoção de militares dos sexos masculino e feminino:
superior, prevista no inciso I do artigo 206, bem como a critérios diferenciados: carreiras regidas por legislação
viabilidade de chegar-se a níveis mais elevados do ensino, específica: ausência de violação ao princípio da isonomia:
no que o inciso V do artigo 208 vincula o fenômeno à precedente (RE 225.721, Ilmar Galvão, DJ 24/04/2000)."
capacidade de cada qual." (ADI 3.324, voto do Min. (AI 511.131-AgR, Rel.Min. Sepúlveda Pertence, DJ
Marco Aurélio, DJ 05/08/05) 15/04/05)
"A vedação constitucional de diferença de critério de I - ninguém será submetido a tortura nem a tratamento
admissão por motivo de idade (CF, art. 7º, X) é corolário, na desumano ou degradante;
esfera das relações de trabalho, do princípio fundamental de
igualdade, que se entende, à falta de exclusão constitucional “Limitações à liberdade de manifestação do pensamento,
inequívoca (como ocorre em relação aos militares - CF, art. pelas suas variadas formas. Restrição que há de estar
42, § 1º), a todo o sistema do pessoal civil. É ponderável, explícita ou implicitamente prevista na própria
não obstante, a ressalva das hipóteses em que a limitação de Constituição.” (ADI 869, Rel. Min. Ilmar Galvão, DJ
idade se possa legitimar como imposição da natureza e das 04/06/04) file:///K|/STF%20-%20CF.htm (12 of
atribuições do cargo a preencher." (RMS 21.046, Rel. Min. 574)17/08/2005 13:02:39
Sepúlveda Pertence, DJ 14/1/91). No mesmo sentido: RE
141.357, DJ 08/10/04; RE 212.066, DJ 12/03/9. VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença,
sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e
“O princípio da isonomia, que se reveste de auto- garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto
aplicabilidade, não é - enquanto postulado fundamental de e a suas liturgias;
nossa ordem político-jurídica - suscetível de regulamentação VII - é assegurada, nos termos da lei, a prestação de
ou de complementação normativa. Esse princípio – cuja assistência religiosa nas entidades civis e militares de
observância vincula, incondicionalmente, todas as internação coletiva;
manifestações do Poder Público – deve ser considerado, em VIII - ninguém será privado de direitos por motivo de crença
sua precípua função de obstar discriminações e de extinguir religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as
privilégios (RDA 5/114), sob duplo aspecto: (a) o da invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e
igualdade na lei e (b) o da igualdade perante a lei. A recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei;
igualdade na lei - que opera numa fase de generalidade IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística,
puramente abstrata - constitui exigência destinada ao científica e de comunicação, independentemente de censura
legislador que, no processo de sua formação, nela não ou licença;
poderá incluir fatores de discriminação, responsáveis pela
ruptura da ordem isonômica. A igualdade perante a lei, XLII - a prática do racismo constitui crime inafiançável
contudo, pressupondo lei já elaborada, traduz imposição e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos
destinada aos demais poderes estatais, que, na aplicação da da lei;
norma legal, não poderão subordiná-la a critérios que ...........................................
ensejem tratamento seletivo ou discriminatório. A eventual
inobservância desse postulado pelo legislador imporá ao ato § 1º - As normas definidoras dos direitos e garantias
estatal por ele elaborado e produzido a eiva de fundamentais têm aplicação imediata.
inconstitucionalidade.” (MI 58, Rel. Min. Celso de Mello, § 2º - Os direitos e garantias expressos nesta Constituição
DJ 19/04/91) não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios
por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a
I - homens e mulheres são iguais em direitos e República Federativa do Brasil seja parte.
obrigações, nos termos desta Constituição;
A Constituição de 1988, em seu art. 5º - inc. XLII, II - manter intercâmbio cultural ou desportivo, através de
passou a considerar a prática do racismo como crime delegações oficiais.
inafiançável e imprescritível.
O legislador falou em racismo, mas na verdade, o Art. 288 - A rede estadual de ensino e os cursos de
que ele queria dizer era preconceito. Preconceito é gênero, formação e aperfeiçoamento do servidor público civil e
do qual o racismo é uma espécie. Por racismo, entende-se militar incluirão em seus programas disciplina que valorize a
um preconceito que abrange a raça e no máximo, a cor das participação do negro na formação histórica da sociedade
pessoas. O racismo não envolve preconceito de sexo, de brasileira.
estado civil ou de outra natureza.
O racismo então deixou de ser mera contravenção Art. 289 - Sempre que for veiculada publicidade estadual
e ganhou o "status" de crime. Mas que crime? - Um crime com mais de duas pessoas, será assegurada a inclusão de
particular, extraordinário, porque esse crime está sujeito uma da raça negra.
sempre à pena de reclusão e mais do que isso, é um crime
inafiançável e mais ainda, um crime imprescritível. Art. 290 - O Dia 20 de novembro será considerado, no
É claro que o racismo é um crime muito grave, mas calendário oficial, como Dia da Consciência Negra.
fazer com que seja um crime imprescritível é um absurdo. É
preciso que o direito de punir do Estado seja limitado no LEI Nº 12.288, DE 20 DE JULHO DE 2010.
tempo; não pode um crime não prescrever nunca. Nos Institui o Estatuto da Igualdade Racial; altera as Leis nos
diplomas penais do mundo moderno, a prescrição começa a 7.716, de 5 de janeiro de 1989, 9.029, de
ser introduzida, pois a prescrição atenua aquele poder do 13 de abril de 1995, 7.347, de 24 de julho de 1985, e 10.778,
Estado de a qualquer hora poder punir. de 24 de novembro de 2003.
Para o Estado, a imprescritibilidade é uma coisa
extraordinária, mas não o é evidentemente, uma garantia O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o
para o cidadão. Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
A prescrição é um instituto moderno e soberano em
todos os códigos de todos os povos modernos. O legislador TÍTULO I
brasileiro retrocedeu séculos quando colocou como DISPOSIÇÕES PRELIMINARES
imprescritível o crime de racismo. Art. 1o Esta Lei institui o Estatuto da Igualdade Racial,
destinado a garantir à população negra a efetivação da
CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DA BAHIA igualdade de oportunidades, a defesa dos direitos étnicos
CAPÍTULO XXIII – individuais, coletivos e difusos e o combate à discriminação
“DO NEGRO” e às demais formas de intolerância étnica.
Parágrafo único. Para efeito deste Estatuto, considera-se:
Art. 286 - A sociedade baiana é cultural e historicamente I - discriminação racial ou étnico-racial: toda distinção,
marcada pela presença da comunidade afro-brasileira, exclusão, restrição ou preferência baseada em raça, cor,
constituindo a prática do racismo crime inafiançável e descendência ou origem nacional ou étnica que tenha por
imprescritível, sujeito a pena de reclusão, nos termos da objeto anular ou restringir o reconhecimento, gozo ou
Constituição Federal. exercício, em igualdade de condições, de direitos humanos e
liberdades fundamentais nos campos político, econômico,
Art. 287 - Com países que mantiverem política oficial de social, cultural ou em qualquer outro campo da vida pública
discriminação racial, o Estado não poderá: ou privada;
I - admitir participação, ainda que indireta, através de II - desigualdade racial: toda situação injustificada de
empresas neles sediadas, em qualquer processo licitatório da diferenciação de acesso e fruição de bens, serviços e
Administração Pública direta ou indireta;
oportunidades, nas esferas pública e privada, em virtude de superação das desigualdades étnicas decorrentes do
raça, cor, descendência ou origem nacional ou étnica; preconceito e da discriminação étnica;
III - desigualdade de gênero e raça: assimetria existente no IV - promoção de ajustes normativos para aperfeiçoar o
âmbito da sociedade que acentua a distância social entre combate à discriminação étnica e às desigualdades étnicas
mulheres negras e os demais segmentos sociais; em todas as suas manifestações individuais, institucionais e
IV - população negra: o conjunto de pessoas que se estruturais;
autodeclaram pretas e pardas, conforme o quesito cor ou V - eliminação dos obstáculos históricos, socioculturais e
raça usado pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e institucionais que impedem a representação da diversidade
Estatística (IBGE), ou que adotam autodefinição análoga; étnica nas esferas pública e privada;
V - políticas públicas: as ações, iniciativas e programas VI - estímulo, apoio e fortalecimento de iniciativas oriundas
adotados pelo Estado no cumprimento de suas atribuições da sociedade civil direcionadas à promoção da igualdade de
institucionais; oportunidades e ao combate às desigualdades étnicas,
VI - ações afirmativas: os programas e medidas especiais inclusive mediante a implementação de incentivos e critérios
adotados pelo Estado e pela iniciativa privada para a de condicionamento e prioridade no acesso aos recursos
correção das desigualdades raciais e para a promoção da públicos;
igualdade de oportunidades. VII - implementação de programas de ação afirmativa
destinados ao enfrentamento das desigualdades étnicas no
Art. 2o É dever do Estado e da sociedade garantir a tocante à educação, cultura, esporte e lazer, saúde,
igualdade de oportunidades, reconhecendo a todo cidadão segurança, trabalho,
brasileiro, independentemente da etnia ou da cor da pele, o moradia, meios de comunicação de massa, financiamentos
direito à participação na comunidade, especialmente nas públicos, acesso à terra, à Justiça, e
atividades políticas, econômicas, empresariais, educacionais, outros.
culturais e esportivas, defendendo sua dignidade e seus Parágrafo único. Os programas de ação afirmativa
valores religiosos e constituir-se-ão em políticas públicas destinadas a reparar as
culturais. distorções e desigualdades sociais e demais práticas
discriminatórias adotadas, nas esferas pública e privada,
Art. 3o Além das normas constitucionais relativas aos durante o processo de formação social do País.
princípios fundamentais, aos direitos e garantias
fundamentais e aos direitos sociais, econômicos e culturais, Art. 5o Para a consecução dos objetivos desta Lei, é
o Estatuto da Igualdade Racial adota como diretriz político- instituído o Sistema Nacional de Promoção da Igualdade
jurídica a inclusão das vítimas de desigualdade étnico-racial, Racial (Sinapir), conforme estabelecido no Título III.
a valorização da igualdade étnica e o fortalecimento da
identidade nacional brasileira. TÍTULO II
DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS
Art. 4o A participação da população negra, em condição de CAPÍTULO I
igualdade de oportunidade, na vida econômica, social, DO DIREITO À SAÚDE
política e cultural do País será promovida, prioritariamente,
por meio de: Art. 6o O direito à saúde da população negra será garantido
I - inclusão nas políticas públicas de desenvolvimento pelo poder público mediante políticas universais, sociais e
econômico e social; econômicas destinadas à redução do risco de doenças e de
II - adoção de medidas, programas e políticas de ação outros agravos.
afirmativa; § 1o O acesso universal e igualitário ao Sistema Único de
III - modificação das estruturas institucionais do Estado para Saúde (SUS) para promoção, proteção e recuperação da
o adequado enfrentamento e a saúde da população negra será de responsabilidade dos
órgãos e instituições públicas federais, estaduais, distritais e DO DIREITO À EDUCAÇÃO, À CULTURA, AO
municipais, da administração direta e indireta. ESPORTE E AO LAZER
§ 2o O poder público garantirá que o segmento da população
negra vinculado aos seguros privados de saúde seja tratado Seção I
sem discriminação. Disposições Gerais
Art. 7o O conjunto de ações de saúde voltadas à população Art. 9o A população negra tem direito a participar de
negra constitui a Política Nacional de Saúde Integral da atividades educacionais, culturais,esportivas e de lazer
População Negra, organizada de acordo com as diretrizes adequadas a seus interesses e condições, de modo a
abaixo especificadas: contribuir para o patrimônio cultural de sua comunidade e
I - ampliação e fortalecimento da participação de lideranças da sociedade brasileira.
dos movimentos sociais em defesa da saúde da população Art. 10. Para o cumprimento do disposto no art. 9o, os
negra nas instâncias de participação e controle social do governos federal, estaduais, distrital e municipais adotarão
SUS; as seguintes providências:
II - produção de conhecimento científico e tecnológico em I - promoção de ações para viabilizar e ampliar o acesso da
saúde da população negra; população negra ao ensino
III - desenvolvimento de processos de informação, gratuito e às atividades esportivas e de lazer;
comunicação e educação para contribuir com a redução das II - apoio à iniciativa de entidades que mantenham espaço
vulnerabilidades da população negra. para promoção social e cultural da população negra;
Art. 8o Constituem objetivos da Política Nacional de Saúde III - desenvolvimento de campanhas educativas, inclusive
Integral da População Negra: nas escolas, para que a solidariedade aos membros da
I - a promoção da saúde integral da população negra, população negra faça parte da cultura de toda a sociedade;
priorizando a redução das desigualdades étnicas e o combate IV - implementação de políticas públicas para o
à discriminação nas instituições e serviços do SUS; fortalecimento da juventude negra brasileira.
II - a melhoria da qualidade dos sistemas de informação do
SUS no que tange à coleta, ao processamento e à análise dos Seção II
dados desagregados por cor, etnia e gênero; Da Educação
III - o fomento à realização de estudos e pesquisas sobre
racismo e saúde da população negra; Art. 11. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e de
IV - a inclusão do conteúdo da saúde da população negra ensino médio, públicos e privados, é obrigatório o estudo da
nos processos de formação e educação permanente dos história geral da África e da história da população negra no
trabalhadores da saúde; Brasil, observado o disposto na Lei no 9.394, de 20 de
V - a inclusão da temática saúde da população negra nos dezembro de 1996.
processos de formação política das lideranças de § 1o Os conteúdos referentes à história da população negra
movimentos sociais para o exercício da participação e no Brasil serão ministrados no âmbito de todo o currículo
controle social no SUS. escolar, resgatando sua contribuição decisiva para o
Parágrafo único. Os moradores das comunidades de desenvolvimento social, econômico, político e cultural do
remanescentes de quilombos serão beneficiários de País.
incentivos específicos para a garantia do direito à saúde, § 2o O órgão competente do Poder Executivo fomentará a
incluindo melhorias nas condições ambientais, no formação inicial e continuada de professores e a elaboração
saneamento básico, na segurança alimentar e nutricional e de material didático específico para o cumprimento do
na atenção integral à saúde. disposto no caput deste artigo.
§ 3o Nas datas comemorativas de caráter cívico, os órgãos
CAPÍTULO II responsáveis pela educação
incentivarão a participação de intelectuais e representantes
do movimento negro para debater com Art. 17. O poder público garantirá o reconhecimento das
os estudantes suas vivências relativas ao tema em sociedades negras, clubes e outras formas de manifestação
comemoração. coletiva da população negra, com trajetória histórica
Art. 12. Os órgãos federais, distritais e estaduais de fomento comprovada, como patrimônio histórico e cultural, nos
à pesquisa e à pós-graduação poderão criar incentivos a termos dos arts. 215 e 216 da Constituição Federal.
pesquisas e a programas de estudo voltados para temas Art. 18. É assegurado aos remanescentes das comunidades
referentes às relações étnicas, aos quilombos e às questões dos quilombos o direito à preservação de seus usos,
pertinentes à população negra. costumes, tradições e manifestos religiosos, sob a proteção
Art. 13. O Poder Executivo federal, por meio dos órgãos do Estado.
competentes, incentivará as instituições de ensino superior Parágrafo único. A preservação dos documentos e dos sítios
públicas e privadas, sem prejuízo da legislação em vigor, a: detentores de reminiscências históricas dos antigos
I - resguardar os princípios da ética em pesquisa e apoiar quilombos, tombados nos termos do § 5o do art. 216 da
grupos, núcleos e centros de pesquisa, nos diversos Constituição Federal, receberá especial atenção do poder
programas de pós-graduação que desenvolvam temáticas de público.
interesse da população negra; Art. 19. O poder público incentivará a celebração das
II - incorporar nas matrizes curriculares dos cursos de personalidades e das datas comemorativas relacionadas à
formação de professores temas que incluam valores trajetória do samba e de outras manifestações culturais de
concernentes à pluralidade étnica e cultural da sociedade matriz africana, bem como sua comemoração nas
brasileira; instituições de ensino públicas e privadas.
III - desenvolver programas de extensão universitária Art. 20. O poder público garantirá o registro e a proteção da
destinados a aproximar jovens negros de tecnologias capoeira, em todas as suas modalidades, como bem de
avançadas, assegurado o princípio da proporcionalidade de natureza imaterial e de formação da identidade cultural
gênero entre os beneficiários; brasileira, nos termos do art. 216 da Constituição Federal.
IV - estabelecer programas de cooperação técnica, nos Parágrafo único. O poder público buscará garantir, por meio
estabelecimentos de ensino públicos, dos atos normativos necessários, a preservação dos
privados e comunitários, com as escolas de educação elementos formadores tradicionais da capoeira nas suas
infantil, ensino fundamental, ensino médio e ensino técnico, relações
para a formação docente baseada em princípios de equidade, internacionais.
de tolerância e de respeito às diferenças étnicas.
Art. 14. O poder público estimulará e apoiará ações Seção IV
socioeducacionais realizadas por entidades do movimento Do Esporte e Lazer
negro que desenvolvam atividades voltadas para a inclusão
social, mediante cooperação técnica, intercâmbios, Art. 21. O poder público fomentará o pleno acesso da
convênios e incentivos, entre outros mecanismos. população negra às práticas desportivas, consolidando o
Art. 15. O poder público adotará programas de ação esporte e o lazer como direitos sociais.
afirmativa. Art. 22. A capoeira é reconhecida como desporto de criação
Art. 16. O Poder Executivo federal, por meio dos órgãos nacional, nos termos do art. 217 da Constituição Federal.
responsáveis pelas políticas de promoção da igualdade e de § 1o A atividade de capoeirista será reconhecida em todas as
educação, acompanhará e avaliará os programas de que trata modalidades em que a capoeira se manifesta, seja como
esta Seção. esporte, luta, dança ou música, sendo livre o exercício em
todo o território nacional.
Seção III
Da Cultura
§ 2o É facultado o ensino da capoeira nas instituições Art. 26. O poder público adotará as medidas necessárias
públicas e privadas pelos capoeiristas e mestres tradicionais, para o combate à intolerância com as religiões de matrizes
pública e formalmente reconhecidos. africanas e à discriminação de seus seguidores,
especialmente com o objetivo de:
CAPÍTULO III I - coibir a utilização dos meios de comunicação social para
DO DIREITO À LIBERDADE DE CONSCIÊNCIA E DE a difusão de proposições, imagens ou abordagens que
CRENÇA E AO LIVRE EXERCÍCIO DOS exponham pessoa ou grupo ao ódio ou ao desprezo por
CULTOS RELIGIOSOS motivos fundados na religiosidade de matrizes africanas;
II - inventariar, restaurar e proteger os documentos, obras e
Art. 23. É inviolável a liberdade de consciência e de crença, outros bens de valor artístico e cultural, os monumentos,
sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e mananciais, flora e sítios arqueológicos vinculados às
garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a religiões de matrizes africanas;
suas liturgias. III - assegurar a participação proporcional de representantes
Art. 24. O direito à liberdade de consciência e de crença e das religiões de matrizes africanas, ao lado da representação
ao livre exercício dos cultos religiosos de matriz africana das demais religiões, em comissões, conselhos, órgãos e
compreende: outras instâncias de deliberação vinculadas ao poder
I - a prática de cultos, a celebração de reuniões relacionadas público.
à religiosidade e a fundação e manutenção, por iniciativa
privada, de lugares reservados para tais fins; CAPÍTULO IV
II - a celebração de festividades e cerimônias de acordo com DO ACESSO À TERRA E À MORADIA ADEQUADA
preceitos das respectivas religiões; Seção I
III - a fundação e a manutenção, por iniciativa privada, de Do Acesso à Terra
instituições beneficentes ligadas às respectivas convicções Art. 27. O poder público elaborará e implementará políticas
religiosas; públicas capazes de promover o acesso da população negra à
IV - a produção, a comercialização, a aquisição e o uso de terra e às atividades produtivas no campo.
artigos e materiais religiosos adequados aos costumes e às Art. 28. Para incentivar o desenvolvimento das atividades
práticas fundadas na respectiva religiosidade, ressalvadas as produtivas da população negra no campo, o poder público
condutas vedadas por legislação específica; promoverá ações para viabilizar e ampliar o seu acesso ao
V - a produção e a divulgação de publicações relacionadas financiamento
ao exercício e à difusão das religiões de matriz africana; agrícola.
VI - a coleta de contribuições financeiras de pessoas naturais Art. 29. Serão assegurados à população negra a assistência
e jurídicas de natureza privada para a manutenção das técnica rural, a simplificação do acesso ao crédito agrícola e
atividades religiosas e sociais das respectivas religiões; o fortalecimento da infraestrutura de logística para a
VII - o acesso aos órgãos e aos meios de comunicação para comercialização da produção.
divulgação das respectivas religiões; Art. 30. O poder público promoverá a educação e a
VIII - a comunicação ao Ministério Público para abertura de orientação profissional agrícola para os trabalhadores negros
ação penal em face de atitudes e práticas de intolerância e as comunidades negras rurais.
religiosa nos meios de comunicação e em quaisquer outros Art. 31. Aos remanescentes das comunidades dos quilombos
locais. que estejam ocupando suas terras é reconhecida a
Art. 25. É assegurada a assistência religiosa aos praticantes propriedade definitiva, devendo o Estado emitir-lhes os
de religiões de matrizes africanas internados em hospitais ou títulos respectivos.
em outras instituições de internação coletiva, inclusive Art. 32. O Poder Executivo federal elaborará e desenvolverá
àqueles submetidos a pena privativa de liberdade. políticas públicas especiais voltadas para o desenvolvimento
sustentável dos remanescentes das comunidades dos
quilombos, respeitando as tradições de proteção ambiental
das comunidades. CAPÍTULO V
Art. 33. Para fins de política agrícola, os remanescentes das DO TRABALHO
comunidades dos quilombos receberão dos órgãos
competentes tratamento especial diferenciado, assistência Art. 38. A implementação de políticas voltadas para a
técnica e linhas especiais de financiamento público, inclusão da população negra no mercado de trabalho será de
destinados à realização de suas atividades produtivas e de responsabilidade do poder público, observando-se:
infraestrutura. I - o instituído neste Estatuto;
Art. 34. Os remanescentes das comunidades dos quilombos II - os compromissos assumidos pelo Brasil ao ratificar a
se beneficiarão de todas as iniciativas previstas nesta e em Convenção Internacional sobre a
outras leis para a promoção da igualdade étnica. Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial, de
1965;
Seção II III - os compromissos assumidos pelo Brasil ao ratificar a
Da Moradia Convenção no 111, de 1958, da Organização Internacional
do Trabalho (OIT), que trata da discriminação no emprego e
Art. 35. O poder público garantirá a implementação de na profissão;
políticas públicas para assegurar o direito à moradia IV - os demais compromissos formalmente assumidos pelo
adequada da população negra que vive em favelas, cortiços, Brasil perante a comunidade internacional.
áreas urbanas subutilizadas, degradadas ou em processo de Art. 39. O poder público promoverá ações que assegurem a
degradação, a fim de reintegrá-las à dinâmica urbana e igualdade de oportunidades no mercado de trabalho para a
promover melhorias no ambiente e na qualidade de vida. população negra, inclusive mediante a implementação de
Parágrafo único. O direito à moradia adequada, para os medidas visando à promoção da igualdade nas contratações
efeitos desta Lei, inclui não apenas o provimento do setor público e o incentivo à adoção de medidas similares
habitacional, mas também a garantia da infraestrutura nas empresas e organizações privadas.
urbana e dos equipamentos comunitários associados à § 1o A igualdade de oportunidades será lograda mediante a
função habitacional, bem como a assistência técnica e adoção de políticas e programas de formação profissional,
jurídica para a construção, a reforma ou a regularização de emprego e de geração de renda voltados para a população
fundiária da habitação em área urbana. negra.
Art. 36. Os programas, projetos e outras ações § 2o As ações visando a promover a igualdade de
governamentais realizadas no âmbito do Sistema Nacional oportunidades na esfera da administração
de Habitação de Interesse Social (SNHIS), regulado pela Lei pública far-se-ão por meio de normas estabelecidas ou a
no 11.124, de 16 de junho de 2005, devem considerar as serem estabelecidas em legislação
peculiaridades sociais, econômicas e culturais da população específica e em seus regulamentos.
negra. § 3o O poder público estimulará, por meio de incentivos, a
Parágrafo único. Os Estados, o Distrito Federal e os adoção de iguais medidas pelo setor privado.
Municípios estimularão e facilitarão a participação de § 4o As ações de que trata o caput deste artigo assegurarão
organizações e movimentos representativos da população o princípio da proporcionalidade de gênero entre os
negra na composição beneficiários.
dos conselhos constituídos para fins de aplicação do Fundo § 5o Será assegurado o acesso ao crédito para a pequena
Nacional de Habitação de Interesse produção, nos meios rural e urbano, com ações afirmativas
Social (FNHIS). para mulheres negras.
Art. 37. Os agentes financeiros, públicos ou privados, § 6o O poder público promoverá campanhas de
promoverão ações para viabilizar o acesso da população sensibilização contra a marginalização da mulher negra no
negra aos financiamentos habitacionais. trabalho artístico e cultural.
§ 7o O poder público promoverá ações com o objetivo de incluir cláusulas de participação de artistas negros nos
elevar a escolaridade e a qualificação profissional nos contratos de realização de filmes, programas ou quaisquer
setores da economia que contem com alto índice de outras peças de caráter publicitário.
ocupação por trabalhadores negros de baixa escolarização. § 1o Os órgãos e entidades de que trata este artigo incluirão,
Art. 40. O Conselho Deliberativo do Fundo de Amparo ao nas especificações para contratação de serviços de
Trabalhador (Codefat) formulará políticas, programas e consultoria, conceituação, produção e realização de filmes,
projetos voltados para a inclusão da população negra no programas ou peças publicitárias, a obrigatoriedade da
mercado de trabalho e orientará a destinação de recursos prática de iguais oportunidades de emprego para as pessoas
para seu financiamento. relacionadas com o projeto ou serviço contratado.
Art. 41. As ações de emprego e renda, promovidas por meio § 2o Entende-se por prática de iguais oportunidades de
de financiamento para constituição e ampliação de pequenas emprego o conjunto de medidas sistemáticas executadas
e médias empresas e de programas de geração de renda, com a finalidade de garantir a diversidade étnica, de sexo e
contemplarão o estímulo à promoção de empresários negros. de idade na equipe vinculada ao projeto ou serviço
Parágrafo único. O poder público estimulará as atividades contratado.
voltadas ao turismo étnico com enfoque nos locais, § 3o A autoridade contratante poderá, se considerar
monumentos e cidades que retratem a cultura, os usos e os necessário para garantir a prática de iguais oportunidades de
costumes da população negra. emprego, requerer auditoria por órgão do poder público
Art. 42. O Poder Executivo federal poderá implementar federal.
critérios para provimento de cargos em comissão e funções § 4o A exigência disposta no caput não se aplica às
de confiança destinados a ampliar a participação de negros, produções publicitárias quando abordarem especificidades
buscando reproduzir a estrutura da distribuição étnica de grupos étnicos determinados.
nacional ou, quando for o caso, estadual, observados os
dados demográficos oficiais. TÍTULO III
DO SISTEMA NACIONAL DE PROMOÇÃO DA
CAPÍTULO VI IGUALDADE RACIAL
DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO (SINAPIR)
Art. 43. A produção veiculada pelos órgãos de comunicação CAPÍTULO I
valorizará a herança cultural e a participação da população DISPOSIÇÃO PRELIMINAR
negra na história do País. Art. 47. É instituído o Sistema Nacional de Promoção da
Art. 44. Na produção de filmes e programas destinados à Igualdade Racial (Sinapir) como forma de organização e de
veiculação pelas emissoras de televisão e em salas articulação voltadas à implementação do conjunto de
cinematográficas, deverá ser adotada a prática de conferir políticas e serviços destinados a superar as desigualdades
oportunidades de emprego para atores, figurantes e técnicos étnicas existentes no País, prestados pelo poder público
negros, sendo vedada toda e qualquer discriminação de federal.
natureza política, ideológica, étnica ou artística. § 1o Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão
Parágrafo único. A exigência disposta no caput não se aplica participar do Sinapir mediante adesão.
aos filmes e programas que abordem especificidades de § 2o O poder público federal incentivará a sociedade e a
grupos étnicos determinados. iniciativa privada a participar do Sinapir.
Art. 45. Aplica-se à produção de peças publicitárias
destinadas à veiculação pelas emissoras de televisão e em CAPÍTULO II
salas cinematográficas o disposto no art. 44. DOS OBJETIVOS
Art. 46. Os órgãos e entidades da administração pública Art. 48. São objetivos do Sinapir:
federal direta, autárquica ou fundacional, as empresas
públicas e as sociedades de economia mista federais deverão
I - promover a igualdade étnica e o combate às nesta Lei aos Estados, Distrito Federal e Municípios que
desigualdades sociais resultantes do racismo, inclusive tenham criado conselhos de promoção da igualdade étnica.
mediante adoção de ações afirmativas; CAPÍTULO IV
II - formular políticas destinadas a combater os fatores de DAS OUVIDORIAS PERMANENTES E DO ACESSO À
marginalização e a promover a integração social da JUSTIÇA E À SEGURANÇA
população negra; Art. 51. O poder público federal instituirá, na forma da lei e
III - descentralizar a implementação de ações afirmativas no âmbito dos Poderes Legislativo e Executivo, Ouvidorias
pelos governos estaduais, distrital e municipais; Permanentes em Defesa da Igualdade Racial, para receber e
IV - articular planos, ações e mecanismos voltados à encaminhar denúncias de preconceito e discriminação com
promoção da igualdade étnica; base em etnia ou cor e acompanhar a implementação de
V - garantir a eficácia dos meios e dos instrumentos criados medidas para a promoção da igualdade.
para a implementação das ações afirmativas e o Art. 52. É assegurado às vítimas de discriminação étnica o
cumprimento das metas a serem estabelecidas. acesso aos órgãos de Ouvidoria Permanente, à Defensoria
CAPÍTULO III Pública, ao Ministério Público e ao Poder Judiciário, em
DA ORGANIZAÇÃO E COMPETÊNCIA todas as suas instâncias, para a garantia do cumprimento de
Art. 49. O Poder Executivo federal elaborará plano nacional seus direitos.
de promoção da igualdade racial contendo as metas, Parágrafo único. O Estado assegurará atenção às mulheres
princípios e diretrizes para a implementação da Política negras em situação de violência, garantida a assistência
Nacional de Promoção da Igualdade Racial (PNPIR). física, psíquica, social e jurídica.
§ 1o A elaboração, implementação, coordenação, avaliação e Art. 53. O Estado adotará medidas especiais para coibir a
acompanhamento da PNPIR, bem como a organização, violência policial incidente sobre a
articulação e coordenação do Sinapir, serão efetivados pelo população negra.
órgão responsável pela política de promoção da igualdade Parágrafo único. O Estado implementará ações de
étnica em âmbito nacional. ressocialização e proteção da juventude
§ 2o É o Poder Executivo federal autorizado a instituir negra em conflito com a lei e exposta a experiências de
fórum intergovernamental de promoção da igualdade étnica, exclusão social.
a ser coordenado pelo órgão responsável pelas políticas de Art. 54. O Estado adotará medidas para coibir atos de
promoção da igualdade étnica, com o objetivo de discriminação e preconceito
implementar estratégias que visem à incorporação da praticados por servidores públicos em detrimento da
política nacional de promoção da igualdade étnica nas ações população negra, observado, no que couber,
governamentais de Estados e Municípios. o disposto na Lei no 7.716, de 5 de janeiro de 1989.
§ 3o As diretrizes das políticas nacional e regional de Art. 55. Para a apreciação judicial das lesões e das ameaças
promoção da igualdade étnica serão elaboradas por órgão de lesão aos interesses da população negra decorrentes de
colegiado que assegure a participação da sociedade civil. situações de desigualdade étnica, recorrer-se-á, entre outros
Art. 50. Os Poderes Executivos estaduais, distrital e instrumentos, à ação civil pública, disciplinada na Lei no
municipais, no âmbito das respectivas esferas de 7.347, de 24 de julho de 1985.
competência, poderão instituir conselhos de promoção da CAPÍTULO V
igualdade étnica, de caráter permanente e consultivo, DO FINANCIAMENTO DAS INICIATIVAS DE
compostos por igual número de representantes de órgãos e PROMOÇÃO DA IGUALDADE RACIAL
entidades Art. 56. Na implementação dos programas e das ações
públicas e de organizações da sociedade civil representativas constantes dos planos plurianuais e dos orçamentos anuais
da população negra. da União, deverão ser observadas as políticas de ação
Parágrafo único. O Poder Executivo priorizará o repasse dos afirmativa a que se
recursos referentes aos programas e atividades previstos
refere o inciso VII do art. 4o desta Lei e outras políticas crescente dos programas de ação afirmativa nos orçamentos
públicas que tenham como objetivo promover a igualdade de anuais a que se refere o § 2o deste artigo.
oportunidades e a inclusão social da população negra, § 4o O órgão colegiado do Poder Executivo federal
especialmente no que tange a: responsável pela promoção da igualdade racial acompanhará
I - promoção da igualdade de oportunidades em educação, e avaliará a programação das ações referidas neste artigo nas
emprego e moradia; propostas orçamentárias da União.
II - financiamento de pesquisas, nas áreas de educação, Art. 57. Sem prejuízo da destinação de recursos ordinários,
saúde e emprego, voltadas para a melhoria da qualidade de poderão ser consignados nos orçamentos fiscal e da
vida da população negra; seguridade social para financiamento das ações de que trata
III - incentivo à criação de programas e veículos de o art. 56:
comunicação destinados à divulgação de matérias I - transferências voluntárias dos Estados, do Distrito
relacionadas aos interesses da população negra; Federal e dos Municípios;
IV - incentivo à criação e à manutenção de microempresas II - doações voluntárias de particulares;
administradas por pessoas autodeclaradas negras; III - doações de empresas privadas e organizações não
V - iniciativas que incrementem o acesso e a permanência governamentais, nacionais ou internacionais;
das pessoas negras na educação fundamental, média, técnica IV - doações voluntárias de fundos nacionais ou
e superior; internacionais;
VI - apoio a programas e projetos dos governos estaduais, V - doações de Estados estrangeiros, por meio de convênios,
distrital e municipais e de entidades da sociedade civil tratados e acordos internacionais.
voltados para a promoção da igualdade de oportunidades TÍTULO IV
para a população negra; DISPOSIÇÕES FINAIS
VII - apoio a iniciativas em defesa da cultura, da memória e Art. 58. As medidas instituídas nesta Lei não excluem
das tradições africanas e brasileiras. outras em prol da população negra que tenham sido ou
§ 1o O Poder Executivo federal é autorizado a adotar venham a ser adotadas no âmbito da União, dos Estados, do
medidas que garantam, em cada exercício, a transparência Distrito Federal ou dos Municípios.
na alocação e na execução dos recursos necessários ao Art. 59. O Poder Executivo federal criará instrumentos para
financiamento das ações previstas neste Estatuto, aferir a eficácia social das medidas previstas nesta Lei e
explicitando, entre outros, a proporção dos recursos efetuará seu monitoramento constante, com a emissão e a
orçamentários destinados aos programas de promoção da divulgação de relatórios periódicos, inclusive pela rede
igualdade, especialmente nas áreas de mundial de computadores.
educação, saúde, emprego e renda, desenvolvimento agrário, Art. 60. Os arts. 3o e 4o da Lei no 7.716, de 1989, passam a
habitação popular, desenvolvimento regional, cultura, vigorar com a seguinte redação:
esporte e lazer. “Art. 3o ........................................................................
§ 2o Durante os 5 (cinco) primeiros anos, a contar do Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem, por motivo
exercício subsequente à publicação deste Estatuto, os órgãos de discriminação de raça, cor, etnia, religião ou procedência
do Poder Executivo federal que desenvolvem políticas e nacional, obstar a promoção funcional.” (NR)
programas nas áreas referidas no § 1o deste artigo “Art. 4o ........................................................................
discriminarão em seus orçamentos anuais a participação nos § 1o Incorre na mesma pena quem, por motivo de
programas de ação afirmativa referidos no inciso VII do art. discriminação de raça ou de cor ou práticas resultantes do
4o desta Lei. preconceito de descendência ou origem nacional ou étnica:
§ 3o O Poder Executivo é autorizado a adotar as medidas I - deixar de conceder os equipamentos necessários ao
necessárias para a adequada implementação do disposto empregado em igualdade de condições com os demais
neste artigo, podendo estabelecer patamares de participação trabalhadores;
II - impedir a ascensão funcional do empregado ou obstar baseada no gênero, inclusive decorrente de discriminação ou
outra forma de benefício profissional; desigualdade étnica, que cause
III - proporcionar ao empregado tratamento diferenciado no morte, dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico à
ambiente de trabalho, especialmente mulher, tanto no âmbito público quanto no
quanto ao salário. privado.
§ 2o Ficará sujeito às penas de multa e de prestação de ...................................................................................” (NR)
serviços à comunidade, incluindo atividades de promoção da Art. 64. O § 3o do art. 20 da Lei no 7.716, de 1989, passa a
igualdade racial, quem, em anúncios ou qualquer outra vigorar acrescido do seguinte
forma de recrutamento de trabalhadores, exigir aspectos de inciso III:
aparência próprios de raça ou etnia para emprego cujas “Art. 20. ......................................................................
atividades não justifiquem essas exigências.” (NR) .............................................................................................
Art. 61. Os arts. 3o e 4o da Lei no 9.029, de 13 de abril de § 3o ...............................................................................
1995, passam a vigorar com a seguinte redação: .............................................................................................
“Art. 3o Sem prejuízo do prescrito no art. 2o e nos III - a interdição das respectivas mensagens ou páginas de
dispositivos legais que tipificam os crimes resultantes de informação na rede mundial de computadores.
preconceito de etnia, raça ou cor, as infrações do disposto ...................................................................................” (NR)
nesta Lei são passíveis das seguintes cominações: Art. 65. Esta Lei entra em vigor 90 (noventa) dias após a
...................................................................................” (NR) data de sua publicação.
“Art. 4o O rompimento da relação de trabalho por ato Brasília, 20 de julho de 2010; 189o da Independência e 122o
discriminatório, nos moldes desta Lei, além da República.
do direito à reparação pelo dano moral, faculta ao LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA
empregado optar entre: Eloi Ferreira de Araújo
...................................................................................” (NR) Este texto não substitui o publicado no DOU de 21.7.2010
Art. 62. O art. 13 da Lei no 7.347, de 1985, passa a vigorar
acrescido do seguinte § 2o, renumerando-se o atual LEI Nº 7.716/1989
parágrafo único como § 1o:
“Art. 13. ........................................................................ Considerada um expressivo avanço jurídico e
§ 1o ............................................................................... político, a denominada Lei Caó (por força do parlamentar
§ 2o Havendo acordo ou condenação com fundamento em Carlos Alberto Caó, autor do projeto de Lei na Câmara dos
dano causado por ato de discriminação étnica nos termos do Deputados), ou ainda Lei “Antidiscriminação” ou Lei “Anti-
disposto no art. 1o desta Lei, a prestação em dinheiro preconceito”, veio para suprir as falhas que foram deixadas
reverterá diretamente ao fundo de que trata o caput e será pela Lei Afonso Arinos.
utilizada para ações de promoção da igualdade étnica, Aparece a Lei Caó no cenário jurídico por força da
conforme definição do Conselho Nacional de Promoção da Constituição de 1988, que conferiu suporte constitucional ao
Igualdade Racial, na hipótese de extensão nacional, ou dos legislador ordinário. Promulgada em 5 de janeiro de 1989, a
Conselhos de Promoção de Igualdade Racial estaduais ou Lei Caó inovou ao caracterizar a prática de racismo como
locais, nas crime, em um cenário aonde este era considerado apenas
hipóteses de danos com extensão regional ou local, uma contravenção penal, ensejando às pessoas que
respectivamente.” (NR) cometessem atos discriminatórios os benefícios da
Art. 63. O § 1o do art. 1o da Lei no 10.778, de 24 de primariedade, do simples pagamento de multas etc., sem
novembro de 2003, passa a vigorar com a seguinte redação: que, de fato, fossem condenadas e cumprissem pena em
“Art. 1o ....................................................................... estabelecimentos carcerários. Ou seja, a prática do racismo
§ 1o Para os efeitos desta Lei, entende-se por violência vinha sendo estimulada de forma crescente, sem que o
contra a mulher qualquer ação ou conduta,
Estado, detentor de uma máquina policial-judiciária lenta e legislação que a precedia), relegando ao esquecimento
ineficiente viesse a punir os culpados. àquelas resultantes de preconceito por etnia, religião,
Nesta linha, a antiga Lei Afonso Arinos representou à sua procedência nacional, preferência sexual ou classe social.
época seu papel, que guarda extrema importância na Assim, fizeram-se necessárias alterações legislativas nesse
História, porém, imperiosa era a promulgação de uma nova sentido, e isto se deu através das Leis 8.081/90, 8.882/94 e
Lei, que representasse fielmente a realidade. 9.459/97, sendo que esta última representou a modificação
Não obstante a frequente negação – talvez por conta de uma mais importante.
vergonha moral – de que o Brasil represente um país de Esta última Lei modificadora deu nova redação ao artigo
discriminadores, resta claro que estes existem e agem 1o da Lei Caó, passando este a ter como conduta criminosa
sorrateiramente, nos balcões de lojas, hotéis, locais públicos, não apenas os atos praticados por discriminação ou
ou ainda em simples gracejos cotidianos. Por esse prisma, preconceito por raça ou cor, mas também aqueles advindos
salta aos olhos a importância jurídica da Lei 7.716/89. de discriminação ou preconceito por etnia, religião ou
procedência nacional.
LEI 7.716 DE 05/01/1989 - DOU 06/01/1989 Lamentável porém foi o legislador ordinário não ter tratado,
nesta última alteração legislativa, dos atos discriminatórios
Define os Crimes Resultantes de Preconceitos de por sexo, estado civil ou orientação sexual. Vale lembrar
Raça ou de Cor. que estes dois primeiros permanecem como simples
ART. 20 - Praticar, induzir ou incitar, pelos meios contravenções penais por conta da Lei nº 7.437/1985. Já
de comunicação social ou por publicação de qualquer com relação ao preconceito por orientação sexual, não há lei
natureza, a discriminação ou preconceito de raça, cor, que trate do assunto, o que gera impunidade, uma vez que os
religião, etnia ou procedência nacional (grifo nosso). homossexuais são frequentemente vítimas de discriminação
Pena: reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos. e preconceito.
É apenas através da mídia, através da imprensa. A Outra importante alteração trazida pela Lei nº 9.459/97 foi a
Lei, limitou esses atos, característicos de crime, à chamada introdução do artigo 20 na Lei Anti-discriminação, qual seja:
publicação, aos anúncios em jornais e outros meios de “Art. 20 - Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou
comunicação. preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência
Antes da lei, haviam anúncios de empregados nacional. Pena: reclusão de 1 (um) a 3 (três) anos e multa.
procurados nos jornais, que davam preferência a candidatos § 1º - Fabricar, comercializar, distribuir ou veicular
nisseis, candidatos de orígem alemã, americana e assim por símbolos, emblemas, ornamentos, distintivos ou propaganda
diante, criando uma barreira às pessoas de outras que utilizem a cruz suástica ou gamada, para fins de
nacionalidades. divulgação do nazismo. Pena: reclusão de 2 (dois) a 5
(cinco) anos e multa. § 2º - Se qualquer dos crimes previstos
2.3. Alterações legislativas da Lei 7.716/1989 no caput é cometido por intermédio dos meios de
comunicação social ou publicação de qualquer natureza:
A Lei 7.716/89, à sua promulgação, não trouxe condutas Pena: reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos e multa. § 3º -
típicas inovadoras, reproduzindo grande parte da Lei Afonso No caso do parágrafo anterior, o juiz poderá determinar,
Arinos, Lei combatente ao racismo que estava vigendo à ouvido o Ministério Público ou a pedido deste, ainda antes
época. do inquérito policial, sob pena de desobediência: I - o
Tal fato fez com que referida Lei fosse alvo de críticas, por recolhimento imediato ou a busca e apreensão dos
parte dos movimentos de grupos discriminados, bem como exemplares do material respectivo; II - a cessação das
pela doutrina especializada, isso porque a Lei 7.716/89, tão respectivas transmissões radiofônicas ou televisivas. § 4º -
importante por elevar a prática de racismo de contravenção Na hipótese do § 2º, constitui efeito da condenação, após o
penal a crime, continuou a penalizar apenas as condutas trânsito em julgado da decisão, a destruição do material
preconceituosas por raça ou cor (exatamente como a apreendido.”
Este artigo aumentou consideravelmente a possibilidade da Pena - prisão simples, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e
adequação típica das condutas preconceituosas, pois, multa de 3 (três) a 10 (dez)
tratando-se de crime de execução livre, qualquer prática, vezes o maior valor de referência (MVR).
induzimento ou incitação à discriminação ou preconceito Art 4º - Recusar a venda de mercadoria em lojas de
por força de raça, cor, etnia, religião ou procedência qualquer gênero ou o atendimento
nacional tipifica o crime. de clientes em restaurantes, bares, confeitarias ou locais
Esta última alteração ainda modificou o art. 140 do Código semelhantes, abertos ao
o
Penal, acrescentando-lhe seu parágrafo 3 , prevendo a público, por preconceito de raça, de cor, de sexo ou de
injúria qualificada pelos elementos de raça, cor, etnia, estado civil.
religião e origem, dando-lhe a mesma pena do crime do Pena - prisão simples, de 15 (quinze) dias a 3 (três) meses, e
artigo 20, caput, da lei especial. multa de 1 (uma) a 3 (três) vezes o maior valor de referência
o
O §3 do artigo 140 do Código Penal, recebeu nova (MVR).
alteração pela Lei nº 10.741/2003, acrescentando-lhe ainda, Art 5º - Recusar a entrada de alguém em estabelecimento
além da injúria qualificada dita acima, também aquela por público, de diversões ou deesporte, por preconceito de raça,
força de pessoa idosa ou portadora de deficiência. Bem de cor, de sexo ou de estado civil.
como, a partir da Lei 12.033/09, passou a ser perseguido Pena - prisão simples, de 15 (quinze) dias a 3 (três) meses, e
mediante ação penal pública mediante representação do multa de 1 (uma) a 3 (três) vezes o maior valor de referência
ofendido (art. 145, parágrafo único, do Código Penal). (MVR).
Christiano Jorge Santos comenta ainda que não obstante as Art 6º - Recusar a entrada de alguém em qualquer tipo de
três alterações providenciadas na Lei 7.716/89, não cuidou o estabelecimento comercial ou de prestação de serviço, por
legislador de alterar-lhe o texto do epígrafe, constando ainda preconceito de raça, de cor, de sexo ou de estado civil.
que os crimes são os resultantes apenas de raça e cor. Pena - prisão simples, de 15 (quinze) dias a 3 (três) meses, e
multa de 1 (uma) a 3 (três) vezes o maior valor de referência
LEI CAÓ (MVR).
LEI Nº 7.437, DE 20 DE DEZEMBRO DE 1985 Art 7º - Recusar a inscrição de aluno em estabelecimento de
Incluí, entre as contravenções penais, a prática de atos ensino de qualquer curso ou grau, por preconceito de raça,
resultantes de preconceito de raça, de cor, de sexo ou de de cor, de sexo ou de estado civil.
estado civil, dando nova redação à Lei nº 1.390, de 3 de Pena - prisão simples, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e
julho de 1951 - Lei Afonso Arinos. multa de 1 (uma) a 3 (três) vezes o maior valor de referência
(MVR).
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA , faço saber que o Parágrafo único - Se se tratar de estabelecimento oficial de
Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: ensino, a pena será a perda do cargo para o agente, desde
Art 1º - Constitui contravenção, punida nos termos desta que apurada em inquérito regular.
Lei, a prática de atos resultantes de preconceito de raça, de Art 8º - Obstar o acesso de alguém a qualquer cargo público
cor, de sexo ou de estado civil. civil ou militar, por preconceito de raça, de cor, de sexo ou
Art 2º - Será considerado agente de contravenção o diretor, de estado civil.
gerente ou empregado do estabelecimento que incidir na Pena - perda do cargo, depois de apurada a responsabilidade
prática referida no art. 1º desta Lei. em inquérito regular, para o funcionário dirigente da
repartição de que dependa a inscrição no concurso de
DAS CONTRAVENÇÕES habilitação dos candidatos.
Art 3º - Recusar hospedagem em hotel, pensão, estalagem Art 9º - Negar emprego ou trabalho a alguém em autarquia,
ou estabelecimento de mesma finalidade, por preconceito de sociedade de economia mista, empresa concessionária de
raça, de cor, de sexo ou de estado civil. serviço público ou empresa privada, por preconceito
de raça, de cor, de sexo ou de estado civil.
Pena - prisão simples, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e II - Secretaria de Promoção da Igualdade - SEPROMI;
multa de 1 (uma) a 3 (três) vezes o maior valor de referência III - Secretaria de Desenvolvimento e Integração
(MVR), no caso de empresa privada; perda do cargo para o Regional ?" SEDIR;
responsável pela recusa, no caso de autarquia, sociedade de IV - Secretaria de Turismo - SETUR.
economia mista e empresa Art. 4º - Ficam transferidas as seguintes atividades, funções,
concessionária de serviço público. fundos, órgãos e entidades:
Art 10 - Nos casos de reincidência havidos em I - da Secretaria do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte -
estabelecimentos particulares, poderá o juiz determinar a SETRE, para a Secretaria de Desenvolvimento Social e
pena adicional de suspensão do funcionamento, por prazo Combate à Pobreza - SEDES:
não superior a 3 (três) meses. a) a Superintendência de Assistência Social;
Art 11 - Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. b) o Fundo Estadual de Assistência Social, de que trata a
Art 12 - Revogam-se as disposições em contrário. Lei 6.930/95;
Brasília, em 20 de dezembro de 1985; 164º da c) o Fundo Estadual de Atendimento à Criança e ao
Independência e 97º da República. Adolescente, de que trata a Lei 6975/96;
JOSÉ SARNEY d) a Fundação da Criança e do Adolescente - FUNDAC;
Fernando Lyra e) o Conselho Estadual de Assistência Social - CEAS;
f) o Conselho Estadual da Criança e do Adolescente -
LEI 10549/06 | LEI Nº 10.549 DE 28 DE DEZEMBRO CECA;
DE 2006 DA BAHIA g) a Comissão Interinstitucional de Defesa Civil - CIDEC;
h) a Coordenação de Defesa Civil - CORDEC;
Modifica a estrutura organizacional da Administração II - da Secretaria de Desenvolvimento Social e Combate à
Pública do Poder Executivo Estadual e dá outras Pobreza - SEDES, para a Casa Civil, o Fundo Estadual de
providências. Combate e Erradicação da Pobreza - FUNCEP, instituído
O GOVERNADOR DO ESTADO DA BAHIA, faço saber pelo art. 4º da Lei7.988/2001;
que a Assembleia Legislativa decreta e eu sanciono a III - da Secretaria de Desenvolvimento Social e Combate à
seguinte Lei: Pobreza - SEDES, para a Casa Civil:
Art. 1º - A Administração Pública Estadual fica modificada a) a Diretoria Executiva do FUNCEP criada pelo art. 2º, II,
na forma da presente Lei. e § 8º da Lei 7.988/2001, com as alterações introduzidas
Art. 2º - Ficam alteradas as denominações das seguintes pela Lei 9.509/2005, exceto a Coordenação de Orçamento e
Secretarias de Estado: Finanças;
I - Secretaria do Trabalho, Assistência Social e Esporte - b) o Conselho de Políticas de Inclusão Social;
SETRAS, para Secretaria do Trabalho, Emprego, Renda e c) a Câmara Técnica de Gestão de Programas;
Esporte - SETRE; IV - da Casa Civil:
II - Secretaria de Combate à Pobreza e às Desigualdades a) para a Secretaria de Relações Institucionais " SERIN: as
Sociais - SECOMP, para Secretaria de Desenvolvimento funções de coordenação de assuntos legislativos;
Social e Combate à Pobreza - SEDES; b) para o Gabinete do Governador, órgão vinculado
III - Secretaria de Governo - SEGOV para Casa Civil; diretamente ao Governador: a Ouvidoria Geral do Estado, a
IV - Secretaria de Cultura e Turismo - SCT, para Secretaria Secretaria Particular do Governador, o Escritório de
de Cultura - SECULT; Representação do Governo, o Cerimonial e a Assessoria
V - Secretaria da Justiça e Direitos Humanos - SJDH, para Especial do Governador;
Secretaria da Justiça, Cidadania e Direitos Humanos - V - da Secretaria de Cultura para a Secretaria de Turismo -
SJCDH. SETUR:
Art. 3º - Ficam criadas as seguintes Secretarias: a) a Superintendência de Investimentos em Pólos Turísticos;
I - Secretaria de Relações Institucionais - SERIN; b) a Empresa de Turismo da Bahia S/A " BAHIATURSA;
VI - da Secretaria da Justiça, Cidadania e Direitos Humanos demais formas de intolerância, bem assim, planejar e
- SJCDH, para a Secretaria de Promoção da Igualdade - executar as políticas públicas de caráter transversal para as
SEPROMI: mulheres.
a) o Conselho de Desenvolvimento da Comunidade Negra; § 1º - A Secretaria de Promoção à Igualdade - SEPROMI
b) o Conselho de Defesa dos Direitos da Mulher; tem a seguinte estrutura básica:
VII - da Secretaria do Planejamento - SEPLAN para a I - Órgãos Colegiados:
Secretaria de Desenvolvimento e Integração Regional - a) Conselho de Desenvolvimento da Comunidade Negra;
SEDIR: b) Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Mulher;
a) os Conselhos Regionais de Desenvolvimento; II - Órgãos da Administração Direta:
b) a Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional ?" a) Gabinete do Secretário;
CAR. b) Diretoria de Administração e Finanças;
Art. 5º - As estruturas básicas da Secretaria de Relações c) Superintendência de Políticas para as Mulheres;
Institucionais - SERIN, da Secretaria de Promoção da d) Superintendência de Promoção da Igualdade Racial.
Igualdade - SEPROMI e da Secretaria de Desenvolvimento § 2º - A Superintendência de Políticas para as Mulheres tem
e Integração Regional - SEDIR, não conterão a Diretoria por finalidade orientar, apoiar, coordenar, acompanhar,
Geral prevista no art. 2º da Lei 7.435/98. controlar e executar programas e atividades voltadas à
Parágrafo único - Fica criada a Diretoria de Administração e implementação de políticas para as mulheres, implementar
Finanças em cada uma das Secretarias referidas neste artigo ações afirmativas e definir ações públicas de promoção da
e no Gabinete do Governador, tendo por finalidade o igualdade entre homens e mulheres e de combate à
planejamento e coordenação das atividades de programação, discriminação.
orrnamentação, acompanhamento, avaliação, estudos e § 3º - A Superintendência de Promoção da Igualdade Racial
análises, administração financeira e de contabilidade, tem por finalidade orientar, apoiar, coordenar, acompanhar,
material, patrimônio, serviços, recursos humanos, controlar e executar programas e atividades voltadas à
modernização administrativa e informática. implementação de políticas e diretrizes para a promoção da
Art. 6º - A Secretaria de Relações Institucionais - SERIN igualdade e da proteção dos direitos de indivíduos e grupos
tem por finalidade a coordenação política do Poder raciais e étnicos, afetados por discriminação racial e demais
Executivo e de suas relações com os demais Poderes das formas de intolerância.
diversas esferas de Governo, com a sociedade civil e suas § 4º - Fica acrescida à composição do Conselho de
instituições. Desenvolvimento da Comunidade Negra e do Conselho
§ 1º - A Secretaria de Relações Institucionais - SERIN tem a Estadual de Defesa dos Diretos da Mulher, de que tratam as
seguinte estrutura básica: alíneas a e b do art. 17 da Lei nº 4.697/87, a representação
a) Gabinete do Secretário; da Secretaria de Promoção da Igualdade - SEPROMI.
b) Diretoria de Administração e Finanças; Art. 8º - A Secretaria de Desenvolvimento e Integração
c) Coordenação de Assuntos Legislativos; Regional - SEDIR tem por finalidade planejar e coordenar a
d) Coordenação de Assuntos Federativos; execução da política estadual de desenvolvimento regional
e) Coordenação de Articulação Social. integrado; formular, em parceria com o Conselho Estadual
Parágrafo único - As Coordenações têm por objetivo o de Desenvolvimento Econômico e Social, os planos e
planejamento, a execução e o controle das atividades a cargo programas regionais de desenvolvimento; estabelecer
da Secretaria de Relações Institucionais " SERIN, conforme estratégias de integração das economias regionais;
dispuser o Regulamento. acompanhar e avaliar os programas integrados de
Art. 7º - A Secretaria de Promoção da Igualdade - desenvolvimento regional.
SEPROMI tem por finalidade planejar e executar políticas § 1º - A Secretaria de Desenvolvimento e Integração
de promoção da igualdade racial e proteção dos direitos de Regional - SEDIR tem a seguinte estrutura básica:
indivíduos e grupos étnicos atingidos pela discriminação e I - Órgãos Colegiados:
a) Conselhos Regionais de Desenvolvimento. § 1º - A Superintendência de Apoio à Inclusão Social, passa
II - Órgãos da Administração Direta: a ser denominada Superintendência de Inclusão e
a) Gabinete do Secretário; Assistência Alimentar, com a finalidade de promover as
b) Diretoria de Administração e Finanças; ações de inclusão social e de assistência alimentar, conforme
c) Coordenação de Políticas do Desenvolvimento Regional; dispuser o regulamento.
d) Coordenação de Programas Regionais; § 2º - Fica extinta a Superintendência de Articulação e
III - Entidade da Administração Indireta: Programas Especiais.
a) Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional - CAR. Art. 12 - A Secretaria de Desenvolvimento Social e
§ 2º - As coordenações têm por objetivo o planejamento, a Combate à Pobreza - SEDES tem a seguinte estrutura
execução e o controle das atividades a cargo da Secretaria de básica:
Desenvolvimento e Integração Regional - SEDIR, conforme I - Órgãos Colegiados:
dispuser o regulamento. a) Comissão Interinstitucional de Defesa Civil - CIDEC;
Art. 9º - O Gabinete do Governador, órgão de assistência b) Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do
direta e imediata ao Governador, tem a seguinte estrutura Adolescente - CECA;
básica: c) Conselho Estadual de Assistência Social - CEAS;
a) Chefia do Gabinete; d) Conselho de Segurança Alimentar e Nutricional do
b) Ouvidoria Geral do Estado; Estado da Bahia - CONSEA ?" BA;
c) Secretaria Particular do Governador; II - Órgãos da Administração Direta:
d) Cerimonial; a) Gabinete do Secretário;
e) Assessoria Especial do Governador; b) Diretoria Geral;
f) Assessoria Internacional; c) Superintendência de Assistência Social;
g) Escritório de Representação do Governo; d) Superintendência de Inclusão e Assistência Alimentar;
h) Diretoria de Administração e Finanças. III - Órgãos em Regime Especial de Administração Direta:
Parágrafo único - Fica criado o cargo de Chefe de Gabinete a) Coordenação de Defesa Civil - CORDEC.
do Governador, ao qual são asseguradas as prerrogativas, IV - Entidade da Administração Indireta:
representação, remuneração e impedimentos de Secretário a) Fundação da Criança e do Adolescente - FUNDAC.
de Estado, cabendo-lhe a supervisão e a coordenação dos Parágrafo único - O Secretário do Desenvolvimento Social e
órgãos integrantes da estrutura do Gabinete do Governador, Combate à Pobreza - SEDES passa a integrar na condição de
a elaboração da agenda e o exercício de outras atribuições presidente, o Conselho Estadual de Assistência Social -
designadas pelo Governador. CEAS, o Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do
Art. 10 - A Secretaria do Trabalho, Emprego, Renda e Adolescente - CECA e a Comissão Interinstitucional de
Esporte - SETRE tem por finalidade planejar e executar as Defesa Civil - CIDEC.
políticas de emprego e renda e de apoio à formação do Art. 13 - A Secretaria de Turismo - SETUR tem por
trabalhador, de economia solidária e de fomento ao esporte. finalidade planejar, coordenar e executar políticas de
Parágrafo único - Fica criada na Secretaria do Trabalho, promoção e fomento ao turismo.
Emprego, Renda e Esporte - SETRE a Superintendência de § 1º - A Secretaria de Turismo - SETUR tem a seguinte
Economia Solidária, com a finalidade de planejar, estrutura básica:
coordenar, executar e acompanhar as ações e programas de I - Órgãos da Administração Direta:
fomento à economia solidária. a) Gabinete do Secretário;
Art. 11 - A Secretaria de Desenvolvimento Social e b) Diretoria Geral;
Combate à Pobreza - SEDES tem por finalidade planejar, c) Superintendência de Investimentos em Pólos Turísticos;
coordenar, executar e fiscalizar as políticas de d) Superintendência de Serviços Turísticos.
desenvolvimento social, segurança alimentar e nutricional e II - Entidade da Administração Indireta:
de assistência social. a) Empresa de Turismo da Bahia S/A - BAHIATURSA.
§ 2º - A Superintendência de Serviços Turísticos tem por estruturação dos órgãos criados ou reorganizados por esta
finalidade planejar e executar programas e projetos de Lei.
qualificação de serviços e mão-de-obra, capacitação Art. 19 - Esta Lei entrará em vigor em 1º de janeiro de
empresarial, certificação de qualidade, regulação e 2007.
fiscalização de atividades turísticas. Art. 20 - Revogam-se as disposições em contrário.
Art. 14 - Ficam criadas: PALÁCIO DO GOVERNO DO ESTADO DA BAHIA, em
I - na Secretaria da Agricultura - SEAGRI: a 28 de dezembro de 2006.
Superintendência de Agricultura Familiar, com a finalidade PAULO SOUTO
de orientar, apoiar, coordenar, acompanhar, controlar e Governador Ruy Tourinho Secretário de Governo
executar programas e atividades voltados ao fortalecimento Armando Avena Filho
da agricultura familiar. Secretário do Planejamento Ana Lúcia Barbosa Castelo
II - na Secretaria da Justiça, Cidadania e Direitos Humanos - Branco Secretária da Administração
SJCDH: Walter Cairo de Oliveira Filho
a) a Coordenação Executiva de Defesa dos Direitos da Secretário da Fazenda
Pessoa com Deficiência, com a finalidade de promover e Pedro Barbosa de Deus
fortalecer o desenvolvimento dos programas e ações Secretário da Agricultura, Irrigação e Reforma Agrária
voltados para a defesa dos direitos da pessoa portadora de Anaci Bispo Paim Secretária da Educação
deficiência; Cláudio Melo
b) a Coordenação de Políticas para os Povos Indígenas, Secretário de Infra-Estrutura
vinculada à Superintendência de Apoio e Defesa aos Sérgio Ferreira
Direitos Humanos. Secretário da Justiça e Direitos Humanos
Art. 15 - Para atender à implantação dos novos órgãos José Antônio Rodrigues Alves
criados por esta Lei e às adequações na estrutura da Secretário da Saúde
Administração Pública Estadual, ficam criados 04 (quatro) José Luiz Pérez Garrido
cargos de Secretário de Estado e os cargos em comissão Secretário da Indústria, Comércio e Mineração
constantes do Anexo Único desta Lei. Eduardo Oliveira Santos
Art. 16 - Ficam extintos os cargos em comissão constantes Secretário do Trabalho, Assistência Social e Esporte
do Anexo Único desta Lei. Edemilson Nunes de Almeida Secretário da Segurança
Art. 17 - Fica o Chefe do Poder Executivo autorizado a Pública
promover, no prazo de 120 (cento e vinte) dias: Citado por 3 Paulo Renato Dantas Gaudenzi
I - a revisão e a elaboração dos regimentos, estatutos e Secretário da Cultura e Turismo Clodoveo Piazza Secretário
outros instrumentos regulamentadores para adequação das de Combate à Pobreza e às Desigualdades Sociais
alterações organizacionais decorrentes desta Lei; Rafael Lucchesi
II - as modificações orçamentárias necessárias ao Secretário de Ciência, Tecnologia e Inovação
cumprimento desta Lei, respeitados os valores globais Roberto Moussallem de Andrade
constantes do orçamento do exercício de 2007. Secretário de Desenvolvimento Urbano
Parágrafo único - As modificações de que trata o inciso II Vladimir Abdala Nunes
deste artigo incluem a abertura de créditos especiais Secretário de Meio Ambiente e Recursos Hídricos
destinados, exclusivamente, à criação de categorias de Secretário de Meio Ambiente e Recursos Hídricos
programação indispensáveis ao funcionamento de órgãos
criados ou decorrentes desta Lei, respeitado o Art. 7º da Lei LEI Nº 12.212 DE 04 DE MAIO DE 2011
Orçamentária de 2007. Citado por 1 Modifica a estrutura organizacional e de cargos em
Art. 18 - Fica o Poder Executivo autorizado a praticar os comissão da Administração Pública do
atos necessários à continuidade dos serviços, até a definitiva Poder Executivo Estadual, e dá outras providências.
c) 01 (uma) da comunidade acadêmica vinculada ao estudo
O GOVERNADOR DO ESTADO DA BAHIA, faço saber da condição feminina;
que a Assembleia Legislativa decreta e eu sanciono a d) 01 (uma) das trabalhadoras rurais;
seguinte Lei: e) 01 (uma) das trabalhadoras urbanas;
Art. 1º - A estrutura da Administração Pública do Poder f) 01 (uma) das mulheres negras;
Executivo Estadual fica modificada, na forma da presente g) 01 (uma) indígena.
Lei. § 1º - As titulares do Conselho e suas suplentes serão
Art. 2º - Fica criada a Secretaria de Políticas para as nomeadas pelo Governador do Estado, sendo que as
Mulheres - SPM, com a finalidade de planejar, coordenar e referidas nos incisos II e III, deste artigo, serão indicadas
articular a execução de políticas públicas para as mulheres, pelos respectivos órgãos e entidades.
tendo a seguinte estrutura organizacional básica: § 2º - O Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da
I - Órgão Colegiado: Mulher manterá a atual composição até a definitiva
a) Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Mulher - indicação e nomeação dos representantes dos órgãos e
CDDM; entidades que o compõem, conforme estabelecido nos
II - Órgãos da Administração Direta: incisos II e III deste artigo.
a) Gabinete da Secretária; Art. 5º - O Gabinete da Secretária tem por finalidade prestar
b) Diretoria de Administração e Finanças; assistência ao Titular da Pasta, em suas tarefas técnicas e
c) Coordenação de Articulação Institucional e Ações administrativas.
Temáticas; Art. 6º - A Diretoria de Administração e Finanças tem por
d) Coordenação de Planejamento e Gestão de Políticas para finalidade o planejamento e coordenação das atividades de
as Mulheres. programação, ornamentação, acompanhamento, avaliação,
Art. 3º - O Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da estudos e análises, administração financeira e de
Mulher - CDDM,órgão consultivo, tem por finalidade contabilidade, material, patrimônio, serviços, recursos
estabelecer diretrizes e normas relativas às políticas e humanos, modernização administrativa e informática.
medidas que visem eliminar a discriminação e garantir Art. 7º - A Coordenação de Articulação Institucional e
condições de liberdade e equidade de direitos para a mulher, Ações Temáticas tempor finalidade integrar as políticas para
assegurando sua plena participação nas atividades políticas, as mulheres nas áreas de educação, saúde, trabalho e
sociais, econômicas e culturais do Estado. participação política, visando o combate à violência contra a
Parágrafo único - As normas de funcionamento do CDDM mulher e a redução das desigualdades de gênero e a
serão estabelecidas em Regimento próprio. eliminação de todas as formas de discriminação
Art. 4º - O Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da identificadas.
Mulher - CDDM tem a seguinte composição: Art. 8º - A Coordenação de Planejamento e Gestão de
I - a Secretária de Políticas para as Mulheres, que o Políticas para as Mulheres tem por finalidade apoiar a
presidirá; formulação e a implementação de políticas públicas de
II - 06 (seis) servidoras estaduais, representantes das gênero, de forma transversal.
Secretarias de Promoção da Igualdade Racial, da Educação, Art. 9º - Fica alterada a denominação da Secretaria de
da Saúde, da Justiça, Cidadania e Direitos Humanos, do Promoção da Igualdade - SEPROMI para Secretaria de
Trabalho, Emprego, Renda e Esporte e da Segurança Promoção da Igualdade Racial - SEPROMI, que passa a ter
Pública; por finalidade planejar e executar políticas de promoção da
III - 12 (doze) representantes da sociedade civil, sendo: igualdade racial e de proteção dos direitos de indivíduos e
a) 05 (cinco) membros de organizações de mulheres, grupos étnicos atingidos pela discriminação e demais formas
legalmente constituídas; de intolerância.
b) 02 (duas) de notória atuação na luta pela defesa dos Art. 10 - Ficam excluídas da finalidade e competências da
direitos da mulher; SEPROMI as atividades pertinentes ao planejamento e
execução das políticas públicas de caráter transversal para as Art. 17 - A estrutura de cargos em comissão da SEPROMI
mulheres. fica alterada, na forma a seguir indicada:
Parágrafo único - Fica transferido da SEPROMI para a I - ficam extintos 02 (dois) cargos de Superintendente,
Secretaria de Políticas para as Mulheres - SPM o Conselho símbolo DAS-2A;
Estadual de Defesa dos Direitos da Mulher - CDDM. II - ficam criados 02 (dois) cargos de Coordenador
Art. 11 - A Secretaria de Promoção da Igualdade Racial Executivo, símbolo DAS-2B;
passa a ter a seguinte estrutura organizacional básica: III - ficam remanejados, da extinta Superintendência de
I - Órgão Colegiado: Políticas para as Mulheres para a Coordenação de Políticas
a) Conselho de Desenvolvimento da Comunidade Negra - para as Comunidades Tradicionais, ora criada, 01 (um) cargo
CDCN; de Coordenador I, símbolo DAS-2C, 01 (um) cargo de
II - Órgãos da Administração Direta: Coordenador II, símbolo DAS-3, 01 (um) cargo de
a) Gabinete do Secretário; Coordenador III, símbolo DAI-4 e 01 (um) cargo de
b) Diretoria de Administração e Finanças; Secretário Administrativo I, símbolo DAI-5.
c) Coordenação de Promoção da Igualdade Racial; Art. 18 - Fica criado, na estrutura de cargos em comissão da
d) Coordenação de Políticas para as Comunidades SEPROMI, alocado na Diretoria de Administração e
Tradicionais. Finanças, 01 (um) cargo de Coordenador II, símbolo
Art. 12 - O Conselho de Desenvolvimento da Comunidade DAS-3.
Negra - CDCN, órgão colegiado, tem por finalidade estudar, Art. 19 - Fica criada a Secretaria de Administração
propor e acompanhar medidas de relacionamento dos órgãos Penitenciária e Ressocialização - SEAP, com a finalidade de
governamentais com a comunidade negra, visando resgatar o formular políticas de ações penais e de ressocialização de
direito à sua plena cidadania e participação na sociedade. sentenciados, bem como de planejar, coordenar e executar,
Art. 13 - O Gabinete do Secretário tem por finalidade em harmonia com o Poder Judiciário, os serviços penais do
prestar assistência ao Titular da Pasta, em suas tarefas Estado, tendo a seguinte estrutura organizacional básica:
técnicas e administrativas. I - Órgãos Colegiados:
Art. 14 - A Diretoria de Administração e Finanças tem por a) Conselho Penitenciário - CP;
finalidade o planejamento e coordenação das atividades de b) Conselho de Operações do Sistema Prisional;
programação, orçamentação, acompanhamento, avaliação, II - Órgãos da Administração Direta:
estudos e análises, administração financeira e de a) Gabinete do Secretário;
contabilidade, material, patrimônio, serviços, recursos b) Ouvidoria;
humanos, modernização administrativa e informática. c) Corregedoria do Sistema Penitenciário;
Art. 15 - A Coordenação de Promoção da Igualdade Racial d) Coordenação de Monitoramento e Avaliação do Sistema
tem por finalidade orientar, apoiar, coordenar, acompanhar, Prisional;
controlar e executar programas e atividades voltadas à e) Diretoria Geral;
implementação de políticas e diretrizes para a promoção da f) Superintendência de Ressocialização Sustentável;
igualdade e da proteção dos direitos de indivíduos e grupos g) Superintendência de Gestão Prisional:
raciais e étnicos, afetados por discriminação racial e demais 1. Sistema Prisional;
formas de intolerância. h) Central de Apoio e Acompanhamento às Penas e Medidas
Art. 16 - A Coordenação de Políticas para as Comunidades Alternativas da Bahia - CEAPA:
Tradicionais tem por finalidade formular políticas de 1. Núcleos de Apoio e Acompanhamento às Penas e
promoção da defesa dos direitos e interesses das Medidas Alternativas.
comunidades tradicionais, inclusive quilombolas, no Estado Art. 20 - O Conselho Penitenciário - CP, órgão consultivo e
da Bahia, reduzindo as desigualdades e eliminando todas as fiscalizador da execução penal, tem por finalidade
formas de discriminação identificadas. estabelecer diretrizes e normas relativas à política criminal e
penitenciária no Estado.
Parágrafo único - As normas de funcionamento do CP o Conselho Nacional de Promoção da Igualdade
serão estabelecidas em Regimento próprio. Racial - CNPIR, o Gabinete e até três Subsecretarias.
Art. 3 o O CNPIR será presidido pelo titular da
Lei nº 10.678-03 - Cria a Secretaria Especial de Políticas Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade
de Promoção da Igualdade Racial Racial, da Presidência da República, e terá a sua
composição, competências e funcionamento estabelecidos
Cria a Secretaria Especial de Políticas de Promoção da em ato do Poder Executivo, a ser editado até 31 de agosto de
Igualdade Racial, da Presidência da República, e dá outras 2003.
providências. Parágrafo único. A Secretaria Especial de Políticas de
Faço saber que o Presidente da República adotou a Promoção da Igualdade Racial, da Presidência da República,
Medida Provisória nº 111, de 2003, que o Congresso constituirá, no prazo de noventa dias, contado da publicação
Nacional aprovou, e eu, Eduardo Siqueira Campos, Segundo desta Lei, grupo de trabalho integrado por representantes da
Vice-Presidente, no exercício da Presidência da Mesa do Secretaria Especial e da sociedade civil, para elaborar
Congresso Nacional, para os efeitos do disposto no art. 62 proposta de regulamentação do CNPIR, a ser submetida ao
da Constituição Federal, com a redação dada pela Emenda Presidente da República.
constitucional nº 32, combinado com o art. 12 da Resolução Art. 4 o Ficam criados, na Secretaria Especial de
nº 1, de 2002-CN, promulgo a seguinte Lei: Políticas de Promoção da Igualdade Racial, da Presidência
Art. 1 o Fica criada, como órgão de assessoramento da República, um cargo de natureza especial de Secretário
imediato ao Presidente da República, a Secretaria Especial Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial e um
de Políticas de Promoção da Igualdade Racial. cargo de Secretário-Adjunto, código DAS 101.6.
Art. 2 o À Secretaria Especial de Políticas de Parágrafo único. O cargo de natureza especial referido
Promoção da Igualdade Racial compete assessorar direta e no caput terá prerrogativas, garantias, vantagens e direitos
imediatamente o Presidente da República na formulação, equivalentes ao de Ministro de Estado e a remuneração de
coordenação e articulação de políticas e diretrizes para a R$ 8.280,00 (oito mil, duzentos e oitenta reais).
promoção da igualdade racial, na formulação, coordenação e Art. 5 o Esta Lei entra em vigor na data de sua
avaliação das políticas públicas afirmativas de promoção da publicação.
igualdade e da proteção dos direitos de indivíduos e grupos Congresso Nacional, em 23 de maio de 2003; 182 º da
raciais e étnicos, com ênfase na população negra, afetados Independência e 115 º da República.
por discriminação racial e demais formas de intolerância, na
articulação, promoção e acompanhamento da execução dos Senador EDUARDO SIQUEIRA CAMPOS
programas de cooperação com organismos nacionais e Segundo Vice-Presidente da Mesa do Congresso
internacionais, públicos e privados, voltados à Nacional , no exercício da Presidência
implementação da promoção da igualdade racial, na Este texto não substitui o publicado no D.O.U. de 26.5.2003
formulação, coordenação e acompanhamento das políticas
transversais de governo para a promoção da igualdade
racial, no planejamento, coordenação da execução e DECRETO Nº 65.810, DE 8 DE DEZEMBRO DE 1969.
avaliação do Programa Nacional de Ações Afirmativas e na
promoção do acompanhamento da implementação de Promulga a Convenção Internacional sobre a
legislação de ação afirmativa e definição de ações públicas Eliminação de todas as Formas de Discriminação Racial.
que visem o cumprimento dos acordos, convenções e outros O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, HAVENDO o
instrumentos congêneres assinados pelo Brasil, nos aspectos Congresso Nacional aprovado pelo Decreto Legislativo nº
relativos à promoção da igualdade e de combate à 23, de 21 de junho de 1967, a Convenção Internacional
discriminação racial ou étnica, tendo como estrutura básica sobre a Eliminação de todas as Formas de Discriminação
Racial, que foi aberta à assinatura em Nova York e assinada Geral afirmou e proclamou solenemente a necessidade de
pelo Brasil a 07 de março de 1966; levá-las a um fim rapido e incondicional,
E HAVENDO sido depositado o Instrumento brasileiro de Considerando que a Declaração das Nações Unidas sobre
Ratificação, junto ao Secretário-Geral das Nações Unidas, a eliminação de todas as formas de Discriminação Racial, de
27 de março de 1968; 20 de novembro de 1963, (Resolução 1.904 ( XVIII) da
E TENDO a referida Convenção entrada em vigor, de Assembléia-Geral), afirma solemente a necessidade de
conformidade com o disposto em seu artigo 19, parágrafo 1º, eliminar rapidamente a discriminação racial através do
a 04 de janeiro de 1969; mundo em todas as suas formas e manifestações e de
DECRETA que a mesma, apensa por cópia ao presente assegurar a compreensão e o respeito à dignidade da pessoa
Decreto, seja executada e cumprida tão inteiramente como humana,
ela nele contém. Convencidos de que qualquer doutrina de superioridade
Brasília, 08 de dezembro de 1969; 148º da Independência baseada em diferenças raciais é cientificamente falsa,
e 81º da República. moralmente condenável, socialmente injusta e perigosa, em
Emílio G. Médici que, não existe justificação para a discriminação racial, em
Mário Gibson Barbosa teoria ou na prática, em lugar algum,
A CONVENÇÃO INTERNACIONAL SOBRE A Reafirmando que a discriminação entre os homens por
ELIMINAÇÃO DE TODAS AS FORMAS DE motivos de raça, cor ou origem étnica é um obstáculo a
DISCRIMINAÇÃO RACIAL. relações amistosas e pacíficas entre as nações e é capaz de
Os Estados Partes na presente Convenção, disturbar a paz e a segurança entre povos e a harmonia de
Considerando que a Carta das Nações Unidas baseia-se pessoas vivendo lado a lado até dentro de um mesmo
em princípios de dignidade e igualdade inerentes a todos os Estado,
seres humanos, e que todos os Estados Membros Convencidos que a existência de barreiras raciais repugna
comprometeram-se a tomar medidas separadas e conjuntas, os ideais de qualquer sociedade humana,
em cooperação com a Organização, para a consecução de Alarmados por manifestações de discriminação racial
um dos propósitos das Nações Unidas que é promover e ainda em evidência em algumas áreas do mundo e por
encorajar o respeito universal e observancia dos direitos políticas governamentais baseadas em superioridade racial
humanos e liberdades fundamentais para todos, sem ou ódio, como as políticas de apartheid, segregação ou
discriminação de raça, sexo, idioma ou religião. separação.
Considerando que a Declaração Universal dos Direitos do Resolvidos a adotar todas as medidas necessárias para
Homem proclama que todos os homens nascem livres e eliminar rapidamente a discriminação racial em, todas as
iguais em dignidade e direitos e que todo homem tem todos suas formas e manifestações, e a prevenir e combater
os direitos estabelecidos na mesma, sem distinção de doutrinas e práticas raciais com o objetivo de promover o
qualquer espécie e principalmente de raça, cor ou origem entendimento entre as raças e construir uma comunidade
nacional, internacional livre de todas as formas de separação racial e
Considerando todos os homens são iguais perante a lei e discriminação racial,
têm o direito à igual proteção contra qualquer discriminação Levando em conta a Convenção sobre Discriminação nos
e contra qualquer incitamento à discriminação, Emprego e Ocupação adotada pela Organização
Considerando que as Nações Unidas têm condenado o internacional do Trabalho em 1958, e a Convenção contra
colonialismo e todas as práticas de segregação e discriminação no Ensino adotada pela Organização das
discriminação a ele associados, em qualquer forma e onde Nações Unidas para Educação a Ciência em 1960,
quer que existam, e que a Declaração sobre a Conceção de Desejosos de completar os princípios estabelecidos na
Independência, a Partes e Povos Coloniais, de 14 de Declaração das Nações unidas sobre a Eliminação de todas
dezembro de 1960 (Resolução 1.514 (XV), da Assembléia as formas de discriminação racial e assegurar o mais cedo
possível a adoção de medidas práticas para esse fim,
Acordaram no seguinte: c) Cada Estado Parte deverá tomar as medidas eficazes, a
PARTE I fim de rever as politicas governamentais nacionais e locais e
Artigo I para modificar, ab-rogar ou anular qualquer disposição
1. Nesta Convenção, a expressão "discriminação racial" regulamentar que tenha como objetivo criar a discriminação
significará qualquer distinção, exclusão restrição ou ou perpetrá-la onde já existir;
preferência baseadas em raça, cor, descendência ou origem d) Cada Estado Parte deverá, por todos os meios
nacional ou étnica que tem por objetivo ou efeito anular ou apropriados, inclusive se as circunstâncias o exigiria, as
restringir o reconhecimento, gozo ou exercício num mesmo medidas legislativas, proibir e por fim, a discriminação
plano,( em igualdade de condição), de direitos humanos e racial praticadas por pessoa, por grupo ou das organizações;
liberdades fundamentais no domínio político econômico, e) Cada Estado Parte compromete-se a favorecer, quando
social, cultural ou em qualquer outro domínio de vida for o caso as organizações e movimentos multirraciais e
pública. outros meios próprios a eliminar as barreiras entre as raças e
2. Esta Convenção não se aplicará ás distinções, a desencorajar o que tende a fortalecer a divisão racial.
exclusões, restrições e preferências feitas por um Estado 2) Os Estados Partes tomarão, se as circunstâncias o
Parte nesta Convenção entre cidadãos e não cidadãos. exigirem, nos campos social, econômico, cultural e outros,
3. Nada nesta Convenção poderá ser interpretado como as medidas especiais e concretas para assegurar como
afetando as disposições legais dos Estados Partes, relativas a convier o desenvolvimento ou a proteção de certos grupos
nacionalidade, cidadania e naturalização, desde que tais raciais ou de indivíduos pertencentes a estes grupos com o
disposições não discriminem contra qualquer nacionalidade objetivo de garantir-lhes, em condições de igualdade, o
particular. pleno exercício dos direitos do homem e das liberdades
4. Não serão consideradas discriminação racial as fundamentais.
medidas especiais tomadas com o único objetivo de Essas medidas não deverão, em caso algum, ter a
assegurar progresso adequado de certos grupos raciais ou finalidade de manter direitos grupos raciais, depois de
étnicos ou de indivíduos que necessitem da proteção que alcançados os objetivos em razão dos quais foram tomadas.
possa ser necessária para proporcionar a tais grupos ou Artigo III
indivíduos igual gozo ou exercício de direitos humanos e Os Estados Partes especialmente condenam a segregação
liberdades fundamentais, contando que, tais medidas não racial e o apartheid e comprometem-se a proibir e a eliminar
conduzam, em conseqüência, à manutenção de direitos nos territórios sob sua jurisdição todas as práticas dessa
separados para diferentes grupos raciais e não prossigam natureza.
após terem sidos alcançados os seus objetivos. Artigo IV
Artigo II Os Estados partes condenam toda propaganda e todas as
1. Os Estados Partes condenam a discriminação racial e organizações que se inspirem em ideias ou teorias baseadas
comprometem-se a adotar, por todos os meios apropriados e na superioridade de uma raça ou de um grupo de pessoas de
sem tardar uma política de eliminação da discriminação uma certa cor ou de uma certa origem étnica ou que
racial em todas as suas formas e de promoção de pretendem justificar ou encorajar qualquer forma de ódio e
entendimento entre todas as raças e para esse fim: de discriminação raciais e comprometem-se a adotar
a) Cada Estado parte compromete-se a efetuar nenhum ato imediatamente medidas positivas destinadas a eliminar
ou prática de discriminação racial contra pessoas, grupos de qualquer incitação a uma tal discriminação, ou quaisquer
pessoas ou instituições e fazer com que todas as autoridades atos de discriminação com este objetivo tendo em vista os
públicas nacionais ou locais, se conformem com esta princípios formulados na Declaração universal dos direitos
obrigação; do homem e os direitos expressamente enunciados no artigo
b) Cada Estado Parte compromete-se a não encorajar, 5 da presente convenção, eles se comprometem
defender ou apoiar a discriminação racial praticada por uma principalmente:
pessoa ou uma organização qualquer;
a) a declarar delitos puníveis por lei, qualquer difusão de v) direito de qualquer pessoa, tanto individualmente como
ideias baseadas na superioridade ou ódio raciais, qualquer em conjunto, à propriedade;
incitamento à discriminação racial, assim como quaisquer vi) direito de herda;
atos de violência ou provocação a tais atos, dirigidos contra vii) direito à liberdade de pensamento, de consciência e de
qualquer raça ou qualquer grupo de pessoas de outra cor ou religião;
de outra origem técnica, como também qualquer assistência viii) direito à liberdade de opinião e de expressão;
prestada a atividades racistas, inclusive seu financiamento; ix) direito à liberdade de reunião e de associação pacífica;
b) a declarar ilegais e a proibir as organizações assim e) direitos econômicos, sociais culturais, principalmente:
como as atividades de propaganda organizada e qualquer i) direitos ao trabalho, a livre escolha de seu trabalho, a
outro tipo de atividade de propaganda que incitar a condições equitativas e satisfatórias de trabalho à proteção
discriminação racial e que a encorajar e a declara delito contra o desemprego, a um salário igual para um trabalho
punível por lei a participação nestas organizações ou nestas igual, a uma remuneração equitativa e satisfatória;
atividades. ii) direito de fundar sindicatos e a eles se filiar;
c) a não permitir as autoridades públicas nem ás iii) direito à habitação;
instituições públicas nacionais ou locais, o incitamento ou iv) direito à saúde pública, a tratamento médico, à
encorajamento à discriminação racial. previdência social e aos serviços sociais;
Artigo V v) direito a educação e à formação profissional;
De conformidade com as obrigações fundamentais vi) direito a igual participação das atividades culturais;
enunciadas no artigo 2, Os Estados Partes comprometem-se f) direito de acesso a todos os lugares e serviços
a proibir e a eliminar a discriminação racial em todas suas destinados ao uso do publico, tais como, meios de transporte
formas e a garantir o direito de cada uma à igualdade hotéis, restaurantes, cafés, espetáculos e parques.
perante a lei sem distinção de raça , de cor ou de origem Artigo VI
nacional ou étnica, principalmente no gozo dos seguintes Os Estados Partes assegurarão a qualquer pessoa que
direitos: estiver sob sua jurisdição, proteção e recursos efetivos
a) direito a um tratamento igual perante os tribunais ou perante os tribunais nacionais e outros órgãos do Estado
qualquer outro orgão que administre justiça; competentes, contra quaisquer atos de discriminação racial
b) direito a segurança da pessoa ou à proteção do Estado que, contrariamente à presente Convenção, violarem seus
contra violência ou ou lesão corporal cometida que por direitos individuais e suas liberdades fundamentais, assim
funcionários de Governo, quer por qualquer individuo, como o direito de pedir a esses tribunais uma satisfação ou
grupo ou instituição. repartição justa e adequada por qualquer dano de que foi
c) direitos políticos principalmente direito de participar às vitima em decorrência de tal discriminação.
eleições - de votar e ser votado - conforme o sistema de Artigo VII
sufrágio universal e igual direito de tomar parte no Governo, Os Estados Partes, comprometem-se a tomar as medidas
assim como na direção dos assuntos públicos, em qualquer imediatas e eficazes, principalmente no campo de ensino,
grau e o direito de acesso em igualdade de condições, às educação, da cultura e da informação, para lutar contra os
funções públicas. preconceitos que levem à discriminação racial e para
d) Outros direitos civis, principalmente, promover o entendimento, a tolerância e a amizade entre
i) direito de circular livremente e de escolher residência nações e grupos raciais e éticos assim como para propagar
dentro das fronteiras do Estado; ao objetivo e princípios da Carta das Nações Unidas da
ii) direito de deixar qualquer pais, inclusive o seu, e de Declaração Universal dos Direitos do Homem, da
voltar a seu país; Declaração das Nações Unidas sobre a eliminação de todas
iii) direito de uma nacionalidade; as formas de discriminação racial e da presente Convenção.
iv) direito de casar-se e escolher o cônjuge; PARTE II
Artigo VIII
1. Será estabelecido um Comitê para a eliminação da que tomarem para tornarem efetivas as disposições da
discriminação racial (doravante denominado "o Comitê) presente Convenção:
composto de 18 peritos conhecidos para sua alta moralidade a) dentro do prazo de um ano a partir da entrada em vigor
e conhecida imparcialidade, que serão eleitos pelos Estados da Convenção, para cada Estado interessado no que lhe diz
Membros dentre seus nacionais e que atuarão a título respeito, e posteriormente, cada dois anos, e toda vez que o
individual, levando-se em conta uma repartição geográfica Comitê o solicitar. O Comitê poderá solicitar informações
equitativa e a representação das formas diversas de complementares aos Estados Partes.
civilização assim como dos principais sistemas jurídicos. 2. O Comitê submeterá anualmente à Assembleia Geral,
2. Os Membros do Comitê serão eleitos em escrutínio um relatório sobre suas atividades e poderá fazer sugestões e
secreto de uma lista de candidatos designados pelos Estados recomendações de ordem geral baseadas no exame dos
Partes, Cada Estado Parte poderá designar um candidato relatórios e das informações recebidas dos Estados Partes.
escolhido dentre seus nacionais. Levará estas sugestões e recomendações de ordem geral ao
3. A primeira eleição será realizada seis meses após a data conhecimento da Assembleia Geral, e se as houver
da entrada em vigor da presente Convenção. Três meses pelo juntamente com as observações dos Estados Partes.
menos antes de cada eleição, o Secretário Geral das Nações Artigo X
Unidas enviará uma Carta aos Estados Partes para convidá- 1. O Comitê adotará seu regulamento interno.
los a apresentar suas candidaturas no prazo de dois meses. O 2. O Comitê alegará sua mesa por um período de dois
Secretário Geral elaborará uma lista por ordem alfabética, de anos.
todos os candidatos assim nomeados com indicação dos 3. O Secretário Geral da Organização das Nações Unidas
Estados partes que os nomearam, e a comunicará aos foi necessários serviços de Secretaria ao Comitê.
Estados Partes. 4. O Comitê reunir-se-à normalmente na Sede das Nações
4. Os membros do Comitê serão eleitos durante uma Unidas.
reunião dos Estados Partes convocada pelo Secretário Geral Artigo XI
das Nações Unidas. Nessa reunião, em que o quorum 1. Se um Estado Parte Julgar que outro Estado igualmente
será alcançado com dois terços dos Estados Partes, serão Parte não aplica as disposições da presente Convenção
elitos membros do Comitê, os candidatos que obtiverem o poderá chamar a atenção do Comitê sobre a questão. O
maior número de votos e a maioria absoluta de votos dos Comitê transmitirá, então, a comunicação ao Estado Parte
representantes dos Estados Partes presentes e votantes. interessado. Num prazo de três meses, o Estado destinatário
5. a) Os membros do Comitê serão eleitos por um período submeterá ao Comitê as explicações ou declarações por
de quatro anos. Entretanto, o mandato de nove dos membros escrito, a fim de esclarecer a questão e indicar as medidas
eleitos na primeira eleição, expirará ao fim de dois anos; corretivas que por acaso tenham sido tomadas pelo referido
logo após a primeira eleição os nomes desses nove membros Estado.
serão escolhidos, por sorteio, pelo Presidente do Comitê. 2. Se, dentro de um prazo de seis meses a partir da data do
b) Para preencher as vagas fortuítas, o Estado Parte, cujo recebimento da comunicação original pelo Estado
perito deixou de exercer suas funções de membro do destinatário a questão não foi resolvida a contento dos dois
Comitê, nomeará outro períto dentre seus nacionais, sob Estados, por meio de negociações bilaterais ou por qualquer
reserva da aprovação do Comitê. outro processo que estiver a sua disposição, tanto um como
6. Os Estados Partes serão responsáveis pelas despesas o outro terão o direito de submetê-la novamente ao Comitê,
dos membros do Comitê para o período em que estes endereçando uma notificação ao Comitê assim como ao
desempenharem funções no Comitê. outro Estado interessado.
Artigo IX 3. O Comitê só poderá tomar conhecimento de uma
1. Os Estados Partes comprometem-se a apresentar ao questão, de acordo com o parágrafo 2 do presente artigo,
Secretário Geral para exame do Comitê, um relatório sobre após ter constatado que todos os recursos internos
as medidas legislativas, judiciárias, administrativas ou outras disponíveis foram interpostos ou esgotados, de
conformidade com os princípios do direito internacional 7. O Secretário Geral ficará autorizado a pagar, se for
geralmente reconhecidos. Esta regra não se aplicará se os necessário, as despesas dos membros da Comissão, antes
procedimentos de recurso excederem prazos razoáveis. que o reembolso seja efetuado pelos Estados Partes na
4. Em qualquer questão que lhe for submetida, Comitê controvérsia, de conformidade com o parágrafo 6 do
poderá solicitar aos Estados-Partes presentes que lhe presente artigo.
forneçam quaisquer informações complementares 8. As informações obtidas e confrontadas pelo Comitê
pertinentes. serão postas à disposição da Comissão, e a Comissão poderá
5. Quando o Comitê examinar uma questão conforme o solicitar aos Estados interessados se lhe fornecer qualquer
presente Artigo os Estados Partes interessados terão o direito informação complementar pertinente.
de nomear um representante que participará sem direito de Artigo XIII
voto dos trabalhos no Comitê durante todos os debates. 1. Após haver estudado a questão sob todos os seus
Artigo XII aspectos, a Comissão preparará e submeterá ao Presidente
1. a) Depois que o Comitê obtiver e consultar as do Comitê um relatório com as conclusões sobre todas as
informações que julgar necessárias, o Presidente nomeará questões de fato relativas à controvérsia entre as partes e as
uma Comissão de Conciliação ad hoc (doravante recomendações que julgar oportunas a fim de chegar a uma
denominada " A Comissão", composta de 5 pessoas que solução amistosa da controvérsia.
poderão ser ou não membros do Comitê. Os membros serão 2. O Presidente do Comitê transmitirá o relatório da
nomeados com o consentimento pleno e unânime das partes Comissão a cada um dos Estados Partes na controvérsia. Os
na controvérsia e a Comissão fará seus bons ofícios a referidos Estados comunicarão ao Presidente do Comitê
disposição dos Estados presentes, com o objetivo de chegar num prazo de três meses se aceitam ou não, as
a uma solução amigável da questão, baseada no respeito à recomendações contidas no relatório da Comissão.
presente Convenção. 3. Expirado o prazo previsto no parágrafo 2º do presente
b) Se os Estados Partes na controvérsia não chegarem a artigo, o Presidente do Comitê comunicará o Relatório da
um entendimento em relação a toda ou parte da composição Comissão e as declarações dos Estados Partes interessadas
da Comissão num prazo de três meses os membros da aos outros Estados Parte na Comissão.
Comissão que não tiverem o assentimento do Estados Artigo XIV
Partes, na controvérsia serão eleitos por escrutínio secreto 1. Todo o Estado parte poderá declarar e qualquer
entre os membros de dois terços dos membros do Comitê. momento que reconhece a competência do Comitê para
2. Os membros da Comissão atuarão a título individual. receber e examinar comunicações de indivíduos sob sua
Não deverão ser nacionais de um dos Estados Partes na jurisdição que se consideram vítimas de uma violação pelo
controvérsia nem de um Estado que não seja parte da referido Estado Parte de qualquer um dos direitos
presente Convenção. enunciados na presente Convenção. O Comitê não receberá
3. A Comissão elegerá seu Presidente e adotará seu qualquer comunicação de um Estado Parte que não houver
regimento interno. feito tal declaração.
4. A Comissão reunir-se-a normalmente na sede nas 2. Qualquer Estado parte que fizer uma declaração de
Nações Unidas em qualquer outro lugar apropriado que a conformidade com o parágrafo do presente artigo, poderá
Comissão determinar. criar ou designar um órgão dentro de sua ordem jurídica
5. O Secretariado previsto no parágrafo 3 do artigo 10 nacional, que terá competência para receber e examinar as
prestará igualmente seus serviços à Comissão cada ver que petições de pessoas ou grupos de pessoas sob sua jurisdição
uma controvérsia entre os Estados Partes provocar sua que alegarem ser vitimas de uma violação de qualquer um
formação. dos direitos enunciados na presente Convenção e que
6. Todas as despesas dos membros da Comissão serão esgotaram os outros recursos locais disponíveis.
divididos igualmente entre os Estados Partes na controvérsia 3. A declaração feita de conformidade com o parágrafo 1
baseadas num cálculo estimativo feito pelo Secretário-Geral. do presente artigo e o nome de qualquer órgão criado ou
designado pelo Estado Parte interessado consoante o 9. O Comitê somente terá competência para exercer as
parágrafo 2 do presente artigo será depositado pelo Estado funções previstas neste artigo se pelo menos dez Estados
Parte interessado junto ao Secretário Geral das Nações Partes nesta Convenção estiverem obrigados por declarações
Unidas que remeterá cópias aos outros Estados Partes. A feitas de conformidade com o parágrafo deste artigo.
declaração poderá ser retirada a qualquer momento mediante Artigo XV
notificação ao Secretário Geral mas esta retirada não 1. Enquanto não forem atingidos os objetivos da
prejudicará as comunicações que já estiverem sendo resolução 1.514 (XV) da Assembleia Geral de 14 de
estudadas pelo Comitê. dezembro de 1960, relativa à Declaração sobro a concessão
4. O órgão criado ou designado de conformidade com o da independência dos países e povos coloniais, as
parágrafo 2 do presente artigo, deverá manter um registro de disposições da presente convenção não restringirão de
petições e cópias autenticada do registro serão depositadas maneira alguma o direito de petição concedida aos povos
anualmente por canais apropriados junto ao Secretário Geral por outros instrumentos internacionais ou pela Organização
das Nações Unidas, no entendimento que o conteúdo dessas das Nações Unidas e suas agências especializadas.
cópias não será divulgado ao público. 2. a) O Comitê constituído de conformidade com o
5. Se não obtiver repartição satisfatória do órgão criado parágrafo 1 do artigo 8 desta Convenção receberá cópia das
ou designado de conformidade com o parágrafo 2 do petições provenientes dos órgãos das Nações Unidas que se
presente artigo, o peticionário terá o direito de levar a encarregarem de questões diretamente relacionadas com os
questão ao Comitê dentro de seis meses. princípios e objetivos da presente Convenção e expressará
6. a) O Comitê levará, a título confidencial, qualquer sua opinião e formulará recomendações sobre petições
comunicação que lhe tenha sido endereçada, ao recebidas quando examinar as petições recebidas dos
conhecimento do Estado Parte que, pretensamente houver habitantes dos territórios sob tutela ou não autônomo ou de
violado qualquer das disposições desta Convenção, mas a qualquer outro território a que se aplicar a resolução 1514
identidade da pessoa ou dos grupos de pessoas não poderá (XV) da Assembleia Geral, relacionadas a questões tratadas
ser revelada sem o consentimento expresso da referida pela presente Convenção e que forem submetidas a esses
pessoa ou grupos de pessoas. O Comitê não receberá órgãos.
comunicações anônimas. b) O Comitê receberá dos órgãos competentes da
b) Nos três meses seguintes, o referido Estado submeterá, Organização das Nações Unidas cópia dos relatórios sobre
por escrito ao Comitê, as explicações ou recomendações que medidas de ordem legislativa judiciária, administrativa ou
esclarecem a questão e indicará as medidas corretivas que outra diretamente relacionada com os princípios e objetivos
por acaso houver adotado. da presente Convenção que as Potências Administradoras
7. a) O Comitê examinará as comunicações, à luz de todas tiverem aplicado nos territórios mencionados na alínea "a"
as informações que forem submetidas pelo Estado parte do presente parágrafo e expressará sua opinião e fará
interessado e pelo peticionário. O Comitê só examinará uma recomendações a esses órgãos.
comunicação de peticionário após ter-se assegurado que este 3. O Comitê incluirá em seu relatório à Assembleia um
esgotou todos os recursos internos disponíveis. Entretanto, resumo das petições e relatórios que houver recebido de
esta regra não se aplicará se os processos de recurso órgãos das Nações Unidas e as opiniões e recomendações
excederem prazos razoáveis. que houver proferido sobre tais petições e relatórios.
b) O Comitê remeterá suas sugestões e recomendações 4. O Comitê solicitará ao Secretário Geral das Nações
eventuais, ao Estado Parte interessado e ao peticionário. Unidas qualquer informação relacionada com os objetivos
8. O Comitê incluirá em seu relatório anual um resumo da presente Convenção que este dispuser sobre os territórios
destas comunicações, se for necessário, um resumo das mencionados no parágrafo 2 (a) do presente artigo.
explicações e declarações dos Estados Partes interessados Artigo XVI
assim como suas próprias sugestões e recomendações. As disposições desta Convenção relativas a solução das
controvérsias ou queixas serão aplicadas sem prejuízo de
outros processos para solução de controvérsias e queixas no efeito seria a de impedir o funcionamento de qualquer dos
campo da discriminação previstos nos instrumentos órgãos previstos nesta Convenção. Uma reserva será
constitutivos das Nações Unidas e suas agências considerada incompatível ou impeditiva se a ela objetarem
especializadas, e não excluirá a possibilidade dos Estados ao menos dois terços dos Estados partes nesta Convenção.
partes recomendarem aos outros, processos para a solução 3. As reservas poderão ser retiradas a qualquer momento
de uma controvérsia de conformidade com os acordos por uma notificação endereçada com esse objetivo ao
internacionais ou especiais que os ligarem. Secretário Geral. Tal notificação surgirá efeito na data de seu
Terceira Parte recebimento.
Artigo XVII Artigo XXI
1. A presente Convenção ficará aberta à assinatura de todo Qualquer Estado parte poderá denunciar esta Convenção
Estado Membro da Organização das Nações Unidas ou mediante notificação escrita endereçada ao Secretário Geral
membro de qualquer uma de suas agências especializadas, da Organização das Nações Unidas. A denúncia surtirá efeito
de qualquer Estado parte no Estatuto da Corte Internacional um ano após data do recebimento da notificação pelo
de Justiça, assim como de qualquer outro Estado convidado Secretário Geral.
pela Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas a Artigo XXI
torna-se parte na presente Convenção. Qualquer Controvérsia entre dois ou mais Estados Parte
2. A presente Convenção ficará sujeita à ratificação e os relativa a interpretação ou aplicação desta Convenção que
instrumentos de ratificação serão depositados junto ao não for resolvida por negociações ou pelos processos
Secretário Geral das Nações Unidas. previstos expressamente nesta Convenção, será o pedido de
Artigo XVIII qualquer das Partes na controvérsia. Submetida à decisão da
1. A presente Convenção ficará aberta a adesão de Corte Internacional de Justiça a não ser que os litigantes
qualquer Estado mencionado no parágrafo 1º do artigo 17. concordem em outro meio de solução.
2. A adesão será efetuada pelo depósito de instrumento de Artigo XXII
adesão junto ao Secretário Geral das Nações Unidas. Qualquer Controvérsia entre dois ou mais Estados Partes
Artigo XIX relativa à interpretação ou aplicação desta Convenção, que
1. Esta convenção entrará em vigor no trigésimo dia após não for resolvida por negociações ou pelos processos
a data do deposito junto ao Secretário Geral das Nações previstos expressamente nesta Convenção será, pedido de
Unidas do vigésimo sétimo instrumento de ratificação ou qualquer das Partes na controvérsia, submetida à decisão da
adesão. Corte Internacional de Justiça a não ser que os litigantes
2. Para cada Estado que ratificar a presente Convenção ou concordem em outro meio de solução.
a ele aderir após o depósito do vigésimo sétimo instrumento Artigo XXIII
de ratificação ou adesão esta Convenção entrará em vigor no 1. Qualquer Estado Parte poderá formular a qualquer
trigésimo dia após o depósito de seu instrumento de momento um pedido de revisão da presente Convenção,
ratificação ou adesão. mediante notificação escrita endereçada ao Secretário Geral
Artigo XX das Nações Unidas.
1. O Secretário Geral das Nações Unidas receberá e 2. A Assembleia-Geral decidirá a respeito das medidas a
enviará, a todos os Estados que forem ou vierem a torna-se serem tomadas, caso for necessário, sobre o pedido.
partes desta Convenção, as reservas feitas pelos Estados no Artigo XXIV
momento da ratificação ou adesão. Qualquer Estado que O Secretário Geral da Organização das Nações Unidas
objetar a essas reservas, deverá notificar ao Secretário Geral comunicará a todos os Estados mencionados no parágrafo 1º
dentro de noventa dias da data da referida comunicação, que do artigo 17 desta Convenção.
não aceita. a) as assinaturas e os depósitos de instrumentos de
2. Não será permitida uma reserva incompatível com o ratificação e de adesão de conformidade com os artigos 17 e
objeto e o escopo desta Convenção nem uma reserva cujo 18;
b) a data em que a presente Convenção entrar em vigor, II - no caso de retorsão imediata, que consista em outra
de conformidade com o artigo 19; injúria.
c) as comunicações e declarações recebidas de § 2º - Se a injúria consiste em violência ou vias de fato, que,
conformidade com os artigos 14, 20 e 23. por sua natureza ou pelo meio empregado, se considerem
d) as denúncias feitas de conformidade com o artigo 21. aviltantes:
Artigo XXV Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa, além da
1. Esta Convenção, cujos textos em chinês, espanhol, pena correspondente à violência.
inglês e russo são igualmente autênticos será depositada nos § 3º Se a injúria consiste na utilização de elementos
arquivos das Nações Unidas. referentes a raça, cor, etnia, religião, origem ou a condição
2. O Secretário Geral das Nações Unidas enviará cópias de pessoa idosa ou portadora de deficiência: (Redação dada
autenticadas desta Convenção a todos os Estados pela Lei nº 10.741 , de 2003)
pertencentes a qualquer uma das categorias mencionadas no Pena - reclusão de um a três anos e multa. (Incluído pela Lei
parágrafo 1º do artigo 17. nº 9.459 , de 1997)
Em fé do que os abaixo assinados devidamente Disposições comuns
autorizados por seus Governos assinaram a presente
Convenção que foi aberta a assinatura em Nova York a 7 de COMENTÁRIO
março de 1966. Na medida em que ocorre uma progressiva positivação
Retificação interna dos direitos humanos, principalmente como normas
Na página 10.537, 1ª coluna, na Convenção Internacional constitucionais, aumenta-se o quadro valorativo em que o
anexa ao Decreto, na alínea "a" do artigo IV, onde se lê: legislador encontrará validade para a criação da lei penal.
...outra origem técnica,... Isto porque, como acima mencionado, o Direito Penal possui
Leia-se: como sua primordial função a proteção dos bens jurídicos
...outra origem ética,... mais relevantes para a sociedade.
Na 3ª coluna, no item 1 do artigo IX, onde se lê: Desse modo, os bens jurídicos a serem protegidos na esfera
...o Comitê silicitar,... penal, se identificados como direitos fundamentais ou
Leia-se: reconhecidos como direitos humanos, se verão integrados,
...o Comitê o solicitar,... expressa ou implicitamente, no quadro valorativo da
Na página 10.538, 4ª coluna, suprima-se: Constituição e de vários tratados de direitos humanos, de
"Artigo XXI sorte que a Constituição e os tratados passam a desempenhar
Qualquer controvérsia entre dois ou mais Estados partes uma forte função de limite e fundamento para o Direito
relativa à interpretação ou aplicação desta convenção, que Penal.
não for resolvida por negociações ou pelos processos Por sua vez, sem adentrar na discussão doutrinária acerca de
previstos expressamente nesta Convenção, será o pedido de qual seja o statusnormativo dos tratados internacionais de
qualquer das partes da controvérsia, submetida à decisão da direitos humanos
Corte Internacional de Justiça a não ser que os ligantes (status supranacional,status constitucional, status supralegal
concordem em outro meio solução." ou status de lei ordinária), a nossa Constituição, no art.5º,
§3º, com a redação dada pela EC nº 45.2004, passou a
CP - Decreto Lei nº 2.848 de 07 de Dezembro de 1940 dispor que “os tratados e convenções internacionais sobre
Art. 140 - Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do
o decoro: Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. votos dos respectivos membros, serão equivalentes às
§ 1º - O juiz pode deixar de aplicar a pena: emendas constitucionais”.
I - quando o ofendido, de forma reprovável, provocou Mesmo os tratados de direitos humanos que não se
diretamente a injúria; sujeitaram ao processo de aprovação referido no art. 5º, §3º,
da CF, possuem lugar de destaque em nosso ordenamento Belém Do Pará), os “Estados Partes condenam todas as
jurídico, conforme se deflui do próprio §3º do art.5º e de seu formas de violência contra a mulher e convêm em adotar,
§2º. por todos os meios apropriados e sem demora, políticas
Como bem destacou o Ministro Gilmar Mendes em seu voto destinadas a prevenir, punir e erradicar tal violência e a
proferido no julgamento do Recurso Extraordinário empenhar-se em: (…) b) agir com o devido zelo para
466.343-1/SP: prevenir, investigar e punir a violência contra a mulher; c)
Se tivermos em mente que o Estado constitucional incorporar na sua legislação interna normas penais, civis,
contemporâneo é também um estado cooperativo – administrativas e de outra natureza, que sejam necessárias
identificado pelo Professor Peter Häberle como aquele que para prevenir, punir e erradicar a violência contra a
não mais se apresenta como um Estado Constitucional mulher, bem como adotar as medidas administrativas
voltado para si mesmo, mas que se disponibiliza como adequadas que forem aplicáveis” (art. 7º).
referência para outros Estados Constitucionais membros de Em relação à tortura, na Convenção Contra a Tortura e
uma comunidade, e no qual ganha relevo o papel dos Outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou
direitos humanos e fundamentais -, se levarmos isso em Degradantes (promulgada pelo Decreto nº 40, de
consideração, podemos concluir que acabamos de dar um 15.12.1991), “cada Estado Membro assegurará que todos
importante passo na proteção dos direitos humanos em os atos de tortura sejam considerados crimes segundo a sua
nosso país e em nossa comunidade latino-america. legislação penal. O mesmo aplicar-se-á à tentativa de
Nesse quadro de relevo dos tratados internacionais de tortura e a todo ato de qualquer pessoa que constitua
direitos humanos, estes devem funcionar como limite e cumplicidade ou participação na tortura” (art.4º).
fundamento para o legislador no processo de criminalização. Ainda sobre a tortura, a Convenção Interamericana para
Quando se diz que os tratados passam a atuar como limites, Prevenir e Punir a Tortura (ratificada pelo Brasil em 20 de
significa sua função de garantia do indivíduo contra o poder julho de 1989) prevê em seu art. 6º que“os Estados
estatal, uma vez que o Direito Penal não possui atuação Membros tomarão medidas efetivas a fim de prevenir e
livre, devendo observar os direitos fundamentais e os punir a tortura no âmbito de sua jurisdição. Os Estados
humanos. Ademais, não se deve esquecer que o criminoso Membros assegurar-se-ão de que todos os atos de tortura e
merece o devido tratamento de acordo com sua condição de as tentativas de praticar atos dessa natureza sejam
ser humano. considerados delitos em seu Direito Penal, estabelecendo
Por outro lado, os tratados internacionais sobre direitos penas severas para sua punição, que levem em conta sua
humanos passam a serfundamento de validade para que os gravidade. Os Estados Membros obrigam-se também a
direitos humanos sejam reconhecidos como bens jurídicos tomar medidas efetivas para prevenir e punir outros
sujeitos a proteção e promoção pela via penal. tratamentos ou penas cruéis, desumanos ou degradantes, no
Nessa perspectiva, verifica-se que o Brasil em vários âmbito de sua jurisdição”.
tratados se comprometeu a criar crimes para promover a Na Convenção Internacional sobre a Eliminação de todas as
proteção dos direitos humanos. Formas de Discriminação Racial (Promulgada pelo Decreto
Na Convenção Interamericana sobre Tráfico Internacional nº 65.810, de 8 de dezembro de 1969), o Brasil se
de Menores, assinada na Cidade do México em 18 de março comprometeu: a declarar como delitos puníveis por lei
de 1994 (Promulgada pelo Decreto nº 2.740, de 20 de agosto qualquer difusão de idéias que estejam fundamentadas na
de 1998), o Brasil se comprometeu a “adotar, em superioridade ou ódio raciais, quaisquer incitamentos à
conformidade com seu direito interno, medidas eficazes discriminação racial, bem como atos de violência ou
para prevenir e sancionar severamente a ocorrência de provocação destes atos, dirigidos contra qualquer raça ou
tráfico internacional de menores definido nesta Convenção” grupo de pessoas de outra cor ou de outra origem étnica,
(art.7º). como também a assistência prestada a atividades racistas,
Na Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e incluindo seu financiamento (art. 4º, “a”).
Erradicar a Violência Contra a Mulher (Convenção de
Nesse cenário, observa-se que os direitos humanos figuram XVIII e XIX não mais se justifica. A nova ordem
com destaque em nosso Estado Constitucional, de sorte que constitucional constituidora, dirigente e programática exige
se mostram merecedores de proteção pelo Direito Penal. uma intervenção estatal no sentido de concretizar os direitos
Mais do que o reconhecimento dos direitos humanos e dos fundamentais e humanos de segunda e terceira gerações,
direitos fundamentais, a preocupação é a sua efetividade, mesmo que para isso seja necessária a utilização do Direito
que nas palavras de Barroso significa: Penal.
A realização do Direito, o desempenho concreto de sua No Brasil, temos o exemplo do meio ambiente, previsto em
função social. Ela representa a materialização, no mundo capítulo específico da Constituição, inclusive com a
dos fatos, dos preceitos legais e simboliza a aproximação, determinação da atuação do legislador ordinário para a
tão íntima quanto possível, entre o dever-sernormativo e criação de lei penal para efetivar a sua proteção (mandado
o ser da realidade social (BARROSO, Luís Roberto. O constitucional de criminalização). Ademais, o Brasil faz
Direito Constitucional e a Efetividade de suas Normas. Rio parte de inúmeros tratados sobre a proteção ao meio
de janeiro: Renovar, 2003, p. 85). ambiente. A título de exemplo, podem ser citados os
Entretanto, se por um lado é assente a necessidade de seguintes compromissos:
efetivação de direitos humanos e dos fundamentais, por - Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do
outro, parte da doutrina penal se opõe à utilização do Direito Clima (promulgada pelo Decreto nº 2.652, de 01 de julho de
Penal como instrumento de proteção dos direitos humanos 1998);
relacionados a bens jurídicos supraindividuais, relacionados - Convenção de Viena para a Proteção da Camada de Ozônio
aos direitos humanos de segunda e terceira “gerações”, uma e do Protocolo de Montreal sobre Substâncias que Destroem
vez que o Direito Penal estaria sendo utilizado prima ratio, a Camada de Ozônio (promulgada pelo Decreto nº 99.280,
como função promocional de políticas públicas e sociais, em de 6 de junho de 1990);
detrimento dos princípios penais da subsidiariedade e - Convenção Internacional sobre Preparo, Resposta e
fragmentariedade. Cooperação em Caso de Poluição por Óleo (promulgada
Nesse ponto, sustenta-se que na verdade não mais se protege pelo Decreto nº 2.870, de 10 de dezembro de 1998);
bem jurídico, mas funções, consistentes em objetivos - Convenção sobre Diversidade Biológica (promulgada pelo
perseguidos pelo Estado, ou, ainda, condições prévias para a Decreto nº 2.519, de 16 de março de 1998);
fruição de bens jurídicos individuais. - Convenção Internacional de Combate à Desertificação nos
Como se não bastasse, argumenta-se que muitos dos bens Países afetados por Seca Grave e/ou Desertificação,
jurídicos supraindividuais (direito à ordem socieconômica, Particularmente na África (promulgada pelo Decreto nº
direto ao meio ambiente equilibrado etc) são formulados de 2.741, de 20 de agosto de 1998);
modo vago e impreciso, ensejando a denominada - Protocolo de Cartagena sobre Biossegurança da
desmaterialização (espiritualização ou liquefação) do bem Convenção sobre Diversidade Biológica (promulgado pelo
jurídico, em virtude de estarem sendo criados sem qualquer Decreto nº 5.705, de 16 de Fevereiro de 2006);
substrato material, distanciando-se da lesão perceptível dos - Acordo-Quadro sobre Meio Ambiente do Mercosul
interesses dos indivíduos. (promulgado pelo Decreto nº 5.208 de 17 de setembro de
Assim, ao contrário do Direito Penal de tradição liberal (que 2004);
se refere primordialmente com os direitos humanos de - Convenção de Estocolmo sobre Poluentes Orgânicos
primeira geração), no qual o bem jurídico teria cumprido um Persistentes.
papel limitador, o Direito Penal atual vem utilizando o Assim, diante desse quadro, resta difícil argumentar que o
conceito de bem jurídico para legitimar a criação de novos Direito Penal não deva ser utilizado na proteção do meio
tipos, caracterizando, assim, uma função com sentido ambiente, interesse de patamar constitucional e de relevo
criminalizador. entre os direitos humanos, bem como de outros direitos
Entretanto, essa blindagem amparada por interpretação humanos de segunda e terceira geração.
isolada de princípios do Direito Penal liberal dos séculos
Registre-se, aqui, o seguinte trecho da decisão do STF (AP Considerando que, pelo Decreto Legislativo nº 26, de 22 de
439, Relator: Min. Marco Aurélio, Tribunal Pleno, julgado junho de 1994, o Congresso Nacional revogou o citado
em 12/06/2008): Decreto Legislativo nº 93, aprovando a Convenção sobre a
A finalidade do Direito Penal é justamente conferir uma Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a
proteção reforçada aos valores fundamentais compartilhados Mulher, inclusive os citados artigos 15, parágrafo 4º, e 16,
culturalmente pela sociedade. Além dos valores clássicos, parágrafo 1º, alíneas (a), (c), (g) e (h);
como a vida, liberdade, integridade física, a honra e Considerando que o Brasil retirou as mencionadas reservas
imagem, o patrimônio etc., o Direito Penal, a partir de em 20 de dezembro de 1994;
meados do século XX, passou a cuidar também do meio Considerando que a Convenção entrou em vigor, para o
ambiente, que ascendeu paulatinamente ao posto de valor Brasil, em 2 de março de 1984, com a reserva facultada em
supremo das sociedades contemporâneas, passando a seu art.29, parágrafo 2;
compor o rol de direitos fundamentais ditos de 3ª geração
incorporados nos textos constitucionais dos Estados D E C R E T A:
Democráticos de Direito. Art. 1º A Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas
Parece certo, por outro lado, que essa proteção pela via de Discriminação contra a Mulher, de 18 de dezembro de
do Direito Penal justifica-se apenas em face de danos 1979, apensa por cópia ao presente Decreto, com reserva
efetivos ou potenciais ao valor fundamental do meio facultada em seu art.29, parágrafo 2, será executada e
ambiente; ou seja, a conduta somente pode ser tida como cumprida tão inteiramente como nela se contém.
criminosa quando degrade ou no mínimo traga algum risco Art. 2º São sujeitos à aprovação do Congresso Nacional
de degradação do equilíbrio ecológico das espécies e dos quaisquer atos que possam resultar em revisão da referida
ecossistemas. (grifei) Convenção, assim como quaisquer ajustes complementares
Ou seja, independentemente da escolha dos bens jurídicos que, nos termos do Art.49, inciso I, da Constituição,
considerados relevantes para a sociedade (dignidade penal acarretem encargos ou compromissos gravosos ao
do bem), ainda é imprescindível para a legitimidade da tutela patrimônio nacional.
penal a observância dos princípios da subsidiariedade e Art. 3º Este Decreto entra em vigor na data de sua
ofensividade, de sorte que não justifica o afastamento do publicação.
Direito Penal da esfera de proteção dos direitos humanos de Art. 4º Fica revogado o Decreto nº 89.460, de 20 de março
segunda e terceira geração. de 1984.
Brasília, 13 de setembro de 2002; 181º da Independência e
DECRETO Nº 4.377, DE 13 DE SETEMBRO DE 2002 114º da República.
Promulga a Convenção sobre a Eliminação de Todas as FERNANDO HENRIQUE CARDOSO
Formas de Discriminação contra a Mulher, de 1979, e Osmar Chohfi
revoga o Decreto nº 89.460, de 20 de março de 1984.
Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição Discriminação contra a Mulher
que lhe confere o Art.84, inciso VIII, da Constituição, e Os Estados Partes na presente convenção,
Considerando que o Congresso Nacional aprovou, pelo CONSIDERANDO que a Carta das Nações Unidas reafirma
Decreto Legislativo nº 93, de 14 de novembro de 1983, a a fé nos direitos fundamentais do homem, na dignidade e no
Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de valor da pessoa humana e na igualdade de direitos do
Discriminação contra a Mulher, assinada pela República homem e da mulher,
Federativa do Brasil, em Nova York, no dia 31 de março de CONSIDERANDO que a Declaração Universal dos Direitos
1981, com reservas aos seus artigos 15, parágrafo 4, e 16, Humanos reafirma o princípio da não-discriminação e
parágrafo 1, alíneas (a), (c), (g) e (h); proclama que todos os seres humanos nascem livres e iguais
em dignidade e direitos e que toda pessoa pode invocar
todos os direitos e liberdades proclamadas nessa Declaração, estrito e efetivo controle internacional, a afirmação dos
sem distinção alguma, inclusive de sexo, princípios de justiça, igualdade e proveito mútuo nas
CONSIDERANDO que os Estados Partes nas Convenções relações entre países e a realização do direito dos povos
Internacionais sobre Direitos Humanos tem a obrigação de submetidos a dominação colonial e estrangeira e a ocupação
garantir ao homem e à mulher a igualdade de gozo de todos estrangeira, à autodeterminação e independência, bem como
os direitos econômicos, sociais, culturais, civis e políticos, o respeito da soberania nacional e da integridade territorial,
OBSEVANDO as convenções internacionais concluídas sob promoverão o progresso e o desenvolvimento sociais, e, em
os auspícios das Nações Unidas e dos organismos conseqüência, contribuirão para a realização da plena
especializados em favor da igualdade de direitos entre o igualdade entre o homem e a mulher,
homem e a mulher, CONVENCIDOS de que a participação máxima da mulher,
OBSERVANDO, ainda, as resoluções, declarações e em igualdade de condições com o homem, em todos os
recomendações aprovadas pelas Nações Unidas e pelas campos, é indispensável para o desenvolvimento pleno e
Agências Especializadas para favorecer a igualdade de completo de um país, o bem-estar do mundo e a causa da
direitos entre o homem e a mulher, paz,
PREOCUPADOS, contudo, com o fato de que, apesar destes TENDO presente a grande contribuição da mulher ao bem-
diversos instrumentos, a mulher continue sendo objeto de estar da família e ao desenvolvimento da sociedade, até
grandes discriminações, agora não plenamente reconhecida, a importância social da
RELEMBRANDO que a discriminação contra a mulher maternidade e a função dos pais na família e na educação
viola os princípios da igualdade de direitos e do respeito da dos filhos, e conscientes de que o papel da mulher na
dignidade humana, dificulta a participação da mulher, nas procriação não deve ser causa de discriminação, mas sim
mesmas condições que o homem, na vida política, social, que a educação dos filhos exige a responsabilidade
econômica e cultural de seu país, constitui um obstáculo ao compartilhada entre homens e mulheres e a sociedade como
aumento do bem-estar da sociedade e da família e dificulta o um conjunto,
pleno desenvolvimento das potencialidades da mulher para RECONHECENDO que para alcançar a plena igualdade
prestar serviço a seu país e à humanidade, entre o homem e a mulher é necessário modificar o papel
PREOCUPADOS com o fato de que, em situações de tradicional tanto do homem como da mulher na sociedade e
pobreza, a mulher tem um acesso mínimo à alimentação, à na família,
saúde, à educação, à capacitação e às oportunidades de RESOLVIDOS a aplicar os princípios enunciados na
emprego, assim como à satisfação de outras necessidades, Declaração sobre a Eliminação da Discriminação contra a
CONVENCIDOS de que o estabelecimento da Nova Ordem Mulher e, para isto, a adotar as medidas necessárias a fim de
Econômica Internacional baseada na eqüidade e na justiça suprimir essa discriminação em todas as suas formas e
contribuirá significativamente para a promoção da igualdade manifestações,
entre o homem e a mulher, CONCORDARAM no seguinte:
SALIENTANDO que a eliminação do apartheid, de todas as PARTE I
formas de racismo, discriminação racial, colonialismo, Artigo 1º
neocolonialismo, agressão, ocupação estrangeira e Para os fins da presente Convenção, a expressão
dominação e interferência nos assuntos internos dos Estados "discriminação contra a mulher" significará toda a distinção,
é essencial para o pleno exercício dos direitos do homem e exclusão ou restrição baseada no sexo e que tenha por objeto
da mulher, ou resultado prejudicar ou anular o reconhecimento, gozo ou
AFIRMANDO que o fortalecimento da paz e da segurança exercício pela mulher, independentemente de seu estado
internacionais, o alívio da tensão internacional, a cooperação civil, com base na igualdade do homem e da mulher, dos
mútua entre todos os Estados, independentemente de seus direitos humanos e liberdades fundamentais nos campos
sistemas econômicos e sociais, o desarmamento geral e político, econômico, social, cultural e civil ou em qualquer
completo, e em particular o desarmamento nuclear sob um outro campo.
Artigo 2º na forma definida nesta Convenção, mas de nenhuma
Os Estados Partes condenam a discriminação contra a maneira implicará, como conseqüência, a manutenção de
mulher em todas as suas formas, concordam em seguir, por normas desiguais ou separadas; essas medidas cessarão
todos os meios apropriados e sem dilações, uma política quando os objetivos de igualdade de oportunidade e
destinada a eliminar a discriminação contra a mulher, e com tratamento houverem sido alcançados.
tal objetivo se comprometem a: 2. A adoção pelos Estados-Partes de medidas especiais,
a) Consagrar, se ainda não o tiverem feito, em suas inclusive as contidas na presente
constituições nacionais ou em outra legislação apropriada o Convenção, destinadas a proteger a maternidade, não se
princípio da igualdade do homem e da mulher e assegurar considerará discriminatória.
por lei outros meios apropriados a realização prática desse Artigo 5º
princípio; Os Estados-Partes tornarão todas as medidas apropriadas
b) Adotar medidas adequadas, legislativas e de outro caráter, para:
com as sanções cabíveis e que proíbam toda discriminação a) Modificar os padrões sócio-culturais de conduta de
contra a mulher; homens e mulheres, com vistas a alcançar a eliminação dos
c) Estabelecer a proteção jurídica dos direitos da mulher preconceitos e práticas consuetudinárias e de qualquer outra
numa base de igualdade com os do homem e garantir, por índole que estejam baseados na idéia da inferioridade ou
meio dos tribunais nacionais competentes e de outras superioridade de qualquer dos sexos ou em funções
instituições públicas, a proteção efetiva da mulher contra estereotipadas de homens e mulheres.
todo ato de discriminação; b) Garantir que a educação familiar inclua uma compreensão
d) Abster-se de incorrer em todo ato ou prática de adequada da maternidade como função social e o
discriminação contra a mulher e zelar para que as reconhecimento da responsabilidade comum de homens e
autoridades e instituições públicas atuem em conformidade mulheres no que diz respeito à educação e ao
com esta obrigação; desenvolvimento de seus filhos, entendendo-se que o
e) Tomar as medidas apropriadas para eliminar a interesse dos filhos constituirá a consideração primordial em
discriminação contra a mulher praticada por qualquer todos os casos.
pessoa, organização ou empresa; Artigo 6º
f) Adotar todas as medidas adequadas, inclusive de caráter Os Estados-Partes tomarão todas as medidas apropriadas,
legislativo, para modificar ou derrogar leis, regulamentos, inclusive de caráter legislativo, para suprimir todas as
usos e práticas que constituam discriminação contra a formas de tráfico de mulheres e exploração da prostituição
mulher; da mulher.
g) Derrogar todas as disposições penais nacionais que PARTE II
constituam discriminação contra a mulher. Artigo 7º
Artigo 3º Os Estados-Partes tomarão todas as medidas apropriadas
Os Estados Partes tomarão, em todas as esferas e, em para eliminar a discriminação contra a mulher na vida
particular, nas esferas política, social, econômica e cultural, política e pública do país e, em particular, garantirão, em
todas as medidas apropriadas, inclusive de caráter igualdade de condições com os homens, o direito a:
legislativo, para assegurar o pleno desenvolvimento e a) Votar em todas as eleições e referenda públicos e ser
progresso da mulher, com o objetivo de garantir-lhe o elegível para todos os órgãos cujos membros sejam objeto
exercício e gozo dos direitos humanos e liberdades de eleições públicas;
fundamentais em igualdade de condições com o homem. b) Participar na formulação de políticas governamentais e na
Artigo 4º execução destas, e ocupar cargos
1. A adoção pelos Estados-Partes de medidas especiais de públicos e exercer todas as funções públicas em todos os
caráter temporário destinadas a acelerar a igualdade de fato planos governamentais;
entre o homem e a mulher não se considerará discriminação
c) Participar em organizações e associações não- outros tipos de educação que contribuam para alcançar este
governamentais que se ocupem da vida pública e política do objetivo e, em particular, mediante a modificação
país. dos livros e programas escolares e adaptação dos métodos
Artigo 8º de ensino;
Os Estados-Partes tomarão todas as medidas apropriadas d) As mesmas oportunidades para obtenção de bolsas-de-
para garantir, à mulher, em igualdade de condições com o estudo e outras subvenções para estudos;
homem e sem discriminação alguma, a oportunidade de e) As mesmas oportunidades de acesso aos programas de
representar seu governo no plano internacional e de educação supletiva, incluídos os programas de alfabetização
participar no trabalho das organizações internacionais. funcional e de adultos, com vistas a reduzir, com a maior
Artigo 9º brevidade possível, a diferença de conhecimentos existentes
1. Os Estados-Partes outorgarão às mulheres direitos iguais entre o homem e a mulher;
aos dos homens para adquirir, mudar ou conservar sua f) A redução da taxa de abandono feminino dos estudos e a
nacionalidade.Garantirão, em particular, que nem o organização de programas para aquelas jovens e mulheres
casamento com um estrangeiro, nem a mudança de que tenham deixado os estudos prematuramente;
nacionalidade do marido durante o casamento, modifiquem g) As mesmas oportunidades para participar ativamente nos
automaticamente a nacionalidade da esposa, convertam-na esportes e na educação física;
em apátrida ou a obriguem a adotar a nacionalidade do h) Acesso a material informativo específico que contribua
cônjuge. para assegurar a saúde e o bemestar da família, incluída a
2. Os Estados-Partes outorgarão à mulher os mesmos informação e o assessoramento sobre planejamento da
direitos que ao homem no que diz respeito à nacionalidade família.
dos filhos. Artigo 11
PARTE III 1.Os Estados-Partes adotarão todas as medidas apropriadas
Artigo 10 para eliminar a discriminação contra a mulher na esfera do
Os Estados-Partes adotarão todas as medidas apropriadas emprego a fim de assegurar, em condições de igualdade
para eliminar a discriminação contra a mulher, a fim de entre homens e mulheres, os mesmos direitos, em particular:
assegurar-lhe a igualdade de direitos com o homem na esfera a) O direito ao trabalho como direito inalienável de todo ser
da educação e em particular para assegurarem condições de humano;
igualdade entre homens e mulheres: b) O direito às mesmas oportunidades de emprego, inclusive
a) As mesmas condições de orientação em matéria de a aplicação dos mesmos critérios de seleção em questões de
carreiras e capacitação profissional, acesso aos estudos e emprego;
obtenção de diplomas nas instituições de ensino de todas as c) O direito de escolher livremente profissão e emprego, o
categorias, tanto em zonas rurais como urbanas; essa direito à promoção e à estabilidade no emprego e a todos os
igualdade deverá ser assegurada na educação préescolar, benefícios e outras condições de serviço, e o direito ao
geral, técnica e profissional, incluída a educação técnica acesso à formação e à atualização profissionais, incluindo
superior, assim como todos os aprendizagem, formação profissional superior e treinamento
tipos de capacitação profissional; periódico;
b) Acesso aos mesmos currículos e mesmos exames, pessoal d) O direito a igual remuneração, inclusive benefícios, e
docente do mesmo nível igualdade de tratamento relativa a um trabalho de igual
profissional, instalações e material escolar da mesma valor, assim como igualdade de tratamento com respeito à
qualidade; avaliação da qualidade do trabalho;
c) A eliminação de todo conceito estereotipado dos papéis e) O direito à seguridade social, em particular em casos de
masculino e feminino em todos os níveis e em todas as aposentadoria, desemprego,
formas de ensino mediante o estímulo à educação mista e a doença, invalidez, velhice ou outra incapacidade para
trabalhar, bem como o direito de férias
pagas; condições de igualdade entre homens e mulheres, os
f) O direito à proteção da saúde e à segurança nas condições mesmos direitos, em particular:
de trabalho, inclusive a a) O direito a benefícios familiares;
salvaguarda da função de reprodução. b) O direito a obter empréstimos bancários, hipotecas e
2. A fim de impedir a discriminação contra a mulher por outras formas de crédito financeiro;
razões de casamento ou maternidade e c) O direito a participar em atividades de recreação, esportes
assegurar a efetividade de seu direito a trabalhar, os Estados- e em todos os aspectos da vida cultural.
Partes tomarão as medidas Artigo 14
adequadas para: 1. Os Estados-Partes levarão em consideração os problemas
a) Proibir, sob sanções, a demissão por motivo de gravidez específicos enfrentados pelamulher rural e o importante
ou licença de maternidade e a discriminação nas demissões papel que desempenha na subsistência econômica de sua
motivadas pelo estado civil; família, incluído seu trabalho em setores não-monetários da
b) Implantar a licença de maternidade, com salário pago ou economia, e tomarão todas as medidasapropriadas para
benefícios sociais comparáveis, sem perda do emprego assegurar a aplicação dos dispositivos desta Convenção à
anterior, Antigüidade ou benefícios sociais; mulher das zonas rurais.
c) Estimular o fornecimento de serviços sociais de apoio 2. Os Estados-Partes adotarão todas as medias apropriadas
necessários para permitir que os pais combinem as para eliminar a discriminação contra a mulher nas zonas
obrigações para com a família com as responsabilidades do rurais a fim de assegurar, em condições de igualdade entre
trabalho e aparticipação na vida pública, especialmente homens e mulheres, que elas participem no desenvolvimento
mediante fomento da criação e desenvolvimento deuma rede rural e dele se beneficiem, e em particular as segurar-lhes-ão
de serviços destinados ao cuidado das crianças; o direito a:
d) Dar proteção especial às mulheres durante a gravidez nos a) Participar da elaboração e execução dos planos de
tipos de trabalho comprovadamente prejudiciais para elas. desenvolvimento em todos os níveis;
3. A legislação protetora relacionada com as questões b) Ter acesso a serviços médicos adequados, inclusive
compreendidas neste artigo será examinada periodicamente informação, aconselhamento e serviçosem matéria de
à luz dos conhecimentos científicos e tecnológicos e será planejamento familiar;
revista, derrogada ou ampliada conforme as necessidades. c) Beneficiar-se diretamente dos programas de seguridade
Artigo 12 social;
1. Os Estados-Partes adotarão todas as medidas apropriadas d) Obter todos os tipos de educação e de formação,
para eliminar a discriminação contra a mulher na esfera dos acadêmica e não-acadêmica, inclusive os relacionados à
cuidados médicos a fim de assegurar, em condições de alfabetização funcional, bem como, entre outros, os
igualdade entre homens e mulheres, o acesso a serviços benefícios de todos os serviços comunitários e de extensão a
médicos, inclusive os referentes ao planejamento familiar. fim de aumentar sua capacidade técnica;
2. Sem prejuízo do disposto no parágrafo 1, os Estados- e) Organizar grupos de auto-ajuda e cooperativas a fim de
Partes garantirão à mulher assistência apropriadas em obter igualdade de acesso às oportunidades econômicas
relação à gravidez, ao parto e ao período posterior ao parto, mediante emprego ou trabalho por conta própria;
proporcionandoassistência gratuita quando assim for f) Participar de todas as atividades comunitárias;
necessário, e lhe assegurarão uma nutrição adequada g) Ter acesso aos créditos e empréstimos agrícolas, aos
durante a gravidez e a lactância. serviços de comercialização e às tecnologias apropriadas, e
Artigo 13 receber um tratamento igual nos projetos de reforma agrária
Os Estados-Partes adotarão todas as medidas apropriadas e de restabelecimentos;
para eliminar a discriminaçãocontra a mulher em outras h) gozar de condições de vida adequadas, particularmente
esferas da vida econômica e social a fim de assegurar, em nas esferas da habitação, dos
serviços sanitários, da eletricidade e do abastecimento de f) Os mesmos direitos e responsabilidades com respeito à
água, do transporte e das tutela, curatela, guarda e adoção dos
comunicações. filhos, ou institutos análogos, quando esses conceitos
PARTE IV existirem na legislação nacional.Em todos
Artigo 15 os casos os interesses dos filhos serão a consideração
1.Os Estados-Partes reconhecerão à mulher a igualdade com primordial;
o homem perante a lei. g) Os mesmos direitos pessoais como marido e mulher,
2. Os Estados-Partes reconhecerão à mulher, em matérias inclusive o direito de escolher
civis, uma capacidade jurídica sobrenome, profissão e ocupação;
idêntica do homem e as mesmas oportunidades para o h) Os mesmos direitos a ambos os cônjuges em matéria de
exercício dessa capacidade.Em particular, propriedade, aquisição, gestão,administração, gozo e
reconhecerão à mulher iguais direitos para firmar contratos e disposição dos bens, tanto a título gratuito quanto à título
administrar bens e dispensar-lhe-ão oneroso.
um tratamento igual em todas as etapas do processo nas 2.Os esponsais e o casamento de uma criança não terão
cortes de justiça e nos tribunais. efeito legal e todas as medidas necessárias, inclusive as de
3. Os Estados-Partes convém em que todo contrato ou outro caráter legislativo, serão adotadas para estabelecer uma
instrumento privado de efeitojurídico que tenda a restringir a idade mínima para o casamento e para tornar obrigatória a
capacidade jurídica da mulher será considerado nulo. inscrição de casamentos em registro oficial.
4. Os Estados-Partes concederão ao homem e à mulher os PARTE V
mesmos direitos no que respeita àlegislação relativa ao Artigo 17
direito das pessoas à liberdade de movimento e à liberdade 1. Com o fim de examinar os progressos alcançados na
de escolha deresidência e domicílio. aplicação desta Convenção, será estabelecido um Comitê
Artigo 16 sobre a Eliminação da Discriminação contra a Mulher
1. Os Estados-Partes adotarão todas as medidas adequadas (doravante denominado o Comitê) composto, no momento
para eliminar a discriminaçãocontra a mulher em todos os da entrada em vigor da Convenção, de dezoito e, após sua
assuntos relativos ao casamento e às ralações familiares e, ratificação ou adesão pelo trigésimo-quinto Estado-Parte, de
emparticular, com base na igualdade entre homens e vinte e três peritos de grande prestígio moral e competência
mulheres, assegurarão: na área abarcada pela Convenção.Os peritos serão eleitos
a) O mesmo direito de contrair matrimônio; pelos Estados-Partes entre seus nacionais e exercerão suas
b) O mesmo direito de escolher livremente o cônjuge e de funções a título pessoal; será levada em conta uma
contrair matrimônio somente com repartição geográfica eqüitativa e a representação das
livre e pleno consentimento; formas diversas de civilização assim como dos principais
c) Os mesmos direitos e responsabilidades durante o sistemas jurídicos;
casamento e por ocasião de sua dissolução; 2. Os membros do Comitê serão eleitos em escrutínio
d) Os mesmos direitos e responsabilidades como pais, secreto de uma lista de pessoasindicadas pelos Estados-
qualquer que seja seu estado civil, em matérias pertinentes Partes.Cada um dos Estados-Partes poderá indicar uma
aos filhos.Em todos os casos, os interesses dos filhos serão a pessoa entre seus próprios nacionais;
consideração primordial; 3. A eleição inicial realizar-se-á seis meses após a data de
e) Os mesmos direitos de decidir livre a responsavelmente entrada em vigor desta Convenção.Pelo menos três meses
sobre o número de seus filhos e antes da data de cada eleição, o Secretário-Geral das Nações
sobre o intervalo entre os nascimentos e a ter acesso à Unidas dirigirá uma carta aos Estados-Partes convidando-os
informação, à educação e aos meios que a apresentar suas candidaturas, no prazo de dois meses.O
lhes permitam exercer esses direitos; Secretário-Geral preparará uma lista, por ordem alfabética
de todos os candidatos assim apresentados, com indicação
dos Estados-Partes que os tenham apresentado e comunica- e
la-á aos Estados Partes; b) Posteriormente, pelo menos cada quatro anos e toda vez
4. Os membros do Comitê serão eleitos durante uma reunião que o Comitê a solicitar.
dos Estados-Partes convocado pelo Secretário-Geral na sede 2. Os relatórios poderão indicar fatores e dificuldades que
das Nações Unidas.Nessa reunião, em que o quorum será influam no grau de cumprimento das
alcançado com dois terços dos Estados-Partes, serão eleitos obrigações estabelecidos por esta Convenção.
membros do Comitê os candidatos que obtiverem o maior Artigo 19
número de votos e a maioria absoluta de votos dos 1. O Comitê adotará seu próprio regulamento.
representantes dos Estados-Partes presentes e votantes; 2. O Comitê elegerá sua Mesa por um período de dois anos.
5. Os membros do Comitê serão eleitos para um mandato de Artigo 20
quatro anos.Entretanto, o 1. O Comitê se reunirá normalmente todos os anos por um
mandato de nove dos membros eleitos na primeira eleição período não superior a duas semanas para examinar os
expirará ao fim de dois anos; imediatamente após a primeira relatórios que lhe sejam submetidos em conformidade com o
eleição os nomes desses nove membros serão escolhidos, Artigo 18
por sorteio, pelo Presidente do Comitê; desta Convenção.
6. A eleição dos cinco membros adicionais do Comitê 2. As reuniões do Comitê realizar-se-ão normalmente na
realizar-se-á em conformidade com o disposto nos sede das Nações Unidas ou em qualquer outro lugar que o
parágrafos 2, 3 e 4 deste Artigo, após o depósito do Comitê determine.
trigésimo-quinto instrumento de ratificação ou adesão.O Artigo 21
mandato de dois dos membros adicionais eleitos nessa 1. O Comitê, através do Conselho Econômico e Social das
ocasião, cujos nomes serão escolhidos, por sorteio, pelo Nações Unidas, informará anualmente a Assembléia Geral
Presidente do Comitê, expirará ao fim de dois anos; das Nações Unidas de suas atividades e poderá apresentar
7. Para preencher as vagas fortuitas, o Estado-Parte cujo sugestões e recomendações de caráter geral baseada no
perito tenha deixado de exercer suas funções de membro do exame dos relatórios e em informações recebidas dos
Comitê nomeará outro perito entre seus nacionais, sob Estados-Partes.Essas sugestões e recomendações de caráter
reserva da aprovação do Comitê; geral serão incluídas no relatório do Comitê juntamente com
8. Os membros do Comitê, mediante aprovação da as observações que os Estados-Partes tenham porventura
Assembléia Geral, receberão remuneração dos recursos das formulado.
Nações Unidas, na forma e condições que a Assembléia 2. O Secretário-Geral transmitirá, para informação, os
Geral decidir, tendo em vista a importância das funções do relatórios do Comitê à Comissão sobre a Condição da
Comitê; Mulher.
9. O Secretário-Geral das Nações Unidas proporcionará o As Agências Especializadas terão direito a estar
pessoal e os serviços necessários para o desempenho eficaz representadas no exame da aplicação das disposições desta
das funções do Comitê em conformidade com esta Convenção que correspondam à esfera de suas atividades.O
Convenção. Comitê poderá convidar as Agências Especializadas a
Artigo 18 apresentar relatórios sobre a aplicação da Convenção nas
1. Os Estados-Partes comprometem-se a submeter ao áreas que correspondam à esfera de suas atividades.
Secretário-Geral das Nações Unidas,para exame do Comitê, PARTE VI
um relatório sobre as medidas legislativas, judiciárias, Artigo 23
administrativas ou outras que adotarem para tornarem Nada do disposto nesta Convenção prejudicará qualquer
efetivas as disposições desta Convenção e sobre os disposição que seja mais propícia à obtenção da igualdade
progressos alcançados a esse respeito: entre homens e mulheres e que seja contida:
a) No prazo de um ano a partir da entrada em vigor da a) Na legislação de um Estado-Parte ou
Convenção para o Estado interessado;
b) Em qualquer outra convenção, tratado ou acordo os Estados a respeito.A notificação surtirá efeito na data de
internacional vigente nesse Estado. seu recebimento.
Artigo 24 Artigo 29
Os Estados-Partes comprometem-se a adotar todas as 1. Qualquer controvérsia entre dois ou mais Estados-Partes
medidas necessárias em âmbito nacional para alcançar a relativa à interpretação ou aplicação desta Convenção e que
plena realização dos direitos reconhecidos nesta Convenção. não for resolvida por negociações será, a pedido de qualquer
Artigo 25 das Partes na controvérsia, submetida à arbitragem.Se no
1. Esta Convenção estará aberta à assinatura de todos os prazo de seis meses a partir da data do pedido de arbitragem
Estados. as Partes não acordarem sobre a forma da arbitragem,
2. O Secretário-Geral das Nações Unidas fica designado qualquer das Partes poderá submeter à controvérsia à Corte
depositário desta Convenção. Internacional de Justiça mediante pedido em conformidade
3. Esta Convenção está sujeita a ratificação. Os instrumentos com o Estatuto da Corte.
de ratificação serão depositados 2. Qualquer Estado-Parte, no momento da assinatura ou
junto ao Secretário-Geral das Nações Unidas. ratificação desta Convenção ou de adesão a ela, poderá
4. Esta Convenção estará aberta à adesão de todos os declarar que não se considera obrigado pelo parágrafo
Estados.A adesão efetuar-se-á através anterior.Os demais Estados-Partes não estarão obrigados
do depósito de um instrumento de adesão junto ao pelo parágrafo anterior perante nenhum Estado-Parte que
Secretário-Geral das Nações Unidas. tenha formulado essa reserva.
Artigo 26 3. Qualquer Estado-Parte que tenha formulado a reserva
1. Qualquer Estado-Parte poderá, em qualquer momento, prevista no parágrafo anterior poderá retirá-la em qualquer
formular pedido de revisão desta revisão desta Convenção, momento por meio de notificação ao Secretário-Geral das
mediante notificação escrita dirigida ao Secretário-Geral das Nações Unidas.
Nações Unidas. Artigo 30
2. A Assembléia Geral das Nações Unidas decidirá sobre as Esta convenção, cujos textos em árabe, chinês, espanhol,
medidas a serem tomadas, se for o caso, com respeito a esse francês, inglês e russo são igualmente autênticos será
pedido. depositada junto ao Secretário-Geral das Nações Unidas.
Artigo 27 Em testemunho do que, os abaixo-assinados devidamente
1. Esta Convenção entrará em vigor no trigésimo dia a partir autorizados, assinaram esta Convenção.
da data do depósito do vigésimo instrumento de ratificação
ou adesão junto ao Secretário-Geral das Nações Unidas. LEI Nº 2.889, DE 1 DE OUTUBRO DE 1956.
2. Para cada Estado que ratificar a presente Convenção ou a Define e pune o crime de
ela aderir após o depósito do vigésimo instrumento de genocídio.
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA:
ratificação ou adesão, a Convenção entrará em vigor no
Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu
trigésimo dia após o depósito de seu instrumento de
sanciono a seguinte Lei:
ratificação ou adesão.
Art. 1º Quem, com a intenção de destruir, no todo ou
Artigo 28
em parte, grupo nacional, étnico, racial ou religioso, como
1. O Secretário-Geral das Nações Unidas receberá e enviará
tal:
a todos os Estados o texto das reservas feitas pelos Estados
a) matar membros do grupo;
no momento da ratificação ou adesão.
b) causar lesão grave à integridade física ou mental de
2. Não será permitida uma reserva incompatível com o
membros do grupo;
objeto e o propósito desta Convenção.
c) submeter intencionalmente o grupo a condições de
3. As reservas poderão ser retiradas a qualquer momento por
existência capazes de ocasionar-lhe a destruição física total
uma notificação endereçada com esse objetivo ao
ou parcial;
Secretário-Geral das Nações Unidas, que informará a todos
d) adotar medidas destinadas a impedir os dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar
nascimentos no seio do grupo; contra a Mulher; altera o Código de Processo
e) efetuar a transferência forçada de crianças do grupo Penal, o Código Penal e a Lei de Execução Penal;
para outro grupo; e dá outras providências.
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que
Será punido:
o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
Com as penas do art. 121, § 2º, do Código Penal, no
TÍTULO I
caso da letra a;
DISPOSIÇÕES PRELIMINARES
Com as penas do art. 129, § 2º, no caso da letra b;
o
Art. 1 Esta Lei cria mecanismos para coibir e
Com as penas do art. 270, no caso da letra c;
prevenir a violência doméstica e familiar contra a mulher,
Com as penas do art. 125, no caso da letra d;
nos termos do § 8o do art. 226 da Constituição Federal, da
Com as penas do art. 148, no caso da letra e;
Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de
Art. 2º Associarem-se mais de 3 (três) pessoas para
Violência contra a Mulher, da Convenção Interamericana
prática dos crimes mencionados no artigo anterior:
para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher
Pena: Metade da cominada aos crimes ali previstos.
e de outros tratados internacionais ratificados pela República
Art. 3º Incitar, direta e publicamente alguém a
Federativa do Brasil; dispõe sobre a criação dos Juizados de
cometer qualquer dos crimes de que trata o art. 1º:
Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; e
Pena: Metade das penas ali cominadas.
estabelece medidas de assistência e proteção às mulheres em
§ 1º A pena pelo crime de incitação será a mesma de
situação de violência doméstica e familiar.
crime incitado, se este se consumar.
Art. 2o Toda mulher, independentemente de classe,
§ 2º A pena será aumentada de 1/3 (um terço), quando
raça, etnia, orientação sexual, renda, cultura, nível
a incitação for cometida pela imprensa.
educacional, idade e religião, goza dos direitos fundamentais
Art. 4º A pena será agravada de 1/3 (um terço), no
inerentes à pessoa humana, sendo-lhe asseguradas as
caso dos arts. 1º, 2º e 3º, quando cometido o crime por
oportunidades e facilidades para viver sem violência,
governante ou funcionário público.
preservar sua saúde física e mental e seu aperfeiçoamento
Art. 5º Será punida com 2/3 (dois terços) das
moral, intelectual e social.
respectivas penas a tentativa dos crimes definidos nesta lei.
Art. 3o Serão asseguradas às mulheres as condições
Art. 6º Os crimes de que trata esta lei não serão
para o exercício efetivo dos direitos à vida, à segurança, à
considerados crimes políticos para efeitos de extradição.
saúde, à alimentação, à educação, à cultura, à moradia, ao
Art. 7º Revogam-se as disposições em contrário.
acesso à justiça, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à
Rio de Janeiro, 1 de outubro de 1956; 135º da
cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à
Independência e 68º da República.
convivência familiar e comunitária.
JUSCELINO KUBITSCHEK
§ 1o O poder público desenvolverá políticas que visem
Nereu Ramos
garantir os direitos humanos das mulheres no âmbito das
Este texto não substitui o publicado no D.O.U. de 2.10.1956
relações domésticas e familiares no sentido de resguardá-las
de toda forma de negligência, discriminação, exploração,
violência, crueldade e opressão.
LEI Nº 11.340, DE 7 DE AGOSTO DE 2006.
§ 2o Cabe à família, à sociedade e ao poder público
Cria mecanismos para coibir a violência doméstica
criar as condições necessárias para o efetivo exercício dos
e familiar contra a mulher, nos termos do § 8 o do
direitos enunciados no caput.
art. 226 da Constituição Federal, da Convenção
Art. 4o Na interpretação desta Lei, serão considerados
sobre a Eliminação de Todas as Formas de
os fins sociais a que ela se destina e, especialmente, as
Discriminação contra as Mulheres e da Convenção
condições peculiares das mulheres em situação de violência
Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a
doméstica e familiar.
Violência contra a Mulher; dispõe sobre a criação
TÍTULO II
DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A III - a violência sexual, entendida como qualquer
MULHER conduta que a constranja a presenciar, a manter ou a
CAPÍTULO I participar de relação sexual não desejada, mediante
DISPOSIÇÕES GERAIS intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que a induza a
o
Art. 5 Para os efeitos desta Lei, configura violência comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua
doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou sexualidade, que a impeça de usar qualquer método
omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao
sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou aborto ou à prostituição, mediante coação, chantagem,
patrimonial: suborno ou manipulação; ou que limite ou anule o exercício
I - no âmbito da unidade doméstica, compreendida de seus direitos sexuais e reprodutivos;
como o espaço de convívio permanente de pessoas, com ou IV - a violência patrimonial, entendida como qualquer
sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente conduta que configure retenção, subtração, destruição
agregadas; parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho,
II - no âmbito da família, compreendida como a documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos
comunidade formada por indivíduos que são ou se econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas
consideram aparentados, unidos por laços naturais, por necessidades;
afinidade ou por vontade expressa; V - a violência moral, entendida como qualquer
III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o conduta que configure calúnia, difamação ou injúria.
agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida, TÍTULO III
independentemente de coabitação. DA ASSISTÊNCIA À MULHER EM SITUAÇÃO DE
Parágrafo único. As relações pessoais enunciadas VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR
neste artigo independem de orientação sexual. CAPÍTULO I
Art. 6o A violência doméstica e familiar contra a DAS MEDIDAS INTEGRADAS DE PREVENÇÃO
mulher constitui uma das formas de violação dos direitos Art. 8o A política pública que visa coibir a violência
humanos. doméstica e familiar contra a mulher far-se-á por meio de
CAPÍTULO II um conjunto articulado de ações da União, dos Estados, do
DAS FORMAS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E Distrito Federal e dos Municípios e de ações não-
FAMILIAR governamentais, tendo por diretrizes:
CONTRA A MULHER I - a integração operacional do Poder Judiciário, do
o
Art. 7 São formas de violência doméstica e familiar Ministério Público e da Defensoria Pública com as áreas de
contra a mulher, entre outras: segurança pública, assistência social, saúde, educação,
I - a violência física, entendida como qualquer conduta trabalho e habitação;
que ofenda sua integridade ou saúde corporal; II - a promoção de estudos e pesquisas, estatísticas e
II - a violência psicológica, entendida como qualquer outras informações relevantes, com a perspectiva de gênero
conduta que lhe cause dano emocional e diminuição da auto- e de raça ou etnia, concernentes às causas, às conseqüências
estima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno e à freqüência da violência doméstica e familiar contra a
desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas mulher, para a sistematização de dados, a serem unificados
ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante nacionalmente, e a avaliação periódica dos resultados das
ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, medidas adotadas;
isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, III - o respeito, nos meios de comunicação social, dos
insulto, chantagem, ridicularização, exploração e limitação valores éticos e sociais da pessoa e da família, de forma a
do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause coibir os papéis estereotipados que legitimem ou exacerbem
prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação; a violência doméstica e familiar, de acordo com o
estabelecido no inciso III do art. 1o, no inciso IV do art. 3o e § 2o O juiz assegurará à mulher em situação de
no inciso IV do art. 221 da Constituição Federal; violência doméstica e familiar, para preservar sua
IV - a implementação de atendimento policial integridade física e psicológica:
especializado para as mulheres, em particular nas Delegacias I - acesso prioritário à remoção quando servidora
de Atendimento à Mulher; pública, integrante da administração direta ou indireta;
V - a promoção e a realização de campanhas II - manutenção do vínculo trabalhista, quando
educativas de prevenção da violência doméstica e familiar necessário o afastamento do local de trabalho, por até seis
contra a mulher, voltadas ao público escolar e à sociedade meses.
em geral, e a difusão desta Lei e dos instrumentos de § 3o A assistência à mulher em situação de violência
proteção aos direitos humanos das mulheres; doméstica e familiar compreenderá o acesso aos benefícios
VI - a celebração de convênios, protocolos, ajustes, decorrentes do desenvolvimento científico e tecnológico,
termos ou outros instrumentos de promoção de parceria incluindo os serviços de contracepção de emergência, a
entre órgãos governamentais ou entre estes e entidades não- profilaxia das Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST) e
governamentais, tendo por objetivo a implementação de da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS) e
programas de erradicação da violência doméstica e familiar outros procedimentos médicos necessários e cabíveis nos
contra a mulher; casos de violência sexual.
VII - a capacitação permanente das Polícias Civil e CAPÍTULO III
Militar, da Guarda Municipal, do Corpo de Bombeiros e dos DO ATENDIMENTO PELA AUTORIDADE POLICIAL
profissionais pertencentes aos órgãos e às áreas enunciados Art. 10. Na hipótese da iminência ou da prática de
no inciso I quanto às questões de gênero e de raça ou etnia; violência doméstica e familiar contra a mulher, a autoridade
VIII - a promoção de programas educacionais que policial que tomar conhecimento da ocorrência adotará, de
disseminem valores éticos de irrestrito respeito à dignidade imediato, as providências legais cabíveis.
da pessoa humana com a perspectiva de gênero e de raça ou Parágrafo único. Aplica-se o disposto no caput deste
etnia; artigo ao descumprimento de medida protetiva de urgência
IX - o destaque, nos currículos escolares de todos os deferida.
níveis de ensino, para os conteúdos relativos aos direitos Art. 11. No atendimento à mulher em situação de
humanos, à eqüidade de gênero e de raça ou etnia e ao violência doméstica e familiar, a autoridade policial deverá,
problema da violência doméstica e familiar contra a mulher. entre outras providências:
CAPÍTULO II I - garantir proteção policial, quando necessário,
DA ASSISTÊNCIA À MULHER EM SITUAÇÃO DE comunicando de imediato ao Ministério Público e ao Poder
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR Judiciário;
Art. 9o A assistência à mulher em situação de II - encaminhar a ofendida ao hospital ou posto de
violência doméstica e familiar será prestada de forma saúde e ao Instituto Médico Legal;
articulada e conforme os princípios e as diretrizes previstos III - fornecer transporte para a ofendida e seus
na Lei Orgânica da Assistência Social, no Sistema Único de dependentes para abrigo ou local seguro, quando houver
Saúde, no Sistema Único de Segurança Pública, entre outras risco de vida;
normas e políticas públicas de proteção, e emergencialmente IV - se necessário, acompanhar a ofendida para
quando for o caso. assegurar a retirada de seus pertences do local da ocorrência
§ 1o O juiz determinará, por prazo certo, a inclusão da ou do domicílio familiar;
mulher em situação de violência doméstica e familiar no V - informar à ofendida os direitos a ela conferidos
cadastro de programas assistenciais do governo federal, nesta Lei e os serviços disponíveis.
estadual e municipal. Art. 12. Em todos os casos de violência doméstica e
familiar contra a mulher, feito o registro da ocorrência,
deverá a autoridade policial adotar, de imediato, os seguintes
procedimentos, sem prejuízo daqueles previstos no Código União, no Distrito Federal e nos Territórios, e pelos Estados,
de Processo Penal: para o processo, o julgamento e a execução das causas
I - ouvir a ofendida, lavrar o boletim de ocorrência e decorrentes da prática de violência doméstica e familiar
tomar a representação a termo, se apresentada; contra a mulher.
II - colher todas as provas que servirem para o Parágrafo único. Os atos processuais poderão realizar-
esclarecimento do fato e de suas circunstâncias; se em horário noturno, conforme dispuserem as normas de
III - remeter, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, organização judiciária.
expediente apartado ao juiz com o pedido da ofendida, para Art. 15. É competente, por opção da ofendida, para os
a concessão de medidas protetivas de urgência; processos cíveis regidos por esta Lei, o Juizado:
IV - determinar que se proceda ao exame de corpo de I - do seu domicílio ou de sua residência;
delito da ofendida e requisitar outros exames periciais II - do lugar do fato em que se baseou a demanda;
necessários; III - do domicílio do agressor.
V - ouvir o agressor e as testemunhas; Art. 16. Nas ações penais públicas condicionadas à
VI - ordenar a identificação do agressor e fazer juntar representação da ofendida de que trata esta Lei, só será
aos autos sua folha de antecedentes criminais, indicando a admitida a renúncia à representação perante o juiz, em
existência de mandado de prisão ou registro de outras audiência especialmente designada com tal finalidade, antes
ocorrências policiais contra ele; do recebimento da denúncia e ouvido o Ministério Público.
VII - remeter, no prazo legal, os autos do inquérito Art. 17. É vedada a aplicação, nos casos de violência
policial ao juiz e ao Ministério Público. doméstica e familiar contra a mulher, de penas de cesta
§ 1o O pedido da ofendida será tomado a termo pela básica ou outras de prestação pecuniária, bem como a
autoridade policial e deverá conter: substituição de pena que implique o pagamento isolado de
I - qualificação da ofendida e do agressor; multa.
II - nome e idade dos dependentes; CAPÍTULO II
III - descrição sucinta do fato e das medidas protetivas DAS MEDIDAS PROTETIVAS DE URGÊNCIA
solicitadas pela ofendida. Seção I
§ 2o A autoridade policial deverá anexar ao documento Disposições Gerais
o
referido no § 1 o boletim de ocorrência e cópia de todos os Art. 18. Recebido o expediente com o pedido da
documentos disponíveis em posse da ofendida. ofendida, caberá ao juiz, no prazo de 48 (quarenta e oito)
§ 3o Serão admitidos como meios de prova os laudos horas:
ou prontuários médicos fornecidos por hospitais e postos de I - conhecer do expediente e do pedido e decidir sobre
saúde. as medidas protetivas de urgência;
TÍTULO IV II - determinar o encaminhamento da ofendida ao
DOS PROCEDIMENTOS órgão de assistência judiciária, quando for o caso;
CAPÍTULO I III - comunicar ao Ministério Público para que adote as
DISPOSIÇÕES GERAIS providências cabíveis.
Art. 13. Ao processo, ao julgamento e à execução das Art. 19. As medidas protetivas de urgência poderão
causas cíveis e criminais decorrentes da prática de violência ser concedidas pelo juiz, a requerimento do Ministério
doméstica e familiar contra a mulher aplicar-se-ão as normas Público ou a pedido da ofendida.
dos Códigos de Processo Penal e Processo Civil e da § 1o As medidas protetivas de urgência poderão ser
legislação específica relativa à criança, ao adolescente e ao concedidas de imediato, independentemente de audiência
idoso que não conflitarem com o estabelecido nesta Lei. das partes e de manifestação do Ministério Público, devendo
Art. 14. Os Juizados de Violência Doméstica e este ser prontamente comunicado.
Familiar contra a Mulher, órgãos da Justiça Ordinária com § 2o As medidas protetivas de urgência serão aplicadas
competência cível e criminal, poderão ser criados pela isolada ou cumulativamente, e poderão ser substituídas a
qualquer tempo por outras de maior eficácia, sempre que os IV - restrição ou suspensão de visitas aos dependentes
direitos reconhecidos nesta Lei forem ameaçados ou menores, ouvida a equipe de atendimento multidisciplinar
violados. ou serviço similar;
§ 3o Poderá o juiz, a requerimento do Ministério V - prestação de alimentos provisionais ou provisórios.
Público ou a pedido da ofendida, conceder novas medidas § 1o As medidas referidas neste artigo não impedem a
protetivas de urgência ou rever aquelas já concedidas, se aplicação de outras previstas na legislação em vigor, sempre
entender necessário à proteção da ofendida, de seus que a segurança da ofendida ou as circunstâncias o exigirem,
familiares e de seu patrimônio, ouvido o Ministério Público. devendo a providência ser comunicada ao Ministério
Art. 20. Em qualquer fase do inquérito policial ou da Público.
instrução criminal, caberá a prisão preventiva do agressor, § 2o Na hipótese de aplicação do inciso I,
decretada pelo juiz, de ofício, a requerimento do Ministério encontrando-se o agressor nas condições mencionadas
Público ou mediante representação da autoridade policial. no caput e incisos do art. 6o da Lei no 10.826, de 22 de
Parágrafo único. O juiz poderá revogar a prisão dezembro de 2003, o juiz comunicará ao respectivo órgão,
preventiva se, no curso do processo, verificar a falta de corporação ou instituição as medidas protetivas de urgência
motivo para que subsista, bem como de novo decretá-la, se concedidas e determinará a restrição do porte de armas,
sobrevierem razões que a justifiquem. ficando o superior imediato do agressor responsável pelo
Art. 21. A ofendida deverá ser notificada dos atos cumprimento da determinação judicial, sob pena de incorrer
processuais relativos ao agressor, especialmente dos nos crimes de prevaricação ou de desobediência, conforme o
pertinentes ao ingresso e à saída da prisão, sem prejuízo da caso.
intimação do advogado constituído ou do defensor público. § 3o Para garantir a efetividade das medidas protetivas
Parágrafo único. A ofendida não poderá entregar de urgência, poderá o juiz requisitar, a qualquer momento,
intimação ou notificação ao agressor. auxílio da força policial.
Seção II § 4o Aplica-se às hipóteses previstas neste artigo, no
Das Medidas Protetivas de Urgência que Obrigam o que couber, o disposto no caput e nos §§ 5o e 6º do art. 461
Agressor da Lei no 5.869, de 11 de janeiro de 1973 (Código de
Art. 22. Constatada a prática de violência doméstica e Processo Civil).
familiar contra a mulher, nos termos desta Lei, o juiz poderá Seção III
aplicar, de imediato, ao agressor, em conjunto ou Das Medidas Protetivas de Urgência à Ofendida
separadamente, as seguintes medidas protetivas de urgência, Art. 23. Poderá o juiz, quando necessário, sem
entre outras: prejuízo de outras medidas:
I - suspensão da posse ou restrição do porte de armas, I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a
com comunicação ao órgão competente, nos termos da Lei programa oficial ou comunitário de proteção ou de
o
n 10.826, de 22 de dezembro de 2003; atendimento;
II - afastamento do lar, domicílio ou local de II - determinar a recondução da ofendida e a de seus
convivência com a ofendida; dependentes ao respectivo domicílio, após afastamento do
III - proibição de determinadas condutas, entre as agressor;
quais: III - determinar o afastamento da ofendida do lar, sem
a) aproximação da ofendida, de seus familiares e das prejuízo dos direitos relativos a bens, guarda dos filhos e
testemunhas, fixando o limite mínimo de distância entre alimentos;
estes e o agressor; IV - determinar a separação de corpos.
b) contato com a ofendida, seus familiares e Art. 24. Para a proteção patrimonial dos bens da
testemunhas por qualquer meio de comunicação; sociedade conjugal ou daqueles de propriedade particular da
c) freqüentação de determinados lugares a fim de mulher, o juiz poderá determinar, liminarmente, as seguintes
preservar a integridade física e psicológica da ofendida; medidas, entre outras:
I - restituição de bens indevidamente subtraídos pelo Art. 29. Os Juizados de Violência Doméstica e
agressor à ofendida; Familiar contra a Mulher que vierem a ser criados poderão
II - proibição temporária para a celebração de atos e contar com uma equipe de atendimento multidisciplinar, a
contratos de compra, venda e locação de propriedade em ser integrada por profissionais especializados nas áreas
comum, salvo expressa autorização judicial; psicossocial, jurídica e de saúde.
III - suspensão das procurações conferidas pela Art. 30. Compete à equipe de atendimento
ofendida ao agressor; multidisciplinar, entre outras atribuições que lhe forem
IV - prestação de caução provisória, mediante depósito reservadas pela legislação local, fornecer subsídios por
judicial, por perdas e danos materiais decorrentes da prática escrito ao juiz, ao Ministério Público e à Defensoria Pública,
de violência doméstica e familiar contra a ofendida. mediante laudos ou verbalmente em audiência, e
Parágrafo único. Deverá o juiz oficiar ao cartório desenvolver trabalhos de orientação, encaminhamento,
competente para os fins previstos nos incisos II e III deste prevenção e outras medidas, voltados para a ofendida, o
artigo. agressor e os familiares, com especial atenção às crianças e
CAPÍTULO III aos adolescentes.
DA ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO Art. 31. Quando a complexidade do caso exigir
Art. 25. O Ministério Público intervirá, quando não avaliação mais aprofundada, o juiz poderá determinar a
for parte, nas causas cíveis e criminais decorrentes da manifestação de profissional especializado, mediante a
violência doméstica e familiar contra a mulher. indicação da equipe de atendimento multidisciplinar.
Art. 26. Caberá ao Ministério Público, sem prejuízo Art. 32. O Poder Judiciário, na elaboração de sua
de outras atribuições, nos casos de violência doméstica e proposta orçamentária, poderá prever recursos para a criação
familiar contra a mulher, quando necessário: e manutenção da equipe de atendimento multidisciplinar,
I - requisitar força policial e serviços públicos de nos termos da Lei de Diretrizes Orçamentárias.
saúde, de educação, de assistência social e de segurança, TÍTULO VI
entre outros; DISPOSIÇÕES TRANSITÓRIAS
II - fiscalizar os estabelecimentos públicos e Art. 33. Enquanto não estruturados os Juizados de
particulares de atendimento à mulher em situação de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, as varas
violência doméstica e familiar, e adotar, de imediato, as criminais acumularão as competências cível e criminal para
medidas administrativas ou judiciais cabíveis no tocante a conhecer e julgar as causas decorrentes da prática de
quaisquer irregularidades constatadas; violência doméstica e familiar contra a mulher, observadas
III - cadastrar os casos de violência doméstica e as previsões do Título IV desta Lei, subsidiada pela
familiar contra a mulher. legislação processual pertinente.
CAPÍTULO IV Parágrafo único. Será garantido o direito de
DA ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA preferência, nas varas criminais, para o processo e o
Art. 27. Em todos os atos processuais, cíveis e julgamento das causas referidas no caput.
criminais, a mulher em situação de violência doméstica e TÍTULO VII
familiar deverá estar acompanhada de advogado, ressalvado DISPOSIÇÕES FINAIS
o previsto no art. 19 desta Lei. Art. 34. A instituição dos Juizados de Violência
Art. 28. É garantido a toda mulher em situação de Doméstica e Familiar contra a Mulher poderá ser
violência doméstica e familiar o acesso aos serviços de acompanhada pela implantação das curadorias necessárias e
Defensoria Pública ou de Assistência Judiciária Gratuita, nos do serviço de assistência judiciária.
termos da lei, em sede policial e judicial, mediante Art. 35. A União, o Distrito Federal, os Estados e os
atendimento específico e humanizado. Municípios poderão criar e promover, no limite das
TÍTULO V respectivas competências:
DA EQUIPE DE ATENDIMENTO MULTIDISCIPLINAR
I - centros de atendimento integral e multidisciplinar Art. 41. Aos crimes praticados com violência
para mulheres e respectivos dependentes em situação de doméstica e familiar contra a mulher, independentemente da
violência doméstica e familiar; pena prevista, não se aplica a Lei no 9.099, de 26 de
II - casas-abrigos para mulheres e respectivos setembro de 1995.
dependentes menores em situação de violência doméstica e Art. 42. O art. 313 do Decreto-Lei no 3.689, de 3 de
familiar; outubro de 1941 (Código de Processo Penal), passa a vigorar
III - delegacias, núcleos de defensoria pública, serviços acrescido do seguinte inciso IV:
de saúde e centros de perícia médico-legal especializados no “Art. 313. .................................................
atendimento à mulher em situação de violência doméstica e ................................................................
familiar; IV - se o crime envolver violência doméstica e familiar
IV - programas e campanhas de enfrentamento da contra a mulher, nos termos da lei específica, para garantir a
violência doméstica e familiar; execução das medidas protetivas de urgência.” (NR)
V - centros de educação e de reabilitação para os Art. 43. A alínea f do inciso II do art. 61 do Decreto-
agressores. Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal),
Art. 36. A União, os Estados, o Distrito Federal e os passa a vigorar com a seguinte redação:
Municípios promoverão a adaptação de seus órgãos e de “Art. 61. ..................................................
seus programas às diretrizes e aos princípios desta Lei. .................................................................
Art. 37. A defesa dos interesses e direitos II - ............................................................
transindividuais previstos nesta Lei poderá ser exercida, .................................................................
concorrentemente, pelo Ministério Público e por associação f) com abuso de autoridade ou prevalecendo-se de relações
de atuação na área, regularmente constituída há pelo menos domésticas, de coabitação ou de hospitalidade, ou com
um ano, nos termos da legislação civil. violência contra a mulher na forma da lei específica;
Parágrafo único. O requisito da pré-constituição ........................................................... ” (NR)
poderá ser dispensado pelo juiz quando entender que não há Art. 44. O art. 129 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de
outra entidade com representatividade adequada para o dezembro de 1940 (Código Penal), passa a vigorar com as
ajuizamento da demanda coletiva. seguintes alterações:
Art. 38. As estatísticas sobre a violência doméstica e “Art. 129. ..................................................
familiar contra a mulher serão incluídas nas bases de dados ..................................................................
dos órgãos oficiais do Sistema de Justiça e Segurança a fim § 9o Se a lesão for praticada contra ascendente, descendente,
de subsidiar o sistema nacional de dados e informações irmão, cônjuge ou companheiro, ou com quem conviva ou
relativo às mulheres. tenha convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o agente das
Parágrafo único. As Secretarias de Segurança Pública relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade:
dos Estados e do Distrito Federal poderão remeter suas Pena - detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos.
informações criminais para a base de dados do Ministério da ..................................................................
Justiça. § 11. Na hipótese do § 9o deste artigo, a pena será
Art. 39. A União, os Estados, o Distrito Federal e os aumentada de um terço se o crime for cometido contra
Municípios, no limite de suas competências e nos termos das pessoa portadora de deficiência.” (NR)
respectivas leis de diretrizes orçamentárias, poderão Art. 45. O art. 152 da Lei no 7.210, de 11 de julho de
estabelecer dotações orçamentárias específicas, em cada 1984 (Lei de Execução Penal), passa a vigorar com a
exercício financeiro, para a implementação das medidas seguinte redação:
estabelecidas nesta Lei. “Art. 152. ...................................................
Art. 40. As obrigações previstas nesta Lei não Parágrafo único. Nos casos de violência doméstica contra a
excluem outras decorrentes dos princípios por ela adotados. mulher, o juiz poderá determinar o comparecimento
obrigatório do agressor a programas de recuperação e do homem, incentivada por razões de poder na divisão do
reeducação.” (NR) mercado de trabalho e de predominância política e, por fim,
Art. 46. Esta Lei entra em vigor 45 (quarenta e cinco) pelo silencioso consentimento social, seja das vítimas, seja
dias após sua publicação. de terceiros pela cultura de inferioridade da mulher.
o
Brasília, 7 de agosto de 2006; 185 da A violência contra a mulher tornou-se, então,
o
Independência e 118 da República. invisível aos olhos da sociedade, tolerante e, por isso
LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA mesmo, no exercício de um surdo pacto de silêncio,
Dilma Rousseff traduzido em ditados populares que bem expressam o
Este texto não substitui o publicado no D.O.U. de 8.8.2006 comportamento social: “Em briga de marido e mulher
ninguém mete a colher”; “roupa suja se lava em casa”; “a
A LEI MARIA DA PENHA mulher casada está em seu posto de honra e da rua para fora
nada lhe diz respeito”.
I – INTRODUÇÃO Graças aos movimentos feministas, a partir de 1910,
tornaram-se públicas as discussões sobre a independência da
A desigualdade formal, conquistada com a Revolução mulher, para superação da sua pseudo-inferioridade,
Francesa de 1789, foi o paradigma da legislação do mundo anotando-se, a partir dos diversos embates, a gravidade da
civilizado no curso do século XIX e por quase todo o século violência doméstica.
XX. A discussão pública sobre o tema ficou mais evidente na
Ao final da Segunda Guerra, o Mundo Ocidental despertou década de 70 e, nos anos 90, com mais veemência, veio à
para uma nova realidade: de nada valia a outorga de direitos baila o tema, quando os movimentos feministas incipientes
pelo Estado, se não tinham os titulares formais desses mais atuantes fizeram nascer as ONG e as associações, com
direitos condições de acesso a eles. Para a real aquisição dos militância constante e competente, direcionando-se para um
direitos outorgados pelo Estado era preciso criar condições objetivo comum: envolver o Estado por via de políticas
de acesso, tarefa que não poderia ser deixada para solução públicas e sociais no sentido de acabar com a violência
ao Estado do laissez-faire, laissez-passer. Era preciso criar contra a mulher.
mecanismos que levassem à igualdade substancial de Ao final do século XX podemos dizer que houve uma
direitos. quebra de paradigma, refletida nas chamadas ações
Assim, despertou-se ao final do século XX para a afirmativas em favor da mulher, a partir do objetivo de
identificação de grupos fragilizados em razão de fatos eliminar a violência doméstica ou social contra a mulher.
adversos por questão de gênero, raça, nacionalidade, credo, No decorrer dos estudos em direção ao objetivo da
etc., ao tempo em que se deu início às políticas públicas igualdade, chegou-se à conclusão que o ponto de partida
identificadas como ações afirmativas, que são, em verdade, para a construção de uma política eficiente seria a coleta de
a discriminação protetiva de grupos sociais com dificuldade dados estatísticos, possibilitando tais números ao traçado de
de acesso aos direitos constitucionalmente estabelecidos. um diagnóstico e, depois, à implantação de um sistema de
Dentre os grupos minoritários de maior expressão social está prevenção eficiente, afastando-se as verdades e mentiras que
o discriminado por gênero, não se ignorando que a história sempre povoaram o imaginário social.
da mulher é marcada por uma condição de inferioridade em Quando o Brasil foi convidado para participar do Congresso
todos os povos e civilizações, minorada após a Revolução Internacional de Mulheres, realizado em Beijing em 1995,
Francesa, mas ainda gritante no século XX. despertou para a dificuldade em traçar as metas a serem
A desigualdade feminina fez nascer na discutidas pela ausência de dados estatísticos sobre a
sociedade brasileira, o que não se apresenta como atuação da mulher brasileira. Ainda hoje ressente-se a Nação
peculiaridade única, sendo uma constante em diversos de precisão numérica de dados. Dispomos apenas dos dados
países, com maior ou menor intensidade, uma cultura de obtidos do IBGE, dos recenseamentos de 1988 e 2001, de
violência oriunda da própria posição de superioridade social pesquisas isoladas procedidas pelas Secretarias de
Segurança Pública dos Estados e de uma única pesquisa A Lei 11.340/06, chamada de Lei Maria da Penha,
direcionada, realizada pela Fundação Perseu Abramo em inaugurou uma nova fase na história das ações afirmativas
2001. em favor da mulher brasileira.
A partir daí, passou a ser a meta prioritária dos movimentos Não se pode deixar de registrar o motivo que levou o
feministas a produção de dados e indicadores atualizados. legislador a nominar o novo instituto. Sim, porque a Lei
Graças a esta consciência, veio a lume a Lei 10.778/03, Maria da Penha é mais do que um diploma legislativo.
diploma que torna obrigatório aos hospitais e clínicas Trata-se de uma lei que congrega um conjunto de regras
médicas preencher questionário específico de informação penais e extrapenais, contendo princípios, objetivos,
sobre atendimento médico à mulher que chega aos hospitais diretrizes, programa, etc., com o propósito precípuo de
e clínicas com sinais de agressão física ou psíquica. reduzir a morosidade judicial, introduzir medidas
Lamentavelmente, passados quatro anos a lei mencionada despenalizadoras, diminuir a impunidade e, na ponta, como
ainda não foi regulamentada, nem sequer implantada. desiderato maior, proteger a mulher e a entidade familiar.
Maria da Penha é uma professora universitária de classe
II – A LEGISLAÇÃO média, casada com um também professor universitário, que
protagonizou um simbólico caso de violência doméstica
A Constituição Federal de 1988 instituiu como um dos contra a mulher. Em 1983, foi vítima, por duas vezes, do seu
princípios fundamentais do Estado a “dignidade da pessoa marido, que tentou assassiná-la. A primeira vez com um tiro,
humana”, dentro da garantia de que todos são iguais, sem que a deixou paraplégica, e, a segunda, por eletrocussão e
distinção alguma, proibindo, inclusive, diferença salarial, afogamento. A punição pela Justiça só veio vinte anos
diferença de critérios de admissão por motivo de sexo, depois, por interferência de organismos internacionais.
dispositivos que deixam clara a posição de combate à Maria da Penha transformou dor em luta, tragédia em
discriminação. solidariedade, merecendo a homenagem de todos dando
A conquista maior veio com a Lei 9.099/95, diploma que nome à lei que é, sem dúvida, um microssistema de proteção
instituiu os Juizados Especiais, possibilitando maior à família e à mulher.
celeridade e eficácia às punições de delitos de baixo Como principais inovações temos a admissibilidade das
potencial ofensivo, classificando-se como tais os casos mais prisões em flagrante e preventiva, obrigatoriedade do
comuns de violência doméstica contra a mulher. inquérito policial e a só possibilidade de desistência, por
Lamentavelmente, a realidade mostrou-se inteiramente parte da vítima, em juízo, acompanhada de advogada e
diferente da idéia conceitual dos que lutaram pela aprovação ouvido o Ministério Público. Pelos tópicos, verifica-se a
da Lei dos Juizados. Em pouco tempo, chegou-se à absoluta alteração da sistemática procedimental, impondo-se
conclusão que o diploma legal serviu para a legalização da dificuldades para arquivamento de uma denúncia de
“surra doméstica”. Sem flagrante, sem fiança e com a agressão, a fim de evitar a coação. Daí a necessidade de
possibilidade de acordo, ainda na fase policial, impunha participação de todos os atores processuais: juiz, advogado e
como condenação o pagamento de uma multa, a entrega de Ministério Público.
cestas básicas ou a prestação de serviço à comunidade, A autoridade policial também fica mais fortalecida na fase
apagando por completo a acessão perpetrada. repressiva, podendo efetuar a prisão em flagrante ou
A suavidade da pena e o desaparecimento da culpa do representar pela prisão preventiva.
agressor pelas tratativas procedimentais levavam à Têm os doutrinadores questionado o seguinte: aplicava-se ao
reincidência, ou seja, outra surra, outra agressão, crime de violência doméstica, com ou sem lesões corporais,
acompanhada de coação, para que a vítima não usasse o a Lei 9.099/95 – Lei dos Juizados Especiais –, diploma que
suporte legal nos próximos embates. exigia a representação para o procedimento do crime de
lesões corporais dolosa de natureza leve. Revogada a
III – PECULIARIDADES aplicação da Lei 9.099/95 pela Lei Maria da Penha, fica a
indagação: continua-se a exigir a representação, ou passa-se
à categoria dos crimes de ação pública? Sem referência Como não poderia deixar de ser, doutrinariamente, não são
jurisprudencial, ainda, tem-se a voz autorizada do Professor poucos os questionamentos em torno do novo diploma.
Damásio de Jesus, entendendo que continua a se exigir, para Primeiro, pela novidade, segundo, pela ousadia legislativa,
a espécie, a representação. e, terceiro, pela falta de hábito, ainda, no trato com as ações
É interessante anotar que a lei em comento se refere à afirmativas. Daí a adjetivação à lei, tida por alguns como
violência contra a mulher, perpetrada no âmbito da unidade preconceituosa por partir da idéia de desigualdade, o que é
doméstica, entendendo-se como tal o espaço de convivência de absoluta intolerância para as feministas.
permanente de pessoas com ou sem vínculo familiar , A lei, efetivamente, reconhece a desigualdade de gênero e
abrangendo, inclusive, os esporadicamente agregados. vem, por isso mesmo, com o intuito de proteger não apenas
Uma grande inovação do diploma aqui analisado é a a mulher, mas também à família. Trata-se de um instrumento
explicitação das formas de violência, discriminadas no art. identificado como de ação afirmativa.
7º (violência física, psicológica, sexual, patrimonial e Para outros, a lei em análise deforma o sistema prisional e
moral), sendo definidas cada uma delas. traz, em conseqüência, um grave problema social, na medida
Mantidas as penas constantes do Código Penal, e que vão de em que, sem a possibilidade de livrar-se solto do processo,
um a três anos de detenção, afastaram-se a pena pecuniária, como ocorria antecedentemente, colocar-se-á na prisão,
a transação penal e a competência dos juizados especiais. durante o curso do processo, um pai de família, um homem
Há na lei um ponto que está a causar perplexidade por com baixa agressividade, no meio de marginais perigosos e
destoar inteiramente do foco de maior repressão: o parágrafo praticantes de delitos de alto potencial ofensivo.
9º do art. 121, depois de ter o acréscimo da qualificação, Entendo que o sistema prisional brasileiro já está
pela Lei 11.340/06, sofreu diminuição da pena máxima inteiramente deformado e não será a Lei Maria da Penha
cominada, passando de seis para três meses de detenção. mais um instrumento de aprofundamento do caos reinante.
Para uns, houve equívoco do legislador, para outros, A avaliação não é por esse prisma, e sim pela constatação de
diferentemente, a intenção foi sistematizar a pena para as que talvez tenhamos uma lei avançada demais para um país
hipóteses de lesões leves. que iguala os segregados pelo Estado, colocando todos no
Muito mais do que um diploma repressivo, a Lei Maria da mesmo patamar, sem estabelecer gradações, ou
Penha é um conjunto sistêmico de medidas protetivas, daí a discriminação, pelo tipo do crime perpetrado. Não temos
prescrição de medidas acautelatórias, tais como: suspensão sistema prisional, e sim depósito de presos, o que precisa de
do porte de arma, afastamento do lar, proibição de contato correção urgente, urgentíssima.
do agressor com a vítima, alimentos provisionais, etc. Alega-se também que a Lei Maria da Penha está na
A Lei 11.340/06, para funcionar e produzir os efeitos contramão da história, porque defasada da nova orientação
desejados, está a exigir do aparelho estatal, especialmente do do Direito Penal, de caráter eminentemente preventivo,
Poder Judiciário, um esforço concentrado, a partir da enquanto o grau de repressão da Lei 11.340/06 é a tônica. A
implantação imediata dos Juizados de Violência Doméstica, alegação é inteiramente leviana, na medida em que o
os quais deverão ter funcionamento diferenciado. A previsão conteúdo penal do diploma analisado é mínimo. Como já
de uma equipe multidisciplinar de atendimento de nada afirmado, trata-se de instrumento legislativo que alberga um
servirá se aos processos judiciais não se der diferenciado microssistema de proteção à família e, por via de
tratamento no sentido de dinamizar, descomplicar e, conseqüência, à mulher, com alguns dispositivos de forte
sobretudo, entender-se o drama familiar que se esconde atrás repressão.
de cada um dos processos. O desafio maior, portanto, é o de A mais radical crítica à lei é no sentido de
treinamento adequado. taxá-la de inconstitucional, pela quebra do princípio da
igualdade. Ora, se levarmos em conta, em termos absolutos,
o princípio da igualdade formal, todas as ações afirmativas
IV – QUESTIONAMENTOS padeceriam de inconstitucionalidade.
Afinal, ninguém ignora o grave quadro de sob o ângulo pessoal da vítima e da sociedade: a violência
inferioridade do gênero, conforme demonstram os poucos doméstica.
dados estatísticos existentes. A título exemplificativo, com A Lei 11.340/06 só pode ser interpretada
números de maio de 2006, temos que a cada quinze como diploma que pretende resgatar de forma
segundos uma mulher é espancada ou violentada; a cada principiológica a política pública de proteção à família e de
vinte e quatro horas nove ocorrências policiais são combate à desigualdade, sem espaço para alegação de
registradas; uma em cada cinco mulheres já foi agredida; inconstitucionalidade.
mais de cinqüenta por cento das agredidas não procuram Constituindo-se a Lei Maria da Penha em
ajuda; trinta e três por cento das mulheres já sofreram algum uma quebra de paradigma, só funcionará, efetivamente, se
tipo de agressão física; setenta por cento dos incidentes pelo Estado houver a implementação dos serviços
acontecem dentro da unidade familiar e o agressor é o multidisciplinares previstos no microssistema criado. Por
próprio marido; mais de quarenta por cento das agressões parte dos atores do processo, dentre os quais juízes e
resultam em lesões corporais graves; o Brasil perde dez por membros do Ministério Público, espera-se que vençam a
cento do seu PIB em decorrência da violência contra a tradicional morosidade do Judiciário, mediante a aplicação
mulher, considerando-se os gastos da rede de saúde, a da norma de maneira inteiramente nova, sem burocracias e
interrupção do mercado de trabalho pela paralisação da sem formalismo.
atividade da mulher agredida e o gasto com a mobilização Enfim, no combate à desigualdade é preciso
do aparelho estatal repressivo, polícia e Justiça que cada um cumpra o seu papel.

V – CONCLUSÕES

Independentemente da valorização da
mulher, em política que tenha por escopo a igualdade do
gênero, não se pode deixar de reconhecer que no Brasil,
como em quase todos os países do mundo ocidental, a
mulher continua sendo alvo de uma sociedade machista e
desigual, em preconceito muitas vezes silencioso, velado e,
lamentavelmente, socialmente consentido. O silêncio da
vítima e a indiferença da sociedade são, sem dúvida, o
combustível mais poderoso para a continuidade da violência.
Não se pretende aqui fazer uma apologia à
mulher, mas é preciso, ao falar de uma específica forma de
violência, a doméstica, lembrar do que ocorre fora do
âmbito familiar, nos empregos, e que hoje merece a
reprimenda penal com o tipo do artigo 216-A do Código
Penal; do que faz a sociedade de consumo com as mulheres,
que hoje vivem submetidas aos ditames da ditadura da
beleza, que exige juventude, corpo esquálido e hábitos que
sustentem a rica indústria de cosméticos, de cirurgias
plásticas e da moda prêt-à-porter, sem preocupação alguma
com o destino existencial da mulher.
Ao falar-se da Lei Maria da Penha estar-se-á
restringindo a análise a uma espécie, a mais drástica e grave

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