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CAPÍTULO
Dor Torácica
5
Herlon Saraiva Martins
Felipe Aires Duarte
5 ■ DOR TORÁCICA 49
digestão, sendo erroneamente interpretada como dispep- Tabela 5. Outros achados nas SCA
sia (Tabela 5).
■ Achados não-sugestivos de isquemia: dor pleurítica, dor • Sexo: mulheres com suspeita de isquemia mais frequentemente não
mesogástrica ou hipogástrica, dor apontada com um têm doença coronariana, e quando doença coronariana está presente,
dedo, dor desencadeada à palpação ou movimentação ou ela costuma ser menos grave quando comparada aos homens.
dores que duram poucos segundos. • Idoso: apresenta maior prevalência de doença arterial coronariana
■ Não esquecer: uma dor torácica mais intensa e com du- (DAC), mais provavelmente envolve multivasos, maior chance de evoluir
de forma adversa e mais frequentemente os sintomas são atípicos.
ração acima de 20 minutos, acompanhada de dispneia, su-
Fatores de risco tradicionais (Tabela 3). A presença desses fatores
dorese, palidez cutânea e náuseas, frequentemente repre- aumenta a probabilidade de doença coronariana. A ausência deles não
senta infarto agudo do miocárdio. descarta uma SCA.
• Tabagismo: é associado com menor risco de óbito numa SCA. Esse
O exame físico no contexto de doença coronária é fre- paradoxo do cigarro representa uma tendência dos fumantes a ter
quentemente inexpressivo, entretanto, deve incluir: doença menos extensa, placas menos complexas e idade mais jovem à
apresentação.
■ Geral: avaliar se há palidez, sudorese, ansiedade, cianose, • Antecedentes de maior gravidade e/ou pior prognóstico:
turgência jugular. – Diabetes
■ Pressão arterial nos dois braços: avaliar assimetria e diag- – Doença vascular periférica ou cerebrovascular prévia
nosticar hipotensão. – Insuficiência cardíaca
■ Palpação de pulsos em membros superiores e inferiores.
– IAM prévio
■ Ausculta cardíaca: presença de sopros, B3, B4.
• Outros dados importantes: medicações em uso, contraindicações
■ Ausculta pulmonar: presença de crepitações.
conhecidas, história de alergias, cateterismo prévio, história de asma ou
■ Extremidades: procurar sinais de insuficiência vascular, broncoespasmo, cirurgia recente, doenças ativas (neoplasias,
edema. plaquetopenia) etc.
Alta probabilidade de isquemia Probabilidade intermediária de isquemia Baixa probabilidade de isquemia coronariana
coronariana (presença de um deles) coronariana (presença de um deles)1 (ausência de qualquer critério de alta ou
intermediária probabilidade)
Prévia história de coronariopatia (inclui IAM Dor ou desconforto torácico ou MSE como Dor torácica reproduzida à palpação
prévio ou coronariografia) principal sintoma
Dor torácica sugestiva ou irradiação para o braço Diabete melito ECG normal ou onda T retificada
esquerdo ou semelhante à dor anginosa prévia
Diaforese Sexo masculino
Edema pulmonar ou crepitações Idade maior que 70 anos
Hipotensão Presença de doença vascular extracardíaca (AVC)
Insuficiência mitral transitória Ondas Q patológicas
Alterações no segmento ST transitórias Anormalidades fixas no ECG (segmento ST
(> ou igual a 0,05 mV) ou onda T)
Inversão da onda T com sintoma
(> ou igual a 0,2 mV)
Elevação das enzimas cardíacas* Enzimas cardíacas normais* Enzimas cardíacas normais*
* Troponina T, troponina I, CK-MB ou mioglobina. 1 Ausência de qualquer achado de alta probabilidade.
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Alto risco (presença de um deles) Intermediário risco (presença de um deles)1 Baixo risco (ausência de qualquer
critério de alto ou baixo risco)
Angina crescendo nas prévias 48 horas IAM prévio, doença vascular periférica, doença
cerebrovascular, revascularização prévia ou uso
de aspirina
Dor em repouso e que está ocorrendo, com Dor em repouso (> 20 minutos), mas que cedeu no momento
mais de 20 minutos de duração ou dor em repouso (< 20 min) aliviada com nitrato
Edema pulmonar ou crepitações, B3, hipotensão, Novo início de angina classe III ou IV (Canadian) nas últimas
novo sopro mitral (ou que piorou) 2 semanas, em repouso, mas com duração < 20 minutos
Bradicardia ou taquicardia Angina noturna
Idade > 75 anos Idade > 70 anos
Angina em repouso e alterações no segmento ST Ondas Q patológicas, inversão da onda T > 0,2 mm ECG normal ou sem alterações
transitórias (> 0,5 mm) durante um episódio de dor
Taquicardia ventricular sustentada
Elevação das enzimas cardíacas Enzimas normais Enzimas normais
(TnI, TnT ou CKMB)
1
Ausência de qualquer achado de alto risco.
■ Apresentação e evolução clínica: Killip (Tabela 9). – Sinais e sintomas sistêmicos: a pericardite pode ocorrer
■ Parâmetros hemodinâmicos: Forrester (Tabela 9). como parte de doenças sistêmicas: uma grande gama
de sinais e sintomas pode estar associada, dependendo
Em ambas as classificações, a mortalidade é crescente da etiologia.
da Classe I à IV, sobretudo nas Classes III e IV. – Na pericardite infecciosa, o início dos sintomas pode
ser abrupto, surgindo febre, mialgia e calafrios.
Outras dores cardiogênicas – Pode se apresentar com sinais e sintomas de IC devido
à constrição pericárdica e tamponamento cardíaco.
■ Pericardite: pode cursar com dor torácica de início súbito, – Pulso paradoxal: consiste na redução > 10 mmHg da
piora com inspiração profunda, podendo irradiar para o pressão arterial sistólica durante uma inspiração pro-
dorso e melhorar ao sentar-se com flexão anterior do funda; quando grave, pode ser sentida ao pulso: o pa-
tronco. Pode se assemelhar à síndrome coronariana agu- ciente inspira profundamente, ocasionando uma re-
da. Características importantes: dução da amplitude do pulso; eventualmente ele se
– A dor pode ser sutil ou ausente na pericardite tubercu- torna não-palpável. O pulso paradoxal usualmente
losa, urêmica e neoplásica. indica tamponamento pericárdico, mas pode ocorrer
– Atrito pericárdico: indica pequena quantidade de também na pericardite constritiva, embolia pul-
líquido no pericárdio e sua presença fortemente apon- monar, choque hipovolêmico e na exacerbação da
ta para pericardite como causa da dor torácica. Pode DPOC.
até desaparecer quando ocorre aumento de líquido no – Importante: presença de dispneia, ortopneia, he-
saco pericárdico. patomegalia e turgência jugular pode indicar tampona-
– Bulhas abafadas sugerem significativa quantidade de mento pericárdico, no contexto de uma pericardite. Os
derrame pericárdico. pacientes podem evoluir para sinais de baixo débito
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Killip Forrester
Estimativa clínica da gravidade do IAM Estimativa clínica e hemodinâmica do IAM
I • Não há IC 1 • Perfusão* normal
• Nenhum sinal de IC • Pressão capilar pulmonar (wedge) normal**
II • IC presente 2 • Perfusão* ruim
• Estertores (menos da metade do tórax), • Pressão capilar pulmonar (wedge) normal**
B3, turgência jugular • Paciente hipovolêmico
III • IC grave 3 • Perfusão* praticamente normal
• Edema pulmonar franco com crepitações • Pressão capilar pulmonar (wedge) aumentada**
em todo o tórax • Paciente com congestão pulmonar
IV • Choque cardiogênico 4 • Perfusão* ruim
• Hipotensão, oligúria, cianose e • Pressão capilar pulmonar (wedge) aumentada**
extremidades frias • Choque cardiogênico
* Em geral, o índice cardíaco é maior que 2,2 L/min/m2 quando há boa perfusão e menor que 2,2 L/min/m2 na hipoperfusão periférica.
** A pressão capilar pulmonar “normal” é de 18 mmHg.
cardíaco, hipotensão e parada cardiorrespiratória ■ Dor torácica isolada ou associada a outros sinais e sinto-
(Tabela 10). mas (Tabela 11).
■ Dor torácica semelhante à dor anginosa pode surgir na este- ■ Insuficiência cardíaca (por insuficiência aórtica aguda).
nose aórtica (EAo) e na miocardiopatia hipertrófica ■ Choque (tamponamento pericárdico, sangramento para
(MCH). Sopro ejetivo em foco aórtico e sobrecarga ventri- pleura ou retroperitôneo, ruptura da aorta).
cular esquerda podem surgir nas duas situações. O diag- ■ Dor abdominal (isquemia mesentérica).
nóstico é confirmado por ecocardiograma transtorácico. ■ Oclusão arterial aguda (membros, AVC, paraplegia, is-
quemia renal e infarto agudo do miocárdio).
Dor da dissecção aguda de aorta
Costuma ser de início súbito, de forte intensidade des-
A dissecção aguda de aorta é uma doença rara, embora de o início (diferente da dor anginosa, que em geral ocorre
seja uma das mais letais existentes. Muitos casos só serão em crescendo) e pode ser insuportável, fazendo que o pa-
diagnosticados na necrópsia, pois simulam várias outras ciente se contorça, caia ao solo ou se torne inquieto e agita-
doenças. A dissecção de aorta deve sempre ser lembrada na do. Quando a dor migra de seu ponto de origem para ou-
abordagem de qualquer paciente com dor torácica na sala tros pontos, seguindo o percurso da aorta (ocorre em até
de emergência. Pacientes podem se apresentar com: 70% dos casos), presença de sinais autonômicos (palidez
cutânea e sudorese profusa) deve levantar a suspeita ime-
diata de dissecção aguda de aorta.
Além da própria dissecção em si, várias complicações
Tabela 10. Diagnóstico de tamponamento cardíaco
podem surgir:
Quadro clínico • Hipotensão, taquicardia, dispneia, ortopneia,
taquipneia com pulmões “limpos”, pulso paradoxal e ■ Ruptura de vasos: da aorta (é a principal causa de óbito),
turgência jugular. para saco pericárdico (tamponamento), pleura (derrame
Mais frequentes • Medicamentos (trombolíticos, anticoagulação), pleural esquerdo), mediastino e retroperitôneo.
causas cirurgia cardíaca recente, trauma torácico, ■ Insuficiência aórtica aguda: extensão em direção à valva
neoplasias, uremia, doenças autoimunes. aórtica produzindo distorção de suas comissuras.
Eletrocardiograma • Pode ser normal ou apresentar alterações sutis ■ Dissecção das coronárias: geralmente à direita, produzin-
(alterações de segmento ST e T difusos), baixa
do infarto agudo do miocárdio.
amplitude ou alternância elétrica de QRS (QRS de
amplitudes variáveis).
■ Extensão para vasos cervicais: pode causar acidente vas-
cular cerebral.
RX de tórax • Aumento da área cardíaca, com pulmão sem
congestão.
■ Outras: isquemia mesentérica, de membros superiores ou
inferiores (insuficiência arterial periférica aguda), isque-
Ecocardiograma • Derrame pericárdico com colapso diastólico de
câmaras cardíacas.
mia medular (paraplegia) ou renal.
• Aumento do fluxo tricúspide à inspiração e
diminuição do fluxo mitral à inspiração.
Fatores predisponentes: hipertensão arterial sistêmica (é o
fator mais importante e está presente em mais de 90% dos pa-
Prova terapêutica • Aspiração do líquido pericárdico é seguida da
normalização hemodinâmica.
cientes), idade avançada e sexo masculino. As doenças do te-
cido conectivo (Marfan e Ehler Danlos) costumam associar-
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se à dissecção em idade jovem. Outras situações são: doenças solicitar exames complementares (D-dímeros, mapea-
congênitas (coarctação da aorta, valva aórtica bicúspide), ar- mento V/Q, tomografia, ressonância, doppler ou arterio-
terite temporal, uso de cocaína, gestantes e puérperas. grafia). Isso irá refinar a probabilidade pós-teste e a razão
de verossimilhança (Likelihood Ratio). Recomendam-se os
Embolia pulmonar (EP) escores de Wells ou de Genebra modificado (Tabelas 13 e
14).
O diagnóstico da EP é um desafio em qualquer pronto-
socorro. Sem tratamento, a mortalidade pode atingir a mar- Outras dores de origem pulmonar
ca dos 30%. Nos pacientes tratados, a mortalidade fica em
torno de 2% a 8%. ■ Pneumotórax espontâneo: dor torácica localizada no dor-
A apresentação clínica pode variar desde pacientes as- so ou ombros e acompanhada de dispneia. Um pneumo-
sintomáticos até pacientes graves com instabilidade hemo- tórax hipertensivo pode produzir insuficiência respirató-
dinâmica, e mesmo se manifestar como morte súbita (Ta- ria e/ou colapso cardiovascular. No exame físico,
bela 12). poderemos encontrar dispneia, taquipneia e ausência de
Apesar dessa grande variação, é importante estimar a ruídos no hemitórax afetado.
probabilidade clínica (pré-teste) de uma EP antes de solici- ■ Dor torácica também pode surgir em doenças do parên-
tar um método complementar (dímero-D, V/Q, TC helicoi- quima pulmonar (pneumonia, câncer e sarcoidose) e
dal, doppler e arteriografia). pode ter várias apresentações. Pode agravar-se com a res-
Em grandes estudos, 97% dos pacientes tiveram dis- piração e ter sintomas associados como febre, tosse, fadi-
pneia, taquipneia ou dor torácica, com as seguintes caracte- ga e febre.
rísticas: ■ Hipertensão pulmonar: a dor torácica pode ser muito
parecida com a angina típica e pode dever-se a isquemia
■ Taquipneia e dispneia: mais frequentemente indicam de ventrículo direito ou dilatação das artérias pulmo-
uma grande embolia, e podem vir associadas a dor torá- nares.
cica em aperto (isso indica isquemia de ventrículo direi-
to). Habitualmente, a dispneia é súbita, mas pode piorar
durante horas a vários dias. O diagnóstico é mais difícil
em pacientes com IC ou DPOC, e uma EP deve sempre Tabela 12. Sintomas e sinais de embolia pulmonar
entrar no diagnóstico diferencial desses pacientes com Achados EP foi confirmada (% dos pacientes)
descompensação no pronto-socorro.
Sintomas
■ Dor torácica (com ou sem dispneia): um dos mais fre-
• Dispneia 80
quentes sintomas. Esses pacientes geralmente apresentam
embolia em pequenas artérias, periféricas, subpleurais (o • Dor torácica pleurítica 52
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catastróficas: dissecção aguda de aorta, embolia pul- ■ O ECG mostra uma elevação do segmento ST maior que
monar, pneumotórax etc. (Algoritmo 1). 1 mm em duas ou mais derivações contíguas: o diagnós-
■ O tratamento precoce dos pacientes com SCA é medida tico provável é SCA com elevação do segmento ST.
salvadora de vidas e deve ser iniciado, quando indicado, ■ O ECG não mostra elevação do segmento ST maior que
em até 30 minutos a partir da chegada do paciente no 1 mm em duas ou mais derivações contíguas. Nesse caso,
hospital para trombólise química, e de uma hora para com quadro clínico compatível, está-se diante de uma
angioplastia primária. Da mesma forma, mesmo que os síndrome coronariana aguda sem elevação do segmento
pacientes tenham contraindicações para receber o trom- ST, e as enzimas cardíacas seriadas mostrarão se o caso é
bolítico ou não haja angioplastia, eles se beneficiarão de uma angina instável (AI), se não houver aumento de en-
tratamento medicamentoso para isquemia. zimas cardíacas; ou se é um IAM sem elevação do seg-
■ Quanto mais precoce for o diagnóstico de uma SCA, mento ST (IAM – sem supra ST), se houver aumento de
maior a chance de salvar o miocárdio e melhor o prog- enzimas cardíacas.
nóstico dos pacientes.
O eletrocardiograma (ECG) é essencial, traz informa-
Eletrocardiograma na SCA ções prognósticas de grande valor, especialmente ECGs se-
riados, sobretudo quando há um ECG prévio. Alguns tópi-
É fundamental e deve ser feito imediatamente, até 10 cos são importantes e não devem ser esquecidos:
minutos após a chegada ao PS (Tabela 15).
Ele será normal na maioria dos pacientes que se apre- ■ ECG completamente normal não descarta uma doença
sentam com dor torácica. coronariana.
Após realizar o ECG, este deve ser dividido em dois ■ Alterações dinâmicas do segmento ST com sintomas são
grupos: de grande relevância, geralmente indicando isquemia
aguda e doença coronariana grave. Estudos têm mostra-
História típica • Dor intensa • Dor pleurítica • Dor aguda e intensa • Dor profunda e piora à • Dor persistente, com
inspiração piora progressiva
• Pode mimetizar SCA • Pode mimetizar • Pode mimetizar uma • Pode simular • Pode simular
(dissecção de CD) ansiedade piora de uma doença taquiarritmias, dispepsia e evoluir
Cuidado: achados • Pode mimetizar AVCI • Pode aparecer no PS de base (ex.: DPOC, pneumonia ou IVAS com choque
típicos da doença apenas como piora da asma)
doença de base (ex.:
DPOC, IC)
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É importante lembrar que a resolução precoce da ele- Troponinas são mais sensíveis e mais específicas para
vação de segmento ST é um preditor útil do tamanho do in- lesão do miocárdio do que CKMB e mioglobina e hoje são
farto e da função ventricular esquerda. consideradas os marcadores de escolha. Estima-se que 30%
dos pacientes com SCA e CKMB normal em tempo hábil
Papel diagnóstico do nitrato sublingual têm troponinas elevadas, implicando que se trata de um
IAM sem supra ST (antigamente se chamava angina instá-
Um dos critérios tradicionalmente usados para o diag- vel de alto risco). Troponinas negativas em tempo hábil des-
nóstico de angina típica é a melhora da dor com o repouso cartam infarto. Já quando há um quadro clínico compatível
ou com nitrato. No pronto-socorro, quando o paciente com SCA ou alteração do ECG sugestiva de isquemia + ele-
apresenta melhora da sua dor com o nitrato sublingual, há vação de troponina T ou I, o diagnóstico é de IAM sem su-
a tendência de valorizar esse dado como indício de doença pra ST. É importante lembrar que o último consenso da
cardíaca isquêmica. Entretanto, estudos recentes não têm AHA/ACC preconiza que uma só dosagem de troponina,
confirmado esse valor diagnóstico do nitrato sublingual. em até seis horas da dor, em pacientes com quadro clínico
Por isso, é importante lembrar: sugestivo de SCA, deva ser confirmada com nova dosagem
entre 8 a 12 horas do início do quadro (classe I, nível de evi-
■ Não dê nitrato sublingual antes de um ECG: se o paciente dência B).
tiver um infarto de parede inferior com infarto de ventrí-
culo direito, pode evoluir para grave choque. ■ Aumento de TnT ou de TnI: marcador importante de
■ Após o ECG inicial, pode-se usar o nitrato sublingual e prognóstico adverso, independentemente de todos os ou-
repetir o ECG após, com o objetivo de detectar alterações tros achados; existe uma relação direta entre o grau de au-
dinâmicas no ECG. mento da troponina e a mortalidade.
■ O alívio da dor pode ocorrer tanto em doença coronaria- ■ Uma vez aumentada, as troponinas persistem assim por
na quanto em doença não-coronariana. vários dias; a troponina T fica elevada por dez a quator-
ze dias, e a troponina I por sete a dez dias. Quando hou-
Portanto, não podemos confirmar ou afastar a presen- ver aumento de troponina, deve-se solicitar uma CKMB,
ça de síndrome coronária aguda com base numa resposta pois se houver reinfarto precoce (até duas semanas), a
positiva ao nitrato sublingual. troponina ainda estará elevada; nessa ocasião, o diagnós-
tico de reinfarto poderá ser feito por novo aumento da
Marcadores de necrose do miocárdio CKMB.
■ A mioglobina não é específica para o coração; entretanto,
Devem ser solicitados à chegada no PS e após seis a do- ela é liberada no sangue mais precocemente que CKMB
ze horas do início da dor (tempo hábil). Lembrar que au- ou troponinas. Duas horas após necrose, a mioglobina já
mento de troponinas (e de outras enzimas cardíacas) pode pode ser detectada, e torna-se negativa em 24 horas. A
ocorrer em outras situações que não uma SCA (Tabela 17). maior utilidade é descartar lesão do miocárdio precoce,
Tabela 17. Causas de aumento de troponinas que não uma SCA primária
Cardíacas Traumáticas
• Taquiarritmias, bradiarritmias, bloqueio AV • Ablação atrioventricular
• Hipotensão • Desfibrilação
• Insuficiência cardíaca • Trauma torácico
• Dissecção de aorta • Cirurgia cardíaca
• Valvopatia aórtica Miscelânea
• Cardiomiopatia hipertrófica • Insuficiência renal
• Síndrome do balonamento apical (cardiomiopatia de Takotsubo) • AVC isquêmico ou hemorrágico
• Vasculopatia pós-transplante • Drogas cardiotóxicas (adriamicina, 5-fluoracil, daunorubicina, herceptina etc.)
• Miocardite/pericardite • Hipotireoidismo
• Febre reumática • Embolia pulmonar
• Vasculites sistêmicas • Asma grave
Doenças infiltrativas do miocárdio • Hipertensão pulmonar
• Amiloidose • Sepse
• Sarcoidose • Paciente internado em UTI
• Hemocromatose • Feocromocitoma
• Esclerodermia • Queimadura grave
• Doença de Kawasaki
• Exercício extremo
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Marcadores Elevação inicial Pico sem trombólise Normalização SEM trombólise Pico com trombólise Normalização COM trombólise
Mioglobina 1-3 horas 6-7 horas 24 horas – –
CKMB 3-12 horas 20-24 horas 48-72 horas 10-12 horas 24 horas
cTnI 3-12 horas 24-48 horas 5-10 dias 18-24 horas 4 dias
cTnT 3-12 horas 24-48 horas 5-14 dias 12-48 horas 4-5 dias
Ecocardiograma Sensibilidade de 63% a 96% e especificidade de 59% a 85%. Melhor acurácia para as dissecções proximais (perde muito em
transtorácico dissecções de arco aórtico e da aorta descendente).
Ecocardiograma Método de eleição para pacientes na sala de emergência.
transesofágico Vantagens: sensibilidade de 98% a 99%, permite avaliar a morfologia da dissecção, os óstios das artérias coronárias, valva aórtica,
função ventricular, tamponamento cardíaco, extravasamento de sangue para fora da aorta, trombose da falsa luz, rupturas
laminares e hematomas intramurais.
Desvantagem: especificidade baixa (80%).
Tomografia Vantagens: sensibilidade de 83% a 100% e especificidade de 87% a 100%. Identifica a laceração intimal, o grau de compressão da
helicoidal luz verdadeira, sinais de complicação (derrame pleural, pericárdico, ruptura para retroperitôneo e mediastino).
Desvantagens: necessita de contraste iodado e não identifica nem quantifica a insuficiência aórtica, nem o envolvimento dos
ramos coronários.
Ressonância Vantagens: acurácia diagnóstica de quase 100%, não usa contraste iodado, melhor que a tomografia para avaliar arco aórtico e
magnética valva aórtica.
Desvantagens: pouca disponibilidade no Brasil, não pode ser feito em portadores de marcapasso, próteses metálicas valvares e
clipes metálicos.
■ Dissecção proximal: caso acometa a aorta ascendente (ti- ■ Aglutinação pelo látex tradicional: realizada à beira do
pos I e II de De-Bakey e tipo A de Stanford). Aproxima- leito; o seu uso no pronto-socorro deve ser abandonado,
damente 65% dos pacientes têm dissecção da aorta as- já que a sensibilidade não é adequada para excluir EP.
cendente. ■ SimpliRED: é um teste de aglutinação qualitativo com he-
■ Distal: não acomete a aorta ascendente (tipo III de De- máceas. Quando a pesquisa dos D-dímeros é negativa e o
Bakey e tipo B de Stanford). A dissecção da aorta descen- paciente tem baixa probabilidade pré-teste de EP, a sensi-
dente ocorre em 20% dos pacientes. bilidade é de 98% (IC95%: 95-100).
■ Aguda: menos de duas semanas do início dos sintomas ■ ELISA (quantitativo, rápido): é o teste recomendado no
(dois terços dos pacientes). departamento de emergência (também denominado Vi-
■ Crônica: mais de duas semanas do início dos sintomas das). Sua principal característica operacional é o excelen-
(um terço dos pacientes). te valor preditivo negativo. A grande vantagem é a facili-
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dade, segurança, o fato de ser não-invasivo, rapidez e bai- Tomografia helicoidal de tórax (TC)
xo custo do exame.
■ Vantagens: em relação ao V/Q, a TC permite uma melhor
As principais características dos D-dímeros (ELISA) avaliação das doenças que simulam EP. A tomografia pos-
são: sibilita a visualização direta do êmbolo; em relação à an-
giografia pulmonar, não é invasiva e muito mais segura.
■ Sensibilidade > 95%. ■ Desvantagens: necessita de contraste IV, pouco disponível
■ Especificidade de 35% a 45%. em hospitais públicos do Brasil, exame relativamente ca-
■ Um ELISA negativo praticamente descarta EP no pronto- ro e necessita de médico com experiência na interpreta-
socorro, exceto se houver alta probabilidade clínica de EP. ção do resultado.
■ Alta probabilidade: implica grande chance de verdadeira- Estudos de autópsia em pacientes com EP mostraram
mente o paciente ter EP, e, com esse resultado, é indicada que 90% têm trombose venosa profunda (TVP). Quando
anticoagulação, não necessitando de exames adicionais venografia é feita sistematicamente em todos os pacientes
(valor preditivo positivo = 88%). com EP confirmada, uma TVP é demonstrada em 70% dos
■ Normal: três estudos têm demonstrado que um V/Q nor- pacientes. Isso mostra que TVP e EP são espectros (locali-
mal e uma baixa probabilidade clínica de EP, juntos, pra- zações) diferentes da mesma doença. Por isso, é racional
ticamente descartam EP. que um paciente com suspeita de EP faça um doppler de
■ Não-diagnóstico (baixa ou intermediária probabilidade): membros inferiores (MMII), pois se vier positivo (uma
obviamente, o V/Q não é normal e nem de alta probabi- não-compressibilidade das veias profundas de membros in-
lidade. Nos estudos em que esses pacientes foram subme- feriores) implica um diagnóstico de TVP, é indicada anti-
tidos a angiografia pulmonar (doze estudos com 1.529 coagulação e não há necessidade de exames adicionais. En-
pacientes), uma EP foi encontrada em 25% deles. Isso im- tretanto, se o doppler for negativo, não exclui EP e indica
plica que um V/Q não-diagnóstico necessita de exames necessidade de exames adicionais.
adicionais. Estudos têm indicado que o doppler de MMII tem ex-
celente sensibilidade (95%) e especificidade (98%) para
Um paciente com DPOC tem maior chance de ter um TVP proximal (grandes veias: femorais e ilíacas), mas com
V/Q não-diagnóstico; entretanto, quando normal ou de al- desempenho ruim em veias distais (panturrilha).
ta probabilidade, comporta-se de forma semelhante a pa-
cientes sem DPOC. Arteriografia pulmonar
A tendência é indicá-la cada vez menos, em uma estra- cardite (a troponina pode variar de 0,5 a mais de 50
tégia que incorpore vários métodos diagnósticos menos in- ng/mL).
vasivos. ■ Hemograma e provas de atividade inflamatória devem
ser solicitados.
Ecocardiograma
■ Ecocardiografia: é o exame mais importante (sensível, es-
pecífico, simples, não-invasivo e pode ser feito à beira do
O ecocardiograma é útil na identificação de pacientes leito). Permite:
com EP que têm um pior prognóstico; achados de hipoci- – Confirmar presença, quantidade e localização do líqui-
nesia de VD, hipertensão pulmonar persistente, forame oval do pericárdico.
patente, trombo livre e flutuante em átrio direito identifi- – Pode mostrar sinais de constrição, tamponamento e
cam pacientes de alto risco de óbito ou de tromboembolis- sugerir espessamento pericárdico.
mo recorrente. ■ Tomografia computadorizada e ressonância magnética:
Outra utilidade é para diagnóstico diferencial de pa- apresentam maior sensibilidade e especificidade que o
cientes que se apresentam com dispneia, dor torácica e co- ecocardiograma para o diagnóstico de derrame loculado
lapso cardiovascular. Nessas situações, o ecocardiograma e de espessamento pericárdico.
pode indicar um diagnóstico alternativo, como infarto agu- ■ Análise do líquido pericárdico e biópsia do pericárdio:
do do miocárdio, endocardite infecciosa, dissecção aguda importante na etiologia da pericardite (Tabela 22).
de aorta, pericardite ou tamponamento pericárdico. ■ Outros exames: em geral, devem ser solicitados de acordo
com os achados clínicos e as hipóteses diagnósticas. Exem-
Integrando os exames complementares na EP plos: sorologias (inclusive para HIV), perfil de autoimu-
nidade, culturas etc.
Não se sabe ao certo qual o melhor algoritmo para in-
vestigação de EP. Principalmente porque EP é comum, se
não diagnosticado pode ser fatal e o custo da investigação é
muito alto.
Há várias possibilidades de investigação, mas aquela Algoritmo 2. Algoritmo na EP
que proporciona maiores benefícios com um menor custo
ainda não é conhecida.
Avaliação de probabilidade pré-teste em todos os pacientes
Não há mais dúvidas de que a TC helicoidal é muito
melhor que o V/Q para investigação de EP (Algoritmo 2).
Os motivos são vários e incluem:
Alta Intermediária ou baixa
■ Maior sensibilidade.
■ Maior especificidade.
■ Possibilita o diagnóstico de doenças que simulam EP (IC, Negativo:
Não pedir D-dímero D-dímero ELISA descarta
DPOC, dissecção de aorta, derrame pleural, tumor, pneu- EP
monia, entre outros).
Positivo
Exames complementares na pericardite
■ ECG:
– Com pequena quantidade de líquido pericárdico:
Tomografia helicoidal
– Elevação do segmento ST difusamente, com con-
cavidade para cima, geralmente de V2 a V6, associa-
da a infradesnivelamento do segmento ST em AVR,
às vezes em V1. Positiva: EP confirmada Negativa**
– Intervalo PR: infra ou supra, geralmente discordante
do segmento ST; ocorre por causa de lesão atrial.
– Com significativa quantidade de líquido pericárdico:
– QRS em todas as derivações com amplitude reduzi- Baixa ou intermediária probabilidade Alta probabilidade#
da (< 5 mm).
■ Radiografia de tórax: pode mostrar uma cardiomegalia
(de + a 4 +). Raramente é possível notar a linha da gor-
EP descartada Doppler de MMII +
dura pericárdica fazendo a silhueta cardíaca.
V/Q ou arteriografia
■ A elevação das enzimas ou marcadores de lesão miocárdi-
ca (CKMB e troponina) reflete o comprometimento * Reduz o número de tomografias.
miocárdico subjacente ao pericárdio primariamente #
Ainda têm significativa chance de EP: cerca de 5% e pode chegar a 13%.
acometido, sendo a troponina I um sensível e específico ** Com os tomógrafos de última geração, é possível descartar EP com uma TC
negativa.
indicador de dano miocárdico em pacientes com peri-
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5 ■ DOR TORÁCICA 61
ECG isquêmico ou com IAM ECG sem isquemia e provável SCA Dor torácica potencialmente catastrófica
1- Enzimas seriadas2
2- ECG seriados (3, 6 e 9 horas)
3- Monitorização contínua
4- Desfibrilador prontamente disponível
5 ■ DOR TORÁCICA 63
Figura 1 – Tratamento da SCA de alto risco ou IAM sem elevação do segmento ST.
* Duas outras estratégias são úteis, mas julgamos serem mais complexas e mais onerosas, sem benefício comprovado:
1) Em todos os pacientes: em vez do clopidogrel, usar o IIb-IIIa e reservar o clopidogrel se houver colocação de stent (classe I, nível de evidência A). O
uso de IIb-IIIa é mais complexo que o uso de clopidogrel oral.
2) Em todos os pacientes: AAS, betabloqueador, clopidogrel, anticoagulante e inibidor IIb-IIIa (classe IIa e nível de evidência B).
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Enoxaparina Nitrato
■ Deve ser prescrita mesmo em pacientes que serão subme- ■ Globalmente, o nitrato não reduz a mortalidade. As prin-
tidos a cineangiocoronariografia precoce. cipais indicações são:
■ Pode ser usada tanto com clopidogrel quanto com os ini- – Dor ocorrendo.
bidores dos receptores IIb-IIIa plaquetários. – Sinais ou sintomas de IC (crepitações, B3 ou conges-
■ Dose de 1 mg/kg de peso, SC, de doze em doze horas; po- tão).
de-se fazer um bolus de 30 mg de enoxaparina IV, junto – Hipertensão arterial: observe que angina associada à
com a 1ª dose SC. Reduzir em 25% a dose em pacientes hipertensão caracteriza uma emergência hipertensiva.
acima de 75 anos de idade. Nesse caso, deve-se prescrever a nitroglicerina, even-
■ Cuidado: pacientes com insuficiência renal (mesmo leve), tualmente associada ao nitroprussiato.
peso menor que 40 kg ou maior que 100 kg e pacientes ■ A nitroglicerina é muito útil, pois tem efeito imediato
com idade > 75 anos: (minutos), e se desligada, em três a cinco minutos já não
■ O uso de enoxaparina nessas circunstâncias deve ser feito tem mais efeito.
apenas se for possível monitorização da anticoagulação – Dose inicial IV: 5 a 10 µg/minuto.
com o fator X ativado. – Aumentos de 5 a 10 µg/minuto a cada cinco minutos
■ Se não for possível monitorizar, deve-se prescrever hepa- até que ocorra:
rina comum (não-fracionada) e ajustar com o TTPA. – Alívio dos sintomas ou
– Hipotensão (PA sistólica < 90 mmHg) ou
Heparina não-fracionada (HNF) – Cefaleia insuportável ou
– Dose máxima: até 100 a 200 µg/minuto.
■ Necessita de monitorização (TTPA de seis em seis horas ■ Cuidado: evite usar nitratos em pacientes com:
para mantê-lo entre 1,5-2,0 vezes o controle, em geral, 50 – Hipotensão ou hipovolemia (risco de choque).
a 70 segundos). – Infarto de ventrículo direito.
■ Maior incidência de plaquetopenia quando comparada a – Uso de sildenafil nas últimas 24 horas.
enoxaparina. ■ Não use nitratos como rotina em pacientes com SCA; ni-
■ Necessita de bomba de infusão (IV). trato não reduz a mortalidade. Evite prescrever nitratos
– Bolus IV de 60 U/kg de peso (máximo de 4.000 U). em pacientes:
– Manutenção: 12 U/kg de peso (máximo inicial de 1.000 – Sem dor precordial no momento.
U/hora). – Sem congestão ou IC.
– Titular a infusão para manter o TTPA em 1,5 a 2,5 – Normotensos.
vezes o controle.
■ Ao se escolher uma das heparinas, não trocar por outra; a Morfina
mesma heparina deve ser usada em todo o tratamento.
■ A morfina é bastante útil para alívio da dor precordial.
Bivalirudina Além do efeito analgésico, ela pode diminuir a pré-carga,
a sensação de dispneia, e tem um efeito sedativo, que é
■ Pacientes que desenvolvem plaquetopenia com heparina útil em pacientes com SCA.
(atual ou história prévia): ■ A morfina não está associada à redução de mortalidade;
– Usar um inibidor direto da trombina: bivalirudina. ela apenas alivia a dor.
– Dose inicial: 0,1 mg/kg em bolus. ■ As principais indicações são:
– Manutenção nas primeiras 24 horas: 0,25 – Congestão pulmonar ou edema agudo de pulmão.
mg/kg/hora. – Dor precordial.
– Dose inicial: 2 a 4 mg IV em bolus.
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5 ■ DOR TORÁCICA 65
– Repetir se necessário a cada cinco a dez minutos. Uso dos inibidores da enzima conversora (inibidores da
■ Cuidado: a morfina pode causar depressão respiratória, ECA)/antagonistas da angiotensina II
vômitos e hipotensão. O antídoto é a naloxona (dose de
0,4 a 0,8 mg IV). Evite usar morfina em pacientes com: ■ A prescrição do inibidor da ECA não deve e nem precisa
– Hipotensão ou hipovolêmicos. ser tão precoce quanto o AAS ou betabloqueador, por
– Infarto de ventrículo direito. exemplo. Deve-se esperar que o paciente esteja estável: ao
– Confusão ou bradipneico. menos quatro a seis horas após a chegada ao pronto-so-
corro. Nas situações em que eles estão indicados, é reco-
Inibidores dos receptores IIb-IIIa plaquetários mendável usar baixas doses inicialmente, e a preferência é
pelo captopril, pela sua mais curta meia-vida. Evite usar
■ Inibem os receptores IIb-IIIa plaquetários, implicando na se a pressão sistólica for menor que 100 mmHg ou hou-
inibição da via final comum e mais importante da agre- ver sinais de hipoperfusão. As principais indicações são:
gação plaquetária. – Mesmo com o uso de betabloqueador e nitroglicerina,
– Em relação à SCA, de uma maneira geral, eles estão as- o paciente permanece hipertenso.
sociados à diminuição significativa de desfechos im- – Pacientes com HAS ou diabete melito.
portantes (reinfarto, isquemia ou óbito). – Sinais ou sintomas de disfunção ventricular esquerda
■ Indicações: ou ecocardiograma mostrando uma fração de ejeção
– Síndromes coronarianas agudas de alto risco ou IAM diminuída (< 40%).
sem elevação do segmento ST: – Em todos os pacientes após uma síndrome coronariana
– A estratégia intervencionista, que consiste em pres- aguda, desde que não haja contraindicações (nesse caso,
crever AAS, clopidogrel, betabloqueador, anticoa- a evidência é menor; classe IIa, nível de evidência B).
gulação plena (enoxaparina ou heparina comum), ■ Pacientes intolerantes ao IECA (história de angioedema,
inibidor IIb-IIIa plaquetário (tirofiban ou epitifiba- tosse, rash): usar um antagonista da angiotensina II.
tide) e realizar uma cineangiocoronariografia pre-
coce (em até 48 horas) consiste na melhor terapêu- Uso dos inibidores da enzima HMG – coenzima A redutase
tica existente para esse grupo de pacientes.
– Quando usados nessa estratégia, eles são mantidos ■ Ação anti-inflamatória, estabilização de placas ateroscleró-
por até 24 horas após a angioplastia. ticas, melhora da função endotelial, aumento de HDL, di-
– O abciximab é contraindicado em pacientes que minuição da tendência protrombótica e redução do LDL.
não vão ser submetidos a angioplastia com coloca- ■ A eficácia das estatinas para prevenção secundária de
ção de stent. eventos cardiovasculares há muitos anos foi comprovada.
– Angioplastia com stent: Os estudos mais recentes buscaram avaliar se o uso de es-
– Os inibidores IIb-IIIa plaquetários revolucionaram tatinas ainda na fase aguda de uma SCA (nas primeiras 24
esse procedimento, diminuindo significativamente horas do evento), independentemente dos níveis de coles-
as complicações periprocedimento (IAM, trombo- terol, pode se associar com a redução adicional de eventos
se aguda do stent etc.). cardiovasculares adversos. Os maiores estudos prospecti-
■ Três inibidores são disponíveis: vos controlados e randomizados, em geral, mostraram um
– Tirofiban: é um não-peptídeo (molécula sintética) que benefício marginal da terapia com estatinas. A custo-efe-
mimetiza a porção do fibrinogênio que se liga ao re- tividade dessa conduta ainda é discutida, especialmente
ceptor IIb-IIIa. em países em desenvolvimento.
– Dose inicial: 0,4 mg/kg/min durante trinta minu- ■ O que se pode concluir e recomendar é iniciar estatina
tos. nas primeiras 24 horas e:
– Manutenção: 0,1 mg/kg/min por até 96 horas, se – Colher um perfil lipídico na manhã seguinte da admis-
necessário. são do paciente com SCA, em jejum.
– Caso ele seja utilizado em uma estratégia invasiva – Caso o LDL seja > 70 mg/dL, manter estatina.
(com CATE), deixa-se a infusão por doze horas – Caso o LDL seja < 70 mg/dL, deve-se repetir a coleta
após o procedimento. em dois a três meses. Esse paciente não se beneficia de
– Eptifibatide: heptapeptídio cíclico, pouco usado no estatina.
Hospital das Clínicas da FMUSP. ■ Doses das estatinas mais estudadas em SCAs:
– Dose inicial: 180 µg/kg em bolus. – Sinvastatina: 10 a 80 mg/dia (para SCA: 40 mg/dia).
– Manutenção: 2 µg/kg/minuto por até 72-96 horas, – Atorvastatina: 10 a 80 mg/dia (para SCA: 80 mg/dia).
se necessário. – Pravastatina: 40 mg/dia.
– Abciximab: fragmento Fab de anticorpo, com inibição ■ Uma vantagem da prescrição de estatinas durante a inter-
irreversível de receptores IIb-IIIa. Dos inibidores dis- nação de uma SCA é que essa conduta aumenta significa-
poníveis, esse é o mais potente, embora não deva ser tivamente a porcentagem de pacientes que persistem
usado na SCA. usando a medicação ao final de um ano (91%, compara-
– Dose inicial é de 0,25 mg/kg (em dez minutos). do com apenas 10% quando a medicação é iniciada no
– Manutenção é de 0,125 µg/kg/min (máx. 10 ambulatório) e reduz a incidência de outras doenças vas-
µg/min) por 12-24 horas. culares (p. ex., AVCI).
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Conduta intervencionista – angioplastia Tabela 24. Recomendações para estratégia invasiva em SCA
com colocação de stent
• Angina recorrente, refratária ou aos mínimos esforços com terapêutica
■ A melhor conduta em pacientes com IAM sem supra ST anti-isquêmica otimizada.
e pacientes com angina de alto risco é realizar uma angio- • Aumento de troponinas.
grafia coronariana imediata (até 48 horas da chegada ao • Alterações dinâmicas do segmento ST.
PS). Essa estratégia intervencionista consiste em: • Angina que se acompanha de sinais ou sintomas de IC ou regurgitação
– Prescrever AAS, clopidogrel, betabloqueador, anticoa- mitral.
gulação plena (enoxaparina ou heparina comum; alter- • Fração de ejeção < 0,40.
nativas: bivalirudina ou fondaparinux) +
• Taquicardia ventricular sustentada.
– Inibidor IIb-IIIa plaquetário (tirofiban ou epitifibatide) +
• Angioplastia < seis meses ou revascularização cirúrgica prévia.
– Realizar uma cineangiocoronariografia precoce e an-
gioplastia com colocação de stent (se indicado). • Instabilidade hemodinâmica.
■ As principais indicações da estratégia invasiva estão des- • Risco aumentado de complicações pelos escores TIMI ou GRACE.
critas na Tabela 24 (Algoritmo 4).
Algoritmo 4.Tratamento do IAM sem elevação do segmento ST e da angina instável de alto risco
Reavaliação do paciente
• Aumento de troponinas.
• Alterações dinâmicas no segmento ST.
• IC, B3, edema pulmonar, novo sopro ou piora de insuficiência mitral.
• Instabilidade hemodinâmica.
• Taquicardia ventricular sustentada.
• Dor recorrente ou aos mínimos esforços mesmo com terapia anti-isquêmica otimizada.
• Fração de ejeção menor que 40%.
• Risco aumentado de complicações pelos escores TIMI ou GRACE.
Sim Não
• AAS • AAS
• Clopidogrel e/ou inibidor IIb-IIIa* • Betabloqueador**
• Betabloqueador** • Enoxaparina (fondaparinux é a melhor opção se
• Anticoagulação plena (enoxaparina, bivalirudina, houver risco de sangramento)
fondaparinux ou heparina comum) • Clopidogrel
Cineangiocoronariografia
Evolução com:
Boa evolução?
• Dor recorrente
• IC
• Instabilidade hemodinâmica
Angioplastia e colocação de stent • Manter o clopidogrel
• Arritmias graves
• Estratificação
• Associar tirofiban
* Achados que favorecem o uso dos dois juntos: previsão de retardo na angiografia, achados de alto risco pelos escores TIMI/GRACE ou isquemia recorrente precoce.
** Não usar se houver contraindicação ou achados de maior risco para choque cardiogênico.
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5 ■ DOR TORÁCICA 67
Conforme foi exaustivamente lembrado, pacientes com ■ AAS: mastigar 160 a 325 mg via oral.
dor torácica devem ser submetidos a eletrocardiografia ■ Clopidogrel: 300 mg VO de ataque (pacientes < 75 anos);
imediatamente (tempo máximo de dez minutos). A condu- a dose deve ser menor para pacientes com mais de 75
ta correta nos pacientes cujo ECG de entrada mostrou ele- anos (nesse caso, 75 mg VO). Para a angioplastia
vação do segmento ST em duas ou mais derivações contí- primária, a dose pode ser de 600 mg (preferível).
guas (Tabela 25) dependerá da opção/disponibilidade da ■ Monitorização cardíaca, oxímetro de pulso (oxigênio se
terapia de reperfusão. Em resumo: saturação < 90%) e acesso venoso com coleta de sangue
(MOV) para todos os pacientes com desconforto toráci-
■ Pacientes que serão tratados com angioplastia primária: co tipo isquêmico.
AAS, clopidogrel, inibidor IIb-IIIa e anticoagulante (he- ■ Oxigênio:
parina não-fracionada ou bivalirudina). – A melhor conduta é administrar oxigênio se saturação
■ Pacientes que serão trombolizados com estreptoquinase: de O2 < 90%.
AAS, clopidogrel e anticoagulante (fondaparinux ou – Caso não haja oxímetro, administrar oxigênio para to-
enoxaparina; heparina não-fracionada é uma alternativa). dos os pacientes com IAM não-complicado durante as
■ Pacientes que serão trombolizados com t-PA, rt-PA ou primeiras seis horas.
TNK: AAS, clopidogrel e enoxaparina (heparina não-fra- ■ História e exame físico dirigido + ECG doze derivações
cionada é uma alternativa). em ∆t ≤ dez minutos. Nesse momento, se possível, deve-
mos pensar na possibilidade de diagnósticos diferenciais
Inicialmente, a prioridade é prescrever ácido acetilsali- de desconforto torácico, como dissecção de aorta, peri-
cílico e clopidogrel seguidos da anticoagulação e terapia de cardite, miocardite, pneumotórax espontâneo, dor de
reperfusão (abrir a artéria), seja com trombólise química, origem esofágica, doença ulcerosa péptica e embolia pul-
seja com trombólise mecânica (angioplastia coronariana monar.
transluminal percutânea).
Nitratos
■ Propranolol: 10 a 80 mg VO de 8/8 horas.
■ Atenolol: 25 a 200 mg via oral, uma vez ao dia.
Os nitratos não devem mais ser usados de rotina, pois ■ Metoprolol: 25 a 100 mg VO de 12/12 horas.
não alteram o prognóstico do paciente, além do potencial ■ Metoprolol: 5 mg IV, lentamente (um a dois minutos),
de levar à hipotensão. A nitroglicerina IV pode ser indica- com monitorização eletrocardiográfica. Repetir mais duas
da, desde que não haja contraindicação, em circunstâncias doses (total de 15 mg), com intervalos de cinco minutos.
específicas, que incluem: Logo após, deve-se prescrever o betabloqueador via oral
(propranolol, atenolol, metoprolol, bisoprolol etc.).
■ Dor torácica persistente.
■ Hipertensão persistente. Carvedilol após o infarto
■ Edema pulmonar ou insuficiência cardíaca.
Deve ser usado em pacientes que evoluem com fração
Não usar nenhum nitrato nas seguintes situações: de ejeção < 40% ou sintomas de insuficiência cardíaca (es-
ses pacientes devem estar em uso de inibidores da ECA em
■ PA sistólica < 90 mmHg. dose mínima para melhora de sobrevida da IC: 75 mg de
■ Infarto de ventrículo direito. captopril/dia ou equivalente de outro IECA).
■ Uso de inibidores da fosfodiasterase (sildenafil e deriva-
dos) nas últimas 24 horas e de tadalafil, nas últimas 48 Terapias de reperfusão
horas.
Precoce e imediata reperfusão coronariana consiste na
Modo de usar: mais importante terapêutica de pacientes com SCA com ele-
vação de segmento ST. Essa reperfusão poderá ser feita por
■ Iniciar com 5 a 10 µg/minuto em bomba de infusão con- agentes fibrinolíticos ou pela angioplastia coronariana
tínua. transluminal percutânea (ACTP) primária. Da mesma for-
■ Aumentar 5 a 10 µg/minuto a cada três a cinco minutos, ma, alguns pacientes podem ser inicialmente trombolizados
até o efeito desejado ou caso ocorram reações adversas. quimicamente e em seguida necessitar de angioplastia para
■ Máximo de 100 a 200 µg/minuto. abertura da artéria relacionada ao infarto (denominada an-
■ A grande vantagem da nitroglicerina é a facilidade de ti- gioplastia de resgate). O termo angioplastia facilitada indica
tulação (muito curta meia-vida). estratégias combinando trombólise com angioplastia. Entre-
tanto, os estudos com angioplastia facilitada não mostraram
Morfina benefício e ela não é recomendada. As terapias de reperfusão
representaram uma revolução no tratamento desses pacien-
■ Em pacientes com dor precordial, prescrever 2 a 4 mg IV tes, diminuindo a mortalidade dessa grave doença para me-
em bolus. nos de 4%. As indicações para terapia de reperfusão (angio-
■ Doses adicionais podem ser feitas a cada cinco a dez mi- plastia ou trombólise química) estão descritas na Tabela 26.
nutos, em caso de dor persistente. Quanto mais precocemente se indica uma reperfusão,
melhor o prognóstico dos pacientes. A mortalidade aumen-
Betabloqueadores ta para cada trinta minutos de retardo da terapêutica: cada
trinta minutos de retardo: RR = 1,075 (IC95% = 1,008-
Se não houver contraindicação e o paciente não tiver 1,15; p = 0,041). Qualquer retardo implicará maiores chan-
risco de evoluir com choque cardiogênico, os betabloquea- ces de óbito e de complicações.
dores devem ser prescritos, preferencialmente pela via oral Muito importante!
(classe I, nível de evidência A).
■ A melhor terapia de recanalização é aquela que está mais
■ Contraindicações: BAV de 2° e 3° graus, intervalo PR > rapidamente disponível e inclusive pode e deve ser prescri-
0,24 s, broncoespasmo prévio e insuficiência cardíaca. ta já na ambulância do sistema pré-hospitalar, se tiver
■ Risco de evolução para choque cardiogênico: um ou mais dos condições técnicas e pessoal treinado.
seguintes fatores de risco: idade > 70 anos, pressão sistóli- ■ Todo pronto-socorro que não dispõe de angioplastia tem
ca < 120 mmHg, FC > 110 bpm ou < 60 bpm, longo tem- de ter trombolítico e tem de ter um sistema pronto, ágil,
po entre o início dos sintomas e a procura ao hospital. 24 horas, para transferência de pacientes para centros in-
■ Diabetes mellitus, tabagismo (sem broncoespasmo), insu- tervencionistas, quando isso for necessário.
ficiência vascular periférica não são contraindicações a
betabloqueadores. Comparação de trombolíticos com angioplastia primária
O betabloqueador pode ser prescrito por via oral (pre- ■ Quando se têm disponíveis os dois tratamentos (trombo-
ferência) ou por via intravenosa (classe IIb; nível de evi- líticos e angioplastia), claramente a angioplastia primária
dência A). A via parenteral pode ser a melhor via em pa- é a melhor terapêutica disponível para SCA com elevação
cientes hipertensos ou com taquiarritmias (classe I; nível de do segmento ST, reduzindo óbitos, reinfarto e acidente
evidência B). vascular cerebral hemorrágico (Tabela 27).
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5 ■ DOR TORÁCICA 69
Tabela 27. Angioplastia versus trombólise química para SCA com elevação do segmento ST
5 ■ DOR TORÁCICA 71
■ Não deve ser usado se o clearance de creatinina for menor – Dose inicial: 0,4 µg/kg/min durante trinta minutos.
que 30 mL/minuto. – Manutenção: 0,1 µg/kg/min por 12 horas.
Bivalirudina (inibidor direto da trombina): especial- Inibidores da ECA (alternativa: antagonistas da angiotensina II)
mente útil nos pacientes que serão submetidos a angioplas-
tia. No estudo publicado em 2008 (HORIZONS-AMI), pa- Medicação extremamente importante em pacientes
cientes tratados com angioplastia primária foram tratados com infarto do miocárdio. Seu uso reduz a evolução dos pa-
com bivalirudina sozinha versus heparina comum e inibi- cientes para IC, melhora o remodelamento da área isquê-
dor IIb-IIIa. Bivalirudina foi eficaz, reduzindo sangramen- mica e reduz a mortalidade:
to maior em 40% (4,9% versus 8,3%), óbito de causas car-
díacas (1,8% versus 2,9%) e óbito de todas as causas (2,1% ■ Obrigatório em pacientes com FE < 0,40 ou com sin-
versus 3,1%). Provavelmente, bivalirudina deve se tornar o tomas/sinais de insuficiência cardíaca. Outros pacientes que
agente antitrombótico de escolha durante a angioplastia se beneficiam: diabéticos, hipertensos e pacientes com
primária. Nos pacientes tratados com trombólise química, doença renal crônica, desde que não haja contraindicações.
só há um estudo com estreptoquinase, sem mostrar benefí- A recomendação para indicá-los em todos os pacientes pós-
cio. Não há estudos com t-PA, rt-PA ou TNK. Por isso, na IAM, independente da FE e IC, é controversa, embora seja
trombólise química, bivalirudina não deve ser usada, exce- realizada na prática, sobretudo em pacientes com fatores
to em pacientes com história de plaquetopenia induzida cardiovasculares de risco e nos que foram revascularizados.
por heparina e se não houver disponibilidade de fondapari- ■ Devem ser iniciados nas primeiras 24 horas, em média,
nux. As doses recomendadas na angioplastia primária são: cerca de seis horas após o infarto.
■ Doses iniciais devem ser baixas e tituladas de acordo com
■ Bolus de 0,75 mg/kg de peso. a pressão arterial do paciente; captopril (6,25 a 12,5 mg
■ Manutenção de 1,75 mg/kg/hora. de 6/6 a 8/8 horas), enalapril (2,5 a 5,0 mg de 12/12 ho-
■ Desligar após o procedimento. ras), lisinipril (5 mg 1 x dia), ramipril (2,5 mg 1 x dia),
entre outros, podem ser usados.
Inibidores dos receptores IIb-IIIa plaquetários
■ A vantagem inicial do captopril é sua menor meia-vida:
prescrever 6,125 a 12,5 mg e observar. Se tolerar, manter
Atuam nos receptores IIb-IIIa plaquetários, implicando de 6/6 horas inicialmente e aumentar a dose diariamente.
na inibição da via final comum e mais importante da agre-
gação plaquetária. Evite usar os inibidores da ECA, inicialmente, se a PA
sistólica < 100 mmHg, história de alergia ao agente ou an-
■ Indicação: gioedema e pacientes com potássio > 5 mEq/L.
– Angioplastia primária: na estratégia invasiva, sobretu- Losartan (12,5 mg 1 x dia) e valsartan (iniciar com 20
do com stent, os inibidores IIb-IIIa são úteis e indica- mg): são antagonistas da angiotensina II e devem ser pres-
dos, reduzindo desfechos importantes. critos em pacientes intolerantes aos inibidores da ECA e
– Em uma metanálise recente (Montalescot G; 2007), o com insuficiência cardíaca (clínica, radiológica ou ecocar-
uso de abciximab se associou com uma redução de 37% diograma com FE < 0,40).
na soma de óbito ou reinfarto (IC 95%: 12%-55%). O uso dos inibidores da ECA em conjunto com os an-
– Maior evidência para o abciximab (classe IIa; nível de tagonistas da angiotensina II não é recomendado de rotina.
evidência A).
– Estudos com tirofiban ou eptifibatide são mais escassos Antagonistas da aldosterona
e a evidência é menor (classe IIb; nível de evidência B).
– São medicações que podem ser prescritas na sala de he- Indicação: devem ser prescritos em todos os pacientes
modinâmica. O estudo On-TIME 2 (2008) não mostrou pós-IAM que evoluam com insuficiência cardíaca e FE <
benefício clinicamente significativo com o início precoce 0,40 ou diabetes.
do tirofiban (ainda no pré-hospitalar).
■ Pacientes reperfundidos com trombolíticos: não se re- ■ Pré-requisitos para usar antagonistas da aldosterona:
comenda o uso de inibidores IIb-IIIa. Os estudos – Os pacientes devem estar em uso dos inibidores da
disponíveis não mostraram benefício clinicamente signifi- ECA (dose terapêutica).
cante na estratégia não-intervencionista. – Creatinina < 2,5 mg/dL em homens e < 2,0 mg/dL em
■ Abciximab: fragmento Fab de anticorpo, com inibição ir- mulheres.
reversível de receptores IIb-IIIa. Dos inibidores – Potássio sérico < 5,0 mEq/L.
disponíveis, esse é o mais potente:
– Dose inicial de ataque: 0,25 mg/kg. O bloqueio da aldosterona diminui significativamente
– Manutenção: 0,125 µg/kg/min (máx. 10 µg/min) por todos os desfechos importantes, inclusive mortalidade (es-
12 horas. tudo EPHESUS com 6.642 pacientes).
■ Tirofiban: é um não-peptídeo (molécula sintética) que Dose:
mimetiza a porção do fibrinogênio que se liga ao recep-
tor IIb-IIIa. ■ Eplerenona: 25-50 mg/dia.
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5 ■ DOR TORÁCICA 73
Estatinas LDL estava < 125 mg/dL, atorvastatina (80 mg) não foi
melhor que pravastatina (40 mg), embora seja bem mais
Recomenda-se iniciar estatina nas primeiras 24 horas, cara.
mas não se deve esquecer de colher o perfil lipídico na ma- 4 LDL inicial > 125 mg/dL: atorvastatina 80 mg/dia. Nesses
nhã seguinte à internação (< 24 horas da internação). pacientes, atorvastatina (80 mg) foi melhor que pravasta-
Uma metanálise recente sugeriu que estratégia mais in- tina (40 mg), com um NNT = 25 para a soma de todos os
tensiva de controle lipídico reduziu AVC em 18% (IC 95%: desfechos do estudo.
5-29%) e infarto em 17% (IC 95%: 9-23%). 5 Doses e custo/mês (fevereiro de 2009):
Nesse momento, podemos concluir: ■ Sinvastatina: 40 mg, VO à noite: R$: 42,00.
1 A meta é deixar o LDL < 100 mg/dL (classe I; nível de ■ Atorvastatina: 80 mg, VO à noite: R$: 152,00.
evidência A):
■ Opção: deixar o LDL < 70 mg/dL (múltiplos fatores de Insulina
risco) (classe IIa; nível de evidência B).
2 LDL de base < 100 mg/dL: podem ser usadas estatinas, Indicação:
embora o benefício não seja tão custo-efetivo quanto nos
pacientes com LDL > 100 mg/dL. O novo consenso eu- ■ Em todos os pacientes evoluindo com hiperglicemia, es-
ropeu de dezembro de 2008 não recomenda prescrever de pecialmente nas primeiras 24 a 48 horas: prescrever por
rotina estatina nesse grupo. via subcutânea.
3 LDL de base entre 100-125 mg/dL: qualquer das estati- ■ Não há benefício do controle estrito de glicemia com
nas, em doses habituais (exemplo: sinvastatina 40 mg; bomba de infusão contínua de insulina.
pravastatina; 40 mg). O benefício do estudo TIMI 22 foi ■ Manter a glicemia < 140 mg/dL (ESC 2008) (Algoritmos
maior quando o LDL inicial foi > 125 mg/dL; quando o 5 e 6).
Algoritmo 5. Elevação do segmento ST em duas ou mais derivações contíguas ou novo bloqueio de ramo esquerdo
Reavaliação do paciente
Aspirina, clopidogrel, acesso venoso, coleta de exames, RX de tórax, oxigênio, betabloqueador (se
não houver contraindicação ou fatores de risco para choque cardiogênico), morfina
Sem evidência de reperfusão? Houve reperfusão, mas o paciente está evoluindo com:
• Dor recorrente
• IC
• TV sustentada
Angioplastia de resgate • Instabilidade hemodinâmica
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Variáveis Achados
Clínicos • Hipotensão (pressão sistólica < 90 mmHg ou queda da pressão sistólica de mais de 40 mmHg da pressão de base)
• Choque
Disfunção de VD • Ecocardiograma: dilatação de VD, hipocinesia ou hipertensão pulmonar
• TC: dilatação de VD
• Aumento do BNP ou Pro-BNP
• Cateterização com aumento da pressão arterial pulmonar
Lesão miocárdica • Troponina positiva (T ou I)
• Possivelmente, a proteína de ligação de ácido graxo do tipo cardíaco (aguardam mais estudos)
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5 ■ DOR TORÁCICA 75
• A anticoagulação tem riscos, é complicada, é cara, e por isso deve-se buscar um diagnóstico de certeza de EP. Entretanto, enquanto se aguardam os
exames auxiliares, e se houver intermediária ou alta probabilidade de EP, o paciente deve ser anticoagulado imediatamente, sem retardo.
• Contraindicações à anticoagulação: sangramento ativo, plaquetopenia, hipertensão grave, trauma importante e cirurgia recente.
• EP de baixo risco: pode-se usar a heparina de baixo peso molecular (fracionada), fondaparinux ou a heparina não-fracionada.
• Heparina não-fracionada: bolus de 80 U/kg de peso, IV (máximo de 4.000 U), concomitante à bomba de infusão de heparina (18 U/kg/hora) com coleta de
coagulograma (TTPA) de 6 em 6 horas, e mantê-lo entre 46-70 segundos (1,5 a 2,3 vezes o controle).
• Heparina de baixo peso molecular: pela facilidade, pelo menor custo, ao lado de mesma eficácia e segurança: a tendência é usar a heparina de baixo peso
uma vez ao dia.
– Dalteparina: 200 unidades/kg de peso, SC, uma vez ao dia.
– Enoxaparina: 1,5 mg/kg de peso, SC, uma vez ao dia.
– Nadroparina: 171 unidades/kg de peso, SC, uma vez ao dia.
– Tinzaparina: 175 unidades/kg de peso, SC, uma vez ao dia.
• EP com uma causa reversível que foi corrigida: anticoagular, no mínimo por três meses.
• EP idiopática: anticoagular, no mínimo por seis meses.
• EP/TVP recorrentes: deixar anticoagulado por tempo indefinido.
Heparina de baixo peso molecular uma vez ao dia Pode-se prescrever heparina de baixo peso molecular
em pacientes com insuficiência renal? A resposta é sim. En-
A preferência é prescrever HBPM uma vez ao dia. Não tretanto, é obrigatório monitorizar, seja com dosagem sérica
vemos razão para usá-la de 12/12 horas, implicando em 2 da heparina de baixo peso seja com monitorização da inibi-
picadas ao dia para o paciente, maiores gastos e uso desne- ção antifator-Xa, que são exames não-disponíveis na maio-
cessário da enfermagem. ria dos hospitais. Portanto, se não for possível monitorizar,
esses pacientes deverão receber heparina não-fracionada e
■ Enoxaparina SC: 1,5 mg/kg de peso, uma vez ao dia. monitorização com TTPA. Não se deve prescrever HBPM
■ Dalteparina: 200 unidades/kg de peso, uma vez ao dia. em pacientes com clearance de creatinina menor que 30
■ Nadroparina: 171 unidades/kg de peso, uma vez ao dia. mL/min se não houver monitorização com o fator Xa.
■ Tinzaparina: 175 unidades/kg de peso, uma vez ao dia.
Fondaparinux
Observe que a segurança da heparina de baixo peso
molecular se aplica a indivíduos com função renal normal e É um inibidor direto do fator Xa, também usado por
peso entre 40 e 120 kg. via subcutânea, uma vez ao dia e sem necessidade de moni-
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torização, embora não deva ser usado em pacientes com ■ Pacientes com contraindicações a anticoagulação plena.
clearance de creatinina menor que 30 mL/min. É uma me- ■ EP de repetição em pacientes adequadamente anticoagu-
dicação relativamente nova, segura, prática, mas de alto lados.
custo e pouco disponível no Brasil. ■ Complicações graves por anticoagulação.
As doses são:
Pericardite
■ Peso menor que 50 kg: 5 mg SC, 1 x dia.
■ Peso 50-100 kg: 7,5 mg SC, 1 x dia. Em geral, o tratamento é sintomático; se houver uma
■ Peso maior que 100 kg: 10 mg SC, 1 x dia. causa, ela deve ser tratada. As medicações mais usadas são:
5 ■ DOR TORÁCICA 77
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