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Conhecimentos

Pedagógicos

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ÍNDICE 2010

CONTEÚDO PROGRAMÁTICO

CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS

Aspectos Filosóficos da Educação - o pensamento pedagógico moderno:


iluminista, positivista, socialista, escolanovista, fenomenológico-existencialista,
antiautoritário, crítico................................................................................................. 3
Tendências atuais: liberais e progressistas. ............................................................... 22
O pensamento pedagógico brasileiro: correntes e tendências na prática escolar. ..... 26
Aspectos Sociológicos da Educação - as bases sociológicas da Educação, a
Educação como processo social, as instituições sociais básicas, educação para o
controle e para a transformação social, cultura e organização social, desigualdades
sociais, a relação escola / família / comunidade. ....................................................... 27
Educação e Sociedade no Brasil. ............................................................................... 35
Aspectos Psicológicos da Educação - a relação desenvolvimento / aprendizagem:
diferentes abordagens, a relação pensamento / linguagem - a formação de
conceitos, crescimento e desenvolvimento: o biológico, o psicológico e o social. ... 43
O desenvolvimento cognitivo e afetivo. .................................................................... 57
Aspectos do Cotidiano Escolar - a formação do professor; ...................................... 66;
81
a avaliação como processo, ....................................................................................... 66
a relação professor / aluno; ........................................................................................ 75;
83
a função social do ensino: os objetivos educacionais, os conteúdos de
aprendizagem; as relações interativas em sala de aula: o papel dos professores e
dos alunos; a organização social da classe; ............................................................... 80
os direitos da criança e do adolescente; a sala de aula e sua pluralidade; ................. 85
Diretrizes, Parâmetros, Medidas e Dispositivos Legais para a Educação - A LDB
atual, .......................................................................................................................... 88
o Estatuto da Criança e do Adolescente, ................................................................... 104
os Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental, ......................... 165
as Diretrizes Curriculares para o Ensino Fundamental. ............................................ 179

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
ASPECTOS FILOSÓFICOS DA educação utilizando os mesmos métodos
EDUCAÇÃO - O PENSAMENTO das ciências físicas.
PEDAGÓGICO MODERNO:
ILUMINISTA, POSITIVISTA, As teorias educacionais de
SOCIALISTA, ESCOLANOVISTA, Comênio surpreendem pela atualidade.
FENOMENOLÓGICO- Defendeu-se nelas uma educação que
EXISTENCIALISTA, interpretasse e alargasse a experiência de
ANTIAUTORITÁRIO, CRÍTICO. cada dia e utilizasse os mitos clássicos,
como ensino da religião e da ética. O
currículo, além das matérias citadas, incluía
música, economia, política, história e
- PENSAMENTO PEDAGÓGICO ciência. Na prática de ensino, Comênio foi
MODERNO: o pioneiro na aplicação de métodos que
despertassem o crescente interesse do
aluno.
JOÃO AMÓS COMÊNIO (1592-1670)

Educador tcheco, nasceu na


Morávia. Criador de um sistema JOHN LOCKE (1632-1704)
educacional que até hoje não foi superado, Fundou a moderna educação
foi pioneiro do ecumenismo. Estudou inglesa, cuja influencia ultrapassou as
teologia e ocupou a reitoria de um colégio, fronteiras de sua pátria. Locke estudou
antes de ser ordenado padre. Vítima da filosofia, línguas antigas e medicina. A
Guerra dos Trinta Anos, passou grande situação política da Inglaterra abrigou-o a
parte de sua vida no exílio, primeiro na exilar-se na Holanda. Ao regressar, publica
Polônia, onde foi bispo, mais tarde na a sua principal obra filosófica, “Estudo
Suécia, na Prússia e na Holanda, onde veio sobre o entendimento humano”, e logo
a falecer. depois seu “Pensamento sobre a educação”.
Superando definitivamente o Com seu estudo do entendimento
pessimismo antropológico da Idade Média, humano, Locke marca o início do
com seu otimismo realista Comênio Iluminismo, que vê a razão como condutora
influenciou as pedagogias das épocas do homem. Para ele, não há dúvida de que o
posteriores, fortalecendo a convicção de fundamento de toda virtude está na
que o homem é capaz de aprender e pode capacidade de renunciar à satisfação dos
ser educado. Seu trabalho está registrado nossos desejos, quando não justificados
em vários livros, entre os quais: pela razão.
“Pródromus da Ponsofia”, de 1630, na qual
defende a generalização do ensino,
subordinado a um órgão de controle
universal, como meio de pôr fim às guerras; - PENSAMENTO PEDAGÓGICO
“Porta aberta das Línguas”, de 1631, onde ILUMINISTA:
apresentou um novo método de ensino do
latim por meio de ilustrações e lições
objetivas, que foi logo traduzido em 16 JEAN-JACQUES ROUSSEAU (1712-
línguas; “A grande didática”, de 1633, em 1778)
que faz uma tentativa de criar a ciência da

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
Filósofo e escritor, nasceu em JOHANN HEINRICH PESTALOZZI
Genebra, na Suíça, e morreu na França. (1746-1827)
Nasceu protestante, tornou-se católico e
retornou ao protestantismo. Educador suíço nasceu em Zurique.
Desde os tempos de estudante participou de
Segundo SUCHODOLSKI (1907- movimentos de reforma social. Em 1774
1992), a pedagogia de Rousseau fundou um orfanato onde tentou ensinou os
representou a primeira tentativa radical e rudimentos de agricultura e de comercio,
apaixonada de oposição fundamental à iniciativa que fracassou poucos anos
pedagogia da essência e de criação de depois.
perspectivas para uma pedagogia da
existência. Publicou um romance em quatro
volumes, bastante lido na época, intitulado
A obra “Emílio” de Rousseau “Leonardo e Getrudes”, no qual delineava
tornou-se o manifesto do novo pensamento suas idéias sobre reforma política, moral e
pedagógico e assim permaneceu até os social. Quando a cidade de Stans foi
nossos dias. Nela o autor pretendeu provar tomada durante a invasão napoleônica de
que “é bom tudo que sai das mãos do 1798, Pestalozzi reuniu algumas crianças
criador da Natureza e tudo degenera nas abandonadas e passou a cuidar delas nas
mãos do homem”. Portanto, pregou que mais difíceis condições.
seria conveniente dar à criança a
possibilidade de um desenvolvimento livre Em 1805, fundou o famoso
e espontâneo. O primeiro livro de leitura internato de Yverdon, que durante seus 20
deveria ser o “Robinson Crusoé” (escrito anos de funcionamento foi freqüentado por
por Daniel Defoe, em 1719), que o filósofo estudantes de todos os países da Europa.
considerava um tratado de educação
O currículo adotado dava ênfase na
natural. atividade dos alunos: apresentava-se no
A educação, segundo ele, não devia início objetos simples para chegar aos mais
ter por objetivo a preparação da criança complexos; partia-se do conhecido para o
com vista ao futuro nem a modelação dela desconhecido, do concreto para o abstrato,
para determinados fins: devia ser a própria do particular para o geral. Por isso, as
vida da criança. Mostrava-se, portanto, atividades mais estimuladas em Yvedon
contrário à educação precoce. Era preciso eram desenho, conto, educação física,
ter em conta a criança, não só porque ela é modelagem, cartografia e atividades ao ar
o objeto da educação – o que a pedagogia livre.
da essência também se dispunha a fazer –
mas porque a criança representa a própria
fonte da educação. JOHANN HEINRICH HERBART (1776-
1841)
As aventuras amorosas de
Rousseau sempre terminavam mal. Teve Filósofo, teórico da educação e
cinco filhos que confiou a um internato, psicólogo alemão, estudou na Universidade
terminando por jamais se encontrar com de Lena, onde foi discípulo de Fichte. Em
eles. No final da vida a dor do abandono o 1797 esteve na Suíça e visitou a escola
levou a um complexo de perseguição e à dirigida por Pestalozzi. A partir de 1809,
loucura. ensinou filosofia e pedagogia na
Universidade de Konigsberg.

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Para Herbart, a filosofia apresentou Foi o caso do “Plano Nacional de
a elaboração e a análise da experiência. A Educação”, aprovado pela Assembléia
lógica tinha por objetivo a classificação dos Nacional Constituinte em 1793 e concebido
conceitos, enquanto a metafísica e a estética por LEPELLETIER (1760-1793), da qual
referia-se ao conteúdo do pensamento. A apresentaremos a seguir algumas partes.
análise lógica revelava as contradições dos
conceitos que a metodologia procurava Inspirado em Rousseau, o texto de
resolver. Lepelletier sintetiza as aspirações frustradas
de unidade entre educação e a política e de
Como teórico da educação defesa do ensino público, gratuito,
defendeu a idéia de que o objetivo da obrigatório e igual para todos, até a criança
pedagogia é o desenvolvimento do caráter atingir os 12 anos de idade.
moral. O ensino deve fundamentar-se na
aplicação dos conhecimentos da psicologia. A questão da intervenção do Estado
Criou o sistema que denominou “instrução na educação já vinha sendo discutida desde
educativa”. Esse sistema, segundo educador Lutero. Mostesquieu (1689-1755) dedicou-
brasileiro Lourenço Filho, propõe um lhe um capítulo de sua obra “O espírito das
ensino que, através de situações sucessivas leis”, publicado em 1748, defendendo a
e bem reguladas pelo mestre, fortalece a necessidade de criar leis para a educação
inteligência e, pelo cultivo dela, forma a para que cada família pudesse educar seus
vontade e o caráter. Herbart sugeriu que filhos em conformidade com as leis da
cada lição obedece-se a fases estabelecidas sociedade. DANTON (1759-1794) chegou
ou passos formais. Seriam eles: o da clareza a afirmar que “os filhos pertencem à
da apresentação dos elementos sensíveis de República antes de pertencerem aos pais".
cada assunto; o de associação; o de O texto de Lepelletier nutriu-se de
sistematização; e, por fim, o de aplicação.
todo esse debate: defendeu o princípio da
igualdade efetiva e o direito ao saber do
cidadão, seja qual for sua profissão.
REVOLUÇÃO FRANCESA Inspirado em Platão, pretendia que aos
cinco anos de idade as crianças fossem
Avanços tão consideráveis na teoria educadas em acampamentos do Estado
e na prática da educação, como os que (caso de educação nacional). Cada grupo de
ocorreram no século XVIII, não poderiam cinqüenta crianças teria um professor que
deixar de ser transformados em norma seria auxiliado por alunos mais experientes.
jurídica. A educação proposta pela
Revolução Francesa deveria ser Se o homem é naturalmente bom,
transformada em direito de todos e dever do como queria Rousseau, não havia
Estado. necessidade de religião; a ciência basta para
formar o homem.
A convenção (Assembléia
extraordinária reunida durante a Revolução O Estado só ofereceria uniformes e
Francesa, de 1792 a 1795, com a finalidade alimentação, esta condicionada à execução
de modificar a Constituição e aprovar novas de tarefas diárias. Aos professores, um
leis de reorganização do país) elaborou salário fixo. As despesas com educação
vários decretos, expandindo pela França o seriam cobradas de todos os cidadãos,
ensino obrigatório, sem muito êxito. Desde incluindo maiores taxas para os mais ricos.
aquela época os planos de educacionais
pareciam mais avançados do que a prática.

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O Plano Nacional de Educação não
chegou a ser posto em prática. Seu autor foi
assassinado em 1793. Entretanto, suas DURKHEIM (1858-1917):
idéias inspiradas no liberalismo do século Nasceu na França, de uma família
XVIII tiveram notável influência nos
de rabinos. É mais conhecido como
sistemas nacionais de educação criados no sociólogo, mas também foi pedagogo e
século XIX.
filósofo.

Durkheim foi o sucessor de Comte


- PENSAMENTO PEDAGÓGICO na França. Pai do realismo sociológico,
POSITIVISTA: explica o social pelo social, como realidade
autônoma. Tratou em especial dos
problemas morais: o papel que
desempenham, como se formam e se
SPENCER (1820-1903): desenvolvem. Concluiu que a moral
Nasceu na Inglaterra. Estudou começa ao mesmo tempo que a vinculação
com o grupo. Ele via a educação como um
Matemática e Ciências, tornando-se
engenheiro. Porém, sempre mostrou esforço contínuo para preparar as crianças
predileção pelas Ciências Sociais e a elas para a vida em comum. Por isso, era
necessário impor a elas maneiras adequadas
dedicou-se. Foi o maior representante do
Positivismo, corrente filosófica fundada por de ver, sentir e agir, às quais elas não
chegariam espontaneamente. Para
August Comte, que teve suas repercussões
Durkheim, a sociologia determinaria os fins
na Pedagogia.
da educação. A Pedagogia e a Educação
Em sua principal obra “Educação não representavam mais do que um anexo
intelectual, moral e física”, Spencer ou um apêndice da sociedade e da
acentuou o valor utilitário da educação e sociologia; portanto, deveriam existir sem
mostrou que os conhecimentos mais autonomia. O objetivo da educação seria
importantes são os que servem para a apenas suscitar e desenvolver na criança
conservação e a melhora do indivíduo, da certos números de estados físicos,
família e da sociedade em geral. A intelectuais e morais exigidos pela
educação, para ele, consistia em obter sociedade política no conjunto e pelo meio
preparação completa do homem para a vida espacial a que ela particularmente se
inteira. Em geral, o objetivo da educação destina.
devia ser adquirir, do modo mais completo
possível, os conhecimentos que melhor
servissem para desenvolver a vida ALFRED NORTH WHITEHEAD (1861-
intelectual e social em todos os seus 1947):
aspectos. Os que menos contribuíssem para
esse desenvolvimento podiam ser tratados Filósofo, matemático e educador
superficialmente. inglês, foi professor em Cambridge e
Harvard. Colaborou com Berthand Russell
Spencer foi um dos maiores no monumental livro chamado “Principia
representantes da pedagogia individualista. mathematica”.
Para ele, a filosofia representava o Whitehead afirmava
conhecimento totalmente unificado de toda freqüentemente ser mais importante
a realidade.

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mostrar-se interessante do que estar sua vida, intensa atividade política,
efetivamente correto. A educação só nos elaborando a doutrina do socialismo.
tornava maçantes e desinteressantes,
quando não atingíamos os objetivos dela. A contribuição do socialismo para a
Insistia muito na imaginação como motor educação tem que ser considerada em dois
da educação e no novo espírito científico. níveis: o do esclarecimento e da
compreensão da totalidade social, de que a
Em seu livro “A ciência e o mundo educação é parte, incluindo as relações de
moderno” mostrou profundo interesse pelo determinação e influência que ela recebe da
progresso da ciência, concluindo que a estrutura econômica, e o específico das
ciência podia auxiliar o progresso da discussões de temas e problemas
educação. Segundo ele, nenhum aluno educacionais. Nenhum pensador
poderia terminar o segundo grau ou a influenciou tão profundamente as ciências
universidade sem dominar o método sociais contemporâneas como Marx.
científico e sem conhecer a história da
ciência. Para ele a educação do futuro
deveria nascer do sistema fabril,
Suas idéias pedagógicas, embora associando-se ao trabalho produtivo com a
tenham alcançado uma influência limitada escolaridade e a ginástica. Essa educação se
na teoria educacional, colocam-no entre os constituiria no método para produzir seres
maiores pensadores neopositivistas humanos integralmente desenvolvidos.
contemporâneos.
Devemos mudar a educação para
alterar a sociedade, ou a transformação
social é a primeira condição para a
- PENSAMENTO PEDAGÓGICO transformação educativa? Marx afirmou
SOCIALISTA: que uma dificuldade peculiar liga-se a esta
questão. De um lado, seria necessário
mudar as condições sociais para se criar um
KARL HEINRICH MARX (1818-1883): novo sistema de ensino; de outro, um novo
sistema de ensino transformaria as
Foi filósofo e economista alemão, condições sociais.
ideólogo do comunismo científico e
organizador do movimento do proletário Para Marx, a transformação
internacional. Nasceu em Treves, cidade educativa deveria ocorrer paralelamente à
situada hoje na Alemanha, em 5 de maio de revolução social. Para o desenvolvimento
1818. Era filho de um advogado judeu total do homem e a mudança das relações
convertido ao protestantismo. Cursou as sociais, a educação deveria acompanhar e
Universidades de Bonn e Berlim, onde acelerar esse movimento, mas não
estudou Direito, dedicando-se encarregar-se exclusivamente de
especialmente à História e à Filosofia. Em desencadeá-la, nem de fazê-la triunfar.
Berlim ingressou num grupo chamado
“hegeliano de esquerda”, que interpretava
as idéias de Hegel do ponto de vista VLADIMIR ILICH LÊNIN (1870-1924):
revolucionário.
Estadista russo foi fundador do
Não se limitando aos estudos comunismo bolchevista, do partido
teóricos, Marx desenvolveu, durante toda a comunista da URSS e do primeiro estado

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socialista do mundo. Líder da revolução de educacional comprometida com a
1917, grande estudioso do marxismo, construção da sociedade socialista, dentre
escreveu vários livros sobre o assunto. todas as produzidas pela tradição
Após a guerra civil na Rússia, dirigiu a revolucionária.
restauração da economia e orientou a
transição da política de guerra para a nova De origem ucraniana e operária,
política. A permanência de Lênin à testa do filho de ferroviário, em 1905 Makarenko
governo soviético foi extremamente curta. concluiu o curso de pedagogia na escola
Em 1923 uma doença forçou-o ao mais pública de Krementchug, passando a dar
absoluto repouso, e provocou sua morte no aulas em escolas populares até 1914.
ano seguinte.
Em 1917, quando aconteceu a
Atuou não apenas como importante Revolução Bolchevique, Makarenko
teórico político que, sob o ponto de vista da terminava um curso no Instituto Pedagógico
corrente ortodoxa do marxismo, completou de Poltava e dirigia uma escola de
as contribuições originais de Marx e ferroviários, desenvolvendo trabalhos
Engels. Foi também um organizador ativo, políticos e pedagógicos junto à
tendo participado da organização comunidade.
revolucionária que finalmente levou a
Chamado pelo Comissariado do
revolução de outubro de 1917, da qual foi o Povo para fundar, em 1920, uma colônia
maior líder.
correcional para inúmeros delinqüentes e
Lênin atribuiu grande importância à condenados, e menores abandonados
educação no processo de transformação deixados pela Primeira Guerra Mundial e
social. Como primeiro revolucionário a pela Guerra Civil (1918-1921), Makarenko
assumir o controle de um governo, pôde viu-se frente a frente com o desafio da
experimentar na prática a implantação das reeducação socialista. A partir desta prática
idéias socializadas na educação. o educador formulou sua teoria pedagógica,
Acreditando que esta deveria desempenhar abrangente e engajada. Ele próprio
importante papel na construção de uma descreveu detalhadamente no “Poema
nova sociedade, afirmava que mesmo a Pedagógico”, sua principal obra, as
educação burguesa que tanto criticava era experiências nesta instituição que se
melhor que a ignorância. A educação transformou numa escola concreta onde a
pública deveria ser eminentemente política prática diária, analisada a partir de suas
“nosso trabalho no terreno do ensino é a concepções socialistas, lhe ensinaria mais
mesma luta para derrotar a burguesia; que todas as teorias pedagógicas.
declaramos publicamente que a escola à
Algumas das qualidades do cidadão
margem da vida, à margem da política, é
soviético que Makarenko queria formar
falsidade e hipocrisia”. foram: - um profundo sentimento do dever
e da reponsabilidade para com os objetivos
da sociedade; - um espírito de colaboração,
ANTON SEMIONOVITCH solidariedade e camaradagem; - uma
MAKARENKO (1888-1939): personalidade disciplinada, com grande
domínio da vontade e com vistas aos
Considerado um dos maiores interesses coletivos; - algumas condições de
pedagogos soviéticos e um dos expoentes atuação que impedissem a submissão e a
da história e da educação socialista, criou a exploração do homem pelo homem; - uma
talvez mais elaborada e completa proposta

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sólida formação política; - uma grande trabalharem intelectual e manualmente
capacidade de conhecer os inimigos do numa organização educacional única ligada
povo. diretamente às instituições produtivas e
culturais.
Makarenko procurou moldar o
“novo homem”, que achava possível e Segundo ele, para neutralizar as
necessário, para a Rússia pós-revolução. De diferenças devidas à procedência social,
humanista a militarista, ele recebeu todos os deviam ser criados serviços pré-escolares.
títulos, mas sua polêmica tornou-se ponto
de referência dos educadores até hoje. A escola deveria ser única,
estabelecendo-se uma primeira fase com o
objetivo de formar uma cultura geral que
humanizasse o trabalho intelectual e
ANTONIO GRAMSCI (1891-1937): manual. Na fase seguinte, prevaleceria a
participação do adolescente, fomentando-se
Militante e comunista italiano, era
a criatividade, a autodisciplina e a
filho de camponeses. Aos vinte anos foi
para Turim e envolveu-se na luta dos autonomia. Depois viria a fase de
especialização. Nesse processo, tornava-se
trabalhadores. Em 1921 ajudou a fundar o
Partido Comunista Italiano e se destacou na fundamental o papel do professor que
deveria prepara-se para ser dirigente e
oposição a Mussolini. Preso em 8 de
intelectual.
novembro de 1926, produziu na cadeia mais
de três mil páginas nas quais, obrigado pela Para Gramsci, o desenvolvimento
censura carcerária, teve de inventar termos do Estado comunista se ligava intimamente
novos para camuflar conceitos que podiam ao papel da escola comunista: a jovem
parecer revolucionários demais aos olhos geração se educaria na prática da disciplina
dos sensores. social, para que a realidade comunista se
tornasse um fato.
Gramsci morreu jovem, aos 46
anos, passando seus últimos 10 anos na
cadeia em regime de detenção em hospitais.
Ligeiramente corcunda, desde criança - PENSAMENTO PEDAGÓGICO DA
sofreu terríveis males físicos e nervosos. As ESCOLA NOVA:
condições carcerárias, as doenças e a
solidão o levaram à morte precoce. A
repressão fascista o impediu de prosseguir a
JOHN DEWEY (1859-1952)
ação política. Separado da mulher e dos
filhos, que viviam na URSS, sofreu de Filósofo, psicólogo e pedagogo
inúmeras crises de melancolia. O Partido liberal norte-americano, exerceu grande
Comunista virou-lhe as costas. Mas, apesar influência sobre toda pedagogia
das condições adversas, penetrou a contemporânea. Ele foi defensor da Escola
realidade com sua realidade e construiu um Ativa, que propunha a aprendizagem
conjunto de princípios originais, através da atividade pessoal do aluno. Sua
ultrapassando na linha de pensamento filosofia da educação foi determinante para
marxista as fronteiras até então fixadas por que a Escola Nova se propagasse por todo o
Marx, Engels e Lênin. mundo.

O princípio educacional que mais Dewey praticou uma crítica


prezou foi a capacidade de as pessoas contundente à obediência e submissão até

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então cultivadas nas escolas. Ele as Em síntese: ela propunha despertar
considerava verdadeiros obstáculos à a atividade infantil através do estímulo e
educação. Através dos princípios da promover autoeducação da criança,
iniciativa, originalidade e cooperação, colocando meios adequados de trabalho à
pretendia liberar as potencialidades do sua disposição. O educador, portanto, não
indivíduo rumo a uma ordem social que, em atuaria diretamente sobre a criança, mas
vez de ser mudada deveria ser ofereceria meios para a sua autoformação.
constantemente aperfeiçoada. Assim, Maria Montessori sustentava que só a
traduzia para o campo da educação o criança é educadora da sua personalidade.
liberalismo político-econômico dos Estados
Unidos. Seu método empregava um
abundante material didático (cubos,
Embora vários aspectos da teoria de prismas, sólidos, bastidores para enlaçar
Dewey sejam similares à pedagogia do caixas, cartões, etc), destinado a
trabalho, seu discurso apresentava-se desenvolver a atividade dos sentidos. Esse
bastante genérico, não questionando as material tem o caráter peculiar de ser
raízes das desigualdades sociais. Dewey autocorretor.
privilegiava o aspecto psicológico da
educação, em prejuízo da análise da Maria Montessori morreu na
organização capitalista da sociedade, como Holanda. Sua didática influenciou o ensino
fator essencial para a determinação da pré-escolar em vários países do mundo.
estrutura educacional. A teoria pedagógica montessoriana
Apesar de suas posições político- é divulgada pela Association Montessori
ideológicas, Dewey construiu idéias de Internationale, sediada em Amsterdan, na
caráter progressista, como o autogoverno Holanda, que realiza anualmente
dos estudantes, a discussão sobre a congressos internacionais e organiza
legitimidade do poder político, além da centros de treinamentos Montessori em
defesa da escola pública e ativa. diversos países para a formação de
professores especializados no método da
Principais obras: Vida e Educação, pedagoga italiana.
Democracia e educação, Escola e Sociedade
e Experiência e educação. Principais obras: Pedagogia
Científica; A criança e etapas da educação .

MARIA MONTESSORI (1870-1952)


ÉDOUARD CLAPARÈDE (1873-1940)
Nascida na Itália, chegou à
Pedagogia por caminhos indiretos. Primeira Psicólogo e pedagogo suíço,
mulher de seu país a doutorar-se em influenciou decididamente os modernos
medicina, seus múltiplos interesses conceitos de educação, exercendo papel
levaram-na a estudos diversos. Dedicou-se pioneiro no movimento renovador de escala
inicialmente às crianças deficientes, depois contemporânea. Claparède repetiu na
às crianças ”normais”. Em 1909 ela Europa a atuação de John Dewey; ambos,
publicou os princípios básicos de seu no cenário educacional da primeira metade
método. deste século, foram os maiores expoentes
da Pedagogia da Ação.

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
Iniciou em 1901 a publicação dos Principais obras: Arquivos de
“Arquivos de psicologia”. Ali, sua Psicologia (1901), A escala sob medida
conceituação de “interesse”, marcadamente (1921), A educação funcional (1931) e
biológica, começou a acentua-se. A síntese Como diagnosticar as aptidões nos
de seu trabalho de psicologia da escolares (1933).
Universidade de Genebra e no seminário de
Psicologia pedagógica foi apresentada no
livro “Psicologia da criança e Pedagogia
JEAN PIAGET (1896-1980)
experimental”. Em 1912, Claparède fundou
o Instituto de Ciências Educativas de Jean- Psicólogo suíço, ganhou renome
Jacques Rosseau, em Genebra, que se mundial com seus estudos sobre os
tornaria famoso mais tarde graças à obra do processos de construção do pensamento nas
psicólogo Jean Piaget. crianças. Ele e seus colaboradores
publicaram mais de 30 volumes a esse
Para Claparède, a pedagogia devia
respeito.
basear-se no estudo da criança, assim com a
horticultura se baseia no conhecimento das Piaget recebeu o grau de doutor em
plantas. Fundamentando se pensamento em ciências naturais em 1918. A partir de 1921
Rousseau, ele dizia que infância é um passou a estudar psicologia da criança no
conjunto de possibilidades criativas que não Instituto Jean-Jacques Rousseau, em
deve ser abafada. Todo ser humano tem Genebra. Tornou-se professor de psicologia
necessidade vital de saber, de pesquisar, de na Universidade de Genebra e em 1955
trabalhar. Essas necessidades se manifestam fundou o Centro de Estudos de
nas brincadeiras, que não são apenas uma Epistemologia Genética.
diversão, mas um verdadeiro trabalho. A
criança leva muito a sério porque representa Piaget divide os períodos de
um desafio. Claparède chegou a elaborar desenvolvimento humano de acordo com o
uma verdadeira teoria do brinquedo. aparecimento de novas qualidades do
pensamento, o que por sua vez interfere no
Segundo o pedagogo suíço, a desenvolvimento global: 1-sensório-motor
educação deveria ter como eixo a ação e (0 a 2 anos); 2- pré-operatório(?): (2 a 7
não apenas a instrução pela qual a pessoa anos), a criança desenvolve certas
recebe passivamente os conhecimentos. habilidades, como a linguagem e o desenho;
Claparède criou então um método, 3- operações concretas (7 a 11 ou 12 anos),
denominado educação funcional, que a criança começa a pensar criticamente; 4-
procurava desenvolver as aptidões operações formais: (11 ou 12 anos em
individuais e encaminhá-las para o interesse diante), quando a criança começa a lidar
comum, dentro de um conceito democrático com abstrações e racionar acerca do futuro.
de vida social. Nenhuma sociedade,
lembrava ele, progrediu devido à redução Segundo Piaget, cada período é
das pessoas a um tipo único, mas sim caracterizado por aquilo de melhor o
devido a diferenciação. indivíduo consegue fazer nessas faixas
etárias. Todos os indivíduos passam por
Éduard Claparède nasceu e morreu essas fases ou períodos, nessa seqüência,
em Genebra. Ali formou-se em medicina, porém o início e o término de cada uma
ocupando depois a cátedra de Psicologia na delas dependem das características
universidade local. Também estudou em biológicas do indivíduo e de fatores
Paris e Leipzig. educacionais, sociais. Portanto, a divisão

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
nessas faixas etárias é uma referência, e não
uma norma rígida.
JANUSZ KORCZAK (1878-1942)
A crítica de Piaget à escola
tradicional é ácida. Segundo ele, os O nome real era Henryk Goldszmit,
sistemas educacionais objetivam mais era um judeu polonês, nascido em Varsóvia
acomodar a criança aos conhecimentos em uma família patriota, apaixonada pela
tradicionais que formar inteligências língua e pela cultura polonesa. Ele foi
inventivas e críticas. pouco praticante da religião, mas não
renegou o judaísmo. Consagrou sua vida à
luta e pela justiça e pelos direitos da
criança. Dedicou-se de corpo e alma ao
- PENSAMENTO PEDAGÓGICO orfanato da Rua Krochmalna 92, em
FENOMENOLÓGICO- Varsóvia, do qual foi diretor, médico e
EXISTENCIALISTA: professor.

O jornal popular “Nasz Przeglond”


(“Nosso Jornal”), em 1906, convidou-o
MARTIN BUBER (1978-1966)
para preparar uma edição infantil. Korczak
Nascido em Viena e falecido em criou então o jornalzinho “Maly Przeglond”
Jerusalém, é considerado o mais importante (“Pequena Revista”), na qual só crianças
filósofo da religião do nosso tempo. escreviam para crianças.
Mediador entre o judaísmo e o cristianismo,
foi um dos mais notáveis representantes Ainda estudante iniciou sua obra
contemporâneos do existencialismo. literária e continuou a escrever até o trágico
final de sua vida. Seus livros são para e
Pensador liberal, produziu obras que
representam uma extraordinária sobre a criança. E sua práxis pedagógico-
educacional deu início a uma revisão de
contribuição para a reconciliação entre
métodos, estrutura da escola, relação
religiões, povos e raças.
professor-aluno e pais-filhos.
Sobre sua concepção pedagógica
destacam-se três pontos principais. O ponto Janusz Korczak tornou-se mito, por
de partida representa o encontro direto entre sua dedicação às crianças. Em 1942, os
nazistas ocupantes da Polônia, lhe
os homens, o relacionamento entre eles, o
diálogo entre ‘eu e tu’. Segundo ele, a ordenaram que conduzisse seus pequenos
para a morte, prometendo-lhe um salvo
educação é exclusivamente de Deus, apesar
conduto após a “tarefa”. Ele recusou,
de seu discurso humanístico sobre o
educador como ‘formador’ ou sobre a amparado nos braços de dois meninos,
acompanhou seus duzentos “filhos” até as
‘forças criativas das crianças’. Finalmente,
para o pensador, a liberdade, no sentido de câmaras de gás do campo de extermínio
Treblinka, onde todos morreram.
independência, é sem dúvida um bem
valioso. Mas não é o mais elevado. Quem a Principais obras: Quando eu voltar
considera como valor supremo, sobretudo a ser criança; Como amar uma criança e O
com objetivos educacionais, perverte-a e a direito da criança ao respeito.
transforma em droga que, com a ausência
de compromisso, gera a solidão.

Principais obras: A vida em GEORGES GUSDORF (1912)


diálogo; Eu e Tu.

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
Filósofo francês, nasceu em CLAUDE PANTILLON (1938-1980)
Bordeaux. De 1852 até 1977 foi professor
da Universidade de Estrasburgo. Combateu Nasceu na Suíça, em 1938. Depois
o regime nazista e foi prisioneiro de guerra de ter concluído seu bacharelado na
entre 1940-1945. No campo de Sorbonne (1956), prosseguiu seus estudos
concentração organizou uma universidade em Paris, onde teve a chance de
com um pequeno grupo de intelectuais; acompanhar os grandes mestres do
nesse período também escreveu o livro “A momento: Piaget, Deleuze, Gaston e
descoberta de si mesmo”. Foi ainda na Suzanne Bachelard e Ricouer.
prisão que elaborou sua tese, defendida em
Licenciou-se em psicologia,
1948, sobre a “experiência humana do
filosofia e sociologia, sob a orientação de
sacrifício”. Paul Ricouer. Desde 1961, instalou-se em
A principal obra educativa de Genebra, onde repartiu seu tempo entre o
Gusdorf, “Professores, para quê?”, foi magistério na universidade e o centro de
escrita em 1963. Nesse livro, ele se epistemologia genética.
pergunta se ainda há lugar para o professor Em 1974, criou o Centro de
em plena era da televisão e dos meios
Filosofia da Educação, com o seu assistente
modernos de comunicação.
Moacir Gadotti, antes de tudo, lugar de
Diante de uma instrução de massa, encontros, de abertura, de reflexões
ele terminava por reafirmar a relação fundamentais sobre educação e novos
cotidiana e bipolar de pessoa a pessoa entre questionamentos. Pantillon dirigiu, com seu
mestres e discípulos. Para ele, todos os entusiasmo e sua energia, o Centro até a sua
meios pedagógicos não produziram a morte em 7 de fevereiro de 1980.
comunicação, se entre professor e aluno não
Principais obras: Une philosophi de
existir a igualdade de condições e l’éducation. Pour que faire?; Changer
reciprocidade que caracterizam o diálogo. l’éducation.
Mestres e discípulos estão sempre em busca
da verdade, e é desta relação com a verdade
que nasce a autoridade do mestre: denuncia
as universidades modernas porque se - PENSAMENTO PEDAGÓGICO
perdem na preocupação quantitativa da ANTIAUTORITÁRIO:
eficiência e especialização.

De acordo com o filósofo, a


CÉLESTIN FREINET (1896-1966)
pedagogia fundamenta-se na antropologia:
o homem precisa da educação porque ele é Nasceu na França e foi um dos
essencialmente inacabado. Gusdorf valoriza educadores que mais marcou a escola
na antropologia o estudo do mito e da fundamental de seu país neste século.
linguagem: o homem se diferencia do Atualmente, suas idéias são estudadas em
animal porque fala. várias partes do mundo, da pré-escola à
universidade.
Principais obras: A palavra; A
universidade em questão e Professores, para Freinet lutou na Primeira Guerra
quê?. Mundial e foi ferido na altura do pulmão, o
que lhe trouxe sérias conseqüências. Falava
baixo e cansava-se logo. Esse problema

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
levou-o a buscar novos modos de se Para Rogers o aconselhamento tem
relacionar com os alunos e de conduzir o como finalidade a eliminação da
trabalho na escola. Ele afirmava a inconsciência entre o autoconceito e a
existência de uma dependência da escola e experiência pessoal – raiz das dificuldades
o meio social, de forma a concluir que não psicológicas do ser humano. Isso facilita o
existe uma educação ideal, só uma amadurecimento emocional, a aquisição da
educação de classes. Daí sua opção pela autonomia e as possibilidades de auto-
classe trabalhadora e a necessidade de realização. O desempenho do conselheiro
tentar uma experiência renovadora do consistiria então na aceitação autêntica e na
ensino. clarificação das vivências emocionais
expressas pelo cliente. Logo, ele deve criar
Em seu livro “Educação pelo no curso da entrevista uma atmosfera
trabalho”, sua principal obra, Freinet propícia para que o próprio cliente escolha
apresentou um confronto entre a escola os seus objetivos. O uso dos testes
tradicional e a escola proposta por ele, onde psicológicos e a elaboração de diagnóstico
o trabalho tinha posição central, como se tornariam irrelevantes. Rogers também
metodologia. transporia para a educação a sua concepção
terapêutica.

CARL RANSOM ROGERS (1902-1987) Principais obras: Tornar-se pessoa e


De Pessoa a Pessoa.
Psicólogo norte-americano,
formou-se na universidade de Columbia
(New York), onde especializou-se em MICHEL LOBROT
problemas infantis. De 1935 a 1940, Rogers
lecionou na universidade de Rochester; Pedagogo francês, discípulo de
baseado em sua experiência escreveu “O Celestin Freinet, influenciado pelas teorias
Tratamento Clínico da Criança Problema”. psicanalíticas de Freud, lecionou em
Já então considerava desejável que o Vicennes e na Universidade de Genebra.
próprio cliente dirigisse o processo Lobrot propunha a “autogestão política”,
terapêutico. terapêutica social e, como diz o título de um
de seus livros, uma “Pedagogia
Essa abordagem revolucionária e institucional” para modificar as instituições
polêmica foi desenvolvida no livro pedagógicas existentes. Esta atitude
“Aconselhamento e Psicoterapia” (1942). permitiria alterar as mentalidades,
Como professor de psicologia na tornando-as abertas e autônomas para, a
universidade de Chicago, pôs em prática seguir, modificar as instituições da
suas idéias, cujo resultados foram avaliados sociedade. Assim, a pedagogia institucional
no livro “Psicoterapia e Alteração na proposta por Lobrot tem um objetivo
personalidade” (1945). Finalmente, em político claro, na medida em que entende
“Terapia Centrada no Cliente” (1951), Carl autogestão pedagógica como preparação
Rogers fez uma exposição geral do seu para autogestão política.
método não-diretivo, bem como suas
aplicações à educação e a outros campos. Ao colocar o problema da
De 1962 até a sua morte, atuou no Centro autoridade na educação, as relações entre a
para Estudos da Pessoa, em La Jolla (EUA). liberdade e a coerção, Lobrot acredita que
apenas a escola pode tornar as pessoas
menos dependentes. Seu objetivo é

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
desencadear, a partir de um grupo professor Principais obras: A Pedagogia
– aluno e no perímetro da sala de aula, um Institucional e A favor ou contra da
processo de transformação da instituição autoridade?
escolar, e daí um processo de transformação
da própria sociedade.

Para Michel Lobrot, o professor é - PENSAMENTO PEDAGÓGICO


um consultor a serviço do grupo sob CRÍTICO:
questões de método, organização ou
conteúdo: o professor renuncia ao exercício
de sua autoridade, ao poder, à palavra, e se BOURDIEU E PASSERON (1930)
limita a oferecer seus serviços, sua
capacidade aos melhores do grupo. Sua Sociologo francês, Bordieu
intervenção se situa em três níveis: lecionou na “escola prática de altos
estudos”, em Paris. Além de seus trabalhos
Como monitor do grupo de sobre etnologia e de suas investigações
diagnóstico; ajuda ao grupo a desenvolver- teóricas sobre sociologia, Bourdieu dirigiu,
se como tal; auxilia o desenvolvimento de com Jean-Claude Passeron, o Centro de
um clima grupal em que seja possível Sociologia Européia, que pesquisa os
aprender; auxilia a superar os obstáculos problemas da educação e da cultura na
para aprender que estão enraizados no sociedade contemporânea.
indivíduo e na situação grupal; ajuda o
coletivo a descobrir e utilizar os diferentes O ponto de partida para a sua
métodos de pesquisa, ação, observação e análise é a relação entre o sistema de ensino
feedback. e o sistema social. Para Bourdieu, a origem
social marca de maneira inevitável e
Como técnico de organização. irreversível a carreira escolar e, depois,
profissional, dos indivíduos. Essa origem
Como pesquisador ou sábio que
social produz primeiro o fenômeno de
possui conhecimento e tem a capacidade de seleção: as simples estatísticas de
comunicá-lo.
possibilidades de ascender ao ensino
A tarefa do professor seria as forças superior, segundo a categoria social de
instituintes do grupo; essa forças origem, mostra que o sistema escolar
construiriam novas instituições (ou contra- elimina de maneira contínua uma forte
instituições, conforme Lapassade), que proporção das crianças saídas das classes
funcionaria como analisadores, revelando populares.
os elementos ocultos do sistema No entanto, segundo os
institucional.
pesquisadores franceses, é um erro explicar
Outros pedagogos desenvolveram a o sucesso e o fracasso escolar apenas pela
pedagogia institucional. Entre eles, Fernand origem social. Existem outras causas que
Oury e Aida Vasquez, de orientação eles designam pela expressão “herança
freudiana. Eles se apoiavam mais nas cultural”. Entre as vantagens que os
técnicas de Freinet do que na não- “herdeiros” possuem, deve-se mencionar o
diretividade rogeriana, preferida por maior ou o menor domínio da linguagem. A
Lobrot. seleção intervêm quando a linguagem
escolar é insuficiente para o
“aproveitamento” do aluno. E este

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
fenômeno atinge prioritariamente as divisão, da segregação e do antagonismo
crianças de origem social mais baixa. As que condicionam os resultados finais do
que têm êxito são as que resistiram por aluno, os conteúdos e as práticas escolares.
diversas razões, à laminagem progressiva É a divisão social do trabalho a responsável
da seleção. Mantendo-se no sistema de pelo insucesso em massa da imensa maioria
ensino, elas provam ter adquirido um que inicia a escolaridade e não consegue
domínio da linguagem ao menos igual ao prosseguir. A escola, o aluno, o professor
dos estudantes saídas das classes não são os responsáveis, os réus, mas as
superiores. vítimas.

Finalmente, para Bourdieu e Por isso, não se pode compreender


Passeron, a cultura das classes superiores a escola se não for relacionada com a
estaria tão próxima da cultura da escola que divisão da sociedade. É impossível ignorar
a criança originária de um meio social que a escola está dividida.
inferior não poderia adquirir senão a
formação cultural que é dada aos filhos da Principal obra: A escola capitalista
classe culta. Portanto, para uns, a na França.
aprendizagem da cultura escolar é uma
conquista duramente obtida; para outro, é
uma herança “normal”, que inclui a HENRY GIROUX
reprodução das normas. O caminho a
percorrer é diferente, conforme a classe de Foi professor secundário, doutorou-
origem. se no Carnegie-Mellon Institute (EUA) e
lecionou na universidade de Boston e na
Principais obras dos autores: Les Miame University (Ohio).
Héritiers, les étudiants et la culture; A
reprodução; elementos para uma teoria do Definindo-se como socialista
sistema de ensino. democrático, Giroux se dedicou da
sociologia da educação, da cultura, da
alfabetização e da teoria do currículo.

BAUDELOT E ESTABLET Em seu livro “Teoria crítica e


resitência em educação” Giroux propôs
Christian Baudelot e Roger Establet
uma visão “radical” da educação, inspirada
são professores de sociologia da educação na escola de Frankfurt, integrando e
na França. Eles demonstraram que a
superando as posições neomarxistas da
chamada “escola única” não pode ser
teoria de reprodução de Althusser,
“única” numa sociedade de classes. A Bourdieu, Passeron, Samuel Bowles e
cultura aí transmitida e elaborada não é uma
Herbert Gintis. Incorporou as idéias de
só. Tudo o que se passa na escola é Gramsci numa síntese de todas essas
atravessado pela divisão na sociedade. A
posições, focalizando o conceito de
escola não é uma ilha de pureza e harmonia
resistência. O aspecto mais marcante de
num mundo em conflito. Os fins da Giroux parece ser o tratamento dialético
educação não são apenas diferentes, mas
dos dualismos entre a ação humana e
opostos e antagônicos.
estrutura, conteúdo e experiência,
Esses autores tiveram o mérito de dominação e resistência. A escola é
nos desvendar a ilusão da unidade da analisada como um local de dominação e
escola. Eles desenvolveram os temas da reprodução, mas que ao mesmo tempo

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
permite às classes oprimidas um espaço de Membro de diversas associações
resistência. científicas, brasileiras e estrangeiras,
Fernando de Azevedo atuou como
Giroux apresenta seu trabalho como especialista da Unesco para a Educação na
uma visão de esperança e de possibilidades América Latina. Em 1967 foi eleito
ao invés do desespero comumente membro da academia brasileira de letras.
apresentado pelos autores de esquerda.
Inclinado inicialmente para os
Outras obras do autor: Critical estudos clássicos, firmou depois sua
pedagogy, the state, and cultural Stingle reputação como sociólogo e educador,
(1989), em co-autoria com Peter Mclaren; especialmente a partir da reforma do
Postmodern Education: politics, culture and sistema escolar do Rio de Janeiro.
Social criticism (1991), em co-autoria com
Stanley Aronowitz. Principais obras: A educação
pública em São Paulo; A educação e seus
problemas; Cultura brasileira e A educação
POR ÚLTIMO, MAS NÃO MENOS entre dois mundos.
IMPORTANTE, O PENSAMENTO
PEDAGÓGICO BRASILEIRO, QUE
SERÁ ASSIM DIVIDIDO: MANOEL BERGSTROM LOURENÇO
PENSAMENTO PEDAGÓGICO FILHO (1897-1970)
LIBERAL: Fernando Azevedo, Lourenço
Filho, Anísio Teixeira e Roque Spencer Nasceu em São Paulo e faleceu no
Maciel de Barros; PENSAMENTO Rio de Janeiro.
PEDAGÓGICO PROGRESSISTA:
Em 1922, comissionado diretor da
Paschoal Lemme, Álvaro Vieira Pinto, Instituição Pública, realizou uma reforma
Paulo Freire, Rubem Alves, Maurício
geral no ensino, por solicitação do governo
Tragtenberg e Dermerval Saviane.
do Ceará, considerada um dos movimentos
pioneiros da Escola Nova no país.

- PENSAMENTO PEDAGÓGICO Em 1927 fundou o Liceu Nacional


LIBERAL: Rio Branco, onde organizou e dirigiu a
escola experimental, participou da fundação
da Sociedade de Educação e do Instituto de
Organização Racional do Trabalho. Em
FERNANDO DE AZEVEDO 1938 foi convidado pelo ministro Gustavo
Educador, sociólogo e humanista Capanema para organizar e dirigir o INEP.
brasileiro. Nasceu em São Gonçalo do Em 1940, publicou o livro “Tendências da
Sapucaí, em Minas Gerais, e faleceu em educação brasileira”. Em 1941, presidiu a
São Paulo. Foi professor de sociologia na Comissão Nacional do Ensino Primário,
Universidade de São Paulo, de cuja organizou e secretariou a I Conferência
Nacional de Educação. Em 1944, fundou no
faculdade de filosofia foi o diretor. Como
diretor do Departamento de Educação do INEP a “Revista Brasileira de Estudos
Estado de São Paulo promoveu várias Pedagógicos”. Em 1947, ocupou pela
segunda vez a direção do Departamento
reformas pedagógicas.
Nacional de Educação; organizou e dirigiu
a campanha nacional de educação de

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
adultos, primeiro movimento de educação sistema de educação global do primário à
popular de iniciativa do governo federal. universidade. Foi ainda membro do
Em 1948, presidiu a comissão designada Conselho Federal de Educação, reitor da
para elaborar o anteprojeto de Lei de universidade de Brasília e recebeu o título
Diretrizes e Bases da Educação Nacional. de professor emérito da Universidade
Federal do Rio de Janeiro. Morreu no Rio
Traço importante do pensamento e de Janeiro.
da ação de Lourenço Filho é o da inovação.
Muitas vezes, foi pioneiro (assinou, Principais obras: Educação Pública:
inclusive, o Manifesto dos Pioneiros da organização e administração(1935),
Educação Nova, em 1932) e Educação não é privilégio (1956),
destacadamente um reformador ou Educação é um direito (1967) e Pequena
modernizador. introdução à filosofia da educação (8.ed.
em 1978).
Em seu pensamento, desde os anos
20, o ensino primário foi preocupação
central.
ROQUE SPENCER MACIEL DE
Entre suas obras, destacamos: BARROS (1927)
Introdução ao Estudo da Escola Nova
(1929), Tendências da Educação brasileira Nascido no interior de São Paulo,
(1940) e Organização e administração onde fez estudos primários e secundários.
escolar (1963). Cursou filosofia na Universidade de São
Paulo. Nessa instituição passou sua vida
profissional como professor na área de
história e filosofia da educação, até
ANÍSIO TEIXEIRA (1900-1971) aposentar-se em 1984.
Além de professor, escreve para o
As idéias de Anísio Teixeira
jornal O Estado de São Paulo, com o qual
influenciaram todos os setores de educação
no Brasil e mesmo o sistema educacional da se liga e se identifica profundamente. Foi
chefe do Departamento de Educação,
América Latina. Entre outras contribuições
pode-se citar o Centro Educacional diretor da Faculdade de Educação, membro
do conselho universitário. Participou da
Carneiro Ribeiro, em Salvador (BA),
reforma da USP e da reforma universitária,
primeira experiência no Brasil de promover
a educação cultural e profissional de jovens. ambas em 1968. Participou ativamente da
Campanha em Defesa da Escola Pública,
Anísio Teixeira nasceu em Caieté em 1959. Roque Spencer é pessimista em
(BA). Foi inspetor-geral de ensino e diretor- relação à educação brasileira. Tem afirmado
geral da Instrução Pública da Secretaria do que a decadência qualitativa do ensino, a
Interior, Justiça e Instrução Pública da falta de educação dos estudantes, a
Bahia. mediocridade e os movimentos grevistas o
levaram a aposentar-se cedo.
Esteve nos EUA pesquisando sobre
a educação desse país e formou-se em Afirma-se com satisfação como um
educação na Universidade de Colúmbia, liberal; seu liberalismo é, sobretudo, um
tornando-se discípulo e amigo do filósofo e compromisso de coerência consigo mesmo,
educador norte-americano John Dewey. Em isto é, com um pensamento filosófico que
1935 tornou-se secretário da Educação e não se propõe a ser uma possível solução
Cultura do Distrito Federal, lançando um política para o futuro, nem uma resposta

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
aos problemas concretos da sociedade em governo, propondo uma reestruturação do
que vivemos. ensino no país.

Para ele, o liberalismo não se Defendeu na Assembléia


preocupa com os problemas, uma vez que Constituinte de 1933-34 as idéias liberais e
se propõe uma sociedade em que os democráticas que procuraram assegurar ao
problemas de sobrevivência já estejam cidadão a educação como um dever do
resolvidos para todos. Para Roque Spencer, Estado, acessível e igualitária para todos,
a defesa do liberalismo se resume, em oposição à facção católica que
fundamentalmente, no ataque ao procurava designar a escolha da educação à
consumismo. família.

O grande amor que Roque Spencer Com ele podemos dizer que se
tem pelo conhecimento fez dele um inicia o que chamamos de Pensamentos
excelente acadêmico, culto, erudito, autor pedagógicos progressistas, embora autores
de vários livros. No entanto, ao discorrer como Antonio Candido citem também
sobre os problemas sociais tais como o como iniciadores dos ideais progressistas na
analfabetismo, o desemprego, a miséria, educação Fernando de Azevedo e Anísio
encontra explicações e apresenta soluções Teixeira, que tiveram grande influência
que não ultrapassam o senso comum. sobre Paschoal Lemme.

Principais obras: Diretrizes e Bases A tese central de suas obras é que


da educação Nacional e A ilustração não há educação democrática a não ser em
brasileira e a idéia de universidade (1986). uma sociedade verdadeiramente
democrática.

Principais obras: A educação na


- PENSAMENTO PEDAGÓGICO URSS (1956); Problemas brasileiros de
PROGRESSISTA: educação (1959); Educação democrática e
progressista (1961); Memórias (1938, em
três volumes).
PASCHOAL LEMME

Nasceu no Rio de Janeiro.


Colaborou em 1927 e 1930 na
administração de Fernando Azevedo no Rio ÁLVARO VIEIRA PINTO (1909-1987):
de Janeiro, no projeto educacional da
cidade. Entre 1931 e 1935 trabalhou Nascido no Rio de Janeiro, formou-
também com Anísio Teixeira e Lourenço se em Medicina e foi autodidata no campo
Filho na direção da Instrução Pública no da filosofia. Foi exilado em 1964. Viveu no
mesmo Estado. Iugoslávia e depois no Chile, onde
trabalhou com Paulo Freire, fazendo
Em 1932, já então no Conselho conferências organizadas pelo Ministério da
Diretor da ABE (Associação Brasileira de Educação.
Educação), juntamente com outros
educadores e intelectuais lança o Manifesto O pensamento pedagógico de
dos Pioneiros da educação nova – um Vieira Pinto supõe que a educação implica
projeto de educação dirigido ao povo e ao na modificação de personalidade e é por
isso que é tão difícil aprender. Ela modifica

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
a personalidade do educador, ao mesmo Na Suíça, com um grupo de
tempo que vai modificando a do aluno, e exilados, fundou e manteve o IDAC
ainda que a educação reflita a totalidade (Instituto de Ação Cultural), assessorando
cultural que a condiciona, é também um governos de vários países em programas
processo autogerador de cultura. educacionais, como a Nicarágua, São Tomé
e Príncipe e Guiné-Bissau. De 72 a 74
Vieira Pinto morreu aos 78 anos, lecionou na Universidade de Genebra.
deixando uma herança de inúmeras obras.
De 70 a 79, quando voltou do
Principais obras: Consciência e exílio, trabalhou no Conselho Mundial de
realidade nacional; Ideologia e Igrejas, sediado na Genebra (Suíça), e
desenvolvimento nacional; A questão da lecionou na Universidade Católica de São
Universidade; Sete lições sobre educação Paulo.
de adultos (1982); Ciência e existência.
Em 1980 recebeu o prêmio Rei
Bauduíno da Bélgica e, em 1986, o Prêmio
PAULO FREIRE (1921-1990): Educação para a Paz da Unesco.

Nasceu em Recife, no estado de Foi Secretário de Educação


Pernambuco, foi professor de português de Municipal de São Paulo (1989-1991). Em
1998, assessorou programas de pós-
41-47, quando se formou em Direito na
Universidade do Recife, sem, no entanto, graduação na Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo e na Universidade
seguir carreira. Entre 47 e 56 foi assistente
Estadual de Campinas.
e depois diretor do Departamento de
Educação e Cultura do SESI/PE, onde Toda a sua obra é voltada para uma
desenvolveu suas primeiras experiências teoria do conhecimento aplicada à
com educação de trabalhadores e seu educação, sustentada por uma concepção
método que ganhou forma em 1961 com o dialética onde educador e educando
Movimento de Cultura Popular de Recife. aprendem juntos numa relação dinâmica na
Entre 57 e 63 lecionou história e filosofia qual a prática, orientada pela teoria,
da educação em cursos da Universidade do reorienta essa teoria, num constante
Recife. Em 1963 presidiu a Comissão processo de constante aperfeiçoamento.
Nacional de Cultura Popular e coordenou o
Plano Nacional de Alfabetização de Paulo Freire foi considerado um
Adultos, a convite do Ministério da dos maiores educadores, marcando o
Educação, em Brasília, no Governo de João pensamento pedagógico do século XX. Sua
Goulart. Foi a época do MEP (Movimento principal obra, “Pedagogia do Oprimido”,
de Educação Popular). Como diretor do foi até hoje traduzida em mais de 18
Serviço de Extensão Cultural da línguas. Destacamos:
Universidade do Recife desenvolveu um
extenso programa de educação de adultos. Sua contribuição à teoria dialética
do conhecimento, para a qual a melhor
Em 1964 a ditadura militar obrigou- maneira de refletir é pensar a prática e
o a 15 anos de exílio. Foi para o Chile onde, retornar a ela para transformá-la. Portanto,
até 1969, assessorou o governo democrata- pensar o concreto, a realidade, e não pensar
cristão de Eduardo Frei em programa de pensamentos;
educação popular.

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
A categoria pedagógica da “Conversas com quem gosta de ensinar” e
“conscientização”, criada por ele, visando, “Estórias de quem gosta de ensinar”.
através da educação, a formação da Atualmente, além de exercer a profissão de
autonomia intelectual do cidadão para psicanalista, escreve contos para crianças.
intervir sobre a realidade. Por isso, para ele, Para Rubem Alves “é preciso reaprender a
a educação não é neutra. É sempre um ato linguagem do amor, das coisas belas e das
político. coisas boas, para que o corpo se levante e
se disponha a lutar”.
Principais obras: Educação como
prática da Liberdade (1967), Pedagogia do
Oprimido (1970), Ação cultural para a
liberdade (1975), Extensão ou comunicação MAURÍCIO TRAGTENBERG:
(1971), Educação e mudança (1979), A
Um dos poucos pensadores
Importância do ato de ler (1983), A anarquistas atuais preocupados com a
Educação na Cidade (1991), Pedagogia da
escola, Maurício Tragtenberg representa
Esperança (1992).
hoje uma importante corrente de
pensamento e ação político-pedagógica,
cujas raízes estão em Bakunin, Kropotkin,
RUBEM ALVES (1933): Malatesta e Lobrot.

Nasceu em Minas Gerais. A O pensamento de Tragtenberg na


falência do seu pai o levou para o Rio de educação mostra os limites da escola como
Janeiro e sua solidão nesta cidade o fez instituição disciplinadora e burocrática e as
religioso e amante da música. Quis ser possibilidades da autogestão pedagógica
médico, pianista e teólogo. Passou por um como iniciação à autogestão social. A
seminário protestante, foi pastor em Lavras burocracia escolar é poder, repressão e
(MG). Fez mestrado em Nova Iorque controle. Critica tanto países capitalistas
(1962-1963) e sua volta ao Brasil em 64 o quanto socialista que desencantaram a
fez acreditar que seria melhor continuar beleza e a riqueza do mundo e introduziram
estudando fora do país. Fez doutoramento a racionalização sem sentido humano. A
em Princeton. Escreveu “Da Esperança”, no burocracia perverte as relações humanas,
mesmo ponto em que a teologia da gerando conformismo e a alienação.
libertação estava nascendo; “Tomorrow’s
Child”, sobre o triste destino dos As propostas de Tragtenberg
dinossauros e a sobrevivência das mostram as possibilidades de organização
lagartixas, para concluir que os grandes e os das lutas das classes subalternas e de
fortes pereceram, enquanto os mansos e participação política do trabalhador na
fracos herdaram a terra. E ainda: “O empresa e na escola visando a reeducação
Enigma da religião”; “O que é religião”; dos próprios trabalhadores em geral e dos
“Filosofia da ciência: introdução ao jogo e trabalhadores em educação, em particular.
suas regras”. Criado numa tradição
Principais obras: Administração,
calvinista, lutou, como costuma dizer, poder e ideologia (1980), Sobre Educação,
contra as obsessões da pontualidade e
política e ideologia (1982) e Burocracia e
trabalho, companheiros das insônias e das
Ideologia (1974).
úlceras.

Dois pequenos livros são muitos


conhecidos pelos educadores brasileiros: DERMERVAL SAVIANI (1944)

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
Formado em filosofia. É professor Devido a essa ênfase no aspecto cultural,
de ensino superior desde 1967. Hoje leciona as diferenças entre as classes sociais não
filosofia da educação no mestrado e são consideradas, pois, embora a escola
doutorado na Universidade de Campinas. passe a difundir a idéia de igualdade de
oportunidades, não leva em conta a
Em suas obras o autor destaca a desigualdade de condições.
necessidade de se elaborar uma teoria
educacional a partir da prática e de tal teoria 2.1. TENDÊNCIA LIBERAL
ser capaz de servir de base para a TRADICIONAL
construção de um sistema educacional. Segundo esse quadro teórico, a
Realça a necessidade da atividade tendência liberal tradicional se
sistematizadora da prática educativa, caracteriza por acentuar o ensino
referindo-se aos cinco métodos principais: humanístico, de cultura geral. De acordo
lógico, científico, empírico-logístico, com essa escola tradicional, o aluno é
fenomenológico e dialético; e a diferentes educado para atingir sua plena
correntes pedagógicas: materialismo, realização através de seu próprio
pragmatismo, psicologismo, naturalismo e esforço. Sendo assim, as diferenças de
sociologismo. classe social não são consideradas e toda
a prática escolar não tem nenhuma
Saviani acredita que, para uma
relação com o cotidiano do aluno.
reflexão ser filosófica, torna-se necessário
cumprir três requisitos básicos: a Quanto aos pressupostos de
radicalidade (reflexão em profundidade), o aprendizagem, a idéia de que o ensino
rigor (métodos determinados) e a consiste em repassar os conhecimentos
globalidade (contexto na qual se insere). para o espírito da criança é
acompanhada de outra: a de que a
Principais obras: Educação capacidade de assimilação da criança é
brasileira: estrutura e sistema (1973); idêntica à do adulto, sem levar em conta
Educação: do senso comum à consciência as características próprias de cada idade.
filosófica (1980) e Escola e Democracia A criança é vista, assim, como um
(1983). adulto em miniatura, apenas menos
desenvolvida.
No ensino da língua portuguesa, parte-se
TENDÊNCIAS ATUAIS: da concepção que considera a linguagem
como expressão do pensamento. Os
LIBERAIS E PROGRESSISTAS.
seguidores dessa corrente lingüística, em
2. TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS razão disso, preocupam-se com a
LIBERAIS organização lógica do pensamento, o
que presume a necessidade de regras do
Segundo LIBÂNEO (1990), a pedagogia bem falar e do bem escrever. Segundo
liberal sustenta a idéia de que a escola essa concepção de linguagem, a
tem por função preparar os indivíduos
Gramática Tradicional ou Normativa se
para o desempenho de papéis sociais, de constitui no núcleo dessa visão do
acordo com as aptidões individuais. Isso ensino da língua, pois vê nessa
pressupõe que o indivíduo precisa gramática uma perspectiva de
adaptar-se aos valores e normas vigentes normatização lingüística, tomando como
na sociedade de classe, através do modelo de norma culta as obras dos
desenvolvimento da cultura individual. nossos grandes escritores clássicos.

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
Portanto, saber gramática, teoria No ensino da língua, essas idéias
gramatical, é a garantia de se chegar ao escolanovistas não trouxeram maiores
domínio da língua oral ou escrita. conseqüências, pois esbarraram na
prática da tendência liberal tradicional.
Assim, predomina, nessa tendência
tradicional, o ensino da gramática pela 2.3. TENDÊNCIA LIBERAL
gramática, com ênfase nos exercícios RENOVADA NÃO-DIRETIVA
repetitivos e de recapitulação da matéria,
Acentua-se, nessa tendência, o papel da
exigindo uma atitude receptiva e
escola na formação de atitudes, razão
mecânica do aluno. Os conteúdos são
pela qual deve estar mais preocupada
organizados pelo professor, numa
com os problemas psicológicos do que
seqüência lógica, e a avaliação é
com os pedagógicos ou sociais. Todo o
realizada através de provas escritas e
esforço deve visar a uma mudança
exercícios de casa.
dentro do indivíduo, ou seja, a uma
2.2. TENDÊNCIA LIBERAL adequação pessoal às solicitações do
RENOVADA PROGRESSIVISTA ambiente.
Segundo essa perspectiva teórica de Aprender é modificar suas próprias
Libâneo, a tendência liberal renovada percepções. Apenas se aprende o que
(ou pragmatista) acentua o sentido da estiver significativamente relacionado
cultura como desenvolvimento das com essas percepções. A retenção se dá
aptidões individuais. pela relevância do aprendido em relação
ao “eu”, o que torna a avaliação escolar
A escola continua, dessa forma, a
sem sentido, privilegiando-se a auto-
preparar o aluno para assumir seu papel
avaliação. Trata-se de um ensino
na sociedade, adaptando as necessidades
centrado no aluno, sendo o professor
do educando ao meio social, por isso ela
apenas um facilitador. No ensino da
deve imitar a vida. Se, na tendência
língua, tal como ocorreu com a corrente
liberal tradicional, a atividade
pragmatista, as idéias da escola
pedagógica estava centrada no professor,
renovada não-diretiva, embora muito
na escola renovada progressivista,
difundidas, encontraram, também, uma
defende-se a idéia de “aprender
barreira na prática da tendência liberal
fazendo”, portanto centrada no aluno,
tradicional.
valorizando as tentativas experimentais,
a pesquisa, a descoberta, o estudo do 2.4. TENDÊNCIA LIBERAL
meio natural e social, etc, levando em TECNICISTA
conta os interesses do aluno.
A escola liberal tecnicista atua no
Como pressupostos de aprendizagem, aperfeiçoamento da ordem social
aprender se torna uma atividade de vigente (o sistema capitalista),
descoberta, é uma auto-aprendizagem, articulando-se diretamente com o
sendo o ambiente apenas um meio sistema produtivo; para tanto, emprega a
estimulador. Só é retido aquilo que se ciência da mudança de comportamento,
incorpora à atividade do aluno, através ou seja, a tecnologia comportamental.
da descoberta pessoal; o que é Seu interesse principal é, portanto,
incorporado passa a compor a estrutura produzir indivíduos “competentes” para
cognitiva para ser empregado em novas o mercado de trabalho, não se
situações. É a tomada de consciência, preocupando com as mudanças sociais.
segundo Piaget.

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
Conforme MATUI (1988), a escola 3. TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS
tecnicista, baseada na teoria de PROGRESSISTAS
aprendizagem S-R, vê o aluno como
Segundo Libâneo, a pedagogia
depositário passivo dos conhecimentos,
progressista designa as tendências que,
que devem ser acumulados na mente
partindo de uma análise crítica das
através de associações. Skinner foi o
realidades sociais, sustentam
expoente principal dessa corrente
implicitamente as finalidades
psicológica, também conhecida como
sociopolíticas da educação.
behaviorista. Segundo RICHTER
(2000), a visão behaviorista acredita que 3.1. TENDÊNCIA PROGRESSISTA
adquirimos uma língua por meio de LIBERTADORA
imitação e formação de hábitos, por isso As tendências progressistas libertadora e
a ênfase na repetição, nos drills, na libertária têm, em comum, a defesa da
instrução programada, para que o aluno autogestão pedagógica e o
for me “hábitos” do uso correto da antiautoritarismo. A escola libertadora,
linguagem. também conhecida como a pedagogia de
A partir da Reforma do Ensino, com a Paulo Freire, vincula a educação à luta e
Lei 5.692/71, que implantou a escola organização de classe do oprimido.
tecnicista no Brasil, preponderaram as Segundo GADOTTI (1988), Paulo
influências do estruturalismo lingüístico Freire não considera o papel
e a concepção de linguagem como informativo, o ato de conhecimento na
instrumento de comunicação. A língua – relação educativa, mas insiste que o
como diz TRAVAGLIA (1998) – é conhecimento não é suficiente se, ao
vista como um código, ou seja, um lado e junto deste, não se elabora uma
conjunto de signos que se combinam nova teoria do conhecimento e se os
segundo regras e que é capaz de oprimidos não podem adquirir uma nova
transmitir uma mensagem, informações estrutura do conhecimento que lhes
de um emissor a um receptor. Portanto, permita reelaborar e reordenar seus
para os estruturalistas, saber a língua é, próprios conhecimentos e apropriar-se
sobretudo, dominar o código. de outros.

No ensino da Língua Portuguesa, Assim, para Paulo Freire, no contexto da


segundo essa concepção de linguagem, luta de classes, o saber mais importante
o trabalho com as estruturas lingüísticas, para o oprimido é a descoberta da sua
separadas do homem no seu contexto situação de oprimido, a condição para se
social, é visto como possibilidade de libertar da exploração política e
desenvolver a expressão oral e escrita. A econômica, através da elaboração da
tendência tecnicista é, de certa forma, consciência crítica passo a passo com
uma modernização da escola tradicional sua organização de classe. Por isso, a
e, apesar das contribuições teóricas do pedagogia libertadora ultrapassa os
estruturalismo, não conseguiu superar os limites da pedagogia, situando-se
equívocos apresentados pelo ensino da também no campo da economia, da
língua centrado na gramática normativa. política e das ciências sociais, conforme
Em parte, esses problemas ocorreram Gadotti.
devido às dificuldades de o professor Como pressuposto de aprendizagem, a
assimilar as novas teorias sobre o ensino força motivadora deve decorrer da
da língua materna. codificação de uma situação-problema

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
que será analisada criticamente, realidades sociais. A atuação da escola
envolvendo o exercício da abstração, consiste na preparação do aluno para o
pelo qual se procura alcançar, por meio mundo adulto e suas contradições,
de representações da realidade concreta, fornecendo-lhe um instrumental, por
a razão de ser dos fatos. Assim, como meio da aquisição de conteúdos e da
afirma Libâneo, aprender é um ato de socialização, para uma participação
conhecimento da realidade concreta, isto organizada e ativa na democratização da
é, da situação real vivida pelo educando, sociedade.
e só tem sentido se resulta de uma
Na visão da pedagogia dos conteúdos,
aproximação crítica dessa realidade.
admite-se o princípio da aprendizagem
Portanto o conhecimento que o
significativa, partindo do que o aluno já
educando transfere representa uma
sabe. A transferência da aprendizagem
resposta à situação de opressão a que se
só se realiza no momento da síntese, isto
chega pelo processo de compreensão,
é, quando o aluno supera sua visão
reflexão e crítica.
parcial e confusa e adquire uma visão
No ensino da Leitura, Paulo Freire, mais clara e unificadora.
numa entrevista, sintetiza sua idéia de
4. TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS
dialogismo: “Eu vou ao texto
PÓS-LDB 9.394/96
carinhosamente. De modo geral,
simbolicamente, eu puxo uma cadeira e Após a Lei de Diretrizes e Bases da
convido o autor, não importa qual, a Educação Nacional de n.º 9.394/96,
travar um diálogo comigo”. revalorizam-se as idéias de Piaget,
Vygotsky e Wallon. Um dos pontos em
3.2. TENDÊNCIA PROGRESSISTA
comum entre esses psicólogos é o fato
LIBERTÁRIA
de serem interacionistas, porque
A escola progressista libertária parte do concebem o conhecimento como
pressuposto de que somente o vivido resultado da ação que se passa entre o
pelo educando é incorporado e utilizado sujeito e um objeto. De acordo com
em situações novas, por isso o saber ARANHA (1998), o conhecimento não
sistematizado só terá relevância se for está, então, no sujeito, como queriam os
possível seu uso prático. A ênfase na inatistas, nem no objeto, como diziam os
aprendizagem informal, via grupo, e a empiristas, mas resulta da interação
negação de toda forma de repressão, entre ambos.
visam a favorecer o desenvolvimento de
Para citar um exemplo no ensino da
pessoas mais livres. No ensino da
língua, segundo essa perspectiva
língua, procura valorizar o texto
interacionista, a leitura como processo
produzido pelo aluno, além da
permite a possibilidade de negociação de
negociação de sentidos na leitura.
sentidos em sala de aula. O processo de
3.3. TENDÊNCIA PROGRESSISTA leitura, portanto, não é centrado no
CRÍTICO-SOCIAL DOS texto, ascendente, bottom-up, como
CONTEÚDOS queriam os empiristas, nem no receptor,
descendente, top-down, segundo os
Conforme Libâneo, a tendência
inatistas, mas ascendente/descendente,
progressista crítico-social dos
ou seja, a partir de uma negociação de
conteúdos, diferentemente da libertadora
sentido entre enunciador e receptor.
e libertária, acentua a primazia dos
Assim, nessa abordagem interacionista,
conteúdos no seu confronto com as
o receptor é retirado da sua condição de

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mero objeto do sentido do texto, de que a revolução social fosse alcançada. O
alguém que estava ali para decifrá-lo, pensamento pedagógico libertário teve
decodificá-lo, como ocorria, como principal difusora Maria Lacerda de
tradicionalmente, no ensino da leitura. Moura (1887-1944) que propôs uma
educação que incluísse educação física,
As idéias desses psicólogos
educação dos sentidos e o estudo do
interacionistas vêm ao encontro da
crescimento físico. Moura afirmava que,
concepção que considera a linguagem
além das noções de cálculo, leitura, língua
como forma de atuação sobre o homem
prática e história, seria preciso estimular
e o mundo e das modernas teorias sobre
associações e despertar a vida interior da
os estudos do texto, como a Lingüística
criança para que houvesse uma auto-
Textual, a Análise do Discurso, a
educação. A partir de 1930, a educação,
Semântica Argumentativa e a
principalmente a pública, teve mais espaço
Pragmática, entre outros.
nas preocupações do poder. Houve o
primeiro grande resultado político e
doutrinário da ABE em favor de um Plano
Nacional de Educação. Em 1938, com a
O PENSAMENTO fundação do Instituto Nacional de Estudos
PEDAGÓGICO BRASILEIRO: Pedagógicos (Inep), que é um precioso
CORRENTES E TENDÊNCIAS NA testemunho da história da educação no
PRÁTICA ESCOLAR. Brasil, fonte de informação e formação para
educadores brasileiros até hoje. Depois da
ditadura de Getúlio Vargas (1937-1945),
começa um período de redemocratização no
O pensamento pedagógico
país que é interrompido com o golpe militar
brasileiro passa a ter mais autonomia com o
de 1964. Neste intervalo de tempo, em que
desenvolvimento das teorias da Escola
as liberdades democráticas foram
Nova. Até o final do século XIX, nossa
respeitadas, o movimento educacional teve
pedagogia reproduzia o pensamento
um novo impulso, distinguindo-se por dois
religioso medieval. Em 1924, com a criação
movimentos: o movimento por uma
da Associação Brasileira de Educação
educação popular e o movimento em defesa
(ABE) nosso maior objetivo era o de
da educação pública. Em ambos
reconstruir a sociedade através da educação,
movimentos existem posições
superando a educação jesuíta tradicional
conservadoras e progressistas. Somente em
que dominava o pensamento nosso
1988, com o movimento da educação
pedagógico desde os primórdios. Com os
pública popular, sustentado pelos partidos
jesuítas, tivemos um ensino de caráter
políticos mais engajados na luta pela
verbalista, retórico, repetitivo, que
educação do povo, passou-se a ter uma
estimulava a competição através de prêmios
unidade de ideais. No pensamento
e castigos. Era uma educação que
pedagógico contemporâneo, Paulo Freire
reproduzia uma sociedade dividida entre
situa-se entre os pedagogos humanistas e
analfabetos e doutores. O movimento
críticos que deram uma contribuição
anarquista também teve interesse na
decisiva à concepção dialética da educação.
educação no início do século. Para os
anarquistas, a educação não era o principal Florestan Fernandes (1920), com
agente desencadeador do processo sua sociologia, criou um novo estilo de
revolucionário, mas seriam necessárias pensar a realidade social, por meio da qual
mudanças na mentalidade das pessoas para

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se torna possível reinterpretar a sociedade e ASPECTOS SOCIOLÓGICOS
a história, como também a sociologia DA EDUCAÇÃO - AS BASES
anterior produzida no Brasil. Para Luiz SOCIOLÓGICAS DA EDUCAÇÃO, A
Pereira (1933-1985) a solução dos EDUCAÇÃO COMO PROCESSO
problemas enfrentados dentro da escola SOCIAL, AS INSTITUIÇÕES SOCIAIS
depende da solução dos problemas externos BÁSICAS, EDUCAÇÃO PARA O
a ela, que envolvem aspectos econômicos e CONTROLE E PARA A
sociais. Ele criticou a maioria dos TRANSFORMAÇÃO SOCIAL,
pedagogos que desconsideravam esses CULTURA E ORGANIZAÇÃO
aspectos extra-escolares e que acreditavam SOCIAL, DESIGUALDADES SOCIAIS,
que a escola, por si só, transformaria a A RELAÇÃO ESCOLA / FAMÍLIA /
sociedade. No início da década de 90, o COMUNIDADE.
discurso pedagógico foi enriquecido com
temas como a diversidade cultural,
diferenças étnicas e de gênero ganharam Louis Althusser é um filósofo, que
espaço no pensamento pedagógico
junto com Establet, Baudelot, Bowles,
brasileiro e universal. Os educadores e Gintis, Bourdieu e Passeron, foram alguns
pedagogos da educação liberal defendem a
dos mais importantes pensadores do final
liberdade de ensino, de pensamento e de da década de sessenta e início da de setenta,
pesquisa, os métodos novos baseados na do século XX. Estes romperam com a
natureza da criança. O Estado, para eles,
tradição sociológica da educação, criando
deve intervir o mínimo possível na vida de uma nova tradição, classificada pelo
cada cidadão particular. Nessas tendências professor Tomaz Tadeu da Silva, como
existem defensores da escola pública e
“Sociologia da Educação Crítica” ou
defensores da escola privada. Mas têm em
“Teorias Crítico-Reprodutivistas da
comum uma filosofia do consenso, isto é, Educação”, como o professor Dermeval
não reconhecem na sociedade o conflito de Saviani as chamam em seu livro “Escola e
classes e restringem o papel da escola ao Democracia”. Neste, o professor Dermeval
pedagógico, somente. Os seguidores da
também reconhece que o aparecimento
educação progressista defendem o
destas novas teorias significaram
envolvimento da escola na formação de um importante momento de ruptura com a
cidadão crítico e participante da mudança velha tradição das teorias educacionais.
social. Dentro deste pensamento
Tomando como critério de criticidade a
encontram-se correntes que defendem a percepção dos condicionantes objetivos,
formação da consciência crítica, passando
denominarei as teorias do primeiro grupo
pela assimilação do saber elaborado; o
de “teorias nãocríticas” já que encaram a
saber técnico-científico, que deve ter por educação como autônoma e buscam
objetivo o compromisso político. O
compreendê-la a partir dela mesma.
pensamento pedagógico brasileiro está em Inversamente, aquelas do segundo grupo
constante movimento e tentar reduzi-lo a são críticas uma vez que se empenham em
esquemas seria uma forma de esconder essa
compreender a educação remetendo-a
riqueza e essa dinâmica. sempre a seus condicionantes objetivos, isto
é, aos determinantes sociais, vale dizer, à
estrutura sócio-econômica que condiciona a
forma de manifestação do fenômeno
educativo. Como, porém, entendem que a
função básica da educação é a reprodução

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da sociedade serão por mim denominadas processos sociais amplos e resultados
de “teorias críticoreprodutivistas”.1 Para o amplos dos processos educacionais. Este
professor Tomaz Tadeu da Silva, além da novo quadro teórico, desloca o centro das
ruptura marcada pelo surgimento desta análises sociológicas da educação para a
nova tradição da sociologia da educação, problematização dos currículos escolares,
sua problemática central, os “mecanismos onde o fundamental é examinar o processo
pelos quais a educação, ou mais de estratificação do conhecimento escolar.
concretamente, a escola, contribui para a Este deslocamento, do centro das análises
produção e a reprodução de uma sociedade sociológicas da educação para a
de classes”2, marcam e delimitam o campo problemática dos currículos escolares, fez
da sociologia da educação nas últimas com que a sociologia secundarizasse a
décadas. Estas produções, da “Sociologia educação como problema de seu campo de
da Educação Crítica” ou “Teorias Crítico”. conhecimento, abrindo espaço para a
chamada pedagogia crítica tomar para si as
Reprodutivistas”, também vão análises da relação educação e sociedade,
influenciar mais tarde outras correntes, limitando-as em análises localizadas, o
como por exemplo, a “Nova Sociologia da interior da escola. Porém, hoje, a conjuntura
Educação”, sendo que as teorias vinculadas política, econômica, social e cultural exige
a esta nova corrente da sociologia da da sociologia a retomada com vigor da
educação têm suas preocupações mais temática da educação como uma das áreas a
centradas em questões de currículo, ser priorizadas. É preciso retomar as
chegando a ser chamadas também de análises mais amplas e estruturais que
“Sociologia do Currículo”, enquanto as possibilitem entender a educação neste
primeiras se constituíam em abrangentes, contexto de reorganização do capital, este
ou seja, análises estruturais. O se apresentando como capital globalizado,
aparecimento da “Nova Sociologia da neoliberal e até como pós-moderno. Uma
Educação” dá uma grande contribuição às das possibilidades para estas análises é
teorias críticas da educação, apontando para partir da compreensão de que a
análises de elementos reprodutores no reorganização do capital está centrada em
interior da escola e da sala de aula, um projeto político/ideológico, o projeto
revelando elementos visíveis e neoliberal. teorias mais Göran Therbon ao
principalmente aqueles que não o são e afirmar que o “neoliberalismo é uma
contribuem na reprodução das superestrutura ideológica e política que
desigualdades sociais. A partir deste novo acompanha uma transformação histórica do
quadro teórico, se desloca o centro das capitalismo moderno”, pode levar a
análises sociológicas da educação para a interessantes análises da relação
problematização dos currículos escolares, neoliberalismo e escola.. Este autor em
estes descritos ou ocultos, onde o outro momento de seu texto “A crise e o
fundamental é examinar o processo de futuro do capitalismo” afirma a tese de que
estratificação do conhecimento escolar. a crise atual do capitalismo é mais
Apesar da grande contribuição dada pela ideológica do que econômica: As crises
nova sociologia da educação, seus limites constituem o ritmo de vida do capitalismo.
são latentes, uma vez que ela ao centrar De fato, as crises cíclicas fazem parte da
suas análises nos processos e elementos vida normal deste sistema social e histórico.
internos da escola, perde o que havia de No entanto, no atual período, o capitalismo
fértil na sociologia da educação crítica, ou não enfrenta uma contradição econômica
seja, o de analisar as grandes relações entre estrutural... a contradição fundamental do

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capitalismo atual é mais ideológica do que conceito de Estado como aparece descrito
econômica. Ela se manifesta na destruição na obra de Marx, mas mantendo a essência
social criada pelo poder do mercado. 4 tal como aparece nesta, onde afirma que o
Estas referências podem levar à hipótese da Estado é um instrumento da classe
necessidade da escola reorganizar-se para dominante para se manter enquanto tal,
cumprir seu papel político/ideológico de portanto um instrumento de dominação e
reprodutora da concepção de mundo exploração 5. Para Althusser, o Estado é um
neoliberal, sendo expressões desta instrumento de reprodução das relações de
reorganização a “Conferência Mundial de produção, portanto da reprodução das
Educação para Todos” realizada em condições de exploração, esta garantida
Jomtien, na Tailândia, em março de 1990, pela repressão direta ou indireta e pela
“A Declaração de Nova Delhi”, assinada persuasão, sendo que os Aparelhos
em dezembro de 1993 pelo Brasil, China, repressores atuam predominantemente pela
Bangladesh, Egito, México, Nigéria, repressão e os Aparelhos ideológicos
Paquistão e Índia, reafirmando seus predominantemente pela persuasão.
compromissos assumidos na Conferência Também, é importante destacar a distinção
Mundial. No Brasil, esta lógica se que o autor faz entre o Aparelho ideológico
materializa com a nova Lei de Diretrizes e de Estado escolar e a escola, ou seja, o
Bases da Educação Nacional, o novo Plano Aparelho ideológico escolar, como os
Nacional de Educação, Parâmetros outros aparelhos ideológicos, é um sistema
Curriculares, Diretrizes Curriculares, a formado por instituições, organizações
política de privatização do ensino entre escolares e suas práticas, independente de
outras tantas reformas pela qual a educação serem públicas ou privadas. Portanto a
brasileira passa. Nesta perspectiva, os escola enquanto instituição é um elemento
conceitos de ideologia, de Estado e de do Aparelho ideológico de Estado escolar e
reprodução, referências fundamentais do não o próprio AIE escolar. Althusser define
pensamento althusseriano, são importantes AIE como um sistema complexo que
instrumentos de análises das mudanças compreende e combina várias instituições,
atuais que o capitalismo está sofrendo na organizações e suas respectivas práticas.
sua base de produção como também na Com relação ao Aparelho ideológico de
superestrutura, em particular a escola. Estado escolar, este deve ser entendido
Portanto, a retomada da sociologia da como um sistema, dentre os vários que
educação em seus aspectos mais amplos, compõe o Estado, com o objetivo de
exige recuperar os referenciais dos teóricos reproduzir as relações de produção, na
da “Sociologia da Educação Crítica” e, em sociedade capitalista o de reproduzir as
especial, Louis Althusser. relações de dominação capitalista, portanto
reprodução de relações de exploração 6.
Referencial althusseriano
No texto “A Ideologia Alemã”,
Ao pensar a educação e, em Marx e Engels afirmam que o “Estado não
particular, a escola a partir do referencial é mais do que a forma de organização que a
althusseriano, estas devem ser pensadas a burguesia constituem pela necessidade de
partir da concepção de Estado e de garantirem mutuamente a sua propriedade e
ideologia do autor. Com relação ao Estado, seus interesses... Sendo portanto o Estado a
este deve ser compreendido como a forma através da qual os indivíduos de uma
superestrutura da sociedade e composta classe dominante fazem valer os interesses
pelos Aparelhos repressivos e os Aparelhos comuns. p. 95” 6 Marx e Engels no
ideológicos de Estado, ampliando o

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
Manifesto do Partido Comunista ao geral, aplica-se a qualquer ideologia,
responder as críticas da burguesia à mesmo àquelas ideologias ‘de classes’ não
proposta de educação dos comunistas, comprometidas com um processo de
aponta a relação da educação e da escola reprodução ou no funcionamento dos AIE”
como instrumento de reprodução das 7. Com relação à concepção althusseriana
relações sociais, afirmam os autores: “Mas, da ideologia em geral e de suas três teses: a
dizeis, suprimimos as relações mais íntimas primeira, “A ideologia é uma
ao substituirmos a educação doméstica pela ‘representação’ da relação imaginária dos
social. E não está também a vossa educação indivíduos com suas condições reais de
determinada pela sociedade? Pelas relações existência”; a segunda “A Ideologia tem
sociais em que educais, pela intromissão uma existência material” e a terceira “A
mais directa ou mais indirecta da sociedade, Ideologia interpela os indivíduos enquanto
por meio da escola, etc? Os comunistas não sujeitos”, podem ser pensadas a partir do
inventaram a acção da sociedade sobre a AIE escolar e de suas instituições e da luta
educação; apenas transformam o seu ideológica, enquanto uma das formas da
caráter, arrancam a educação à influência luta de classes que se trava entre a ideologia
da classe dominante” p.50-51. dominante e as ideologias subordinadas, no
interior destas. Quanto à primeira e a
A afirmação do Aparelho segunda teses, estas possibilitam pensar a
ideológico de Estado escolar e os elementos ideologia, também, no âmbito das escolas,
que o constitui, as instituições escolares e como práticas-sociais, que nas formações
organizações, como instrumentos de sociais capitalisCp p representam relações
reprodução da ideologia de Estado, de exploração, e enquanto relações de
enquanto ideologia dominante, pressupõe a exploração pressupõem relações de
existência de ideologias dominadas. dominação, portanto a existência de
Portanto, tanto no interior do AIE escolar segmentos dominados que podem tomar
como nas próprias escolas, estas refletem a para si a tarefa de reverter a correlação de
luta de classes da sociedade, a ideologia da forças no interior das escolas e do próprio
classe dominante luta para manter-se AIE escolar. Com referência,
enquanto Cp p e as ideologias das classes especificamente à segunda tese, pode-se
dominadas lutam para se tornarem inferir que a existência de ideologias
dominantes, hegemônicas. Aparelho subordinadas (dominadas) no interior das
Ideológico de Estado escolar e a Ideologia escolas e do próprio AIE escolar,
Outras possibilidades de inferências a significam a existência da participação de
respeito do papel político/ideológico da indivíduos em práticas que não condizem
escola e da luta de classes que se trava, com com a reprodução das relações de produção
maior ou menor intensidade, no interior dominantes e podem contribuir na luta
desCp p, podem ser feitas recuperando a ideológica (luta de classes) em busca de
concepção de ideologia em geral do autor e uma nova hegemonia no interior da escola,
compreendê-la no âmbito do Aparelho no AIE escolar e no próprio Estado. Quanto
ideológico de Estado escolar e da própria à terceira tese, “A ideologia interpela os
escola. Portanto, recuperar o conceito de indivíduos enquanto sujeitos”, supõe a
ideologia em geral, faz-se necessário para existência de um Sujeito interpelador e do
compreender os limites e as contribuições sujeito interpelado, sendo este constituído a
que a luta ideológica pode dar para partir do reconhecimento e da submissão ao
transformação social, uma vez que a Sujeito interpelador. As inferências
“conceituação em torno da ideologia em possíveis no âmbito da escola e do AIE

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
escolar, passam pela compreensão dos ideologias que não a do Estado no interior
Sujeitos interpeladores enquanto Sujeitos do AIE escolar e de suas instituições, estas
ideológicos, que por sua vez são produzidas como subproduto (ideologia
constituídos fora da escola e do AIE subordinada) da prática em que se realiza a
escolar, mas que se materializam em Ideologia de Estado. Importante ressaltar
práticas no interior destas e, enquanto tese que Althusser ao se referir às ideologias
de uma concepção de ideologia em geral, a subordinadas (ideologias secundárias) e à
constituição de Sujeitos interpeladores é ideologia dominante (ideologia primária)
válida para as ideologias dominantes, como estas se apresentam como produto da luta
também, para as ideologias dominadas. de classes no interior dos AIEs, sendo
Assim sendo, a lógica anterior leva a presentes também no escolar e em suas
reconhecer a existência no interior das instituições. Em relação à luta de classes no
escolas e do AIE escolar, como nos outros interior das escolas, as afirmações sobre os
AIEs, de Sujeitos interpeladores de Aparelhos ideológicos sindical e político,
ideologias dominadas, estes interpelam que aparecem no texto “Sobre a
indivíduos que se reconhecem nestas Reprodução” pode-se inferir que com
interpelações, constituindo-se em “maus relação à escola, Althusser também
sujeitos” que não caminham como a imensa compreende esta, como um espaço da luta
maioria dos “bons sujeitos”, sendo que de classes, mantendo a advertência que a
estes caminham por si e entregues à luta que se trava na escola, como em
ideologia dominante, cujas formas qualquer outro AIE, é limitada, uma vez
concretas se realizam no AIE escolar e que a luta de classes nasce externamente a
portanto nas escolas. Estas inferências estes. Outra inferência que se pode fazer,
podem contribuir na reafirmação da em relação à escola, a partir dos escritos do
importância da luta ideológica, enquanto autor sobre os partidos e os sindicatos
uma das formas da luta de classes no proletários, é da possibilidade de existir
interior das escolas e de seu Aparelho escolas cuja ideologia seja radicalmente
Ideológico de Estado. A Luta de Classes e a antagônica à ideologia de Estado. Aqui
Escola No Aparelho ideológico de Estado podem ser citadas algumas experiências de
escolar, como nos outros Aparelhos sindicatos de trabalhadores. Os sindicatos e
ideológicos de Estado, a existência de Centrais de trabalhadores mantém escolas e
idéias necessita de um suporte real e institutos de formação, Partidos Políticos
material, portanto, no AIE escolar também proletários também mantém escolas
se realiza a Ideologia de Estado em sua partidárias e institutos de formação e de
totalidade ou em parte garantindo sua pesquisa, movimentos sociais como por
unidade de sistema “ancorada” em funções exemplo as escolas do Movimento dos
materiais, que lhe são próprias e não Trabalhadores Sem-Terra (MST) que
redutíveis a Ideologia de Estado. Aqui, mantém escolas sobre suas orientações
deve-se destacar a afirmação de que os ideológicas. Aqui também tem que se
AIEs, portanto no Aparelho ideológico de relativizar a dimensão do papel destas
Estado escolar e suas instituições (escolas), escolas na luta de classes, uma vez que
não produzem as ideologias, mas estas se estas instituições fazem parte do AIE
apresentam como determinados elementos sindical, político e escolar, portanto mesmo
da Ideologia de Estado que se realizam ou como elementos de negação da ideologia
existem nas instituições escolares. dominante de Estado, estas fazem parte do
Também, deve-se retomar a afirmação do próprio Estado, mesmo assim não se pode
autor em reconhecer a existência de outras negligenciar a importância das escolas na

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luta de classes. Isto significa reconhecer a a sua orientação e o seu controlo são um
escola como espaço de contradições, estas terreno importante da luta de classes. 9
apresentando-se como produto da luta de Com respeito à importância da luta de
classes. Apesar dos limites destas no classes e às escolas, esta deve ser
interior do AIE escolar, como nos outros compreendida, também, e
AIEs, o autor aponta para a importância da predominantemente no interior da maioria
luta de classes, no interior destes (portanto das escolas, onde predominam a ideologia
no escolar também) para a revolução, sendo de Estado que cumprem o papel de
a escola um dos espaços onde se desenrola reproduzir as relações de produção, relações
a guerra de longa duração, esta de dominação capitalista. A luta de classes
apresentando-se como “a luta de classe que no interior das escolas manifesta-se
pode chegar a derrubar as classes dominantemente como luta ideológica, luta
dominantes do poder de Estado”. pela manutenção das ideologias
hegemônicas, das classes dominantes e a
Em seu texto “Filosofia e Filosofia resistência a esta imposição e à busca da
Espontânea dos Cientistas”, Althusser construção de uma nova hegemonia. A
vincula o ensino escola à educação escola, em seu papel de transmissora da
ideológica das massas, apontando a relação cultura das classes dominantes, se constitui
direta entre ensino e a ideologia dominante, em importante instrumento de construção e
fazendo da escola um importante espaço da manutenção da hegemonia ideológica,
luta de classes. .. a “cultura” literária através do ensino e outras formas
ministrada no ensino das escolas não é um ideológicas no interior das mesmas.
fenômeno puramente escolar, é um Althusser ao se referir a este mecanismo no
momento entre outros da “educação” interior das escolas, chama a atenção para a
ideológica das massas populares. Pelos seus existência de ideologias dominadas que
meios e efeitos, ela traz outros à superfície, mesmo sem ser reconhecidas coexistem e
postos em prática ao mesmo tempo: resistem à imposição da ideologia de
religiosos, jurídicos, morais, políticos, etc. Estado, afirma: Idem, Filosofia e Filosofia
Outros tantos meios ideológicos da Espontânea dos Cientistas, 45
hegemonia da classes dominante, que são
todos reagrupados em volta do Estado de A “cultura” que se ensina nas
que a classe dominante detém o poder. Bem escolas não passa efectivamente de uma
entendido, esta conexão, podíamos dizer cultura em segundo grau, uma cultura que
sincronização, entre a cultura literária (que “cultiva” visando um número, quer restrito
é o objecto-objectivo das humanidades quer mais largo, de indivíduos desta
clássicas) e a acção ideológica de massa sociedade, e incidindo sobre objectos
exercida pela igreja, pelo Estado, pelo privilegiados (letras, artes, lógica, filosofia,
Direito, pelas formas do regime político, etc.), a arte de se ligar a estes objectos:
etc., são a maior parte das vezes como meio prático de inculcar a estes
mascaradas. Mas aparecem à luz do dia nas indivíduos normas definidas de conduta
grandes crises políticas e ideológicas, onde prática perante as instituições, “valores” e
por exemplo as reformas do ensino são acontecimentos desta sociedade. A cultura é
abertamente reconhecidas como revoluções ideologia de elite e/ou de massa de uma
nos métodos de acção ideológica sobre as sociedade dada. Não a ideologia real das
massas. Vê-se então muito claramente que massas (pois em função das oposições de
o ensino está em relação directa com a classe, há várias tendências na cultura): mas
ideologia dominante e que a sua concepção, a ideologia que a classe dominante tenta

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inculcar, directa ou indirectamente, pelo nos países subdesenvolvidos, ou “em
ensino ou outras vias, e num fundo de desenvolvimento”, a jornada escolar se
discriminação (cultura para elites, cultura reduz à metade das horas escolares dos
para as massas populares) às massas que países desenvolvidos, isto sem falar das
domina. Trata-se dum empreendimento de crianças que não têm acesso ao ingresso e
carácter hegemónico (Gramsci): obter o as que evadem nos primeiros anos de escola
consentimento das massas pela ideologia e, que a mídia nestas formações sociais
difundida (sob as formas da apresentação e podem ocupar o papel de principal AIE de
da inculcação de cultura). A ideologia interpelação dos sujeitos, tem-se que
dominante é sempre imposta às massas relativazar e, sem negar, a dimensão da
contra certas tendências da sua própria importância da escola que recebe as
cultura, que não é reconhecida nem crianças de todas as classes sociais desde o
sancionada mas resiste.10 Estas afirmações Maternal e, a partir daí, com os novos e
indicam, mais uma vez, a preocupação de igualmente com os antigos métodos, ela
Althusser em indicar a necessidade de se lhes inculca, durante anos e anos, no
pensar a escola como reprodutora das período em que a criança é mais
relações de produção e ao mesmo tempo “vulnerável”, imprensada entre o aparelho
como importante lócus da luta de classes, de Estado Família e o aparelho de Estado
esta se apresentando predominantemente Escola, determinados “savoir-faire”
como luta ideológica. Quanto à importância revestidos pela ideologia dominante (língua
que o autor dá à luta de classes no interior materna, cálculo, história natural, ciências,
das escolas pode ser percebida, também, ao literatura), ou muito simplesmente a
afirmar que a escola na sociedade burguesa ideologia dominante em estado puro (moral
é a substituta da igreja na Idade Média, e cívica, filosofia). Em determinado
período em que era o principal Aparelho momento, aí pelos cartoze anos, uma
ideológico de Estado. Segundo Althusser, grande quantidade de crianças vai parar “na
na sociedade moderna (formações sociais produção”: virão a constituir os operários
capitalistas) a escola passa a ser a ou os pequenos camponeses. Uma outra
instituição, junto com a família, que mais parte da juventude continua na escola: e
tempo fica com as crianças em seus haja o que houver, avança ainda um pouco
períodos mais “vulneráveis” à inculcação para ficar pelo caminho e prover os postos
ideológica. O autor justifica a ocupados pelos pequenos e médios quadros,
predominância do AIE escolar nas empregados, pequenos e médios
formações sociais capitalistas, uma vez que, funcionários, pequenos burgueses de toda a
a reprodução das relações capitalistas de espécie. Uma última parcela chega ao topo,
exploração é obtida principalmente através seja para cair na subocupação ou
de uma “aprendizagem de alguns saberes semidesemprego intelectuais, seja para
contidos na inculcação maciça da ideologia fornecer os agentes da exploração e os
da classe dominante que, em grande parte, agentes da repressão, os profissionais da
são reproduzidas as relações de produção ideologia (padres de toda a espécie, a
de uma formação social capitalista, ou seja, maioria dos quais são “laicos” convictos) e
as relações entre exploradores e explorados, também agentes da prática científica. 12 O
e entre explorados e exploradores” 11 autor, como afirmado acima, também
Mesmo considerando que o autor se refere à acentua o papel da escola como
realidade dos países desenvolvidos da selecionadora dos sujeitos aos postos de
Europa, em que o período diário dos alunos trabalho a partir do número de anos de
nas escolas, sejam de seis a oito horas e que freqüência escolar. Nesta seleção também,

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deve-se acrescentar os sujeitos que ocupam Aqui, o que deve ser destacado é a relação
postos de trabalhos sem qualquer que o autor faz da formação ideológica e a
escolaridade, ou seja, a escola continua divisão do trabalho, a ocupação dos postos
cumprindo seu papel de reprodutora das de trabalho pelos trabalhadores no processo
relações sociais, também, ao negar acesso de produção e as relações entre estes e o
ao ingresso escolar à parte dos filhos dos capital, ou seja, a relação do tempo de
trabalhadores. Althusser acrescenta que esta formação escolar cultural/ideológica e os
seleção para as diferentes ocupações no postos de trabalho e os papéis que se ocupa
processo de produção também é na produção. Outra importante referência
acompanhado da inculcação do fracasso, do do autor em relação à ideologia da classe
sucesso, do acerto e do erro dos sujeitos que dominante e às formas de conhecimento
passaram, ou não, pela escola com períodos que se aprende na escola, é que a escola
de permanência diferenciados. Cada parcela através de determinados conhecimentos são
que fica pelo caminho é grosso modo eficientes instrumentos de inculcação da
praticamente provida, com mais ou menos ideologia da classe dominante que reproduz
erros ou fracassos, da ideologia que convém as relações de produção de determinadas
ao papel que ela deve desempenhar na formações sociais capitalistas, encobertos e
sociedade de classes: o papel de explorado dissimulados por uma ideologia da Escola
(com “consciência profissional”, “moral”, que reina à escala universal, já que se trata
“cívica”, “nacional” e apolítica altamente de uma das formas essenciais da ideologia
“desenvolvida”); o papel de agente da burguesa dominante: uma ideologia que
exploração (saber dirigir e falar aos representa a Escola como neutra,
operários), de agente de repressão (saber desprovida de ideologia (na medida em que
dar ordens e se fazer obedecer “sem ...é laica), na qual os professores,
discussão” ou saber manipular a demagogia respeitadores da “consciência” e da
da retórica dos dirigentes políticos), ou de “liberdade” das crianças que lhes são
profissionais da ideologia (sabendo tratar as confinadas (com toda a confiança) pelos
consciências com respeito, isto é, o “pais” (os quais são também livres, isto é,
desprezo, a chantagem e a demagogia que proprietários dos filhos), levam-nas a ter
convêm, acomodados às regras da Moral, acesso à moralidade e à responsabilidade de
da Virtude, da “Transcendência”, da Nação, adultos através de seu próprio exemplo,
do papel da Pátria no Mundo, etc.). É claro, pelos conhecimentos, pela Literatura e
um grande número dessas Virtudes pelas virtudes “libertadoras” bem
contrastantes (por um lado, modéstia, conhecidas do Humanismo literário ou
resignação, submissão e, por outro, científico.
cinismo, desprezo, altivez, segurança,
grandeza e sobranceria, até mesmo falar Com relação aos professores,
bem e habilidade) aprendem-se também nas Althusser aponta duas posturas diferentes
Famílias, na Igreja, nas Forças Armadas, entre estes, uma primeira em que os
nos Belos Livros, nos Filmes e mesmo nos professores tentam através das armas
estádios. Mas nenhum Aparelho ideológico científicas e políticas que encontram na
de Estado dispõe, durante um número tão história e no saber que ensinam se
grande de anos, da audiência obrigatória (e, contrapor à ideologia dominante, ao sistema
realmente, por menos importante que isso e as práticas nas quais estão confinados,
seja, gratuita...) 6 dias em um total de 7, estes, segundo o autor, são raros. Um
durante 8 horas por dia, da totalidade das segundo grupo de professores, a imensa
crianças da formação social capitalista. 13 maioria, nem suspeita do trabalho que o

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
sistema os obriga a fazer, e os fazem com
empenho, entusiasmo, engenhosidade, estes
tampouco, duvidam de que estão EDUCAÇÃO E SOCIEDADE
contribuindo com sua própria dedicação NO BRASIL.
para manter e alimentar essa representação
ideológica da Escola que, atualmente, torna
a Escola tão “natural” e indispensável-útil OS CLÁSSICOS DO PENSAMENTO
e, até mesmo, benfazeja para nossos SOCIAL
contemporâneos, como a Igreja era
“natural”, indispensável e generosa para
nossos antepassados de alguns séculos A educação, para os clássicos como
atrás. De fato, atualmente, a Igreja foi Durkheim, expressa uma doutrina
substituída pela Escola: esta dálhe pedagógica, que se apoia na concepção do
continuidade e ocupa seu setor dominante, homem e sociedade. O processo
embora ligeiramente restrito (uma vez que a educacional emerge através da família,
Igreja, não-obrigatória, e as forças armadas, igreja, escola e comunidade.
obrigatórias e ... gratuitas como a Escola,
Fundamentalmente, Durkheim parte do
lhe fazem companhia com todo o cuidado).
ponto de vista que o homem é egoísta, que
É verdade que a Escola pode contar com a
necessita ser preparado para sua vida na
ajuda da Família, apesar das “dissonâncias”
sociedade. este processo é realizado pela
que, após o Manifesto ter anunciado sua
família e também pelas escolas e
dissolução, perturbam seu antigo
universidades:
funcionamento de Aparelho ideológico de
Estado, outrora, particularmente seguro. A ação exercida pelas gerações adultas
Hoje em dia, já não é esse o caso: depois de sobre as que ainda não estão maduras para a
Maio, as próprias famílias burguesas de vida social, tem por objetivo suscitar e
posição mais elevada sabem algo do que desenvolver na criança determinados
isso significa – algo que as abala números de estados físicos, intelectuais e
irreversivelmente e as deixa, muitas vezes, morais que dele reclamam, por um lado, a
a “tremer”. 15 Estas afirmações do autor, sociedade política em seu conjunto, e por
também devem ser relativizadas e situadas outro, o meio especifico ao qual está
no tempo e no espaço, final da década de destinado. (DURKHEIM, 1973:44)
sessenta e início da década de setenta do
século passado na França, país europeu de Para Durkheim, o objeto da sociologia é o
grande desenvolvimento capitalista. Isto fato social, e a educação é considerada
não significa que as condições hoje, são como o fato social, isto é, se impõe,
melhores ou piores, ou que nos países coercitivamente, como uma norma jurídica
subdesenvolvidos ou “em ou como uma lei. Desta maneira a ação
desenvolvimento” se diferenciam ou não educativa permitirá uma maior integração
das afirmações apresentadas. Mas estas do indivíduo e também permitirá uma forte
afirmações podem contribuir em análises a identificação com o sistema social.
respeito da escola e à luta de classes
Durkheim rejeita a posição psicologista.
política e ideológica no interior destas e
Para ele, os conteúdos da educação são
compreender os limites e as contribuições
independentes das vontades individuais, são
que a luta ideológica pode, enquanto uma
as normas e os valores desenvolvidos por
das formas da luta de classes, dar à luta pela
uma sociedade o grupo social em
transformação social.
determinados momentos históricos, que

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adquirem certa generalidade e com isso complementação do sistema social e do
uma natureza própria, tornando-se assim sistema de personalidade, ambos sistemas
coisas exteriores aos indivíduos: tem necessidades básicas que podem ser
resolvidas de forma complementar.
A criança só pode conhecer o dever através
de seus pais e mestres. É preciso que estes O sistema social para Parsons funciona
sejam para ela a encarnação e a armonicamente a partir do equilíbrio do
personificação do dever. Isto é, que a sistema de personalidade. A criança aceita o
autoridade moral seja a qualidade marco normativo do sistema social em troca
fundamental do educador. A autoridade não do amor e carinho maternos.
é violenta, ela consiste em certa
ascendência moral. Liberdade e autoridade Este processo se desenvolve através de
não são termos excludentes, eles se mediações primarias: os próprios pais
implicam. A liberdade é filha da autoridade através da internalização de normas inicia o
bem compreendida. Pois, ser livre não processo de socialização primaria. A
consiste em fazer aquilo que se tem criança não percebe que as necessidades do
vontade, e sim em se ser dono de si próprio, sistema social estão se tornando suas
em saber agir segundo a razão e cumprir próprias necessidades. Desta maneira, para
com o dever. E justamente a autoridade de Parsons, o indivíduo é funcional para o
mestre deve ser empregada em dotar a sistema social. Tanto para Durkheim como
criança desse domínio sobre si mesma para Parsons, os princípios básicos que
(DURKHEIM, 1973:47). fundamentam e regem ao sistema social
são:
Talcott Parsons (1964), sociólogo
americano, divulgador da obra de continuidade
Durkheim, observa que a educação, conservação
entendida como socialização, é o ordem
mecanismo básico de constituição dos harmonia
sistemas sociais e de manutenção e equilíbrio
perpetuação dos mesmos, em formas de Estes princípios regem tanto no sistema
sociedades, e destaca que sem a social, como nos subsistemas.
socialização, o sistema social é ineficaz de De acordo com Durkheim bem como
manter-se integrado, de preservar sua Parsons, a educação não é um elemento
ordem, seu equilíbrio e conservar seus
para a mudança social, e sim , pelo
limites. contrario, é um elemento fundamental para
O equilíbrio é o fator fundamental do a conservação e funcionamento do sistema
sistema social e para que este sobreviva é social.
necessário que os indivíduos que nele
Uma corrente oposta a Durkheim y Parsons
ingressam assimilem e internalizem os estaria constituída pela obra de Dewey e
valores e as normas que regem seu Mannheim. O ponto de partida de ambos
funcionamento.
autores é que a educação constitui um
Aqui encontramos uma primeira diferença mecanismo dinamizador das sociedades
com o pensamento de Durkheim, que através de um indivíduo que promove
destaca sempre o aspecto coercitivo da mudanças. O processo educacional para
sociedade frente ao indivíduo. Parsons Dewey e Mannheim, possibilita ao
afirma que é necessário uma indivíduo atuar na sociedade sem
reproduzir experiências anteriores,

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acriticamente. Pelo contrario, elas serão instrumento que por excelência põe em
avaliadas criticamente , com o objetivo de pratica os planos desenvolvidos é a
modificar seu comportamento e desta Educação. (MANNHEIM, 1971:34).
maneira produzir mudanças sociais.
A pratica da socialização percorre diversos
É muito conhecida e difundida no Brasil a espaços, como família e outros grupos
obra de Dewey, razão pela qual não a primários, a escola, clubes, sindicatos, etc.
aprofundaremos em detalhes. Entretanto, é Assim, a pratica democrática emerge
necessário assinalar que para Dewey é horizontalmente permitindo a estruturação
impossível separar a educação do mundo da duma sociedade igualitária. Concorda com
vida: Dewey que essa pratica deveria ser
institucionalizada.
A educação não é preparação nem
conformidade. Educação é vida,
é viver, é desenvolver, é crescer. (DEWEY, AS FUNÇÕES DO PROCESSO
1971:29). EDUCACIONAL

Para Dewey, a escola é definida como uma A pesar das profundas diferenças que
micro-comunidade democrática. Seria o separam as correntes sociológicas que se
esboço da socialização democrática, ponto ocuparam da questão, e que não podem ser
de partida para reforçar a democratização ignoradas, existe entre elas um ponto de
da sociedade. encontro: a educação constitui um processo
de transmissão cultural no sentido amplo do
Segundo Dewey, educação e democracia termo (valores, normas, atitudes,
formam parte de uma totalidade, definem a experiências, imagens, representações) cuja
democracia com palavras liberais, onde os função principal é a reprodução do sistema
indivíduos deveriam ter chances iguais. Em social. Isto é claro no pensamento
outras palavras, igualdade de oportunidades durkheimiano, ao afirmar:
dentro dum universo social de diferenças
individuais. Em resumo, longe de a educação ter por
objeto único e principal o indivíduo e seus
Para Mannheim, a educação é uma técnica interesses, ela é antes de tudo o meio pelo
social, que tem como finalidade controlar a qual a sociedade renova perpetuamente as
natureza e a historia do homem e a condições de sua própria existência. A
sociedade, desde uma perspectiva sociedade só pode viver se dentre seus
democrática. Define a educação como: membros existe uma suficiente
homogeneidade. A educação perpetua e
O processo de socialização dos indivíduos
para uma sociedade harmoniosa, reforça essa homogeneidade, fixando desde
cedo na alma da criança as semelhanças
democrática porem controlada, planejada,
mantida pelos próprios essenciais que a vida coletiva supõe
indivíduos que a compõe. (DURKHEIM, 1973:52).

Pesquisa é uma das técnicas sociais Também é este o sentido da formalização


do processo de socialização do sistema
necessárias para que se conheçam as
social parsoniano da aprendizagem de
constelações históricas especificas. O
planejamento é a intervenção racional, papeis sociais atribuída a tal socialização
por Linton dos arbítrios culturais
controlada nessas constelações para corrigir
suas distorções e seus defeitos. O reproduzidos pela prática pedagógica, que
constituem um dos principais mecanismos

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
de reprodução social para Bourdieu e Desde este ponto de vista, é possível pensar
Passeron. que existe uma divisão entre os diversos
agentes que desempenham tal trabalho
Aceitando esta perspectiva de analise, o social.
problema é: como a educação cumpre essa
função e como se articula a outros Porem, talvez o mais importante seja o fato
mecanismos de reprodução social. Dado de que sobre tal divisão se ergue a
que o tema remete a uma vasta e complexa possibilidade de que um setor da sociedade
questão, mais importante que se perguntar organize o conjunto da atividade produtiva,
pelas funções da educação em geral, é obtendo benefícios provenientes de seu
delimitar inicialmente o campo de analise controle dos meios de produção.
às funções da escola - uma das instituições
que cumprem essa função de reprodução E fundamentalmente no âmbito econômico,
ideológica, deixando de lado embora não exclusivamente, que se coloca
momentaneamente outras tão importantes a possibilidade existência das classes
quanto aquela (família, meios de sociais.
comunicação, sindicatos, partidos, etc.). E é também nesse âmbito que se desenha,
Parece adequado recuperar as postulações de inicio, a possibilidade de conflito social
que tentam uma articulação global entre a que emerge da relação de exploração e
escola e a reprodução social. O fato de que subordinação à qual está submetido o
as mesmas se centram fundamentalmente conjunto social dos não-proprietarios.
no problema da reprodução ideológica pode Claro está que a estruturação de tais classes,
servir como uma primeira aproximação. partindo da existência do conflito, supõe
uma permanente modificação da forma que
No entanto, não se deve perder de vista que sua relação assume.
estes desenvolvimentos teóricos são ao
mesmo tempo suficientemente amplos e Radica-se aí a possibilidade de
estreitos. Amplos, porque se referem ao identificação de diferentes épocas históricas
conjunto dos aparelhos ideológicos que e o reconhecimento de que a sociedade
fazem com que a sociedade exista e se capitalista constitui apenas uma dessas
mantenha. Restritos, porque privilegiam, épocas: aquela caracterizada pela forma em
precisamente, de modo geral, a análise da que a organização social do trabalho
ideologia, de maneira quase exclusiva. conduz à existência de um modo de
exploração social a qual se gera a mais-
Em primeiro lugar, deve-se perguntar: qual valia.
é a função atribuída aos aparelhos
ideológicos no processo de reprodução Por que, então, pensar na reprodução em
social? suas diferentes formas?

Se se privilegia a produção de bens A mudança social ocorre necessariamente


materiais como eixo de analise no pelo fato de ser o conflito econômico
funcionamento da sociedade, a historia da intrínseco ao conceito de sociedade que
humanidade pode ser reconstruída através serve de ponto de partida?
das formas de organização do trabalho
Responder afirmativamente a essa pergunta
social, isto é, a forma pela qual os homens seria cair em uma visão simplista da
produzem bens materiais para a sua
sociedade. Se tal conflito existe
subsistência. potencialmente, a possibilidade de sua

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realização a fim de produzir efeitos que foram feitas por Gramsci. As
realmente modifiquem a estrutura social, superestruturas do bloco histórico
supõe um complexo processo que não se constituem uma totalidade complexa em
resolve unicamente com mudanças no cujo interior se distinguem duas esferas
interior do processo produtivo. essenciais: a sociedade política e a
sociedade civil.
Se se admite este suposto, chegar-se-á à
conclusão de que a sociedade não se A sociedade política agrupa o aparelho de
reproduz apenas no aspecto econômico, Estado, entendido este em seu sentido
mas em todos seus níveis. restrito, realizando o conjunto das
atividades da superestrutura que dão conta
Compreender como e porque a sociedade da função de dominação. Por sua vez, a
logra se reproduzir, captar quais são os sociedade civil constitui a maior parte da
mecanismos eficazes sobre os quais se superestrutura e é formada pelo conjunto
assentam o seu funcionamento, pode ser, dos organismos vulgarmente chamados
então, uma chave para compreender suas privados e que correspondem à função de
reais possibilidades de mudança. hegemonia que o grupo social dominante
exerce sobre a sociedade global. Esta
Em conseqüência, a visualização do
sociedade civil pode ser considerada sob
conflito deverá transcender o econômico. A
analise da reprodução social também fará o três aspectos analiticamente diferentes e
complementares:
mesmo.
Como ideologia da classe dominante, ela
De fato, parece pouco convincente atribuir
alcança todos os ramos da ideologia, da arte
a persistência de uma forma social ao
simples fato de que existe uma classe social à ciência, incluindo a economia, o direito,
etc. Como concepção do mundo, difundida
possuidora dos meios de produção, que se
apropria do excedente econômico gerado em todas as acamadas sociais para vinculá-
pelo conjunto social dos trabalhadores. las à classe dirigente, ela se adapta a todos
os grupos: dai provêm seus diferentes graus
Igualmente, é pouco convincente pensar qualitativos: filosofia, religião, sentido
que a sociedade se mantém em função do comum, folclore; como direção ideológica
estrito controle social cujo monopólio da sociedade, ela se articula em três níveis
aquela classe detém. essenciais: a ideologia propriamente dita, a
estrutura ideológica - isto é, as organizações
Sem duvida, a sociedade é algo mas que a criam e a difundem - e o material
complexo e em sua interpretação deve-se ideológico, isto é: os instrumentos técnicos
introduzir não apenas a analise de suas de difusão da ideologia: sistema escolar,
instancias como, também, e mas media e bibliotecas. (PORTELLI,
fundamentalmente, a articulação entre as 1971: 23).
mesmas. Dai a importância de alguns
trabalhos que pretendem centrar-se na A partir destas considerações gerais, os
analise das superestruturas, em sua problemas da estrutura e do material
articulação com o aspecto econômico. ideológico passaram a ser temas recorrentes
de analise.

A escola e a reprodução social Não obstante, o característico nesses


estudos foi subordinar o conflito social
As primeiras apreciações em torno dos surgido no interior de tais instituições à
chamados aparelhos ideológicos do Estado

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analise formal de tais aparelhos Sistema de disposições duráveis e
ideológicos. transferíveis que, integrando todas as
experiências passadas, funciona a cada
Contudo, o processo educacional deixou de momento como matriz de percepções,
ser analisado como um processo a- apreciações e ações, e torna possível a
histórico, para ser referido à sociedade realização de tarefas suficientemente
capitalista. diferenciadas, graças à transferencia
analógica de esquemas que permitem
Então, as perguntas fundamentais passaram
a ser: que relação guarda o sistema escolar resolver problemas da mesma forma, e,
graças a correções incessantes dos
com a estrutura das relações de classe
resultados obtidos, dialeticamente
Como tal sistema escolar age de maneira a
assegurar a reprodução ideológica e, em produzidos por estes resultados
(BOURDIEU & PASSERON, 1976:214).
conseqüência, a reprodução da sociedade
capitalista E, por fim, a pergunta, como os Com estes postulados, tenta-se demostrar
fatores sociais agem no interior desse que a sociedade se organiza não apenas a
sistema educacional? partir de bens econômicos, mas também a
partir da produção de bens simbólicos, de
Um dos principais esforços de elucidação
habitus de classe, que, transmitidos
deste problema foi enunciado desta
maneira: fundamentalmente pela família, levam a
que os indivíduos organizem um modo de
Para compreender adequadamente a vida e uma determinada concepção do
natureza das relações que unem o sistema mundo. A introdução desta dimensão se
escolar à estrutura das relações de classe e fundamenta no conceito de classe em jogo:
elucidar sem cair em uma espécie de
As diferenças propriamente econômicas são
metafísica da harmonia das esferas o do
providencialismo do melhor e do pior, das explicadas por distinções simbólicas na
correspondências, homologias e maneira de usufruir esses bens, ou melhor,
(é) através do consumo, e mais, através do
coincidências redutíveis em ultima analise à
convergência de interesses, alianças consumo simbólico (ou ostentatorio) que se
transmitem os bens simbólicos, as
ideológicas e afinidades entre habitus,
deixando de lado o discurso interminável diferenças de fato (se transformam assim)
que resultaria de percorrer em cada caso a em distinções significativas. A lógica do
sistema de ações e procedimentos
rede completa das relações circulares que
unem estruturas e praticas pela mediação do expressivos não pode ser compreendida de
habitus como produto das estruturas, para maneira independente de sua função, que é
dar uma tradução simbólica do sistema
definir os limites de validade (isto é,
social como sistema de inclusão e exclusão,
validade desses limites) de uma expressão
abstrata como a de sistema de relações entre segundo a expressão de Mc Guire, mas
o sistema de ensino e a estrutura das também significar a comunidade ou a
relações de classe?. (BOURDIEU & distinção, transmutando os bens
econômicos em atos de comunicação. De
PASSERON, 1976:212).
fato, nada mais falso do que acreditar que
Isto é, o nexo conceitual entre estruturas e as ações simbólicas (ou o aspecto simbólico
praticas, que estes autores elaboram, é o de das ações) nada significam Alem delas
mesmas; em verdade, elas expressam
habitus definido como:
sempre uma posição social segundo uma
lógica que é a mesma da estrutura social: a

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
lógica da distinção (BOURDIEU & modo para a reprodução da estrutura social:
PASSERON, 1976:217). com efeito, as leis do mercado em que se
forma o valor econômico ou simbólico, isto
Agora, bem instaladas as classes sociais a é, o valor enquanto capital cultural, dos
nível do mercado, este passa a ser arbítrios culturais reproduzidos pelas
visualizado como a mediação entre a diferentes ações pedagógicas (indivíduos
produção - ou a forma de participação na educados) constituem um dos mecanismos
produção - e o jogo de distinções mais o menos determinantes segundo os
simbólicas onde se reproduzem as relações tipos de formação social, pelos quais se
de força entre as classes. acha assegurada a reprodução social,
definida como reprodução das relações de
Então, a pergunta é: quem e através de que
mecanismos, reproduzem essas distinções força entre classes sociais. (BOURDIEU &
PASSERON, 1976:218).
simbólicas.
Esses autores privilegiam família como O sistema escolar reproduz, assim, a nível
instituição reprodutora dos sistema social. social, os diferentes capitais culturais das
A família é que introduz o indivíduo no classes sociais e, por fim, as próprias
mundo da cultura, as crianças são classes sociais. Os mecanismos de
socializadas muito antes de entrarem na reprodução encontram sua explicação
escola. Essa socialização corresponde a ultima nas relações de poder, relações essas
valores (em sentido amplo) que são de domínio e subordinação que não podem
patrimônio cultural do universo social a que ser explicadas por um simples
pertencem. reconhecimento de consumos diferenciais.
Como, então, se relaciona a sua ação com Assim, quando analisam a função
aquela empreendida pelo sistema ideológica do sistema escolar, uma de suas
educacional preocupações é justamente a da possível
Durkheim, como seus seguidores, se autonomia que pode ser atribuída a ele, em
esforçava por assinalar que a importância relação à estrutura de classes. Com efeito,
do processo educacional se baseava no fato Bourdieu e Passeron perguntam:
de que o mesmo tinha como função
principal a transmissão da cultura na Como levar em conta a autonomia relativa
sociedade. Esta cultura era assim que a Escola deve à sua função específica,
apresentada como única, indivisa, sem deixar escapar as funções de classes
propriedade de todos os membros que que ela desempenha, necessariamente, em
compõem o conjunto social. uma sociedade dividida em classes?
(BOURDIEU & PASSERON, 1976:219).
Uma das pretensões de Bourdieu e Passeron
é justamente demostrar a não existência de E respondem:
uma cultura única, mais que:
Se não é fácil perceber simultaneamente a
Na realidade, devido ao fato de que elas autonomia relativa do sistema escolar, e sua
correspondem a interesses materiais e dependência relativa à estrutura das
simbólicos de grupos ou classes relações de classe, é porque, entre outras
diferentemente situadas nas relações de razões, a percepção das funções de classe
força, esses agentes pedagógicos tendem do sistema escolar está associada, na
sempre a reproduzir a estrutura de tradição teórica, a uma representação
distribuição do capital cultural entre esses instrumentalista das relações entre a escola
grupos ou classes, contribuído do mesmo e as classes dominantes como se a

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
comprovação da autonomia supusesse a lado e trabalho manual (formação técnica)
ilusão de neutralidade do sistema de ensino. de outro. Numerosos estudos mostraram
(BOURDIEU & PASSERON, 1976:220). amplamente que a escola capitalista não
pode, situada globalmente como está, ao
O que parece, sim, surgir da exposição é lado do trabalho intelectual, formar o
que no caso das relações entre escola e essencial do trabalho manual. A formação
classes sociais a harmonia apresentada profissional operaria e essencialmente o
pelos autores parece perfeita: as estruturas saber técnico operário não se ensina (não
objetivas produzem os habitus de classe e, pode ser ensinado) na escola capitalista,
em particular, as disposições e nem mesmo em suas máquinas e aparelhos
predisposições que, gerando as praticas do ensino técnico. O que se ensina
adaptadas a essas estruturas, permitem o principalmente à classe operaria é a
funcionamento e a perpetuação das disciplina, o respeito à autoridade , a
estruturas. veneração de um trabalho intelectual que se
Bourdieu e Passeron falam da reprodução acha quase sempre fora do aparelho escolar.
De maneira alguma, as coisas se
das classes do ponto de vista de uma analise
ideológica. apresentam da mesma forma para a nova
pequena burguesia e para o trabalho
Neste sentido, a noção de existência de intelectual, sendo sua força de trabalho, em
códigos lingüisticos é de central seu lado intelectual, efetivamente formada
importância. Existem códigos lingüisticos pela escola.
que se expressam claramente na linguagem,
gerando relações diferentes, constituem (POULANTZAS, 1975:288)
representações, significações próprias da Isto é, o que Poulantzas tenta reafirmar é
cultura de grupos ou classes sociais. que as funções da escola só podem ser
Frente a essa cultura fragmentada, o sistema analisadas em função das classes sociais às
escolar impõe uma norma lingüistica e quais dirige sua ação, e não em função de
instituições ou redes escolares. Isso nos
cultural determinada, mas aproximada
àquela que é parte do universo simbólico permite encontrar no interior da escola uma
reprodução da divisão social do trabalho e
das famílias burguesas, e distanciada, em
conseqüência, daquela dos setores afirmar que:
populares. O êxito ou o fracasso das O principal papel da escola capitalista não é
crianças na escola se explica pela distancia qualificar diferentemente o trabalho manual
de sua cultura ou língua em relação à e o trabalho intelectual, mas, muito mas,
cultura e à língua escolares. desqualificar o trabalho manual (sujeitá-lo),
Finalmente, introduziremos o ponto de vista qualificando só o trabalho intelectual.
de Poulantzas sobre o papel da escola, no
qual se privilegia como eixo de analise a
divisão trabalho intelectual/trabalho
manual, como forma de analisar tanto a
função ideológica como a de reprodução da
força de trabalho anexa à mesma:

Com efeito, só se pode dizer de forma


totalmente análoga e aproximativa que a
escola forma trabalho intelectual de um

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
ASPECTOS PSICOLÓGICOS adolescente, mostrara um vivo interesse
DA EDUCAÇÃO - A RELAÇÃO pela literatura, como também por muitas
DESENVOLVIMENTO / outras manifestações artísticas e culturais e
APRENDIZAGEM: DIFERENTES uma inusitada capacidade para compartilhar
ABORDAGENS, A RELAÇÃO esses interesses e envolver os que estavam à
PENSAMENTO / LINGUAGEM - A sua volta em seus projetos. Na universidade
FORMAÇÃO DE CONCEITOS, estudara direito, mas igualmente fisolofia e
CRESCIMENTO E história. Sem dar mostras de submissão ao
DESENVOLVIMENTO: O marxismo como ideologia, foi desde muito
BIOLÓGICO, O PSICOLÓGICO E O jovem um ativo pensador marxista. Viveu
SOCIAL. com entusiasmo a revolução soviética de
1917, compartilhou com outros eminentes
autores de sua geração a intensidade
Nas primeiras décadas do século intelectual e a efervescência criativa dos
XX, a psicologia já era uma disciplina anos imediatamente posteriores e envolveu-
se ativamente na tarefa revolucionária de
científica reconhecida e em crescente
processo de institucionalização na América construir uma nova sociedade, uma nova
cultura, uma nova ciência e um novo
do Norte e em muitos países europeus.
Tinham sido publicados importantes homem. Esse ambicioso projeto de
estudos sobre o desenvolvimento das transformação tinha de apoiar-se
necessariamente em uma teoria científica
capacidades durante a infância e gozava de
grande prestígio a pesquisa experimental sobre a natureza humana e sua mudança;
sobre a aprendizagem animal e a humana. uma teoria que só podia ser o resultado da
aplicação da análise materialista dialética às
Produzira-se, inclusive, uma notável
funções psicológicas humanas e às
literatura sobre a aplicação de tais
descobertas da psicologia evolutiva e da produções artísticas e culturais. Daí
psicologia da aprendizagem na educação emergem todos os temas de pesquisa que
das crianças. Entretanto, nenhum dos foram tratados sucessivamente por
Vygotsky: a necessidade de encontrar um
sistemas teóricos construídos antes de 1925
método (o método genético experimental) e
tinham considerado a educação como
processo decisivo na gênese das uma unidade de análise (a atividade
capacidades psicológicas que nos instrumental e a interação) para o estudo
científico da psicologia, a origem sócio-
caracterizam como seres humanos. Por isso,
pode parecer um tanto surpreendente que histórica das funções psicológicas
superiores, a importância dos instrumentos
um jovem e desconhecido professor de
de mediação na gênese e na variabilidade
psicologia na Escola de Magistério de uma
pequena capital de província da Rússia cultural da consciência, as relações entre
aprendizagem e desenvolvimento, a
ousasse propor e desenvolver uma teoria
revolucionária na qual a natureza humana é organização semiótica do pensamento, etc.
o resultado da interiorização, socialmente Vygotsky viveu apenas o suficiente para
nraçar com rigor as linhas mestras desse
guiada, da experiência cultural transmitida
de geração em geração. Mas aquele ousado ingente processo de reconstrução da
psicologia. Seus muitos colaboradores e
LevSemionovitch Vygotsky (1896-1934)
discípulos, entre os quais se destacam
era um intelectual excepcional em
circunstâncias igualmente excepcionais. principalmente Luria, Leontiev,
Zaporozhets, Levina, Elkonin e Galperin,
Tivera uma educação muito cuidadosa e
deram continuidade à sua obra inacabada.
abrangente em sua infância. Desde

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
Esses desenvolvimentos das concepções e pesquisadores assumiram e integraram os
das instituições vygotskianas constituem princípios da escola soviética são
atualmente o mais estimulante da produção impossíveis de rever de modo detalhado,
da chamada "escola de psicologia diferenciado e sistemático em um capítulo
soviética". Os trabalhos de Vygotsky de um texto com essas características e, por
ficaram praticamente desconhecidos no isso, optamos por ajustar-nos aos
Ocidente, até que, em 1962, publicou-se em pressupostos centrais da teoria e
mglês uma versão resumida de Pensamento complementá-los brevemente com os
e linguagem, uma de suas obras capitais. aportes recentes dos autores ou das autoras
Entre 1979 e 1984 recupera-se seu legado mais influentes no âmbito internacional e
intelectual e científico. Desde então, sua no espanhol.
influência não parou de crescer e hoje sua
teoria sociocultural e uma referência
inegável no desenvolvimento histórico da MÉTODO GENÉTICO: A C O N
psicologia. Desde que concluiu seus D U T A COMO A HISTÓRIA DA
estudos, Vygotsky sempre trabalhou como
CONDUTA
professor. Embora tenha multiplicado suas
atividades e dedicado muitas energias à
pesquisa e à escrita, sua principal ocupação
sempre foi a docência. Foi mais educador O estudo dos processos
que psicólogo e chegou à psicologia por seu psicológicos de uma perspectiva histórico-
interesse pela educação. Em sua concepção cultural necessitou do desenvolvimento de
psicológica, a educação é o processo central uma metodologia consistente com seus
da humanização, e a escola, o principal princípios teóricos. Para Vygotsky
"laboratório" para estudar a dimensão (Vygotsky, 1978), diferentemente dos
cultural, especificamente humana, do métodos utilizados para as teorias
desenvolvimento. Ao mesmo tempo, associacionistas, que se sustentam em um
durante toda sua '.ida científica sustentou esquema unidirecional "estímulo-resposta",
que o objetivo prático da psicologia é a a chave da compreensão da conduta residia
melhoria da sociedade por meio do nas relações dialéticas que esta mantém
aperfeiçoamento da educação. A teoria com seu meio. Assim, não apenas a
sociocultural foi um remédio para a natureza influi na conduta humana, como
psicologia individualista tradicional e também as pessoas modificam e criam suas
serviu não só para redefinir muitas próprias condições de desenvolvimento. A
perguntas da pesquisa, como também para crítica aos modelos teóricos dominantes
formular questões de uma perspectiva em significava também desmantelar a maneira
que a dimensão social adquire um caráter como os dados chegavam a se constituir
fundamental na explicação da natureza como tais. Vygotsky rechaçava a concepção
humana. A perspectiva cultural conta hoje positivista dos métodos como ferramentas
com um extenso corpo de pesquisadores, neutras que podiam ser utilizadas por
tanto em psicologia básica como evolutiva qualquer orientação com pretensões
ou em psicologia da educação; científicas, independentemente do enfoque
especificamente relacionada com a escola teórico de que se tratasse (Rivière, 1984). O
como instituição cultural na qual se método, por sua vez, mantinha uma estreita
produzem aprendizagens. A diversidade de relação com a argumentação teórica, e foi
aplicações que resultaram de tal perspectiva precisamente essa necessidade de novas
e das diferentes formas como os formas de pesquisa concordantes com a

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psicologia que estava construindo que o explicação genotípica - que leva em conta a
levou ao desenvolvimento do método história, a gênese e o desenvolvimento da
genético-experimental. Segundo Vygotsky, conduta, mais do que a mera descrição de
o estudo do desenvolvimento de qualquer um estado particular dessa conduta
processo psicológico permite descobrir sua (Vygotsky, 1978). Entretanto, uma proposta
essência ou sua natureza; é somente pela com tais características ficaria incompleta
análise de sua evolução que é possível sem uma redefinição do que se entende por
entender o que significa. "Estudar algo do desenvolvimento. Em outras palavras, a
ponto de vista histórico", segundo o autor, exigência de uma reconstrução do processo
não consiste em analisar acontecimentos de desenvolvimento dos fenômenos
passados, mas significa "estudá-lo em seu psicológicos implica, por sua vez, uma
processo de mudança" (Vygotsky, 1978). noção específica da própria natureza do
Tais idéias estão fundadas nos aportes de desenvolvimento. De acordo com Wertsch
Blonski, para quem "a conduta só pode ser (1985), tal noção pode concretizar-se em
compreendida como a história da conduta" três pontos.
(cit. por Vygotsky, 1978). Entender o
comportamento humano requer, portanto, a Em primeiro lugar, o
análise do próprio desenvolvimento, de desenvolvimento não é definido como um
suas origens e das transformações genéticas incremento quantitativo e cumulativo
(Wetsch, 1991). O contrário consistiria em constante nas capacidades dos indivíduos,
estudar condutas que Vygotsky (1978) mas como um processo no qual se dão
chamava de "fossilizadas", isto é, processos saltos "revolucionários", capazes de mudar
que se desenvolveram historicamente e a própria natureza do desenvolvimento. O
cujos produtos apresentam-se diante de nós conjunto de transformações não obedeceria
sem que possamos ter acesso à sua origem. a uma acumulação progressiva de traços
Além disso, centrar-se no processo mais independentes. Por outro lado, em
que no produto permitiria não apenas uma determinados momentos do
descrição do funcionamento psicológico, desenvolvimento, novas forças e novos
mas sim, o que é muito mais importante de princípios educacionais entrariam em jogo
acordo com os interesses de Vygotsky, (princípios biológicos ou fisiológicos, como
permitiria uma explicação deles. Vygotsky a maturação sexual, por exemplo, ou
(1978, p. 105) resumiu como segue os relativos a fatores sociais). Um único
elementos básicos de sua proposta princípio não pode dar conta da mudança;
metodológica. Em poucas palavras, o mas as forças que controlam o
objetivo da análise psicológica e seus desenvolvimento se relacionariam de forma
fatores essenciais são os seguintes: 1) a diferente em momentos distintos, o que
análise do processo em oposição à análise originaria a mudanças qualitativas. A nova
do objeto; 2) a análise que revela relações reorganização resultante seria explicada,
causais, reais ou dinâmicas em oposição à então, por um conjunto diferente de
enumeração dos traços externos de um princípios. Em segundo lugar, essas
processo, ou seja, a análise deve ser reorganizações estão relacionadas com o
explicativa, não descritiva; 3) a análise surgimento de novas formas de mediação
evolutiva que retorna à fonte principal e dos processos psicológicos ao longo do
reconstrói todos os pontos do desenvolvimento (por exemplo, no
desenvolvimento de uma determinada desenvolvimento do indivíduo surgiriam
estrutura. Temos, portanto, como elementos novos instrumentos de mediação, como a
indispensáveis a análise dos processos, a escrita, e novas estratégias de resolução de

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
problemas; se nos referimos ao Nesse caso, Vygotsky estava interessado no
desenvolvimento da espécie, o surgimento desenvolvimento de diferentes formas de
dos signos psicológicos na história funcionamento intelectual, dependendo de
implicaria um desenvolvimento não diferentes épocas históricas e associadas a
exclusivamente governado pelos princípios diferentes estruturas socioeconômicas.
evolutivos darwinianos). Não se trata de Chegava a tais comparações por meio do
que as novas formas de mediação estudo de diferentes culturas que
substituam as anteriores, mas de que as correspondiam, de acordo com esse
relações entre os diferentes fatores devam enfoque, a diferentes momentos históricos,
ser reformulados para que se integrem. Por mas a maioria dos argumentos relativos a
último, o terceiro dos aspectos relativos à esse domínio - como no caso do domínio
noção de desenvolvimento em Vygotsky anterior - era baseada em conclusões
refere-se à inexistência de uma única classe teóricas ou contribuições da obra de outros
de desenvolvimento relevante para a autores (Wertsch, 1985). No domínio
explicação do funcionamento intelectual ontogenético, que se refere ao
humano, mas há diferentes tipos de desenvolvimento pessoal, podem-se
desenvolvimento ou domínios genéticos. distinguir dois planos de desenvolvimento:
Vygotsky referiu-se a quatro domínios a linha natural e a linha cultural do
genéticos necessários para entender a desenvolvimento. A linha natural do
conduta humana e os processos desenvolvimento é determinada pelas
psicológicos, a saber, o filogenéticoo características biológicas da espécie,
sociogenético, o ontogenético e o chamado transmitidas geneticamente e que em
microgenético. Desse modo, o uso do determinados aspectos fazem sua aparição
método genético não se circunscreve ao de acordo com um calendário maturativo
domínio ontogenético, embora os trabalhos comum. Tais características configuram e
empíricos de Vygotsky estejam mais possibilitam o funcionamento mental
relacionados com esse nível (Wertsch, elementar, os chamados processos
1991). psicológicos inferiores. Esses processos,
resultantes da evolução filogenética da
Em relação à filogênese, ou seja, a espécie, aproximam-nos das demais
história evolutiva da espécie, Vygotsky espécies animais; contudo, ao longo do
centrou-se na comparação entre os símios desenvolvimento humano são modificados
superiores e os seres humanos e aceitou o pela herança socialmente transmitida. Na
princípio darwiniano da adaptação como concepção vygotskiana, a evolução
fator explicativo das transformações histórico-cultural da espécie cria e define
(Leontiev, 1959/1983). De acordo com o outro repertório de funções psicológicas
autor, o abismo qualitativo que separa os que supõem um salto qualitativo em relação
símios e os seres humanos é explicado não aos processos psicológicos inferiores.
só pelas transformações biológicas, como Assim, funções psicológicas como a
também pelo uso de ferramentas, que atenção, a percepção, o pensamento ou a
desempenharam um papel fundamental na memória aparecem primeiro como
emergência das funções psicológicas processos elementares para mais tarde se
superiores (voltaremos a tratar do assunto transformarem em processos superiores. A
mais adiante). O domínio sociogenético ou influência da linha cultural do
histórico-cultural refere-se à evolução do desenvolvimento, por meio da linguagem e
indivíduo não como sujeito biológico, mas de outros sistemas simbólicos, traduz-se,
como participante em um grupo cultural. portanto, na aquisição das funções

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psicológicas superiores, genuinamente obra de Vygotsky, uma expressão mais
humanas. A esse domínio ontogenético clara das origens sociais do psiquismo
correspondem os estudos sobre a humano.
interiorização: a gênese e a transformação
de um processo psicológico desde suas Vygotsky (1978) formulou a
formas sociais e compartilhadas até suas relação entre o gem faziam parte de uma
formas privadas ou individuais (Vygotsky, atividade social. Tal grupo social e o
1978). Por último, o domínio microgenético desenvolvimento pessoal em idéia também
refere-se a dois tipos de processos que está presente em outros autores, mas, para
interessavam a Vygotsky. Por um lado, a Vygotsky, diferentemente desua Lei
gênese de um ato mental singular, e, por genética do desenvolvimento cultural: les, é
outro, as transformações ocorridas durante na qualidade da atividade externa, cone
uma sessão experimental como as que semioticamente mediada, Qualquer função
utilizava nos projetos de suas pesquisas. Em no desenvolvimento cul- siderada social o
qualquer caso, trata-se das mudanças germe do que depois consque se encontra
ocorridas em um período delimitado e não tural do menino ou da menina aparece duas
muito extenso de tempo. Embora Vygotsky vezes, ou em dois planos. Primeiro tituirá a
não tenha feito uma referência direta a um dinâmica intrapsicológica; por exemaparece
domínio microgenético como tal, alguns no plano social e depois no plano plo,
autores assinalaram que o interesse por esse propriedades estruturais do
nível de análise pode ser encontrado em funcionamenpsicológico. Em primeiro
seus trabalhos, razão pela qual parece lugar, aparece en- to intrapsicológico como
adequado incluí-lo como mais um domínio o da organização tre as pessoas como uma
(Wertsch, 1985). Para a reformulação de categoria inter- dialética pergunta-resposta
uma proposta desse estilo sobre a análise passariam a fazer psicológica e depois
genética, Vygotsky utilizou referências e aparece no menino parte, por meio da
teve influência de pensadores como Marx, internalização, do funcioou na menina
Engels e Hegel, assim como de psicólogos como uma categoria intra- namento interno.
como Blonski, Piaget e Werner; contudo, Vygotsky (1978) resume em psicológica.
reelaborou tais influências de acordo com Isso também é certo com re- três pontos as
seu próprio discurso e atribuiu ao método transformações que ocorrem em lação à
genético um caráter essencial em sua teoria. atenção voluntária, à memória ló- tal
processo: gica, à formação de conceitos e
ao desenvolvimento da volição [...] As
relações soa) Uma operação que
A ORIGEM SOCIAL DO inicialmente repreciais ou as relações entre
FUNCIONAMENTO MENTAL NO as pessoas senta uma atividade externa se
INDIVÍDUO reconssubjazem geneticamente a todas as
Como se mostrou no Capítulo 1 do funtrói e começa a ocorrer internamente.
primeiro Volume desta obra, a idéia de que ções e às suas relações. b) Um processo
interpessoal é transformado em outro
os processos psicológicos superiores têm
sua origem na vida social, nas interações intrapessoal. Podemos nos perguntar, pelo
menos, c) A transformação de um processo
que se mantêm com outras pessoas e na
incomo ocorre essa transição do social para
participação em atividades reguladas
culturalmente talvez seja o postulado o interpessoal em um processo intrapessoal
é o resultado de uma prolongadividual, em
emblemático da teoria histórico-cultural.
No domínio ontogenético, encontramos, na que ela consiste e como os dois da série de

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
acontecimentos evolutiplanos se assim 1978; Wertsch, 1985). Vygotsky
relacionam. Os conceitos de interiovos. O concebe a internalização como pode ser
processo, mesmo sendo transrização (ou definido oconceito clássico de adapta"um
internalização), zona de desenvolformado, processo em que certos aspectos da es- ção
continua existindo e muda vimento na lógica do determinismo darwiniano a
proximal e apropriação são alguma das trutura da atividade realizada em um plano
como uma forma externa de apropriação tem como resultado a
ativiferramentas que serviram à teoria reconstruexterno passam a ser executados
sociocultural dade durante certo tempo em um pla- ção, por parte dos indivíduos,
antes de para responder a essas perguntas. de faculdades e no interno" (Wertsch,
internalizar-se definitivamente (p. O 1985); como um pro- modos de
processo envolvido na transformação 93-94 comportamento desenvolvidos hiscesso de
da ed. esp.) das atividades ou dos controle dos signos que em sua ori-
fenômenos sociais em fenômenos toricamente. A apropriação é um processo
psicológicos é o de interiorização. ativo, de interação com os objetos e os
Vygotsky e posteriormente Leontiev utiA indivíduos e de reconstrução pessoal. Um
interiorização é a reconstrução em nível processo ativo em que o sujeito tem
interpsicológico de uma operação distintas opções semióticas, ou seja, pode
intrapsico- lizam o termo apropriação para recorrer a diferentes linguagens para
referir-se à relógica, graças às ações com resolver os problemas. Em cada momento,
signos (Vygotsky, construção feita pelos as pessoas conferem significado às
sujeitos das ferramen1978). Esse processo situações das quais participam e à sua
converte uma operação tas psicológicas em própria atividade em função de suas
seu desenvolvimento hisrealizada no plano características pessoais idiossincráticas, de
externo ou social em uma tórico. Segundo suas idéias, de seus conhecimentos, de sua
Leontiev (1959-1983), Vygoque se realiza experiência, de seus interesses, etc. Existem
no plano interno ou psicológi- tsky dois níveis de análise dos processos
interpretava tal aquisição como o resultaco. biológicos superiores. Não apenas o
A interiorização não deve ser entendida do indivíduo como nível de análise pode
da apropriação, por parte do homem, dos pensar ou recordar. Também as duplas ou
como uma cópia ou uma transferência, mas os grupos de pessoas podem fazê-lo. A
produtos da cultura humana no curso de memória, a atenção ou o pensamento
seus sim como um processo de podem ser predicados do social além de
transformação que contatos com os formas individuais de ação (Rivière, 1984).
semelhantes. Nesse sentido, implica O pensamento e a recordação nunca
mudanças nas estruturas e nas fun- os seres pertencem ao sujeito, mas ao indivíduo,
humanos, mais do que adaptar-se aos ções atuando com outros indivíduos, por meio
interiorizadas. Longe de ser uma trans- dos instrumentos de mediação. Afinados
fenômenos à sua volta, os fazem seus ou, o com tais formulações, alguns autores, como
que missão de propriedades, é definido Middleton e Edwards, estudaram processos
como o é o mesmo, apropriam-se deles. que chamaram de memória coletiva ou
Enquanto a processo pelo qual o mesmo recordação compartilhada (Edwards e
plano interpsi- adaptação implica um Middleton, 1986). Em seus trabalhos,
processo de modificacológico se forma descrevem dinâmicas sociais em que a
(Leontiev, 1981; Vygotsky, ção das engrenagem de turnos em uma conversa
faculdades e das características dos constrói uma versão do que aconteceu ou
indivíduos por exigências do meio - ou do que vale como certo. Não se trata apenas

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
de compartilhar memórias de fatos e de através da resolução de um problema sob a
objetos que são sociais na origem. Recordar orientação de um adulto ou em colaboração
juntos não significa unicamente, por com outro companheiro mais capaz. Para
exemplo, compartilhar um conteúdo de Vygotsky, como vimos, a participação dos
memória que pode ser social, situando a meninos e das meninas nas atividades
própria memória como um processo culturais, em que compartilham com
essencialmente individual. Recordar juntos colegas mais capazes os conhecimentos e
é construir coletivamente uma narração na instrumentos desenvolvidos por sua cultura,
qual os diversos participantes são elementos permite que interiorizem os instrumentos
de um sistema comum, em que a memória necessários para pensar e atuar. Os agentes
pode ser compreendida como uma ação ativos na zona de desenvolvimento
social organizada (Edwards e Middleton, proximal (ZDP daqui em diante) não
1986). Assim, as atividades no plano incluem apenas pessoas, como crianças e
intrapsicológico são sociais porque se adultos com grau diverso de experiência,
realizam com outras pessoas dentro de uma mas também artefatos, como livros, vídeos,
cultura e com ferramentas que a própria suporte informático, etc. Gostaríamos de
cultura proporciona, mas são também destacar algumas características dessa zona
sociais, porque são compartilhadas ou de desenvolvimento mais próxima ou mais
concebidas como funções distribuídas no imediata (Wertsch, 1985) que nos parecem
grupo. De forma complementar, o relevantes por suas implicações para a
funcionamento no plano intrapsicológico compreensão da intervenção educacional
reflete seus precursores interpsicológicos em contextos formais como a escola. Ao
ou, o que é o mesmo, retém sua natureza mesmo tempo, podemos inserir os trabalhos
quase social (Vygotsky, 1998) e retém as desenvolvidos hoje por outros autores que,
funções da interação social. da perspectiva sociocultural, permitem-nos
definir e enriquecer tal conceito (Álvarez e
Seguindo nessa linha, podemos nos dei Rio, 1990). Em primeiro lugar, a ZDP
perguntar como uma pessoa pode não é uma propriedade do indivíduo nem do
interiorizar os conteúdos e as ferramentas domínio interpsicológico, mas de ambos: é
psicológicas de sua cultura, como ocorre determinada, ao mesmo tempo, pelo nível
essa transição do interpessoal ao de desenvolvimento da criança e pelas
intrapessoal. O conceito de zona de formas de ensino envolvidos no
desenvolvimento proximal formulado por desenvolvimento da atividade (Wertsch,
Vygotsky responde à pergunta ao definir 1985). De acordo com essa determinação,
uma zona na qual funciona um sistema são as atividades educacionais - no caso da
interativo, uma estrutura de apoio criada escola, podemos dizer os processos de
por outras pessoas e pelas ferramentas ensino e aprendizagem - que criam a zona
culturais apropriadas para uma situação de desenvolvimento proximal. A ZDR em
(Cole, 1984; Newman, Griffin e Cole, segundo lugar, não é uma zona estática,
1989), que permite ao indivíduo ir além de mas dinâmica, em que cada passo é uma
suas competências atuais. Vygotsky (1978, construção interativa específica desse
p. 133 da edição castelhana) diz a respeito momento, que, por sua vez, abre diversos
dela que Não é senão a distância entre o canais de evolução futuros. O adulto ou a
nível real de desenvolvimento, determinado criança mais competente realiza ações para
pela capacidade de resolver que o participante menos competente possa
independentemente um problema, e o nível fazer de forma compartilhada o que não é
de desenvolvimento potencial, determinado capaz de realizar sozinho. Em tais ações, as

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
pessoas adultas controlam o centro de situa as intervenções dos participantes, os
atenção e mantêm os segmentos da tarefa alunos podem apropriarse da situação em
nos quais participam, sempre em um nível sentidos não-previstos pelo professor.
de complexidade adequado às Portanto, as compreensões de meninos e
possibilidades de meninos e meninas meninas desepenham um papel importante
(Bruner, 1996). Estamos falando de um no sistema funcional. Todos os pontos de
processo de "ajuste" a que Bruner (1986, p. vista envolvidos em uma ZDP são decisivos
86 da ed. cast.) se referiu afirmando que o para sua evolução. Essa qualidade está
adulto "permanece sempre no limite estreitamente relacionada com a natureza
crescente da competência da criança". Nas dinâmica da ZDP a que nos referimos no
palavras de Wertsch (1985, p. 84 da ed. parágrafo anterior. Rogoff (1990) também
cast.), a ZDP é "a região dinâmica da destacou a interdependência das ações de
sensibilidade na qual se pode realizar a crianças e de adultos no desenvolvimento
transição do funcionamento das atividades, acentuando o caráter ativo
interpsicológico para o funcionamento de meninos e meninas, que se esforçam em
intrapsicológico. Trabalhando de acordo participar e compartilhar de tais atividades.
com essa tradição teórica, Wood, Bruner e A discussão sobre a noção de ZDP levanos
Ross (1976) formularam o conceito de a uma breve reflexão sobre suas relações
andaime que também reflete, a nosso ver, o com os processos de desenvolvimento. Um
caráter dinâmico a que temos nos referido. estudo detalhado dos conceitos de
O conceito sugere que o apoio eficaz desenvolvimento e de aprendizagem em
proporcionado à criança pelo adulto é Vygotsky nos permitirá avaliar a
aquele que se ajusta a suas competências complexidade das relações entre ambos e a
em cada momento e que varia à medida que dificuldade de dar uma resposta simples ou
esta pode ter mais responsabilidade na concludente (Vygotsky, 1978). Talvez
atividade. A resposta do adulto em função Vygotsky não tenha tido tempo para
da criança tem, então, a condição perfilar e polir sua obra; o que podemos
complementar de ser um apoio ajustado, encontrar são diferentes versões da maneira
mas de forma transitória; a retirada da ajuda como ensino e aprendizagem estão
e a cessão progressiva do controle à relacionados em seus textos (para uma
criança, de forma contingente a seu discussão sobre esse aspecto, ver Ramírez e
progresso na tarefa, asseguram a Wertsch, 1997: Wertsch, 1985). Aqui, nos
transferência da responsabilidade, que é em interessa apenas assinalar brevemente que,
si a meta da atividade. O terceiro e último para Vygotsky, os processos evolutivos e os
aspecto que queremos destacar é que o de aprendizagem não coincidem, nem são
papel ativo dos alunos desempenha um idênticos, ainda que constituam uma
papel importante no caráter dinâmico da unidade (Vygotsky, 1978). O
ZDP As pesquisas de Newman, Griffin e desenvolvimento é encorajado pelos
Cole (1989), realizadas no contexto processos de aprendizagem e, em grande
educacional, mostraram que as intervenções medida, é conseqüência deles. "O processo
de todos os participantes em uma atividade, evolutivo vai "a reboque" do processo de
e não apenas as dos mais especializados, é aprendizagem; é nessa seqüência que se
fundamental para o rumo que tais torna ZDP", ainda que "o desenvolvimento
atividades tomam. Ainda que a definição da nunca siga a aprendizagem escolar do
tarefa predominante seja a do professor, isto mesmo modo que uma sombra segue o
é, o professor ou a professora, na maioria objeto que a projeta" (Vygotsky, p. 140 da
dos casos, orienta as trocas e dá sentido ou ed. cast.).

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
se às condições do momento. A medida que
a responsabilidade e a autonomia dos
P A R T I C I P A Ç Ã O GUIADA, alunos for progressivamente maior, o
A P R O P R I A Ç Ã O E controle da atividade será transferido do
INTERSUBJETIVIDADE adulto para a própria criança. Como
expusemos, mediante a participação guiada,
as crianças podem apropriar-se dos
Barbara Rogoff retomou e ampliou conhecimentos e das ferramentas culturais
em suas pesquisas o conceito de ZDP que fazem parte da atividade. O conceito de
integrandoo na chamada participação apropriação, mais uma vez, acentua o fato
guiada, que nos parece um conceito de de que esse fazer seu supõe uma
especial interesse para o contexto escolar. reconstrução e uma transformação dos
De acordo com a autora, a aprendizagem conhecimentos e dos instrumentos que são
pode ser compreendida como a apropriação objeto de apropriação (Leontiev, 1981;
dos recursos da cultura mediante a Rogoff, 1990). Uma reconstrução na qual
participação em atividades conjuntas são determinantes fatores pessoais, como a
(Rogoff, 1990). A aprendizagem escolar é compreensão dos participantes ou a
um fenômeno comunitário, no qual alunos e representação que construíram da situação.
alunas aprendem graças à sua participação Os conhecimentos e os instrumentos assim
nas atividades desenvolvidas em adquiridos serão ainda utilizados em
comunidades de alunos, atividades que situações futuras de forma contextualizada,
estão conectadas com as práticas de sua o que pode significar usos diferentes aos do
comunidade e com a sua história. Nos contexto no qual se aprendeu (Rogoff,
processos que ocorrem quando crianças e 1990). Newman, Griffin e Cole (1989)
adultos realizam juntos tais atividades, as utilizam também o conceito de apropriação
crianças adquirem formas mais maduras de para compreender as situações educacionais
participação na sociedade graças à que se dão no contexto escolar. De acordo
assistência direta que recebem dos adultos com esses autores, o professor, que
ou de outras crianças. Segundo Rogoff estrutura as interações na ZDP inclui as
(1990), são dois os processos que ocorrem ações dos alunos no curso das atividades
na participação guiada. Em primeiro lugar, que ele desenvolve e controla. Poderíamos
os adultos e os companheiros apoiam, dizer que, procedendo dessa maneira, insere
estimulam e organizam as atividades de as ações das crianças em significados
forma que as crianças possam realizar a concretos estabelecidos por ele. O professor
parte que é acessível a elas. O que fazem é opera com o que os autores chamam de
construir pontes do nível de compreensão e "ficção estratégica", isto é, tornam possível
de habilidade do menino ou da menina até que os alunos realizem uma determinada
outros níveis mais complexos. Tornando o parte da tarefa - e que a façam bem -
aluno responsável por parte da atividade mesmo quando não a compreendam em sua
que se compartilha, possibilita-se que ele globalidade e a interpretem de acordo com
controle metas ao mesmo tempo exeqüíveis seus próprios objetivos. Por outro lado, "o
e desafiadoras, metas que aumentam sua processo de apropriação mostra à criança
complexidade à medida que crescem o como a tarefa e sua resposta a ela são vistas
conhecimento e as habilidades de meninos do ponto de vista da análise do professor"
e meninas. Em segundo lugar, os adultos e (Newman, Griffin e Cole, 1989, p. 150 da
os companheiros estruturam a participação ed. cast.). A construção de situações
das crianças de forma dinâmica, ajustando- educacionais e a comunicação que se dá

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nelas torna possível, dessa maneira, um da interação possam compartilhar
diálogo com o futuro da criança. Ao longo perspectivas; essa compreensão mútua foi
da discussão sobre a ZDP e o contexto chamada de intersubjetividade
educacional, parece que a idéia de ajuste se (Rommetveit, 1979). Podemos nos entender
repete como um elemento essencial para o à medida que compartilhamos um ponto de
projeto da intervenção. Gostaríamos de vista, uma referência comum à qual se
fazer duas observações sobre esse aspecto. chega na comunicação modificando o
A primeira é que, situados na perspectiva próprio ponto de vista, se necessário, para
construtivista dos processos de ensino e aproximá-lo do de outro. Wertsch (1985),
aprendizagem, parece que todo o processo em uma discussão mais ampla sobre o
de construção do conhecimento na escola conceito de ZDP, assinalou que o ajuste
nos leva a "entender a influência mútuo que deve se produzir em tais
educacional em termos de ajuda prestada à situações para que se dê a comunicação
atividade construtiva do aluno; e a depende, em grande medida, de que os
influência educacional eficaz em termos de participantes compartilhem uma certa
um ajuste constante e sustentado dessa representação da situação, isto é, uma
ajuda às vicissitudes do processo de mesma definição da situação. Edwards e
construção realizado pelo aluno" (Coll, Mercer (1987) chamaram-na de
1990b, p. 448). A segunda consideração, compreensão conjunta ou conhecimento
que é uma reflexão compartilhada com compartilhado. Essa definição
muitos outros autores, refere-se à necessária intersubjetiva da situação pode ser
reserva que devemos ter quando alcançada graças a um processo de
transferimos os conceitos formulados para negociação das diferentes definições intra-
outros contextos de atividade ao contexto subjetivas dos participantes das interações.
escolar, já que podem ter uma validade Tanto a definição da situação a partir dos
limitada. No caso da escola, a compreensão significados subjetivos como o
dos mecanismos pelos quais se dá o ajuste estabelecimento de uma perspectiva comum
da ajuda educacional ao processo de de significados compartilhados dependem
construção do conhecimento dos alunos do uso de formas apropriadas de mediação
ainda é muito limitada e provém, em sua semiótica (Wertsch, 1985). Na opinião de
maior parte, do estudo das relações Coll e outros (1992), há duas características
didáticas mãe/filho ou adulto/criança em novas da análise que Wertsch realiza em
situações educacionais estruturadas (Coll, relação a esse ponto: a valorização do
1990b) .Visto que se trata de conceitos contexto de construção de significados
elaborados sobre a análise de interações compartilhados e a importância da
didáticas ou muito controladas dentro e fora linguagem para a compreensão dos
do contexto escolar (fundamentalmente processos de influência educacional. Este
fora), parece necessário um trabalho de último aspecto será referido a seguir.
pesquisa no contexto natural da sala de aula
que ponha à prova, confirme e amplie ou As contribuições mais importantes,
redefina a utilidade de tais significados para e inclusive mais originais, de Vygotsky
a explicação dos processos de construção referem-se à atividade humana como um
de conhecimento (ver Capítulo 17 deste fenômeno mediado por signos e
volume). Por último, e em relação ao ferramentas. E precisamente essa função
conceito de ZDP para que a comunicação mediadora que torna possível a analogia
seja possível, e com ela a atividade entre ambos no desenvolvimento
conjunta, é necessário que os participantes psicológico humano (Vygotsky, 1978). A

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
filosofia marxista, pelo discurso de Engels, concepção instrumental está
influenciou em muitos aspectos do indissoluvelmente ligada à tese da gênese
desenvolvimento teórico das teses sócio-histórica das funções psicológicas. Os
vygotskianas e, particularmente, na signos têm um caráter social, são produto
mediação instrumental. O argumento de das práticas culturais. O acesso a eles por
Vygotsky era que nas relações entre as parte dos indivíduos é assegurado por sua
pessoas e seu meio, nas quais estão vinculação a uma cultura específica. A ação
envolvidas as formas superiores de mediada é sempre uma ação situada,
comportamento humano, os indivíduos dependente do meio no qual ocorre
modificam ativamente a situação ambiental. (Wertsch, 1991). Assim, os signos, produto
Por meio do uso de ferramentas, as pessoas da evolução sócio-histórica dos grupos
regulam e transformam a natureza e, com culturais, são adquiridos mediante as
isso, a si mesmas (Leontiev, 1959, 1983). práticas dessas culturas em atividades de
Especificamente, o uso de um sistema de interação social próxima. Não se trata,
signos. produzido socialmente e encontrado segundo Wertsch, de que todas as
pelo indivíduo em sua vida social, ferramentas e os signos sejam adquiridos
transforma a fala, o pensamento e, em mediante um ensino direto que pretenda
geral, a ação humana; signos estes que se esse objetivo, mas que os ambientes de
caracterizam por serem significativos - o interação proporcionam oportunidades
significado do signo como elemento suficientes para sua descoberta (Wertsch,
instrumental - e cuja natureza primordial é 1985). Como dizíamos, segundo Vygotsky,
comunicativa (W ertsc h, 1985). As a linguagem tranforma-se no sistema de
ferramentas psicológicas incluem diversos signos privilegiado pelo desenvolvimento
sistemas de signos: sistemas de numeração, psicológico humano. A linguagem medeia a
sistemas de símbolos algébricos, trabalhos relação com os outros e, além disso, a
de arte, esquemas, diagramas, mapas, relação da pessoa consigo mesma, isto é, de
desenhos e todo tipo de símbolos acordo com a lei genética do
convencionais, mas é a linguagem que se desenvolvimento cultural, a linguagem nos
torna, ao longo do desenvolvimento seres humanos, assim como nas demais
humano, o instrumento mediador funções psicológicas superiores, é primeiro
fundamental da ação psicológica uma ferramenta compartilhada com outros
(Vygotsky, 1978, 1982). Segundo participantes em atividades sociais, para
Vygotsky, do mesmo modo que.as depois tornar-se em uma ferramenta de
ferramentas materiais medeiam a relação diálogo interior. No princípio, a linguagem
com o ambiente físico, transformando-o, as tem uma função essencialmente
ferramentas psicológicas medeiam as comunicativa e de regulação da relação com
funções psicológicas, mudando a sua o mundo externo; mais adiante, a
natureza. Por exemplo, se a linguagem linguagem se torna um regulador da própria
introduz-se em uma função psicológica ação. Um signo sempre é, em primeiro
como a memória, essa função é lugar, um instrumento para influir nos
transformada. Não se trata apenas de que qs demais, e só depois se torna uma
signos facilitem formas mais eficazes de ferramenta que influi no próprio indivíduo
intervenção. A explicação de Vygotsky (Vygotsky, 1978). A tal ponto é importante
levava em conta que os instrumentos de na explicação vygotskiana que, como
mediação dão forma à atividade humana, argumentávamos anteriormente, os saltos
tanto no plano intrapsicológico como no qualitativos no desenvolvimento
interpsicológico (Vygotsky, 1978). Essa psicológico estão associados a novas

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
formas de mediação semiótica. O tratamento intrapsicológico, mais centrado
desenvolvimento não obedece a um nos processos que ocorrem no indivíduo e
incremento quantitativo, mas a também da perspectiva de uma psicologia
transformações qualitativas associadas às mais individual. No final de sua vida,
mudanças que se produzem no uso das entretanto, o tratamento do tema sofreu uma
ferramentas psicológicas. O interesse mudança. Sem abandonar seu interesse pela
primordial de Vygotsky ao estudar os análise intrapsicológica, interessou-se
sistemas de signos utilizados na igualmente pelo ensino dos conceitos no
comunicação humana centrava-se não na contexto de atividades situadas e
linguagem como sistema abstrato, mas na compartilhadas, ocorridas em um contexto
fala, particularmente na relação da fala com institucional, como é a escola.
a atividade social e a atividade individual Especificamente, "estava interessado em
(Wertsch, 1990). Conectando suas idéias como as formas de discurso encontradas na
com outros desenvolvimentos psicológicos instituição social da escolarização formal
atuais, poderíamos dizer que Vygotsky proporcionam o contexto subjacente no
estava interessado na análise do discurso qual se dá o desenvolvimento conceituai"
nas interações sociais, isto é, nas formas e (Wertsch, 1990, p. 116). Ou seja, estava
nos usos pragmáticos da linguagem. As interessado em situações concretas de
implicações desse conceito chegam à atividade professor/alunos: A tendência no
própria dimensão da unidade de análise da pensamento de Vygotsky até o fim de sua
atividade psicológica, que, para Vygotsky, vida é clara. Ele estava buscando uma
era o significado da palavra (Vygotsky, forma de relacionar o funcionamento
1982). Wertsch (1991), estendendo a tese psicológico do indivíduo a contextos
de Vygotsky e orientando o trabalho futuro socioculturais concretos, especificamente
na perspectiva sociocultural, oferece muitas ao contexto de ensino formal. Os
idéias interessantes, que mencionaremos a mecanismos teóricos que utilizou para
seguir. Ainda que Vygotsky, no nível da esclarecer essa relação estavam
formulação teórica da nova psicologia que fundamentados em seu tema da mediação
estava criando, desse atenção aos fatores semiótica; sua linha de raciocínio era
históricos e culturais, parece que em seus identificar as formas de fala ou
estudos empíricos estes receberam menos características do discurso de contextos
atenção. Vygotsky centrou-se mais no socioculturais concretos e examinar o
estudos de díadas ou pequenos grupos, nos impacto que seu domínio tinha no
quais o tratamento do funcionamento funcionamento mental (nos dois planos, o
individual era compatível com uma interpsicológico e o intrapsicológico).
perspectiva mais ampla em termos de Assim, o próprio Vygotsky estava
processos sociais (Wertsch, 1990). interessado na análise do discurso
Baseando-se no estudo da evolução dos educacional característico dos contextos
trabalhos do próprio Vygotsky, Wertsch, formais. Esse aspecto tem, entre outras,
junto com outros autores (Kozulin, 1994; uma implicação muito importante, que é de
Ramírez e Cubero, 1995), aponta uma reconhecer as formas de funcionamento
mudança nos interesses deste autor no final interpsicológico como atividades
da vida. De acordo com a análise desses socioculturais situadas. Atualmente, é um
autores, parece que no início Vygotsky dos aspectos que mais interessa aos
enfocava o estudo do desenvolvimento pesquisadores que, a partir dessa
intelectual nas crianças - o desenvolvimento orientação, tentam compreender a atividade
dos conceitos científicos - a partir de um escolar. Os trabalhos de Michael Cole e

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
seus colaboradores, a que já nos referimos contextos práticos de atividade em si: nelas
em relação aos conceitos de apropriação e se desenvolverão, em grande medida,
ZDP, são particularmente relevantes para a habilidades julgadas necessárias para
caracterização do contexto escolar e das contextos sociais futuros. Os meios
atividades que ocorrem ali. Entre os utilizados no contexto educacional são,
elementos que Cole (1990) considera além disso, característicos do tipo de
fundamentais para uma definição atividades que se desenvolvem ali, como é
sóciohistórica da escola, encontram-se o caso dos sistemas simbólicos de escrita. A
alguns aspectos sobre os quais já nos estrutura de participação e as formas de
estendemos, como o fato de que a mediação discurso também são específicas. E esse
cultural muda a estrutura das funções aspecto de seu trabalho que mais nos
psicológicas humanas ou que as funções interessa para a discussão do valor dos
psicológicas humanas são fenômenos signos como mediadores do
históricos; por isso, não nos deteremos mais desenvolvimento psicológico e, mais
sobre eles. Entretanto, interessa-nos trazer a especificamente, dos instrumentos de
este momento de discussão outro postulado mediação no contexto da educação formal.
básico que o autor destaca: o do estudo dos Os estudos sobre as formas como a
processos psicológicos por meio da análise linguagem é utilizada nas escolas revelam
da atividade prática. Isso está relacionado padrões que podem ser chamados de
com a especificidade de contexto dos discurso do ensino (Cole, 1990). Tal
processos mentais. O funcionamento discurso, diferente, na forma e no conteúdo,
psicológico humano tem sentido dentro de de outras interações verbais, revela turnos
um fluxo de interação social em que de interação dirigidos a proporcionar
diferentes participantes compartilham uma informação específica, controlar as
atividade prática; são esses indivíduos execuções dos participantes e avaliar o
concretos em contextos de relação progresso dos alunos, caracterizando-se por
concretos, cujo sistema social é a garantia estruturas interativas específicas do
da existência da atividade humana discurso escolar (Mehan, 1979; Rogoff,
(Leontiev, 1981, citado por Cole, 1990, p. 1990). O estudo das formas discursivas
92). Além disso, o conjunto de capacidades oferece algumas respostas sobre a maneira
postas em prática em uma interação social como os instrumentos de mediação
são capacidades específicas que se semiótica modificam o funcionamento
relacionam com tais contextos práticos de cognitivo graças à participação dos
ação (Vygotsky, 1978). A escola, como indivíduos em contextos de atividade
instituição presente nas sociedades específicos. Por sua vez, e nesse mesmo
avançadas, caracteriza-se por uma série de sentido, Wertsch (1990) propõe o estudo
traços e por uma organização peculiar do dos próprios instrumentos de mediação que
comportamento (Cole, 1990). A estrutura refletem aspectos fundamentais do contexto
social e o conjunto de atividades que se sociocultural e que às vezes importam
realizam são específicas desse contexto. As estruturas alheias ao próprio funcionamento
unidades são formadas por grupos amplos, psicológico.
nos quais uma pessoa adulta, que não
pertence ao contexto familiar próximo de
desenvolvimento dos alunos, é responsável
A TEORIA SOCIOCULTURAL E
por um grupo grande de meninos e A EDUCAÇÃO ESCOLAR
meninas. As atividades realizadas nesses
grupos sociais estão deslocadas dos

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
O processo de construção de negociação no cenário (Rodrigo e Cuberto,
conhecimentos não é mais entendido como 1998) realizamse por meio da participação
uma realização individual, mas como um guiada. Esta supõe o professor como guia
processo de coconstrução ou de construção para a aprendizagem dos alunos, ao mesmo
conjunta (Driver e outros, 1994; Edwards e tempo em que participa, junto com eles e
Mercer, 1987; Valsiner, 1988) realizado lhes oferece vários tipos de ajuda: 1.
com a ajuda de outras pessoas, que, no constrói pontes do nível de compreensão e
contexto escolar, são o professor e os de habilidade do menino e da menina até
colegas de sala de aula. A sala de aula é outros níveis mais complexos; 2. estrutura a
definida, assim, como uma comunidade de participação das crianças, manipulando a
alunos, em que o professor ou a professora apresentação da tarefa de forma dinâmica,
orquestra as atividades (Bruner, 197). A ajustando-se às condições do momento; 3.
ajuda educacional, ou seja, os mecanismos transfere gradualmente o controle da
mediante os quais se tenta influir no atividade até que o próprio aluno seja capaz
desenvolvimento e na aprendizagem da de controlar por si mesmo a execução da
criança, é realizada mediante uma série de tarefa. Com tudo isso, a meta educacional a
procedimentos de regulação da atividade ser alcançada é que o aluno se aproprie dos
conjunta (Coll e outros, 1992). Essa ajuda é recursos da cultura, pela sua participação
possível graças à negociação dos com outros mais experientes em atividades
significados e ao estabelecimento de um conjuntas também definidas pela cultura
contexto discursivo que torna factíveis a (Rogoff, 1990). A apropriação de objetos
comunicação e a expressão. A construção de conhecimento e de ferramentas culturais
do conhecimento na sala de aula é um mediada pela ajuda de outros supõe: a)
processo social e compartilhado. A incorporar o objeto de conhecimento ou a
interação se dá em um contexto socialmente nova ferramenta cultural aos recursos
pautado, no qual o sujeito participa de mentais disponíveis até esse momento por
práticas culturalmente organizadas com parte do aluno; b) fazer seu o conhecimento
ferramentas e conteúdos culturais. As e a ferramenta cultural aprendidos, dando-
perspectivas socioculturais enfatizam a lhes um sentido e um significado; c) incluí-
interdependência entre os processos los no repertório de práticas utilizadas; d)
individuais e os sociais na construção do compartilhar seu uso com os demais.
conhecimento. Sua interpretação dos Conceitos elaborados a partir de diferentes
processos de aprendizagem fundamenta-se orientações - por exemplo, os de
na idéia de que as atividades humanas estão conhecimento compartilhado, "andaime" ou
posicionadas em contextos culturais e são participação - confluem em uma explicação
mediadas pela linguagem e por outros da aprendizagem como colaboração ou
sistemas simbólicos. A teoria sociocultural coordenação conjunta, em que a influência
entende a aprendizagem como um processo educacional não se restringe ã interação
distribuído, interativo, contextual e que é professor e aluno. A interação entre alunos
resultado da participação dos alunos em também é reconhecida como contexto
uma comunidade de prática. Aprender, de social de construção de significados, em
acordo com essa concepção, não significa que se põem em prática mecanismos como
interiorizar um conjunto de fatos ou de os de expressão e de reconhecimento de
entidades objetivas, mas sim participar de pontos de vista contrapostos, criação e
uma série de atividades humanas que resolução de conflitos, que se mostrarão
implicam processos em contínua mudança relevantes para a aprendizagem (Cazden,
(Lave, 1996). Os processos de troca e de 1988). Entre os trabalhos que estudaram a

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
interação entre iguais a partir da teoria  A principal preocupação de Piaget
sociocultural, são muito conhecidos aqueles ao observar uma criança era
realizados por Forman (1992) sobre a elaborar uma teoria do
resolução de problemas em situações de conhecimento. Queria saber como o
mundo é conhecido. Como as
colaboração entre iguais. Dois aspectos
crianças pensavam para chegar nas
podem ser destacados dos trabalhos da soluções dos problemas.
autora (Lacasa e Herrans Ybarra, 1995): seu  Piaget via a criança como alguém
interesse pelas relações entre iguais como que interage com o ambiente na
contexto de construção conjunta de tentativa de conhecê-lo.
significados e a análise que realiza de como  Percebeu que de acordo com a faixa
os meninos e as meninas aprendem a etária, a criança possui estruturas
mentais que facilitavam a sua
utilizar diferentes tipos de discursos em
adaptação ao meio.
função do contexto do qual participam (ver
 Estudou processos cognitivos. O
Capítulo 16 deste volume). Os estudos desenvolvimento cognitivo é um
socioculturais da aprendizagem na sala de processo gradual de aquisições de
aula interessaram-se particularmente pela habilidades nos seres humanos, no
análise do discurso escolar. Na sala de aula, sentido de obterem conhecimento e
a comunicação e a construção de novos se aperfeiçoarem intelectualmente.
Ele sofre um processo normal de
conceitos ocorrem em práticas nas quais o
SOFISTICAÇÃO. Esta passagem
discurso educacional desempenha um papel de menor complexidade para maior
primordial. E por meio do discurso que as complexidade pode sofrer
versões sobre o conhecimento se constroem interferências ambientais.
e é também por meio dele que podemos  Para Piaget o ser humano é capaz
analisar como se constroem (ver os de pensar, aprender, evoluir – é
Capítulos 15 e 17 deste volume). A racional, ativo, toma decisões,
possui livre arbítrio, MAS tem que
linguagem e o estabelecimento de um
assumir responsabilidades.
consenso na sala de aula são o repertório
 O indivíduo constrói seu mundo a
coletivo de conhecimento que uma partir de suas experiências. Ele é
comunidade compartilha, como é, em nosso agente do seu desenvolvimento
caso, a comunidade educacional. Com (crescimento) mental. Constrói sua
relação a este último aspecto, a inteligência.
aprendizagem escolar é concebida por  Piaget achava difícil usar testes de
grande parte das propostas construtivistas inteligência, pois a cada dia a
criança pode tornar-se mais
como a socialização dos alunos e das alunas
inteligente. A inteligência não pode
em formas de fala e em modos de discurso, ser medida, pois é dinâmica e está
que são específicos de contextos cultural e em constante evolução. (Conflito
historicamente situados. de Piaget com a Psicologia que
utilizava muitos testes na época –
ele ia pesquisar o por que do erro
da criança, pois às vezes nós é que
O DESENVOLVIMENTO não sabemos entende-las).
COGNITIVO E AFETIVO.

Conceitos fundamentais:

Teoria do desenvolvimento cognitivo – - Hereditariedade – A


Jean Piaget inteligência não é herdada.
Herdamos as estruturas
biológicas que favorecem o

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
aparecimento de estruturas uma escada nova, que
mentais. Nenhuma criança ela nunca
deve ser considerada experimentou antes, ela
incapaz de fazer algo por vai usar o
não ter herdado isto dos conhecimento
pais. Ela tem toda uma vida adquirido
para aprender. anteriormente e vai
- Esquemas – Sensoriais e subir também.
motores inicialmente e - Acomodação (fixar o
depois passam a ser que foi aprendido –
mentais. São disposições modificar o esquema) –
comportamentais O indivíduo muda
específicas. Por exemplo: estruturas antigas com
1. Esquema de preensão – a finalidade de
cada vez que colocamos enfrentar situações
algo na mão de um novas. Por exemplo:
indivíduo, este tentará Uma criança aprende a
segurá-lo. (este é um andar de bicicleta.
esquema inicialmente Depois ela ganha uma
sensório motor, pois a bicicleta com marcha e
preensão é um reflexo. não vai saber andar.
Mas, depois que a Ela tem que modificar
criança perde os reflexos, suas aquisições antigas
o esquema passa a ser (esquemas)
mental, pois ela aprendeu acrescentando mais
a segurar). informações. (ou seja,
2. Esquema de alguém, modificou um esquema
como a mãe. O Esquema anterior em resultado
de mãe – A criança se nas novas informações
habitua à voz, ao cheiro e absorvidas pela
ao toque da mãe, à figura assimilação).
física da mãe e os - Equilíbrio –
sentimentos que a criança Organização mental das
tem por ela e cria um impressões sensoriais. A
esquema. À medida que a criança sempre está lutando por
criança vai crescendo, o coerência, visando permanecer
esquema vai se em equilíbrio.
modificando.
- Adaptação – Quanto mais
a criança conhece algo,
mais ela acha fácil lidar
com isso. Dois processos
de adaptação:
- Assimilação (Absorver
um conceito
transmitido num
esquema) - O indivíduo
enfrenta uma nova
situação usando as
estruturas mentais
antigas. Por exemplo:
Uma criança aprendeu
a subir uma escada e
quando se depara com

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
PELA ASSIMILAÇÃO. O PROCESSO
DE ACOMODAÇÃO É A CHAVE
ESQUEMAS:
PARA A MUDANÇA
AÇÕES
DESENVOLVIMENTAL.
BÁSICAS DE
CONHECIME (MUDANÇAS DE ESTRATÉGIAS)
NTO
INCLUINDO
AÇÕES EQUILÍBRIO: REESTRUTURAÇÃO
FÍSICAS DOS ESQUEMAS. A CRIANÇA
/SENSORIAIS/ SEMPRE ESTÁ LUTANDO POR
MOTORAS COERÊNCIA, VISANDO PERMANECER
(PEGAR, EM EQUILÍBRIO.
OLHAR) E
AÇÕES
MENTAIS
(CLASSIFICA
R,
Características gerais dos períodos de
COMPARAR).
desenvolvimento intelectual:

ASSIMILAÇÃ
O: PROCESSO De acordo com Piaget, para cada faixa
DE etária existiriam maneiras diferentes de
ABSORVER adaptação com o meio através da interação.
ALGUM Por isso Piaget chamou de Períodos
EVENTO OU desenvolvimentais, as etapas em que novas
EXPERIÊNCIA aquisições mentais são adquiridas. Para
EM ALGUM estas aquisições novas é preciso ter um
ESQUEMA. É esquema anterior.
UM
PROCESSO
ATIVO.
Período sensório motor (0-2 anos)

ACOMODAÇÃ
O: PROCESSO Representa a conquista de todo o universo
COMPLEMEN prático que cerca a criança. Isto é, a
TAR, QUE formação dos esquemas sensoriais motores
ENVOLVE irá permitir ao bebê a organização inicial
MODIFICAR dos estímulos ambientais, permitindo que
O ESQUEMA ele tenha condições de lidar com as
EM situações que lhe são apresentadas.
RESULTADO Evolução gradual que vai dos atos reflexos
DAS NOVAS (inatos), até os comportamentos mais
INFORMAÇÕ variados e complexos (feitos com intenção
ES – daí são considerados propriamente
ABSORVIDAS inteligentes).

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
Há a exploração do mundo através do seu
próprio corpo.
Estágio 2 – As primeiras adaptações
adquiridas

Estágio 1: Exercício dos reflexos (0-1 mês) e a reação circular primária (1-4 meses)

Reflexo – É considerado como a forma Reação circular: Exercício funcional


mais simples de comportamento. É inato ao adquirido que prolonga o exercício reflexo.
Processo que é repetido continuamente para
indivíduo com desenvolvimento típico. que haja a busca do prazer. O conteúdo dos
Apresenta variabilidade (alguns estímulos comportamentos está relacionado com o
podem levar ao reflexo) e sofre o processo próprio corpo. (PRIMÁRIA)

de adaptação. Por exemplo – Colocar a mão na boca e


sugar, pode ser um reflexo, mas a
O processo de adaptação, nesta fase se dá
coordenação mão-boca é obtida através da
através de três formas de assimilação:
experiência. (DESENVOLVIMENTO)
Assimilação funcional ou repetição A partir do momento em que os resultados
cumulativa: A própria repetição do reflexo prazerosos obtidos por acaso passam a ser
possibilita sua maior eficiência. Por conservados por repetição, temos a
exemplo: O reflexo de sucção presente REAÇÃO CIRCULAR. (Os reflexos que
desde o nascimento, após as primeiras levam á aprendizagem apresentam
mamadas, melhora no decorrer das circularidade).
semanas.

Assimilação generalizadora: Incorporação


e generalização de situações ou objetos Estágio 3 – As reações secundárias e os
variados ao mecanismo reflexo. Por
processos destinados
exemplo: O reflexo de sucção, utilizado
inicialmente para alimentação (a criança
suga o seio, mamadeira...), mais tarde a a fazer durar os espetáculos interessantes
criança o utilizará também com o
(4-8 meses)
aparecimento de novos estímulos (suga ao
colocar sua mão na boca, quando a fralda
toca no lábio, etc...). É uma fase de transição entre os atos pré-

Assimilação recognitiva: Início do inteligentes dos propriamente inteligentes.


reconhecimento prático e motor dos
Até os estágios anteriores não havia
estímulos quando é acionado um
mecanismo reflexo. É o inverso da intencionalidade nos atos da criança.
assimilação generalizadora. Por exemplo: O
bebê chora por estar na hora da mamada. A Agora, percebemos que a criança busca
mãe lhe oferece a chupeta, ele suga, mas
logo larga e chora novamente. Só vai parar repetir resultados, obtidos por acaso, em
quando sugar o seio ou a mamadeira com o
alimento.

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
relação ao meio exterior. (reação circular

secundária). Estágio 5 – A reação circular terciária e a


descoberta
O número de resultados novos será infinito
de novos meios por experimentação ativa
de acordo com a estimulação oferecida. A
(12-18 meses)
criança terá que modificar os seus
esquemas para enfrentar situações novas
(acomodação).
A atitude de experimentação e a busca da
Estes atos ainda não são considerados novidade constituem as características
completamente inteligentes, pois o fim essenciais das reações circulares terciárias.
obtido (resultado), não foi previamente A criança quer buscar coisas novas.
estabelecido, tendo ocorrido pela primeira
(Uma criança deixa cair um carrinho no
vez, por acaso. A intenção está vinculada à
chão repetidas vezes e cada vez que o faz,
ação.
experimenta uma nova maneira de jogá-lo).
A criança parece estudar a relação entre
meio e fins. Há a repetição dos movimentos
Estágio 4 – A coordenação dos esquemas com variações e graduação, sendo que a
repetição visa mais a uma compreensão do
secundários
resultado do que apenas a chegar no mesmo
fim, há a busca da novidade, através da
e sua aplicação às novas situações (8-12 experimentação.
meses) Há a questão da tentativa e erro – A criança
faz, erra, tenta novamente, modifica alguns
esquemas (acomodação) até adquirir a
experiência.
Aparecimento das condutas propriamente
Nesta fase há o aparecimento de três
inteligentes. A criança é capaz de variar os
condutas típicas (Piaget fez estas
meios utilizados para atingir um
experiências com seus filhos).
determinado fim. Por exemplo: Um
brinquedo se encontra em cima de alguma  Conduta do suporte – A criança á
coisa, ela poderá puxar, empurrar, balançar, capaz de chegar a um objeto que
até deixar o brinquedo cair. Mas só utilizará esteja fora do alcance de suas mãos,
meios conhecidos, seu próprio repertório de deslocando para perto de si, o
esquemas anteriores. Não é capaz de criar suporte no qual ele repousa. (a
meios novos (adaptação através da criança puxa a almofada para pegar
o brinquedo que está em cima
acomodação ainda é um pouco
dela).
enfraquecida).  Conduta do barbante – Um objeto
Não existe um planejamento prévio do preso a um barbante é colocado
comportamento. longe do alcance da criança. Esta o
deseja e não consegue pegá-lo após
Há a mobilidade dos esquemas e nota-se inúmeras tentativas. Daí descobre a
claramente a intencionalidade de alguns relação barbante objeto. Se puxa o
comportamentos. O contato com o objeto barbante, terá o objeto perto dela.
despertará um desejo inicial desencadeando  Conduta do bastão – É o mais rico
dos anteriores. Uma criança utiliza
um comportamento. um instrumento (bastão, vassoura,

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
cabide ou algo parecido) para Com o desenvolvimento, o bebê vai
deslocar um brinquedo que está adquirindo reações diferentes frente ao
fora de seu alcance. Este aparecimento e desaparecimento do objeto.
instrumento varia (subir numa
cadeira)
Durante os dois primeiros substágios não
há reação ativa da criança. Ela não procura
Estágio 6 – A invenção de novos meios o objeto escondido, pois ainda não existe o
CONCEITO de objeto. Os objetos tornam-
se importantes principalmente no segundo
por combinação mental (18-24 meses) estágio, porém como estímulos visuais. Não
há a noção do objeto permanente.
Transição para o período pré-operatório. Estágio 3 – Há uma busca ao objeto
Nesta fase se inicia a representação mental desaparecido, embora restrita à trajetória do
dos acontecimentos. movimento. A procura não é ativa. (Se o
A criança continua a fazer as coisas através bebê olha para um objeto colorido e você o
da tentativa e erro, porém nesta fase, ela tira de seu olhar, ele pode reencontrá-lo
tem o momento da interrupção. É como se visualmente se ele estiver em um ponto da
ela parasse de tentar e imaginasse trajetória que percorria).
mentalmente um modo melhor de
Estágio 4 – A criança busca ativamente os
conseguir. (Experimento de Piaget: Uma
objetos que são tirados de seu campo
caixa de fósforos com um furo foi dada
perceptivo e a busca não se limita à
para crianças colocarem um barbante. A
trajetória que o objeto vinha seguindo. Por
criança do 5º estágio tenta várias vezes
exemplo: Se você esconde um brinquedo
através da tentativa e erro até de repente
em baixo de uma almofada, a criança que
acertar. Já a do 6º estágio, tentou uma vez, e
presenciou todo o processo, vai diretamente
ao ver que não conseguiu, parou, olhou para
procurar o brinquedo neste lugar e o
o barbante, fez uma bolinha com o mesmo e
encontra. Mas, se você esconder
colocou no buraco - solução mental).
novamente, em baixo de outra almofada, a
Também há o aparecimento da linguagem, criança procurará onde encontrou o
confirmando a existência da capacidade de brinquedo da primeira vez. Há a
representação mental. coordenação tátil com visual (O objeto
perdido é o mesmo que o encontrado e que
o bebê sente com as mãos).
Conceito e permanência de objeto:
Estágio 5 – A criança já leva em
consideração os deslocamentos sucessivos
do objeto. Procura-o ativamente num
primeiro ou segundo lugar escondido. Já
tem noção da permanência deste objeto.
Permanência do objeto: A criança tem
(ele está em algum lugar, e não
condições de saber se um objeto está ali
desapareceu).
mesmo não fazendo parte de seu campo
visual? Mas, ainda não leva em conta movimentos
Quais são as reações do bebê ao invisíveis, como por exemplo, quando você
desaparecimento de objetos? esconde um objeto na mão e depois o
esconde embaixo de uma almofada sem que

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
a criança veja. Ela irá procurar o objeto na fazer o caminho de volta (ex: 2+3=5,
sua mão, ou seja, procurará o objeto no mas...5-3+?. A criança ainda não faz
ponto em que ele foi visto da última vez. inversão mental).

Estágio 6 – A criança entende a existência Neste item também entram as


do objeto (adquire a noção do objeto – ele questões de invariância e conservação.
existe mesmo que não faça parte de sua (A criança tem um julgamento
percepção visual). Leva em conta os perceptual e não conceitual). É raro, as
movimentos invisíveis (há a procura mesmo crianças apresentarem alguma forma de
que haja desaparecimentos invisíveis longe conservação antes dos cinco anos.
de seu campo visual). Centralização: Pensamento inflexível.
Não faz ainda grandes operações
mentais.(ex: como vc se chama? Maria.
Período Pré-operacional (2 à 6/7 anos) Como chama seu irmão? João. E como
chama a irmã de João????????).
Realismo intelectual: Fase da
Uso dos símbolos em muitos aspectos transparência (ex: se a mãe está grávida
do desenvolvimento da criança a criança mulher com bebê na barriga.
(representação de uma coisa por Um desenho que está de perfil está
outra) errado, pois só tem um olho).
Animismo: dar vida a objetos
Aquisição da linguagem,
inanimados (Minha boneca está pedindo
desenvolvimento da fala.
biscoito...).
Pensamento rígido, preso a ações Artificialismo: Criança atribui a origem
(expressa o sentimento através de dos fenômenos da natureza a Deus ou ao
brincadeiras), preso à sua própria homem, de forma mágica (Ex: está
perspectiva = EGOCENTRISMO (a chovendo por que deus está triste e está
criança não está sendo egoísta, só chorando).
supõe que todos vêem o mundo como
ela vê).
- EGOCENTRISMO SOCIAL:
- EGOCENTRISMO BRINQUEDO PARALELO (A criança
INTELECTUAL:
é capaz de estar junto, mas não de
Justaposição: Os julgamentos
brincar junto-Cada uma brinca com seu
são colocados lado a lado, a
brinquedo. Não há planejamento de
criança não relaciona ainda.
brincadeiras).
Exemplo: Não tem conceito de
classe (inclusão de classe).
Rosas e cravos são FLORES. VISÕES MAIS RECENTES DO
Sincretismo: Generalização indevida. PENSAMENTO PRÉ-ESCOLAR:
Ex: A laranja está verde (não está
madura) e o kiwi é verde (cor da fruta).
Novas pesquisas apontam que os pré-
Não distingue entre o verde da cor, e o
escolares são bem menos egocêntricos
verde significando que não está maduro.
quanto imaginava Piaget.
Irreversibilidade: O pensamento da
criança não é reversível. Não consegue

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
- Tomada de perspectiva: Algumas errada: a transição observada por ele aos
crianças adaptam o modo de falar e seis ou sete anos, realmente pode
brincar quando estão com crianças acontecer por volta dos quatro ou cinco
mais novas ou deficientes.
anos de idade.
- Aparência e realidade: por volta
dos cinco anos a criança é capaz de Pode ser que os estudos atuais tenham
separar a aparência da realidade (se exagerado nas capacidades do pré-
vê um cachorro com máscara de escolar, mas confirmam que o
gato não achará que é um cachorro
desenvolvimento cognitivo é
ou se vê uma esponja pintada para
parecer uma pedra, se tocar na consideravelmente favorecido pelas
esponja, saberá que é uma esponja interações sociais. Para que eles
e não uma pedra, mas se um colega desempenham as tarefas, precisam ter as
não tocou na esponja, pode ser que explicações muito simples e claras.
pense que é uma pedra. - FALSA
CRENÇA) Outro fator importante é que atualmente
- Teorias da mente: A criança as crianças têm muitos estímulos e
desenvolve teorias sobre as idéias e também interagem com muitos adultos,
desejos dos outros e sobre como aprendendo sobre sentimentos e reações
isto afeta o comportamento deles. dos outros. A imitação também ocupa
(Ex: A criança vê um adulto com
um lugar bastante importante neste caso.
cara de feliz após comer algo e com
cara de “nojo” após comer outra
coisa. A criança vai entender que o
adulto prefere comer o que lhe deu Período das operações concretas (6/7 –
prazer). 11/12 anos)
- Metacognição e metamemória:
As crianças precisam ter um
conhecimento prévio sobre algo
para lembrar ou esquecer este  Entrada da criança na escola
conhecimento. elementar (ensino fundamental), há
- Compreendendo e regulando mais estímulo.
emoções: Reconhecimento das  Novas e grandes aquisições
expressões faciais (por volta dos intelectuais
quatro anos). A criança entende que  Criança desenvolve regras, começa
se alguém conseguiu algo ficará a querer brincar de jogos que
feliz, e se estiver triste, talvez não envolvem raciocínio. (dos sete aos
tenha conseguido. Com três anos nove acaba de aprender regras
aparece o sorriso social (diferente então vai até o fim com aquela
do sorriso espontâneo - a criança regra. Dos 10 anos em diante muda
sabe que existem momentos que ela as regras se todos os participantes
precisa sorrir, mesmo sem estar concordarem).
totalmente feliz).  As brincadeiras começam a ser
- Conservação – Os estudos atuais cooperativas, porém há a
confirmam a teoria de Piaget neste preferência para brincadeiras com
aspecto. crianças do mesmo sexo.
(brinquedo coletivo)
 Diminuição do egocentrismo
CONCLUSÃO:
(começa a levar em conta a
realidade do outro)
 É capaz de fazer operação mental –
De acordo com os estudos atuais, talvez internalização das ações.Porém a
Piaget estivesse certo sobre as operação mental é feita a partir de
seqüências básicas, mas apontou a idade coisas concretas. (a criança vê o

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
brinquedo e consegue ordená-lo 12 anos em diante (até 16 anos mais
crescentemente) ou menos)
 O pensamento é reversível (faz
inversão de operações)
 Já possui noção de invariância ou
conservação. Entende que os  Adolescência, a idade das
objetos permanecem iguais apesar grandes paixões (O adolescente
das mudanças na aparência. (a ama tudo e odeia tudo).
conservação de quantidade é  Desequilíbrio emocional (Sou
entendida pela criança que já conta, criança ou adulto?).
a de peso só será entendida aos oito  A característica principal e
anos e volume com 10). nova habilidade mental é que
 Há inclusão de classes (as rosas e este adolescente é capaz de
os cravos são subclasses das flores) pensar em termos abstratos, não
 Pensamento relacional – Os termos precisando da percepção e da
mudam de acordo com as experiência imediata (não
relações.(ex: quem é mais alto? Ela precisa ver nem vivenciar as
saberá que João é mais alto do que coisas para pensar).
Carlos, pois vê João e Carlos lado a  Raciocina abstratamente sobre
lado). É hábil com questões informações verdadeiras ou não
concretas. – A partir de uma situação é
 Desenvolve a capacidade de usar a capaz de levantar hipóteses,
LÓGICA INDUTIVA (consegue testa-las e deduzir conclusões
ir de sua própria experiência para lógicas.
um princípio geral) EX:  Forma conceitos abstratos
Acrescentar um brinquedo a uma (amor, solidariedade, liberdade,
pilha de brinquedos e contar depois. justiça, etc.).
A partir disto, a criança saberá que:  Critica o sistema social e os
ACRESCENTAR SEMPRE valores morais dos pais.
RESULTA EM MAIS!  Tem necessidade de um
modelo (que não os pais, pois
querem ser livres – ex: O pai do
NOVOS TEMAS: meu amigo é super bacana, pois
o deixa dirigir o carro, queria
 Desenvolvimento da memória e que ele fosse o meu pai...).
da estratégia (decorar,  Tem necessidade de ser
agrupamento, elaboração e original como um todo, mas
busca sistemática). igual a seu grupo, pois andam
 Perícia (conhecer bem um tribos, gangues (modismo).
assunto determinado): “A  Tem necessidade de ser
Perícia faz qualquer um de nós responsável (trabalho e
parecer muito inteligente, dinheiro próprio, cuidar de
cognitivamente avançado; a algo).
falta de perícia nos faz parecer  Descoberta do tempo e da
muito burros” (Flavel, 1985). morte (NÃO são reversíveis).
 Variabilidade no pensamento  O EGOCENTRISMO
das crianças (várias formas de reaparece, quando ele se
resolver os mesmos considera o instrumento de
problemas). modificação do mundo sob o
seu ponto de vista. Acha que
pode resolver os problemas do
Período das operações formais: mundo (mas não os
particulares, pois tem

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
dificuldades de falar sobre que leva a ver de novo e a não ver o novo.
problemas pessoais). Saber que perdeu o jeito maravilhado que
 Desenvolve a capacidade de por certo teve um dia. O cotidiano é o
usar a LÓGICA DEDUTIVA tempo/espaço da previsibilidade. E o
(parte de algum princípio geral
cotidiano segue seu caminho circular:
e em seguida supõe algum
resultado). Ir da teoria para
– me sacode às seis horas da
hipótese. (É necessário
imaginar). Chamado de manhã... me sacode às seis... me sacode...
RACIOCÍNIO
HIPOTÉTICO DEDUTIVO.
Olhando com calma as tramas do
Conceito central de Piaget: cotidiano, tecidas pela previsibilidade... O
CONSTRUTIVISMO: sacode de hoje foi exatamente igual ao de
ontem? Talvez não. Reparando bem, talvez
Desde o nascimento, a criança está tenha sido uma sacudida leve, só com as
ativamente envolvida no processo de pontas dos dedos, daquela que quase nem
construir o entendimento do mundo externo se percebe que foi sacudido, ou que se dá
e de suas ações.As crianças são pensadores no outro quando se está com um pouco de
ativos, capazes de construir novas pena de despertá-lo... Reparando bem, que
estratégias e entendimentos avançados para sacudiu, sacudiu, mas de um jeito diferente
resolver um determinado tipo de problema. daquele outro dia, quando acordou de
sobressalto, quase perdendo a hora, com
mil preocupações fervilhando na cabeça...
ASPECTOS DO COTIDIANO Reparando melhor ainda, é possível que se
ESCOLAR perceba que no outro dia sacudiu com
firmeza, é, com firmeza, mas também com
tranqüilidade, com carinho, pode-se dizer...
Mas o sorriso é sempre igual. É sorriso, é o
mesmo, aquele velho conhecido. Tão
conhecido que só de olhar já se sabe se ele
A AVALIAÇÃO COMO
tenta prolongar uma noite lindamente não
PROCESSO
dormida, ou tenta ocultar as marcas de uma
noite maldormida, ou, ainda, tem a intenção
de lembrar que há coisas antigas ainda não
Cotidiano. Palavra que lembra esquecidas... Assim também é a escola e
rotina, hábito, constância, repetição. Como seu cotidiano. Todo dia, à mesma hora, os
na canção, todo dia ela faz tudo sempre mesmos alunos e alunas, a mesma
igual... Na mesma hora, o mesmo gesto, a professora, a mesma rotina. A professora já
mesma palavra, o mesmo cheiro, o mesmo sabe, às vezes até antes de conhecer a
sabor... O mesmo. O já conhecido, o que se turma, que tem aquela menina comportada,
repete, o pequeno elemento que permite que com o uniforme limpo, todo o material na
tudo o que vem depois seja previsto... mochila; menina trazida pela mão da mãe e
Previsão que quase sempre se confirma, que todo dia vem com o dever feito, e bem-
confirmando, por sua vez, o saber que a feito, aprende rapidamente o que for
embasa. Saber que permite antever, rever, ensinado, não se mete em bagunça, não
refazer, repetir. Saber com sabor de já visto, desce correndo a rampa na hora do recreio.
já vivido, já sentido, já conquistado. Saber Só choraminga um pouco porque os

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
meninos implicam com ela no pátio. Os Ela deixa na sala, na hora do recreio, quem
meninos... sempre há também os meninos. não fez toda a cópia do quadro ou todos os
Falam alto, ou melhor, gritam, correm pelos exercícios do livro, e também fica depois da
corredores, arrastam as cadeiras fazendo um hora quem “ficou de gracinha, brincando,
barulhão, colocam o pé na frente quando olhando para onde não devia” e fez tudo
alguém vai passar, escondem o material dos errado ou nem fez. Todo dia tem muita
outros, implicam e como! Xingam, batem... gente de castigo com essa professora. Mas
Lamentavelmente, como já se sabe, tem aquela outra que é a maior moleza, nem
meninas como aquela são poucas e meninos briga. Ela passa muito dever no quadro e
como esses, a maioria. Felizmente, nem vai ali, um instantinho, ver uma coisa, e
todos os meninos são exatamente assim. daqui a pouco volta. Quando volta ninguém
Felizmente. Alguns também têm suas fez o dever, ou melhor, quase ninguém,
coisas ordenadas, atendem quando a porque tem sempre uns que fazem tudo.
professora chama a atenção, fazem seus Mas ela não briga, fala que vai dar mais um
deveres, aprendem rápido, a mãe vem à tempinho e que enquanto isso ela vai pegar
escola quando é preciso. Só não deixam de um negócio na sala ao lado. Todo dia é
ser implicantes, mas suas implicâncias não sempre igual: ela volta, corrige o dever, diz
atrapalham tanto assim. Implicam, mas que é preciso melhorar, que “desse jeito, só
também tem cada menina... Tem umas que brincando na hora de fazer o dever,
parecem até menino: correm, gritam, não ninguém aprende nada”. Só que alguns
fazem os deveres, nunca têm o material, aprendem... É, alguns aprendem e outros
vêm com o uniforme todo sujo, amarrotado, não. É sempre assim. Se cair na turma
o cabelo despenteado, a gente fala, fala, daquela outra, vai ser também tudo igual,
fala, às vezes até grita, porque paciência mas de outro jeito. Todo dia ela traz uma
tem limite, e elas não aprendem, não novidade. Já se sabe que ela trará alguma,
obedecem, mas nem adianta chamar a mãe mas como é novidade, ninguém sabe qual é.
que ela não vem mesmo, às vezes nem têm Mas que vai ter novidade, vai. E os alunos e
pai. Antes não era assim, quase não tinha alunas também podem trazer novidades.
menina desassossegada. Só de olhar a Pode levantar da cadeira, pode ir ao
turma, já se pode prever quem vai dar banheiro, pode falar com o colega, pode
trabalho. E parece que cada dia tem mais fazer junto com o colega, pode conversar
alunos e alunas com jeito de que vão dar baixo, para não atrapalhar a turma do lado.
trabalho. Mas os alunos e alunas também Mas sempre acaba tendo muito barulho, e a
sabem que todo dia é sempre igual. Eles e professora do lado reclama. E a professora
elas sabem que o igual muda conforme a desta sala fala que “assim não dá, que não é
professora. Tem aquela durona, que sempre para fazer bagunça, que é para trabalhar
grita à toa, ninguém pode fazer nada, nem direito...”. E a turma pára o barulho e
se mexer na cadeira, tem de subir e descer trabalha direito, e os trabalhos vão para o
na fila, e ai de quem sair um pouquinho da mural da sala, vão até para o mural do
fila, ou esbarrar, sem querer, é claro, no corredor, vão também para exposição na
colega da frente. Ela sempre dá muito dever sala de reuniões. E dá o sinal para descer
e sempre deixa de castigo quem não faz o para o recreio e ninguém percebe, a
dever de casa, quem não traz o caderno... O professora avisa; mas também quando dá o
lápis não tem problema; se não trouxer, ela sinal do fim do recreio, ninguém percebe,
empresta, mas “não é para ficar levantando de novo, e a professora avisa, de novo. Na
toda hora para fazer ponta, porque faz escola, como se pode perceber, todo dia é
confusão na sala e acaba logo com o lápis”. sempre igual. Mesmo que esse igual seja

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
recheado de diferenças, diferenças que das atividades, entram e saem toda hora da
acabam sendo percebidas como iguais pelo sala, sempre sobem do recreio muito depois
nosso olhar constituído pela lógica da de todo mundo e não parecem avançar em
homogeneidade. Como é sempre igual, é seu processo de construção de
possível prever o que vai acontecer. Mesmo conhecimentos. Reparando bem, pode-se
que algumas vezes (talvez sejam muitas encontrar outras formas de viver o mesmo
essas vezes) ocorram situações convivendo com as mesmas formas de
imprevisíveis – pois no cotidiano também viver o diverso, ao mesmo tempo também
se encontram os desvios, os erros, as em que se convive com a surpresa diante do
perdas, o acaso –, então, tenta-se colocar desafio, diante do não-vivido ou do já
tudo como deve ser, como já se sabe que é, tantas vezes vivido que, em determinado
como já era previsto. Às vezes não se momento, adquire o jeito de desconhecido.
consegue, especialmente em relação aos Sem contar que sempre pode acontecer algo
alunos. Mas não todos os alunos, alguns que transforma todo o cotidiano. Previsto e
alunos. Tem algumas professoras, também, imprevisto entrelaçados. Às vezes nem se
que são muito imprevisíveis... Mas esses pode distinguir um do outro nem se percebe
são a exceção, em geral pode-se prever o que ambos estão lá, simultaneamente e,
que vai acontecer na escola. Olhando de talvez, sorrateiramente. Agora, pode-se
perto, “quem diria?!”, talvez se possa ver dizer que o cotidiano é espaço/ tempo de
aquela professora que sempre tem muitos imprevisto. Sua imprevisibilidade, no
alunos e alunas de castigo, com a criança entanto, não significa a inexistência de
sentada ao seu lado, em sua mesa, fazendo largos momentos/lugares absolutamente
dever durante o recreio ou na hora da saída, previsíveis. Sendo lugar da previsão, da
sob os seus olhos atentos, cuidadosos. De repetição, do saber, é também seu oposto.
perto há uma professora que mais uma vez Sempre igual e sempre diferente, o mesmo
tenta ensinar ao seu aluno ou aluna. e o múltiplo, a simplicidade e a
Ouvindo o que se esconde nos tantos ruídos complexidade: oposições que dialogam no
que povoam os corredores escolares, cotidiano. Assim é o cotidiano:
alguém pode surpreender-se ao encontrar tempo/espaço em que a vida se realiza. É
aquela professora que toda hora sai da sala, sobre o cotidiano de uma escola comum
conversando com uma colega, ou com a que quero refletir neste trabalho, tomando
orientadora, ou com a diretora, buscando com especial atenção a avaliação, prática
parceiras com quem possa compartilhar tradicionalmente imersa na previsibilidade,
suas angústias por perceber que suas na repetição e no saber, mas que também
crianças estão desmotivadas, que as tarefas guarda em si o oposto. Trago para a
que ela propõe não estão sendo discussão o processo cotidiano de
interessantes, parceiras para quem reafirma avaliação, tentando reparar que ele pode ser
sua certeza de que não adiantam gritos, sempre igual, como o gosto de hortelã, que,
repreensões e castigos, que é preciso criar mesmo sem deixar de ser reconhecido
um clima agradável na sala, que a como hortelã, é muito diferente se vem de
professora deve ser carinhosa com seus uma tenra folha, recém-colhida, quando
alunos e alunas. Mais um achado ainda tinha gotas de orvalho, ou se chega no
inesperado. Entrando na sala da professora fundo da sacola do supermercado,
que sempre traz novidades, pode-se comprada às seis da tarde depois de passar
perceber sua dúvida em relação ao modo o dia todo exposta no tabuleiro.
como conduz seu trabalho, pois alguns
alunos estão nos grupos mas não participam

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
Desafios cotidianos as crianças ficassem sentadas: quando uma
sentava a outra levantava e a outra
Cada vez é mais comum na escola literalmente subia pelas paredes; enfim, era
encontrar crianças que não aprendem. o caos. Caos, palavra que provoca sustos no
Alguns podem dizer que cada vez é mais cotidiano escolar e deve ser evitada de
comum encontrar professoras que não qualquer modo. Apesar do caos, a
ensinam. Mas o certo é que já estamos professora insistia, tentava outras
habituados a nos deparar, nas escolas estratégias, às vezes dava umas broncas,
públicas, com grande número de crianças colocava alguns de castigo, outras vezes
que não sabem aquilo que a escola se conversava, explicava, mudava a proposta
propõe a ensinar. A escola onde venho feita. Os dias iam passando e não ficava
realizando minha pesquisa é uma escola muito claro como estava a aprendizagem
assim, como tantas outras escolas públicas. das crianças. Os mecanismos tradicionais
No ano 2000 acompanhei uma turma de 2ª de avaliação se mostravam insuficientes,
série em que os alunos e alunas não sabiam provas e testes nem pensar, os trabalhos
ler e escrever. A turma foi formada com as escritos eram fragmentados, quase sempre
crianças que obtiveram os piores resultados com muita interferência da professora,
nas diversas turmas de 1ª série no ano muitas vezes resultado de atividades em
anterior. Crianças que estavam indo para o grupo, que era o modo como trabalhavam
3º ano de escolarização, crianças que melhor. Muitas vezes as carteiras eram
freqüentaram dois anos escolares sem reunidas, formando uma grande mesa, e as
aprender a ler e a escrever. Crianças que crianças e a professora sentavam todas
chegavam à escola certas de que todo dia é juntas ao seu redor. Assim era mais fácil
sempre igual, pois lá viriam as mesmas controlar a bagunça, mas assim também era
letras, palavras, cópias, ditados, pesquisas mais fácil que todo trabalho se tornasse
de som, leituras, deveres de casa, provas... coletivo: a interferência de um no trabalho
E o pior: no fim, sempre o mesmo resultado do outro era inevitável. No caos, era quase
– o erro e a reprovação. A professora impossível definir o que cada um sabia
também chegava à escola sabendo que iria daquilo que foi ensinado. Era difícil
encontrar uma turma homogênea, na qual classificar as crianças segundo padrões
todos se igualam por seu não-saber, por sua previamente estabelecidos, dar notas, até
dificuldade de aprender, por serem mesmo distinguir o certo do errado. Sem
irrequietos, desatentos. Um quadro, sem essa definição também se tornava muito
dúvida, nada estimulante. Essa professora difícil prever qual seria o resultado
sabia que era preciso fazer diferente. Não alcançado por cada um dos alunos e alunas.
sabia exatamente o que mudar, nem o quê Impossível também atribuir valores às
fazer no lugar do que vinha sendo feito, crianças; elas mostravam que a
mas tinha a certeza de que as crianças classificação simplifica para ordenar,
tinham de aprender e que era preciso buscar tentando isolar a complexidade dos
novos caminhos. O previsível era que tudo processos humanos; não se enquadrando na
fosse igual, que as crianças não ordem estabelecida, provocavam
aprendessem e que fossem reprovadas, desequilíbrio, distúrbio, desordem, expondo
fracassando mais uma vez. A professora a manutenção da complexidade. Esse
decidiu apostar no imprevisível e assumiu movimento pode ser entendido com o
aquela turma como um desafio. O ano foi auxílio de Prigogine, que, em seu estudo
passando e a turma parecia não ter muito sobre o caos, mostra que um estado de não-
jeito mesmo. Nem se conseguia que todas

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
equilíbrio pode ser de maior complexidade redefinido para que ela seja uma prática
que o estado de equilíbrio. realmente relevante no processo ensino/
aprendizagem. Como avaliar crianças que
No equilíbrio e perto do equilíbrio, todo o tempo fogem dos padrões pré-
as leis da natureza são universais, longe do estabelecidos e para as quais parece que
equilíbrio elas se tornam específicas [...]. nenhum parâmetro é suficiente? As crianças
Longe do equilíbrio, a matéria adquire que sempre faziam igual – não aprendiam –
novas propriedades em que as flutuações, as o faziam por múltiplos caminhos, e todos
instabilidades desempenham um papel pareciam diferentes entre si; embora fossem
essencial: a matéria torna-se mais ativa. diferentes, guardavam entre si muita
(Prigogine, 1996, p. 66-67). semelhança. Porém, as práticas cotidianas
Embora seu trabalho trate de mostravam que o não-aprender não era
uniforme. Era preciso construir uma prática
questões diferentes das nossas, pois está
discutindo as leis que regem o universo, ele de avaliação que não negasse a
fala do espaço e do tempo, dimensões complexidade, complexidade que explica,
entre muitas coisas, os diversos percursos
fundamentais para o estudo do cotidiano.
Considero que podemos fazer algumas dos alunos. Uma avaliação que não
estivesse atrelada à classificação e
analogias que ampliam nossa compreensão
dos fenômenos observados no cotidiano hierarquização, posto que esta parecia
escolar. O próprio Prigogine mostra a impossível, e que pudesse incorporar o
inesperado, a diferença, o aparentemente
relação entre seu estudo e as práticas
humanas. inexistente, que contribuísse para dar
visibilidade aos processos não percebidos
A atividade humana, criativa e imediatamente ou não valorizados
inovadora, não é estranha à natureza. freqüentemente e que pudesse incorporar as
Podemos considerá-la como uma ampliação oposições que se revelam nas atividades
e uma intensificação de traços já presentes escolares. Naquela sala de aula era
no mundo físico e que a descoberta dos praticamente impossível avaliar, através da
processos longe do equilíbrio nos ensinou a relação linear, entre acerto, saber, bom
decifrar. aluno, ou o seu oposto. Era muito difícil
estabelecer distinção entre saber e não-
A complexidade do processo saber, entre conhecimento e
ensino/aprendizagem se revelava naquela desconhecimento, bem como entre erro e
turma que não queria, ou não podia, se acerto. De um ponto de vista, as crianças
enquadrar numa relação pedagógica não aprendiam; de outro, aprendiam. A
fundamentada na idéia de ensino como cada dia a professora fortalecia sua certeza
transmissão de conteúdo, de aprendizagem de que os instrumentos de avaliação de que
como recepção e armazenamento do dispunha eram incompatíveis com o
conteúdo transmitido e de avaliação como processo desenvolvido por sua turma.
meio para quantificar quanto do transmitido Anderson, um dos alunos, quase não fazia
foi armazenado e pode ser reproduzido. as atividades, parecia não prestar muita
Classificação, previsão, hierarquia, valores atenção à aula, o que era previsível, já que
e controle, fios que dão o tom e a textura do havia saído de casa e estava morando na
processo de avaliação tecido no cotidiano rua. Anderson preocupava muito; tudo
escolar, não serviam como referência para a indicava que ele terminaria aquele ano sem
prática que ia sendo estabelecida. A aprender a ler e a escrever. No mês de
avaliação perde seu sentido, que precisa ser outubro, sua turma fez um passeio ao Rio

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de Janeiro, do outro lado da Baía de ou nenhuma atenção familiar, que vivem
Guanabara. Na travessia da barca, por em condições extremamente precárias,
acaso, a orientadora pedagógica da escola algumas chegam à escola com marcas de
estava sentada ao seu lado. Um panfleto foi espancamento, outras vivem pelas ruas.
distribuído na barca e qual não foi a Crianças que reproduzem em suas
surpresa da orientadora ao ouvir Anderson atividades escolares a inexistência de
dizer baixinho: Bradesco. Ela pediu que ele fronteiras que caracteriza muitos de seus
repetisse o que havia dito; ele não só espaços e tempos cotidianos. A professora
repetiu como, atendendo ao pedido dela, leu optou pelo caminho mais difícil: assumir
todo o panfleto. Anderson, o que mais uma que essas crianças desafiam a escola a
vez não iria aprender a ler, lia. Mas, se instaurar práticas adequadas ao seu
freqüentemente não fazia as tarefas movimento peculiar de vida e de
escolares, como avaliá-lo? A ambivalência aprendizagem. Sem dúvida, muitas eram as
da avaliação tornava-se cada vez mais respostas erradas, freqüentemente o que as
explícita, impedia a classificação e crianças escreviam não podia ser lido, e
precisava ser considerada no processo. O várias vezes as crianças não conseguiam
sentido parcial, fragmentário, impreciso da fazer de modo independente as leituras
avaliação, aparecia em muitos momentos, e propostas. Embora o erro ainda
a compreensão dessa dinâmica predominasse naquela sala de aula, a
impossibilitava que houvesse atribuição de professora percebia mudanças e as entendia
um único valor – nota ou conceito – a cada como indícios de aprendizagem, mas uma
uma das crianças. A consciência da aprendizagem que não permitia sua
ambivalência da avaliação levava ao classificação e valoração. Já vínhamos
rompimento com os procedimentos de discutindo na escola o erro como espaço
avaliação freqüentemente usados, gerando significativo para a compreensão do
um caos por deixar a professora sem processo das crianças, especialmente
referências sobre como proceder. Não era daquelas que realizam trajetos diferentes
possível estabelecer fronteiras como limites dos esperados. Essa percepção do erro
imutáveis e rígidos, mas era perceptível a mostra-se relevante nas análises que a
fronteira como lugar de trânsito, que se professora faz de seus alunos e alunas e
desloca e permite o diálogo. Fronteiras que contribui para a redefinição do processo de
delimitam levemente entre-lugares avaliação. O erro começou a ser assumido
(Bhabha, 1998), espaços híbridos nos quais não como a mera ausência de conhecimento
se articulam, através da negociação (idem), ou como reflexo da incapacidade, mas
aspectos diferentes, opostos, contraditórios, como aspecto que indica a complexidade do
produzindo novas significações, tornando, processo ensino/aprendizagem.
como ato dialógico, mais complexas a Investigando as respostas erradas de seus
percepção e a compreensão do contexto. As alunos e alunas, a professora ia
fronteiras deslocavam-se e, quando a identificando seus conhecimentos, seus
professora parecia conseguir circunscrever saberes, as relações que estabeleciam, ia
o processo de algum/a aluno/a, já não tendo novas informações, ia se
estavam mais lá; fatos do cotidiano traziam configurando uma nova percepção do
novas informações e produziam novas contexto. Iluminando o erro, no cotidiano
imagens, freqüentemente nebulosas, sobre o sempre igual, iam se revelando as
processo das crianças. É fácil justificar o diferenças. As respostas erradas,
resultado da turma através de suas difíceis anteriormente tratadas homogeneamente
condições de vida. Crianças que têm pouca como indícios da não-aprendizagem,

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passavam a ser analisadas em suas maioria da turma não havia alcançado o que
particularidades, de tal modo que suas a escola define como necessário para ir para
diferenças iam sendo percebidas, uma 3ª série. No conselho de classe, a
evidenciando a presença de conhecimentos discussão sobre essa turma teve um
diferentes. Desafiada pelo caos cotidiano, a resultado animador, as professoras,
professora foi abrindo mão de suas certezas coletivamente, resolveram que as crianças
e deixando emergir suas dúvidas. não seriam reprovadas, porque era preciso
Trabalhando as dúvidas, testando hipóteses, reconhecer o quanto haviam ampliado seus
indagando o observado, foi esboçando conhecimentos; no entanto, também não
novos caminhos que tentava percorrer. Nem seriam aprovadas, pois o conhecimento que
sempre dava certo, mas também nem demonstravam era insuficiente para a série
sempre dava errado. O caos, ainda que que formalmente deveriam cursar. As
temido, anunciava uma nova ordenação das crianças ficaram num entre-lugar. Portanto,
práticas cotidianas. Buscando as pequenas não haveria avaliação com o objetivo de
pistas, afinando seus sentidos para melhor aprovação/reprovação da turma, mas para a
perceber como estava ocorrendo o processo compreensão do processo vivido, dos
ensino/aprendizagem em sua sala de aula, a conhecimentos elaborados, dos
professora ia construindo uma avaliação conhecimentos que se mostravam
baseada fundamentalmente no coletivo. A necessários, e para contribuir para a
observação da reação das crianças às suas formulação de um plano de trabalho para o
propostas era um procedimento importante ano seguinte – que, sem uma classificação,
nesse processo, assim como o registro deveria possibilitar que cada uma das
constante de suas observações e a discussão crianças pudesse continuar seu processo de
com a orien1 tadora pedagógica e com a construção de conhecimento. Neste
equipe de pesquisa. A prioridade foi sendo momento fica evidente um passo
dada ao movimento do coletivo, por ser significativo no sentido de consolidar a
preciso, todo o tempo, estar buscando avaliação como prática de investigação
propostas de trabalho que interessassem às (Esteban, 2001) e como instrumento de
crianças para que houvesse um mínimo de formação da professora como profissional
atenção e alguma produção. A professora reflexivo.
foi percebendo que um dos critérios
fundamentais para que elas se envolvessem
na atividade era que o resultado fosse logo
Um efeito desproporcional
visível para as crianças. A avaliação
individual de cada criança foi sendo No conselho de classe em que se
realizada, na medida do possível, através da propôs uma alternativa para a turma de 2ª
observação pela professora de suas série que se anunciava como problema, a
respostas, durante todo o tempo em que discussão realizada terminou evidenciando
estavam na escola, acompanhada de uma um problema bastante maior: das 12 turmas
reflexão constante sobre o material por elas da escola – do C.A. à 4ª série – apenas
produzido. No caos era muito difícil o quatro tinham todos os alunos
controle. No fim do ano, era evidente a alfabetizados. Mais uma vez o caos se
melhora da turma: as crianças trabalhavam instaurava. As professoras mostravam-se
melhor, envolviam-se mais nas atividades, perplexas com o resultado e sem saber que
obtinham resultados em que se podia rumo tomar. Viviam um momento
observar mais claramente seu processo de significativo para a redefinição de suas
construção de conhecimentos. No entanto, a práticas, individual e coletivamente. Suas

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
certezas eram abaladas, seus conhecimentos dificuldades e a sua perplexidade. Elas
postos em discussão, a ausência de opções optaram pelo mais difícil e, possivelmente,
tornava estranho aquele cotidiano que a mais produtivo: assumir os desafios que o
todas era tão familiar. Parecia não haver momento vivido evidenciava. Chegavam à
mais caminhos. Neste momento de conclusão de que não fazia sentido reprovar
incertezas, em que o saber e o saber fazer as crianças, se o problema parecia ir além
de todas e de cada uma se mostravam delas. Era preciso mudar. A ausência de
insuficientes para afrontar os fatos, uma referências fazia com que buscassem uma
certeza se mantinha e mobilizava a todas: nova maneira, propostas diferentes do que
era preciso encontrar alternativas. Essa vinha sendo feito. Um primeiro passo foi
certeza tinha como fundamento o dado: das 250 crianças da escola, apenas
compromisso das professoras com seu sete foram reprovadas, e por questões
trabalho, compromisso que se traduzia no relacionadas à freqüência.
empenho de cada uma em suas atividades Complementando essa decisão,
cotidianas. No amplo debate, as professoras estabeleceram que as turmas não seriam
foram percebendo que o modo como a reorganizadas para o ano seguinte com o
escola era organizada e a forma como o objetivo de torná-las mais homogêneas.
processo pedagógico estava sendo Compreendiam que a heterogeneidade é
encaminhado não ajudavam os alunos e constitutiva das práticas humanas e que
alunas a ampliarem seus conhecimentos. refazer as turmas implicava que as crianças
Indagavam-se sobre como a organização da teriam de se adaptar a um novo grupo e
escola e a prática pedagógica desenvolvida gerava uma nova hierarquia, que na prática
contribuíam para a produção daquele equivalia a reprovar as crianças que fossem
resultado nada satisfatório. Percebiam que a para as turmas “mais fracas”. O caos criou
aprovação e a reprovação das crianças em espaço para que novas possibilidades
muito dependiam das referências da fossem pensadas, discutidas, elaboradas.
professora ao avaliá-las, o que também Era preciso ousar, correr riscos, construir
orientava a condução da prática novos procedimentos. As professoras
pedagógica: um mesmo fato podia ser revelavam saber que um dos caminhos seria
avaliado positiva ou negativamente, podia abrir mão da homogeneidade, conceito que
ser considerado relevante ou não, podia tem sido fundamental na prática escolar.
indicar a aprendizagem ou a dificuldade da Certas de que ninguém muda da noite para
criança, podia mostrar que ela devia ser o dia, faziam um movimento de mudança,
aprovada ou reprovada. E tudo isso variava mudança profunda. Como atuar em uma
segundo quem avaliava. A ambivalência da escola que assume a heterogeneidade como
avaliação mais uma vez se revelava, um dos pilares da prática pedagógica?
indicando a inconsistência das hierarquias Surgia a clara necessidade de redefinir o
produzidas. Sendo assim, não havia por que sentido da avaliação e de produzir
hierarquizar as crianças, aprovando umas e instrumentos mais coerentes com o
reprovando muitas. Mas, sem hierarquias, processo instaurado. O novo se anunciava
como organizar a escola? Como avaliar sem e, simultaneamente, o nãosaber das
a busca da homogeneidade, sem professoras ganhava visibilidade. Não eram
classificação e sem a produção de apenas as crianças que não sabiam o que
hierarquias? Que instrumentos de avaliação deveriam saber; as professoras
utilizar? As dúvidas eram muitas, a corajosamente assumiam que os
perplexidade também. As professoras não conhecimentos que tinham sobre o processo
ficaram paralisadas, porém, diante das ensino/ aprendizagem eram insuficientes

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
para atender ao processo de todas as desenvolver um trabalho favorável a todas
crianças. Reconheciam que sabiam muitas as crianças? Admitem claramente que
coisas, e coisa importantes, mas consideram importante, embora não saibam
reconheciam também que precisavam como, trabalhar assumindo a complexidade
ampliar seu conhecimento para que a escola do processo ensino/aprendizagem e a
pudesse ser significativa para todas as heterogeneidade das turmas. Dialogam
crianças que a freqüentam. Viviam uma sobre seus conhecimentos e seus
situação em que era explícito o diálogo desconhecimentos. Conversam sobre a falta
permanente entre conhecimento e de professores, mas se organizam de modo
desconhecimento. O previsível era a que nenhuma turma fique em casa, e
manutenção das práticas que conduziram às nenhuma criança sem professora. Olhando
decisões passadas, mas uma decisão sobre de perto, o que se encontra ainda é o caos.
uma turma gerou conseqüências não O ano letivo tem de começar, e as
previstas. O ano letivo chegava ao fim, não professoras estão sem saber exatamente o
o trabalho pedagógico. O fim de um ano que fazer. Parecem compreender que no
letivo como sempre anuncia o início de cotidiano se misturam ordem e desordem,
outro. sendo sem sentido considerar a desordem
evento negativo e a ordem o estado positivo
que deve ser alcançado e mantido a
Avaliação e formação docente qualquer custo. Neste contexto, quero
destacar a importância de as professoras
O novo ano começa, e tudo é assumirem o seu não-saber e de
sempre igual: reunião das professoras para estabelecerem um movimento em direção a
planejar o trabalho, arrumação das salas novos saberes. Entendo ser igualmente
para receber as crianças, a merenda não significativo resgatar, resumidamente, o
chega, a obra que era para ser feita durante processo que levou a essa conclusão, pois
as férias ainda não está pronta, faltam tudo começou com a reflexão proposta por
professoras, e exatamente aquela turma uma professora sobre uma turma em que
problema está sem professora. Na sala onde aparentemente as crianças não aprendiam.
está sendo realizada a reunião inicial com O processo dessa turma indicava a
as professoras, parece mesmo tudo igual: insuficiência da avaliação como prática de
distribuem as salas, conversam sobre como classificação e, simultaneamente, revelava a
organizar o trabalho, falam da falta de potencialidade de uma avaliação realizada
professoras para cobrir todas as atividades como uma prática de investigação,
da escola. Porém, olhando de perto, sobretudo por sua ambivalência e pela
escutando atentamente o que dizem, pode- complexidade do processo
se perceber que é tudo igual e tudo ensino/aprendizagem. A avaliação foi sendo
diferente. Estão falando da distribuição das trabalhada como uma prática que traz ao
salas, mas preocupam-se em garantir que mesmo tempo os saberes e os não-saberes
aquela turma considerada problema tenha a de quem ensina e de quem aprende,
melhor sala da escola, aquela que teve obra, mostrando que não é só a professora quem
“que está toda bonitinha, com cortinas e ensina, nem é só o/a aluno/a quem aprende.
tudo”. Falam sobre como organizar o Avaliando as crianças, as professoras
trabalho, mas o que surge são suas dúvidas também se avaliam; indagando sobre o
sobre como dar conseqüência pedagógica à processo de aprendizagem, também
opção que coletivamente haviam feito de indagam sobre o processo de ensino. A
trabalhar com turmas heterogêneas. Como reflexão sobre a decisão tomada sobre um

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
caso particular – não reprovar a turma – microgenética. Quando a literatura trata da
provocou uma reflexão sobre a realidade da questão do fracasso escolar, os trabalhos
escola, indicando a necessidade de apresentados, em sua grande maioria, são
mudança e revelando a incerteza como realizados na escola pública. Esse fato
parte relevante do processo de construção explica-se pelo compromisso político dos
de novos conhecimentos. pesquisadores com a clientela, que,
diferentemente da escola particular, atende
O trabalho com a incerteza incita ao principalmente crianças das classes menos
pensamento complexo: a favorecidas da população. A exigência da
incompressibilidade paradigmática de meu qualidade da educação para todos exige a
tetragrama(ordem/desordem/interação/orga investigação dos fatores e das
nização) mostra-nos que nunca haverá uma circunstâncias que implicam no fracasso
palavra-chave – uma fórmula-chave, uma escolar na escola pública, ainda tão
idéia-chave – que comande o universo. E a persistente. Uma vez que o fracasso é uma
complexidade não é só pensar o uno e o realidade mais contundente para quem
múltiplo conjuntamente, é também pensar freqüenta a rede pública (Leite & Molina,
conjuntamente o incerto e o certo, o lógico 2002; Silva & Tunes, 1999; Tacca, 1999), o
e o contraditório, e é a inclusão do insucesso passa a ser analisado como um
observador na observação. (Morin, 1999, p. fenômeno inerente à classe social de baixa
206) Modo como as professoras pensam o renda, como se houvesse nela alguma
cotidiano escolar e nele atuam. Movidas deficiência, tornando-a incapaz ou
pelo fim de suas certezas, constroem dificultando-lhe o acesso à escolarização
caminhos para superar o desafio assumido, formal. A precária situação econômica
caminhos que certamente têm desvios, implicaria diferentes tipos de privação,
atalhos, pistas erradas, e até alguns retornos principalmente de contato com o mundo da
que podem fazer com que tudo volte ao seu leitura e escrita, o que redundaria em sérias
início. Apesar de todo o processo, vivem o e múltiplas limitações diante das exigências
cotidiano e todo dia fazem tudo igual, mas, que a escola faz. Entretanto, não podemos
desta vez, fazendo igual, fazem tudo concluir que esta é uma situação
diferente, porque trazem a dúvida como característica de toda uma classe social,
componente de suas ações. E a dúvida está pois tal conclusão desconsidera toda a
sempre grávida de novas possibilidades. trama de condicionantes que perpetuam os
problemas e limitações impostos a essa
população, e que acabam por impedir, mais
RELAÇÃO PROFESSOR / do que facilitar, a continuidade de sua
ALUNO escolarização. Muitas pesquisas já foram
empreendidas (Cagliari, 1989; Carraher,
O presente artigo, interessa-nos analisar as 1990; Moysés & Collares, 1992; Patto,
relações entre interações sociais, processos 2000) com a expectativa de desconstruir os
de significação e o fracasso escolar, à luz de mitos criados a respeito das crianças, seu
uma perspectiva teórica que vem sendo desenvolvimento cognitivo, suas famílias e
denominada como sociocultural a condição de pobreza da classe de baixa
construtivista (Valsiner, 1989, 1994, 2001). renda. Tais trabalhos concluem que o
Para tanto, serão apresentadas e discutidas fracasso, de fato, se localiza nesta classe
questões teórico-metodológicas, bem como social, mas, absolutamente, ele não é um
dados referentes a um estudo empírico fracasso inerente a esta população (Charlot,
realizado com base em metodologia 2000). As relações que as escolas

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
estabelecem com seus alunos, desde sua dos sujeitos concretos, com suas diferentes
chegada à escolarização básica, têm formas de ser e pensar, sejam alunos ou
favorecido situações de ruptura. As professores. Continua, pois, atual e urgente,
avaliações que são impostas, as uma permanente reflexão das relações de
expectativas criadas, aliadas a preconceitos ensino-aprendizagem que ocorrem no
incontestes quanto a idealizações sobre as âmbito dos processos interativos da sala de
condições necessárias para a aprendizagem aula, envolvendo alunos e professores. A
efetiva (Tacca, 1999), fazem com que sociologia da educação nos aponta o papel
alunos e professores se olhem, reprodutor das desigualdades sociais da
freqüentemente, com desconfiança. escola (Bourdieu & Passeron, 1975), mas é
Condições idealizadas e profecias auto- preciso que se vá além, como alguns têm
realizadoras (Rosenthal & Jacobson, 1983) feito (Tacca, 2000), particularmente no que
geram frustrações, constroem barreiras e tange à estrutura dos ambientes de
tudo isto conduz a um processo de aprendizagem (atividades) e à dinâmica das
escolarização fadado ao insucesso. As interações sociais no contexto educativo.
escolas freqüentemente enfrentam de forma Para Vygotsky (1987), a condição humana
equivocada o aluno que se diferencia em da pessoa tem origem nas relações sociais,
seu saber e em sua forma de aprender pois são a partir destas que as funções
(Patto, 2000; Tacca, 1999). Culpabilizam as psíquicas superiores são inauguradas. A
famílias, e instituem práticas de participação do outro social é crucial na
recuperação de conteúdos, como o apropriação do conhecimento que
“reforço” escolar, que pode acontecer na possibilita o desencadear dessas funções.
própria escola, ou serviços especializados. Na aprendizagem escolar, inserem-se, de
Os resultados, porém, são pouco forma deliberada e sistemática, as
expressivos, gerando a necessidade de ferramentas simbólicas e culturais que
investigação das raízes das dificuldades criam as condições para apropriações e
desses alunos, tais como nos trabalhos de reelaborações do conhecimento pelo
Campos (2005) e Pinheiro (2004), que sujeito. Este aprende interativamente, e com
investigaram o impacto das relações sociais isto surgem novas possibilidades em seu
de alunos e professores no processo de desenvolvimento. Não há dúvida, portanto,
aprendizagem na sala de aula. É sobre o caráter fundamental das relações
inconcebível que crianças sadias e espertas estabelecidas entre professores e alunos.
até começarem a educação formal sejam Analisar os processos de significação na
consideradas limitadas e sem condições relação ensinoaprendizagem, que emergem
necessárias para um processo de de redes de significação (RossettiFerreira,
escolarização bem sucedido. Vários Carvalho, Amorim, & Silva, 2004), consiste
pesquisadores (Carraher, 1990; Moysés & em perspectiva produtiva, no sentido de
Collares, 1992; Patto, 2000; Tacca, 1994) gerar novas contribuições que venham
vêm denunciado que a escola não se intervir positivamente na tarefa de
encontra preparada para receber diferentes professores e alunos. É neste contexto que o
tipos de alunos, com isto reproduzindo uma trabalho aqui apresentado deve ser
organização social excludente, em que a compreendido. As interações sociais em
padronização e homogeneização têm lugar sala de aula foram analisadas em nível
de destaque. Ao tentar ser democrática, ou microgenético (Siegler & Crowley, 1991),
seja, dar a todos o mesmo tratamento, a particularmente as interações entre a
escola acaba por cometer inadequações professora e alunos, por ela indicados, com
severas, pois não se abre para a perspectiva atrasos no processo de escolarização. O

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
foco esteve nos processos mediadores positivamente, e na direção das atividades
conduzidos pela professora em situações de escolares e dos objetivos educacionais. Isso
ensino-aprendizagem, os quais implicavam diminuirá a possibilidade de que os
em diferentes processos de significação por processos de significação sejam canalizados
parte do aluno. Tais processos tendiam para em outras direções, que acabam por afastar
modos de significação que, por sua vez, os sujeitos de uma participação
orientavam a criança a construir diferentes comprometida com sua própria
tipos de conhecimento. Em outras palavras, aprendizagem e desenvolvimento.
nem sempre as crianças aprendem aquilo A co-construção de conhecimentos deve ser
que supostamente a professora lhes ensina, considerada como um processo dinâmico e
seja em termos de conteúdos, ou em termos plural, do qual participam inúmeros fatores
de conhecimentos acerca de si e do mundo complexamente organizados. Com base na
à sua volta. Entendemos que análises dessa abordagem histórico-cultural de Vygotsky e
natureza podem trazer uma valiosa contribuições de Piaget, Valsiner (1989,
contribuição para o avanço da compreensão 1994, 2001) conceitua cultura como um
dos processos de aprendizagem que elemento presente tanto na ação de adultos
ocorrem na intrincada rede de relações da (que providenciam o ajustamento do
sala de aula, no sentido de mostrar ambiente às necessidades da criança, de
caminhos na direção da superação do acordo com suas crenças e valores) como,
fracasso escolar. Enfatizamos, também, a também, na ação da criança (que vai
necessidade de trabalhar a dinâmica da ativamente significando as mensagens que
unidade cognição-afeto no processo de lhe chegam). A criança vai aos poucos
ensinar e aprender, e o quanto isso é compreendendo o significado dos sistemas
importante para uma aprendizagem que culturais que caracterizam o que Valsiner
permita ao aluno se sentir competente e se chama de cultura coletiva. Entretanto, co-
desenvolver de forma plena, integral. A constrói esses significados de maneira ativa
unidade cognição-afeto está proposta nos e singular, constituindo a sua cultura
trabalhos de Vygotski (1983) quando ele pessoal. Valsiner (1994) faz uma
identifica em sua abordagem dialética que o diferenciação entre uma perspectiva
intelecto e o afeto têm regularidades unidirecional e bidirecional dos processos
internas que pedem um funcionamento de socialização. Na primeira, existe a
integrado e que, perder essa integração ou suposição de que é possível transmitir às
dividir essa unidade em seus elementos crianças crenças, normas e habilidades
significa perder as propriedades inerentes específicas, como forma de garantir a
ao todo. Assim não há motivação sem inserção da criança no grupo social. A
pensamento, assim como é impossível um perspectiva bidirecional, porém, reconhece
pensamento não motivado. Estudar, assim, e enfatiza a reconstrução ativa, pela criança,
processos de significação inclui conhecer das mensagens culturais. O esforço para
quais as dinâmicas que, na relação socializar a criança, de acordo com os
professor e aluno, movimentam o processo padrões culturais do grupo, é sempre
de aprendizagem. Isso implica olhar o modificado, em maior ou menor grau, pelo
processo interativo na história de sua papel ativo por ela desempenhado. Os pais
construção, compreendendo como se e as demais pessoas que participam do
movimenta a dinâmica da unidade cognição universo da criança exercem diferentes
e do afeto. Assim as emoções, necessidades papéis, mas é a participação ativa da criança
e pensamento, tanto de alunos como de seus que lhe permite ir além do que lhe é
professores, precisam ser mobilizadas sugerido (ou imposto) culturalmente. Por

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
meio dos processos de internalização e professores e alunos co-constroem os
externalização, ela vai re-significando o conteúdos e significados escolares, bem
conhecimento, o que torna o como crenças e valores sociais. Para
desenvolvimento de cada sujeito sempre um decifrar a gênese dos processos de
fenômeno original. O objetivo principal do desenvolvimento é necessário decifrar os
enfoque co-construtivista na Psicologia, processos interativos, comunicativos e
pois, é identificar e analisar os processos metacomunicativos, que ocorrem nos
que estão envolvidos na constituição da diferentes momentos e espaços em que os
cultura pessoal, considerando a direção sujeitos se encontram. Por
canalizadora da cultura coletiva. Nas metacomunicativos entendemos a
relações indivíduo-sociocultura, surge a comunicação sobre a própria comunicação,
cultura pessoal que integra fatores em termos das interações e relações entre os
cognitivos, emocionais e sociais. A participantes (Branco et al., 2004). Para
participação em uma sociedade, que institui isso, impõe-se o estudo das dinâmicas
símbolos e suas significações, leva o interativas, de onde surge o desafio
indivíduo a uma reorganização constante da metodológico de construir estratégias
cultura pessoal, dando um caráter dinâmico adequadas para investigar fenômenos de
à configuração de sua personalidade natureza dinâmica e complexa (Branco &
(Gonzalez Rey, 2005; Valsiner, 1989, Valsiner, 1997). Se quisermos compreender
2001). Novas necessidades induzem novas como as interações entre professores e
construções semióticas, em um movimento alunos levam a significações convergentes
contínuo, permanente. Tacca (2000) ou divergentes, precisamos analisar a
salienta que, no contexto da sala de aula, dinâmica de suas interações e relações
quando o professor comunica qualquer construindo uma abordagem metodológica
mensagem, cada aluno vai recebê-la adequada a este objetivo.
significando-a de um modo específico,
muitas vezes bem diferente. A força do Os processos de significação no contexto
impacto dessa mensagem sobre cada aluno educativo
só poderá ser compreendida por ele mesmo.
O impacto sobre o grupo, por sua vez, só Enfocar as interações sociais na busca da
será compreendido por aqueles que são compreensão de situações nas quais se
membros do próprio grupo, ou então, por desenvolve um processo
alguém que se inclua nele por um tempo ensinoaprendizagem bem sucedido,
suficiente que lhe permita perceber o clima relacionando isto a processos de
e o sentido das relações ali estabelecidas. significação do conhecimento por parte do
Retomando o conceito de internalização de aluno, exige que sejam analisados os
Vygotsky, Branco e Madureira (no prelo) aspectos motivacionais que permitem
propõem uma concepção sociogenética em perceber se o aluno está disposto a dar
que os processos de internalização são atenção e se empenhar nas atividades
dinâmicos, orientados pela canalização propostas pelo professor. Para atingir os
cultural, porém impregnados da aspectos motivacionais do aluno, torna-se
participação ativa do sujeito no processo. imprescindível considerar, na seleção de
Diferentes pesquisas (Branco & Madureira, objetivos, conteúdos, atividades e métodos
no prelo; Branco, Pessina, Flores, & de ensino, o quanto isso tudo constitui
Salomão, 2004; Tacca & Branco, 2003) aspectos mobilizadores para eles. Isso
também analisam as situações interativas de inclui observar os alunos em suas
ensino-aprendizagem, e a forma como características pessoais, o seu grupo

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
sociocultural, buscando integrar os seus & Valsiner, 2004). Nessa discussão fica
valores, crenças e ideais com aqueles claro que a aprendizagem acontece na troca
pressupostos nos currículos escolares. No entre os atores envolvidos em um processo
processo de co-construção do intersubjetivo permeado de simbolismos e
conhecimento, a análise das interações significações. O aluno é ativo na elaboração
estabelecidas é discutida no espaço da dos conteúdos escolares, cabendo ao
convergência e divergência em relação aos professor identificar e analisar os
objetivos propostos (goal orientations) que significados que cada um (professor e
integram os aspectos intelectuais e alunos) atribui aos procedimentos e
motivacionais, e estão continuamente sendo conteúdos que circulam na sala de aula, nas
elaborados e transformados pelos atividades programadas e no dia-a-dia da
indivíduos em suas interações (Branco & convivência entre eles. É nesse contexto
Valsiner, 1997). Convergência e que se inscrevem importantes questões a
divergência refletem a existência de uma respeito dos processos de significação, ou
compatibilidade ou incompatibilidade entre seja, de como as interações sociais que têm
as orientações para objetivo de cada um dos lugar no espaço educativo favorecem as
indivíduos em interação em um contexto trocas do aluno com o objeto do
determinado. No caso da incompatibilidade, conhecimento, e permitem ao estudante
poderá ocorrer uma busca ou movimento apropriar-se da cultura acumulada. Existe
em direção à convergência, sendo isto uma diversidade de possibilidades na
realizado através de negociações. A configuração do objeto de conhecimento e
perspectiva sociocultural construtivista de constituição do sujeito aprendiz, unindo-
argumenta que é preciso atentar para como se a uma multiplicidade de processos de
as orientações para objetivo (goal significação, na prática interativa e
orientation) se articulam, direcionando as comunicativa da sala de aula. Isso nos
atividades no sentido da convergência, da permite evidenciar a impossibilidade de um
divergência e da ambivalência (Branco & funcionamento homogêneo e prevalente dos
Valsiner, 1997; Tacca, 2000). Esses sujeitos, que corresponda a construções
processos são vistos como continuamente convergentes na produção de sentido e nos
negociados, levando em consideração o processos de significação. Compreendemos
contexto sociocultural mais amplo, as o processo de significação como um
características pessoais de cada participante processo abrangente, no qual emergem
e os aspectos relacionais que são criados no motivações, referências, significados e
contexto da sala de aula. Nas negociações sentidos no contexto de interações (entre
que aí ocorrem, sempre haverá a pessoas ou entre professor e alunos), nos
necessidade de compartilhamento para a diferentes lugares e situações (de
construção do conhecimento, pois o jogo de ensinoaprendizagem). O processo de
construção conjunta do conhecimento significação é um processo dos sujeitos
permite aos indivíduos assumir, não implicados nas situações interativas, vistos
assumir, ou assumir apenas em parte as como sujeitos concretos, situados num
perspectivas, sugestões ou objetivos dos momento ontogenético, cultural e histórico,
outros, em uma contínua negociação que num tempo determinado (Tacca, 2000,
pode levar a novas formas do conhecimento p.41).
culturalmente acumulado. Nesta negociação Um campo de investigação se abre na
os processos de comunicação, em seus tentativa de compreender esta trama
níveis comunicativo e metacomunicativo, interativa na qual os processos de
têm um papel fundamental (Maciel, Branco, significação emergem.

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
A FUNÇÃO SOCIAL DO ENSINO da escola: “organizar os processos de

Não é fato novo que as aprendizagem dos alunos, de forma que

desigualdades o Brasil atingem os aspectos eles desenvolvam as competências

sociais, econômicos e culturais. Até chegar necessárias para serem cidadãos plenos e

aos dias atuais, a população brasileira contribuam para melhorar nossa

passou por diversos processos políticos e sociedade”.

econômicos, o que fez surgir um povo


Além de se compartilhar
lutador tanto em conquistar a democracia
com este pensamento, se concorda com
quanto em mantê-la.
TORRES (2006), quando é enfática ao

Não há como não ensinar que “uma das funções sociais da

parafrasear Paulo Freire, quando ensina que escola é preparar o cidadão para o

“o ser cidadão, é o ser político, capaz de exercício pleno da cidadania vivendo como

questionar, criticar, reivindicar, participar, profissional e cidadão”. Se pode delinear

ser militante e engajado, contribuindo para esta preparação não como apenas o repasse

a transformação de uma ordem social aos alunos dos conteúdos constantes nas

injusta e excludente.” Neste prognóstico matrizes, mas preponderantemente no fato

saudoso e ao mesmo tempo de vanguarda, de que o aluno deve interagir com seu meio

se traz à luz a escola pública, com seus ao estudar, por exemplo Geografia, e saber

múltiplos níveis e modalidades, que tem que tipo de clima predomina em sua cidade,

como premissa básica a formação de um qual o tipo de solo que pisa. Também pode

cidadão, através da construção de se exemplificar esta interação quando o

conhecimentos, desenvolvimento de aluno visualiza as mídias sobre meio

atitudes e instituição de valores, que unidos, ambiente, e sabe qual é a origem da água

possibilitem que cidadão brasileiro seja que consome e onde ela é descartada; que

solidário, crítico, ético e participativo. em frente a sua escola é um ponto de

Neste contexto, se encontra em Moran poluição sonora; que o lixo que está na

(2005), um bom conceito da função social calçada provoca enchentes.

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
Se consegue concatenar cidade, possibilitará a eles não somente o

este raciocínio com a concepção de Moretto aprendizado da matriz, como também

(2001, p...), onde ensina que “a função despertará neles o senso de cidadania, ao

social da escola é ajudar a formar gerentes experimentar um patrimônio que é seu em

de informação e não meros acumuladores sua essência ....gerentes de informações e

de dados”. Ao se contextualizar este ensino não meros acumuladores de dados... se

com a realidade educacional que se deseja, considera este como o ponto de ebulição de

se percebe nas “entrelinhas” algumas Moretto (2001), ao confrontar o paradigma

mensagens: Função social: A escola é um reinante em nossas escolas, em que o aluno

local visa a inserção do cidadão na “acumulador de dados” que não responder

sociedade, através da interelação pessoal e exatamente o que o professor escreveu no

da capacitação para atuar no grupo que quadro, terá sua nota diminuída.

convive ....ajudar a formar... a ajuda que

se recebe da escola, através do professor é O COTIDIANO ESCOLAR

fruto das “qualidades pessoais, as


Educar com qualidade e para a vida é o
características de seus alunos, as
grande desafio da sociedade do século
especificidades de sua disciplina e os XXI. Em uma sociedade estratificada, a
educação surge como um divisor de
recursos disponíveis na escola.” (TORRES, águas, na busca pela redução das
desigualdades sociais e culturais
2006). Quando o professor leva o aluno a existentes.

aprender descobrindo, este tem A excelência educacional é conquistada


por meio de um processo que
possibilidades mais efetivas de contempla: um ensino cognitivo de
qualidade, com professores bem
contextualizar em sua rotina cotidiana o que
remunerados, bem qualificados, espaço
aprendeu em sala de aula, descortinando físico apropriado, o apoio dos familiares
dos educandos ao processo de ensino-
perante o aluno um horizonte de progresso aprendizagem, o envolvimento dos
alunos nas atividades curriculares e
no aprendizado. Por exemplo, um professor extra-curriculares, dentre outros
aspectos.
de história que estimule seus alunos a
De acordo com, Fernando Haddad,
conhecerem os pontos históricos de sua ministro da educação o Brasil pretende

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
alcançaruma educação de qualidade educacionais, bem como as entidades
com o seguinte propósito: sem fins lucrativos.

"Melhorar a qualidade do ensino Um país com uma educação de


público é hoje reconhecida prioridade qualidade que tem como foco a
da nação. Para traduzir esse consenso autonomia dos seres envolvidos no
em ação, colaboramos em duas processo é um país propício a ter um
iniciativas. A primeira é a construção de grande desenvolvimento nos seus
uma rede de escolas médias federais, diferentes setores tais como: político,
com dimensão técnica e profissional. A econômico, científico, cultural, etc.
segunda é proposta para reconciliar a
gestão das escolas pelos Estados e A sociedade moderna é complexa e, no
municípios com padrões nacionais de campo do conhecimento, vivenciamos
investimento e qualidade." [1] um processo dinâmico e sem volta.
Nesse contexto, o processo de
Um das grandes metas dos educadores aprendizagem tornou-se igualmente
engajados no processo educacional e da complexo, intenso, vasto, além de
sociedade organizada é melhorar a contínuo. Para atender a uma sociedade
qualidade de ensino ofertado na rede dinâmica é necessário instituições de
pública seja ela: municipal, estadual ou ensino que vivenciem no seu cotidiano
federal. práticas inovadoras e que formem os
seus alunos para o pleno exercício da
Desenvolver uma educação de cidadania.
qualidade significa além de preparar os
alunos nos conhecimentos científicos As transformações que vêem
sistematizados, prepará-los para a vida permeando a sociedade nas últimas
para que atuem como cidadãos críticos décadas geram a necessidade de
que sejam capazes de interferir na adaptação aos novos desafios impostos
realidade circundande em que vivem. principalmente pelos avanços
De acordo com José Manuel Moran a tecnológicos. A rapidez destas
excelência na educação deve mudanças provoca aflição naqueles que
contemplar: "Uma educação de estão envolvidos no processo
qualidade tem como foco, além do educacional, pois não há formas
ensinar, ajudar a integrar ensino e vida, mirabolantes, pelo menos a curto prazo,
conhecimento e ética, reflexão e ação, a de acompanhar os processos de
ter uma visão de totalidade."[2] evolução social que muitas vezes
atropelam as propostas de ensino. Para
Essa busca pela qualidade educacional é solucionar este impasse Cássio
um processo que não está só nas Rodrigues e Ana Cláudia de Souza no
unidades escolares, ele envolve a artigo: Por um Ensino Efetivo e
comunidade do bairro onde a Escola Estratégico da Linguagem sugerem que
está situada, a comunidade onde o uma solução intermediária para esta
educando reside, o seu núcleo familiar, situação seria: "(...) promover, na esfera
os profissionais que atuam diretamente educacional, o desenvolvimento de
com os educandos (professores, estratégias especificas para lidar com
técnicos e apoio administrativo e as demandas da vida moderna."[3]
pedagógico) os profissionais das
Secretárias de Educação estadual e Para ocorrer uma efetiva melhora na
municipal, os órgãos federais qualidade da educação brasileira é
necessário o envolvimento de todos os
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
segmentos envolvidos no processo A relação educador-educando não deve
educacional. Desta forma os pais, a ser uma relação de imposição, mas sim,
comunidade organizada, os professores, uma relação de cooperação, de respeito
os funcionários administrativos, os e de crescimento. O aluno deve ser
gestores educacionais, os alunos e o considerado como um sujeito interativo
poder público devem estabelecer, de e ativo no seu processo de construção
forma coletiva, as metas a serem de conhecimento. Assumindo o
alcançadas estabelecendo as educador um papel fundamental nesse
prioridades, a forma como serão processo, como um indivíduo mais
executadas e avaliadas. experiente. Por essa razão cabe ao
professor considerar também, o que o
É importante salientar que para este aluno já sabe, sua bagagem cultural e
processo ser significativo e produzir o intelectual, para a construção da
resultado esperado alguns pontos devem aprendizagem.
ser observados pela equipe. Sendo
assim, para que uma Escola venha ter O professor e os colegas formam um
um bom funcionamento e conjunto de mediadores da cultura que
consequentemente oferte uma educação possibilita progressos no
inovadora e de qualidade ela deve desenvolvimento da criança. Nessa
contemplar em seu plano de metas e perspectiva, não cabe analisar somente a
ações aspectos como: realização de relação professor-aluno, mas também a
ações a longo, médio e curto prazo, de relação aluno-aluno. Para Vygotsky, a
forma a atender as necessidades da construção do conhecimento se dará
comunidade escolar, planejamento e coletivamente, portanto, sem ignorar a
trabalho em equipe entre os ação intrapsíquica do sujeito.
participantes do processo de ensino-
aprendizagem, transparência e clareza Assim, Vygotsky conceituou o
nas decisões e ações, qualidade do desenvolvimento intelectual de cada
pessoal, respeito à cultura local da pessoa em dois níveis: um real e um
comunidade onde a Escola está inserida. potencial. O real é aquele já adquirido
ou formado, que determina o que a
O grupo familiar é o grande pilar de criança já é capaz de fazer por si própria
sustentação de qualquer ser humano. porque já tem um conhecimento
Desta forma, a Escola deve buscar a consolidado. Por exemplo, se domina a
participação da comunidade, adição esse é um nível de
conquistando as famílias para desenvolvimento real. O potencial é
participarem, apoiarem e colaborarem quando a criança ainda não aprendeu tal
com as ações desenvolvidas pela escola assunto, mas está próximo de aprender,
e que influenciam na aprendizagem de e isso se dará principalmente com a
seus filhos. ajuda de outras pessoas. Por exemplo,
quando ele já sabe somar, está bom
próximo de fazer uma multiplicação
simples, precisa apenas de um
RELAÇÃO PROFESSOR/ALUNO «empurrão».

Vai ser na distância desses dois níveis


Vygotsky que estará um dos principais conceitos
de Vygotsky: as zonas de
desenvolvimento proximal, que é
definido por ele como:
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
(..) A distância entre o nível de feedback a essa resposta (GOMES,
desenvolvimento que se costuma 2002).
determinar através da solução
independente de problemas, e o nível de Nessa perspectiva, a educação não fica
desenvolvimento potencial, à espera do desenvolvimento intelectual
determinando através da solução de da criança. Ao contrário, sua função é
problemas sob a orientação de um levar o aluno adiante, pois quanto mais
adulto ou de companheiros mais ele aprende, mais se desenvolve
capazes. (VYGOTSKY apud GOMES , mentalmente. Segundo Vygotsky, essa
“A formação Social da mente: O demanda por desenvolvimento é
desenvolvimento dos processos característica das crianças. Se elas
psicológicos superiores”. São Paulo, próprias fazem da brincadeira um
Martins Fontes. 1989, p.97) exercício de ser o que ainda não são, o
professor que se contenta com o que
Esse conceito abre uma nova elas já sabem é dispensável.
perspectiva a prática pedagógica
colocando a busca do conhecimento e
não de respostas corretas. Ao educador,
restitui seu papel fundamental na Piaget
aprendizagem, afinal, para o aluno
construir novos conhecimentos precisa- Para Piaget a aprendizagem do
se de alguém que os ajude, eles não o estudante será significativa quando esse
farão sozinhos. Assim, cabe ao for um sujeito ativo. Isso se dará quando
professor ver seus alunos sob outra a criança receber informações relativas
perspectiva, bem como o trabalho ao objeto de estudo para organizar suas
conjunto entre colegas, que favorece atividades e agir sobre elas. Geralmente
também a ação do outro na ZDP (zona os professores “jogam” somente os
de desenvolvimento proximal). símbolos falados e escritos para os
Vygotsky acreditava que a noção de alunos, alegando a falta de tempo.
ZDP já se fazia presente no bom senso Segundo Piaget esse tempo utilizado
do professor quando este elaborava suas apenas para a verbalização do professor
aulas. é um tempo perdido, e se gastá-lo
permitindo que os alunos usem a
O professor seria o suporte, ou abordagem tentativa e erro, esse tempo
“andaime”, para que a aprendizagem do gasto a mais, será na verdade um ganho.
educando a um conhecimento novo seja
satisfatória. Para isso, o professor tem O modelo tradicional de intervenção do
que interferir na ZDP do aluno, professor consiste em explicar como
utilizando alguma metodologia, e para resolver os problemas e dizer “está
Vygotky, essa se dava através da certo” ou “está errado”. Isso está contra
linguagem. Baseado nisso, dois autores a teoria da psicologia genética de
Newman, Griffin & Cole, Piaget, que coloca a importância da
desenvolveram essa idéia. Para eles era observação do professor sobre o aluno.
através do diálogo do professor com o Uma observação criteriosa, para ver o
aluno que a ZDP se desenvolve na sala momento de desenvolvimento que a
de aula. Com um esquema I-R-F criança está vivendo, assim saber que
(iniciação – resposta – feedback), que o atividade cognitiva aquele aluno estará
professor “dando pistas” para o aluno apto a investigar. O professor será o
iniciava o processo, assim o aluno teria incentivador, o encorajador para a
uma resposta e o professor dava o iniciativa própria do estudante.
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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
Coloca-se também a importância da conseqüências serão à descentralização, à
espontaneidade da criança. Muitas socialização, à construção de um
vezes o professor se mostra tão conhecimento racional e dinâmico dos
preocupado em ensinar que não têm alunos. Dessa forma, a produção das
crianças passa a fazer parte do processo de
paciência suficiente para esperar que as
ensino e aprendizagem, buscando
crianças aprendam. Dificilmente compreender o significado do processo e
aguardam as respostas dos educandos, e não só o produto.
perdem a oportunidade de acompanhar
a estrutura de raciocínio espontânea de
seus alunos. Com a concepção das
respostas “certas” e sem o incentivo DIREITOS DA CRIANÇA E DO
para pesquisa pessoal o estudante acaba ADOLESCENTE
por ter sua atividade dirigida e
canalizada, podendo até dizer moldada
pelo método de ensino tradicional. Por
isso Piaget fixa tanto essa idéia da A Convenção sobre os Direitos da Criança
espontaneidade do aluno; porém, essa da ONU, a Constituição Federal e o
espontaneidade muitas vezes é Estatuto da Criança e do Adolescente listam
distorcida em sua interpretação. Se um diversos direitos que devem ser alvo de
professor deixar a criança sem planejar proteção prioritariamente pelo Estado, pela
sua atividade, achando que essa família e pela a fim de garantir uma
aprenderá sozinha, erroneamente estará
existência digna e o desenvolvimento pleno
aplicando o que Piaget diz.
da criança e adolescente.
Ainda a respeito da relação professor-aluno,
Piaget coloca que essa relação tem que ser Dessa forma, é que a criança e adolescente,
baseada no diálogo mais fecundo, onde os além dos direitos fundamentais inerentes a
“erros” dos estudantes passam a ser vistos qualquer ser humano, têm alguns direitos
como integrantes do processo de que lhe são especiais pela sua própria
aprendizagem. Isso se dá porque à medida condição de pessoa em desenvolvimento. O
que o aluno “erra” o professor consegue ver
Estatuto da Criança e Adolescente,
o que já se está sabendo e o que ainda deve
ser ensinado. Segundo Emilia Ferreiro e portanto, rompe com a doutrina da situação
Ana Teberosky são esses “erros irregular do Código de Menores que tratava
construtivos” que podem diferir das a criança e o adolescente como objetos,
respostas corretas, mas não impedem que as passando a tratá-los como sujeitos de
crianças cheguem a ela. direitos.

Piaget ainda reforça que o aprender não se


Assim, o art. 4.º determina que é dever da
reduz à memorização, mas sim ao
raciocínio lógico, compreensão e reflexão. família, da comunidade, da sociedade em
Diferentemente de Vygotsky, Piaget coloca geral e do Poder Público assegurar, com
que o aprendizado é individual. Será absoluta prioridade, a efetivação dos
construído na cabeça do sujeito a partir das direitos à vida, à saúde, à alimentação, à
estruturas mentais que ele possui. Voltando educação, ao esporte, ao lazer, à
a relação professor-aluno, Piaget a coloca profissionalização, à cultura, à dignidade,
baseada na cooperação de ambos. Assim,
ao respeito, à liberdade, à convivência
será através do debate e discussão entre
iguais que o processo do desenvolvimento familiar e comunitária. Esse artigo é quase
cognitivo se dará; e o professor assumindo uma reprodução literal do que está disposto
o papel apenas de instigador e provocador, na Constituição Federal do Brasil.
mantendo o clima de cooperação. As

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
O Estatuto, visando garantir a efetivação Direito à alimentação.
desses direitos, dispõe que qualquer
atentado, por omissão ou ação, aos direitos Embora não haja um capítulo especifico no
fundamentais das crianças e adolescentes Estatuto sobre tão importante direito ligado
são punidos conforme determina a lei. claramente a vida, pois não há vida sem
alimentação, tanto a Constituição Federal
Direito à vida e direito à saúde. como o Estatuto o elencam entre os direitos
a serem protegidos, cabendo ao Estado
São disciplinados pelos arts. 7.º a 14 do fornecer essa alimentação se os pais ou
ECA. Assim, o direito à vida e à saúde, responsáveis não tiverem condições de
segundo o art. 7.º do ECA, serão efetivados fazê-lo. E a preocupação com a efetivação
através de políticas públicas que permitam desse direito é clara quando o Estatuto em
o nascimento e desenvolvimento sadio e seu § 3.º do art. 7.º dispõe que incumbe ao
harmonioso, em condições dignas de Poder Público propiciar alimentação à
existência. gestante e à nutriz que dele necessitem, pois
é evidente que para um desenvolvimento
Para garantir a efetivação dos direitos é que sadio é necessária uma alimentação
o ECA determina que seja assegurado a adequada desde a gestação.
gestante o acompanhamento pré-natal no
sistema único de saúde, determina ainda Direito à liberdade, ao respeito e à
que se possível, preferencialmente, o dignidade.
médico que fez o acompanhamento no pré-
natal seja o que realizará o parto e mais que O direito à liberdade da criança e
o Poder Público garanta a alimentação do adolescente tem características especificas,
recém-nascido. já que são pessoas em desenvolvimento e
por serem imaturas muitas vezes se
Verifica-se portanto que o que se busca é encontram em situação de vulnerabilidade.
acabar com a mortalidade infantil ou, ao Mas não é por essa condição peculiar que
menos, reduzi-la, havendo uma não tem direito à liberdade, aliás esse
preocupação clara com a saúde e vida da direito se altera conforme o
gestante e da criança recém nascida. desenvolvimento vai se completando. O art.
16 do ECA, esclarece que o direito à
Além disso, há uma determinação do liberdade abrange o direito de locomoção,
Estatuto para que os empregadores e as de expressão, de crença, de diversão, de
instituições propiciem o aleitamento participação da vida familiar, comunitária e
materno, inclusive no caso de mães política (nos termos da lei) e de refúgio.
privadas de liberdade. Assim, tanto as
mulheres que trabalham e também aquelas O direito ao respeito, conforme art. 17 do
que estão presas, incluídas aqui as adultas e ECA, consiste na inviolabilidade da
adolescentes, que são mães devem poder integridade física, psíquica e moral da
amamentar seus filhos. Como é cediço o criança e do adolescente. Para tanto deve-se
aleitamento contribui para o preservar a imagem, a identidade, a
desenvolvimento saudável da criança recém autonomia, os valores, as idéias e as
nascida e, portanto, não basta apenas crenças, os espaços e os objetos pessoais.
incentivá-lo, mas é necessário que se dê
meios para que a mãe possa realizá-lo. A criança e adolescente, conforme
determina o art. 18 do ECA deve estar

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
protegida de todo e qualquer tratamento não tem condições de educar “bem” uma
desumano, violento, aterrorizante, vexatório criança ou um adolescente.
e constrangedor, garantindo assim sua
dignidade. Direito à educação, à cultura, ao esporte e
ao lazer
Por isso, com base no direito ao respeito e à
dignidade que há uma preocupação clara do O direito à educação, garantido no art. 53
Estatuto com o sigilo dos processos, do ECA, tem por finalidade o pleno
principalmente processos de apuração de desenvolvimento da criança e adolescente,
atos infracionais, além disso, há no Estatuto o preparo para o exercício da cidadania e
crimes específicos em caso de violação qualificação para o trabalho. Assim, o
desses direitos, visando dessa forma acesso à educação surge com um fator de
impedir ou, ao menos, coibir que esses transformação social, visando o combate a
direitos sejam violados. A previsão está no exclusão social, permitindo que a criança e
art. 240 e 241 do ECA. adolescente se desenvolvam e estejam
preparados para exigências da vida em
Direito à convivência familiar e sociedade, tanto quanto aos seus direitos e
comunitária deveres no convívio com as pessoas como
no seu trabalho.
Para haver a efetivação de todos os direitos
fundamentais que são assegurados a criança Dessa forma, o Estatuto dispõe que o
e adolescente é necessário se garantir a acesso ao ensino obrigatório e gratuito é
convivência familiar. Instituições não são direito público subjetivo da criança e
como família, pois o vínculo familiar é adolescente. Cabe aos pais e responsáveis a
calcado no afeto. E é por isso, com base na obrigação de matricular os filhos ou pupilos
importância dessa convivência familiar, que na escola e controlar a freqüência, cabe ao
permitirá um desenvolvimento com Estado oferecer o ensino obrigatório e ao
dignidade e efetivação dos direitos estabelecimento de ensino fundamental
humanos que, o art. 19 do ECA dispõe que comunicar ao Conselho Tutelar os casos de
“toda criança ou adolescente tem direito a maus tratos, a reiteração de faltas
ser criado e educado no seio da sua família injustificadas e evasão escolar e altos níveis
e, excepcionalmente, em família de repetências. Assim, é evidente que há
substituta”. obrigação por parte da família, do Estado e
também da escola para que a criança e
Buscando-se impedir arbitrariedades e adolescente não deixe de estudar ou
garantir que a criança e adolescente se abandone os estudos, para que se dê
desenvolvam no seio de sua família natural efetividade ao direito à educação que lhe é
que o art. 23 do ECA dispõe que a falta ou garantido.
carência de recursos materiais não constitui
motivo suficiente para a perda ou suspensão É importante que a criança e adolescente
do poder familiar. De fato, seria absurdo conheça suas raízes, mais, que ela valorize
que um pai ou uma mãe pudessem perder essas raízes e as mantenha, pois é assim que
ou ter suspenso o poder familiar por serem ela manterá e desenvolverá a sua identidade
pobres. Embora tão claro e evidente não é com o grupo. Por isso, a preocupação do
incomum decisões judiciais nesse sentido, Estatuto que no art. 58 que dispõe que no
decisões que refletem uma visão processo educacional serão respeitados os
preconceituosa que um pai ou mãe pobre valores culturais, artísticos e históricos

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
próprios do contexto social da criança e do empregado ou aprendiz, o trabalho
adolescente, garantindo a eles liberdade de realizado em locais prejudiciais à sua
criação e acesso as fontes da cultura. formação e desenvolvimento físico,
psíquico, moral e social, além dos
Por fim, há a preocupação que além da realizados em horários e locais que não
educação, a criança e adolescente possa permitam a freqüência à escola.
brincar e praticar esportes. O esporte e o
lazer contribui para que a criança e Há uma preocupação da Constituição e
adolescente desenvolvam outras também do Estatuto com a
potencialidades e desenvolvem o profissionalização da criança e adolescente
relacionamento social. que necessitam desenvolver todas as suas
potencialidades e estarem preparados para a
Direito à profissionalização e à proteção ao vida adulta.
trabalho

È do trabalho que o homem obtém seu


sustento. Porém, a busca por esse sustento A LDB atual
compete a adultos, não a adolescentes ou a
crianças. Por essa razão que a Constituição A Lei de Diretrizes e Bases de Educação
Federal e o Estatuto da Criança e Nacional e a Reforma do Ensino Médio
Adolescente proíbem que menores de
dezesseis anos trabalhem, exceto se for para
exercer suas potencialidades e os preparem MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E DO
para a vida adulta, o que é permitido a DESPORTO
partir de quatorze anos quando o exercer na
condição de aprendiz. SECRETARIA DE EDUCAÇÃO MÉDIA
E TECNOLÓGICA
A proibição tem um fundamento muito
claro permitir que a criança e o adolescente
tenha tempo para estudar. O exercício de
1 – Introdução
um trabalho por uma criança ou por um
adolescente lhe retira o tempo que lhe é O MINISTÉRIO DE EDUCAÇÃO E DO
necessário não só de freqüentar as aulas, DESPORTO, por intermédio da Secretaria
mas também de estudar o que foi passado de Educação Média e Tecnológica ,
em sala de aula e fazer as lições. Além organizou, na atual administração, o Projeto
disso, o trabalho em muitas situações de Reforma do Ensino Médio, como parte
acarreta danos para a saúde da criança ou de uma política mais geral de
desenvolvimento social, que prioriza as
adolescente, pessoas em desenvolvimento
ações na área da Educação.
que são, e que muitas vezes não detém a
força física necessária para realização de O Brasil, como os demais países da
determinados trabalhos. América Latina, está empenhado em
promover reformas na área educacional que
São vedados ao menores de 18 anos, permitam superar o quadro de extrema
conforme a Constituição Federal, o trabalho desvantagem, em relação aos índices de
noturno, perigoso ou insalubre. E o escolarização e de nível de conhecimento
que apresentam os países desenvolvidos.
Estatuto, em seu art. 67, complementa que
também são vedados ao adolescente

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
Particularmente, no que se refere ao Ensino colocando novos parâmetros para a
Médio, dois fatores de natureza muito formação dos cidadãos . Não se trata de
diversa, mas que mantêm entre si relações acumular conhecimentos.
observáveis, passam a determinar a
urgência em se repensar as diretrizes gerais A formação do aluno deve ter como alvo
e os parâmetros curriculares que orientam principal a aquisição de conhecimentos
este nível de ensino. básicos, a preparação científica e a
capacidade para utilizar as diferentes
O fator econômico que se apresenta e se tecnologias relativas às áreas de atuação.
define pela ruptura tecnológica
característica da chamada terceira revolução Propõe-se no nível do Ensino Médio, a
técnico-industrial, na qual os avanços da formação geral em oposição à formação
micro-eletrônica têm um papel específica, o desenvolvimento de
preponderante, e, que, a partir década de 80, capacidades de pesquisar, buscar
se acentua no país. informações, analisá-las e selecioná-las; a
capacidade de aprender , de criar, de
A denominada "revolução informática" formular ,ao invés do simples exercício de
promove mudanças radicais, na área do memorização .
conhecimento, que passa a ocupar um lugar
central nos processos de desenvolvimento, São estes os princípios mais gerais que
em geral. É possível afirmar que, nas orientam a reformulação curricular do
próximas décadas, a educação vá se Ensino Médio e que se expressam na nova
transformar mais rapidamente do que em Lei de Diretrizes e Bases da Educação -LEI
muitas outras, em função de uma nova 9394/96.
compreensão teórica sobre o papel da
escola, estimulada pela incorporação das Se é necessário pensar em reformas
novas tecnologias. curriculares, levando em conta as mudanças
estruturais que alteram a produção e a
As propostas de reforma curricular para o própria organização da sociedade, e que
Ensino Médio se pautam nas constatações identificamos como fator econômico, não é
sobre as mudanças no conhecimento e seus menos importante conhecer e analisar as
desdobramentos, no que se refere à condições em que se desenvolve o sistema
produção e as relações sociais de modo educacional do país.
geral.
No Brasil , o Ensino Médio foi o que mais
Nas décadas de 60 e 70, considerando o se expandiu, considerando como ponto de
nível de desenvolvimento da partida a década de 80. De 1988 a 1997, o
industrialização na América Latina, a crescimento da demanda superou 90% das
política educacional vigente priorizou, matrículas até então existentes. Em apenas
como finalidade para o ensino médio, a um ano, de 1996 a 1997, a matrícula do
formação de especialistas capazes de ensino médio cresceu 11,6%.
dominar a utilização de maquinarias ou de
dirigir processos de produção. É importante destacar, entretanto, que o
índice de escolarização líquida neste nível
Esta tendência levou o Brasil na década de de ensino, considerada a população de 15 a
70, a propor a profissionalização 17 anos, não ultrapassa 25%, o que coloca o
compulsória, estratégia que também visava Brasil em situação de desigualdade em
diminuir a pressão da demanda sobre o relação a muitos países, inclusive da
ensino superior. América Latina.

Na década de 90, enfrentamos um desafio Nos países do Cone Sul, por exemplo, o
de outra ordem. O volume de informações, índice de escolarização alcança de 55% a
produzido em decorrência das novas
tecnologias, é constantemente superado,

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
60%, e na maioria dos países do Caribe de Definiu-se que, para a formulação de uma
língua inglesa, cerca de 70%. nova concepção do Ensino Médio, seria
fundamental a participação de professores e
O padrão de crescimento das matrículas do técnicos de diferentes níveis de ensino.
Ensino Médio no Brasil , entretanto, tem
características que nos permitem destacar as A primeira reunião entre os dirigentes, a
suas relações com as mudanças que vêm equipe técnica da Secretaria de Educação
ocorrendo na sociedade. As matrículas se Média e Tecnológica e os professores
concentram nas redes públicas estaduais e convidados de várias universidades do país
no período noturno. apontou para a necessidade de elaborar uma
proposta que, incorporando os pressupostos
Os estudos desenvolvidos pelo INEP, acima citados e respeitando o princípio de
quando da avaliação dos concluintes do flexibilidade, orientador da Lei de
Ensino Médio em nove estados, revelam Diretrizes e Bases- lei 9394/96- se
que 54% dos alunos são originários de mostrasse exeqüível pelos estados da
famílias com renda mensal até 6 salários federação, considerando as desigualdades
mínimos e nos estados da Bahia, regionais.
Pernambuco e Rio Grande do Norte mais de
50% destes, têm renda familiar de até 3 Foi elaborada a primeira versão da proposta
salários mínimos. de reforma, pelo então diretor do
Departamento de Desenvolvimento da
É possível concluir que parte dos grupos Educação Média e Tecnológica , professor
sociais até então excluídos, tenha tido Ruy Leite Berger Filho e pela coordenadora
oportunidade de continuar os estudos em do projeto, professora Eny Marisa Maia.
função do término do ensino fundamental
ou, que esse mesmo grupo esteja retornando Propôs-se, numa primeira abordagem, a
à escola, dada a compreensão sobre a reorganização curricular em áreas de
importância da escolaridade, em função das conhecimento, com o objetivo de facilitar o
novas exigências do mundo do trabalho. desenvolvimento dos conteúdos, numa
perspectiva de interdisciplinaridade e
Pensar um novo currículo para o Ensino contextualização.
Médio coloca em presença estes dois
fatores : as mudanças estruturais que Foram convidados a participar do processo
decorrem da chamada " Revolução do de elaboração da proposta de reforma
Conhecimento ", alterando o modo de curricular professores universitários, com
organização do trabalho e as relações reconhecida experiência nas áreas de ensino
sociais e a expansão crescente da rede e pesquisa que atuaram como consultores
pública que deverá atender a padrões de especialistas.
qualidade que se coadunem com as
exigências desta sociedade. As reuniões subsequentes foram
organizadas com a participação da equipe
técnica de coordenação do projeto e
2- O processo de trabalho representantes de todos as Secretarias
Estaduais de Educação , para as discussões
O projeto de reforma curricular do Ensino dos textos que fundamentavam as áreas de
Médio teve como estrutura, desde sua ensino.
origem, um modelo cuja principal
preocupação era de proporcionar um Esta metodologia de trabalho visava
diálogo constante entre os dirigentes da ampliar os debates, tanto no nível
Secretaria de Educação Média e acadêmico, quanto no âmbito de cada
Tecnológica, a equipe técnica coordenadora estado, envolvendo os professores e
do projeto da reforma e os diversos setores técnicos que atuavam no Ensino Médio. Os
da sociedade civil, ligados direta ou debates realizados nos estados, coordenados
indiretamente à educação. pelos professores representantes deveriam

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
permitir uma análise crítica do material, O documento produzido foi apresentado aos
contendo novas questões e /ou sugestões de Secretários de Estado de Educação e
aperfeiçoamento dos documentos. encaminhado ao Conselho Nacional de
Educação em 7/07/97, solicitando-se o
Concluída esta primeira etapa, os respectivo parecer. Nesta etapa a Secretaria
documentos foram submetidos à apreciação de Educação Média e Tecnológica
dos Secretários de Estado em reuniões do trabalhou integradamente com a relatora do
CONSED e outras, organizadas pela Conselho, professora Guiomar Namo de
Secretaria de Educação Média e Mello, em reuniões especialmente
Tecnológica com esse objetivo específico. agendadas para este fim e por meio de
assessorias específicas dos professores
O debate se ampliou por meio da consultores especialistas. O parecer do
participação dos consultores especialistas Conselho Nacional de Educação foi
em diversas reuniões nos estados e pela aprovado em 1/06/98 – Parecer nº 15/98da
divulgação dos textos de fundamentação Câmara de Educação Básica-CEB do
das áreas entre os professores de outras Conselho Nacional de Educação - CNE ,
universidades. seguindo-se a elaboração da resolução que
estabelece as Diretrizes Curriculares
Concomitantemente à reformulação dos Nacionais para o Ensino Médio, Resolução
textos teóricos que fundamentavam cada CEB/CNE nº 03/98.
área de conhecimento, foram realizadas
duas reuniões nos estados de São Paulo e Os textos de fundamentação das áreas de
do Rio de janeiro com professores que conhecimento, elaborados pelos professores
lecionavam nas redes públicas, escolhidos especialistas, foram submetidos à
aleatoriamente, com a finalidade de apreciação de consultores visando o
verificar a compreensão e a receptividade, aperfeiçoamento dos mesmos.
em relação aos documentos produzidos.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Obtivemos índices de aceitação muito Nacional- Lei 9394/96 foi a principal
satisfatórios nesses dois encontros, o que se referência legal para a formulação das
considerou como um indicador da mudanças propostas, na medida em que
adequação da proposta ao cotidiano das estabelece os princípios e finalidades da
escolas públicas. Educação Nacional.

O projeto foi também discutido em debates


abertos à população, como o organizado 3 – A Lei de Diretrizes e Bases da
pelo jornal " Folha de São Paulo " no início Educação Nacional- Lei 9394/96 e a
de 1997. Neste debate do qual participaram Reforma Curricular do Ensino Médio
os sindicatos de professores, a associação
de estudantes secundaristas, representantes A nova Lei de Diretrizes e Bases da
da escolas particulares e outros segmentos Educação Nacional vem conferir uma nova
da sociedade civil, o professor Ruy Leite identidade ao Ensino Médio.
Berger Filho apresentou a proposta de
reforma curricular que obteve dos  O Ensino Médio é educação básica
participantes uma aprovação consensual.
A constituição de 1988 já prenunciava esta
Os trabalhos de elaboração da reforma concepção quando , no inciso II do Art.
curricular foram concluídos em junho de 208, garantia como dever do estado " a
1997, a partir de uma série de discussões progressiva extensão da obrigatoriedade e
internas que envolveram os dirigentes, a gratuidade ao ensino médio ".
equipe técnica de coordenação do projeto e Posteriormente, a Emenda Constitucional nº
os professores consultores. 14/96, modifica a redação deste inciso sem
que se altere neste aspecto o espírito da
redação original, inscrevendo no texto

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
constitucional a "progressiva A Lei de Diretrizes e Bases da Educação
universalização do ensino médio gratuito ". Nacional explicita que o ensino médio é a
A Constituição portanto confere a este nível "etapa final da educação básica " (Lei
de ensino o estatuto de direito de todo o 9394/96 -Art.36) o que concorre para a
cidadão. construção de sua identidade. O ensino
Médio passa a ter a característica da
A alteração provocada pela emenda terminalidade o que significa assegurar a
constitucional merece entretanto um todos os cidadãos a oportunidade de
destaque. O ensino Médio deixa de ser consolidar e aprofundar " os conhecimentos
obrigatório para as pessoas mas a sua oferta adquiridos no ensino fundamental ",
é dever do estado numa perspectiva de aprimorar o educando como pessoa humana
acesso para todos aqueles que o desejarem. possibilitar o prosseguimento de estudos,
garantir a preparação básica para o trabalho
A Lei de Diretrizes e Bases reitera a e a cidadania, dotar o educando dos
obrigatoriedade progressiva do Ensino instrumentos que permitam "continuar
Médio, sendo portanto esta, na vigência da aprendendo" tendo em vista a desenvolver a
Lei, uma diretriz legal, ainda que não mais compreensão dos" fundamentos científicos
constitucional. e tecnológicos dos processos produtivos"
(Art.35,incisos I a IV, da Lei nº 9394/96).
A Lei 9394/96 deu condição de norma legal
a esta condição quando por meio do Art. 21 O ensino médio, portanto, é a etapa final de
estabelece; uma educação de caráter geral, afinada com
a contemporaneidade, com a construção de
"Art. 21. A educação escolar compõe-se de competências básicas, que situem o
: educando como sujeito produtor de
conhecimento e participante do mundo do
I – educação básica, formada pela educação trabalho, e com o desenvolvimento da
pessoa, como "sujeito em situação" –
infantil, ensino fundamental e ensino
médio; cidadão.

Nesta concepção, a Lei 9394/96 muda no


II – educação superior"
cerne a identidade estabelecida para o
ensino médio contida na referência anterior,
Isto significa que o ensino médio passa a
a Lei nº5692/71, cujo 2º grau se
integrar a etapa do processo educacional
caracterizava por uma dupla função:
que a nação considera básica para o
preparar para o prosseguimento de estudos
exercício da cidadania, base para o acesso
e habilitar para o exercício de uma
às atividades produtivas, para o
profissão técnica. Na perspectiva da nova
prosseguimento nos níveis mais elevados e
Lei, o ensino médio como parte da
complexos de educação, e para o
educação escolar " deverá vincular-se ao
desenvolvimento pessoal, referido à sua
mundo do trabalho e à prática social" (
interação com a sociedade e sua plena
Art.1º § 2º da Lei9394/96 ). Esta vinculação
inserção nela, ou seja, que " tem por
é orgânica e deve contaminar toda a prática
finalidades desenvolver o educando ,
educativa escolar.
assegurar-lhe a formação comum
indispensável para o exercício da cidadania
Em suma, a Lei estabelece uma perspectiva
e fornecer-lhe meios para progredir no
para este nível de ensino que integra, numa
trabalho e em estudos posteriores" (Art.22,
mesma e única modalidade, finalidades até
Lei 9394/96).
então dissociadas, para oferecer, de forma
articulada, uma educação equilibrada, com
 O Ensino Médio como etapa final
funções equivalentes para todos os
da educação básica
educandos:

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
 a formação da pessoa de forma a O novo paradigma emana da compreensão
desenvolver os seus valores e as que , cada vez mais , aproximam-se as
competências necessárias à competências desejáveis ao pleno
integração de seu projeto individual desenvolvimento humano das necessárias à
ao projeto da sociedade em que se inserção no processo produtivo. Segundo
situa; Tedesco, aceitar tal perspectiva otimista,
 o aprimoramento do educando seria admitir que vivemos " uma
como pessoa humana , incluindo a circunstância histórica inédita, na qual as
formação ética e o desenvolvimento capacidades para o desenvolvimento
da autonomia intelectual e do produtivo seriam idênticas para o papel do
pensamento crítico; cidadão e para o desenvolvimento social".
 a preparação e orientação básica Isto é, admitindo tal correspondência, entre
para a sua integração ao mundo do as competências exigidas para o exercício
trabalho, com as competências que da cidadania e para as atividades produtivas
garantam seu aprimoramento recoloca-se o papel da Educação como
profissional e permitam elemento de desenvolvimento social.
acompanhar as mudanças que
caracterizam a produção no nosso Em contrapartida, é importante
tempo; compreender que a aproximação entre as
 o desenvolvimento das competências desejáveis em cada uma das
competências para continuar dimensões sociais não garante uma
aprendendo, de forma autônoma e homogeneização das oportunidades sociais.
crítica, em níveis mais complexos Há que considerar a redução dos espaços
de estudos. para os que vão trabalhar em atividades
simbólicas, em que o conhecimento é o
instrumento principal, os que vão continuar
4 –O Papel da Educação na Sociedade atuando em atividades tradicionais e o mais
Tecnológica grave, os que se vêem excluídos.

A centralidade do conhecimento nos A expansão da economia pautada no


processos de produção e organização da conhecimento caracteriza-se também por
vida social rompe com o paradigma, fatos sociais que comprometem os
segundo o qual, a educação seria um processos de solidariedade e coesão social,
instrumento de "conformação" do futuro quais sejam a exclusão e a segmentação
profissional ao mundo do trabalho. com todas as conseqüências ,hoje,
Disciplina, obediência, respeito restrito às presentes: o desemprego, a pobreza, a
regras estabelecidas, condições até então violência, a intolerância.
necessárias para a inclusão social, via
profissionalização, perdem a relevância Esta tensão, presente na sociedade
face às novas exigências colocadas pelo tecnológica, pode se traduzir no âmbito
desenvolvimento tecnológico e social. social pela definição de quantos e quais
segmentos terão acesso a uma educação que
A nova sociedade que surge, decorrente da contribua efetivamente para a sua
revolução tecnológica e seus incorporação.
desdobramentos na produção e na área da
informação apresenta características Um outro dado a considerar diz respeito ao
possíveis de assegurar à educação uma que alguns estudos denominam como
autonomia ainda não alcançada . Isto ocorre banalização das competências. A "
na medida em que, o desenvolvimento das banalização das competências significa
competências cognitivas e culturais simplesmente que o que eu faço, outros,
exigidas para o pleno desenvolvimento muitos outros, podem fazer ou aprender a
humano passa a coincidir com o que se fazer. Uma infinidade de competências
espera na esfera da produção. reservadas até agora às elites foi banalizada
de uns vinte anos para cá: a utilização do

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
computador, o conhecimento de línguas contemporaneidade e, considerando a
estrangeiras(....) Em conseqüência a rapidez com que ocorrem as mudanças na
banalização das competências e das área do conhecimento e da produção, ter a
qualificações superiores é o meio ousadia de mostrar-se prospectiva.
indispensável e o mais eficaz para combater
a dualização da sociedade.... ( GORZ). Certamente, o ponto de partida para a
implementação da reforma curricular em
De que competências se está falando? Da curso é o reconhecimento das condições
capacidade de abstração, do atuais de organização dos sistemas
desenvolvimento do pensamento sistêmico estaduais, no que se refere à oferta do
ao contrário da compreensão parcial e ensino médio.
fragmentada dos fenômenos, da criatividade
,da curiosidade ,da capacidade de pensar Constata-se a necessidade de investir nas
múltiplas alternativas para a solução de um áreas de macroplanejamento, visando
problema, ou seja, do desenvolvimento do ampliar de modo racional a oferta de vagas
pensamento divergente, da capacidade para e na, de formação dos docentes, uma vez
trabalhar em equipe, da disposição para que as medidas sugeridas exigem mudanças
procurar e aceitar críticas, da disposição na seleção, tratamento dos conteúdos e
para o risco, do desenvolvimento do incorporação de instrumentos tecnológicos
pensamento crítico, do saber comunicar-se, modernos como a informática. Estas são
da capacidade de buscar conhecimento. algumas prioridades, indicadas em todos os
Estas são competências que devem estar estudos desenvolvidos recentemente pela
presentes na esfera social, cultural, nas Secretaria de Educação Média e
atividades políticas e sociais como um todo, Tecnológica e pelo Instituto Nacional de
condições para o exercício da cidadania Estudos Pedagógicos-INEP, por meio do
neste contexto. Sistema Nacional de Avaliação da
Educação Básica-SAEB e que subsidiaram
O desafio a enfrentar é grande, a elaboração da proposta de reforma
principalmente para um país em processo curricular.
de desenvolvimento que, na década de 90,
sequer oferece uma cobertura no ensino Mesmo considerando os obstáculos a
médio, considerado como parte da superar, uma proposta curricular que se
educação básica, a mais que 25% de seus pretenda contemporânea deverá incorporar
jovens entre 15 e 17 anos. como um dos seus eixos as tendências
apontadas para o século XXI.
Não se pode mais postergar a intervenção
no ensino médio, de modo a garantir a A crescente presença da ciência e da
superação de uma escola que pretende tecnologia nas atividades produtivas e nas
formar por meio da imposição de modelos, relações sociais, por exemplo, que como
de exercícios de memorização, da conseqüência estabelece um ciclo
fragmentação do conhecimento, da permanente de mudanças, provocando
ignorância dos instrumentos mais rupturas rápidas, precisa ser considerada.
avançados de acesso ao conhecimento e da
comunicação e desta forma, ao invés de se Comparadas com as mudanças
colocar como elemento central de significativas observadas nos séculos
desenvolvimento dos cidadãos, contribua passados: como a máquina a vapor ou o
para a sua exclusão. Ao manter uma postura motor a explosão cuja difusão se dava de
tradicional e distanciada das mudanças modo lento e por um largo período de
sociais, a escola como Instituição Pública tempo, os avanços do conhecimento que se
acabará também por se marginalizar. observam neste século criam possibilidade
de intervenção em áreas inexploradas.
Uma nova concepção curricular para o
Ensino Médio, como apontamos Estão presentes os avanços na biogenética,
anteriormente, deve expressar a e outros mais, que fazem emergir questões

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
de ordem ética merecedoras de debates em produção e, até mesmo, novas definições de
nível global. Em contrapartida, as identidade individual e coletiva.
inovações tecnológicas como a
informatização, hoje, extensiva no país e a Diante deste mundo globalizado, que
robótica, a busca de maior precisão apresenta múltiplos desafios para o homem,
produtiva e de qualidade homogênea, têm a educação surge como uma utopia
concorrido para acentuar o desemprego. É necessária " indispensável à humanidade na
possível afirmar que o crescimento sua construção da paz, da liberdade e da
econômico não gera mais empregos ou que justiça social ".
concorre para a diminuição do número de
horas de trabalho e, principalmente, para a Deve ser encarada "entre outros caminhos e
diminuição de oportunidades para o para além deles, como uma via que conduza
trabalho não qualificado. a um desenvolvimento mais harmonioso,
mais autêntico, de modo a fazer recuar a
Se o deslocamento das oportunidades de pobreza, a exclusão social, as
trabalho do setor industrial para o terciário incompreensões, as opressões e as
é uma realidade, isto não significa que seja guerras"...( Relatório da UNESCO sobre
menor neste a exigência em relação à Educação para o século XXI ).
qualificação do trabalhador.
Considerando tal contexto, buscou-se
Nas sociedades tradicionais, a estabilidade construir novas alternativas de organização
da organização política, produtiva, e social curricular para o Ensino Médio
garantia um ambiente educacional comprometidas, de um lado, com o novo
relativamente estável. Agora, a velocidade significado do trabalho no contexto da
do progresso científico e tecnológico e da globalização e, do outro, com o sujeito
transformação dos processos de produção ativo, a pessoa humana que se apropriará
torna o conhecimento rapidamente desses conhecimentos para aprimorar-se,
superado, exigindo-se uma atualização como tal, no mundo do trabalho e na prática
contínua e colocando novas exigências para social. Há, portanto, necessidade de romper
a formação do cidadão. com modelos tradicionais para que se
alcancem os objetivos propostos para o
A transformação do ciclo produtivo, a partir Ensino Médio. A perspectiva é de uma
da década de 40, provocou a migração aprendizagem permanente, de uma
campo-cidade. Houve uma diminuição formação continuada, considerando como
gradativa mas significativa de empregos na elemento central desta formação a
agricultura. Atualmente, observa-se uma construção da cidadania em função dos
situação semelhante na indústria e isso processos sociais que se modificam.
ocorre não apenas em função das novas
tecnologias como também em função do Alteram-se, portanto, os objetivos de
processo de abertura dos mercados que formação no nível do ensino médio.
passa a exigir maior precisão produtiva e Prioriza-se a formação ética e o
padrões de qualidade da produção dos desenvolvimento da autonomia intelectual e
países mais desenvolvidos. do pensamento crítico.

A globalização , ao promover o Não há o que justifique reter, memorizar


rompimento das fronteiras geográficas conhecimentos que estão sendo superados
muda a geografia política, provocando de ou cujo acesso é facilitado pela moderna
forma acelerada a transferência de tecnologia. O que se deseja é que os
conhecimentos, tecnologias e informações, estudantes desenvolvam competências
recoloca as questões da sociabilidade básicas que lhes permitam desenvolver a
humana em espaços cada vez mais amplos. capacidade de continuar aprendendo.

A revolução tecnológica, por sua vez, cria É importante destacar , tendo em vista tais
novas formas de socialização, processos de reflexões, as considerações oriundas da

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
Reunião da Comissão Internacional sobre O aumento dos saberes que permite
Educação para o século XXI, incorporadas compreender o mundo, favorece o
nas determinações da Lei 9394/96. desenvolvimento da curiosidade intelectual,
estimula o senso crítico e permite
a. a educação deve cumprir um triplo papel compreender o real, mediante a aquisição
: econômico, científico e cultural da autonomia na capacidade de discernir.

b. a educação deve ser estruturada em Aprender a conhecer garante o aprender a


quatro alicerces : aprender a conhecer, aprender e constitui o passaporte para a
aprender a fazer, aprender a viver e educação permanente, na medida em que
aprender a ser. fornece as bases para continuar aprendendo
ao longo da vida.

5 – A nova proposta de reforma curricular :  Aprender a fazer


a expansão com qualidade
O desenvolvimento de habilidades e o
O currículo enquanto instrumentação da estímulo ao surgimento de novas aptidões
cidadania democrática é aquele que tornam-se processos essenciais na medida
contempla conteúdos e estratégias de em que criam as condições necessárias para
aprendizagem que capacitam o ser humano o enfrentamento das novas situações que se
para a realização de atividades que colocam. Privilegiar a aplicação da teoria
pertencem aos três domínios da ação na prática e enriquecer a vivência da ciência
humana: vida em sociedade, atividade na tecnologia e destas no social, passa a ter
produtiva e experiência subjetiva, visando a uma significação especial no
integração de homens e mulheres no tríplice desenvolvimento da sociedade
universo do trabalho, da simbolização contemporânea.
subjetiva, e das relações políticas.
(Severino, 1994: 100).  Aprender a viver

Nesta perspectiva , incorporam-se como Trata-se de aprender a viver juntos,


diretrizes gerais e orientadoras da proposta desenvolvendo o conhecimento do outro e a
curricular as quatro premissas apontadas percepção das interdependências de modo a
pela UNESCO como eixos estruturantes da permitir a realização de projetos comuns ou
educação na sociedade contemporânea : a gestão inteligente dos conflitos
inevitáveis.
 Aprender a conhecer
 Aprender a ser
Considera-se a importância de uma
educação geral, suficientemente ampla, com A educação deve estar comprometida com
possibilidade de aprofundamento em o desenvolvimento total da pessoa.
determinada área de conhecimento. Aprender a ser supõe a preparação do
Prioriza-se o domínio dos próprios indivíduo para elaborar pensamentos
instrumentos do conhecimento, considerado autônomos e críticos e para formular os
tanto como meio como fim. Meio, enquanto seus próprios juízos de valor, de modo a
forma de compreender a complexidade do poder decidir por si mesmo, frente as
mundo, condição necessária para viver diferentes circunstâncias da vida. Supõe
dignamente, para desenvolver ainda desenvolver a liberdade de
possibilidades pessoais e profissionais, para pensamento, discernimento, sentimento e
se comunicar . Fim, porque seu fundamento imaginação para desenvolver os seus
é o prazer de compreender, de conhecer, de talentos e permanecer tanto quanto
descobrir. possível, dono do seu próprio destino.

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
Aprender a viver e aprender a ser decorrem, conhecimentos cada vez mais imbricados
assim, das duas aprendizagens anteriores - aos conhecedores seja no campo técnico-
aprender a conhecer e aprender a fazer - e científico, seja no âmbito do cotidiano da
devem constituir ações permanentes que vida social
visem a formação do educando como
pessoa e como cidadão. A organização em 3 áreas : Linguagens e
Códigos, Ciências da Natureza e
Considera-se nesta perspectiva o currículo Matemática e Ciências Humanas tem como
como " uma manifestação deliberada da base a reunião daqueles conhecimentos que
cultura via escola, cuja essência consiste no compartilham objetos de estudo e portanto,
entrelaçamento do desvelar da história do mais facilmente se comunicam, criando
eu individual com o desvelar da história do condições para que a prática escolar se
eu coletivo. É um ir e vir : desenvolva numa perspectiva de
interdisciplinaridade.
 do singular para o geral;
 do fenômeno para a A estruturação por área de conhecimento
essência, justifica-se por assegurar uma educação de
 da realidade para a base científica e tecnológica, onde conceito,
possibilidade, que se aplicação e solução de problemas concretos
estabelece em torno de três são combinados com uma revisão dos
eixos: o histórico-social; componentes socio-culturais, orientados por
epistemológico e o uma visão epistemológica que concilie
cotidiano. (José Luiz humanismo e tecnologia ou humanismo
Rodrigues) numa sociedade tecnológica. O
desenvolvimento pessoal permeia a
Estes eixos orientam a elaboração de concepção dos componentes científicos,
critérios para a seleção de conteúdos e das tecnológicos, socio-culturais e de
competências e habilidades que se pretende linguagens . O conceito de ciências está
desenvolver no nível do ensino médio, presente nos demais componentes, bem
tendo em vista as aprendizagens como a concepção de que a produção do
fundamentais acima enunciadas. conhecimento é situada, sócio, cultural,
econômica e politicamente num
O eixo histórico-cultural coloca a discussão determinado espaço e tempo. A
sobre o valor dos conhecimentos tendo em historicidade da produção de conhecimento
vista o contexto da sociedade em constante precisa diacronizá-lo. Enfim, preconiza-se
mudança. O eixo epistemológico " resgata e que a concepção curricular seja
coloca no hoje a historicidade dos transdiciplinar, matricial, de forma que
componentes curriculares ", apontando para linguagens, ciências, tecnologias, e os
a função social dos conteúdos. O cotidiano demais conhecimentos que permitem uma
é o momento em que o currículo prescrito é leitura crítica do mundo estejam presentes
submetido a uma verdadeira prova de em todos os momentos da prática escolar.
validade e de relevância social.
A discussão sobre cada uma das áreas de
Os intercâmbios que ocorrem na escola são conhecimento será apresentada em
mediados por determinações culturais documento específico, contendo, inclusive,
"representações e comportamentos as competências que os alunos deverão
produzidos e socialmente construídos em alcançar ao concluir o ensino médio. De
espaços e em tempo concretos, que se modo geral estão assim definidas:
apoiam em elaboração e aquisições
anteriores " ( Sacristán e Perez- Gomes )  Linguagens e
Códigos e suas
A proposta de reforma curricular do ensino tecnologias
médio propõe a divisão do conhecimento
escolar em áreas, uma vez que entende os

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
A linguagem é considerada aqui como peculiaridades metodológicas importantes
capacidade humana de articular de serem preservadas.
significados coletivos e compartilhá-los, em
sistemas arbitrários de representação, que  Matemática e
variam de acordo com as necessidades e Ciências da
experiências da vida em sociedade. A Natureza e suas
principal razão de qualquer ato de tecnologias
linguagem é a produção de sentido.
A aprendizagem na área Ciências da
Podemos assim falar em linguagens, que se Natureza, Matemática e suas tecnologias
confrontam, nas práticas sociais e na indica a compreensão e a utilização dos
história, fazendo com que a circulação de conhecimentos científicos para explicar o
sentidos produza formas sensoriais e funcionamento do mundo, planejar,
cognitivas diferenciadas. executar e avaliar as ações de intervenção
na realidade.
Nas interações, relações comunicativas de
conhecimento e reconhecimento, códigos, Para concretização das competências e
símbolos que estão em uso e permitem a habilidades que se pretende objetivar, ao
adequação de sentidos partilhados, são longo do Ensino Médio, a área deve
gerados e transformados e representações envolver, de forma combinada, o
convencionadas e padronizadas. Os códigos desenvolvimento de conhecimentos práticos
se mostram no conjunto de escolhas e e contextualizados, que respondam às
combinações discursivas, gramaticais, necessidades da vida contemporânea.
lexicais fonológicas, gráficas etc
Pretendemos contribuir para que,
No mundo contemporâneo, marcado por gradativamente, se vá superando o
meio do apelo informativo imediato, a tratamento estanque, compartimentalizado,
reflexão sobre a linguagem e seus sistemas que caracteriza o conhecimento escolar.
que se mostram articulados por múltiplos
códigos e sobre os processos e O conhecimento ensinado na escola não é o
procedimentos comunicativos é mais do dito científico. Há uma transposição
que uma necessidade, é uma garantia de didática na transmissão do conhecimento O
participação ativa na vida social, a conhecimento escolar pela sua natureza e
cidadania desejada. função, distingue-se dos demais ao
entrelaçar no seu âmbito, diferentes
 Ciências Humanas perspectivas de visão de mundo de alunos e
e suas Tecnologias educadores em busca de soluções viáveis de
vida (Murrie).
Entendemos por Área de Ensino em
Ciências Humanas e suas Tecnologias a A tendência atual, em todos os níveis de
configuração a partir de um conjunto de ensino é analisar a realidade segmentada,
conhecimentos específicos , cuja afinidade sem desenvolver a compreensão dos
é definida pelo objeto comum de estudos – múltiplos conhecimentos que se
o comportamento humano – e por pontos de interpenetram e conformam determinados
intersecção das metodologias específicas de fenômenos. Para esta visão, segmentada,
produção desses conhecimentos, e cujas contribui o enfoque disciplinar que, na nova
especificidades ocorrem pelos focos proposta de reforma curricular,
diferenciados a partir dos quais olham o seu pretendemos superada pela perspectiva
objeto em relação ao espaço ( Geografia) ; interdisciplinar e pela contextualização dos
ao tempo (História) ; à sociabilidade conhecimentos.
(Sociologia) ; aos processos de reflexão
sobre comportamentos e pensamentos A interdisciplinaridade " pressupõe a
(Filosofia), de onde decorrem existência de ao menos duas disciplinas

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
como referência e a presença de uma ação Conhecimentos selecionados "a priori" e
recíproca" ( Germain- 1991). Nesta legitimados muito mais comumente pela
perspectiva pressupõe a interação entre os prática docente como disciplinas escolares,
conhecimentos. do que como científicas, tendem a se
perpetuar nos rituais escolares, sem passar
Há uma importante diferenciação a fazer pela crítica e reflexão dos docentes,
entre o que se entende por disciplina escolar tornando-se desta forma um acervo de
e disciplina científica. Estamos tratando da conhecimentos quase sempre esquecidos ou
interdisplinaridade escolar e não de que não se consegue aplicar por
disciplinas científicas. O que une as desconhecer suas relações com o real.
disciplinas escolares e as científicas é o fato
de que se pautam pela mesma lógica A aprendizagem significativa pressupõe a
científica. existência de um referencial que permita
aos alunos identificar e se identificar com
A interdisciplinaridade na perspectiva as questões propostas.
escolar não tem a pretensão de criar novas
disciplinas ou saberes, mas de utilizar os Esta postura, não implica em permanecer
conhecimentos de várias disciplinas para apenas no nível de conhecimento que é
resolver um problema concreto ou dado pelo contexto mais imediato mas" em
compreender um determinado fenômeno de fazer avançar a capacidade de compreender
diferentes pontos de vista. e intervir na realidade para além do estágio
presente, gerando autonomia e
Em suma, a interdisciplinaridade escolar humanização ". ( Cortella).
tem uma perspectiva instrumental, trata-se
de recorrer a um saber diretamente útil e Ao propor uma nova forma de organizar o
utilizável para responder às questões e aos currículo, trabalhado na perspectiva
problemas sociais contemporâneos ( Lenoir interdisciplinar e contextualizado partimos
). do pressuposto que toda a aprendizagem
significativa implica uma relação
Na proposta de reforma curricular do sujeito/objeto e para que esta se concretize
Ensino Médio, a interdisciplinaridade deve é necessário que sejam dadas as condições
ser compreendida a partir da abordagem que os dois pólos do processo interajam.
relacional, isto é, propõe-se que, por meio
da prática escolar sejam estabelecidas
ligações de complementaridade, 6- A Organização Curricular na Lei de
convergência, interconexões e passagens Diretrizes e Bases da Educação
entre os conhecimentos.

A integração entre conhecimentos pode 6.1 - A Base Nacional Comum


criar as condições necessárias para uma
aprendizagem motivadora, na medida que É no contexto de Educação Básica que a lei
ofereça maior liberdade aos professores e 9394/96 determina a construção do
alunos para a seleção de conteúdos mais currículo, no ensino fundamental e médio,
diretamente relacionados aos assuntos ou com uma base nacional comum, a ser
problemas que dizem respeito à vida da complementada, em cada sistema de ensino
comunidade. Conforme Cortella, não há e estabelecimento escolar, por uma parte
conhecimento que possa ser aprendido e diversificada, exigida pelas características
recriado se não partirmos das preocupações regionais e locais da sociedade, da cultura,
que as pessoas detêm. O distanciamento da economia e da clientela ( art.26, da Lei
entre os conteúdos programáticos e a 9394/96).
experiência dos alunos certamente responde
pelo desinteresse e até mesmo pela A base nacional comum contém em si a
deserção que constatamos em nossas dimensão de preparação para o
escolas.

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
prosseguimento de estudos e, como tal, desconsideração ou esvaziamento dos
deve caminhar no sentido de que a conteúdos, mas na seleção e na integração
construção de competências e habilidades dos que são válidos para o desenvolvimento
básicas seja o objetivo do processo de pessoal e para o incremento da participação
aprendizagem e não o acúmulo de social.
esquemas resolutivos preestabelecidos.
Esta concepção curricular não elimina o
É importante operar com algoritmos na ensino de conteúdos específicos, mas
matemática ou na física, mas o estudante considera que os mesmos devem fazer parte
precisa entender que, frente àquele de um processo global com várias
algoritmo, está de posse de uma sentença de dimensões articuladas.
linguagem, da linguagem matemática, com
seleção de léxico e com regras de A base nacional comum destina-se `a
articulação/relações que geram uma formação geral do educando e deve
significação e que, portanto, é a leitura e assegurar que as finalidade propostas em
escrita da realidade de uma situação desta. lei, bem como o perfil de saída do educando
sejam alcançados de forma a caracterizar
A base nacional comum traz em si a que a educação básica seja uma efetiva
dimensão de preparação para o trabalho. conquista de cada brasileiro.
Esta dimensão tem que apontar para que
este mesmo algoritmo seja um instrumento Garantir o desenvolvimento de
na solução de um problema concreto, que competências e habilidades básicas comuns
pode dar conta da etapa de planejamento, a todos os brasileiros é uma garantia de
gestão ou produção de um bem. Aponta democratização. A definição destas
também que a linguagem verbal se presta à competências e habilidades servirá de
compreensão ou expressão de um comando parâmetro para a avaliação da educação
ou instrução clara, precisa, objetiva; que a básica em nível nacional.
Biologia lhe dá os fundamentos para a
análise do impacto ambiental, de uma O Art. 26 da LDB, determina a
solução tecnológica, ou para a prevenção de obrigatoriedade, nessa base nacional
uma doença profissional. comum, de " estudos da Língua portuguesa
e da matemática, o conhecimento do mundo
Enfim, aponta que não há solução físico e natural e da realidade social e
tecnológica sem uma base científica e que, política, especialmente do Brasil" , " o
por outro lado, soluções tecnológicas ensino da arte...de forma a promover o
podem propiciar a produção de um novo desenvolvimento cultural dos alunos " e, "a
conhecimento científico. educação física, integrada a proposta
pedagógica da escola".
Esta educação geral que permite buscar
informação, gerar informação, usá-las para Quando a LDB destaca as diretrizes
solucionar problemas concretos na curriculares específicas do ensino médio,
produção de bens ou na gestão e prestação ela se preocupa em apontar para um
de serviços, é preparação básica para o planejamento e desenvolvimento do
trabalho. Na verdade, qualquer competência currículo de forma orgânica, superando a
requerida no exercício profissional, seja ela organização por disciplinas estanques e
psicomotora, sócio-afetiva ou cognitiva é revigorando a integração e articulação dos
um afinamento das competências básicas. conhecimentos num processo permanente
Esta educação geral permite a construção de de interdisciplinaridade e
competências que se manifestarão em transdiciplinaridade. Essa proposta de
habilidades básicas, técnicas ou de gestão. organicidade está contida no Art.36 .

Ressalve-se que uma base curricular Art.36...


nacional organizada por áreas de
conhecimento não implica na

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
I – destacará a educação tecnológica básica, autonomia intelectual, de forma a ser capaz
a compreensão do significado da ciência, de confrontar diferentes interpretações e
das letras e das artes; o processo histórico construir sua própria versão do mundo".
de transformação da sociedade e da cultura; (Martins ; ver documento Ciências
a língua portuguesa como instrumento de Humanas e suas tecnologias )
comunicação, acesso ao conhecimento e
exercício da cidadania; O perfil de saída do aluno do ensino médio
está diretamente relacionado às finalidades
A organicidade dos conhecimentos fica desse ensino, conforme determina o Art.35
mais evidente ainda, quando o Art.36, da da Lei :
LDB, estabelece, em seu parágrafo 1º, as
competências que o aluno , ao final do Art.35 O ensino médio, etapa final da
ensino médio deve demonstrar : educação básica...terá como finalidade :

Art.36... I. a consolidação e aprofundamento dos


conhecimentos adquiridos no ensino
§ 1º. Os conteúdos, as metodologias e as fundamental, possibilitando o
formas de avaliação serão organizados de prosseguimento de estudo;
tal forma que ao final do ensino médio o
educando demonstre: II. a preparação básica para o trabalho e a
cidadania do educando como pessoa
I- domínio dos princípios científicos e humana, incluindo a formação ética e o
tecnológicos que presidem a produção desenvolvimento da autonomia intelectual e
moderna; do pensamento crítico;

II- conhecimento das formas II. a compreensão dos fundamentos


contemporâneas de linguagem; científicos-tecnológicos dos processos
produtivos, relacionando a teoria com a
III- domínio dos conhecimentos de prática, no ensino de cada disciplina.
Filosofia e de Sociologia necessários ao
exercício da cidadania" . É importante compreender que a base
nacional comum não pode constituir uma
A Lei 9394/96 ao estabelecer como camisa de força que tolha a capacidade dos
fundamentais o domínio dos conhecimentos sistemas, dos estabelecimentos de ensino e
de Filosofia e de Sociologia não está do educando de usufruírem da flexibilidade
propondo a inclusão destas ou de quaisquer que a lei não só permite como estimula.
outras disciplinas mas, indicando, a
importância do desenvolvimento de Essa flexibilidade deve ser assegurada,
"referências que permitam a articulação tanto na organização dos conteúdos
entre os conhecimentos, a cultura, as mencionados em lei, quanto na metodologia
linguagens e a experiência dos alunos". ( a ser desenvolvida no processo ensino-
Favaretto). aprendizagem e na avaliação.

Segundo Favaretto" a Filosofia é antes de As considerações gerais sobre legislação


mais nada uma disciplina cultural, pois a indicam a necessidade de construir novas
formação que propicia diz respeito à alternativas de organização curricular
significação dos processos culturais e comprometidas, de um lado, com o novo
históricos" (Ver no documento de Ciências significado do trabalho no contexto da
Humanas e suas tecnologias ). globalização e, do outro, com o sujeito
ativo que se apropriará desses
No que se refere à Sociologia trata-se de conhecimentos para aprimorar-se, como tal,
orientar o currículo no sentido de" no mundo do trabalho e na prática social. O
contribuir para que o aluno desenvolva sua fato destes Parâmetros Curriculares terem

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
sido organizados em cada uma das áreas aprofundamento de estudos quando o
por disciplinas potenciais não significa que contexto assim exigir. O seu objetivo
estas são obrigatórias ou mesmo principal é desenvolver e consolidar
recomendadas. O que é obrigatório pela conhecimentos das áreas de forma
LDB ou pela Resolução nº 03/98, são os contextualizada e referidos a atividades das
conhecimentos que estas disciplinas práticas sociais e produtivas.
recortam e as competências e habilidades a
eles referidos e mencionados nos citados
documentos. 6.3- A parte diversificada e a educação
profissional

6.2- A parte diversificada do currículo A preparação geral para o trabalho decorre


das diretrizes estabelecidas, no Art.27, para
A parte diversificada do currículo , destina- os currículos de educação básica:
se, a atender às características regionais e
locais da sociedade, da cultura, da " Art. 27. Os conteúdos curriculares da
economia e da clientela. educação básica observarão , ainda, as
(Art.26;Lei9394/96). Complementa a base seguintes diretrizes:
nacional comum e será definida em cada
sistema de ensino e estabelecimento I. ...
escolar.
II. ...
Do ponto de vista dos sistemas de ensino
está representada pela formulação de uma III. orientação para o trabalho "
matriz curricular básica, que desenvolva a
base nacional comum, considerando as Na seção IV, do capítulo II da Lei
demandas regionais do ponto de vista nº9394/96, o Art.35 estabelece, dentre as
sócio-cultural, econômico e político. Deve
finalidades do ensino médio.
refletir uma concepção curricular que
oriente o ensino médio no seu sistema,
" Art.35...
significando-o, sem impedir , entretanto, a
flexibilidade da manifestação dos projetos
curriculares das escolas . I. ...

A parte diversificada do currículo deve II. a preparação básica para o trabalho e a


expressar, ademais das incorporações dos cidadania do educando, para continuar
sistemas de ensino, as prioridades aprendendo, de modo a ser capaz de se
estabelecidas no projeto da unidade escolar adaptar com flexibilidade a novas
e a inserção do educando na construção do condições de ocupação ou aperfeiçoamento
seu currículo. Considerará as possibilidades posteriores,"
de preparação básica para o trabalho e o
aprofundamento em uma disciplina ou uma Essa preparação geral para o trabalho faz
área, sob forma de disciplinas, projetos ou parte da formação geral do educando e pode
módulos em consonância com os interesse ser desenvolvida no próprio
de alunos e da comunidade a que estabelecimento de ensino ou em
pertencem. O desenvolvimento da parte cooperação com instituições especializadas,
diversificada pode ocorrer no próprio conforme disposto no §4º, do Art.36, da Lei
estabelecimento de ensino ou em outro nº9394/96.
estabelecimento conveniado. É importante
esclarecer que o desenvolvimento da parte Numa interpretação do dispositivo legal, o
diversificada não implica em Decreto nº2208, de 17 de abril de 1997, que
profissionalização mas na diversificação de trata da educação profissional, estabelece:
experiências escolares com o objetivo de
enriquecimento curricular ou mesmo,

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
" Art.5º. A educação profissional de nível na questão educacional sobre os aspectos
técnico terá organização curricular própria e considerados centrais nesta proposta .
independente do ensino médio.
Desta forma procuramos discutir:
Parágrafo único. As disciplinas de caráter
profissionalizante, cursadas na parte 1. As relações entre a "Revolução do
diversificada do currículo de ensino médio, Conhecimento ", a Educação Básica e a
até o limite de 25% do total da carga proposta de Reforma Curricular do Ensino
horária mínima deste nível de ensino, Médio;
poderão ser aproveitadas no currículo de
habilitação profissional, que eventualmente 2. A metodologia de trabalho utilizada para
venha a ser cursada independentemente de a elaboração da proposta;
exames específicos"
3. Os fundamentos legais que orientam a
Dois aspectos podem ser ressaltados no proposta de Reforma Curricular do Ensino
texto citado: Médio- Lei 9394/96;

a. a parte diversificada a cargo do 4. O papel da Educação e da formação em


estabelecimento de ensino pode constituir nível de Ensino Médio na Sociedade
até 25% do mínimo estabelecido na Lei nº Tecnológica;
9394/96 para duração do ensino médio,
logo 600 horas do currículo; 5. Os fundamentos teóricos da proposta
curricular do Ensino Médio;
b. as 600 horas podem conter disciplinas de
caráter profissionalizante as quais podem 6. A organização curricular na Lei de
ser aproveitadas quando o educando optar Diretrizes e Bases da Educação.
por um curso técnico.
Seguem-se os textos legais:
Esta questão é reiterada, no artigo 13, da
Resolução do Conselho Nacional de
 Lei nº 9.394/96 – Lei de
Educação Básica quando se indica que : Diretrizes e Bases da
Educação – LDB.
" estudos concluídos no ensino médio, tanto  Parecer nº 15/98 da Câmara
da base nacional comum quanto da parte de Educação Básica do
diversificada, poderão ser aproveitados para Conselho Nacional de
a obtenção de uma habilitação profissional, Educação.
em cursos realizadas concomitante ou  Resolução nº 03/98 da
seqüencialmente, até o limite de 25% do Câmara de Educação
tempo mínimo legalmente estabelecido Básica do Conselho
como carga horária para o ensino médio Nacional de Educação -
"(CNE Nº3, 26/06/98 ). Diretrizes Curriculares do
Conselho Nacional de
Estas são as questões consideradas centrais Educação.
para a compreensão da nova proposta
curricular do ensino médio. Serão apresentados em seguida os textos
que se referem a cada área de
As informações apresentadas neste texto conhecimento, tal como se coloca na
tem como objetivo discutir, em linhas proposta :
gerais, a proposta de reforma curricular do
ensino médio em seus principais elementos.  Linguagens e Códigos e
suas tecnologias
A intenção é situar os leitores : professores,
técnicos de educação e demais interessados

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
 Ciências da Natureza, físico, mental, moral, espiritual e social, em
Matemática e suas condições de liberdade e de dignidade.
tecnologias
 Ciências Humanas e suas Art. 4º É dever da família, da
tecnologias comunidade, da sociedade em geral e do
poder público assegurar, com absoluta
prioridade, a efetivação dos direitos
referentes à vida, à saúde, à alimentação, à
educação, ao esporte, ao lazer, à
ESTATUTO DA CRIANÇA E DO profissionalização, à cultura, à dignidade,
ao respeito, à liberdade e à convivência
ADOLESCENTE
familiar e comunitária.

Parágrafo único. A garantia de


prioridade compreende:
LEI Nº 8.069, DE 13 DE JULHO DE
1990. a) primazia de receber proteção e
socorro em quaisquer circunstâncias;
Dispõe sobre o
Texto compilado Estatuto da Criança e b) precedência de atendimento nos
do Adolescente e dá serviços públicos ou de relevância pública;
outras providências.
c) preferência na formulação e na
O PRESIDENTE DA execução das políticas sociais públicas;
REPÚBLICA: Faço saber que o Congresso
Nacional decreta e eu sanciono a seguinte d) destinação privilegiada de recursos
Lei: públicos nas áreas relacionadas com a
proteção à infância e à juventude.
Título I
Art. 5º Nenhuma criança ou
Das Disposições Preliminares adolescente será objeto de qualquer forma
de negligência, discriminação, exploração,
Art. 1º Esta Lei dispõe sobre a violência, crueldade e opressão, punido na
proteção integral à criança e ao adolescente. forma da lei qualquer atentado, por ação ou
omissão, aos seus direitos fundamentais.
Art. 2º Considera-se criança, para os
efeitos desta Lei, a pessoa até doze anos de Art. 6º Na interpretação desta Lei
idade incompletos, e adolescente aquela levar-se-ão em conta os fins sociais a que
entre doze e dezoito anos de idade. ela se dirige, as exigências do bem comum,
os direitos e deveres individuais e coletivos,
Parágrafo único. Nos casos expressos e a condição peculiar da criança e do
em lei, aplica-se excepcionalmente este adolescente como pessoas em
Estatuto às pessoas entre dezoito e vinte e desenvolvimento.
um anos de idade.
Título II
Art. 3º A criança e o adolescente
gozam de todos os direitos fundamentais Dos Direitos Fundamentais
inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da
proteção integral de que trata esta Lei, Capítulo I
assegurando-se-lhes, por lei ou por outros
meios, todas as oportunidades e facilidades, Do Direito à Vida e à Saúde
a fim de lhes facultar o desenvolvimento

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
Art. 7º A criança e o adolescente têm I - manter registro das atividades
direito a proteção à vida e à saúde, desenvolvidas, através de prontuários
mediante a efetivação de políticas sociais individuais, pelo prazo de dezoito anos;
públicas que permitam o nascimento e o
desenvolvimento sadio e harmonioso, em II - identificar o recém-nascido
condições dignas de existência. mediante o registro de sua impressão
plantar e digital e da impressão digital da
Art. 8º É assegurado à gestante, mãe, sem prejuízo de outras formas
através do Sistema Único de Saúde, o normatizadas pela autoridade administrativa
atendimento pré e perinatal. competente;

§ 1º A gestante será encaminhada aos III - proceder a exames visando ao


diferentes níveis de atendimento, segundo diagnóstico e terapêutica de anormalidades
critérios médicos específicos, obedecendo- no metabolismo do recém-nascido, bem
se aos princípios de regionalização e como prestar orientação aos pais;
hierarquização do Sistema.
IV - fornecer declaração de
§ 2º A parturiente será atendida nascimento onde constem necessariamente
preferencialmente pelo mesmo médico que as intercorrências do parto e do
a acompanhou na fase pré-natal. desenvolvimento do neonato;

§ 3º Incumbe ao poder público V - manter alojamento conjunto,


propiciar apoio alimentar à gestante e à possibilitando ao neonato a permanência
nutriz que dele necessitem. junto à mãe.

§ 4o Incumbe ao poder público Art. 11. É assegurado atendimento


proporcionar assistência psicológica à médico à criança e ao adolescente, através
gestante e à mãe, no período pré e pós- do Sistema Único de Saúde, garantido o
natal, inclusive como forma de prevenir ou acesso universal e igualitário às ações e
minorar as consequências do estado serviços para promoção, proteção e
puerperal. (Incluído pela Lei nº 12.010, de recuperação da saúde.
2009) Vigência
Art. 11. É assegurado atendimento
§ 5o A assistência referida no § 4o integral à saúde da criança e do adolescente,
deste artigo deverá ser também prestada a por intermédio do Sistema Único de Saúde,
gestantes ou mães que manifestem interesse garantido o acesso universal e igualitário às
em entregar seus filhos para adoção. ações e serviços para promoção, proteção e
(Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) recuperação da saúde. (Redação dada pela
Vigência Lei nº 11.185, de 2005)

Art. 9º O poder público, as § 1º A criança e o adolescente


instituições e os empregadores propiciarão portadores de deficiência receberão
condições adequadas ao aleitamento atendimento especializado.
materno, inclusive aos filhos de mães
submetidas a medida privativa de liberdade. § 2º Incumbe ao poder público
fornecer gratuitamente àqueles que
Art. 10. Os hospitais e demais necessitarem os medicamentos, próteses e
estabelecimentos de atenção à saúde de outros recursos relativos ao tratamento,
gestantes, públicos e particulares, são habilitação ou reabilitação.
obrigados a:
Art. 12. Os estabelecimentos de
atendimento à saúde deverão proporcionar
condições para a permanência em tempo

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
integral de um dos pais ou responsável, nos IV - brincar, praticar esportes e
casos de internação de criança ou divertir-se;
adolescente.
V - participar da vida familiar e
Art. 13. Os casos de suspeita ou comunitária, sem discriminação;
confirmação de maus-tratos contra criança
ou adolescente serão obrigatoriamente VI - participar da vida política, na
comunicados ao Conselho Tutelar da forma da lei;
respectiva localidade, sem prejuízo de
outras providências legais. VII - buscar refúgio, auxílio e
orientação.
Parágrafo único. As gestantes ou
mães que manifestem interesse em entregar Art. 17. O direito ao respeito consiste
seus filhos para adoção serão na inviolabilidade da integridade física,
obrigatoriamente encaminhadas à Justiça da psíquica e moral da criança e do
Infância e da Juventude. (Incluído pela Lei adolescente, abrangendo a preservação da
nº 12.010, de 2009) Vigência imagem, da identidade, da autonomia, dos
valores, idéias e crenças, dos espaços e
Art. 14. O Sistema Único de Saúde objetos pessoais.
promoverá programas de assistência médica
e odontológica para a prevenção das Art. 18. É dever de todos velar pela
enfermidades que ordinariamente afetam a dignidade da criança e do adolescente,
população infantil, e campanhas de pondo-os a salvo de qualquer tratamento
educação sanitária para pais, educadores e desumano, violento, aterrorizante, vexatório
alunos. ou constrangedor.

Parágrafo único. É obrigatória a Capítulo III


vacinação das crianças nos casos
recomendados pelas autoridades sanitárias. Do Direito à Convivência Familiar e
Comunitária
Capítulo II
Seção I
Do Direito à Liberdade, ao Respeito e à
Dignidade Disposições Gerais

Art. 15. A criança e o adolescente têm Art. 19. Toda criança ou adolescente
direito à liberdade, ao respeito e à tem direito a ser criado e educado no seio
dignidade como pessoas humanas em da sua família e, excepcionalmente, em
processo de desenvolvimento e como família substituta, assegurada a convivência
sujeitos de direitos civis, humanos e sociais familiar e comunitária, em ambiente livre
garantidos na Constituição e nas leis. da presença de pessoas dependentes de
substâncias entorpecentes.
Art. 16. O direito à liberdade
compreende os seguintes aspectos: § 1o Toda criança ou adolescente que
estiver inserido em programa de
I - ir, vir e estar nos logradouros acolhimento familiar ou institucional terá
públicos e espaços comunitários, sua situação reavaliada, no máximo, a cada
ressalvadas as restrições legais; 6 (seis) meses, devendo a autoridade
judiciária competente, com base em
II - opinião e expressão; relatório elaborado por equipe
interprofissional ou multidisciplinar, decidir
III - crença e culto religioso; de forma fundamentada pela possibilidade
de reintegração familiar ou colocação em

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
família substituta, em quaisquer das Parágrafo único. Não existindo outro
modalidades previstas no art. 28 desta motivo que por si só autorize a decretação
Lei. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) da medida, a criança ou o adolescente será
Vigência mantido em sua família de origem, a qual
deverá obrigatoriamente ser incluída em
§ 2o A permanência da criança e do programas oficiais de auxílio.
adolescente em programa de acolhimento
institucional não se prolongará por mais de Art. 24. A perda e a suspensão do
2 (dois) anos, salvo comprovada pátrio poder poder familiar serão decretadas
necessidade que atenda ao seu superior judicialmente, em procedimento
interesse, devidamente fundamentada pela contraditório, nos casos previstos na
autoridade judiciária. (Incluído pela Lei nº legislação civil, bem como na hipótese de
12.010, de 2009) Vigência descumprimento injustificado dos deveres e
obrigações a que alude o art. 22. (Expressão
§ 3o A manutenção ou reintegração de substituída pela Lei nº 12.010, de 2009)
criança ou adolescente à sua família terá Vigência
preferência em relação a qualquer outra
providência, caso em que será esta incluída Seção II
em programas de orientação e auxílio, nos
termos do parágrafo único do art. 23, dos Da Família Natural
incisos I e IV do caput do art. 101 e dos
incisos I a IV do caput do art. 129 desta Art. 25. Entende-se por família
Lei. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) natural a comunidade formada pelos pais ou
Vigência qualquer deles e seus descendentes.

Art. 20. Os filhos, havidos ou não da Parágrafo único. Entende-se por


relação do casamento, ou por adoção, terão família extensa ou ampliada aquela que se
os mesmos direitos e qualificações, estende para além da unidade pais e filhos
proibidas quaisquer designações ou da unidade do casal, formada por
discriminatórias relativas à filiação. parentes próximos com os quais a criança
ou adolescente convive e mantém vínculos
Art. 21. O pátrio poder poder familiar de afinidade e afetividade. (Incluído pela
será exercido, em igualdade de condições, Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
pelo pai e pela mãe, na forma do que
dispuser a legislação civil, assegurado a Art. 26. Os filhos havidos fora do
qualquer deles o direito de, em caso de casamento poderão ser reconhecidos pelos
discordância, recorrer à autoridade pais, conjunta ou separadamente, no próprio
judiciária competente para a solução da termo de nascimento, por testamento,
divergência. (Expressão substituída pela Lei mediante escritura ou outro documento
nº 12.010, de 2009) Vigência público, qualquer que seja a origem da
filiação.
Art. 22. Aos pais incumbe o dever de
sustento, guarda e educação dos filhos Parágrafo único. O reconhecimento
menores, cabendo-lhes ainda, no interesse pode preceder o nascimento do filho ou
destes, a obrigação de cumprir e fazer suceder-lhe ao falecimento, se deixar
cumprir as determinações judiciais. descendentes.

Art. 23. A falta ou a carência de Art. 27. O reconhecimento do estado


recursos materiais não constitui motivo de filiação é direito personalíssimo,
suficiente para a perda ou a suspensão do indisponível e imprescritível, podendo ser
pátrio poder poder familiar. (Expressão exercitado contra os pais ou seus herdeiros,
substituída pela Lei nº 12.010, de 2009) sem qualquer restrição, observado o
Vigência segredo de Justiça.

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
Seção III rompimento definitivo dos vínculos
fraternais. (Incluído pela Lei nº 12.010, de
Da Família Substituta 2009) Vigência

Subseção I § 5o A colocação da criança ou


adolescente em família substituta será
Disposições Gerais precedida de sua preparação gradativa e
acompanhamento posterior, realizados pela
Art. 28. A colocação em família equipe interprofissional a serviço da Justiça
substituta far-se-á mediante guarda, tutela da Infância e da Juventude,
ou adoção, independentemente da situação preferencialmente com o apoio dos técnicos
jurídica da criança ou adolescente, nos responsáveis pela execução da política
termos desta Lei. municipal de garantia do direito à
convivência familiar. (Incluído pela Lei nº
§ 1º Sempre que possível, a criança 12.010, de 2009) Vigência
ou adolescente deverá ser previamente
ouvido e a sua opinião devidamente § 6o Em se tratando de criança ou
considerada. adolescente indígena ou proveniente de
§ 2º Na apreciação do pedido levar- comunidade remanescente de quilombo, é
se-á em conta o grau de parentesco e a ainda obrigatório: (Incluído pela Lei nº
relação de afinidade ou de afetividade, a 12.010, de 2009) Vigência
fim de evitar ou minorar as conseqüências
decorrentes da medida. I - que sejam consideradas e
respeitadas sua identidade social e cultural,
§ 1o Sempre que possível, a criança ou os seus costumes e tradições, bem como
o adolescente será previamente ouvido por suas instituições, desde que não sejam
equipe interprofissional, respeitado seu incompatíveis com os direitos fundamentais
estágio de desenvolvimento e grau de reconhecidos por esta Lei e pela
compreensão sobre as implicações da Constituição Federal; (Incluído pela Lei nº
medida, e terá sua opinião devidamente 12.010, de 2009) Vigência
considerada. (Redação dada pela Lei nº
12.010, de 2009) Vigência II - que a colocação familiar ocorra
prioritariamente no seio de sua comunidade
§ 2o Tratando-se de maior de 12 ou junto a membros da mesma
(doze) anos de idade, será necessário seu etnia; (Incluído pela Lei nº 12.010, de
consentimento, colhido em 2009) Vigência
audiência. (Redação dada pela Lei nº
12.010, de 2009) Vigência III - a intervenção e oitiva de
representantes do órgão federal responsável
§ 3o Na apreciação do pedido levar- pela política indigenista, no caso de
se-á em conta o grau de parentesco e a crianças e adolescentes indígenas, e de
relação de afinidade ou de afetividade, a antropólogos, perante a equipe
fim de evitar ou minorar as consequências interprofissional ou multidisciplinar que irá
decorrentes da medida. (Incluído pela Lei acompanhar o caso. (Incluído pela Lei nº
nº 12.010, de 2009) Vigência 12.010, de 2009) Vigência

§ 4o Os grupos de irmãos serão Art. 29. Não se deferirá colocação em


colocados sob adoção, tutela ou guarda da família substituta a pessoa que revele, por
mesma família substituta, ressalvada a qualquer modo, incompatibilidade com a
comprovada existência de risco de abuso ou natureza da medida ou não ofereça
outra situação que justifique plenamente a ambiente familiar adequado.
excepcionalidade de solução diversa,
procurando-se, em qualquer caso, evitar o

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
Art. 30. A colocação em família assim como o dever de prestar alimentos,
substituta não admitirá transferência da que serão objeto de regulamentação
criança ou adolescente a terceiros ou a específica, a pedido do interessado ou do
entidades governamentais ou não- Ministério Público. (Incluído pela Lei nº
governamentais, sem autorização judicial. 12.010, de 2009) Vigência

Art. 31. A colocação em família Art. 34. O poder público estimulará,


substituta estrangeira constitui medida através de assistência jurídica, incentivos
excepcional, somente admissível na fiscais e subsídios, o acolhimento, sob a
modalidade de adoção. forma de guarda, de criança ou adolescente
órfão ou abandonado.
Art. 32. Ao assumir a guarda ou a
tutela, o responsável prestará compromisso Art. 34. O poder público estimulará,
de bem e fielmente desempenhar o encargo, por meio de assistência jurídica, incentivos
mediante termo nos autos. fiscais e subsídios, o acolhimento, sob a
forma de guarda, de criança ou adolescente
Subseção II afastado do convívio familiar. (Redação
dada pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
Da Guarda
§ 1o A inclusão da criança ou
Art. 33. A guarda obriga a prestação adolescente em programas de acolhimento
de assistência material, moral e educacional familiar terá preferência a seu acolhimento
à criança ou adolescente, conferindo a seu institucional, observado, em qualquer caso,
detentor o direito de opor-se a terceiros, o caráter temporário e excepcional da
inclusive aos pais. (Vide Lei nº 12.010, de medida, nos termos desta Lei. (Incluído
2009) Vigência pela Lei nº 12.010, de 2009)

§ 1º A guarda destina-se a regularizar § 2o Na hipótese do § 1o deste artigo a


a posse de fato, podendo ser deferida, pessoa ou casal cadastrado no programa de
liminar ou incidentalmente, nos acolhimento familiar poderá receber a
procedimentos de tutela e adoção, exceto no criança ou adolescente mediante guarda,
de adoção por estrangeiros. observado o disposto nos arts. 28 a 33 desta
Lei. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)
§ 2º Excepcionalmente, deferir-se-á a Vigência
guarda, fora dos casos de tutela e adoção,
para atender a situações peculiares ou suprir Art. 35. A guarda poderá ser revogada
a falta eventual dos pais ou responsável, a qualquer tempo, mediante ato judicial
podendo ser deferido o direito de fundamentado, ouvido o Ministério
representação para a prática de atos Público.
determinados.
Subseção III
§ 3º A guarda confere à criança ou
adolescente a condição de dependente, para Da Tutela
todos os fins e efeitos de direito, inclusive
previdenciários. Art. 36. A tutela será deferida, nos
termos da lei civil, a pessoa de até vinte e
§ 4o Salvo expressa e fundamentada um anos incompletos.
determinação em contrário, da autoridade
judiciária competente, ou quando a medida Art. 36. A tutela será deferida, nos
for aplicada em preparação para adoção, o termos da lei civil, a pessoa de até 18
deferimento da guarda de criança ou (dezoito) anos incompletos. (Redação dada
adolescente a terceiros não impede o pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
exercício do direito de visitas pelos pais,

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
Parágrafo único. O deferimento da Art. 39. A adoção de criança e de
tutela pressupõe a prévia decretação da adolescente reger-se-á segundo o disposto
perda ou suspensão do pátrio poder poder nesta Lei.
familiar e implica necessariamente o dever
de guarda. (Expressão substituída pela Lei Parágrafo único. É vedada a adoção
nº 12.010, de 2009) Vigência por procuração.

Art. 37. A especialização de hipoteca § 1o A adoção é medida excepcional e


legal será dispensada, sempre que o irrevogável, à qual se deve recorrer apenas
tutelado não possuir bens ou rendimentos quando esgotados os recursos de
ou por qualquer outro motivo relevante. manutenção da criança ou adolescente na
Parágrafo único. A especialização de família natural ou extensa, na forma do
hipoteca legal será também dispensada se parágrafo único do art. 25 desta
os bens, porventura existentes em nome do Lei. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)
tutelado, constarem de instrumento público, Vigência
devidamente registrado no registro de
imóveis, ou se os rendimentos forem § 2o É vedada a adoção por
suficientes apenas para a mantença do procuração. (Incluído pela Lei nº 12.010, de
tutelado, não havendo sobra significativa ou 2009) Vigência
provável.
Art. 40. O adotando deve contar com,
Art. 37. O tutor nomeado por no máximo, dezoito anos à data do pedido,
testamento ou qualquer documento salvo se já estiver sob a guarda ou tutela
autêntico, conforme previsto no parágrafo dos adotantes.
único do art. 1.729 da Lei no 10.406, de 10
de janeiro de 2002 - Código Civil, deverá, Art. 41. A adoção atribui a condição
no prazo de 30 (trinta) dias após a abertura de filho ao adotado, com os mesmos
da sucessão, ingressar com pedido direitos e deveres, inclusive sucessórios,
destinado ao controle judicial do ato, desligando-o de qualquer vínculo com pais
observando o procedimento previsto nos e parentes, salvo os impedimentos
arts. 165 a 170 desta Lei. (Redação dada matrimoniais.
pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
§ 1º Se um dos cônjuges ou
Parágrafo único. Na apreciação do concubinos adota o filho do outro, mantêm-
pedido, serão observados os requisitos se os vínculos de filiação entre o adotado e
previstos nos arts. 28 e 29 desta Lei, o cônjuge ou concubino do adotante e os
somente sendo deferida a tutela à pessoa respectivos parentes.
indicada na disposição de última vontade,
se restar comprovado que a medida é § 2º É recíproco o direito sucessório
vantajosa ao tutelando e que não existe
entre o adotado, seus descendentes, o
outra pessoa em melhores condições de adotante, seus ascendentes, descendentes e
assumi-la. (Redação dada pela Lei nº
colaterais até o 4º grau, observada a ordem
12.010, de 2009) Vigência de vocação hereditária.
Art. 38. Aplica-se à destituição da
Art. 42. Podem adotar os maiores de
tutela o disposto no art. 24. vinte e um anos, independentemente de
estado civil.
Subseção IV
Art. 42. Podem adotar os maiores de
Da Adoção 18 (dezoito) anos, independentemente do
estado civil. (Redação dada pela Lei nº
12.010, de 2009) Vigência

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
§ 1º Não podem adotar os § 6o A adoção poderá ser deferida ao
ascendentes e os irmãos do adotando. adotante que, após inequívoca manifestação
de vontade, vier a falecer no curso do
§ 2º A adoção por ambos os cônjuges procedimento, antes de prolatada a
ou concubinos poderá ser formalizada, sentença.(Incluído pela Lei nº 12.010, de
desde que um deles tenha completado vinte 2009) Vigência
e um anos de idade, comprovada a
estabilidade da família. Art. 43. A adoção será deferida
quando apresentar reais vantagens para o
§ 2o Para adoção conjunta, é adotando e fundar-se em motivos legítimos.
indispensável que os adotantes sejam
casados civilmente ou mantenham união Art. 44. Enquanto não der conta de
estável, comprovada a estabilidade da sua administração e saldar o seu alcance,
família. (Redação dada pela Lei nº 12.010, não pode o tutor ou o curador adotar o
de 2009) Vigência pupilo ou o curatelado.

§ 3º O adotante há de ser, pelo menos, Art. 45. A adoção depende do


dezesseis anos mais velho do que o consentimento dos pais ou do representante
adotando. legal do adotando.

§ 4º Os divorciados e os § 1º. O consentimento será


judicialmente separados poderão adotar dispensado em relação à criança ou
conjuntamente, contanto que acordem sobre adolescente cujos pais sejam desconhecidos
a guarda e o regime de visitas, e desde que ou tenham sido destituídos do pátrio poder
o estágio de convivência tenha sido iniciado poder familiar. (Expressão substituída pela
na constância da sociedade conjugal. Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
§ 5º A adoção poderá ser deferida ao
adotante que, após inequívoca manifestação § 2º. Em se tratando de adotando
de vontade, vier a falecer no curso do maior de doze anos de idade, será também
procedimento, antes de prolatada a necessário o seu consentimento.
sentença.
Art. 46. A adoção será precedida de
§ 4o Os divorciados, os judicialmente estágio de convivência com a criança ou
separados e os ex-companheiros podem adolescente, pelo prazo que a autoridade
adotar conjuntamente, contanto que judiciária fixar, observadas as
acordem sobre a guarda e o regime de peculiaridades do caso.
visitas e desde que o estágio de convivência
tenha sido iniciado na constância do § 1º O estágio de convivência poderá
período de convivência e que seja ser dispensado se o adotando não tiver mais
comprovada a existência de vínculos de de um ano de idade ou se, qualquer que seja
afinidade e afetividade com aquele não a sua idade, já estiver na companhia do
detentor da guarda, que justifiquem a adotante durante tempo suficiente para se
excepcionalidade da concessão. (Redação poder avaliar a conveniência da
dada pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência constituição do vínculo.
§ 2º Em caso de adoção por
§ 5o Nos casos do § 4o deste artigo, estrangeiro residente ou domiciliado fora do
desde que demonstrado efetivo benefício ao País, o estágio de convivência, cumprido no
adotando, será assegurada a guarda território nacional, será de no mínimo
compartilhada, conforme previsto no art. quinze dias para crianças de até dois anos
1.584 da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de de idade, e de no mínimo trinta dias quando
2002 - Código Civil. (Redação dada pela se tratar de adotando acima de dois anos de
Lei nº 12.010, de 2009) Vigência idade.

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
§ 1o O estágio de convivência poderá poderá determinar a modificação do
ser dispensado se o adotando já estiver sob prenome.
a tutela ou guarda legal do adotante durante § 6º A adoção produz seus efeitos a
tempo suficiente para que seja possível partir do trânsito em julgado da sentença,
avaliar a conveniência da constituição do exceto na hipótese prevista no art. 42, § 5º,
vínculo. (Redação dada pela Lei nº 12.010, caso em que terá força retroativa à data do
de 2009) Vigência óbito.

§ 2o A simples guarda de fato não § 3o A pedido do adotante, o novo


autoriza, por si só, a dispensa da realização registro poderá ser lavrado no Cartório do
do estágio de convivência. (Redação dada Registro Civil do Município de sua
pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência residência. (Redação dada pela Lei nº
12.010, de 2009) Vigência
§ 3o Em caso de adoção por pessoa ou
casal residente ou domiciliado fora do País, § 4o Nenhuma observação sobre a
o estágio de convivência, cumprido no origem do ato poderá constar nas certidões
território nacional, será de, no mínimo, 30 do registro. (Redação dada pela Lei nº
(trinta) dias. (Incluído pela Lei nº 12.010, 12.010, de 2009) Vigência
de 2009) Vigência
§ 5o A sentença conferirá ao adotado o
o
§ 4 O estágio de convivência será nome do adotante e, a pedido de qualquer
acompanhado pela equipe interprofissional deles, poderá determinar a modificação do
a serviço da Justiça da Infância e da prenome. (Redação dada pela Lei nº
Juventude, preferencialmente com apoio 12.010, de 2009) Vigência
dos técnicos responsáveis pela execução da
política de garantia do direito à convivência § 6o Caso a modificação de prenome
familiar, que apresentarão relatório seja requerida pelo adotante, é obrigatória a
minucioso acerca da conveniência do oitiva do adotando, observado o disposto
deferimento da medida. (Incluído pela Lei nos §§ 1o e 2o do art. 28 desta Lei.
nº 12.010, de 2009) Vigência (Redação dada pela Lei nº 12.010, de
2009) Vigência
Art. 47. O vínculo da adoção
constitui-se por sentença judicial, que será § 7o A adoção produz seus efeitos a
inscrita no registro civil mediante mandado partir do trânsito em julgado da sentença
do qual não se fornecerá certidão. constitutiva, exceto na hipótese prevista no
§ 6o do art. 42 desta Lei, caso em que terá
§ 1º A inscrição consignará o nome força retroativa à data do óbito. (Incluído
dos adotantes como pais, bem como o nome pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
de seus ascendentes.
§ 8o O processo relativo à adoção
§ 2º O mandado judicial, que será assim como outros a ele relacionados serão
arquivado, cancelará o registro original do mantidos em arquivo, admitindo-se seu
adotado. armazenamento em microfilme ou por
outros meios, garantida a sua conservação
§ 3º Nenhuma observação sobre a para consulta a qualquer tempo. (Incluído
origem do ato poderá constar nas certidões pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
do registro.
§ 4º A critério da autoridade Art. 48. A adoção é irrevogável.
judiciária, poderá ser fornecida certidão
para a salvaguarda de direitos. Art. 48. O adotado tem direito de
§ 5º A sentença conferirá ao adotado conhecer sua origem biológica, bem como
o nome do adotante e, a pedido deste, de obter acesso irrestrito ao processo no
qual a medida foi aplicada e seus eventuais

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
incidentes, após completar 18 (dezoito) da política municipal de garantia do direito
anos. (Redação dada pela Lei nº 12.010, de à convivência familiar. (Incluído pela Lei nº
2009) Vigência 12.010, de 2009) Vigência

Parágrafo único. O acesso ao processo § 5o Serão criados e implementados


de adoção poderá ser também deferido ao cadastros estaduais e nacional de crianças e
adotado menor de 18 (dezoito) anos, a seu adolescentes em condições de serem
pedido, assegurada orientação e assistência adotados e de pessoas ou casais habilitados
jurídica e psicológica. (Incluído pela Lei nº à adoção. (Incluído pela Lei nº 12.010, de
12.010, de 2009) Vigência 2009) Vigência

Art. 49. A morte dos adotantes não § 6o Haverá cadastros distintos para
restabelece o pátrio poder poder familiar pessoas ou casais residentes fora do País,
dos pais naturais. (Expressão substituída que somente serão consultados na
pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência inexistência de postulantes nacionais
habilitados nos cadastros mencionados no §
Art. 50. A autoridade judiciária 5o deste artigo. (Incluído pela Lei nº 12.010,
manterá, em cada comarca ou foro regional, de 2009) Vigência
um registro de crianças e adolescentes em
condições de serem adotados e outro de § 7o As autoridades estaduais e
pessoas interessadas na adoção. (Vide Lei federais em matéria de adoção terão acesso
nº 12.010, de 2009) Vigência integral aos cadastros, incumbindo-lhes a
troca de informações e a cooperação mútua,
§ 1º O deferimento da inscrição dar- para melhoria do sistema. (Incluído pela Lei
se-á após prévia consulta aos órgãos nº 12.010, de 2009) Vigência
técnicos do juizado, ouvido o Ministério
Público. § 8o A autoridade judiciária
providenciará, no prazo de 48 (quarenta e
§ 2º Não será deferida a inscrição se o oito) horas, a inscrição das crianças e
interessado não satisfazer os requisitos adolescentes em condições de serem
legais, ou verificada qualquer das hipóteses adotados que não tiveram colocação
previstas no art. 29. familiar na comarca de origem, e das
pessoas ou casais que tiveram deferida sua
§ 3o A inscrição de postulantes à habilitação à adoção nos cadastros estadual
adoção será precedida de um período de e nacional referidos no § 5o deste artigo,
preparação psicossocial e jurídica, sob pena de responsabilidade. (Incluído
orientado pela equipe técnica da Justiça da pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
Infância e da Juventude, preferencialmente
com apoio dos técnicos responsáveis pela § 9o Compete à Autoridade Central
execução da política municipal de garantia Estadual zelar pela manutenção e correta
do direito à convivência familiar. (Incluído alimentação dos cadastros, com posterior
pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência comunicação à Autoridade Central Federal
Brasileira. (Incluído pela Lei nº 12.010, de
§ 4o Sempre que possível e 2009) Vigência
recomendável, a preparação referida no § 3o
deste artigo incluirá o contato com crianças § 10. A adoção internacional somente
e adolescentes em acolhimento familiar ou será deferida se, após consulta ao cadastro
institucional em condições de serem de pessoas ou casais habilitados à adoção,
adotados, a ser realizado sob a orientação, mantido pela Justiça da Infância e da
supervisão e avaliação da equipe técnica da Juventude na comarca, bem como aos
Justiça da Infância e da Juventude, com cadastros estadual e nacional referidos no §
apoio dos técnicos responsáveis pelo 5o deste artigo, não for encontrado
programa de acolhimento e pela execução interessado com residência permanente no

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
Brasil. (Incluído pela Lei nº 12.010, de ou domiciliado fora do País, observar-se-á o
2009) Vigência disposto no art. 31.
§ 1º O candidato deverá comprovar,
§ 11. Enquanto não localizada pessoa mediante documento expedido pela
ou casal interessado em sua adoção, a autoridade competente do respectivo
criança ou o adolescente, sempre que domicílio, estar devidamente habilitado à
possível e recomendável, será colocado sob adoção, consoante as leis do seu país, bem
guarda de família cadastrada em programa como apresentar estudo psicossocial
de acolhimento familiar. (Incluído pela Lei elaborado por agência especializada e
nº 12.010, de 2009) Vigência credenciada no país de origem.
§ 2º A autoridade judiciária, de ofício
§ 12. A alimentação do cadastro e a ou a requerimento do Ministério Público,
convocação criteriosa dos postulantes à poderá determinar a apresentação do texto
adoção serão fiscalizadas pelo Ministério pertinente à legislação estrangeira,
Público. (Incluído pela Lei nº 12.010, de acompanhado de prova da respectiva
2009) Vigência vigência.
§ 3º Os documentos em língua
§ 13. Somente poderá ser deferida estrangeira serão juntados aos autos,
adoção em favor de candidato domiciliado devidamente autenticados pela autoridade
no Brasil não cadastrado previamente nos consular, observados os tratados e
termos desta Lei quando: (Incluído pela Lei convenções internacionais, e acompanhados
nº 12.010, de 2009) Vigência da respectiva tradução, por tradutor público
juramentado.
I - se tratar de pedido de adoção § 4º Antes de consumada a adoção
unilateral; (Incluído pela Lei nº 12.010, de não será permitida a saída do adotando do
território nacional. (Revogado pela Lei nº
2009) Vigência
12.010, de 2009) Vigência
II - for formulada por parente com o
qual a criança ou adolescente mantenha Art. 51. Considera-se adoção
vínculos de afinidade e internacional aquela na qual a pessoa ou
afetividade; (Incluído pela Lei nº 12.010, de casal postulante é residente ou domiciliado
fora do Brasil, conforme previsto no Artigo
2009) Vigência
2 da Convenção de Haia, de 29 de maio de
1993, Relativa à Proteção das Crianças e à
III - oriundo o pedido de quem detém
Cooperação em Matéria de Adoção
a tutela ou guarda legal de criança maior de
Internacional, aprovada pelo Decreto
3 (três) anos ou adolescente, desde que o
Legislativo no 1, de 14 de janeiro de 1999, e
lapso de tempo de convivência comprove a
promulgada pelo Decreto no 3.087, de 21 de
fixação de laços de afinidade e afetividade,
junho de 1999. (Redação dada pela Lei nº
e não seja constatada a ocorrência de má-fé
12.010, de 2009) Vigência
ou qualquer das situações previstas nos arts.
237 ou 238 desta Lei. (Incluído pela Lei nº
§ 1o A adoção internacional de criança
12.010, de 2009) Vigência
ou adolescente brasileiro ou domiciliado no
Brasil somente terá lugar quando restar
§ 14. Nas hipóteses previstas no § 13
comprovado: (Redação dada pela Lei nº
deste artigo, o candidato deverá comprovar,
12.010, de 2009) Vigência
no curso do procedimento, que preenche os
requisitos necessários à adoção, conforme
previsto nesta Lei. (Incluído pela Lei nº I - que a colocação em família
substituta é a solução adequada ao caso
12.010, de 2009) Vigência
concreto; (Incluída pela Lei nº 12.010, de
2009) Vigência
Art. 51 Cuidando-se de pedido de
adoção formulado por estrangeiro residente
II - que foram esgotadas todas as
possibilidades de colocação da criança ou

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
adolescente em família substituta brasileira, II - se a Autoridade Central do país de
após consulta aos cadastros mencionados acolhida considerar que os solicitantes estão
no art. 50 desta Lei; (Incluída pela Lei nº habilitados e aptos para adotar, emitirá um
12.010, de 2009) Vigência relatório que contenha informações sobre a
identidade, a capacidade jurídica e
III - que, em se tratando de adoção de adequação dos solicitantes para adotar, sua
adolescente, este foi consultado, por meios situação pessoal, familiar e médica, seu
adequados ao seu estágio de meio social, os motivos que os animam e
desenvolvimento, e que se encontra sua aptidão para assumir uma adoção
preparado para a medida, mediante parecer internacional; (Incluída pela Lei nº 12.010,
elaborado por equipe interprofissional, de 2009) Vigência
observado o disposto nos §§ 1o e 2o do art.
28 desta Lei. (Incluída pela Lei nº 12.010, III - a Autoridade Central do país de
de 2009) Vigência acolhida enviará o relatório à Autoridade
Central Estadual, com cópia para a
§ 2o Os brasileiros residentes no Autoridade Central Federal
exterior terão preferência aos estrangeiros, Brasileira; (Incluída pela Lei nº 12.010, de
nos casos de adoção internacional de 2009) Vigência
criança ou adolescente brasileiro. (Redação
dada pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência IV - o relatório será instruído com toda
a documentação necessária, incluindo
§ 3o A adoção internacional pressupõe estudo psicossocial elaborado por equipe
a intervenção das Autoridades Centrais interprofissional habilitada e cópia
Estaduais e Federal em matéria de adoção autenticada da legislação pertinente,
internacional. (Redação dada pela Lei nº acompanhada da respectiva prova de
12.010, de 2009) Vigência vigência; (Incluída pela Lei nº 12.010, de
2009) Vigência
Art. 52. A adoção internacional
poderá ser condicionada a estudo prévio e V - os documentos em língua
análise de uma comissão estadual judiciária estrangeira serão devidamente autenticados
de adoção, que fornecerá o respectivo laudo pela autoridade consular, observados os
de habilitação para instruir o processo tratados e convenções internacionais, e
competente. acompanhados da respectiva tradução, por
Parágrafo único. Competirá à tradutor público juramentado; (Incluída
comissão manter registro centralizado de pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
interessados estrangeiros em adoção.
VI - a Autoridade Central Estadual
Art. 52. A adoção internacional poderá fazer exigências e solicitar
observará o procedimento previsto nos arts. complementação sobre o estudo
165 a 170 desta Lei, com as seguintes psicossocial do postulante estrangeiro à
adaptações: (Redação dada pela Lei nº adoção, já realizado no país de
12.010, de 2009) Vigência acolhida; (Incluída pela Lei nº 12.010, de
2009) Vigência
I - a pessoa ou casal estrangeiro,
interessado em adotar criança ou VII - verificada, após estudo realizado
adolescente brasileiro, deverá formular pela Autoridade Central Estadual, a
pedido de habilitação à adoção perante a compatibilidade da legislação estrangeira
Autoridade Central em matéria de adoção com a nacional, além do preenchimento por
internacional no país de acolhida, assim parte dos postulantes à medida dos
entendido aquele onde está situada sua requisitos objetivos e subjetivos necessários
residência habitual; (Incluída pela Lei nº ao seu deferimento, tanto à luz do que
12.010, de 2009) Vigência dispõe esta Lei como da legislação do país
de acolhida, será expedido laudo de
habilitação à adoção internacional, que terá

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
validade por, no máximo, 1 (um) III - forem qualificados por seus
ano; (Incluída pela Lei nº 12.010, de 2009) padrões éticos e sua formação e experiência
Vigência para atuar na área de adoção
internacional; (Incluída pela Lei nº 12.010,
VIII - de posse do laudo de de 2009) Vigência
habilitação, o interessado será autorizado a
formalizar pedido de adoção perante o IV - cumprirem os requisitos exigidos
Juízo da Infância e da Juventude do local pelo ordenamento jurídico brasileiro e pelas
em que se encontra a criança ou normas estabelecidas pela Autoridade
adolescente, conforme indicação efetuada Central Federal Brasileira. (Incluída pela
pela Autoridade Central Estadual. (Incluída Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
§ 4o Os organismos credenciados
o
§ 1 Se a legislação do país de deverão ainda: (Incluído pela Lei nº 12.010,
acolhida assim o autorizar, admite-se que os de 2009) Vigência
pedidos de habilitação à adoção
internacional sejam intermediados por I - perseguir unicamente fins não
organismos credenciados. (Incluída pela Lei lucrativos, nas condições e dentro dos
nº 12.010, de 2009) Vigência limites fixados pelas autoridades
competentes do país onde estiverem
§ 2o Incumbe à Autoridade Central sediados, do país de acolhida e pela
Federal Brasileira o credenciamento de Autoridade Central Federal
organismos nacionais e estrangeiros Brasileira; (Incluída pela Lei nº 12.010, de
encarregados de intermediar pedidos de 2009) Vigência
habilitação à adoção internacional, com
posterior comunicação às Autoridades II - ser dirigidos e administrados por
Centrais Estaduais e publicação nos órgãos pessoas qualificadas e de reconhecida
oficiais de imprensa e em sítio próprio da idoneidade moral, com comprovada
internet. (Incluído pela Lei nº 12.010, de formação ou experiência para atuar na área
2009) Vigência de adoção internacional, cadastradas pelo
Departamento de Polícia Federal e
§ 3o Somente será admissível o aprovadas pela Autoridade Central Federal
credenciamento de organismos Brasileira, mediante publicação de portaria
que: (Incluída pela Lei nº 12.010, de 2009) do órgão federal competente; (Incluída pela
Vigência Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

I - sejam oriundos de países que III - estar submetidos à supervisão das


ratificaram a Convenção de Haia e estejam autoridades competentes do país onde
devidamente credenciados pela Autoridade estiverem sediados e no país de acolhida,
Central do país onde estiverem sediados e inclusive quanto à sua composição,
no país de acolhida do adotando para atuar funcionamento e situação
em adoção internacional no financeira; (Incluída pela Lei nº 12.010, de
Brasil; (Incluída pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
2009) Vigência
IV - apresentar à Autoridade Central
II - satisfizerem as condições de Federal Brasileira, a cada ano, relatório
integridade moral, competência geral das atividades desenvolvidas, bem
profissional, experiência e responsabilidade como relatório de acompanhamento das
exigidas pelos países respectivos e pela adoções internacionais efetuadas no
Autoridade Central Federal período, cuja cópia será encaminhada ao
Brasileira; (Incluída pela Lei nº 12.010, de Departamento de Polícia Federal; (Incluída
2009) Vigência pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
V - enviar relatório pós-adotivo sinais ou traços peculiares, assim como foto
semestral para a Autoridade Central recente e a aposição da impressão digital do
Estadual, com cópia para a Autoridade seu polegar direito, instruindo o documento
Central Federal Brasileira, pelo período com cópia autenticada da decisão e certidão
mínimo de 2 (dois) anos. O envio do de trânsito em julgado. (Incluído pela Lei nº
relatório será mantido até a juntada de cópia 12.010, de 2009) Vigência
autenticada do registro civil, estabelecendo
a cidadania do país de acolhida para o § 10. A Autoridade Central Federal
adotado; (Incluída pela Lei nº 12.010, de Brasileira poderá, a qualquer momento,
2009) Vigência solicitar informações sobre a situação das
crianças e adolescentes adotados. (Incluído
VI - tomar as medidas necessárias para pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
garantir que os adotantes encaminhem à
Autoridade Central Federal Brasileira cópia § 11. A cobrança de valores por parte
da certidão de registro de nascimento dos organismos credenciados, que sejam
estrangeira e do certificado de considerados abusivos pela Autoridade
nacionalidade tão logo lhes sejam Central Federal Brasileira e que não
concedidos. (Incluída pela Lei nº 12.010, de estejam devidamente comprovados, é causa
2009) Vigência de seu descredenciamento. (Incluído pela
Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
§ 5o A não apresentação dos relatórios
referidos no § 4o deste artigo pelo § 12. Uma mesma pessoa ou seu
organismo credenciado poderá acarretar a cônjuge não podem ser representados por
suspensão de seu credenciamento. (Incluído mais de uma entidade credenciada para
pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência atuar na cooperação em adoção
internacional. (Incluído pela Lei nº 12.010,
§ 6o O credenciamento de organismo de 2009) Vigência
nacional ou estrangeiro encarregado de
intermediar pedidos de adoção § 13. A habilitação de postulante
internacional terá validade de 2 (dois) estrangeiro ou domiciliado fora do Brasil
anos. (Incluído pela Lei nº 12.010, de terá validade máxima de 1 (um) ano,
2009) Vigência podendo ser renovada. (Incluído pela Lei nº
12.010, de 2009) Vigência
§ 7o A renovação do credenciamento
poderá ser concedida mediante § 14. É vedado o contato direto de
requerimento protocolado na Autoridade representantes de organismos de adoção,
Central Federal Brasileira nos 60 (sessenta) nacionais ou estrangeiros, com dirigentes
dias anteriores ao término do respectivo de programas de acolhimento institucional
prazo de validade. (Incluído pela Lei nº ou familiar, assim como com crianças e
12.010, de 2009) Vigência adolescentes em condições de serem
adotados, sem a devida autorização
§ 8o Antes de transitada em julgado a judicial. (Incluído pela Lei nº 12.010, de
decisão que concedeu a adoção 2009) Vigência
internacional, não será permitida a saída do
adotando do território nacional. (Incluído § 15. A Autoridade Central Federal
pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência Brasileira poderá limitar ou suspender a
concessão de novos credenciamentos
§ 9o Transitada em julgado a decisão, sempre que julgar necessário, mediante ato
a autoridade judiciária determinará a administrativo fundamentado. (Incluído
expedição de alvará com autorização de pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
viagem, bem como para obtenção de
passaporte, constando, obrigatoriamente, as Art. 52-A. É vedado, sob pena de
características da criança ou adolescente responsabilidade e descredenciamento, o
adotado, como idade, cor, sexo, eventuais

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
repasse de recursos provenientes de (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)
organismos estrangeiros encarregados de Vigência
intermediar pedidos de adoção
internacional a organismos nacionais ou a § 1o A Autoridade Central Estadual,
pessoas físicas. (Incluído pela Lei nº ouvido o Ministério Público, somente
12.010, de 2009) Vigência deixará de reconhecer os efeitos daquela
decisão se restar demonstrado que a adoção
Parágrafo único. Eventuais repasses é manifestamente contrária à ordem pública
somente poderão ser efetuados via Fundo ou não atende ao interesse superior da
dos Direitos da Criança e do Adolescente e criança ou do adolescente. (Incluído pela
estarão sujeitos às deliberações do Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
respectivo Conselho de Direitos da Criança
e do Adolescente. (Incluído pela Lei nº § 2o Na hipótese de não
12.010, de 2009) Vigência reconhecimento da adoção, prevista no § 1o
deste artigo, o Ministério Público deverá
Art. 52-B. A adoção por brasileiro imediatamente requerer o que for de direito
residente no exterior em país ratificante da para resguardar os interesses da criança ou
Convenção de Haia, cujo processo de do adolescente, comunicando-se as
adoção tenha sido processado em providências à Autoridade Central Estadual,
conformidade com a legislação vigente no que fará a comunicação à Autoridade
país de residência e atendido o disposto na Central Federal Brasileira e à Autoridade
Alínea “c” do Artigo 17 da referida Central do país de origem. (Incluído pela
Convenção, será automaticamente Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
recepcionada com o reingresso no
Brasil. (Incluído pela Lei nº 12.010, de Art. 52-D. Nas adoções
2009) Vigência internacionais, quando o Brasil for o país de
acolhida e a adoção não tenha sido deferida
§ 1o Caso não tenha sido atendido o no país de origem porque a sua legislação a
disposto na Alínea “c” do Artigo 17 da delega ao país de acolhida, ou, ainda, na
Convenção de Haia, deverá a sentença ser hipótese de, mesmo com decisão, a criança
homologada pelo Superior Tribunal de ou o adolescente ser oriundo de país que
Justiça. (Incluído pela Lei nº 12.010, de não tenha aderido à Convenção referida, o
2009) Vigência processo de adoção seguirá as regras da
adoção nacional. (Incluído pela Lei nº
§ 2o O pretendente brasileiro residente 12.010, de 2009) Vigência
no exterior em país não ratificante da
Convenção de Haia, uma vez reingressado Capítulo IV
no Brasil, deverá requerer a homologação
da sentença estrangeira pelo Superior Do Direito à Educação, à Cultura, ao
Tribunal de Justiça. (Incluído pela Lei nº Esporte e ao Lazer
12.010, de 2009) Vigência
Art. 53. A criança e o adolescente têm
Art. 52-C. Nas adoções direito à educação, visando ao pleno
internacionais, quando o Brasil for o país de desenvolvimento de sua pessoa, preparo
acolhida, a decisão da autoridade para o exercício da cidadania e qualificação
competente do país de origem da criança ou para o trabalho, assegurando-se-lhes:
do adolescente será conhecida pela
Autoridade Central Estadual que tiver I - igualdade de condições para o
processado o pedido de habilitação dos pais acesso e permanência na escola;
adotivos, que comunicará o fato à
Autoridade Central Federal e determinará II - direito de ser respeitado por seus
as providências necessárias à expedição do educadores;
Certificado de Naturalização Provisório.

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
III - direito de contestar critérios § 2º O não oferecimento do ensino
avaliativos, podendo recorrer às instâncias obrigatório pelo poder público ou sua oferta
escolares superiores; irregular importa responsabilidade da
autoridade competente.
IV - direito de organização e
participação em entidades estudantis; § 3º Compete ao poder público
recensear os educandos no ensino
V - acesso à escola pública e gratuita fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar,
próxima de sua residência. junto aos pais ou responsável, pela
freqüência à escola.
Parágrafo único. É direito dos pais ou
responsáveis ter ciência do processo Art. 55. Os pais ou responsável têm a
pedagógico, bem como participar da obrigação de matricular seus filhos ou
definição das propostas educacionais. pupilos na rede regular de ensino.

Art. 54. É dever do Estado assegurar Art. 56. Os dirigentes de


à criança e ao adolescente: estabelecimentos de ensino fundamental
comunicarão ao Conselho Tutelar os casos
I - ensino fundamental, obrigatório e de:
gratuito, inclusive para os que a ele não
tiveram acesso na idade própria; I - maus-tratos envolvendo seus
alunos;
II - progressiva extensão da
obrigatoriedade e gratuidade ao ensino II - reiteração de faltas injustificadas e
médio; de evasão escolar, esgotados os recursos
escolares;
III - atendimento educacional
especializado aos portadores de deficiência, III - elevados níveis de repetência.
preferencialmente na rede regular de
ensino; Art. 57. O poder público estimulará
pesquisas, experiências e novas propostas
IV - atendimento em creche e pré- relativas a calendário, seriação, currículo,
escola às crianças de zero a seis anos de metodologia, didática e avaliação, com
idade; vistas à inserção de crianças e adolescentes
excluídos do ensino fundamental
V - acesso aos níveis mais elevados obrigatório.
do ensino, da pesquisa e da criação artística,
segundo a capacidade de cada um; Art. 58. No processo educacional
respeitar-se-ão os valores culturais,
VI - oferta de ensino noturno regular, artísticos e históricos próprios do contexto
adequado às condições do adolescente social da criança e do adolescente,
trabalhador; garantindo-se a estes a liberdade da criação
e o acesso às fontes de cultura.
VII - atendimento no ensino
fundamental, através de programas Art. 59. Os municípios, com apoio
suplementares de material didático-escolar, dos estados e da União, estimularão e
transporte, alimentação e assistência à facilitarão a destinação de recursos e
saúde. espaços para programações culturais,
esportivas e de lazer voltadas para a
§ 1º O acesso ao ensino obrigatório e infância e a juventude.
gratuito é direito público subjetivo.
Capítulo V

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
Do Direito à Profissionalização e à III - realizado em locais prejudiciais à
Proteção no Trabalho sua formação e ao seu desenvolvimento
físico, psíquico, moral e social;
Art. 60. É proibido qualquer trabalho
a menores de quatorze anos de idade, salvo IV - realizado em horários e locais
na condição de aprendiz. (Vide que não permitam a freqüência à escola.
Constituição Federal)
Art. 68. O programa social que tenha
Art. 61. A proteção ao trabalho dos por base o trabalho educativo, sob
adolescentes é regulada por legislação responsabilidade de entidade
especial, sem prejuízo do disposto nesta governamental ou não-governamental sem
Lei. fins lucrativos, deverá assegurar ao
adolescente que dele participe condições de
Art. 62. Considera-se aprendizagem a capacitação para o exercício de atividade
formação técnico-profissional ministrada regular remunerada.
segundo as diretrizes e bases da legislação
de educação em vigor. § 1º Entende-se por trabalho
educativo a atividade laboral em que as
Art. 63. A formação técnico- exigências pedagógicas relativas ao
profissional obedecerá aos seguintes desenvolvimento pessoal e social do
princípios: educando prevalecem sobre o aspecto
produtivo.
I - garantia de acesso e freqüência
obrigatória ao ensino regular; § 2º A remuneração que o adolescente
recebe pelo trabalho efetuado ou a
II - atividade compatível com o participação na venda dos produtos de seu
desenvolvimento do adolescente; trabalho não desfigura o caráter educativo.

III - horário especial para o exercício Art. 69. O adolescente tem direito à
das atividades. profissionalização e à proteção no trabalho,
observados os seguintes aspectos, entre
Art. 64. Ao adolescente até quatorze outros:
anos de idade é assegurada bolsa de
aprendizagem. I - respeito à condição peculiar de
pessoa em desenvolvimento;
Art. 65. Ao adolescente aprendiz,
maior de quatorze anos, são assegurados os II - capacitação profissional adequada
direitos trabalhistas e previdenciários. ao mercado de trabalho.

Art. 66. Ao adolescente portador de Título III


deficiência é assegurado trabalho protegido.
Da Prevenção
Art. 67. Ao adolescente empregado,
aprendiz, em regime familiar de trabalho, Capítulo I
aluno de escola técnica, assistido em
entidade governamental ou não- Disposições Gerais
governamental, é vedado trabalho:
Art. 70. É dever de todos prevenir a
I - noturno, realizado entre as vinte e ocorrência de ameaça ou violação dos
duas horas de um dia e as cinco horas do direitos da criança e do adolescente.
dia seguinte;
Art. 71. A criança e o adolescente têm
II - perigoso, insalubre ou penoso; direito a informação, cultura, lazer,

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
esportes, diversões, espetáculos e produtos educativas, artísticas, culturais e
e serviços que respeitem sua condição informativas.
peculiar de pessoa em desenvolvimento.
Parágrafo único. Nenhum espetáculo
Art. 72. As obrigações previstas nesta será apresentado ou anunciado sem aviso de
Lei não excluem da prevenção especial sua classificação, antes de sua transmissão,
outras decorrentes dos princípios por ela apresentação ou exibição.
adotados.
Art. 77. Os proprietários, diretores,
Art. 73. A inobservância das normas gerentes e funcionários de empresas que
de prevenção importará em explorem a venda ou aluguel de fitas de
responsabilidade da pessoa física ou programação em vídeo cuidarão para que
jurídica, nos termos desta Lei. não haja venda ou locação em desacordo
com a classificação atribuída pelo órgão
Capítulo II competente.

Da Prevenção Especial Parágrafo único. As fitas a que alude


este artigo deverão exibir, no invólucro,
Seção I informação sobre a natureza da obra e a
faixa etária a que se destinam.
Da informação, Cultura, Lazer, Esportes,
Diversões e Espetáculos Art. 78. As revistas e publicações
contendo material impróprio ou inadequado
Art. 74. O poder público, através do a crianças e adolescentes deverão ser
órgão competente, regulará as diversões e comercializadas em embalagem lacrada,
espetáculos públicos, informando sobre a com a advertência de seu conteúdo.
natureza deles, as faixas etárias a que não se
recomendem, locais e horários em que sua Parágrafo único. As editoras cuidarão
apresentação se mostre inadequada. para que as capas que contenham
mensagens pornográficas ou obscenas
Parágrafo único. Os responsáveis sejam protegidas com embalagem opaca.
pelas diversões e espetáculos públicos
deverão afixar, em lugar visível e de fácil Art. 79. As revistas e publicações
acesso, à entrada do local de exibição, destinadas ao público infanto-juvenil não
informação destacada sobre a natureza do poderão conter ilustrações, fotografias,
espetáculo e a faixa etária especificada no legendas, crônicas ou anúncios de bebidas
certificado de classificação. alcoólicas, tabaco, armas e munições, e
deverão respeitar os valores éticos e sociais
Art. 75. Toda criança ou adolescente da pessoa e da família.
terá acesso às diversões e espetáculos
públicos classificados como adequados à Art. 80. Os responsáveis por
sua faixa etária. estabelecimentos que explorem
comercialmente bilhar, sinuca ou congênere
Parágrafo único. As crianças menores ou por casas de jogos, assim entendidas as
de dez anos somente poderão ingressar e que realize apostas, ainda que
permanecer nos locais de apresentação ou eventualmente, cuidarão para que não seja
exibição quando acompanhadas dos pais ou permitida a entrada e a permanência de
responsável. crianças e adolescentes no local, afixando
aviso para orientação do público.
Art. 76. As emissoras de rádio e
televisão somente exibirão, no horário Seção II
recomendado para o público infanto
juvenil, programas com finalidades Dos Produtos e Serviços

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
Art. 81. É proibida a venda à criança § 2º A autoridade judiciária poderá, a
ou ao adolescente de: pedido dos pais ou responsável, conceder
autorização válida por dois anos.
I - armas, munições e explosivos;
Art. 84. Quando se tratar de viagem
II - bebidas alcoólicas; ao exterior, a autorização é dispensável, se
a criança ou adolescente:
III - produtos cujos componentes
possam causar dependência física ou I - estiver acompanhado de ambos os
psíquica ainda que por utilização indevida; pais ou responsável;

IV - fogos de estampido e de artifício, II - viajar na companhia de um dos


exceto aqueles que pelo seu reduzido pais, autorizado expressamente pelo outro
potencial sejam incapazes de provocar através de documento com firma
qualquer dano físico em caso de utilização reconhecida.
indevida;
Art. 85. Sem prévia e expressa
V - revistas e publicações a que alude autorização judicial, nenhuma criança ou
o art. 78; adolescente nascido em território nacional
poderá sair do País em companhia de
VI - bilhetes lotéricos e equivalentes. estrangeiro residente ou domiciliado no
exterior.
Art. 82. É proibida a hospedagem de
criança ou adolescente em hotel, motel, Parte Especial
pensão ou estabelecimento congênere, salvo
se autorizado ou acompanhado pelos pais Título I
ou responsável.
Da Política de Atendimento
Seção III
Capítulo I
Da Autorização para Viajar
Disposições Gerais
Art. 83. Nenhuma criança poderá
viajar para fora da comarca onde reside, Art. 86. A política de atendimento
desacompanhada dos pais ou responsável, dos direitos da criança e do adolescente far-
sem expressa autorização judicial. se-á através de um conjunto articulado de
ações governamentais e não-
§ 1º A autorização não será exigida governamentais, da União, dos estados, do
quando: Distrito Federal e dos municípios.

a) tratar-se de comarca contígua à da Art. 87. São linhas de ação da política


residência da criança, se na mesma unidade de atendimento:
da Federação, ou incluída na mesma região
metropolitana; I - políticas sociais básicas;

b) a criança estiver acompanhada: II - políticas e programas de


assistência social, em caráter supletivo, para
1) de ascendente ou colateral maior, aqueles que deles necessitem;
até o terceiro grau, comprovado
documentalmente o parentesco; III - serviços especiais de prevenção e
atendimento médico e psicossocial às
2) de pessoa maior, expressamente vítimas de negligência, maus-tratos,
autorizada pelo pai, mãe ou responsável. exploração, abuso, crueldade e opressão;

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
IV - serviço de identificação e Assistência Social, preferencialmente em
localização de pais, responsável, crianças e um mesmo local, para efeito de agilização
adolescentes desaparecidos; do atendimento inicial a adolescente a
quem se atribua autoria de ato infracional;
V - proteção jurídico-social por
entidades de defesa dos direitos da criança e VI - mobilização da opinião pública
do adolescente. no sentido da indispensável participação
dos diversos segmentos da sociedade.
VI - políticas e programas destinados a
prevenir ou abreviar o período de VI - integração operacional de órgãos
afastamento do convívio familiar e a do Judiciário, Ministério Público,
garantir o efetivo exercício do direito à Defensoria, Conselho Tutelar e
convivência familiar de crianças e encarregados da execução das políticas
adolescentes; (Incluído pela Lei nº 12.010, sociais básicas e de assistência social, para
de 2009) Vigência efeito de agilização do atendimento de
crianças e de adolescentes inseridos em
VII - campanhas de estímulo ao programas de acolhimento familiar ou
acolhimento sob forma de guarda de institucional, com vista na sua rápida
crianças e adolescentes afastados do reintegração à família de origem ou, se tal
convívio familiar e à adoção, solução se mostrar comprovadamente
especificamente inter-racial, de crianças inviável, sua colocação em família
maiores ou de adolescentes, com substituta, em quaisquer das modalidades
necessidades específicas de saúde ou com previstas no art. 28 desta Lei; (Redação
deficiências e de grupos de irmãos. dada pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
(Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)
Vigência VII - mobilização da opinião pública
para a indispensável participação dos
Art. 88. São diretrizes da política de diversos segmentos da sociedade. (Incluído
atendimento: pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

I - municipalização do atendimento; Art. 89. A função de membro do


conselho nacional e dos conselhos estaduais
II - criação de conselhos municipais, e municipais dos direitos da criança e do
estaduais e nacional dos direitos da criança adolescente é considerada de interesse
e do adolescente, órgãos deliberativos e público relevante e não será remunerada.
controladores das ações em todos os níveis,
assegurada a participação popular paritária Capítulo II
por meio de organizações representativas,
segundo leis federal, estaduais e Das Entidades de Atendimento
municipais;
Seção I
III - criação e manutenção de
programas específicos, observada a Disposições Gerais
descentralização político-administrativa;
Art. 90. As entidades de atendimento
IV - manutenção de fundos nacional, são responsáveis pela manutenção das
estaduais e municipais vinculados aos próprias unidades, assim como pelo
respectivos conselhos dos direitos da planejamento e execução de programas de
criança e do adolescente; proteção e sócio-educativos destinados a
crianças e adolescentes, em regime de:
V - integração operacional de órgãos
do Judiciário, Ministério Público, I - orientação e apoio sócio-familiar;
Defensoria, Segurança Pública e

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
II - apoio sócio-educativo em meio § 3o Os programas em execução serão
aberto; reavaliados pelo Conselho Municipal dos
Direitos da Criança e do Adolescente, no
III - colocação familiar; máximo, a cada 2 (dois) anos, constituindo-
se critérios para renovação da autorização
IV - abrigo; de funcionamento: (Incluído pela Lei nº
12.010, de 2009) Vigência
IV - acolhimento institucional;
(Redação dada pela Lei nº 12.010, de I - o efetivo respeito às regras e
2009) Vigência princípios desta Lei, bem como às
resoluções relativas à modalidade de
V - liberdade assistida; atendimento prestado expedidas pelos
Conselhos de Direitos da Criança e do
Adolescente, em todos os níveis; (Incluído
VI - semi-liberdade;
pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
VII - internação.
II - a qualidade e eficiência do trabalho
desenvolvido, atestadas pelo Conselho
Parágrafo único. As entidades
Tutelar, pelo Ministério Público e pela
governamentais e não-governamentais
Justiça da Infância e da
deverão proceder à inscrição de seus
Juventude; (Incluído pela Lei nº 12.010, de
programas, especificando os regimes de
2009) Vigência
atendimento, na forma definida neste artigo,
junto ao Conselho Municipal dos Direitos
da Criança e do Adolescente, o qual III - em se tratando de programas de
manterá registro das inscrições e de suas acolhimento institucional ou familiar, serão
alterações, do que fará comunicação ao considerados os índices de sucesso na
reintegração familiar ou de adaptação à
Conselho Tutelar e à autoridade judiciária.
família substituta, conforme o caso.
(Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)
§ 1o As entidades governamentais e
Vigência
não governamentais deverão proceder à
inscrição de seus programas, especificando
Art. 91. As entidades não-
os regimes de atendimento, na forma
definida neste artigo, no Conselho governamentais somente poderão funcionar
depois de registradas no Conselho
Municipal dos Direitos da Criança e do
Adolescente, o qual manterá registro das Municipal dos Direitos da Criança e do
inscrições e de suas alterações, do que fará Adolescente, o qual comunicará o registro
comunicação ao Conselho Tutelar e à ao Conselho Tutelar e à autoridade
autoridade judiciária. (Incluído pela Lei nº judiciária da respectiva localidade.
12.010, de 2009) Vigência
Parágrafo único. Será negado o
o
§ 2 Os recursos destinados à registro à entidade que:
implementação e manutenção dos
programas relacionados neste artigo serão § 1o Será negado o registro à
previstos nas dotações orçamentárias dos entidade que: (Incluído pela Lei nº 12.010,
órgãos públicos encarregados das áreas de de 2009) Vigência
Educação, Saúde e Assistência Social,
dentre outros, observando-se o princípio da a) não ofereça instalações físicas em
prioridade absoluta à criança e ao condições adequadas de habitabilidade,
adolescente preconizado pelo caput do art. higiene, salubridade e segurança;
227 da Constituição Federal e pelo caput e
parágrafo único do art. 4o desta b) não apresente plano de trabalho
Lei. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) compatível com os princípios desta Lei;
Vigência

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
c) esteja irregularmente constituída; V - não desmembramento de grupos
de irmãos;
d) tenha em seus quadros pessoas
inidôneas. VI - evitar, sempre que possível, a
transferência para outras entidades de
e) não se adequar ou deixar de crianças e adolescentes abrigados;
cumprir as resoluções e deliberações
relativas à modalidade de atendimento VII - participação na vida da
prestado expedidas pelos Conselhos de comunidade local;
Direitos da Criança e do Adolescente, em
todos os níveis. (Incluída pela Lei nº VIII - preparação gradativa para o
12.010, de 2009) Vigência desligamento;

§ 2o O registro terá validade máxima IX - participação de pessoas da


de 4 (quatro) anos, cabendo ao Conselho comunidade no processo educativo.
Municipal dos Direitos da Criança e do
Adolescente, periodicamente, reavaliar o Parágrafo único. O dirigente de
cabimento de sua renovação, observado o entidade de abrigo e equiparado ao
disposto no § 1o deste artigo. (Incluído pela guardião, para todos os efeitos de direito.
Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
§ 1o O dirigente de entidade que
Art. 92. As entidades que desenvolve programa de acolhimento
desenvolvam programas de abrigo deverão institucional é equiparado ao guardião, para
adotar os seguintes princípios: todos os efeitos de direito. (Incluído pela
I - preservação dos vínculos Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
familiares;
II - integração em família substituta, § 2o Os dirigentes de entidades que
quando esgotados os recursos de desenvolvem programas de acolhimento
manutenção na família de origem; familiar ou institucional remeterão à
autoridade judiciária, no máximo a cada 6
Art. 92. As entidades que (seis) meses, relatório circunstanciado
desenvolvam programas de acolhimento acerca da situação de cada criança ou
familiar ou institucional deverão adotar os adolescente acolhido e sua família, para fins
seguintes princípios: (Redação dada pela da reavaliação prevista no § 1o do art. 19
Lei nº 12.010, de 2009) Vigência desta Lei. (Incluído pela Lei nº 12.010, de
2009) Vigência
I - preservação dos vínculos familiares
e promoção da reintegração § 3o Os entes federados, por
familiar; (Redação dada pela Lei nº 12.010, intermédio dos Poderes Executivo e
de 2009) Vigência Judiciário, promoverão conjuntamente a
permanente qualificação dos profissionais
II - integração em família substituta, que atuam direta ou indiretamente em
quando esgotados os recursos de programas de acolhimento institucional e
manutenção na família natural ou extensa; destinados à colocação familiar de crianças
(Redação dada pela Lei nº 12.010, de e adolescentes, incluindo membros do
2009) Vigência Poder Judiciário, Ministério Público e
Conselho Tutelar. (Incluído pela Lei nº
III - atendimento personalizado e em 12.010, de 2009) Vigência
pequenos grupos;
§ 4o Salvo determinação em contrário
IV - desenvolvimento de atividades da autoridade judiciária competente, as
em regime de co-educação; entidades que desenvolvem programas de
acolhimento familiar ou institucional, se

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
necessário com o auxílio do Conselho institucional ou a família substituta,
Tutelar e dos órgãos de assistência social, observado o disposto no § 2o do art. 101
estimularão o contato da criança ou desta Lei. (Incluído pela Lei nº 12.010, de
adolescente com seus pais e parentes, em 2009) Vigência
cumprimento ao disposto nos incisos I e
VIII do caput deste artigo. (Incluído pela Art. 94. As entidades que
Lei nº 12.010, de 2009) Vigência desenvolvem programas de internação têm
as seguintes obrigações, entre outras:
§ 5o As entidades que desenvolvem
programas de acolhimento familiar ou I - observar os direitos e garantias de
institucional somente poderão receber que são titulares os adolescentes;
recursos públicos se comprovado o
atendimento dos princípios, exigências e II - não restringir nenhum direito que
finalidades desta Lei. (Incluído pela Lei nº não tenha sido objeto de restrição na
12.010, de 2009) Vigência decisão de internação;

§ 6o O descumprimento das III - oferecer atendimento


disposições desta Lei pelo dirigente de personalizado, em pequenas unidades e
entidade que desenvolva programas de grupos reduzidos;
acolhimento familiar ou institucional é
causa de sua destituição, sem prejuízo da IV - preservar a identidade e oferecer
apuração de sua responsabilidade ambiente de respeito e dignidade ao
administrativa, civil e criminal. (Incluído adolescente;
pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
V - diligenciar no sentido do
Art. 93. As entidades que mantenham restabelecimento e da preservação dos
programas de abrigo poderão, em caráter vínculos familiares;
excepcional e de urgência, abrigar crianças
e adolescentes sem prévia determinação da
VI - comunicar à autoridade
autoridade competente, fazendo
judiciária, periodicamente, os casos em que
comunicação do fato até o 2º dia útil se mostre inviável ou impossível o
imediato. reatamento dos vínculos familiares;
Art. 93. As entidades que mantenham
VII - oferecer instalações físicas em
programa de acolhimento institucional condições adequadas de habitabilidade,
poderão, em caráter excepcional e de higiene, salubridade e segurança e os
urgência, acolher crianças e adolescentes objetos necessários à higiene pessoal;
sem prévia determinação da autoridade
competente, fazendo comunicação do fato
VIII - oferecer vestuário e
em até 24 (vinte e quatro) horas ao Juiz da
alimentação suficientes e adequados à faixa
Infância e da Juventude, sob pena de
etária dos adolescentes atendidos;
responsabilidade. (Redação dada pela Lei nº
12.010, de 2009) Vigência
IX - oferecer cuidados médicos,
psicológicos, odontológicos e
Parágrafo único. Recebida a
farmacêuticos;
comunicação, a autoridade judiciária,
ouvido o Ministério Público e se necessário
com o apoio do Conselho Tutelar local, X - propiciar escolarização e
tomará as medidas necessárias para profissionalização;
promover a imediata reintegração familiar
da criança ou do adolescente ou, se por XI - propiciar atividades culturais,
qualquer razão não for isso possível ou esportivas e de lazer;
recomendável, para seu encaminhamento a
programa de acolhimento familiar,

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
XII - propiciar assistência religiosa § 2º No cumprimento das obrigações
àqueles que desejarem, de acordo com suas a que alude este artigo as entidades
crenças; utilizarão preferencialmente os recursos da
comunidade.
XIII - proceder a estudo social e
pessoal de cada caso; Seção II

XIV - reavaliar periodicamente cada Da Fiscalização das Entidades


caso, com intervalo máximo de seis meses,
dando ciência dos resultados à autoridade Art. 95. As entidades governamentais
competente; e não-governamentais referidas no art. 90
serão fiscalizadas pelo Judiciário, pelo
XV - informar, periodicamente, o Ministério Público e pelos Conselhos
adolescente internado sobre sua situação Tutelares.
processual;
Art. 96. Os planos de aplicação e as
XVI - comunicar às autoridades prestações de contas serão apresentados ao
competentes todos os casos de adolescentes estado ou ao município, conforme a origem
portadores de moléstias infecto- das dotações orçamentárias.
contagiosas;
Art. 97. São medidas aplicáveis às
XVII - fornecer comprovante de entidades de atendimento que
depósito dos pertences dos adolescentes; descumprirem obrigação constante do art.
94, sem prejuízo da responsabilidade civil e
XVIII - manter programas destinados criminal de seus dirigentes ou prepostos:
ao apoio e acompanhamento de egressos;
I - às entidades governamentais:
XIX - providenciar os documentos
necessários ao exercício da cidadania a) advertência;
àqueles que não os tiverem;
b) afastamento provisório de seus
XX - manter arquivo de anotações dirigentes;
onde constem data e circunstâncias do
atendimento, nome do adolescente, seus c) afastamento definitivo de seus
pais ou responsável, parentes, endereços, dirigentes;
sexo, idade, acompanhamento da sua
formação, relação de seus pertences e d) fechamento de unidade ou
demais dados que possibilitem sua interdição de programa.
identificação e a individualização do
atendimento. II - às entidades não-governamentais:

§ 1º Aplicam-se, no que couber, as a) advertência;


obrigações constantes deste artigo às
entidades que mantêm programa de abrigo. b) suspensão total ou parcial do
repasse de verbas públicas;
§ 1o Aplicam-se, no que couber, as
obrigações constantes deste artigo às
c) interdição de unidades ou
entidades que mantêm programas de
suspensão de programa;
acolhimento institucional e familiar.
(Redação dada pela Lei nº 12.010, de
d) cassação do registro.
2009) Vigência

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
Parágrafo único. Em caso de Das Medidas Específicas de Proteção
reiteradas infrações cometidas por
entidades de atendimento, que coloquem Art. 99. As medidas previstas neste
em risco os direitos assegurados nesta Lei, Capítulo poderão ser aplicadas isolada ou
deverá ser o fato comunicado ao Ministério cumulativamente, bem como substituídas a
Público ou representado perante autoridade qualquer tempo.
judiciária competente para as providências
cabíveis, inclusive suspensão das atividades Art. 100. Na aplicação das medidas
ou dissolução da entidade. levar-se-ão em conta as necessidades
pedagógicas, preferindo-se aquelas que
§ 1o Em caso de reiteradas infrações visem ao fortalecimento dos vínculos
cometidas por entidades de atendimento, familiares e comunitários.
que coloquem em risco os direitos
assegurados nesta Lei, deverá ser o fato Parágrafo único. São também
comunicado ao Ministério Público ou princípios que regem a aplicação das
representado perante autoridade judiciária medidas: (Incluído pela Lei nº 12.010, de
competente para as providências cabíveis, 2009) Vigência
inclusive suspensão das atividades ou
dissolução da entidade. (Redação dada pela I - condição da criança e do
Lei nº 12.010, de 2009) Vigência adolescente como sujeitos de direitos:
crianças e adolescentes são os titulares dos
§ 2o As pessoas jurídicas de direito direitos previstos nesta e em outras Leis,
público e as organizações não bem como na Constituição Federal;
governamentais responderão pelos danos (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)
que seus agentes causarem às crianças e aos Vigência
adolescentes, caracterizado o
descumprimento dos princípios norteadores II - proteção integral e prioritária: a
das atividades de proteção específica. interpretação e aplicação de toda e qualquer
(Redação dada pela Lei nº 12.010, de norma contida nesta Lei deve ser voltada à
2009) Vigência proteção integral e prioritária dos direitos
de que crianças e adolescentes são
Título II titulares; (Incluído pela Lei nº 12.010, de
2009) Vigência
Das Medidas de Proteção
III - responsabilidade primária e
Capítulo I solidária do poder público: a plena
efetivação dos direitos assegurados a
Disposições Gerais crianças e a adolescentes por esta Lei e pela
Constituição Federal, salvo nos casos por
Art. 98. As medidas de proteção à esta expressamente ressalvados, é de
criança e ao adolescente são aplicáveis responsabilidade primária e solidária das 3
sempre que os direitos reconhecidos nesta (três) esferas de governo, sem prejuízo da
Lei forem ameaçados ou violados: municipalização do atendimento e da
possibilidade da execução de programas por
I - por ação ou omissão da sociedade entidades não governamentais; (Incluído
ou do Estado; pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

II - por falta, omissão ou abuso dos IV - interesse superior da criança e do


pais ou responsável; adolescente: a intervenção deve atender
prioritariamente aos interesses e direitos da
III - em razão de sua conduta. criança e do adolescente, sem prejuízo da
consideração que for devida a outros
interesses legítimos no âmbito da
Capítulo II

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
pluralidade dos interesses presentes no caso devem ser informados dos seus direitos, dos
concreto; (Incluído pela Lei nº 12.010, de motivos que determinaram a intervenção e
2009) Vigência da forma como esta se processa; (Incluído
pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
V - privacidade: a promoção dos
direitos e proteção da criança e do XII - oitiva obrigatória e participação:
adolescente deve ser efetuada no respeito a criança e o adolescente, em separado ou
pela intimidade, direito à imagem e reserva na companhia dos pais, de responsável ou
da sua vida privada; (Incluído pela Lei nº de pessoa por si indicada, bem como os
12.010, de 2009) Vigência seus pais ou responsável, têm direito a ser
ouvidos e a participar nos atos e na
VI - intervenção precoce: a definição da medida de promoção dos
intervenção das autoridades competentes direitos e de proteção, sendo sua opinião
deve ser efetuada logo que a situação de devidamente considerada pela autoridade
perigo seja conhecida; (Incluído pela Lei nº judiciária competente, observado o disposto
12.010, de 2009) Vigência nos §§ 1o e 2o do art. 28 desta Lei. (Incluído
pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
VII - intervenção mínima: a
intervenção deve ser exercida Art. 101. Verificada qualquer das
exclusivamente pelas autoridades e hipóteses previstas no art. 98, a autoridade
instituições cuja ação seja indispensável à competente poderá determinar, dentre
efetiva promoção dos direitos e à proteção outras, as seguintes medidas:
da criança e do adolescente; (Incluído pela
Lei nº 12.010, de 2009) Vigência I - encaminhamento aos pais ou
responsável, mediante termo de
VIII - proporcionalidade e atualidade: responsabilidade;
a intervenção deve ser a necessária e
adequada à situação de perigo em que a II - orientação, apoio e
criança ou o adolescente se encontram no acompanhamento temporários;
momento em que a decisão é
tomada; (Incluído pela Lei nº 12.010, de III - matrícula e freqüência
2009) Vigência obrigatórias em estabelecimento oficial de
ensino fundamental;
IX - responsabilidade parental: a
intervenção deve ser efetuada de modo que IV - inclusão em programa
os pais assumam os seus deveres para com comunitário ou oficial de auxílio à família,
a criança e o adolescente; (Incluído pela Lei à criança e ao adolescente;
nº 12.010, de 2009) Vigência
V - requisição de tratamento médico,
X - prevalência da família: na psicológico ou psiquiátrico, em regime
promoção de direitos e na proteção da hospitalar ou ambulatorial;
criança e do adolescente deve ser dada
prevalência às medidas que os mantenham VI - inclusão em programa oficial ou
ou reintegrem na sua família natural ou comunitário de auxílio, orientação e
extensa ou, se isto não for possível, que tratamento a alcoólatras e toxicômanos;
promovam a sua integração em família
substituta; (Incluído pela Lei nº 12.010, de VII - abrigo em entidade;
2009) Vigência VIII - colocação em família
substituta.
XI - obrigatoriedade da informação: a Parágrafo único. O abrigo é medida
criança e o adolescente, respeitado seu provisória e excepcional, utilizável como
estágio de desenvolvimento e capacidade de forma de transição para a colocação em
compreensão, seus pais ou responsável

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
família substituta, não implicando privação II - o endereço de residência dos pais
de liberdade. ou do responsável, com pontos de
referência; (Incluído pela Lei nº 12.010, de
VII - acolhimento institucional; 2009) Vigência
(Redação dada pela Lei nº 12.010, de
2009) Vigência III - os nomes de parentes ou de
terceiros interessados em tê-los sob sua
VIII - inclusão em programa de guarda; (Incluído pela Lei nº 12.010, de
acolhimento familiar; (Redação dada pela 2009) Vigência
Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
IV - os motivos da retirada ou da não
IX - colocação em família reintegração ao convívio familiar. (Incluído
substituta. (Incluído pela Lei nº 12.010, de pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
2009) Vigência
§ 4o Imediatamente após o
o
§ 1 O acolhimento institucional e o acolhimento da criança ou do adolescente, a
acolhimento familiar são medidas entidade responsável pelo programa de
provisórias e excepcionais, utilizáveis como acolhimento institucional ou familiar
forma de transição para reintegração elaborará um plano individual de
familiar ou, não sendo esta possível, para atendimento, visando à reintegração
colocação em família substituta, não familiar, ressalvada a existência de ordem
implicando privação de liberdade. (Incluído escrita e fundamentada em contrário de
pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência autoridade judiciária competente, caso em
que também deverá contemplar sua
§ 2o Sem prejuízo da tomada de colocação em família substituta, observadas
medidas emergenciais para proteção de as regras e princípios desta Lei. (Incluído
vítimas de violência ou abuso sexual e das pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
providências a que alude o art. 130 desta
Lei, o afastamento da criança ou § 5o O plano individual será elaborado
adolescente do convívio familiar é de sob a responsabilidade da equipe técnica do
competência exclusiva da autoridade respectivo programa de atendimento e
judiciária e importará na deflagração, a levará em consideração a opinião da criança
pedido do Ministério Público ou de quem ou do adolescente e a oitiva dos pais ou do
tenha legítimo interesse, de procedimento responsável. (Incluído pela Lei nº 12.010,
judicial contencioso, no qual se garanta aos de 2009) Vigência
pais ou ao responsável legal o exercício do
contraditório e da ampla defesa.(Incluído § 6o Constarão do plano individual,
pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência dentre outros: (Incluído pela Lei nº 12.010,
de 2009) Vigência
§ 3o Crianças e adolescentes somente
poderão ser encaminhados às instituições I - os resultados da avaliação
que executam programas de acolhimento interdisciplinar; (Incluído pela Lei nº
institucional, governamentais ou não, por 12.010, de 2009) Vigência
meio de uma Guia de Acolhimento,
expedida pela autoridade judiciária, na qual II - os compromissos assumidos pelos
obrigatoriamente constará, dentre pais ou responsável; e (Incluído pela Lei nº
outros: (Incluído pela Lei nº 12.010, de 12.010, de 2009) Vigência
2009) Vigência
III - a previsão das atividades a serem
I - sua identificação e a qualificação desenvolvidas com a criança ou com o
completa de seus pais ou de seu adolescente acolhido e seus pais ou
responsável, se conhecidos; (Incluído pela responsável, com vista na reintegração
Lei nº 12.010, de 2009) Vigência familiar ou, caso seja esta vedada por

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
expressa e fundamentada determinação demanda. (Incluído pela Lei nº 12.010, de
judicial, as providências a serem tomadas 2009) Vigência
para sua colocação em família substituta,
sob direta supervisão da autoridade § 11. A autoridade judiciária manterá,
judiciária. (Incluído pela Lei nº 12.010, de em cada comarca ou foro regional, um
2009) Vigência cadastro contendo informações atualizadas
sobre as crianças e adolescentes em regime
§ 7o O acolhimento familiar ou de acolhimento familiar e institucional sob
institucional ocorrerá no local mais sua responsabilidade, com informações
próximo à residência dos pais ou do pormenorizadas sobre a situação jurídica de
responsável e, como parte do processo de cada um, bem como as providências
reintegração familiar, sempre que tomadas para sua reintegração familiar ou
identificada a necessidade, a família de colocação em família substituta, em
origem será incluída em programas oficiais qualquer das modalidades previstas no art.
de orientação, de apoio e de promoção 28 desta Lei. (Incluído pela Lei nº 12.010,
social, sendo facilitado e estimulado o de 2009) Vigência
contato com a criança ou com o adolescente
acolhido. (Incluído pela Lei nº 12.010, de § 12. Terão acesso ao cadastro o
2009) Vigência Ministério Público, o Conselho Tutelar, o
órgão gestor da Assistência Social e os
§ 8o Verificada a possibilidade de Conselhos Municipais dos Direitos da
reintegração familiar, o responsável pelo Criança e do Adolescente e da Assistência
programa de acolhimento familiar ou Social, aos quais incumbe deliberar sobre a
institucional fará imediata comunicação à implementação de políticas públicas que
autoridade judiciária, que dará vista ao permitam reduzir o número de crianças e
Ministério Público, pelo prazo de 5 (cinco) adolescentes afastados do convívio familiar
dias, decidindo em igual prazo. (Incluído e abreviar o período de permanência em
pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência programa de acolhimento.(Incluído pela Lei
nº 12.010, de 2009) Vigência
§ 9o Em sendo constatada a
impossibilidade de reintegração da criança Art. 102. As medidas de proteção de
ou do adolescente à família de origem, após que trata este Capítulo serão acompanhadas
seu encaminhamento a programas oficiais da regularização do registro civil. (Vide Lei
ou comunitários de orientação, apoio e nº 12.010, de 2009) Vigência
promoção social, será enviado relatório
fundamentado ao Ministério Público, no § 1º Verificada a inexistência de
qual conste a descrição pormenorizada das registro anterior, o assento de nascimento
providências tomadas e a expressa da criança ou adolescente será feito à vista
recomendação, subscrita pelos técnicos da dos elementos disponíveis, mediante
entidade ou responsáveis pela execução da requisição da autoridade judiciária.
política municipal de garantia do direito à
convivência familiar, para a destituição do § 2º Os registros e certidões
poder familiar, ou destituição de tutela ou necessários à regularização de que trata este
guarda. (Incluído pela Lei nº 12.010, de artigo são isentos de multas, custas e
2009) Vigência emolumentos, gozando de absoluta
prioridade.
§ 10. Recebido o relatório, o
Ministério Público terá o prazo de 30 § 3o Caso ainda não definida a
(trinta) dias para o ingresso com a ação de paternidade, será deflagrado procedimento
destituição do poder familiar, salvo se específico destinado à sua averiguação,
entender necessária a realização de estudos conforme previsto pela Lei no 8.560, de 29
complementares ou outras providências que de dezembro de 1992. (Incluído pela Lei nº
entender indispensáveis ao ajuizamento da 12.010, de 2009) Vigência

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
§ 4o Nas hipóteses previstas no § 3o autoridade judiciária competente e à família
deste artigo, é dispensável o ajuizamento de do apreendido ou à pessoa por ele indicada.
ação de investigação de paternidade pelo
Ministério Público se, após o não Parágrafo único. Examinar-se-á,
comparecimento ou a recusa do suposto pai desde logo e sob pena de responsabilidade,
em assumir a paternidade a ele atribuída, a a possibilidade de liberação imediata.
criança for encaminhada para adoção.
(Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Art. 108. A internação, antes da
Vigência sentença, pode ser determinada pelo prazo
máximo de quarenta e cinco dias.
Título III
Parágrafo único. A decisão deverá ser
Da Prática de Ato Infracional fundamentada e basear-se em indícios
suficientes de autoria e materialidade,
Capítulo I demonstrada a necessidade imperiosa da
medida.
Disposições Gerais
Art. 109. O adolescente civilmente
Art. 103. Considera-se ato infracional identificado não será submetido a
a conduta descrita como crime ou identificação compulsória pelos órgãos
contravenção penal. policiais, de proteção e judiciais, salvo para
efeito de confrontação, havendo dúvida
Art. 104. São penalmente fundada.
inimputáveis os menores de dezoito anos,
sujeitos às medidas previstas nesta Lei. Capítulo III

Parágrafo único. Para os efeitos desta Das Garantias Processuais


Lei, deve ser considerada a idade do
adolescente à data do fato. Art. 110. Nenhum adolescente será
privado de sua liberdade sem o devido
Art. 105. Ao ato infracional praticado processo legal.
por criança corresponderão as medidas
previstas no art. 101. Art. 111. São asseguradas ao
adolescente, entre outras, as seguintes
Capítulo II garantias:

Dos Direitos Individuais I - pleno e formal conhecimento da


atribuição de ato infracional, mediante
Art. 106. Nenhum adolescente será citação ou meio equivalente;
privado de sua liberdade senão em flagrante
de ato infracional ou por ordem escrita e II - igualdade na relação processual,
fundamentada da autoridade judiciária podendo confrontar-se com vítimas e
competente. testemunhas e produzir todas as provas
necessárias à sua defesa;
Parágrafo único. O adolescente tem
direito à identificação dos responsáveis pela III - defesa técnica por advogado;
sua apreensão, devendo ser informado
acerca de seus direitos. IV - assistência judiciária gratuita e
integral aos necessitados, na forma da lei;
Art. 107. A apreensão de qualquer
adolescente e o local onde se encontra V - direito de ser ouvido
recolhido serão incontinenti comunicados à pessoalmente pela autoridade competente;

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
VI - direito de solicitar a presença de Art. 114. A imposição das medidas
seus pais ou responsável em qualquer fase previstas nos incisos II a VI do art. 112
do procedimento. pressupõe a existência de provas suficientes
da autoria e da materialidade da infração,
Capítulo IV ressalvada a hipótese de remissão, nos
termos do art. 127.
Das Medidas Sócio-Educativas
Parágrafo único. A advertência
Seção I poderá ser aplicada sempre que houver
prova da materialidade e indícios
Disposições Gerais suficientes da autoria.

Art. 112. Verificada a prática de ato Seção II


infracional, a autoridade competente poderá
aplicar ao adolescente as seguintes Da Advertência
medidas:
Art. 115. A advertência consistirá em
I - advertência; admoestação verbal, que será reduzida a
termo e assinada.
II - obrigação de reparar o dano;
Seção III
III - prestação de serviços à
comunidade; Da Obrigação de Reparar o Dano

IV - liberdade assistida; Art. 116. Em se tratando de ato


infracional com reflexos patrimoniais, a
V - inserção em regime de semi- autoridade poderá determinar, se for o caso,
liberdade; que o adolescente restitua a coisa, promova
o ressarcimento do dano, ou, por outra
VI - internação em estabelecimento forma, compense o prejuízo da vítima.
educacional;
Parágrafo único. Havendo manifesta
VII - qualquer uma das previstas no impossibilidade, a medida poderá ser
art. 101, I a VI. substituída por outra adequada.

§ 1º A medida aplicada ao Seção IV


adolescente levará em conta a sua
capacidade de cumpri-la, as circunstâncias e Da Prestação de Serviços à Comunidade
a gravidade da infração.
Art. 117. A prestação de serviços
§ 2º Em hipótese alguma e sob comunitários consiste na realização de
pretexto algum, será admitida a prestação tarefas gratuitas de interesse geral, por
de trabalho forçado. período não excedente a seis meses, junto a
entidades assistenciais, hospitais, escolas e
§ 3º Os adolescentes portadores de outros estabelecimentos congêneres, bem
doença ou deficiência mental receberão como em programas comunitários ou
tratamento individual e especializado, em governamentais.
local adequado às suas condições.
Parágrafo único. As tarefas serão
Art. 113. Aplica-se a este Capítulo o atribuídas conforme as aptidões do
adolescente, devendo ser cumpridas durante
disposto nos arts. 99 e 100.
jornada máxima de oito horas semanais, aos
sábados, domingos e feriados ou em dias

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
úteis, de modo a não prejudicar a aberto, possibilitada a realização de
freqüência à escola ou à jornada normal de atividades externas, independentemente de
trabalho. autorização judicial.

Seção V § 1º São obrigatórias a escolarização


e a profissionalização, devendo, sempre que
Da Liberdade Assistida possível, ser utilizados os recursos
existentes na comunidade.
Art. 118. A liberdade assistida será
adotada sempre que se afigurar a medida § 2º A medida não comporta prazo
mais adequada para o fim de acompanhar, determinado aplicando-se, no que couber,
auxiliar e orientar o adolescente. as disposições relativas à internação.

§ 1º A autoridade designará pessoa Seção VII


capacitada para acompanhar o caso, a qual
poderá ser recomendada por entidade ou Da Internação
programa de atendimento.
Art. 121. A internação constitui
§ 2º A liberdade assistida será fixada medida privativa da liberdade, sujeita aos
pelo prazo mínimo de seis meses, podendo princípios de brevidade, excepcionalidade e
a qualquer tempo ser prorrogada, revogada respeito à condição peculiar de pessoa em
ou substituída por outra medida, ouvido o desenvolvimento.
orientador, o Ministério Público e o
defensor. § 1º Será permitida a realização de
atividades externas, a critério da equipe
Art. 119. Incumbe ao orientador, com técnica da entidade, salvo expressa
o apoio e a supervisão da autoridade determinação judicial em contrário.
competente, a realização dos seguintes
encargos, entre outros: § 2º A medida não comporta prazo
determinado, devendo sua manutenção ser
I - promover socialmente o reavaliada, mediante decisão fundamentada,
adolescente e sua família, fornecendo-lhes no máximo a cada seis meses.
orientação e inserindo-os, se necessário, em
programa oficial ou comunitário de auxílio § 3º Em nenhuma hipótese o período
e assistência social; máximo de internação excederá a três anos.

II - supervisionar a freqüência e o § 4º Atingido o limite estabelecido no


aproveitamento escolar do adolescente, parágrafo anterior, o adolescente deverá ser
promovendo, inclusive, sua matrícula; liberado, colocado em regime de semi-
liberdade ou de liberdade assistida.
III - diligenciar no sentido da
profissionalização do adolescente e de sua § 5º A liberação será compulsória aos
inserção no mercado de trabalho; vinte e um anos de idade.

IV - apresentar relatório do caso. § 6º Em qualquer hipótese a


desinternação será precedida de autorização
Seção VI judicial, ouvido o Ministério Público.

Do Regime de Semi-liberdade Art. 122. A medida de internação só


poderá ser aplicada quando:
Art. 120. O regime de semi-liberdade
pode ser determinado desde o início, ou
como forma de transição para o meio

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
I - tratar-se de ato infracional VII - receber visitas, ao menos,
cometido mediante grave ameaça ou semanalmente;
violência a pessoa;
VIII - corresponder-se com seus
II - por reiteração no cometimento de familiares e amigos;
outras infrações graves;
IX - ter acesso aos objetos
III - por descumprimento reiterado e necessários à higiene e asseio pessoal;
injustificável da medida anteriormente
imposta. X - habitar alojamento em condições
adequadas de higiene e salubridade;
§ 1º O prazo de internação na
hipótese do inciso III deste artigo não XI - receber escolarização e
poderá ser superior a três meses. profissionalização;

§ 2º. Em nenhuma hipótese será XII - realizar atividades culturais,


aplicada a internação, havendo outra esportivas e de lazer:
medida adequada.
XIII - ter acesso aos meios de
Art. 123. A internação deverá ser comunicação social;
cumprida em entidade exclusiva para
adolescentes, em local distinto daquele XIV - receber assistência religiosa,
destinado ao abrigo, obedecida rigorosa segundo a sua crença, e desde que assim o
separação por critérios de idade, deseje;
compleição física e gravidade da infração.
XV - manter a posse de seus objetos
Parágrafo único. Durante o período pessoais e dispor de local seguro para
de internação, inclusive provisória, serão guardá-los, recebendo comprovante
obrigatórias atividades pedagógicas. daqueles porventura depositados em poder
da entidade;
Art. 124. São direitos do adolescente
privado de liberdade, entre outros, os XVI - receber, quando de sua
seguintes: desinternação, os documentos pessoais
indispensáveis à vida em sociedade.
I - entrevistar-se pessoalmente com o
representante do Ministério Público; § 1º Em nenhum caso haverá
incomunicabilidade.
II - peticionar diretamente a qualquer
autoridade; § 2º A autoridade judiciária poderá
suspender temporariamente a visita,
III - avistar-se reservadamente com inclusive de pais ou responsável, se
seu defensor; existirem motivos sérios e fundados de sua
prejudicialidade aos interesses do
IV - ser informado de sua situação adolescente.
processual, sempre que solicitada;
Art. 125. É dever do Estado zelar pela
V - ser tratado com respeito e integridade física e mental dos internos,
dignidade; cabendo-lhe adotar as medidas adequadas
de contenção e segurança.
VI - permanecer internado na mesma
localidade ou naquela mais próxima ao Capítulo V
domicílio de seus pais ou responsável;
Da Remissão

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
Art. 126. Antes de iniciado o V - obrigação de matricular o filho ou
procedimento judicial para apuração de ato pupilo e acompanhar sua freqüência e
infracional, o representante do Ministério aproveitamento escolar;
Público poderá conceder a remissão, como
forma de exclusão do processo, atendendo VI - obrigação de encaminhar a
às circunstâncias e conseqüências do fato, criança ou adolescente a tratamento
ao contexto social, bem como à especializado;
personalidade do adolescente e sua maior
ou menor participação no ato infracional. VII - advertência;

Parágrafo único. Iniciado o VIII - perda da guarda;


procedimento, a concessão da remissão pela
autoridade judiciária importará na IX - destituição da tutela;
suspensão ou extinção do processo.
X - suspensão ou destituição do pátrio
Art. 127. A remissão não implica poder poder familiar. (Expressão
necessariamente o reconhecimento ou substituída pela Lei nº 12.010, de 2009)
comprovação da responsabilidade, nem Vigência
prevalece para efeito de antecedentes,
podendo incluir eventualmente a aplicação
Parágrafo único. Na aplicação das
de qualquer das medidas previstas em lei, medidas previstas nos incisos IX e X deste
exceto a colocação em regime de semi- artigo, observar-se-á o disposto nos arts. 23
liberdade e a internação.
e 24.
Art. 128. A medida aplicada por força Art. 130. Verificada a hipótese de
da remissão poderá ser revista maus-tratos, opressão ou abuso sexual
judicialmente, a qualquer tempo, mediante impostos pelos pais ou responsável, a
pedido expresso do adolescente ou de seu autoridade judiciária poderá determinar,
representante legal, ou do Ministério
como medida cautelar, o afastamento do
Público.
agressor da moradia comum.
Título IV
Título V
Das Medidas Pertinentes aos Pais ou
Do Conselho Tutelar
Responsável
Capítulo I
Art. 129. São medidas aplicáveis aos
pais ou responsável:
Disposições Gerais
I - encaminhamento a programa
Art. 131. O Conselho Tutelar é órgão
oficial ou comunitário de proteção à
permanente e autônomo, não jurisdicional,
família;
encarregado pela sociedade de zelar pelo
cumprimento dos direitos da criança e do
II - inclusão em programa oficial ou
adolescente, definidos nesta Lei.
comunitário de auxílio, orientação e
tratamento a alcoólatras e toxicômanos;
Art. 132. Em cada Município haverá,
no mínimo, um Conselho Tutelar composto
III - encaminhamento a tratamento
de cinco membros, eleitos pelos cidadãos
psicológico ou psiquiátrico; locais para mandato de três anos, permitida
uma reeleição.
IV - encaminhamento a cursos ou
programas de orientação; Art. 132. Em cada Município haverá,
no mínimo, um Conselho Tutelar composto

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
de cinco membros, escolhidos pela a) requisitar serviços públicos nas
comunidade local para mandato de três áreas de saúde, educação, serviço social,
anos, permitida uma recondução. (Redação previdência, trabalho e segurança;
dada pela Lei nº 8.242, de 12.10.1991)
b) representar junto à autoridade
Art. 133. Para a candidatura a judiciária nos casos de descumprimento
membro do Conselho Tutelar, serão injustificado de suas deliberações.
exigidos os seguintes requisitos:
IV - encaminhar ao Ministério
I - reconhecida idoneidade moral; Público notícia de fato que constitua
infração administrativa ou penal contra os
II - idade superior a vinte e um anos; direitos da criança ou adolescente;

III - residir no município. V - encaminhar à autoridade


judiciária os casos de sua competência;
Art. 134. Lei municipal disporá sobre
local, dia e horário de funcionamento do VI - providenciar a medida
Conselho Tutelar, inclusive quanto a estabelecida pela autoridade judiciária,
eventual remuneração de seus membros. dentre as previstas no art. 101, de I a VI,
para o adolescente autor de ato infracional;
Parágrafo único. Constará da lei
orçamentária municipal previsão dos VII - expedir notificações;
recursos necessários ao funcionamento do
Conselho Tutelar. VIII - requisitar certidões de
nascimento e de óbito de criança ou
Art. 135. O exercício efetivo da adolescente quando necessário;
função de conselheiro constituirá serviço
público relevante, estabelecerá presunção IX - assessorar o Poder Executivo
de idoneidade moral e assegurará prisão local na elaboração da proposta
especial, em caso de crime comum, até o orçamentária para planos e programas de
julgamento definitivo. atendimento dos direitos da criança e do
adolescente;
Capítulo II
X - representar, em nome da pessoa e
Das Atribuições do Conselho da família, contra a violação dos direitos
previstos no art. 220, § 3º, inciso II, da
Art. 136. São atribuições do Conselho Constituição Federal;
Tutelar:
XI - representar ao Ministério
I - atender as crianças e adolescentes Público, para efeito das ações de perda ou
nas hipóteses previstas nos arts. 98 e 105, suspensão do pátrio poder.
aplicando as medidas previstas no art. 101,
I a VII; XI - representar ao Ministério Público
para efeito das ações de perda ou suspensão
II - atender e aconselhar os pais ou do poder familiar, após esgotadas as
responsável, aplicando as medidas previstas possibilidades de manutenção da criança ou
no art. 129, I a VII; do adolescente junto à família
natural. (Redação dada pela Lei nº 12.010,
III - promover a execução de suas de 2009) Vigência
decisões, podendo para tanto:
Parágrafo único. Se, no exercício de
suas atribuições, o Conselho Tutelar
entender necessário o afastamento do

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
convívio familiar, comunicará incontinenti deste artigo, em relação à autoridade
o fato ao Ministério Público, prestando-lhe judiciária e ao representante do Ministério
informações sobre os motivos de tal Público com atuação na Justiça da Infância
entendimento e as providências tomadas e da Juventude, em exercício na comarca,
para a orientação, o apoio e a promoção foro regional ou distrital.
social da família. (Incluído pela Lei nº
12.010, de 2009) Vigência Título VI

Art. 137. As decisões do Conselho Do Acesso à Justiça


Tutelar somente poderão ser revistas pela
autoridade judiciária a pedido de quem Capítulo I
tenha legítimo interesse.
Disposições Gerais
Capítulo III
Art. 141. É garantido o acesso de toda
Da Competência criança ou adolescente à Defensoria
Pública, ao Ministério Público e ao Poder
Art. 138. Aplica-se ao Conselho Judiciário, por qualquer de seus órgãos.
Tutelar a regra de competência constante do
art. 147. § 1º. A assistência judiciária gratuita
será prestada aos que dela necessitarem,
Capítulo IV através de defensor público ou advogado
nomeado.
Da Escolha dos Conselheiros
§ 2º As ações judiciais da
Art. 139. O processo eleitoral para a competência da Justiça da Infância e da
escolha dos membros do Conselho Tutelar Juventude são isentas de custas e
será estabelecido em Lei Municipal e emolumentos, ressalvada a hipótese de
realizado sob a presidência de Juiz eleitoral litigância de má-fé.
e a fiscalização do Ministério Público.
Art. 142. Os menores de dezesseis
Art. 139. O processo para a escolha anos serão representados e os maiores de
dos membros do Conselho Tutelar será dezesseis e menores de vinte e um anos
estabelecido em lei municipal e realizado assistidos por seus pais, tutores ou
sob a responsabilidade do Conselho curadores, na forma da legislação civil ou
Municipal dos Direitos da Criança e do processual.
Adolescente, e a fiscalização do Ministério
Público. (Redação dada pela Lei nº 8.242, Parágrafo único. A autoridade
de 12.10.1991) judiciária dará curador especial à criança ou
adolescente, sempre que os interesses
Capítulo V destes colidirem com os de seus pais ou
responsável, ou quando carecer de
Dos Impedimentos representação ou assistência legal ainda que
eventual.
Art. 140. São impedidos de servir no
mesmo Conselho marido e mulher, Art. 143. E vedada a divulgação de
ascendentes e descendentes, sogro e genro atos judiciais, policiais e administrativos
ou nora, irmãos, cunhados, durante o que digam respeito a crianças e
cunhadio, tio e sobrinho, padrasto ou adolescentes a que se atribua autoria de ato
madrasta e enteado. infracional.

Parágrafo único. Estende-se o Parágrafo único. Qualquer notícia a


impedimento do conselheiro, na forma respeito do fato não poderá identificar a

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
criança ou adolescente, vedando-se II - pelo lugar onde se encontre a
fotografia, referência a nome, apelido, criança ou adolescente, à falta dos pais ou
filiação, parentesco e residência. responsável.

Parágrafo único. Qualquer notícia a § 1º. Nos casos de ato infracional,


respeito do fato não poderá identificar a será competente a autoridade do lugar da
criança ou adolescente, vedando-se ação ou omissão, observadas as regras de
fotografia, referência a nome, apelido, conexão, continência e prevenção.
filiação, parentesco, residência e, inclusive,
iniciais do nome e sobrenome. (Redação § 2º A execução das medidas poderá
dada pela Lei nº 10.764, de 12.11.2003) ser delegada à autoridade competente da
residência dos pais ou responsável, ou do
Art. 144. A expedição de cópia ou local onde sediar-se a entidade que abrigar
certidão de atos a que se refere o artigo a criança ou adolescente.
anterior somente será deferida pela
autoridade judiciária competente, se § 3º Em caso de infração cometida
demonstrado o interesse e justificada a através de transmissão simultânea de rádio
finalidade. ou televisão, que atinja mais de uma
comarca, será competente, para aplicação
Capítulo II da penalidade, a autoridade judiciária do
local da sede estadual da emissora ou rede,
Da Justiça da Infância e da Juventude tendo a sentença eficácia para todas as
transmissoras ou retransmissoras do
Seção I respectivo estado.

Disposições Gerais Art. 148. A Justiça da Infância e da


Juventude é competente para:
Art. 145. Os estados e o Distrito
Federal poderão criar varas especializadas e I - conhecer de representações
exclusivas da infância e da juventude, promovidas pelo Ministério Público, para
cabendo ao Poder Judiciário estabelecer sua apuração de ato infracional atribuído a
proporcionalidade por número de adolescente, aplicando as medidas cabíveis;
habitantes, dotá-las de infra-estrutura e
dispor sobre o atendimento, inclusive em II - conceder a remissão, como forma
plantões. de suspensão ou extinção do processo;

Seção II III - conhecer de pedidos de adoção e


seus incidentes;
Do Juiz
IV - conhecer de ações civis fundadas
Art. 146. A autoridade a que se refere em interesses individuais, difusos ou
esta Lei é o Juiz da Infância e da Juventude, coletivos afetos à criança e ao adolescente,
ou o juiz que exerce essa função, na forma observado o disposto no art. 209;
da lei de organização judiciária local.
V - conhecer de ações decorrentes de
Art. 147. A competência será irregularidades em entidades de
determinada: atendimento, aplicando as medidas
cabíveis;
I - pelo domicílio dos pais ou
responsável; VI - aplicar penalidades
administrativas nos casos de infrações
contra norma de proteção à criança ou
adolescente;

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
VII - conhecer de casos b) bailes ou promoções dançantes;
encaminhados pelo Conselho Tutelar,
aplicando as medidas cabíveis. c) boate ou congêneres;

Parágrafo único. Quando se tratar de d) casa que explore comercialmente


criança ou adolescente nas hipóteses do art. diversões eletrônicas;
98, é também competente a Justiça da
Infância e da Juventude para o fim de: e) estúdios cinematográficos, de
teatro, rádio e televisão.
a) conhecer de pedidos de guarda e
tutela; II - a participação de criança e
adolescente em:
b) conhecer de ações de destituição
do pátrio poder poder familiar, perda ou a) espetáculos públicos e seus
modificação da tutela ou guarda; ensaios;
(Expressão substituída pela Lei nº 12.010,
de 2009) Vigência b) certames de beleza.

c) suprir a capacidade ou o § 1º Para os fins do disposto neste


consentimento para o casamento; artigo, a autoridade judiciária levará em
conta, dentre outros fatores:
d) conhecer de pedidos baseados em
discordância paterna ou materna, em a) os princípios desta Lei;
relação ao exercício do pátrio poder poder
familiar; (Expressão substituída pela Lei nº
b) as peculiaridades locais;
12.010, de 2009) Vigência
c) a existência de instalações
e) conceder a emancipação, nos
adequadas;
termos da lei civil, quando faltarem os pais;
d) o tipo de freqüência habitual ao
f) designar curador especial em casos
local;
de apresentação de queixa ou representação,
ou de outros procedimentos judiciais ou
e) a adequação do ambiente a
extrajudiciais em que haja interesses de
eventual participação ou freqüência de
criança ou adolescente;
crianças e adolescentes;
g) conhecer de ações de alimentos;
f) a natureza do espetáculo.
h) determinar o cancelamento, a
§ 2º As medidas adotadas na
retificação e o suprimento dos registros de
conformidade deste artigo deverão ser
nascimento e óbito.
fundamentadas, caso a caso, vedadas as
determinações de caráter geral.
Art. 149. Compete à autoridade
judiciária disciplinar, através de portaria, ou
Seção III
autorizar, mediante alvará:
Dos Serviços Auxiliares
I - a entrada e permanência de criança
ou adolescente, desacompanhado dos pais
ou responsável, em: Art. 150. Cabe ao Poder Judiciário, na
elaboração de sua proposta orçamentária,
prever recursos para manutenção de equipe
a) estádio, ginásio e campo
interprofissional, destinada a assessorar a
desportivo;
Justiça da Infância e da Juventude.

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
Art. 151. Compete à equipe Da Perda e da Suspensão do Pátrio Poder
interprofissional dentre outras atribuições Poder Familiar
que lhe forem reservadas pela legislação (Expressão substituída pela Lei nº 12.010,
local, fornecer subsídios por escrito, de 2009) Vigência
mediante laudos, ou verbalmente, na
audiência, e bem assim desenvolver Art. 155. O procedimento para a
trabalhos de aconselhamento, orientação, perda ou a suspensão do pátrio poder poder
encaminhamento, prevenção e outros, tudo familiar terá início por provocação do
sob a imediata subordinação à autoridade Ministério Público ou de quem tenha
judiciária, assegurada a livre manifestação legítimo interesse. (Expressão substituída
do ponto de vista técnico. pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

Capítulo III Art. 156. A petição inicial indicará:

Dos Procedimentos I - a autoridade judiciária a que for


dirigida;
Seção I
II - o nome, o estado civil, a profissão
Disposições Gerais e a residência do requerente e do requerido,
dispensada a qualificação em se tratando de
Art. 152. Aos procedimentos pedido formulado por representante do
regulados nesta Lei aplicam-se Ministério Público;
subsidiariamente as normas gerais previstas
na legislação processual pertinente. III - a exposição sumária do fato e o
pedido;
Parágrafo único. É assegurada, sob
pena de responsabilidade, prioridade IV - as provas que serão produzidas,
absoluta na tramitação dos processos e oferecendo, desde logo, o rol de
procedimentos previstos nesta Lei, assim testemunhas e documentos.
como na execução dos atos e diligências
judiciais a eles referentes. (Incluído pela Art. 157. Havendo motivo grave,
Lei nº 12.010, de 2009) Vigência poderá a autoridade judiciária, ouvido o
Ministério Público, decretar a suspensão do
Art. 153. Se a medida judicial a ser pátrio poder poder familiar, liminar ou
adotada não corresponder a procedimento incidentalmente, até o julgamento definitivo
previsto nesta ou em outra lei, a autoridade da causa, ficando a criança ou adolescente
judiciária poderá investigar os fatos e confiado a pessoa idônea, mediante termo
ordenar de ofício as providências de responsabilidade. (Expressão substituída
necessárias, ouvido o Ministério Público. pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência

Parágrafo único. O disposto neste Art. 158. O requerido será citado


artigo não se aplica para o fim de para, no prazo de dez dias, oferecer resposta
afastamento da criança ou do adolescente escrita, indicando as provas a serem
de sua família de origem e em outros produzidas e oferecendo desde logo o rol de
procedimentos necessariamente testemunhas e documentos.
contenciosos. (Incluído pela Lei nº 12.010,
de 2009) Vigência Parágrafo único. Deverão ser
esgotados todos os meios para a citação
Art. 154. Aplica-se às multas o pessoal.
disposto no art. 214.
Art. 159. Se o requerido não tiver
Seção II possibilidade de constituir advogado, sem
prejuízo do próprio sustento e de sua

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
família, poderá requerer, em cartório, que § 3o Se o pedido importar em
lhe seja nomeado dativo, ao qual incumbirá modificação de guarda, será obrigatória,
a apresentação de resposta, contando-se o desde que possível e razoável, a oitiva da
prazo a partir da intimação do despacho de criança ou adolescente, respeitado seu
nomeação. estágio de desenvolvimento e grau de
compreensão sobre as implicações da
Art. 160. Sendo necessário, a medida. (Incluído pela Lei nº 12.010, de
autoridade judiciária requisitará de qualquer 2009) Vigência
repartição ou órgão público a apresentação
de documento que interesse à causa, de § 4o É obrigatória a oitiva dos pais
ofício ou a requerimento das partes ou do sempre que esses forem identificados e
Ministério Público. estiverem em local conhecido. (Incluído
pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
Art. 161. Não sendo contestado o
pedido, a autoridade judiciária dará vista Art. 162. Apresentada a resposta, a
dos autos ao Ministério Público, por cinco autoridade judiciária dará vista dos autos ao
dias, salvo quando este for o requerente, Ministério Público, por cinco dias, salvo
decidindo em igual prazo. quando este for o requerente, designando,
desde logo, audiência de instrução e
§ 1º Havendo necessidade, a julgamento.
autoridade judiciária poderá determinar a
realização de estudo social ou perícia por § 1º A requerimento de qualquer das
equipe interprofissional, bem como a oitiva partes, do Ministério Público, ou de ofício,
de testemunhas. a autoridade judiciária poderá determinar a
§ 2º Se o pedido importar em realização de estudo social ou, se possível,
modificação de guarda, será obrigatória, de perícia por equipe interprofissional.
desde que possível e razoável, a oitiva da
criança ou adolescente. § 2º Na audiência, presentes as partes
e o Ministério Público, serão ouvidas as
§ 1o A autoridade judiciária, de ofício testemunhas, colhendo-se oralmente o
ou a requerimento das partes ou do parecer técnico, salvo quando apresentado
Ministério Público, determinará a por escrito, manifestando-se
realização de estudo social ou perícia por sucessivamente o requerente, o requerido e
equipe interprofissional ou multidisciplinar, o Ministério Público, pelo tempo de vinte
bem como a oitiva de testemunhas que minutos cada um, prorrogável por mais dez.
comprovem a presença de uma das causas A decisão será proferida na audiência,
de suspensão ou destituição do poder podendo a autoridade judiciária,
familiar previstas nos arts. 1.637 e 1.638 da excepcionalmente, designar data para sua
Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002 - leitura no prazo máximo de cinco dias.
Código Civil, ou no art. 24 desta
Lei. (Redação dada pela Lei nº 12.010, de Art. 163. A sentença que decretar a
2009) Vigência perda ou a suspensão do pátrio poder poder
familiar será averbada à margem do registro
§ 2o Em sendo os pais oriundos de de nascimento da criança ou adolescente.
comunidades indígenas, é ainda obrigatória (Expressão substituída pela Lei nº 12.010,
a intervenção, junto à equipe profissional de 2009) Vigência
ou multidisciplinar referida no § 1o deste
artigo, de representantes do órgão federal Art. 163. O prazo máximo para
responsável pela política indigenista, conclusão do procedimento será de 120
observado o disposto no § 6o do art. 28 (cento e vinte) dias. (Redação dada pela Lei
desta Lei. (Redação dada pela Lei nº nº 12.010, de 2009) Vigência
12.010, de 2009) Vigência

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
Parágrafo único. A sentença que aderido expressamente ao pedido de
decretar a perda ou a suspensão do poder colocação em família substituta, este poderá
familiar será averbada à margem do registro ser formulado diretamente em cartório, em
de nascimento da criança ou do petição assinada pelos próprios requerentes.
adolescente. (Incluído pela Lei nº 12.010, (Expressão substituída pela Lei nº
de 2009) Vigência 12.010, de 2009) Vigência
Parágrafo único. Na hipótese de
Seção III concordância dos pais, eles serão ouvidos
pela autoridade judiciária e pelo
Da Destituição da Tutela representante do Ministério Público,
tomando-se por termo as declarações.
Art. 164. Na destituição da tutela,
observar-se-á o procedimento para a Art. 166. Se os pais forem falecidos,
remoção de tutor previsto na lei processual tiverem sido destituídos ou suspensos do
civil e, no que couber, o disposto na seção poder familiar, ou houverem aderido
anterior. expressamente ao pedido de colocação em
família substituta, este poderá ser
Seção IV formulado diretamente em cartório, em
petição assinada pelos próprios requerentes,
dispensada a assistência de
Da Colocação em Família Substituta
advogado. (Redação dada pela Lei nº
12.010, de 2009) Vigência
Art. 165. São requisitos para a
concessão de pedidos de colocação em
§ 1o Na hipótese de concordância dos
família substituta:
pais, esses serão ouvidos pela autoridade
judiciária e pelo representante do Ministério
I - qualificação completa do
Público, tomando-se por termo as
requerente e de seu eventual cônjuge, ou
declarações. (Incluído pela Lei nº 12.010,
companheiro, com expressa anuência deste;
de 2009) Vigência
II - indicação de eventual parentesco
§ 2o O consentimento dos titulares do
do requerente e de seu cônjuge, ou
poder familiar será precedido de
companheiro, com a criança ou adolescente,
orientações e esclarecimentos prestados
especificando se tem ou não parente vivo;
pela equipe interprofissional da Justiça da
Infância e da Juventude, em especial, no
III - qualificação completa da criança caso de adoção, sobre a irrevogabilidade da
ou adolescente e de seus pais, se medida. (Incluído pela Lei nº 12.010, de
conhecidos; 2009) Vigência
IV - indicação do cartório onde foi § 3o O consentimento dos titulares do
inscrito nascimento, anexando, se possível, poder familiar será colhido pela autoridade
uma cópia da respectiva certidão; judiciária competente em audiência,
presente o Ministério Público, garantida a
V - declaração sobre a existência de livre manifestação de vontade e esgotados
bens, direitos ou rendimentos relativos à os esforços para manutenção da criança ou
criança ou ao adolescente. do adolescente na família natural ou
extensa. (Incluído pela Lei nº 12.010, de
Parágrafo único. Em se tratando de 2009) Vigência
adoção, observar-se-ão também os
requisitos específicos. § 4o O consentimento prestado por
escrito não terá validade se não for
Art. 166. Se os pais forem falecidos, ratificado na audiência a que se refere o §
tiverem sido destituídos ou suspensos do 3o deste artigo. (Incluído pela Lei nº 12.010,
pátrio poder poder familiar, ou houverem de 2009) Vigência

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
§ 5o O consentimento é retratável até a Parágrafo único. A perda ou a
data da publicação da sentença constitutiva modificação da guarda poderá ser decretada
da adoção. (Incluído pela Lei nº 12.010, de nos mesmos autos do procedimento,
2009) Vigência observado o disposto no art. 35.

§ 6o O consentimento somente terá Art. 170. Concedida a guarda ou a


valor se for dado após o nascimento da tutela, observar-se-á o disposto no art. 32, e,
criança. (Incluído pela Lei nº 12.010, de quanto à adoção, o contido no art. 47.
2009) Vigência
Parágrafo único. A colocação de
§ 7o A família substituta receberá a criança ou adolescente sob a guarda de
devida orientação por intermédio de equipe pessoa inscrita em programa de
técnica interprofissional a serviço do Poder acolhimento familiar será comunicada pela
Judiciário, preferencialmente com apoio autoridade judiciária à entidade por este
dos técnicos responsáveis pela execução da responsável no prazo máximo de 5 (cinco)
política municipal de garantia do direito à dias. (Incluído pela Lei nº 12.010, de
convivência familiar. (Incluído pela Lei nº 2009) Vigência
12.010, de 2009) Vigência
Seção V
Art. 167. A autoridade judiciária, de
ofício ou a requerimento das partes ou do Da Apuração de Ato Infracional Atribuído
Ministério Público, determinará a a Adolescente
realização de estudo social ou, se possível,
perícia por equipe interprofissional, Art. 171. O adolescente apreendido
decidindo sobre a concessão de guarda por força de ordem judicial será, desde
provisória, bem como, no caso de adoção, logo, encaminhado à autoridade judiciária.
sobre o estágio de convivência.
Art. 172. O adolescente apreendido
Parágrafo único. Deferida a em flagrante de ato infracional será, desde
concessão da guarda provisória ou do logo, encaminhado à autoridade policial
estágio de convivência, a criança ou o competente.
adolescente será entregue ao interessado,
mediante termo de responsabilidade. Parágrafo único. Havendo repartição
(Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) policial especializada para atendimento de
Vigência adolescente e em se tratando de ato
infracional praticado em co-autoria com
Art. 168. Apresentado o relatório maior, prevalecerá a atribuição da
social ou o laudo pericial, e ouvida, sempre repartição especializada, que, após as
que possível, a criança ou o adolescente, providências necessárias e conforme o caso,
dar-se-á vista dos autos ao Ministério encaminhará o adulto à repartição policial
Público, pelo prazo de cinco dias, decidindo própria.
a autoridade judiciária em igual prazo.
Art. 173. Em caso de flagrante de ato
Art. 169. Nas hipóteses em que a infracional cometido mediante violência ou
destituição da tutela, a perda ou a suspensão grave ameaça a pessoa, a autoridade
do pátrio poder poder familiar constituir policial, sem prejuízo do disposto nos arts.
pressuposto lógico da medida principal de 106, parágrafo único, e 107, deverá:
colocação em família substituta, será
observado o procedimento contraditório I - lavrar auto de apreensão, ouvidos
previsto nas Seções II e III deste Capítulo. as testemunhas e o adolescente;
(Expressão substituída pela Lei nº 12.010,
de 2009) Vigência II - apreender o produto e os
instrumentos da infração;

ILUMINAR APOSTILAS DIGITAL Página 144


CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
III - requisitar os exames ou perícias Art. 177. Se, afastada a hipótese de
necessários à comprovação da flagrante, houver indícios de participação
materialidade e autoria da infração. de adolescente na prática de ato infracional,
a autoridade policial encaminhará ao
Parágrafo único. Nas demais representante do Ministério Público
hipóteses de flagrante, a lavratura do auto relatório das investigações e demais
poderá ser substituída por boletim de documentos.
ocorrência circunstanciada.
Art. 178. O adolescente a quem se
Art. 174. Comparecendo qualquer dos atribua autoria de ato infracional não
pais ou responsável, o adolescente será poderá ser conduzido ou transportado em
prontamente liberado pela autoridade compartimento fechado de veículo policial,
policial, sob termo de compromisso e em condições atentatórias à sua dignidade,
responsabilidade de sua apresentação ao ou que impliquem risco à sua integridade
representante do Ministério Público, no física ou mental, sob pena de
mesmo dia ou, sendo impossível, no responsabilidade.
primeiro dia útil imediato, exceto quando,
pela gravidade do ato infracional e sua Art. 179. Apresentado o adolescente,
repercussão social, deva o adolescente o representante do Ministério Público, no
permanecer sob internação para garantia de mesmo dia e à vista do auto de apreensão,
sua segurança pessoal ou manutenção da boletim de ocorrência ou relatório policial,
ordem pública. devidamente autuados pelo cartório judicial
e com informação sobre os antecedentes do
Art. 175. Em caso de não liberação, a adolescente, procederá imediata e
autoridade policial encaminhará, desde informalmente à sua oitiva e, em sendo
logo, o adolescente ao representante do possível, de seus pais ou responsável,
Ministério Público, juntamente com cópia vítima e testemunhas.
do auto de apreensão ou boletim de
ocorrência. Parágrafo único. Em caso de não
apresentação, o representante do Ministério
§ 1º Sendo impossível a apresentação Público notificará os pais ou responsável
imediata, a autoridade policial encaminhará para apresentação do adolescente, podendo
o adolescente à entidade de atendimento, requisitar o concurso das polícias civil e
que fará a apresentação ao representante do militar.
Ministério Público no prazo de vinte e
quatro horas. Art. 180. Adotadas as providências a
que alude o artigo anterior, o representante
§ 2º Nas localidades onde não houver do Ministério Público poderá:
entidade de atendimento, a apresentação
far-se-á pela autoridade policial. À falta de I - promover o arquivamento dos
repartição policial especializada, o autos;
adolescente aguardará a apresentação em
dependência separada da destinada a II - conceder a remissão;
maiores, não podendo, em qualquer
hipótese, exceder o prazo referido no III - representar à autoridade
parágrafo anterior. judiciária para aplicação de medida sócio-
educativa.
Art. 176. Sendo o adolescente
liberado, a autoridade policial encaminhará Art. 181. Promovido o arquivamento
imediatamente ao representante do dos autos ou concedida a remissão pelo
Ministério Público cópia do auto de representante do Ministério Público,
apreensão ou boletim de ocorrência. mediante termo fundamentado, que conterá
o resumo dos fatos, os autos serão

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
conclusos à autoridade judiciária para representação, e notificados a comparecer à
homologação. audiência, acompanhados de advogado.

§ 1º Homologado o arquivamento ou § 2º Se os pais ou responsável não


a remissão, a autoridade judiciária forem localizados, a autoridade judiciária
determinará, conforme o caso, o dará curador especial ao adolescente.
cumprimento da medida.
§ 3º Não sendo localizado o
§ 2º Discordando, a autoridade adolescente, a autoridade judiciária
judiciária fará remessa dos autos ao expedirá mandado de busca e apreensão,
Procurador-Geral de Justiça, mediante determinando o sobrestamento do feito, até
despacho fundamentado, e este oferecerá a efetiva apresentação.
representação, designará outro membro do
Ministério Público para apresentá-la, ou § 4º Estando o adolescente internado,
ratificará o arquivamento ou a remissão, será requisitada a sua apresentação, sem
que só então estará a autoridade judiciária prejuízo da notificação dos pais ou
obrigada a homologar. responsável.

Art. 182. Se, por qualquer razão, o Art. 185. A internação, decretada ou
representante do Ministério Público não mantida pela autoridade judiciária, não
promover o arquivamento ou conceder a poderá ser cumprida em estabelecimento
remissão, oferecerá representação à prisional.
autoridade judiciária, propondo a
instauração de procedimento para aplicação § 1º Inexistindo na comarca entidade
da medida sócio-educativa que se afigurar a com as características definidas no art. 123,
mais adequada. o adolescente deverá ser imediatamente
transferido para a localidade mais próxima.
§ 1º A representação será oferecida
por petição, que conterá o breve resumo dos § 2º Sendo impossível a pronta
fatos e a classificação do ato infracional e, transferência, o adolescente aguardará sua
quando necessário, o rol de testemunhas, remoção em repartição policial, desde que
podendo ser deduzida oralmente, em sessão em seção isolada dos adultos e com
diária instalada pela autoridade judiciária. instalações apropriadas, não podendo
ultrapassar o prazo máximo de cinco dias,
§ 2º A representação independe de sob pena de responsabilidade.
prova pré-constituída da autoria e
materialidade. Art. 186. Comparecendo o
adolescente, seus pais ou responsável, a
Art. 183. O prazo máximo e autoridade judiciária procederá à oitiva dos
improrrogável para a conclusão do mesmos, podendo solicitar opinião de
procedimento, estando o adolescente profissional qualificado.
internado provisoriamente, será de quarenta
e cinco dias. § 1º Se a autoridade judiciária
entender adequada a remissão, ouvirá o
Art. 184. Oferecida a representação, a representante do Ministério Público,
autoridade judiciária designará audiência de proferindo decisão.
apresentação do adolescente, decidindo,
desde logo, sobre a decretação ou § 2º Sendo o fato grave, passível de
manutenção da internação, observado o aplicação de medida de internação ou
disposto no art. 108 e parágrafo. colocação em regime de semi-liberdade, a
autoridade judiciária, verificando que o
§ 1º O adolescente e seus pais ou adolescente não possui advogado
responsável serão cientificados do teor da constituído, nomeará defensor, designando,

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
desde logo, audiência em continuação, Parágrafo único. Na hipótese deste
podendo determinar a realização de artigo, estando o adolescente internado, será
diligências e estudo do caso. imediatamente colocado em liberdade.

§ 3º O advogado constituído ou o Art. 190. A intimação da sentença


defensor nomeado, no prazo de três dias que aplicar medida de internação ou regime
contado da audiência de apresentação, de semi-liberdade será feita:
oferecerá defesa prévia e rol de
testemunhas. I - ao adolescente e ao seu defensor;

§ 4º Na audiência em continuação, II - quando não for encontrado o


ouvidas as testemunhas arroladas na adolescente, a seus pais ou responsável,
representação e na defesa prévia, cumpridas sem prejuízo do defensor.
as diligências e juntado o relatório da
equipe interprofissional, será dada a palavra § 1º Sendo outra a medida aplicada, a
ao representante do Ministério Público e ao intimação far-se-á unicamente na pessoa do
defensor, sucessivamente, pelo tempo de defensor.
vinte minutos para cada um, prorrogável
por mais dez, a critério da autoridade § 2º Recaindo a intimação na pessoa
judiciária, que em seguida proferirá do adolescente, deverá este manifestar se
decisão. deseja ou não recorrer da sentença.

Art. 187. Se o adolescente, Seção VI


devidamente notificado, não comparecer,
injustificadamente à audiência de Da Apuração de Irregularidades em
apresentação, a autoridade judiciária
Entidade de Atendimento
designará nova data, determinando sua
condução coercitiva.
Art. 191. O procedimento de
apuração de irregularidades em entidade
Art. 188. A remissão, como forma de governamental e não-governamental terá
extinção ou suspensão do processo, poderá início mediante portaria da autoridade
ser aplicada em qualquer fase do
judiciária ou representação do Ministério
procedimento, antes da sentença. Público ou do Conselho Tutelar, onde
conste, necessariamente, resumo dos fatos.
Art. 189. A autoridade judiciária não
aplicará qualquer medida, desde que Parágrafo único. Havendo motivo
reconheça na sentença: grave, poderá a autoridade judiciária,
ouvido o Ministério Público, decretar
I - estar provada a inexistência do liminarmente o afastamento provisório do
fato; dirigente da entidade, mediante decisão
fundamentada.
II - não haver prova da existência do
fato; Art. 192. O dirigente da entidade será
citado para, no prazo de dez dias, oferecer
III - não constituir o fato ato resposta escrita, podendo juntar
infracional; documentos e indicar as provas a produzir.

IV - não existir prova de ter o Art. 193. Apresentada ou não a


adolescente concorrido para o ato resposta, e sendo necessário, a autoridade
infracional. judiciária designará audiência de instrução
e julgamento, intimando as partes.

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
§ 1º Salvo manifestação em contado da data da intimação, que será
audiência, as partes e o Ministério Público feita:
terão cinco dias para oferecer alegações
finais, decidindo a autoridade judiciária em I - pelo autuante, no próprio auto,
igual prazo. quando este for lavrado na presença do
requerido;
§ 2º Em se tratando de afastamento
provisório ou definitivo de dirigente de II - por oficial de justiça ou
entidade governamental, a autoridade funcionário legalmente habilitado, que
judiciária oficiará à autoridade entregará cópia do auto ou da representação
administrativa imediatamente superior ao ao requerido, ou a seu representante legal,
afastado, marcando prazo para a lavrando certidão;
substituição.
III - por via postal, com aviso de
§ 3º Antes de aplicar qualquer das recebimento, se não for encontrado o
medidas, a autoridade judiciária poderá requerido ou seu representante legal;
fixar prazo para a remoção das
irregularidades verificadas. Satisfeitas as IV - por edital, com prazo de trinta
exigências, o processo será extinto, sem dias, se incerto ou não sabido o paradeiro
julgamento de mérito. do requerido ou de seu representante legal.

§ 4º A multa e a advertência serão Art. 196. Não sendo apresentada a


impostas ao dirigente da entidade ou defesa no prazo legal, a autoridade
programa de atendimento. judiciária dará vista dos autos do Ministério
Público, por cinco dias, decidindo em igual
Seção VII prazo.

Da Apuração de Infração Administrativa às Art. 197. Apresentada a defesa, a


Normas de Proteção à Criança e ao autoridade judiciária procederá na
Adolescente conformidade do artigo anterior, ou, sendo
necessário, designará audiência de instrução
Art. 194. O procedimento para e julgamento. (Incluído pela Lei nº 12.010,
imposição de penalidade administrativa por de 2009) Vigência
infração às normas de proteção à criança e
ao adolescente terá início por representação Parágrafo único. Colhida a prova oral,
do Ministério Público, ou do Conselho manifestar-se-ão sucessivamente o
Tutelar, ou auto de infração elaborado por Ministério Público e o procurador do
servidor efetivo ou voluntário credenciado, requerido, pelo tempo de vinte minutos para
e assinado por duas testemunhas, se cada um, prorrogável por mais dez, a
possível. critério da autoridade judiciária, que em
seguida proferirá sentença.
§ 1º No procedimento iniciado com o
auto de infração, poderão ser usadas Seção VIII
fórmulas impressas, especificando-se a (Incluída pela Lei nº 12.010, de 2009)
natureza e as circunstâncias da infração. Vigência

§ 2º Sempre que possível, à Da Habilitação de Pretendentes à Adoção


verificação da infração seguir-se-á a
lavratura do auto, certificando-se, em caso Art. 197-A. Os postulantes à adoção,
contrário, dos motivos do retardamento. domiciliados no Brasil, apresentarão
petição inicial na qual conste: (Incluído
Art. 195. O requerido terá prazo de pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
dez dias para apresentação de defesa,

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
I - qualificação completa; (Incluído de outras diligências que entender
pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência necessárias. (Incluído pela Lei nº 12.010, de
2009) Vigência
II - dados familiares; (Incluído pela
Lei nº 12.010, de 2009) Vigência Art. 197-C. Intervirá no feito,
obrigatoriamente, equipe interprofissional a
III - cópias autenticadas de certidão serviço da Justiça da Infância e da
de nascimento ou casamento, ou declaração Juventude, que deverá elaborar estudo
relativa ao período de união psicossocial, que conterá subsídios que
estável; (Incluído pela Lei nº 12.010, de permitam aferir a capacidade e o preparo
2009) Vigência dos postulantes para o exercício de uma
paternidade ou maternidade responsável, à
IV - cópias da cédula de identidade e luz dos requisitos e princípios desta
inscrição no Cadastro de Pessoas Lei. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)
Físicas; (Incluído pela Lei nº 12.010, de Vigência
2009) Vigência
§ 1o É obrigatória a participação dos
V - comprovante de renda e postulantes em programa oferecido pela
domicílio; (Incluído pela Lei nº 12.010, de Justiça da Infância e da Juventude
2009) Vigência preferencialmente com apoio dos técnicos
responsáveis pela execução da política
VI - atestados de sanidade física e municipal de garantia do direito à
mental; (Incluído pela Lei nº 12.010, de convivência familiar, que inclua preparação
2009) Vigência psicológica, orientação e estímulo à adoção
inter-racial, de crianças maiores ou de
VII - certidão de antecedentes adolescentes, com necessidades específicas
criminais; (Incluído pela Lei nº 12.010, de de saúde ou com deficiências e de grupos
de irmãos. (Incluído pela Lei nº 12.010, de
2009) Vigência
2009) Vigência
VIII - certidão negativa de
distribuição cível. (Incluído pela Lei nº § 2o Sempre que possível e
recomendável, a etapa obrigatória da
12.010, de 2009) Vigência
preparação referida no § 1o deste artigo
incluirá o contato com crianças e
Art. 197-B. A autoridade judiciária,
adolescentes em regime de acolhimento
no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, dará
familiar ou institucional em condições de
vista dos autos ao Ministério Público, que
serem adotados, a ser realizado sob a
no prazo de 5 (cinco) dias poderá: (Incluído
orientação, supervisão e avaliação da
pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
equipe técnica da Justiça da Infância e da
Juventude, com o apoio dos técnicos
I - apresentar quesitos a serem responsáveis pelo programa de acolhimento
respondidos pela equipe interprofissional familiar ou institucional e pela execução da
encarregada de elaborar o estudo técnico a política municipal de garantia do direito à
que se refere o art. 197-C desta convivência familiar. (Incluído pela Lei nº
Lei; (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) 12.010, de 2009) Vigência
Vigência
Art. 197-D. Certificada nos autos a
II - requerer a designação de conclusão da participação no programa
audiência para oitiva dos postulantes em referido no art. 197-C desta Lei, a
juízo e testemunhas; (Incluído pela Lei nº autoridade judiciária, no prazo de 48
12.010, de 2009) Vigência (quarenta e oito) horas, decidirá acerca das
diligências requeridas pelo Ministério
III - requerer a juntada de Público e determinará a juntada do estudo
documentos complementares e a realização psicossocial, designando, conforme o caso,

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
audiência de instrução e declaração, o prazo para interpor e para
julgamento. (Incluído pela Lei nº 12.010, de responder será sempre de dez dias;
2009) Vigência
III - os recursos terão preferência de
Parágrafo único. Caso não sejam julgamento e dispensarão revisor;
requeridas diligências, ou sendo essas
indeferidas, a autoridade judiciária IV - o agravado será intimado para,
determinará a juntada do estudo no prazo de cinco dias, oferecer resposta e
psicossocial, abrindo a seguir vista dos indicar as peças a serem trasladadas;
autos ao Ministério Público, por 5 (cinco) (Revogado pela Lei nº 12.010, de 2009)
dias, decidindo em igual prazo. (Incluído Vigência
pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência V - será de quarenta e oito horas o
prazo para a extração, a conferência e o
Art. 197-E. Deferida a habilitação, o conserto do traslado; (Revogado pela Lei nº
postulante será inscrito nos cadastros 12.010, de 2009) Vigência
referidos no art. 50 desta Lei, sendo a sua VI - a apelação será recebida em seu
convocação para a adoção feita de acordo efeito devolutivo. Será também conferido
com ordem cronológica de habilitação e efeito suspensivo quando interposta contra
conforme a disponibilidade de crianças ou sentença que deferir a adoção por
adolescentes adotáveis. (Incluído pela Lei estrangeiro e, a juízo da autoridade
nº 12.010, de 2009) Vigência judiciária, sempre que houver perigo de
dano irreparável ou de difícil reparação;
§ 1o A ordem cronológica das (Revogado pela Lei nº 12.010, de 2009)
habilitações somente poderá deixar de ser Vigência
observada pela autoridade judiciária nas
hipóteses previstas no § 13 do art. 50 desta VII - antes de determinar a remessa
Lei, quando comprovado ser essa a melhor dos autos à superior instância, no caso de
solução no interesse do adotando. (Incluído apelação, ou do instrumento, no caso de
pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência agravo, a autoridade judiciária proferirá
despacho fundamentado, mantendo ou
§ 2o A recusa sistemática na adoção reformando a decisão, no prazo de cinco
das crianças ou adolescentes indicados dias;
importará na reavaliação da habilitação
concedida. (Incluído pela Lei nº 12.010, de VIII - mantida a decisão apelada ou
2009) Vigência agravada, o escrivão remeterá os autos ou o
instrumento à superior instância dentro de
Capítulo IV vinte e quatro horas, independentemente de
novo pedido do recorrente; se a reformar, a
Dos Recursos remessa dos autos dependerá de pedido
expresso da parte interessada ou do
Art. 198. Nos procedimentos afetos à Ministério Público, no prazo de cinco dias,
Justiça da Infância e da Juventude fica contados da intimação.
adotado o sistema recursal do Código de
Processo Civil, aprovado pela Lei n.º 5.869, Art. 199. Contra as decisões
de 11 de janeiro de 1973, e suas alterações proferidas com base no art. 149 caberá
posteriores, com as seguintes adaptações: recurso de apelação.

I - os recursos serão interpostos Art. 199-A. A sentença que deferir a


independentemente de preparo; adoção produz efeito desde logo, embora
sujeita a apelação, que será recebida
II - em todos os recursos, salvo o de exclusivamente no efeito devolutivo, salvo
agravo de instrumento e de embargos de se se tratar de adoção internacional ou se
houver perigo de dano irreparável ou de

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
difícil reparação ao adotando. (Incluído Art. 201. Compete ao Ministério
pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência Público:

Art. 199-B. A sentença que destituir I - conceder a remissão como forma


ambos ou qualquer dos genitores do poder de exclusão do processo;
familiar fica sujeita a apelação, que deverá
ser recebida apenas no efeito devolutivo. II - promover e acompanhar os
(Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) procedimentos relativos às infrações
Vigência atribuídas a adolescentes;

Art. 199-C. Os recursos nos III - promover e acompanhar as ações


procedimentos de adoção e de destituição de alimentos e os procedimentos de
de poder familiar, em face da relevância das suspensão e destituição do pátrio poder
questões, serão processados com prioridade poder familiar, nomeação e remoção de
absoluta, devendo ser imediatamente tutores, curadores e guardiães, bem como
distribuídos, ficando vedado que aguardem, oficiar em todos os demais procedimentos
em qualquer situação, oportuna da competência da Justiça da Infância e da
distribuição, e serão colocados em mesa Juventude; (Expressão substituída pela Lei
para julgamento sem revisão e com parecer nº 12.010, de 2009) Vigência
urgente do Ministério Público. (Incluído
pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência IV - promover, de ofício ou por
solicitação dos interessados, a
Art. 199-D. O relator deverá colocar especialização e a inscrição de hipoteca
o processo em mesa para julgamento no legal e a prestação de contas dos tutores,
prazo máximo de 60 (sessenta) dias, curadores e quaisquer administradores de
contado da sua conclusão. (Incluído pela bens de crianças e adolescentes nas
Lei nº 12.010, de 2009) Vigência hipóteses do art. 98;

Parágrafo único. O Ministério V - promover o inquérito civil e a


Público será intimado da data do ação civil pública para a proteção dos
julgamento e poderá na sessão, se entender interesses individuais, difusos ou coletivos
necessário, apresentar oralmente seu relativos à infância e à adolescência,
parecer. (Incluído pela Lei nº 12.010, de inclusive os definidos no art. 220, § 3º
2009) Vigência inciso II, da Constituição Federal;

Art. 199-E. O Ministério Público VI - instaurar procedimentos


poderá requerer a instauração de administrativos e, para instruí-los:
procedimento para apuração de
responsabilidades se constatar o a) expedir notificações para colher
descumprimento das providências e do depoimentos ou esclarecimentos e, em caso
prazo previstos nos artigos anteriores. de não comparecimento injustificado,
(Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) requisitar condução coercitiva, inclusive
Vigência pela polícia civil ou militar;

Capítulo V b) requisitar informações, exames,


perícias e documentos de autoridades
Do Ministério Público municipais, estaduais e federais, da
administração direta ou indireta, bem como
Art. 200. As funções do Ministério promover inspeções e diligências
Público previstas nesta Lei serão exercidas investigatórias;
nos termos da respectiva lei orgânica.

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
c) requisitar informações e § 3º O representante do Ministério
documentos a particulares e instituições Público, no exercício de suas funções, terá
privadas; livre acesso a todo local onde se encontre
criança ou adolescente.
VII - instaurar sindicâncias, requisitar
diligências investigatórias e determinar a § 4º O representante do Ministério
instauração de inquérito policial, para Público será responsável pelo uso indevido
apuração de ilícitos ou infrações às normas das informações e documentos que
de proteção à infância e à juventude; requisitar, nas hipóteses legais de sigilo.

VIII - zelar pelo efetivo respeito aos § 5º Para o exercício da atribuição de


direitos e garantias legais assegurados às que trata o inciso VIII deste artigo, poderá o
crianças e adolescentes, promovendo as representante do Ministério Público:
medidas judiciais e extrajudiciais cabíveis;
a) reduzir a termo as declarações do
IX - impetrar mandado de segurança, reclamante, instaurando o competente
de injunção e habeas corpus, em qualquer procedimento, sob sua presidência;
juízo, instância ou tribunal, na defesa dos
interesses sociais e individuais b) entender-se diretamente com a
indisponíveis afetos à criança e ao pessoa ou autoridade reclamada, em dia,
adolescente; local e horário previamente notificados ou
acertados;
X - representar ao juízo visando à
aplicação de penalidade por infrações c) efetuar recomendações visando à
cometidas contra as normas de proteção à melhoria dos serviços públicos e de
infância e à juventude, sem prejuízo da relevância pública afetos à criança e ao
promoção da responsabilidade civil e penal adolescente, fixando prazo razoável para
do infrator, quando cabível; sua perfeita adequação.

XI - inspecionar as entidades públicas Art. 202. Nos processos e


e particulares de atendimento e os procedimentos em que não for parte, atuará
programas de que trata esta Lei, adotando obrigatoriamente o Ministério Público na
de pronto as medidas administrativas ou defesa dos direitos e interesses de que cuida
judiciais necessárias à remoção de esta Lei, hipótese em que terá vista dos
irregularidades porventura verificadas; autos depois das partes, podendo juntar
documentos e requerer diligências, usando
XII - requisitar força policial, bem os recursos cabíveis.
como a colaboração dos serviços médicos,
hospitalares, educacionais e de assistência Art. 203. A intimação do Ministério
social, públicos ou privados, para o Público, em qualquer caso, será feita
desempenho de suas atribuições. pessoalmente.

§ 1º A legitimação do Ministério Art. 204. A falta de intervenção do


Público para as ações cíveis previstas neste Ministério Público acarreta a nulidade do
artigo não impede a de terceiros, nas feito, que será declarada de ofício pelo juiz
mesmas hipóteses, segundo dispuserem a ou a requerimento de qualquer interessado.
Constituição e esta Lei.
Art. 205. As manifestações
§ 2º As atribuições constantes deste processuais do representante do Ministério
artigo não excluem outras, desde que Público deverão ser fundamentadas.
compatíveis com a finalidade do Ministério
Público. Capítulo VI

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
Do Advogado III - de atendimento em creche e pré-
escola às crianças de zero a seis anos de
Art. 206. A criança ou o adolescente, idade;
seus pais ou responsável, e qualquer pessoa
que tenha legítimo interesse na solução da IV - de ensino noturno regular,
lide poderão intervir nos procedimentos de adequado às condições do educando;
que trata esta Lei, através de advogado, o
qual será intimado para todos os atos, V - de programas suplementares de
pessoalmente ou por publicação oficial, oferta de material didático-escolar,
respeitado o segredo de justiça. transporte e assistência à saúde do
educando do ensino fundamental;
Parágrafo único. Será prestada
assistência judiciária integral e gratuita VI - de serviço de assistência social
àqueles que dela necessitarem. visando à proteção à família, à maternidade,
à infância e à adolescência, bem como ao
Art. 207. Nenhum adolescente a amparo às crianças e adolescentes que dele
quem se atribua a prática de ato infracional, necessitem;
ainda que ausente ou foragido, será
processado sem defensor. VII - de acesso às ações e serviços de
saúde;
§ 1º Se o adolescente não tiver
defensor, ser-lhe-á nomeado pelo juiz, VIII - de escolarização e
ressalvado o direito de, a todo tempo, profissionalização dos adolescentes
constituir outro de sua preferência. privados de liberdade.

§ 2º A ausência do defensor não IX - de ações, serviços e programas


determinará o adiamento de nenhum ato do de orientação, apoio e promoção social de
processo, devendo o juiz nomear substituto, famílias e destinados ao pleno exercício do
ainda que provisoriamente, ou para o só direito à convivência familiar por crianças e
efeito do ato. adolescentes. (Incluído pela Lei nº 12.010,
de 2009) Vigência
§ 3º Será dispensada a outorga de
mandato, quando se tratar de defensor Parágrafo único. As hipóteses
nomeado ou, sido constituído, tiver sido previstas neste artigo não excluem da
indicado por ocasião de ato formal com a proteção judicial outros interesses
presença da autoridade judiciária. individuais, difusos ou coletivos, próprios
da infância e da adolescência, protegidos
Capítulo VII pela Constituição e pela lei.

Da Proteção Judicial dos Interesses § 1o As hipóteses previstas neste


Individuais, Difusos e Coletivos artigo não excluem da proteção judicial
outros interesses individuais, difusos ou
Art. 208. Regem-se pelas disposições coletivos, próprios da infância e da
desta Lei as ações de responsabilidade por adolescência, protegidos pela Constituição
ofensa aos direitos assegurados à criança e e pela Lei. (Renumerado do Parágrafo
ao adolescente, referentes ao não único pela Lei nº 11.259, de 2005)
oferecimento ou oferta irregular:
§ 2o A investigação do
I - do ensino obrigatório; desaparecimento de crianças ou
adolescentes será realizada imediatamente
II - de atendimento educacional após notificação aos órgãos competentes,
especializado aos portadores de deficiência; que deverão comunicar o fato aos portos,
aeroportos, Polícia Rodoviária e

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
companhias de transporte interestaduais e admissíveis todas as espécies de ações
internacionais, fornecendo-lhes todos os pertinentes.
dados necessários à identificação do
desaparecido. (Incluído pela Lei nº 11.259, § 1º Aplicam-se às ações previstas
de 2005) neste Capítulo as normas do Código de
Processo Civil.
Art. 209. As ações previstas neste
Capítulo serão propostas no foro do local § 2º Contra atos ilegais ou abusivos
onde ocorreu ou deva ocorrer a ação ou de autoridade pública ou agente de pessoa
omissão, cujo juízo terá competência jurídica no exercício de atribuições do
absoluta para processar a causa, ressalvadas poder público, que lesem direito líquido e
a competência da Justiça Federal e a certo previsto nesta Lei, caberá ação
competência originária dos tribunais mandamental, que se regerá pelas normas
superiores. da lei do mandado de segurança.

Art. 210. Para as ações cíveis Art. 213. Na ação que tenha por
fundadas em interesses coletivos ou objeto o cumprimento de obrigação de fazer
difusos, consideram-se legitimados ou não fazer, o juiz concederá a tutela
concorrentemente: específica da obrigação ou determinará
providências que assegurem o resultado
I - o Ministério Público; prático equivalente ao do adimplemento.

II - a União, os estados, os § 1º Sendo relevante o fundamento da


municípios, o Distrito Federal e os demanda e havendo justificado receio de
territórios; ineficácia do provimento final, é lícito ao
juiz conceder a tutela liminarmente ou após
III - as associações legalmente justificação prévia, citando o réu.
constituídas há pelo menos um ano e que
incluam entre seus fins institucionais a § 2º O juiz poderá, na hipótese do
defesa dos interesses e direitos protegidos parágrafo anterior ou na sentença, impor
por esta Lei, dispensada a autorização da multa diária ao réu, independentemente de
assembléia, se houver prévia autorização pedido do autor, se for suficiente ou
estatutária. compatível com a obrigação, fixando prazo
razoável para o cumprimento do preceito.
§ 1º Admitir-se-á litisconsórcio
facultativo entre os Ministérios Públicos da § 3º A multa só será exigível do réu
União e dos estados na defesa dos após o trânsito em julgado da sentença
interesses e direitos de que cuida esta Lei. favorável ao autor, mas será devida desde o
dia em que se houver configurado o
§ 2º Em caso de desistência ou descumprimento.
abandono da ação por associação
legitimada, o Ministério Público ou outro Art. 214. Os valores das multas
legitimado poderá assumir a titularidade reverterão ao fundo gerido pelo Conselho
ativa. dos Direitos da Criança e do Adolescente
do respectivo município.
Art. 211. Os órgãos públicos
legitimados poderão tomar dos interessados § 1º As multas não recolhidas até
compromisso de ajustamento de sua trinta dias após o trânsito em julgado da
conduta às exigências legais, o qual terá decisão serão exigidas através de execução
eficácia de título executivo extrajudicial. promovida pelo Ministério Público, nos
mesmos autos, facultada igual iniciativa aos
Art. 212. Para defesa dos direitos e demais legitimados.
interesses protegidos por esta Lei, são

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
§ 2º Enquanto o fundo não for conhecimento de fatos que possam ensejar
regulamentado, o dinheiro ficará depositado a propositura de ação civil, remeterão peças
em estabelecimento oficial de crédito, em ao Ministério Público para as providências
conta com correção monetária. cabíveis.

Art. 215. O juiz poderá conferir efeito Art. 222. Para instruir a petição
suspensivo aos recursos, para evitar dano inicial, o interessado poderá requerer às
irreparável à parte. autoridades competentes as certidões e
informações que julgar necessárias, que
Art. 216. Transitada em julgado a serão fornecidas no prazo de quinze dias.
sentença que impuser condenação ao poder
público, o juiz determinará a remessa de Art. 223. O Ministério Público poderá
peças à autoridade competente, para instaurar, sob sua presidência, inquérito
apuração da responsabilidade civil e civil, ou requisitar, de qualquer pessoa,
administrativa do agente a que se atribua a organismo público ou particular, certidões,
ação ou omissão. informações, exames ou perícias, no prazo
que assinalar, o qual não poderá ser inferior
Art. 217. Decorridos sessenta dias do a dez dias úteis.
trânsito em julgado da sentença
condenatória sem que a associação autora § 1º Se o órgão do Ministério Público,
lhe promova a execução, deverá fazê-lo o esgotadas todas as diligências, se convencer
Ministério Público, facultada igual da inexistência de fundamento para a
iniciativa aos demais legitimados. propositura da ação cível, promoverá o
arquivamento dos autos do inquérito civil
Art. 218. O juiz condenará a ou das peças informativas, fazendo-o
associação autora a pagar ao réu os fundamentadamente.
honorários advocatícios arbitrados na
conformidade do § 4º do art. 20 da Lei n.º § 2º Os autos do inquérito civil ou as
5.869, de 11 de janeiro de 1973 (Código de peças de informação arquivados serão
Processo Civil), quando reconhecer que a remetidos, sob pena de se incorrer em falta
pretensão é manifestamente infundada. grave, no prazo de três dias, ao Conselho
Superior do Ministério Público.
Parágrafo único. Em caso de
litigância de má-fé, a associação autora e os § 3º Até que seja homologada ou
diretores responsáveis pela propositura da rejeitada a promoção de arquivamento, em
ação serão solidariamente condenados ao sessão do Conselho Superior do Ministério
décuplo das custas, sem prejuízo de público, poderão as associações legitimadas
responsabilidade por perdas e danos. apresentar razões escritas ou documentos,
que serão juntados aos autos do inquérito
Art. 219. Nas ações de que trata este ou anexados às peças de informação.
Capítulo, não haverá adiantamento de
custas, emolumentos, honorários periciais e § 4º A promoção de arquivamento
quaisquer outras despesas. será submetida a exame e deliberação do
Conselho Superior do Ministério Público,
Art. 220. Qualquer pessoa poderá e o conforme dispuser o seu regimento.
servidor público deverá provocar a
iniciativa do Ministério Público, prestando- § 5º Deixando o Conselho Superior
lhe informações sobre fatos que constituam de homologar a promoção de arquivamento,
objeto de ação civil, e indicando-lhe os designará, desde logo, outro órgão do
elementos de convicção. Ministério Público para o ajuizamento da
ação.
Art. 221. Se, no exercício de suas
funções, os juízos e tribunais tiverem

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
Art. 224. Aplicam-se Pena - detenção de dois a seis meses,
subsidiariamente, no que couber, as ou multa.
disposições da Lei n.º 7.347, de 24 de julho
de 1985. Art. 229. Deixar o médico,
enfermeiro ou dirigente de estabelecimento
Título VII de atenção à saúde de gestante de
identificar corretamente o neonato e a
Dos Crimes e Das Infrações parturiente, por ocasião do parto, bem como
Administrativas deixar de proceder aos exames referidos no
art. 10 desta Lei:
Capítulo I
Pena - detenção de seis meses a dois
Dos Crimes anos.

Seção I Parágrafo único. Se o crime é


culposo:
Disposições Gerais
Pena - detenção de dois a seis meses,
Art. 225. Este Capítulo dispõe sobre ou multa.
crimes praticados contra a criança e o
adolescente, por ação ou omissão, sem Art. 230. Privar a criança ou o
prejuízo do disposto na legislação penal. adolescente de sua liberdade, procedendo à
sua apreensão sem estar em flagrante de ato
Art. 226. Aplicam-se aos crimes infracional ou inexistindo ordem escrita da
definidos nesta Lei as normas da Parte autoridade judiciária competente:
Geral do Código Penal e, quanto ao
processo, as pertinentes ao Código de Pena - detenção de seis meses a dois
Processo Penal. anos.

Art. 227. Os crimes definidos nesta Parágrafo único. Incide na mesma


Lei são de ação pública incondicionada pena aquele que procede à apreensão sem
observância das formalidades legais.
Seção II
Art. 231. Deixar a autoridade policial
Dos Crimes em Espécie responsável pela apreensão de criança ou
adolescente de fazer imediata comunicação
à autoridade judiciária competente e à
Art. 228. Deixar o encarregado de
serviço ou o dirigente de estabelecimento família do apreendido ou à pessoa por ele
de atenção à saúde de gestante de manter indicada:
registro das atividades desenvolvidas, na
forma e prazo referidos no art. 10 desta Lei, Pena - detenção de seis meses a dois
bem como de fornecer à parturiente ou a anos.
seu responsável, por ocasião da alta médica,
declaração de nascimento, onde constem as Art. 232. Submeter criança ou
intercorrências do parto e do adolescente sob sua autoridade, guarda ou
desenvolvimento do neonato: vigilância a vexame ou a constrangimento:

Pena - detenção de seis meses a dois Pena - detenção de seis meses a dois
anos. anos.

Parágrafo único. Se o crime é Art. 233. Submeter criança ou


culposo: adolescente sob sua autoridade, guarda ou
vigilância a tortura:

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
Pena - reclusão de um a cinco anos. Parágrafo único. Incide nas mesmas
§ 1º Se resultar lesão corporal grave: penas quem oferece ou efetiva a paga ou
Pena - reclusão de dois a oito anos. recompensa.
§ 2º Se resultar lesão corporal
gravíssima: Art. 239. Promover ou auxiliar a
Pena - reclusão de quatro a doze anos. efetivação de ato destinado ao envio de
§ 3º Se resultar morte: criança ou adolescente para o exterior com
Pena - reclusão de quinze a trinta anos. inobservância das formalidades legais ou
(Revogado pela Lei nº 9.455, de 7.4.1997: com o fito de obter lucro:

Art. 234. Deixar a autoridade Pena - reclusão de quatro a seis anos,


competente, sem justa causa, de ordenar a e multa.
imediata liberação de criança ou
adolescente, tão logo tenha conhecimento Parágrafo único. Se há emprego de
da ilegalidade da apreensão: violência, grave ameaça ou fraude:
(Incluído pela Lei nº 10.764, de
Pena - detenção de seis meses a dois 12.11.2003)
anos.
Pena - reclusão, de 6 (seis) a 8 (oito)
Art. 235. Descumprir, anos, além da pena correspondente à
injustificadamente, prazo fixado nesta Lei violência.
em benefício de adolescente privado de
liberdade: Art. 240. Produzir ou dirigir
representação teatral, televisiva ou película
Pena - detenção de seis meses a dois cinematográfica, utilizando-se de criança ou
anos. adolescente em cena de sexo explícito ou
pornográfica:
Art. 236. Impedir ou embaraçar a Pena - reclusão de um a quatro anos, e
ação de autoridade judiciária, membro do multa.
Conselho Tutelar ou representante do Parágrafo único. Incorre na mesma
Ministério Público no exercício de função pena quem, nas condições referidas neste
prevista nesta Lei: artigo, contracena com criança ou
adolescente.
Pena - detenção de seis meses a dois Art. 240. Produzir ou dirigir
anos. representação teatral, televisiva,
cinematográfica, atividade fotográfica ou de
Art. 237. Subtrair criança ou qualquer outro meio visual, utilizando-se de
adolescente ao poder de quem o tem sob criança ou adolescente em cena
sua guarda em virtude de lei ou ordem pornográfica, de sexo explícito ou
judicial, com o fim de colocação em lar vexatória: (Redação dada pela Lei nº
substituto: 10.764, de 12.11.2003)
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis)
Pena - reclusão de dois a seis anos, e anos, e multa.
multa. § 1o Incorre na mesma pena quem, nas
condições referidas neste artigo, contracena
Art. 238. Prometer ou efetivar a com criança ou adolescente. (Renumerado
entrega de filho ou pupilo a terceiro, do parágrafo único, pela Lei nº 10.764, de
12.11.2003)
mediante paga ou recompensa:
§ 2o A pena é de reclusão de 3 (três) a
8 (oito) anos: (Incluído pela Lei nº 10.764,
Pena - reclusão de um a quatro anos,
de 12.11.2003)
e multa.
I - se o agente comete o crime no
exercício de cargo ou função;
II - se o agente comete o crime com o

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
fim de obter para si ou para outrem meio de comunicação, inclusive rede
vantagem patrimonial. mundial de computadores ou internet,
fotografias ou imagens com pornografia ou
Art. 240. Produzir, reproduzir, cenas de sexo explícito envolvendo criança
dirigir, fotografar, filmar ou registrar, ou adolescente: (Redação dada pela Lei nº
por qualquer meio, cena de sexo 10.764, de 12.11.2003)
explícito ou pornográfica, envolvendo Pena - reclusão de 2 (dois) a 6 (seis)
criança ou adolescente: (Redação dada anos, e multa.
pela Lei nº 11.829, de 2008) § 1o Incorre na mesma pena quem:
(Incluído pela Lei nº 10.764, de
Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 12.11.2003)
(oito) anos, e multa. (Redação dada pela I - agencia, autoriza, facilita ou, de
Lei nº 11.829, de 2008) qualquer modo, intermedeia a participação
de criança ou adolescente em produção
§ 1o Incorre nas mesmas penas quem referida neste artigo;
agencia, facilita, recruta, coage, ou de II - assegura os meios ou serviços
qualquer modo intermedeia a para o armazenamento das fotografias,
participação de criança ou adolescente cenas ou imagens produzidas na forma do
nas cenas referidas no caput deste artigo, caput deste artigo;
ou ainda quem com esses contracena. III - assegura, por qualquer meio, o
(Redação dada pela Lei nº 11.829, de acesso, na rede mundial de computadores
2008) ou internet, das fotografias, cenas ou
imagens produzidas na forma do caput
§ 2o Aumenta-se a pena de 1/3 (um deste artigo.
terço) se o agente comete o crime: § 2o A pena é de reclusão de 3 (três)
(Redação dada pela Lei nº 11.829, de a 8 (oito) anos: (Incluído pela Lei nº
10.764, de 12.11.2003)
2008)
I - se o agente comete o crime
prevalecendo-se do exercício de cargo ou
I – no exercício de cargo ou função
função;
pública ou a pretexto de exercê-la;
II - se o agente comete o crime com
(Redação dada pela Lei nº 11.829, de
o fim de obter para si ou para outrem
2008)
vantagem patrimonial.
II – prevalecendo-se de relações
Art. 241. Vender ou expor à venda
domésticas, de coabitação ou de
fotografia, vídeo ou outro registro que
hospitalidade; ou (Redação dada pela
contenha cena de sexo explícito ou
Lei nº 11.829, de 2008) pornográfica envolvendo criança ou
adolescente: (Redação dada pela Lei nº
III – prevalecendo-se de relações de 11.829, de 2008)
parentesco consangüíneo ou afim até o
terceiro grau, ou por adoção, de tutor,
Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8
curador, preceptor, empregador da
(oito) anos, e multa. (Redação dada pela
vítima ou de quem, a qualquer outro
Lei nº 11.829, de 2008)
título, tenha autoridade sobre ela, ou
com seu consentimento. (Incluído pela
Art. 241-A. Oferecer, trocar,
Lei nº 11.829, de 2008)
disponibilizar, transmitir, distribuir,
publicar ou divulgar por qualquer meio,
Art. 241. Fotografar ou publicar cena
inclusive por meio de sistema de
de sexo explícito ou pornográfica
informática ou telemático, fotografia, vídeo
envolvendo criança ou adolescente:
ou outro registro que contenha cena de sexo
Pena - reclusão de um a quatro anos.
explícito ou pornográfica envolvendo
Art. 241. Apresentar, produzir, vender,
criança ou adolescente: (Incluído pela Lei
fornecer, divulgar ou publicar, por qualquer
nº 11.829, de 2008)

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) a comunicação for feita por: (Incluído pela
anos, e multa. (Incluído pela Lei nº 11.829, Lei nº 11.829, de 2008)
de 2008)
I – agente público no exercício de
§ 1o Nas mesmas penas incorre suas funções; (Incluído pela Lei nº 11.829,
quem: (Incluído pela Lei nº 11.829, de de 2008)
2008)
II – membro de entidade, legalmente
I – assegura os meios ou serviços para constituída, que inclua, entre suas
o armazenamento das fotografias, cenas ou finalidades institucionais, o recebimento, o
imagens de que trata o caput deste processamento e o encaminhamento de
artigo; (Incluído pela Lei nº 11.829, de notícia dos crimes referidos neste
2008) parágrafo; (Incluído pela Lei nº 11.829, de
2008)
II – assegura, por qualquer meio, o
acesso por rede de computadores às III – representante legal e
fotografias, cenas ou imagens de que trata o funcionários responsáveis de provedor de
caput deste artigo.(Incluído pela Lei nº acesso ou serviço prestado por meio de rede
11.829, de 2008) de computadores, até o recebimento do
material relativo à notícia feita à autoridade
§ 2o As condutas tipificadas nos policial, ao Ministério Público ou ao Poder
incisos I e II do § 1o deste artigo são Judiciário. (Incluído pela Lei nº 11.829, de
puníveis quando o responsável legal pela 2008)
prestação do serviço, oficialmente
notificado, deixa de desabilitar o acesso ao § 3o As pessoas referidas no § 2o
conteúdo ilícito de que trata o caput deste deste artigo deverão manter sob sigilo o
artigo. (Incluído pela Lei nº 11.829, de material ilícito referido. (Incluído pela Lei
2008) nº 11.829, de 2008)

Art. 241-B. Adquirir, possuir ou Art. 241-C. Simular a participação


armazenar, por qualquer meio, fotografia, de criança ou adolescente em cena de sexo
vídeo ou outra forma de registro que explícito ou pornográfica por meio de
contenha cena de sexo explícito ou adulteração, montagem ou modificação de
pornográfica envolvendo criança ou fotografia, vídeo ou qualquer outra forma
adolescente: (Incluído pela Lei nº 11.829, de representação visual: (Incluído pela Lei
de 2008) nº 11.829, de 2008)

Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três)


(quatro) anos, e multa. (Incluído pela Lei nº anos, e multa. (Incluído pela Lei nº 11.829,
11.829, de 2008) de 2008)

§ 1o A pena é diminuída de 1 (um) a Parágrafo único. Incorre nas mesmas


2/3 (dois terços) se de pequena quantidade penas quem vende, expõe à venda,
o material a que se refere o caput deste disponibiliza, distribui, publica ou divulga
artigo. (Incluído pela Lei nº 11.829, de por qualquer meio, adquire, possui ou
2008) armazena o material produzido na forma do
caput deste artigo. (Incluído pela Lei nº
§ 2o Não há crime se a posse ou o 11.829, de 2008)
armazenamento tem a finalidade de
comunicar às autoridades competentes a Art. 241-D. Aliciar, assediar,
ocorrência das condutas descritas nos arts. instigar ou constranger, por qualquer meio
240, 241, 241-A e 241-C desta Lei, quando de comunicação, criança, com o fim de com

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
ela praticar ato libidinoso: (Incluído pela Pena - detenção de seis meses a dois
Lei nº 11.829, de 2008) anos, e multa, se o fato não constitui crime
mais grave.
Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três)
anos, e multa. (Incluído pela Lei nº 11.829, Pena - detenção de 2 (dois) a 4
de 2008) (quatro) anos, e multa, se o fato não
constitui crime mais grave. (Redação dada
Parágrafo único. Nas mesmas penas pela Lei nº 10.764, de 12.11.2003)
incorre quem: (Incluído pela Lei nº 11.829,
de 2008) Art. 244. Vender, fornecer ainda que
gratuitamente ou entregar, de qualquer
I – facilita ou induz o acesso à forma, a criança ou adolescente fogos de
criança de material contendo cena de sexo estampido ou de artifício, exceto aqueles
explícito ou pornográfica com o fim de com que, pelo seu reduzido potencial, sejam
ela praticar ato libidinoso; (Incluído pela incapazes de provocar qualquer dano físico
Lei nº 11.829, de 2008) em caso de utilização indevida:

II – pratica as condutas descritas no Pena - detenção de seis meses a dois


caput deste artigo com o fim de induzir anos, e multa.
criança a se exibir de forma pornográfica ou
sexualmente explícita. (Incluído pela Lei nº Art. 244-A. Submeter criança ou
11.829, de 2008) adolescente, como tais definidos no caput
do art. 2o desta Lei, à prostituição ou à
Art. 241-E. Para efeito dos crimes exploração sexual: (Incluído pela Lei nº
previstos nesta Lei, a expressão “cena de 9.975, de 23.6.2000)
sexo explícito ou pornográfica”
compreende qualquer situação que envolva Pena - reclusão de quatro a dez anos,
criança ou adolescente em atividades e multa.
sexuais explícitas, reais ou simuladas, ou
exibição dos órgãos genitais de uma criança § 1o Incorrem nas mesmas penas o
ou adolescente para fins primordialmente proprietário, o gerente ou o responsável
sexuais. (Incluído pela Lei nº 11.829, de pelo local em que se verifique a submissão
2008) de criança ou adolescente às práticas
referidas no caput deste artigo. (Incluído
Art. 242. Vender, fornecer ainda que pela Lei nº 9.975, de 23.6.2000)
gratuitamente ou entregar, de qualquer
forma, a criança ou adolescente arma, § 2o Constitui efeito obrigatório da
munição ou explosivo: condenação a cassação da licença de
localização e de funcionamento do
Pena - detenção de seis meses a dois estabelecimento. (Incluído pela Lei nº
anos, e multa. 9.975, de 23.6.2000)

Pena - reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) Art. 244-B. Corromper ou facilitar a


anos. (Redação dada pela Lei nº 10.764, de corrupção de menor de 18 (dezoito) anos,
12.11.2003) com ele praticando infração penal ou
induzindo-o a praticá-la: (Incluído pela Lei
Art. 243. Vender, fornecer ainda que nº 12.015, de 2009)
gratuitamente, ministrar ou entregar, de
qualquer forma, a criança ou adolescente, Pena - reclusão, de 1 (um) a 4
sem justa causa, produtos cujos (quatro) anos. (Incluído pela Lei nº 12.015,
componentes possam causar dependência de 2009)
física ou psíquica, ainda que por utilização
indevida:

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
§ 1o Incorre nas penas previstas no § 1º Incorre na mesma pena quem
caput deste artigo quem pratica as condutas exibe, total ou parcialmente, fotografia de
ali tipificadas utilizando-se de quaisquer criança ou adolescente envolvido em ato
meios eletrônicos, inclusive salas de bate- infracional, ou qualquer ilustração que lhe
papo da internet. (Incluído pela Lei nº diga respeito ou se refira a atos que lhe
12.015, de 2009) sejam atribuídos, de forma a permitir sua
identificação, direta ou indiretamente.
§ 2o As penas previstas no caput
deste artigo são aumentadas de um terço no § 2º Se o fato for praticado por órgão
caso de a infração cometida ou induzida de imprensa ou emissora de rádio ou
estar incluída no rol do art. 1o da Lei no televisão, além da pena prevista neste
8.072, de 25 de julho de 1990. (Incluído artigo, a autoridade judiciária poderá
pela Lei nº 12.015, de 2009) determinar a apreensão da publicação ou a
suspensão da programação da emissora até
Capítulo II por dois dias, bem como da publicação do
periódico até por dois números. (Expressão
Das Infrações Administrativas declara inconstitucional pela ADIN 869-2).

Art. 245. Deixar o médico, professor Art. 248. Deixar de apresentar à


ou responsável por estabelecimento de autoridade judiciária de seu domicílio, no
atenção à saúde e de ensino fundamental, prazo de cinco dias, com o fim de
pré-escola ou creche, de comunicar à regularizar a guarda, adolescente trazido de
autoridade competente os casos de que outra comarca para a prestação de serviço
tenha conhecimento, envolvendo suspeita doméstico, mesmo que autorizado pelos
ou confirmação de maus-tratos contra pais ou responsável:
criança ou adolescente:
Pena - multa de três a vinte salários
Pena - multa de três a vinte salários de referência, aplicando-se o dobro em caso
de referência, aplicando-se o dobro em caso de reincidência, independentemente das
de reincidência. despesas de retorno do adolescente, se for o
caso.
Art. 246. Impedir o responsável ou
funcionário de entidade de atendimento o Art. 249. Descumprir, dolosa ou
exercício dos direitos constantes nos incisos culposamente, os deveres inerentes ao
II, III, VII, VIII e XI do art. 124 desta Lei: pátrio poder poder familiar ou decorrente
de tutela ou guarda, bem assim
determinação da autoridade judiciária ou
Pena - multa de três a vinte salários
Conselho Tutelar: (Expressão substituída
de referência, aplicando-se o dobro em caso
pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
de reincidência.
Pena - multa de três a vinte salários
Art. 247. Divulgar, total ou
de referência, aplicando-se o dobro em caso
parcialmente, sem autorização devida, por
de reincidência.
qualquer meio de comunicação, nome, ato
ou documento de procedimento policial,
administrativo ou judicial relativo a criança Art. 250. Hospedar criança ou
ou adolescente a que se atribua ato adolescente, desacompanhado dos pais ou
infracional: responsável ou sem autorização escrita
destes, ou da autoridade judiciária, em
hotel, pensão, motel ou congênere:
Pena - multa de três a vinte salários
Pena - multa de dez a cinqüenta
de referência, aplicando-se o dobro em caso
salários de referência; em caso de
de reincidência.
reincidência, a autoridade judiciária poderá
determinar o fechamento do
estabelecimento por até quinze dias.

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
Art. 250. Hospedar criança ou casa de espetáculo e aos órgãos de
adolescente desacompanhado dos pais ou divulgação ou publicidade.
responsável, ou sem autorização escrita
desses ou da autoridade judiciária, em Art. 254. Transmitir, através de rádio
hotel, pensão, motel ou congênere: ou televisão, espetáculo em horário diverso
(Redação dada pela Lei nº 12.038, de do autorizado ou sem aviso de sua
2009). classificação:

Pena – multa. (Redação dada pela Lei Pena - multa de vinte a cem salários
nº 12.038, de 2009). de referência; duplicada em caso de
reincidência a autoridade judiciária poderá
§ 1º Em caso de reincidência, sem determinar a suspensão da programação da
prejuízo da pena de multa, a autoridade emissora por até dois dias.
judiciária poderá determinar o fechamento
do estabelecimento por até 15 (quinze) dias. Art. 255. Exibir filme, trailer, peça,
(Incluído pela Lei nº 12.038, de 2009). amostra ou congênere classificado pelo
órgão competente como inadequado às
§ 2º Se comprovada a reincidência crianças ou adolescentes admitidos ao
em período inferior a 30 (trinta) dias, o espetáculo:
estabelecimento será definitivamente
fechado e terá sua licença cassada. Pena - multa de vinte a cem salários
(Incluído pela Lei nº 12.038, de 2009). de referência; na reincidência, a autoridade
poderá determinar a suspensão do
Art. 251. Transportar criança ou espetáculo ou o fechamento do
adolescente, por qualquer meio, com estabelecimento por até quinze dias.
inobservância do disposto nos arts. 83, 84 e
85 desta Lei: Art. 256. Vender ou locar a criança
ou adolescente fita de programação em
Pena - multa de três a vinte salários vídeo, em desacordo com a classificação
de referência, aplicando-se o dobro em caso atribuída pelo órgão competente:
de reincidência.
Pena - multa de três a vinte salários
Art. 252. Deixar o responsável por de referência; em caso de reincidência, a
diversão ou espetáculo público de afixar, autoridade judiciária poderá determinar o
em lugar visível e de fácil acesso, à entrada fechamento do estabelecimento por até
do local de exibição, informação destacada quinze dias.
sobre a natureza da diversão ou espetáculo
e a faixa etária especificada no certificado Art. 257. Descumprir obrigação
de classificação: constante dos arts. 78 e 79 desta Lei:

Pena - multa de três a vinte salários Pena - multa de três a vinte salários
de referência, aplicando-se o dobro em caso de referência, duplicando-se a pena em caso
de reincidência. de reincidência, sem prejuízo de apreensão
da revista ou publicação.
Art. 253. Anunciar peças teatrais,
filmes ou quaisquer representações ou Art. 258. Deixar o responsável pelo
espetáculos, sem indicar os limites de idade estabelecimento ou o empresário de
a que não se recomendem: observar o que dispõe esta Lei sobre o
acesso de criança ou adolescente aos locais
Pena - multa de três a vinte salários de diversão, ou sobre sua participação no
de referência, duplicada em caso de espetáculo:
reincidência, aplicável, separadamente, à

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
Pena - multa de três a vinte salários Art. 259. A União, no prazo de
de referência; em caso de reincidência, a noventa dias contados da publicação deste
autoridade judiciária poderá determinar o Estatuto, elaborará projeto de lei dispondo
fechamento do estabelecimento por até sobre a criação ou adaptação de seus órgãos
quinze dias. às diretrizes da política de atendimento
fixadas no art. 88 e ao que estabelece o
Art. 258-A. Deixar a autoridade Título V do Livro II.
competente de providenciar a instalação e
operacionalização dos cadastros previstos Parágrafo único. Compete aos estados
no art. 50 e no § 11 do art. 101 desta e municípios promoverem a adaptação de
Lei: (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) seus órgãos e programas às diretrizes e
Vigência princípios estabelecidos nesta Lei.

Pena - multa de R$ 1.000,00 (mil Art. 260. Os contribuintes do imposto


reais) a R$ 3.000,00 (três mil de renda poderão abater da renda bruta
reais). (Incluído pela Lei nº 12.010, de 100% (cem por cento) do valor das doações
2009) Vigência feitas aos fundos controlados pelos
Conselhos Municipais, Estaduais e
Parágrafo único. Incorre nas mesmas Nacional dos Direitos da Criança e do
penas a autoridade que deixa de efetuar o Adolescente, observado o seguinte:
cadastramento de crianças e de adolescentes I - limite de 10% (dez por cento) da
em condições de serem adotadas, de renda bruta para pessoa física;
pessoas ou casais habilitados à adoção e de II - limite de 5% (cinco por cento) da
crianças e adolescentes em regime de renda bruta para pessoa jurídica.
acolhimento institucional ou familiar.
(Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Art. 260. Os contribuintes poderão
Vigência deduzir do imposto devido, na declaração
do Imposto sobre a Renda, o total das
Art. 258-B. Deixar o médico, doações feitas aos Fundos dos Direitos da
enfermeiro ou dirigente de estabelecimento Criança e do Adolescente - nacional,
de atenção à saúde de gestante de efetuar estaduais ou municipais - devidamente
imediato encaminhamento à autoridade comprovadas, obedecidos os limites
judiciária de caso de que tenha estabelecidos em Decreto do Presidente da
conhecimento de mãe ou gestante República. (Redação dada pela Lei nº
interessada em entregar seu filho para 8.242, de 12.10.1991)
adoção: (Incluído pela Lei nº 12.010, de
2009) Vigência § 1º - As deduções a que se refere
este artigo não estão sujeitas a outros
Pena - multa de R$ 1.000,00 (mil limites estabelecidos na legislação do
reais) a R$ 3.000,00 (três mil imposto de renda, nem excluem ou reduzem
reais). (Incluído pela Lei nº 12.010, de outros benefícios ou abatimentos e
2009) Vigência deduções em vigor, de maneira especial as
doações a entidades de utilidade pública.
Parágrafo único. Incorre na mesma (Revogado pela Lei nº 9.532, de
pena o funcionário de programa oficial ou 10.12.1997)
comunitário destinado à garantia do direito
à convivência familiar que deixa de efetuar § 1o-A. Na definição das prioridades
a comunicação referida no caput deste a serem atendidas com os recursos captados
artigo. (Incluído pela Lei nº 12.010, de pelos Fundos Nacional, Estaduais e
2009) Vigência Municipais dos Direitos da Criança e do
Adolescente, serão consideradas as
Disposições Finais e Transitórias disposições do Plano Nacional de
Promoção, Proteção e Defesa dos Direitos
de Crianças e Adolescentes à Convivência

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
Familiar, bem como as regras e princípios Parágrafo único. A União fica
relativos à garantia do direito à convivência autorizada a repassar aos estados e
familiar previstos nesta Lei. (Incluído pela municípios, e os estados aos municípios, os
Lei nº 12.010, de 2009) Vigência recursos referentes aos programas e
atividades previstos nesta Lei, tão logo
§ 2º Os Conselhos Municipais, estejam criados os conselhos dos direitos da
Estaduais e Nacional dos Direitos da criança e do adolescente nos seus
Criança e do Adolescente fixarão critérios respectivos níveis.
de utilização, através de planos de aplicação
das doações subsidiadas e demais receitas, Art. 262. Enquanto não instalados os
aplicando necessariamente percentual para Conselhos Tutelares, as atribuições a eles
incentivo ao acolhimento, sob a forma de conferidas serão exercidas pela autoridade
guarda, de criança ou adolescente, órfãos judiciária.
ou abandonado, na forma do disposto no
art. 227, § 3º, VI, da Constituição Federal. Art. 263. O Decreto-Lei n.º 2.848, de
7 de dezembro de 1940 (Código Penal),
§ 3º O Departamento da Receita passa a vigorar com as seguintes alterações:
Federal, do Ministério da Economia,
Fazenda e Planejamento, regulamentará a 1) Art. 121
comprovação das doações feitas aos fundos, ............................................................
nos termos deste artigo. (Incluído pela Lei
nº 8.242, de 12.10.1991) § 4º No homicídio culposo, a pena é
aumentada de um terço, se o crime resulta
§ 4º O Ministério Público determinará de inobservância de regra técnica de
em cada comarca a forma de fiscalização da profissão, arte ou ofício, ou se o agente
aplicação, pelo Fundo Municipal dos deixa de prestar imediato socorro à vítima,
Direitos da Criança e do Adolescente, dos não procura diminuir as conseqüências do
incentivos fiscais referidos neste artigo. seu ato, ou foge para evitar prisão em
(Incluído pela Lei nº 8.242, de 12.10.1991) flagrante. Sendo doloso o homicídio, a pena
é aumentada de um terço, se o crime é
§ 5o A destinação de recursos praticado contra pessoa menor de catorze
provenientes dos fundos mencionados neste anos.
artigo não desobriga os Entes Federados à
previsão, no orçamento dos respectivos 2) Art. 129
órgãos encarregados da execução das ...............................................................
políticas públicas de assistência social,
educação e saúde, dos recursos necessários § 7º Aumenta-se a pena de um terço, se
à implementação das ações, serviços e ocorrer qualquer das hipóteses do art. 121,
programas de atendimento a crianças, § 4º.
adolescentes e famílias, em respeito ao
princípio da prioridade absoluta § 8º Aplica-se à lesão culposa o disposto no
estabelecido pelo caput do art. 227 da § 5º do art. 121.
Constituição Federal e pelo caput e
parágrafo único do art. 4o desta Lei. 3) Art.
(Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009)
136................................................................
Vigência .
Art. 261. A falta dos conselhos § 3º Aumenta-se a pena de um terço, se o
municipais dos direitos da criança e do crime é praticado contra pessoa menor de
adolescente, os registros, inscrições e
catorze anos.
alterações a que se referem os arts. 90,
parágrafo único, e 91 desta Lei serão
4) Art. 213
efetuados perante a autoridade judiciária da
..................................................................
comarca a que pertencer a entidade.

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
Parágrafo único. Se a ofendida é menor de
catorze anos: OS PARÂMETROS CURRICULARES
NACIONAIS E O ENSINO
Pena - reclusão de quatro a dez anos. FUNDAMENTAL
5) Art.
214................................................................
...
Introdução
Parágrafo único. Se o ofendido é menor de
catorze anos: Mais uma vez a comunidade educacional se
sente provocada a se pronunciar sobre uma
Pena - reclusão de três a nove anos.» discussão que preocupou sobremaneira os
constituintes de 1988: como dar
Art. 264. O art. 102 da Lei n.º 6.015, encaminhamento ao dispositivo
de 31 de dezembro de 1973, fica acrescido constitucional expresso no art. 210 da
do seguinte item: Constituição Federal? E, novamente, torna-
se importante não ignorar que esse assunto
sempre foi polêmico, seja pelo seu caráter
"Art. 102
de componente de uma política
....................................................................
educacional, seja pela importância do
currículo no próprio exercício do ato
6º) a perda e a suspensão do pátrio poder. " pedagógico no interior da "estrutura e
funcionamento" da educação escolar
Art. 265. A Imprensa Nacional e brasileira.
demais gráficas da União, da administração
direta ou indireta, inclusive fundações A iniciativa do MEC em dar continuidade à
instituídas e mantidas pelo poder público discussão desse assunto por meio dos
federal promoverão edição popular do texto denominados Parâmetros Curriculares
integral deste Estatuto, que será posto à Nacionais (PCN) deve nos remeter a
disposição das escolas e das entidades de algumas reflexões a propósito de seu
atendimento e de defesa dos direitos da significado, sua oportunidade e
criança e do adolescente. processualística, sem nos esquecermos de
outros momentos históricos nos quais a
Art. 266. Esta Lei entra em vigor mesma questão se pôs. E, se tais premissas
noventa dias após sua publicação. forem procedentes, tirar algumas
conclusões de caráter provisório tendo em
Parágrafo único. Durante o período vista a possibilidade de sua efetivação.
de vacância deverão ser promovidas
atividades e campanhas de divulgação e Parâmetros Curriculares Nacionais,
esclarecimentos acerca do disposto nesta currículos mínimos, currículos básicos,
Lei. currículos unificados, conteúdos mínimos,
diretrizes comuns nacionais ou qualquer
Art. 267. Revogam-se as Leis n.º outro nome que se Ihes atribua são
4.513, de 1964, e 6.697, de 10 de outubro dimensões da política educacional que
de 1979 (Código de Menores), e as demais sempre estiveram às voltas com a questão
disposições em contrário. federativa e com a questão da participação.
Ambas as questões passam pelo sentido
Brasília, 13 de julho de 1990; 169º da maior da democracia.
Independência e 102º da República.
Evidentemente o nome atribuído pode ter
ou não uma ligação mais estreita com uma
concepção de fundo que subjaz a qualquer
política educacional. Diretrizes podem ser

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
linhas gerais reguladoras e currículos Rodrigues (1968), intitulado História do
únicos podem,significar mais do que uma Supremo Tribunal Federal, 1890-1910, a
listagem mínima e geral de disciplinas defesa do federalismo, no qual a autora
obrigatórias para todo o país. Por outro apresenta os problemas ligados à questão
lado, o termo "parâmetro" pode dar, até federativa através de sentenças e processos
mesmo pela sua origem etimológica, uma do STF.]
idéia de uma "medida" ou de uma "linha"
geométrica, constante e invariável. Verbas, competências e atribuições,
freqüentemente em clima de disputa no
De qualquer maneira, sempre fica a interior de regimes democráticos e
pergunta sobre de que tamanho deve ser federados, são dirigidas para determinados
esse "mínimo" afim de que a criatividade fins mais amplos, fins estes que podem ser
também possa transparecer nas unidades mais consensuais. Entre eles podem-se citar
federadas e nas próprias unidades escolares. as funções clássicas do Estado nacional
E, não menos importante, qual o sujeito como guardião da soberania, da moeda, da
privilegiado do "serão fixados conteúdos segurança e da coesão social. Pode-se então
mínimos...", evitando-se tanto a dizer que a coesão, uma função permanente
burocratização verticalista quanto um dos Estados nacionais, se impõe através de
democratismo pulverizado? [Anísio vários caminhos. A educação escolar é um
Teixeira, já em 1952, criticando o parecer deles e aí ocupa lugar destacado.
centraliza dor de G. Capanema ante o
projeto de Lei de Diretrizes e Bases enviado Ora, se as instituições de ensino sempre
pelo ministro Clemente Mariani, afirmou foram consideradas relevantes no sentido da
que os educadores não podem ser coesão é porque elas socializam,
transformados em "rígidos intérpretes de culturalizam e instilam comportamentos e
leis e regulamentos uniformes, [...] em valores. Elas ensinam isto é, deixam sinais.
executores rígidos de programas oficiais, e Mas, enquanto tais, elas só se
os livros didáticos em manuais consubstanciam quando se aproximam do
'oficializados' e conformes, linearmente ato pedagógico. Este, por sua vez, enquanto
com os pontos dos 'programas'" (Teixeira, síntese do aprender-ensinar,é mediado por
1952, p. 85)] currículos manifestos ou ocultos, sobretudo
no interior de redes de ensino. (Aliás, isto já
A questão federativa, conquanto não está posto na origem do termo currículo
limitada só à educação escolar, sempre seja como dimensão estática (cadastro,
esteve na primeira linha das discussões quer reunião de dados), seja como dimensão
no Brasil Império, quer no Brasil dinâmica (curso, movimento de reunião).
República. Ela já se impunha ao país antes
mesmo da transição da cultura centralizada Nesse sentido, currículos nacionais,
e centralista do Império para a mínimos curriculares, diretrizes gerais têm
descentralização federada da República. muito a ver com a questão federativa, pois
neles estão presentes a idéia e a prática de
Montante de verbas, distribuição de rendas, conteúdos gerais válidos para toda uma
captação de impostos se cruzam com a nação. Mas sua operacionalização enfrenta
divisão de responsabilidades, diversificação uma dupla problemática: se há necessidade
de competências e atribuições segundo de constrangimentos legais para esses
parâmetros mais unionistas ou mais mínimos e, seja pela negativa, seja pela
descentralizadores e, neste último caso, afirmativa, qual o papel das unidades
com propostas até mesmo confederalistas. federadas. As perguntas clássicas sobre os
E o justo equilíbrio entre esses extremos, no justos limites dos entes juridicamente
caso de uma nação, é o federalismo autônomos no jogo União x unidades
democrático, sempre ansiado como o federadas se expressam também no âmbito
melhor. [Um exemplo para se ver a de currículos mínimos para todos os
magnitude dessas discussões pode ser cidadãos em qualquer estado ou município.
encontrado no livro de Lêda Boechat Assim, pode-se: interrogar: invade-se o

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
território da autonomia dos estados quando sempre mais urgentes, sempre mais
a União impõe uma lista mínima de onerosas?" (idem, p. 36).
disciplinas? E o que dizer quando ela
avança no sentido de um detalhamento Um princípio de entendimento a algumas
destas? Esse detalhamento é o que reza o dessas questões pode ser buscado a partir
art. 210 da Constituição? Basta uma dos modos pelos quais se respondeu ao
listagem mínima de disciplinas para que o tema aqui proposto delimitando-o no plano
objetivo da coesão nacional se:já do ensino fundamental. Assim, uma breve
alcançado? Trata-se de uma peculiaridade retrospectiva histórica da polêmica
dos Conselhos Nacionais no sentido de sua currículo x federação pode ser útil.
explicitação? Qual a tarefa dos Conselhos
Estaduais (ou de quem quer que lhe faça as Memória histórica
vezes)? Qual é o papel dos pesquisadores e
estudiosos nesse caso? (Sobre esse assunto Pode-se dizer que a idéia de um currículo
deve-se consultar os Cadernos ANPEd nacional se cruza com a evolução a
Nova Fase, n° 2, 1989, todo dedicado a esse educação, sobretudo a chamada educação
assunto.) escolar fundamental, entendida como
direito do cidadão e dever do Estado.
Por outro lado, quem exerce a docência é Embora vários cruzamentos possam ser
quem "sente" o peso dessa tarefa, e nesse estabelecidos, pode-se dizer que um
"sentir" o professor "sabe" um caminho que currículo nacional se cruza com uma
nem sempre chega a quem entende que função social do Estado, que é a de atender
"entende" do assunto, mas nem sempre a um direito do cidadão que busca na
"sente". É possível uma proposta curricular, educação escolar uma via de cidadania
em qualquer nível administrativo, em que a compartilhada com seus concidadãos.
legitimidade da proposta não passe pela
subjetividade dos profissionais da E o acesso a essa dupla referência (direito x
educação? dever) é tardio enquanto inscrição e
escritura em Constituições brasileiras. O
Desafio permanente para qualquer que não quer dizer que - a despeito da
democracia é a natureza e o grau de inexistência desses princípios em algumas
participação que deve pautar a relação entre Constituições - não houvesse discussões
"dirigentes e dirigidos". Desafio sobre currículos.
permanente para todos é o grau de
flexibilidade dos dispositivos normativos O Império inscreve a gratuidade das escolas
para que não impeçam a crítica e a primárias pelo art. 179, n° 32, mas sem
criatividade. reconhecê-la como direito. Até 1834, o
Império tem a responsabilidade de manter
Nesse sentido, deve afirmar-se que, em uma tais escolas como oferta gratuita aos que
democracia, o produto almejado deve estar viessem procurá-las. O Ato Adicional de
contido no próprio de produção de uma 1834 introduz não só a divisão de
norma ou mesmo das normas que visem competências entre "os poderes gerais" e as
regulamentar um princípio geral. Nunca é províncias, como também deixa na
demais recordar as advertências de Bobbio: ambigüidade se tal responsabilidade deveria
"a democracia tem a demanda fácil e a ser compartilhada ou privativa das
resposta difícil; a autocracia, ao contrário, províncias. (Cf. Ato Adicional, art. 10, par.
está em condições de tornar a demanda 1°.)
mais difícil e dispõe de maior facilidade
para dar respostas" (1986, p. 36). Por outro Essa ambigüidade sempre acabou
lado, alerta o mesmo autor: "Mas como permeando as discussões sobre a dinâmica
pode o governo responder se as demandas centralização x descentralização, mesmo
que provêm dê uma sociedade livre e antes de nossa República proclamada se
emancipada são sempre mais numerosas, dizer Federativa.

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
É verdade que, grosso modo, pode-se dizer ementas, guias ou programas previamente
que coube sempre às províncias, e depois definidos. Nesse sentido, parece ter ido se
aos estados, a tarefa do ensino fundamental firmando a tradição de descentralização (na
e sempre coube aos "poderes gerais" República transformada em princípio da
(depois União) o controle do ensino autonomia) das províncias e,
superior e em boa parte do ensino posteriormente, dos estados em relação a
secundário (em especial na capital do esse nível de ensino.
Império/República).
A partir de 1837, com a criação do Colégio
Mas até onde podem ir as "diretrizes"? E Pedro II, as disciplinas do ensino
como se pode defini-las? Como discriminar secundário passaram a contar com um
especificamente as várias competências e centro de referência. As instituições de
responsabilidades? Pode-se dizer que se ensino das províncias, oficiais ou não,
criou um entendimento geral que a União conquanto não imperativamente, miravam-
tem, em relação ao ensino primário, apenas se no espelho dos currículos e até mesmo
uma função supletiva. Já em relação ao dos livros didáticos adotados pelo Colégio
ensino médio e sobretudo em relação ao Pedro II. E a existência de exames de
ensino superior seu papel seria bem mais admissão para o ingresso no primeiro ciclo
diretivo e até mesmo interferidor. (Cf. do ensino secundário (ginásio) criava uma
Constituição Federal de 1891, art. 35, par. situação em que aqueles exames
2°, 3°,4°.) condicionavam os conteúdos dos estudos
anteriores.
E será no interior destas duas dinâmicas, a
educação como direito e dever e a educação Quanto à organicidade institucional do
enquanto constante de uma federação ensino primário, não se pode negar que ela
republicana (após o Império), que o tema foi bem mais lenta que a relativa ao ensino
dos currículos será sempre reposto médio e superior. Boa parte dele possuía
enquanto instrumento de coesão nacional. uma dimensão doméstica, nem sempre se
Certamente, como se verá, essa questão tem realizando em instituições escolares. (A
história junto à história das políticas própria Lei de Diretrizes e Bases de 1961
educacionais no Brasil. diz textualmente no seu art. 2°: "a educação
é direito de todos e será dada no lar e na
A Constituinte de 1823, antes de sua escola" (grifos nossos). Também a proposta
dissolução pelo imperador, já se debatia de LDB em tramitação fala em "alternativa
com essa questão e não conseguiu efetivar a satisfatória" ao dever de "matricular no
proposta de um tractatus de educação ensino obrigatório".)
válido para toda a juventude brasileira, sob
a forma de um compêndio a ser levado a Aliás, não se ignora que católicos e
todos os rincões do país (Chizzotti, 1996). positivistas, embora com fundamentações
diferenciadas, tinham preferência pela
E, ao que parece, na medida de suas educação primária dada na família, com
possibilidades e vontade política, as ênfase no papel feminino de educadora a
províncias não deixaram de considerar as ser cumprido pela mulher.
disciplinas listadas pela primeira lei de
ensino do Brasil, aquela que traduzia a A proclamação da República não altera
regulamentação do artigo da gratuidade do significativamente esse quadro. Aliás, no
ensino primário e que foi publicada a 15 de que se refere à dinâmica direito x dever, a
outubro de 1826. Nela se prescrevia a oferta República não inscreveu em sua
obrigatória de língua portuguesa, Constituição de 1891 sequer a afirmação da
aritmética, história do Brasil e religião gratuidade do ensino primário. Tal
católica. possibilidade poderia vir a ser inscrita nas
Constituições Estaduais. Mas, por outro
Entretanto, nada havia de imperativo em lado, a Lei Maior determinou a laicidade
relação ao detalhamento dessa lista como nos estabelecimentos oficiais de qualquer

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
nível, inclusive os sob responsabilidade dos livres, ansiavam pelo mérito de serem
estados e municípios. (Cf. CF/1891, art. 72, equiparadas ao Colégio Pedro II.
par. 6°.) Uma disciplina até então vigente
no currículo geral das escolas do Império - A Revolução de 30 haveria de trazer
a de doutrina religiosa católica -foi cortada algumas alterações significativas no quadro
dos currículos dos estabelecimentos oficiais até então existente.
da República.
O ano de 1931 traz, pelo menos, três
Excetuada, porém, a presença importantes mudanças: a introdução do
paradigmática do Colégio Pedro II, as ensino religioso nas escolas oficiais, a
competências relativas ao ensino primário oficialização dos estabelecimentos do
(e em certa medida relativas ao secundário) ensino secundário, via aceitação do
ficaram com os estados ou municípios, os regimento e currículos do Pedro II, e a
quais poderiam exercitar sua autonomia no criação do Conselho Nacional de Educação,
âmbito dos currículos. órgão consultivo e opinativo do Ministério
da Educação e Saúde Pública, de cujas
E não deixa de ser notável uma certa atribuições fazia parte "firmar diretrizes
oscilação entre centralização e gerais do ensino primário, secundário e
descentralização no âmbito das reformas superior", de tal modo que nelas os
educacionais na assim denominada "interesses do país" se sobrepujassem a
República Velha. (Cf.Marquesjr., 1967, e qualquer outro.
Tannuri, 1981.)
O Manifesto dos pioneiros da educação
E a já conhecida dispersividade regional em nova, além da defesa da gratuidade,
relação a um currículo básico não passou obrigatoriedade e laicidade da escola
desapercebida dos movimentos pública como dever do Estado, afirmará a
sustentadores de uma democratização da importância de um processo de
rede pública escolar brasileira. (Cf. Nagle, homogeneização básica, a partir da escola
1974.) primária, visando " a identidade da
consciência nacional". Homogeneização
E tal foi o vigor desses movimentos que a básica defendida como alternativa criadora
Revisão Constitucional de 1925-1926 tratou à uniformidade rejeitada, aliás bastante
do tema com bastante abundância, em distante dos métodos ativos defendidos pelo
especial através do ângulo da formação de escolanovismo.
um "caráter nacional". (Cf. Cury, 1992.) A
educação escolar mediaria vínculos A Constituição de 1934, ao inscrever a
nacionais através dos quais garantir-se-ia educação como direito do cidadão e
uma dimensão da coesão nacional. Tal obrigação dos poderes públicos, tornou-a
mediação ganharia ímpeto pelo abalo gratuita e obrigatória no primário,
trazido pelos movimentos sociais responsabilizou os estados em termos de
proletários e pelos movimentos políticos sua efetivação, impôs percentuais
internos, com destaque para a Coluna vinculados para o bom êxito dessa
Prestes. efetivação (Cf. CF/1934, capítulo sobre
educação.) e firmou a existência de
O que não quer dizer que só essa Revisão Conselhos Estaduais ao lado do Conselho
houvesse buscado o princípio de uma Nacional de educação a quem competiria
diretriz geral e nacional para a educação. elaborar o Plano Nacional de Educação.
Sucessivos projetos de reforma do ensino (Cf. idem, art. 152.) Ela introduziu também
público encaminhados por parlamentares, a "competência privativa " da União no
durante a chamada República Velha, não estabelecimento de diretrizes da educação
lograram êxito em seus propósitos. (Cf. nacional e na fixação do Plano Nacional de
Moacyr, 1944.) Além disso, não se pode Educação, (Cf. idem, art. 5, XIV.) sem
deixar de lembrar os esforços pelos quais deixar de reconhecer a competência
instituições de ensino estaduais, oficiais ou concorrente da União e estados quanto ao

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
objetivo de difundir em todos os graus a impressa pela Constituição de 1934, foi
instrução pública. (Cf. idem, art. 10, VI.) rompida pela outorga da Constituição de
1937. Esta voltava a centralizar quase tudo
De acordo com esse espírito que no âmbito do Executivo federal. Não
congregava a tarefa de elaborar o Plano reconhecendo a educação como direito de
Nacional e de fazer cumprir a Constituição, todos, mas como dever das famílias,
o então governo eleito de Vargas reorganiza cortando a vinculação obrigatória, previa
o Conselho Nacional de Educação pela lei como competência privativa da União a
n° 174 de 6 de janeiro de 1936 e lhe impõe fixação das "diretrizes da educação
o regimento interno. Por ambos os nacional". Mesmo quando o Estado Novo
instrumentos fica claro que a dimensão procurou discriminar atribuições de estados
interferidora da União ante o ensino e municípios pelo decreto-lei de 8 de abril
primário se esgota substancialmente na de 1939, impunha claros limites à atuação
guarda da Constituição e na elaboração do destes. No âmbito da educação, os decretos-
Plano Nacional de Educação (para cuja lei estaduais só teriam vigência após
elaboração criar-se-ia uma comissão aprovação do chefe de Estado, aí
específica voltada para o ensino primário). compreendida a regulamentação do ensino
Coube também à União a função supletiva primário.
de estimulação, promoção de conferências e
apoio técnico ao ensino primário. Embora A criação efetiva do Instituto Nacional do
houvesse um representante do ensino Livro, sob a direção de Gustavo Capanema,
primário e normal e uma comissão de imprimiria nos currículos uma espécie de
ensino primário e secundário na ideologia oficial nos textos, já que os livros,
composição do Conselho Nacional, de fato para efeito de publicação e de divulgação,
esse parece ter se voltado mais para as deveriam ter autorização do Departamento
questões do ensino superior. (Esse Plano de Imprensa e propaganda (DIP).
não chegou a se efetivar pois sua
elaboração final, pelo projeto de lei enviado O decreto-lei n° 93 cria o Instituto Nacional
ao Congresso, não teve seqüência por causa do Livro em 21 de dezembro de 1937. 0
do golpe de Estado de 1937.) DIP censurava os livros em geral, embora o
livro didático ficasse a cargo do ministro da
Mais especificamente em relação à questão Educação. Já o decreto-lei na 1006/38
curricular, a Constituição impõe como estabelece que, sem a autorização do
constante dos currículos oficiais o ensino Ministério, "os livros didáticos não poderão
religioso como disciplina de oferta ser adota dos no ensino das escolas pré-
obrigatória e matrícula facultativa. Tal primárias, primárias, normais, profissionais
dispositivo atravessará todas as e secundárias em toda a República"
Constituições Federais após 1934. (Cf. (Pereira, 1995, p.148). Este último decreto-
Cury, 1995, e Horta, 1995.) lei cria também a Comissão Nacional do
Livro Didático, à qual competiria autorizar
Se para o ensino secundário vai se ou não uma determinada obra.
firmando, cada vez mais, a presença
paradigmática do currículo do Colégio A Lei Orgânica do Ensino Primário
Pedro ll, a instrução primária, vista desse (decreto-lei no 8529/46), já assinada por
ângulo, confirma-se como competência dos José Linhares, impunha sete disciplinas
estados. (Nunca é demais insistir na válidas e obrigatórias para todo o território
necessidade de maiores investigações nacional no ensino primário elementar:
quanto aos currículos e programas nas leitura e escrita, iniciação matemática,
unidades federadas.) geografia e história do Brasil,
conhecimentos gerais, desenho e trabalhos
Essa orientação federalista, tanto manuais, canto orfeônico e educação física.
descentralizadora quanto garantidora de ( Cf. art. 7 dessa lei orgânica.) Isso sem,
aspectos nacionais, firmada no princípio da contar o ensino religioso.
educação como direito do indivíduo,

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
Já o curso primário complementar, além das Constituição liberal e descentralizadora de
supracitadas, deveria incorporar geometria, 1946.
elementos de história da América, ciências
naturais e higiene, elementos de economia Com efeito, a Constituição de 1946, ao
regional. As meninas ainda cabiam repor o Estado de Direito, traz consigo
economia doméstica e puericultura. (Cf. também a dimensão liberal-
idem, art. 8. Se questões de culto povoavam descentralizadora e reinsere a educação
as discussões sobre currículos, agora, ainda como direito do indivíduo e obrigação do
que de modo discriminatório, aparecem poder público. Também são repostos os
questões ligadas à diferenciação sexual.) preceitos de 1934 que a ditadura havia
cortado. A definição da Lei de Diretrizes e
O curso primário supletivo, voltado para Bases permanece como competência
jovens e adultos, deveria conter -além de privativa da união. E o choque entre ambas
leitura, linguagem oral/escrita, aritmética e orientações supramencionadas será
geometria, geografia e história do Brasil- eliminado pelos termos de compromisso
ciências naturais, higiene, noções de direito trazidos com a promulgação da Lei de
(do trabalho, civil e militar). As alunas Diretrizes e Bases da Educação Nacional de
deveriam cursar economia doméstica e 1961.
puericultura (art. 9).
Esta, excetuadas as disciplinas obrigatórias
Mais do que isso, a Lei, através do art. 10, impostas a todos os sistemas de ensino,
dá orientações gerais para o ensino primário como educação física e ensino religioso,
fundamental (elementar + complementar) deixava aos estados ampla liberdade na
no sentido de uma didática próxima da construção de conteúdos curriculares. Isso
escolanovista e no art. 12 impõe o seguinte: quer dizer que determinadas disciplinas
"O ensino primário obedecerá a programas constavam nacionalmente dos currículos,
mínimos e a diretrizes essenciais, mas seus conteúdos não tinham definições
fundamentados em estudos de caráter específicas por parte da União. (No projeto
objetivo, que realizem os técnicos do de LDB proposto por Clemente Mariani em
Ministério da Educação e Saúde, com a 1946, pode-se ler no art. 66 que seria
cooperação dos estados". competência do Estado aperfeiçoar e
baratear o livro didático. Além do que os
Programas regionais teriam o caráter de livros didáticos, para serem divulgados nas
complementar a programação geral fixada escolas, deveriam ser registrados no
pelo Ministério para todo o país. Ministério e quando "impróprios aos fins
educativos" seriam proibidos, ouvido o
O decreto-lei ainda regula minuciosamente Conselho Nacional de Educação.)
os "sistemas de ensino primário" e os
enquadra em uma espécie de estrutura e A lei 4024/61 não fixa um currículo
funcionamento. mínimo obrigatório para o ensino primário,
mas o art. 25 assinala que o fim desse nível
Embora não viessem à luz durante a de ensino é o "desenvolvimento do
ditadura, as Leis Orgânicas relativas ao raciocínio e das atividades de expressão da
ensino primário, normal e agrícola, criança e a sua integração no meio físico e
preparadas durante o regime varguista social". [O mesmo Mariani defendia "a
através de comissões nacionais, tiveram unicidade do sistema educacional cujas
continuidade sob o Estado de Direito da variedades estaduais obedecerão ao
Constituição de 1946. Tal fenômeno se deu princípio de equivalência pedagógica em
devido ao longo processo de tramitação da substituição ao falso princípio da
Lei de Diretrizes e Bases da Educação uniformidade pedagógica" (Mariani, s/d,
Nacional, aprovada em 1961. Com isso p.328).]
houve um relativo choque entre a
orientação estadonovista, centralizadora e Ora, o Conselho Federal de Educação, no
autoritária, e aquela promanada da parecer na 121/63, ao discutir os exames de

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
admissão, reconhece quatro grandes único, letra a.) do "núcleo comum,
departamentos do ensino primário: língua obrigatório em âmbito nacional" (art. 4),
pátria, aritmética, ciências naturais e competência do Conselho Federal de
ciências sociais. E o mesmo parecer se Educação. E nelas dever-se-iam constar
socorre do PABAEE/MG para um educação moral e cívica, educação física,
detalhamento da consistência conteudística educação artística, programas de saúde,
dessas quatro áreas. E reconhece não só a língua nacional e ensino religioso.
autonomia dos estados a esse respeito,
como também a existência de escolas com Extenso e detalhado comentário sobre
atividades "assistemáticas" de ação núcleo comum dos currículos nacionais será
educativa e de instrução no lar. trazido pelo Parecer 853/71, logo após a
publicação da Lei 5692/71. E em certo
O que é novo na lei 4.024/61 é a permissão trecho do parecer lê-se claramente:
dada pelo art. 104 de se constituírem
escolas experimentais com currículos Por já virem tais atividades prescritas no
próprios, o que faz juz ao art. 12 da mesma, art. 7º da lei, só consideraremos aqui na
onde se reconhece a correlação "sistemas de medida em que tenhamos de relacioná-las
ensino" e "flexibilidade dos currículos". com os demais componentes do currículo.
Associado a elas, o núcleo comum
O CFE, instalado em 12 de fevereiro de configura o conteúdo mínimo abaixo do
1962, prevê uma comissão de ensino qual se terá por incompleta qualquer
primário e médio; quanto ao primário, a formação de 1° e 2° graus, assim quanto aos
Portaria na 60 de 21 de fevereiro de 1962 conhecimentos em si mesmos como,
prevê a competência do Conselho na sobretudo, do ponto de vista da unidade
"análise dos efeitos da ação supletiva" da nacional de que a escola há de ser causa e
União em face dessa modalidade de ensino. efeito a um tempo. Daí a sua
obrigatoriedade.
O regime autoritário-militar de 1964
manteve pró-forma o funcionamento Já se vê que o Conselho Federal foi, como
precário das Constituições e do Congresso. dantes o fora o Conselho Nacional, o órgão
Ele procurou também deixar sua marca na responsável pela tradução desses conteúdos
educação escolar. Contudo, no que se refere mínimos para todo o conjunto do sistema
ao regimento do CFE, trazido pelo decreto escolar brasileiro. Nesse sentido, mesmo as
no 64.902 de 29 de julho de 1969, o art. 3,2, alterações de nome ou de atribuições desse
ao expressar a "competência do Plenário em Conselho não determinaram a perda dessa
interpretar a LDB", ressalvava a responsabilidade. Assim, o regimento do
"competência dos sistemas estaduais de CFE, de acordo com a portaria ministerial
ensino, definida na Lei na 4.024 de 20 de no. 691/81, define, no seu art. 2, XVIII,
dezembro de 1961". como sua competência "fixar as matérias do
núcleo comum dos cursos de 1° e 2° graus,
Grande mudança, entretanto, será trazida definindo-lhes os objetivos e amplitude,
pela lei 5.692/71 no que se refere ao ensino bem como o mínimo a ser exigido em cada
primário. Sob a nova denominação de habilitação profissional ou conjunto de
"ensino de 1 o grau" ela compreenderá habilitações afins" .
tanto o que antes era o ensino primário
quanto o que era o 1° ciclo do ensino médio E na organização do CFE como colegiado
(ginásio). se prevê uma Câmara de Ensino de 1° e 2°
graus e uma Comissão Central de
O ensino de 1° grau passa, então, a ter oito Currículos. (Eis aqui um campo pouco
anos obrigatórios. Já a organização didática explorado nas pesquisas de pós-graduação
de cada estabelecimento ficaria sob os em educação.)
cuidados do respectivo Conselho de
Educação, desde que se respeitassem as Com isso foram se consubstanciando duas
"matérias" (Cf. Lei 5.692/71, art. 6, par. orientações relativamente recorrentes: a

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
primeira, de certo modo já posta pelo Ato iniciativas mais rápidas no enfrentamento
Adicional de 1834, a de que o ensino da questão.
fundamental é competência dos estados e
municípios e a de que o ensino superior Por outro lado, a educação escolar foi
tenha um maior controle por parte da definida (ainda que de. modo especificado
União, ficando relativamente cinzentos os em alguns aspectos e nem tanto em outros)
espaços de competências concorrentes e/ou competência privativa da União,
comuns. A segunda é a de que o competência concorrente entre União e
estabelecimento de diretrizes e bases para a estados e competência comum entre União,
educação nacional continua sendo estados e municípios, segundo os art. 22, 23
competência privativa da União e sua e 24 respectivamente. Finalmente, o art. 30
tradução específica, no que se refere aos supõe a ação supletiva da União e dos
mínimos programáticos, seja elaborada estados em relação à obrigação dos
através de um Conselho Nacional ou municípios em manter uma rede de ensino
Federal de Educação. voltada para o pré-escolar e o fundamental.

Tais orientações, ainda que recheadas por Urgia, pois, o enfrentamento da questão, até
novos dispositivos colocados pela porque o texto constitucional em seu art.
Constituição Federal de 1988 quanto à 210 reza que "serão fixados conteúdos
gratuidade, gestão democrática, direito mínimos para o ensino fundamental, de
público subjetivo, municipalização e outros, maneira a assegurar formação básica
foram nela reafirmadas, sem contudo se comum e respeito aos valores culturais e
fazer referência à existência de um artísticos, nacionais e regionais" .
Conselho Nacional ou Federal (que só
aparecerá nas propostas de LDB). O tom imperativo não deixa dúvida. Não
menos claro é o adjativo "mínimo". E, se
Entretanto, a Constituição determinara uma "serão fixados", alguém deve ser o
pequena reforma tributária que repassou responsável. A tradição dessa matéria
fontes de recursos da União para os estados constata iniciativa da União através do
e municípios. Ficava suposto que, Conselho Nacional (Federal) de Educação.
concomitantemente, se faria o transfert de
competências, sobretudo no campo da Nesse sentido torna-se ilustrativo citar o
saúde e educação. Além disso, o projeto de projeto de Lei de Diretrizes e Bases da
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Educação Nacional ora em tramitação no
Nacional do deputado Octávio Elísio Alves Congresso. Diz ela em seu art. 10, inciso
de Brito, pelo seu caráter participativo, IV, que a União deve "estabelecer, em
franqueara a discussão sobre a polêmica colaboração com os estados, o Distrito
noção de "sistema nacional de educação". Federal e os municípios, competências e
Ora, tal noção reporia a questão federativa, diretrizes para a educação infantil, o ensino
voltando-se ao confronto entre unionistas e fundamental e o ensino médio, que
descentralizadores. nortearão os currículos e os seus conteúdos
mínimos, de modo a assegurar formação
A longevidade da tramitação do projeto de básica comum".
LDB, a mudança das condições
internacionais no que se refere à correlação Outros artigos desse mesmo projeto de Lei,
trabalho/emprego, a vontade da União em ainda que citá-Ios alongue o texto, são úteis
diminuir seus gastos, a necessidade de para o entendimento da problemática.
especificar a vinculação orçamentária e
sobretudo a consciência da importância do Art. 24. Os currículos do ensino
ensino fundamental, de cuja situação fundamental e médio devem ter uma base
lamentável o país mais uma vez se nacional comum a ser complementada pelos
envergonha, obrigaram a que tanto demais conteúdos curriculares
parlamentares quanto Executivo tomassem especificados nesta Lei e, em cada sistema
de ensino e estabelecimento escolar, por

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
uma parte diversificada, exigida pelas como uma de suas linhas de ação
características regionais e locais da estratégica:
sociedade, da cultura, da economia e da
clientela. O MEC, com o concurso das representações
educacionais e da sociedade, deverá propor
§ 1° Os currículos valorizarão as artes e a e especificar os conteúdos nacionais
educação física, de forma a promover o capazes de pautar a quantidade de educação
desenvolvimento físico e cultural dos socialmente útil e de caráter universal a ser
alunos. oferecida a todas as crianças, consideradas
suas diferenças. Complementações
§ 2° O ensino da História do Brasil levará curriculares serão propostas em cada
em conta as contribuições das diferentes sistema de ensino e escolas, respeitando a
culturas e etnias para a formação do povo pluralidade cultural e as diversidades locais.
brasileiro, especialmente das matrizes Igualmente pesquisas serão desenvolvidas
indígena, africana e européia. para fundamentar avanços no âmbito das
competências sociais, visando enriquecer o
§ 3° De acordo com as possibilidades da processo curricular da escola (p. 45).
instituição de ensino deverá ser oferecida
pelo menos uma língua estrangeira. Em certa medida, esse texto do Plano
Decenal faz eco à proposta de LDB, Projeto
Art. 25. Os conteúdos curriculares da de Lei Complementar n° 101/93 do senador
educação básica observarão, ainda, as Cid Sabóia de carvalho, que diz em seu art.
seguintes diretrizes: 23, VI, que cabe ao Conselho Nacional de
Educação "fixar, após ouvir educadores e
I. a difusão de valores fundamentais ao comunidades científicas das áreas
interes- envolvidas, diretrizes curriculares gerais,
definindo uma base nacional de estudos
se social, aos direitos e deveres dos para o ensino fundamental, médio e
cidadãos, de respeito ao bem comum e à superior de educação".
ordem democrática;
Essa formulação resume o conteúdo mais
II. consideração das condições de explícito e detalhado sobre o assunto tal
escolaridade dos alunos em cada como expresso no artigo 23, VI. Caberia ao
Conselho Nacional " fixar as diretrizes
estabelecimento;
curriculares gerais, definindo uma base
nacional de estudos para cada nível de
III. orientação para o trabalho.
ensino". Já o art. 34, além de reconhecer a
competência do Estado e/ou municípios na
Esses artigos da LDB em tramitação, em plenificação do currículo, além de estimular
certa medida, alteram formulações dos a vida concreta dos estudantes como ponto
projetos anteriores de LDB a respeito do de partida, diz no seu caput que "os
mesmo assunto e que taxativamente currículos do ensino fundamental e médio
continham maior presença da sociedade abrangerão, obrigatoriamente, o estudo de
civil organizada em torno da educação. língua portuguesa e da matemática, o
conhecimento do mundo físico e natural e
Assim, o Plano Decenal de Educação para da realidade social e política, especialmente
Todos (1993) deu uma redação mais do Brasil" .
participativa no âmbito desse convênio
internacional assinado pelo Brasil. Esse Percebe-se, pois, que a iniciativa do
texto reintroduz o MEC como proponente Executivo federal em relação aos
das diretrizes curriculares ao colocar a currículos, mais forte em tempos
necessidade de "fixação dos conteúdos autoritários, mais aberta em tempos de
mínimos determinados pela Constituição" Estado de Direito, é, via de regra, repassada
ou delegada ao Conselho Nacional, aos

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
respectivos Conselhos Estaduais e às "assegurar a participação da sociedade no
próprias instituições escolares a fim de não aperfeiçoamento da educação nacional" .
ignorar as disparidades regionais,
peculiaridades culturais e de respeitar. o Órgão de articulação entre a sociedade
pacto federativo. Essa abertura em tempos política e a sociedade civil, responde esse
de Estado de Direito vai desde uma órgão colegiado, através de sua Câmara de
democracia diretamente participacionista no Educação Básica, à atribuição, posta no art.
projeto de LDB de 28 de junho de 1990 até 9, letra c: "deliberar sobre as diretrizes
a proposta da LDB em tramitação atual, curriculares propostas pelo Ministério da
que, como foi visto, deixa essa Educação e do Desporto".
responsabilidade sob competência do(s)
Executivo(s). Os princípios constitucionais de "diretrizes
e bases da educação nacional" e de "coesão
O Executivo, que já perdera a iniciativa da nacional" associados à idéia de "mínimos
LDB em 1988, não queria deixar passar nacionais" existentes em leis ordinárias ou
essa parte Ia legislação sem interferir em outras disposições normativas fizeram
decisivamente na questão. Daí sua postura com que, paulatinamente, esse campo fosse
de maior apoio ao projeto nascido no sendo assumido pelo Executivo federal, que
Senado, especialmente no governo Collor e estendeu a matéria do ensino secundário
na gestão Fernando Henrique Cardoso. (nele já presente) para o ensino
fundamental (sempre visto como terreno
Mas não se pode omitir que é das unidades federadas).
imprescindível o reconhecimento da
complexificação da sociedade brasileira Com a constitucionalização do "currículo
dada pela forte presença de associações mÍnimo nacional" através da Constituição
científicas e profissionais que se preocupam Federal de 1988, e, dada a maior tradição
com a educação brasileira, aí dessa matéria ao Executivo em termos
compreendidos os conteúdos curriculares. históricos, pode-se explicar, no interior
desse contexto maior, o surgimento dos
Finalmente, deve-se registrar a (re)criação "parâmetros curriculares nacionais" como
do Conselho Nacional de Educação através iniciativa desse poder.
da Lei 9.131/95. A lei de criação do
Conselho busca conciliar a ponderabilidade Assim, desde o governo Itamar Franco e
entre sociedade política e sociedade civil, agora através da gestão Fernando Henrique
com inclinação para o Executivo. Veja-se a Cardoso, embora com orientações
esse respeito o art. 6 da lei n° 9.131/95 e diferenciadas, vêm sendo tomadas
seu parágrafo único: iniciativas tendentes a regulamentar e
efetivar o dispositivo constitucional do art.
O Ministério da Educação e do Desporto 210.
exerce as atribuições do poder público
federal em matéria de educação, cabendo- Entretanto, a questão federativa continua
lhe formular e avaliar a política nacional de presente, mesmo após tentativas de
educação, zelar pela qualidade do ensino e clareamento na Constituição de 1988. Aliás,
velar pelo cumprimento das leis que o tendo a educação se tornado ao mesmo
regem. tempo (mas não do mesmo ponto de vista)
competência privativa da União,
§ 1° No desempenho de suas funções, o concorrente entre a União e os estados e
Ministério da Educação e do Desporto comum entre, os três entes federativos, é
contará com a colaboração do Conselho que a questão retoma com mais urgência.
Nacional de Educação e das Câmaras que o Prova disso é a exposição de motivos
compõem. no.273 de 13 de outubro de 1995 (e que
viria a ser a PEC/233/95), pela qual o atual
Por outro lado, cabe a esse Conselho, governo da União apresenta ao Congresso
segundo o art. 7 da lei, o dever de Nacional uma série de emendas

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
constitucionais. A exposição de motivos questão da participação dos sujeitos
encaminhada diz: interessados na formulação dos conteúdos
ante as diferentes concepções que os
Tradicionalmente, ao Governo Federal tem inspiram e mesmo ante as metodologias
sido atribuída a responsabilidade maior pelo existentes em relação às ciências naturais e
ensino superior, cabendo-lhe, em relação ao sociais.
ensino básico, apenas função normativa e
ação supletiva, esta nunca claramente A questão federativa sempre deve merecer
definida. Aos estados e municípios, coma um enfrentamento cuidadoso. Como vimos,
autonomia que o regime federativo Ihes a tradição descentralizada criou culturas
assegura, cabe o atendimento das institucionais na escola pública que variam
necessidades educacionais básicas da de unidade federada para unidade federada.
população, muito especialmente na faixa da Dentro delas as regiões e as disparidades
educação fundamental obrigatória. oferecem outras heterogeneidades, isto sem
falar nos "capitais culturais" distintivos de
Em conseqüência dessa indefinição de classe sociais.
papéis, resulta um sistema - na realidade
uma diversidade de sistemas - de Logo, uma discussão sobre "parâmetros
atendimento educacional que deixa muito a curriculares nacionais" deve desaguar na
desejar, sobretudo no que diz respeito à obediência à constituição através de um
qualidade da educação oferecida. De fato, conhecimento profundo dessas diferenças
se é verdade que em termos quantitativos, no :interior da escola pública através do
notadamente no que se refere à escolaridade caminho próprio defendido pelos grandes
obrigatória, o país avançou nomes da educação: o diálogo.
significativamente, a dispersão de esforços
dos três níveis de governo gerou E, nesse diálogo, e talvez tão importante
heterogeneidade da qualidade do quanto ele, é preciso saber da "radiografia"
atendimento escolar. das escolas realmente existentes, suas
peculiaridades, seus ethos. As escolas
Vê-se que o problema não é novo e sempre brasileiras não são iguais. Suas condições
esteve, de algum modo, nas preocupações de funcionamento são extremamente
do governo federal e nas preocupações dos diversificadas por regiões, por classes, não
governos estaduais. sendo desprezível a presença de uma
pluralidade étnica e cultural.
Certamente que à oscilação autoritarismo x
Estado de Direito não correspondeu É preciso partir dessa "radiografia " para
linearmente dirigismo curricular x liberdade imaginar um método criativo, de tal modo
de criação. Mas é notório que o "vigiar" de que a unidade nacional pretendida seja
modo mais direto a estruturação de unidade, não uniformidade, na medida em
currículos e programas e a criação de livros que essa unidade passa pelo enfrentamento
didáticos se aproximam mais dos regimes da diversidade.
fechados. Sabe-se que nestes o
detalhamento é mais uma forma de Por outro lado, algo semelhante se passa
verticalismo homegeneizador do que um com os métodos. Estes variam muito no
respeito às diferenças. E, nos regimes âmbito das ciências naturais e sociais,
politicamente mais.abertos, o programa dos fazendo com que emerja essa outra
currículos nacionais unificados é mais diferença. De novo o diálogo é o caminho
flexível e propositivo. Espera-se, pois, para se evitar tanto uma homogeneidade
destes últimos maior sensibilidade e metodológica como uma síncrese distante
respeito à diferença. da análise científica.

Essa característica de regimes abertos, O problema que hoje se coloca em face dos
contudo se defronta com dois eixos parâmetros é que a sociedade brasileira se
fundamentais: a questão federativa e a "ocidentalizou " muito nas últimas décadas.

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
E o mesmo se pode dizer da educação E, ao passar do mandamento para a
escolar. O ensino fundamental está bem proposta de "parâmetros curriculares
próximo da universalização quantitativa, o nacionais" para o ensino fundamental, é
ensino público cresceu no âmbito do ensino preciso reconhecer uma tradição que joga
médio e a expansão do ensino superior, não só com a tormentosa questão
sobretudo no interior da rede particular, foi federativa, mas com toda essa gama de
muito expressiva. realidades novas surgidas nas últimas três
décadas.
A pós-graduação está conseguindo formar
pesquisadores e estudiosos que, Que síntese se pode retirar dessa memória
institucionalmente, vêm investigando áreas histórica?
de conhecimentos e fazendo intercâmbio
internacional. E uma das áreas de atuação é A questão federativa se impõe pela
justamente o estudo de currículos e de modalidade de República Constitucional
história de disciplinas escolares. As que o Brasil adota desde 1889. O Brasil é
associações científicas, por seu lado, criam, uma só entidade soberana pela união de
dentro de seus grupos de trabalho, a suas entidades federadas. Logo, a federação
alimentação contínua deste e de outros deve tanto conter laços de união e de
temas. Além do que não só pode ignorar unidade entre as unidades federadas, quanto
que o currículo das quatro primeiras séries a autonomia destas últimas', no quadro da
envolve o ato pedagógico da alfabetização, Constituição Federal. Essa autonomia dos
pelo qual o acesso à leitura e à escrita dá ao membros federados inclui processos
educando mais um modo de ler o mundo: descentralizados de iniciativas concernentes
à administração e gestão da coisa pública.
E para além das faculdades de educação, o
tema de ensino de... vem chamando a No caso da educação escolar de ensino
atenção de mais e mais pesquisadores fundamental, firmou-se toda uma tradição
através de estudos e propostas. jurídica que, desde o Ato Adicional, a
atribuía aos membros federados. A
A bibliografia não é pequena. Surgem administração e gestão desse serviço
livros, publicam-se pesquisas, dissertações público nessa modalidade de ensino coube,
e teses. As revistas se multiplicam. O e continua cabendo, aos estados e
mercado editorial apresenta, não sem uma municípios.
variedade qualitativa, um espectro enorme
de publicações. Entretanto, dada a situação lamentável e
dispersa do ensino primário nos estados,
Também os docentes se organizaram em lutou-se muito para que a União, por ter
associações profissionais, seja em frentes maiores fundos financeiros e por ser o
salariais, seja em frentes voltadas para a ponto da soberania e da unidade na
questão pedagógica. diversidade, se obrigasse a interferir
também na educação escolar primária
Conclusão visando a superação de lacunas e a
assinalação de uma identidade nacional em
Uma discussão sobre "parâmetros todo o cidadão. Um nível de explicitação
curriculares nacionais" não pode ignorar o foi aquele relativo aos princípios
quanto esta complexidade exige uma educacionais, sobretudo àquele do direito à
radiografia e uma auscultação da realidade educação primária, gratuita e obrigatória.
multifacetada da escola pública brasileira e
nem o tanto de dever cabível ao Executivo Outro nível, porém, de exercício da união
federal em efetivar o mandamento nacional foi o do estabelecimento de
constitucional do art. 210. disciplinas escolares. Aí a evidência maior
fica por conta das oscilações em torno da
laicidade. O Estado "negativo" afirma
laicidade, enquanto o Estado interventor a

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
nega. E, lentamente, vai ocorrendo um relação pedagógica, e, de outro, aquela
crescimento de intervenção nessa matéria. grandeza (certamente maior que o mínimo)
que compete aos entes federados (e que se
A Revolução de 30 impôs, por decreto, que ampliaram com a Constituição Federal de
o Conselho Nacional firmaria "diretrizes 1988 pela inclusão dos municípios).
gerais" para o ensino primário. Essas
"diretrizes", com o avançar dos anos, nem Restam os problemas a respeito de que
sempre ficaram por aí. É que a elas se tamanho devem ser essas grandezas. Qual
adicionou um conjunto de disciplinas sua conexão com o processo de
obrigatórias para toda a nação, como ficou ensino/aprendizagem?
explícito em 1946, através da Lei Orgânica
do Ensino Primário, que fala claramente em A relação implícita no pacto federativo
"programas mínimos". Isto também parece supõe a resolução de questões e pendências
ter firmado tradição, apesar do caráter mais pelo "contrato" democrático entre União
liberal-descentralizador da lei 4.024/61. Federada e unidades federadas. Já a
Essa tradição se vê legalizada pela lei conexão com o processo
5.696/71 e confirmada pelo Parecer 853/71 ensino/aprendizagem se faz pelo "contrato
do Conselho Federal. Diretrizes Gerais e social" e democrático entre dirigentes e
Programas Mínimos se sintetizam na dirigidos, cujo âmago é a capacidade de
concepção de "Núcleo Comum" dos participação.
currículos nacionais.
Ora, a participação se inclui no processo de
Duas observações agora se impõem: a "ocidentalização" da sociedade brasileira e,
União sempre se acautela adjetivando os em especial, da organização dos
currículos ou programas ou diretrizes de educadores. A vida sócio-cultural brasileira,
"mínimos" ou "gerais". Pode-se aplicar aqui desenvolvida no âmbito da sociedade civil,
o princípio da lógica formal de que "quanto vem se tornando cada vez mais complexa e
menor a compreensão, maior a extensão". plural. Ao lado de partidos, sindicatos e
Uma diretriz mínima torna-se mais geral outras modalidades de "aparatos privados"
porque, exatamente por ser mínima, pode de hegemonia, deve-se registrar a
ser estendida a um maior número de entes organização de educadores e intelectuais
federados. E os elos mediadores dessa em torno de associações profissionais e
dimensão nacional - respeitada a autonomia científicas.
dos estados e municípios em legislar sobre
o assunto - serão formalmente o Conselho x É delas que provém um saber com sabor de
Nacional (ou Federal) de Educação e, em prática e com suor da pesquisa. É de ambas
certo sentido, o livro didático. que se pode esperar uma participação
efetiva e fundamentada para que a relação
Finalmente, na Constituição Federal de dirigentes/dirigidos se aproxime cada vez
1988, a idéia de "diretrizes gerais" mais do ideal de uma "vontade geral"
adequáveis aos conteúdo dos currículos consensual.
nacionais foi constitucionalizada e sua
tradução, sábia e prudente, no corpo da Lei É no interior dessa complexidade que se
Maior, foi a de uma "fixação". Essa pode compreender as proposições mais ou
"fixação", no âmbito jurídico significando menos pendulares ora em torno dos
determinação, limitação, estabelecimento, dirigentes, ora em torno dos dirigidos, ante
se limita aos "conteúdos mínimos". O a questão de como efetivar tais "-conteúdos
mínimo é que deve ser fixado, limitando-se mínimos" .Daí a necessidade de que uma
a União a essa tarefa imperativa ao menor proposta concreta de Parâmetros
grau de uma grandeza maior. E seu Curriculares Nacionais seja encaminhada
conteúdo indica o que está contido em outra sem pressa e com diálogo. Sem pressa, a
coisa que lhe serve de continente. Esse fim de que a necessária administração
continente é, de um lado, o processo eficiente do mandato constitucional não se
ensino/aprendizagem, onde se realiza a converta em posturas verticais, sobretudo

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
no que se refere à formação de professores. orientarão as escolas brasileiras dos
Com diálogo, a fim de que a pluralidade de sistemas de ensino na organização,
setores competentes no assunto, individuais articulação, desenvolvimento e avaliação de
e sobretudo coletivos, possa suscitar pelo suas propostas pedagógicas.
debate um razoável consenso em torno de
questão tão fundamental para o ato Art. 3º. São as seguintes as Diretrizes
pedagógico e para um federalismo Curriculares Nacionais para o Ensino
democrático. Fundamental:

A educação nacional só tem a ganhar na I - As escolas deverão estabelecer como


medida em que possa assinalar um caminho norteadores de suas ações pedagógicas:
diferenciado para sua democratização e
para a democratização da sociedade a. os princípios éticos da
brasileira. autonomia, da
responsabilidade, da
solidariedade e do respeito
DIRETRIZES CURRICULARES PARA ao bem comum;
O ENSINO FUNDAMENTAL b. os princípios dos Direitos e
Deveres da Cidadania, do
exercício da criticidade e
do respeito à ordem
-RESOLUÇÃO CEB Nº 2, DE 7 DE democrática;
ABRIL DE 1998*. c. os princípios estéticos da
sensibilidade, da
Institui as Diretrizes Curriculares criatividade e da
Nacionais para o Ensino Fundamental. diversidade de
manifestações artísticas e
culturais.

O Presidente da Câmara de Educação II - Ao definir suas propostas pedagógicas,


Básica do Conselho Nacional de Educação, as escolas deverão explicitar o
tendo em vista o disposto no Art. 9º § 1º, reconhecimento da identidade pessoal de
alínea "c" da Lei 9.131, de 25 de novembro alunos, professores e outros profissionais e
de 1995 e o Parecer CEB 4/98, homologado a identidade de cada unidade escolar e de
pelo Senhor Ministro da Educação e do seus respectivos sistemas de ensino.
Desporto em 27 de março de 1998,
III - As escolas deverão reconhecer que as
RESOLVE: aprendizagens são constituídas pela
interação dos processos de conhecimento
Art. 1º A presente Resolução institui as com os de linguagem e os afetivos, em
Diretrizes Curriculares Nacionais para o conseqüência das relações entre as distintas
Ensino Fundamental, a serem observadas identidades dos vários participantes do
na organização curricular das unidades contexto escolarizado; as diversas
escolares integrantes dos diversos sistemas experiências de vida de alunos, professores
de ensino. e demais participantes do ambiente escolar,
expressas através de múltiplas formas de
Art. 2º Diretrizes Curriculares Nacionais diálogo, devem contribuir para a
são o conjunto de definições doutrinárias constituição de identidade afirmativas,
sobre princípios, fundamentos e persistentes e capazes de protagonizar ações
procedimento da educação básica, autônomas e solidárias em relação a
expressas pela Câmara de Educação Básica conhecimentos e valores indispensáveis à
do Conselho Nacional de Educação, que vida cidadã.

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CONHECIMENTOS PEDAGÓGICOS 2010
IV - Em todas as escolas deverá ser aprenderem os conhecimentos e valores da
garantida a igualdade de acesso para alunos base nacional comum e da parte
a uma base nacional comum, de maneira a diversificada, estarão também constituindo
legitimar a unidade e a qualidade da ação sua identidade como cidadãos, capazes de
pedagógica na diversidade nacional. A base serem protagonistas de ações responsáveis,
comum nacional e sua parte diversificada solidárias e autônomas em relação a si
deverão integrar-se em torno do paradigma próprios, às suas famílias e às comunidades.
curricular, que vise a estabelecer a relação
entre a educação fundamental e: VI - As escolas utilizarão a parte
diversificada de suas propostas curriculares
a. a vida cidadã através da para enriquecer e complementar a base
articulação entre vários dos nacional comum, propiciando, de maneira
seus aspectos como: específica, a introdução de projetos e
atividades do interesse de suas
1. a saúde comunidades.
2. a sexualidade
VII - As escolas devem trabalhar em clima
3. a vida familiar e social de cooperação entre a direção e as equipes
4. o meio ambiente docentes, para que haja condições
favoráveis à adoção, execução, avaliação e
5. o trabalho aperfeiçoamento das estratégias
6. a ciência e a tecnologia educacionais, em consequência do uso
7. a cultura adequado do espaço físico, do horário e
calendário escolares, na forma dos arts. 12 a
8. as linguagens. 14 da Lei 9.394, de 20 de dezembro de
1996.
a. as áreas de conhecimento:
Art. 4º Esta Resolução entra em vigor na
1. Língua Portuguesa data de sua publicação.
2. Língua Materna, para
populações indígenas e
migrantes
3. Matemática
4. Ciências ULYSSES DE OLIVEIRA PANISSET
5. Geografia
6. História Presidente da Câmara de Educação Básica

7. Língua Estrangeira
8. Educação Artística
9. Educação Física
10. Educação Religiosa, na
forma do art. 33 da Lei
9.394, de 20 de dezembro
de 1996.

V - As escolas deverão explicitar em suas


propostas curriculares processos de ensino
voltados para as relações com sua
comunidade local, regional e planetária,
visando à interação entre a educação
fundamental e a vida cidadã; os aluno, ao

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