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Resumo:
A magia e a religiosidade são duas maneiras humanas de se conectar com o
numinoso. Na atualidade vemos uma ampliação dos movimentos religiosos e da
utilização das práticas mágicas ao invés do processo de secularização religiosa,
como fora previsto por Weber. Neste artigo almejamos formular uma discussão em
torno das visões existentes sobre a magia e a religião no campo historiográfico
envolvendo o mundo Greco - Romano.
Abstract:
Magic and Religion are two human ways to connect with the numinous.
Nowadays, we are able to see an ampliation of religious movements and of the
using of the magical practices, instead of the secularization process, as Webber
predicted. This article aim to formulate a discussion wich finds it´s way through of the
existent visions of magic and religion in the historiographical department involving the
Greek-Roman world.
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Carlos Eduardo da C. Campos é bacharel em História pela UERJ. O referido pesquisador é
integrante do NEA-UERJ, sendo orientado pela Profª: Drª. Maria Regina Candido
(PPGHC/UFRJ/NEA/UERJ). O mesmo atua na linha de pesquisa: Religião, Mito e Magia no
Mediterrâneo Antigo.
Obs: Este artigo foi publicado nos Anais do VII Simpósio de História – O Passado No Presente:
Reflexões Sobre os Usos da História, Editora: UNIVERSO, São Gonçalo, 2010.
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espiritul ou material. Almejamos neste artigo analisar os debates existentes em torno
da magia e da religião, nas suas formas de se relacionar com o sagrado.
Anne Marie Tupet no seu livro sobre “La magie dans la poesia latine. Des
origines á La fin du règne d’ Auguste” nos aponta que as práticas mágicas vieram
para Roma devido aos contatos desta cidade - estado com as regiões orientais
(TUPET,1976:199-200). A autora nos leva a refletir que entre o período republicano
e o principado de Augusto, os contatos teriam sido mais intensos pelo processo de
expansão romana. Notamos uma convergência de idéias entre Tupet e Fredrick
Doucet na obra “A decadência da magia e a cisão entre ciência e religião. Feitiçaria,
magia popular, bruxaria e o símbolo mágico da cruz- o conceito cristão de alma”,
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Vamos nos utilizar neste artigo do conceito de tática e maneira de fazer Michel de Certeau, na
obra: A Invenção do Cotidiano: 1. Artes de Fazer. Veremos a tática como um poder alternativo para
solucionar os problemas com maior agilidade de acordo com os acontecimentos, que surgem no
cotidiano dos indivíduos. Através do que foi dito, a magia poderia ser pensada como uma tática
usada pelo indivíduo para resolver seus problemas. A maneira de fazer está voltada para a forma,
como a magia era efetuada pelo mago.
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quando o autor procura uma origem para a magia em Roma, na região da Caldéia
(DOUCET,2001:166). A visão de Doucet está baseada na relação que os romanos
estabeleceram com os magos caldeus, vistos como indivíduos perigosos no período
do Alto Império Romano.
Em Roma nós podemos notar que as maneiras de fazer das práticas mágicas
estariam girando em torno tanto do que poderia ser considerado como coletivo ou
como também do que teria o sentido de individual. A magia se aproximava da
religião oficial ao ser solicitada para trazer as chuvas almejando as boas colheitas no
campo, os rituais realizados antes das guerras, o uso de amuletos buscando uma
proteção contra o mau olhado, talismãs para proteger as províncias contra as
doenças e a prática de amaldiçoamento oficial de um reino. Contudo nem todos os
encantamentos buscavam satisfazer os desejos da comunidade como um todo, pois
havia indivíduos que se valiam da magia como uma tática, um poder alternativo,
para atender as suas necessidades pessoais causando prejuízos aos outros desde o
plano econômico ao físico.
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O filólogo francês Fritz Graf em seu livro, “La Magie Dans L’Antiquité Gréco-
Romaine” destaca que a magia em Roma receberia um tratamento mais sério pelas
autoridades civis (GRAF,1994:46). As maneiras de fazer as operações mágicas na
sociedade romana tendiam a ocorrer provavelmente no âmbito privado, sigiloso e
noturno visando possivelmente evitar problemas com as autoridades, como também
para ampliar a ligação com as divindades evocadas. Os conjuros aos deuses do
mundo subterrâneo ou aos espíritos dos mortos poderiam ocorrer em silêncio ou
com um som baixo semelhante a um sussurro (sussurus magicus) (LUCK,1995:11).
Através da Tábua VII (De delictis) podemos perceber que o uso das práticas
mágicas no campo eram algo recorrente, para necessitar da formulação de um item
sobre o assunto. O uso do fruges excantare é citado como uma tática que visaria
destruir a colheita do outro camponês ou uma maneira de se fazer passar a
prosperidade do alvo da magia para a sua própria propriedade recitando algumas
palavras mágicas (LUCK,1995:23). Os camponeses se valiam do mesmo sistema
religioso, que era composto por orações, sacrifícios e oferendas aos deuses
romanos responsáveis pela agricultura como Ceres e Proserpina. Com as mesmas
ofertas prestadas por eles aos deuses as retribuições deveriam ser semelhantes,
mas possivelmente alguns indivíduos possuíam melhores resultados que os outros e
por isso eram considerados suspeitos de terem usado a magia em seu favor.
Um delito ressaltado por George Luck na Lei das Doze Tábuas seria a prática do
malum carmen entre os romanos. Essa magia tinha por finalidade fazer mal ao
inimigo. Segundo George Luck “A primitiva lei romana distinguia malum carmen de
famosum carmen, que significaria a calunia, porém a calunia e a difamação eram
também um tipo de magia” (LUCK,1995:24). Ao estabelecer a diferença poderíamos
pensar no campo de atuação do malum carmen sendo mais voltado para o físico da
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vítima da magia enquanto o famosum carmen poderia estar mais voltado para a
honra ou o prestígio do indivíduo.
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A fenomenologia é uma descrição do que se mostra por si mesmo de acordo com "o princípio dos
princípios": reconhecer que "toda a intuição primordial é uma fonte legítima de conhecimento, que
tudo o que se apresenta por si mesmo na intuição (e, por assim dizer, em pessoa) deve ser aceite
simplesmente como o que se oferece e tal como se oferece, embora apenas dentro dos limites nos
quais se apresenta. MORA, José Ferrater. Dicionário de Filosofia. Tradução de Antônio José Lisboa e
Manuel Palmetrim. Lisboa: Publicações Don Quixote, 1978, p.111.
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do divino, do maravilhoso do sagrado. Por exemplo: a religião budista que não é
direcionada para o culto a um deus. Para Eliade é religioso tudo aquilo que
atribuímos o valor de sagrado. Neste pensamento, o objeto da religão seria sempre
uma manifestação do sagrado, o que vem a ser considerado como uma hierofania
(ELIADE,1957: Passim).
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não seria necessária uma crença prévia, já que seria oriunda da psique humana; a
religião seria um sentimento, cujo toda a alma do ser.
Ernest Cassirer nos apresenta suas concepções de uma religião dita primitiva
em Ensaio sobre o homem. O autor partilha da visão, que Herbert Spencer
apresentou de “que o culto aos ancestrais deve ser considerado como a primeira
fonte e a origem da religião”(CASSIRER,1994:141). Para Cassirer, seria na
realidade essa prática um fator comum em diversas sociedades, como em várias
tribos indígenas, na Roma antiga, na Grécia, na Ibéria ou mesmo na China. “Tudo
isso mostra de maneira clara e inequívoca que temos aqui uma característica
realmente universal, irredutível e essencial, da religião primitiva”(
CASSIRER,1994:143).
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Na obra Ciência e verdade, de Karl Jaspers, nos aponta para um debate em
torno da ciência moderna, como uma forma de produção de conhecimento pautada
em: método, empiria, razão, teoria e etc. O homem moderno ao buscar novas
certezas na ciência, haveria gerado uma noção de verdade, a qual seria precisa e
teria utilidade para a sociedade. A noção de um progresso através da ciência, o
sistema de regras e métodos para o saber científico, poderia ser compreendido
como uma forma de religiosidade, não pautada na fé em uma divindade, mas na
crença do saber científico e nas expectativas de produção de certezas que a ciência
moderna poderia vir a produzir nas mudanças ocorridas no século XVII e XVIII
(JASPERS, 1989: Passim).
Juan Lins, no artigo “El uso religioso de la política y/o el uso político de la
religión: La ideología – sucedáneo versus la religión sucedáneo”, nos apresenta a
sua concepção moderna de religiões políticas, como religiões, as quais foram
institucionalizadas pelo Estado e aponta para o uso, o qual este faz do sistema
religioso para a manutenção social. Para o autor uma religião oficial iria disputar pelo
espaço, com as religiões existentes até o ponto de tornar-se a única. O autor
menciona que para uma característica anti-religiosa das religiões oficiais, na medida
em que estas são contra aos sistemas de crenças das outras. Lins expõe que as
religiões políticas estariam a compartilhar de uma hostilidade, possivelmente
adquirida do pensamento cientificista, o qual em determinadas situações poderiam
assumir uma caráter intolerante identificando algumas religiosidades como
superstições (LINS,2004:107-109).
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regras para os que partilham desse sistema. As características similares seriam
inerentes tanto a religião como ao nacionalismo se vinculando em alguns casos para
o processo de formação de identidades (VERDARGUER,1995:201-203).
Documentação Textual:
Lei das Doze Tábuas – SOUZA LIMA, João Batista. As mais antigas normas de
Referências:
de Cultura Económica,1998.
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DOUCET, Friedrich. A decadência da magia e a cisão entre ciência e religião.
cristão de alma. In: O livro de Ouro das Ciências Ocultas. Rio de Janeiro. Ed.:
Ediouro, 2001.
ELIADE, Mircea. Das Heilige und das Profane. Vom Wesen des Religiösen.
Hamburg, 1957.
JASPERS, Karl. Ciência e Verdade. In: O Que nos faz pensar: Cadernos do
Departamento de Filosofia da PUC-RJ. Primeira Edição. Rio de Janeiro.
Editora: PUC-RJ, 1989.
LINS, Juan J. The Religious Use of Politics and/or the Political Use of Religon:
Ersatz Ideology versus Ersatz Religion. In: MAIER, Hans(org). Concepts for
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MORA, José Ferrater. Dicionário de Filosofia. Tradução de Antônio José Lisboa e
Editorial, 1998. Das Heilige. Über das Irrationale in der Idee des Göttlichen
TUPET- Anne Marie. La magie dans La poesie Latine. Des origines à La fin du régne
Referência de site:
http://dialnet.unirioja.es/servlet/articulo?codigo=912785
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