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CAPÍTULO
Dor Torácica
5
Herlon Saraiva Martins
Felipe Aires Duarte

das condições que oferecem risco de morte. Não podemos,


OBJETIVOS
contudo, pedir todos os exames complementares para to-
■ Entender que um dos aspectos mais importantes na abordagem dos os pacientes, pois nenhum sistema de saúde, mesmo
da dor torácica no pronto-socorro são história e exame físico. privado, é capaz de suportar os custos.
■ Saber que a dor torácica tem múltiplas etiologias. Síndromes coronarianas agudas (SCA) referem-se a
■ Priorizar o atendimento de causas potencialmente catastróficas. uma constelação de achados que são compatíveis com is-
■ Saber diagnosticar e tratar as síndromes coronárias agudas.
quemia aguda do miocárdio. Representam quase um quin-
to das causas de dor torácica nas salas de emergência. As
■ Aprender a pedir exames complementares de forma crítica e na
perspectiva custo-eficácia. SCA são divididas em (Tabela 2):

■ SCA sem elevação do segmento ST:


– Angina instável: dor ou desconforto torácico (ou
INTRODUÇÃO E DEFINIÇÕES equivalente) sem aumento de marcadores de necrose
do miocárdio (MNM).
A dor torácica na emergência representa um grande – Infarto agudo do miocárdio (IAM) sem elevação do
desafio para o médico, pois, além de queixa frequente, segmento ST: MNM elevados.
compreende uma variedade de causas, com ampla gama de ■ SCA com elevação do segmento ST: elevação de ST > 1
implicações clínicas (Tabela 1). mm em duas ou mais derivações contíguas.
Por isso, o diagnóstico deve ser rápido e preciso, obje-
tivando primordialmente o reconhecimento e tratamento

Tabela 1. Principais causas de dor torácica

Causas cardíacas Causas pulmonares


• Isquêmicas: síndromes coronarianas agudas • Pneumotórax
• Não-isquêmicas: • Embolia pulmonar
– Pericardite • Pneumonia
– Dissecção de aorta • Pleurite
– Valvular: estenose aórtica • Hipertensão pulmonar
– Cardiomiopatia hipertrófica
Causas gastroesofágicas Dor na parede do tórax
• Refluxo gastroesofágico • Lesões em costelas (fratura, metástase, trauma)
• Espasmo esofágico • Nervos sensitivos (herpes zoster)
• Úlcera péptica/gastrite • Costocondrite (síndrome de Tietze)
• Ruptura de esôfago • Fibromialgia e dores musculares inespecíficas
Causas psiquiátricas Outras causas
• Transtorno do pânico • Pancreatite
• Transtorno da ansiedade generalizada • Colecistite
• Depressão • Abscesso subfrênico
• Transtornos somatoformes • Câncer de pulmão
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48 ATUALIZAÇÃO EM EMERGÊNCIAS MÉDICAS

Tabela 2. Definições das síndromes coronarianas agudas


■ A característica anginosa da dor é o dado com maior valor
preditivo de doença coronária aguda.
SCA SEM elevação do segmento ST: ■ Dor, desconforto, queimação ou sensação opressiva lo-
1- Angina instável: dor ou desconforto torácico (ou equivalente): calizada em região precordial ou retroesternal, que
• Ocorre em repouso ou aos mínimos esforços e dura mais de 10 minu- pode irradiar para ombro e/ou braço esquerdo, braço
tos; OU direito, pescoço ou mandíbula, acompanhada fre-
• É severa e de início recente (quatro a seis semanas); OU quentemente de diaforese, palpitações, náuseas, vômi-
• Modelo em “crescendo”: mais intensa, mais frequente e prolongada do
tos ou dispneia.
que anteriormente.
■ Dor em aperto, pressão, queimação, desencadeada por es-
2- IAM sem elevação do segmento ST:
tresse físico ou emocional, aliviada com repouso.
■ A dor pode durar alguns minutos (geralmente entre 10 e 20
• Dor ou desconforto torácico (ou equivalente) ou alterações eletrocar-
diográficas compatíveis MAIS
minutos) ou mais que 20 minutos, no infarto (Tabela 4).
■ Síndrome coronária com sintomas atípicos: até 1/3 dos
• Elevação dos marcadores de necrose miocárdica.
pacientes têm como sintoma apenas desconforto toráci-
SCA COM elevação do segmento ST (na ausência de sobrecarga
ventricular esquerda ou bloqueio de ramo esquerdo): nova elevação de
co, dor epigástrica, dispneia, confusão (idosos), vômitos
segmento ST no ponto J, em duas ou mais derivações contíguas: ou diaforese. Em alguns casos, esses sintomas podem
1) V2 e V3:
aparecer sem a existência da dor e são chamados de
equivalentes isquêmicos.
- Elevação > 0,2 mV em homens.
■ Os pacientes que mais frequentemente têm sintomas
- Elevação > 0,15 mV em mulheres.
atípicos são idosos, mulheres e diabéticos.
2) Demais derivações: ■ Em algumas ocasiões, a dor pode se localizar em região
- Elevação > 0,1 mV. epigástrica e cessar com eructações, acompanhada de in-

ACHADOS CLÍNICOS Tabela 3. Fatores de risco clássicos

O primeiro passo, na maioria das vezes, o mais impor- • Tabagismo.


tante, é história e exame físico minuciosos, muitas vezes • Hipertensão arterial sistêmica.
mais importantes e valiosos do que os exames complemen- • Diabetes mellitus.
tares. • HDL baixo.
• LDL aumentado.
Classificação inicial da dor torácica • História familiar positiva para doença cardíaca prematura.
• Doença cardíaca em parentes homens (de 1º grau) < 55 anos.
■ Definitivamente anginosa: desconforto retroesternal pre-
• Doença cardíaca em parentes mulheres (de 1º grau) < 65 anos.
cipitado pelo esforço, com irradiação típica para o om-
• Idade: homens > 45 anos e mulheres > 55 anos.
bro, mandíbula ou face interna do braço, aliviada pelo re-
pouso ou nitrato. • Fatores relacionados ao estilo de vida:
■ Provavelmente anginosa: dor torácica cujas característi- – Obesidade (IMC > 30 kg/m2).
cas fazem da insuficiência coronária aguda a principal – Sedentarismo.
hipótese diagnóstica, porém com necessidade de exames
complementares para a confirmação do diagnóstico. Tem
a maioria das características da dor definitivamente angi- Tabela 4. Dor precordial e equivalente isquêmico na SCA com
nosa, podendo ser típica sob alguns aspectos, mas atípica elevação de ST
em outros.
■ Possivelmente anginosa: dor torácica cujas características • Tipo de dor: semelhante à dor de outras SCA. Entretanto, costuma ser
não fazem da insuficiência coronária aguda a principal mais intensa, prolongada (> vinte minutos de duração) e não aliviada
por nitratos ou repouso.
hipótese diagnóstica, porém necessita de exames comple-
mentares para excluí-la. Definida como um padrão atípi- • Idosos, diabéticos e mulheres mais comumente têm isquemia com
sintomas atípicos (muitas vezes, sem dor precordial), como uma piora
co de dor torácica que não se adapta à descrição da dor da dispneia, náusea, vômitos, diaforese, e devem ser valorizados.
definitivamente anginosa. Acredita-se que até 1/3 dos pacientes com SCA se apresentam dessa
■ Definitivamente não-anginosa: dor torácica cujas carac- forma e tendem a ser subtratados.
terísticas não incluem a insuficiência coronária aguda no • Idosos podem apresentar dispneia súbita ou mesmo edema agudo de
diagnóstico diferencial. Dor não relacionada ao esforço, pulmão como manifestação. Outras apresentações de SCA em idosos são:
com aspectos evidentes de origem não-cardíaca. confusão, síncope, profunda sensação de fraqueza, hipotensão ou arritmia.
• Fatores desencadeantes: exercício físico extenuante, estresse emocional,
doença médica aguda, pós-operatório etc.
Dor torácica isquêmica
• Frequentemente os pacientes apresentam ansiedade, sudorese profusa
História e exame físico, na maioria das vezes, são a pri- e palidez cutânea.
meira etapa na avaliação de dor torácica (Tabela 3).
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5 ■ DOR TORÁCICA 49

digestão, sendo erroneamente interpretada como dispep- Tabela 5. Outros achados nas SCA
sia (Tabela 5).
■ Achados não-sugestivos de isquemia: dor pleurítica, dor • Sexo: mulheres com suspeita de isquemia mais frequentemente não
mesogástrica ou hipogástrica, dor apontada com um têm doença coronariana, e quando doença coronariana está presente,
dedo, dor desencadeada à palpação ou movimentação ou ela costuma ser menos grave quando comparada aos homens.
dores que duram poucos segundos. • Idoso: apresenta maior prevalência de doença arterial coronariana
■ Não esquecer: uma dor torácica mais intensa e com du- (DAC), mais provavelmente envolve multivasos, maior chance de evoluir
de forma adversa e mais frequentemente os sintomas são atípicos.
ração acima de 20 minutos, acompanhada de dispneia, su-
Fatores de risco tradicionais (Tabela 3). A presença desses fatores
dorese, palidez cutânea e náuseas, frequentemente repre- aumenta a probabilidade de doença coronariana. A ausência deles não
senta infarto agudo do miocárdio. descarta uma SCA.
• Tabagismo: é associado com menor risco de óbito numa SCA. Esse
O exame físico no contexto de doença coronária é fre- paradoxo do cigarro representa uma tendência dos fumantes a ter
quentemente inexpressivo, entretanto, deve incluir: doença menos extensa, placas menos complexas e idade mais jovem à
apresentação.
■ Geral: avaliar se há palidez, sudorese, ansiedade, cianose, • Antecedentes de maior gravidade e/ou pior prognóstico:
turgência jugular. – Diabetes
■ Pressão arterial nos dois braços: avaliar assimetria e diag- – Doença vascular periférica ou cerebrovascular prévia
nosticar hipotensão. – Insuficiência cardíaca
■ Palpação de pulsos em membros superiores e inferiores.
– IAM prévio
■ Ausculta cardíaca: presença de sopros, B3, B4.
• Outros dados importantes: medicações em uso, contraindicações
■ Ausculta pulmonar: presença de crepitações.
conhecidas, história de alergias, cateterismo prévio, história de asma ou
■ Extremidades: procurar sinais de insuficiência vascular, broncoespasmo, cirurgia recente, doenças ativas (neoplasias,
edema. plaquetopenia) etc.

Probabilidade do quadro clínico representar is-


quemia miocárdica
dos para classificação do risco de morte ou de reinfarto pre-
Consiste num passo muito importante e deve ser feito coce da AHA/ACC 2007 estão descritos na Tabela 7.
em todos os pacientes (Tabela 6). Da mesma forma, os escores TIMI (Thrombolysis in
Myocardial Ischemia Trial) conseguem avaliar a probabili-
Avaliação do risco de eventos cardíacos dade de o paciente evoluir de maneira adversa em duas se-
desfavoráveis manas (Tabela 8).

A estratificação de risco precoce implica a probabilida- Classificação de Killip e Forrester


de de o paciente evoluir de forma adversa: óbito, infarto,
angina recorrente, insuficiência cardíaca (IC), acidente vas- Além das diversas classificações de IAM, devemos lem-
cular cerebral (AVC) ou arritmia grave. Os principais acha- brar que podemos classificar o IAM de acordo com:

Tabela 6. Avaliação da probabilidade de isquemia coronariana

Alta probabilidade de isquemia Probabilidade intermediária de isquemia Baixa probabilidade de isquemia coronariana
coronariana (presença de um deles) coronariana (presença de um deles)1 (ausência de qualquer critério de alta ou
intermediária probabilidade)
Prévia história de coronariopatia (inclui IAM Dor ou desconforto torácico ou MSE como Dor torácica reproduzida à palpação
prévio ou coronariografia) principal sintoma
Dor torácica sugestiva ou irradiação para o braço Diabete melito ECG normal ou onda T retificada
esquerdo ou semelhante à dor anginosa prévia
Diaforese Sexo masculino
Edema pulmonar ou crepitações Idade maior que 70 anos
Hipotensão Presença de doença vascular extracardíaca (AVC)
Insuficiência mitral transitória Ondas Q patológicas
Alterações no segmento ST transitórias Anormalidades fixas no ECG (segmento ST
(> ou igual a 0,05 mV) ou onda T)
Inversão da onda T com sintoma
(> ou igual a 0,2 mV)
Elevação das enzimas cardíacas* Enzimas cardíacas normais* Enzimas cardíacas normais*
* Troponina T, troponina I, CK-MB ou mioglobina. 1 Ausência de qualquer achado de alta probabilidade.
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50 ATUALIZAÇÃO EM EMERGÊNCIAS MÉDICAS

Tabela 7. Risco de evolução desfavorável da AHA/ACC

Alto risco (presença de um deles) Intermediário risco (presença de um deles)1 Baixo risco (ausência de qualquer
critério de alto ou baixo risco)
Angina crescendo nas prévias 48 horas IAM prévio, doença vascular periférica, doença
cerebrovascular, revascularização prévia ou uso
de aspirina
Dor em repouso e que está ocorrendo, com Dor em repouso (> 20 minutos), mas que cedeu no momento
mais de 20 minutos de duração ou dor em repouso (< 20 min) aliviada com nitrato
Edema pulmonar ou crepitações, B3, hipotensão, Novo início de angina classe III ou IV (Canadian) nas últimas
novo sopro mitral (ou que piorou) 2 semanas, em repouso, mas com duração < 20 minutos
Bradicardia ou taquicardia Angina noturna
Idade > 75 anos Idade > 70 anos
Angina em repouso e alterações no segmento ST Ondas Q patológicas, inversão da onda T > 0,2 mm ECG normal ou sem alterações
transitórias (> 0,5 mm) durante um episódio de dor
Taquicardia ventricular sustentada
Elevação das enzimas cardíacas Enzimas normais Enzimas normais
(TnI, TnT ou CKMB)
1
Ausência de qualquer achado de alto risco.

■ Apresentação e evolução clínica: Killip (Tabela 9). – Sinais e sintomas sistêmicos: a pericardite pode ocorrer
■ Parâmetros hemodinâmicos: Forrester (Tabela 9). como parte de doenças sistêmicas: uma grande gama
de sinais e sintomas pode estar associada, dependendo
Em ambas as classificações, a mortalidade é crescente da etiologia.
da Classe I à IV, sobretudo nas Classes III e IV. – Na pericardite infecciosa, o início dos sintomas pode
ser abrupto, surgindo febre, mialgia e calafrios.
Outras dores cardiogênicas – Pode se apresentar com sinais e sintomas de IC devido
à constrição pericárdica e tamponamento cardíaco.
■ Pericardite: pode cursar com dor torácica de início súbito, – Pulso paradoxal: consiste na redução > 10 mmHg da
piora com inspiração profunda, podendo irradiar para o pressão arterial sistólica durante uma inspiração pro-
dorso e melhorar ao sentar-se com flexão anterior do funda; quando grave, pode ser sentida ao pulso: o pa-
tronco. Pode se assemelhar à síndrome coronariana agu- ciente inspira profundamente, ocasionando uma re-
da. Características importantes: dução da amplitude do pulso; eventualmente ele se
– A dor pode ser sutil ou ausente na pericardite tubercu- torna não-palpável. O pulso paradoxal usualmente
losa, urêmica e neoplásica. indica tamponamento pericárdico, mas pode ocorrer
– Atrito pericárdico: indica pequena quantidade de também na pericardite constritiva, embolia pul-
líquido no pericárdio e sua presença fortemente apon- monar, choque hipovolêmico e na exacerbação da
ta para pericardite como causa da dor torácica. Pode DPOC.
até desaparecer quando ocorre aumento de líquido no – Importante: presença de dispneia, ortopneia, he-
saco pericárdico. patomegalia e turgência jugular pode indicar tampona-
– Bulhas abafadas sugerem significativa quantidade de mento pericárdico, no contexto de uma pericardite. Os
derrame pericárdico. pacientes podem evoluir para sinais de baixo débito

Tabela 8. Escores TIMI e probabilidade de eventos adversos¶

Escores TIMI Nº de escores TIMI % evento adverso¶ % pacientes com SCA


• Idade ≥ 65 anos.
• ≥ três fatores de risco tradicionais. 0/1 4,7% 4,3%
• CATE com estenose ≥ 50%. 2 8,3% 17,3%
• Desvio do segmento ST ≥ 0,5 mm. 3 13,2% 32%
• ≥ dois episódios anginosos em 24 horas. 4 19,9% 29,3%
• Uso de AAS na última semana. 5 26,2% 13%
• Aumento de enzimas cardíacas. 6/7 40,9% 3,4%

Risco de morte, de IAM ou de revascularização em duas semanas.
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Tabela 9. Classificação de Killip e Forrester

Killip Forrester
Estimativa clínica da gravidade do IAM Estimativa clínica e hemodinâmica do IAM
I • Não há IC 1 • Perfusão* normal
• Nenhum sinal de IC • Pressão capilar pulmonar (wedge) normal**
II • IC presente 2 • Perfusão* ruim
• Estertores (menos da metade do tórax), • Pressão capilar pulmonar (wedge) normal**
B3, turgência jugular • Paciente hipovolêmico
III • IC grave 3 • Perfusão* praticamente normal
• Edema pulmonar franco com crepitações • Pressão capilar pulmonar (wedge) aumentada**
em todo o tórax • Paciente com congestão pulmonar
IV • Choque cardiogênico 4 • Perfusão* ruim
• Hipotensão, oligúria, cianose e • Pressão capilar pulmonar (wedge) aumentada**
extremidades frias • Choque cardiogênico
* Em geral, o índice cardíaco é maior que 2,2 L/min/m2 quando há boa perfusão e menor que 2,2 L/min/m2 na hipoperfusão periférica.
** A pressão capilar pulmonar “normal” é de 18 mmHg.

cardíaco, hipotensão e parada cardiorrespiratória ■ Dor torácica isolada ou associada a outros sinais e sinto-
(Tabela 10). mas (Tabela 11).
■ Dor torácica semelhante à dor anginosa pode surgir na este- ■ Insuficiência cardíaca (por insuficiência aórtica aguda).
nose aórtica (EAo) e na miocardiopatia hipertrófica ■ Choque (tamponamento pericárdico, sangramento para
(MCH). Sopro ejetivo em foco aórtico e sobrecarga ventri- pleura ou retroperitôneo, ruptura da aorta).
cular esquerda podem surgir nas duas situações. O diag- ■ Dor abdominal (isquemia mesentérica).
nóstico é confirmado por ecocardiograma transtorácico. ■ Oclusão arterial aguda (membros, AVC, paraplegia, is-
quemia renal e infarto agudo do miocárdio).
Dor da dissecção aguda de aorta
Costuma ser de início súbito, de forte intensidade des-
A dissecção aguda de aorta é uma doença rara, embora de o início (diferente da dor anginosa, que em geral ocorre
seja uma das mais letais existentes. Muitos casos só serão em crescendo) e pode ser insuportável, fazendo que o pa-
diagnosticados na necrópsia, pois simulam várias outras ciente se contorça, caia ao solo ou se torne inquieto e agita-
doenças. A dissecção de aorta deve sempre ser lembrada na do. Quando a dor migra de seu ponto de origem para ou-
abordagem de qualquer paciente com dor torácica na sala tros pontos, seguindo o percurso da aorta (ocorre em até
de emergência. Pacientes podem se apresentar com: 70% dos casos), presença de sinais autonômicos (palidez
cutânea e sudorese profusa) deve levantar a suspeita ime-
diata de dissecção aguda de aorta.
Além da própria dissecção em si, várias complicações
Tabela 10. Diagnóstico de tamponamento cardíaco
podem surgir:
Quadro clínico • Hipotensão, taquicardia, dispneia, ortopneia,
taquipneia com pulmões “limpos”, pulso paradoxal e ■ Ruptura de vasos: da aorta (é a principal causa de óbito),
turgência jugular. para saco pericárdico (tamponamento), pleura (derrame
Mais frequentes • Medicamentos (trombolíticos, anticoagulação), pleural esquerdo), mediastino e retroperitôneo.
causas cirurgia cardíaca recente, trauma torácico, ■ Insuficiência aórtica aguda: extensão em direção à valva
neoplasias, uremia, doenças autoimunes. aórtica produzindo distorção de suas comissuras.
Eletrocardiograma • Pode ser normal ou apresentar alterações sutis ■ Dissecção das coronárias: geralmente à direita, produzin-
(alterações de segmento ST e T difusos), baixa
do infarto agudo do miocárdio.
amplitude ou alternância elétrica de QRS (QRS de
amplitudes variáveis).
■ Extensão para vasos cervicais: pode causar acidente vas-
cular cerebral.
RX de tórax • Aumento da área cardíaca, com pulmão sem
congestão.
■ Outras: isquemia mesentérica, de membros superiores ou
inferiores (insuficiência arterial periférica aguda), isque-
Ecocardiograma • Derrame pericárdico com colapso diastólico de
câmaras cardíacas.
mia medular (paraplegia) ou renal.
• Aumento do fluxo tricúspide à inspiração e
diminuição do fluxo mitral à inspiração.
Fatores predisponentes: hipertensão arterial sistêmica (é o
fator mais importante e está presente em mais de 90% dos pa-
Prova terapêutica • Aspiração do líquido pericárdico é seguida da
normalização hemodinâmica.
cientes), idade avançada e sexo masculino. As doenças do te-
cido conectivo (Marfan e Ehler Danlos) costumam associar-
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52 ATUALIZAÇÃO EM EMERGÊNCIAS MÉDICAS

Tabela 11. Achados do exame físico na dissecção aguda de aorta

Fácies de dor, agitação e confusão. Sudorese profusa e palidez cutânea.


Hipertensão: ocorre em 80% a 90% das dissecções distais. Pseudo-hipotensão: oclusão ou comprometimento das artérias braquiais.
Diferença pressórica entre os membros: ocorre em 50% dos casos. Sopro de insuficiência aórtica aguda.
Diferença de pulsos: ocorre em 8% a 12% dos casos. Atrito pericárdico: pouco frequente e indica risco de tamponamento.
Sinais de derrame pleural: mais frequentes à esquerda e podem ser Sinais de tamponamento cardíaco: bulhas abafadas, estase jugular e
hemotórax ou reação inflamatória aguda exsudativa em torno da pulso paradoxal.
aorta envolvida.
Síndrome de Horner: compressão do gânglio estrelado. Déficits neurológicos agudos: paresias, plegias, acidente vascular cerebral.
Disfagia e rouquidão agudos. Hematêmese, hemoptise, síndrome da cava superior (raros).

se à dissecção em idade jovem. Outras situações são: doenças solicitar exames complementares (D-dímeros, mapea-
congênitas (coarctação da aorta, valva aórtica bicúspide), ar- mento V/Q, tomografia, ressonância, doppler ou arterio-
terite temporal, uso de cocaína, gestantes e puérperas. grafia). Isso irá refinar a probabilidade pós-teste e a razão
de verossimilhança (Likelihood Ratio). Recomendam-se os
Embolia pulmonar (EP) escores de Wells ou de Genebra modificado (Tabelas 13 e
14).
O diagnóstico da EP é um desafio em qualquer pronto-
socorro. Sem tratamento, a mortalidade pode atingir a mar- Outras dores de origem pulmonar
ca dos 30%. Nos pacientes tratados, a mortalidade fica em
torno de 2% a 8%. ■ Pneumotórax espontâneo: dor torácica localizada no dor-
A apresentação clínica pode variar desde pacientes as- so ou ombros e acompanhada de dispneia. Um pneumo-
sintomáticos até pacientes graves com instabilidade hemo- tórax hipertensivo pode produzir insuficiência respirató-
dinâmica, e mesmo se manifestar como morte súbita (Ta- ria e/ou colapso cardiovascular. No exame físico,
bela 12). poderemos encontrar dispneia, taquipneia e ausência de
Apesar dessa grande variação, é importante estimar a ruídos no hemitórax afetado.
probabilidade clínica (pré-teste) de uma EP antes de solici- ■ Dor torácica também pode surgir em doenças do parên-
tar um método complementar (dímero-D, V/Q, TC helicoi- quima pulmonar (pneumonia, câncer e sarcoidose) e
dal, doppler e arteriografia). pode ter várias apresentações. Pode agravar-se com a res-
Em grandes estudos, 97% dos pacientes tiveram dis- piração e ter sintomas associados como febre, tosse, fadi-
pneia, taquipneia ou dor torácica, com as seguintes caracte- ga e febre.
rísticas: ■ Hipertensão pulmonar: a dor torácica pode ser muito
parecida com a angina típica e pode dever-se a isquemia
■ Taquipneia e dispneia: mais frequentemente indicam de ventrículo direito ou dilatação das artérias pulmo-
uma grande embolia, e podem vir associadas a dor torá- nares.
cica em aperto (isso indica isquemia de ventrículo direi-
to). Habitualmente, a dispneia é súbita, mas pode piorar
durante horas a vários dias. O diagnóstico é mais difícil
em pacientes com IC ou DPOC, e uma EP deve sempre Tabela 12. Sintomas e sinais de embolia pulmonar
entrar no diagnóstico diferencial desses pacientes com Achados EP foi confirmada (% dos pacientes)
descompensação no pronto-socorro.
Sintomas
■ Dor torácica (com ou sem dispneia): um dos mais fre-
• Dispneia 80
quentes sintomas. Esses pacientes geralmente apresentam
embolia em pequenas artérias, periféricas, subpleurais (o • Dor torácica pleurítica 52

que ocasiona irritação pleurítica). • Dor torácica subesternal 12


■ Síncope e hipotensão: indicam grande EP, geralmente em • Tosse 20
grandes artérias e implicam maior mortalidade. Há uma • Hemoptise 11
série de alterações hemodinâmicas com aumento da re- • Síncope 19
sistência da circulação pulmonar, hipoxemia, redução do Sinais
débito cardíaco, oligúria, extremidades frias e sinais de hi- • Taquipneia (> 20 ipm) 70
poperfusão.
• Taquicardia (> 100 bpm) 26
• Sinais de TVP 15
Avaliação da probabilidade pré-teste • Febre (> 38,5°C) 7
Todos os pacientes com suspeita de embolia pulmonar • Cianose 11
devem ser avaliados com escores de probabilidade antes de
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5 ■ DOR TORÁCICA 53

Tabela 13. Escores de Genebra modificado e escores de Wells para EP

Genebra modificado Pontos Wells Pontos


TVP ou EP prévios +3 TVP ou EP prévios +1,5
Câncer ativo +2 Frequência cardíaca > 100/min +1,5
Cirurgia recente ou fratura no último mês +2 Cirurgia recente ou imobilização +1,5
Idade > 65 anos +1 Sinais clínicos de TVP +3
Dor na perna unilateral +3 Diagnóstico alternativo menos provável que EP +3
Hemoptise +2 Hemoptise +1
Frequência cardíaca entre 75-94 bpm +3 Câncer +1
Frequência cardíaca > 95 bpm +5
Edema unilateral da perna ou dor à palpação de trajeto venoso +4
Baixa probabilidade 0a3 Baixa probabilidade 0a1
Intermediária probabilidade 4 a 10 Intermediária probabilidade 2a6
Alta probabilidade > 11 Alta probabilidade >7

Tabela 14. Prevalência de EP de acordo com a probabilidade pré-teste

Probabilidade pré-teste* Porcentagem dos pacientes que procuram o PS EP comprovada (variação em %)


Baixa 53% a 58% 5% a 13%
Intermediária 37% a 41% 38% a 40%
Alta 4% a 10% 67% a 91%
* Com os escores de Wells, Genebra ou Genebra modificado.

dos músculos e/ou articulações produzidos pela respiração.


Dor esofágica e gastroduodenal Palpação cuidadosa das articulações ou dos músculos en-
Dor em doenças esofágicas pode mimetizar a doença volvidos quase sempre reproduz ou desencadeia a dor. Pode
coronariana aguda e crônica. Pacientes com refluxo gas- haver história de atividade repetitiva ou não-costumeira
troesofágico podem apresentar desconforto torácico, geral- envolvendo os braços ou a parte superior do tronco antes
mente em queimação (pirose), às vezes definido como uma da procura pelo pronto-socorro. Costuma ser contínua,
sensação opressiva, retroesternal ou subesternal, podendo tem duração de horas a semanas, e frequentemente tem
irradiar-se para pescoço, braços, dorso, associado por vezes uma localização em área específica. Pode ser agravada com
a regurgitação alimentar. A dor pode melhorar com a posi- determinadas posições, com respiração profunda, com mo-
ção ereta, com uso de nitratos, antiácidos, bloqueador de vimento dos braços e de rotação de tronco.
canal de cálcio ou com repouso. A relação da dor com a ali- A dor psicogênica é bastante comum no pronto-socor-
mentação pode ser um indicativo dessa etiologia. ro e costuma acometer pacientes com depressão e com
A dor da úlcera péptica se localiza em região epigástri- transtornos da ansiedade. Costuma ser difusa, imprecisa,
ca ou no andar superior do abdome, mas às vezes pode ser podendo estar associada com utilização abusiva de analgé-
referida em região subesternal ou retroesternal. Geralmen- sicos. Frequentemente, o indivíduo tem dificuldade para
te ocorre após uma refeição, melhorando com o uso de an- definir a dor e se utiliza de comparações do cotidiano para
tiácidos. descrevê-la. Dor torácica com sintomas do transtorno do
A ruptura de esôfago é grave e pode ser causada por pânico, depressão ou transtorno somatoforme represen-
vômitos intensos ou trauma. A dor é excruciante, retroes- tam um terço de todos os pacientes que procuram a emer-
ternal ou no andar superior do abdome, geralmente acom- gência.
panhada de um componente pleurítico à esquerda. Apre-
senta alta mortalidade e é fatal se não tratada. O EXAMES COMPLEMENTARES E
diagnóstico pode ser sugerido pela presença de pneumo- DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS
mediastino. Aproximadamente 27% dos pacientes terão
enfisema subcutâneo. É fundamental que o pronto-socorro esteja organizado
de forma a priorizar o atendimento de pacientes com dor
torácica:
Dor osteomuscular e psicogênica
Geralmente têm características pleuríticas, pelo fato de ■ A meta inicial é descartar uma síndrome coronariana
serem desencadeadas ou exacerbadas pelos movimentos aguda (SCA), sem esquecer das causas potencialmente
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54 ATUALIZAÇÃO EM EMERGÊNCIAS MÉDICAS

catastróficas: dissecção aguda de aorta, embolia pul- ■ O ECG mostra uma elevação do segmento ST maior que
monar, pneumotórax etc. (Algoritmo 1). 1 mm em duas ou mais derivações contíguas: o diagnós-
■ O tratamento precoce dos pacientes com SCA é medida tico provável é SCA com elevação do segmento ST.
salvadora de vidas e deve ser iniciado, quando indicado, ■ O ECG não mostra elevação do segmento ST maior que
em até 30 minutos a partir da chegada do paciente no 1 mm em duas ou mais derivações contíguas. Nesse caso,
hospital para trombólise química, e de uma hora para com quadro clínico compatível, está-se diante de uma
angioplastia primária. Da mesma forma, mesmo que os síndrome coronariana aguda sem elevação do segmento
pacientes tenham contraindicações para receber o trom- ST, e as enzimas cardíacas seriadas mostrarão se o caso é
bolítico ou não haja angioplastia, eles se beneficiarão de uma angina instável (AI), se não houver aumento de en-
tratamento medicamentoso para isquemia. zimas cardíacas; ou se é um IAM sem elevação do seg-
■ Quanto mais precoce for o diagnóstico de uma SCA, mento ST (IAM – sem supra ST), se houver aumento de
maior a chance de salvar o miocárdio e melhor o prog- enzimas cardíacas.
nóstico dos pacientes.
O eletrocardiograma (ECG) é essencial, traz informa-
Eletrocardiograma na SCA ções prognósticas de grande valor, especialmente ECGs se-
riados, sobretudo quando há um ECG prévio. Alguns tópi-
É fundamental e deve ser feito imediatamente, até 10 cos são importantes e não devem ser esquecidos:
minutos após a chegada ao PS (Tabela 15).
Ele será normal na maioria dos pacientes que se apre- ■ ECG completamente normal não descarta uma doença
sentam com dor torácica. coronariana.
Após realizar o ECG, este deve ser dividido em dois ■ Alterações dinâmicas do segmento ST com sintomas são
grupos: de grande relevância, geralmente indicando isquemia
aguda e doença coronariana grave. Estudos têm mostra-

Algoritmo 1. Dor torácica potencialmente catastrófica

Dor torácica potencialmente catastrófica

Dissecção de aorta EP Pneumotórax Pericardite Ruptura de esôfago

História típica • Dor intensa • Dor pleurítica • Dor aguda e intensa • Dor profunda e piora à • Dor persistente, com
inspiração piora progressiva

• Neurológicos • Dispneia • Confusão • Dispneia • Dispneia


Sintomas associados • Perda de pulsos • Taquipneia • Hipotensão • Diaforese • Diaforese
• Tetraplegia • Hemoptise • Dispneia • Choque é tardio
• Paraplegia • Sintomas anginosos

• Elevada PA • FR > 16 ipm • Redução de M. V. • Atrito pericárdico • Sinais de consolidação


• Pulsos assimétricos • Taquicardia • Aumento de turgência • Bulhas hipofonéticas pulmonar
Exame físico • Sopro de I. Ao. • Aumento de P2 jugular • Enfisema de
• Isquemia em órgãos • Cianose subcutâneo
• Sibilos

• Pode mimetizar SCA • Pode mimetizar • Pode mimetizar uma • Pode simular • Pode simular
(dissecção de CD) ansiedade piora de uma doença taquiarritmias, dispepsia e evoluir
Cuidado: achados • Pode mimetizar AVCI • Pode aparecer no PS de base (ex.: DPOC, pneumonia ou IVAS com choque
típicos da doença apenas como piora da asma)
doença de base (ex.:
DPOC, IC)

• TC helicoidal (paciente • D-dímero • Rx tórax • Ecocardiograma • Rx tórax


estável) ou • Doppler • TC tórax • TC tórax
Exames úteis
ecotransesofágico na • TC helicoidal • EDA
sala de emergência • Mapeamento V/Q

• ß-bloqueador e • Anticoagulação • Observação ou • AINH ou corticoide • Cirurgia precoce


Tratamento inicial
nitroprussiato drenagem
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5 ■ DOR TORÁCICA 55

Tabela 15. Eletrocardiograma na dor torácica


podem evoluir com infarto de ventrículo direito. O diag-
nóstico de IAM de VD é sugerido pelo ECG: derivações
• Todo paciente com dor torácica na sala de emergência deve ser precordiais direitas, V3R a V6R; elevação do segmento ST
submetido imediatamente ao ECG. > 1 mm em duas derivações contíguas (geralmente, V3R
• A história e o ECG são os dados mais importantes na avaliação de e V4R) tem sensibilidade e especificidade maior que 90%.
paciente com um quadro de dor torácica em um departamento de ■ Ondas T hiperagudas: presença de ondas T elevadas,
emergência. apiculadas (hiperagudas), pode indicar fases muito pre-
• Em razão de sua baixa sensibilidade para o diagnóstico de insuficiência coces de um IAM, necessitando de monitorização e ECG
coronária aguda, o ECG nunca deve ser o único exame complementar seriados.
utilizado para confirmar ou afastar o diagnóstico dessa doença.
• A sensibilidade do ECG para IAM aumenta para 70% a 90% com o Para correta interpretação do eletrocardiograma, al-
surgimento de alterações dinâmicas do segmento ST (infra ST).
guns detalhes não podem ser esquecidos:
• ECG seriados, com intervalos de três a quatro horas nas primeiras doze
horas de internação, aumentam ainda mais (para até 95%) o ■ Alterações que indicam infarto estabelecido:
diagnóstico de IAM.
– Ondas Q > 0,02 segundos em V2 e V3 ou complexos
• Elevação do segmento ST:
QS nessas derivações.
– A especificidade do ECG na internação varia de 80% a 95%. – Ondas Q nas outras derivações (mínimo de duas deri-
– O valor preditivo positivo para IAM é de 75% a 85%. vações contíguas) > 0,03 segundos e profundidade >
– O valor preditivo negativo é de 85% a 95%. 0,1 mV.
■ Alterações de ECG que dificultam a interpretação de is-
quemia ou infarto (muitas vezes, tornam impossível o
diagnóstico pelo ECG): bloqueio de ramo esquerdo de
do que esses pacientes apresentam aumentada atividade data indeterminada ou antigo, hipertrofia ventricular es-
da trombina, de fibrinopeptídeos e têm lesões complexas querda, cardiomiopatia hipertrófica e síndrome de pré-
à cineangiocoronariografia (CATE). excitação (Wolff-Parkinson-White) (Tabela 16).
■ Situações que dificultam a interpretação do ECG: ■ Bloqueio de ramo direito (BRD): não interfere na habili-
– Doenças que podem alterar o segmento ST: hiperten- dade de diagnosticar ondas Q.
são arterial com strain, pericardite, aneurisma de ven- ■ Sempre pensar nas outras causas de elevação do segmen-
trículo esquerdo, repolarização precoce, cardiomiopa- to ST: pericardite, miocardite, aneurismas de VE, hiperca-
tia hipertrófica e síndrome de Wolff-Parkinson-White. lemia, síndrome de Brugada (bloqueio do ramo direito
– Uso de tricíclicos e fenotiazinas pode causar inversão ou apenas rSR’ em V1 e V2, associado à elevação do seg-
profunda da onda T. mento ST em V1 e V2) etc.

Particularidades da SCA com elevação de ST


■ Elevação do segmento ST: elevação do segmento ST > 1
mV (acima do ponto J), em duas ou mais derivações con- Tabela 16. Interpretação de ECG no IAM: falsos positivos e falsos
tíguas (em V2 e V3, a elevação deve ser maior ou igual a 0,2 negativos
mV em homens e maior ou igual a 0,15 mV em mulheres).
Falsos positivos
■ Presença de novo (ou presumidamente novo) bloqueio
• Repolarização precoce
de ramo esquerdo (associado à história clínica sugestiva).
Nessa situação, alguns elementos poderão ser muito úteis: • Bloqueio de ramo esquerdo
– ECG prévio sem bloqueio de ramo. • Sobrecarga de ventrículo esquerdo
– Marcadores bioquímicos precoces (mioglobina). • Síndrome de pré-excitação (Wolff-Parkinson-White)
– Exames de imagem: ecocardiograma com hipocinesia • Síndrome de Brugada
ou acinesia segmentar (cintilografia ou novas técnicas • Cardiomiopatia hipertrófica
de tomografia são dificilmente disponíveis em PS). • Miocardite/pericardite
■ Infradesnivelamento do segmento ST > 1 mV em V1 – • Embolia pulmonar
V3: quando associado à elevação do segmento ST em de-
• Hemorragia subaracnoide
rivações de parede inferior indica infarto dorsal associa-
• Hipercalemia
do. Na ausência de elevação do segmento ST nas outras
derivações, geralmente é indicativo de infarto posterior • Colecistite
isolado, sobretudo quando o ecocardiograma está dispo- • Erro na localização do ponto J ou na configuração (localização) das
nível e mostra hipocinesia posterior. A sensibilidade do derivações do ECG
ECG é aumentada com a rotina de se realizar V7, V8 e V9, Falsos negativos
e geralmente se deve a infarto de circunflexa (quando não • Bloqueio de ramo esquerdo
dominante). • IAM prévio com onda Q e persistente elevação de segmento ST (antigo)
■ Elevação do segmento ST em V3R e V4R: cerca de 30% • Ritmo de marcapasso
dos pacientes com infarto inferior (de coronária direita)
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56 ATUALIZAÇÃO EM EMERGÊNCIAS MÉDICAS

É importante lembrar que a resolução precoce da ele- Troponinas são mais sensíveis e mais específicas para
vação de segmento ST é um preditor útil do tamanho do in- lesão do miocárdio do que CKMB e mioglobina e hoje são
farto e da função ventricular esquerda. consideradas os marcadores de escolha. Estima-se que 30%
dos pacientes com SCA e CKMB normal em tempo hábil
Papel diagnóstico do nitrato sublingual têm troponinas elevadas, implicando que se trata de um
IAM sem supra ST (antigamente se chamava angina instá-
Um dos critérios tradicionalmente usados para o diag- vel de alto risco). Troponinas negativas em tempo hábil des-
nóstico de angina típica é a melhora da dor com o repouso cartam infarto. Já quando há um quadro clínico compatível
ou com nitrato. No pronto-socorro, quando o paciente com SCA ou alteração do ECG sugestiva de isquemia + ele-
apresenta melhora da sua dor com o nitrato sublingual, há vação de troponina T ou I, o diagnóstico é de IAM sem su-
a tendência de valorizar esse dado como indício de doença pra ST. É importante lembrar que o último consenso da
cardíaca isquêmica. Entretanto, estudos recentes não têm AHA/ACC preconiza que uma só dosagem de troponina,
confirmado esse valor diagnóstico do nitrato sublingual. em até seis horas da dor, em pacientes com quadro clínico
Por isso, é importante lembrar: sugestivo de SCA, deva ser confirmada com nova dosagem
entre 8 a 12 horas do início do quadro (classe I, nível de evi-
■ Não dê nitrato sublingual antes de um ECG: se o paciente dência B).
tiver um infarto de parede inferior com infarto de ventrí-
culo direito, pode evoluir para grave choque. ■ Aumento de TnT ou de TnI: marcador importante de
■ Após o ECG inicial, pode-se usar o nitrato sublingual e prognóstico adverso, independentemente de todos os ou-
repetir o ECG após, com o objetivo de detectar alterações tros achados; existe uma relação direta entre o grau de au-
dinâmicas no ECG. mento da troponina e a mortalidade.
■ O alívio da dor pode ocorrer tanto em doença coronaria- ■ Uma vez aumentada, as troponinas persistem assim por
na quanto em doença não-coronariana. vários dias; a troponina T fica elevada por dez a quator-
ze dias, e a troponina I por sete a dez dias. Quando hou-
Portanto, não podemos confirmar ou afastar a presen- ver aumento de troponina, deve-se solicitar uma CKMB,
ça de síndrome coronária aguda com base numa resposta pois se houver reinfarto precoce (até duas semanas), a
positiva ao nitrato sublingual. troponina ainda estará elevada; nessa ocasião, o diagnós-
tico de reinfarto poderá ser feito por novo aumento da
Marcadores de necrose do miocárdio CKMB.
■ A mioglobina não é específica para o coração; entretanto,
Devem ser solicitados à chegada no PS e após seis a do- ela é liberada no sangue mais precocemente que CKMB
ze horas do início da dor (tempo hábil). Lembrar que au- ou troponinas. Duas horas após necrose, a mioglobina já
mento de troponinas (e de outras enzimas cardíacas) pode pode ser detectada, e torna-se negativa em 24 horas. A
ocorrer em outras situações que não uma SCA (Tabela 17). maior utilidade é descartar lesão do miocárdio precoce,

Tabela 17. Causas de aumento de troponinas que não uma SCA primária

Cardíacas Traumáticas
• Taquiarritmias, bradiarritmias, bloqueio AV • Ablação atrioventricular
• Hipotensão • Desfibrilação
• Insuficiência cardíaca • Trauma torácico
• Dissecção de aorta • Cirurgia cardíaca
• Valvopatia aórtica Miscelânea
• Cardiomiopatia hipertrófica • Insuficiência renal
• Síndrome do balonamento apical (cardiomiopatia de Takotsubo) • AVC isquêmico ou hemorrágico
• Vasculopatia pós-transplante • Drogas cardiotóxicas (adriamicina, 5-fluoracil, daunorubicina, herceptina etc.)
• Miocardite/pericardite • Hipotireoidismo
• Febre reumática • Embolia pulmonar
• Vasculites sistêmicas • Asma grave
Doenças infiltrativas do miocárdio • Hipertensão pulmonar
• Amiloidose • Sepse
• Sarcoidose • Paciente internado em UTI
• Hemocromatose • Feocromocitoma
• Esclerodermia • Queimadura grave
• Doença de Kawasaki
• Exercício extremo
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5 ■ DOR TORÁCICA 57

Tabela 18. Marcadores de necrose miocárdica

Marcadores Elevação inicial Pico sem trombólise Normalização SEM trombólise Pico com trombólise Normalização COM trombólise
Mioglobina 1-3 horas 6-7 horas 24 horas – –
CKMB 3-12 horas 20-24 horas 48-72 horas 10-12 horas 24 horas
cTnI 3-12 horas 24-48 horas 5-10 dias 18-24 horas 4 dias
cTnT 3-12 horas 24-48 horas 5-14 dias 12-48 horas 4-5 dias

pois tem um alto valor preditivo negativo. Quando a mio- Ecocardiograma


globina aumenta, deve-se confirmar com CKMB ou tro-
poninas. Síndrome coronariana aguda
■ Dosagens de CK total, desidrogenase lática ou asparta-
to-aminotransferase (TGO) não devem ser mais uti- ■ O papel do ecocardiograma de repouso na avaliação do
lizadas como marcadores de necrose do miocárdio paciente com dor torácica ainda não está bem estabeleci-
(Tabela 18). do. Sua sensibilidade para diagnóstico de IAM varia de
70% a 95%, mas tem alta taxa de falsos positivos, o que
Radiografia de tórax e tomografia de tórax torna o valor preditivo positivo baixo. Já o valor prediti-
vo negativo varia de 85%-95%. Em pacientes com dor to-
■ RX de tórax: maior utilidade em diagnósticos diferenciais rácica e ECG não-diagnóstico, a sensibilidade do ECO
de dor torácica não-isquêmica: para diagnóstico de IAM ou angina instável varia entre
– Pneumonia, pneumotórax, câncer de pulmão, derrame 40% e 90%, e o valor preditivo negativo varia entre 50%
pleural etc. e 99%. Nesses pacientes, um ECO normal não agrega in-
– Pode sugerir: derrame pericárdico, embolia pulmonar formação diagnóstica significativa, além daquelas forne-
(raro), hipertensão pulmonar etc. cidas pela história e pelo ECG. Portanto, um ECO nega-
■ TC de tórax: mais sensível e específica que a radiografia de tivo não deve afastar um IAM ou angina de alto risco.
tórax para diagnóstico de doenças pleurais, do parênqui- ■ O ECO com dobutamina ou cintilografia fica reservado
ma e vasculatura pulmonar. Tem maior utilidade no diag- para os casos em que o teste ergométrico foi inconclusivo
nóstico de: ou quando não pôde ser realizado (Tabela 20).
– Embolia pulmonar.
– Dissecção de aorta. Outras doenças

Teste de esforço – ergometria (TE) O ecocardiograma tem grande importância no diag-


nóstico de várias doenças e é recomendado nos casos de:
A maior utilidade do TE é descartar doença coronaria-
na significativa em pacientes com dor torácica e de baixo ■ Derrame pericárdico.
risco. ■ Estenose aórtica e valvopatias.
■ Cardiomiopatia hipertrófica.
■ Pacientes com teste negativo têm menos de 2% de chan- ■ Dissecção de aorta.
ce de apresentar um evento cardíaco grave em seis me-
ses. Exames complementares na dissecção de aorta
Não existe um consenso sobre a melhor estratégia, em- Radiografia de tórax: raramente é diagnóstica:
bora o uso do TE no pronto-socorro, em pacientes com dor
torácica de baixo risco, seja eficaz, seguro e de baixo custo.
Evite indicar TE em pacientes de muito baixo risco, pois
Tabela 19. Condições que dificultam a interpretação ou indicação
isso implicará gastos e procedimentos desnecessários. do TE no pronto-socorro
As contraindicações e dificuldades na interpretação do
TE no pronto-socorro estão descritas na Tabela 19. • Estenose aórtica
• Miocardiopatia hipertrófica
Cintilografia miocárdica de repouso • Arritmias não-controladas
• Bloqueio de ramo esquerdo
Exame caro e pouco disponível na maioria dos PS do
• Sobrecarga ventricular esquerda
Brasil.
• Incapacidade física ou mental
Uma cintilografia normal implica baixíssima probabili-
dade de eventos cardíacos adversos nos próximos meses. • Alterações difusas da repolarização
Pode ser útil em pacientes nos quais não é possível realizar • Anormalidades eletrolíticas e uso de digoxina
um teste de esforço (Tabela 19).
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58 ATUALIZAÇÃO EM EMERGÊNCIAS MÉDICAS

Tabela 20. Métodos complementares para o diagnóstico da dissecção aguda

Ecocardiograma Sensibilidade de 63% a 96% e especificidade de 59% a 85%. Melhor acurácia para as dissecções proximais (perde muito em
transtorácico dissecções de arco aórtico e da aorta descendente).
Ecocardiograma Método de eleição para pacientes na sala de emergência.
transesofágico Vantagens: sensibilidade de 98% a 99%, permite avaliar a morfologia da dissecção, os óstios das artérias coronárias, valva aórtica,
função ventricular, tamponamento cardíaco, extravasamento de sangue para fora da aorta, trombose da falsa luz, rupturas
laminares e hematomas intramurais.
Desvantagem: especificidade baixa (80%).
Tomografia Vantagens: sensibilidade de 83% a 100% e especificidade de 87% a 100%. Identifica a laceração intimal, o grau de compressão da
helicoidal luz verdadeira, sinais de complicação (derrame pleural, pericárdico, ruptura para retroperitôneo e mediastino).
Desvantagens: necessita de contraste iodado e não identifica nem quantifica a insuficiência aórtica, nem o envolvimento dos
ramos coronários.
Ressonância Vantagens: acurácia diagnóstica de quase 100%, não usa contraste iodado, melhor que a tomografia para avaliar arco aórtico e
magnética valva aórtica.
Desvantagens: pouca disponibilidade no Brasil, não pode ser feito em portadores de marcapasso, próteses metálicas valvares e
clipes metálicos.

■ Pode mostrar: aumento do mediastino, sinal do cálcio Exames complementares na EP


(separação da calcificação da íntima de mais de 1 cm da
borda do arco aórtico), derrame pleural (em geral à es- A radiografia de tórax tem maior utilidade para excluir
querda). outras causas de dispneia e dor torácica. Ela pode ser com-
■ Em contrapartida, 12% dos pacientes não terão nenhuma pletamente normal ou pode mostrar:
alteração radiográfica.
■ Atelectasias laminares.
Eletrocardiograma: também é muito inespecífico e pode ■ Derrame pleural.
mostrar: ■ Elevação de cúpula diafragmática.
■ Achados clássicos de EP (raras): amputação da artéria
■ Hipertrofia ventricular esquerda, infarto de parede infe- pulmonar, oligemia e infiltrado em forma de cunha.
rior ou alterações de repolarização.
■ ECG é normal em um terço dos pacientes. A gasometria arterial pode ser normal em 20% dos pa-
cientes. Mesmo o gradiente alveoloarterial pode ser normal
A confirmação diagnóstica imediata é essencial. Não há também em 20% dos pacientes. Graus variáveis de hipoxe-
ainda um método ideal, mas em linhas gerais a tendência é mia e hipocapnia podem ocorrer, mas são inespecíficos.
(Tabela 20): O eletrocardiograma pode ser absolutamente normal e
habitualmente mostra taquicardia sinusal. Achados mais
■ Indicar o ecocardiograma transesofágico para pacientes sugestivos são: bloqueio de ramo direito e sobrecarga de câ-
mais graves na sala de emergência. maras direitas e padrão S1Q3T3.
■ Tomografia helicoidal ou ressonância magnética para os
pacientes estáveis. D-dímeros
■ Em alguns casos pode ser necessária a aortografia.
Os D-dímeros são produzidos quando a enzima plas-
Após confirmar o diagnóstico, deve-se definir o tipo e mina inicia o processo de degradação de um coágulo (fibri-
duração da dissecção e imediatamente solicitar avaliação ci- na). Há várias metodologias para se identificar os D-díme-
rúrgica: ros; as principais são:

■ Dissecção proximal: caso acometa a aorta ascendente (ti- ■ Aglutinação pelo látex tradicional: realizada à beira do
pos I e II de De-Bakey e tipo A de Stanford). Aproxima- leito; o seu uso no pronto-socorro deve ser abandonado,
damente 65% dos pacientes têm dissecção da aorta as- já que a sensibilidade não é adequada para excluir EP.
cendente. ■ SimpliRED: é um teste de aglutinação qualitativo com he-
■ Distal: não acomete a aorta ascendente (tipo III de De- máceas. Quando a pesquisa dos D-dímeros é negativa e o
Bakey e tipo B de Stanford). A dissecção da aorta descen- paciente tem baixa probabilidade pré-teste de EP, a sensi-
dente ocorre em 20% dos pacientes. bilidade é de 98% (IC95%: 95-100).
■ Aguda: menos de duas semanas do início dos sintomas ■ ELISA (quantitativo, rápido): é o teste recomendado no
(dois terços dos pacientes). departamento de emergência (também denominado Vi-
■ Crônica: mais de duas semanas do início dos sintomas das). Sua principal característica operacional é o excelen-
(um terço dos pacientes). te valor preditivo negativo. A grande vantagem é a facili-
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5 ■ DOR TORÁCICA 59

dade, segurança, o fato de ser não-invasivo, rapidez e bai- Tomografia helicoidal de tórax (TC)
xo custo do exame.
■ Vantagens: em relação ao V/Q, a TC permite uma melhor
As principais características dos D-dímeros (ELISA) avaliação das doenças que simulam EP. A tomografia pos-
são: sibilita a visualização direta do êmbolo; em relação à an-
giografia pulmonar, não é invasiva e muito mais segura.
■ Sensibilidade > 95%. ■ Desvantagens: necessita de contraste IV, pouco disponível
■ Especificidade de 35% a 45%. em hospitais públicos do Brasil, exame relativamente ca-
■ Um ELISA negativo praticamente descarta EP no pronto- ro e necessita de médico com experiência na interpreta-
socorro, exceto se houver alta probabilidade clínica de EP. ção do resultado.

Situações em que a especificidade do D-dímero é mui- A TC helicoidal revolucionou o diagnóstico da embolia


to baixa (até menor que 10%), e, portanto, raramente é útil: pulmonar. Hoje, apenas uma pequena porcentagem dos pa-
cientes necessitará de arteriografia. O novo consenso euro-
■ Pacientes internados. peu (2008) recomenda o uso da TC helicoidal como pri-
■ Pós-operatório. meiro exame de imagem, mas apenas após uma avaliação
■ Idosos (> 75 anos). de probabilidade pré-teste e uma dosagem de D-dímeros
■ Qualquer evento trombótico ou sangramento recentes. (exceto em pacientes de alta probabilidade de EP, que não
necessitam dos D-dímeros).
Mapeamento ventilação-perfusão (V/Q) A TC helicoidal tem evoluído muito rapidamente, as
imagens e os detalhes são cada vez mais sofisticados, pro-
■ Vantagens: extensa experiência, vários estudos e segurança. porcionando visualização de vasos cada vez menores.
■ Metodologia: albumina marcada com tecnécio-99 para
perfusão pulmonar e inalação de uma substância radioa- Doppler de membros inferiores
tiva para delimitar a ventilação (pode ser: xenon-133,
krypton-81 ou outros). Imagens em vários cortes são ob- ■ Vantagens: exame barato, disponível, não-invasivo, não
tidas e busca correlação entre a perfusão e a ventilação. usa iodo ou substâncias IV, sem radiação e pode ser repe-
tido várias vezes.
O resultado de um V/Q poderá ser (Tabela 21): ■ Desvantagens: exame dependente do operador.

■ Alta probabilidade: implica grande chance de verdadeira- Estudos de autópsia em pacientes com EP mostraram
mente o paciente ter EP, e, com esse resultado, é indicada que 90% têm trombose venosa profunda (TVP). Quando
anticoagulação, não necessitando de exames adicionais venografia é feita sistematicamente em todos os pacientes
(valor preditivo positivo = 88%). com EP confirmada, uma TVP é demonstrada em 70% dos
■ Normal: três estudos têm demonstrado que um V/Q nor- pacientes. Isso mostra que TVP e EP são espectros (locali-
mal e uma baixa probabilidade clínica de EP, juntos, pra- zações) diferentes da mesma doença. Por isso, é racional
ticamente descartam EP. que um paciente com suspeita de EP faça um doppler de
■ Não-diagnóstico (baixa ou intermediária probabilidade): membros inferiores (MMII), pois se vier positivo (uma
obviamente, o V/Q não é normal e nem de alta probabi- não-compressibilidade das veias profundas de membros in-
lidade. Nos estudos em que esses pacientes foram subme- feriores) implica um diagnóstico de TVP, é indicada anti-
tidos a angiografia pulmonar (doze estudos com 1.529 coagulação e não há necessidade de exames adicionais. En-
pacientes), uma EP foi encontrada em 25% deles. Isso im- tretanto, se o doppler for negativo, não exclui EP e indica
plica que um V/Q não-diagnóstico necessita de exames necessidade de exames adicionais.
adicionais. Estudos têm indicado que o doppler de MMII tem ex-
celente sensibilidade (95%) e especificidade (98%) para
Um paciente com DPOC tem maior chance de ter um TVP proximal (grandes veias: femorais e ilíacas), mas com
V/Q não-diagnóstico; entretanto, quando normal ou de al- desempenho ruim em veias distais (panturrilha).
ta probabilidade, comporta-se de forma semelhante a pa-
cientes sem DPOC. Arteriografia pulmonar

Exame invasivo, tem taxas de complicações em torno


Tabela 21. Estimativa global dos resultados do V/Q de 3% a 4%, e 10% a 20% dos pacientes não conseguem
realizá-la por vários fatores, tais como alergia ao contraste,
Estimativa global do resultado Resultados do V/Q em pacientes do
de um V/Q: média dos estudos PIOPED
insuficiência renal, IC grave, plaquetopenia grave ou estado
geral ruim.
• Normal = 25% • Normal = 14%
É o exame padrão de referência para diagnóstico de EP
• Alta probabilidade = 25% • Alta probabilidade = 13%
(gold standard), com mais de 95% de sensibilidade e especi-
• Não-diagnóstico = 50% • Não-diagnóstico = 73% ficidade.
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60 ATUALIZAÇÃO EM EMERGÊNCIAS MÉDICAS

A tendência é indicá-la cada vez menos, em uma estra- cardite (a troponina pode variar de 0,5 a mais de 50
tégia que incorpore vários métodos diagnósticos menos in- ng/mL).
vasivos. ■ Hemograma e provas de atividade inflamatória devem
ser solicitados.
Ecocardiograma
■ Ecocardiografia: é o exame mais importante (sensível, es-
pecífico, simples, não-invasivo e pode ser feito à beira do
O ecocardiograma é útil na identificação de pacientes leito). Permite:
com EP que têm um pior prognóstico; achados de hipoci- – Confirmar presença, quantidade e localização do líqui-
nesia de VD, hipertensão pulmonar persistente, forame oval do pericárdico.
patente, trombo livre e flutuante em átrio direito identifi- – Pode mostrar sinais de constrição, tamponamento e
cam pacientes de alto risco de óbito ou de tromboembolis- sugerir espessamento pericárdico.
mo recorrente. ■ Tomografia computadorizada e ressonância magnética:
Outra utilidade é para diagnóstico diferencial de pa- apresentam maior sensibilidade e especificidade que o
cientes que se apresentam com dispneia, dor torácica e co- ecocardiograma para o diagnóstico de derrame loculado
lapso cardiovascular. Nessas situações, o ecocardiograma e de espessamento pericárdico.
pode indicar um diagnóstico alternativo, como infarto agu- ■ Análise do líquido pericárdico e biópsia do pericárdio:
do do miocárdio, endocardite infecciosa, dissecção aguda importante na etiologia da pericardite (Tabela 22).
de aorta, pericardite ou tamponamento pericárdico. ■ Outros exames: em geral, devem ser solicitados de acordo
com os achados clínicos e as hipóteses diagnósticas. Exem-
Integrando os exames complementares na EP plos: sorologias (inclusive para HIV), perfil de autoimu-
nidade, culturas etc.
Não se sabe ao certo qual o melhor algoritmo para in-
vestigação de EP. Principalmente porque EP é comum, se
não diagnosticado pode ser fatal e o custo da investigação é
muito alto.
Há várias possibilidades de investigação, mas aquela Algoritmo 2. Algoritmo na EP
que proporciona maiores benefícios com um menor custo
ainda não é conhecida.
Avaliação de probabilidade pré-teste em todos os pacientes
Não há mais dúvidas de que a TC helicoidal é muito
melhor que o V/Q para investigação de EP (Algoritmo 2).
Os motivos são vários e incluem:
Alta Intermediária ou baixa
■ Maior sensibilidade.
■ Maior especificidade.
■ Possibilita o diagnóstico de doenças que simulam EP (IC, Negativo:
Não pedir D-dímero D-dímero ELISA descarta
DPOC, dissecção de aorta, derrame pleural, tumor, pneu- EP
monia, entre outros).

Positivo
Exames complementares na pericardite
■ ECG:
– Com pequena quantidade de líquido pericárdico:
Tomografia helicoidal
– Elevação do segmento ST difusamente, com con-
cavidade para cima, geralmente de V2 a V6, associa-
da a infradesnivelamento do segmento ST em AVR,
às vezes em V1. Positiva: EP confirmada Negativa**
– Intervalo PR: infra ou supra, geralmente discordante
do segmento ST; ocorre por causa de lesão atrial.
– Com significativa quantidade de líquido pericárdico:
– QRS em todas as derivações com amplitude reduzi- Baixa ou intermediária probabilidade Alta probabilidade#
da (< 5 mm).
■ Radiografia de tórax: pode mostrar uma cardiomegalia
(de + a 4 +). Raramente é possível notar a linha da gor-
EP descartada Doppler de MMII +
dura pericárdica fazendo a silhueta cardíaca.
V/Q ou arteriografia
■ A elevação das enzimas ou marcadores de lesão miocárdi-
ca (CKMB e troponina) reflete o comprometimento * Reduz o número de tomografias.
miocárdico subjacente ao pericárdio primariamente #
Ainda têm significativa chance de EP: cerca de 5% e pode chegar a 13%.
acometido, sendo a troponina I um sensível e específico ** Com os tomógrafos de última geração, é possível descartar EP com uma TC
negativa.
indicador de dano miocárdico em pacientes com peri-
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5 ■ DOR TORÁCICA 61

Tabela 22. Análise do líquido pericárdico

Suspeita diagnóstica Exames necessários


Celularidade total • Muito aumentada em inflamações agudas, tanto infecciosas quanto autoimunes. Bactérias e colagenoses podem ter como
e diferencial célula predominante o neutrófilo.
• Baixa celularidade é vista no mixedema.
• Predomínio de monócitos é visto em neoplasias e hipotireoidismo.
Transudato versus exsudato • Sugerem exsudato: proteínas totais > 3 g/dL, proteína derrame/proteína sérica > 0,5, DHL líquido/DHL sérico > 0,6.
Tuberculose • Pesquisa de BAAR, cultura de BAAR, pesquisa do M. tuberculosis por PCR e dosagem de adenosina-deaminase e de
interferon-gama.
Neoplasia • Diagnóstico:
(1) PCR positivo.
(2) ADA > 40 U/L.
(3) Interferon-gama > 200 pg/L.
(4) Pesquisa direta ou cultura positiva.
Piogênico • Citologia oncótica; eventualmente imuno-histoquímica.
• Dependendo do contexto clínico e da suspeita: pedir marcadores (exemplos: CEA, CA125, CD-30, CD-25 etc.); há dezenas deles.
• Pesquisa direta (Gram) e um mínimo de três pares de culturas (aeróbico e anaeróbico) + culturas de sangue periférico.
Outras infecções • Pesquisa direta e cultura: para fungos, micobactérias não-tuberculosas, protozoários.
• Vírus: podem ser pedidas culturas (baixo rendimento), pesquisa de antígenos, ou uma reação em cadeia da polimerase (PCR).

Outros exames na dor torácica Não é necessária a aquisição de nenhuma tecnologia


adicional para instalação de uma UDT. O ponto central é a
■ Ressonância magnética nuclear: método muito promis- disponibilização de uma quantidade de leitos exclusivos
sor, embora caro e raramente disponível na maioria dos para atendimento de pacientes com dor torácica, equipados
PS do Brasil. com monitor cardíaco, material padronizado para RCP, apa-
■ Endoscopia digestiva alta: pode ser útil no diagnóstico de relho de eletrocardiograma e laboratório capaz de dosar en-
lesões esofágicas e doença ulcerosa péptica. zimas cardíacas CKMB, troponinas e mioglobina. O princi-
■ Ultrasonografia abdominal: confirmação de abscessos pal investimento para a criação de uma estratégia como essa
subfrênicos, colecistite etc. deverá ocorrer no setor de recursos humanos, o principal
■ Outros exames deverão ser solicitados conforme a suspei- responsável pelos resultados desse empreendimento.
ta clínica. O objetivo básico das UDT é promover o reconheci-
mento imediato do IAM e oferecer pronta terapia de reper-
TRATAMENTO fusão. Ao lado disso, o objetivo é afastar outras condições
clínicas com elevado potencial de risco de morte, como an-
Unidade de dor torácica gina instável, dissecção de aorta, embolia pulmonar, pneu-
motórax hipertensivo, ruptura do esôfago, úlcera perfurada
O fato de que não se pode descartar com certeza uma e pancreatite aguda.
doença cardíaca isquêmica em um paciente com dor toráci- Há vários protocolos disponíveis. O ideal é que a equi-
ca, mesmo apresentando inicialmente um ECG normal e pe que trabalhará na UDT participe da elaboração do pro-
enzimas negativas (normais) na internação, pode levar o tocolo desse serviço, respeitando as características próprias
médico a indicar internação hospitalar (método tradicio- daquele hospital e de seu corpo clínico. Numa situação de
nal). Isso acarreta um enorme gasto para o sistema de saú- emergência é importante a utilização de algoritmos, para
de, tanto público como privado. que o tempo para tomada de decisões seja reduzido.
Para tentar minimizar esse problema, pesquisas foram Uma vez na UDT, há várias possibilidades (Algoritmo 3).
feitas na tentativa de traçar estratégias seguras para o pa- Se o ECG mostrar uma elevação do segmento ST em
ciente, com uma boa relação de custo-efetividade. Foram duas derivações contíguas > 1 mm: indicar trombólise ou
então criadas as Unidades de Dor Torácica (UDT), uma es- angioplastia primária e transferi-lo para uma unidade coro-
tratégia útil e custo-efetiva (Algoritmo 3). nariana (UCO). Da mesma forma, pacientes com aumento
Dentro dessas unidades são elaborados protocolos de de enzimas (IAM sem elevação do segmento ST) e angina
abordagem diagnóstica e de risco, com a finalidade de estra- de alto risco devem ser internados em UCO.
tificar os pacientes que realmente se beneficiarão de inter- Pacientes com diagnóstico de dor torácica definitiva-
nação mais prolongada. mente não-isquêmica devem ser avaliados para uma causa
Protocolos de diagnóstico rápido para pacientes de bai- específica (embolia pulmonar, pneumonia etc.). Esses pa-
xo risco representam uma abordagem que oferece acuidade cientes terão alta da UDT e serão encaminhados conforme
diagnóstica comparável com a tradicional internação do a causa (alta hospitalar, tratamento antimicrobiano, outros
paciente, com estada mais curta e menor custo. exames complementares etc.).
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62 ATUALIZAÇÃO EM EMERGÊNCIAS MÉDICAS

Algoritmo 3. Abordagem inicial da dor torácica1

História, exame físico, monitor, oxigênio e veia

ECG e probabilidade de dor isquêmica

ECG isquêmico ou com IAM ECG sem isquemia e provável SCA Dor torácica potencialmente catastrófica

Unidade Coronariana Unidade de Dor Torácica Algoritmo 1

1- Enzimas seriadas2
2- ECG seriados (3, 6 e 9 horas)
3- Monitorização contínua
4- Desfibrilador prontamente disponível

Alterações isquêmicas ECG sem alterações


Aumento de enzimas Enzimas normais

Unidade coronariana Teste de esforço3

Isquemia Sem isquemia

Investigar internado Alta hospitalar

1 Há vários outros protocolos disponíveis.


2 Enzimas no tempo zero, 6 horas e 9 horas da dor (o ideal é ter uma mioglobina entre 3 e 4 horas e uma troponina entre 6 a 12 horas do início da dor).
3 Cintilografia do miocárdio quando não for possível realizar o TE.

Pacientes com baixo risco de eventos deverão ser sub- Clopidogrel


metidos a um TE (ou cintilografia se não for possível reali-
zar o TE); e se normal, terão alta hospitalar. Alternativamen- ■ Antagonista do ADP plaquetário:
te, eles poderão ter alta hospitalar e realizar o TE em até 72 – Dose inicial de 300 mg via oral. Doses maiores (600 a
horas. 900 mg) conseguem inibição plaquetária mais rápida,
mas a segurança não está claramente comprovada.
– Manutenção de 75 mg via oral, uma vez ao dia; mantê-
SCA sem elevação de ST (Tabela 23 e Figura 1)
lo por no mínimo um mês; pode-se prolongar por até
9 a 12 meses.
Ácido acetilsalicílico ■ As principais indicações são:
■ Solicitar ao paciente que mastigue 160 a 325 mg de AAS. – Substituto ao AAS em pacientes alérgicos ou fortemen-
■ Uma das medicações mais importantes em SCAs; seu uso te intolerantes ao AAS.
implica redução da mortalidade. – Junto com o AAS em pacientes com SCA de alto risco
■ Pacientes com antecedentes de dispepsia: prescrever ou infarto sem elevação do segmento ST, tanto em cen-
omeprazol (ou outro inibidor de prótons) por via oral (20 tros com CATE ou sem CATE.
mg, 30 minutos antes do café e antes do jantar, com água). – Junto com o AAS em pacientes que realizaram angio-
■ Pacientes alérgicos ao AAS: plastia com stent.
– Clopidogrel: dose inicial de 300 mg (quatro comprimi- ■ É importante lembrar que o clopidogrel deve ser prescrito
dos) e manutenção de 75 mg ao dia. para pacientes com SCA de alto risco e IAM sem supra,
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5 ■ DOR TORÁCICA 63

Tabela 23. Medidas para síndrome coronariana aguda


■ Contraindicações:
– História de broncoespasmo (tabagismo não é
1º Medidas gerais: repouso, monitorização contínua, oxigênio e acesso contraindicação).
venoso. – Achados clínicos de hipoperfusão.
2º Terapia anti-isquemia – Insuficiência cardíaca.
• Nitratos – Intervalo PR > 0,24 segundos.
• Morfina
– Bloqueio atrioventricular de 2º e 3º graus.
– Pacientes de risco para choque cardiogênico: um ou
• Betabloqueadores (cuidado com as contraindicações ou nos pacientes
de risco de choque cardiogênico*).
mais dos seguintes fatores de risco: idade > 70 anos,
pressão sistólica < 120 mmHg, FC > 110 bpm ou < 60
3º Terapia antiplaquetária
bpm, longo tempo entre o início dos sintomas e a
• AAS
procura ao hospital.
• Clopidogrel/prasugrel ■ Via oral é a preferência (atenolol, bisoprolol, metoprolol
• Inibidores do receptor IIb-IIIa ou propranolol) – classe I, nível de evidência B:
4º Terapia anticoagulante – A dose inicial dependerá da PA; o propranolol tem a
• Heparina não-fracionada vantagem de ter menor meia-vida.
• Enoxaparina – Propranolol: 10 a 80 mg de 12/12 ou 8/8 horas.
• Bivalirudina (inibidor da trombina) – Metoprolol: 25 a 100 mg de 12/12 horas.
• Fondaparinux (inibidor direto do fator Xa)
– Atenolol: 25 a 200 mg uma vez ao dia.
– Bisoprolol: 2,5 a 10 mg uma vez ao dia.
5º Outras medicações
■ Uso intravenoso – classe IIa, nível de evidência B. Não usar
• Inibidores da enzima conversora de angiotensina, antagonistas da
betabloqueador IV em pacientes com as contraindicações
angiotensina II, espironolactona e eplerenona
descritas e nem naqueles de risco para choque cardio-
• Inibidores da HMG-coenzima A – redutase (estatinas)
gênico:
* Pacientes de risco para choque cardiogênico: um ou mais dos seguintes fatores de – Usar em pacientes com dor precordial ocorrendo.
risco: idade > 70 anos, pressão sistólica < 120 mmHg, FC > 110 bpm ou < 60 bpm,
longo tempo entre o início dos sintomas e a procura ao hospital. – Metoprolol (ampolas de 5 mg): prescrever 5 mg IV len-
to; após o uso medir a PA e o pulso; prescrever mais 5
mg de metoprolol IV, e assim sucessivamente.
tanto se for realizar um CATE (estratégia intervencionista) – Dose ideal: 5 mg de cinco em cinco minutos, até chegar
como se a conduta for conservadora. em 15 mg.
■ Clopidogrel prescrito em 6 ou mais horas antes da angio- ■ Prescrever um betabloqueador, via oral, uma a duas horas
plastia reduz eventos cardíacos isquêmicos em 28 dias. após a última dose do metoprolol IV.
■ Pacientes alérgicos aos betabloqueadores ou com história
Betabloqueador de broncoespasmo:
– Prescrever diltiazen ou verapamil: se dor ocorrendo:
■ Constitui uma medicação essencial em doença coronaria- intravenoso; se já estiver sem dor: via oral.
na, desde que não haja contraindicações e o paciente não
seja de risco para evoluir com choque cardiogênico; o seu Anticoagulação
uso implica redução de mortalidade. Lembre-se de que
diabetes, insuficiência vascular periférica, tabagismo, A anticoagulação plena é muito importante no trata-
DPOC sem história de broncoespasmo não são contrain- mento de síndromes coronarianas agudas; implica redução
dicações aos betabloqueadores. de mortalidade.
■ Cuidado com o uso excessivo de medicações que não al- As opções são:
teram a mortalidade (nitratos e morfina) e que causam
redução da PA, o que muitas vezes impede ou limita o uso ■ Enoxaparina: mais usada e mais facilmente disponível no
de medicações que reduzem a mortalidade. Brasil. Facilidade de uso subcutâneo, embora não deva

Considere em todos os pacientes* (se não houver contraindicação):


• AAS
• Betabloqueador + Avaliar indicação do inibidor IIb-IIIa plaquetário
• Anticoagulação
• Clopidogrel

Figura 1 – Tratamento da SCA de alto risco ou IAM sem elevação do segmento ST.
* Duas outras estratégias são úteis, mas julgamos serem mais complexas e mais onerosas, sem benefício comprovado:
1) Em todos os pacientes: em vez do clopidogrel, usar o IIb-IIIa e reservar o clopidogrel se houver colocação de stent (classe I, nível de evidência A). O
uso de IIb-IIIa é mais complexo que o uso de clopidogrel oral.
2) Em todos os pacientes: AAS, betabloqueador, clopidogrel, anticoagulante e inibidor IIb-IIIa (classe IIa e nível de evidência B).
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64 ATUALIZAÇÃO EM EMERGÊNCIAS MÉDICAS

ser usada em pacientes com clearance de creatinina < 30 Fondaparinux


mL/minuto. Em pacientes acima de 75 anos, reduzir a
dose em 25% devido ao risco de sangramento. ■ É a escolha em pacientes que serão manejados sem CATE
■ Heparina comum: deve ser a droga de escolha em pa- (estratégia conservadora) e que têm maior risco de san-
cientes com clearance de creatinina < 30 mL/minuto. gramento. Em pacientes submetidos a CATE, o fonda-
■ Bivalirudina: especialmente útil em pacientes com pla- parinux aumentou a chance de trombose do cateter e
quetopenia induzida por qualquer das heparinas. Em pa- deve ser evitado. Em pacientes tratados de forma conser-
cientes submetidos a CATE, a bivalirudina teve a mesma vadora (sem CATE), ele mostrou-se tão bom quanto
eficácia que a enoxaparina, mas com redução de 47% em enoxaparina, mas com redução de 48% na chance de san-
sangramentos graves (3,0% vs 5,6%; p < 0,001). É possível gramento (4,1% vs 2,2%; p < 0,0001). Fondaparinux deve
que se torne a droga de escolha nessa situação (interven- se tornar a droga de escolha nessa situação (estratégia
cionista). conservadora).
■ Fondaparinux: escolha em pacientes que serão maneja- ■ Dose inicial: 2,5 mg SC, 1 x dia. Não usar se o clearance de
dos sem CATE e de risco para sangramento. creatinina for menor que 30 mL/min.

Enoxaparina Nitrato
■ Deve ser prescrita mesmo em pacientes que serão subme- ■ Globalmente, o nitrato não reduz a mortalidade. As prin-
tidos a cineangiocoronariografia precoce. cipais indicações são:
■ Pode ser usada tanto com clopidogrel quanto com os ini- – Dor ocorrendo.
bidores dos receptores IIb-IIIa plaquetários. – Sinais ou sintomas de IC (crepitações, B3 ou conges-
■ Dose de 1 mg/kg de peso, SC, de doze em doze horas; po- tão).
de-se fazer um bolus de 30 mg de enoxaparina IV, junto – Hipertensão arterial: observe que angina associada à
com a 1ª dose SC. Reduzir em 25% a dose em pacientes hipertensão caracteriza uma emergência hipertensiva.
acima de 75 anos de idade. Nesse caso, deve-se prescrever a nitroglicerina, even-
■ Cuidado: pacientes com insuficiência renal (mesmo leve), tualmente associada ao nitroprussiato.
peso menor que 40 kg ou maior que 100 kg e pacientes ■ A nitroglicerina é muito útil, pois tem efeito imediato
com idade > 75 anos: (minutos), e se desligada, em três a cinco minutos já não
■ O uso de enoxaparina nessas circunstâncias deve ser feito tem mais efeito.
apenas se for possível monitorização da anticoagulação – Dose inicial IV: 5 a 10 µg/minuto.
com o fator X ativado. – Aumentos de 5 a 10 µg/minuto a cada cinco minutos
■ Se não for possível monitorizar, deve-se prescrever hepa- até que ocorra:
rina comum (não-fracionada) e ajustar com o TTPA. – Alívio dos sintomas ou
– Hipotensão (PA sistólica < 90 mmHg) ou
Heparina não-fracionada (HNF) – Cefaleia insuportável ou
– Dose máxima: até 100 a 200 µg/minuto.
■ Necessita de monitorização (TTPA de seis em seis horas ■ Cuidado: evite usar nitratos em pacientes com:
para mantê-lo entre 1,5-2,0 vezes o controle, em geral, 50 – Hipotensão ou hipovolemia (risco de choque).
a 70 segundos). – Infarto de ventrículo direito.
■ Maior incidência de plaquetopenia quando comparada a – Uso de sildenafil nas últimas 24 horas.
enoxaparina. ■ Não use nitratos como rotina em pacientes com SCA; ni-
■ Necessita de bomba de infusão (IV). trato não reduz a mortalidade. Evite prescrever nitratos
– Bolus IV de 60 U/kg de peso (máximo de 4.000 U). em pacientes:
– Manutenção: 12 U/kg de peso (máximo inicial de 1.000 – Sem dor precordial no momento.
U/hora). – Sem congestão ou IC.
– Titular a infusão para manter o TTPA em 1,5 a 2,5 – Normotensos.
vezes o controle.
■ Ao se escolher uma das heparinas, não trocar por outra; a Morfina
mesma heparina deve ser usada em todo o tratamento.
■ A morfina é bastante útil para alívio da dor precordial.
Bivalirudina Além do efeito analgésico, ela pode diminuir a pré-carga,
a sensação de dispneia, e tem um efeito sedativo, que é
■ Pacientes que desenvolvem plaquetopenia com heparina útil em pacientes com SCA.
(atual ou história prévia): ■ A morfina não está associada à redução de mortalidade;
– Usar um inibidor direto da trombina: bivalirudina. ela apenas alivia a dor.
– Dose inicial: 0,1 mg/kg em bolus. ■ As principais indicações são:
– Manutenção nas primeiras 24 horas: 0,25 – Congestão pulmonar ou edema agudo de pulmão.
mg/kg/hora. – Dor precordial.
– Dose inicial: 2 a 4 mg IV em bolus.
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5 ■ DOR TORÁCICA 65

– Repetir se necessário a cada cinco a dez minutos. Uso dos inibidores da enzima conversora (inibidores da
■ Cuidado: a morfina pode causar depressão respiratória, ECA)/antagonistas da angiotensina II
vômitos e hipotensão. O antídoto é a naloxona (dose de
0,4 a 0,8 mg IV). Evite usar morfina em pacientes com: ■ A prescrição do inibidor da ECA não deve e nem precisa
– Hipotensão ou hipovolêmicos. ser tão precoce quanto o AAS ou betabloqueador, por
– Infarto de ventrículo direito. exemplo. Deve-se esperar que o paciente esteja estável: ao
– Confusão ou bradipneico. menos quatro a seis horas após a chegada ao pronto-so-
corro. Nas situações em que eles estão indicados, é reco-
Inibidores dos receptores IIb-IIIa plaquetários mendável usar baixas doses inicialmente, e a preferência é
pelo captopril, pela sua mais curta meia-vida. Evite usar
■ Inibem os receptores IIb-IIIa plaquetários, implicando na se a pressão sistólica for menor que 100 mmHg ou hou-
inibição da via final comum e mais importante da agre- ver sinais de hipoperfusão. As principais indicações são:
gação plaquetária. – Mesmo com o uso de betabloqueador e nitroglicerina,
– Em relação à SCA, de uma maneira geral, eles estão as- o paciente permanece hipertenso.
sociados à diminuição significativa de desfechos im- – Pacientes com HAS ou diabete melito.
portantes (reinfarto, isquemia ou óbito). – Sinais ou sintomas de disfunção ventricular esquerda
■ Indicações: ou ecocardiograma mostrando uma fração de ejeção
– Síndromes coronarianas agudas de alto risco ou IAM diminuída (< 40%).
sem elevação do segmento ST: – Em todos os pacientes após uma síndrome coronariana
– A estratégia intervencionista, que consiste em pres- aguda, desde que não haja contraindicações (nesse caso,
crever AAS, clopidogrel, betabloqueador, anticoa- a evidência é menor; classe IIa, nível de evidência B).
gulação plena (enoxaparina ou heparina comum), ■ Pacientes intolerantes ao IECA (história de angioedema,
inibidor IIb-IIIa plaquetário (tirofiban ou epitifiba- tosse, rash): usar um antagonista da angiotensina II.
tide) e realizar uma cineangiocoronariografia pre-
coce (em até 48 horas) consiste na melhor terapêu- Uso dos inibidores da enzima HMG – coenzima A redutase
tica existente para esse grupo de pacientes.
– Quando usados nessa estratégia, eles são mantidos ■ Ação anti-inflamatória, estabilização de placas ateroscleró-
por até 24 horas após a angioplastia. ticas, melhora da função endotelial, aumento de HDL, di-
– O abciximab é contraindicado em pacientes que minuição da tendência protrombótica e redução do LDL.
não vão ser submetidos a angioplastia com coloca- ■ A eficácia das estatinas para prevenção secundária de
ção de stent. eventos cardiovasculares há muitos anos foi comprovada.
– Angioplastia com stent: Os estudos mais recentes buscaram avaliar se o uso de es-
– Os inibidores IIb-IIIa plaquetários revolucionaram tatinas ainda na fase aguda de uma SCA (nas primeiras 24
esse procedimento, diminuindo significativamente horas do evento), independentemente dos níveis de coles-
as complicações periprocedimento (IAM, trombo- terol, pode se associar com a redução adicional de eventos
se aguda do stent etc.). cardiovasculares adversos. Os maiores estudos prospecti-
■ Três inibidores são disponíveis: vos controlados e randomizados, em geral, mostraram um
– Tirofiban: é um não-peptídeo (molécula sintética) que benefício marginal da terapia com estatinas. A custo-efe-
mimetiza a porção do fibrinogênio que se liga ao re- tividade dessa conduta ainda é discutida, especialmente
ceptor IIb-IIIa. em países em desenvolvimento.
– Dose inicial: 0,4 mg/kg/min durante trinta minu- ■ O que se pode concluir e recomendar é iniciar estatina
tos. nas primeiras 24 horas e:
– Manutenção: 0,1 mg/kg/min por até 96 horas, se – Colher um perfil lipídico na manhã seguinte da admis-
necessário. são do paciente com SCA, em jejum.
– Caso ele seja utilizado em uma estratégia invasiva – Caso o LDL seja > 70 mg/dL, manter estatina.
(com CATE), deixa-se a infusão por doze horas – Caso o LDL seja < 70 mg/dL, deve-se repetir a coleta
após o procedimento. em dois a três meses. Esse paciente não se beneficia de
– Eptifibatide: heptapeptídio cíclico, pouco usado no estatina.
Hospital das Clínicas da FMUSP. ■ Doses das estatinas mais estudadas em SCAs:
– Dose inicial: 180 µg/kg em bolus. – Sinvastatina: 10 a 80 mg/dia (para SCA: 40 mg/dia).
– Manutenção: 2 µg/kg/minuto por até 72-96 horas, – Atorvastatina: 10 a 80 mg/dia (para SCA: 80 mg/dia).
se necessário. – Pravastatina: 40 mg/dia.
– Abciximab: fragmento Fab de anticorpo, com inibição ■ Uma vantagem da prescrição de estatinas durante a inter-
irreversível de receptores IIb-IIIa. Dos inibidores dis- nação de uma SCA é que essa conduta aumenta significa-
poníveis, esse é o mais potente, embora não deva ser tivamente a porcentagem de pacientes que persistem
usado na SCA. usando a medicação ao final de um ano (91%, compara-
– Dose inicial é de 0,25 mg/kg (em dez minutos). do com apenas 10% quando a medicação é iniciada no
– Manutenção é de 0,125 µg/kg/min (máx. 10 ambulatório) e reduz a incidência de outras doenças vas-
µg/min) por 12-24 horas. culares (p. ex., AVCI).
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66 ATUALIZAÇÃO EM EMERGÊNCIAS MÉDICAS

Conduta intervencionista – angioplastia Tabela 24. Recomendações para estratégia invasiva em SCA
com colocação de stent
• Angina recorrente, refratária ou aos mínimos esforços com terapêutica
■ A melhor conduta em pacientes com IAM sem supra ST anti-isquêmica otimizada.
e pacientes com angina de alto risco é realizar uma angio- • Aumento de troponinas.
grafia coronariana imediata (até 48 horas da chegada ao • Alterações dinâmicas do segmento ST.
PS). Essa estratégia intervencionista consiste em: • Angina que se acompanha de sinais ou sintomas de IC ou regurgitação
– Prescrever AAS, clopidogrel, betabloqueador, anticoa- mitral.
gulação plena (enoxaparina ou heparina comum; alter- • Fração de ejeção < 0,40.
nativas: bivalirudina ou fondaparinux) +
• Taquicardia ventricular sustentada.
– Inibidor IIb-IIIa plaquetário (tirofiban ou epitifibatide) +
• Angioplastia < seis meses ou revascularização cirúrgica prévia.
– Realizar uma cineangiocoronariografia precoce e an-
gioplastia com colocação de stent (se indicado). • Instabilidade hemodinâmica.
■ As principais indicações da estratégia invasiva estão des- • Risco aumentado de complicações pelos escores TIMI ou GRACE.
critas na Tabela 24 (Algoritmo 4).

Algoritmo 4.Tratamento do IAM sem elevação do segmento ST e da angina instável de alto risco
Reavaliação do paciente

Pacientes com 1 ou mais dos critérios seguintes

• Aumento de troponinas.
• Alterações dinâmicas no segmento ST.
• IC, B3, edema pulmonar, novo sopro ou piora de insuficiência mitral.
• Instabilidade hemodinâmica.
• Taquicardia ventricular sustentada.
• Dor recorrente ou aos mínimos esforços mesmo com terapia anti-isquêmica otimizada.
• Fração de ejeção menor que 40%.
• Risco aumentado de complicações pelos escores TIMI ou GRACE.

É possível realizar uma cineangiocoronariografia em até 48 horas?

Sim Não

• AAS • AAS
• Clopidogrel e/ou inibidor IIb-IIIa* • Betabloqueador**
• Betabloqueador** • Enoxaparina (fondaparinux é a melhor opção se
• Anticoagulação plena (enoxaparina, bivalirudina, houver risco de sangramento)
fondaparinux ou heparina comum) • Clopidogrel

Cineangiocoronariografia
Evolução com:
Boa evolução?
• Dor recorrente
• IC
• Instabilidade hemodinâmica
Angioplastia e colocação de stent • Manter o clopidogrel
• Arritmias graves
• Estratificação
• Associar tirofiban

• Suspender o tirofiban 12 horas após o procedimento


• Manter AAS, betabloqueador, clopidogrel
Transferir para hospital que
• Avaliar indicação de IECA e estatinas
tenha hemodinâmica
• Avaliar indicação de espironolactona ou eplerenona

* Achados que favorecem o uso dos dois juntos: previsão de retardo na angiografia, achados de alto risco pelos escores TIMI/GRACE ou isquemia recorrente precoce.
** Não usar se houver contraindicação ou achados de maior risco para choque cardiogênico.
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5 ■ DOR TORÁCICA 67

SCA com elevação de ST AAS, clopidogrel e MOV

Conforme foi exaustivamente lembrado, pacientes com ■ AAS: mastigar 160 a 325 mg via oral.
dor torácica devem ser submetidos a eletrocardiografia ■ Clopidogrel: 300 mg VO de ataque (pacientes < 75 anos);
imediatamente (tempo máximo de dez minutos). A condu- a dose deve ser menor para pacientes com mais de 75
ta correta nos pacientes cujo ECG de entrada mostrou ele- anos (nesse caso, 75 mg VO). Para a angioplastia
vação do segmento ST em duas ou mais derivações contí- primária, a dose pode ser de 600 mg (preferível).
guas (Tabela 25) dependerá da opção/disponibilidade da ■ Monitorização cardíaca, oxímetro de pulso (oxigênio se
terapia de reperfusão. Em resumo: saturação < 90%) e acesso venoso com coleta de sangue
(MOV) para todos os pacientes com desconforto toráci-
■ Pacientes que serão tratados com angioplastia primária: co tipo isquêmico.
AAS, clopidogrel, inibidor IIb-IIIa e anticoagulante (he- ■ Oxigênio:
parina não-fracionada ou bivalirudina). – A melhor conduta é administrar oxigênio se saturação
■ Pacientes que serão trombolizados com estreptoquinase: de O2 < 90%.
AAS, clopidogrel e anticoagulante (fondaparinux ou – Caso não haja oxímetro, administrar oxigênio para to-
enoxaparina; heparina não-fracionada é uma alternativa). dos os pacientes com IAM não-complicado durante as
■ Pacientes que serão trombolizados com t-PA, rt-PA ou primeiras seis horas.
TNK: AAS, clopidogrel e enoxaparina (heparina não-fra- ■ História e exame físico dirigido + ECG doze derivações
cionada é uma alternativa). em ∆t ≤ dez minutos. Nesse momento, se possível, deve-
mos pensar na possibilidade de diagnósticos diferenciais
Inicialmente, a prioridade é prescrever ácido acetilsali- de desconforto torácico, como dissecção de aorta, peri-
cílico e clopidogrel seguidos da anticoagulação e terapia de cardite, miocardite, pneumotórax espontâneo, dor de
reperfusão (abrir a artéria), seja com trombólise química, origem esofágica, doença ulcerosa péptica e embolia pul-
seja com trombólise mecânica (angioplastia coronariana monar.
transluminal percutânea).

Tabela 25. SCA com elevação do segmento ST

Sala de emergência com monitorização e desfibrilador imediatamente disponível


• Solicitar ao paciente para mastigar 300 mg de ácido acetilsalicílico.*
• Clopidogrel: ataque de 300 mg VO para pacientes com < 75 anos; a dose deve ser menor para pacientes com mais de 75 anos (nesse caso, 75 mg VO).
Para a angioplastia primária, a dose pode ser de 600 mg (preferível).
• Medidas gerais: repouso, oxigênio por cateter nasal, oximetria, monitor cardíaco, acesso venoso, coleta de exames complementares (hemograma, estudos
de coagulação, sódio, potássio, magnésio, ureia, creatinina, glicemia, radiografia de tórax e perfil lipídico).#
• Marcadores de isquemia miocárdica: colhidos inicialmente de 6/6 a 8/8 horas: troponinas e CKMB massa.
• Reperfusão coronariana:
- Angioplastia primária: melhor opção, se o tempo entre o primeiro contato médico até o balão estar inflado for:
- Menor que 120 minutos de uma maneira geral.
- Menor que 90 minutos em pacientes que se apresentam ao hospital muito precocemente (menos que 2 horas do início dos sintomas).
- Trombolíticos: estreptoquinase, alteplase (t-PA), reteplase (rt-PA) ou TNK-tPA (tecneteplase).
• Anticoagulação: heparina não-fracionada, enoxaparina, fondaparinux e bivalirudina:
- Para angioplastia primária: heparina não-fracionada (classe I, nível de evidência: C) ou bivalirudina (classe IIa, nível de evidência: B).
- Para trombólise com estreptoquinase: enoxaparina (classe IIa, nível de evidência: B), fondaparinux (classe IIa, nível de evidência: B) ou heparina não-
fracionada (classe IIa, nível de evidência: C).
- Para trombólise com t-PA, rt-PA ou TNK: enoxaparina (preferência); alternativa: heparina não-fracionada (em ambas as condutas: classe I, nível de evidência A).
• Betabloqueador: se não houver contraindicação ou achados de risco para choque cardiogênico. A preferência é para via oral (classe I; nivel de evidência
A). Alternativa: diltiazen ou verapamil.
• Morfina: bolus de 2 a 4 mg; pode ser repetida, conforme dor.
• Nitroglicerina IV: apenas quando indicada; não deve ser prescrita de rotina.
• Inibidores dos receptores IIb-IIIa plaquetários: devem ser usados em pacientes tratados com angioplastia primária (abciximab: classe IIa/nível de evidência A;
tirofiban: classe IIb/nível de evidência B; eptifibatide: classe IIb/nível de evidência C).
• Outros: estatinas, inibidores da enzima conversora, antagonistas do receptor da angiotensina e antagonistas da aldosterona.
* O AAS pode ser indicado até mesmo antes do ECG: dor precordial sugestiva de isquemia, pacientes com fatores de risco coronarianos.
#
Perfil lipídico deve ser colhido na primeira manhã seguinte, em jejum.
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68 ATUALIZAÇÃO EM EMERGÊNCIAS MÉDICAS

Nitratos
■ Propranolol: 10 a 80 mg VO de 8/8 horas.
■ Atenolol: 25 a 200 mg via oral, uma vez ao dia.
Os nitratos não devem mais ser usados de rotina, pois ■ Metoprolol: 25 a 100 mg VO de 12/12 horas.
não alteram o prognóstico do paciente, além do potencial ■ Metoprolol: 5 mg IV, lentamente (um a dois minutos),
de levar à hipotensão. A nitroglicerina IV pode ser indica- com monitorização eletrocardiográfica. Repetir mais duas
da, desde que não haja contraindicação, em circunstâncias doses (total de 15 mg), com intervalos de cinco minutos.
específicas, que incluem: Logo após, deve-se prescrever o betabloqueador via oral
(propranolol, atenolol, metoprolol, bisoprolol etc.).
■ Dor torácica persistente.
■ Hipertensão persistente. Carvedilol após o infarto
■ Edema pulmonar ou insuficiência cardíaca.
Deve ser usado em pacientes que evoluem com fração
Não usar nenhum nitrato nas seguintes situações: de ejeção < 40% ou sintomas de insuficiência cardíaca (es-
ses pacientes devem estar em uso de inibidores da ECA em
■ PA sistólica < 90 mmHg. dose mínima para melhora de sobrevida da IC: 75 mg de
■ Infarto de ventrículo direito. captopril/dia ou equivalente de outro IECA).
■ Uso de inibidores da fosfodiasterase (sildenafil e deriva-
dos) nas últimas 24 horas e de tadalafil, nas últimas 48 Terapias de reperfusão
horas.
Precoce e imediata reperfusão coronariana consiste na
Modo de usar: mais importante terapêutica de pacientes com SCA com ele-
vação de segmento ST. Essa reperfusão poderá ser feita por
■ Iniciar com 5 a 10 µg/minuto em bomba de infusão con- agentes fibrinolíticos ou pela angioplastia coronariana
tínua. transluminal percutânea (ACTP) primária. Da mesma for-
■ Aumentar 5 a 10 µg/minuto a cada três a cinco minutos, ma, alguns pacientes podem ser inicialmente trombolizados
até o efeito desejado ou caso ocorram reações adversas. quimicamente e em seguida necessitar de angioplastia para
■ Máximo de 100 a 200 µg/minuto. abertura da artéria relacionada ao infarto (denominada an-
■ A grande vantagem da nitroglicerina é a facilidade de ti- gioplastia de resgate). O termo angioplastia facilitada indica
tulação (muito curta meia-vida). estratégias combinando trombólise com angioplastia. Entre-
tanto, os estudos com angioplastia facilitada não mostraram
Morfina benefício e ela não é recomendada. As terapias de reperfusão
representaram uma revolução no tratamento desses pacien-
■ Em pacientes com dor precordial, prescrever 2 a 4 mg IV tes, diminuindo a mortalidade dessa grave doença para me-
em bolus. nos de 4%. As indicações para terapia de reperfusão (angio-
■ Doses adicionais podem ser feitas a cada cinco a dez mi- plastia ou trombólise química) estão descritas na Tabela 26.
nutos, em caso de dor persistente. Quanto mais precocemente se indica uma reperfusão,
melhor o prognóstico dos pacientes. A mortalidade aumen-
Betabloqueadores ta para cada trinta minutos de retardo da terapêutica: cada
trinta minutos de retardo: RR = 1,075 (IC95% = 1,008-
Se não houver contraindicação e o paciente não tiver 1,15; p = 0,041). Qualquer retardo implicará maiores chan-
risco de evoluir com choque cardiogênico, os betabloquea- ces de óbito e de complicações.
dores devem ser prescritos, preferencialmente pela via oral Muito importante!
(classe I, nível de evidência A).
■ A melhor terapia de recanalização é aquela que está mais
■ Contraindicações: BAV de 2° e 3° graus, intervalo PR > rapidamente disponível e inclusive pode e deve ser prescri-
0,24 s, broncoespasmo prévio e insuficiência cardíaca. ta já na ambulância do sistema pré-hospitalar, se tiver
■ Risco de evolução para choque cardiogênico: um ou mais dos condições técnicas e pessoal treinado.
seguintes fatores de risco: idade > 70 anos, pressão sistóli- ■ Todo pronto-socorro que não dispõe de angioplastia tem
ca < 120 mmHg, FC > 110 bpm ou < 60 bpm, longo tem- de ter trombolítico e tem de ter um sistema pronto, ágil,
po entre o início dos sintomas e a procura ao hospital. 24 horas, para transferência de pacientes para centros in-
■ Diabetes mellitus, tabagismo (sem broncoespasmo), insu- tervencionistas, quando isso for necessário.
ficiência vascular periférica não são contraindicações a
betabloqueadores. Comparação de trombolíticos com angioplastia primária
O betabloqueador pode ser prescrito por via oral (pre- ■ Quando se têm disponíveis os dois tratamentos (trombo-
ferência) ou por via intravenosa (classe IIb; nível de evi- líticos e angioplastia), claramente a angioplastia primária
dência A). A via parenteral pode ser a melhor via em pa- é a melhor terapêutica disponível para SCA com elevação
cientes hipertensos ou com taquiarritmias (classe I; nível de do segmento ST, reduzindo óbitos, reinfarto e acidente
evidência B). vascular cerebral hemorrágico (Tabela 27).
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5 ■ DOR TORÁCICA 69

– A angioplastia de resgate (após trombólise química)


Tabela 26. Indicações de reperfusão na SCA com elevação do
segmento ST deve ser indicada nos casos que não houve reperfusão
com trombolítico e com menos de 12 horas do início
• Dor ou desconforto torácico e elevação do segmento ST (> 0,1 mV) em dos sintomas (classe IIa; nível de evidência A). Em geral,
duas derivações contíguas (V2 e V3: > 0,2 mV em homens e > 0,15 mV em a ausência de queda em mais de 50% do segmento ST
mulheres) ou novo/presumivelmente novo bloqueio de ramo esquerdo, após 60 a 90 minutos é o critério mais prático para falha
menos de 12 horas do início dos sintomas (classe I; nível de evidência A). da trombólise, embora ainda haja controvérsia.
Se for trombólise química, não deve existir contraindicação.
• Dor ou desconforto torácico e elevação do segmento ST (> 0,1 mV) em
duas derivações contíguas (V2 e V3: > 0,2 mV em homens e > 0,15 mV em Trombólise química
mulheres) ou novo/presumivelmente novo bloqueio de ramo esquerdo,
mais de 12 horas do início dos sintomas e indícios clínicos ou de ECG de Especialmente no Brasil, a grande maioria dos serviços
isquemia persistente (“ocorrendo”) (classe IIa; nível de evidência C). Se for de urgências e emergências não possui centros de hemodi-
trombólise química, não deve existir contraindicação. nâmica nem capacidade imediata de transferência para es-
• Lembrar que derivações adicionais são necessárias para o diagnóstico ses centros, que possa preencher os critérios necessários
de infarto de VD (V3R, V4R) e de parede posterior de VE (V7 e V8). para a angioplastia primária. Por isso, a terapêutica habi-
tualmente disponível é a trombólise química, ou seja, os
trombolíticos. Da mesma forma, pelo baixo preço, quase
Angioplastia primária e de resgate sempre a disponibilidade é apenas da estreptoquinase.
O trombolítico é especialmente efetivo nas primeiras três
O hospital deve estar habilitado à realização de angio- horas do início dos sintomas (especialmente na primeira ho-
plastia, 24 horas, todos os dias, com hemodinamicistas trei- ra). A trombólise, em geral, é capaz de salvar vidas (Tabela 28)
nados, preferencialmente, com grande número de angio- e deve ser feita por qualquer médico que trabalhe em um PS.
plastias por ano, inclusive por médico. Muito importante: antes de prescrever um trombolítico,
o médico deve checar se não há uma contraindicação (Ta-
■ Primária: do primeiro contato médico até inflar o balão: belas 29 e 30).
máximo de 120 minutos, exceto em pacientes que procu- Os trombolíticos disponíveis estão descritos na Tabela
ram assistência médica muito precocemente, com menos 31. Os critérios para trombólise efetiva estão descritos na
de 2 horas do início dos sintomas. Nesse caso o tempo Tabela 32.
máximo até inflar o balão tem que ser de até noventa
minutos. As doses dos trombolíticos disponíveis são (todos IV):
– A angioplastia primária é a melhor conduta em estraté-
gia de reperfusão em pacientes com SCA com elevação ■ Estreptoquinase (SK): 1.500.000 U; infusão em 30-60 mi-
do segmento ST e com menos de 12 horas do início dos nutos. Mais usada no Brasil. Alguns problemas durante a
sintomas (classe I; nível de evidência: A). infusão e o tratamento:
– A reperfusão também deve ser considerada, após 12 – Vômitos: metoclopramida IV, evitar a morfina; ocasio-
horas do início dos sintomas, se existir evidência clíni- nalmente, infundir ondansetrom.
ca ou eletrocardiográfica de isquemia “ocorrendo” – Hipotensão: evitar morfina, reduzir temporariamente
(classe IIa; nível de evidência C). Pacientes mais graves a infusão da SK e usar cristaloide. Em geral, a hipoten-
são os que evoluem com instabilidade elétrica (arrit- são cede rapidamente. Logo após, aumentar a velocida-
mias graves) e hemodinâmica (hipotensão ou insufi- de de infusão da SK e observar.
ciência cardíaca). – Reações alérgicas leves a moderadas (ausência de ede-
– Angioplastia deve a estratégia de reperfusão de escolha ma de glote ou choque anafilático), tais como: rouqui-
para pacientes com choque cardiogênico e pacientes dão, prurido, lesões cutâneas: deve-se reduzir a infusão
com contraindicação à trombólise química, mesmo da SK, prescrever anti-histamínico e corticoides IV. Lo-
que o tempo do primeiro contato médico ao balão es- go após a melhora, retornar a velocidade de infusão da
tar inflado seja maior que 2 horas (classe I; nível de SK e observar de perto, em razão do risco de anafilaxia
evidência B). e edema de glote.

Tabela 27. Angioplastia versus trombólise química para SCA com elevação do segmento ST

Angioplastia* Trombolíticos# RRA (IC95%) NNT (IC95%)


Óbito 7,0% 9,3% 25% (13-36) 43 (31-84)
Reinfarto não-fatal 2,5% 6,8% 63% (53-72) 24 (21-28)
AVC 0,9% 2,0% 54% (28-70) 92 (71-178)
AVCH 0,05% 1,1% 95% (65-99) 93 (89-136)
&
Desfechos combinados 8,1% 14,0% 43% (34-51) 17 (14-21)
* Angioplastia: 3.872 pacientes. # Trombolíticos: 3.867 pacientes. &Óbito, reinfarto não-fatal e AVC.
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70 ATUALIZAÇÃO EM EMERGÊNCIAS MÉDICAS

Tabela 28. Vidas salvas com a trombólise


– Edema de glote e choque anafilático: suspender ime-
diatamente a SK, tratar o episódio e não mais usá-la.
Variáveis No de vidas salvas/mil pacientes tratados Nesse caso, se houver outro trombolítico (t-PA, rt-PA
• IAM de parede anterior 37 ou TNK), deve-se usá-lo; se não, tentar transferir para
• IAM de parede inferior 8 centro com hemodinâmica urgente.
• Trombólise na 1ª hora 40
■ Ativador do plasminogênio tecidual/t-PA (alteplase): dose
máxima de 100 mg, da seguinte forma:
• Trombólise da 2ª à 12ª hora 20 a 30
– Bolus de 15 mg.
– 0,75 mg/kg durante 30 minutos (máximo de 50 mg).
– 0,50 mg/kg durante 60 minutos (máximo de 35 mg).
Tabela 29. Contraindicações absolutas aos trombolíticos
■ Ativador do plasminogênio tecidual recombinante/rt-PA
• AVCH prévio ou AVC de etiologia desconhecida em qualquer tempo. (reteplase): a dose inicial é de 10 U em bolus (infusão em
• AVC isquêmico nos últimos seis meses (exceto AVCI nas últimas 4,5 horas). 2 minutos); após trinta minutos, prescrever mais 10 U
• Lesão cerebral vascular estrutural conhecida (exemplo: MAV).
(dois bolus de 10 U com intervalo de trinta minutos).
■ TNK-tPA (tenecteplase): dose única, em bolus, baseado no
• Trauma ou neoplasia intracraniana (tumor primário ou metastático).
peso corpóreo:
• Sangramento gastrintestinal nos últimos trinta dias.
– < 60 kg = 30 mg.
• Diátese sangrante conhecida. – 60-69,9 kg = 35 mg.
• Dissecção de aorta conhecida ou suspeita. – 70-79,9 kg = 40 mg.
• Punção em sítios não compressíveis (biópsia hepática, liquor). – 80-89,9 kg = 45 mg.
• Trauma craniencefálico, cirurgia de grande porte ou trauma extenso nas – > 90 kg = 50 mg.
últimas três semanas. ■ Um dos mais temíveis riscos com o uso de trombolíticos
é o acidente vascular cerebral hemorrágico (AVCH), que
ocorre, geralmente, nas primeiras 24 horas. Variáveis clí-
Tabela 30. Contraindicações relativas aos trombolíticos nicas que são preditoras de risco aumentado de hemorra-
gia intracerebral são:
• Ataque isquêmico transitório nos últimos seis meses.
– Idade avançada (> 65 anos, RR = 2,2).
• Hipertensão refratária (PAS > 180 e/ou PAD > 110 mmHg). – Baixo peso corporal (< 70 kg, RR = 2,1).
• Uso atual de anticoagulantes orais (quanto maior o RNI, maior o risco). – Hipertensão arterial à apresentação (RR = 2,0).
• Doença hepática avançada. – Uso de t-PA, rt-PA ou TNK (RR = 1,6).
• Ressuscitação refratária. – Deve-se lembrar que o trombolítico com menor inci-
• Endocardite infecciosa. dência de AVCH é a estreptoquinase.
• Para estreptoquinase: uso prévio (mais de cinco dias) ou antecedente
de reação alérgica. Clopidogrel
• Gravidez ou até uma semana de pós-parto.
• Úlcera péptica ativa.
Dois grandes estudos, um americano (CLARITY) e um
chinês (COMMIT), somando quase 50.000 pacientes, mos-

Tabela 31. Principais trombolíticos disponíveis

Propriedades SK * t-PA ** rt-PA # TNK-tPA&


Meia-vida (min) 20 5 15 20
Fibrina-específica Baixa Alta Alta Alta
Dose usual 1.500.000 unidades 100 mg 20 unidades 40 mg
Administração 30 a 60 minutos Bolus de 15 mg, 50 mg em 10 unidades (em 2 min) e Em bolus, dose única
30 min e 35 mg em 60 min 10 unidades após 30 min
Anticoagulação Enoxaparina ou fondaparinux; Enoxaparina; heparina comum Enoxaparina; heparina comum Enoxaparina; heparina comum
associada heparina comum é uma alternativa é uma alternativa é uma alternativa é uma alternativa
Antigenicidade 2+ Não Não 1+
Hipotensão 3+ 1+ 1+ 1+
Patência em 90 min 51% 73%-84% 83% 77%-88%
Incidência de AVCH 0,4% 0,7% 0,8% 0,7%
Reoclusão 5-20% 10-30% – 5-20%
Vidas salvas/1.000 30 40 40 40
Custos em dólares 563 3.940 2.895 2.917
(Current, 2009)
* SK: Estreptoquinase; ** t-PA: ativador tecidual do plasminogênio (alteplase); # rt-PA: reteplase; & TNK-tPA: tenecteplase.
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5 ■ DOR TORÁCICA 71

Tabela 32. Critérios para reperfusão ou não da trombólise


A heparina não-fracionada, em pacientes que serão tra-
tados com angioplastia primária, deve ser administrada na
Monitorizar por 60 a 180 minutos o segmento ST, seguinte dosagem:
o ritmo cardíaco e os sintomas
Trombólise com sucesso (houve reperfusão): ■ Bolus de 100 U/kg de peso (se IIb-IIIa for usado, baixar
• Alívio dos sintomas. para 60 U/kg).
• Manutenção ou restauração do equilíbrio elétrico e hemodinâmico.
■ Manter o tempo de coagulação ativado entre 250-300 se-
• ECG após 60 a 90 minutos do início da trombólise:
gundos (se IIb-IIIa for usado, manter entre 200-250 se-
gundos).
– Redução de mais de 50% do tamanho da elevação do segmento ST.
■ Parar a infusão após o procedimento.
Trombólise não-eficaz:
• Persistência dos sintomas isquêmicos. Uma metanálise recente mostrou que enoxaparina foi
• ECG após 60 a 90 minutos do início da trombólise: melhor que heparina comum no tratamento da SCA com
– Não houve redução de mais de 50% do tamanho da elevação do elevação do segmento ST quando associado à trombólise
segmento ST. química (redução de complicações isquêmicas e tendência
à redução de mortalidade).
De forma geral, com as precauções descritas, prefere-se
a enoxaparina como adjuvante à trombólise química.
traram que a associação do clopidogrel à terapia trombolí- Fondaparinux (inibidor direto do fator Xa): especial-
tica (inclusive junto com o AAS) foi de grande benefício. mente útil em pacientes que serão trombolizados quimica-
Portanto, atualmente, todo paciente com SCA e elevação mente (classe IIa; nível de evidência B). Não deve ser usado
do segmento ST compatível com IAM deve receber AAS jun- em pacientes que serão submetidos a angioplastia primária,
to com a trombólise, desde que não haja contraindicações. pois aumenta a chance de trombose do cateter. Em pacien-
Para pacientes com menos de 75 anos, a dose é de 300 mg (4 tes trombolizados (estudo OASIS-6), o fondaparinux, com-
comprimidos) VO de ataque. Pacientes com mais de 75 anos parado com a heparina comum, reduziu mortalidade +
devem receber apenas 75 mg de ataque (1 comprimido). reinfarto em 30 dias (10,9% versus 13,6%). O fondaparinux
deve ser prescrito da seguinte forma:
Anticoagulação: heparina comum, enoxaparina, bivalirudina ■ Bolus IV de 2,5 mg, seguido de 2,5 mg, subcutâneo uma
e fondaparinux vez ao dia.
Anticoagulação é de grande importância e deve ser
prescrita em todos os pacientes, independente do tipo de te-
Tabela 33. Esquema antitrombótico na SCA com elevação do
rapia escolhida (sem reperfusão, trombólise com qualquer segmento ST
dos agentes ou angioplastia) (Tabela 33).
A enoxaparina deve ser prescrita na seguinte dosagem: Angioplastia primária*
• Heparina comum: preferência para pacientes com clearance de
■ Pacientes com menos de 75 anos, homens com creatinina creatinina < 30 mL/min
< 2,5 mg/dL, mulheres com creatinina < 2 mg/dL: bolus OU
IV de 30 mg seguido de 1 mg/kg subcutâneo de 12/12 ho- • Bivalirudina: foi mais eficaz em um estudo (HORIZONS-AMI/ 2008)
• Não usar fondaparinux ou enoxaparina
ras. Nas primeiras 24 horas, a dose SC não deve ser maior
que 100 mg/dose. Trombólise química (estreptoquinase, t-PA, rt-PA ou TNK)
■ Se a idade for maior que 75 anos, não prescrever a dose • Enoxaparina
IV em bolus e reduzir a dose para 0,75 mg/kg subcutâneo OU
• Fondaparinux (deve se tornar a droga de escolha)
de 12/12 horas. Nas primeiras 24 horas, a dose SC não
OU
deve ser maior que 75 mg/dose. • Heparina comum (droga de escolha se o clearance de creatinina for
menor que 30 mL/minuto)
Não usar em pacientes com clearance de creatinina < 30 • Não usar bivalirudina (exceto se houver plaquetopenia induzida por
mL/minuto, peso < 40 kg ou > 120 kg, pacientes hipoten- heparina e não houver disponibilidade de fondaparinux)
sos, história de plaquetopenia induzida por heparina e em Pacientes não reperfundidos (nem trombólise química, nem
pacientes que serão reperfundidos através da angioplastia angioplastia)*
primária. • Fondaparinux: droga de escolha
A heparina não-fracionada, em caso de trombólise quí- OU
mica, deve ser administrada na seguinte dosagem: • Enoxaparina
OU
• Heparina comum (droga de escolha se o clearance de creatinina for
■ Bolus de 60 U/kg de peso (máximo de 4.000 U). menor que 30 mL/minuto)
■ Manutenção de 12 U/kg de peso (máximo inicialmente • Não usar bivalirudina (exceto se houver plaquetopenia induzida por
de 1.000 U/hora). heparina e não houver disponibilidade de fondaparinux)
■ Ajustar para manter o TTPA 1,5-2,0 vezes o controle (50- * AAS e clopidogrel para todos.
70 segundos).
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72 ATUALIZAÇÃO EM EMERGÊNCIAS MÉDICAS

■ Não deve ser usado se o clearance de creatinina for menor – Dose inicial: 0,4 µg/kg/min durante trinta minutos.
que 30 mL/minuto. – Manutenção: 0,1 µg/kg/min por 12 horas.

Bivalirudina (inibidor direto da trombina): especial- Inibidores da ECA (alternativa: antagonistas da angiotensina II)
mente útil nos pacientes que serão submetidos a angioplas-
tia. No estudo publicado em 2008 (HORIZONS-AMI), pa- Medicação extremamente importante em pacientes
cientes tratados com angioplastia primária foram tratados com infarto do miocárdio. Seu uso reduz a evolução dos pa-
com bivalirudina sozinha versus heparina comum e inibi- cientes para IC, melhora o remodelamento da área isquê-
dor IIb-IIIa. Bivalirudina foi eficaz, reduzindo sangramen- mica e reduz a mortalidade:
to maior em 40% (4,9% versus 8,3%), óbito de causas car-
díacas (1,8% versus 2,9%) e óbito de todas as causas (2,1% ■ Obrigatório em pacientes com FE < 0,40 ou com sin-
versus 3,1%). Provavelmente, bivalirudina deve se tornar o tomas/sinais de insuficiência cardíaca. Outros pacientes que
agente antitrombótico de escolha durante a angioplastia se beneficiam: diabéticos, hipertensos e pacientes com
primária. Nos pacientes tratados com trombólise química, doença renal crônica, desde que não haja contraindicações.
só há um estudo com estreptoquinase, sem mostrar benefí- A recomendação para indicá-los em todos os pacientes pós-
cio. Não há estudos com t-PA, rt-PA ou TNK. Por isso, na IAM, independente da FE e IC, é controversa, embora seja
trombólise química, bivalirudina não deve ser usada, exce- realizada na prática, sobretudo em pacientes com fatores
to em pacientes com história de plaquetopenia induzida cardiovasculares de risco e nos que foram revascularizados.
por heparina e se não houver disponibilidade de fondapari- ■ Devem ser iniciados nas primeiras 24 horas, em média,
nux. As doses recomendadas na angioplastia primária são: cerca de seis horas após o infarto.
■ Doses iniciais devem ser baixas e tituladas de acordo com
■ Bolus de 0,75 mg/kg de peso. a pressão arterial do paciente; captopril (6,25 a 12,5 mg
■ Manutenção de 1,75 mg/kg/hora. de 6/6 a 8/8 horas), enalapril (2,5 a 5,0 mg de 12/12 ho-
■ Desligar após o procedimento. ras), lisinipril (5 mg 1 x dia), ramipril (2,5 mg 1 x dia),
entre outros, podem ser usados.
Inibidores dos receptores IIb-IIIa plaquetários
■ A vantagem inicial do captopril é sua menor meia-vida:
prescrever 6,125 a 12,5 mg e observar. Se tolerar, manter
Atuam nos receptores IIb-IIIa plaquetários, implicando de 6/6 horas inicialmente e aumentar a dose diariamente.
na inibição da via final comum e mais importante da agre-
gação plaquetária. Evite usar os inibidores da ECA, inicialmente, se a PA
sistólica < 100 mmHg, história de alergia ao agente ou an-
■ Indicação: gioedema e pacientes com potássio > 5 mEq/L.
– Angioplastia primária: na estratégia invasiva, sobretu- Losartan (12,5 mg 1 x dia) e valsartan (iniciar com 20
do com stent, os inibidores IIb-IIIa são úteis e indica- mg): são antagonistas da angiotensina II e devem ser pres-
dos, reduzindo desfechos importantes. critos em pacientes intolerantes aos inibidores da ECA e
– Em uma metanálise recente (Montalescot G; 2007), o com insuficiência cardíaca (clínica, radiológica ou ecocar-
uso de abciximab se associou com uma redução de 37% diograma com FE < 0,40).
na soma de óbito ou reinfarto (IC 95%: 12%-55%). O uso dos inibidores da ECA em conjunto com os an-
– Maior evidência para o abciximab (classe IIa; nível de tagonistas da angiotensina II não é recomendado de rotina.
evidência A).
– Estudos com tirofiban ou eptifibatide são mais escassos Antagonistas da aldosterona
e a evidência é menor (classe IIb; nível de evidência B).
– São medicações que podem ser prescritas na sala de he- Indicação: devem ser prescritos em todos os pacientes
modinâmica. O estudo On-TIME 2 (2008) não mostrou pós-IAM que evoluam com insuficiência cardíaca e FE <
benefício clinicamente significativo com o início precoce 0,40 ou diabetes.
do tirofiban (ainda no pré-hospitalar).
■ Pacientes reperfundidos com trombolíticos: não se re- ■ Pré-requisitos para usar antagonistas da aldosterona:
comenda o uso de inibidores IIb-IIIa. Os estudos – Os pacientes devem estar em uso dos inibidores da
disponíveis não mostraram benefício clinicamente signifi- ECA (dose terapêutica).
cante na estratégia não-intervencionista. – Creatinina < 2,5 mg/dL em homens e < 2,0 mg/dL em
■ Abciximab: fragmento Fab de anticorpo, com inibição ir- mulheres.
reversível de receptores IIb-IIIa. Dos inibidores – Potássio sérico < 5,0 mEq/L.
disponíveis, esse é o mais potente:
– Dose inicial de ataque: 0,25 mg/kg. O bloqueio da aldosterona diminui significativamente
– Manutenção: 0,125 µg/kg/min (máx. 10 µg/min) por todos os desfechos importantes, inclusive mortalidade (es-
12 horas. tudo EPHESUS com 6.642 pacientes).
■ Tirofiban: é um não-peptídeo (molécula sintética) que Dose:
mimetiza a porção do fibrinogênio que se liga ao recep-
tor IIb-IIIa. ■ Eplerenona: 25-50 mg/dia.
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5 ■ DOR TORÁCICA 73

Estatinas LDL estava < 125 mg/dL, atorvastatina (80 mg) não foi
melhor que pravastatina (40 mg), embora seja bem mais
Recomenda-se iniciar estatina nas primeiras 24 horas, cara.
mas não se deve esquecer de colher o perfil lipídico na ma- 4 LDL inicial > 125 mg/dL: atorvastatina 80 mg/dia. Nesses
nhã seguinte à internação (< 24 horas da internação). pacientes, atorvastatina (80 mg) foi melhor que pravasta-
Uma metanálise recente sugeriu que estratégia mais in- tina (40 mg), com um NNT = 25 para a soma de todos os
tensiva de controle lipídico reduziu AVC em 18% (IC 95%: desfechos do estudo.
5-29%) e infarto em 17% (IC 95%: 9-23%). 5 Doses e custo/mês (fevereiro de 2009):
Nesse momento, podemos concluir: ■ Sinvastatina: 40 mg, VO à noite: R$: 42,00.

■ Pravastatina: 40 mg, VO à noite: R$: 66,00.

1 A meta é deixar o LDL < 100 mg/dL (classe I; nível de ■ Atorvastatina: 80 mg, VO à noite: R$: 152,00.

evidência A):
■ Opção: deixar o LDL < 70 mg/dL (múltiplos fatores de Insulina
risco) (classe IIa; nível de evidência B).
2 LDL de base < 100 mg/dL: podem ser usadas estatinas, Indicação:
embora o benefício não seja tão custo-efetivo quanto nos
pacientes com LDL > 100 mg/dL. O novo consenso eu- ■ Em todos os pacientes evoluindo com hiperglicemia, es-
ropeu de dezembro de 2008 não recomenda prescrever de pecialmente nas primeiras 24 a 48 horas: prescrever por
rotina estatina nesse grupo. via subcutânea.
3 LDL de base entre 100-125 mg/dL: qualquer das estati- ■ Não há benefício do controle estrito de glicemia com
nas, em doses habituais (exemplo: sinvastatina 40 mg; bomba de infusão contínua de insulina.
pravastatina; 40 mg). O benefício do estudo TIMI 22 foi ■ Manter a glicemia < 140 mg/dL (ESC 2008) (Algoritmos
maior quando o LDL inicial foi > 125 mg/dL; quando o 5 e 6).

Algoritmo 5. Elevação do segmento ST em duas ou mais derivações contíguas ou novo bloqueio de ramo esquerdo
Reavaliação do paciente

Aspirina, clopidogrel, acesso venoso, coleta de exames, RX de tórax, oxigênio, betabloqueador (se
não houver contraindicação ou fatores de risco para choque cardiogênico), morfina

Dor > 12 horas de duração? Dor < 12 horas de duração?

• Tratamento clínico intensivo


• Associar fondaparinux ou enoxaparina Angioplastia não Angioplastia disponível: melhor estratégia
• Indicar angioplastia se não evoluir bem (dor, IC, disponível • Heparina não-fracionada
hipotensão, arritmia grave) • Inibidor IIb-IIIa (abciximab é a droga de
escolha)
• Colocação de stent
• Manter o clopidogrel após stent

Sem contraindicações a trombolíticos?


1) Tempo da chegada do paciente ao início da trombólise tem que ser < 30 minutos.
2) Usar o que tiver disponível.
3) Grande IAM + baixo risco de AVCH: beneficiam-se mais de t-PA, rt-PA, TNK-tPA.
4) Associar enoxaparina (alternativa: heparina não-fracionada).

Sem evidência de reperfusão? Houve reperfusão, mas o paciente está evoluindo com:
• Dor recorrente
• IC
• TV sustentada
Angioplastia de resgate • Instabilidade hemodinâmica
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74 ATUALIZAÇÃO EM EMERGÊNCIAS MÉDICAS

Embolia pulmonar (Tabelas 36 e 37). Após confirmação da EP, deve-se pres-


crever a warfarina sódica e ajustar para manter o RNI (ra-
As mais recentes diretrizes recomendam classificar to- zão normatizada internacional) entre 2,0-3,0. Deve-se
dos os pacientes com EP em categorias de risco, ou seja, do suspender a heparina apenas quando se conseguir o RNI
risco de morte precoce (Tabelas 34 e 35). acima de 2,0.
Por isso, atualmente, a EP é classificada como de alto ris- Quando se compara heparina não-fracionada com as
co versus não alto risco. Por sua vez, os pacientes de não alto heparinas de baixo peso molecular (HBPM), os estudos
risco são subdivididos em de baixo risco e intermediário ris- mostram resultados semelhantes, isto é, tanto faz tratar
co. É importante não confundir essa classificação com a pro- com qualquer das heparinas; a vantagem da heparina de
babilidade de EP descrita antes, que é a probabilidade clíni- baixo peso é que não necessita de bomba de infusão IV e
ca de que os sinais e sintomas do paciente se devam a EP. nem controle com coagulograma:

Paciente de baixo risco de morte (< 1%)


■ Recorrência da EP: HBPM: 1,4% versus heparina não-fra-
cionada: 2,4% (IC95%: 0,33-1,18).
O tratamento de escolha é feito com heparina de bai- ■ Sangramento grave: HBPM: 1,3% versus heparina não-
xo peso molecular desde que não haja contraindicações fracionada: 2,1% (IC95%: 0,36-1,27).

Algoritmo 6. Princípios gerais para escolha da melhor terapia de recanalização coronariana

PASSO 1 – AVALIAÇÃO DE TEMPO X RISCOS DA TERAPIA


Tempo desde o início dos sintomas
Risco global do IAM
Avalie os riscos da trombólise química
Tempo máximo do transporte para um centro de hemodinâmica

PASSO 2 – DETERMINAÇÃO DA MELHOR ESTRATÉGIA


De maneira geral, a angioplastia primária é a melhor estratégia, desde que não haja
retardo (tempo do primeiro contato médico ao balão inflado < 120 minutos; nos
pacientes que procuram o PS com menos de 2 horas do início dos sintomas, esse
tempo tem que ser < 90 minutos)

Favorece angioplastia primária: Favorece trombólise química:


• Há centro de hemodinâmica habilitado. • Centro de hemodinâmica não disponível imediatamente.
• Da chegada ao PS até inflar o balão < 120 minutos (ou • Tempo da chegada ao PS até inflar o balão > 90-120
menos que 90 minutos se tempo de sintomas < 2 horas). minutos (presumivelmente).
• IAM de alto risco: choque cardiogênico ou Killip > III. • Ausência de contraindicações à trombólise.
• Há contraindicação para fibrinolíticos (especialmente,
aumento do risco de AVCH)
• O diagnóstico de IAM ainda é duvidoso.

Tabela 34. Marcadores mais úteis na estratificação de risco

Variáveis Achados
Clínicos • Hipotensão (pressão sistólica < 90 mmHg ou queda da pressão sistólica de mais de 40 mmHg da pressão de base)
• Choque
Disfunção de VD • Ecocardiograma: dilatação de VD, hipocinesia ou hipertensão pulmonar
• TC: dilatação de VD
• Aumento do BNP ou Pro-BNP
• Cateterização com aumento da pressão arterial pulmonar
Lesão miocárdica • Troponina positiva (T ou I)
• Possivelmente, a proteína de ligação de ácido graxo do tipo cardíaco (aguardam mais estudos)
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5 ■ DOR TORÁCICA 75

Tabela 35. Risco de morte precoce de acordo com a classificação de risco

Classificação do risco Marcadores de risco Implicações terapêuticas


Alto risco (> 15% de risco de morte) Hipotensão ou choque Trombólise ou embolectomia em casos selecionados
Não alto risco Intermediário (risco Ausência de hipotensão ou choque Internação hospitalar
de 3-15% de morte) E
Presença de disfunção de VD
OU
Presença de lesão miocárdica
Baixo (<1% de Ausência de hipotensão ou choque Alta hospitalar precoce ou
chance de morte) Ausência de disfunção de VD tratamento domiciliar
Ausência de lesão miocárdica

Tabela 36. Tratamento da EP: anticoagulação

• A anticoagulação tem riscos, é complicada, é cara, e por isso deve-se buscar um diagnóstico de certeza de EP. Entretanto, enquanto se aguardam os
exames auxiliares, e se houver intermediária ou alta probabilidade de EP, o paciente deve ser anticoagulado imediatamente, sem retardo.
• Contraindicações à anticoagulação: sangramento ativo, plaquetopenia, hipertensão grave, trauma importante e cirurgia recente.
• EP de baixo risco: pode-se usar a heparina de baixo peso molecular (fracionada), fondaparinux ou a heparina não-fracionada.
• Heparina não-fracionada: bolus de 80 U/kg de peso, IV (máximo de 4.000 U), concomitante à bomba de infusão de heparina (18 U/kg/hora) com coleta de
coagulograma (TTPA) de 6 em 6 horas, e mantê-lo entre 46-70 segundos (1,5 a 2,3 vezes o controle).
• Heparina de baixo peso molecular: pela facilidade, pelo menor custo, ao lado de mesma eficácia e segurança: a tendência é usar a heparina de baixo peso
uma vez ao dia.
– Dalteparina: 200 unidades/kg de peso, SC, uma vez ao dia.
– Enoxaparina: 1,5 mg/kg de peso, SC, uma vez ao dia.
– Nadroparina: 171 unidades/kg de peso, SC, uma vez ao dia.
– Tinzaparina: 175 unidades/kg de peso, SC, uma vez ao dia.
• EP com uma causa reversível que foi corrigida: anticoagular, no mínimo por três meses.
• EP idiopática: anticoagular, no mínimo por seis meses.
• EP/TVP recorrentes: deixar anticoagulado por tempo indefinido.

Tabela 37. Complicações da terapia anticoagulante

• Sangramento: mesma incidência com qualquer das heparinas.


• Eficácia (% de pacientes adequadamente tratados ou de recorrência): também semelhante com qualquer das heparinas.
• Plaquetopenia induzida pela heparina: muito mais frequente com heparina não-fracionada e rara com heparina de baixo peso molecular. Com qualquer
das heparinas, é necessária contagem periódica de plaquetas. Há duas formas de plaquetopenia associada à heparina:
– Forma benigna: reversível, mais comum, ocorre precocemente, é não-imune e reverte com suspensão da heparina.
– Forma grave: autoimune, é mais tardia (cinco a quinze dias de tratamento) e pode desencadear uma paradoxal trombose arterial e venosa.

Heparina de baixo peso molecular uma vez ao dia Pode-se prescrever heparina de baixo peso molecular
em pacientes com insuficiência renal? A resposta é sim. En-
A preferência é prescrever HBPM uma vez ao dia. Não tretanto, é obrigatório monitorizar, seja com dosagem sérica
vemos razão para usá-la de 12/12 horas, implicando em 2 da heparina de baixo peso seja com monitorização da inibi-
picadas ao dia para o paciente, maiores gastos e uso desne- ção antifator-Xa, que são exames não-disponíveis na maio-
cessário da enfermagem. ria dos hospitais. Portanto, se não for possível monitorizar,
esses pacientes deverão receber heparina não-fracionada e
■ Enoxaparina SC: 1,5 mg/kg de peso, uma vez ao dia. monitorização com TTPA. Não se deve prescrever HBPM
■ Dalteparina: 200 unidades/kg de peso, uma vez ao dia. em pacientes com clearance de creatinina menor que 30
■ Nadroparina: 171 unidades/kg de peso, uma vez ao dia. mL/min se não houver monitorização com o fator Xa.
■ Tinzaparina: 175 unidades/kg de peso, uma vez ao dia.
Fondaparinux
Observe que a segurança da heparina de baixo peso
molecular se aplica a indivíduos com função renal normal e É um inibidor direto do fator Xa, também usado por
peso entre 40 e 120 kg. via subcutânea, uma vez ao dia e sem necessidade de moni-
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76 ATUALIZAÇÃO EM EMERGÊNCIAS MÉDICAS

torização, embora não deva ser usado em pacientes com ■ Pacientes com contraindicações a anticoagulação plena.
clearance de creatinina menor que 30 mL/min. É uma me- ■ EP de repetição em pacientes adequadamente anticoagu-
dicação relativamente nova, segura, prática, mas de alto lados.
custo e pouco disponível no Brasil. ■ Complicações graves por anticoagulação.
As doses são:
Pericardite
■ Peso menor que 50 kg: 5 mg SC, 1 x dia.
■ Peso 50-100 kg: 7,5 mg SC, 1 x dia. Em geral, o tratamento é sintomático; se houver uma
■ Peso maior que 100 kg: 10 mg SC, 1 x dia. causa, ela deve ser tratada. As medicações mais usadas são:

Paciente de alto risco


■ Aspirina (1.000 mg via oral de 6/6 horas), ou
■ Ibuprofeno (600 mg via oral de 6/6 horas), ou
Suportes hemodinâmico e respiratório são essenciais, e, ■ Naproxeno (250 a 500 mg via oral de 12 em 12 horas).
se necessário, proceder a intubação, ventilação mecânica e ■ Colchicina (0,5 mg 2 a 4 x dia): útil em pacientes com
uso de drogas vasoativas. quadro de pericardite recorrente ou em pacientes intole-
Paciente com EP que desenvolve hipotensão e hipo- rantes aos anti-inflamatórios.
perfusão periférica tem alta mortalidade; esses pacientes
costumam morrer nas primeiras horas após início dos sin- Caso não haja melhora, deve-se considerar o uso de
tomas. corticoides:
Esses pacientes com hipotensão e choque podem se be-
neficiar de trombolíticos. As complicações da trombólise ■ Prednisona 1mg/kg/dia por 1-2 meses: nesse caso, é im-
em estudos mais antigos chegavam a 14%, principalmente portante que um processo infeccioso de base, como infec-
sangramentos em sítios de punção e hemorragia do sistema ção bacteriana ativa e/ou tuberculose, esteja descartado.
nervoso central (1,9%). Acredita-se que esses valores sejam
muito inferiores hoje em dia. Em um estudo recente com Em algumas situações, o tratamento de urgência é a pe-
trombólise com rt-PA em EP, a incidência de sangramento ricardiocentese (Algoritmo 7).
fatal ou do SNC foi de zero.
Há indicação de trombólise, com janela terapêutica de Pericardiocentese
até quatorze dias, embora o principal benefício seja nas pri-
meiras 72 horas do evento. A trombólise reduz desfechos ■ Deve ser realizada em todos os pacientes com:
primários (óbito e/ou recorrência da EP) em 45% (IC95%: – Tamponamento pericárdico.
4-67); com NNT de 14. – Derrame pericárdico > 20 mm (diástole).
Os trombolíticos recomendados são: – Suspeita de pericardite purulenta ou tuberculosa.
■ Contraindicações para pericardiocentese:
■ Ativador do plasminogênio tecidual (t-PA): 100 mg IV – Suspeita de dissecção de aorta.
em duas horas (associado à heparina não fracionada). – Se o diagnóstico pode ser feito por método menos in-
■ Estreptoquinase: 1.500.000 unidades IV em duas horas vasivo ou o derrame não é grande e está diminuindo
(dose sugerida pelo consenso europeu). com anti-inflamatórios.
■ Estreptoquinase: administrar um bolus de 250.000 unida- – Contraindicações relativas:
des IV em trinta minutos e após, manter 100.000 unida- – Coagulopatia não corrigida.
des/hora durante 24 horas (outra opção para estreptoqui- – Plaquetopenia (< 50 mil/mm3).
nase). ■ Material mínimo:
■ Uroquinase: 4.400 U/kg/hora em 12 a 24 horas. – Agulha usada para punção espinal (18).
– Seringas de 20, 30 e 60 mL.
EP de intermediário risco (de morte precoce) – Fio guia flexível.
– Dilatador.
Há dúvida se pacientes sem choque ou hipotensão, mas – Cateter pigtail.
com ecocardiografia mostrando disfunção de VD e hiper- – Transdutor do ECG ligado à agulha (derivação V).
tensão pulmonar aguda, se beneficiariam da trombólise. ■ Técnica: pode ser feita à beira do leito, guiada pelo eco-
Apesar de não haver evidência convincente, recomenda-se cardiograma, ou na sala de hemodinâmica, guiada pela
usar o trombolítico em casos selecionados, com criteriosa radioscopia. Quando não há nenhum dos dois equipa-
avaliação do risco x benefício. mentos, deve-se guiar pelo eletrocardiograma. Os passos
básicos são:
Filtro de veia cava – Preferência por locais com monitorização hemodinâ-
mica ou com o ecocardiograma: tornam o procedi-
Há vários tipos de filtros que podem ser inseridos por mento muito mais seguro.
via percutânea (femoral ou jugular), o que facilita e dimi- – Acesso subxifoide (evitar as artérias coronárias e ma-
nui a chance de complicações. mária interna) com o paciente deitado e tórax mantido
As principais indicações são: em 45º em relação ao leito.
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5 ■ DOR TORÁCICA 77

Algoritmo 7.Tratamento inicial da pericardite aguda


– Pericardites que permanecem sem diagnóstico.
– Pesquisa de granulomas e culturas para tuberculose.
– Análise histoquímica para o diagnóstico de neopla-
Dor torácica ventilatório-dependente e atrito pericárdico sias.
– Eventualmente, permite diagnósticos inusitados.
■ Complicações da pericardiocentese:
– Pneumotórax, lesão do miocárdio, lesão de vasos, em-
Suspeita de síndrome Suspeita de alguma bolia gasosa, arritmias, novo hemopericárdio, infecção
coronariana? doença sistêmica? e morte.
• ECGs seriados
• Ecocardiograma
• Troponinas (podem aumentar
na pericardite) CONCLUSÕES
■ Ao abordar um paciente com dor torácica, um eficiente serviço de
NÃO emergência deve ter como metas:
SIM
• Seguimento clínico – Priorizar o atendimento do paciente com dor torácica.
• Investigar de acordo
• Anti-inflamatórios
com a suspeita clínica – Fornecer estratégia diagnóstica e terapêutica organizada na sala
• Corticosteroides em
• Tratar a causa de base de emergência, objetivando rapidez, alta qualidade de cuidados,
casos refratários
eficiência e redução de custos.
■ A meta inicial é descartar uma síndrome coronariana aguda
(SCA), sem esquecer das causas potencialmente catastróficas
EVOLUINDO COM ALGUMA COMPLICAÇÃO? (embolia pulmonar, pneumotórax, pericardite etc.).
Tamponamento, derrame volumoso e sem diagnóstico ■ História e exame físico minuciosos são, na maioria das vezes, mais
com os métodos menos invasivos, suspeita de tuberculose
importantes e valiosos do que os exames complementares.
ou infecção bacteriana do pericárdio
■ A característica anginosa da dor é o dado com maior valor
preditivo de doença coronária aguda.
■ SCA com sintomas atípicos ocorre em até 1/3 dos pacientes e
Pericardiocentese pode ter como sintoma apenas desconforto torácico, dor
epigástrica, dispneia, confusão (idosos), vômitos ou diaforese.
Ocorre mais frequentemente em idosos, mulheres e diabéticos.
■ A dissecção de aorta deve sempre ser lembrada na abordagem de
– Proceder toda a técnica em assepsia. qualquer paciente com dor torácica na sala de emergência.
– A agulha deve estar conectada ao aparelho de ECG. ■ Embolia pulmonar é frequente no PS, pode simular várias
– Pelo acesso subxifoide, a agulha deve ser introduzida doenças e, não raramente, o diagnóstico passa despercebido. Por
logo abaixo da junção do processo xifoide e da margem isso, o emergencista deve sempre pensar em embolia em
pacientes com dispneia, taquipneia, dor torácica ou
costal esquerda, direcionada posteriormente em dire-
hipotensão/choque por que, sem tratamento, a mortalidade pode
ção ao ombro esquerdo do paciente, com uma angula- atingir a marca dos 30% (já com anticoagulação, a mortalidade
ção de cerca de 30º a 45º em relação ao plano da pele. fica em torno de 2% a 8%).
A agulha deve ser introduzida gradualmente, aspiran- ■ Na EP é importante:
do sempre até vir o líquido. Em alguns casos, pode-se – Realizar a avaliação de probabilidade clínica pré-teste.
sentir a passagem pelo pericárdio e o paciente pode re-
– Solicitar exames complementares em uma estratégia
ferir dor na região do ombro. diagnóstica.
– Durante a introdução da agulha podem ser injetadas
– Confirmada a EP, estratificar o paciente avaliando o risco de
pequenas quantidades de lidocaína para analgesia e pa- morte: alto risco versus não alto risco.
ra evitar a obstrução da agulha.
■ A pericardite não pode ser confundida com síndrome coronariana
– Após certeza da correta localização, um cateter pode isquêmica pois a anticoagulação e trombólise podem levar à
ser colocado através de um fio guia por dentro da agu- tamponamento pericárdico.
lha. Dependendo das circunstâncias, pode-se deixar ■ Na pericardite, a presença de distensão jugular, hipotensão e
um pequeno dreno (pigtail). bulhas cardíacas abafadas indicam tamponamento pericárdico.
– Não retirar todo o líquido de uma só vez (risco de di- Neste caso a pericardiocentese de urgência está indicada,
latação aguda de VD): retirar em passos de menos de 1 preferencialmente guiada por ecocardiografia.
litro. ■ O tratamento precoce de pacientes com SCA é medida salvadora
– Sempre deverá ser colhido material para análise labo- de vidas; quanto mais precoce for o diagnóstico e tratamento da
ratorial. SCA, maior a chance de salvar o miocárdio e melhor o
– Especialmente quando realizada no centro cirúrgico, prognóstico dos pacientes.
devem ser realizadas uma ou mais biópsias do pericár- ■ Trombólise química ou angioplastia primária são indicadas na
dio. A biópsia do pericárdio tem grande utilidade em: SCA com elevação de ST.
05 Dor torácica.qxd 19.05.09 16:23 Page 78

78 ATUALIZAÇÃO EM EMERGÊNCIAS MÉDICAS

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